guerra dos farrapos reis

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Guerra dos Farrapos Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre. Ir para: navegação , pesquisa Nota: Para outros significados, veja Farrapos . Guerra dos Farrapos Guilherme Litran , Carga de cavalaria Farroupilha, acervo do Museu Júlio de Castilhos Data 20 de setembro de 1835 1 de março de 1845 Local Sul do Brasil Desfec ho Vitória Militar Imperial; Vitória Política Republicana; Tratado de Poncho Verde ; Intervenientes República Rio-Grandense República Juliana voluntários italianos Império do Brasil Principais líderes Bento Gonçalves Antônio de Sousa Neto Giuseppe Pedro II do Brasil Lima e Silva Manuel Marques de

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Guerra dos FarraposOrigem: Wikipédia, a enciclopédia livre.Ir para: navegação, pesquisa

 Nota: Para outros significados, veja Farrapos.Guerra dos Farrapos

Guilherme Litran, Carga de cavalaria Farroupilha,

acervo do Museu Júlio de Castilhos

Data20 de setembro de 1835 — 1 de março de 1845

Local Sul do Brasil

DesfechoVitória Militar Imperial;Vitória Política Republicana;Tratado de Poncho Verde;

IntervenientesRepública Rio-

GrandenseRepública Julianavoluntários italianos

Império do Brasil

Principais líderesBento GonçalvesAntônio de Sousa

NetoGiuseppe GaribaldiDavid CanabarroDavid CanabarroGiuseppe Garibaldi

Pedro II do BrasilLima e SilvaManuel Marques de

SousaBento Manuel

Ribeiro

Forças40.000+ separatistas republicanos

60.000+ soldados imperiais

Guerra dos Farrapos ou Revolução Farroupilha são os nomes pelos quais ficou conhecida a revolução ou guerra regional, de caráter republicano, contra o governo imperial do Brasil,[1][2] na então província de São Pedro do Rio Grande do Sul,[3] e que resultou na declaração de independência da província como estado republicano, dando

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origem à República Rio-Grandense.[4] Estendeu-se de 20 de setembro de 1835 a 1 de março de 1845.

A revolução, de caráter separatista, influenciou movimentos que ocorreram em outras províncias brasileiras: irradiando influência para a Revolução Liberal que viria a ocorrer em São Paulo em 1842 e para a Revolta denominada Sabinada na Bahia em 1837, ambas de ideologia do Partido Liberal da época. Inspirou-se na recém findada guerra de independência do Uruguai, mantendo conexões com a nova república do Rio da Prata, além de províncias independentes argentinas, como Corrientes e Santa Fé. Chegou a expandir-se à costa brasileira, em Laguna, com a proclamação da República Juliana e ao planalto catarinense de Lages. Teve como líderes: general Bento Gonçalves, general Neto, coronel Onofre Pires, coronel Lucas de Oliveira, deputado Vicente da Fontoura, Pedro Boticário, general Davi Canabarro, coronel Corte Real, coronel Teixeira Nunes, coronel Domingos de Almeida, major Vicente Ferrer de Almeida,coronel Domingos Crescêncio de Carvalho, general José Mariano de Mattos, general Gomes Jardim [5], além de receber inspiração ideológica de italianos da Carbonária refugiados, como o cientista e tenente Tito Lívio Zambeccari e o jornalista Luigi Rossetti [6] , além do capitão Giuseppe Garibaldi, que embora não pertencesse a carbonária, esteve envolvido em movimentos republicanos na Itália.[7]. A questão da abolição da escravatura também esteve envolvida, organizando-se exércitos contando com homens negros que aspiravam à liberdade.[8][9]

Índice

1 Antecedentes e causas 2 Os Farrapos 3 A Revolta Farroupilha 4 A reação imperial 5 A proclamação da República 6 Batalha do Fanfa 7 A Guerra sem Bento 8 Gonçalves assume a presidência 9 Queda da "Tranqueira Invicta" 10 Marinha Farroupilha 11 A República Juliana 12 Os campos de Lages 13 1840: os farrapos perdem território 14 Reforços Liberais 15 O duelo entre Bento Gonçalves e Onofre Pires 16 Negociações de paz e a batalha de Porongos 17 Paz do Poncho Verde 18 Mídia 19 Na cultura 20 Referências 21 Ver também 22 Ligações externas

Antecedentes e causas

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Trecho do quadro A batalha dos Farrapos, de Wasth Rodrigues.

Conflitos na História do Brasil

- Império -

Primeiro Reinado

Guerra da Independência: 1822-1823

Independência da Bahia: 1821-1823

Confederação do Equador: 1824

Guerra contra as Províncias Unidas: 1825-1828

Revolta dos Mercenários: 1828

Período Regencial

Federação do Guanais: 1832

Revolta dos Malês: 1835

Cabanagem: 1835-1840

Farroupilha: 1835-1845

Sabinada: 1837-1838

Balaiada: 1838-1841

Segundo Reinado

Revoltas Liberais: 1842

Revolta Praieira: 1848-1850

Guerra contra Oribe e Rosas: 1851-1852

Ronco da Abelha: 1835-1845

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Questão Christie: 1863

Guerra contra Aguirre: 1864

Guerra do Paraguai: 1864-1870

Questão Religiosa: 1872-1875

Revolta dos Muckers: 1874

Revolta do Quebra-Quilos: 1874-1875

Questão Militar: década de 1880

A justificativa original para a revolta baseia-se no conflito político entre os liberais, que propugnavam modelo de estado com maior autonomia às províncias[10], e o modelo imposto pela constituição de D. Pedro I, de caráter unitário. Além disso, havia disseminação de ideais separatistas, tidos por muitos gaúchos como o melhor caminho para a paz e a prosperidade, seguindo o exemplo da Província Cisplatina.

O movimento também encontrou forças na posição secundária, tanto econômica como política, que a Província de São Pedro do Rio Grande ocupava no Brasil, nos anos que se sucederam à Independência. Diferentemente de outras províncias, cuja produção de gêneros primários se voltava para o mercado externo, como o açúcar e o café, a do Rio Grande do Sul produzia principalmente para o mercado interno. Seus principais produtos eram o charque e o couro, altamente tributados.[10] As charqueadas produziam para a alimentação dos escravos africanos, indo em grande quantidade para abastecer a atividade mineradora nas Minas Gerais, para as plantações de cana-de-açúcar e para a região sudeste, onde se iniciava a cafeicultura [5] . A região, desse modo, encontrava-se muito dependente do mercado brasileiro de charque, que com o câmbio supervalorizado, e benefícios tarifários, podia importar o produto por custo mais baixo[11]. Além disso, instalava-se nas Províncias Unidas do Rio da Prata uma forte indústria saladeiril, da qual participava Rosas, e que, junto com os saladeros do Uruguai, que deixara de ser brasileiro depois da Guerra da Cisplatina, competiria pela compra de gado da região, pondo em risco a viabilidade econômica das charqueadas sul-rio-grandenses. Consequentemente, o charque rio-grandense tinha preço maior do que o similar oriundo da Argentina e do Uruguai, perdendo assim competitividade no mercado interno.[12] A tributação da concorrência externa era uma exigência dos estancieiros e charqueadores[11]. Essa tributação não era do interesse dos principais compradores brasileiros que eram os que detinham as concessões das lavras de mineração, os produtores de cana-de-açúcar e os cafeicultores, pois veriam reduzida a lucratividade das mesmas, por maior dispêndio na manutenção dos escravos.

Há que considerar, ainda, que o Rio Grande do Sul era região fronteiriça aos domínios hispânicos situados na região platina. Devido às disputas territoriais nessa área, nunca fora uma Capitania Hereditária no período colonial e, sim, parte de seu território, desde o século XVII ocupado por um sistema de concessão de terras a chefes militares. Esses dispunham de capacidade de opor-se militarmente ao fraco exército imperial na região. Ainda mais, na então ainda recente e desastrosa Guerra da Cisplatina, que culminou com a perda da área territorial do Uruguai, anteriormente anexada ao Brasil, as posições dos militares e caudilhos locais foram sobrepujadas por comandos oriundos da corte imperial (como o Marquês de Barbacena). Os contatos frequentes, inclusive negócios do

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outro lado da fronteira, mostraram aos caudilhos locais as vantagens de uma república, com suas bandeiras de igualdade, liberdade e fraternidade trazidas da Revolução Francesa [5] . Além disso a imposição de presidentes provinciais por parte do Governo imperial ia contra o direcionamento político da Assembleia Legislativa Provincial do Rio Grande do Sul, criando mais um motivo de desagrado da elite regional.[10]

Também é preciso citar o conflito ideológico presente no Rio Grande do Sul, que havia sofrido diversas tentativas menores de criação de uma república, iniciando com as tentativas insanas de Alexandre Luís de Queirós e Vasconcelos, que proclamou a república três vezes no início do século XIX [13] , ou a Sedição de 1830, que visava a substituir a monarquia pela república em Porto Alegre e que teve a participação de diversos imigrantes alemães (Otto Heise, Samuel Gottfried Kerst e Gaspar Stephanousky), mas foi prontamente sufocada [14].

O descontentamento reinante na província foi objeto de diversas reuniões governamentais, especialmente a partir de 1831, quando começam a circular insistentes boatos sobre a separação da província visando a unir-se ao Estado Oriental, também preocupados com informações de que, na fronteira, se pregava a revolução, sendo prometida a liberdade aos escravos.[13] No Uruguai vivia refugiado o padre Caldas, revolucionário da confederação do Equador, que mantinha um jornal de idéias republicanas, além de animada correspondência com os comandantes da fronteira, incluindo Bento Gonçalves.[15]

O conflito ideológico foi exacerbado com a criação da Sociedade Militar [16] , no Rio de Janeiro, um clube com simpatia pelo Império e fomentador da restauração de D. Pedro I no trono brasileiro[15]. Um dos seus líderes foi o Conde de Rio Pardo, que ao chegar a Porto Alegre em outubro de 1833, fundou ali uma filial. Os estancieiros rio-grandenses não viam com bons olhos a Sociedade Militar e pediam que o governo provincial a colocasse na ilegalidade. Entre os protestos eclodiu uma rebelião popular, liderada pelos majores José Mariano de Matos e João Manuel de Lima e Silva que foi logo abafada e seus líderes punidos.

Os Farrapos

Farrapos ou farroupilhas foram chamados todos os que se revoltaram contra o governo imperial, e que culminou com a Proclamação da República Rio-Grandense. Era termo considerado originalmente pejorativo, já utilizado pelo menos uma década antes da Guerra dos Farrapos para designar os sul-rio-grandenses vinculados ao Partido Liberal, oposicionistas e radicais ao governo central, destacando-se os chamados jurujubas. O termo, oriundo do parlamento, com o tempo foi adotado pelos próprios revolucionários, de forma semelhante à que ocorreu com os sans-cullotes à época da Revolução Francesa. Seus oponentes imperiais eram por eles chamados de caramurus ou camelos[6], termo jocoso em geral aplicado aos membros do Partido Restaurador no Parlamento Imperial.

Em 1831, no Rio de Janeiro, havia os jornais Jurujuba dos Farroupilhas e Matraca dos Farroupilhas. Em 1832 foi fundado o Partido Farroupilha pelo tenente Luís José dos Reis Alpoim, deportado do Rio para Porto Alegre. O grupo se encontrava na casa do major João Manuel de Lima e Silva (tio de Luís Alves de Lima e Silva, que viria a ser o Duque de Caxias), casa esta que era sede também da Sociedade Continentino, editora do

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jornal O Continentino, ferrenho critico ao Império.[12] Em 24 de outubro de 1833, os farroupilhas promoveram um levante contra a instalação da Sociedade Militar em Porto Alegre.[17].

Inicialmente, reivindicavam a retirada de todos os portugueses que se mantinham nos mais altos cargos do Império e do Exército, mesmo depois da Independência, respaldados pelo Partido Restaurador ou caramuru. Os caramurus almejavam a volta de D. Pedro I ao governo do Brasil.

No entanto, é bom notar que entre os farrapos havia os que acreditavam que só tornando suas províncias independentes poderiam obter uma "sociedade chula", ou seja, administrada por provincianos. Havia, portanto, estancieiros, estancieiros-militares, farroupilhas-libertários, militares-libertários, estancieiros-farroupilhas, abolicionistas e escravos que buscavam a liberdade, e assim por diante, numa combinação e interpenetração ideológica sem fim. Inicialmente nem todos eram republicanos e separatistas, mas os acontecimentos e os novos rumos do movimento conduziram a esse desfecho.

A maçonaria sulista, tendendo aos ideais republicanos[18], teve importante papel nos rumos tomados, sendo que muitos dos líderes farroupilhas foram seus adeptos, dentre eles, Bento Gonçalves da Silva, com o codinome Sucre.[12] Bento organizou outras lojas maçônicas no território rio-grandense, o que lhe havia sido permitido desde o ano de 1833.[12]

A Revolta Farroupilha

Lenço Farroupilha. Acervo do Museu Júlio de Castilhos

No ano de 1835 os ânimos políticos estavam exaltados. O descontentamento de estancieiros, liberais, industriais do charque e militares locais promoviam reuniões em casas de particulares, destacando-se a figura de Bento Gonçalves. Naquele ano foi nomeado como presidente da Província Antônio Rodrigues Fernandes Braga, que chegara ao posto pela indicação de Bento Gonçalves e, apesar de ser rio-grandense, passara tanto tempo servindo o Império na Europa e nos Estados Unidos, logo após seus estudos em Coimbra, que não tinha laços suficientemente sólidos estabelecidos no Rio Grande.[19] Fernandes Braga, apesar de inicialmente ter agradado aos liberais, logo entrou em atrito. Na sessão inaugural da Assembleia Provincial, perante uma plateia

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majoritariamente hostil, acusou os liberais extremados de planejarem separar o Rio Grande do Sul do Império e uni-lo ao Uruguai[20], mencionando Bento Gonçalves[15] e referindo-se também a Lavalleja e ao seu mentor, o indigno Padre Caldas[13]. Houve protestos e contra-protestos em sessões seguidas, Fernandes Braga ainda tentou corrigir-se e apaziguar os ânimos, mas já era tarde demais.[15]

Na noite de 18 de setembro de 1835, em uma reunião onde estavam presentes José Mariano de Mattos (um ferrenho separatista), Gomes Jardim (primo de Bento e futuro presidente da República Rio-Grandense), Vicente da Fontoura (farroupilha, mas anti-separatista), Pedro Boticário (fervoroso farroupilha), Paulino da Fontoura (irmão de Vicente, cuja morte seria imputada a Bento Gonçalves, estopim da crise na República), Antônio de Sousa Neto (imperialista e farroupilha, mas que simpatizava com os ideais republicanos) e Domingos José de Almeida (separatista e grande administrador da República), decidiu-se por unanimidade que dentro de dois dias, no dia 20 de setembro de 1835, tomariam militarmente Porto Alegre e destituiriam o presidente provincial Antônio Rodrigues Fernandes Braga.

Em várias cidades do interior as milícias foram alertadas para deflagrarem a revolta. Bento comandava uma tropa reunida em Pedras Brancas, hoje cidade de Guaíba.[15] Gomes Jardim e Onofre Pires comandavam os farroupilhas aquartelados, com cerca de 200 homens, no morro da Azenha [15] , o atual cemitério São Miguel e Almas. Também mantinham, no dia 19 de setembro de 1835, um piquete com 30 homens nas imediações da ponte da Azenha[5], comandado por Manuel Vieira da Rocha, o cabo Rocha, que aguardava o amanhecer do dia 20 para investir, junto com o restante da tropa, contra os muros da vila. Porém Fernandes Braga ouvira alguns boatos e, desconfiado, mandou uma partida de 9 homens sob o comando de José Gordilho de Barbuda Filho, o 2° visconde de Camamu, fazer um reconhecimento durante à noite. Descuidados e inexperientes, os guardas imperiais se deixaram notar e foram atacados pelo piquete republicano e fugiram, resultando 2 mortos e cinco feridos. Um dos feridos, o próprio visconde, sujo e ensanguentado alertou Fernandes Braga da revolta.[15] Eram 11 horas da noite de 19 de setembro de 1835.

Regente Imperial Padre Feijó

Fernandes Braga ainda tentou organizar uma resistência e, ao amanhecer, estava junto ao arsenal de guerra, hoje ponta do Gasômetro, tentando reunir homens para a

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resistência. Porém, até o meio da tarde somente 17 homens se apresentaram para defender a cidade, pois o 8° Batalhão de Caçadores, comandado por João Manuel de Lima e Silva havia se declarado revolucionário[15]. Vendo a escassez de armas e munição, Braga resolveu fugir[5] a bordo da escuna Rio-Grandense[15][21], seguido pela canhoneira 19 de Outubro, indo parar em Rio Grande, então maior cidade da Província, não sem antes voltar ao palácio do Governo, pegar alguns documentos e todo o dinheiro dos cofres provinciais.

Os farroupilhas adiaram a investida combinada, devido ao inusitado da noite anterior. Somente ao amanhecer o dia 21 de setembro de 1835[11], chegaram às portas da cidade Bento Gonçalves e os demais comandantes, seguidos por suas respectivas tropas. Porto Alegre abandonada, sem resistência, entregou-se aos revolucionários. No resto da província apenas alguns focos de resistência em Rio Pardo e São Gabriel, além de Rio Grande, mantinham os farroupilhas ocupados.

A Câmara Municipal reuniu-se extraordinariamente para ocupar o cargo de Presidente. Na ausência dos vice-presidentes imediatos, assumiu o quarto vice, Dr. Marciano Pereira Ribeiro.[22] Em 25 de setembro Bento Gonçalves expediu uma carta ao Regente Imperial, padre Diogo Antônio Feijó, explicando os motivos da revolta e solicitando a nomeação de um novo Presidente e comandante das armas.[15] Os revoltosos davam, então, o conflito por encerrado.[15]

A reação imperial

De Rio Grande, Fernandes Braga embarcou para o Rio de Janeiro em 23 de outubro[5], capital do Império do Brasil. Uma vez na Corte, Braga passou a sua versão da história, bastante diferente da carta enviada por Bento Gonçalves. O novo indicado, José de Araújo Ribeiro [22] , veio acompanhado de um verdadeiro aparato de guerra: onze brigues e escunas, além de diversas canhoneiras, lanchas e iates [21] , carregados de armamento e muitos soldados imperiais, sob o comando do capitão de mar e guerra John Pascoe Grenfell.

Araújo Ribeiro chegou a Porto Alegre no início de dezembro, devendo tomar posse em 9 de dezembro.[15] Uma confusão em relação ao papel de Pereira Duarte no apoio à causa farroupilha fez com que fosse adiada a posse, retirando-se Araújo Ribeiro para Rio Grande, com intenção de retornar à Corte.[15] Lá foi convencido por Bento Manuel e outros amigos a permanecer, com a promessa de apoio à Presidência[15], tomando então posse perante a Câmara Municipal de Rio Grande, em 15 de janeiro de 1836[5]. Bento Manuel, que havia apoiado a revolta inicial e ainda iria trocar de lado na disputa duas vezes, deslocou-se para o interior e depois para Porto Alegre com o intuito de cercá-la.[15] Os liberais receberam a posse de Araújo Ribeiro como declaração de guerra, reunindo seus soldados que estavam dispersos desde outubro, sob a presidência de Marciano Ribeiro.[15]

Como Presidente Imperial da Província, Araújo Ribeiro tratou de recompor seu exército, reunindo oficiais gaúchos contrários aos farroupilhas, como João da Silva Tavares, Francisco Pedro de Abreu (o Chico Pedro ou Moringue), Manuel Marques de Sousa, mais tarde conde de Porto Alegre, Bento Manuel Ribeiro [23] , Manuel Luís Osório (hoje patrono da cavalaria do Brasil), e até mesmo contratando mercenários vindos do Uruguai. Administrativamente mandou fechar a Assembleia Provincial e destituiu

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Bento Gonçalves do comando da Guarda Nacional, nomeação feita por Marciano José Pereira Ribeiro, desautorizando-o. Iniciou-se aí a resistência em Rio Grande e a perseguição aos revoltosos.

Em abril de 1836, o comandante-das-armas farroupilhas, João Manuel de Lima e Silva, prendeu o major Manuel Marques de Sousa, que foi trazido junto com os demais prisioneiros para o navio-prisão Presiganga. Na noite de 15 de junho de 1836, com a ajuda de um guarda corrupto, os prisioneiros foram soltos e, sob o comando de Marques de Sousa e com ajuda de Bento Manuel, os Imperiais retomaram a cidade de Porto Alegre das mãos dos farroupilhas.[5][15] Foram presos Marciano Ribeiro, Pedro Boticário e mais 32 revoltosos.[15]

Dias depois, Bento Gonçalves tentou retomar a capital, mas foi rechaçado e começou uma série de sítios ao redor da cidade que terminou definitivamente somente em dezembro de 1840.[24] Sem o controle da capital e do único porto marítimo da província, os revoltosos estabeleceram quartel-general na cidade de Piratini.

Em 21 de agosto, as tropas navais de Grenfell têm sua primeira vitória, com a tomada do forte do Junco, num ataque comandado pelo capitão-tenente Guilherme Parker[21], com o brigue-escuna Leopoldina, o patacho Vênus e seis canhoneiras, além de uma tropa de infantes comandados pelo coronel Francisco Xavier da Cunha [25] . Cinco dias depois, o forte de Itapoã foi conquistado, deixando aberto aos imperiais o acesso fluvial a Porto Alegre.[25]

A proclamação da República

Ver artigo principal: República Rio-Grandense

Proclamação da República Piratini, 1915, por Antônio Parreiras.

No início de setembro de 1836 Antônio de Sousa Neto deslocou-se à região de Bagé, onde o imperial João da Silva Tavares, vindo do Uruguai, mantinha o desassossego entre os farroupilhas residentes.[15] A Primeira Brigada de Neto, com 400 homens atravessou o arroio Seival e encontrou as tropas de Silva Tavares (560 homens) sobre uma coxilha. Era a tarde de 10 de setembro de 1836 quando começou a batalha do Seival. Silva Tavares desceu a coxilha em desabalada carga. Neto ordenou também a carga de lança e espada, sem tiros. As forças se encontraram em sangrento combate. Silva Tavares fugiu e seus homens foram derrotados[5]. Os farrapos ficaram quase intactos, enquanto do outro lado havia 180 mortos, 63 feridos e 100 prisioneiros.

Donos do campo, os farroupilhas comemoraram vibrantemente a vitória. Cresceu a vontade separatista de conquistar e manter um país rio-grandense independente, entre as

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nações do mundo. À noite as questões ideológicas foram revistas e Lucas de Oliveira e Joaquim Pedro, republicanos ardorosos, catequizaram Neto,[15] argumentando que não havia outra saída a não ser enveredar pela senda da independência e que não havia outro desejo popular a não ser o desejo de liberdade, de abolição da escravatura e de democracia sob o sistema republicano. Se tivesse que acontecer, a hora era aquela, a hora da vitória, do júbilo, da afirmação. Neto passou a simpatizar com a ideia, mas resistiu diante de uma provável reprovação de seus pares. Pensava que tal proclamação de uma nova República deveria partir de Bento Gonçalves, o grande comandante de todos os farrapos. Contrapuseram que Bento já se decidira pela República, que hierarquia rígida era coisa do Império e que o sistema republicano centrava-se no povo, suas vontades e necessidades, e não na elite governativa.

Finalmente, aquiescendo o Coronel Neto, passaram a escrever a Proclamação da República Rio-Grandense que seria lida e efetivada por ele, perante a tropa perfilada, em 11 de setembro de 1836[11].

Azevedo Dutra: Retrato de Antônio de Sousa Netto, século XIX. Acervo do Museu Júlio de Castilhos

Após a cerimônia de Proclamação, irromperam todos em gritos de euforia, liberdade e vivas à República, com tiros para o alto e cantorias. Logo chegou a galope o tenente Teixeira Nunes, empunhando pela primeira vez a bandeira tricolor, mandada fazer às pressas em Bagé e passa a desfilar por entre seus companheiros com a bandeira verde, vermelha e amarela da República Rio-Grandense, comemorando sua independência.

Foram conclamadas as demais províncias brasileiras a unirem-se como entes federados no sistema republicano[15], foi criado um hino nacional e bandeira própria do novo estado, até hoje cultivados pelo Estado do Rio Grande do Sul. Também foi estabelecida a capital na pequena cidade de Piratini, donde surgiu uma nova alcunha, a República de Piratini.

A partir deste momento, ocorreu a falência imediata da Revolta Farroupilha e o início da Guerra dos Farrapos propriamente dita. A mudança de posicionamento dos Farrapos foi imediata.

Já não desejavam mais substituir o Presidente da Província de São Pedro do Rio Grande por outro, pois agora haveriam de ter um Presidente da República independente.

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Os combatentes não era mais revoltosos farroupilhas, mas soldados do Exército Republicano Rio-Grandense.

O pavilhão que defendiam não era mais a bandeira imperial verde-amarela, mas a quadrada bandeira republicana verde, vermelha e amarela em diagonal (sem o brasão no meio).

Não lutavam mais por reconhecimento e atenção, mas pela defesa da independência e soberania de seu país.

Já não era mais a luta de revoltosos em busca de justiça, mas uma guerra de exército defensor (republicano) contra exército agressor (imperial);

A república Rio-grandense tinha escasso apoio nas áreas colonizadas pela recente imigração alemã. Esses imigrantes haviam se fixado na desativada Real Feitoria do Linho Cânhamo em colônias cedidas pelo Império, no Vale do Rio dos Sinos. Em Porto Alegre, apesar da simpatia de parte das camadas médias, não recebia o apoio popular, que mobilizava outras cidades da Província de São Pedro do Rio Grande. Inicialmente sua base social era originária de liberais, militares, industriais do charque e, especialmente, de estancieiros com capacidade de liderar exércitos particulares de "peões", vaqueiros que lhes prestavam serviços ou deles dependiam para subsistência e defesa e cuja obediência e fidelidade era garantida por traços feudais da cultura local; e por escravos, que no meio rural eram incluídos no convívio social dos peões. Como havia interfaces com o Uruguai, também eram contratados elementos de lá provenientes. Os exímios cavaleiros forjados nas lides campeiras, chamados "gaúchos", formavam corpos de cavalaria de choque aptos a travar uma guerra de guerrilha. Esses exércitos dispunham de alta mobilidade e conhecimento do terreno, mas sem dispor de infantaria nem adequada artilharia, os Farroupilhas tinham fraca capacidade bélica contra as cidades fortificadas do Rio Grande e Porto Alegre, e pouca capacidade de defesa das praças que controlavam.

Batalha do Fanfa

No dia 12 de setembro, um dia após a Proclamação da República Rio-Grandense por Antônio de Sousa Neto, a seguir à vitória na Batalha do Seival, houve a solenidade de lavratura e assinatura da Ata de Declaração de Independência, pela qual os abaixo-assinantes declaravam não embainhar suas espadas, e derramar todo o seu sangue, antes de retroceder de seus princípios políticos, proclamados na presente declaração. Fizeram-se várias cópias da Ata, que foram enviadas às câmaras municipais e aos principais comandantes do Exército Republicano.

Page 12: Guerra Dos Farrapos REIS

Como resposta imediata, as câmaras de Jaguarão, Alegrete, Cruz Alta, Piratini, entre outras, convocaram sessões extraordinárias, onde puderam analisar e corroborar os feitos, fazendo constar em Atas Legislativas suas adesões, proclamando a independência política da Província, por ser a vontade geral da maioria.

Bento Gonçalves não pudera estar presente devido a um fato circunstancial. Ao tomar conhecimento do ato da Proclamação da República Rio-grandense, Bento Gonçalves levantou seu acampamento na lomba do Tarumã [26] , parte do sítio que impingia a Porto Alegre, seguiu a várzea do Rio Gravataí, marchou para São Leopoldo e cruzou o rio dos Sinos e o rio Caí, passou a deslocar-se beirando o Rio Jacuí, para junção de forças com Neto [17]. Fatalmente ele precisava atravessar o rio na Ilha de Fanfa, no município de Triunfo, por causa da época de cheias. Ciente dos acontecimentos, Bento Manuel, agora a serviço do Império, deslocou suas tropas com 660 homens embarcados, a partir de Triunfo, de modo a impedir a passagem de Bento Gonçalves[17].

Bento Gonçalves decidiu cruzar o rio Jacuí para unir suas tropas com as de Domingos Crescêncio. Na noite de 1 de outubro, levantou acampamento e, na manhã seguinte, iniciou, com dois pontões para 40 homens, o cruzamento para a Ilha do Fanfa[17]. José de Araújo Ribeiro, alertado por Bento Manuel , enviou a Marinha, comandada por John Grenfell no vapor Liberal[21], junto com 18 barcos de guerra, escunas e canhoneiras guardando o lado sul da Ilha, só percebida pelos Farrapos depois de estarem na ilha. Fechando o cerco por terra, Bento Manuel ficou senhor da situação. Era 3 de outubro de 1836.

Os farrapos resistiram por três dias[15] e, sabedores da proximidade das tropas de Crescêncio de Carvalho, repeliram os fuzileiros que desembarcavam na ilha pela costa sul e qualquer tentativa de travessia pelo norte. A fim de evitar mais derramamento de sangue, Bento Manuel levantou a bandeira de “parlamento” e Bento Gonçalves aceitou negociar. O acordo foi feito e assinado em 4 de outubro.[15][21] Os Farrapos entregariam as armas, capitulariam e voltariam livres para suas casas. Segundo Bento Manuel, a guerra estaria terminada, com a vitória do Império. Ele pacificara a Província e receberia as glórias da Corte. Porém, Bento Gonçalves não era tão ingênuo e já havia enviado um mensageiro solicitando socorro a Neto e Canabarro.[15]

Depois de desarmar e soltar os soldados, Bento Manuel manteve os chefes presos[17]: Bento Gonçalves, Tito Lívio, José de Almeida Corte Real, José Calvet, Onofre Pires, entre outros[17], sob o pretexto de que Bento Gonçalves havia faltado com sua palavra ao enviar emissários buscando socorro.[15] A maior parte dos líderes do movimento foi presa na Presiganga, depois enviada à Corte e por fim encarcerada na prisão de Santa Cruz e no Forte da Laje, no Rio de Janeiro [17] .

A Guerra sem Bento

Na sessão extraordinária da Câmara de Piratini, na primeira capital da República Rio-Grandense, em 6 de novembro de 1836[23], procedeu-se formalmente a votação para Presidente da República, conforme os parâmetros da época. A eleição foi vencida por Bento Gonçalves (mesmo sem estar presente e sem campanha) e primeiro vice-presidente José Gomes de Vasconcelos Jardim.[15] Assumiu o vice interinamente a presidência, nomeando o ministério[15] e tomando a incumbência de convocar uma Assembleia Constituinte para formar a Constituição da República Rio-grandense.

Page 13: Guerra Dos Farrapos REIS

A luta entre Farroupilhas e Imperiais continuou acirrada. O Império despejava rios de dinheiro para recrutar mais e mais soldados paulistas e baianos, para comprar mais armas, mais munições, com pouquíssimo resultado prático.

Pelo lado imperial, Araújo Ribeiro foi substituído a 5 de janeiro de 1837 pelo brigadeiro Antero de Brito, acirrando mais a disputa. Bento Manuel não gostou da demissão de seu parente e amigo [23] e enviou uma carta a Antero de Brito, dizendo-se doente e solicitando que portanto fosse substituído no comando das armas. Além disso, dispensou boa parte da tropa que comandava.[23]

Brito passou a acumular os cargos de Comandante das Armas e de Presidente da Província de São Pedro do Rio Grande, com capital em Porto Alegre. Se Araújo era, acima de tudo, conciliador, Brito perseguiu e prendeu até mesmo civis simpatizantes das ideias farroupilhas, confiscando seus bens; alguns destes foram punidos com a pena de desterro. Em contrapartida, os Farrapos eram senhores do pampa, recebiam maciças adesões de militares descontentes com a nomeação de Brito e, ainda em janeiro de 1837, ganharam o apoio dos habitantes de Lages de Santa Catarina, que seria um importante ponto onde os Farrapos comprariam armas e munições. O principal perseguido por Antero de Brito era o Comandante das Armas Imperiais anterior a ele, nada menos que Bento Manuel Ribeiro.[15]

Bento Manuel não aceitava a auto-nomeação de Brito e continuava a dar suas próprias ordens às tropas.[15] Brito, então, saiu pessoalmente ao seu encalço. Bento fugiu mudando de direção, como numa brincadeira de gato e rato, situação que se arrastou até o dia 23 de março de 1837, quando, num golpe de mestre, Bento Manuel Ribeiro deixou um piquete para trás, sob o comando do major Demétrio Ribeiro que, de surpresa, caiu sobre as tropas de Brito e prendeu o Presidente Imperial da Província.[23] Com isso, novamente Bento Manuel foi aceito no seio farrapo, passando a combater novamente os imperiais.[15]

Em 8 de abril, o general Neto conquistou Caçapava do Sul, centro de reabastecimento imperial[5], depois de sete dias de cerco, apreendendo 15 canhões e fazendo prisioneiros a 540 imperiais, comandados pelo coronel João Crisóstomo da Silva[17][23]. Ainda neste ano, em 2 de julho, aconteceu o Combate de Ivaí, onde Bento Manuel foi capturado, mas após um ataque farroupilha 50 legalistas foram mortos, enquanto o marechal Sebastião Barreto Pereira Pinto fugiu para Caçapava do Sul [27] , deixando Bento Manuel ferido e desacordado no campo[23].

A sustentação econômica da República era propiciada pelo apoio da vizinha República Oriental do Uruguai, que permitia o comércio do charque produzido pelos rio-grandenses para o próprio Brasil. A exportação era feita por terra até o Porto de Montevidéu ou pelo rio Uruguai. Em 29 de agosto foi assassinado o coronel João Manuel de Lima e Silva, que havia derrotado Bento Manoel Ribeiro, no ano anterior[17].

Gonçalves assume a presidência

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Em 15 de março de 1837, Bento Gonçalves tentou escapar da prisão, no Rio de Janeiro, junto de outros companheiros. Porém Pedro Boticário não conseguiu passar por uma janela, por ser muito gordo, e, em solidariedade, Bento Gonçalves desistiu da fuga, na qual escaparam Onofre Pires e o coronel Corte Real.[15] Depois desta tentativa de fuga, foi transferido para a Bahia, onde chegou em 26 de agosto de 1837, ficando preso no Forte do Mar. Conseguiu, com auxílio da Maçonaria, evadir-se da prisão baiana em 10 de setembro de 1837, poucos dias antes do início da Sabinada. Permaneceu algum tempo, clandestino, em Itaparica e Salvador, onde teve contato com membros do movimento.[28] Depois de despistar seus perseguidores, que achavam que tinha partido para os Estados Unidos em uma corveta [15] , chegou, via Buenos Aires [11] , de volta ao Rio Grande do Sul e, em 16 de dezembro de 1837, tomou posse como Presidente da República.[29] Nesta época os farrapos dominavam praticamente toda a província[15], ficando os imperiais restritos a Rio Grande e São José do Norte.[21]

A 29 de agosto de 1838 Bento lançou seu mais importante manifesto aos rio-grandenses, onde justificava as irreversíveis decisões tomadas em favor da libertação do seu povo:

“ Toma na extensa escala dos estados soberanos o lugar que lhe compete pela suficiência de seus recursos, civilização e naturais riquezas que lhe asseguram o exercício pleno e inteiro de sua independência, eminente soberania e domínio, sem sujeição ou sacrifício da mais pequena parte desta mesma independência ou soberania a outra nação, governo ou potência estranha qualquer. Faz neste momento o que fizeram tantos outros povos por iguais motivos, em circunstâncias idênticas. ”

E no trecho final, um juramento importante:

“ Bem penetrados da justiça de sua santa causa, confiando primeiro que tudo, no favor do juiz supremo das nações, eles têm jurado por esse mesmo supremo juiz, por sua honra, por tudo que lhes é mais caro, não aceitar do governo do Brasil uma paz ignominiosa que possa desmentir a sua soberania e independência. ”

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Estas palavras têm reflexo mais tarde, quando da assinatura do Tratado de Poncho Verde.

Queda da "Tranqueira Invicta"

Ver artigo principal: Forte Jesus, Maria, José do Rio Pardo

Com a dificuldade em quebrar a resistência de Porto Alegre, os farroupilhas resolveram voltar-se contra Rio Pardo [15] , onde estava concentrada uma divisão do exército imperial, com dois batalhões de infantaria e dois corpos de cavalaria[23], comandada pelo marechal Sebastião Barreto Pereira Pinto. Os brigadeiros Francisco Xavier da Cunha comandando a infantaria e Bonifácio Calderón a cavalaria, num total de 1.200 combatentes. A cidade era, junto com Porto Alegre e Rio Grande, uma das mais importantes do estado, contando com quase o dobro de habitantes da capital[29].

A concentração de tropas imperiais chamou a atenção dos farroupilhas, conscientes das possíveis consequências desta tropa quando se movimentasse[29]. Bento Manuel Ribeiro, ao lado de Antônio de Sousa Neto, em 30 de abril de 1838, comandando 2.500 homens, 800 deles de cavalaria, surpreenderam a cidade, na batalha do Barro Vermelho, na entrada da cidade[29], derrotando os imperiais, conquistando Rio Pardo, a ex-tranqueira invicta, matando 71 homens e fazendo mais de 130 prisioneiros.

Este fato foi importante por vários aspectos, dando novo impulso à rebelião.[23] Rio Pardo formava, com Rio Grande e Porto Alegre, a fronteira de domínio imperial, um ponto de apoio para a conquista do interior, tinha fama de inexpugnável e a vitória farrapa foi incontestável. Além disso, Rio Pardo tinha quase o dobro de habitantes de Porto Alegre.[29]

A conquista de Rio Pardo foi importante também porque lá se encontrava, na ocasião, a Banda Imperial, sob o comando do maestro mineiro Joaquim José Mendanha, que viria a compor, sob a encomenda de Bento Gonçalves, o Hino Nacional da República Rio-Grandense.[15] Com a letra do republicano Serafim Joaquim de Alencastre, o hino foi executado e cantado pela primeira vez na cerimônia de comemoração do primeiro aniversário da Tomada de Rio Pardo. Hoje a música do hino é a mesma, mas foi composta outra letra, por Francisco Pinto da Fontoura, o Chiquinho da Vovó, para se adequar aos novos tempos.

Cabe ressaltar que a primeira composição do Hino Nacional da República Rio-grandense destacava a mesma ideia dos discursos de Bento Gonçalves, de não ceder à paz vergonhosa da deposição das armas:

“ Nobre povo rio-grandense. Povo de heróis, povo bravo!

Conquistaste a independência. Nunca mais serás escravo. ”

Marinha Farroupilha

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A Marinha Imperial Brasileira controlava os principais meios de comunicação da Província, a Lagoa dos Patos, entre Porto Alegre, Pelotas e Rio Grande, e a maior parte dos rios navegáveis. Apesar disso era constantemente atacada pelos farroupilhas, quando próximos aos barrancos dos rios. Em 1 de fevereiro de 1838, uma tropa de dois mil farrapos e uma bateria de artilharia conseguiram atacar de surpresa duas canhoneiras e um lanchão no rio Caí, matando quase todos os marinheiros e aprisionando um dos comandantes.[21]

O fator estratégico de maior efeito a favor do Império era o bloqueio da barra da Lagoa dos Patos, único acesso ao porto de Rio Grande, por onde desembarcavam continuamente os reforços imperiais, e ao mar. A República, na segunda parte do confronto procurava manter a supremacia conquistada na região geográfica da serra do sudeste do Rio Grande do Sul, de relevo irregular e com apenas um rio que comunicava com a Lagoa dos Patos, o Camaquã.

Foi preciso engendrar uma manobra incomum para conquistar um ponto que pudesse ligar o Rio Grande dos farrapos com o mar. Este ponto era Laguna, em Santa Catarina. O primeiro passo era constituir a Marinha Rio-Grandense. Giuseppe Garibaldi conhecera Bento Gonçalves ainda em sua prisão, no Rio de Janeiro, e obteria dele uma carta de corso para aprisionar embarcações imperiais.[15] Em 1 de setembro de 1838, Garibaldi foi nomeado capitão-tenente, comandante da marinha Farroupilha[18].

Foi criado um estaleiro, junto a uma fábrica de armas e munições em Camaquã, na estância de Ana Gonçalves, irmã de Bento Gonçalves[18]. Lá Garibaldi coordenou a construção e o armamento de dois lanchões de guerra. Ao mesmo tempo, Luigi Rossetti foi a Montevidéu, buscar a ajuda de Luigi Carniglia e outros profissionais indispensáveis.[18] Após algumas semanas, estava completa a equipagem de mestres e operários. Alguns marinheiros vieram de Montevidéu e outros foram recrutados pelas redondezas.[15][18]

Os imperiais, informados dos planos farrapos, atacaram o estaleiro de Camaquã, comandados por Francisco Pedro de Abreu, o Chico Pedro, também conhecido por Moringue. Eram mais de uma centena de homens, cercando o galpão com 14 trabalhadores entrincheirados. Giuseppe Garibaldi comanda a resistência durante horas. Quase ao anoitecer, Moringue precipitou-se do esconderijo e levou um tiro no peito, sendo recolhido por seus companheiros, fugindo tão rapidamente quanto chegaram.

Garibaldi liderando a expedição à Laguna (Lucílio de Albuquerque).

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O Seival

Terminada a construção dos barcos e lançados à água, os lanchões Seival e Farroupilha, cortando as águas da Lagoa dos Patos, acuados pela armada de John Grenfell, não tiveram muito sucesso: capturaram alguns barcos de comércio desprevenidos, em lagoas ou rios longe da armada imperial.[21] Surgiu, então, o plano de levar os barcos pela Lagoa dos Patos até o Rio Capivari e, dali, por terra, sobre rodados especialmente construídos para isso, até a barra do Tramandaí, onde os barcos tomariam o mar. Assim foi feito, mas não sem dificuldades.

Os Farrapos, despistando a armada imperial, conseguiram enveredar pelo estreito do rio Capivari e passaram os barcos a terra em 5 de julho de 1839.[18] Puxando sobre rodados, os dois lanchões artilhados, com cem juntas de bois[6], atravessaram ásperos caminhos, pelos campos úmidos - em alguns trechos completamente submersos, pois era inverno, tempo feio com chuvas e ventos, tornando o chão um grande lodaçal. Cada barco tinha dois eixos e, naturalmente, quatro rodas imensas, revestidas de couro cru[6]. Piquetes corriam os campos entulhando atoleiros, enquanto outros cuidavam da boiada[6].

Levaram seis dias até a Lagoa Tomás José[18], vencendo 90 km[5] e chegando a 11 de julho[6]. No dia 13, seguiram da Lagoa Tomás José à Barra do Rio Tramandaí, no Oceano Atlântico, e, no dia 15, lançaram-se ao mar com sua tripulação mista de 70 homens. O Seival, de 12 toneladas, era comandado pelo norte-americano John Griggs, conhecido como "João Grandão", e o Farroupilha, de 18 toneladas, comandado por Garibaldi - ambos armados com quatro canhões de doze polegadas, de molde "escuna"[6]. Por fim, em 14 de julho de 1839, os lanchões rumaram a Laguna para atacar a província vizinha. Na costa de Santa Catarina, próximo ao rio Araranguá, uma tempestade pôs a pique o Farroupilha, salvando-se milagrosamente uns poucos farrapos, entre eles o próprio Garibaldi.

Enquanto isto, Grenfell continuava a caça à marinha farroupilha. Com o vapor Águia e diversas canhoneiras e lanchões, atacou a base de Camaquã e apreendeu três lanchões e

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duas lanchas; mas era tarde, pois ali teve a notícia de que Garibaldi já estava longe, a caminho de Laguna.[21]

A República Juliana

Ver artigo principal: República Juliana

Davi Canabarro, presidente da República Juliana (1839).

Bandeira da República Juliana

Com a chegada da marinha farroupilha a Santa Catarina, unindo-se às tropas do exército, sob o comando geral de David Canabarro, foi possível preparar o ataque a Laguna por terra e pela água. A marinha farroupilha entrou através da Lagoa de Garopaba do Sul, passando pelo rio Tubarão, e atacou Laguna por trás, surpreendendo os imperiais que esperavam um ataque de Garibaldi pela barra de Laguna e não pela lagoa. Garibaldi tomou um brigue e dois lanchões, enquanto somente o brigue-escuna Cometa conseguiu escapar para o mar.[21] Laguna foi tomada, com ajuda do próprio povo lagunense, em 22 de julho de 1839. Em 29 deste mês proclamou-se a República Juliana [11] , feito um país independente, ligada à República Rio-Grandense pelos laços do confederalismo.

Após conquistar Laguna, as forças farroupilhas continuaram rumo ao norte, perseguindo as tropas imperiais, avançando cerca de 70 km até a planície do rio Maciambu. O avanço foi contido devido a um entrincheiramento das forças imperiais, protegidas pela geografia do Morro dos Cavalos, que dificultava o acesso das tropas farrapas e lhes bloqueava o avanço para o ataque a Desterro, hoje Florianópolis.[30]

Com a tomada de Laguna, praticamente metade da província catarinense ficou em mãos republicanas. A incorporação da vila de Lages, também sob controle rebelde, ao novo estado, levou o território da República Juliana a se estender do extremo meridional até o planalto catarinense.[30] Foi então organizada a República Juliana, sendo convocadas eleições para constituição do governo. Canabarro ficou à frente do governo da nova república até 7 de agosto de 1839, quando foi convocado o colégio eleitoral. Foram eleitos para presidente o tenente-coronel Joaquim Xavier Neves e para vice o padre

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Vicente Ferreira dos Santos Cordeiro. Como Xavier Neves estava em São José bloqueado pelas forças imperiais, o padre Vicente Cordeiro assumiu a presidência.[30]

Os farroupilhas ainda fizeram incursões navais mais ao norte, chegando a atacar a barra de Paranaguá em 31 de outubro de 1839. Uma escuna e um lanchão farroupilhas capturaram a sumaca Dona Elvira, porém foram combatidos pelos canhões da fortaleza e obrigados a retroceder. A escuna recuou rumo ao norte, porém o lanchão, mais pesado, por ali parou e foi capturado por uma lancha com vinte homens comandada pelo alferes Manuel Antônio Dias, sendo a lancha Dona Elvira recuperada.[31]

O império impôs um bloqueio naval, que buscava estrangular a república economicamente. Garibaldi ainda conseguiu furar o bloqueio com três barcos, capturou dois navios de comércio, trocou tiros com o brigue-escuna Andorinha e tomou o porto de Imbituba.[21] Alguns dias mais tarde retornou a Laguna, em 5 de novembro.[21]

Pouco tempo depois o império reagiu com força total, comandado pelo General Andréa, comandante de armas de Santa Catarina[23], com mais de três mil homens atacando por terra. Enquanto isto, por mar, o Almirante Imperial Frederico Mariath, com uma frota de 13 navios, melhor equipados e experientes, iniciou a batalha naval de Laguna. Garibaldi fundeou convenientemente seus cinco navios, que se bateram contra os imperiais valentemente, mas sem chances de vitória.[21] Nos navios farroupilhas nenhum comandante ou oficial escapou com vida.[21] O próprio Garibaldi, vendo a derrota iminente, queimou seu navio, a escuna Libertadora, e se juntou à tropa de Canabarro[21], que preparou a retirada de Laguna[6]. Era o fim da marinha farroupilha.

Os imperiais retomaram Laguna em 15 de novembro de 1839. Garibaldi fugiu com Ana, que se tornaria conhecida como Anita Garibaldi, uma mulher lagunense casada, cujo esposo alistara-se no exército imperial, abandonando-a, um escândalo para a época. Anita veio a ser sua companheira de todos os momentos, lutando lado-a-lado com Garibaldi tanto nos pampas gaúchos como na Itália, onde é considerada heroína.

Os campos de Lages

Em 9 de março de 1838 os farroupilhas invadiram Lages, anexando a vila à República Rio-Grandense, com o apoio de alguns fazendeiros locais, fato que havia causado grande júbilo entre os revolucionários: era a primeira conquista farrapa fora do Rio Grande do Sul.[32]

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Depois das queda de Laguna, as tropas farrapas tomaram o caminho de Lages para retornar ao Rio Grande do Sul. Enquanto isso, o governo imperial havia decidido enviar um contingente de tropas ao sul pelo interior, com a missão de retomar Lages e depois auxiliar contra o cerco de Porto Alegre pelos farrapos[32]. Em Rio Negro reuniram-se 1.500 homens, vindos do Rio de Janeiro, Curitiba, Paranaguá, Antonina e Campo do Tenente, deslocando-se para Santa Cecília, onde acamparam em 25 de outubro de 1839.[32]

Travando pequenos combates com piquetes farroupilhas em novembro, através dos Campos dos Curitibanos e Campos Novos, chegaram a Lages, onde retomaram a vila. Dali uma parte da coluna do brigadeiro Francisco Xavier da Cunha decidiu seguir em direção ao Rio Pelotas, para invadir o Rio Grande do Sul[32].

Os farrapos, derrotados em Lages, se reuniram em um entreposto alfandegário, para cobrança de impostos sobre as tropas de gado e mulas que vinham de Viamão e seguiam para Sorocaba, conhecido como Santa Vitória.[32]

O brigadeiro Francisco Xavier da Cunha foi informado e para lá dirigiu-se, com seus dois mil homens. Foi surpreendido em 14 de dezembro de 1839 por Teixeira Nunes que, com sua cavalaria, conseguiu dividir a tropa legalista e o fez retroceder. Em um renhido combate as tropas legalistas foram derrotadas.[23] O brigadeiro, ferido e protegido por alguns oficiais, tentou escapar e, ao cruzar o Rio Pelotas, morreu afogado.[32]

Os farroupilhas retomaram Lages novamente, mas as tropas legalistas foram reforçadas por uma divisão vinda de Cruz Alta, sob o comando do coronel Antônio de Melo Albuquerque, o "Melo Manso".

Garibaldi e Teixeira Nunes, pressentindo um ataque, dividiram suas tropas, uma partindo para o norte, onde, perto do Rio Marombas encontrou uma tropa legalista superior em 12 de janeiro de 1840. Os republicanos foram dizimados e, dos 500 iniciais, menos de 50 conseguiram retornar a Lages e depois voltar ao Rio Grande do Sul.[32]

1840: os farrapos perdem território

Até o ano de 1840, podia-se perceber um período de ascensão farroupilha, com várias vitórias no campo militar.[12] Após esse período, é perceptível uma situação de decadência, iniciada com a queda de Laguna[17]. O General Andréa, que havia retomado Laguna, logo é nomeado o novo Presidente Imperial da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul e Comandante do Exército Imperial na Província.[23] Também começaram as desavenças políticas entre os farroupilhas, com consequências funestas no futuro.[15]

No começo de 1840, os farroupilhas controlavam boa parte do interior, mas não tinham uma saída para o mar.[20] Além disso, enquanto as tropas rio-grandenses se concentravam no cerco de Porto Alegre, Caçapava, a capital da República desde 14 de fevereiro de 1839[33], considerada inexpugnável por causa do difícil acesso[34], foi invadida pelos imperiais. Instalou-se a capital em Alegrete, em 28 de março.[33].

No mesmo ano, no combate de Tabatingaí, João Propício Mena Barreto e suas tropas derrotaram 250 farroupilhas, prendendo Onofre Pires, levado para Porto Alegre[17]. Em

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Julho os Farrapos perderam São Gabriel. Francisco Pedro de Abreu, o Moringue, surpreendeu Antônio de Sousa Neto, quase fazendo-o prisioneiro. Finalmente Bento Gonçalves, em campanha pela conquista de São José do Norte junto com Domingos Crescêncio de Carvalho e 1.200 homens, travou duríssima batalha de quase nove horas, tomando a cidade por pouco tempo. A reação vinda de Rio Grande expulsou os farrapos embriagados[17].

Estes insucessos e alguns desentendimentos com Bento Gonçalves[23] deram pretexto a Bento Manuel, tido como fiel da balança[35] do confronto, para abandonar os revolucionários. Escreveu ao Ministro da Guerra da República, José Mariano de Mattos, demitindo-se do exército, ao mesmo tempo em que escrevia para o presidente da província pedindo uma anistia para si e alguns amigos.[23] Anistiado, foi refugiar-se no Uruguai, desiludido com o sistema republicano que, segundo ele, "parece em teoria governo dos anjos, porém na prática nem mesmo para diabos serve".[20]

Alegoria Farroupilha, guache do século XIX. Acervo do Museu Júlio de Castilhos

Bento Gonçalves, ainda no ano de 1840, em decorrência dos insucessos, acenou ao Império com a possibilidade de acordo. Bento pediu a Álvares Machado salvo-condutos para que companheiros seus pudessem atravessar impunemente os locais conquistados pelo império, a fim de acertar com os chefes imperiais os detalhes de uma rendição coletiva dos Farrapos. Levavam, efetivamente, uma carta com este desígnio. Porém, havia uma outra mensagem oral a ser dada àqueles líderes, que não podia ser escrita. A manobra, porém, foi tão bem pensada e executada que enganaria até mesmo seus companheiros de luta, e motivou uma carta de reprovação escrita por Domingos José de Almeida, então Vice-Presidente e Ministro da Fazenda da República Rio-Grandense.

Os combates continuaram em diversas frentes: em novembro de 1841, Chico Pedro fez 20 prisioneiros e tomou 400 cavalos dos Farroupilhas, perto de São Gabriel; em Rincão Bonito o coronel João Propício Mena Barreto provocou 120 mortes, fez 182 prisioneiros e tomou 800 cavalos; em 20 de janeiro de 1842 Chico Pedro, atacado por Bento Gonçalves e 300 homens, derrotou-o, provocando 36 mortes, 20 prisioneiros e capturando toda a bagagem, sofrendo somente 3 mortes e 7 feridos.[25]

Uma Assembleia Constituinte havia sido convocada em 10 de fevereiro de 1840, porém manobras de Bento Gonçalves, que não queria perder poderes, levaram a que somente em 1842 fosse promulgada a Constituição da República[17], o que deu um ânimo momentâneo à luta.

Reforços Liberais

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O fim das rebeliões em outras províncias, como a Sabinada na Bahia e a Revolução Liberal de 1842 em São Paulo, trouxeram novos reforços às tropas farrapas. Entre eles, vieram da Bahia:

Daniel Gomes de Freitas (signatário depois do tratado de paz) coronel Manoel Gomes Pereira, que financiou a fuga de Bento Gonçalves. Saiu

da Bahia no início de janeiro de 1838, estava em Montevidéu em missão de recrutamento quando a Sabinada acabou e dali foi procurar seus amigos rio-grandenses, sendo bem acolhido e presenteado por Bento Gonçalves com o posto de coronel, servindo no Estado Maior. Veio com uma fortuna arrecadada para comprar barcos de guerra, que jamais navegaram, mas adquiriu uma chácara em Montevidéu, depois de cobrar de Bento o dinheiro que tinha lhe emprestado.[36].

João Rebelo de Matos, Bento José Roiz, José Pinto Ribeiro, João Francisco Régis, todos militares transferidos da Bahia e envolvidos na Sabinada e que se rebelaram na Fortaleza da Barra do Sul, na Ilha de Santa Catarina, entregando a fortaleza aos Farrapos e se juntando ao movimento, em 1839.[30]

Francisco José da Rocha, teria vindo da Bahia acompanhando Bento Gonçalves, era a maior autoridade maçônica na Província; sua promoção a tenente-coronel pelos farroupilhas foi um dos motivos que levaram Bento Manuel a abandonar o lado republicano.[37]

João Rios Ferreira

De São Paulo veio Rafael Tobias de Aguiar [12] , chefe da Revolução Liberal de 1842, que foi pouco depois preso em Palmeira das Missões e levado para a Fortaleza da Laje, no Rio de Janeiro.

Por outro lado, o fim destas outras rebeliões também liberou as tropas do exército brasileiro para concentrarem todos seus esforços contra os farroupilhas.

O duelo entre Bento Gonçalves e Onofre Pires

A República Rio-Grandense não ficou isenta das disputas pelo poder. Em dezembro de 1842, quando se instalou a Assembleia Constituinte Farroupilha, as divergências se exteriorizaram, contrapondo a maioria de Bento Gonçalves e a minoria de Antônio Vicente da Fontoura [38] . Isto levou a que o projeto de Constituição, publicado em fevereiro de 1843, tivesse prejudicada a sistematização das ideias de todos aqueles que ainda estavam na revolução ou a apoiavam[38].

Em 4 de agosto de 1843, Bento Gonçalves renunciou à presidência da República Rio-grandense por conta de uma campanha de intrigas, assumindo seu vice Gomes Jardim.[15] Lançou ao mesmo tempo um manifesto dizendo-se acometido de uma enfermidade pulmonar, que talvez já o estivesse incomodando, e incitou os farroupilhas a se unir em torno do novo presidente. Passou em seguida a comandar uma divisão do Exército Rio-Grandense.

Os opositores, entre eles o deputado Antônio Vicente da Fontoura, induziram Onofre Pires a destratar Bento Gonçalves, acusando-o do assassinato de Paulino da Fontoura.[15]

Onofre foi por isso desafiado por Bento para um duelo, realizado em 27 de fevereiro de

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1844. Durante o duelo Onofre foi ferido no braço direito e, apesar de socorrido por Bento, faleceu dias depois, por complicações advindas do ferimento.[15]

Negociações de paz e a batalha de Porongos

Ver artigo principal: Batalha de Porongos

Um dos canhões usados pelos Farroupilhas. Permaneceu até 1926 no fundo do riacho Santa Isabel, em Camaquã, quando foi recuperado junto com outros e passou ao acervo do Museu Júlio de Castilhos

A primeira negociação de paz ocorreu com a nomeação de Francisco Alves Machado para presidente da província, o qual ofereceu a Bento Gonçalves anistia plena para negociar um tratado. Bento respondeu em carta, a 7 de dezembro de 1840, propondo que: as dívidas contraídas pela república fossem pagas pelo governo imperial, os escravos que haviam sido alistados como soldados republicanos fossem libertados e que os oficiais revolucionários fossem garantidos em seus postos, quando aproveitados em serviço da Guarda Nacional. Para melhor firmar o tratado, Bento Gonçalves solicitou uma conferência com o presidente, porém Alvares Machado negou-a por saber que os farrapos tentavam aliciar à sua causa diversos legalistas, como o coronel Manduca Loureiro e o coronel João da Silva Tavares. A recusa da conferência importou em suspensão da anistia e consequente continuação da luta.[39]

O sistema de guerrilha e a troca constante de presidentes e comandantes de armas prolongaram a luta até que o Barão de Caxias (futuro Duque) foi nomeado Presidente da Província e Comandante Supremo Imperial em 9 de novembro de 1842[17][20], reorganizando o exército e chamando para seu Estado Maior a Bento Manuel Ribeiro[23], que tinha se recolhido para o Uruguai[20]. O barão empregava toda sua força de 12.000 homens[20], conhecimento, inteligência e experiência para minar a relativa supremacia farrapa no interior, que contava com apenas 3.500 homens[20]. Entre as várias ações, iniciou uma campanha de estrangulamento da economia da República, atacando as cidades da fronteira que permitiam o escoamento da produção de charque para Montevidéu e Laguna [20] , comprando cavalos para impedir que os Farrapos tivessem montaria [17] e reativando o comércio.

Lima e Silva, porém, não conseguiu atrair os farrapos para uma batalha campal decisiva. O exército republicano, sabendo de sua inferioridade numérica e de armamentos, evitou o combate direto, tendo a campanha permanecido como uma série de pequenos combates e escaramuças[20]; quando perseguidos, os farroupilhas se refugiavam no Uruguai [20] .

Page 24: Guerra Dos Farrapos REIS

Em 1844, Fructuoso de Rivera propôs intermediar a paz entre legalistas e republicanos. Manuel Luís Osório foi enviado ao acampamento de Rivera, onde encontrou-se com Antônio Vicente da Fontoura, para avisar que Lima e Silva recusava a proposta de paz [17], mas que poderia haver tratativas com o governo, porém sem a presença de terceiros[20] . Vicente da Fontoura foi enviado à corte para discutir a paz.

Luís Alves de Lima e Silva recebeu instruções do Império, que temia o avanço de Rosas sobre o território litigante, para propor condições honrosas aos revoltosos, como a anistia dos oficiais e homens, sua incorporação ao Exército Imperial nos mesmos postos e a escolha do Presidente da Província pela Assembleia Provincial, taxações sobre o charque importado do Prata.[15]

Entretanto, uma questão permanecia insolúvel, a dos escravos libertos pela República para servir no exército republicano. Para o Império Brasileiro, era inaceitável reconhecer a liberdade de escravos dada por uma sedição, embora anistiasse os líderes da mesma revolta.

Em novembro de 1844, estavam todos em pleno armistício. Suspensão de armas, condição fundamental para que os governos pudessem negociar a paz, levando ao relaxamento da guarda no acampamento da curva do arroio Porongos. Canabarro e seus oficiais imediatos foram a uma estância próxima visitar a mulher viúva de um ex-guerreiro farrapo e o coronel Teixeira Nunes e seu corpo de Lanceiros Negros descansavam. Foi então que apareceu Moringue, de surpresa, quebrando o decreto de suspensão de armas. Mesmo assim o corpo de Lanceiros Negros, cerca de 100 homens de mãos livres, pelearam, resistiram e bravamente lutaram até a aniquilação, em uma posição de difícil defesa. Além disso, foram presos mais de 300 republicanos entre brancos e negros, inclusive 35 oficiais.

O general Canabarro, recuperado, reuniria ainda todo o restante de seu exército, cerca de 1.000 homens, e atacaria Encruzilhada em 7 de dezembro de 1844, tomando-a e mostrando assim que a sua intenção não era entregar-se.[40]

Paz do Poncho Verde

Ver artigo principal: Tratado de Poncho Verde

Por fim, a 1 de março de 1845, assinou-se a paz: o Tratado de Poncho Verde ou Paz do Poncho Verde[11], após quase dez anos de guerra que teria causado 47.829 mortes[25]. Entre suas principais condições estavam a anistia plena aos revoltosos, a libertação dos escravos que combateram no Exército piratinense e a escolha de um novo presidente provincial pelos farroupilhas.[15] O cumprimento parcial ou integral do tratado até hoje suscita discussões. A impossibilidade de uma abolição da escravatura regionalmente restrita, a persistência de animosidade entre lideranças locais e outros fatores administrativos e operacionais podem ter ao menos dificultado, senão impedido o cumprimento integral do mesmo. Tal discussão é remetida para o artigo principal deste assunto.

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Dos escravos sobreviventes, alguns acompanharam o exército do general Antônio Neto em seu exílio no Uruguai, outros foram incorporados ao Exército Imperial e muitos foram vendidos novamente como escravos no Rio de Janeiro.

A atuação de Luís Alves de Lima e Silva foi tão nobre e correta para com os oponentes que a Província, novamente unificada, o indicou para senador. O Império, reconhecido, outorgou ao general o título nobiliárquico de Conde de Caxias (1845). Mais tarde, (1850), com a iminência da Guerra contra Rosas, seria indicado presidente da Província de São Pedro do Rio Grande.

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SabinadaOrigem: Wikipédia, a enciclopédia livre.Ir para: navegação, pesquisa

Bandeira da Sabinada

Conflitos na História do Brasil

- Império -

Primeiro Reinado

Guerra da Independência: 1822-1823

Independência da Bahia: 1821-1823

Confederação do Equador: 1824

Guerra contra as Províncias Unidas: 1825-1828

Revolta dos Mercenários: 1828

Período Regencial

Federação do Guanais: 1832

Revolta dos Malês: 1835

Cabanagem: 1835-1840

Farroupilha: 1835-1845

Sabinada: 1837-1838

Balaiada: 1838-1841

Segundo Reinado

Revoltas Liberais: 1842

Revolta Praieira: 1848-1850

Guerra contra Oribe e Rosas: 1851-1852

Ronco da Abelha: 1835-1845

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Questão Christie: 1863

Guerra contra Aguirre: 1864

Guerra do Paraguai: 1864-1870

Questão Religiosa: 1872-1875

Revolta dos Muckers: 1874

Revolta do Quebra-Quilos: 1874-1875

Questão Militar: década de 1880

A Sabinada foi uma revolta autonomista à época do Brasil Império. Ocorreu entre 6 de novembro de 1837 e 16 de março de 1838, na então Província da Bahia.

Índice

1 História o 1.1 Antecedentes o 1.2 Estopim da revolta o 1.3 A Revolta o 1.4 A repressão

2 Ligações externas

História

Antecedentes

A tradição de lutas por autonomia política na Bahia remonta à Conjuração Baiana (1798), às lutas pela Independência da Bahia (1822-1823), à Federação do Guanais (1832) e à Revolta dos Malês (1835).

Durante o Período regencial (1831-1840), os conflitos se estabeleceram em torno da questão da centralização monárquica e do federalismo republicano, mobilizando principalmente setores das camadas médias urbanas - comerciantes, profissionais liberais e oficiais militares. Entre os primeiros meses do ano de 1831 algumas dessas manifestações requeriam que fossem tomadas decisões contra os portugueses, considerando-os como "inimigos".

Este descontentamento era proveniente do fato de que os portugueses controlavam a maior parte do comércio e ocupavam muitos dos cargos administrativos, político e militares. Através das revoltas e conflitos o povo exigia desde a deportação de portugueses, e mesmo a extinção de todo o tipo de pensões a eles pagas, concedidas por João VI de Portugal e por Pedro I do Brasil.

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Os ânimos na capital baiana se acirraram com a renúncia do Regente Diogo Antônio Feijó (1837), incapaz de controlar as manifestações revoltosas, e com o projeto da lei de interpretação do Ato Adicional, que dava às camadas médias a autonomia provincial e cuja discussão se arrastou de 1837 a 1840.

Estopim da revolta

Sabinada (1837).

O movimento aproveitou a reação popular contra o recrutamento militar imposto pelo Governo imperial, tendo a liderança do médico e jornalista Francisco Sabino Vieira. O estopim se deu em meio a fuga de Bento Gonçalves, do Forte do Mar, chamado hoje de Forte de São Marcelo.

A Revolta

Na madrugada de 6 para 7 de novembro de 1837, Sabino e os que o apoiavam proclamaram a "República Baiana". Mesmo provisória, decretada até que o jovem Pedro de Alcântara atingisse a maioridade, ela rompia com o Governo Imperial e destituía o Governo Provincial.

O 3° Corpo da Artilharia de Posição, lotado no Forte de São Pedro, levantara-se, dominando aquela fortificação. Durante a madrugada, o Governo Provincial tentou sufocar o levante, despachando trezentos soldados armados para a Praça da Piedade. Entretanto, em vez de atacar os revoltosos, a tropa legalista debandou e também aderiu ao movimento.

Diante destas notícias, o então Presidente da Província, Francisco de Souza Paraíso, e o Comandante das Armas, tenente-coronel Luís de França Pinto Garcez, abandonaram a cidade e se refugiaram num brigue ancorado na baía de Todos os Santos. Isolado, o Chefe de Polícia, Francisco Gonçalves Martins, tomou um saveiro e dirigiu-se para o Recôncavo, em busca da proteção do coronel Alexandre Gomes de Argolo Ferrão, senhor do Engenho Cajaíba e 1° barão de Cajaíba.

O edifício da Câmara Municipal foi ocupada pelos revoltosos, tendo à frente Francisco Sabino Vieira, o político João Carneiro da Silva Rego e os militares José Duarte da Silva e Luiz Antônio Barbosa de Almeida. Na ocasião Francisco Sabino propôs que o

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nascente Estado republicano tivesse como presidente o advogado Inocêncio da Rocha Galvão, então exilado nos Estados Unidos da América, e como vice-presidente João Carneiro Rego. O próprio Sabino, como secretário de governo, ditou a primeira ata da recém-criada "República Bahiana", que contou com cento e quatro assinaturas. Foram nomeados Ministro da Guerra Daniel Gomes de Freitas, da Marinha Manoel Pedro de Freitas Guimarães.

Conseguindo dominar a cidade de Salvador por cerca de quatro meses e após dominar alguns quartéis em Salvador, os rebeldes não lograram obter a adesão dos senhores de terras do Recôncavo, nem encontraram apoio significativo junto à população escrava, permanecendo restritos aos limites urbanos da cidade, bloqueada.

A repressão

Sem adesão das elites e das camadas populares a repressão por parte do governo imperial tornou-se fácil. Este cercou a capital em uma operação de bloqueio terrestre e marítima (março de 1838), na cidade de Salvador. Cerca de mil pessoas pereceram nos combates. Três dos líderes foram executados, os outros três deportados e os rebeldes que sobreviveram e foram capturados foram julgados por um tribunal compostos pelos donos de latifúndios da província. Estes foram punidos com tamanha crueldade que este júri ficou conhecido como "Júri de Sangue". Francisco Sabino Vieira acabou os seus dias na Fazenda Jacobina, na então remota província do Mato Grosso. Outros, como Daniel Gomes de Freitas, Francisco José da Rocha, João Rios Ferreira e Manoel Gomes Pereira, conseguiram evadir-se e depois juntaram-se à Revolução Farroupilha.

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CABANAGEMOrigem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

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 Nota: Para o bairro de Belém do Pará, veja Cabanagem (Belém).

Vista parcial de Belém, à época do conflito

Conflitos na História do Brasil

- Império -

Primeiro Reinado

Guerra da Independência: 1822-1823

Independência da Bahia: 1821-1823

Confederação do Equador: 1824

Guerra contra as Províncias Unidas: 1825-1828

Revolta dos Mercenários: 1828

Período Regencial

Federação do Guanais: 1832

Revolta dos Malês: 1835

Cabanagem: 1835-1840

Farroupilha: 1835-1845

Sabinada: 1837-1838

Balaiada: 1838-1841

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Segundo Reinado

Revoltas Liberais: 1842

Revolta Praieira: 1848-1850

Guerra contra Oribe e Rosas: 1851-1852

Ronco da Abelha: 1835-1845

Questão Christie: 1863

Guerra contra Aguirre: 1864

Guerra do Paraguai: 1864-1870

Questão Religiosa: 1872-1875

Revolta dos Muckers: 1874

Revolta do Quebra-Quilos: 1874-1875

Questão Militar: década de 1880

Cabanagem foi uma revolta social ocorrida no Império do Brasil, na então província do Grão-Pará, estendendo-se de janeiro de 1835 a 1840, durante o período regencial brasileiro. Marcado por um cenário de pobreza extrema, fome e doenças, o conflito existiu muito devido à irrelevância política à qual a província foi relegada após a Independência do Brasil. Dado o seu saldo de mortos exorbitante e a chacina de povos promovida pela coroa, a Cabanagem é um dos maiores conflitos já ocorridos na história do país.

Nos antecedentes da revolta, havia uma mobilização da província do Grão-Pará para expulsar forças reacionárias que desejavam manter a região como colônia portuguesa. Muitos líderes locais da elite fazendeira, ressentidos pela falta de participação política nas decisões do governo brasileiro centralizador, também contribuíam com o clima de insatisfação após a instalação do governo provincial.[1]

A revolta teve início em 6 de janeiro de 1835 quando o quartel e o palácio do governo de Belém foram tomados por tapuios, cabanos, negros e índios liderados por Antônio Vinagre. O então presidente da província foi assassinado e instituiu-se um novo presidente, Clemente Malcher; a tomada de poder promoveu uma apoderação de material bélico por parte dos grupos revolucionários. Malcher, no entanto, mais identificado com as classes dominantes, foi rapidamente deposto.[1] Sucedeu-se um conflito entre as tropas dele e as do líder dos cabanos, Eduardo Angelim, tendo estas saído vitoriosas. O frágil e instável controle cabano do Grão-Pará durou cerca de dez meses.

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O império, então, nomeou por si um novo presidente, o barão de Caçapava, e, frente a essa afronta às tendências centralizadoras do governo central, bombardeou impiedosamente Belém. A deposição dos cabanos do poder foi rápida, porém, como muitos deles, mesmo fora do poder, continuaram a lutar, o império usou de seu poderio militar para sufocar a revolta e, até 1840, promoveu um extermínio em massa da população paraense. Estima-se que cerca de 30 a 40% da população de 100 mil habitantes do Grão-Pará tenha morrido no conflito.[1]

Índice

1 Origem do nome 2 História

o 2.1 O movimento 3 Referências 4 Ligação externa 5 Ver também 6 Bibliografia

Origem do nome

A "Cabanagem" remete ao tipo de habitação da população ribeirinha, espécie de cabanas, constituída por mestiços, escravos libertos e indígenas.

História

Após a independência do Brasil, a província do Grão-Pará mobilizou-se para expulsar as forças reacionárias que pretendiam manter a região como colônia de Portugal. Nessa luta, que se arrastou por vários anos, destacaram-se as figuras do cônego e jornalista João Batista Gonçalves Campos, dos irmãos Vinagre e do fazendeiro Félix Clemente Malcher. Formaram-se diversos mocambos de escravos foragidos e eram frequentes as rebeliões militares. Terminada a luta pela escravidão e instalado o governo provincial, os líderes locais foram marginalizados do poder. A elite fazendeira do Grão-Pará, embora com melhores condições, ressentia-se da falta de participação nas decisões do governo central, dominado pelas províncias do Sudeste e do Nordeste.[1]

Em julho de 1831, uma rebelião na guarnição militar de Belém do Pará resultou na prisão de Batista Campos, uma das lideranças implicadas. A indignação do povo cresceu, e em 1833 já se falava em criar uma federação. O presidente da província, Bernardo Lobo de Sousa, desencadeou uma política repressora, na tentativa de conter os inconformados. O clímax foi atingido em 1834, quando Batista Campos publicou uma carta do bispo do Pará, Romualdo de Sousa Coelho, criticando alguns políticos da província. Por não ter sido autorizada pelo governo da Província, o cônego foi perseguido, refugiando-se na fazenda de seu amigo Clemente Malcher. Reunindo-se aos irmãos Vinagre (Manuel, Francisco Pedro e Antônio) e ao seringueiro e jornalista Eduardo Angelim reuniram um contingente de rebeldes na fazenda de Malcher. Antes de serem atacados por tropas governistas, abandonaram a fazenda. Contudo, no dia 3 de novembro, as tropas conseguiram matar Manuel Vinagre e prender Malcher e outros

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rebeldes. Batista Campos morreu no último dia do ano, ao que tudo indica de uma infecção causada por um corte que sofreu ao fazer a barba.

O movimento

Eduardo Angelim, um dos líderes da revolta.

Em 6 de janeiro de 1835, liderados por Antônio Vinagre, os rebeldes (tapuios, cabanos, negros e índios) tomaram de assalto o quartel e o palácio do governo de Belém, nomeando Félix Antonio Clemente Malcher presidente do Grão-Pará. Os cabanos, em menos de um dia, atacaram e conquistaram a cidade de Belém, assassinando o presidente Lobo de Souza e o Comandante das Armas, e apoderando-se de uma grande quantidade de material bélico. No dia 7, Clemente Malcher foi libertado e escolhido como presidente da província e Francisco Vinagre para Comandante das Armas. O governo cabano não durou muito tempo, pois o novo presidente, Félix Malcher - tenente-coronel, latifundiário e dono de engenhos de açúcar - era mais identificado com os interesses do grupo dominante derrotado, e é deposto em 19 de fevereiro de 1835, com o apoio das classes dominantes, que pretendiam manter a província unida ao Império do Brasil.[1]

Francisco Vinagre, Eduardo Angelim e os cabanos pretendiam se separar. O rompimento aconteceu quando Malcher mandou prender Angelim. As tropas dos dois lados entraram em conflito, saindo vitoriosas as de Francisco Vinagre. Clemente Malcher, assassinado, teve o seu cadáver arrastado pelas ruas de Belém.

Agora na presidência e no Comando das Armas da Província, Francisco Vinagre não se manteve fiel aos cabanos. Se não fosse a intervenção de seu irmão Antônio, teria entregue o governo ao poder imperial, na pessoa do marechal Manuel Jorge Rodrigues (julho de 1835). Devido à sua fraqueza e ao reforço de uma esquadra comandada pelo

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almirante inglês Taylor, os cabanos foram derrotados e se retiraram para o interior. Reorganizando suas forças, os cabanos atacaram Belém, em 14 de agosto. Após nove dias de batalha, mesmo com a morte de Antônio Vinagre, os cabanos retomaram a capital.

Eduardo Angelim assumiu a presidência. Durante dez meses, a elite se viu atemorizada pelo controle cabano sobre a província do Grão-Pará. A falta de um projeto com medidas concretas para a consolidação do governo rebelde, provocaram seu enfraquecimento. Diante da vitória das forças de Angelim, o império reagiu e nomeou, em março de 1836, o brigadeiro Francisco José de Sousa Soares de Andréa como novo presidente do Grão-Pará, autorizando a guerra total contra os cabanos. Em fevereiro, quatro navios de guerra se aproximavam de Belém, prontos para atacar a cidade, tomada pela desordem, fome e varíola. No dia 13 de maio de 1836, o brigadeiro d'Andrea estacionou sua esquadra em frente a Belém e bombardeou impiedosamente a cidade. Os cabanos insurgentes escapavam pelos igarapés em pequenas canoas, enquanto Eduardo Angelim e alguns líderes negociavam a fuga.[1]

O brigadeiro d'Andrea, entretanto, julgando que Angelim, mesmo foragido, seria uma ameaça, determinou que seus homens fossem ao seu encalço. Em outubro de 1836, numa tapera da selva, ao lado de sua mulher, Angelim foi capturado, tornado prisioneiro na fortaleza da Barra, até seguir para o Rio de Janeiro. A Cabanagem, porém, não acabou com a prisão de Eduardo Angelim. Os cabanos, internados na selva, lutaram até 1840, até serem completamente exterminados (nações indígenas foram chacinadas; os murá e os mauê praticamente desapareceram).[1]

Calcula-se que de 30 a 40% de uma população estimada de 100 mil habitantes morreu. Em 1833 o Grão-Pará tinha 119.877 habitantes; 32.751 eram índios e 29.977, negros escravos. A maioria mestiça ("cruzamento" de índios, negros e brancos) chegava a 42 mil. A minoria totalizava 15 mil brancos, dos quais mais da metade eram portugueses.[1]

Em homenagem ao movimento Cabano foi erguido um monumento, projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, na entrada da cidade de Belém: o Memorial da Cabanagem.

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KARL MARXOrigem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

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Karl Marx

Nome completo Karl Heinrich Marx

Nascimento 5 de Maio de 1818Tréveris, Renânia-PalatinadoAlemanha

Morte 14 de março de 1883 (64 anos)Londres, InglaterraReino Unido

Nacionalidade Alemão

Ocupação escritor, economista, sociólogo, historiador e filósofo

Influências

Influências[Expandir]

Influenciados

Influenciados[Expandir]

Magnum opus O Capital

Escola/tradição Marxismo (cofundador, junto com

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Engels)

Principais interesses

Filosofia, Sociologia, economia, história, política, teoria social

Ideias notáveis transição gradual para o comunismo,ditadura do proletariado,materialismo histórico, materialismo dialético, socialismo científico, modo de produção, mais-valia, luta de classes, teoria marxista da ideologia, teoria marxista da alienação

Assinatura

Karl Heinrich Marx (Tréveris, 5 de maio de 1818 — Londres, 14 de março de 1883) foi um intelectual e revolucionário alemão, fundador da doutrina comunista moderna, que atuou como economista, filósofo, historiador, teórico político e jornalista.

O pensamento de Marx influencia várias áreas, tais como Filosofia, Geografia, História, Direito, Sociologia, Literatura, Pedagogia, Ciência Política, Antropologia, Biologia, Psicologia, Economia, Teologia, Comunicação, Administração, Design, Arquitetura, entre outras. Em uma pesquisa realizada pela Radio 4, da BBC, em 2005, foi eleito o maior filósofo de todos os tempos.[1]

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Índice

1 Biografia o 1.1 Juventude o 1.2 Envolvimento político o 1.3 Morte

2 Pensamento o 2.1 Influências

2.1.1 Influência da Filosofia Idealista 2.1.2 Influência do socialismo utópico 2.1.3 Influência da economia política clássica

o 2.2 Metodologia o 2.3 Crítica da religião o 2.4 Revolução o 2.5 Crítica ao Anarquismo o 2.6 A práxis o 2.7 A mais-valia o 2.8 O Capital o 2.9 Outras obras o 2.10 Colaboração de Engels

3 Críticas 4 Obras 5 Notas e Referências 6 Ligações externas

Biografia

Ver página anexa: Cronologia da vida de Karl Marx

Juventude

Karl Marx adolescente.

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Marx foi o segundo de nove filhos[2], de uma família de origem judaica de classe média da cidade de Tréveris, na época no Reino da Prússia. Sua mãe, Henriette Pressburg (1788–1863), era judia holandesa e seu pai, Herschel Marx (1777–1838), um advogado e conselheiro de Justiça. Herschel descende de uma família de rabinos, mas se converteu ao cristianismo luterano em função das restrições impostas à presença de membros de etnia judaica no serviço público, quando Marx ainda tinha seis anos.[3] Seus irmãos eram Sophie (1816-1886), Hermann (1819-1842), Henriette (1820-1845), Louise (1821-1893), Emilie (1824-1888 - adotada por seus pais), Caroline (1824-1847) e Eduard (1826-1837).

Em 1830, Marx iniciou seus estudos no Liceu Friedrich Wilhelm, em Tréveris, ano em que eclodiram revoluções em diversos países europeus. Ingressou mais tarde na Universidade de Bonn para estudar Direito, transferindo-se no ano seguinte para a Universidade de Berlim, onde o filósofo alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel, cuja obra exerceu grande influência sobre Marx, foi professor e reitor.[3] Em Berlim, Marx ingressou no Clube dos Doutores, que era liderado por Bruno Bauer. Ali perdeu interesse pelo Direito e se voltou para a Filosofia, tendo participado ativamente do movimento dos Jovens Hegelianos. Seu pai faleceu neste mesmo ano.[3] Em 1841, obteve o título de doutor em Filosofia com uma tese sobre as "Diferenças da filosofia da natureza em Demócrito e Epicuro".[3] Impedido de seguir uma carreira acadêmica,[4] tornou-se, em 1842, redator-chefe da Gazeta Renana (Rheinische Zeitung), um jornal da província de Colônia;[5] conheceu Friedrich Engels neste mesmo ano, durante visita deste a redação do jornal.[3]

Envolvimento político

Monumento a Marx em Chemnitz, Alemanha.

Em 1843, a Gazeta Renana foi fechada após publicar uma série de ataques ao governo prussiano. Tendo perdido o seu emprego de redator-chefe, Marx mudou-se para Paris. Lá assumiu a direção da publicação Anais Franco-Alemães e foi apresentado a diversas sociedades secretas de socialistas. Antes ainda da sua mudança para Paris, Marx casou-se, no dia 19 de junho de 1843, com Jenny von Westphalen,[3] a filha de um barão da Prússia com a qual mantinha noivado desde o início dos seus estudos universitários.[6]

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(Noivado que foi mantido em sigilo durante anos, pois as famílias Marx e Westphalen não concordavam com a união.[7])

Esposa de Marx, Jenny von Westphalen.

Do casamento de Marx com Jenny von Westphalen, nasceram sete filhos, mas devido às más condições de vida que foram forçados a viver em Londres, apenas três sobreviveram à idade adulta. As crianças eram: Jenny Caroline (1844-1883), Jenny Laura (1845-1911), Edgar (1847-1855), Henry Edward Guy ("Guido"; 1849-1850), Jenny Eveline Frances ("Franziska"; 1851-52), Jenny Julia Eleanor (1855-1898) e mais um que morreu antes de ser nomeado (Julho, 1857). Ao que consta, Franziska, Edgar e Guido morreram na infância, provavelmente pelas péssimas condições materiais a que a família estava submetida.[8] Marx também teve um filho nascido de sua relação amorosa com a militante socialista e empregada da família Marx, Helena Demuth. Solicitado por Marx, Engels assumiu a paternidade da criança, Frederick Delemuth, e pagando uma pensão, entregou-o a uma família de um bairro proletário de Londres [9]

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Marx com sua mulher, em foto de 1869.

No tratamento pessoal — Leandro Konder ressalta — Marx foi produto de seu tempo: "Antes de poder contestar a sociedade capitalista Marx pertencia a ela, estava espiritualmente mais enraizado no solo da sua cultura do que admitiria", e que diante dos padrões da Inglaterra vitoriana mostrou: "traços típicos das limitações de seu tempo". Como moças aristocráticas, suas filhas tinham aulas de piano, canto e desenho, mesmo que não tivessem desenvoltura para tais atividades artísticas.[9]

Também em 1843, Marx conheceu a Liga dos Justos (que mais tarde tornar-se-ia Liga dos Comunistas).[3] Em 1844, Friedrich Engels visitou Marx em Paris por alguns dias. A amizade e o trabalho conjunto entre ambos, que se iniciou nesse período, só seria interrompido com a morte de Marx.[6] Na mesma época, Marx também se encontrou com Proudhon, com quem teve discussões polêmicas e muitas divergências. E conheceu rapidamente Bakunin, então refugiado do czarismo russo e militante socialista. No seu período em Paris, Marx intensificou os seus estudos sobre economia política, os socialistas utópicos franceses e a história da França, produzindo reflexões que resultaram nos Manuscritos de Paris, mais conhecidos como Manuscritos Econômico-Filosóficos. De acordo com Engels, foi nesse período que Marx aderiu às ideias socialistas.[6]

De Paris, Marx ajudou a editar uma publicação de pequena circulação chamada Vorwärts!, que contestava o regime político alemão da época. Por conta disto, Marx foi expulso da França em 1845 a pedido do governo prussiano. Migrou então para Bruxelas, para onde Engels também viajou.[6] Entre outros escritos, a dupla redigiu na Bélgica o Manifesto comunista. Em 1848, Marx foi expulso de Bruxelas pelo governo belga. Junto com Engels, mudou-se para Colônia, onde fundam o jornal Nova Gazeta Renana.[3] Após ataques às autoridades locais publicados no jornal, Marx foi expulso de Colônia em 1849. Até 1848, Marx viveu confortavelmente com a renda oriunda de seus trabalhos, seu salário e presentes de amigos e aliados, além da herança legada por seu pai.[7] Entretanto, em 1849 Marx e sua família enfrentaram grave crise financeira; após

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superarem dificuldades conseguiram chegar a Paris, mas o governo francês proibiu-os de fixar residência em seu território. Graças, então, a uma campanha de arrecadação de donativos promovida por Ferdinand Lassalle na Alemanha, Marx e família conseguem migrar para Londres, onde fixaram residência definitiva.[3]

Morte

Tumba de Karl Marx no Cemitério de Highgate, Londres.

Encontrando-se deprimido por conta da morte de sua esposa, ocorrida em Dezembro de 1881, Marx desenvolveu, em consequência dos problemas de saúde que suportou ao longo de toda a vida, bronquite e pleurisia, que causaram o seu falecimento em 1883. Foi enterrado na condição de apátrida,[10] no Cemitério de Highgate, em Londres.[3]

Muitos dos amigos mais próximos de Marx prestaram homenagem ao seu funeral, incluíndo Wilhelm Liebknecht e Friedrich Engels. O último declamou as seguintes palavras:[11]

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Marx por volta de um ano antes de sua morte, em 1882.

“ Marx era, antes de tudo, um revolucionário. Sua verdadeira missão na vida era contribuir, de um modo ou de outro, para a derrubada da sociedade capitalista e das instituições estatais por esta suscitadas, contribuir para a libertação do proletariado moderno, que ele foi o primeiro a tornar consciente de sua posição e de suas necessidades, consciente das condições de sua emancipação. A luta era seu elemento. E ele lutou com uma tenacidade e um sucesso com quem poucos puderam rivalizar. (…) Como consequência, Marx foi o homem mais odiado e mais caluniado de seu tempo. Governos, tanto absolutistas como republicanos, deportaram-no de seus territórios. Burgueses, quer conservadores ou ultrademocráticos, porfiavam entre si ao lançar difamações contra ele. Tudo isso ele punha de lado, como se fossem teias de aranha, não tomando conhecimento, só respondendo quando necessidade extrema o compelia a tal. E morreu amado, reverenciado e pranteado por milhões de colegas trabalhadores revolucionários - das minas da Sibéria até a Califórnia, de todas as partes da Europa e da América - e atrevo-me a dizer que, embora, muito embora, possa ter tido muitos adversários, não teve nenhum inimigo pessoal. ”

Em 1954, o Partido Comunista Britânico construiu uma lápide com o busto de Marx sobre sua tumba, até então de decoração muito simples.[12] Na lápide encontram-se inscritos o parágrafo final do Manifesto Comunista ("Proletários de todos os países, uni-vos!") e um trecho extraído das Teses sobre Feuerbach: "Os filósofos apenas interpretaram o mundo de várias maneiras, enquanto que o objetivo é mudá-lo."[13][14]

Pensamento

Parte da série sobre o

Marxismo

Page 43: Guerra Dos Farrapos REIS

Trabalhos teóricos [Expandir]

Ciências sociais [Expandir]

Economia [Expandir]

História [Expandir]

Filosofia [Expandir]

Representantes[Expandir]

Crítica[Expandir]

Portal do comunismo

v • e

Durante a vida de Marx, suas ideias receberam pouca atenção de outros estudiosos. Talvez o maior interesse tenha se verificado na Rússia, onde, em 1872, foi publicada a primeira tradução do Tomo I d'O Capital. Na Alemanha, a teoria de Marx foi ignorada durante bastante tempo, até que em 1879 um alemão estudioso da Economia Política, Adolph Wagner, comentou o trabalho de Marx ao longo de uma obra intitulada Allgemeine oder theoretische Volkswirthschaftslehre. A partir de então, os escritos de Marx começaram a atrair cada vez mais atenção.[15]

Nos primeiros anos após a morte de Marx, sua teoria obteve crescente influência intelectual e política sobre os movimentos operários (ao final do século XIX, o principal locus de debate da teoria era o Partido Social-Democrata alemão) e, em menor proporção, sobre os círculos acadêmicos ligados às ciências humanas – notadamente na Universidade de Viena e na Universidade de Roma, primeiras instituições acadêmicas a oferecerem cursos voltados para o estudo de Marx.[15]

Marx foi herdeiro da filosofia alemã, considerado ao lado de Kant e Hegel um de seus grandes representantes. Foi um dos maiores (para muitos, o maior) pensadores de todos os tempos, tendo uma produção teórica com a extensão e densidade de um Aristóteles,

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de quem era um admirador. Marx criticou ferozmente o sistema filosófico idealista de Hegel. Enquanto que, para Hegel, da realidade se faz filosofia, para Marx a filosofia precisa incidir sobre a realidade. Para transformar o mundo é necessário vincular o pensamento à prática revolucionária, união conceitualizada como práxis: união entre teoria e prática.

A teoria marxista é, substancialmente, uma crítica radical das sociedades capitalistas. Mas é uma crítica que não se limita a teoria em si. Marx, aliás, se posiciona contra qualquer separação drástica entre teoria e prática, entre pensamento e realidade, porque essas dimensões são abstrações mentais (categorias analíticas) que, no plano concreto, real, integram uma mesma totalidade complexa.[16]

O marxismo constitui-se como a concepção materialista da História, longe de qualquer tipo de determinismo, mas compreendendo a predominância da materialidade sobre a ideia, sendo esta possível somente com o desenvolvimento daquela, e a compreensão das coisas em seu movimento, em sua inter-determinação, que é a dialética. Portanto, não é possível entender os conceitos marxianos como forças produtivas, capital, entre outros, sem levar em conta o processo histórico, pois não são conceitos abstratos e sim uma abstração do real, tendo como pressuposto que o real é movimento.[17]

Karl Marx compreende o trabalho como atividade fundante da humanidade. E o trabalho, sendo a centralidade da atividade humana, se desenvolve socialmente, sendo o homem um ser social. Sendo os homens seres sociais, a História, isto é, suas relações de produção e suas relações sociais fundam todo processo de formação da humanidade. Esta compreensão e concepção do homem é radicalmente revolucionária em todos os sentidos, pois é a partir dela que Marx irá identificar a alienação do trabalho como a alienação fundante das demais. E com esta base filosófica é que Marx compreende todas as demais ciências, tendo sua compreensão do real influenciado cada dia mais a ciência por sua consistência.[18]

Influências

Algumas das principais leituras e estudos feitos por Marx são:[19]

A filosofia alemã de Kant, Hegel e dos neo-hegelianos (como Feuerbach e outros);

O socialismo utópico (representado por Saint-Simon, Robert Owen, Louis Blanc e Proudhon);

E a economia política clássica britânica (representada por Adam Smith, David Ricardo e outros).

Ele estudou profundamente todas essas concepções ao mesmo tempo em que as questionou e desenvolveu novos temas, de modo a produzir uma profunda reorientação no debate intelectual europeu.[19]

Influência da Filosofia Idealista

Hegel foi professor da Universidade de Jena, a mesma instituição onde Marx cursou o doutorado. E, em Berlim, Marx teve contato prolongado com as ideias dos Jovens Hegelianos (também referidos como Hegelianos de esquerda). Os dois principais

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aspectos do sistema de Hegel que influenciaram Marx foram sua filosofia da história e sua concepção dialética.[20]

Para Hegel, nada no mundo é estático, tudo está em constante processo (vir-a-ser); tudo é histórico, portanto. O sujeito desse mundo em movimento é o Espírito do Mundo (ou Superalma; ou Consciência Absoluta), que representa a consciência humana geral, comum a todos indivíduos e manifesta na ideia de Deus. A historicidade é concebida enquanto história do progresso da consciência da liberdade. As formas concretas de organização social correspondem a imperativos ditados pela consciência humana, ou seja, a realidade é determinada pelas ideias dos homens, que concebem novas ideias de como deve ser a vida social em função do conflito entre as ideias de liberdade e as ideias de coerção ligadas a condição natural ("selvagem") do homem. O homem se liberta progressivamente de sua condição de existência natural através de um processo de "espiritualização" – reflexão filosófica (ao nível do pensamento, portanto) que conduz o homem a perceber quem é o real sujeito da história.[20][21]

Marx considerou-se um hegeliano de esquerda durante certo tempo, mas rompeu com o grupo e efetuou uma revisão bastante crítica dos conceitos de Hegel após tomar contato com as concepções de Feuerbach. Manteve o entendimento da história enquanto progressão dialética (ou seja, o mundo está em processo graças ao choque permanente entre os opostos; não é estático), mas eliminou o Espírito do Mundo enquanto sujeito ou essência, porque passou a compreender que a origem da realidade social não reside nas ideias, na consciência que os homens têm dela, mas sim na ação concreta (material, portanto) dos homens, portanto no trabalho humano. A existência material precede qualquer pensamento; inexiste possibilidade de pensamento sem existência concreta.

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Marx inverte, então, a dialética hegeliana, porque coloca a materialidade – e não as ideias – na gênese do movimento histórico que constitui o mundo. Elabora, assim, a dialética materialista (conceito não desenvolvido por Marx, que também costuma ser referida por materialismo dialético).[20][22]

“ A mistificação por que passa a dialética nas mãos de Hegel não o impede de ser o primeiro a apresentar suas formas gerais de movimento, de maneira ampla e consciente. Em Hegel, a dialética está de cabeça para baixo. É necessária pô-la de cabeça para cima, a fim de descobrir a substância racional dentro do invólucro místico.[23] ”

A respeito da influência de Hegel sobre Marx, escreveu Lenin que

“ (…) é completamente impossível entender O Capital de Marx, e, em especial, seu primeiro capítulo, sem haver estudado e compreendido a fundo toda a lógica de Hegel.[24] ”

Ludwig Feuerbach foi um filósofo materialista que atraiu muita atenção de intelectuais de sua época. Publicou, em 1841, uma obra (Das Wesen des Christentums – A essência do cristianismo) que teve influência importante sobre Marx, Engels e os Jovens Hegelianos. Nela, Feuerbach criticou duramente Hegel, e afirmou que a religião consiste numa projeção dos desejos humanos e numa forma de alienação. É de Feuerbach a concepção de que em Hegel a lógica dialética está "de cabeça para baixo", porque apresenta o homem como um atributo do pensamento ao invés do pensamento como um atributo do homem. Sem dúvida, o contato de Marx com as ideias feuerbachianas foi determinante para a formulação de sua crítica radical da religião e das "concepções invertidas" de Hegel.[20]

Influência do socialismo utópico

Por socialismo utópico costumava-se designar, à época de Marx, um conjunto de doutrinas diversas (e até antagônicas entre si) que tinham em comum, entretanto, duas características básicas: todas entendiam que a base determinante do comportamento humano residia na esfera moral/ideológica e que o desenvolvimento das civilizações ocidentais estava a permitir uma nova era onde iria imperar a harmonia social. Marx criticou sagazmente as ideias dos socialistas utópicos (principalmente dos franceses, com os quais mais polemizou), acusando-os de muito romantismo ingênuo e pouca (ou nenhuma) dedicação ao estudo rigoroso da conjuntura social, pois os socialistas utópicos muito diziam sobre como deveria ser a sociedade harmônica ideal, mas nada indicavam sobre como seria possível alcançá-la plenamente. Por outro lado, pode-se dizer que, de certa forma, Marx adotou – explícita ou implicitamente – algumas noções contidas nas ideias de alguns dos socialistas utópicos (como, por exemplo, a noção de que o aumento da capacidade de produção decorrente da revolução industrial permite

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condições materiais mais confortáveis à vida humana, ou ainda a noção de que as crenças ideológicas do sujeito[25] lhe determinam o comportamento).[20]

Influência da economia política clássica

Marx em 1867.

Marx empreendeu um minucioso estudo de grande parte da teoria econômica ocidental, desde escritos da Grécia antiga até obras que lhe eram contemporâneas. As contribuições que julgou mais fecundas foram as elaboradas por dois economistas políticos britânicos, Adam Smith e David Ricardo (tendo predileção especial por Ricardo, a quem referia como "o maior dos economistas clássicos"). Na obra deste último, Marx encontrou conceitos – então bastante utilizados no debate britânico – que, após fecunda revisão e re-elaboração, adotou em definitivo (tais como os de valor, divisão social do trabalho, acumulação primitiva e mais-valia, por exemplo). A avaliação do grau de influência da obra de Ricardo sobre Marx é bastante desigual. Estudiosos pertencentes à tradição neo-ricardiana tendem a considerar que existem poucas diferenças cruciais entre o pensamento econômico de um e outro; já estudiosos ligados à tradição marxista tendem a delimitar diferenças fundamentais entre eles.[20][26]

Metodologia

Marx nunca escreveu um livro dedicado especificamente à metodologia das ciências sociais para expor, mas deixou, dispersas por numerosas obras escritas, um conjunto de reflexões metodológicas, nas quais desenvolve o seu próprio método por meio da crítica ao idealismo especulativo hegeliano e à economia política clássica.

Segundo Marx, Hegel e seus seguidores criaram uma dialética mistificada, que buscava explicar especulativamente a história mundial como auto-desenvolvimento da Ideia absoluta.

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Já os economistas clássicos naturalizavam e desistoricizavam o modo de produção capitalista, concebendo a dominação de classe burguesa como uma ordem natural das relações econômicas, a partir de um conceito abstrato de indivíduo, homo economicus. Por isso, os economistas clássicos recorriam a "robsonadas", isto é, narrativas de trocas de produtos entre caçadores e pescadores primitivos, para ilustrar as suas teorias econômicas. Marx atribuía essa mistificação ao fetichismo da mercadoria, e não a uma intenção consciente.

Em oposição aos filósofos idealistas e aos economistas clássicos, Marx propunha a investigação do desenvolvimento histórico das formas de produção e reprodução social, partindo do concreto para o abstrato e do abstrato para o concreto[27]

Crítica da religião

Para Marx a crítica da religião é o pressuposto de toda crítica social, pois crê que as concepções religiosas tendem a desresponsabilizar os homens pelas consequências de seus atos.[20] Marx tornou-se reconhecido como crítico sagaz da religião devido a sentença que profere em um escrito intitulado Crítica da filosofia do direito de Hegel: “A religião é o suspiro da criatura oprimida, o coração de um mundo sem coração, assim como é o espírito de uma situação carente de espírito. É o ópio do povo.”[28] Em verdade, Marx se ocupou muito pouco em criticar sistematicamente a atividade religiosa. Nesse quesito ele basicamente seguiu as opiniões de Ludwig Feuerbach, para quem a religião não expressa a vontade de nenhum Deus ou outro ser metafísico: é criada pela fabulação dos homens.[28]

Revolução

Apesar de alguns leitores de Marx adjetivarem-no de “teórico da revolução”, inexiste em suas obras qualquer definição conceitual explícita e específica do termo revolução.[29] O que Marx oferece são descrições e projeções históricas inspiradas nos estudos que fez acerca das revoluções francesa, inglesa e norte-americana.[20] Um exemplo de prognóstico histórico desse tipo encontra-se em Contribuição para a crítica da Economia Política:

“ Numa certa etapa do seu desenvolvimento, as forças produtivas materiais da sociedade entram em contradição com as relações de produção existentes ou, o que é apenas uma expressão jurídica delas, com as relações de propriedade no seio das quais se tinham até aí movido. De formas de desenvolvimento das forças produtivas, estas relações transformam-se em grilhões das mesmas. Ocorre então uma época de revolução social.[30] ”

Em geral, Marx considerava que toda revolução é necessariamente violenta, ainda que isso dependa, em maior ou menor grau, da constrição ou abertura do Estado. A necessidade de violência se justifica porque o Estado tenderia sempre a empregar a coerção para salvaguardar a manutenção da ordem sobre a qual repousa seu poder

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político, logo, a insurreição não tem outra possibilidade de se realizar senão atuando também violentamente. Diferente do apregoado pelos pensadores contratualistas, para Marx o poder político do Estado não emana de algum consenso geral, é antes o poder particular de uma classe particular que se afirma em detrimento das demais.[29]

Importante notar que Marx não entende revolução enquanto algo como reconstruir a sociedade a partir de um zero absoluto. Na Crítica ao Programa de Gotha, por exemplo, indica claramente que a instauração de um novo regime só é possível mediada pelas instituições do regime anterior. O novo é sempre gestado tendo o velho por ponto de partida.[29] A revolução proletária, que instauraria um novo regime sem classes, só obteria sucesso pleno após a conclusão de um período de transição que Marx denominou socialismo.[20]

Crítica ao Anarquismo

Criticou o anarquismo por sua visão tida como ingênua do fim do Estado onde se objetiva acabar com o Estado "por decreto", ao invés de acabar com as condições sociais que fazem do Estado uma necessidade e realidade. Na obra Miséria da Filosofia elabora suas críticas ao pensamento do anarquista Proudhon. Ainda, criticou o blanquismo com sua visão elitista de partido, por ter uma tendência autoritária e superada. Posicionou-se a favor do liberalismo, não como solução para o proletariado, mas como premissa para maturação das forças produtivas (produtividade do trabalho) das condições positivas e negativas da emancipação proletária, como a da homogeneização da condição proletária internacional gerado pela "globalização" do capital. Sua visão política era profundamente marcada pelas condições que o desenvolvimento econômico ofereceria para a emancipação proletária, tanto em sentido negativo (desemprego), como em sentido positivo (em que o próprio capital centralizaria a economia, exemplo: multinacionais). [31]

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A práxis

Ver artigo principal: práxis

Na lógica da concepção materialista da História não é a realidade que move a si mesma, mas comove os atores, trata-se sempre de um "drama histórico" (termo que Marx usa em O 18 Brumário de Luís Bonaparte) e não de um "determinismo histórico" que cairia num materialismo mecânico (positivismo), oposto ao materialismo dialético de Marx. O materialismo dialético, histórico, poderia também ser definido como uma "dialética realidade-idealidade evolutiva". Ou seja, as relações entre a realidade e as ideias se fundem na práxis, e a práxis é o grande fundamento do pensamento de Marx. Pois sendo a história uma produção humana, e sendo as ideias produto das circunstâncias em que tais ideais brotaram, fazer história racionalmente é a grande meta. E o próprio fazer da história que criará suas condições objetivas e subjetivas adjacentes, já que a objetividade histórica é produto da humanidade (dos homens associados, luta política, etc). E assim, Marx finaliza as Teses sobre Feuerbach, não se trata de interpretar diferentemente o mundo, mas de transformá-lo. Pois a própria interpretação está condicionada ao mundo posto, só a ação revolucionária produz a transcendência do mundo vigente.[32]

A mais-valia

Ver artigo principal: Mais-valia

O conceito de Mais-valia foi empregado por Karl Marx para explicar a obtenção dos lucros no sistema capitalista. Para Marx o trabalho gera a riqueza, portanto, a mais-valia seria o valor extra da mercadoria, a diferença entre o que o empregado produz e o que ele recebe. Os operários em determinada produção produzem bens (ex: 100 carros num mês), se dividirmos o valor dos carros pelo trabalho realizado dos operários teremos o valor do trabalho de cada operário. Entretanto os carros são vendidos por um preço maior, esta diferença é o lucro do proprietário da fábrica, a esta diferença Marx chama de valor excedente ou maior, ou mais-valia. [33]

O Capital

Ver artigo principal: O Capital

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Capa da primeira edição (1867) de Das Kapital

A grande obra de Marx é O Capital, na qual trata de fazer uma extensa análise da sociedade capitalista. É predominantemente um livro de Economia Política, mas não só. Nesta obra monumental, Marx discorre desde a economia, até a sociedade, cultura, política e filosofia. É uma obra analítica, sintética, crítica, descritiva, científica, filosófica, etc. Uma obra de difícil leitura, ainda que suas categorias não tenha a ambiguidade especulativa própria da obra de Hegel, no entanto, uma linguagem pouco atraente e nem um pouco fácil. Dentro da estrutura do pensamento de Marx, só uma obra como O Capital é o principal conhecimento, tanto para a humanidade em geral, quanto para o proletariado em particular, já que através de uma análise radical da realidade que está submetido, só assim poderá se desviar da ideologia dominante ("a ideologia dominante" é sempre da "classe dominante"), como poderá obter uma base concreta para sua luta política. Sobre o caráter da abordagem econômica das formações societárias humanas, afirmou Alphonse De Waelhens: "O marxismo é um esforço para ler, por trás da pseudo-imediaticidade do mundo econômico reificado as relações inter-humanas que o edificaram e se dissumularam por trás de sua obra."[34] Cabe lembrar que O Capital é uma obra incompleta, tendo sido publicado apenas o primeiro volume com Marx vivo. Os demais volumes foram organizados por Engels e publicados posteriormente.[35]

Outras obras

Na obra A Ideologia Alemã, Marx apresenta cuidadosamente os pressupostos de seu novo pensamento. No Manifesto Comunista apresenta sua tese política básica. Na Questão Judaica apresenta sua crítica religiosa, que diz que não se deve apresentar questões humanas como teológicas, mas as teológicas como questões humanas. E que afirmar ou negar a existência de Deus, são ambas teologia. O ponto de vista deve ser sempre o de ver as religiões como reflexões humanas fantasiosas de si mesmo, mas que representa a condição humana real a que está submetido. Na Crítica ao Programa de

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Gotha, Marx faz a mais extensa e sistemática apresentação do que seria uma sociedade socialista, ainda que sempre tente desviar desse tipo de "futurologia", por não ser rigorosamente científica. Em A Guerra Civil na França, Marx supera todas as suas tendências jacobinas de antes e defende claramente que só com o fim do Estado o proletariado oferece a si mesmo as condições de manter o próprio poder recém conquistado, e o fim do Estado é literalmente o "povo em armas", ou seja, o fim do "monopólio da violência" que o Estado representa. Em O 18 Brumário de Luís Bonaparte, já está uma profunda análise sobre o terror da "burocracia"; a questão do campesinato como aliado da classe operária na revolução iminente, o papel dos partidos políticos na vida social e uma caracterização profunda da essência do bonapartismo são outros aspectos marcantes desta obra.

Colaboração de Engels

Engels exerceu significativa influência sobre as reflexões intelectuais de Marx, principalmente no início da associação entre ambos, período em que Engels dirigiu a atenção de Marx para a Economia Política e a história econômica da Europa. Após a morte deste, Engels tornou-se não só o organizador dos muitos manuscritos incompletos e/ou inéditos legados, mas também o primeiro intérprete e sistematizador das ideias de Marx. Engels igualmente se ocupou, desde bem antes do falecimento de seu amigo, de redigir exposições em termos populares das ideias de Marx visando facilitar sua difusão.[15]

Críticas

Ver artigo principal: Anticomunismo, Críticas ao marxismo, Memorial das Vítimas do Comunismo, O Livro Negro do Comunismo

A crítica ao pensamento de Marx iniciou-se desde a publicação de suas primeiras obras e prossegue - principalmente entre seus seguidores e intelectuais preocupados em conhecer, desenvolver e discutir a atualidade de suas ideias.

Em A Miséria do historicismo (1936), Karl Popper discorda de Marx quanto à história ser regida por leis que, se compreendidas, podem servir para se antecipar o futuro. Segundo Popper, a história não pode obedecer a leis e a ideia de "lei histórica" é uma contradição em si mesma. Já em A sociedade aberta e seus inimigos (1945), Popper afirma que o historicismo conduz necessariamente a uma sociedade "tribal" e "fechada", com total desprezo pelas liberdades individuais.

Todavia há dúvidas se Marx teria realmente baseado sua teoria em um "historicismo", nos termos colocados por Popper. Argumenta-se que Marx, seguindo uma tradição inaugurada por Maquiavel e Hobbes, busca nos interesses e necessidades concretas dos indivíduos, ao longo da História, a causa fundamental das ações humanas - em oposição às ideias políticas e morais abstratas. Ele não parece supor que esta busca de realização de interesses tenha consequências predeterminadas. Tal interpretação, provavelmente influenciada pelo evolucionismo darwinista, na exegese póstuma do pensamento marxiano, é creditada ao "papa" da Social-Democracia alemã, Karl Kautsky, no final do século XIX. A interpretação kautskista seria contestada, de várias formas, por Bernstein, Rosa Luxemburgo, Lenin, Trotsky, Gramsci, entre outros.

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Monumento a Marx e Engels, em Berlim.

Popper considera Marx como "não-científico" também porque sua teoria não é passível de contestação. Uma teoria científica tem que ser falseável - caso contrário, é incluída no campo das crenças ou ideologias. Resta saber, é claro, se afirmações sobre fatos históricos, necessariamente únicos, podem ser, nos termos de Popper, falsificáveis. (A crítica de Popper não tem esse sentido, ela faz referência ao fato de Marx afirmar que as críticas ao Comunismo são feitas por burgueses com interesses contrários, ou seja, qualquer crítica ao Comunismo tem uma explicação: é feita por um burguês. Dessa forma a teoria não é falseável, ninguém pode dizer que é falsa porque quem diz o faz por interesse burguês).

Ludwig von Mises, em Ação Humana – um tratado de Economia (1949), demonstrou a impossibilidade de se organizar uma economia nos moldes socialistas, pela ausência do sistema de preços, que funciona como sinalizador aos empreendedores acerca das necessidades dos consumidores. Mises também refinou argumentos formulados por Eugen von Böhm-Bawerk na obra Marxism Unmasked: From Delusion to Destruction.

Raymond Aron, em O ópio dos intelectuais de (1955) criticou de forma agressiva os intelectuais seguidores de Marx e condenou a teoria da revolução e o determinismo histórico.

Eric Voegelin talvez seja um dos críticos mais severos de Karl Marx. No seu livro Reflexões Autobiográficas relata que, induzido pela onda de interesse sobre a Revolução Russa de 1917, estudou O Capital de Marx e foi marxista entre agosto e dezembro de 1919. Porém, durante seu curso universitário, ao estudar disciplinas de teoria econômica e história da teoria econômica aprendera o que estava errado em Marx.

Voegelin afirma que Marx comete uma grave distorção ao escrever sobre Hegel. Como prova de sua afirmação cita os editores dos Frühschiften (Escritos de Juventude) de Karl Marx (Kröner, 1953), especialmente Siegfried Landshut, que dizem o seguinte sobre o estudo feito por Marx da Filosofia do Direito de Hegel:

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"Ao equivocar-se deliberadamente sobre Hegel, se nos é dado falar desta maneira, Marx transforma todos os conceitos que Hegel concebeu como predicados da ideia em anunciados sobre fatos".

Para Voegelin, ao equivocar-se deliberadamente sobre Hegel, Marx pretendia sustentar uma ideologia que lhe permitisse apoiar a violência contra seres humanos afetando indignação moral e, por isso, Voegelin considera Karl Marx um mistificador deliberado. Afirma que o charlatanismo de Marx reside também na terminante recusa de dialogar com o argumento etiológico de Aristóteles. Argumenta que, embora tenha recebido uma excelente formação filosófica, Marx sabia que o problema da etiologia na existência humana era central para uma filosofia do homem e que, se quisesse destruir a humanidade do homem fazendo dele um "homem socialista", Marx precisava repelir a todo custo o argumento etiológico.

Segundo Voegelin, Marx e Engels enunciam um disparate ao iniciarem o Manifesto Comunista com a afirmação categórica de que toda a história social até o presente foi a história da luta de classes. Eles sabiam, desde o colégio, que outras lutas existiram na história, como as Guerras Médicas, as conquistas de Alexandre, a Guerra do Peloponeso, as Guerras Púnicas e a expansão do Império Romano, as quais decididamente nada tiveram de luta de classes.

Voegelin diz que Marx levanta questões que são impossíveis de serem resolvidas pelo "homem socialista". Também alega que Marx conduz a uma realidade alternativa, a qual não tem necessariamente nenhum vínculo com a realidade objetiva do sujeito. Segundo Voegelin, quando a realidade entra em conflito com Marx, ele descarta a realidade.

Finalmente, uma questão de ordem prática, iniciada décadas atrás, foi suscitada pelo stalinismo, notadamente os expurgos, os gulags e o genocídio na antiga União Soviética, que tiveram grande repercussão sobre o pensamento marxista europeu e os partidos comunistas ocidentais. Discutia-se até que ponto Marx poderia ser responsabilizado pelas diferentes "leituras" de sua obra (e respectivos efeitos colaterais) ou se tais práticas seriam resultantes de uma visão deturpada das ideias marxianas. Com o final da guerra fria, o debate tornou-se menos polarizado. Todavia a discussão acerca do futuro do capitalismo - ou da Humanidade - prossegue.

190 anos de Karl Marx Karl Marx e Friedrich Engels

Leia nesta edição um trecho do livro do russo Davi Riazanov que apresentou a biografia de Marx e Engels em conferências realizadas no ano de 1923 e fará parte da apostila de estudos do XXII Acampamento de Férias da Aliança da Juventude Revolucionária, em julho deste ano. No texto, Riazanov analisa a experiência e Marx como organizador da Liga dos Comunistas

19 de maio de 2008

Marx, que havia tirado proveito de toda a ciência e a filosofia de seu tempo, formulou, como vimos, um ponto de vista inteiramente novo na história do pensamento social e político do século XIX.(...)

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Pois bem: depois de haver examinado todos os antecedentes contidos nas obras de Marx e Engels sobre a história daquela Liga, devo confessar que não resistem a uma crítica séria. Marx não aludiu mais que uma vez em sua vida a essa história numa obra muito pouco lida, O senhor Vogt, aparecida em 1860. Marx cometeu nela uma série de erros. Mas para informar-se sobre a Liga dos Comunistas se recorre quase sempre a um relato escrito por Engels em 1885. Eis aqui, mais ou menos, segundo Engels, como se representam os fatos.

Houve uma vez dois filósofos e políticos alemães Marx e o próprio Engels que tiveram que abandonar a Alemanha à força. Viveram na França, estiveram na Bélgica e escreveram sábias obras que, depois de atrair a atenção dos intelectuais, se difundiram entre os operários. Um belo dia, estes se apresentaram ante os filósofos, que tranqüilamente sentados em seus gabinetes, conservando-se afastados da ação vulgar, e como formalmente convém a depositários da ciência, esperavam orgulhosos que os operários fossem buscá-los. A desejada hora chegou quando os operários se dirigiram a Marx e Engels convidando-os a unirem-se a eles. Ambos declararam que não o fariam senão quando seu programa fosse acerto. Os operários consentiram, organizaram a Liga dos Comunistas e, imediatamente, encarregaram Marx e Engels do Manifesto Comunista.

Estes operários pertenciam à Federação dos Justos, da qual falei em minha primeira conferência sobre a história do movimento operário na França e na Inglaterra. Como disse, esta organização estava constituída em Paris e havia sido submetida a duras provas depois da infrutífera tentativa de insurreição dos blanquistas, em 12 de maio de 1839. Após esta derrota seus membros radicaram-se em Londres. Encontrava-se entre eles Schapper, que organizou em fevereiro de 1840 a Sociedade de Educação Operária.Para dar uma idéia melhor acerca da maneira que habituamente se relata esta história, vou ler um fragmento do opúsculo de Steklov sobre Marx: “Residindo em Paris, Marx mantinha relações pessoais com os dirigentes da Federação dos Justos, formados por exilados políticos e artesãos, mas não se filiava a ela porque o programa da Federação não o satisfazia devido a seu espírito idealista e temerário.

“Mas, pouco a pouco, produziu-se na Federação uma evolução que a aproximou de Marx e Engels, que por conversações, por correspondência e também pela imprensa influíram sobre as opiniões políticas de seus membros. Em alguns casos excepcionais, os dois amigos deram a conhecer seus pontos de vista através de circulares impressas. Depois da ruptura com o revoltoso Weitling e a ‘crítica severa dos teóricos inconsistentes’ ficou preparado o ambiente para a entrada de Marx e Engels na Liga. O primeiro congresso, que aprovou o nome de Liga dos Comunistas, foi assistido por Engels e W. Wolf; do segundo, convocado em novembro de 1847, participou o próprio Marx.

Depois de haver escutado o discurso em que Marx expôs a nova filosofia socialista, o congresso o encarregou de elaborar, junto com Engels, o programa da Liga. Assim, surgiu o célebre Manifesto Comunista”.

Steklov limita-se a repetir o que escreveu Mehring que, por sua vez, repete o que nos conta Engels. E como não acreditar neste último? Com efeito: quem melhor que ele, que participou na organização de uma empresa, pode contar sua história? No entanto, devemos submeter a um exame crítico as palavras de Engels, como as de qualquer historiador, com maior razão quando? Sabe-se que escreveu estas páginas quase quarenta anos após terem ocorrido os episódios que descreve. Em tal espaço de tempo é fácil esquecer algo, sobretudo se se escreve em condições materiais e espirituais completamente distintas.

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Existem outras circunstâncias que em nada concordam com aquela narração. Marx e Engels não eram teóricos puros como os apresenta Steklov. Ao contrário, Marx apenas compreendeu que quem julgue necessário transformar radicalmente o atual regime social, não pode apoiar-se senão no proletariado como classe que, por suas condições de existência, encontra todos os estimulantes para a luta contra o dito regime e portanto recorreu aos meios operários, esforçando-se por penetrar com seu amigo em todos os lugares e organizações em que os trabalhadores estavam submetidos a outras influências. Sendo assim, infere-se que existiam então estas organizações. Examinemo-las.

Ao historiar o movimento operário me detive nas proximidades do ano de 1840. Depois da derrota de maio de 1839, a Federação dos Justos deixou de funcionar como organização central e, em todo caso, a ‘partir de 1840, não se encontra mais indícios de sua existência ou atividade como tal. Restaram somente círculos isolados de um dos quais, o de Londres, já falamos organizados por alguns antigos membros da Federação. Outros membros, sobre os quais Wilhelm Weitling exercia grande influência, refugiaram-se na Suíça.

Alfaiate de profissão, Weitling, um dos primeiros artesãos revolucionários alemães, como muitos outros daquela época, andava de cidade em cidade até que em 1837 se estabeleceu em Paris, onde já havia estado em 1835. Filiou-se à Federação dos Justos e estudou aí as teorias de Lamennais, representante do socialismo cristão, de Saint-Simom e de Fourier. Em Paris, ligou-se também a Blanqui e seus adeptos. Em fins de 1838 escreveu, a pedido de seus companheiros, o folheto Como é e como deveria ser a humanidade, no qual já defendia as idéias comunistas.

Depois de sua infrutífera tentativa de estender a propaganda à Suíça francesa e logo à Suíça alemã, começou, com alguns companheiros, a organizar círculos entre os operários e os exilados alemães. Em 1842, publicou sua principal obra As garantias da harmonia e da liberdade, na qual desenvolveu as idéias expostas em 1838 que, no entanto, não vamos comentar aqui. Weitling distinguia-se dos demais utopistas de seu tempo na medida em que influenciado em parte por Blanqui não acreditava na possibilidade de se chegar ao comunismo pela persuasão. A nova sociedade, cujo plano havIa elaborado em todos os seus detalhes, seria alcançada unicamente pela violência. Quanto mais rapidamente se destrua a sociedade existente, mais rapidamente se libertará o povo, e o melhor meio para se chegar a esta situação era, no seu modo de ver, levar a extremos a desordem social existente. O elemento mais seguro, o mais revolucionário, capaz de derrubar a sociedade, era, segundo Weitling, o proletariado desocupado, o “lumpem-proletariat” e até os bandidos.

Na Suíça, Bakunin, que abrigava algumas destas idéias, encontrou Weitling e conheceu suas teorias. Quando, na primavera de 1843, Weitling foi ‘preso em Zurick e processado com seus adeptos, Bakunin viu-se comprometido com a causa e foi obrigado a emigrar.

Cumprida a pena, Weitling foi repatriado em maio de 1844. Depois de inumeráveis vicissitudes, conseguiu, saindo de Hamburgo, chegar a Londres, onde foi acolhido com grande pompa. Em sua homenagem foi organizada uma grande assembléia, à qual assistiram, além dos socialistas e cartistas ingleses, exilados franceses e alemães. Era a primeira grande assembléia internacional realizada naquela cidade e deu a Schapper a oportunidade de organizar, em outubro de 1844, uma sociedade internacional que adotou o nome de Sociedade dos Amigos Democráticos de Todos os Povos. Dirigida por Schapper e seus amigos mais próximos, se propunha a colocar em contato os revolucionários de todos os países, estreitar vínculos fraternais entre distintos povos e conquistar os direitos políticos e sociais. 

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Weitling permaneceu em Londres quase um ano e meio. A princípio gozava de muita ascendência na sociedade operária londrina, onde eram discutidos apaixonadamente todos os problemas da época, mas não demorou a encontrar forte oposição.

Seus velhos companheiros, como Schapper, Bauer e Moll, durante a separação haviam se familiarizado com o movimento operário inglês e estavam influenciados pelas doutrinas de Owen. 

Para Weitling, como dissemos, o proletariado não constituía uma classe especial, com interesses próprios era somente uma parte da população pobre, oprimida e, entre estes elementos pobres, o revolucionário era o “lumpem-proletariat”. Sustentava que o bandidismo era um dos elementos mais seguros na luta contra a sociedade existente. Não atribuía nenhuma importância à propaganda. Imaginava a futura sociedade como uma sociedade comunista, dirigida por um pequeno grupo de homens sagazes. Para atrair as massas, julgava necessário recorrer ao sentimento religioso; fazia de Cristo um precursor do comunismo e o respeitava como um cristão expurgado de todos os desvios que se lhe impuseram através dos séculos. Para compreender melhor, as discussões que logo apareceram entre ele, Marx e Engels, convém lembrar que Welthng era um operário muito capacitado, autodidata, dono de considerável talento literário, mas que sofria de todas as deficiências dos autodidatas. Na Rússia são muitos os que se educaram como Weitling.

O autodidata, em geral, se empenha em extrair de seu cérebro algo ultranovo, alguma invenção engenhosa no mais alto grau, mas logo a experiência lhe mostra que gastou mal o seu tempo e forças consideráveis, para não fazer outra coisa senão descobrir a América. Chega a buscar um “perpetum mobile” qualquer ou o meio possível de tornar o homem feliz e sábio num abrir e fechar de olhos.

Weitling pertencia a esta categoria de autodidatas. Queria encontrar a maneira de fazer com que os homens assimilassem quase instantaneamente não importa qual ciência. Queria criar uma língua internacional. Característica notável: um outro operário autodidata Proudhon, também havia empreendido esta tarefa. É difícil, às vezes, saber o que Weitling preferia, o que adorava mais, se o seu comunismo ou o seu idioma universal. Sentindo-se verdadeiro profeta, não suportava crítica alguma e tinha um receio particular dos homens instruídos, que acolhiam com ceticismo sua mania.

Em 1844, Weitling era um dos homens mais populares e conhecidos não só entre os operários, mas também entre os intelectuais alemães. Heine, o célebre poeta, deixou uma página singular sobre seu encontro com o famoso alfaiate:

“O que mais feriu minha altivez foi incivilidade do moço para comigo durante a conversação. Não tirou o chapéu e, enquanto eu permanecia de pé, ele estava sentado num banco, segurando o joelho direito na altura do queixo, e, com a mão livre, não parava de coçá-lo.

“Supus que esta posição desrespeitosa fosse um hábito adquirido na prática de seu ofício, mas logo vi que me enganava. Como lhe perguntasse por que não parava de coçar o joelho, respondeu- me, num tom indiferente, como se se tratasse da coisa mais habitual, que nas diversas prisões alemãs onde havia estado, era presa com correntes e como o anel de ferro que lhe prendia o joelho era muito estreito, tinha produzido um comichão que o obrigava àquele exercício.

“Confesso: retrocedi uns passos quando este alfaiate, com sua familiaridade repulsiva, me contou esta história sobre as correntes das prisões... Estranhas contradições do coração humano! Eu, que um dia havia beijado respeitosamente

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em Munster as relíquias do alfaiate Leyde, os grilhões que o haviam prendido, as tenazes com o que o torturaram; eu, que me havia entusiasmado por um alfaiate morto, sentia uma invencível repugnância por este alfaiate vivo, por este homem que era sem dúvida um apostolo e um mártir da mesma causa pela qual padeceu o glorioso Leyde.”

Embora esta descrição não faça honra a Heine, mostra a profunda impressão que Weitling produziu, no poeta, mimado por inumeráveis aduladores.

Heine aparece, nesta circunstância, como o grande senhor da arte e do pensamento, que considera como curiosidade, e não sem repugnância, este tipo de lutador, estranho para ele. Com esta mesma curiosidade ociosa, nossos poetas de outra época examinavam um bolchevique.Pelo contrário, um intelectual como Marx adotava outra atitude em relação a Weitling, a quem julgava ,talentoso, porta-voz das aspirações deste proletariado cuja missão histórica ele mesmo acabara de formular. Vejamos como escrevia sobre Weitling antes de conhecê-lo:  “Que obra, sobre o problema de sua emancipação política, poderia a burguesia (alemã), inclusive seus filosofos e literatos, Contrapor à de Weitling: As garantias da harmonia e da liberdade? Compare-se a mediocridade esquálida e fanfarrona da literatura política alemã com essa brilhante iniciativa dos operários alemães, compare-se essas botas de sete léguas do proletariado principiante com os pequenos sapatos da ‘burguesia e se verá no proletariado subjugado o atleta futuro de gigantesca estatura.”

Naturalmente, Marx e Engels deviam procurar relacionar-se com Weitling. No verão de 1845, ambos os amigos, durante sua curta estada na Inglaterra, haviam se relacionado com os cartistas e com os exilados alemães, mas não se sabe, com certeza, se encontraram Weitling, que vivia então em Londres. De qualquer modo, até 1846, quando foi a Bruxelas, onde Marx se havia estabelecido no ano anterior, ao ser expulso da França, não se ,vincularam estreitamente.

Marx já se havia dedicado ao trabalho de organização, para o qual, Bruxelas oferecia grandes facilidades devido à situação de estação intermediária da Bélgica, entre a França e a Alemanha. Entre os operários temporariamente estabelecidos em Bruxelas, vários eram homens muito inteligentes.e:Marx não tardou em conceber a idéia de convocar um congresso de todos os comunistas, para criar a primeira organização comunista geral. Este congresso devia realizar-se em Verviers, cidade situada perto da fronteira alemã, de modo que fosse de fácil acesso aos alemães. Não se pode determinar exatamente se, na realidade, levou-se a cabo o congresso. Mas todos os preparativos haviam sido feitos por Marx ;muito tempo antes que os delegados da Federação dos Justos chegassem a Londres para convidá-lo a ingressar nela. Na verdade, Marx e Engels atribuíam também grande importância à conquista dos círculos influenciados por Weitling e não pouparam esforços para estabelecer com eles uma plataforma comum. Suas tentativas terminaram, sem dúvida, numa ruptura, cuja história nos foi contada por um compatriota nosso, que em viagem à França, passou então por Bruxelas. Refiro-me ao crítico russo P. Annenkov que, se em certo momento, foi admirador de Marx, não tardou em deixar de ser revolucionário.Annenkov nos legou um curioso relato de sua estada em Bruxelas, na primavera de 1846, relato que contém muitas mentiras, mas também certa parte de verdade. Dali o extrato de uma sessão na qual Marx e Weitling discutiram violentamente.

Gritava-lhe Marx golpeando a mesa com o punho: “a ignorância nunca ajudou a ninguém, nem tem sido útil para qualquer coisa”. Estas palavras são muito verossímeis. Com efeito, como Bakunin, Weitling se opunha ao trabalho preparatório de propaganda sob o pretexto de que os pobres sempre estavam dispostos à revolução e, por conseguinte, esta podia ser declarada em qualquer

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momento, sempre que houvesse líderes resolutos. Segundo carta do pr6prio Weitling, nessa assembléia Marx sustentou que era necessário deputar as fileiras comunistas e fazer a crítica de todos os teóricos inconsistentes, declarando que se devia renunciar a todo o socialismo apoiado exclusivamente na boa vontade; que a realização do comunismo estaria precedida por uma época durante a qual a burguesia -deteria o poder.

Vê-se assim como as divergências teóricas entre Marx, Engels e Weitling eram quase as mesmas que se manifestaram entre os revolucionários russos, quarenta anos depois.

Em maio de 1846, o rompimento definitivo com Weitling aconteceu, e este partiu em seguida para Londres, de onde foi para a América, ficando até a revolução de 1848.

Com a ajuda de outros companheiros, que se haviam aproximado por essa época, Marx e Engels prosseguiram: seu trabalho de organização. Criaram em Bruxelas a Sociedade de Educação Operária, na qual Marx proferiu, para os operários, conferências sobre economia política. Além de certo número de intelectuais, entre os quais se distinguiam Wolf (a quem Marx dedicou mais tarde o 1º volume de O capital) e Weidemeyer, permaneciam em Bruxelas operários como Bom, Vallan, Seiler e outros.

Com base nesta organização e com a ajuda dos camaradas vindos de Bruxelas, Marx e Engels esforçavam-se para estabelecer relações com os círculos da Alemanha, Londres, Paris e Suíça. É o trabalho que o próprio Marx fazia em Paris. Pouco a pouco, os adeptos de Marx e Engels aumentaram. Marx concebeu então o plano de agrupar todos os elementos comunistas, pensando em transformar aquela organização nacional puramente alemã em uma organização internacional. Tinha que começar por criar em Bruxelas, Londres e Paris núcleos de comunistas que estivessem de comum acordo, os quais designariam comitês encarregados de manter relações com outras organizações comunistas. Deste modo, estabeleceriam relações mais estreitas com outros países e se prepararia o terreno para a união internacional dos comitês denominados de “correspondência comunista”, por sugestão do próprio Marx.

Como os que escreveram a história do socialismo alemão e do movimento operário foram literatos, jornalistas, membros de agências informativas ou dedicados freqüentemente às correspondências, acreditaram que aqueles comitês não eram outra coisa além de simples escritórios de correspondência.

Em resumo, segundo eles, Marx e Engels resolveram fundar em Bruxelas um escritório de correspondência de onde despachavam circulares. Ou melhor, como escreve Mehring em seu último trabalho sobre Marx:

“Carecendo de um órgão próprio, Marx e seus amigos se empenharam em preencher esta lacuna dentro do possível com circulares impressas. Ao mesmo tempo, procuraram assegurar a cooperação de correspondentes regulares nos grandes centros onde viviam comunistas. Semelhantes escritórios de correspondência existiam em Bruxelas e Londres e havia propósito de estabelecer um em Paris. Marx escreveu a Proudhon pedindo-lhe sua colaboração.”

Basta ler atentamente a resposta de Proudhon para ver que se tratava de uma organização muito distante de um escritório de correspondência. E se recordarmos que este intercâmbio epistolar ocorria no verão de 1846, resulta que, muito antes que fossem propor-lhe o ingresso na Federação dos Justos, existiam em Londres, Bruxelas e Paris, organizações cuja iniciativa emanava incontestavelmente de Marx.

Page 60: Guerra Dos Farrapos REIS

Recordemos o que disse sobre a sociedade de correspondência londrina organizada em 1792 por Thomas Hardy. Os comitês de correspondência, organizados pelo Clube dos Jacobinos, quando foi ,proibido criar suas seções nas províncias, representavam uma instituição análoga à de Marx. Estudando e comparando estes fatos, cheguei à conclusão, já há muito tempo, de que Marx, ao fundar estas sociedades, tinha precisamente a intenção de fazer delas comitês de correspondência. E, no segundo semestre de 1846, existe efetivamente em Bruxelas um comitê muito bem organizado que atua como organismo central, ao qual se enviam informes. Reúne um grande número de membros e entre eles muitos operários. Em Paris, funciona outro, organizado por Engels, que realiza intensa propaganda entre os operários, alemães; e o de Londres, dirigido por Schapper, Bauer e Moll (o mesmo que segundo dizem foi a Bruxelas seis meses depois, para convidar Marx a incorporar-se à Federação dos Justos).

E, como prova uma carta de 20 de janeiro de 1847, que enviou a Mehring, Moll foi a Bruxelas não como delegado da Federação dos Justos, mas como delegado do comitê de correspondentes comunistas de Londres, para levar-lhe um informe sobre a situação da sociedade londrina.

Foi assim que me convenci de que o relato da fundação da Liga dos Comunistas, tal como foi feito com a ajuda de Engels, e reproduzido sucessivamente em diversas obras, não passa de uma lenda que não resiste a uma crítica.

FRIEDRICH ENGELSOrigem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

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Friedrich Engels

Nome completo Friedrich Engels

Nascimento 28 de novembro de 1820Barmen

Prússia

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Morte 5 de agosto de 1895 (74 anos)Londres, Inglaterra

 Reino Unido

Nacionalidade Alemão

Ocupação Filósofo

Influências

Influências[Expandir]

Influenciados

Influenciados[Expandir]

Escola/tradição Marxismo (cofundador, junto com Marx)

Principais interesses

Filosofia política, Política, Economia, Luta de Classes, Evolucionismo

Ideias notáveis Dialética da natureza, materialismo histórico, mais-valia, ideologia, alienação, luta de classes

Friedrich Engels (/ˈfʁiːdʁɪç ˈɛŋəls/) (Barmen, 28 de novembro de 1820 — Londres, 5 de agosto de 1895) foi um teórico revolucionário alemão que junto com Karl Marx fundou o chamado socialismo científico ou marxismo. Ele foi coautor de diversas obras com Marx, sendo que a mais conhecida é o Manifesto Comunista [1] . Também ajudou a publicar, após a morte de Marx, os dois últimos volumes de O Capital, principal obra de seu amigo e colaborador.[2]

Grande companheiro de Karl Marx, escreveu livros de profunda análise social. Entre dezembro de 1847 à janeiro de 1848, junto com Marx, escreve o Manifesto do Partido Comunista, onde faz uma breve apresentação de uma nova concepção de história, afirmando que:[1]

“ A história da humanidade é a história da luta de classes. ”

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Índice

1 Biografia 2 Principais obras 3 Fatos interessantes 4 Bibliografia

o 4.1 Leituras adicionais 5 Referências 6 Ver também

Biografia

Principal colaborador de Karl Marx, Engels desempenhou papel de destaque na elaboração da teoria comunista, a partir do materialismo histórico e dialético. Nasceu em 28 de novembro de 1820 e morreu em 5 de agosto de 1895. Era mais velho de nove filhos de um rico industrial de Barmen (Alemanha)[1].

Na juventude, fica impressionado com a miséria em que vivem os trabalhadores das fábricas de sua família. Fruto dessa indignação, Engels desenvolve um detalhado estudo sobre a situação da classe operária na Inglaterra. Em 1842, Engels de 22 anos de idade foi enviado por seus pais para Manchester, Inglaterra, para trabalhar para o Ermen e Engels Victoria Mill em Weaste que fazia linhas de costura.[3][4][5]

Quando estudante, adere a idéias de esquerda, o que o leva a aproximar-se de Marx. Assume por alguns anos a direção de uma das fábricas do pai em Manchester e suas observações nesse período formam a base de uma de suas obras principais: A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra, publicada em 1845.[6]

Depois de uma estadia produtiva na Grã-Bretanha, Engels decidiu voltar para a Alemanha em 1844. No caminho, ele parou em Paris para atender Karl Marx, com quem teve uma correspondência anterior[2]. Marx estava morando em Paris desde o final de outubro 1843 na sequência da proibição da Gazeta Renana pelas autoridades prussianas governamentais em março de 1843.[7]

Engels é comumente conhecido como um "partidário tático cruel", "ideólogo brutal", e "mestre estrategista" quando ele veio para purgar rivais em organizações políticas.

Muitos de seus trabalhos posteriores são produzidos em colaboração com Marx, o mais famoso deles é o Manifesto Comunista (1848). Escreveu sozinho, porém, algumas das obras mais importantes para o desenvolvimento do marxismo, como Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Clássica Alemã, Do socialismo utópico ao científico e A origem da família, da propriedade privada e do Estado.[2]

Engels morreu de câncer na garganta em Londres, 1895[8]. Após a cremação no Crematório Woking, suas cinzas foram espalhadas em Beachy Head, perto de Eastbourne como ele tinha pedido.[8][9]

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SEGUNDA GUERRA MUNDIALOrigem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

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Segunda Guerra Mundial

Sentido horário, de cima para a esquerda:

Forças chinesas na Batalha de Wanjialing;

forças australianas durante a Primeira Batalha

de El Alamein; aviões alemães Stuka na Frente

Oriental; forças navais estadunidenses no Golfo

de Lingayen; Wilhelm Keitel assinando a

Rendição Alemã; tropas soviéticas durante a

Batalha de Stalingrado.

Data 1 de setembro de 1939- 2 de

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setembro de 1945

LocalEuropa, Oceano Atlântico, África, Médio Oriente, Sueste asiático e Oceano Pacífico

Desfecho

Vitória Aliada

Criação da Organização das Nações Unidas

Criação do Estado de Israel

Estabelecimento de duas superpotências, Estados Unidos e União Soviética, iniciando-se mais tarde a Guerra Fria.

Intervenientes

Aliados

Reino Unido França  União

Soviética Estados

Unidos República

da China Polônia  Canadá

Austrália Nova

Zelândia Iugoslávia África do

Sul

Nepal Dinamarca Noruega Países

Baixos Bélgica

Luxemburgo Grécia

Eixo

Alemanha Império do

Japão Reino de

Itália Romênia Hungria Bulgária

Co-intervenientes

Finlândia Tailândia Iraque

Fantoches

Eslováquia Croácia Albânia

Manchukuo

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Brasil outros

outros

Principais líderes

Líderes Aliados

Winston Churchill

Joseph Stalin

Franklin Roosevelt

outros

Líderes do Eixo

Adolf Hitler Hirohito Benito

Mussolini outros

Vítimas

Soldados:mais de 16 milhõesCidadãos:mais de 45 milhõesTotal:mais de 61 milhões...detalhes

Soldados:mais de 8 milhõesCidadãos:mais de 4 milhõesTotal:mais de 12 milhões...detalhes

Segunda Guerra Mundial ou II Guerra Mundial foi um conflito militar global que durou de 1939 a 1945, envolvendo a maioria das nações do mundo – incluindo todas as grandes potências – organizadas em duas alianças militares opostas: os Aliados e o Eixo. Foi a guerra mais abrangente da história, com mais de 100 milhões de militares mobilizados. Em estado de "guerra total", os principais envolvidos dedicaram toda sua capacidade econômica, industrial e científica a serviço dos esforços de guerra, deixando de lado a distinção entre recursos civis e militares. Marcado por um número significante de ataques contra civis, incluindo o Holocausto e a única vez em que armas nucleares foram utilizadas em combate, foi o conflito mais letal da história da humanidade, com mais de setenta milhões de mortos.[1]

Geralmente considera-se o ponto inicial da guerra como sendo a invasão da Polônia pela Alemanha Nazista em 1 de setembro de 1939 e subsequentes declarações de guerra contra a Alemanha pela França e pela maioria dos países do Império Britânico e do Commonwealth. Alguns países já estavam em guerra nesta época, como Etiópia e Reino de Itália na Segunda Guerra Ítalo-Etíope e China e Japão na Segunda Guerra Sino-Japonesa.[2] Muitos dos que não se envolveram inicialmente acabaram aderindo ao conflito em resposta a eventos como a invasão da União Soviética pelos alemães e os ataques japoneses contra as forças dos Estados Unidos no Pacífico em Pearl Harbor e em colônias ultramarítimas britânicas, que resultou em declarações de guerra contra o Japão pelos EUA, Países Baixos e o Commonwealth Britânico.[3][4]

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A guerra terminou com a vitória dos Aliados em 1945, alterando significativamente o alinhamento político e a estrutura social mundial. Enquanto a Organização das Nações Unidas era estabelecida para estimular a cooperação global e evitar futuros conflitos, a União Soviética e os Estados Unidos emergiam como superpotências rivais, preparando o terreno para uma Guerra Fria que se estenderia pelos próximos quarenta e seis anos. Nesse interim, a aceitação do princípio de autodeterminação acelerou movimentos de descolonização na Ásia e na África, enquanto a Europa ocidental dava início a um movimento de recuperação econômica e integração política.

Índice

1 Eventos pré-guerra o 1.1 Hitler na rota da expansão o 1.2 Reincorporação do Sarre e criação da Luftwaffe o 1.3 Guerra Civil Espanhola o 1.4 Invasão japonesa da China

2 A guerra o 2.1 Guerra na Ásia o 2.2 Guerra na Europa o 2.3 Guerra na África o 2.4 Invasão da União Soviética o 2.5 Guerra no Pacífico o 2.6 Reconquista da Europa o 2.7 Colapso do Eixo e vitória Aliada

3 Pós-guerra 4 Consequências

o 4.1 Mortos e crimes de guerra o 4.2 Campos de concentração e trabalho escravo o 4.3 Desenvolvimento tecnológico o 4.4 Prisioneiros de guerra o 4.5 Danos materiais o 4.6 Territoriais o 4.7 Políticas o 4.8 Herança humana

5 Participação de países lusófonos o 5.1 Brasil o 5.2 Portugal

6 Ver também 7 Referências

o 7.1 Bibliografia 8 Ligações externas

Eventos pré-guerra

Ver artigos principais: Causas da Segunda Guerra Mundial, Dolchstoßlegende, Período entre-guerras e Política de apaziguamento

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Tropas germânicas em uma das Reuniões de Nuremberg, ocorrida em 1935

A Primeira Guerra Mundial - "feita para pôr fim a todas as guerras" - foi o ponto de partida de novos e irreconciliáveis conflitos, pois o Tratado de Versalhes disseminou entre os alemães um forte sentimento nacionalista, que culminou no totalitarismo nazi-fascista. As contradições se aguçaram com os efeitos da Grande Depressão, e nesse cenário surgiram e se consolidaram vários regimes totalitários na Europa.[5] O germânico de origem austríaca Adolf Hitler - líder do Partido Nazista, que se tornara o Führer do Terceiro Reich - defendia que a Alemanha necessitava mais espaço vital, ou Lebensraum, e pretendia conquistá-lo na Europa Oriental. Esta política, ao lado da contraposição ideológica, o levaria cedo ou tarde a um confronto de grandes proporções com a URSS.

Valendo-se da Política de apaziguamento praticada pela Grã-Bretanha do primeiro-ministro Neville Chamberlain e secundada pela França do presidente Édouard Daladier, Hitler conseguiu, inicialmente, concretizar uma série espantosa de conquistas incruentas: remilitarizou a Renânia, anexou a Áustria, e incorporou os Sudetos, destruindo a Tchecoslováquia. Mas quando avançou sobre a Polônia, os ingleses e franceses reagiram, iniciando-se a Segunda Guerra Mundial.

Hitler na rota da expansão

Ver artigos principais: Nazifascismo, Nazismo e Fascismo

Logo após o abandono da Liga das Nações (que já se ressentia da ausência dos Estados Unidos e URSS) pelo Japão, foi a vez da Alemanha retirar-se. Anunciando a saída da representação germânica, Hitler declarou que o não desarmamento das outras nações obrigava a Alemanha àquela forma de protesto. Embora na realidade ele simplesmente desejasse furtar-se às peias que a Liga das Nações poderia opor à sua política militarista, o Führer teve o cuidado de reiterar os propósitos pacifistas de seu governo. Aliás, nos anos seguintes, Hitler proclamaria suas intenções conciliatórias em várias oportunidades, como meio de acobertar objetivos expansionistas.

Page 69: Guerra Dos Farrapos REIS

O nazismo fortalecia-se rapidamente na Alemanha. Hitler precisava do apoio de Reichswehr para realizar o rearmamento alemão, mas a maioria dos generais mantivera-se até então numa atitude de expectativa em relação ao novo governo. A pretensão da SA, manifestada por seus chefes em múltiplas ocasiões, de se transformarem em exército nacional, horrorizava os militares profissionais, educados na Escola von Seeckt. Parecia-lhes um absurdo entregar aquela pequena, mas eficientíssima máquina, que era Reichswehr, nas mãos dos turbulentos "camisas pardas", acostumados apenas a combates de rua. Hitler inclinava-se a dar razão aos generais, o que vinha contra os interesses dos membros da SA mais radicais. Em alguns círculos da milícia nazista, já se falava na necessidade de uma segunda revolução que restituísse ao Partido o ímpeto inicial.

Benito Mussolini (esquerda) e Adolf Hitler.

O capitão Ernst Röhm, grande influenciador das tropas de choque nazistas, a SA, passou então a não só se mostrar mais radical ao Führer, mas ainda a incentivar a deposição de Adolf Hitler e fazer então um novo Putsch. Heinrich Himmler, chefe da SS, que na época era apenas uma subdivisão da SA, entregou a Hitler provas dos planos elaborados por Röhm - uma tentativa de assassinato a todos os grandes nomes do partido nazista, que, segundo os próprios planos, seria conhecido como Noite das facas longas.

Por ordem expressa do Führer, foram realizadas execuções sumárias, realizadas pela SS e pela SD, na noite de 29 para 30 de Junho de 1934. Por ironia, Adolf Hitler deu às execuções o próprio nome idealizado por Röhm, Noite das Facas Longas. Quase todos os líderes da SA, a começar por seu chefe, o capitão Ernst Röhm, foram passados pelas armas, juntamente com alguns políticos oposicionistas e o General von Schleicher (Kurt, 1882-1934), que era o maior opositor a Hitler no seio da Reichswehr. Tal decisão provocou a morte de algumas centenas de pessoas, muitas das quais eram fiéis do Partido, desde longa data.

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Com essas execuções, o Führer atingiu um duplo objetivo: extinguiu os gérmenes da rebelião entre os SA, desde então reduzidos a um papel meramente decorativo, e deu aos generais uma sangrenta garantia de que pretendia conservá-los na direção da Reichswehr. O expurgo fora levado a cabo pela SS, tropas de elite do Partido, ligadas a Hitler por um juramento especial. Esse corpo de homens selecionados, formando uma verdadeira guarda do regime, iniciou naquele dia a ascensão que iria levá-lo, sob a chefia de Heinrich Himmler, ao controle total da vida alemã, em nome de Hitler. Em 1945, quase um milhão de homens tinha envergado o uniforme negro com a insígnia da caveira, partindo de um núcleo que em 1929 contava com apenas 280 elementos.

A Noite das Facas Longas fez a Reichswehr cerrar fileiras em torno de Hitler, que, reforçado por tal sustentáculo, pode então se dedicar a seus planos longamente acalentados.

A primeira tentativa expansionista do III Reich fracassou. Desde sua ascensão ao poder, Hitler vinha incentivando o desenvolvimento de um partido nazista austríaco, como base para uma posterior anexação da Áustria à Alemanha. Nessa época, os austríacos estavam sob o governo ditatorial do chanceler católico Engelbert Dollfuss, inquebrantável defensor da independência de seu país. Em 27 de julho de 1934, Dollfuss foi assassinado em Viena, por um grupo de nazistas sublevados. Mussolini, temendo que os alemães ocupassem a Áustria, enviou tropas para a fronteira, enquanto a Europa era sacudida por um frêmito de indignação contra a Alemanha. Hitler, porém, recuou, negando qualquer conivência com os conspiradores austríacos. Dollfuss foi sucedido por von Schuschnigg (Kurt Edler, n. 1897), que continuou a política conservadora e nacionalista de seu antecessor.

Reincorporação do Sarre e criação da Luftwaffe

Localização do Sarre no atual território da Alemanha.

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Em 13 de janeiro de 1935, o nazismo obteve seu primeiro sucesso internacional. O Sarre era um antigo território alemão que tivera suas jazidas exploradas pelos franceses, durante 15 anos, como parte das reparações de guerra estabelecidas pelo Tratado de Versalhes. Agora, um plebiscito junto à população decidia, por maioria esmagadora, a reincorporação do Sarre ao Reich. Logo em seguida, em março, Hitler abalava a Europa com duas declarações retumbantes: No dia 9, anunciou a criação da Luftwaffe (Força Aérea) e, no dia 16, o restabelecimento do serviço militar obrigatório, elevando imediatamente os efetivos de Wehrmacht (Força de Defesa, novo nome das forças armadas alemãs), de 100.000 para 500.000 homens. Ambas as declarações foram feitas em sábados, para que seu impacto internacional fosse amortecido pelos feriados dos fins-de-semana.

As potências, alarmadas com o rearmamento germânico, decidiram, na Conferência de Stresa (abril de 1935), formar uma frente antialemã, condenando o repúdio unilateral de qualquer tratado de fronteiras na Europa e garantindo a independência da Áustria. Observe-se, porém, que a declaração de Stresa, subscrita pela Grã-Bretanha, França e Itália , não proibia a alteração de fronteiras fora da Europa, não impedindo a Mussolini a conquista da Etiópia.

Em represália às decisões de Stresa, Hitler denunciou, em 21 de maio de 1935, todas as cláusulas militares do Tratado de Versalhes. Manifestando, como sempre, seus objetivos pacíficos, o Führer restituía à Alemanha a liberdade de ação no campo dos armamentos.

O governo inglês, preocupado com um possível desenvolvimento da marinha de guerra germânica, iniciou negociações secretas com os alemães, sem qualquer consulta à França. Em 18 de junho de 1935, a Europa soube, estarrecida, que Londres permitia aos nazistas a construção de uma frota de alto-mar, equivalente a 1/3 da marinha britânica, com uma proporção ainda maior de submarinos. Tal acordo equiparava a força naval alemã à francesa. A notícia provocou em Paris uma profunda irritação contra os britânicos, que haviam agido em função de seus interesses exclusivos e abandonado a França, diante de uma Alemanha cada vez mais poderosa. Ressentidos com os britânicos, os franceses procuraram então se aproximar da Itália , como um meio de barrar o caminho à Alemanha. O principal propugnador dessa nova orientação política da França foi o primeiro-ministro francês Pierre Laval.

Mussolini aceitou com entusiasmo a mão que a França lhe estendia, o que vinha servir seus planos imperialistas. O fascismo consolidara-se internamente, e a população italiana atingira um nível de prosperidade material até então jamais alcançado. Fiume fora definitivamente incorporada à Itália, mediante a concordância iugoslava. Satisfaziam-se assim as reivindicações nacionalistas italianas.

Entretanto, a própria psicologia do fascismo obrigava os dirigentes a estimularem constantemente o povo, conservando-o sempre excitado, a fim de manter o prestígio de Mussolini. O Duce queria evitar que a população italiana se habituasse à rotina, diminuindo o apoio ruidoso que lhe prestava e que afagava sua volúpia de poder. Devido a seu temperamento, era um líder que precisava de grandes gestos e de atos igualmente grandiosos, para alimentar sua enorme vaidade. Embora houvesse feito uma administração de incontestável valor na Itália, isso não lhe bastava. Sua concepção histórica impelia-o a imitar Júlio César, fazendo-o entrar, também, para a galeria dos grandes homens, sob o tríplice rótulo de administrador, estadista e conquistador.

Page 72: Guerra Dos Farrapos REIS

Guerra Civil Espanhola

Ver artigo principal: Guerra Civil Espanhola

As ruínas de Guernica após os bombardeios.

A Alemanha e a Itália deram apoio à insurreição nacionalista liderada pelo general Francisco Franco na Espanha. A União Soviética apoiou o governo existente, a República Espanhola, que apresentou tendências esquerdistas. Ambos os lados usaram a guerra como uma oportunidade para testar armas e táticas melhores. O Bombardeio de Guernica, uma cidade de 5000-7000 habitantes, foi considerado um ataque terrível, na época, e usado como uma propaganda amplamente difundida no Ocidente, levando a acusações de "atentado terrorista" e de que 1.654 pessoas tinham morrido no ataque.[6] Na realidade, o ataque foi uma operação tática contra uma cidade com importantes comunicações militares próximas à linha de frente e as estimativas modernas não rendem mais de 300-400 mortos no fim do ataque.[6][7]

Invasão japonesa da China

Ver artigos principais: Segunda Guerra Sino-Japonesa e Massacre de Nanquim

A guerra sino-japonesa divide-se em dois grandes períodos: o primeiro deles, denominado de período crítico, teve seu início em julho de 1937 [8] quando os nipônicos lançam sua ofensiva-relâmpago sobre as províncias do Norte e Leste (Hopei, Shantung, Shanxi, Chamar e Suyan) com o objetivo de separá-las da China, seguindo os ditames do "Memorial Tanaka". Numa audaciosa operação de desembarque, ocuparam mais ao sul Cantão, uns anos depois Hong Kong (que era colônia inglesa) e partes de Macau, nomeadamente Lapa, Dom João e Montanha. Os invasores tiveram seu caminho facilitado por encontrarem pela frente uma China politicamente desorganizada, onde a rivalidade militar entre nacionalistas e comunistas havia sido suspensa a contra gosto, vendo-se ainda subdividida em várias "autoridades locais", que se mostraram relutantes em oferecer-lhes uma resistência efetiva e coerente.

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Forças japonesas durante a Batalha de Wuhan.

Mesmo assim Chiang Kai-shek e Mao Tse-tung assinam um acordo em 22 de setembro de 1937, pelo qual os comunistas abandonam seu projeto de um governo revolucionário e passavam a designar sua área de domínio como Governo Autônomo da Região Fronteiriça, enquanto o Exército Vermelho mudou seu nome para ser o Exército Revolucionário Nacional, renunciando a insurgir-se contra o governo de Chiang Kai-shek que, pelo seu lado, comprometeu-se a suspender as operações anticomunistas.

A estratégia japonesa baseava-se em sua mobilidade, fruto do desenvolvimento industrial do país. A ofensiva-relâmpago deles rapidamente ocupou Pequim em 8 de agosto de 1937, em seguida capitularam Tientsin e Shangai. Depois de quebrarem a encarniçada resistência das tropas chinesas, que lhes resistiram por três meses numa batalha nas ruas de Shangai, os japoneses marcharam para dentro do continente e, logo depois, em 13 de dezembro de 1937 entram em Nanquim.

Nanquim era a antiga capital imperial, e também ex-sede do governo nacionalista de Chiang Kai-shek. Os soldados japoneses sob o comando do general Iwane Matsui realizaram a partir de dezembro de 1937 a invasão de Nanquim, onde a população foi submetida à mais extrema barbaridade. Um ano depois de terem tomado a ofensiva, os nipônicos controlam amplas margens do mar da China, ocupando uma boa parte da costa, na tentativa de isolar o país de qualquer auxílio ocidental. Apesar das simpatias americanas e britânicas se inclinarem para os chineses, devido à rivalidade colonial que tinham com os nipônicos pela hegemonia sobre a Ásia, nada de prático foi feito para ajudá-los.

Este período de seguidos triunfos japoneses chegou ao seu clímax com a invasão de outras partes da Ásia pelo Exército e pela Marinha Imperial (Indochina, Indonésia, Malásia, Filipinas e Birmânia), seguida da desastrosa decisão do Micado de estender a guerra aos Estados Unidos.

A guerra

Ver artigo principal: Cronologia da Segunda Guerra Mundial

Guerra na Ásia

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Soldados chineses fracamente armados, em marcha.

Exército de Guangdong entrando em Shenyang após o Incidente de Mukden.

Em 1936, o governo japonês assinou com a Alemanha o Pacto Anti-Komintern (anticomunista) com o objetivo de combater o comunismo soviético, sendo a União Soviética a principal liderança comunista da Europa e Ásia. Devido a cultura militarista do Japão, um país de poucos recursos, eles planejaram conquistar todos os territórios da Ásia, o que incluía, a Coreia, a China e as ilhas do Pacífico. Porém o Tratado de Versalhes impedia as ambições japonesas, o que eles consideravam uma traição por parte das potências vencedoras da I Guerra (Tríplice Entente), pois o Japão ficou do lado delas, então eles se aliaram a Alemanha, cuja política expansionista ia ao encontro das ambições japonesas de conquistas territoriais.

O ataque japonês à base naval americana de Pearl Harbour em 7 de dezembro de 1941, obrigou o império do Sol Nascente a espalhar os seus recursos militares pelo Pacífico Ocidental, declinando como consequência disso as atividades bélicas no fronte da China.

No segundo período, que vai de dezembro de 1941 até agosto de 1945, os Estados Unidos assumem a tarefa de derrotar os japoneses, enquanto os exércitos nacionalistas chineses atuam apenas em pequenas escaramuças visando à fixação e ao desgaste do inimigo.

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Consciente da sua absoluta inferioridade militar e estratégica, Chiang Kai-shek após sete meses de infrutífera resistência, ordenara a adoção da política de "vender espaço para ganhar tempo", que implicava na renúncia de enormes extensões territoriais chinesas. Ao mesmo tempo em que recuavam, as tropas nacionalistas dedicaram-se à tática da destruição sistemática da infra-estrutura rural e urbana das regiões que fatalmente seriam ocupadas pelos invasores (semelhante à estratégia batizada de "terra devastada" que Stalin usou para enfrentar as tropas nazistas), tal como a explosão de diques do Rio Amarelo, que provocou a inundação de milhares de quilômetros quadrados de terras aráveis, arrasando e arruinando por muitos anos as propriedades camponesas, mas que somente atrasou o japoneses em três meses, ou o incêndio precipitado de Changsha, a capital de Hunan (fruto do pânico das tropas chinesas em debandada).

Mas havia outro motivo para Chiang Kai-shek evitar confrontar-se com os japoneses. Ele desejava preservar suas forças militares (e as armas que recebia dos Estados Unidos) para lutar contra o Exército Popular de Mao Tse-tung, na guerra civil que certamente eclodiria, após a expulsão dos japoneses. Foi uma decisão que acabou se revelando equivocada, pois enquanto os nacionalistas recuavam, o Exército Popular continuou fustigando os japoneses, granjeando a simpatia e o apoio dos camponeses chineses (apoio que se mostraria decisivo na guerra civil).

A estratégia de "luta de longa duração" contra os japoneses, adotada por Mao, fez crescer o número de camponeses que aderiram à guerrilha, enquanto nas zonas controladas pelo Kuomintang, eles se mostravam arredios em colaborar, pois além da brutal repressão japonesa, calcada nos "três tudo - "matar tudo, queimar tudo, destruir tudo" (Sanko Sakusen) -, o exército nacionalista cometia saques, confiscos e conscrições forçadas.[9]

Além disso, ao optar por evitar o combate, Chiang tornou desconfortável a ajuda que recebia tanto dos estadounidenses quanto da URSS, que também era sua aliada, apesar do Exército Popular ser dirigido pelo Partido Comunista Chinês.[10]

Guerra na Europa

Ver artigos principais: Invasão da Polônia, Guerra de mentira, Invasão Soviética da Polónia, Blitzkrieg e Batalha da França

Mais informações: Anschluss, Acordo de Munique, Europa ocupada pela Alemanha Nazista e França de Vichy

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1 de Setembro de 1939: os alemães invadem a Polônia.

O plano de expansão do governo envolvia uma série de etapas. Em 1938, com o apoio de parte da população austríaca, o governo nazista anexou a Áustria, episódio conhecido como Anschluss. Em seguida, reivindicou a integração das minorias germânicas que habitavam os Sudetos (região montanhosa da Tchecoslováquia). Como esta não estava disposta a ceder, a guerra parecia iminente, foi então convocada uma conferência internacional em Munique. Na conferência de Munique, em setembro de 1938, britânicos e franceses, seguindo a política de apaziguamento, cederam à vontade de Hitler, concordando com a anexação dos Sudetos.

O exército alemão lançou uma forte ofensiva de surpresa contra a Polónia, com o principal objectivo de reconquistar seus territórios perdidos na Primeira Guerra Mundial e com o objetivo secundário de expandir o território alemão. O ataque começa às 4h45 da madrugada de 1 de Setembro de 1939, quando os canhões do cruzador alemão SMS Schleswig-Holstein abream fogo sobre as posições polacas em Westerplatte, na então Cidade Livre de Danzig, hoje Gdansk.

As tropas alemãs conseguiram derrotar as tropas polacas em apenas um mês. A União Soviética tornou efetivo o acordo (Ribbentrop-Molotov) com a Alemanha nazi e ocupou a parte oriental da Polónia. A Grã-Bretanha e a França responderam à ocupação declarando guerra à Alemanha mas, apesar dos compromissos que haviam assumido para com a Polônia, nada fizeram para ir em socorro do país, limitando-se a formar uma linha defensiva para enfrentar um possível ataque alemão a oeste. A Itália, nesta fase, declarou-se "país neutro".

O exército alemão desfila com os seus panzers em Paris, 1941.

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Tropas alemãs pelo Arco do Triunfo, em Paris, após a queda da França.

Contrastando com o que aconteceu em 1914, quando trens ou comboios de soldados partiam para a guerra enfeitados de flores e sob aplausos da multidão, os povos das nações que iniciaram a Segunda Guerra Mundial não demonstraram euforia com o reinício da matança na Europa.

Quando Hitler anunciou no Reichtag, em 1 de setembro de 1939, a guerra contra a Polônia, as ruas de Berlim se mantiveram mortalmente silenciosas. As pessoas estavam sisudas, oprimidas pela preocupação com o futuro. Aceitaram o que estava acontecendo com resignação pacífica, como uma fatalidade que não podiam evitar, mas sem nenhum entusiasmo.[11]

A 10 de Maio de 1940, após um período de ausência de hostilidades - a "Falsa guerra" - o exército alemão lançou uma ofensiva contra os Países Baixos, dando início à Batalha da França. Os alemães visavam a contornar as poderosas fortificações francesas da Linha Maginot, construídas anos antes na fronteira franco-alemã. Com os britânicos e franceses julgando que se repetiria a guerra de trincheiras da Primeira Guerra Mundial, e graças à combinação de ofensivas de pára-quedistas com rápidas manobras de blindados em combinação com rápidos deslocamentos de infantaria motorizada (a chamada "guerra-relâmpago" - Blitzkrieg, em alemão), os alemães derrotaram sem grande dificuldade as forças franco-britânicas, destacadas para a defesa da França. Nesta fase, ocorre a famosa retirada das forças aliadas para o Reino Unido por Dunquerque. O Marechal Pétain assumiu então a chefia do governo na França, que ficou conhecido como o governo de Vichy, assinou um armistício com Adolf Hitler e começou a colaborar com os alemães. Aproveitando-se da situação, a Itália fascista, de Benito Mussolini, declarou guerra aos franco-britânicos e ordenou a invasão do sul da França (Batalha dos Alpes).

Guerra na África

Ver artigos principais: Afrika Korps, Campanha Norte-Africana e Operação Tocha

O 39.º Grupo de Panzerjäger avança pelo deserto

Em setembro de 1940, após a tomada da França pelas forças alemãs, as tropas italianas destacadas na Líbia sob o comando do marechal Graziani, uma vez livres da ameaça das forças francesas estacionadas na Tunísia, iniciaram uma série de ofensivas contra o

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Egito, então colônia da Grã-Bretanha. Esta ofensiva tinha em vista dominar o canal de Suez e depois atingir as reservas petrolíferas do Iraque, também sob domínio britânico.

Os efetivos ingleses destacados no norte da África e que compunham o então designado XIII Corpo de Exército, comandado pelo General Wavell, após alguns reveses iniciais realizaram uma espetacular contra-ofensiva contra as forças italianas que, apesar de sua superioridade numérica foram empurradas por 1200 km de volta à Líbia, perdendo todos os territórios anteriormente conquistados. Esta derrota custou aos italianos a destruição de 10 divisões, a perda de 130.000 homens feitos prisioneiros, além de 390 tanques e 845 canhões.

Tanques britânicos Crusader Mk VI (A15) durante a Campanha Norte-Africana

Como a situação que surgia na África era crítica para as forças do Eixo, Adolf Hitler e o Oberkommando der Wehrmacht (OKW) decidiram enviar tropas alemãs a fim de não permitir a completa desagregação das forças italianas. Cria-se dessa forma em Janeiro de 1941 o Afrika Korps (Corpo Expedicionário Alemão na África), cujo comando foi passado ao então Leutenantgeneral (Tenente-General) Erwin Rommel, que posteriormente se tornaria uma figura legendária sob a alcunha de "A Raposa do Deserto". Foram enviadas a África duas divisões alemãs em auxílio aos Italianos, a 5a. Divisão Ligeira e a 15a. Divisão Panzer.

Os alemães, sob o hábil comando de Rommel, conseguiram reverter a iminente derrota italiana e empreenderam uma ofensiva esmagadora contra as forças britânicas enfraquecidas (muitos efetivos britânicos haviam sido desviados para a campanha da Grécia, então sob pressão do Eixo) empurrando-as de volta à fronteira egípcia. Após uma sucessão de batalhas memoráveis como El Agheila, El Mechili, Sollum, Gazala, Tobruk e Marsa Matruh os alemães e italianos são detidos por falta de combustível e provisões na linha fortificada de El Alamein, uma vez que o Mediterrâneo encontrava-se sob domínio da marinha britânica. Finalmente, a Outubro de 1942, após 4 meses de preparação os Britânicos contra-atacaram na Segunda Batalha de El Alamein, sob o comando do General Bernard Montgomery.

Rechaçadas pelas bem supridas forças britânicas, as tropas ítalo-alemãs iniciaram um grande recuo de volta à Líbia de forma a encurtar suas linhas de suprimento e ocupar

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posições defensivas mais favoráveis. Entretanto, dias depois, a 8 de novembro, as forças do Eixo recebem a notícia de que estão sendo cercadas pelo oeste por forças norte-americanas do 1o. Exército Aliado que haviam desembarcado em Marrocos através da Operação Tocha. Pelo leste, o 8o. Exército Britânico continua o seu avanço, empurrando as forças ítalo-alemãs para a Tunísia. Finalmente, cercado pelos exércitos americano e britânico e sem a guia de seu audacioso comandante, pois Rommel havia sido hospitalizado na Alemanha, o "Afrika Korps" e o restante do contingente italiano na África do Norte, totalizando mais de 250 mil homens e reduzidos à inatividade pela falta de suprimentos e de apoio aéreo, se rendem aos aliados na Tunísia em maio de 1943, dando fim à guerra na África.

Os cruzadores HMS Edinburgh, HMS Hermione e HMS Euryalus escoltam um comboio de navios de Gibraltar a Malta

O calcanhar de Aquiles de Rommel na África do Norte era o reabastecimento. O transporte das tropas e suprimentos italianos e alemães era feito por mar, e os homens da marinha mercante partiam para a África para proverem as tropas de alimentos, roupas, água, armas, munições e combustível, devendo então empreender uma jornada de quinhentos quilômetros da Sicília, no sul da Itália, até a Tripolitânia, no norte da África. Mas, para que a guerra do deserto fosse vencida pelo Eixo, o domínio marítimo do Mediterrâneo era um fator prepoderante, e seu principal adversário neste aspecto era a Marinha Real da Grã-Bretanha.

Em 22 de julho de 1941,o cargueiro alemão Preussen parte da Itália rumo à África do Norte. No caminho, é posto a pique por um esquadrão de bombardeiros Bristol Blenheim da RAF. Com ele afundam 200 dos 650 soldados e tripulação a bordo. Além de perdas humanas, vão para o fundo do mar mil toneladas de alimentos, seis mil toneladas de munições, mil toneladas de gasolina e 320 tanques e caminhões de transporte que seriam usados pelas tropas do Eixo. Muitos outros navios como o Arta, o Aegina, o Iserlohn, o Samos, o Larissa, o Birmânia, o Arcturus, o Citá di Bari, dentre outros, tiveram o mesmo destino do Preussen, pois o Mediterâneo tornou-se um cemitério de homens e máquinas que tentavam chegar à África.

Na convergência de todos esses desastres estava a ilha de Malta, principal ponto de apoio das forças aéreas e navais britânicas no Mediterâneo. Malta foi tomada do domínio francês pelos britânicos em 1800 e desde então era parte da Coroa Britânica, sendo uma base naval da Marinha Real. Percebendo a importância estratégica da ilha, os britânicos tornaram-na cada vez mais fortificada, transformando sua retomada pelos

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italianos em uma tarefa a cada dia mais improvável. Apesar dos bombadeios alemães e italianos, Malta resistia, e, com as pesadas perdas sofridas pelos alemães na tomada da ilha de Creta, Hitler decidiu não mais arriscar suas tropas para tomar Malta. Essa decisão acabou acarretando o afundamento de até 77% dos navios do Eixo que cruzaram o Mediterrâneo. Com as tropas mal supridas, a derrota dos italianos e do Afrika Korps foi inevitável.

Invasão da União Soviética

Ver artigos principais: Operação Barbarossa, Batalha de Stalingrado, Batalha de Kursk, Grande Guerra Patriótica e Frente Oriental (Segunda Guerra Mundial)

Conquistas alemãs e outras do Eixo (em azul) na Europa, durante a Segunda Guerra Mundial.

Frente do Leste, na altura da Batalha de Moscou:

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  Avanço inicial da Wehrmacht - 9 de julho de 1941

  Avanços subsequentes- 1 de setembro, 1941

  Cerco e batalha de Kiev - 9 de setembro, 1941

  Final do avanço da Wehrmacht - 5 de dezembro, 1941

Em 22 de junho de 1941, os exércitos do Eixo lançam-se à conquista do território soviético com a chamada Operação Barbarossa. Contavam com 180 divisões, entre tropas alemãs, italianas, húngaras, romenas e finlandesas, num total de mais de três milhões e meio de soldados. A estes se opunham 320 divisões soviéticas, num total de mais de seis milhões de homens, porém apenas 160 destas divisões estavam situadas na região de fronteira com a Alemanha Nazi. Grande parte das tropas soviéticas estava na região leste do país, na fronteira com a China ocupada, antecipando a possibilidade de mais um ataque japonês contra a União Soviética, conforme acontecera em março de 1939.

A ofensiva era amplamente esperada, pois a invasão da União Soviética fazia parte do discurso nazista desde o surgimento do partido, tendo sido fortemente pregada por Adolf Hitler em seu livro "Mein Kampf" e em diversos de seus pronunciamentos políticos anteriores até mesmo ao início da guerra. Relatórios de serviços secretos davam conta da iminência da invasão, partindo não somente da espionagem soviética mas também de informações obtidas pelos ingleses e norte-americanos. A mobilização de grande número de tropas alemãs para a região de fronteira também foi percebida. Os soviéticos já vinham tomando medidas contra a invasão desde a década de 1930, aumentando exponencialmente o contingente de seu exército.

Apesar de tudo isto, a invasão começa a 22 de junho de 1941. Veio como uma surpresa, pois não se esperava que a Alemanha atacasse a URSS antes que o Reino Unido se retirasse da guerra, conforme se previa. O resultado disto foi uma enorme vantagem tática para as tropas alemãs nos primeiros dias da guerra, o que permitiu o envolvimento de grande número de divisões do exército vermelho e a destruição de grande parte dos aviões soviéticos ainda nas suas bases, antes mesmo que conseguissem levantar voo.

As tropas do Eixo foram divididas em três grupos de exércitos: norte, central e sul. O grupo norte atravessou os países bálticos (Lituânia, Letônia e Estônia) e marchou contra Leningrado, que foi atacada ao mesmo tempo pelos finlandeses, mais ao norte, numa atitude de revanchismo por parte destes. A cidade foi completamente cercada a 8 de setembro de 1941; a partir de então só foi possível abastecê-la pela rota que atravessava o lago Ladoga, constantemente vigiada pelos aviões alemães. O resultado foi uma grave crise de fome, que segundo as estimativas teria vitimado por volta de um milhão de civis e provocou alguns episódios de canibalismo. A partir de 20 de novembro de 1941, foi possível estabelecer uma rota segura para Leningrado através do lago congelado, devido à recaptura do eixo ferroviário na cidade de Tikhvin, o que permitiu a evacuação de civis, melhorando a situação da cidade. O cerco de Leningrado só foi completamente levantado em Janeiro de 1944.

O exército central foi o que progrediu mais rapidamente, tendo conquistado completamente a cidade de Minsk a 29 de junho de 1941, operação que resultou na

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captura de 420 mil soldados do exército vermelho. A ofensiva prosseguiu com o grupo central marchando através da Bielorrússia até atingir a cidade de Smolensk, penetrando finalmente no território da Rússia propriamente dita. Aqui o avanço das tropas alemãs foi interrompido pela primeira vez, dada a forte resistência oposta pelas tropas soviéticas, porém a cidade foi conquistada a 16 de julho.

O exército sul prosseguiu mais vagarosamente do que os outros dois, sendo forçado a combater no terreno dos pântanos Pripet, o que reduzia a velocidade dos avanços. Apesar disso, conseguiu empurrar o grupo sul do exército vermelho até a cidade de Kiev, onde seu avanço foi interrompido. Aproveitando-se do fato de que o exército central havia avançado muito mais adiante, os alemães deslocaram boa parte desse segundo grupo de exércitos para o sul, conseguindo assim envolver um enorme grupo de divisões no que ficou conhecido como o bolsão de Kiev. O resultado foi a captura de 700 mil soldados soviéticos, o que resultou praticamente na destruição do grupo sul do exército vermelho. A luta pela captura da capital da Ucrânia prosseguiu até 26 de setembro.

Após esta operação, o grupo sul do exército lançou-se à captura da península da Crimeia. Esta operação seria concluída a 30 de outubro, com o cerco da cidade de Sebastopol que, no entanto, só foi capturada em julho de 1942. A cidade de Odessa, sitiada por tropas romenas desde os primeiros dias da guerra, só foi tomada em setembro. Após capturar o território da Crimeia, os alemães voltaram-se para o Cáucaso, chegando a tomar Rostov a 21 de novembro. Entretanto, a cidade foi retomada pelos soviéticos poucos dias depois, a 27 de novembro.

As tropas do exército central uniram-se a várias unidades do grupo norte e iniciaram a operação que tinha por objetivo envolver a cidade de Moscou, a 30 de setembro de 1941. Inicialmente as tropas do eixo prosseguiram com velocidade, capturando Bryansk, Orel e Vyazma, numa batalha em que foram cercados e capturados 650 000 homens, no que seria o último grande envolvimento em 1941. As tropas alemãs continuaram avançando até capturarem a cidade de Tula, a 165 quilômetros da capital russa, que passou a sofrer bombardeamentos aéreos. Entretanto, o avanço do exército alemão foi barrado, e as pinças norte e sul do ataque não puderam se encontrar, fechando o cerco. Apesar das gigantescas perdas que o exército vermelho havia sofrido, os soviéticos conseguiram formar novas divisões de conscritos, trazendo também para a frente oeste tropas anteriormente localizadas na região leste do país, repondo suas perdas e conseguindo dar combate aos alemães.

Khreshchatyk, a principal rua de Kiev após os bombardeios alemães.

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No dia 6 de dezembro, em pleno inverno, começou a contra-ofensiva dos russos, chefiada pelo general Georgy Zhukov. Utilizando equipamentos novos como os tanques T-34 e os morteiros foguetes Katyusha, o exército vermelho conseguiu retomar uma quantidade significativa de território, afastando definitivamente a ameaça que pairava sobre sua capital.

Em 1942, o exército alemão já não se encontrava em condições de tentar uma nova ofensiva contra Moscou, que também seria demasiadamente previsível. A Wehrmacht voltou-se então contra a região do Cáucaso, de grande importância econômica e militar devido a seus recursos petrolíferos (reservas de petróleo soviéticas no mar Cáspio), industriais e agrícolas. Além disso, a conquista da região permitiria bloquear o rio Volga. A operação de captura do Cáucaso foi chamada de operação Azul e teve início em 28 de junho de 1942. No final do mês de julho os alemães já haviam avançado até a linha do rio Don e começaram os preparativos para o envolvimento da cidade de Stalingrado, defendida pelas tropas do General Chuikov. A cidade sofreu pesados bombardeamentos aéreos.

No fim de agosto, Stalingrado foi cercada ao norte e no 1.º de setembro as comunicações ao sul também foram interrompidas. A partir de então, as tropas que combatiam na cidade só puderam ser abastecidas através do rio Volga, constantemente bombardeado pelos alemães. A batalha durou três meses, conhecendo avanços e recuos de ambas as partes, com lutas sangrentas pela conquista de simples casas, prédios ou fábricas. O tipo de terreno resultante das ruínas da cidade arrasada favorecia o combate de infantaria, impedindo a utilização eficiente de tanques. Milhares de civis aprisionados no interior da cidade foram vitimados, principalmente em consequência dos bombardeios. Em novembro, os alemães haviam alcançado a margem do rio Volga, impedindo o abastecimento das tropas soviéticas.

Um soldado soviético agitando a bandeira vermelha sobre a praça central em Stalingrado, 1943.

Em novembro de 1942, os soviéticos iniciaram seu contra-ataque, batizado de Operação Urano, que tinha o objetivo de envolver as divisões alemãs em Stalingrado. Em 19 de novembro, as tropas do general Vatutin, que formavam a pinça norte do ataque, irromperam contra o flanco dos exércitos do Eixo, enquanto ao sul as tropas de Konstantin Rokossovsky faziam o mesmo. Os alemães foram cercados pelo Exército Vermelho e as tentativas de abastecê-los através de uma ponta aérea não tiveram sucesso. Uma tentativa de romper o cerco foi feita pelas tropas do General Erich von Manstein, numa operação chamada de Tempestade de Inverno, porém as tropas

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cercadas no interior da cidade já estavam sem abastecimento há um bom tempo e não tiveram condições de colaborar com as demais tropas alemãs. Os soviéticos continuavam seu contra-ataque (agora a Operação Saturno), ameaçando envolver os exércitos de Manstein, que foi forçado a abandonar sua tentativa de salvamento e retirar-se. A 2 de fevereiro de 1943, os alemães remanescentes na cidade renderam-se.

Mais de 800 milhares de soldados do eixo, entre alemães, húngaros, romenos e italianos, além de dois milhões de soviéticos, morreram nas operações que envolveram Stalingrado e todo o restante do 6.º Exército alemão, comandado pelo Generalfieldmarschall (Marechal-de-Campo)Friedrich Von Paulus, que obedeceu até ao fim às ordens de Hitler de não romper o cerco, sendo feito prisioneiro junto com o seu exército. A batalha de Stalingrado dura cinco meses. Dos trezentos mil soldados alemães encurralados no cerco, noventa mil morrem de frio e fome e mais de cem mil são mortos nas três semanas anteriores à rendição. Devido às rigorosas dificuldades do inverno nesse ano, que dificultava a subsistência até da população local, um grande número dos soldados alemães, sem proteção contra o frio nos campos de prisioneiros, não sobreviveu, sendo que poucos retornaram a sua terra natal após a guerra. Após a tomada de Stalingrado, as tropas soviéticas continuaram avançando e em fevereiro de 1943 retomaram Kursk, Kharkov e Rostov, retomando completamente a região do Cáucaso. A 20 de fevereiro de 1943, os alemães retomaram Kharkov, formando uma saliência no front soviético em Kursk, o que teria importantes consequências nos meses seguintes.

Soldados da 2ª Divisão SS Das Reich durante a Batalha de Kursk.

Os generais alemães e o próprio Hitler, após a queda de Stalingrado, tinham noção que esse quadro de desestabilização geral estava ocorrendo, e começaram a planejar medidas para reduzir seus efeitos. Muitos oficiais preferiam esperar uma ofensiva soviética e contra-atacar – a "ação de retaguarda" proposta por Manstein – buscando paralisar os russos com contra-ataques locais; outros militares defendiam que uma ofensiva deveria ser desfechada o quanto antes para incapacitar os soviéticos e depois esperar pelos ataques dos aliados ocidentais. Essa tática acabou sendo a escolhida por Hitler, resultando na "Operação Cidadela", cognome do ataque contra a cidade de Kursk, onde estavam concentradas grandes forças russas que deveriam ser cercadas e destruídas. Foi uma operação perdida desde o início para os alemães, pois os soviéticos tinham superioridade em artilharia, tanques, homens e aviões, o que talvez não fizesse tanta diferença se também não tivessem as informações sobre os planos de ataque alemães – obtidas através da rede de espiões comunistas Orquestra vermelha na Alemanha – e contassem com defesas em profundidade largamente preparadas na

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região. A culminância dessa malfadada operação foi a Batalha de Kursk, em julho de 1943, onde os alemães sofreram uma grande derrota e foram recuando até saírem da URSS e as forças soviéticas avançando em direção à Alemanha.

Embora o significado das batalhas entre Alemanha e URSS tenha sido enormemente relativizado no mundo capitalista pós-guerra, por conta de questões ideológicas próprias da Guerra Fria (quando não era mais conveniente ressaltar qualidades positivas do antigo aliado soviético), o chamado fronte oriental foi onde aconteceram as mais ferozes batalhas, com as maiores perdas civis e militares da história, e mostrou excepcionais tenacidade e capacidade de reorganização e aprendizado do Exército Vermelho frente à Wehrmacht. Apesar de imensas perdas humanas e materiais, a URSS foi a única nação da guerra a ser invadida territorialmente pela Werhmacht (então o maior, melhor treinado, mais bem equipado, e mais eficiente exército do mundo, cujos vários feitos em eficiência e versatilidade em campo permanecem inigualados até hoje) a ser capaz de se reorganizar, e, sem rendição ou acordos colaboracionistas (como o do "Governo de Vichy", na França), resistir, combater, e efetivamente rechaçar as forças alemãs para fora de seu território sem tropas externas atuando em seu território (como na recuperação da França, por exemplo, que precisou da ajuda maciça de tropas americanas e britânicas), e, mais importante, seguir um curso de vitórias até a capital da Alemanha - terminando, na prática, a guerra: poucos dias depois do suicídio de Hitler na Berlim já completamente ocupada pelo Exército Vermelho, as forças alemãs assinaram sua rendição incondicional.

Guerra no Pacífico

Ver artigos principais: Ataque a Pearl Harbor e Guerra do Pacífico

O encouraçado USS Arizona adernando e em chamas após ser atingido por uma bomba japonesa durante o Ataque a Pearl Harbor.

Por volta de 1940, o Japão já havia ocupado vários territórios no Pacífico, e tentava agora aumentar a sua influência no Sudoeste Asiático, invadindo, em Junho de 1941, a Indochina. O governo dos Estados Unidos, indignado, impõe sanções econômicas ao Japão. Como represália, a 7 de Dezembro de 1941, a aviação japonesa ataca Pearl Harbor, a maior base norte-americana do Pacífico. Em apenas duas horas, os pilotos japoneses conseguiram inutilizar todos os navios ancorados no porto, cinco navios de guerra e destruir ou afundar outras quinze embarcações.

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No dia seguinte os Estados Unidos declaram guerra ao Japão, dando início à Guerra do Pacífico. Apenas duas horas após o ataque a Pearl Harbor, os japoneses iniciaram a invasão de vários territórios da Ásia e do Pacífico. Em maio de 1942 o Japão tinha já conquistado esses vastos territórios, controlando Hong Kong, Malásia, Singapura — a qual a Grã-Bretanha abandonou a 15 de Fevereiro de 1942, Indonésia, Filipinas, Birmânia e diversas ilhas no Pacífico.

O sucesso dos japoneses, devia-se à adaptação do conceito de Blitzkrieg às condições da geografia da Ásia e Pacífico: a utilização de um relativamente pequeno número de tropas em relação ao inimigo, altamente treinadas, motivadas e protegidas por um poder naval que logo derrotou os aliados no mar e por uma força aérea que tinha como trunfo principal, tanto defensivamente (servindo de escolta dos bombardeiros japoneses) como ofensivamente, o avião caça mais moderno na época, o Mitsubishi Zero que, em combates individuais, demonstrou não ser superado nem mesmo pelo lendário Spitfire britânico. Em terra, os conflitos decisivos foram efetuados por divisões de infantaria utilizando-se pontualmente de tanques e blindados leves e carregando peças de artilharia compacta facilmente desmontáveis e tranportáveis.

Um kamikaze (parte superior esquerda da foto) prestes a impactar contra o USS Missouri em 11 de abril de 1945. Agindo a partir de outubro de 1944, estes pilotos-suicidas foram uma tentativa desesperada e inútil dos japoneses para impedir o avanço Aliado. Afundaram entre 50 e 90 navios aliados (dependendo da fonte), causando a morte de cerca de 5000 homens - mas a um custo de quase 4000 pilotos e suas aeronaves.[12][13]

No entanto, esse mesmo material que dava agilidade e leveza na movimentação, portanto uma vantagem ofensiva, se tornaria obsoleto se transformando em desvantagem quando no decorrer dos anos seguintes, o exército imperial viu-se obrigado a defender as posições conquistadas sem a vantagem da cobertura aeronaval que dispunha durante a ofensiva e sem poder contar com a reposição por mar deste armamento mais leve por um mais pesado e, dentro daquelas condições, apropriado à defesa.

Já em meados de 1942 a guerra na Ásia e Pacífico começava a progredir mais devagar para os japoneses, que não mantinham o ritmo inicial da campanha. Ao mesmo tempo que a aviação de caça das forças aliadas, ainda em inferioridade técnica começava a se utilizar de técnicas de combate aéreo que compensavam tal desnível. Com o impasse

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causado pela Batalha do Mar de Coral em maio daquele ano, resultando em vitória estratégica para os aliados, devido aos japoneses, por não terem uma ideia precisa do real poder aeronaval dos aliados na região, terem sido induzidos a desistirem de desembarcar em Port Moresby na Nova Guiné; a derrota em Midway no mês seguinte resultando, por parte dos japoneses, na perda de 4 porta-aviões e de grande número de tripulantes e pilotos altamente experientes; somado ao desembarque e estabelecimento em terra dos americanos em Guadalcanal em agosto; fizeram com que os japoneses passassem à defensiva no Pacífico já no último trimestre daquele ano. Com a vitória americana em Guadalcanal em fevereiro de 1943, após meses de intensos combates aéreos, marítimos e terrestres que resultaram em grandes perdas humanas e materiais para ambos os lados, o rumo do conflito naquele teatro de operações virou definitivamente em favor dos aliados.

O sucesso da guerra submarina irrestrita levada a cabo pela marinha americana que privava o Japão das matérias primas essenciais, necessárias não só para levar a cabo seu projeto expansionista, como para manter a própria indústria e economia internas em pleno funcionamento, bem como o abastecimento da população por um lado e; a capacidade do complexo militar-industrial americano de repor não apenas suas perdas humanas e materiais mas também as perdas materiais de seus aliados num ritmo muito acima das do Japão; resultou que, a partir de meados de 1943, americanos e seus aliados no Pacífico se mantivessem na ofensiva ininterruptamente, avançando de complexo em complexo de ilhas rumo ao Japão. Ao mesmo tempo que a chegada em grande número à frente de combate de novos modelos de aviões-caça, que se equiparavam ou superavam em performance o Mitsubishi A6M Zero, fazia com que mesmo a relativa vantagem que o Japão dispunha no ar também fosse anulada.

Nos territórios ocupados durante a ofensiva do primeiro semestre de 1942, com exceção das Filipinas, num primeiro momento as forças japonesas foram recebidas como libertadoras pelas populações nativas ressentida da colonização europeia. Porém, em poucos meses devido às duras condições impostas pelos novos governos militares japoneses que recrudesceram a opressão e a repressão sobre as populações locais, a exemplo do que já faziam na China e Coreia; o sentimento dessas populações ocupadas passou da simpatia à hostilidade, fomentando movimentos de resistência que cedo encontraram apoio material dos anglo-americanos.

Reconquista da Europa

Ver artigos principais: Campanha da Itália e Batalha da Normandia

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Batalha da Normandia, na França, durante o chamado Dia D.

A partir de meados 1943, os exércitos aliados foram recuperando território passo a passo. Enquanto na frente principal os soviéticos obtinham a rendição dos alemães em Stalingrado em fevereiro, e em agosto tomavam a iniciativa dos combates após terem derrotado no mês anterior a última grande ofensiva alemã realizada à Leste, em Kursk, anglo-americanos e franceses livres, após a vitória no norte da África em maio, tomaram a partir de julho, Sicília, Córsega, Sardenha e o sul da Itália, causando tanto a queda do gabinete de Benito Mussolini, e a prisão deste, que foi resgatado por comandos alemães, quanto a rendição e a adesão formal da Itália à causa aliada em setembro.

Vídeo produzido pelos Estados Unidos em 1943 sobre o bombardeamento de Hamburgo pelos Aliados.

A 6 de junho de 1944, no chamado Dia D (D-Day), os Aliados efectuaram um desembarque nas praias da Normandia (Operação Overlord), em que participaram o Exército Britânico (lutando nas praias de Gold e Sword), o Exército Americano (lutando em Omaha e Utah) e o Exército Canadense (lutando em Juno). Os americanos sofreram por volta de duas mil baixas, pois os tanques Sherman, (disfarçados de Chatas pelo Exército Americano para os esconder, e torná-los um fator surpresa) afundaram. Já o Exército britânico não teve muitas baixas em Gold e Sword, pois seus tanques blindados e especializados (em cortar trincheiras e explodir minas) conseguiram ultrapassar. Era o início da Batalha da Normandia. Apesar da inferioridade aérea, e submetida a constantes bombardeios aéro-navais, os alemães resistiram durante mais de um mês antes que os aliados tomassem o primeiro porto, Cherbourg em meados de julho, o que somado à outro desembarque aliado no sul da França no final de agosto, forçou o recuo das forças alemãs para a Bélgica.

Após a libertação de Paris, seguiu-se em Setembro de 1944 a libertação de parte da Bélgica, incluindo sua capital e a operação Market Garden que tinha como um dos objectivos libertar os Países Baixos. Esta operação foi superior à Overlord no que respeita ao número de pára-quedistas envolvidos, mas resultou num enorme fracasso, contando-se cerca de 20 mil mortos, só entre os americanos, e 6500 britânicos foram feitos prisioneiros. O objectivo dos Aliados era conquistar uma série de pontes nos Países Baixos, o que lhes permitiria atravessar o rio Reno.

Colapso do Eixo e vitória Aliada

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Ver artigos principais: Batalha das Ardenas, Batalha de Berlim, Bombardeamentos de Hiroshima e Nagasaki e Rendição do Japão

Tropas estadunidenses e soviéticas se encontram em abril de 1945, a leste do rio Elba.

Apesar da evidente superioridade militar Aliada, as tropas alemãs resistiram tenazmente, até porque Hitler alimentava a esperança de que as contradições internas entre os aliados, especialmente a perspectiva de ocupação da Europa Oriental pelos soviéticos, levasse os anglo-americanos a firmarem uma paz em separado com a Alemanha. Afinal, como ele disse aos seus generais: "Jamais houve, em toda a história, uma coalizão composta por parceiros tão heterogêneos quanto essa de nossos inimigos. Estados ultra-capitalistas de um lado e um estado marxista do outro".[14] Foi dentro desse objetivo estratégico de ganhar tempo até que ocorresse a "reviravolta política", que Hitler ordenou, em dezembro de 1944, uma inesperada investida na Bélgica - a contra-ofensiva das Ardenas - cujo objetivo tático era tomar Liège e Antuérpia, para se apropriar dos enorme depósitos de suprimentos dos aliados ocidentais, sobretudo petróleo, do qual a Wehrmacht e a Luftwaffe já careciam seriamente. Apanhadas de surpresa, as forças anglo-americanas sofreram pesadas baixas. Além disso, a infiltração de soldados alemães, disfarçados de soldados americanos, em áreas controladas pelos aliados, causou sérios transtornos, como mudança de caminhos de divisões inteiras, mudanças de placas, implantações de minas e emboscadas. Estes soldados alemães, os primeiros comandos, estavam sob a liderança do Oberst Otto Skorzeny, que em 1943 libertara Mussolini de uma prisão na Itália. A situação se mostrou de tal maneira confusa que o general Patton postou tropas negras guarnecendo armazens e depósitos de combustível na região ordenando que atirassem em qualquer tropa branca que se aproximasse sem autorização agendada via rádio por seu quartel general.[15] No entanto, passado o momento inicial, a ofensiva perdeu força[16] e tão logo o tempo melhorou a superioridade aérea aliada também se fez presente no ataque constante às tropas alemãs no solo.

Em 1944, ocorreu o atentado de 20 de julho, uma fracassada tentativa de assassinar Hitler. Executado por Claus von Stauffenberg, este foi o último atentado da resistência alemã contra a vida do führer.

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Rua do centro de Berlim devastada após o fim da Batalha de Berlim, 3 de julho de 1945.

Na Itália, contando com tropas experientes[17], como a 1ª divisão de paraquedistas Hermann Goering [18] e a 16ª divisão SS, somada à vantagem do terreno montanhoso para as tropas defensoras e ao desinteresse do alto comando aliado que após a queda de Roma e a invasão da Normandia, passou a considerar o front italiano secundário[19][20], o general alemão Kesselring não encontrou maiores dificuldades em manter lento e penoso o avanço das tropas aliadas (das quais fazia parte uma divisão brasileira)[21] ao longo da península. Somente em 2 de maio de 1945 a rendição das forças alemãs que lá combatiam foi oficializada.

Antes mesmo de findar a guerra, as grandes potências firmaram acordos sobre seu encerramento. O primeiro dos acordos foi a Conferência de Teerã, na Pérsia, em 1943. Aproveitando-se da oportunidade, os alemães planejaram a malograda operação Long Jump, que tinha como objetivo sequestrar (ou assassinar) os líderes aliados reunidos em Teerã. Em janeiro de 1945, Winston Churchill, Franklin D. Roosevelt e Josef Stalin reúnem-se novamente em Ialta, Ucrânia, já sabendo da inevitabilidade da derrota alemã, para decidir sobre o futuro da Europa pós-guerra. Nesta conferência definiu-se a partilha da Europa, cabendo à União Soviética o predomínio sobre a Europa Oriental, enquanto as potências capitalistas prevaleceriam na Europa Ocidental. Acertou-se também a criação da Organização das Nações Unidas (ONU), a participação da URSS na guerra contra o Japão e a divisão da Coreia em bases diferentes das da Liga das Nações. Definiu-se, ademais, a partilha mundial, cabendo a incorporação dos territórios alemães a leste e a participação da URSS na rendição do Japão, com a divisão da Coreia em áreas de influência soviética e norte-americana. Lançavam-se assim as bases para a Guerra Fria.

Enquanto isso, o avanço das tropas aliadas e soviéticas chegava ao território alemão. O avanço dos dois exércitos já havia sido previamente combinado, ficando a tomada de Berlim a cargo do Exército Vermelho. Esta decisão foi encarada com apreensão pela população, pois era conhecido o rasto de pilhagens, execuções e violações que os soldados soviéticos deixavam atrás de si, em grande parte como retaliação pela mortes causadas pelos soldados alemães na União Soviética. Em 30 de abril de 1945, Adolf Hitler suicidou-se quando as tropas soviéticas estavam a exatamente dois quarteirões do

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führerbunker. Em 7 de maio o seu sucessor, o almirante Karl Dönitz, assina a capitulação alemã.

Explosão nuclear em Nagasaki, Japão, em 9 de agosto de 1945.

No Pacífico, as forças estadunidenses acompanhadas por forças da Comunidade das Filipinas avançam nas Filipinas, tomando Leyte até o final de abril de 1945. Eles desembarcam em Luzon em janeiro de 1945 e ocupam Manila em março, deixando-a em ruínas. Combates continuaram em Luzon, Mindanao e em outras ilhas das Filipinas até o final da guerra.[22]

Em maio de 1945, tropas australianas aterraram em Bornéu. Forças britânicos, estadunidenses e chinesas derrotaram os japoneses no norte da Birmânia, em março, e os britânicos chegam a Yangon em 3 de maio.[23] Forças estadunidenses também chegam ao Japão, tomando Iwo Jima em março e Okinawa até o final de junho.[24] Bombardeiros estadunidenses destroem as cidades japonesas e submarinos bloqueiam as importações do país.[25]

Em 11 de julho, os líderes Aliados se reuniram em Potsdam, na Alemanha. Lá eles confirmam acordos anteriores sobre a Alemanha[26] e reiteram a exigência de rendição incondicional de todas as forças japonesas, especificamente afirmando que "a alternativa para o Japão é a rápida e total destruição."[27] Durante esta conferência, o Reino Unido realizou a sua eleição geral, e Clement Attlee substituí Churchill como primeiro-ministro.[28] Como o Japão continuou a ignorar os termos de Potsdam, os Estados Unidos lançam bombas atômicas sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki em agosto. Entre as duas bombas, os soviéticos, em conformidade com o acordo de Yalta, invadem a Manchúria, dominada pelos japoneses, e rapidamente derrotam o Exército de Guangdong, que era a principal força de combate japonesa.[29][30] O Exército Vermelho também captura a ilha Sacalina e as ilhas Curilas. Em 15 de agosto de 1945 o Japão se rende, com os documentos de rendição finalmente assinados a bordo do convés do navio de guerra americano USS Missouri em 2 de setembro de 1945, pondo fim à guerra.[31]

Pós-guerra

Ver artigos principais: Zonas ocupadas pelos Aliados na Áustria, Zonas ocupadas pelos Aliados na Alemanha, Expulsão dos alemães após a Segunda

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Guerra Mundial, Plano Marshall, Organização das Nações Unidas e Guerra Fria

Os Comandantes Supremos em 5 de junho de 1945 em Berlim: Bernard Montgomery, Dwight D. Eisenhower, Georgy Zhukov e Jean de Lattre de Tassigny.

Os aliados estabeleceram administrações de ocupação na Áustria e na Alemanha. O primeiro se tornou um estado neutro, não alinhado com qualquer bloco político. O último foi dividido em zonas de ocupação ocidentais e orientais controlada pelos Aliados Ocidentais e pela União Soviética, em conformidade. Um programa de "desnazificação" da Alemanha levou à condenação de criminosos de guerra nazistas e a remoção de ex-nazistas do poder, ainda que esta política se mudou para a anistia e a reintegração dos ex-nazistas na sociedade da Alemanha Ocidental.[32] A Alemanha perdeu um quarto dos seus territórios pré-guerra (1937), os territórios orientais: Silésia, Neumark e a maior parte da Pomerânia foram assumidos pela Polônia; Prússia Oriental foi dividida entre a Polônia e a URSS, seguido pela expulsão de 9 milhões de alemães dessas províncias, bem como 3 milhões de alemães dos Sudetos, na Tchecoslováquia, para a Alemanha. Na década de 1950, um em cada 5 habitantes da Alemanha Ocidental era um refugiado do leste. A URSS também assumiu as províncias polonesas a leste da linha Curzon (dos quais 2 milhões de poloneses foram expulsos),[33] leste da Romênia,[34]

[35] e parte do leste da Finlândia [36] e três países Bálticos.[37][38]

O primeiro-ministro Winston Churchill profere o sinal de "Vitória" para multidões em Londres, no Dia da Vitória na Europa.

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Em um esforço para manter a paz,[39] os Aliados formaram a Organização das Nações Unidas, que oficialmente passou a existir em 24 de outubro de 1945,[40] e aprovaram a Declaração Universal dos Direitos Humanos em 1948, como um padrão comum para todas as nações-membro.[41] A aliança entre os Aliados Ocidentais e a União Soviética havia começado a deteriorar-se ainda antes da guerra,[42] a Alemanha havia sido dividida de facto e dois estados independentes, a República Federal da Alemanha e a República Democrática Alemã,[43] foram criados dentro das fronteiras das zonas de ocupação dos Aliados e dos Soviéticos, em conformidade. O resto da Europa também foi dividido em esferas de influência ocidentais e soviética.[44] A maioria dos países europeus orientais e centrais ficaram sob a esfera soviética, o que levou à criação de regimes comunistas, com o apoio total ou parcial das autoridades de ocupação soviética. Como resultado, a Polônia, Hungria,[45] Tchecoslováquia,[46] Romênia, Albânia,[47] e a Alemanha Oriental tornaram-se Estados satélite dos soviéticos. A Iugoslávia comunista realizou uma política totalmente independente, o que causou tensão com a URSS.[48]

A divisão pós-guerra do mundo foi formalizada por duas alianças militares internacionais, a OTAN, liderada pelos Estados Unidos, e o Pacto de Varsóvia, liderado pela União Soviética;[49] o longo período de tensões políticas e militares da concorrência entre esses dois grupos, a Guerra Fria, seria acompanhado de uma corrida armamentista sem precedentes e guerras por procuração.[50]

Mapa mundial dos impérios coloniais no final da Segunda Guerra Mundial em 1945. Com o fim da guerra, guerras de libertação nacional se espalharam pelo mundo, levando à criação de Israel e à descolonização da Ásia e da África.

Na Ásia, os Estados Unidos ocuparam o Japão e administraram as antigas ilhas do Japão no Pacífico Ocidental, enquanto os soviéticos anexaram a ilha Sacalina e as ilhas Curilas.[51] A Coreia, anteriormente sob o governo japonês, foi dividida e ocupada pelos Estados Unidos no Sul e pela União Soviética no Norte entre 1945 e 1948. Repúblicas separadas surgiram em ambos os lados do paralelo 38, em 1948, afirmando ser o governo legítimo de toda a Coreia, o que levou a Guerra da Coreia.[52] Na China, forças nacionalistas e comunistas retomaram a guerra civil em junho de 1946. As forças comunistas foram vitoriosas e estabeleceram a República Popular da China no continente, enquanto as forças nacionalistas fugiram para a ilha de Taiwan em 1949 e fundaram a República da China.[53] No Oriente Médio, a rejeição árabe ao Plano de Partilha da Palestina da Organização das Nações Unidas e à criação de Israel, marcou a escalada do conflito árabe-israelense. Enquanto as potências coloniais europeias tentaram reter parte ou a totalidade de seus impérios coloniais, a sua perda de prestígio e de recursos durante a guerra fracassou seus objetivos, levando a descolonização.[54][55]

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A economia mundial sofreu muito com a guerra, embora os participantes da Segunda Guerra Mundial tenham sido afetados de forma diferente. Os Estados Unidos emergiram muito mais ricos do que qualquer outro país; no país aconteceu o "baby boom" em 1950, seu produto interno bruto (PIB) per capita o maior do mundo e dominou a economia mundial.[56][57] O Reino Unido e os Estados Unidos implementaram uma política de desarmamento industrial na Alemanha Ocidental nos anos 1945-1948.[58] Devido à interdependência do comércio internacional, este levou à estagnação da economia europeia e o atraso, em vários anos, da recuperação europeia.[59][60] A recuperação começou com a reforma monetária de meados de 1948 na Alemanha Ocidental e foi acelerada pela liberalização da política econômica europeia, que o Plano Marshall (1948-1951) causou tanto direta quanto indiretamente.[61][62] A recuperação pós-1948 da Alemanha Ocidental foi chamada de milagre econômico alemão.[63] Além disso, as economias italiana[64][65] e francesa também se recuperaram.[66] Em contrapartida, o Reino Unido estava em um estado de ruína econômica[67] e entrou em relativo declínio econômico contínuo ao longo de décadas.[68] A União Soviética, apesar dos enormes prejuízos humanos e materiais, também experimentou um rápido aumento da produção no pós-guerra imediato.[69] O Japão passou por um crescimento econômico incrivelmente rápido, tornando-se uma das economias mais poderosas do mundo na década de 1980.[70] A China voltou a sua produção industrial de pré-guerra em 1952.[71]

Consequências

Mortos e crimes de guerra

Ver artigos principais: Crimes de guerra do Japão Imperial, Crimes de guerra dos Aliados, Julgamentos de Nuremberg e Tribunal Militar Internacional para o Extremo Oriente

Ver página anexa: Mortos na Segunda Guerra Mundial

Mortes durante a Segunda Guerra por país (legendas em inglês).

As estimativas para o total de mortos na guerra variam, pois muitas mortes não foram registradas. A maioria sugere que cerca de 60 milhões de pessoas morreram na guerra,

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incluindo cerca de 20 milhões de soldados e 40 milhões de civis.[72][73][74] Somente na Europa, houve 36 milhões de mortes, sendo a metade de civis. Muitos civis morreram por causa de doenças, fome, massacres, bombardeios e genocídio deliberado. A União Soviética perdeu cerca de 27 milhões de pessoas durante a guerra,[75] quase metade de todas as mortes da Segunda Guerra Mundial.[76] Um em cada quatro cidadãos soviéticos foram mortos ou feridos nessa guerra.[77]

Do total de óbitos na Segunda Guerra Mundial cerca de 85 por cento, na maior parte soviéticos e chineses, foram do lado dos Aliados e 15 por cento do lado do Eixo. Muitas dessas mortes foram causadas por crimes de guerra cometidos pelas forças alemãs e japonesas nos territórios ocupados. Estima-se que entre 11[78] e 17[79] milhões de civis morreram como resultado direto ou indireto das políticas ideológicas nazistas, incluindo o genocídio sistemático de cerca de seis milhões de judeus durante o Holocausto, juntamente com mais cinco milhões de ciganos, eslavos, homossexuais e outras minorias étnicas e grupos minoritários.[80] Aproximadamente 7,5 milhões de civis morreram na China durante a ocupação japonesa[81] e os sérvios foram alvejados pela Ustaše, organização croata alinhada ao Eixo.[82]

Civis chineses sendo enterrados vivos por soldados japoneses.

A atrocidade mais conhecida cometida pelo Império do Japão foi o Massacre de Nanquim, na qual centenas de milhares de civis chineses foram estuprados e assassinadas.[83] Entre 3 milhões e 10 milhões de civis, a maioria chineses, foram mortos pelas forças de ocupação japonesas.[84] Mitsuyoshi Himeta registrou 2,7 milhões de vítimas durante a Sanko Sakusen. O general Yasuji Okamura implementou a política em Heipei e Shandong.[85]

As forças do Eixo fizeram uso de armas biológicas e químicas. Os italianos usaram gás mostarda durante a conquista da Abissínia,[86] enquanto o Exército Imperial Japonês usou uma variedade de armas biológicas durante a invasão e ocupação da China (ver: Unidade 731)[87][88] e nos conflitos iniciais contra os soviéticos.[89] Tanto os alemães quanto os japoneses testaram tais armas contra civis[90] e, em alguns casos, sobre prisioneiros de guerra.[91] Na Alemanha nazista foram realizadas experiências que utilizaram seres humanos como cobaias (ver: Experimentos humanos nazistas).

Embora muitos dos atos do Eixo tenham sido levados a julgamento nos primeiros tribunais internacionais,[92] muitos dos crimes causados pelos Aliados não foram

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julgados. Entre os exemplos de ações dos Aliados estão a transferência de população na União Soviética e o internamento estadunidenses-japoneses em campos de concentração nos Estados Unidos; a Operação Keelhaul,[93] a expulsão dos alemães após a Segunda Guerra Mundial, os estupros em massa de mulheres alemãs pelo Exército Vermelho Soviético; o Massacre de Katyn cometido pela União Soviética, para o qual os alemães enfrentaram contra-acusações de responsabilidade. O grande número de mortes por fome também pode ser parcialmente atribuída à guerra, como a fome de 1943 em Bengala e a fome de 1945 no Vietnã.[94]

Também tem sido sugerido como crimes de guerra por alguns historiadores o bombardeio em massa de áreas civis em território inimigo, incluindo Tóquio e mais notadamente nas cidades alemãs de Dresden, Hamburgo e Colônia pelos Aliados ocidentais,[95] que resultou na destruição de mais de 160 cidades e matou um total de mais de 600 mil civis alemães.[96]

Campos de concentração e trabalho escravo

Ver artigos principais: Campo de concentração, Campo de extermínio, Holocausto, Gueto e Gulag

Ver página anexa: Lista dos campos de concentração nazistas

Vídeo produzido pelos Estados Unidos em 1944 sobre a internação de japoneses naturalizados estadunidenses em campos de concentração.

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Mapa com a localização dos principais guetos e campos (de concentração e extermínio) na Europa durante a guerra.

Os corpos mortos no campo de concentração de Mauthausen-Gusen após a libertação, possivelmente presos políticos ou prisioneiros de guerra soviéticos.

Os nazistas foram responsáveis pelo Holocausto, a matança de cerca de seis milhões de judeus (esmagadoramente asquenazes), bem como dois milhões de poloneses e quatro milhões de outros que foram considerados "indignos de viver" (incluindo os deficientes e doentes mentais, prisioneiros de guerra soviéticos, homossexuais, maçons, testemunhas de jeová e ciganos), como parte de um programa de extermínio deliberado. Cerca de 12 milhões, a maioria dos quais eram do Leste Europeu, foram empregados na economia de guerra alemã como trabalhadores forçados.[97]

Além de campos de concentração nazistas, os gulags soviéticos (campos de trabalho) levou à morte de cidadãos dos países ocupados, como a Polônia, Lituânia, Letônia e Estônia, bem como prisioneiros de guerra alemães e até mesmo cidadãos soviéticos que foram considerados apoiadores ou simpatizantes dos nazistas.[98] Sessenta por cento dos prisioneiros de guerra soviéticos dos alemães morreram durante a guerra.[99] Richard Overy aponta o número de 5,7 milhões de prisioneiros de guerra soviéticos. Destes, cinquenta e sete por cento morreram ou foram mortos, um total de 3,6 milhões.[100] Ex-prisioneiros de guerra soviéticos e civis repatriados foram tratados com grande suspeita e como potenciais colaboradores dos nazistas e alguns deles foram enviados para gulags no momento da revista pelo NKVD.[101]

Os campos de prisioneiros de guerra do Japão, muitos dos quais foram utilizados como campos de trabalho, também tiveram altas taxas de mortalidade. O Tribunal Militar Internacional para o Extremo Oriente concluiu que a a taxa de mortalidade de prisioneiros ocidentais foi de 27,1 por cento (para prisioneiros de guerra estadunidenses, 37 por cento),[102] sete vezes maior do que os prisioneiros de guerra dos alemães e italianos.[103] Apesar de 37.583 prisioneiros do Reino Unido, 28.500 da Holanda e 14.473 dos Estados Unidos tenham sido libertados após a rendição do Japão, o número de chineses foi de apenas 56.[103]

Prisioneiros maltratados e famintos no campo de Mauthausen, na Áustria, em 1945.

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Segundo o historiador Zhifen Ju, pelo menos cinco milhões de civis chineses do norte da China e de Manchukuo foram escravizados pelo Conselho de Desenvolvimento da Ásia Oriental, ou Kōain, entre 1935 e 1941, para trabalhar nas minas e indústrias de guerra. Após 1942, esse número atingiu 10 milhões.[104] A Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos estima que, em Java, entre 4 e 10 milhões de romushas (em japonês: "trabalhadores braçais") foram forçados a trabalhar pelos militares japoneses. Cerca de 270.000 destes trabalhadores javaneses foram enviados para outras áreas dominadas pelos japoneses no Sudeste Asiático e somente 52.000 foram repatriados para Java.[105]

Em 19 de fevereiro de 1942, Roosevelt assinou a Ordem Executiva 9066, internando milhares de japoneses, italianos, estadunidenses, alemães e alguns emigrantes do Havaí que fugiram após o bombardeio de Pearl Harbor durante o período da guerra. Os governos dos Estados Unidos e do Canadá internaram 150.000 estadunidenses-japoneses,[106][107] bem como cerca de 11.000 alemães e italianos residentes nos EUA.[106]

Em conformidade com o acordo Aliado feito na Conferência de Ialta, milhões de prisioneiros de guerra e civis foram usados em trabalhos forçado por parte da União Soviética.[108] No caso da Hungria, os húngaros foram forçados a trabalhar para a União Soviética até 1955.[109]

Desenvolvimento tecnológico

Ver artigos principais: Enigma (máquina), Projeto Manhattan, Ultra e Wunderwaffe

Fat Man, a bomba nuclear usada em Nagasaki

A tecnologia bélica evoluiu rapidamente durante a Segunda Guerra Mundial e foi crucial para determinar o rumo da guerra. Algumas das principais tecnologias foram usadas pela primeira vez, como as bombas nucleares, o radar, sistemas de comunicação por micro-ondas, o fuzil mais rápido, os mísseis balísticos e os processadores analógicos de dados (computadores primitivos). Enormes avanços foram feitos em aeronaves, navios, submarinos e tanques. Muitos dos modelos usados no início da guerra se tornaram obsoletos quando a guerra acabou. Um novo tipo de navio foi adicionado aos avanços: navio de desembarque anfíbio (usado no Dia D).

Prisioneiros de guerra

Ver artigo principal: Prisioneiro de guerra

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Prisioneiros soviéticos enforcados pelas forças alemãs em janeiro de 1943.

Com a derrota e posterior separação da Alemanha, cerca de 3 mil civis alemães viraram prisioneiros de guerra tendo que trabalhar em campos de trabalhos forçados no Gulag, na Rússia. Apenas em 1950, os civis puderam ter a sua liberdade e voltar para a Alemanha.

Muitos dos prisioneiros de guerra alemães e italianos foram trabalhar na reconstrução da Grã-Bretanha e da França. Cerca de 100 mil prisioneiros foram enviados para a Grã-Bretanha e cerca de 700 mil para a França. Além disso, os milhares de soldados presos pelos soviéticos continuaram em cativeiro, diferentemente dos prisioneiros pelos aliados, que foram libertados entre 1945 e 1948.

No início dos anos 1950, alguns prisioneiros alemães foram libertados pelos russos, mas somente em 1955, após a visita de Konrad Adenauer à URSS é que os restantes prisioneiros ainda vivos foram libertados e retornaram a sua terra natal após até 14 anos de cativeiro.

Danos materiais

Os Aliados determinaram o pagamento de indenizações de guerra às nações derrotadas para a reconstrução e indenização dos países vencedores, assinado no Tratado de Paz de Paris. A Hungria, Finlândia e Romênia foi ordenado o pagamento de 300 milhões de dólares (valor baseado no valor do dólar em 1938) para a União Soviética. A Itália foi obrigada a pagar o correspondente a 360 milhões de dólares de indenizações cobrados pela Grécia, Iugoslávia e União Soviética.[carece de fontes]

No fim da guerra, cerca de 70% da infra-estrutura europeia estava destruída. Os países membros do Eixo tiveram que indenizar os países Aliados em mais de 2 bilhões de dólares.

Com a derrota do Eixo, a Alemanha teve expressivos recursos financeiros e materiais transferidos para os Estados Unidos e a União Soviética, além de ter as indústrias bélicas desmanteladas para evitar um novo rearmamento.

A guerra impediu também a realização de eventos esportivos, como foi o caso da Copa do Mundo FIFA de 1942 e de 1946.

Territoriais

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Ver artigo principal: Descolonização da Ásia e da Oceania

Zonas ocupadas pelos Aliados na Alemanha em 1947, com os territórios a leste da linha Oder-Neisse sob administração polaca ou anexação soviética, além do protetorado de Sarre e a Berlim dividida. A Alemanha Oriental era formada pela Zona Soviética, enquanto a Alemanha Ocidental era formada pelas zonas estadunidense, britânica e francesa em 1949 e do Sarre em 1957.

As transformações territoriais provocadas pela Segunda Guerra começaram a ser delineadas pouco antes do fim desta. A Conferência de Ialta (4-12 de Fevereiro de 1945) teria como resultado a partilha entre os Estados Unidos e a União Soviética de zonas de influência na Europa. Alguns meses depois a Conferência de Potsdam, realizada já com a derrota da Alemanha, consagra a divisão deste país em quatro zonas administradas pelas potências vencedoras. No lado Oriental, ficaria a administração sob incumbência da União Soviética e, no lado Ocidental, a administração ficaria sob incumbência dos Estados Unidos, França e Reino Unido, tendo estas duas últimas desistido da incumbência.

A Itália perderia todas as suas colónias; a Ístria acabaria por ser integrada na Jugoslávia, tendo também sofrido pequenas alterações fronteiriças a favor da França.

O território da nação polaca desloca-se para oeste, integrando províncias alemãs (Pomerânia, Brandemburgo, Silésia), colocando a sua fronteira ocidental até aos cursos do Oder e do Neisse. A URSS progrediu igualmente para oeste, graças principalmente à reversão das perdas territoriais sofridas pelo Pacto de Brest-Litovsk: houve a criação da República Socialista Soviética da Bielorrússia (numa área de maioria étnica bielorussa, mas que havia sido concedida à Polônia), e também a ampliação da Ucrânia, que também havia perdido território, duas décadas antes, para a Polônia.

O Japão teve que abandonar, de acordo com o estabelecido no acordo de paz de 1951 com os Estados Unidos, a Manchúria e a Coreia, além dos territórios que havia conquistado durante o conflito. Nos anos 1970, os Estados Unidos devolvem Okinawa ao Japão.

Políticas

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Ver artigo principal: ONU

Sede da Organização das Nações Unidas (ONU) em Nova Iorque. A fundação da ONU foi uma das consequências da II grande guerra

No plano político, a Segunda Guerra Mundial produziu, entre outros, os seguintes resultados:[110]

O esmagamento dos imperialismos alemão, italiano e japonês; O enfraquecimento dos imperialismos britânico e francês; O início da descolonização, com independência das antigas colônias

européias na Ásia; A criação do Estado de Israel em 1948; Ascensão dos Estados Unidos como potência imperialista hegemônica

no mundo; Ascensão da URSS como potência militar dominante na Europa

Oriental; Ascensão dos movimentos de libertação nacional nos países explorados

pelo colonialismo europeu, em alguns casos combinando nacionalismo com revolução social (como na China);

Deflagração da Guerra Fria, como um teste de força entre os Estados Unidos e a União Soviética;

O sistema financeiro de Bretton Woods e a criação do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial;

Fundação da Organização das Nações Unidas, em Junho de 1945, em substituição à Sociedade das Nações.

Uma das razões apontadas para o fracasso da Liga das Nações seria a igualdade entre países pequenos e grandes, bloqueando o processo de tomada de decisões. Valendo-se desse discutível argumento, as potências vencedoras da Segunda Guerra Mundial reservaram-se um papel de destaque e domínio dentro da ONU, através de assento

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permanente no Conselho de Segurança, onde possuem direito de veto. Os outros membros do Conselho são seis países eleitos rotativamente (sem poder de veto).

Herança humana

A herança de destruição deixada pela Segunda Guerra Mundial foi assombrosa. Além das mortes causadas, direta ou indiretamente (fome e doenças), pelo conflito, dezenas de cidades foram arrasadas, inúmeras florestas desapareceram, e milhares de hectares de terras cultiváveis foram transformados em desertos, em proporções nunca vistas desde a Guerra dos Trinta Anos.

Mas o pior foi a devastação causada ao comportamento humano. Violência bárbara e desrespeito generalizado aos mais elementares direitos humanos - sobretudo o direito à vida -, disseminaram-se numa escala bem maior do que se viu durante e depois da Primeira Guerra Mundial, e cujos exemplos mais gritantes foram os Holocaustos nazistas, o Massacre de Nanquim e as bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki.

Recursos materiais volumosos, capazes de alimentar, vestir e educar milhões de seres humanos, que vivem na linha da pobreza (ou abaixo dela), foram desperdiçados para fins puramente destrutivos.[111]

Participação de países lusófonos

Brasil

Ver artigo principal: Brasil na Segunda Guerra Mundial

Monumento aos Pracinhas, Rio de Janeiro, Brasil

Embora estivesse sendo comandado por um regime ditatorial simpático ao modelo fascista (o Estado Novo getulista), o Brasil acabou participando da Guerra junto aos Aliados. Em fevereiro de 1942, submarinos alemães e italianos iniciaram o torpedeamento de embarcações brasileiras no oceano Atlântico em represália à adesão do Brasil aos compromissos da Carta do Atlântico (que previa o alinhamento automático com qualquer nação do continente americano que fosse atacada por uma potência extra-continental), o que tornava sua neutralidade apenas teórica.

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Devido à pressão popular, após meses de torpedeamento de navios mercantes brasileiros, finalmente o Brasil declarou guerra à Alemanha nazista e à Itália fascista, em agosto de 1942. Sendo na época, um país com uma população majoritariamente analfabeta, vivendo no campo, com uma economia com foco principal voltado para exportação de commodities, uma política internacional tradicionalmente isolacionista com eventuais alinhamentos automáticos contra "perturbadores da ordem e do comércio internacionais", sem uma infra-estrutura industrial-médico-educacional que pudesse servir de sustentação material e humana ao esforço de guerra que aquele conflito exigia[112], o Brasil não apenas se viu impedido de seguir uma linha de ação autônoma no conflito como encontrou dificuldades em assumir mesmo um modesto papel[113]. A Força Expedicionária Brasileira, por exemplo, teve sua formação inicialmente protelada por um ano após a declaração de guerra. Por fim, seu envio para a frente de batalha foi iniciado somente em julho de 1944, quase 2 anos após a declaração. Tendo sido enviados cerca de 25 000 homens, de um total inicial previsto de 100 000. Mesmo com problemas na preparação e no envio, já na Itália, treinada e equipada pelos americanos, a FEB cumpriu as principais missões que lhe foram atribuídas pelo comando aliado.

O historiador Frank McCann, afirma que o Brasil foi convidado a fazer parte da ocupação da Áustria.[114] Porém o Presidente Vargas optou por desmobilizar a Expedição enquanto esta ainda estava na Itália. Antes do ano de 1945 terminar, os soldados já estavam voltando para casa.[115]

Portugal

Ver artigo principal: Portugal na Segunda Guerra Mundial

Durante a Segunda Grande Guerra, Portugal estava sob um regime político quase fascista (Estado Novo) e que, embora se declarasse neutro, era um país que vendia os seus produtos aos países que pagavam mais, fossem aliados, neutros ou do eixo. O Estado Português, em Março de 1939, assina um tratado de amizade e não agressão com a Espanha nacionalista, representada pela Junta de Burgos e pelo Nuevo Estado dirigido por Franco, recusando o convite do embaixador italiano, em Abril do mesmo ano, para aderir ao Pacto Anti-Komintern, aliança da Alemanha, Itália e Japão contra a ameaça comunista.

Em Agosto de 1939, a Grã-Bretanha assina um acordo de cooperação militar com Portugal, aceitando apoiar directamente o esforço de rearmamento e modernização das forças armadas portuguesas. Todavia, o acordo só começará a ser cumprido a partir de Setembro de 1943. No dia 29 de Junho de 1940, Espanha e Portugal assinam um protocolo adicional ao Tratado de Amizade e Não Agressão. Embora se tenha declarado como um país neutro, Portugal assina um Acordo Luso-Britânico, em Agosto de 1943, que concede ao Reino Unido instalações militares nos Açores, que será divulgado em 12 de Outubro seguinte. Embora, tal como já foi referido, Portugal fosse para todos os efeitos um país neutro no panorama da Segunda Guerra Mundial, exportava uma série de produtos para os países em conflito, como açúcar, tabaco e mesmo volfrâmio (tungstênio), produto cuja exportação é suspensa apenas em 1944, datando deste mesmo ano o acordo de concessão de instalações militares nos Açores com os Estados Unidos. Com o final da guerra, o governo de Salazar decreta luto oficial de três dias pela morte de Hitler aquando da sua morte, em 1945.

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GUERRA FRIAOrigem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

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Guerra Fria

Mikhail Gorbachev, Secretário-Geral do Partido

Comunista da União Soviética, e Ronald

Reagan, Presidente dos Estados Unidos,

assinando o Tratado INF.

Data 1945 — 1991

Local Global

Desfecho

Vitória do Primeiro Mundo (capitalistas)

Status Fim da União Soviética

Fim do socialismo na maioria dos países de Segundo Mundo

Divisão do mundo de acordo com a Teoria dos

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Mundos, principalmente Introdução do capitalismo

como exemplo mundial

Intervenientes

Primeiro Mundo (capitalistas)

 Estados Unidos

 Canadá  Reino

Unido  França  Itália  Alemanha

Ocidental  Vietnã do

Sul  Espanha  Portugal  Irlanda  Bélgica  Países

Baixos

Suíça  Áustria  Dinamarca  Noruega  Suécia  Finlândia  Islândia  Grécia  Chipre  Turquia  Luxemburg

o  Liechtenstei

n  Andorra  São Marino  Austrália  Nova

Zelândia  Japão  Coreia do

Sul

Segundo Mundo (socialistas)

 União Soviética

 China  Alemanha

Oriental Vietnã do

Norte Coreia do

Norte  Cuba Laos Mongólia  Polónia  Bulgária  Hungria  Eslováqui

a  República

Checa  Roménia  Albânia  Bósnia e

Herzegovina  Croácia  Macedóni

a  Sérvia  Montenegr

o

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Taiwan

Guerra Fria é a designação atribuída ao período histórico de disputas estratégicas e conflitos indiretos entre os Estados Unidos e a União Soviética, compreendendo o período entre o final da Segunda Guerra Mundial (1945) e a extinção da União Soviética (1991). Em resumo, foi um conflito de ordem política, militar, tecnológica, econômica, social e ideológica entre as duas nações e suas zonas de influência.

Uma parte dos historiadores argumenta que foi uma disputa dos paises que apoiavam as Liberdades civis, como a liberdade de opinião e de expressão e de voto, representada pelos Estados Unidos e outros paises ocidentais e do outro lado a ditadura comunista ateia [1][2], onde era suprimida a possibilidade de eleger e de discordar, defendida pela União Soviética (URSS)[3] e outros países onde o comunismo fora imposto por ela.

Outra parte dos historiadores defende que esta foi uma disputa entre o capitalismo, representado pelos Estados Unidos e o socialismo totalitario, onde fora suprimida a propriedade privada, defendida pela União Soviética (URSS). Entretanto, esta caracterização só pode ser considerada válida com uma série de restrições e apenas para o período do imediato pós-Segunda Guerra Mundial, até a década de 1950. Logo após, nos anos 1960, o bloco socialista se dividiu e durante as décadas de 1970 e 1980, a China comunista se aliou aos Estados Unidos na disputa contra a União Soviética. Além disso, muitas das disputas regionais envolveram Estados capitalistas, como os Estados Unidos contra diversas potências locais mais nacionalistas.

É chamada "fria" porque não houve uma guerra direta ou seja bélica, "quente", entre as duas superpotências, dada a inviabilidade da vitória em uma batalha nuclear. A corrida armamentista pela construção de um grande arsenal de armas nucleares foi o objetivo central durante a primeira metade da Guerra Fria, estabilizando-se na década de 1960 até à década de 1970 e sendo reativada nos anos 1980 com o projeto do presidente estadunidense Ronald Reagan chamado de "Guerra nas Estrelas".

Dada a impossibilidade da resolução do confronto no plano estratégico, pela via tradicional da guerra aberta e direta que envolveria um confronto nuclear; as duas superpotências passaram a disputar poder de influência política, econômica e ideológica em todo o mundo. Este processo se caracterizou pelo envolvimento dos Estados Unidos e União Soviética em diversas guerras regionais, onde cada potência apoiava um dos lados em guerra. Estados Unidos e União Soviética não apenas financiavam lados opostos no confronto, disputando influência político-ideológica, mas também para mostrar o seu poder de fogo e reforçar as alianças regionais.

Neste contexto, os chamados países não alinhados, mantiveram-se fora do conflito não alinhando-se aos blocos pró-URSS ou pró-EUA. E formariam um "terceiro bloco" de países neutros: o Movimento Não Alinhado.

Norte-americanos e soviéticos travaram uma luta ideológica, política e econômica durante esse período. Se um governo socialista fosse implantado em algum país do Terceiro Mundo, o governo norte-americano entendia como uma ameaça à sua hegemonia; se um movimento popular combatesse um governo aliado à soviético, logo poderia ser visto com simpatia pelos Estados Unidos e receber apoio.

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A Guerra da Coreia (1950-1953), a Guerra do Vietnã (1962-1975) e a Guerra do Afeganistão (1979-1989) são os conflitos mais famosos da Guerra Fria. Além da famosa tensão na Crise dos mísseis em Cuba (1962) e, também na América do Sul, a Guerra das Malvinas (1982). Entretanto, durante todo este período, a maior parte dos conflitos locais, guerras civis ou guerras inter-estatais foi intensificado pela polarização entre EUA e URSS.

Esta polarização dos conflitos locais entre apenas dois grandes polos de poder mundial, é que justifica a caracterização da polaridade deste período como bipolar. Principalmente porque, mesmo que tenham existido outras potências regionais entre 1945 e 1991, apenas Estados Unidos e URSS tinham capacidade nuclear de segundo ataque, ou seja, capacidade de dissuasão nuclear.

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Índice

1 História o 1.1 A Crise no Pós-Guerra

1.1.1 Operação Impensável 1.1.2 Bloqueio de Berlim (Junho/1948 - Maio/1949)

o 1.2 Plano Marshall e COMECON o 1.3 Corrida armamentista o 1.4 OTAN e Pacto de Varsóvia o 1.5 Guerra da Coreia (Junho/1950 - Julho/1953) o 1.6 Operação Washtub o 1.7 Corrida Espacial o 1.8 Arpanet o 1.9 A coexistência pacífica (1953   - 1962) o 1.10 Os países não alinhados o 1.11 Crises da Guerra Fria (1956   - 1962)

1.11.1 Revolução húngara (1956) 1.11.2 Guerra de Suez (1956) 1.11.3 Crise dos Mísseis (1962) 1.11.4 América Latina

o 1.12 A Distensão (1962 - 1979) 1.12.1 Guerra do Vietnã (1964 - 1975) 1.12.2 A Distensão na Europa 1.12.3 O reconhecimento da China pelos Estados Unidos

o 1.13 A "Segunda" Guerra Fria (1979-1985) o 1.14 A Era Gorbachev - o fim da Guerra Fria (1985-1991)

1.14.1 Perestroika e Glasnost 1.14.2 O desalinhamento das repúblicas orientais

2 Nova Guerra Fria o 2.1 A Era Medvedev (2008-2009) o 2.2 A Guerra na Ossétia do Sul e Geórgia

3 Cronologia 4 Ver também 5 Referências

História

A Crise no Pós-Guerra

Com o final da Segunda Guerra Mundial, a Europa estava arrasada e ocupada pelos exércitos das duas grandes potências vencedoras, os Estados Unidos e a URSS. O desnível entre o poder destas duas superpotências e o restante dos países do mundo era tão gritante, que rapidamente se constitui um sistema global bipolar, ou seja, centrada em dois grandes polos.

Os Estados Unidos defendiam a economia capitalista, argumentando ser ela a representação da democracia e da liberdade. Em contrapartida a URSS enfatizava o socialismo, argumentando defesa ao domínio burguês e solução dos problemas sociais.

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Churchill, Roosevelt e Stalin na Conferência de Ialta, 1945.

Sob a influência das duas doutrinas, o mundo foi dividido em dois blocos liderados cada um por uma das superpotências: a Europa Ocidental e a América Central e do Sul sob influência cultural, ideológica e econômica estado-unidense, e parte do Leste Asiático, Ásia central e Leste europeu, sob influência soviético. Assim, o mundo dividido sob a influência das duas maiores potências econômicas e militares da época, estava também polarizado em duas ideologias opostas: o Capitalismo e o Socialismo totalitario.

Entretanto era notória deste o início da Guerra Fria a superioridade norte americana.[carece de fontes] Em 1945 os Estados Unidos tinham metade do PIB mundial, 2/3 das reservas mundiais de ouro, 60% da capacidade industrial ativa do mundo, 67% da capacidade produtora de petróleo, além da maior Marinha e da maior Força Aérea que existia. Seus exércitos ocupavam parte da Europa ocidental e o Japão, algumas das zonas foram as mais ricas e industrializadas do mundo antes da Guerra. Também ocupavam parte do sudeste asiático, especificamente metade da península da Coreia e grande parte das ilhas do Pacífico. O território continental americano nunca havia sido realmente ameaçado durante a Segunda Guerra Mundial, sendo que a batalha travada geograficamente mais próxima do continente foi a de Pearl Harbor, no Havai.

Por sua vez a União Soviética ocupava a metade oriental da Europa e a metade norte da Ásia, uma parte da Manchúria e da Coreia, regiões tradicionalmente agrícolas e pobres. O próprio território soviético havia sido palco de batalhas durante a II Guerra Mundial, contra divisões alemãs. O resultado é que em 1945 os Estados Unidos contabilizavam cerca de 500 mil mortos na guerra, contra cerca de 20 milhões de soviéticos mortos (civis e militares). Centenas de cidades soviéticas estavam destruídas em 1945. A maior parte das industrias, da capacidade produtiva agrícola e da infra-estrutura de transportes, energia e comunicações estava destruída ou seriamente comprometida.

Operação Impensável

Ver artigo principal: Operação Impensável

Operação Impensável é o nome de um plano inicial de guerra feito pelo governo britânico em 1945. Tal operação consistia na invasão da então União Soviética por forças militares britânicas, poloneses exilados, americanos e mesmo alemães recém rendidos.

Page 111: Guerra Dos Farrapos REIS

Bloqueio de Berlim (Junho/1948 - Maio/1949)

Ver artigo principal: Bloqueio de Berlim, Desnazificação, Zonas ocupadas pelos Aliados na Alemanha, Zonas ocupadas pelos Aliados na Áustria

Após a derrota alemã na Segunda Guerra, os países vencedores lhe impuseram pesadas sanções. Dentre as quais a divisão da Alemanha em 4 áreas administrativas, cada uma chefiada por um dos vencedores: Estados Unidos, França, Reino Unido e União Soviética e duas zonas de influência: Capitalista e Socialista. Berlim, a capital da Alemanha, também foi dividida, ainda que sob território de influência soviética. A comunicação entre o lado ocidental da cidade fragmentada e as outras zonas era feita por pontes aéreas e terrestres.

C-47 no Aeroporto de Tempelhof em Berlim durante o Bloqueio de Berlim.

Em 1948, numa tentativa de controlar a inflação galopante da Alemanha, os Estados Unidos, a França e o Reino Unido criaram uma "trizona" entre suas zonas de influência, para fazer valer nestes territórios o Deutsche Mark (Marco alemão). Josef Stalin, então líder da URSS, reprovou a ideia e, como contra-ataque, procurou reunificar Berlim sob sua influência. Desse modo, em 23 de Junho de 1948, todas as rotas terrestres foram fechadas pelas tropas soviéticas, privando a cidade de alimentos e combustiveis, numa violação dos acordos da Conferência de Ialta.

Para não abandonar as zonas ocidentais de Berlim e dar vitória à União Soviética, os países ocidentais prontificaram-se a criar uma grande ponte aérea, em que aviões de transporte de cargas estado-unidenses, ingleses, e australianos saíam da "trizona" levando mantimentos aos mais de dois milhões de berlinenses que viviam no ocidente da cidade. Stalin reconheceu a derrota dos seus planos em 12 de Maio de 1949. Pouco depois, as zonas estado-unidense, francesa e britânica se unificaram, originando a Bundesrepublik Deutschland (República Federativa da Alemanha ou Alemanha Ocidental), cuja capital era Bonn. Da zona soviética surgiu a Deutsche Demokratische Republik (República Democrática Alemã ou Alemanha Oriental), com capital Berlim, a porção oriental.[4][5]

Plano Marshall e COMECON

Ver artigo principal: Plano Marshall, COMECON

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Mapa da Europa mostrando os países que receberam ajuda do Plano Marshall. As colunas azuis mostram a quantidade total relativa de ajuda por país.

A fragilização das nações europeias, após uma guerra violenta, permitiu que os Estados Unidos estendessem uma série de apoios econômicos à Europa aliada, para que estes países pudessem se reerguer e mostrar as vantagens do capitalismo. Assim, o Secretário de Estado dos Estados Unidos, George Marshall, propõe a criação de um amplo plano econômico, que veio a ser conhecido como Plano Marshall. Tratava-se da concessão de uma série de empréstimos a baixos juros e investimentos públicos para facilitar o fim da crise na Europa Ocidental e repelir a ameaça do socialismo entre a população descontente. Durante os primeiros anos da Guerra Fria, principalmente, os Estados Unidos fizeram substanciais investimentos nos países aliados, com notável destaque para o Reino Unido, a França e a Alemanha Ocidental.

O Japão, entre 1947 e 1950, recebeu menos apoio americano. A situação só se transformou com a explosão da Guerra da Coreia, que fez do Japão o principal aliado das tropas das Nações Unidas. Após a declaração da guerra, os americanos realizaram importantes investimentos na economia japonesa, que também foi impulsionada com a demanda de guerra.

Em 1951 foi elaborado o Plano Colombo, uma organização realizada por países do Sudeste Asiático, com intenções de reestruturação social. Os norte-americanos realizaram alguns investimentos para estimular a economia do sub-continente, mas o volume de capital investido foi muito menor ao destacado para o Plano Marshall, porém bem menos ambicioso, para estimular o desenvolvimento de países do sul e sudeste da Ásia.

Em resposta ao plano econômico estadunidense, a União Soviética propôs-se a ajudar também seus países aliados, com a criação do COMECON (Conselho para Assistência Econômica Mútua). O COMECON fora proposto como maneira de impedir os países-satélites da União Soviética de demonstrar interesse no Plano Marshall, e não abandonarem a esfera de influência de Moscou.

Corrida armamentista

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Ver artigo principal: Corrida armamentista

Teste nuclear realizado em 18 de Abril de 1953 na Área de Testes de Nevada.

Terminada a Segunda Guerra Mundial, as duas potências vencedoras dispunham de uma enorme variedade de armas, muitas delas desenvolvidas durante o conflito, outras obtidas dos cientistas alemães e japoneses.

Novos tanques, aviões, submarinos, navios de guerra e mísseis balísticos constituíam as chamadas armas convencionais. Mas também haviam sido desenvolvidas novas gerações de armas não convencionais, como armas químicas, que praticamente não foram utilizadas em batalha. A Alemanha que desenvolveu a maior indústria de armas químicas do mundo, utilizou esses gases mortais em câmaras de gás nos campos de concentração. Algumas armas biológicas foram testadas, principalmente pelo Japão na China ocupada, mas a tecnologia da época ainda era muito pouco eficiente. O maior destaque ficou com uma nova arma não-convencional, mais poderosa que qualquer outra arma já testada até então: bomba atómica. Só os Estados Unidos tinham essa tecnologia, o que aumentava em muito seu poderio bélico e sua superioridade militar estratégica em relação aos soviéticos.

A União Soviética iniciou então seu programa de pesquisas para também produzir tais bombas, o que conseguiu em 1949. Mas logo a seguir, os Estados Unidos testavam a primeira bomba de hidrogênio, centena de vezes mais poderosa. A União soviética levaria até 1953 para desenvolver a sua versão desta arma, dando início a uma nova geração de ogivas nucleares menores, mais leves e mais poderosas.

A União Soviética obteve a tecnologia para armas nucleares através de espionagem. Em 1953, nos Estados Unidos, o casal Julius e Ethel Rosenberg foi condenado a morte por transmitir à União Soviética segredos sobre a bomba atómica norte americana.

Essa corrida ao armamento era movida pelo receio recíproco de que o inimigo passasse a frente na produção de armas, provocando um desequilíbrio no cenário internacional. Se um deles tivesse mais armas, seria capaz de destruir o outro.

A corrida atingiu proporções tais que, já na década de 1960, os Estados Unidos e a URSS tinham armas suficiente para vencer e destruir qualquer outro país do mundo. Uma quantidade tal de armas nucleares foi construída, que permitiria a qualquer uma

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das duas superpotências, sobreviver a um ataque nuclear massivo do adversário, e a seguir, utilizando apenas uma fração do que restasse do seu arsenal, pudesse destruir o mundo. Esta capacidade de sobreviver a um primeiro ataque nuclear, para a seguir retaliar o inimigo com um segundo ataque nuclear devastador, produziu medo suficiente nos líderes destes dois países para impedir uma Guerra Nuclear, sintetizado em conceitos como Destruição Mútua Assegurada ou "Equilíbrio do terror".

OTAN e Pacto de Varsóvia

Ver artigo principal: OTAN, Pacto de Varsóvia

Em 1949 os Estados Unidos e o Canadá, juntamente com a maioria dos paises europeus, suportados alguns destes com governos que incluiam os socialistas, criaram a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), uma aliança militar com o objetivo de proteção internacional em caso de um suposto ataque dos países do leste europeu.

Em resposta à OTAN, a URSS firmou entre ela e seus aliados o Pacto de Varsóvia (1955) para unir forças militares da Europa Oriental. Logo as alianças militares estavam em pleno funcionamento, e qualquer conflito entre dois países integrantes poderia ocasionar uma guerra nunca vista antes.

Mapa dos países pertencentes ao Pacto de Varsóvia.

A tensão sentida pelas pessoas com relação às duas superpotências acentuou-se com o início da corrida armamentista, cujo “vencedor” seria a potência que produzisse mais armas e mais tecnologia bélica. Em contraponto, a corrida espacial trouxe grandes inovações tecnológicas e proporcionou um grande avanço nas telecomunicações e na informática.

O macartismo, criado pelo senador estadunidense Joseph McCarthy nos anos 50, culminou na criação do Comitê de Investigação de Atividades Antiamericanas do Senado dos Estados Unidos. Em outras palavras, toda e qualquer atividade pró-comunismo estava terminantemente proibida e qualquer um que as estimulasse estaria sujeito à prisão ou extradição. Inúmeros artistas e produtores de filmes ou de programas de televisão que criticavam o governo americano foram acusados de comunistas. Foi criada a Lista Negra de Hollywood contendo os nomes de pessoas do meio artístico acusados de atividades antiamericanas.

A era do macartismo acabou por extirpar do meio artístico americano a maior parte dos produtores progressistas ou simpatizantes da esquerda. A URSS aplicou extensivamente

Page 115: Guerra Dos Farrapos REIS

o Artigo 58 de seu Código Penal na Zona de ocupação soviética na Alemanha, onde as pessoas eram internadas como "espiões" pela simples suspeita de oposição ao regime stalinista, como pelo simples ato de contatar organizações com base nas Zonas ocupadas pelos Aliados ocidentais.[6] No campo especial da NKVD em Bautzen, 66% dos presos, tinham sido encarcerados por suspeita de apoiarem o capitalismo .[6]

Guerra da Coreia (Junho/1950 - Julho/1953)

Ver artigo principal: Guerra da Coreia

O único grande confronto militar que envolveu batalhas em que de um lado haviam forças militares americanas e do outro forças soviéticas, foi a Guerra da Coreia. A península da Coreia foi dividida, em 1945, pelo paralelo 38 N, em duas zonas de influência: uma ao norte, ocupada pela União Soviética, e a partir de 1949 pela República Popular da China, comunista; era a República Popular Democrática da Coreia. A outra porção, ao sul do paralelo 38 N, foi ocupada pelas tropas americanas e permaneceu capitalista com apoio das nações ocidentais passou a ser conhecida como República da Coreia.

Forças das Nações Unidas em retirada da Coreia do Norte, após o armistício.

Em 1950, os líderes da Coreia do Norte, incentivada pela vitória do socialismo na China um ano antes, recebeu apoio da URSS para tentar reunificar a Coreia sob o comando de um governo socialista, invadiu e ocupou a capital sul-coreana Seul, desencadeando um conflito armado. Os Estados Unidos solicitaram ao Conselho de Segurança das Nações Unidas, a formação de uma força multinacional para defender a Coreia do Sul. Na ocasião a URSS se recusou a participar da reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas em que esta medida foi discutida, e os Estados Unidos conseguiram legitimar a primeira grande batalha militar da Guerra Fria contra o bloco soviético.

As tropas anglo-americanas fizeram a resistência no sul, reconquistando a cidade e partindo em uma investida contra o norte. A China, sentindo-se ameaçada pela aproximação das forças ocidentais, enviou reforços à frente de batalha, fazendo da Coreia um grande campo de batalha.

Após muitas batalhas, com avanços e recuos de ambos os lados, um primeiro acordo de paz é negociado, mas demora dois anos para ser ratificado. O General americano

Page 116: Guerra Dos Farrapos REIS

Douglas MacArthur chegou a solicitar o uso de armas nucleares contra a Coreia do Norte e a China, mas foi afastado do comando das forças americanas.

Apenas quando a União Soviética já havia testado sua primeira bomba de hidrogênio, em 1953, é que um armistício foi assinado em Panmunjon, em 27 de Julho de 1953. O acordo manteve a península da Coreia dividida em dois Estados soberanos, praticamente como antes do início da guerra, com mudanças mínimas na linha de fronteira. Essa divisão da Coreia em dois países se mantém até hoje. Em Junho de 2000, os governos das duas Coreias anunciaram planos de reaproximação dos dois países. Isso significou o início da desmilitarização da região, a diminuição do isolamento internacional da Coreia do Norte e, para milhares de coreanos, a possibilidade de reencontrar parentes separados há meio século pelo conflito. Pela tentativa, o então presidente da Coreia do Sul, Kim Dae Jung, recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 2000.

Operação Washtub

Ver artigo principal: Operação Washtub

A Operação Washtub, foi uma operação secreta da CIA organizada para plantar um falso esconderijo de armas Soviético na Nicarágua para demonstrar que a Guatemala tinha laços com Moscou. A operação fazia parte de um plano para derrubar o Presidente da Guatemala, Jacobo Arbenz Guzmán em 1954.

Corrida Espacial

Ver artigo principal: Corrida espacial

Yuri Gagarin, a primeira pessoa no espaço (1961).

Um dos campos que mais se beneficiaram com a Guerra Fria foi o da tecnologia.[7] Na urgência de se mostrarem superiores aos rivais, Estados Unidos e União Soviética

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procuraram melhorar os seus arsenais militares. Como consequência, algumas tecnologias conhecidas hoje (como alguns tecidos sintéticos) foram frutos dessa corrida.

A corrida espacial está nesse contexto. A tecnologia aeroespacial necessária para o lançamento de mísseis e de foguetes é praticamente a mesma, e portanto os dois países investiram pesadamente na tecnologia espacial.[7]

Sentindo-se ameaçada pelos bombardeiros estratégicos americanos, carregados de artefatos nucleares que sobrevoavam as fronteiras com a URSS constantemente, a URSS começou a investir em uma nova geração de armas que compensasse esta debilidade estratégica. Assim, a União Soviética dá início à corrida espacial no ano de 1957, quando os soviéticos lançaram Sputnik, o primeiro artefato humano a ir ao espaço e orbitar o planeta. Em novembro do mesmo ano, os russos lançaram Sputnik II e, dentro da nave foi a bordo o primeiro ser vivo a sair do planeta: a cadela Laika.

Após as missões Sputnik, os Estados Unidos entraram na corrida, lançando o Explorer I, em 1958. Mas a União Soviética tinha um passo na frente, e em 1961 os soviéticos conseguiram lançar Vostok I, que era tripulada por Yuri Gagarin, o primeiro ser humano a ir ao espaço e voltar são e salvo.

Astronauta Buzz Aldrin fotografado por Neil Armstrong (o primeiro homem a pisar na Lua) durante a missão Apollo 11, em 20 de Julho de 1969.

A partir daí, a rivalidade aumentou a ponto de o presidente dos Estados Unidos, John F. Kennedy, prometer enviar americanos à Lua e trazê-los de volta até o fim da década. Os soviéticos apressaram-se para vencer os estadounidenses na chegada ao satélite.[7] As missões Zond deveriam levar os primeiros humanos a orbitarem a Lua, mas devido a falhas, só foi possível aos soviéticos o envio de missões não-tripuladas, Zond 5 e Zond 6, em 1968. Os Estados Unidos, por outro lado, conseguiram enviar a missão tripulada Apollo 8 no Natal de 1968 a uma órbita lunar.

O passo seguinte, naturalmente, seria o pouso na superfície da Lua. A missão Apollo 11 conseguiu realizar com sucesso a missão, e Neil Armstrong e Edwin Aldrin tornaram-se os primeiros humanos, respectivamente, a caminhar em outro corpo celeste.[7]

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A corrida espacial se tornou secundária com a distensão dos anos 1960-1970, mas volta a ter relevância nos anos 1980, no que pode ser considerado o último capítulo daquela disputa. O presidente dos Estados Unidos anuncia investimentos bilionários na construção de um sistema espacial de defesa anti-mísseis balísticos.[7] A oficialmente denominada Iniciativa Estratégica de Defesa e conhecida como guerra nas estrelas, poderia defender o território americano dos mísseis russos e acabar com a lógica da Destruição Mútua Assegurada.

Neste contexto os Estados Unidos enviam ao espaço o primeiro veículo espacial reutilizáveis: o ônibus espacial.[7] A URSS levaria alguns anos para construir a sua versão do ônibus espacial, (o Buran) mas foi a primeira a colocar no espaço uma nave espacial armada de ogivas nucleares, a Polyus, que teria sido destruída pelos próprios líderes soviéticos em 1987, quando já estavam avançadas as negociações diplomáticas para por fim à Guerra Fria.

Arpanet

Ver artigo principal: ARPANET

Mapa da rede ARPANET em 1972.

Outro campo em que ocorreu grande desenvolvimento durante a Guerra Fria foi o das comunicações. Temendo um possível bombardeio soviético, durante a década de 1960, O Pentágono financiou o desenvolvimento de um sistema de comunicação entre os computadores, que envolveu centros de pesquisa militares e civis, como algumas das principais universidades americanas. A rede de comunicações criada pela agência Arpa ficaria conhecida como Arpanet.

A lógica do sistema era a seguinte: caso fosse feito um bombardeio soviético, a central de informações não estaria em um só lugar, mas sim em vários pontos conectados em uma rede, ou seja, cada nó da rede funcionaria como uma central, todas conectadas entre si. A infraestrutura da rede foi construída com fibra óptica para não sofrer interferência dos pulsos eletromagnéticos produzidos pelas explosões nucleares.[8] O sistema foi inaugurado com sucesso em 1969, na Universidade da Califórnia (UCLA), com o envio de uma mensagem de caracteres para outro servidor.

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Durante toda a década de 1970 e 1980 o uso dessa tecnologia se manteve restrito a fins militares e acadêmicos. Somente em Convenção realizada no ano de 1987 a rede seria liberada para uso comercial. A partir de então a Arpanet passou a se chamar Internet. Em 1990, o físico inglês Tim Berners-Lee criaria o HTML (Linguagem de Marcação de Hipertexto). Na década de 1990 a Internet passaria por um processo de expansão gigantesco, tornando-se um grande meio de comunicação da atualidade.

A coexistência pacífica (1953 - 1962)

Nikita Khrushchov.

Ver artigo principal: Coexistência pacífica

Após a morte de Stalin, em 1953, Nikita Khrushchov subiu ao posto de Secretário-Geral do Partido Comunista da União Soviética e, portanto, governante dos soviéticos. Condenou os crimes de seu antecessor e pregou a política da coexistência pacífica entre os soviéticos e americanos, o que significaria os esforços de ambos os lados em evitar o conflito militar, havendo apenas confronto ideológico e tecnológico (corrida espacial). Houve apenas tentativas de espionagem. Esta política também possibilitou uma aproximação entre os líderes. Khrushchov reuniu-se diversas vezes com os presidentes americanos: com Dwight D. Eisenhower, em 1956, no Reino Unido; em 1959 nos Estados Unidos; e em 1960 na França; e com Kennedy se encontrou uma vez, em 1961, em Viena, Áustria.

Os países não alinhados

Ver artigo principal: Conferência de Bandung, Movimento Não Alinhado

Um grupo de países optou por não tomar parte na Guerra Fria. Em sua maioria, países africanos, asiáticos e ex colônias europeias de independência recente. Para garantir sua neutralidade, os assim denominados países não alinhados promoveram, em abril de 1955 e através da Conferência de Bandung, a criação do Movimento Não Alinhado. Seu

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objetivo era dar apoio e segurança aos países em desenvolvimento contra as duas superpotências. Condenavam o colonialismo, imperialismo e o domínio de países estrangeiros em geral.[9]

A primeira conferência do movimento foi realizada em setembro de 1961, na cidade de Belgrado, com a presença de representantes de 25 países.[9] Nessas conferências, se torna óbvio os conflitos entre os países do movimento, como por exemplo, entre o Irã e o Iraque, o que favorecia a posição das duas superpotências e até da China. Além disso, era difícil a neutralidade dos países por causa da fraca economia e agrava-se pelo atraso no desenvolvimento dos países recém-independentes.[10]

Com o fim da Guerra Fria e a extinção da União Soviética, o princípio político de "neutralidade" deixou de ter um sentido comum.[10]

Crises da Guerra Fria (1956 - 1962)

Revolução húngara (1956)

Ver artigo principal: Primavera de Praga, Revolução Húngara de 1956

Cabeça da estátua de Josef Stálin, derrubada durante a revolução.

Na Hungria, a ocupação da Hungria pelo Exército Vermelho, após a Segunda Guerra Mundial, garantiu a influência da União Soviética sobre a região.[11] O país no período pós-guerra tornou-se uma democracia pluripartidária, até 1949, quando a República Popular da Hungria foi declarada[12] e tornou-se um estado comunista liderado por Mátyás Rákosi.[13] Com o novo governo, começou uma série de prisões em campos de concentração, torturas, julgamentos e deportações para o leste. A economia não estava indo bem, sofria com a desvalorização da moeda húngara, o pengő, considerada uma das mais altas hiperinflações conhecidas.

Esgotados com os índices econômicos cada vez piores e com os governos de Enrö Gero e Mátyás Rákosi, a população tomou as ruas de Budapeste na noite de 23 de outubro de 1956.[14] O objetivo desse levante era o fim da ocupação da União Soviética e a implantação do "socialismo verdadeiro".[15] Houve um confronto entre autoridades policiais e manifestantes e durante esse confronto, houve a derrubada da estátua de Josef Stálin.[14]

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Mesmo após a troca de governo, os conflitos foram intensificando-se. Com isso, os soviéticos organizaram uma trégua com os populares. Logo após, o exército soviético executou uma violenta ação contra os populares, colocando no poder Janos Kadar. No dia 4 de novembro de 1956, um novo exército soviético provocou destruição nas ruas da capital húngara. Os populares foram derrubados.[14]

Guerra de Suez (1956)

Ver artigo principal: Guerra do Suez

O rei do Egito, pró-europeu, foi derrubado por Gamal Abdel Nasser em 1953, que procurou instalar uma política nacionalista e pan-arabista. Sua primeira manobra política de efeito foi a guerra que declarou contra o recém-criado estado de Israel, porque eles teriam humilhado os árabes na Guerra de Independência Israelita. Com os clamores de outros países árabes para uma nova investida contra os judeus, Nasser aliou-se à Jordânia e à Síria.

Anúncio na nacionalização do Canal de Suez, feito por Gamal Abdel Nasser.

Na mesma época, Nasser teria declarado a intenção de nacionalizar o Canal de Suez, que era controlado majoritariamente por franceses e britânicos. Isso preocupou as duas potências, que necessitavam do canal para seus interesses colonialistas na África e Ásia. Assim, a França, o Reino Unido e Israel decidiram formar uma aliança, declararam guerra ao Egito de Nasser e cuidaram da ocupação do Egito. Os europeus cuidaram de bombardear e lançar paraquedistas em locais estratégicos, enquanto os israelitas cuidaram da invasão terrestre, invadindo a península do Sinai em poucos dias depois.

A guerra no Egito perturbou a paz que vinha sendo mantida entre Washington D.C. e Moscou. Dwight D. Eisenhower, então presidente americano, criticava a repressão em Budapeste, na Hungria, e teve que provar que era contra a invasão a Israel. Os Estados Unidos tentaram várias vezes fazer os europeus mudarem de ideia e retirar os ocupantes do Egito, ao mesmo tempo que Khrushchev demandava respostas. Os Estados Unidos, inclusive, tentaram, a 30 de Outubro de 1956, levar ao Conselho de Segurança das Nações Unidas a petição de retirada das tropas do Egito, mas França e Reino Unido vetaram a petição. A União Soviética seguia a mesma linha de raciocínio do Estados Unidos, sendo assim favorável à desocupação das terras egípcias porque queria estreitar laços com os árabes, e se aliou rapidamente à Síria e ao Egito.

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A crescente pressão econômica estadunidense e a ameaça de Khrushchov de que "modernas armas de destruição" seriam usadas em Londres e Paris fizeram os dois países recuarem, e os aliados se retiraram do Sinai em 1957. Após a retirada, o Reino Unido e a França foram forçadas a perceber que não eram mais líderes políticos do mundo, enquanto o Egito manteve sua política nacionalista e, mais tarde, pró-soviética.

Crise dos Mísseis (1962)

Ver artigo principal: Crise dos mísseis de Cuba

Cuba, a maior das ilhas caribenhas, sofreu uma revolução em 1959, que retirou o ditador pró-estadunidense Fulgêncio Batista do poder, e instaurou a ditadura de Fidel Castro a partir de 1959. A instauração de um regime socialista preocupou a Casa Branca que ainda em 1959 tentou depor o novo governo, apoiando membros ligados ao antigo regime e iniciando um embargo econômico à ilha. Com o bloqueio do comércio de petróleo e grãos, Cuba passa a adquirir esses produtos da URSS. O governo de Fidel Castro, inicialmente composto por uma frente de grupos nacionalistas, populistas e de esquerda, que variava de social-democratas aos de inspiração marxista-leninista, rapidamente se tornaria polarizaria em torno dos líderes mais pró-URSS. Em 1961, a CIA chegou a organizar o desembarque de grupos de oposição armados que deporiam Fidel Castro na operação da Invasão da Baía dos Porcos, que foi um fracasso completo. Diante desta situação o novo regime cubano se aproxima rapidamente da URSS, que oferece proteção militar.

Em 1962, a União Soviética foi flagrada construindo 40 silos nucleares em Cuba. Segundo Kruschev, a medida era puramente defensiva, para evitar que os Estados Unidos tentassem nova investida contra os cubanos. Por outro lado, no plano estratégico global, isto representava uma resposta à instalação de mísseis Júpiter II pelos estadunidenses na cidade de Esmirna, Turquia, que poderiam ser usadas para bombardear todas as grandes cidades da União Soviética.

Local de lançamento de mísseis em Cuba, dia 1 de Novembro de 1962.

Rapidamente, o presidente Kennedy tomou medidas contrárias, como a ordenação de quarentena à ilha de Cuba, posicionando navios militares no mar do Caribe e fechando os contatos marítimos entre a União Soviética e Cuba. Vários pontos foram levantados a respeito deste bloqueio naval: os soviéticos disseram que não entendiam porque Kennedy havia tomado essa medida, já que vários mísseis estadunidenses estavam

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instalados em territórios dos países da OTAN contra os soviéticos, em distâncias equivalentes àquela entre Cuba e os Estados Unidos; Fidel Castro revelou que não havia nada de ilegal em instalar mísseis soviéticos em seu território[carece de fontes]; e o primeiro-ministro britânico Harold Macmillan disse não ter entendido por que não foi sequer ventilada a hipótese de acordo diplomático[carece de fontes].

Em 23 e 24 de Outubro, Kruschev teria enviado uma carta a Kennedy[carece de fontes], informando suas intenções pacíficas. Em 26 de Outubro disse que retiraria seus mísseis de Cuba se Washington se comprometesse a não invadir Cuba[carece de fontes]. No dia seguinte, pediu também a retirada dos balísticos Júpiter da Turquia. Mesmo assim, dois aviões espiões estadunidenses U-2 foram abatidos em Cuba e na Sibéria em 27 de Outubro, o ápice da crise. Neste mesmo dia, os navios mercantes soviéticos haviam chegado ao Caribe e tentariam passar pelo bloqueio. Em 28 de Outubro, Kennedy foi obrigado a ceder os pedidos, e concordou em retirar os mísseis da Turquia e não atacar Cuba. Assim, Nikita Kruschev retirou os mísseis nucleares soviéticos da ilha.

Apesar de o acordo ter sido negativo para os dois lados, o grande derrotado foi o líder soviético, que foi visto como um fraco que não soube manter sua posição frente aos estadunidenses.

Sobre isso, disse o Secretário de Estado Dean Rusk:

"Nós estivemos cara a cara, mas eles piscaram"[carece de fontes].

Dois anos depois, Kruschev não aguentou a pressão e saiu do governo. Kennedy também foi mal-visto pelos comandantes militares dos Estados Unidos. O general Curtis LeMay disse a Kennedy que este episódio foi "a maior derrota da história estadunidense" [carece de fontes], e pediu para que os Estados Unidos invadissem imediatamente Cuba[carece de fontes].

América Latina

Ver artigo principal: Intervencionismo

Durante a Guerra Fria, a propaganda e os os esforços anticomunistas dos Estados Unidos fizeram-se sentir na região. De 1946 a 1984, os Estados Unidos mantiveram no Panamá a Escola das Américas. A finalidade deste órgão era formar lideranças militares pró-EUA. Vários ditadores latino-americanos foram alunos desta instituição, entre eles o ditador do Panamá Manuel Noriega, e Leopoldo Galtieri, líder da Junta Militar da Argentina. A partir de 1954, os serviços de inteligência norte-americanos participaram de golpes de estado contra governos latino-americanos.[16][17] Após a Revolução cubana, o receio de que o comunismo se espalhasse pelas Américas cresceu muito. Governos simpáticos ao comunismo ou democraticamente eleitos, mas contrários aos interesses políticos e econômicos dos Estados Unidos foram removidos do poder.

Em 1961, o presidente Kennedy criou a Aliança para o Progresso, para abrandar as tensões sociais e auxiliar no desenvolvimento econômico das nações latino-americanas, além de conter o avanço comunista no continente americano. Este programa ofereceu ajuda técnica e econômica a vários países. Com isto pretendia-se afastar a possibilidade das nações da América Latina alinharem-se com o bloco soviético. Mas, como

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programa não alcançou os resultados esperados, foi extinto em 1969 pelo presidente Richard Nixon.

Golpes de Estado ocorridos na América Latina neste período:

1954 : Golpe de Estado na Guatemala - Jacobo Arbenz Guzmán presidente reformista, eleito, foi deposto pelo 1º Golpe de Estado promovido pela CIA na América Latina.[18]

1964 : Golpe de Estado no Brasil: João Goulart foi deposto por uma revolta militar e exilou-se no Uruguai.

1973 : Golpe de Estado no Chile: em 11 de Setembro de 1973, uma rebelião militar liderada por Augusto Pinochet e apoiada pelos Estados Unidos, depôs o presidente Salvador Allende.

A Distensão (1962 - 1979)

Ver artigo principal: Détente

Jimmy Carter e Leonid Brejnev assinando o SALT II, em 1979.

O período da distensão (Détente) seguiu-se à Crise dos Mísseis, por ela quase ter levado as duas superpotências a um embate nuclear. Os Estados Unidos e a URSS decidiram, então, realizar acordos para evitar uma catástrofe mundial. Nesta época, vários tratados foram assinados entre os dois lados. A política Détente, foi principalmente seguida por Brejnev, que mais tarde criaria um grande sistema diplomático e de distensão, sendo este o sistema que salvaria a pele de Brejnev, que entrara em uma estagnação econômica, apesar de alcançar um bem-estar para o povo soviético. Durante a direção de Brejnev e sua inseparável doutrina, o povo que nascera depois da Guerra Fria nunca havia presenciado um momento de tanta paz mundial.

Tratado de Moscou (1963) - Os dois países regularam a pesquisa de novas tecnologias nucleares e concordaram em não ocupar a Antártica.

TPN (Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares) (1968) - Os países signatários (Estados Unidos, URSS, China, França e Reino Unido) comprometiam-se a não transmitir tecnologia nuclear a outros e a se desarmarem de arsenais nucleares.

SALT I (Strategic Arms Limitation Talks - Acordo de Limitação de Armamentos Estratégicos) (1972) - Previa o congelamento de arsenais nucleares dos Estados Unidos e da União Soviética.

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SALT II (1979) - Prorrogação das negociações do SALT I. (ver: Conversações sobre Limites para Armas Estratégicas)

Os dois países tinham seus motivos particulares para buscar acordos militares e políticos. A URSS estava com problemas nos relacionamentos com a China, e viu este país se desalinhar do socialismo monopolista de Moscou. Isso criou a prática da diplomacia triangular, entre Washington, Moscou e Pequim. Também estavam com dificuldades agrícolas e econômicas. E os Estados Unidos haviam entrado numa guerra contra o Vietnã, e na década de 1970 entrariam em uma grave crise econômica.

A Distensão, apesar de garantir o não-confronto militar, acirrou a rivalidade política e ideológica, culminando em algumas revoltas sociais e apoios a revoltas e revoluções na Europa e no Terceiro Mundo.

Como exemplo, pode-se citar a Invasão do Afeganistão, a Intervenção Soviética em Praga, e a própria guerra do Vietnã.

Guerra do Vietnã (1964 - 1975)

Ver artigo principal: Guerra do Vietnã

A Guerra do Vietnã foi um dos maiores confrontos militares envolvendo capitalistas e socialistas no período da Guerra Fria. Opôs o Vietname do Norte e guerrilheiros pró-comunistas do Vietname do Sul contra o governo pró-capitalista do Vietname do Sul e os Estados Unidos.

Após a Convenção de Genebra (1954), o Vietnã, recém-independente da França, seria dividido em duas zonas de influência, como a Coreia, e estas zonas seriam desmilitarizadas e mantidas cada uma sob um dos regimes (capitalismo e socialismo). Foi estipulada uma data (1957) para a realização de um plebiscito, decidindo entre a reunificação do país ou não e, se sim, qual regime seria adotado.

Corpos de Vietnamitas em Saigon, Vietname do Sul, 1968.

Infelizmente para o Vietname do Sul, o líder do Norte, Ho Chi Minh, era muito benquisto entre a população, por ser defensor popular e herói de guerra. O governo do Vietname do Sul decidiu proibir o plebiscito de ocorrer em seu território, pois queria

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manter o alinhamento com os estadunidenses. Como o Vietname do Norte queria a reunificação, lançaram-se em uma guerra contra o Sul.

O Vietname do Norte contou com o apoio da Frente de Liberação Nacional, ou vietcongs, um grupo de rebeldes no Vietname do Sul. E o Vietname do Sul contou, em 1965, com a valiosa ajuda dos Estados Unidos. Eles entraram na guerra para manter o governo capitalista no Vietname, e temendo a ideia do "efeito dominó" (Teoria do Dominó) no qual, ao verem um país que se libertou do capitalismo preferindo o socialismo, outros países poderiam seguir o exemplo (como foi o caso de Cuba).

Até 1965, a guerra estava favorável ao Vietname do Norte, mas quando os Estados Unidos se lançaram ao ataque contra o Vietname do Norte, tudo parecia indicar que seria um grande massacre dos vietnamitas, e uma fácil vitória ocidental. Mas os vietnamitas do norte viram nessa guerra uma extensão da guerra de independência que haviam acabado de vencer contra a França, e lutaram incessantemente. Contando com o conhecimento do território, os vietnamitas do norte conseguiram vencer os Estados Unidos, o que é visto como uma das mais vergonhosas derrotas militares dos Estados Unidos. Em 1975, os Estados Unidos e o Vietname do Norte assinaram os Acordos de Paz de Paris, onde os Estados Unidos reconheceram a unificação do Vietnã sob o regime comunista de Ho Chi Minh.

A derrota dos Estados Unidos evidenciou o fracasso da política norte-americana na Ásia e acarretou a reformulação, no Governo Nixon, da política externa no Oriente. Com isso, os norte-americanos buscaram uma maior flexibilidade e novos parceiros, destacando a aproximação com a China comunista.

A Distensão na Europa

A Europa, continente que mais sofreu com a divisão mundial, também sofreu os efeitos da distensão política. Os países começaram a questionar as ideologias a que foram impostos, e optaram cada vez mais pelo abrandamento, no lado ocidental, e pela revolta popular seguida de forte repressão, no lado oriental.

Em 1968, a Tchecoslováquia viu uma grande manifestação popular apoiar ideias de abertura política em direção à social-democracia e a um "socialismo com uma face humana". Este movimento ficou conhecido como Primavera de Praga, em alusão à capital da Tchecoslováquia, Praga, local onde os movimentos populares tomavam corpo. Temendo a liberdade política da Tchecoslováquia, Leonid Brejnev, líder da URSS, ordenou a invasão de Praga e a repressão do movimento popular.

Em 1966, Charles de Gaulle, presidente da França, manteve os seus ideais de nacionalismo francês e antiamericanismo e desalinhou-se com as práticas estadunidenses, saindo da OTAN.

Em 1969, o chanceler da Alemanha Ocidental anuncia a "Ostpolitik", uma política de aproximação dos vizinhos, os alemães orientais. Em 1972 os Estados passam a se reconhecerem mutuamente podendo, assim, voltar a integrar a ONU.

O reconhecimento da China pelos Estados Unidos

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Richard Nixon e Mao Tse-Tung durante a visita do Presidente americano à República Popular da China, em 1972.

Desde o início da década de 1950 a República Popular da China tinha problemas com a União Soviética, por causa de hierarquia de poderes. Moscou queria que o socialismo no mundo fosse unificado, sob a tutela do Kremlin, enquanto Pequim achava que a República Popular da China não deveria se submeter aos soviéticos. Além disso, o governo chines exigia que a URSS transferisse sua tecnologia nuclear para a China, o que não era bem visto por Moscou. Este processo acabou levando a ruptura sino-soviética.

Ao longo dos anos 1960 os Estados Unidos iniciaram uma aproximação com a URSS que levaria ao que ficou conhecido como distensão política, enquanto recrudesceram suas relações com a China comunista, aprofundando a disputa com este pais no Sudeste Asiático, onde se aprofundava a Guerra do Vietnã. Neste período as disputas entre URSS e China cresceram ainda mais. Esta tensão tornou-se um problema crescente para os soviéticos, que perdiam um forte aliado no Leste Asiático e passaram a ver a China como uma potencial ameaça. No fim dos anos 1960, a China passa a manter cerca de 1 milhão de soldados na fronteira com a URSS, o que força a URSS a manter outro volume equivalente de tropas na região.

O auge da disputa entre China e URSS é considerado o ano de 1969, quando ocorre um confronto armado na fronteira sino-soviética, na região do rio Ussuri (nordeste da Manchúria) e os dois países quase entram em guerra.

Nos anos 1970 a situação se inverte e os Estados Unidos passam a se aproximar da China e isolar novamente a URSS, iniciando inclusive um processo de ampliação das relações ecônomicas com a China e de guerra comercial com a URSS.[19]

Estas mudanças ocorridas na década de 1970, pioraram ainda mais a situação da URSS, pois Mao Tse-tung, secretario-geral da China socialista, ampliou o processo de aproximação com os Estados Unidos. Além de isolar a URSS, a aproximação com os Estados Unidos trouxe vantagens para a China, como o fim da Guerra do Vietnã, o reconhecimento diplomático pelos americanos, a adesão da China à ONU e a substituição de Taiwan (China nacionalista) pela China no Conselho de Segurança da ONU.

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Desde a Revolução Chinesa de 1949, o mundo ocidental via o governo de Mao Tse-Tung como ilegal, e continuaram reconhecendo como governo legítimo da China o governo refugiado em Taiwan. Com a aproximação entre Pequim e Washington, os Estados Unidos passaram a reconhecer o governo de Mao Tse-tung como o legítimo regente chinês, ou seja, a República Popular da China como a China de fato. Assim, outros países ocidentais tomaram a mesma decisão, e a China pôde entrar para ONU, como participante e como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU. Em 1975, os Estados Unidos e o Vietname do Norte assinaram os Acordos de Paz de Paris, os Estados Unidos reconheceram a unificação do Vietnã e iniciaram uma nova fase de cooperação com a China. A partir deste período, e principalmente nos anos 1980, a China passaria a apoiar os Estados Unidos na disputa deste pais com a URSS.

A "Segunda" Guerra Fria (1979-1985)

A Guerra Fria em 1980.

Após o ano de 1979, seguiu-se uma nova fase nas relações amistosas entre os Estados Unidos e a União Soviética, que ampliaram as relações entre as duas superpotências. O período que vai de 1979 a 1985, 1987 ou 1988 (dependendo da classificação), ficou conhecido como "II Guerra Fria", devido à retomada das hostilidades indiretas entre Estados Unidos e URSS, após o período da "distensão". No plano estratégico ficou clara a formação de uma grande coalizão global contra a União Soviética, que passou a incluir, além dos Estados Unidos e seus aliados da OTAN e o Japão, também a China.[20]

Embora na época o apoio chinês à estratégia americana de cercamento da URSS tenha sido considerado secundário, hoje muitos historiadores consideram que este papel pode ter sido determinante para o desfecho da Guerra Fria.

Os principais episódios que marcaram este período foram:

Em 1979 a União Soviética invade o Afeganistão, assassinando Hafizullah Amin, e colocando em seu posto Brabak Karmal, que era a favor das políticas de Moscou. A este evento seguiu-se uma grande resistência anti-soviética, principalmente da parte dos mujahidin das montanhas afegãs. Eles eram abastecidos por outros países, como China, Arábia Saudita, Paquistão e o próprio Estados Unidos. Após dez anos de lutas, as tropas soviéticas tiveram que abandonar o país, em

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1988. Esta vitória dos mujahidin possibilitou, anos depois, a formação do grupo Taleban, que aproveitou a desordem no país para instaurar um governo autoritário fundamentalista no Afeganistão, nos anos 1990.

Donald Rumsfeld, em 1983, viaja como enviado especial dos Estados Unidos ao Oriente Medio, no Governo Reagan, para reforcar o apoio ao governo iraquiano de Saddam Hussein, na guerra contra o Irã, conhecida como Guerra Irã-Iraque, que era vista como uma forma de conter a influencia soviética na região. Posteriormente Donald Rumsfeld veio a ocupar o cargo de Secretario de Defesa dos Estados Unidos no Governo Bush.

Ainda em 1979 Margaret Thatcher foi eleita primeira-ministra do Reino Unido pelo Partido Conservador, e deu à política externa do país uma face mais agressiva contra o regime soviético.

Por fim, ainda em 1979 o principal aliado americano no Golfo Pérsico, o Irã, que passava por grande turbulência interna, passa por uma Revolução Islâmica nacionalista e de caráter fortemente anti-americana, que levou os Estados Unidos a iniciarem uma longa disputa com o novo regime no país.[21] Como resultado deste processo, a partir de 1980, os Estados Unidos passaram a apoiar o Iraque na guerra deste país contra o Irã, que ficou conhecida como "Guerra Irã-Iraque".

Em 1981, Ronald Reagan foi eleito presidente dos Estados Unidos e, ao contrário de seus antecessores, que pregavam a Distensão, Reagan defendia a retomada da estrategia de cercamento da URSS, conforme defendido por Henry Kissinger no fim dos anos 1970 e, de forma mais clara, por Zbigniew Brzezinski e Donald Rumsfeld, nos anos 1980, o que implicava na retomada do confrontdo com a União Soviética. Dentre os resultados desta política, foi ampliado o fornecimento de armamentos a Saddam Hussein, ditador iraquiano, que lutava contra o Irã na Guerra Irã-Iraque e o apoio aos guerrilheiros mujahidin que lutavam contra os soviéticos no Afeganistão.[22]

Em 1983, forças militares americanas invadiram Granada, que havia sofrido um golpe militar liderado pelo vice-primeiro-ministro Bernard Coard, que havia depôsto o primeiro-ministro granadino, Maurice Bishop. O governo instituído por Bernard Coard, tinha o apoio de Cuba, mas em 25 de Outubro, 7.300 combatentes americanos invadiram a ilha, derrotando as forças granadinas e cubanas. Após a vitória dos Estados Unidos, o governador-geral de Granada, Paul Scoon, nomeou um novo

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governo e, em meados de Dezembro, as forças dos Estados Unidos retiraram-se.

Em 1983 o Presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, anuncia a criação da Iniciativa Estratégica de Defesa, que ficaria conhecida como "Programa Guerra nas Estrelas", que tinha por objetivo criar um "escudo" contra os mísseis balísticos soviéticos, dando grande vantagem aos Estados Unidos na corrida armamentista e na corrida espacial.[23] A reação soviética foi ampliar ainda mais os seus elevados gastos na área de defesa e no desenvolvimento do seu dispendioso programa espacial.

A Era Gorbachev - o fim da Guerra Fria (1985-1991)

Mudanças políticas na Europa após 1989, incluindo a reunificação alemã.

Depois da gestão de Brejnev, a União Soviética teve duas rápidas governanças, Yuri Andropov e Konstantin Chernenko, homens que durante o período de Brejnev eram seus segundo homens, tendo um poder quase total sobre o país, sendo Andropov o chefe da temida e poderosa polícia secreta KGB e Chernenko, por treze anos carregando o segundo mais alto cargo dentro do país, que, na prática, governou o país durante a decadência na saúde de Brejnev, no final da década de 1970, e que surpreendentemente foi derrotado nas eleições por Andropov, que morreu pouco tempo depois de chegar ao cargo político máximo.

Seguinte a Chernenko, o chamado último bolchevique, foi eleito Mikhail Gorbachev, cuja plataforma política defendida era a necessidade de reformar a União Soviética, para que ela se adequasse à realidade mundial. Em seu governo, uma nova geração de políticos tecnocratas - que vinham ganhando espaço desde o governo Khrushchov - se firmou, e impulsionou a dinâmica de reformas na URSS e a aproximação diplomática com o mundo ocidental.

Perestroika e Glasnost

Ver artigo principal: Colapso econômico da União Soviética, Perestroika e Glasnost

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Gorbachev, embora defensor de Karl Marx, defendeu o liberalismo econômico na URSS como a única saída viável para os graves problemas econômicos e sociais. A União Soviética, desde o início dos anos 70, passava por grande fragilidade, evidenciada na queda da produtividade dos trabalhadores e a queda da expectativa de vida. A alta nos preços do petróleo no período 1973-1979 e a nova alta de 1979-1985, deram uma sobrevida temporária a um sistema econômico que já estava falido. A crise econômica mundial dos anos 1980, a escassez de moedas fortes e a queda no preço das commodities exportadas pela URSS (petróleo e cereais), ajudaram a aprofundar a crise do sistema econômico planificado da União Soviética.

Ronald Reagan e Mikhail Gorbachov em Genebra, Suíça, em 1985.

Os gastos militares estavam tornando-se muito altos para uma economia como a soviética, planificada, extremamente burocratizada e com cerca de metade do PIB dos Estados Unidos. A economia de mercado dos Estados Unidos era muito mais competitiva e permitia o repasse acelerado de tecnologias militares e aeroespaciais de ponta para o setor civil. Na URSS tudo que seria produzido era previamente planejado nos Planos Quinquenais. A burocracia dificultava qualquer transferência de tecnologia sensível para o setor produtivo civil e toda a produção agrícola era milimetricamente planejada. Quando ocorre o acidente nuclear de Chernobil 1986, toda a produção agrícola daquele ano foi perdida, os gastos inesperados foram enormes e o Estado que havia planejado exportar uma safra recorde de grãos, teve que importar comida. Rapidamente começava a faltar até mesmo pão no país que havia sido o maior produtor mundial de trigo. Somando-se aos custos do envolvimento de meio milhão de homens no Afeganistão durante os anos 1980, mais os gastos militares da nova corrida armamentista, conhecida como segunda Guerra Fria, aquela enorme economia engessada colapsou.

Frente a estes problemas, Mikhail Gorbachev aplicou dois planos de reforma na URSS: a perestroika e a glasnost.

Perestroika: série de medidas de reforma econômicas. Para Gorbachev, não seria necessário erradicar o sistema socialista, mas uma reformulação deste seria inevitável. Para tanto, ele passou a diminuir o orçamento militar da União Soviética, o que implicou diminuição de armamentos e a retirada das tropas soviéticas do Afeganistão.

Glasnost: a "liberdade de expressão" à imprensa soviética e a transparência do governo para a população, retirando a forte censura que o governo comunista impunha.

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A nova situação de liberdade na União Soviética possibilitou um afrouxamento na ditadura que Moscou impunha aos outros países. Pouco a pouco, o Pacto de Varsóvia começou a enfraquecer, e cada vez mais o Ocidente e o Oriente caminhavam para vias pacíficas. Em 1986, Ronald Reagan encontrou Gorbachev em Reykjavík, Islândia, para discutir novas medidas de desarmamento dos mísseis estacionados na Europa.

O desalinhamento das repúblicas orientais

Ver artigo principal: Dissolução da União Soviética, Revoluções de 1989

Alemães em pé em cima do Muro de Berlim, em 1989, ele começaria a ser destruído no dia seguinte.

O ano de 1989 viu as primeiras eleições livres no mundo socialista, com vários candidatos e com a mídia livre para discutir. Ainda que muitos partidos comunistas tivessem tentado impedir as mudanças, a perestroika e a glasnost de Gorbachev tiveram grande efeito positivo na sociedade. Assim, os regimes comunistas, país após país, começaram a cair.

A Polônia e a Hungria negociaram eleições livres (com destaque para a vitória do partido Solidariedade na Polônia), e a Tchecoslováquia, a Bulgária, a Romênia e a Alemanha Oriental tiveram revoltas em massa, que pediam o fim do regime socialista. O ponto culminante foi a queda do Muro de Berlim em 9 de Novembro de 1989, que pôs fim à Cortina de Ferro e, para alguns historiadores, à Guerra Fria em si.

Formação da CEI, o fim oficial da União Soviética.

Esta situação repentina levou alguns conservadores da União Soviética, liderados pelo General Guenédi Ianaiev e Boris Pugo, a tentar um golpe de estado contra Gorbachev

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em Agosto de 1991. O golpe, todavia, foi frustrado por Boris Iéltsin. Mesmo assim, a liderança de Gorbachev estava em decadência e, em Setembro, os países bálticos conseguiram a independência.

Em Dezembro, a Ucrânia também se tornou independente. Finalmente, no dia 31 de Dezembro de 1991, Gorbachev anunciava o fim da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, renunciando ao cargo que ocupava e ao seu sonho de ver um mundo socialista.

Nova Guerra Fria

Ver artigo principal: Nova Ordem Mundial, Relações entre Estados Unidos e Rússia

A Nova Guerra Fria é a designação de um novo contexo político internacional, de tensão entre, adotado novamente as grandes potências militares que disputaram a Guerra Fria - Estados Unidos e Rússia -, na primeira década do novo milénio, onde ambos os países buscam redefinir suas respectivas regiões de influência e poder. A ideia de uma nova Guerra Fria nasce a partir da constatação do surgimento de uma série de novas tensões criadas entre Estados Unidos e Rússia nos anos 2000. Dentre os diversos atritos entre Estados Unidos e Rússia nesta década, destaca-se principalmente o projeto estadunidense de construir um "Escudo antimísseis", durante o governo Bush, que incluiria uma rede de radares e de sistemas anti-mísseis (bases de mísseis anti-mísseis, satélites e armas laser) em países da antiga área de influência soviética.[24]

Entretanto, outras disputas entre Rússia e Estados Unidos também se desenvolveram ao longo da década de 2000, incluindo as tensões relacionadas aos projetos de ampliação da OTAN para o leste da Europa, incluindo países da ex-URSS, como a Ucrânia, país alvo de novas tensões desde a "Revolução Laranja" de 2004-2005, que implementou um governo anti-russo no país. Destacaram-se ainda novas disputas envolvendo a região do Ártico.[25] Também contribuíram para o aumento das tensões russo-americanas, o apoio indireto dos Estados Unidos aos separatistas da Chechênia, o apoio da Rússia (na forma de fornecimento de armas modernas) a governos considerados hostis aos interesses dos Estados Unidos, como a Venezuela e o Irã,[26] e, principalmente, a resposta russa durante a Guerra da Geórgia.[27][28]

A Era Medvedev (2008-2009)

Em 2008, a tensão entre Washington e Moscou, a antiga capital da URSS, se agravaram depois dos Estados Unidos ter anunciado o início da construção do Escudo antimísseis no Leste Europeu, na área próxima e de influência direta da Rússia. Em resposta ao fato, Moscou condena a atitude dos Estados Unidos e anuncia a instalação de mísseis táticos Iskander na região ocidental de Kaliningrado, o desenvolvimento de contramedidas eletrônicas dos elementos do Escudo Antimísseis que Washington planeja instalar no Leste Europeu, composto por um radar na República Tcheca e mísseis interceptadores na Polônia,[29] e o desenvolvimento de uma nova geração de armas nucleares e mísseis balisticos moveis por parte da Rússia.[24]

Em 2009, Moscou anuncia que irá rearmar suas forças militares e ampliar seu arsenal nuclear em resposta ao fortalecimento da Otan (Organização do Tratado do Atlântico

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Norte), criada para combater o avanço do socialismo na era bipolar. O reingresso da França e de outros países do Leste Europeu tem provocado tensões na região.[30][31]

Com a ascensão de Barack Obama a Presidência dos Estados Unidos, ocorre uma redução das tensões entre Estados Unidos e Rússia, principalmente devido ao anúncio da interrupção do plano de construção da infra-estrutura do "Escudo anti-mísseis" (radares e sistemas anti-mísseis) em torno da Rússia.[32]

A Guerra na Ossétia do Sul e Geórgia

Ver artigo principal: Guerra na Ossétia do Sul em 2008

Em Agosto de 2008, a Ossétia do Sul (apoiada pela Rússia), e a Geórgia (apoiada pelos Estados Unidos), entraram em conflito armado, tropas da Geórgia ocuparam militarmente a capital da Ossétia do Sul, região separatista da república georgiana. Em resposta ao ocorrido, tropas russas atacaram militarmente a Geórgia e reconheceu as regiões separatistas da Ossétia do Sul e Abecásia, o que causou forte desgaste diplomático entre Washington e Moscou.[33][34][35]

[36]

CronologiaAno Acontecimento

1945Cientistas estadunidenses testam com sucesso o primeiro dispositivo atômico do mundo. Em agosto de 1945 os EUA atacam as cidades de Hiroshima e Nagasaki com armas nucleares.

1946Winston Churchill cita a expressão "iron curtain" ou, em português, "cortina de ferro", em discurso pronunciado no Westminster College, em Fulton, Missouri, nos Estados Unidos, em 5 de março de 1946.

1947

O presidente estadunidenses, Harry S. Truman estabelece a Doutrina Truman, em um violento discurso no dia 12 de março de 1947, assumindo o compromisso de "defender o mundo capitalista contra a ameaça socialista", iniciando a Guerra Fria. Em seguida, o secretário de estado George Catlett Marshall anunciou a disposição de os Estados Unidos colaborar financeiramente para a recuperação da economia dos países europeus, o Plano Marshall. Truman deu início à concessão de créditos auxiliando a Grécia e a Turquia, com o objetivo de sustentar governos pró-ocidentais naqueles países.

1949 A URSS testa seu primeiro dispositivo nuclear. Criada a OTAN.

1950 Grupos desarmamentistas começam a pressionar em favor do desarmamento nuclear unilateral, em que um lado desiste de suas armas nucleares esperando que o outro faça o mesmo. Durante a Guerra da

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Coreia o general americano Douglas MacArthur discute publicamente a possibilidade de usar armas nucleares para definir o conflito.

1952O Reino Unido explode um dispositivo nuclear. Ano da primeira bomba termonuclear (hidrogênio), testada pelos Estados Unidos.

1953Morte de Stálin, assume em seu lugar Nikita Kruschev, o novo chefe da União Soviética. Fim da Guerra da Coréia. A URSS testa sua primeira bomba termonuclear (hidrogênio).

1957A União Soviética lança o primeiro satélite artificial, o Sputnik, lançado com o foguete Sputinik-1, cuja versao militar foi o primeiro Míssil balístico intercontinental, o R-7 Semyorka.

1960 A França explode um dispositivo nuclear.

1961A União Soviética lança o primeiro homem ao espaço, Yuri Gagarin, a bordo do foguete Vostok-1, da família R-7, uma versão civil do Míssil balístico intercontinental Vostok-K (GRAU 8K72K).

1964 A China testa o seu primeiro dispositivo nuclear.

1964Renúncia de Kruschev, Leonid Brejnev se torna o novo Secretário-geral da União Soviética.

1969

Os estadunidenses testam o MRV (veículos de reentradas múltiplas), permitindo que os mísseis transportem até cinco ogivas nucleares separadas. Os soviéticos fazem o mesmo. Estadunidenses e soviéticos discutem o controle da tecnologia nuclear, enquanto sua proliferação ameaça o equilíbrio nuclear conhecido como MAD. Confronto armado na fronteira da URSS e China, marca o auge das tensoes entre soviéticos e chineses.

1971A República Popular da China substituiu Taiwan (República da China) como representante da China na ONU e como um dos cinco membros permanentes do seu Conselho de Segurança.

1972

Um tratado sobre mísseis antibalísticos limitando o emprego de apenas dois sistemas em cada superpotência, em suas capitais, foi assinado como parte do SALT I. Presidente Nixon, dos EUA visita a China comunista.

1973Estados Unidos reconhecem a China comunista como representante da China, ao invés de Taiwan, embora as Relações diplomaticas so sejam normalizadas em 1979.

1974 Acordo EUA-URSS para impor um "teto" na quantidade de sistemas de

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ataque nuclear (bombardeiros, mísseis balísticos intercontinentais e submarinos nucleares) em cada superpotência.

1977Criada a Constituição Soviética de 1977, de acordo com esta, Brejnev é eleito o presidente.

1979O acordo SALT II reduziu os limites de armas nucleares. Invasão soviética do Afeganistão dificultou a ratificação do tratado pelo senado norte-americano.

1980START (conversações sobre redução de armas estratégicas), que sucedeu o SALT, faz pouco progresso.

1982Morte de Brejnev, Iuri Andropov é o novo secretário-geral e presidente da União Soviética.

1983O presidente dos EUA, Ronald Reagan, anuncia sua decisão de custear um sistema defensivo aeroespacial anti mísseis balísticos chamado de "Guerra nas Estrelas".

1984Morte de Iuri Andropov, Konstantin Chernenko é o novo secretário-geral e presidente da União Soviética.

1985Morte de Konstantin Chernenko, Mikhail Gorbatchov é o novo secretário-geral e presidente, inicio do fim da Guerra e da URSS.

1987Acordo EUA-URSS para abolir as forças nucleares intermediárias terrestres.

1988A URSS inicia a retirada de suas tropas do Afeganistão. Fim da Guerra Irã-Iraque. Iniciadas as tratativas para encerrar o confronto entre Angola e África do Sul na África Austral, pondo fim à Guerra Civil Angolana.

1989Queda do muro de Berlim. Primeiro grande marco do fim da Guerra Fria e do conflito Capitalista X Socialista.

1990Com base no acordo START, as duas superpotências concordam em reduzir, até 1998, os arsenais estratégicos para 6.000 ogivas nucleares em cada um dos países.

1991 As superpotências concordam em eliminar todos os mísseis táticos terrestres armados com ogivas nucleares táticas que havia na Europa e na Península Coreana. Com a dissolução da União Soviética, as armas nucleares estratégicas não ficaram apenas na Rússia, mas também na Bielorrússia, Ucrânia e Cazaquistão, que concordam com sua transferência para a Rússia para a destruição de todos. Marco definitivo

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do fim da Guerra Fria, com o desmantelamento da URSS.