guia de ações - participação social de jovens

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DE GUIA AÇÕES Maria Stephanou Diana Maria Marchi Carmem Zeli de Vargas Gil Ana Mariza Ribeiro Filipouski Organizadoras Participação JOVENS Social

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  • DE

    GUIA

    AES

    Maria StephanouDiana Maria Marchi

    Carmem Zeli de Vargas GilAna Mariza Ribeiro Filipouski

    Organizadoras

    Participao

    JOVENSSocial

  • Coordenao geral

    Produo, organizao ecomposio do guia

    Elaborao das estratgias

    Bolsistas de Iniciao Cientfica

    Projeto grfico e diagramao

    Maria Stephanou

    Ana Mariza Ribeiro FilipouskiCarmem Zeli Vargas GilDiana Maria MarchiMaria Stephanou

    Ana Mariza Ribeiro FilipouskiAna Cristina AcciolyCarmem Zeli Vargas GilDiana Maria MarchiDenise NunesMaria ngela Pauprio GandolfoMaria Ceclia A. TorresMariana NunesMaria StephanouPaula Fogaa Marques

    Andrea Miln VasquezFernanda Lanhi da Silva

    Caroline Meregalli Machado

    J86 Jovens e participao social : guia de aes / Organizadoras MariaStephanou...[et al.] ; coordenao geral Maria Stephanou ;produo, organizao e composio do guia Ana Mariza RibeiroFilipouski...[et al.]. Porto Alegre : UFRGS, 2006.f. 226

    Promoo : Parceiros Voluntrios.

    1.Jovens Participao social. 2. Educao Participao social.3. Educao Solidariedade. 4. Educao Cidadania. I. Stephanou,Maria. II. Filipouski, Ana Mariza Ribeiro.

    CDU: 37:316.454.2-053.6

    CIP-Brasil. Dados Internacionais de Catalogao na PublicaoBiblioteca Setorial de Educao da UFRGS, Porto Alegre, RS(Jacira Gil Bernardes, CRB/10-463)

    Maro/2007

  • Sumrio

    Jovens e participao social. Guia de aes

    Apresentao

    JuventudesParticipao Social

    As dimenses da educao para a participaoPrincpiosProcesso educativo, educador e prticasAprendizados de uma escuta: o que dizem jovenssobre participao socialRetomar para sublinhar

    1. Juventudes: iguais e diferentes2. Protagonismo juvenil e participao social:

    que idia essa?3. Narrando experincias de participao4. Atitude: discutir valores5. Juventudes e cidadania na cidade6. Humanidade e natureza: compromisso

    presente e futuro7. Polticas pblicas de juventude: projetos de

    dilogo8. Arte e cultura: a trama das identidades

    juvenis9. Expresses musicais e identidades juvenis

    10. A cultura do hip hop11. Arte: mltiplos olhares e fruies12. Patrimnio cultural : um releitura da cidade13. Empreendedorismo cultural: construindo

    espaos de encontro14. Leitura como experincia social e solidria15. Escola: espao de dilogo intergeracional16. Prtica esportiva e participao social17. Jovens em rede: o blog como ferramenta de

    mobilizao18. Infncia: tema de mobilizao19. Vivenciando a participao social: uma

    construo coletiva20. Como elaborar projetos de ao

    Referncias

    PARTE I - Fundamentos

    PARTE II - Proposta Educativa

    PARTE III - Estratgias Educativas

    4

    913

    202223

    2628

    30

    39485764

    72

    84

    95102110122131

    138150158167

    175186

    197210

    223

  • O que o Guia de aes

    O Guia de Aes Jovens e Participao Social

    Guia de aes

    o resultado de umprocesso de definio de princpios, pressupostos e objetivos deformao de jovens para a participao social, com vistas a orientareducadores para a mobilizao e engajamento em aes solidrias evoluntrias. Pretende oferecer uma educao que faa sentido para osjovens, que seja sensvel aos seus interesses e expectativas e que lhespossibilite, a um s tempo, reforar a estima pessoal, ampliar asperspectivas de vida e futuro e favorecer a convivncia social atravs doreconhecimento da condio e dos interesses juvenis.

    Constitui-se como um desdobramento importante da pesquisa, realizada entre 2004 e 2005, a partir de um

    convite da ONG Parceiros Voluntrios dirigido ao Ncleo de IntegraoUniversidade & Escola/Pr-Reitoria de Extenso da UniversidadeFederal do Rio Grande do Sul. A pesquisa, reconhecendo que os jovenstm muito a dizer, querem expressar suas opinies e vivncias e tmexpectativas de encontrar uma escuta sensvel nos espaos em quecirculam e atuam, abriu espao para suas vozes, a partir das quais foramidentificadas as principais experincias e motivos que mobilizam eengajam jovens na direo de uma participao social solidria.

    Assim, a partir das falas dos prprios jovens e das reflexes que suaspalavras suscitaram, o Guia elabora e apresenta sugestes paraeducadores e professores que atuam em escolas e diferentes espaos,sejam instituies, ONGs, movimentos e campanhas em torno debandeiras sociais diversas.

    As sugestes esto organizadas na forma de estratgias educativasa serem desenvolvidas em grupos de jovens, sem um nmero definido apriori, que tm interesse em reunir-se, trocar idias, manifestar suasprodues, pertencer a uma rede de amizade, solidariedade e atuaosocial. Desse modo, o intuito estimular os jovens a refletirem eexperienciarem formas positivas de insero na sociedade,assegurando-lhes, simultaneamente, condies de acesso cultura, aolazer, ao esporte, convivncia com a diferena, atuao em equipe,ao exerccio da autonomia e da autoria na vida social. As estratgiaspretendem criar situaes que favoream a reflexo a respeito daresponsabilidade social, estimulando que os jovens protagonizemtransformaes do contexto local e global, ou ainda que contribuam napreservao de valores, patrimnios, experincias, saberes e histriasde uma coletividade.

    O poder ser utilizado em situao de educaoformal ou no formal e prope-se a uma abordagem transversal decontedos de formao da cidadania, privilegiando competncias deconvivncia, autoria e autonomia juvenil. Por isso, constitui-se como

    Jovens e Participao Social

    A pesquisa qualitativa, em sua primeira etapa, se assentou na realizao de treze grupos de conversaoconstitudos por jovens de 15 a 24 anos, de diferentes sexos e segmentos sociais, da Regio Metropolitanade Porto Alegre, envolvidos em aes de participao social solidria, alm de trs grupos compostos poreducadores, professores e pais. Os resultados da primeira etapa foram contrastados com dados colhidosatravs de questionrios distribudos a jovens estudantes doRioGrande doSul, participantes da aoTribosnasTrilhas daCidadania, no ano de 2004, ao de voluntariado jovemde iniciativa daParceirosVoluntrios.

    Jovens e participao social. Guia de aes 4

  • Jovens e participao social. Guia de aes 5

    uma proposta educativa que busca tornar os jovens sujeitos plenos emsuas aes no mundo, em relao a si mesmos e aos outros, de formasolidria e voluntria.

    Vale destacar, ainda, que as estratgias apontam alternativas paraproblematizar o contexto prximo e para agir criticamente sobre ele, nointuito de favorecer a insero em uma realidade que est empermanente mudana. Ao mesmo tempo, propem aos adultos-educadores um jeito de fazer que tambm educativo e que exigemudanas, sugerindo pensar diferentemente e positivamente sobre asjuventudes, em sua diversidade e singularidade, questionar suasrelaes com os jovens, alm de qualificar os movimentos do pensar edo agir em aes de participao social solidria e voluntria.

    A proposta educativa que norteia o valoriza igualmente osmbitos da socializao, da subjetividade e do saber, implicados naformao de pessoas solidrias e engajadas em uma ao voluntria,como parte fundamental do viver em sociedade. O eixo daconstitui um mbito imprescindvel, pois, atravs das sociabilidadesjuvenis e intergeracionais, os jovens assumem valores, pertencimentos,projetos de vida, responsabilidades, ou ainda, constituem suasidentidades. Assim, no menos importante, o eixo da subjetividade, ouos modos como os jovens pensam a si mesmos, cultivam em si estilos eopes de vida, manifestam suas necessidades afetivas ecomunicativas, impe que suas expectativas pessoais encontremsintonias com os contedos e formas da participao, da uma especialateno s linguagens juvenis e suas manifestaes culturais naatualidade. Em outro mbito, tambm interessa fortalecer acompreenso que possuem da participao social, medida queelaboram conceitos, idias, juzos e teorias sobre as experinciasvividas, ou seja, que constroem .

    Os trs mbitos de atuao - socializao, subjetividade, saber -esto intimamente ligados e presentes nas diferentes estratgiaselaboradas, j que a noo de sujeito no se sustenta sem a de cidado,e destes com a reflexo e a produo de saberes a partir dasexperincias vividas. Em sntese, os jovens apresentam potencial detransformao a partir do que vivenciam e aprendem, assumemcondies de participao na vida social, dirigem o olhar sobre simesmos, seu lugar no mundo e sua relao crtica a respeito de seufazer, fortalecendo projetos de futuro que podero assegurar um mundomelhor para todos, o que d sentido a uma proposta com a inteno do

    .

    O tambm oferece oportunidades de acesso a um conjunto deconhecimentos socialmente elaborados, reconhecidos comonecessrios ao exerccio da cidadania. Por esse motivo, estdesenvolvido em torno dos seguintes temas, identificados comomobilizadores da participao juvenil na pesquisa anteriormentereferida, a saber:

    a questo ecolgica motivaa formao de grupos e incrementa a participao, tendo setornado um tema muito freqente nos diferentes espaos deorganizao juvenil;

    osmovimentos juvenis contemporneos abrem espao para a

    Guia

    Guia de aes

    Guia

    meio-ambiente e sustentabilidade:

    arte, cultura e esportes na construo do espao pblico:

    socializao

    saber

  • Jovens e participao social. Guia de aes 6

    valorizao das diferentes manifestaes culturais, o que dlegitimidade diversidade das produes culturais juvenis, como ohip hop, o grafite, os fanzines as expresses musicais e outrasformas de cultura emergentes que se propem a redefinir sentidose significados do espao pblico;

    mbito que mobiliza os jovens acombaterem os preconceitos, discriminaes decorrentes dediferenas e desigualdades sociais, geracionais, culturais,propondo uma cultura de Paz que se oponha violncia eassegure os direitos bsicos a todos os seres humanos;

    fundados na percepo dasdesatenes sociais, estendidas a diversos grupos da sociedade,como crianas, portadores de necessidades especiais, idosos,doentes, asilados, a incluso vista como pr-condio para apossibilidade de projetar um futuro para todos;

    relacionadas incluso digital, valorizada pelos jovens comoexerccio das sociabilidades juvenis e organizao em redes.

    As propostas de atividades aqui presentes no se prestam a umareproduo incondicional nos encontros com jovens. Supem reflexo,planejamento e crtica do educador ou professor que coordenar otrabalho. Sugerem, portanto, uma participao autoral daquele que aquise inspirar. Exigem, de outra parte, conhecimento da realidade dosjovens do grupo com o qual interagem, conscientizando-se dos limites enecessidades do contexto de atuao. O conhecimento da realidadeaproximar o que proposto nas estratgias com as particularidades dogrupo de jovens, suas potencialidades, aprendizagens anteriores e asnecessrias, motivaes, expectativas de engajamento, alm de indicara convenincia ou no dos diferentes momentos sugeridos para osencontros. Em alguns casos, as estratgias demandaro do educador,ainda, estudos prvios, pesquisas e coleta de materiais diversos, comoos referidos em vrios momentos, antes da implementao dassugestes e dinmicas propostas.

    por isso que o prope um jeito de pensar e de fazer educaode jovens para a participao social, a partir da explicitao dosconceitos orientadores , daformulao de uma proposta educativa e da proposio de estratgiasque, no so rgidas, tampouco um modelo a ser reproduzido. Convida aapropriaes e adaptaes diversas, seja quanto durao, os textos dereferncia, as aes concretas a implementar, os diferentes desafiosaos jovens e, em suma, sua prpria seqncia, uma vez que a sucessodas estratgias atende to somente a uma disposio temtica e no auma lista de etapas a serem cumpridas. Cada educador escolher,dentre as alternativas, aquelas que julgar mais motivadoras dos jovenscom os quais interage e as ordenar conforme seu planejamento maisamplo, podendo at mesmo relacionar estratgias com temas afins,produzindo snteses particulares a partir das atividades propostas.Todas elas, fundamentalmente, almejam que seja garantida a palavra, aescuta, a autonomia, a experimentao, as formas de expresso dosjovens, em suas individualidades e conjunto.

    Por fim, preciso registrar que a pesquisa e a proposta educativa paraa participao social solidria e voluntria de jovens conduziram a umaaposta incondicional na importncia destes e de suas prticas sociais no

    ,

    luta pelos Direitos Humanos:

    movimentos pela incluso:

    formas de comunicao em rede, especialmente a virtual:

    Guia

    juventudes e participao social solidria

  • Jovens e participao social. Guia de aes 7

    presente, uma vez que eles contribuem efetivamente para a produo dasociedade que queremos. Por esse motivo, o tambmquer oportunizar o reconhecimento, por parte de educadores,professores e instituies, da legitimidade das culturas juvenis e dosjovens como interlocutores dotados de capacidade de ao e autonomia(logo, de atuao positiva na sociedade), condies imprescindveis educao e construo de novas bases para o relacionamento social,fundadas na solidariedade, nos valores da paz e do dilogo.

    As organizadoras

    Guia de Aes

  • Parte IFundamentos

  • Juventudes:uma palavra, muitos sentidos

    As sociedades, em diferentes tempos, formularam idias e critriospara definir o que concebiam como juventude: fase da vida, poca detransio, desenvolvimento biolgico, estado de esprito, fim da infncia.Os sentidos nem sempre foram os mesmos e mudanas importantesaconteceram nos modos como a cultura ocidental percebeu, pensou erepresentou a juventude ao longo daHistria. Houve tempos emque nohavia uma distino em faixas de idades; em outros momentos, asdefinies do ser jovem se basearamapenas nasmudanas biolgicas epsicolgicas, especialmente as demarcaes corporais; em outros,ainda, os ritos de passagensmarcavamaexperincia da juventude.

    Estima-se que, entre 1995 e 2000, a populao mundial dejovens cresceu em mdia 0,7% ao ano: de 1.025 bilhes para1.061 bilhes (representando 518milhes de jovensmulheres e543 milhes de jovens homens). Atualmente os jovensrepresentam 18% da populao mundial. Geograficamente, ajuventudemundial vive, aproximadamente:

    - 60% : empases emdesenvolvimento dasia- 15%: nafrica- 10%: naAmrica Latina eCaribe- 15%: empases desenvolvidosFonte: Diviso dasNaesUnidas para aPopulao, 2004

    No Brasil, considerando o Censo de 2000, osjovens so 34,1milhes entre 15 e 24 anos (oscilamentre 19% e 21% da populao total); 80% vivemem reas urbanas; 40% vivem em famlias emsituao de pobreza extrema (famlias semrendimentos ou com at salrio mnimo

    ).De acordo com os dados da Pesquisa Nacional

    por Amostra de Domiclios, os jovens representam62,2% no montante global dos que perderamemprego assalariado. 20,4% do total de jovens comidade entre 15 e 24 anos, no conjunto das noveregies metropolitanas do Brasil, no estudam eno trabalham. Isto totaliza mais de 11 milhes dejovens. uma parcela a quem teria sido negada aprpria identidade juvenil.

    percapita

    Fonte: PNAD, 2002

    O que a minhavontade?

    Banda No Violence

    O que a minhavontade?

    Bebendo cerveja, sereiaceito

    Fumando cigarro, soumais eu

    Vestindo jeans, soudescolado

    Com o carro do ano,sou desejado

    Plantam idias naminha cabea

    Tudo feito para meenganar

    A pasta de dentes trazmulheres

    O refrigerante faz comque eu me enturme

    O desodorante mostraminha virilidade

    O perfume me faz serelegante

    Quem eu sou? O quequero?

    Meus desejos soverdadeiros?

    Banda No Violence

    A juventude histrica, ou seja, nemsempre apareceu como

    etapa singulardemarcada. A

    juventude nasce nasociedade moderna

    ocidental como tempode preparao para a

    vida, para acomplexidade das

    tarefas de produo dasociedade industrial.Essa preparao erafeita em instituies

    especializadas (escola)implicando a

    suspenso do mundoprodutivo. Estudar en eram

    elementos da condiojuvenil.

    o trabalhar

    Os estudos mais recentes buscam passar da idade como categoriaestatstica, e da idia de juventude vinculada apenas s mudanasfsicas e psicolgicas para um momento da vida, processado pelahistria e pela cultura. Em outras palavras, preciso considerar ascircunstncias culturais e os cdigos de socializao de cada poca paraentender como a sociedade define o que a condio juvenil de seutempo.

    Jovens e participao social. Guia de aes 9

  • O significado de ser jovem dado pelo modo como ajuventude representada, ou seja, pelo modo como se faladela, pelas imagens produzidas em torno dela, e pelos valoresa ela atribudos. Deste modo, ser jovem, decorre deconstrues culturais, no sendo o seu significado o mesmonas diferentes pocas e at mesmo para diferentes gruposculturais emumamesmasociedade.

    Por que falar em juventudes?Juventudes no plural demonstra um cuidado com as generalizaes

    que simplificam e homogeneizam os jovens, ignorando a diversidadedas experincias juvenis.

    Ser jovem depende da idade, da gerao, do grupo social, do gnero,da etnia, do local demoradia, dos cotidianos e possibilidades de projetosde futuro. Ou seja, uma identidade que se articula com outras e seconstitui por meio de disputas por imposio de significados. Ser jovemde uma grande cidade diferente de ser jovem do meio rural, assimcomo ser jovem negro da periferia de uma cidade diferente de serjovemmulher negra nestamesmaperiferia.

    Compreender a etapa da juventude em sua complexidadeimplica em reconhecer que aquilo que denominamos juventudeadquiriu sentidos diferentes ao longo da histria. A juventudeencerra uma enorme diversidade de variveis biolgicas,psicolgicas, sociais, culturais, polticas e ideolgicas. Issosignifica dizer que no existe a juventude, mas juventudes queexpressam situaes plurais, diversas e tambm desiguais navivncia da condio juvenil. No entanto, a simples utilizaodessa expresso no plural no garante, por si s, oreconhecimento das realidades vividas pelos jovens, por partede quemaanuncia. (GIL, 2003)

    Juventude apenas uma idade?Vivemos um tempo de complexidades em que convivem diferentes

    significados e representaes de juventude. O mercado parece tercaptado que a juventude mais do que uma fase, um estado ancoradono presente. Emerge, ento, como um tempo de ousadias, vigor,liberdade e riscos, apresentando-se mais como uma esttica de vida doque como uma idade. De outro lado, a juventude associada a umaretrica do medo, da violncia, dos jovens como problema social. preciso distinguir a fase da vida e os sujeitos, ou seja, no se podemisturar juventude e jovens.

    Melucci (1992) propepensar a

    adolescncia/juventudecomo um perodo que

    no termina, parapassar definitivamente

    idade madura semproblemas e sem

    crises, mas quemantm, ao contrrio,abertos para o resto da

    vida, os aprendizadosda prpria crise.

    Vamos acumulando eno evoluindo para

    estgios maiscomplexos, perdendo

    as percepes maisprimitivas. Sob esse

    ponto de vista, ocrescimento aparece

    como mudanacontnua, mas tambm

    como permanncia.Em outras palavras,

    tudo passa, tudo fica.

    A idade, como critrio para agrupar as pessoas, traz implcito ocarter da transitoriedade. Neste caso, a juventude representaria umatransio, e ser jovem seria estar numa condio provisria, de vir a ser.Um tempo de no viver, de passagem/corredor e preparao para ofuturo.

    Mas os jovens, mergulhados num tempo de incertezas, se fixam nopresente, pois difcil fazer projetos a longo prazo num tempo acelerado

    Jovens e participao social. Guia de aes 10

  • e demuitasmudanas. O fundamental no a construo demetas paraum futuro incerto,mas experimentar o sentido do presente.

    Os atributos tradicionais da juventude parecem ter se deslocado paraalm dos limites biolgicos, tornando difcil responder questesrelacionadas identidade, pois os momentos de trnsito, os ritos depassagem no se configuram mais como possibilidade para qualquerdefinio de juventude. Num contexto cultural, marcado por diferentespertencimentos, interaes planetrias, exploso de oportunidadespara a experincia individual, as fronteiras entre juventude ematuridadeevaporaram-se.Uma idade no elimina a outra,mas a contm.

    Todos os jovens vivemigualmente o tempo de juventude?

    Viver a juventude nummesmo tempo pode levar jovens de diferentescontextos sociais e culturais a partilharem linguagens, estticas,sentimentos, valores e idias. Contudo, o modo como experimentam oqueos identifica como jovens vivido de formadiversa.

    Para compreender essa idia importante considerar:

    , ou os significados atribudos juventude,isto , como cada sociedade representa seus jovens em umdeterminado tempo. Por exemplo, nos anos 50, havia a juventudetransviada; nos anos 60, os rebeldes; nos anos 70, a juventudepaz e amor; nos anos 80, os alienados e, nos anos 90, as gangues.Essas representaes homogeneizam e escondem a diversidade,pois nem todos os jovens estavam presentes nestes movimentosou ausentes de outros.

    , ou os diferentes percursos dos jovens a partirde diferentes recortes de gnero, etnia, sexo, territorialidade,grupo social, religio etc, bem como os diferentes modos deexperimentar o ser jovem.

    Para compreender a diversidade da situao juvenil na atualidade, preciso analisar asmudanas emcurso:

    o ingresso na vida adulta no obedece mais auma sincronia, ou aos rituais tradicionais. Por exemplo, possvel ser paiou me sem sair da casa dos pais, sem constituir uma nova famlia ouconcluir a escolaridade;

    transformao do lugar de importncia deinstituies socializadoras tradicionais (escola, famlia e trabalho) navida dos jovens. O processo de desinstitucionalizao envolve ainda ainfluncia dos meios de comunicao, conformando uma cultura juvenil,quase universal, em substituio transmisso cultural das instituiescomo famlia e a escola.

    o prolongamento do tempo de juventude, como umtempo livre, de suspenso. Para alguns jovens, tempo de estudo, decursos, de formao e, para outros, um tempo de espera, de vazio, emvirtude da falta de estudo, de trabalho e de lazer. um tempo de marcarbobeira na esquina.

    Na vivncia prolongada da juventude, o mundo cultural ocupa umacentralidade. Os espaos da cultura e do lazer podem se constituir empossibilidades de experimentao das mltiplas identidades, relaes

    a condio juvenil

    a situao juvenil

    Descronologizao:

    Desinstitucionalizao:

    Moratria social:

    ndios

    .Legio Urbana

    ndios

    .Legio Urbana

    Quem me dera, aomenos uma vez,

    Acreditar por uminstante em tudo que

    existeE acreditar que omundo perfeito

    E que todas as pessoasso felizes

    1 Minuto para o Fimdo Mundo

    CPM 22

    1 Minuto para o Fimdo Mundo

    CPM 22

    Me sinto s,Mas quem que nunca

    se sentiu assimProcurando um

    caminho pra seguir,Uma direo -

    respostas...

    Jovens e participao social. Guia de aes 11

  • com o espao pblico, expresso de idias, ampliao das redes deamigos e construo de sentidos para a vida, ampliando as perspectivasde formulao de projetos de futuro.

    ,,

    ,

    ,

    Criticar os outros fcil, mas hoje quero

    escrever, queropintar, quero compormsicas, fazer filmes,

    escrever textos depoltica, fazer tirashumorsticas, mas

    tudo tem que termaterial e espao.

    Posso ter tempo, masno tenho dinheiro

    para comprar astintas e pintar um

    quadro. Mas se temespao em um jornaltenho que escrever oque eles querem, ou

    seja, na linhaeditorial do jornal.

    Procuro emprego, masno consigo. Escrevo

    poesias, mas noservem para nada.

    Meu pai escreviadesde pequeno, e, aqui

    em casa, discutimosmuito isso. Ele

    mdico e o tempo quetem completamente

    sufocado pelotrabalho, no tendoespao para realizar

    seus sonhos. Nasfrias comeou a

    montar s livros quehavia escrito h mais

    de 40 anos. Tenho umfilho, e tenho quetrabalhar me

    dizem que eu vou terdinheiro para

    comprar a filmadorapara fazer meus

    filmes, as tintas parafazer meus quadros.

    Bem, a eu penso...mas se eu estiver

    trabalhando quandovou fazer tudo isso?

    Entrou no trabalho, osonho acabou. Dizem

    que sou daquelesjovens que no vai

    virar adulto nunca.

    ,,

    ,

    ,

    ,o

    . A

    Jovem de 23 anos.Jovem de 23 anos.

    RefernciasCORTI, Ana Paula; SOUZA, Raquel. Juventude, trabalho e cultura. In: .

    subsdios para educadores. So Paulo:AoEducativa, 2004.GIL, Carmem Zeli Vargas.

    prticas educativas de jovens de Santo Antnio daPatrulha, em grupos de msica e religio. Porto Alegre: PPGEdu/UFRGS,2003. (Dissertao deMestrado)LEVI, Giovanni; SCHMITT, Jean-Claude. daAntigidade eramoderna. SoPaulo: Companhia das Letras, 1996.V. 1.MARGULIS, Mario. Buenos Aires:Biblos, 2000.MELUCCI, Alberto. movimentos sociais nassociedades complexas.Rio de Janeiro: Vozes. 2001.

    a mudana de si em uma sociedade global. SoLeopoldo: EditoraUNISINOS, 2004.

    FABBRINI,Anna. adolescenti tra sogno ed esperienza.Milano: Feltrinelli. 1992.

    .

    ;

    Dilogos com o mundo juvenil:

    No tecer da juventude, a vida; no tecer davida, a juventude:

    Histria dos Jovens:

    La juventud es ms que una palabra.

    A inveno do presente:

    O jogo do eu:

    L'et dell'oro:

    Jovens e participao social. Guia de aes 12

  • Participao social

    Como se desenvolve a participao social?

    O que constitui a solidariedade?

    A participao social condio da existncia do ser humano, queconstitui sua identidade na convivncia, pois a existncia do outro possibilitaa conscincia do eu. Acontece de inmeras formas, em diferentes mbitos,circunstncias, contextos, por meio de conflitos ou interaes construtivas eatravs de variadas mediaes (instituies, movimentos, redes), nopodendo ser concebida apenas como participao poltica ou emorganizaes formais.

    Pormeio da participao social, os indivduos:desenvolvem linguagens e cdigos comuns;experimentam trocas de informaes;ampliam referncias e possibilidades de dar sentido s formas de agir;elaborame confrontamvalores;reconhecem-se comoparte de um todo complexo de relaes sociais.

    A participao social se desenvolve em sintonia com a vontadeindividual e se consolida na interao. Do reconhecimento daidentidade, h um movimento em direo ao outro. A ao social v oindivduo como motor e impulsionador de mudanas. Atravs dela, soconstrudos valores e atitudes, fundados, sobretudo, em vnculos scio-afetivos, que constituem as primeiras formas de socializao, e cria-seum ns que d consistncia e estimula continuidade da ao.

    A participao social aparece em relatos de jovens que atribuem aconsolidao de sua prtica ao fazer desde a infncia, por influncia defamiliares ou por identificao com pessoas amigas ou experinciasiniciadas em movimentos dos quais participa desde criana (ligados aoescotismo, religio, por exemplo). Tambm merecem destaque osmovimentos sociais baseados em redes de solidariedade, com fortesconotaes culturais.

    A solidariedade prope a atuao em regime de cooperao mtua eest associada ao conceito de democracia, como forma coletiva deviabilizao da liberdade individual. conceito base para propor eexplicar uma ordem social, um tipo especial de relacionamento apoiadoem relaes de reciprocidade.

    Jovens e participao social. Guia de aes 13

    Jovem de 15 anos

    A participaoest muito ligada

    questo da pessoa, doser humano que tem

    tambm o princpio dequerer participar degrupos, de se reunir.

    E o jovem por isso,comea a participar

    cada vez mais.Jovem de 15 anos

    Aao solidria ocorremediante condies:no indiferena social: o outro jamais anulado ou

    considerado inferior;respeito autonomia e identidade dos envolvidos;reconhecimento das diferenas: a alteridade tambm

    momento de aprendizado de si;disponibi l idade para aprender com o outro,

    concretizando interao, que deriva em benefcios indiretos,tais como o desenvolvimento de habilidades e competncias egratificaes psicolgicas e sociais.

  • O que participao social solidria?

    Asolidariedade, derivada do compromisso com a sociedade, ocorre medida que o indivduo se reconhece como parte em um todo complexode relaes sociais. Sem que se anulem os aspectos da subjetividade,manifesta-se predominantemente pela vontade para agir e pelacompreenso a respeito da urgncia de agir, fundadas na sociabilidadecoletiva, na cooperaomtua.

    A ao social solidria supe a construo de competncias quefavoream a unio e a respeitabilidade recprocas entre diferentes, comvistas a atingir formas de bemestar.

    O motor da solidariedade o comprometimento com a vida em umacomunidademais ampla, exercida graas ao empenho de cada indivduopelo bemcomum.

    A participao social solidria uma forma de pertencimento a umarede de relaes por escolha, sem a pretenso de nenhum benefciomaterial ou econmico, mas apenas por interesse de se envolver emprticas de sociabilidade afirmativas no contexto social.

    A motivao para a participao no deve ser concebidacomo uma varivel exclusivamente individual. Mesmocolocando-se em nvel das subjetividades, a participaoconsolida-se na interao. Hoje, o agir coletivo apresenta-secomo uma escolha, no necessariamente vinculada a forasnaturais ou leis histricas.

    (MELUCCI, 2001)

    Como se desenvolve aparticipao social solidria?

    A participao social solidria implica em construo de uma culturaque s se concretiza atravs da reflexo a respeito da prtica. Mais doque apoiada na subjetividade ou no exerccio da socializao, aparticipao social solidria funda-se no saber, ou seja, na reflexo queseu praticante executa a respeito de seu papel na sociedade.

    Jovem de 20 anos

    O que te fazparticipar? Eu acho

    que uma questo derealizao pessoal. O

    mundo tem muitacoisa pra ser feita e, se

    eu no fizer, algumvai fazer. Por que eudeixaria para outro

    fazer o que eu quero?Jovem de 20 anos

    Quando se pode dizer que a participaosocial solidria e voluntria?

    Quando motivada por valores da participao e da solidariedade, e,por livre adeso, demanda tempo, trabalho e competncias embenefciodo bemcomum;

    Quando compreende que assegurar direitos e qualidade de vida no apenas responsabilidade do Estado, mas compromisso de toda asociedade;

    Quando desvincula o atendimento das necessidades humanas deprocedimentos meramente formais e prioriza a ao consciente em prolda qualidade da vida coletiva.

    Jovens e participao social. Guia de aes 14

  • O voluntariado um fenmenoque contempla realidades heterogneas.

    Convm estar atento para:

    Assegurar respeito diferena e autonomia dos envolvidos, repelindoqualquer formadepaternalismo, populismoouassistencialismo;

    Alargar canais de participao, aumentando a visibilidade dosprocessos de deciso.

    Por que importante envolver jovensem aes sociais solidrias e voluntrias?

    Ao exercer a participao social solidria, os jovens so motivados aconhecer seu entorno, a aprender a agir em prol da sua transformao, asaber conviver com as diferenas e a ter uma visomais abrangente dasformas de ser, expressando e partilhando idias, talentos, experincias.A participao estimula o saber social, entendido como conjunto deconhecimentos, prticas, procedimentos, valores e sentidos julgadosvlidos em uma sociedade. A partir dela, os jovens desenvolvemcompetncias para conviver e projetar um futuro.

    Jovens e participao social. Guia de aes 15

    A participao social solidria e voluntria inova e se constituiem laboratrio para novos modelos culturais, organizativos erelacionais.

    Aao voluntria, por sua prpria presena, revela e anuncia:revela a existncia escondida de grandes dilemas queatravessam as sociedades complexas e anuncia que 'algonovo' possvel. (MELUCCI, 2001)

    Jovem de 19 anos

    Eu sempre meinteressei muito pela

    ecologia, participao.Eu estava, naquela

    poca, j pensando emestudar cincias

    sociais, aquela coisade querer mudar o

    mundo e serparticipativa e ativa

    na sociedade,realmente fazer

    coisas. Pra mim ochamamento da ONG

    pareceu realmenteuma oportunidade deagir de alguma forma.

    No s por causa daecologia, mas por

    causa da participao.Ento comecei a

    participar dereunies, ser

    monitora da minhaturma e fazer essa

    intermediao,trazendo informaesda minha escola paraa ONG e da ONG pra

    escola.Jovem de 19 anos

    Os jovens podem, portanto, tornarem-se atores de conflitosporque falam a lngua do possvel; fundam-se na incompletudeque lhes define para chamar a ateno da sociedade inteira paraproduzir sua prpria existncia ao invs de submet-la; fazem aexigncia de decidir por eles prprios, mas com isto mesmoreivindicampara todos este direito. (MELUCCI, 2001)

    Mais do que satisfao pessoal ou motivao por um fazer movidopela urgncia ou pela oportunidade, a ao social solidria e voluntria compromisso e exerccio, pois tambm forma de se perceber melhor ede se posicionar demodoafirmativo na sociedade.

  • O que preciso perceber nas formas atuais departicipao juvenil para no reforar esteretiposde que os jovens so alienados e individualistas?

    A partir de estudos sobre as formas de participao dos jovens naatualidade, Leslie Serna, pesquisadora mexicana sobre juventude,observa:

    mais do que nas formas tradicionais dapoltica, hoje os jovens se agregam em grupos, redes e coletivos queatuam em torno da defesa e proteo do meio ambiente, dos direitossexuais e reprodutivos, da promoo e defesa dos direitos humanos, doapoio causa indgena, por exemplo.

    os jovens pensam no planeta, nasociedade global, na utopia, mas atuam no espao imediato e frente ainterlocutores prximos, fortalecendo a organizao com os ganhosinstantneos.Os jovens buscamaefetividade imediata de sua ao.

    aparticipao juvenil se expressa em pequenos coletivos e grupos e emaes diversas, nas quais o engajamento individual. Os jovensestabelecem mecanismos de participao pouco ou nadainstitucionalizados, atuam com grande flexibilidade em campanhasespecficas, em redes de informao e emaes concretas.

    as redes que os jovens criam atuam como facilitadoras e no comocentralizadoras. Os jovens buscam a rotatividade das funes no grupodemodoque todos possamexperienciar diferentes posies.

    Alm disso, preciso considerar a emergncia deque supe prticas de

    aprendizagem e canais de sociabilidade dos conhecimentos, tais comofanzines, cartas, jornais,msicas, pginas da Internet, grafites, etc.

    diversas formasde expressividade cultural juvenil

    a novidade das causas:

    a priorizao da ao imediata:

    a importncia do indivduo na organizao do movimento:

    a nfase na horizontalidade dos processos de coordenao:

    Jovemde 16 anos

    Ento, se eu queromudar o meu bairro,

    eu mudo a minha casaprimeiro; se eu quero

    mudar a minha cidade,eu mudo o meu bairroe assim vai... Eu mudo

    a minha cidade, eumudo o meu Estado, omeu Brasil, o mundo

    todo. Mas no vouquerer mudar o Brasil

    todo, se eu no consigomudar dentro da

    minha casa... Jovemde 16 anos

    Jovens e participao social. Guia de aes 16

    No lugar de enxergar as prticas culturais juvenis,principalmente aquelas provenientes dos jovens das periferiasde nossas cidades, apenas pela tica negativa que s v maugosto, violncia e dominao da indstria cultural, poderamostentar perceber a beleza e a fora cultural de movimentos quebuscam construir territrios prprios e autnomos nas runasdos espaos das cidades que sobraram juventudeempobrecida. (CARRANO, 2003)

    O que mobiliza jovens paraa participao social?

    Alguns elementos se constituem como mobilizadores doengajamento de jovens emaes sociais.

    Tais elementos no caracterizam todas as prticas de ao socialrepresentadas por jovens engajados em diferentes experincias, poisdependem de aspectos relacionados maior ou menor

  • Para o socilogo italiano Alberto Melucci (2001), aagregao dos jovens em aes de participao social no possvel se no existir uma certa coincidncia entre objetivoscoletivos e necessidades afetivas, comunicativas e desolidariedade dos seusmembros.

    Por isso, somobilizadores para a participao social juvenil:

    a vinculao a espaos que possibilitem a construo deidentidades afirmativas;

    as perspectivas de construo de projetos de vida e mudanapessoal e coletiva;

    a possibilidade de fazer diferena, reconhecendo-se, por exemplo,como jovens conscientes, que se afastam dos padres institudos pelamdia;

    o reconhecimento pela ao desenvolvida, com repercusses nombito psicolgico (ampliao da auto-estima), social (protagonismo) eemocional (ampliao da rede de amizades);

    a concretude do agir (aes com resultados concretos, imediatos,visveis e avaliveis);

    a experimentao possvel de diferentes formas de sociabilidadejuvenil;

    a possibilidade de se reportarem a um adulto de referncia, arelatos de outras prticas de sucesso, especialmente de outros jovens;

    a metodologia e os chamamentos de alguns movimentos ouinstituies que agregam jovens;

    a crena de que possvel mudar, abrindo perspectivas diferentesno mbito pessoal e coletivo.

    Como potencializar aparticipao social dos jovens?

    Reconhecendo a importncia das culturas juvenis;

    Questionando a perspectiva dosmovimentos sociais tradicionais;

    Rompendo esteretipos e respeitando as iniciativas departicipao dos jovens;

    Atentando cooperao sociocultural e formao de redes;

    Percebendo a urgncia do presente e a concretude do agir.

    Jovens e participao social. Guia de aes 17

    institucionalizao da ao, maior ou menor interveno de adultos, maior ou menor coincidncia entre os problemas da identidadeindividual, prprios da situao juvenil, e s especificidades daparticipao, durao das aes, dentre outros.

  • RefernciasCARRANO, Paulo. Enfrentando padres: Identidades culturais juvenis noBrasi l . Disponvel no site www.mult ir io.r j .gov.br/seculo21/texto_link.asp?cod_link=1085&cod_chave=1242&letra=hMELUCCI, Alberto. movimentos sociais nassociedades complexas.Rio de Janeiro: Vozes, 2001.SERNA, Leslie. Globalizacin y participacion juvenil.Mxico, n. 5, jul. - dic. 1998.SIGNATES, Luiz. Http://www.alternex.com.br/~solidario.html

    A inveno do presente:

    Revista Jovenes,

    Peridico Virtual Aurora.

    Jovens e participao social. Guia de aes 18

  • Parte IIProposta Educativa

  • Proposta Educativa

    JOVENS E PARTICIPAO SOCIAL SOLIDRIA

    Esta Proposta Educativa objetiva fundamentar aes de formao dejovens na perspectiva da participao social solidria e voluntria,dimenso central de uma cidadania plena e ativa. Seu princpio maior mobilizar e incentivar jovens, reconhecidos em suas culturas epotencialidades, atuao na vida pblica.

    Aproposta apresenta elementos constitutivos de umametodologia demobilizao social de jovens com a inteno de orientar diversas aeseducativas que visem consolidar uma cultura de participao, tanto apartir da escola, como espao privilegiado para o encontro com osjovens, como emoutros espaos de convivncia social em que os jovensse fazempresentes.

    Concebe que a juventude , por excelncia, momento de fazerescolhas, por isso aposta na dimenso afirmativa da participao social,fundamental para oportunizar experincias que desenvolvam aautonomia, a responsabilidade e o comprometimento com o entorno, demodo a possibilitar o delineamento de projetos de futuro que secaracterizempela construo demodos de vivermais solidrios.

    Falar de participao juvenil tambm falar de culturas juvenis, o queleva a reconhecer as mltiplas vivncias e identidades que os jovensexperimentam em nossos dias. Ao se relacionarem de muitas formas ese vincularem, a um s tempo, a diferentes grupos de pertencimento,constituem redes sociais nas quais se reconhecem em suaindividualidade, seja por aproximao, seja por diferenciao. Nessesgrupos de pertencimento, desenvolvem formas de ser e de sentir-se comeentre os outros.

    inteno dessa proposta educativa ampliar osmotivos que unem osjovens em diferentes redes de solidariedade, incentivando-os avivenciarem aes solidrias e voluntrias atravs de iniciativas formaisou informais. Assim, importa educar para a convivncia afetiva, mastambm interessa estreitar vnculos sociais, de cultura e depertencimento a um espao pblico que favorea o reconhecimento doprximoede simesmo.

    Uma proposta educativa que tenha por objetivo desenvolver umacultura do voluntariado jovem precisa considerar, com igual importncia,as dimenses de socializao, subjetividade e saber presentes nasvivncias de participao social e, na atualidade, impossveis de seremdissociadas.

    As dimenses da educaopara a participao

    Jovens e participao social. Guia de aes 20

  • Da mesma forma, um processo de engajamento e crescenteafirmao da participao social solidria exige que hajaespaos/momentos privilegiados para que os jovens possam estudar,refletir e avaliar constantemente suas prticas, o que possibilita aproduo de saberes capazes de colaborar para constituir tal cultura,tornando-a parte da direo de vida.

    Considerando que os jovens se constituem como sujeitos naconvivncia social a partir das relaes que experimentam, seja nombito da famlia, da escola, da comunidade, dosmovimentos juvenis ouem contextos mais amplos, importante que sejam examinadas asredes de interao vividas pelos jovens. Tais relaes constituem omundo em que se reconhecem, os relacionamentos que travam, asreferncias nas quais se pautame asmotivaes s quais recorremparase definiremem relao aos outros.

    Em suas experincias de socializao, os jovens descobrem eexpresssam suas preferncias por alguns espaos para viabilizarem oulegitimarem sua participao. Estabelecem vnculos e formas derelacionamentos particulares, enfrentam dificuldades e limites para aao e adotam atitudes para vivenciarem o espao pblico de modo aexplicitarem a imagem que tm da sociedade em geral e de algunsespaos emparticular, comoaescola.

    A subjetividade privilegia a percepo que os jovens tm de si nocontexto da experincia de participao. Por meio dela, se reconhecemcomosujeitos que se definememsua singularidade e nas relaes comomundo, que se apropriam culturalmente da realidade, constroemidentidades/pertencimentos. A dimenso subjetiva tambm se refereaos exerccios de si, ou seja, s atenes que dedicam a si mesmos paraproduzir uma esttica, uma atitude, uma identificao singular e coletiva,a partir dos grupos de pertencimento e das diferentes relaes queexperimentamna vida coletiva.

    Adimenso do saber diz respeito s aprendizagens em que os jovenstomam conscincia da sua condio medida que se apropriam domundo e pensam suas relaes com o entorno, autorizando-se a semanifestarem como sujeitos que aprendemcomas experincias vividas.Ao expressarem opinies e saberes, indicam o lugar que estes ocupamem seus projetos e o que pensam sobre os saberes que a sociedadeconsidera importantes.

    Assim, eles apresentam potencial de transformao a partir do quesentem, fazem, aprendem e elaboram criticamente, assumindocondies de participao autnomana vida social.

    As trs dimenses constituem diferentes possibilidades de interaodos jovens com o mundo e abrem perspectiva para a compreenso dosignificado social da participao, onde se situa o reconhecimentoindividual, o comprometimento com a vida em sociedade e ondeanunciam projetos de futuro. Na interseco das dimenses dasocializao, da subjetividade e do saber, a participao social solidriae voluntria se apresenta como um componente de cidadania ativa,favorecendo a vivncia de diferentes formas de participao. Odesenvolvimento de saberes e competncias para a ao social decorrede sentir-se tocado pelo que acontece no seu entorno, e se solidifica

    Jovens e participao social. Guia de aes 21

  • Jovens e participao social. Guia de aes 22

    Princpios

    A partir dos objetivos e dimenses desenvolvidos anteriormente, aproposta educativa que aqui se explicita pode ser expressa atravs decinco princpios orientadores de uma prtica de formao social dejovens, a saber:

    Educar para a participao social como exerccio de cidadaniasupe a criao de situaes de aprendizagem em que os jovensaprendam a participar vivenciando experincias efetivas deatuao solidria. Trata-se de valorizar o presente e a concretudedo agir.

    A consolidao de uma cultura de participao social solidria evoluntria juvenil exige o fortalecimento da autonomia eresponsabilidade dos jovens, assegurando-lhes autoria evisibilidade no processo de proposio, gesto, execuo eavaliao de aes sociais.

    A valorizao das diferentes linguagens, culturas, expresses ecompetncias juvenis contribui para o engajamento e a produode novas formas de participao social.

    As experincias de participao social solidria e voluntria dosjovens podem viabilizar a construo de espaos deaprendizagens sociais, de intergeracionalidade e cooperaosociocultural, elementos imprescindveis para a formulao dedirees de vida e expectativas de futuro.

    A mobilizao e a permanncia de jovens em aes departicipao social solidria e voluntria implica em buscaraproximaes entre os objetivos da ao coletiva e asnecessidades afetivas, comunicativas e de solidariedade de cadaum na vida cotidiana. Trata-se, assim, de valorizar as expectativaspessoais dos jovens tanto quanto os propsitos sociais das aes.

    quando o jovem experimenta o agir e reflete sobre a participao. Issosignifica que subjetividade, socializao e saber esto intimamenteimbricados.

    Em vista disso, um projeto educativo que se disponha a mobilizarjovens para a participao social precisa, portanto, contemplar essasdimenses, comomostra, didaticamente, a ilustrao abaixo:

    SUBJETIVIDADE

    ParticipaoSocial

    Solidria eVoluntria

    SOCIALIZAO

    SABER

  • Jovens e participao social. Guia de aes 23

    Processo educativo, educador e prticas

    Os jovens aprendem a participar socialmente em espaos queultrapassam os limites da educao formal. Muitos deles iniciam essaaprendizagem junto a suas famlias e comunidades, outros soincentivados por amigos, por exemplos de pessoas ou por instituies.Outros, ainda, atendem a chamamentos de bandeiras sociais diversas,por vezes atravs da escola. Face inteno de fomentar aeseducativas de mobilizao de jovens, preciso refletir a propsito deprticas a serem implementadas de modo a potencializar asoportunidades de todos aprenderem.

    Nesse contexto, importa sinalizar algumas competncias doeducador, tanto no mbito do conhecimento necessrio atuao emprol da cidadania plena e ativa, quanto na formulao de aes quefavoream as aprendizagens sociais, afetivas e cognitivas e nas formasde gesto da prtica educativa, constituindo equipes, coletivos detrabalho ou redes de cooperao identificadas com projetos e valorescomuns. Ao educador compete a coordenao e o planejamento dasaes educativas concretizadas em aes sociais que, por sua vez,possam ter a gesto compartilhada comos jovens.

    Um educador para a participao social compreende os jovens comosujeitos da sua histria e da cultura, que sabem e produzemconhecimentos de ordemvariada a respeito de si e dos outros. Combaseem conhecimentos, habilidades e capacidades, planeja e estruturaaes de modo que os jovens possam participar ativamente. Compete aele criar um meio rico, aberto a toda classe de estmulos, sempreconceitos, de modo a que todos sejam incentivados a cooperar,expressando suas prprias linguagens, estticas,modos de fazer.

    Sendo assim, o ponto de partida para o desenvolvimento de umprocesso educativo que favorea a participao social o conhecimentodos jovens com quem se vai interagir, o que inclui suas trajetriaspessoais, experincias de participao j vivenciadas e suasexpectativas. Alm disso, o estabelecimento de vnculos de amizade ede dilogo intergeracional, bem como a escolha adequada deestratgias educativas para amobilizao e engajamento crescente dosjovens, so desafios que se impemaoeducador.

    Na dimenso do saber, compete-lhe reconhecer os saberes juvenis edar prioridade aos que possam ser construdos atravs da reflexo arespeito do fazer. Tal reflexo oportuniza a efetiva autoria dos jovens nasaes, bem como um posicionamento crtico sobre a sociedade. Para aconstruo de novas aprendizagens, importante que o educador estejaatento pluralidade de situaes e informaes a serem oferecidas parareflexo, demodo a apresentar diferentes pontos de vista, contextualizare problematizar situaes da vida cotidiana, investir na superao dosenso comum, ampliando assim o horizonte e o repertrio deexperincias juvenis e as formas de interveno e participao social.

    Convm, ainda, incentivar o grupo a avanar em relao aos objetivosestabelecidos, favorecer a interao entre seus membros, oportunizarreflexo a respeito do processo vivido por todos, construirparticipativamente e apoiar aes emancipatrias surgidas no curso daao, avaliando-as sempre para no perder de vista os objetivos

  • Jovens e participao social. Guia de aes 24

    traados.

    Como articulador de um trabalho coletivo, tarefa do educadorincentivar os jovens a assumirem papis diferentes, fortalecendo umarelao coletiva de troca e respeito s diferenas, multiplicandoqualidades e diluindo dificuldades.

    Tambm importante acolher e possibilitar espaos demanifestaodas buscas pessoais e das necessidades afetivas dos jovens, uma vezque, na atualidade, a participao em aes sociais depende, cada vezmais, de alguma coincidncia entre as expectativas e necessidades deordem individual e os objetivos coletivos da ao.

    Por fim, o educador tambm deve ser capaz de refletirsistematicamente sobre si mesmo, sua ao educativa, suas interaescom os jovens, a fim de poder se constituir como adulto de referncia,aberto a aprender continuamente nas relaes intergeracionais, sendorespeitado pelomodo como conduz a construo do conhecimento e porsua atuao na vida social e profissional.

    A aprendizagem cooperativa aquela que pode favorecer aconsiderao das diferentes juventudes, potencializando habilidadespsicossociais e de interao. A ajuda mtua, a colaborao e asolidariedade so valores fundamentais e se concretizam na relaocom os outros, na aceitao de pontos de vista diversos, na negociao,na comunicao e na auto-estima.

    importante que as situaes de participao social ampliemoportunidades de interao, favorecendo aes de ajuda mtua e apoioentre jovens e adultos, de modo a superar a clssica diviso de tarefasdos grupos de trabalho tradicionais, que tornam as responsabilidadesdifusas ou centralizadas.

    Ensinar e aprender atravs de projetos implica emagir coletivamente,por meio do conhecimento da realidade e da pesquisa como forma devalorizar a participao. Numa ao coletiva, todos formam umacomunidade de sentido em torno do planejamento, execuo e avaliaode aes para a transformao da realidade, o que supe escolhasvoltadas para o futuro.

    Por esse motivo, projetos so estimuladores da cidadania ativa dosjovens e propem a vivncia ampla de situaes-problema, reflexo etomada de atitudes diante dos fatos. Os jovens que atuampormeio deleslidam com ambigidades, solues provisrias, necessidades quesurgem durante o processo, por isso preciso ateno aos objetivosinicialmente postos.

    A escolha dos temas e dos contedos especficos da participaosocial de responsabilidade de todos e convm que possam contemplar

    A cooperao como necessidade

    Elaborao de projetos

  • Jovens e participao social. Guia de aes 25

    demandas locais que remetam a uma reflexo sobre a cidadania, com opotencial de gerar aes de interveno social. Tambm a escolha dotema poder valorizar o contexto sociocultural e partir de temas vivos,buscando articular as diferentes atividades a serem implementadas,traar um plano de trabalho com aes, responsabilidades, perodos eprazos definidos.

    Os projetos tambm possibilitam o compartilhamento da produocoletiva, momento de avaliar, adquirir novos conhecimentos, reforarvalores, rever atitudes, valorizar prticas desenvolvidas, expressardificuldades e aprendizagens a seremalcanadas no futuro.

    Os jovens se articulam em torno de identidades transitrias, plurais,auto-reflexivas, continuamente reconstrudas de modo relacional einterativo e que emergem em espaos da sociedade transformados emterritrios prprios dos diferentes grupos culturais juvenis. Asidentidades coletivas so mostradas publicamente atravs de roupas,tatuagens, inscries corporais, criam estticas que lhes so prprias,assim como a adoo de alternativas para as prticas de aprendizageme canais de socializao de seus conhecimentos, como a msica, osfanzines, o grafite, os , rdios comunitrias, etc. Diferentes grupospodem ser reconhecidos por suasmarcas identitrias, atravs das quaisse diferenciamdeoutros jovens e tambmdos adultos.

    Estudos recentes tm mostrado que, na atualidade, os jovens estomais envolvidos com atividades ligadas ao lazer e a cultura, o que podeapontar para um alargamento dos interesses e prticas coletivas departicipao. Nesse sentido, legtimo apostar que a arte e a culturacontribuem para o engajamento e a produo de novas formas departicipao social dos jovens. Destacam-se, ento, experincias decooperao sociocultural empreendidas pelosmovimentos juvenis.

    As manifestaes culturais, mesmo aquelas episdicas e pontuais,so fortes catalizadoras das atenes e interesses dos jovens. Elesreferem que, atravs das produes culturais, conseguem expressarseus sentimentos, idias, vises demundo e propostas de vida. So, porisso, fundamentais as diferentes maneiras que os educadores podemcriar para valorizar as vozes jovens, dar significado a elas namobilizaoe engajamento em aes solidrias, a partir das suas capacidades deproduo cultural. As manifestaes culturais juvenis podem ser, ento,a forma,mas tambmocontedo da ao solidria.

    Ensinar e aprender a partir de uma abertura s manifestaes dosjovens pressupe a compreenso dos movimentos juvenis comoprodutores de cultura, alm de serem expresso dos valores presentesem uma sociedade. Assim, importante que um projeto educativo dvisibilidade cultura juvenil, ampliando os espaos de expresso dacriatividade e de desenvolvimento da criticidade em relao a essaproduo.

    blogs

    Espao aberto para a cultura juvenil

  • Jovens e participao social. Guia de aes 26

    Aprendizados de uma escuta:o que dizem jovens sobreparticipao social

    Os jovens que participaram da pesquisa, referida na Apresentao, refletiram sobre seus itinerrios de

    vida e vivncias de participao em conversaes com outros jovens ecom os pesquisadores. Indicaram elementos valiosos queles que sepropem a compreender suas motivaes e mobiliz-los participao.Tais reflexes so retomadas a seguir, para que educadores eprofessores possam, igualmente, partilhar os sentidos e implicaeseducativas que suas falas sugerem.

    Apropsito da participao social, indicaramque preciso considerarduas experincias distintas: aquelas que dizem respeito a uma primeiraparticipao, e que muitas vezes pode se tratar apenas de um evento oumovimento pontual, sendo portanto, experincias episdicas; e aquelasque se caracterizam pelo constante engajamento dos jovens em aessociais que possuem freqncia e continuidade como experinciapessoal, o que leva a uma espcie de cultura de participao na suatrajetria de vida. A participao constante, contudo, no significa apermanncia prolongada em uma mesma instituio, movimento ouatividade.

    O trao marcante a presena da participao como prtica de vida.Muitas vezes, envolvem-se, simultaneamente, em diferentes aessolidrias e mostram-se reflexivos quanto ao fato de estarem sempreengajados em alguma ao como parte do seu cotidiano e de suasescolhas.

    Os jovens referiram que participam de eventos ou campanhas queconvidam a uma ao solidria, alm de movimentos ou instituies. Otrao distintivo no o fato de serem vrias aes, algumas episdicas,mas o modo como se inserem nessas aes, a autonomia que tm parafazer escolhas e empreender atividades, a oportunidade de sentirem-separte de umgrupo que incorpora no seu cotidiano a participao social.

    No entendem a participao solidria apenas como um trabalhosolidrio, mas tambm, como prtica que se constitui em forma deproduo cultural juvenil cooperativa e que prope outros projetos desociedade e de mundo. As aes de cooperao sociocultural, porexemplo, envolvem tanto as redes de sociabilidade dos jovens entre si,quanto dos jovens em relao a seu local de habitao, cidade, ouainda s causasmais globais de atuao.

    Outro aspecto significativo aos educadores que os jovens comtrajetrias de engajamento social revelaram possuir liderana nas suasprticas como decorrncia da autonomia que possuem para a ao e dopapel autoral que desempenhamem relao ao fazer.

    Desse modo, a pesquisa parece subsidiar a inferncia de que, ao darvisibilidade s aes de participao social juvenil, supera-se umaperspectiva dos movimentos sociais tradicionais, de carter classista oupoltico, que levaria a afirmar que os jovens no tm participao social

    Jovens e Participao SocialSolidria

  • Jovens e participao social. Guia de aes 27

    expressiva em relao aos jovens de outros tempos. Trata-se, assim, deprivilegiar, na contemporaneidade, a existncia de outros movimentos,destacadamente a cooperao sociocultural, o que leva a reconhecermuitas e diversificadas iniciativas de participao juvenil. Por isso importante que, antes de agir, o educador ou professor realize umaespcie demapeamento acerca deos jovens comosquais interagir.

    Notadamente os jovens que se mantm engajados em aes sociaisdemonstram a importncia da dimenso do saber, uma vez queverbalizam diferentes aspectos relacionados a uma reflexo conscientede suas prticas, seus limites, o valor do planejamento, a necessidadedo trabalho coletivo, enfim, a busca por estudo e informao comopossibilidade de aprimoramento pessoal e das aes.

    A partir de diferentes experincias de participao social solidria evoluntria, indicam diferentes elementos que se constituram comomobilizadores de seu engajamento em aes sociais. Tais elementosno caracterizam todas as prticas representadas pelos jovens, poiselas dependem de aspectos relacionados maior ou menorinstitucionalizao da ao, maior ou menor interveno de adultos, maior ou menor coincidncia entre os problemas da identidadeindividual, prprios da condio juvenil, e as especificidades daparticipao; durao das aes, dentre outros.

    No entanto, forammencionados comomobilizadores de experinciaspessoais de participao os seguintes elementos:

    A possibilidade de experimentar diferentes formas desociabilidade juvenil, de pertencer a umgrupo e a uma rede;

    A funo expressiva pessoal, manifesta na gratificaopsicolgica (auto-estima) e social (reconhecimento), bem como naintensidade emocional (amizade) que experimentam nos gruposde atuao solidria;

    Os espaos dessas aes que possibilitam a construo deidentidades afirmativas;

    As perspectivas de construo de um projeto de vida e demudana pessoal e coletiva;

    A possibilidade de fazer a diferena, reconhecendo-se, porexemplo, como jovens que se afastam dos esteretipos dealienados, consumistas, individualistas;

    A concretude do agir altrustico: o desejo efetivado de ajudar ooutro comaes e resultados concretos;

    Os convites e chamamentos, os exemplos positivos, os adultos dereferncia (famlia, escola e instituio), outros jovens, asexperincias anteriores e as oportunidades de participar;

    Os prprios movimentos/instituies, suas metodologias ebandeiras, muitas delas que valorizam as culturas juvenis, suaslinguagens emodos de fazer;

    A crena de que possvel mudar, apoiada na perspectiva de umfuturo (e umpresente) diferente no mbito pessoal e coletivo.

    quem so, onde esto e o que fazem

  • Jovens e participao social. Guia de aes 28

    Por fim, e como incentivo aos educadores e professores, cativadospela leitura destas idias e proposies, uma ateno especial ainda sefaz necessria. No mbito da pesquisa, os jovens manifestaram que,primeiramente, tmo que dizer e desejammanifestar seus pensamentose opinies; segundo, no tm oportunidades, nem encontram espaosem que possam expressar esses pensamentos, idias, opinies sobresuas experincias, os saberes que produzem a partir delas, os projetosde vida e sociedade que formulam; e, finalmente, que desejam interagircom outros jovens, que esto envolvidos em distintas prticas sociais,para troca de experincias e aprimoramento de suas prticas.

    Retomando o que foi explicitado at aqui, uma proposta educativapara a mobilizao e engajamento de jovens em aes de participaosocial poder encontrar sintonias e aproximaes com outros jovens, namedida em que oportunizar situaes efetivas, concretas, de atuaosolidria; assegurar autonomia, autoria, atribuio de res-ponsabilidades, possibilitando-lhes participar da proposio, gesto,execuo e avaliao de aes sociais; valorizar as diferenteslinguagens, culturas, expresses e competncias juvenis; proporcionarespaos de convivncia intergeracional, trocas de saberes ecooperao sociocultural; facultar, no mbito da experincia, que osjovens vislumbrem e formulem direes de vida e expectativas de futuro;e, finalmente, contemplar as expectativas e necessidades prprias dasituao juvenil, abrindo espao para prticas de sociabilidade,discusso de problemas, relaes de amizade e sentimento depertencimento.

    O convite a uma prtica educativa fundada nestes princpios, idias eproposies est feito!

    Retomar para sublinhar

  • ObjetivosProporcionar reflexo a respeito do envolvimento dos jovens com

    questes que lhes dizem respeito.Relacionar as atitudes do dia-a-dia com os valores que influenciam as

    decises e as escolhas juvenis.Identificar prticas que, na atualidade, colaboram para a participao

    social.

    Temticas a serem exploradasJuventudes, participao social, tica, educao para valores.

    Apresentao do temaO desenvolvimento pessoal se

    efetiva atravs da conquista daautonomia que, por sua vez, partede um processo que tem a ver coma histria de vida. Uma pessoaautnoma capaz de projetar o seufuturo e realizar aes que oviabilizem. As oportunidades queacontecem ao longo da vidainfluenciam nas escolhas e naforma como cada um se comportana famlia, na escola e nas relaessociais mais amplas. Cada atitudetraz consigo uma tica que aprecede. A reflexo tica ajuda aquestionar as escolhas e a analisaras atitudes, pois a tica de umaao depende dos valores de quema pratica.

    O protagonismo juvenil uminstrumento de educao para acidadania. Possibilita que osjovens aprendam a viver em

    Que valores as juventudesconsideram importantes e queesto presentes nas suasescolhas do dia-a-dia?

    sociedade de forma solidria,vivenciem situaes em que sejamcapazes de identificar os valoresde certas aes ou os valores queno foram considerados na tomadade deciso, j que toda a ao estimpregnada de valores. Quemeduca para a participao socialprecisa conhecer os aspectos quecontam para os jovens na hora deagirem, de modo a tornar possvel oquest ionamento dos valorespresentes em cada ao e auxili-los a refletir sobre eles. Aorelacionar suas atitudes com o queelas significam socialmente, osjovens podem se reconhecer comoatores sociais e, a partir da,perceber e explicitar socialmentenovas demandas e formas depar t i c ipao h is to r icamenteinditas, atravs das quais sejammobilizados a agir.

    H quem fale em "poder jovem"...Se ele existe, que me provem, pois se resolvo querer

    o que os pais no esto a fim, dizem que eu no tenho idade,nem sequer maturidade pra saber o que bom pra mim.

    Como eu prefiro as verdades, mesmo que sejam ruins,concluo olhando os meus brins que poder jovem escolher

    a marca da cala jeans...Leila Micollis

    Atitude: discutir valores

    Jovens e participao social. Guia de aes 57

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  • Introduza o assunto entre os jovens, propondo que falem a respeito doque entendem por . Anote no quadro palavras-chave queencaminhem a conceituao do termo, ou algumas prticas ilustrativas, apartir das falas dos jovens.

    Entregue uma folha com uma tabela de cinco colunas, relativas famlia, escola, vizinhos, grupos sociais, amigos e com dez a doze linhas(para que escrevam os valores).

    Solicite que elaborem uma lista de valores que influenciam suas aesna famlia, na escola, na vizinhana, nos grupos dos quais fazem parte,incluindo os amigos mais prximos.

    Distribua para cada jovem trs pequenas tarjetas de papel de coresdiferentes.

    Sugira que analisem a tabela, selecionem os trs valores maisimportantes, hierarquizando-os e escrevendo-os cada um numa tarjeta(convencione com eles a cor que corresponder hierarquia).

    Elabore com o grupo um grande painel com as mesmas colunas databela individual e afixe-o na parede, para receber as tarjetas selecionadaspelos jovens.

    Proponha que dois jovens coordenem a composio do painel,sugerindo que cada um indique as colunas em que dever ser colocado ovalor nmero 1 e assim sucessivamente. Ex: Valor n 1 na coluna famlia,valor n 2 na coluna amigos, valor n 3 na coluna escola.

    Identifique, em grande grupo, os valores que se repetiram em todas ascolunas e os trs valores mais citados.

    Abra o debate sobre a motivao do grupo para priorizar tais valores ereflita em conjunto a forma como eles se traduzem em atitudes no cotidianodas relaes juvenis.

    valores

    Proposio1 Momento

    O incentivo ao protagonismo juvenil abre espao para o enfrentamento deproblemas e questes relacionadas com o coletivo, visto que extrapolam os

    interesses individuais e se situam no mbito das transformaes sociaisdesejadas pelos jovens. Ao identificar situaes a serem alteradas, pensarformas de enfrentamento, realizar aes planejadas e avaliar resultados,

    os jovens adquirem a capacidade de interferir em decises que dizemrespeito ao bem estar coletivo de forma consciente e responsvel, situao

    bem mais complexa do que escolher a marca da cala .jeans

    As formas de participao social tendem induo daao isolada dos indivduos ou grupos como nica

    possibilidade de interveno pblica: sondagens,pesquisas de opinio, participao censitria; no lugar de

    formas decisrias concretas e dialgicas.Paulo Csar Carrano

    Jovens e participao social. Guia de aes 58

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  • Distribuia a letra da msica , de Gabriel O Pensador( nexo 1) e, depois de escut-la e cant-la mais de uma vez, proponha queos jovens relacionem a sua disposio de mudar atitudes com asmudanas do mundo.

    Questione a motivao juvenil para construir um futuro que tenha lugarpara a participao social, cidadania para todos, respeito aos direitoshumanos, acesso arte e cultura, sustentabilidade ambiental.

    Contextualize o ambiente de convivncia dos jovens e desafie o grupo aidentificar prticas individuais e coletivas que valorizam a participao dosjovens em decises que lhes interessam.

    Problematize as atitudes e os valores que o grupo listou e sugira queidentifiquem as atitudes que facilitam e as que dificultam a participao dosjovens, indicando possveis aes de transformao.

    Oriente, aps a reflexo coletiva, uma releitura do mural, completando-o com as aes de transformao indicadas como prioritrias a seremrealizadas com autonomia pelos jovens.

    At quandoa

    2 MomentoPara dar continuidade ao debate e reflexo sobre valores individuais e

    coletivos, influncia dos valores nas atitudes, prticas que comprometemrelaes democrticas e solidrias e a importncia da reflexo sobre asaes, importante que os jovens registrem sua sntese. Para isso,oferea a cada um uma ficha onde escrevero valores pessoais e valoresdo grupo identificados no debate, atitudes que cada um gostaria de mudare as aes que gostariam de realizar. provvel que, no decorrer dessaatividade, aconteam algumas mudanas no registro inicial, pois a reflexoe debate coletivos interferem na anlise individual e produzem novassnteses.

    Jovens e participao social. Guia de aes 59

    Valores pessoais Valores do grupo

    Atitudes que gostaria de mudar Aes que gostaria de realizar

    3 MomentoAps o registro das snteses pessoais, proponha que os jovens

    confeccionem um novo painel para registrar os valores individuais ecoletivos identificados no segundo momento, coletados a partir das fichasindividuais. O novo painel ter trs colunas: valores individuais, valorescoletivos e aes de transformao/preservao do que funciona bem.

    Indique que a coluna da direita (aes de transformao/ preservao),nesta etapa, ficar em branco.

    4 Momento

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  • RefernciasD' AMBROSIO, Ubiratan INOUE, Ana Amlia MIGLIORI, Regina F.

    So Paulo: Peirpolis,1999.FRAGA, Paulo; IULIANELLI, Jorge (orgs.). Rio deJaneiro: DPFA, 2003.PAULA, Juarez de. Braslia: AED,2001.ROMANS, Merc PETRUS, Antoni TRILLA, Jaume.educador social. PortoAlegre:Artmed, 2003.SEM, Amartya. So Paulo: Cia dasLetras, 2000.

    ; ;Temas transversais e educao para valores.

    Jovens em tempo real.

    Democracia e desenvolvimento.

    ; ; Profisso:

    Desenvolvimento como liberdade.

    Anexos1. Msica

    2. Excertos protagonismo juvenilAt quando?

    Tempo sugerido2 encontros de 4 horas

    Planejando o encontroVoc vai precisar:

    Folhas com as tabelas impressas (registro dos valores);Tarjetas coloridas (trs para cada jovem);

    Dois painis de papel pardo;Ficha para registro dos valores, atitudes e aes.

    Voc tem que providenciar:Aparelho de som;

    Sala onde os painis possam ser afixados nas paredes (se nofor possvel manter o segundo painel exposto na sala, sugere-se

    que ele fique no corredor da instituio, pois importante que sejaalimentado ao final da atividade e possa ser observado por outros

    jovens).

    No esquea:De providenciar cpias impressas da letra da msica.

    Que tal?Desafie os jovens a

    buscar melhorcompreenso do contexto(refira bibliografia, sitesna Internet, sugiraconversas com pessoas-fonte) e a debaterementre si, no intervaloentre um encontro eoutro, a seguinte questo:

    Discuta com o grupo asdiferentes condies devida dos jovens erelacione-as com valoresimportantes para cadagrupo social (aspectosrelacionados condio e situao juvenil,tratados na primeiraparte do Guia). Issoauxiliar a relativizar e aconviver com apluralidade de escolhas.Permitir, ainda, percebertambm que asoportunidadesinfluenciam escolhas eprojetos de futuro.

    Contraponha o poemade Leila Micollis ao textoda msica de Gabriel OPensador e problematizeos valores expressosnuma e noutra situao.A contrastao possibilitacompreender que osexcertos se reportam adiferentes juventudes:uma que reduz seumbito de participao esfera pessoal e outra quepega em suas mos asrdeas do futuro e estimulada a participar.

    Como voc imagina queseja o dia-a-dia de jovensque vivem no campo; naperiferia das grandescidades, nas favelas; emaldeias indgenas, emacampamentos sem-terra;privados de liberdade; nonordeste, no centro-oeste,no litoral; daqueles queno esto na escola, quevivem em situao de rua,que trabalham paracomplementar a rendafamiliar desde a infncia?Que valores estaroenvolvidos nasprioridades que elesestabelecem?

    Jovens e participao social. Guia de aes 60

    A partir da comparao entre o primeiro e o segundo painel,estabelea relaes entre o exerccio de identificao das diferenasencontradas e a anlise das principais mudanas, destacando o quantoos jovens aprendem na interao com o outro e como o trabalhocooperativo amplia a reflexo e aponta questes que no se apresentamespontaneamente.

    Recomenda-se que o segundo painel fique exposto, para que osjovens incluam ou excluam valores e aes de transformao, por suadeciso. Observe o movimento do grupo, demonstre interesse pelosnovos registros e retome o debate sempre que alguma questonecessitar de esclarecimento, valorizao ou estmulo.

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    1 AT QUANDO?Gabriel O Pensador / Tiago Mocot / Itaal ShurNo adianta olhar pro cu commuita f e pouca luta.Levanta a que voc tem muitoprotesto pra fazer e muita greveVoc pode e voc deve, pode crer.

    No adianta olhar pro cho, virara cara pra no ver.Se liga a que te botaram numacruz e s porque Jesus sofreunum quer dizer que voc tenhaque sofrer.

    At quando voc vai ficar usandordea,rindo da prpria tragdia?At quando voc vai ficar usandordea,pobre, rico ou classe mdia?At quando voc vai levar cascudomudo?Muda, muda essa posturaAt quando voc vai ficandomudo?Muda que o medo um modo defazer censura.

    At quando voc vai levandoporrada, porrada?At quando vai ficar sem fazernada?At quando voc vai levandoporrada, porrada?At quando vai ser saco depancada? (bis)

    Voc tenta ser feliz, no v que deprimente,seu filho sem escola, seu velho tsem dente.Voc tenta ser contente, no vque revoltante,voc t sem emprego e sua filha tgestante.Voc se faz de surdo, no v que absurdo,voc que inocente foi preso emflagrante. tudo flagrante, tudo flagrante...

    At quando voc vai levandoporrada, porrada?At quando vai ficar sem fazernada?At quando voc vai levandoporrada, porrada?

    At quando vai ser saco depancada? (bis)

    A polcia matou o estudante,falou que era bandido, chamou detraficante.A justia prendeu o p-rapado,soltou o deputado e absolveu osPM's de Vigrio.

    At quando voc vai levandoporrada, porrada?At quando vai ficar sem fazernada?At quando voc vai levandoporrada, porrada?At quando vai ser saco depancada? (bis)

    A polcia s existe pra manter vocna lei.Lei do silncio, lei do mais fraco:ou aceita ser um saco de pancadaou vai pro saco...

    A programao existe pra mantervoc na frentena frente da TV, que pra teentreter,que pra voc no verque programado voc.

    Acordo num tenho trabalho,procuro trabalho, quero trabalhar.O cara me pede diploma, num

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    Jovens e participao social. Guia de aes 61

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  • Let

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    sicatenho diploma, num pude estudar.E querem q'eu seja educado, q'eu

    ande arrumado q'eu saiba falarAquilo que o mundo me pede, no o que o mundo me d.

    Consigo emprego, comeo oemprego, me mato de tanto ralar...Acordo bem cedo, no tenhosossego nem tempo pra raciocinar.No peo arrego, mas na hora quechego, s fico no mesmo lugar.Brinquedo que o filho me pede,num tenho dinheiro pra dar.

    Escola, esmolaFavela, cadeiaSem terra, enterraSem renda, se renda. No, no

    At quando voc vai levandoporrada, porrada?At quando vai ficar sem fazernada?At quando voc vai levandoporrada, porrada?At quando vai ser saco depancada? (bis)

    Muda, que quando a gente muda omundo muda com a genteA gente muda o mundo namudana da mentee quando a mente muda, a genteanda pra frente,e quando a gente manda ningummanda na gente.

    Na mudana de atitude, no hmal que no se mude nem doenasem curaNa mudana de postura a gentefica mais seguroNa mudana do presente a gentemolda o futuro

    At quando voc vai levandoporrada?At quando vai ficar sem fazernada?At quando voc vai ficar de sacode pancada?At quando voc vai levando?

    Jovens e participao social. Guia de aes 62

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    nilSobre protagonismo juvenil

    [Nas aes juvenis coletivas e participantes] seconstroem a autonomia dos participantes e o envolvimentoda coletividade com a ao. Esse modelo de ao, porconseguinte, no supe um mecanismo de gerao delideranas individuais, indivduos lderes (elites), mas agerao de participao e cooperao social. Propriamente,o protagonismo um modelo pedaggico poltico de ao. uma ao educativa que relaciona jovens e educadores ousomente jovens na construo de um processo deinterveno sociocultural. (p. 71)

    Ao cultural uma perspectiva de ao poltico-pedaggica que brota das estruturas da cultura local. (...).Trata-se de uma interveno social a partir do modo de serdos grupos e comunidades. um processo de criao docotidiano com uma perspectiva. Essa perspectiva aconstruo de maior participao e cooperao social emvista da superao das desigualdades socioeconmicas. Porconseguinte, na construo e transformao dementalidades que se d a ao cultural. (p.71-2)

    O protagonismo juvenil uma espcie de ao cultural.Uma interveno social da juventude, a partir dos interessesdos prprios jovens. (...) Os jovens so co-responsveis pelodestino deles e da sociedade. Os educadores tm um papelque significativo nesse processo. Esse papel o deacionar com os jovens mecanismos que facilitem aparticipao e deliberao juvenil durante toda a construodas aes. Os jovens planejam, executam e avaliam osprocessos dos quais participam. Os educadores no trazemum pacote de sugestes para que os jovens decidam. Oseducadores buscam, com os jovens, as orientaes para aao. (p. 73).

    Jovens e participao social. Guia de aes 63

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  • Pode crer, eu t no clima.Eu t no clima, segue a rima.

    A revoluo na sua mente.Voc pode, voc faz.

    Charlie Brown Jr. No srio.

    de participao social juvenilNarrando experinciasNarrando experincias

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    Narrandoexperincias

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    Jovens e participao social. Guia de aes 48

    ObjetivosPromover dilogo entre diferentes experincias de

    participao de jovens.Refletir sobre formas de participao dos jovens na

    comunidade.

    Temticas a serem exploradasJuventudes, solidariedade, diversidade da participao social juvenil.

    Apresentao do temaComo seres humanos somos

    dependentes uns dos outros. Nosconstitumos nas relaes quevivenciamos, nos afetos querecebemos, nas experinciascotidianas de nossas vidas, noenfrentamento dos desafios, nareflexo acerca do mundo e de nsmesmos. No somos nada fora dasrelaes e, portanto, se asociabilidade inevitvel, quantomais aberta, autnoma e par-ticipativa forem as relaes, maishumanos e solidrios seremos. Asaprendizagens para a vida socialconstituem um processo inacabadoque nos reserva uma existncia empermanente construo.

    Um dos elementos fundamentaisda sociedade contempornea apresena atuante dos jovens navida pblica. Para isso, os desafiosso imensos, as estratgias sodiversas e os atores so mltiplos,assim como so diferentes asposies que os sujeitos sociaisassumem.

    Nesse contexto, o contato entrejovens com diferentes experinciasde participao ajuda a construir a

    As relaes desolidariedade constituemuma forma de relaosocial que podemossituar entre as afetivas eas de cooperao. Partemdo reconhecimento deque certas necessidades,qualidades ou condiesdo outro podem sersatisfeitas ou melhoradascom as contribuies dequem se solidariza. Asolidariedade origina-seporque consideramosaquele que ajudamossemelhante a ns (comas mesmas necessidadese os mesmos direitos).Ns o fazemos paraiguala-lo um pouco maisconosco. Exercemos afraternidade com osdemais. (...)

    A importncia dessasrelaes est em queampliam a rede decontatos calorosos e maisestreitos, prprios dosintercmbios afetivos,ajudando na constituiode um tecido social maisintegrador, cominterdependncias maisestreitas. (GimenoSacristn, 2002)

    idia de que, como parte de redessociais, somos responsveis pelaconstruo coletiva da vida presentee futura. E se nossa vida social comos outros se desenvolve emdiferentes mbitos (famlia, grupos,escolas, igrejas, mundo do trabalho,associaes voluntrias, mo-vimentos sociais etc.) cabe forta-lecer esses vnculos, aproximandoos jovens entre si, potencializando oque os une e diminuindo o que osdistancia. As partilhas realizadasnas experincias de participaoso possibilidades para tais cons-trues.

    Existe um processo de orga-nizao juvenil que vem sendogestado a partir de diferentesprticas que expressam mudanadas formas mais tradicionais departicipao. Corti e Souza (2004)apontam que, ao final da dcada de90, houve crescimento de novas for-mas de participao e mobilizaojuvenil. Novaes e Vital (2005)chamam a ateno para os novoslugares, objetivos e formas departicipao cidado dos jovens, asaber: grupos e redes de jovens dos

  • As sociedadesprecisam contar comas juventudes, com asua capacidade deaprender a aprender ereciclar comflexibilidade as suascompetncias eatitudes, com o seuprazer criador e comsua energia vital. Comeles, em um novopacto de co-responsabilidade ecolaborao, as novasestratgias dodesenvolvimento e daorientao existencialpodem serconstrudas. (DinaKrauskopf, 2005)

    O gesto solidrio sobretudo um ato deautonomia, que se fazresponsvel pelooutro, que escolhe orespeito pela diferenaque o torna outro e seinteressa pelainterao. O sujeitosolidrio jamais v adiferena comocondio deinferioridade no outro(...) Uma posturasolidria v naalteridade o momentodo aprendizado de simesma. (LuizSignates)

    Se as geraes jovens esto dispostas a criar caminhospara reinventar suas vidas polticas e nosso futuro

    coletivo, as geraes adultas precisam comprometer-se emassegurar-lhes o direito ao exerccio da liberdade de fazer

    escolhas permitindo que decidam livremente, porexemplo, as formas de agrupar-se e cultivar interesses

    comuns; dando-lhes, durante suas vidas escolares, achance de participar ativamente da criao de normas de

    convvio, dos rumos do seu processo educativo.Mais importante, ainda, (...) estimul-la a assumir, cada

    vez mais, sua parcela de poder e responsabilidade naconstruo do bem-comum. Essa co-responsabilidade sobre

    o coletivo s se concretiza efetivamente se alm do desejode solidarizar-se j presente no universo juvenil somar-seo compromisso das geraes adultas de dar-lhes a chance

    de conhecer, refletir e agir como protagonistas sobre ascircunstncias em que vivem: a famlia, a escola em que

    estudam, a comunidade em que moram, a cidade, o estado,o pas e tambm o planeta onde as distncias se encurtam

    a cada inovao tecnolgica. (Simone Andr, OndaJovem, jul. 2006)

    projetos sociais

    grupos de jovens que atuampara transformar o espao local,nos bairros, favelas e periferias;grupos e redes que agregam jovensem torno de identidades especficas

    grupos que atuamnos espaos de cultura e lazer ;grupos que se renem em torno deuma causa ou campanha

    grupos de jovens religiosamentemotivados

    (instituiesgovernamentais e no-gover-namentais, servios comunitrios,trabalho voluntrio, concursos,etc.);

    (indgenas, afro descendentes, am-bientalistas, jovens com defi-cincias, etc.);

    (aescontra a violncia e pela paz,campanha contra a fome, etc.);

    .Podemos, assim, estar diante de

    um grande movimento associativojuvenil, embora nem sempre visvel,mais autnomo e espontneo,muitas vezes no-instituciona-lizado, que vem ganhando foracomo smbolo de um outro temposocial.

    Como se v, no s o consu-

    mismo tem marcado as expe-rincias dos jovens. No podemossimplesmente compar-los aosjovens de outros tempos, poistambm no podemos afirmar quetodos os jovens dos anos 60 ou 70,por exemplo, eram atuantes. inegvel, entretanto, que existemelementos que nas relaes sociaisda atualidade desfavorecem eimpem limites participao dosjovens, assim como h fatores que aimpulsionam, desde a menorinstitucionalizao at o maiorespao para o mbito da produocultural. De qualquer forma, oagravamento das condies de vidada maioria dos jovens, aos quaisno so assegurados os direitosbsicos, ou a extenso do tempo demoratria social para os jovens emmelhores condies, vem gerandoproblemas sociais diversos econstituindo uma realidade que crianovos desafios para os processosde mobilizao e participao socialjuvenil.

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    Jovens e participao social. Guia de aes 49

  • 2 Momento - Quem so, onde esto e o que fazem os jovens?Proponha que o grupo realize uma pesquisa sobre

    de sua escola, com o intuito de darvisibilidade s culturas juvenis e s prticas solidrias em suas diferentesexpresses, de modo a que possam ser conhecidas pelos adultos ouprofessores com quem interagem.

    Para isso, como primeira etapa da pesquisa, oriente a elaborao deum questionrio geral. O questionrio poder ser distribudo a todos osjovens do Ensino Mdio da escola, ou ainda para uma amostra significativade jovens, a partir dos quais se possa mapear:

    No questionrio geral, as perguntas procuraro identificar o que osjovens fazem quando no esto na escola, no tempo livre, tais comoatividades de lazer, finais de semana, o que mais gostam de fazer, a quegrupos pertencem ou que lugares freqentam, quais as expressesculturais e esportivas que preferem, etc.

    as prticasculturais e sociais dos jovens

    Quem so, onde esto, o que fazem os jovens para alm do espao escolar?

    3 Momento - Escutando e aprendendo com narrativas de participaoNa segunda etapa da pesquisa, uma vez tabuladas as respostas do

    questionrio geral e discutidos os resultados, os jovens podero realizarum aprofundamento do tema jovens e participao social. Para isso,selecionaro jovens que tenham respondido que esto engajados emaes solidrias e voluntrias para um entrevista, como a sugerida noAnexo 1.As entrevistas podero ser realizadas em duplas.

    Converse com os jovens sobre a postura de escuta e aprendizado a serassumida por cada um e a forma da entrevista, de modo que ela possa serrespeitosa, compreensiva, interessada.

    preciso no esquecer que do entrevistado o lugarcentral do encontro (...) H um mundo a descobrir, cheio deriquezas desconhecidas. (Esta deve ser a postura doentrevistador).

    Manter uma escuta atenta e refletir durante a fala dooutro. A entrevista no se processa numa ordem linear. [preciso] ter um guia e no um questionrio.

    ZAGO, Nadir. A entrevista e seu processo de construo: reflexescom base na experincia prtica de pesquisa. ZAGO, Nadir;CARVALHO, Marlia Pinto de; VILELA, Rita Amlia T. (orgs.).

    perspectivas qualitativas em sociologia daEducao. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.Itinerrios de pesquisa:

    Proposio1 Momento - Participao social: o que os jovens tm a dizer?

    Inicie o encontro com as cadeiras de crculo. Coloque nocentro do crculo tiras de papel, com os dizeres Participao Social,e com a palavra Juventudes. Os escritos podem ser feitos com tinta

    , .

    Convide os jovens a conversaremrelaes entre as palavras lanadas. Como se posicionam? O queconstatam em suas realidades?

    em formatoumas

    outrascomo se fossem grafites de jovens

    sobre suas opinies sobre as

    Este momento poder ser enriquecido, se houver disposio einteresse do grupo, com a leitura dos depoimentos de alguns jovensacerca de suas experincias de participao (Anexo 2).

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    Narrandoexperincias

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    Jovens e participao social. Guia de aes 50

  • 4 Momento - Refletindo e assumindo um engajamentoReflita com o grupo:

    o que podemos aprender com as diferentes experincias?j vivenciamos situaes semelhantes?o que aproxima e o que distancia as diferentes experincias?elas so divulgadas pela imprensa? Por qu?e ns, estamos engajados?queremos e podemos nos engajar?que aes mais nos tocaram e despertaram nosso desejo departicipar?

    Se houver tempo, motivao e disponibilidade do grupo,individualmente, cada jovem poder elaborar uma produo textual sobreparticipao social juvenil, expressando o que aprendeu e como se vdiante dos relatos de outros jovens.

    Pode-se sugerir que as produes sejam socializadas em um varal nasala de reunies do grupo ou que venham a compor um memorial dogrupo, intercalando fragmentos das entrevistas e depoimentos dos jovensentrevistadores.

    Auxilie as duplas a prepararem a apresentao de suas entrevistas ereflexes e, ao final, registre com todo o grupo as aprendizagens daexperincia de colher narrativas de participao social de jovens.

    Como terceira etapa da pesquisa, proponha a elaborao deconcluses, momento em que ser importante destacar:

    as diferentes expresses culturais juvenis;os grupos de pertencimento;as aes de cooperao sociocultural que os jovens realizam;as formas de participao solidria e voluntriaas aprendizagens e dificuldades das experincias.

    Ser fundamental que os jovens do grupo participem ativamente detodo o planejamento da pesquisa: definam os sujeitos a quem distribuir osquestionrios, identifiquem as etapas do levantamento, conheam osinstrumentos de coleta e registro, organizem a tabulao dos resultados,realizem as entrevistas, inventem as formas de socializao dos achados.

    Sugere-se que, para dar visibilidade dos achados aos pais epr