guia de adjudicao - verso curta 2013 1

13
1 Guia de Iniciação ao Debate Competitivo Lisboa, 22-24 de Fevereiro de 2013

Upload: eduardo

Post on 14-Sep-2015

217 views

Category:

Documents


3 download

DESCRIPTION

guia debate

TRANSCRIPT

  • 1

    Guia de Iniciao

    ao Debate Competitivo

    Lisboa, 22-24 de Fevereiro de 2013

  • 2

    Guia de Iniciao

    ao Debate Competitivo Introduo

    O debate competitivo em Portugal cresce hoje a um ritmo impressionante e atra novas

    pessoas todos os dias, mas precisamos de garantir que cresce bem e de forma sustentada; que

    este no mais um fogo ftuo, mas o incio de um movimento cvico profundo e duradouro, que

    a partir da Universidade capaz de transformar a forma como se pensa e fala, de como se age e

    se faz cidadania e liderana em Portugal. Para crescer bem e de forma sustentada precisamos de

    manter o movimento unido por regras claras e consensual que espelhem a tradio internacional,

    e por um compromisso solidrio com a formao de novos oradores e adjudicadores.

    Queremos que os debates deste TORNADU tenham a melhor qualidade possvel, por

    isso recomendamos vivamente a todos os participantes que leiam atentamente o presente guia.

    Nele encontraro a informao necessria para compreender o formato e perceber como devem

    debater e adjudicar os debates.

    I. O British Parliamentary Debate

    O British Parliamentary Debate (BP), ou Worlds Style, um de muitos modelos de

    debate competitivo existentes pelo mundo fora, mas sem dvida a mais popular e o que mais se

    tem crescido. De forma a dar oportunidades adequadas ao oradores nacionais e em sintonia com

    o que tem vindo a ser a prtica em diversas sociedades de debates, iremos usar o BP neste

    torneio.

    1. O modelo

    H quatro equipas de duas pessoas cada num debate: Primeiro Governo (1G), Primeira

    Oposio (1O), Segundo Governo (2G), Segunda Oposio (2O). A ordem por que falam os

    oradores 1G-1O-1G-1O-2G-2O-2G-2O. Cada orador faz um discurso de sete minutos que tem

    de ser coerente e complementar tanto com o do seu parceiro de equipa, como com os elementos

    da mesma bancada. Mas a apesar de no poderem contradizer a outra equipa da mesma

    bancada, o objetivo manterem-se competitivas relativamente a todas as equipas, o que implica

    que cada equipa deve esforar-se por dar um contributo distinto e melhor que a outra da mesma

    bancada.

  • 3

    Dos sete minutos de discurso o primeiro e o ltimo esto protegidos, o que significa

    que no h pontos de informao nesse perodo. As perguntas no param o tempo. Quando fala

    algum da bancada do Governo s a Oposio lhe pode fazer perguntas e vice-versa. Para pedir

    um ponto de informao o deputado em causa deve levantar-se e sinalizar o seu pedido

    esticando o brao, por exemplo. Quem estiver a discursar pode aceitar, adiar ou recusar o ponto

    e pode mesmo pedir pontos em dada altura do seu discurso.

    Para alm de pontos de informao h ainda pontos de clarificao. Este assinalam-se

    da mesma forma mas dizendo: ponto de clarificao. Os pontos de clarificao limitam-se a

    procurar esclarecer determinados aspetos do caso da bancada que no se encontram bem

    explicitados. Ningum obrigado a atender a um ponto de clarificao, mas pode ser uma boa

    ideia faz-lo, j que se a bancada oposta est confusa, os adjudicadores (que julgam o debate e

    atribuem os pontos) podem tambm estar.

    H apenas duas circunstncias em que legtimo apunhalar a equipa da mesma

    bancada: quando h uma contradio interna no argumentrio dessa equipa (neste caso podem

    escolher qual das afirmaes contraditrias respeitar) e quando o caso montado pela equipa da

    sua bancada na cmara alta (1G ou 1O) manifestamente impossvel de sustentar junto de

    uma audincia com o mnimo de bom senso. Estes segundos casos abrangem situaes em que

    a outra equipa oferece argumentos baseados em erros de facto indisputveis (ex: o tabaco no

    provoca cancro) ou em posies morais aberrantes (ex: a pedofilia uma tendncia sexual

    legtima).

    2. Os papis de cada orador

    Primeiro Ministro a) Apresenta o problema que est na raiz da

    moo. b) Define a moo, apresentando

    eventualmente um modelo. c) D uma exposio detalhada em apoio do

    caso a defender, dando um conjunto de

    argumentos bem desenvolvidos e ilustrados para

    apoiar o caso em questo.

    Lder da Oposio a) Oferece um clash, um ponto de coliso que

    torna as posies do Governo e da Oposio

    inconciliveis.

    b) Refuta os argumentos do Governo. c) Apresenta a sua viso do problema em causa

    e d um conjunto de argumentos bem

    desenvolvidos e ilustrados para rejeitar a moo. PS: Pode apresentar uma contraproposta.

    Adjunto do Primeiro-Ministro a) Refuta os argumentos do lder da oposio. b) Oferece argumentos adicionais que

    contribuam para o caso do Governo.

    Adjunto do Lder da Oposio a) Refuta os argumentos do Governo, em

    especial do Adjunto do Primeiro-Ministro. b) Oferece argumentos adicionais que

    contribuam para o caso da Oposio.

  • 4

    Membro do Governo a) Refuta os argumentos da Oposio, em

    especial do Adjunto da Oposio.

    b) Oferece uma extenso, ou seja,

    demonstrando lealdade e consistncia

    relativamente ao 1G, o Membro do Governo deve

    procurar mudar o rumo do debate para novas

    reas ainda no exploradas ou aprofundar pontos

    superficialmente analisados, dando-lhes um timbre

    original que materialize o contributo do 2G para o

    debate.

    Membro da Oposio a) Refuta os argumentos do Governo, em

    especial do Membro do Governo. b) Oferece uma extenso, ou seja,

    demonstrando lealdade e consistncia

    relativamente 1O, o Membro da Oposio deve

    procurar mudar o rumo do debate para novas

    reas ainda no exploradas ou aprofundar pontos

    superficialmente analisados, dando-lhes um timbre

    original que materialize o contributo da 2O para o

    debate.

    Whip do Governo a) Refuta os argumentos da Oposio, em

    especial do Membro da Oposio. b) Sumariza o debate, enunciando os principais

    pontos de coliso observveis, sustentando

    porque motivos a bancada opositora no

    conseguiu provar os seus pontos e porque meios a

    sua bancada conseguiu demonstrar os seus,

    concluindo por sinalizar a vitria para o lado do

    Governo. c) No pode apresentar novos argumentos.

    Estes devero ser desconsiderados na ntegra pela

    Mesa.

    Whip da Oposio a) Refuta os argumentos do Governo que

    possam ainda estar pendentes. b) Sumariza o debate, enunciando os

    principais pontos de coliso observveis,

    sustentando porque motivos a bancada

    opositora no conseguiu provar os seus pontos

    e porque meios a sua bancada conseguiu

    demonstrar os seus, concluindo por sinalizar a

    vitria para o lado da Oposio. c) No pode apresentar novos argumentos.

    Estes devero ser desconsiderados na ntegra

    pela Mesa.

    II. Funcionamento do TORNADU 13

    O TORNADU ter um funcionamento em tudo semelhante aos torneios internacionais

    de referncia com que se pode comparar. Ter cinco rondas preliminares, que permitiro apurar

    as doze melhores equipas. As quatro melhores tero acesso direto s meias-finais, as oito

    seguintes, encontram-se nuns quartos-de-final parciais. As duas melhores equipas de cada

    debate nesses quartos-de-final acedem s meias-finais, onde encontram as quatro melhores

    equipas das rondas preliminares. As duas melhores equipas de cada debate das meias-finais so

    escolhidas para ir Final, onde a melhor equipa escolhida como vencedora.

    Nas rondas preliminares, as posies no debate so geradas por um programa de

    computador, usado internacionalmente para a gesto de torneios. As posies so definidas

  • 5

    aleatoriamente no primeiro debate, e no seguinte so definidas procurando conciliar o objetivo de

    fazer as equipas todas rodar as quatro posies e o de encontrar equipas com igual nmero de

    pontos. Os rankings so elaborados ordenando as equipas de acordo com o nmero de pontos

    e, em caso de empate, sucessivamente pelos seguintes critrios: a) o nmero de pontos

    somados por ambos os oradores nas rondas preliminares; b) a posio relativa das equipas no(s)

    debates em que se confrontaram; c) moeda ao ar.

    Durante os quatro primeiros debates a adjudicao aberta, ou seja, os adjudicadores

    explicam s equipas coletivamente a sua deciso, apresentando as suas razes para colocar

    cada equipa em cada posio, mas no relevando as pontuaes atribudas a cada orador. De

    qualquer modo, em qualquer fase da competio os adjudicadores encontram-se disponveis

    para, aps a divulgao dos resultados, conversar com os oradores sobre a sua prestao e

    sobre as melhores formas de estes superarem as suas dificuldades.

    O melhor orador ser encontrado somando todos os pontos obtidos pelo orador em

    causa nas rondas iniciais. Em caso de empate, o ttulo ser partilhado pelos oradores em causa.

    III. Equity

    A equipa de adjudicao tem tambm como objetivo garantir que os debates decorrem

    num ambiente que no hostil a nenhum dos participantes, sejam eles oradores, ou

    adjudicadores. Comportamentos ou afirmaes ofensivas ou discriminatrias, dentro ou fora dos

    debates, esto em clara oposio com os valores que este torneio procura promover e no sero

    tolerados.

    Os adjudicadores NO devero prejudicar as equipas dos oradores que tiverem

    comportamentos ou proferirem afirmaes ofensivas. Devero ignorar essas afirmaes no

    contexto de debate, mas devero contactar a CA-team para que esta tome as providncias

    necessrias.

    IV. Como debater? Algumas Regras

    Ao contrrio do public speaking o debate uma parte que vive do confronto de

    posies distintas. Os diferentes oradores usam o seu tempo para produzir argumentos que do

    plausibilidade a formas opostas de entender determinados assuntos, mas tambm refutar os

    argumentos da outra bancada.

    tradicional entender que a capacidade de persuaso de um discurso dada

    sobretudo pelo qualidade da forma (a estrutura, o estilo, a fluncia, a atitude) e do contedo (a

    variedade e profundidade dos argumentos, o detalhe da anlise e da refutao), mas estas

    variveis no devem ser entendidas de forma estanque. Diante de um adjudicador maduro,

  • 6

    dificilmente algum consegue ter uma forma persuasiva sem ter bom contedo, da mesma forma

    que impossvel transmitir de forma eficiente boas ideias sem evidenciar qualidades de forma.

    Para mais estes elementos no vivem no vcuo. Um argumento apenas to bom

    quanta a sua plausibilidade e relevncia depois de ter sido dada a oportunidade oposio para

    o refutar. A adjudicao de um debate feita olhando sobretudo ao contributo de cada equipa

    para o mesmo com argumentos slidos, desenvolvidos e relevantes nas principais linhas de

    coliso entre as bancadas.

    H no entanto um conjunto limitado de regras que garantem o bom funcionamento do

    debate e por isso tm de ser respeitadas, ainda que nem sempre digam diretamente respeito ao

    contributo da equipa para o debate.

    1. Cumprimento dos Papis

    O cumprimento dos papis de cada orador e da equipa como um todo algo essencial

    para termos um bom debate. As equipas que no cumprirem de todo o seu papel devem ser

    penalizadas, mas isto no quer dizer que fiquem sempre em ltimo: h sempre a possibilidade de

    algum ter feito pior trabalho.

    No devemos ser demasiado exigentes neste ponto. Equipas que fazem o seu papel

    mal a verdade que fazem o seu papel e serem prejudicadas duas vezes (por no serem

    persuasivos e por cumprirem mal) seria tambm injusto.

    As equipas da cmara baixa teriam a oportunidade de serem muito persuasivas se

    simplesmente repetissem os argumentos das respetivas bancadas, porque teriam quase o triplo

    do tempo de preparao. Se uma equipa at mais persuasiva mas andou a repetir argumentos

    no pode ser penalizada em termos de persuaso, mas t-lo- de ser neste sede. Mas j no

    ser assim quando uma equipa oferece uma m extenso. Ofereceu extenso? Sim. Ento ter

    de ser penalizada pela forma ou pelo contedo.

    Se uma equipa procura centrar o debate em temas centrais e as outras o empurram

    para temas secundrios essa equipa estava certa e as restantes estavam erradas. A equipa que

    est certa no pode ser prejudicada por ter sido ignorada. No entanto pode ser valorizado o

    trabalho de uma equipa que introduz um tema importante no debate e que se torna central.

    2. Definies e Modelos

    Visto tratar-se de um Torneio Nacional poder haver moes cujo mbito de aplicao

    e s poder ser Portugal, mas poder haver outras com um mbito distinto. Da mesma forma

    os debates passam-se em regra no dia do debate e no noutra qualquer altura histrica.

    Regra geral isto no oferece dvidas. Se se debater Esta Casa acredita que se devia

    reestabelecer a pena de morte legtimo definir a moo dizendo que estamos a falar de a

    reestabelecer em Portugal, embora no seja essa a nica opo. Se a moo fosse Esta Casa

  • 7

    aboliria a pena de morte claramente no estamos a falar de Portugal e portanto seria legtimo

    dizer que se trataria de uma abolio generalizada.

    O Primeiro-Ministro no deve fugir com o rabo seringa: a moo no pode ser

    definida de forma abusiva, devendo resumir-se explicitao de um dos sentidos em que um

    indivduo razovel a poderia interpretar normalmente. No deve portanto nem ser imprevisvel

    nem tornar desproporcional o fardo com que se onera a oposio.

    No caso de moes que requeiram algum tipo de ao exigido ao Primeiro-Ministro

    que oferea um modelo que se articula com a definio. Exemplo: Esta Casa acredita que o

    mercado livre no liberta no necessita de qualquer modelo. Mas Esta Casa aboliria o livre

    mercado provavelmente precisaria que se explicasse exatamente como se faria isto, a que

    prazo, com que condies e qual o modelo econmico alternativo que se estabeleceria. Um

    modelo simplesmente isso: uma explicao de como se tenciona operacionalizar a medida que

    se est a defender.

    Da mesma forma que a definio no deve ser abusiva o modelo tambm tem de ir no

    sentido da definio, mas pode incluir elementos adicionais mais ou menos imprevisveis mas

    relacionados com o modelo. Exemplo: Esta Casa assassinaria o ditador X. No legtimo dizer

    que assassinaria a sua imagem pblica denunciando o seus crimes de vrias formas, nem

    coloc-lo em estado vegetativo com um veneno especial: preciso defender um plano para o

    matar mesmo. Mas j seria legtimo dizer que depois do assassinato iramos ajudar a estabelecer

    instituies democrticas no pas atravs de eleies.

    O modelo tem de ter um nvel de detalhe suficiente para permitir um bom debate, mas

    no precisa de mais do que isso. Se estamos a falar da invaso de um pas necessrio

    especificar que pases protagonizaro a invaso, e se para sair de l em dois meses ou para

    ocupar o territrio, mas no necessrio dizer de quantos porta-avies estamos a falar.

    Tanto a definio como o modelo devem vir no incio do discurso, tornando assim o

    discurso mais claro e dando mais oportunidade oposio para perceber qual o caso do

    Governo.

    3. Contrapropostas

    A 1O pode fazer uma contraproposta, ou seja, apresentar um modelo de ao que

    excluiu logicamente a possibilidade de realizar a proposta apresentada pelo 1G. Se o 1G defende

    que a ndia deveria ganhar direito de veto no Conselho de Segurana, a 1O pode propor abolir o

    Conselho de Segurana. As solues excluem-se mutuamente, o que d um argumento

    suplementar Oposio: a proposta do governo excluiu uma possibilidade melhor que

    incompatvel com esta. Contrapropostas do debates interessantes porque colocam duas

    alternativas sobre a mesa, e avaliam os custos e benefcios de ambas, mas isso aumenta a

    complexidade das tarefas de todos os oradores no debate.

  • 8

    4. Status Quo

    No TORNADU legtimo apelar-se ao status quo no que diz respeito a polticas internas

    do Estado, mas apenas quando estas se aplicam a todo o territrio nacional. Ou seja, se a moo

    for Esta Casa legalizaria a adoo por casais de pessoas do mesmo sexo legtimo apelar para

    o facto de j ser permitido o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Diferente seria a

    oposio dizer que a discusso da introduo de oramentos participativos irrelevante porque

    estes j existem em alguns municpios do pas. Alerta-se para o facto de isto no ser possvel em

    competies internacionais, onde mais rara a existncia de um status quo homogneo.

    5. Capacidade de Implementao

    Deve aceitar-se que o Governo tem capacidade para promover o conjunto de aes ou

    alteraes legislativas que a moo pretende que se leve a cabo. Ou seja, se a moo diz EC

    legalizaria a prostituio, deve aceitar-se, ou pelo menos ficcionar-se, que o Governo tem

    capacidade poltica para fazer passar legislao nesse sentido. Assim, neste debate, argumentos

    sobre a capacidade do Primeiro-Ministro de convencer os deputados na AR a fazer passar esta

    legislao so irrelevantes. Obviamente que isto no quer dizer que a Oposio deva aceitar a

    capacidade poltica e administrativa do governo para lidar com as possveis consequncias desta

    medida.

    6. Desafio definio

    Quando manifesta a ilegitimidade de uma dada definio, o lder da oposio pode

    desafiar a moo, oferecendo no seu discurso uma definio alternativa. Se no for desafiada

    nestes termos o debate deve prosseguir com a definio dada no incio do mesmo.

    Aquilo que em regra se sucede no um debate sobre a moo mas sobre a

    legitimidade da definio para o qual ningum se preparou e uma hora de discursos

    desarticulados sobre o significado de conceitos e jogos de palavras. Portanto, para o superior

    interesse do debate as equipas devem a todo o custo evitar desafiar a moo. Podem e devem

    apontar que acham estranha a definio do 1G, podem mesmo dizer que julgavam que o debate

    ia ser sobre outra coisa completamente diferente, mas, como bons cavalheiros iro debater

    segundo as regras do adversrio e venc-los no seu prprio jogo, mesmo sabendo que o campo

    est inclinado.

    Qualquer adjudicador razovel apreciar o esforo das equipas que procurarem fazer

    isto e certamente colocar o 1G numa posio de fragilidade.

  • 9

    7. Interesses dos Agentes

    Quando uma moo ou a definio estabelecem que um determinado grupo, pessoa ou

    instituio dever tomar um certo curso de ao legtimo para ambas as bancadas fazer

    argumentos baseados tanto nos interesses especficos desses agentes, como nos interesses de

    outros stakeholders e em princpios morais.

    8. Falcias

    Num debate deve recorrer-se tanto quanto possvel a argumentos lgicos do estilo se

    A=B e B=C, A=C. Mas possvel tambm recorrer a determinadas falcias de forma

    perfeitamente legtima, visto que o orador no precisa de demonstrar a veracidade de

    determinadas afirmaes, apenas a sua verosimilhana.

    Mas a plausibilidade criada por diferentes falcias muito diferente. Quase todas as

    escolas no topo dos rankings serem privadas pode dar alguma plausibilidade afirmao de que

    as escolas privadas so melhores que as pblicas, mas alguns rabes serem terroristas no faz

    deles todos terroristas. O mesmo vale para falcias de autoridade que apelem para o que diz um

    autor, um livro sagrado, ou at mesmo a lei. As afirmaes e posies de terceiros esto sujeitas

    ao mesmo nvel de crtica e escrutnio que as afirmaes e posies do prprio orador, e se a lei

    probe o que se prope, o objetivo da moo provavelmente mesmo discutir uma eventual

    mudana da lei, ou da forma como esta interpretada.

    9. Nvel de Lngua e Jarges

    Este modelo partilha de alguns dos formalismos de um debate parlamentar. Isso

    recomenda a que o registo seja mantido a um nvel de lngua com uma elevao mnima. No

    entanto, os oradores no devem ser prejudicados por usarem expresses mais infelizes, a menos

    que isso prejudique a perceo do seu contributo para o debate.

    O uso do jargo de determinadas cincias tambm no pode ser nem penalizado, nem

    valorizado por si s. Tem de ser contextualizado no discurso em causa de forma a perceber-se

    se est a conseguir transmitir a ideia com clareza ou no. Cremos que junto do indivduo

    medianamente culto a palavra superavit no ser problemtica, apesar de ser parte do jargo

    econmico. Exemplo: a diminuio das despesas vai criar um superavit, que poder vir a ser

    usado para criar reservas de que o pas poder vir a necessitar para criar poltica oramental

    anticclica. O indivduo medianamente culto perceber o que se entende por superavit, mais no

    seja pelo contexto, mas j ser necessrio explicar o que se entende por poltica oramental

    anticclica, at porque o contexto pode no o permitir deduzir.

  • 10

    10. Perguntas

    As perguntas so um momento de quebra nos debates e de potencial mudana do

    equilbrio que at ali se desenha. O deputado que faz a pergunta deve v-la como uma

    oportunidade, o orador que a aceita como uma ameaa, mas tambm como uma oportunidade.

    Cria tempo de antena contra uma ideia dentro do tempo a favor, porque para responder a uma

    pergunta no h tempo de preparao e uma pergunta bem feita pode desequilibrar o discurso.

    O nmero ideal de perguntas a aceitar num discurso em regra trs entre os membros

    de cada equipa, sendo que cada orador dever aceitar pelo menos uma. Mas oradores no

    devem ser penalizados por no responder a nenhuma pergunta a menos que lhes tenham sido

    oferecidos vrios pontos de informao ao longo do ltimo minuto desprotegido, caso em que

    dever-se- ficcionar que o orador respondeu mal a uma pergunta que lhe foi colocada.

    Se a pergunta for demasiado longa, ou for na verdade uma srie de perguntas, o orador

    pode pedir ao deputado que a faz para se sentar. O deputado dever aceitar o convite a sentar-

    se, independentemente de estar ou no a demorar muito tempo. No entanto, a Mesa pode

    penalizar o orador se ele convidar a sentar um deputado que no est a demorar demasiado

    tempo e no est a fazer o orador perder tempo.

    As perguntas no necessitam de ser verdadeiras perguntas, mas podem ser

    comentrios, argumentos ou pedidos de esclarecimento.

    11. Postura no Lugar

    Aplaudir com os ns dos dedos no final ou depois de uma piada bem mandada um

    sinal de desportivismo, mas no obrigatria. Apenas so permitidas pontualmente e com

    moderao algumas interjeies tipicamente parlamentares (vergonha, muito bem, olhe que

    no). Em caso algum se deve procurar estabelecer dilogo ou responder a um argumento.

    Os colegas de equipa podem e devem comunicar durante o debate, mas sem perturbar

    o decurso do mesmo.

    12. Respeito pelo Tempo

    Dever ser dada uma tolerncia de 15 segundos os oradores para l dos sete minutos

    em que podero concluir o seu raciocnio, mas que no devero usar para introduzir material

    novo. Tudo o que for dito para l desses quinze segundo dever ser ignorado pela Mesa.

    Os oradores que terminarem antes do tempo no devero ser prejudicados por o

    fazerem, mas dificilmente conseguiro pontuaes muito elevadas visto que em menos tempo

    devero conseguir trazer menos material.

  • 11

    V. Como Adjudicar? Algumas Regras

    A adjudicao a atividade de atribuio de pontos aos deputados pelo seu

    desempenho durante todo o debate, sendo esta desempenhada pelos elementos da Mesa.

    uma atividade complexa que implica avaliar e pesar de forma compreensiva diversos critrios e

    depois traduzir um juzo qualitativo que ordena as equipas umas em relao s outras e numa

    juzo quantitativo, no caso, uma escala de cinquenta a cem.

    As equipas so ordenadas do primeiro ao ltimo lugar tendo em conta o contributo que

    o caso por si apresentado deu ao debate. A primeira equipa consegue 3 pontos, a segunda

    equipa 2 pontos e a terceira equipa 1 ponto.

    Mais importantes que os pontos dos oradores a ordenao das bancadas, da mesma

    forma que mais importante em futebol vencer os jogos, que fazer goleadas. O critrio

    fundamental para a passem s fases seguintes da competio o lugar em que a equipa fica e

    no os pontos. Isto dever ser sobretudo uma lio para os oradores: mais importante que as

    suas prestaes individuais o contributo que fazem para o debate e que creditado em nome

    da equipa.

    Dada a importncia deste ponto, vemo-nos forados a repetir: diante de um

    adjudicador maduro, dificilmente algum consegue ter uma forma persuasiva sem ter bom

    contedo, da mesma forma que impossvel transmitir de forma eficiente boas ideias sem

    evidenciar qualidades de forma.

    S com a experincia possvel afinar critrios e conseguir a sensibilidade necessria

    para uma adjudicao justa. Na atribuio de pontos o confronto de diferentes ideias entre os

    adjudicadores particularmente importante. Em muitas situaes um dos adjudicadores no est

    a valorizar suficientemente algum critrio, os outros devem procurar cham-lo razo defendo os

    seus motivos para se dar uma pontuao mais alta ou mais baixa.

    1. Quem estamos a tentar convencer?

    O adjudicadores devem fazer o possvel por se abstrarem das suas posies pessoais

    relativamente ao tema. Devem ser tbuas rasas e julgar os argumentos apresentados como os

    julgaria um indivduos medianamente culto, que est ocorrente dos principais eventos nacionais e

    internacionais e por isso no se deixa levar por referncias a dados e factos falsos. um

    indivduo sem opinio formada sobre nenhum assunto e com uma mente suficientemente aberta

    para aceitar argumentos inovadores e contraintuitivos, se bem explicados. um indivduo

    inteligente mas no disposto a fazer o trabalho de colmatar saltos lgicos nos discursos, ou usar

    o que sabe sobre os casos que conhece para reforar o caso de qualquer uma das equipas. Este

    indivduo ficcional tambm no especialista em rea alguma, pelo que no percebe termos

    como poltica oramental anticclica, mas sabe o que a inflao.

  • 12

    2. Processo de Deciso

    quase sempre possvel chegar a um consenso entre os adjudicadores quando estes

    vo para a reunio de adjudicao com abertura de esprito e capacidade de rever as suas

    opinies luz de uma pluralidade de opinies com os quais vo ser confrontados.

    Caso no seja possvel chegar a um consenso, os adjudicadores devem votar sobre as

    decises a ser tomadas. O Presidente da Mesa tem voto de qualidade, ou seja, decide em caso

    de empate em qualquer votao. Caso haja alguma dvida de fundo relevante para a ordenao

    das equipas, os adjudicadores devero consultar a equipa de adjudicao.

    Pontos Descrio Qualitativa

    95-100 este o material de que feita a histria. Vemos, ou somos forados a imaginar uma lngua de fogo sob a cabea do orador. Este provavelmente um dos melhores discursos algumas pronunciados na galxia, o que deixa a Mesa e os oponentes sem qualquer tipo de resposta articulada. S podemos dizer: Mazel tov!

    90-94 Argumentos brilhantes dominam por completo os principais temas do debate. Os momentos de puro gnio multiplicam-se e ameaam tomar conta de todo o discurso. O detalhe da argumentao e a profundidade apresentadas no deixam margem para dvidas: este um discurso extremamente persuasivo. Estrutura e contedo perfeitos.

    85-89 Argumentos plausveis e relevantes resolvem os principais temas do debate e so sustentados por uma anlise completa e profunda. So necessrias respostas altamente sofisticadas para refutar o que apresentado. Os papis so desempenhados de forma perfeita e os momentos de brilhantismo sucedem-se de forma natural ao longo do discurso.

    80-84 Os argumentos so muito bons e vo de encontro aos pontos mais pertinentes no debate. So claros e razoveis, embora possam deixar alguma margem para ataque. O orador apresenta um estilo consistente e persuasivo durante a maioria do discurso.

    75-79 Os argumentos so plausveis e relevantes, mas ocasionalmente deixam algo a desejar em termos de profundidade e detalhe da anlise. Raramente, pode aparecer um argumento ou exemplo mais fora do baralho. Mas ainda assim os argumentos so vulnerveis a respostas inteligentes e bem estruturadas. Os papis so desempenhados com competncia e o estilo capta a ateno.

    70-74 Os argumentos so relevantes e alguma explicao fornecida, mas so apresentados de forma pouco persuasiva e com saltos lgicos. O orador enceta por vezes argumentos irrelevantes ou faz uma argumentao simplista. O estilo capta a ateno, mas ocasionalmente pouco claro. A estrutura e o cumprimento dos papis tipicamente imperfeito, mas cumprido nos seus requisitos mnimos.

    65-69 Alguns argumentos relevantes so feitos, mas aparecem suportados por explicaes rudimentares. O orador claro o suficiente para ser entendido para pode ser difcil seguir o seu raciocnio por vezes. A estrutura tipicamente pobre e h uma tentativa de preenchimento dos papis que mal consegue satisfazer os mnimos.

    60-64 Os argumentos so apenas ocasionalmente relevantes e a incompletude dos raciocnios lgicos evidente. O estilo confuso, h problemas claros de estrutura, ou falta dela, nota-se que o orador at percebe o seu papel, mas falha em concretiz-lo de forma competente.

  • 13

    Pontos Descrio Qualitativa

    55-59 Na melhor das hipteses, os argumentos so atirados para o ar e difcil seguir o pensamento do orador. Sair da sala e no voltar comea a ser uma opo.

    50-54 doloroso assistir ao orador a afundar-se a cada minuto que passa. Provavelmente seriamos mais persuadidos por comer uvas passas do que por qualquer coisa que tenha sido abordada. No h um argumento com princpio meio e fim, nem estrutura, nem cumprimento dos papis.

    VIII. Notas Finais

    Tanto a equipa de adjudicao como a equipa responsvel pela logstica do Tornadu

    tm trabalhado afincadamente para tornar este evento especial, marcante, inesquecvel. Mas

    grande parte do sucesso do torneio no depende de ns mas dos seus participantes.

    Esperamos que falem com pessoas com quem nunca falariam, que se deixem

    convencer por casos aparentemente mais absurdos, que riam, sorriam e se (re-)apaixonem; mais

    no seja pelo debate. Acima de tudo fica um conselho: divirtam-se muito srio!

    A vossa CA-Team,

    Ary Ferreira da Cunha

    Cludia Freitas

    Joo Francisco S