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HISTÓRIA A-23 Guerra Fria (1945-1991) O pensador francês, Raymond Aron, um dos grandes especialistas sobre Guerra Fria, sintetizou o período com a máxima “paz impossível, guerra improvável”. EUA e URSS travaram, em realidade, uma verdadeira batalha por campos de influência, o que é evidenciado no discurso do presidente Harry Truman ao Congresso, em 12 de março de 1947, solicitando auxílio econômico para a Grécia e a Turquia. Os presidentes americanos passaram a seguir a doutrina da “contenção”, desenvolvida por George Kennan, isto é, a ideia de que a área de influência soviética deveria ficar restrita aos limites obtidos ao final da II Guerra Mundial. A contenção foi colocada em prova, com vitórias para ambos os lados, diversas vezes: Berlim (1949), Coréia (1950-3), Cuba (1962), Vietnã (1961-75) e Afeganistão (1979). I. Os planos Preocupados em manter suas áreas de influência, ambos criaram planos com essa finalidade. Do lado norte-americano, o Plano Marshall (1947), programa de ajuda financeira para a reconstrução da Europa, cujos objetivos eram fortalecer os países capitalistas e anular a influencia do comunismo na Europa Ocidental, foi oferecido para todos os países europeus, sem restrições. A Iugoslávia, país libertado da presença nazista pelo guerrilheiro Josip Broz, o Tito, foi a única nação socialista a receber ajuda do Plano Marshall, revelando uma independência que incomodava a URSS. Depois da II Guerra Mundial, Tito estabeleceu um país formado por varias etnias e nacionalidades (Eslovênia, Croácia, Servia, Montenegro, Macedônia e Bósnia- Herzegovina). Em relação às alianças militares, o governo Truman preconizou a OTAN, Organização do Tratado do Atlântico Norte, tratado de defesa mutua cujo principio fundamental era um sistema defensivo que supunha que um ataque a um pais membro significava um ataque contra todos os signatários. Ironicamente, sua única ação foi após a Guerra Fria, em 1999, quando a organização bombardeou a Iugoslávia do ditador Slobodan Milosevic, acusado de promover genocídio contra a população albanesa do Kosovo. A URSS, por sua vez, para atender as “democracias populares” – Bulgária, Romênia, Polônia, Hungria, Tchecoslováquia e Albânia - organizaria a COMECON (1949), espécie de bloco econômico dos países socialistas e o Pacto de Varsóvia (1955), que tinha os mesmos objetivos da OTAN e foi acionado duas vezes: em 1956, contra os húngaros e em 1968, na chamada Primavera de Praga. II. Disputas por áreas de influencia A) Europa O primeiro campo de disputa da Guerra Fria foi o continente europeu. Pela Conferencia de Potsdam, a Alemanha ficaria dividida em quatro zonas de ocupação. A Alemanha ficaria dividida pelo embate ideológico em Republica Federal da Alemanha (ocidental) e Republica Democrática da Alemanha (Oriental). A cidade de Berlim, capital da Alemanha, também seria dividida. Os norte- americanos, interessados em fazer propaganda do regime democrático e capitalista contra o socialismo soviético, começaram a investir vultuosas somas na economia berlinense como forma de desenvolver sua parte de ocupação. Neste período, deu- se o inicio do Milagre Alemão, devido aos investimentos realizados em Berlim ocidental, localizada dentro da zona de ocupação soviética. O programa de desenvolvimento da economia alemã começou a provocar problemas no lado comunista, que estabeleceu um bloqueio aos acessos à cidade de Berlim Ocidental como forma de forçar os americanos a abandonarem a cidade. Os americanos responderam com a criação de uma ponte aérea como forma de manter o abastecimento da cidade. Em 1961, durante a presidência de Kennedy e do líder soviético Nikita Kruschev, os comunistas ergueram o Muro de Berlim para evitar a fuga da população para o ocidente. B) Ásia 1. Japão Em 1° de outubro de 1949, o Partido Comunista Chinês tomou o poder e proclamou a República Popular da China. Com a Revolução Comunista, o Japão passou a receber auxilio dos EUA. O governo norte-americano diminuiu as reparações exigidas ao governo japonês, revogou as leis antitruste da administração Mac Arthur (1945-48) e concedeu auxilio financeiro para a reconstrução do país. O “Plano de Dez Anos” (1961-70) previu a duplicação da riqueza nacional de modo que, na década de sessenta, o crescimento do Japão, na taxa média anual de 11%, foi o mais elevado do mundo. 2. Coréia Terminada a Segunda Guerra Mundial, a Coréia foi ocupada por tropas estrangeiras, segundo o acordo de Potsdam: os soviéticos acima do paralelo 38 e os norte americanos abaixo. O pretexto era garantir a liberdade da Coréia, eliminando-se por completo a presença japonesa. No entanto essa divisão e a ocupação militar refletia o início da Guerra Fria, ou seja, o início da disputa imperialista entre as duas superpotências. Em 1947, formaram-se dois governos, sendo que apenas o do sul foi reconhecido pela O.N.U. No ano seguinte constituíram-se dois Estados autônomos: A República Popular Democrática da Coréia (ao norte com o sistema comunista) e a República da Coréia ( ao sul, com o sistema capitalista). Em 1949, a maior parte das tropas estrangeiras retirou-se do país. A Guerra da Coréia, que perdurou de 1950-3, começou quando o norte, apoiado pela União Soviética e pela China Comunista, atacou a Coréia do Sul de tendência capitalista, com o objetivo claro de unificar a península. Caracterizada como uma guerra limitada, empregou armas convencionais e equilibrada, não houve vencedores. No final, a guerra terminou no mesmo ponto que começou, no paralelo 38. 3. Vietnã A Guerra do Vietnã foi um conflito armado que ocorreu no Sudeste Asiático entre 1959 e 1975, mas que tem sua origem em 1954, quando os franceses foram expulsos da região após a batalha do Dien Bien Phu, ficando o Vietnã dividido, como a Coréia: norte comunista e sul capitalista. Em 1887, a Indochina, que englobava o Vietnã, Laos e Camboja, foi conquistada e submetida ao colonialismo francês. A França, em 1940, foi ocupada pelos alemães, cessando seu domínio sobre a região. No ano seguinte, 1941, os japoneses ocuparam toda a Indochina, com o consentimento do general Pétain, o que levou à formação do movimento de resistência nacionalista, comandado pelo Vietminh (Liga Revolucionária para a Independência do Vietnã). O Vietminh era liderado por Ho Chi Minh, dirigente comunista, que após a derrota do Japão na Segunda Guerra proclamou a independência da República Democrática do Vietnã (parte norte). Terminada a Segunda Guerra, os franceses não reconheceram o governo de Ho Chi Minh e tentaram, a partir de 1946, recolonizar a Indochina, ocupando as regiões do Laos, Camboja e o Vietnã do Sul, desencadeando a Guerra da Indochina, que se estendeu até 1954, quando os franceses foram derrotados na Batalha de Dien Bien Phu. No mesmo ano, realizou-se a Conferência de Genebra, na qual a França retirava suas tropas e reconhecia a independência da Indochina, dividida em Laos, Camboja, Vietnã do Norte e Vietnã do Sul. Pela Conferência de Genebra, o paralelo 17 estabelecia a divisão entre Vietnã do Norte governado pelo líder comunista Ho Chi Minh e Vietnã do Sul governado pelo rei Bao Dai, que colocou Ngo Dinh Diem como primeiro-ministro. A guerra colocou em confronto, de um lado, a República do Vietnã (Vietnã do Sul) e os Estados Unidos, com participação efetiva, porém secundária, da Coréia do Sul, da Austrália e da Nova Zelândia; e, de outro, a República Democrática do Vietnã (Vietnã do Norte) e a Frente Nacional para a Libertação do Vietname (FNL). A China, a Coréia do Norte e, principalmente, a União Soviética prestaram apoio logístico ao Vietnã do Norte, mas não se envolveram efetivamente no conflito.

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Page 1: Guerra Fria (1945-1991) - cursodac.com.br · A Guerra do Vietnã foi um conflito armado que ocorreu no Sudeste Asiático entre 1959 e 1975, mas que tem sua origem em 1954, quando

HISTÓRIA

A-23 Guerra Fria (1945-1991)

O pensador francês, Raymond Aron, um dos grandes especialistas sobre

Guerra Fria, sintetizou o período com a máxima “paz impossível, guerra

improvável”. EUA e URSS travaram, em realidade, uma verdadeira batalha por

campos de influência, o que é evidenciado no discurso do presidente Harry Truman

ao Congresso, em 12 de março de 1947, solicitando auxílio econômico para a

Grécia e a Turquia. Os presidentes americanos passaram a seguir a doutrina da

“contenção”, desenvolvida por George Kennan, isto é, a ideia de que a área de

influência soviética deveria ficar restrita aos limites obtidos ao final da II Guerra

Mundial. A contenção foi colocada em prova, com vitórias para ambos os lados,

diversas vezes: Berlim (1949), Coréia (1950-3), Cuba (1962), Vietnã (1961-75) e

Afeganistão (1979).

I. Os planos

Preocupados em manter suas áreas de influência, ambos criaram planos com

essa finalidade.

Do lado norte-americano, o Plano Marshall (1947), programa de ajuda

financeira para a reconstrução da Europa, cujos objetivos eram fortalecer os países

capitalistas e anular a influencia do comunismo na Europa Ocidental, foi oferecido

para todos os países europeus, sem restrições. A Iugoslávia, país libertado da

presença nazista pelo guerrilheiro Josip Broz, o Tito, foi a única nação socialista a

receber ajuda do Plano Marshall, revelando uma independência que incomodava a

URSS. Depois da II Guerra Mundial, Tito estabeleceu um país formado por varias

etnias e nacionalidades (Eslovênia, Croácia, Servia, Montenegro, Macedônia e

Bósnia- Herzegovina).

Em relação às alianças militares, o governo Truman preconizou a OTAN,

Organização do Tratado do Atlântico Norte, tratado de defesa mutua cujo principio

fundamental era um sistema defensivo que supunha que um ataque a um pais

membro significava um ataque contra todos os signatários. Ironicamente, sua única

ação foi após a Guerra Fria, em 1999, quando a organização bombardeou a

Iugoslávia do ditador Slobodan Milosevic, acusado de promover genocídio contra a

população albanesa do Kosovo.

A URSS, por sua vez, para atender as “democracias populares” – Bulgária,

Romênia, Polônia, Hungria, Tchecoslováquia e Albânia - organizaria a COMECON

(1949), espécie de bloco econômico dos países socialistas e o Pacto de Varsóvia

(1955), que tinha os mesmos objetivos da OTAN e foi acionado duas vezes: em

1956, contra os húngaros e em 1968, na chamada Primavera de Praga.

II. Disputas por áreas de influencia

A) Europa

O primeiro campo de disputa da Guerra Fria foi o continente europeu.

Pela Conferencia de Potsdam, a Alemanha ficaria dividida em quatro zonas

de ocupação. A Alemanha ficaria dividida pelo embate ideológico em Republica

Federal da Alemanha (ocidental) e Republica Democrática da Alemanha (Oriental).

A cidade de Berlim, capital da Alemanha, também seria dividida. Os norte-

americanos, interessados em fazer propaganda do regime democrático e capitalista

contra o socialismo soviético, começaram a investir vultuosas somas na economia

berlinense como forma de desenvolver sua parte de ocupação. Neste período, deu-

se o inicio do Milagre Alemão, devido aos investimentos realizados em Berlim

ocidental, localizada dentro da zona de ocupação soviética.

B) Ásia

O programa de desenvolvimento da economia alemã começou a provocar

problemas no lado comunista, que estabeleceu um bloqueio aos acessos à cidade

de Berlim Ocidental como forma de forçar os americanos a abandonarem a cidade.

Os americanos responderam com a criação de uma ponte aérea como forma de

manter o abastecimento da cidade.

Em 1961, durante a presidência de Kennedy e do líder soviético Nikita

Kruschev, os comunistas ergueram o Muro de Berlim para evitar a fuga da

população para o ocidente.

B) Ásia

1. Japão

Em 1° de outubro de 1949, o Partido Comunista Chinês tomou o poder e

proclamou a República Popular da China. Com a Revolução Comunista, o Japão

passou a receber auxilio dos EUA. O governo norte-americano diminuiu as

reparações exigidas ao governo japonês, revogou as leis antitruste da

administração Mac Arthur (1945-48) e concedeu auxilio financeiro para a

reconstrução do país. O “Plano de Dez Anos” (1961-70) previu a duplicação da

riqueza nacional de modo que, na década de sessenta, o crescimento do Japão, na

taxa média anual de 11%, foi o mais elevado do mundo.

2. Coréia

Terminada a Segunda Guerra Mundial, a Coréia foi ocupada por tropas

estrangeiras, segundo o acordo de Potsdam: os soviéticos acima do paralelo 38 e

os norte americanos abaixo. O pretexto era garantir a liberdade da Coréia,

eliminando-se por completo a presença japonesa. No entanto essa divisão e a

ocupação militar refletia o início da Guerra Fria, ou seja, o início da disputa

imperialista entre as duas superpotências.

Em 1947, formaram-se dois governos, sendo que apenas o do sul foi

reconhecido pela O.N.U. No ano seguinte constituíram-se dois Estados autônomos:

A República Popular Democrática da Coréia (ao norte com o sistema comunista) e

a República da Coréia ( ao sul, com o sistema capitalista). Em 1949, a maior parte

das tropas estrangeiras retirou-se do país.

A Guerra da Coréia, que perdurou de 1950-3, começou quando o norte,

apoiado pela União Soviética e pela China Comunista, atacou a Coréia do Sul de

tendência capitalista, com o objetivo claro de unificar a península. Caracterizada

como uma guerra limitada, empregou armas convencionais e equilibrada, não

houve vencedores. No final, a guerra terminou no mesmo ponto que começou, no

paralelo 38.

3. Vietnã

A Guerra do Vietnã foi um conflito armado que ocorreu no Sudeste Asiático

entre 1959 e 1975, mas que tem sua origem em 1954, quando os franceses foram

expulsos da região após a batalha do Dien Bien Phu, ficando o Vietnã dividido,

como a Coréia: norte comunista e sul capitalista.

Em 1887, a Indochina, que englobava o Vietnã, Laos e Camboja, foi

conquistada e submetida ao colonialismo francês. A França, em 1940, foi ocupada

pelos alemães, cessando seu domínio sobre a região. No ano seguinte, 1941, os

japoneses ocuparam toda a Indochina, com o consentimento do general Pétain, o

que levou à formação do movimento de resistência nacionalista, comandado pelo

Vietminh (Liga Revolucionária para a Independência do Vietnã).

O Vietminh era liderado por Ho Chi Minh, dirigente comunista, que após a

derrota do Japão na Segunda Guerra proclamou a independência da República

Democrática do Vietnã (parte norte). Terminada a Segunda Guerra, os franceses

não reconheceram o governo de Ho Chi Minh e tentaram, a partir de 1946,

recolonizar a Indochina, ocupando as regiões do Laos, Camboja e o Vietnã do Sul,

desencadeando a Guerra da Indochina, que se estendeu até 1954, quando os

franceses foram derrotados na Batalha de Dien Bien Phu.

No mesmo ano, realizou-se a Conferência de Genebra, na qual a França

retirava suas tropas e reconhecia a independência da Indochina, dividida em Laos,

Camboja, Vietnã do Norte e Vietnã do Sul. Pela Conferência de Genebra, o

paralelo 17 estabelecia a divisão entre Vietnã do Norte — governado pelo líder

comunista Ho Chi Minh — e Vietnã do Sul governado pelo rei Bao Dai, que colocou

Ngo Dinh Diem como primeiro-ministro.

A guerra colocou em confronto, de um lado, a República do Vietnã (Vietnã do

Sul) e os Estados Unidos, com participação efetiva, porém secundária, da Coréia

do Sul, da Austrália e da Nova Zelândia; e, de outro, a República Democrática do

Vietnã (Vietnã do Norte) e a Frente Nacional para a Libertação do Vietname (FNL).

A China, a Coréia do Norte e, principalmente, a União Soviética prestaram apoio

logístico ao Vietnã do Norte, mas não se envolveram efetivamente no conflito.

Page 2: Guerra Fria (1945-1991) - cursodac.com.br · A Guerra do Vietnã foi um conflito armado que ocorreu no Sudeste Asiático entre 1959 e 1975, mas que tem sua origem em 1954, quando

Em 1965, os Estados Unidos enviaram tropas para sustentar o governo do

Vietnã do Sul, que se mostrava incapaz de debelar o movimento insurgente de

nacionalistas e comunistas, que se haviam juntado na Frente Nacional para a

Libertação do Vietname (FNL). Entretanto, apesar de seu imenso poderio militar e

econômico, os norte-americanos falharam em seus objetivos. Em 1975, dois anos

depois da desocupação dos EUA, o Vietnã foi reunificado sob governo socialista,

tornando-se oficialmente, em 1976, a República Socialista do Vietnã.

C) América

A ilha cubana também entrou para o universo dos conflitos neste período. No

início do século XX, Cuba sofria forte influência do Big Stick norte-americano.

Desgastada com a administração corrupta e claramente favorável ao capital

estrangeiro, o povo começava a se inquietar.

A luta contra o ditador Fulgêncio Batista começou a partir de 1953, quando foi

organizado o ataque ao Quartel de Moncada, na cidade de Santiago, no dia 26 de

julho. O objetivo do ataque era realizar a tomada das armas, porém o ataque foi um

fracasso e Fidel Castro e seu irmão Raul foram presos. Fidel foi condenado a 15

anos de prisão. Contudo, dois anos depois, em 1955, foi anistiado por em razão da

pressão pública que havia sobre Batista.

Fidel e seu irmão se exilaram no México e de lá organizaram novamente o

movimento a fim de retornar à Cuba para derrubar o governo. Derrotado, Fulgêncio

Batista fugiu e se exilou na República Dominicana em 1º de janeiro de 1959. Logo

após a derrota, Fidel Castro se intitulou primeiro-ministro e pouco a pouco foi

concentrando o poder em si.

Algumas medidas iniciais do novo governo incluíram a realização da reforma

agrária, acabando com os grandes latifúndios existentes na ilha, e a nacionalização

de empresas estrangeiras, afetando diretamente os interesses dos Estados Unidos

na ilha.

III. A Guerra Fria e o processo de descolonização afro-asiático

Dentre os fatores que colaboraram com o processo de descolonização, tanto

externos, quanto internos, podemos citar: decadência europeia gerada como uma

consequência do final da II Guerra Mundial; o nascimento da Guerra Fria e o

subsequente apoio das novas superpotências: EUA e URSS; o apoio da ONU,

devido à defesa ao princípio da autodeterminação dos povos; a emergência do

nacionalismo em alguns países da África e da Ásia, responsáveis também pelo

surgimento das lideranças coloniais e da Conferência de Bandung, realizada na

Indonésia no ano de 1955.

Na Ásia, os casos mais conhecidos são o da Indochina – região que deu

origem a Laos, Camboja, Vietnã do Norte (socialista) e Vietnã do Sul (capitalista) e

da Índia, responsável pelo surgimento do Paquistão e de Bangladesh.

Na África, o processo de independência das colônias francesas, como a

Argélia, foi caracterizado como uma luta violenta contra a sua metrópole. Os casos

mais conhecidos, no entanto, são da África do Sul que entrou em uma luta contra o

Apartheid e as colônias portuguesas, cujo processo de independência é conhecido

como processo tardio.

Com o fim da II Guerra Mundial, a Europa perdeu o tradicional papel de centro

político e sem condições para mantere um domínio econômico e militar nas suas

colônias, ocorre a decadência dos grandes “impérios colonialistas”.

Simultaneamente, os movimentos independentistas adquiriram uma forma mais

organizada a partir da Conferência de Bandung (1955), conduzindo ao processo

que chamado de “descolonização afro-asiática”.

Descolonização Afro-asiática – “pode ser descrita como um

processo histórico, primordialmente político, ocorrido em especial

após a Segunda Guerra Mundial, e que se traduziu na obtenção

gradativa da independencia das colonias europeias situadas na

Ásia e na África. Teve seu ritmo regulado quer pelas formas de

luta dos povos colonizados na conquista de sua independencia,

quer pela política de ‘concessões’ de autonomia, diferentes

segundo a potencia colonizadora e, sobretudo, a especificidade

de cada território”. (Pereira, José Maria Nunes. África, um novo

olhar. RJ: Cadernos CEAP, 2006, P. 55-6)

No processo de descolonização da Ásia, foi importante a produção de um

pensamento anticolonial que uniu os povos do continente contra o inimigo comum.

Surgiu uma corrente de pensamento denominada “asiatismo”, que pregava a união

de esforços para romper o jugo colonial colonial europeu e defendia “a Ásia para os

asiáticos”. Esses movimentos tornaram-se mais visíveis a partir da Conferência de

Bandung.

A Conferência de Bandung foi realizada em 1955 na Indonésia. Nessa

reunião, que ficou conhecida como “cooperação econômica e cultural afro-asiático”,

estavam reunidas 29 nações desses dois continentes que defendiam o seguinte

lema “paz e promoção social em igualdade de direitos” como forma de combater o

racismo e a dominação estrangeira.

Dentre os principais princípios defendidos, destacam-se o respeito aos

direitos fundamentais, de acordo com a Carta da ONU; reconhecimento da

igualdade de todas as raças e nações, grandes e pequenas; a não-intervenção e

não-ingerência nos assuntos internos de outro país, também conhecido como a

“Autodeterminação dos povos” e o princípio de “não alinhamento”. Lembremos que

o mundo vivia o período da Guerra Fria, período que EUA e URSS buscavam áreas

de influencia. Os países afro-asiáticos, então, mostrariam oposição ao que era

considerado colonialismo ou neocolonialismo dos Estados Unidos da América, da

União Soviética ou de outra nação considerada imperialista. A partir dessa postura

diplomática e geopolítica de equidistância das superpotências, surgiria os países do

chamado Terceiro Mundo.

A respeito da descolonização das colonias francesas, a França procurou

manter suas colônias pela força militar, desencadeando guerras sangrentas na

Indochina, sobretudo Vietnã e Argélia. Por isso, os historiadores dominaram esse

processo de “descolonização violenta”. Um dos marcos da luta asiática pela

libertação foi, justamente, a batalha de Dien Bien Phu, em 07 de maio de 1954,

quando as forças do Vietnã venceram a França.

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Diferente da França, a Grã-Bretanha assumiu uma estratégia de conceder a

independência para as suas colônias como forma de manter os laços econômicos,

o que ficou sendo conhecido como “processo pacífico”.

Na Índia, a partir da década de 1920, Mohandas Gandhi e Jawarharlal Nerhu

passaram a liderar o movimento de independência da Índia. Gandhi pregava a

desobediência civil e a não-violência como meios de objeção à dominação inglesa,

transformando-se na principal figura do movimento indiano pela independência.

A perda do poder econômico e militar pela Inglaterra após a Segunda Guerra

Mundial retirou-lhe as condições para sustentar sua dominação na Índia. Em 1947,

os ingleses reconheceram a independência indiana, que levou — em função das

rivalidades religiosas — à formação da União Indiana, governada por Nerhu, com

maioria hinduísta, e do Paquistão Ocidental e Oriental, governado por Ali Jinnah,

da Liga Muçulmana, com maioria islâmica. O Ceilão também se tornara

independente, passando a ilha a se denominar Sri-Lanka, com maioria budista.

A independência da Índia resultava de um longo processo de lutas

nacionalistas, permeadas pelas divergências religiosas entre hinduístas e

muçulmanos, o que levou, em 1949, ao assassinato de Gandhi. A fragmentação

completa se concluiu quando o Paquistão Oriental, em 1971, sob liderança da Liga

Auami, separou-se do Paquistão Ocidental, constituindo a República

de Bangladesh.

Na África, no início do século XX, em todo o continente africano apenas a

Libéria era independente. Doravante a esse período, teve início uma modesta

iniciativa de instaurar a autonomia política das colônias. Entre os pioneiros,

destacam-se o Egito nos anos 20, a África do Sul e a Etiópia, ambos nos anos 40.

Em alguns casos, a arma de luta era a religião. Samuel Kimbango, em 1921,

no Congo Belga (atual República Democrática do Congo), foi líder de uma revolta

que deu origem a uma religião de contestação ao colonialismo: o Kimbanguismo.

Em Angola, o culto a uma deusa de nome Maria, que iria libertar os negros,

deu base a uma revolta em 1960, na região de Cassanje. Em outros casos, a

revolta armada era realizada em forma de guerrilhas, como o movimento Mau Mau,

no Quênia e as guerrilhas organizadas no Congo Belga, na Argélia e nos

Camarões.

Fora da África, africanos e africanas se articularam na Europa, assim como os

afrodescendentes nas Américas, criando uma série de manifestações no sentido de

valorizar as culturas africanas e dos povos negros no mundo. Junto com as

lideranças asiáticas também empenhadas na descolonização de seus países,

promoveram o que se chamou naquele tempo de uma “avalanche dos povos de

cor”. Ideias como a Negritude e o Panafricanismo saíram das mentes talentosas de

militantes africanos e afrodescendentes e foram transformados em armas de luta

ao formar consciências.

A negritude foi um movimento originado no pós-Segunda Guerra, de

valorização das culturas negras, destacando suas contribuições para a

humanidade. Seus principais formuladores pretendiam que os negros assumissem

com orgulho suas heranças africanas, não só na África como em todas as áreas da

Diáspora. Acreditavam e defendiam a idéia de que os valores tradicionais africanos

ajudariam a tornar o mundo melhor.

O Panafricanismo abrangeu o conjunto de idéias que surgiu entre os afro-

descendentes envolvidos na luta contra a segregação racial no Caribe e Estados

Unidos, no final do século XIX e inicio do XX. Pregava uma união entre os negros

no mundo, tendo por base suas origens, seus sofrimentos e suas lutas.

Inicialmente, era uma militância no plano cultural e centrada nas Américas, mas

logo assumiu um caráter de movimento político, principalmente após o Congresso

Pan-africano de 1945, realizado em Manchester. O Congresso adotou a

Declaração dos Povos Colonizados, redigida pelo ganense Kwame Nkrumah, que

termina com as palavras: “Nós proclamamos o direito, para todos os povos

colonizados, de assumirem seu próprio destino... Povos colonizados e povos

oprimidos de todo o mundo, uni-vos!”. Passou então a reivindicar uma ação coletiva

para a independência dos países africanos. A luta contra o racismo se fortaleceu

junto à luta pela descolonização africana, articulando duas frentes de combate pela

soberania e dignidade dos africanos e de seus descendentes.

O primeiro país do Continente Negro a conseguir a independência foi Ghana,

a ex-Costa do Ouro, de domínio inglês, em 1957. Nos anos 60 do século XX, mais

de vinte novos países africanos, surgiram como resultado das independências. No

entanto, as colônias portuguesas na África tiveram que enfrentar ainda mais tempo

de guerra, até meados dos anos setenta, quando a ditadura salazarista foi

derrubada, na chamada “revolução dos Cravos” e a socialdemocracia de Mário

Soares iniciou a negociação para a libertação das colônias de Angola,

Moçambique, Guiné-Bissau e aos arquipélagos de Cabo Verde e de São Tomé e

Príncipe. Por isso, no caso de Portugal, os historiadores definem o processo de

descolonização como “tardio”.

A conquista da autonomia política não significou a paz nesses países, nascidos em

grande parte da luta anticolonial e não de uma construção de fronteiras que fosse

fruto da história local. O contexto social de muitos países após a libertação foi

marcado pela instabilidade, conflitos armados e dependência econômica.

IV. O fim da Guerra Fria

Podemos afirmar que a crise nos países socialistas funcionou como um

catalisador para o fim da Guerra Fria. A falta de concorrência, os baixos salários e

a escassez de produtos causaram uma grave crise econômica. A falta de

democracia também gerava uma grande insatisfação popular. A partir de 1985, o

premier da União Soviética, Mikhail Gorbachev, iniciou a implementação do seu

programa de reformas, que incluía a Glasnost (reformas políticas priorizando a

liberdade) e a Perestroika (reestruturação econômica).

A presidência dos EUA nos últimos anos da Guerra Fria esteve nas mãos

de Ronald Reagan. Seu mandato estendeu-se por quase toda a década de 1980.

Teve início em 1981 e permaneceu no poder até 1989. Mesmo com uma

decadência acentuada da União Soviética, as práticas ainda eram muito

relacionadas à disputa ideológica entre capitalistas e comunistas. No período em

que Reagan esteve no poder ainda havia a grande preocupação dos

estadunidenses em fazer oposição à influência soviética no mundo, sendo esta a

tônica de seu governo.