guarulhos tem história

Upload: tleite24

Post on 08-Jul-2015

1.660 views

Category:

Documents


8 download

TRANSCRIPT

GUARULHOSTEM HISTRIAQUESTES SOBRE HISTRIA NATURAL, SOCIAL E CULTURAL

livro_v3.indd 1

9/24/aaaa 17:15:19

Dos mesmos autores Guarulhos: Espao de Muitos Povos

livro_v3.indd 2

9/24/aaaa 17:15:27

GUARULHOSTEM HISTRIAQUESTES SOBRE HISTRIA NATURAL, SOCIAL E CULTURAL

OrganizadorElmi El Hage Omar

AutoresAdriana de Arajo Aleixo | Antonio Benedito Prezia | Antonio Manoel dos Santos Oliveira | Beatriz de Aguiar Hanssen | Caetano Juliani | Edson Jos de Barros | Elton Soares de Oliveira | Glucia Garcia de C. Guilherme Bagattini | Jos Elmano de M. Pinheiro | Marcio Roberto M de Andrade | Maria Claudia Viera Fernandes | Sandra Emi Sato | Silvia Piedade de Moraes | Vagner Carvalheiro Porto | William de Queiroz

1 EDIO

livro_v3.indd 3

9/24/aaaa 17:15:27

cha tcnica

livro_v3.indd 4

9/24/aaaa 17:15:28

SUMRIO09 Apresentao Elmi El Hage Omar 11 Introduo Elton Soares de Oliveira PARTE I | CONTEXTUALIZANDO A HISTRIA DE GUARULHOS: ANTES E APS 1560 15 Guarulhos no contexto colonial paulista Elton Soares de Oliveira PARTE II | HISTRIA NATURAL, GEOGRAFIA, GEOLOGIA E MEIO AMBIENTE 25 Aspectos siogrcos da paisagem guarulhense Marcio Roberto M de Andrade, Sandra Emi Sato, Antonio Manoel dos Santos Oliveira, Edson Jos de Barros, Adriana de Arajo Aleixo, Guilherme Bagattini, William de Queiroz 38 Passado geolgico de Guarulhos Caetano Juliani, Marcio Roberto M. de Andrade, Edson Jos de Barros 47 Expanso urbana e problemas geoambientais do uso do solo em Guarulhos Marcio Roberto M. de Andrade, Antonio Manoel dos Santos Oliveira PARTE III | HISTRIA SOCIAL, POLTICA E ECONMICA 59 Maromomi, os primeiros habitantes de Guarulhos: da perambulao ao aldeamento Antonio Benedito Prezia 74 O ciclo do ouro em Guarulhos Jos Elmano de Medeiros Pinheiro 88 Lutas sociais e resistncia cultural em Guarulhos Elton Soares de Oliveira, Maria Claudia Vieira Fernandes

livro_v3.indd 5

9/24/aaaa 17:15:28

97 Ciclo do tijolo, imigrao, trabalho assalariado, agricultura e comrcio Elton Soares de Oliveira 106 Momentos da industrializao guarulhense: do nascedouro das fbricas ao neoliberalismo Maria Claudia Vieira Fernandes, Elton Soares de Oliveira, Willian de Queiroz 123 Philips: Fbrica desativada transformando-se em campus universitrio Elmi El Hage Omar PARTE IV | HISTRIA CULTURAL, PATRIMNIOS E IDENTIDADES 139 Arqueologia histrica: o caso de Guarulhos Vagner Carvalheiro Porto 146 A presena feminina na construo da cidade Beatriz de Aguiar Hanssen, Silvia Piedade de Moraes 161 Memria e preservao. O cemitrio So Joo Batista como fonte histrica Glucia Garcia de Carvalho 167 Patrimnios culturais guarulhenses: questes sobre memria, identidade e cidadania Elmi El Hage Omar PARTEV | AUTORES 197 Sobre os Autores

livro_v3.indd 6

9/24/aaaa 17:15:28

O saber histrico s possvel atravs do conhecimento mtuoElmi E. H. Omar

livro_v3.indd 7

9/24/aaaa 17:15:28

livro_v3.indd 8

9/24/aaaa 17:15:29

APRESENTAO

9

APRESENTAOElmi El Hage Omar Histria e interdisciplinaridade; so essas as abordagens e desafios deste livro, fruto do trabalho de historiadores, gegrafos, gelogos, arquelogos, arquitetos, jornalistas, ambientalistas, filsofos, fotgrafos e estudantes, que compreenderam a importncia de se unirem nesse esforo cientfico. O objetivo dos autores sensibilizar e formar leitores com informaes confiveis obtidas de maneira cientfica, sistemtica e interdisciplinar. Promover, enfim, uma acareao entre passado e presente como nunca foi proposta na histria de Guarulhos. Como uma obra de enfoque histrico, um dos objetivos continuar levantando questes sobre a histria de Guarulhos, por isso a escolha do sub-tema, questes de histria natural, social e cultural. A proposta, com essa escolha, provocar nos leitores e estudantes a participao no processo de construo do conhecimento. bom lembrar que a histria construda por um conjunto de elementos sociais, culturais, econmicos, religiosos, ambientais, filosficos entre outros e assim nenhum deve ser desprezado, portanto discutir as razes e as conseqncias historicamente construdas nesse espao, que afetam o presente, comumente de modo negativo, de capital importncia. Teremos aqui tambm representadas diversas correntes de pensamento, formaes, reas e ideologias convivendo de modo eqitativo, como diligentemente tem feito o grupo Guarulhos Tem Histria nas suas atividades sociais, culturais, polticas e outras. O livro aborda grandes reas temticas: A colonizao e seus aspectos geolgicos, geogrficos, econmicos, sociais e culturais. A formao geolgica e seus processos em nosso territrio. A histria de como foram apropriadas as riquezas naturais e suas produes cclicas de acordo com as demandas internas e externas, de onde surge o conceito de ciclos econmicos. Por fim a histria cultural e patrimonial, priorizando padres comportamentais de grupos, instituies e suas produes resultantes, transformando-se em patrimnios que devem ser valorizados, preservados para destacar as etnias representadas em Guarulhos. Idealizamos contribuir de modo diferente com o conhecimento histrico pro-

livro_v3.indd 9

9/24/aaaa 17:15:29

10

GUARULHOS TEM HISTRIA

duzido. Diversos autores abordaram a histria guarulhense com propriedade e nosso desejo enriquecer o trabalho feito por eles. Continuaremos sempre visualizando um futuro melhor quando, todos estaro conscientes dos processos histricos, que nos conduziram ao contexto presente. Conscincia crtica e reflexo para aprender com os erros do passado so os elementos que podero mudar a desigualdade que tanto afeta a sociedade em que vivemos, independente do espao. O grupo de pesquisadores que compem o movimento Guarulhos Tem Histria, agradece de modo fraternal, a secretaria de Cultura, ao secretrio e funcionrios que possibilitaram a publicao do livro. No podemos deixar de expressar nossos agradecimentos aos membros do conselho do Funcultura por acreditarem no projeto. Agradecemos tambm aos nossos professores que dedicaram seus profundos conhecimentos e aos nossos alunos que nos estimulam com suas questes. Tambm a todos os familiares, amigos, colegas de profisso, as famlias tradicionais, que nos cederam imagens e informaes e ao povo de Guarulhos que apoiou a realizao desse empreendimento.

livro_v3.indd 10

9/24/aaaa 17:15:29

INTRODUO

11

INTRODUOElton Soares de Oliveira H dois anos, o grupo de pesquisadores que compe o movimento Guarulhos Tem Historia, deu incio a uma srie de debates sobre a histria local partindo de uma pergunta: Como Guarulhos se inseriu no contexto colonial paulista e porque ganhou projeo no cenrio nacional e internacional? As primeiras atividades foram listar e ler as publicaes sobre a histria da cidade, em seguida realizar alguns debates com personalidades da esfera acadmica que estudaram a localidade. O processo resultou, entre outras coisas, na criao do movimento Guarulhos Tem Histria, na estruturao de um site sobre a histria local, (www.guarulhostemhistoria.com.br) no ingresso com pedido de tombamento do stio arqueolgico do garimpo de ouro do Ribeiro das Lavras. Lanamento do livro Guarulhos Espao de Muitos Povos e agora no livro Guarulhos Tem Histria, Questes de Histria Natural, Social e Cultural . O ttulo Guarulhos Tem Histria tem vrios objetivos, entre eles apontar episdios na historiografia local que requerem aprofundamento; propiciar aos leitores percepo da relao entre as atividades sociais e os aspectos naturais. O livro visa, acima de tudo, abrir discusses sobre os temas abordados e, nas lacunas existentes, despertar a necessidade da realizao de novas pesquisas sobre outros aspectos da vida cotidiana e, ao mesmo tempo, ser mais um recurso didtico para pesquisadores, professores e alunos. O livro Guarulhos tem Histria em alguns artigos de forma sinttica, ordena os ciclos de desenvolvimento econmico local e o processo de expanso territorial urbano, sem perder de vista a ligao externa que aponta para a relao entre o avano capitalista mundial e a sua insero na cidade. Referenciado no conceito tempo e espao, trata do povoamento, do patrimnio natural e cultural. Guarulhos no apenas um espao territorial. Historicamente uma regio produtiva e sua formao teve incio em funo da globalizao econmica, nos marcos do surgimento e dinamizao do sistema capitalista mundial. O processo de expanso territorial urbano aconteceu em conseqncia das atividades econmicas. Sobre os conceitos espao territorial e regio produtiva adotamos a definio do gegrafo Milton Santos.

livro_v3.indd 11

9/24/aaaa 17:15:30

12

GUARULHOS TEM HISTRIA

O territrio formado atravs dos feixes que so criados em funo das atividades da populao. Para conhecermos a estrutura interna necessrio entendermos sua circularidade interna, j para entendermos uma regio produtiva, precisamos estudar suas relaes internas e externas, pois elas se inter-relacionam. bvio para classificarmos as regies produtivas devemos saber onde esto e o que so, quais seus meios de produtividade antigos e atuais, analisando todo o processo de evoluo desta regio (natureza e classes sociais) isso nos obriga a um estudo minucioso, pois o espao, a economia, a poltica e a cultura de cada local varivel (SANTOS, 1980)

Planejado sob a luz da temporalidade e da espacialidade, o livro foi organizado em quatro partes. A primeira traz informaes preliminares sobre a localidade atualmente chamada Guarulhos, sob o ttulo: Contextualizando a histria de Guarulhos: Antes e Aps 1560, bem como, sua insero no contexto colonial paulista. Nela apresentamos um resumo da histria, enfatizando os objetivos da Colonizao portuguesa, a fundao da Aldeia de Nossa Senhora da Conceio, - Distrito e Freguesia - at se tornar Municpio, em 1880. A segunda parte: Histria Natural, Geografia, Geologia e Meio Ambiente apresenta a histria geolgica de Guarulhos e a formao de suas riquezas minerais. Baseia-se em pesquisa desenvolvida por um grupo de gelogos, gegrafos, em cujo resultado constataram que a faixa do territrio onde habitamos foi formada h 1,6 bilhes de anos, tempo que remonta a existncia de vulces, terremotos e mar. Nesse captulo, tambm descrevemos o relevo, tipos de solos, a vegetao, as bacias hidrogrficas e o aqfero Cumbica. A terceira parte: Histria Social, Poltica e Econmica, trata da origem indgena da cidade, ampliando a compreenso sobre a cultura dos primeiros habitantes: os ndios Maromomi que so citados por todos os pesquisadores da histria de Guarulhos, porm pouco conhecidos. abordada, tambm, a polmica que envolve os ndios Goarulho. Na seqncia, tratamos da colonizao portuguesa no territrio guarulhense; enumeramos o ciclo do ouro, o trabalho escravo indgena e africano. Destacamos, ainda, a importncia do tijolo cozido para a economia local, perodo que coincide com a chegada dos imigrantes europeus (italianos, alemes, espanhis, portugueses, asiticos e libaneses). Finalizando, abordamos os fatores que levaram a cidade a se tornar um dos maiores plos industriais brasileiros, com a discusso sobre os trs momentos da industrializao do municpio, bem como a imigrao interna e o vertiginoso crescimento urbano. A quarta parte: Histria Cultural, Patrimnios e Identidades contm artigos que tratam de aspectos culturais, patrimoniais e de identidades mltiplas do povo guarulhense.

livro_v3.indd 12

9/24/aaaa 17:15:30

PARTE I | CONTEXTUALIZANDO A HISTRIA DE GUARULHOS: ANTES E APS 1560

livro_v3.indd 13

9/24/aaaa 17:15:30

livro_v3.indd 14

9/24/aaaa 17:15:30

GUARULHOS NO CONTEXTO COLONIAL PAULISTA: ANTES E APS 1560

15

Guarulhos no Contexto Colonial Paulista: Antes e Aps 1560Elton Soares de Oliveira Os contornos atuais da cidade, espao onde moramos, nos divertimos ou trabalhamos tm, aproximadamente, 60 milhes de anos. Nesta fase, relativamente recente da histria geolgica do municpio, houve um grande afundamento da terra ao longo do rio Baquirivu-Guau; regio onde se localiza o Aeroporto Internacional de So Paulo/Guarulhos, em Cumbica, evento geolgico que moldou a paisagem que conhecemos. Sobre a ocupao humana, os primeiros habitantes foram os ndios Maromomi, que expulsos do litoral paulista pelos ndios de lngua tupi-guarani, passaram a freqentar a regio por volta do ano de 1400 da era Crist. Eram nmades, praticavam a caa, a pesca e a coleta de frutose no chegaram a desenvolver a agricultura. So do tronco lingstico Macro-Je, da famlia Puri. H registros que informam sobra a tentativa frustrada de escravizar os Maromomi, que resistiram ateando fogo e destruindo plantaes em diversas fazendas, entre as quais a de Joo Sutil de Oliveira. Com o advento da colonizao portuguesa no territrio paulista, ocorre, em 1560, a fundao da aldeia de Nossa Senhora da Conceio e a tentativa de aldeamento dos ndios Maromomi. Sobre a data de fundao e o padre responsvel pelo feito h controvrsia. Na letra do hino a Guarulhos, lanado por ocasio do quarto centenrio de emancipao do municpio, em 1960, consta o nome do padre Joo lvares. J na Lei Municipal nmero 2789 de 1983, a fundao atribuda ao padre Manoel de Paiva. Para o pesquisador Benedito Prezia, o responsvel seria o padre Manuel Viegas. Passados os primeiros anos da fundao, em 1612, o portugus Geraldo Correia Sardinha descobre uma mina de ouro na parte leste do territrio guarulhense. O local, na poca, foi batizado com o nome de Lavras do Geraldo, e ficava no ribeiro Baquirivu. As atividades de minerao de ouro em So Paulo, Guarulhos, Sorocaba e Paranagu antecedem s de Minas Gerais em quase 100 anos e foram responsveis pelo incio do processo de formao urbana do municpio e pela escravizao dos ndios e dos negros trazidos da frica. A constituio das aldeias e a minerao de ouro foram momentos significativos para a consolidao dos objetivos do imprio portugus, a partir do territrio paulista. Em Guarulhos, ao impor seu modelo de ocupao do espao, os colonizadores destruram a forma de organizao social dos ndios que era baseada em um estilo de vida nmade e no uso coletivo dos recursos naturais. O modo portugus imps um estilo sedentarizado, assentado na explorao do trabalho

livro_v3.indd 15

9/24/aaaa 17:15:30

16

GUARULHOS TEM HISTRIA

humano e na apropriao dos recursos minerais para fins comerciais. Ao esgotamento das atividades de minerao interpor-se-ia outro modelo de ocupao do espao territorial no futuro municpio: o povoamento e as atividades econmicas se deslocaram dos morros para a regio prxima aos rios Tiet, Cabuu de Cima e Baquirivu-Guau. A partir de 1870, a imigrao subvencionada trouxe milhares de imigrantes europeus para o territrio paulista. A presena, principalmente, de italianos e alemes, a expanso da cafeicultura no estado de So Paulo, a implantao da rede ferroviria e as condies naturais existentes em Guarulhos (gua, argila, madeira, areia e pedra) possibilitaram o desenvolvimento de um novo momento econmico, baseado na produo de tijolos cozidos. A nova matria prima substituiu a taipa de pilo, tcnica adotada pelos colonizadores portugueses por trs sculos. O ciclo do tijolo, entre tantas coisas, trouxe trs elementos novos para o cenrio poltico da cidade: a formao das primeiras indstrias; o salrio como forma de remunerao do trabalho; e o surgimento dos primeiros operrios urbanos. Vrios fatores foram decisivos para o avano da industrializao em Guarulhos tais como: a posio geogrfica da cidade - situada entre So Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais; a primeira e a segunda guerra mundial; a existncia do aqfero Cumbica; iseno de impostos municipais; xodo rural; direcionamento de investimentos pblicos criando infra-estrutura, especialmente a via Dutra, as siderrgicas (Volta Redonda e Usiminas), hidroeltricas e plataformas de petrleo, etc. Diferentemente dos ciclos econmicos anteriores, que dispunham de toda matria prima no prprio municpio, a produo industrial depende de produtos semi-industrializados trazidos de outras localidades da cadeia produtiva. A industrializao na regio metropolitana e, tambm, em Guarulhos, gerou enorme contraste social, criou riquezas e muita pobreza, e, , degradao ambiental. Junto com a industrializao se deu a formao do operariado urbano e a organizao de seus membros em sindicatos, partidos polticos, associaes; realizando inmeras greves, passeatas, protestos, ocupaes e etc. De forma muito objetiva podemos afirmar que o povoamento guarulhense e os ciclos econmicos so correspondentes. Antes da chegada dos colonizadores, habitavam o territrio os ndios Maromomi, que sobreviviam em uma espcie de economia natural. A presena dos colonizadores portugueses se corresponde fortemente com o ciclo do ouro. A imigrao subvencionada possibilitou a chegada de italianos, alemes e o desenvolvimento do ciclo do tijolo cozido. No segundo momento, chegaram os libaneses, japoneses, entre outros, que se integraram ao processo econmico em curso, ocupando-se em atividades comerciais e no meio rural. A partir de 1940 intensifica-se o xodo rural brasileiro, com a construo da

livro_v3.indd 16

9/24/aaaa 17:15:31

GUARULHOS NO CONTEXTO COLONIAL PAULISTA: ANTES E APS 1560

17

Base Area de So Paulo (Basp), em Cumbica; da rodovia Presidente Dutra; e com a expanso industrial. Quanto s contribuies culturais de cada etnia, preciso realizar novas pesquisas e public-las em outra oportunidade.O espao o resultado da geografizao de um conjunto de variveis, de sua interao localizada, e no dos efeitos de uma varivel isolada. Sozinha, uma varivel inteiramente carente de significado, como o fora do sistema ao qual pertence. Quando ela passa pelo inevitvel processo de interao localizada, perde seus atributos especficos para criar algo novo (SANTOS, 1985, p 22 e 23)

Um caminho seguro para compreender os primeiros sculos da histria de Guarulhos comear os estudos pesquisando a origem da capitania de So Vicente, a fundao da vila de So Paulo de Piratininga e os objetivos da expanso comercial portuguesa durante a crise conjuntural europia do sculo XIV. No quadro das novas demandas econmicas da Europa, frente exclusividade rabe-Veneziano do comrcio de produtos orientais, principalmente as especiarias, a Europa vivia a chamada fome monetria, devido drenagem de metais para o Oriente. Portugal, aps longo perodo de preparao, se lana ao mar em busca de novas rotas comerciais pelo oceano atlntico. A soluo foi navegar para buscar especiarias e metais preciosos, especialmente ouro. Aps as trs primeiras dcadas da presena portuguesa em territrio brasileiro, em 20 de janeiro de 1535, fundada a capitania de So Vicente, e doada por D. Joo III a Martim Afonso de Souza, por alvar. Nesse perodo, o territrio Vicentino correspondia aos atuais estados de Minas Gerais, Gois, Mato Grosso, Rio Grande do Sul, Paran, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Esprito Santo e So Paulo. Em 25 de Janeiro de 1554, os padres jesutas, entre eles, Jos de Anchieta e Manoel da Nbrega, cruzaram a serra do mar e celebraram a primeira missa no planalto paulista, local conhecido por Ptio do Colgio, inaugurando o povoado de So Paulo de Piratininga. Em 1560, o povoado de So Paulo foi elevado condio de Vila, sendo implantado a Cmara, o Pelourinho e uma forca, smbolos expressivos do estatuto jurdico de uma vila da poca. A Cmara era formada por um juiz, dois vereadores, um procurador, um escrivo, um capito-mor e o porteiro da vila. Os membros da Cmara eram eleitos pelos homens bons. Eram considerados homens bons, aqueles de cor branca, proprietrios de escravos, terras e da religio catlica. A ocupao do espao territorial na vila de So Paulo significou a concentrao de religiosos, indgenas e colonizadores em um ponto estratgico para a defesa dos interesses da coroa portuguesa frente aos espanhis. A vila de So Paulo de Piratininga constituiu um caso singular na histria da colonizao, era a nica vila portuguesa construda afastada do litoral. Por qu?

livro_v3.indd 17

9/24/aaaa 17:15:31

18

GUARULHOS TEM HISTRIA

So Paulo aparecia para Castela como um entroncamento de caminhos que fora fechado em 1553, por medo dos Castelhanos, e que propiciava a ligao procurada de longa data entre os dois oceanos, atravs do interior, chegando a Potosi (THEODORO& RUIZ, 2004)

Na guerra colonial entre as potncias econmicas no sculo XVI, a vila de So Paulo e suas aldeias indgenas, no primeiro momento, cumpriram um papel de defesa dos interesses da coroa portuguesa contra os espanhis. No segundo momento, a partir de 1579, portugueses e espanhis se juntaram em torno de um plano para garantir a explorao de metais preciosos. As minas de Potosi, na Bolvia, sob o controle dos espanhis, e as da capitania de So Vicente dos Portugueses. Em 1602, aumenta a crena dos colonizadores que o vasto territrio da capitania de So Vicente era rico em metais preciosos. O Brasil foi dividido em duas regies administrativas, norte e sul: a regio sul passou a ser prioritria em funo da caa ao ouro. O antigo governador geral do Brasil, D. Francisco de Souza, foi nomeado governador geral da regio administrativa sul e superintendente das minas. Logo no incio, D. Francisco ordenou que fosse utilizada fora de trabalho indgena escravizada na minerao com tratamento igual aos ndios das minas de Potosi, na Bolvia. No mesmo ano, trouxe do territrio dos Goarulho, regio norte do Rio de Janeiro e o estado do Esprito Santo, 200 ndios para as minas da capitania de So Vicente. Neste contexto histrico, sem documentao que comprove, em 1560 ocorre tentativa de concentrar os ndios Moromomi na aldeia de Nossa Senhora da Conceio. Inicialmente, chamada de Nossa Senhora da Conceio dos Moromomi. Posteriormente, em 1640, passou a se chamar Nossa Senhora da Conceio dos Goarulho, data aproximada quando houve a troca do nome dos Maromomi para Goarulho. Em sintonia com a poltica da capitania de So Vicente, em 1597, o bandeirante paulista, Afonso Sardinha, descobre ouro em Guarulhos, na Serra do Jaguamimbaba, atual Serra do Itaberaba ou do Gil. O fato atraiu a Guarulhos Dom Francisco de Sousa, o stimo governador geral do Brasil na poca, (NORONHA, 1986, p.116). Em 1638, Geraldo Correa Sardinha, (no o filho bastardo de Afonso Sardinha com o qual no tem nenhum parentesco; o filho bastardo foi Afonso Sardinha, o moo) ganha carta de sesmaria para explorar ouro no rio Baquirivu-Guau. Em 1741, a Cmara de So Paulo probe, atravs de um edital, a criao de porcos soltos nas proximidades das lavras velhas do Geraldo. A medida visava proteger os canais condutores de gua, utilizada na lavagem de cascalho.

livro_v3.indd 18

9/24/aaaa 17:15:32

GUARULHOS NO CONTEXTO COLONIAL PAULISTA: ANTES E APS 1560

19

... Mandamos que pessoa nenhuma assistente naquela dita paragem traga porcos soltos fora do chiqueiro pena de ser condenado... Os trabalhos de minerao devem ter durado cerca de dois sculos (XVI e XVII), no havendo qualquer notcia de extrao de ouro no sculo passado (Id., p.p.53 e 56)

Observamos que ao modelo de funcionamento econmico no perodo correspondeu uma forma de administrao poltica centralizada. De 1560 a 1880, a vida poltica de Guarulhos esteve ligada a So Paulo. Durante 320 anos a localidade foi aldeia, distrito e freguesia de So Paulo. Somente em 1880 Guarulhos se torna municpio, desmembrando-se da capital paulista. A mudana de aldeia para distrito aconteceu em 1675. Dez anos aps, em 8 de maio de 1685, passou a ser freguesia, concorreu para as alteraes a presena dos mineradores de ouro, que, na poca, exerciam o domnio poltico na localidade. Por freguesia se deduz um pequeno povoado, com misto de ndios e colonizadores de cunho eclesistico. Na mesma data foi fundada a parquia de Nossa Senhora da Conceio, atual Catedral (conhecida, tambm, por igreja Matriz), na Praa Tereza Cristina. Em 24 de maro de 1880 criado o Municpio de Guarulhos, tambm chamado de Vila, mediante a sano da Lei nmero 34 pela Assemblia Provincial. A presena de grandes latifundirios da poca e suas influncias pessoais fizeram com que ocorresse a mudana.Fica elevada categoria de vila de freguesia de Nossa Senhora da Conceio dos Guarulhos compreendendo as freguesias de Nossa Senhora da Penha de Frana e a de Juquery (atual Bairro da Penha e Mairipor) com suas atuais divisas (Id. ib, p.123)

Em 1886 a Penha volta a pertencer a So Paulo, em 1889, Mairipor se separa de Guarulhos tornando-se vila. A instalao do Municpio de Guarulhos ocorreu em 24 de janeiro de 1881, com a posse dos vereadores eleitos, capito Joaquim Francisco Paulo Rabello, Francisco Soares da Cunha, Joaquim Rodrigues de Miranda, Jos de SantAna, Marciano Ortiz de Camargo e Jos Alves de Almeida Pinho. Aps a instalao, o capito Joaquim Francisco Paulo Rabello foi eleito intendente municipal; correspondente ao cargo atual de prefeito. Guarulhos, s ganhou o estatuto de cidade em 1906, atravs da Lei n. 1.038. Toponmia: O Nome Guarulhos H muito tempo vem sendo adotada a elaborao defendida por Teodoro Sampaio sobre a origem do nome da cidade.

livro_v3.indd 19

9/24/aaaa 17:15:32

20

GUARULHOS TEM HISTRIA

Em Tupi, na Geografia Nacional, Teodoro Sampaio define Guaru como sendo: o indivduo que come o comedor, em aluso ao formato do peixe desse nome, cuja parte ventral saliente. Sobre a origem do termo Guarulhos,so significativas as palavras do historiador John Manuel Monteiro:Ento como eu comecei a colocar, existem mais dvidas do que certezas. Eu vou falar de algumas das dvidas que eu tenho sobre a histria de Guarulhos, e sugerir, talvez, alguns caminhos de pensar como resolver essas questes. Eu acho que uma primeira questo foi aquilo que o Benedito j estava colocando, que o prprio nome: de onde vem e o que significa Guarulhos? A evidente que tem toda uma tradio que grande no Brasil, de tentar resolver a partir de uma tupinologia amadora, ou seja, de usar os vocbulos, e as slabas da lngua geral, que aquilo que surgiu a partir do tupi, como foi falado no incio do perodo colonial e sistematizado por europeus, sobretudo por jesutas. Isso, sobretudo, a partir da independncia do Brasil, comeou a ser um instrumento importante da nacionalidade. Tudo era chamado de nomes tupis e, mesmo em lugares em que no existiam populaes tupis, as populaes eram no tupis, como no caso de Guarulhos. Quase todos os nomes aqui so nomes de lngua geral; so nomes de tupis. Isso sugere, evidentemente, que so nomes que foram atribudos posteriormente, e s vezes um exerccio enganoso, porque muitas vezes a gente acha, que tem um nome indgena porque os ndios deram esse nome. A maior parte dos lugares no Brasil tem nomes ndios que foram dados por no ndios, e muito posteriormente. No caso de Minas Gerais muito claro, tem muitos nomes tupis, mas que so nomes que foram dados pelos paulistas, que foram l no sculo XVIII minerar e escravizar ndios, enfim, s que leva a uma idia ingnua de que esse lugar, por exemplo, Aiuruoca, que o lugar das araras, pedra das araras, alguma coisa assim, enfim seria algo, como tinha araras ficou assim, mas no, chegou um paulista deu esse nome e pegou. S que posteriormente a gente vai confundindo um pouco esse processo. No caso dos Guarulhos muito curioso porque o nome que ficou de fato. A partir do sculo XVII, no se sabe exatamente quando, mas que pegou, e substituiu o nome anterior para designar certo grupo indgena, esses que eram chamados Maromomi e que mais tarde isso foi corrompido para Guaru-Mirim, que seria o tupi para Guaru pequeno, enfim, seria uma corruptela para Marumirim. algo bastante revelador esses processos de mudana que a gente tem que tomar cuidado, ter bastante ateno. O que aconteceu no meu entender? Bom eu acho que e o Benedito escreveu isso num outro livro, de uma maneira bastante interessante, um momento crtico, no incio do sculo XVII. Eu fiz uma pesquisa procurando onde que aparece esse termo Guarulhos. O Benedito identificou um momento por volta de 1599 se no me engano, 98, 99, ainda no sculo

livro_v3.indd 20

9/24/aaaa 17:15:32

TOPONIMIA: O NOME GUARULHOS

21

XVI em que se fazia referncia aos ndios Guarulhos, mas no eram desta regio propriamente dita, mas que era um lugar que posteriormente acabou chamado de Santo Antonio dos Guarulhos no Rio de Janeiro...(Palestra do historiador John Manuel Monteiro, proferida em 2005, em atividade do Movimento Guarulhos Tem Histria)

Consideramos que os colonizadores europeus, na tentativa de resolver as dificuldades de comunicao e compreenso da diversidade lingstica dos povos indgenas criaram uma tupinologia amadora, sistematizada na lngua geral e expressa na toponmia nacional e local. A atribuio do nome Guarulhos, aos Moromomi, reflete o processo de dominao dos colonizadores portugueses no territrio brasileiro e no espao que veio a se chamar Guarulhos. A noo de espao assim inseparvel da idia de sistemas de tempo. A cada momento da historia local, regional, nacional, ou mundial, a ao das diversas variveis depende das condies do correspondente sistema temporal. (SANTOS,1985, p. 22)

livro_v3.indd 21

9/24/aaaa 17:15:32

22

GUARULHOS TEM HISTRIA

BIBLIOGRAFIAAQUINO, Rubim Santos Leo de. Sociedade brasileira: uma historia atravs dos movimentos

sociais [ et al ]. 5 ed. Rio de Janeiro: Record, 2006.JULIANI, C. Geologia, petrognese e aspectos metalogenticos do grupo Serra do Itaberaba e

So Roque na regio das serras do Itaberaba e da Pedra Branca, NE da cidade de So Paulo. Tese de Doutoramento apresentada ao Instituto de Geocincias da USP, 2 Vol., 803 p., 5 mapas, So Paulo, 1993. LUS, Washington. Na Capitania de So Vicente. Braslia: edies do Senado Federal, 2004. MONTEIRO, John. Trecho de palestra proferida em atividade do Movimento Guarulhos Tem Histria, em 19 de abril de 2005, no Espao Cultural Florestan Fernandes. Guarulhos/SP. PREZIA, Benedito. Maromomi, Os Primeiros Habitantes de Guarulhos. Prefeitura de Guarulhos e Espao Cultural Florestan Fernandes, 2004. ______________. Histria da Capitania de So Vicente. Braslia: Edies do Senado Federal, 2004. ______________. Os indgenas do planalto nas crnicas quinhentistas e seiscentistas. So Paulo: Humanistas/FFLCH/USP,2000. ROMO, Jos Gasparino & NORONHA, Adolfo de Vasconcelos. Guarulhos 1880 1980. Guarulhos: PMG/ Academia Guarulhense de Letras, 1980. SANTOS, Milton. Espao e Mtodo. So Paulo: Nobel, 1985. SAMPAIO, Teodoro. O Tupi na Geografia Nacional. 1885-1937. Introduo e Notas de Frederico G. Edelweiss, 5 Edio, So Paulo: Editora Nacional-Braslia, 1987. THEODORO, Janice & RUIZ, Rafael. IN: Histria da Cidade de So Paulo: a Cidade Colonial 1554 1822. v. I. So Paulo: Paz e Terra, 2004

livro_v3.indd 22

9/24/aaaa 17:15:33

PARTE II | HISTRIA NATURAL, GEOGRAFIA, GEOLOGIA E MEIO AMBIENTE

livro_v3.indd 23

9/24/aaaa 17:15:33

livro_v3.indd 24

9/24/aaaa 17:15:33

ASPECTOS FISIOGRFICOS DA PAISAGEM GUARULHENSE

25

Aspectos Fisiogrficos da Paisagem GuarulhenseMarcio Roberto M. de Andrade Antonio Manoel dos Santos Oliveira William de Queiroz Sandra Emi Sato Edson Jos de Barros Guilherme Bagattini Adriana de Arajo Aleixo O municpio de Guarulhos localiza-se entre os paralelos 231623 e 233033 de latitude Sul e entre os meridianos 462006 e 463439 de longitude Oeste, ou seja, o municpio encontra-se na latitude do Trpico de Capricrnio, que passa na altura do km 215 da Rodovia Presidente Dutra, no bairro de Cumbica. Distante 17 quilmetros do centro da cidade de So Paulo, Guarulhos um dos 39 municpios que compem a Regio Metropolitana de So Paulo (RMSP), localizado a nordeste desta, tem como limites os municpios de Mairipor e Nazar Paulista (norte), Santa Isabel (nordeste), Aruj (leste), Itaquaquecetuba (sudeste) e So Paulo (sudeste, sul, oeste e noroeste).

Mapa da RMSP. Localizao de Guarulhos

livro_v3.indd 25

9/24/aaaa 17:15:33

26

GUARULHOS TEM HISTRIA

Em 1964, uma reviso (Lei 8292/64) havia apontado 334 km2 e em 1983, o IGC Instituto Geogrfico e Cartogrfico definia um permetro que levava a uma rea de 341 km2. Atualmente a rea legal do municpio de 320,5 km2, divididos em 47 bairros, segundo estabeleceu a Prefeitura Municipal de Guarulhos, em 1993, com base em levantamentos areos e de campo.

Cidades circunvizinhas ao municpio de Guarulhos

Clima Guarulhos situa-se na transio entre duas grandes zonas climticas do planeta, delimitadas pelo Trpico de Capricrnio: a Zona Tropical e a Zona Temperada. A regio de Guarulhos tem como caracterstica predominante um domnio climtico mesotrmico brando mido, com um a dois meses secos. A temperatura mdia anual est entre 18C e 19C, sendo a mdia do ms mais frio inferior a 15C, enquanto que nos meses de vero a mdia pode variar entre 23C e 24C. O ndice pluviomtrico est entre 1.250 e 1.500 mm/ano. Segundo Koppen o clima pode ser classificado como Cwb temperado quente (C), com poca seca coincidente com o inverno (w) e temperatura mdia do ms mais quente inferior a 22C (b). Como caracterstica bsica, tem-se o inverno seco e o vero chuvoso, com influncia de frentes frias antrticas e da umidade proveniente do oceano Atlntico. O perodo chuvoso marcado pela ocorrncia de pancadas de chuvas que podem atingir valores superiores a 50 mm acumulados em uma hora, sendo freqente a

livro_v3.indd 26

9/24/aaaa 17:15:40

ASPECTOS FISIOGRFICOS DA PAISAGEM GUARULHENSE

27

ocorrncia de enchentes nestas ocasies. Por outro lado, a umidade do ar pode atingir valores inferiores a 20%, em episdios problemticos sade pblica e risco de incndios. A rea mais intensamente urbanizada da RMSP e de Guarulhos encontra-se numa regio abrigada entre as Serras da Cantareira ao norte e do Mar ao sul onde a circulao atmosfrica nem sempre favorvel, podendo ocorrer eventos de baixa qualidade do ar, haja vista a enorme quantidade de gases lanados pelos veculos automotores da metrpole, indstrias e aeronaves, agravados ainda mais pelo fenmeno de inverso trmica que pode ocorrer nos perodos de inverno. Geologia

Mapa geolgico de Guarulhos (EMPLASA, 1984)

livro_v3.indd 27

9/24/aaaa 17:15:41

28

GUARULHOS TEM HISTRIA

O territrio de Guarulhos constitudo por dois conjuntos geolgicos como pode ser observado no seu mapa geolgico: os terrenos do embasamento cristalino do pr-cambriano e os terrenos sedimentares do Cenozico, perodos Tercirio e Quaternrio. (ver pg. 23) Os terrenos cristalinos se distribuem, principalmente, na regio norte do territrio. Eles so formados por rochas magmticas tais como os granitos e dioritos; e metamrficas como os migmatitos, anfibolitos, micaxistos, filitos e quartzitos. Pertencem Regio de Dobramentos Sudeste, tambm conhecida como orgeno Ribeira, integrante da Provncia Mantiqueira que representada por um sistema orognico neoproterozico situado no sul e sudeste do Brasil, tambm definido como Orognese Brasiliana que teve incio em torno de 880 milhes de anos (M.a.) e findou h cerca de 480 M.a. A orognese um processo decorrente da tectnica global que forma as cadeias de montanhas nos continentes, como o caso das Cordilheiras dos Andes, na Amrica do Sul. Isto significa que esses terrenos cristalinos em Guarulhos resultam de antigas cordilheiras que foram desgastadas pela eroso geolgica e hoje representadas por morros e montanhas mais baixas, exemplo das Serras da Cantareira e do Itaberaba. (ver pg.25) Os terrenos sedimentares Tercirios correspondem denominada Bacia Sedimentar de So Paulo e se distribuem na regio sul do territrio. A Bacia de So Paulo hoje entendida como uma das unidades integrantes do denominado Rift Continental do Sudeste do Brasil- RCSB, feio tectnica anteriormente designada Sistema de Rifts Continentais da Serra do Mar. Os terrenos Quaternrios correspondem de forma expressiva s aluvies nos fundos dos vales que esto em formao at os dias de hoje, especialmente relacionados aos rios Tiet, Cabuu de Cima e Baquirivu-Guau, inCachoeira na Serra da Cantareira (Ncleo Cabuu) formada por uma falha geolgica em rocha grantica cluindo, ainda, os depsitos de

livro_v3.indd 28

Marcio Roberto M. de Andrade

9/24/aaaa 17:15:42

ASPECTOS FISIOGRFICOS DA PAISAGEM DE GUARULHOS

29

encosta (colvios) e as coberturas pedolgicas (solos) de forma generalizada. O levantamento geolgico de maior detalhe desenvolvido em Guarulhos foi elaborado pelo gelogo Caetano Juliani, concludo em 1993, que caracterizou uma unidade geolgica conhecida por Grupo Serra do Itaberaba. Esta unidade geolgica tem grande significado para o municpio, pois, historicamente, proporcionou a explorao de ouro como o garimpo denominado de Tapera Grande no sculo XVI. O aproveitamento mineral est presente at os dias de hoje, destacando-se a explorao de brita em granitos (terrenos cristalinos) nas pedreiras Firpavi, Basalto 10 (antiga Reago) e Paupedra. H tambm explorao de areia nos sedimentos tercirios e quaternrios, como nos casos dos portos de areia Atic, Floresta Negra, Felcio e Aresca. Outra atividade significativa a explorao das guas subterrneas por empresas que atuam, principalmente, nos terrenos sedimentares, com destaque na regio de Cumbica. A explorao de argila para uso em olarias (fabricao de tijolos) foi uma atividade que teve grande importncia durante o sculo XX e esteve sempre associada s reas de vrzea. Relevo O municpio de Guarulhos est sobre o Planalto Atlntico que corresponde a uma grande unidade geomorfolgica do relevo do Brasil meridional e do Estado de So Paulo.

Perfil geolgico-geomorfolgico no Estado de So Paulo (modificado de AB SABER, 1956)

livro_v3.indd 29

9/24/aaaa 17:15:43

30

GUARULHOS TEM HISTRIA

O relevo mais acidentado do territrio de Guarulhos, composto especialmente por morros e montanhas ao norte e nordeste do municpio, est associado aos terrenos cristalinos, apresenta uma densa rede de drenagem. Os aspectos mais marcantes desse relevo so as encostas longas e com alta declividade (inclinao), as grandes elevaes e os vales muito encaixados. Encontram-se nesta regio as serras denominadas de Pirucaia (Cantareira), Bananal e de Itaberaba (Pico do Gil), que atingem mais de 1000m de altitude. O Pico do Gil ou do Itaberaba, ponto culminante do municpio situado no extremo nordeste na divisa com o municpio de Nazar Paulista, tem altitude de 1.422 metros que muito superior a do pico do Jaragu (municpio de So Paulo) do Pico do Urubu na Serra do Itapeti (municpio de Mogi das Cruzes), ambos com 1.135 metros. Esse fato indica que Guarulhos possui a maior elevao da Regio Metropolitana de So Paulo. Na regio sul de Guarulhos a topografia mais rebaixada e forma um relevo de colinas e plancies com um padro de drenagem com densidade menor. Neste caso o relevo apresenta encostas que, no geral, apresentam comprimentos e declividades menores, ocorrendo plancies mais abertas nos fundos de vale. Esta regio encontra-se associada aos sedimentos da Bacia de So Paulo e s aluvies quaternrias. A menor altitude encontrada em Guarulhos ocorre junto ao crrego do Jaguari, na divisa com o municpio de Aruj com 660 metros. Tambm merece destaque a foz do Rio Cabuu de Cima, prximo a barragem da Penha no rio Tiet, na divisa com o municpio de So Paulo, com 720 metros. Na regio sul, onde o relevo mais suave, iniciou-se o povoamento, a formao da vila, futura freguesia, dos bairros e do centro. Ali se desenvolveu a urbanizao e industrializao de forma relativamente mais favorvel sob o ponto de vista topogrfico e geotcnico. Entretanto, grande impacto teve a ocupao das vrzeas, como foi o caso de alguns loteamentos e do prprio aeroporto, que geram reas de risco a enchentes, agravadas pela intensa impermeabilizao do solo devida ao crescimento da cidade. As plancies aluvionares quaternrias so geotecnicamente desfavorveis quanto fundao e estabilidade de cortes, especialmente em obras de escavaes subterrneas. Onde ocorre o relevo de morros e montanhas ao norte nos terrenos cristalinos, a paisagem ainda predominantemente rural. Entretanto, o surgimento de alguns ncleos urbanos vem causando srios problemas ao meio ambiente, tais como: desmatamento, eroso e assoreamento de corpos d gua, contaminao da gua e do solo, assim como o surgimento de reas de risco geolgico, vulnerveis a escorregamentos. O mapa hipsomtrico de Guarulhos permite observar a topografia do territrio por meio das altitudes dos terrenos.

livro_v3.indd 30

9/24/aaaa 17:15:44

ASPECTOS FISIOGRFICOS DA PAISAGEM GUARULHENSE

31

Solos Os solos predominantes so os latossolos, variedade vermelho-amarelo e, secundariamente, os argissolos, ambos em geral muito argilosos. Em relevos de montanhas podem ser encontrados os cambissolos e neossolos, que so solos rasos sobre as rochas, enquanto nos fundos de vale encontram-se os gleissolos orgnicos e argilosos que podem ocorrer de formar expressiva nas vrzeas dos rios Tiet e Baquirivu-Guau. Embora os solos sejam muitas vezes rasos com menos de um metro de espessura, o manto de alterao da rocha muito profundo com dezenas de metros. Tudo isso indica que o intempersmo qumico que causa a alterao da rocha para formar os solos intenso, resultante de um clima mido agindo h muito tempo.

Mapa Hipsomtrico de Guarulhos (OLIVEIRA, 2007)

livro_v3.indd 31

9/24/aaaa 17:15:44

32

GUARULHOS TEM HISTRIA

As associaes entre os componentes naturais, geologia, relevo e solos so muito evidentes. As rochas cristalinas e as grandes feies estruturais ocorrem em associao a relevos mais acidentados tais como serras e morros, podendo apresentar argissolos, cambissolos e at neossolos. As colinas onde predominam os sedimentos tercirios esto associadas aos latossolos. Os depsitos sedimentares quaternrios formam as plancies aluviais e as vrzeas associadas s baixadas de fundos de vale onde esto os gleissolos. Um aspecto marcante associado aos solos a presena de colvios que so reconhecidos de forma generalizada no territrio de Guarulhos, atravs da presena de linhas de pedra que podem ser observadas nos perfis de solo, indicadoras de movimentao dos solos nas encostas. Os solos correspondem a um recurso natural fundamental ao desenvolvimento de qualquer sociedade humana. Neste aspecto os solos de Guarulhos foram muito explorados como bem mineral, nas antigas lavras de ouro e nas cavas de argila para as olarias, e so ainda muito explorados como reas de emprstimo para obras de terra. Ainda hoje, existe alguma atividade rural de produo de madeira de reflorestamento, plantio de algumas culturas e criao de animais. A utilizao de solos para obras de terra a prtica que mais altera as condies ambientais dos solos em Guarulhos. Devido suas caractersticas, os latossolos constituem os materiais mais indicados para este fim. No entanto, por serem restritos a uma camada superficial em geral pouco profunda, tambm so aproveitados os materiais subjacentes, do manto de intempersmo da rocha. Este fato proporciona muita eroso nos aterros constitudos por esses materiais, acarretando o assoreamento de drenagens, especialmente nas reas de relevo mais acidentado, onde podem ocorrer, tambm, deslizamentos de terra. Em reas de gleissolos ocorrem solos moles tambm problemticos para o uso e ocupao do solo. Sob o ponto de vista agrcola, os solos no apresentam grandes potenciais, sendo pouco frteis. Em geral, so usadas reas onde ocorrem os latossolos e os gleissolos, cujo aproveitamento bom, especialmente para a horticultura, dada a presena de matria orgnica e umidade. Entretanto, as reas de gleissolos so, hoje, pouco expressivas tendo em vista a ocupao das vrzeas, especialmente pela zona aeroporturia de Guarulhos. Bacias Hidrogrficas Guarulhos est inserido em duas grandes bacias hidrogrficas: a do Tiet e a do Paraba do Sul. Em correspondncia ao Tiet, Guarulhos situa-se na Unidade de Gerenciamento de Recursos Hdricos UGRHI do Alto Tiet com uma rea de, aproximadamente, 259km2, ou seja, 80,9% do municpio. Em correspondncia ao Paraba do Sul, situa-se na UGRHI Paraba do Sul,

livro_v3.indd 32

9/24/aaaa 17:15:45

ASPECTOS FISIOGRFICOS DA PAISAGEM GUARULHENSE

33

com uma rea de, aproximadamente, 61km2, ou seja, 19,1% do municpio.Principais Sub-bacias Encontradas no Municpio de Guarulhos:Bacia Sub-Bacia Baquirivu-Guau Cabuu de Cima Alto Tiet Paraba do Sul Central Parati-mirim Jaguari rea aproximada 149 km2 49 km2 33 km2 4 km2 61 km2 % Aproximada 46,6 15,3 10,3 1,3 19,0

Mapa das Bacias Hidrogrficas de Guarulhos (OLIVEIRA, 2007)

livro_v3.indd 33

9/24/aaaa 17:15:46

34

GUARULHOS TEM HISTRIA

O municpio est representado no Comit da Bacia do Alto Tiet (Sub-Comit Cabeceiras) e no Comit do Paraba do Sul (Sub-Comit Jaguari). Apresenta trs reas de proteo aos mananciais: do Cabuu, do Tanque Grande e do Jaguari. As sub-bacias em Guarulhos tm caractersticas diferenciadas em relao ao relevo. As sub-bacias do rio Cabuu de Cima, do crrego do Jaguari e dos cursos contribuintes da margem direita do rio Baquirivu-Guau, tem suas cabeceiras formadas num relevo de morros e montanhas, sendo os canais encaixados e fortemente condicionados por estruturas tectnicas, formando um padro de drenagem dendrtico a subparalelo, de alta densidade. Quando atingem a regio da bacia sedimentar onde o relevo formado principalmente por colinas, assim como os demais cursos dgua que surgem nesta regio, mudam para uma densidade de drenagem baixa, em vales mais amplos, por vezes com canais meandrantes em plancies fluviais. Os canais dos rios Tiet, Cabuu de Cima e Baquirivu-Guau, dos crregos Itapegica, Cocaia, Cocho-Velho e Baquirivu-Mirim, so especialmente problemticos com respeito s enchentes que ocorrem nas antigas vrzeas. Embora com perspectivas mais recentes de implantao de estaes de tratamento de esgoto, em Guarulhos todo efluente domstico lanado nos cursos dgua do seu territrio, e assim ocorre especialmente naqueles crregos e rios que passam pelas reas mais urbanizadas. Por outro lado, os efluentes industriais em grande parte so tratados pelas empresas por obrigao legal, havendo entretanto lanamentos clandestinos, o que agrava a contaminao da gua. O Aqfero Cumbica Guarulhos, assim como os outros municpios da RMSP, depende de recursos hdricos limitados, considerando a grande demanda relativa regio economicamente mais ativa do Pas e sua localizao na regio hidrogrfica das nascentes que formam a Bacia do Rio Tiet. A disponibilidade hdrica social da RMSP , por vezes, at inferior a algumas regies do nordeste semi-rido, tendo em vista a elevada taxa demogrfica e baixa vazo hdrica da Bacia do Tiet na RMSP. A gua para abastecimento Represa do Cabuu, 2005 das atividades scio-econ-

livro_v3.indd 34

Antonio Manoel dos Santos Oliveira

9/24/aaaa 17:15:47

ASPECTOS FISIOGRFICOS DA PASAGEM GUARULHENSE

35

micas de Guarulhos fornecida principalmente pela SABESP, a partir dos sistemas Cantareira e Alto Tiet, cujas reas de captao esto distantes de Guarulhos. No entanto, Guarulhos tambm obtm gua em seu prprio territrio atravs do SAAE (Servio Autnomo de gua e Esgoto) nos reservatrios do Tanque Grande (120 l/s) e do Cabuu (300 l/s) e, ainda, em poos que exploram aqferos subterrneos. Esses recursos hdricos explorados na cidade apresentam de forma geral uma boa qualidade e potabilidade, embora atendam a menos de 10% das necessidades atuais. As guas subterrneas em Guarulhos podem ser obtidas em duas formaes aqferas que esto relacionadas geologia de seu territrio. O aqfero fissural est associado aos terrenos cristalinos com distribuio na regio norte do municpio e apresenta vazes baixas. O aqfero sedimentar est associado aos terrenos sedimentares que possuem distribuio na regio sul e pode apresentar vazes superiores. No Graben do rio Baquirivu-Guau podem atingir vazes excepcionais que, segundo estudo realizado pelo gelogo Hlio Diniz, alcanam at 120 m3/h. O Graben uma feio tectnica formada por blocos de falha que afundam na crosta terrestre. O Graben do rio Baquirivu-Guau forma um importante sistema aqfero muito procurado para obteno de gua por indstrias e pelo Aeroporto Internacional de So Paulo/Guarulhos. Este sistema conhecido por Aqfero Cumbica que considerado como uma rea especial que requer medidas de proteo aos mananciais subterrneos. Flora e Fauna Guarulhos um dos municpios inseridos na Reserva da Biosfera do Cinturo Verde da cidade de So Paulo, conforme ttulo outorgado pela Unesco em 09/06/94. O territrio de Guarulhos se apresenta, aproximadamente, 33% recoberto por remanescentes de Mata Atlntica, incluindo o domnio de Floresta Ombrfila Densa formao Montana, que pode ser dividida em natural (primria) e secundria (antrpica). Estes remanescentes esto distribudos principalmente ao longo da Serra da Cantareira, poro norte e nordeste do municpio, e em algumas manchas na paisagem urbana. Pode ser encontrada, ainda, formao florestal tpica de vrzea, ou seja, de reas mais midas, assim como pequenas manchas de vegetao com caractersticas de Cerrado (savana), que ocorriam na rea ao longo de rodovia Presidente Dutra e ainda podem ser encontradas em alguns morros na regio do Cabuu. A conservao da biodiversidade e a manuteno dos processos ecolgicos esto diretamente relacionados cobertura vegetal existente, assim a poro norte do municpio a que detm atualmente maior biodiversidade. Nesta biodiversidade, a Mata Atlntica abriga espcies da flora tais como: jequitib-branco, cedro

livro_v3.indd 35

9/24/aaaa 17:15:48

36

GUARULHOS TEM HISTRIA

rosa, aoita cavalo, palmito juara, pau-jacar, embaba, canela, jacarand, samambaia-au entre outros. Segundo levantamento realizado pela Prefeitura Municipal de Guarulhos foram identificados 190 espcies de animais silvestres. Foram encontradas na regio espcies selvagens comuns em ambientes florestais, tais como: Puma concolor (suuarana), Lontra longicaudis (lontra), Gallictis cuja (furo comum), Allouata fusca (bugio), Cebus apella (macaco prego), Euphractus sexcintus (tatu peba), Didelphis marsupialis (gamb) entre outros. A forte presso exercida pelo histrico de uso do solo em Guarulhos causou uma intensa fragmentao dos macios florestais, com srias conseqncias aos servios oferecidos pela biosfera. Assim, a vegetao nativa praticamente foi extinta na regio sul do municpio. J na regio norte se encontra muito ameaada pela expanso urbana. Esta situao de ameaa levou Guarulhos a criar a APA do CabuuTanque Grande - unidade de conservao de uso sustentvel no entorno do Parque Estadual da Cantareira que, aproximando-se da APA do Paraba do Sul, forma um mosaico de Unidades de Conservao na direo da Serra da Mantiqueira. A regio sul marcante a presena do Parque Ecolgico do Tiet e da APA da Vrzea do Rio Tiet, esta ltima se desenvolve a partir do municpio de BiritibaMirim, regio das nascentes do rio Tiet, at o municpio de Guarulhos.

livro_v3.indd 36

9/24/aaaa 17:15:48

ASPECTOS FISIOGRFICOS DA PAISAGEM GUARULHENSE

37

BIBLIOGRAFIAAB SABER, A. N.

A terra paulista. Boletim Paulista de Geografia, So Paulo, (23):

p5-38, 1956.ANDRADE, M. R. M. Cartografia de aptido para assentamento urbano do municpio de

Guarulhos-SP. Dissertao de mestrado. Departamento de Geografia - FFLCH-USP, 7 mapas, 154p, 1999. DINIZ, H. N. Caracterizao geolgica e hidrogeolgica da Bacia Hidrogrfica do Rio Baquirivu-Guau na regio de Guarulhos-SP. Revista Universidade Guarulhos. Geocincias. Guarulhos, v. 1, n. 3, p. 51-61, 1996. ___________Estudo do potencial hidrogeolgico da bacia hidrogrfica do rio BaquirivuGuacu, municpios de Guarulhos e Aruj, SP. Tese de Doutoramento IGUSP, 296p, 1996. EMPRESA METROPOLITANA DE PLANEJAMENTO DA GRANDE SO PAULO S.A.. Carta geolgica da Regio Metropolitana de So Paulo folhas Guarulhos e Itaquaquecetuba 1:50.000, 1984.GUARULHOS - SECRETARIA DE TRANSPORTES E TRNSITO INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLGICAS DO ESTADO DE SO PAULO. Mapa geomorfolgico do Estado de So Paulo Escala 1:1.000.000. So Paulo, publicao 1183, Monografia 5, 2 v., 130p, 1981. JULIANI, C. Geologia, petrognese e aspectos metalogenticos dos Grupos Serra do Itaberaba e So Roque na regio das Serras do Itaberaba e da Pedra Branca, NE da cidade de So Paulo, SP. Tese de Doutoramento IGUSP, 2 v., 5 mapas, 803p, 1993. JULIANI, C; BELJAVSKIS, P.; JULIANI, L. J. C. O.; GARDA, G. M. As mineralizaes de ouro de Guarulhos e os mtodos de sua lavra no perodo colonial. Rev. Cincia e Tcnica, n. 13. CEPEGE, So Paulo, p8-25, 1995. NIMER, E. Climatologia do Brasil. IBGE, Rio de Janeiro, 421p. 1989. OLIVEIRA, A. M. S.ORG Diagnstico ambiental para o manejo sustentvel do Ncleo Cabuu do Parque Estadual da Cantareira e reas vizinhas do municpio de Guarulhos. Universidade Guarulhos: Relatrio FAPESP, 109p. 2 v., 2005. __________ Bases geoambientais para um sistema de informaes ambientais para o municpio de Guarulhos. Universidade Guarulhos: Relatrio parcial FAPESP, 56 p. 2007.

livro_v3.indd 37

9/24/aaaa 17:15:48

38

GUARULHOS TEM HISTRIA

O Passado Geolgicos de GuarulhosCaetano Juliani Marcio Roberto M. de Andrade Edson Jos de Barros Quando andamos pela cidade raramente prestamos ateno nas formas da topografia do local que nos cerca, pois, geralmente, no vemos mais os rios e as suas encostas, agora cobertas por ruas e edifcios. Alguns de ns poderemos, ainda, lembrar de algum lugar onde existia um riacho, ou at mesmo uma casa antiga. Mas, quando ela demolida e substituda por uma casa de comrcio, rapidamente nos esquecemos do que j existiu ali. Se nos esforarmos um pouco, talvez possamos lembrar de algo de nossa infncia ou de estrias contadas por nossos avs; o que leva memria dos seres humanos sobre o ambiente em que vivemos at no mximo h poucas dcadas atrs. Quando estamos no campo, s vezes, ficamos admirados ao vermos uma bela montanha que se ergue no horizonte, ou um rio que serpenteia pela plancie. Entretanto, nunca imaginamos que um dia, num tempo muito longnquo, muito antes dos primeiros seres vivos existirem na Terra, que nada poderia ter existido naquele local, nem rios nem montanhas. At mesmo, onde hoje h a montanha, pode ter sido um mar; e onde o rio est, pode ter sido um deserto ou uma regio glacial, como nos plos norte ou sul. Isto ocorre porque o tempo geolgico tem uma dimenso muitssimo maior do que o transcorrer de uma vida humana, e at mesmo da existncia do ser humano. Por isso, e por serem os eventos geolgicos transformaes muito lentas que, em geral, no podemos observar diretamente (exceto num vulco). Nossa lembrana jamais alcana o passado geolgico. A descrio dos grandes eventos geolgicos que ocorreram na regio de Guarulhos depende da compreenso de qual a dimenso do tempo geolgico. Este muito grande, pois a Terra surgiu h, aproximadamente, 4,5 bilhes de anos, quando nem os continentes nem os oceanos existiam. A superfcie do planeta era to quente que, devido s atividades vulcnicas e aos impactos de meteoritos, a gua no podia se condensar na superfcie para formar rios, lagos e oceanos. Lembremos ainda que, muito embora seres microscpicos tenham existido h mais de trs bilhes de anos, a vida proliferou abundantemente na Terra h pouco mais de 570 milhes de anos. Os homindeos sugiram h apenas 5 10 milhes de anos (se considerarmos uma gerao humana de 70 anos em mdia, este tempo equivaleria a algo entre 70 mil e 140 mil geraes) e as civilizaes h pouco mais

livro_v3.indd 38

9/24/aaaa 17:15:49

O PASSADO GEOLGICO DE GUARULHOS

39

Coluna do tempo geolgico e os principais acontecimentos da histria da vida na Terra (OLIVEIRA,2005)

Gondwana, antigo megacontinente que reunia a Amrica do Sul e a frica h cerca de 140 Milhes de anos atrs (Souza-Lima, W. & Hamsi Junior, G.P., 2003).

livro_v3.indd 39

9/24/aaaa 17:15:49

40

GUARULHOS TEM HISTRIA

Durante a evoluo geolgica da Terra, continentes inteiros surgiram e foram destrudos vrias vezes; e assim, as formas dos continentes que hoje conhecemos so geologicamente recentes. Na regio de Guarulhos, o evento geolgico mais antigo corresponde ao desenvolvimento de muitos vulces, que resultaram na formao de derrames de lavas h pouco mais de 1,5 bilhes de anos. Mas, estas lavas se formaram no fundo de um oceano. Ou seja, naquela poca, para passar por onde hoje Guarulhos somente com um bom barco. A formao deste oceano ocorreu devido quebra e separao de um grande continente que hoje no existe, e as partes resultantes se afastaram um do outro, como ocorre hoje com a separao da Amrica do Sul e a frica, com a formao do oceano Atlntico entre eles.

Fisiografia atual da regio ocenica exibindo as principais feies topogrficas do fundo ocenico (Souza-Lima, W. & Hamsi Junior, G.P., 2003)

Neste antigo oceano onde est Guarulhos hoje havia muitos vulces como aqueles que ocorrem no meio do caminho entre a frica e a Amrica do Sul, ou em ilhas como no Hawai. As rochas formadas nestes vulces so distribudas hoje, principalmente, no sop da Serra do Itaberaba ou do Gil em Guarulhos, mas podem, tambm, ser observadas mais para nordeste e para sudoeste; at a regio de Araariguama, perto de So Roque.

livro_v3.indd 40

9/24/aaaa 17:15:57

O PASSADO GEOLGICO DE GUARULHOS

41

Perfil da Evoluo Geolgica de Guarulhos

Esquema em perfil ilustra a evoluo geolgica (Juliani, 1993)

livro_v3.indd 41

9/24/aaaa 17:15:58

42

GUARULHOS TEM HISTRIA

Resumo da evoluo geolgica da regio de Guarulhos (JULIANI, 1993)1. H cerca de 1,6 bilhes de anos, comea a ocorrer uma srie de fraturas profundas na

crosta continental (cor rosa escuro) ocasionando o aparecimento dos primeiros vulces (cor verde) e a separao da crosta em dois blocos; 2. Os dois blocos continentais se afastam e entre eles se forma uma crosta ocenica (cor verde) formada por rochas vulcnicas e sedimentares (cor amarela e rosa claro) relacionadas Formao Morro da Pedra Preta; 3. H cerca de 1.395 Milhes de anos, os blocos continentais comeam a se aproximar e causam a deformao (falhas e dobras) das rochas da Formao Morro da Pedra Preta, encurtando cada vez mais a crosta ocenica pela sua subduco, formando tambm um arco de ilhas vulcnicas no oceano (cor roxa e rosa escuro); 4. 5. Com o avano desta fase, h a formao de um arco de ilhas e ocorre a deposio de H cerca de 630 milhes de anos, os blocos continentais comeam a se afastar novamente sedimentos relacionados Formao Nhanguu (cor azul); e se forma um mar continental onde h a deposio de sedimentos formadores do Grupo So roque (cor azul escuro); 6. H cerca de 540 milhes de anos, volta a ocorrer o choque entre os blocos continentais com a deformao do Grupo So Roque, como resultado final se tem a formao de uma cadeia de montanhas. Nesta fase ocorre a formao de rochas granticas (cor vermelha); 7. No perodo recente temos um relevo de morros e serras, pois a eroso geolgica destruiu grande parte das rochas desta antiga cadeia montanhosa.

Entretanto, com as mudanas que ocorrem no interior da Terra, estes continentes inverteram seu movimento de distanciamento e passaram a se deslocar um em direo ao outro h cerca de 1,2 bilhes de anos atrs, gerando zonas de subduo (processo geolgico onde o fundo do oceano penetra dentro da Terra), quando se formou um arco de ilhas (como o Japo), com grandes vulces na superfcie e no fundo do mar, e ocorrncia de terremotos. Nesta poca se formaram concentraes de ouro junto a estes vulces. O mar foi diminuindo gradativamente pela aproximao dos antigos continentes e os registros geolgicos de suas praias se encontram hoje onde fica a Serra da Pirucaia, e rochas formadas em rios esto presentes na regio da rodovia Anhangera. Estes eventos geolgicos fizeram com que os materiais depositados no fundo dos oceanos e na margem do continente fossem empurrados para dentro da Terra, sob presso e temperatura muito altas (alcanando mais de 8.000 atmosferas, ou seja, uma presso equivalente que ocorre hoje a 30 km de profundidade, e 650C); o que resultou numa deformao e transformao intensa do solo, formando rochas conhecidas como metamrficas. O material rochoso, quando sub-

livro_v3.indd 42

9/24/aaaa 17:16:06

O PASSADO GEOLGICO DE GUARULHOS

43

metido a condies de presso e temperatura como estas, so dobrados como um papel, sem que se quebrem. Muitos registros desse metamorfismo - suas dobras e seus minerais - podem ser vistos nos arredores de Guarulhos. A coliso dos dois antigos continentes amarrotou todas as rochas da regio, resultando numa grande cadeia de montanhas, como a dos Andes, por volta de 1,1 bilho de anos. E, ainda mais, como a temperatura aumenta muito com o afundamento das rochas, parte delas se fundiu, gerando rochas magmticas em profundidade e um sem Dobras em camadas de filito (rocha metamrfica) no Recreio So nmero de vulces na superJorge, bairro do Cabuu, Guarulhos, 2005 fcie; diversos deles muito explosivos. Guarulhos, nessa poca, era como os Andes - uma grande cadeia de montanhas, com muitos vulces e terremotos. Acalmados estes eventos ao longo de milhes de anos. A eroso, causada pelas chuvas, ventos, geleiras e rios por milhares de anos, desgastou as montanhas e levou os materiais erodidos pelos rios at lagos e mares. Entretanto, h cerca de 900 milhes de anos, novamente o continente se partiu e iniciou um novo ciclo geolgico (chamado de ciclo geotectnico) e formou um novo oceano que se fechou cerca de 650 milhes de anos. Houve, a partir da, a formao de uma nova cadeia de montanhas, novos vulces e magmas que teve como resultado: granitos das serras da Pedra Branca, Cantareira, Mairipor, Paupedra, Basalto 10, etc., e grandes terremotos. Um bom registro deste evento vulcnico pode ser encontrado em Pirapora do Bom Jesus e nos depsitos arenosos das praias no Pico do Jaragu e na Serra do Boturuna. No final desta poca, a partir da coliso dos continentes que tambm estavam soldando-se um ao outro, com movimentos convergentes laterais, grandes falhas geolgicas (rupturas das rochas, com movimentao horizontal entre os blocos), ocorreram grandes terremotos (devido ao atrito entre os dois blocos) por volta de 550 milhes de anos atrs. A soldagem desses blocos resultou num novo continente que j era, em grande parte, a Amrica do Sul (exceto parte dos Andes) e a frica que hoje conhecemos. Muitas destas falhas, que ainda se movimentam um pouco nos dias de hoje, podem ser observadas ao longo do rio Jaguar, do Mandaqui, dos ribeires dos Macacos e Tanque Grande, na Serra Lagoa e, tembm, na regio do Cabuu (ver mapa Geolgico de Guarulhos).

livro_v3.indd 43

Antonio Manoel dos Santos Oliveira

9/24/aaaa 17:16:07

44

GUARULHOS TEM HISTRIA

Este grande continente permaneceu estvel por um longo perodo. Mas, depois foi coberto (a partir de, aproximadamente, 360 milhes de anos) por diversas formaes geolgicas (Bacia Sedimentar do Paran, que compe o Planalto Ocidental no Estado de So Paulo) geradas em ambientes: glacial (com geleiras que chegam at a regio de It); marinho continental (mares rasos sobre o continente); desrtico (como o Sahara); fluviais (como hoje a Amaznia); pantanoso (como o Pantanal mato-grossense). Alguns destes ambientes geolgicos se repetiram algumas vezes. Nesse longo perodo, se destaca que por volta de 140 milhes de anos, no local onde o rio Paran, desenvolveu-se uma fissura profunda e enormes derrames de magmas saram, tendo chegado at o litoral do Brasil. Estes derrames vulcnicos de basaltos (uma rocha magmtica escura e fina) chegaram a constituir camadas com espessuras de milhares de metros. Pelo menos, partes destas formaes geolgicas devem ter recoberto onde hoje a cidade de Guarulhos. Mas, devido eroso do Planalto Atlntico, que constitui parte do territrio paulista, no sobraram mais registros destes depsitos na regio. Por volta de 120 milhes de anos, o continente novamente comeou a partirse e a separar-se, criando o oceano Atlntico e o que hoje conhecemos como Amrica do Sul e frica, que continuam se afastando cerca de trs centmetros por ano. Mas Guarulhos no tinha ainda se acalmado geologicamente. Aquelas grandes falhas formadas h mais de 550 milhes de anos voltaram a se deslocar h cerca de 60 milhes de anos com movimentos verticais e fizeram com que uma grande regio afundasse, como, por exemplo, onde est instalado o Aeroporto Internacional de So Paulo/Guarulhos (ao longo do Baquirivu-Guau), e gerou o chamado o sistema de riftes (bacia de afundamento) do Sudeste. Em Guarulhos, a bacia conhecida como Sedimentar de So Paulo. As chuvas torrenciais levavam grande quantidade de pedras, lama e areia das partes mais altas; acima das escarpas das falhas, para a parte afundada (chamada de bacia sedimentar). Isso gerou, inicialmente, grandes escorregamentos, cujos depsitos foram retrabalhados por rios, com lagos, pntanos, florestas e matas, entre eles. Hoje, nas partes mais altas, esses materiais - conhecidos como sedimentos do perodo Tercirio -, j foram removidos pela eroso, preservados quase que exclusivamente nas baixadas. Bem, mas o tempo geolgico no pra e hoje podemos ver os rios erodindo as encostas e se espraiando e as lagoas (aquelas que ainda no foram preenchidas com entulhos) entre eles, na regio de Guarulhos. O maior exemplo o rio Tiet que, originalmente tinha um traado cheio de curvas, hoje est bastante alterado por obras de engenharia e uma plancie formada por sedimentos recentes conhecidos como aluvies.

livro_v3.indd 44

9/24/aaaa 17:16:08

O PASSADO GEOLGICO DE GUARULHOS

45

Transformaes ocasionadas vrzea do Rio Tiet prximo ao centro de Guarulhos. Em 1959 havia muitas olarias onde hoje se encontra o Parque Ecolgico do Tiet (fotos da Prefeitura Municipal de Guarulhos)

A geologia de Guarulhos est expressa no relevo de seu territrio. Assim, podemos observar na regio norte do municpio ocorrncia de morros e montanhas; estas ltimas correspondendo a elevaes com mais de 300 metros de altitude, que so formadas pelas rochas de origem pr-cambriana (Grupos So Roque e Serra do Itaberaba). Como destaque temos a Serra da Cantareira e a Serra do Itaberaba (a maior altitude de 1.433 metros). J ao sul, onde encontramos o centro e os bairros mais ocupados da cidade, percebemos que o relevo formado por colinas cujas elevaes no passam de 40 metros de altitude e plancies que so reas muito baixas sujeitas s inundaes dos rios Tiet, Cabuu de Cima e Baquirivu-Guau. As colinas so formadas por sedimentos tercirios e as plancies por aluvies quaternrias. Assim, quando olhamos a paisagem ao nosso redor, teremos a certeza que h muito mais para ver do que os nossos olhos nos mostram, no s na Histria, como na Histria Geolgica de Guarulhos.

livro_v3.indd 45

9/24/aaaa 17:16:08

46

GUARULHOS TEM HISTRIA

BIBLIOGRAFIAJULIANI, C. Geologia, Petrognese e aspectos metalogenticos dos Grupos Serra do Itaberaba e So Roque na regio das Serras do Itaberaba e da Pedra Branca, NE da cidade de So Paulo, SP. Tese de Doutoramento IGUSP, 2 v., 5 mapas, 803p, 1993. JULIANI, C; BELJAVSKIS, P.; JULIANI, L. J. C. O.; GARDA, G. M. As mineralizaes de ouro de Guarulhos e os mtodos de sua lavra no perodo colonial. Rev. Cincia e Tcnica, n. 13. CEPEGE, So Paulo, p8-25, 1995. MENDOZA, X.B. & ROLLO, R. Aconcgua A sombra de um gigante. Matria publicada na edio n 144 da revista Os Caminhos da Terra, 2004. Disponvel em: www2.uol.com.br/caminhosdaterra/reportagens/144_aconcagua. Acesso em: 30 novembro 2006. OLIVEIRA, A. M. S. Diagnstico ambiental para o manejo sustentvel do Ncleo Cabuu do Parque Estadual da Cantareira e reas vizinhas do municpio de Guarulhos. Universidade Guarulhos: Relatrio FAPESP, 109p. 2 v., 2005. PREFEITURA MUNICIPAL DE GUARULHOS (1959) Levantamento aerofotogramtrico. Guarulhos-SP. PREFEITURA MUNICIPAL DE GUARULHOS (2000) Levantamento aerofotogramtrico. Guarulhos-SP. RICCOMINI, C.; COIMBRA, A. M. Geologia da Bacia Sedimentar. In:A. Negro Junior , A. A. Ferreira, U. R. Alonso, P. A. Luz (ed.). Solos da Cidade de So Paulo. ABMS/ ABEF. So Paulo, 1992. SALGADO-LABOURIAU, M. L. Histria ecolgica da Terra. So Paulo. Ed. Blucher, 307p.1998. SOUZA-LIMA, W.; HAMSI JUNIOR, G.P. Bacias Sedimentares brasileiras Bacias da Margem Continental, 2003. Disponvel em: www.phoenix.org.br/Phoenix50. Acesso em 30 novembro 2006.

livro_v3.indd 46

9/24/aaaa 17:16:09

EXPANSO URBANA E PROBLEMAS GEOAMBIENTAIS DO USO DO SOLO EM GUARULHOS

47

Expanso Urbana e Problemas Geoambientais do Uso do Solo em GuarulhosMarcio Roberto M. de Andrade Antonio Manoel dos Santos Oliveira A metrpole de So Paulo considerada a regio mais desenvolvida do Brasil e, ao mesmo tempo, a mais populosa. Guarulhos entre os 39 municpios, apresentava um crescimento populacional no final do sculo XX superior a taxa mdia da regio e da capital do Estado de So Paulo, fenmeno este que ainda se manifesta atravs de uma das mais elevadas taxas de crescimento da regio na primeira dcada do sculo XXI. No Brasil, a grande concentrao habitacional em reas reduzidas um aspecto em destaque. Conforme Ferraz (1991), este fenmeno resulta de vrios fatores, alguns de natureza regional, denunciando uma tendncia mundial de migrao de massa humana em direo aos centros urbanos, resultando no gigantismo das cidades com toda uma gama imensa de problemas. Analisando a urbanizao no Brasil como um fato, Santos (1993) observa que h na regio sudeste brasileira uma significativa mecanizao do espao, desde a segunda metade do sculo passado, a servio da expanso econmica, o que desde ento contribui para a diviso do trabalho mais acentuada e gera uma tendncia urbanizao. Prandini et al.(1995), a expanso da urbanizao na Regio Metropolitana de So Paulo se d sob a tica quase que exclusiva das razes especulativas de mercado, que vm ignorando as reais potencialidades e limitaes das reas a serem ocupadas. Isto acaba determinando a ocupao inadequada de regies e locais extremamente problemticos, tais como reas propcias ao desenvolvimento de escorregamentos ou eroses intensas, vertentes sujeitas ecloso de boorocas, reas sujeitas a inundaes, terrenos capazes de desenvolver subsidncias e colapsos, reas com nvel dgua raso, etc. O Municpio de Guarulhos apresenta um cenrio geomorfolgico contrastante sobre o qual se estabelece um processo de franca expanso urbana potencializada especialmente pelo seu desenvolvimento industrial e de servios e uma ampla malha viria que de forma constante se amplia na regio como um todo.. A construo do espao urbano, especialmente nas grandes metrpoles, se faz pela ocupao de glebas por tipos de uso com finalidades residenciais, comerciais, industriais e de servios. A vegetao nativa suprimida para dar lugar a estas atividades e os servios da biosfera so substitudos por uma dinmica de processos notadamente oposta. O melhor exemplo a mudana no sistema formado pela infiltrao e escoamento das guas no solo.

livro_v3.indd 47

9/24/aaaa 17:16:09

48

GUARULHOS TEM HISTRIA

O parcelamento do solo vai se concretizar, na maioria dos casos, pela execuo de expressivas alteraes na geometria original dos terrenos para a abertura de loteamentos e eixos virios, levando a verdadeiras intervenes de engenharia civil atravs de obras de terra pela execuo de cortes e aterros de grandes dimenses, prticas de terraplenagem que necessitam, em grande parte das vezes, de reas fonte conhecidas como reas de emprstimo, para a retirada e aproveitamento de terras. Este processo de aplainamento do relevo para ocupao urbana deve ser obrigatoriamente considerado em qualquer ao de planejamento do uso e ocupao do solo. O sistema urbano precisa ser analisado sob o enfoque da interao entre os fatores naturais e as aes humanas dirigidas ao uso e ocupao das terras, devendo ainda considerar a direo do seu crescimento e a gradativa saturao dos ncleos urbanos.Analisar um ambiente equivale a desmembr-lo em termos de suas partes componentes e apreender as suas funes internas e externas, com consequente criao de um conjunto integrado de informaes representativas (SILVA & SOUZA,1988).

Problemas Geotcnicos da Urbanizao em Guarulhos As alteraes potenciais do meio fsico por processos tecnolgicos precisam ser previstas no caso de projetos urbansticos e na implantao de grandes infraestruturas (IPT, 1992). A organizao do territrio exige um diagnstico preliminar destinado a esclarecer a escolha do tipo de ocupao do solo compatvel s limitaes do meio (TRICART, 1977). Este conceito fundamental para se planejar o desenvolvimento territorial de forma sustentvel. A urbanizao observada em Guarulhos traz no seu bojo um histrico alarmante de problemas geotcnicos onde so marcantes as conseqncias econmicas e impactos ambientais resultantes de loteamentos e condomnios com grandes dimenses, implantados sem os devidos critrios tcnicos e em terrenos que apresentam condies de fragilidade natural a processos de degradao. Na periferia da urbanizao mais consolidada, onde os remanescentes de terra so mais desvalorizados e h mais oferta de terrenos, pode-se observar a predominncia de loteamentos ou ocupaes implantadas em glebas com topografia acidentada. Em muitos casos estas ocupaes vo configurar verdadeiras reas de risco geolgico eroso e aos escorregamentos.Principais problemas geolgicos/geotcnicos de ordem natural induzidos, resultantes da prtica da terraplenagem aplicada ao parcelamento do solo e assentamento urbano, nas condies reinantes no Municpio de Guarulhos (adaptado de ANDRADE, 2001a).

livro_v3.indd 48

9/24/aaaa 17:16:09

EXPANSO URBANA E PROBLEMAS GEOAMBIENTAIS DO USO DO SOLO EM GUARULHOS

49

Principais problemas Geolgicos/ GeotcnicosProblemas Geolgico Geotcnicos Eroso e Escorregamentos Assoreamento Recalques e Fundaes Escavao em obras Condicionantes do meio fsico Forma e declividade das vertentes e tipologia do horizonte C pedolgico 47 reas localizadas nas cotas mais baixas dos vales principais km2 Presena de Solos Hidromrficos Hmicos associados aos Depsitos de Plancie Aluvionar Presena de Blocos de Rocha associados a Litologia

Fica evidente que o desenvolvimento econmico de Guarulhos vem ocasionando uma urbanizao inadequada sobre terras com fortes limitaes geotcnicas com consequncias ambientais graves que marcam o territrio do municpio. Eroso intensa, escorregamentos, assoreamentos e enchentes so os fenmenos encontrados, e assim a formao de paisagens degradadas impedem a regenerao natural da Mata Atlntica. O Relevo na Paisagem de Guarulhos O relevo do territrio de Guarulhos fortemente condicionado pelo substrato geolgico da mesma forma como marcante em todo o Planalto Atlntico que com sua paisagem de morros mamelonares e pequenos macios montanhosos, acidentados e irregulares, criaram srios problemas para localizao das aglomeraes urbanas (AB SABER, 2004). Este fato deve-se a uma estrutura geolgica que reflete um intenso tectonismo com registros que vo desde h 1,6 B.a. (bilhes de anos) no mesoproterozico (JULIANI, 1993) at cerca de 54 M.a. (milhes de anos) no eoceno-oligoceno (RICCOMINI, 1989). O relevo de colinas ocorre preferencialmente na regio sul, associado aos sedimentos Tercirios da Bacia de So Paulo, apresentando, por vezes e de forma restrita, associao com as rochas cristalinas (gnaisse, xisto, filito e metanfibolito). O mesmo ocorre com o relevo de morrotes, destacando-se a sua presena na transio para o relevo de morros em unidades geolgicas cristalinas a leste. Destaca-se ainda a presena de morrotes no extremo sudeste, associados a sedimentos Tercirios e gnaisses. O relevo de morros baixos e altos, e de serras, encontram-se sempre associados ao substrato de origem cristalina, presente na regio norte do municpio. As cristas das serras encontram-se associadas a rocha grantica (Serra do Itaberaba) e a quartzitos e gnaisses (Serra da Pirucaia). Os morros baixos ocorrem especialmente no alto curso do Rio Cabuu de Cima (oeste) e nas adjacncias do Rio Jaguari (leste). Os morros altos ocorrem

livro_v3.indd 49

9/24/aaaa 17:16:09

50

GUARULHOS TEM HISTRIA

amplamente distribudos numa faixa de leste a oeste na zona norte, associado aos morros baixos e serras.Classificao Morfolgica do relevo em GuarulhosUnidade de Relevo Plancie Colinas Morrotes Morros Baixos Morros Altos Serras Caractersticas Predominam declividades de at 5% e amplitudes inferiores a 10 metros. Canais de drenagem sinuosos quando no retificados. Predominam declividades de at 30% e amplitudes topogrficas de at 40 metros. Padro dendrtico a sub-paralelo com mdia densidade de drenagem Predominam declividades de at 30% e amplitudes topogrficas de at 60 metros. Padro dendrtico a sub-paralelo com mdia desidade de drenagem Predominam declividades com at 45% e amplitudes de at 100 metros. Padro dendrtico com alta densidade de drenagem Predominam declividades superiores a 45% e amplitudes de at 150 metros. Padro dendrtico com alta densidade de drenagem Predominam declividades superiores a 45% e amplitudes superiores a 150 metros. Padro dendrtico com alta densidade de drenagem (ANDRADE, 1999, com base em Ponano et al., 1979)

Degradao Fsica do Ambiente em Guarulhos Entre os problemas geoambientais, a degradao do solo pela supresso do solo frtil e pela eroso, especialmente de aterros efetuados com solos siltosos, despontam como o fenmeno mais grave, responsvel pela maior proporo dos volumes de sedimentos que assoreiam os cursos dgua e agravam as enchentes urbanas, em muitos casos ocorrendo antes ou aps os escorregamentos.Os solos de alterao de rochas (horizontes C pedolgico) do Pr-Cambriano destacamse por apresentar altos ndices de erodibilidade comparados aos sedimentos da Bacia de So Paulo (SANTOS & NAKAZAWA, 1992; ANDRADE, 1999).

Sobre estas rochas cristalinas, amplas reas so intensamente terraplenadas para a implantao de loteamentos residenciais desconsiderando tcnicas que tais condies exigem, especialmente em zonas de declives mais acentuados, bem como em cabeceiras e linhas de drenagem natural. Os solos de alterao de rocha ficam expostos as chuvas e aos ventos, com o agravante de no apresentarem propriedades agronmicas que permitam a colonizao ou plantio de espcies vegetais. A composio granulomtrica dos diferentes solos de alterao de rocha correspondente a cada litologia presente, permite analisar o aspecto erodibilidade. marcante a diferena entre os resultados relativos aos sedimentos da Bacia de So Paulo (Tercirio) e aos solos de alterao das rochas cristalinas (Pr-Cambriana),

livro_v3.indd 50

9/24/aaaa 17:16:10

EXPANSO URBANA E PROBLEMAS GEOAMBIENTAIS DO USO DO SOLO EM GUARULHOS

51

Mapa do Relevo em Guarulhos (Laboratrio de Geocincia da UnG)

permitindo agrup-los em dois conjuntos distintos, terrenos cristalinos e terrenos Tercirios, que podem apresentar diferenas de erodibilidade da ordem de uma centena de vezes. Os assoreamentos em fundos de vale, uma das causas principais das enchentes urbanas, so decorrncia direta da eroso. Estudo realizado em rea de ocorrncia de rochas cristalinas (filitos) na microbacia do Pau dalho no bairro do Cabuu (SOUZA, 2007), demonstra que a taxa de produo especfica de sedimentos pode alcanar valores cerca de 20 vezes superiores entre a fase de ocupao urbana (implantao de loteamentos) em comparao com a fase de ocupao rural (agricultura, pastagem, etc.), Pode-se concluir destes resultados, que os solos de alterao de rocha cristalina formam um conjunto muito erodvel, diferentemente da maioria dos sedimentos Tercirios da Bacia de So Paulo que podem ser classificados como pouco erodveis. Assim em Guarulhos encontram-se (ANDRADE, 2001a):

livro_v3.indd 51

9/24/aaaa 17:16:10

52

GUARULHOS TEM HISTRIA

a) Os solos siltosos associados s rochas cristalinas (solo residual saproltico), distribuem-se preferencialmente na regio norte do municpio, numa faixa ampla que abrange desde a poro oeste at a nordeste, destacando-se nos bairros do Cabuu, Invernada, Bananal, Fortaleza, Capelinha e Aguazul. Afloram de forma isolada no domnio dos sedimentos Tercirios, havendo exposies junto aos fundos de vale na zona central, no bairro da Ponte Grande e de forma mais concentrada no extremo sudeste do territrio no bairro dos Pimentas e Itaim. Em grande parte ainda ocorrem livre da ocupao urbana que avana; b) Os solos argilosos associados aos sedimentos Tercirios, ocorrem preferencialmente na regio sul do municpio, onde se encontra maior concentrao urbana. O limite norte deste conjunto dado pela Falha do Jaguari, que o separa da regio de domnio das rochas cristalinas; c) Os solos aluviais e hidromrficos ocorrem preferencialmente em reas associadas s vrzeas amplas do Rio Tiet e do Rio Baquirivu-Guau, onde se encontra uma expressiva ocupao industrial, complementada com o aeroporto internacional. Secundariamente, ocorrem em reas mais restritas associadas especialmente s vrzeas do Rio Cabuu de Cima, Ribeiro das Lavras, Ribeiro Guaraau e Rio Jaguari. As caractersticas mais favorveis s obras de terraplenagem para fins de assentamento urbano, esto presentes nos solos argilosos em funo da sua menor erodibilidade e melhor compactao. Alguns problemas presentes devem-se especialmente existncia de argilas expansivas que podem, em alguns casos, ocasionar movimentos de massa (empastilhamento e escorregamento) e ocorrncia de fcies franco-argilo-arenosa mais erodvel. Por outro lado, as caractersticas mais desfavorveis para a prtica da terraplenagem esto presentes no conjunto formado pelos solos derivados de rochas cristalinas, especialmente pela sua alta erodibilidade, dificuldade de compactao (micceo, pouco argiloso e siltoso), problemas de escavao quando ocorrem blocos, desplacamento pelas fraturas e foliao, entre outras. percebido que as caractersticas de alterao intensa e profunda associada incoerncia dos solos de alterao (saproltico) das rochas do tipo gnaisse, granito e diorito, so fatores que agravam o efeito da eroso. Noutro sentido, as caractersticas de alterao e coerncia observadas para os sedimentos Tercirios, assim como para os filitos e quartzitos, classificadas como medianas, revelam maior resistncia in situ aos agentes erosivos, o que no vale quando o material desfragmentado, passando a imperar as caractersticas texturais da granulometria.

livro_v3.indd 52

9/24/aaaa 17:16:14

EXPANSO URBANA E PROBLEMAS GEOAMBIENTAIS DO USO DO SOLO EM GUARULHOS

53

Planejamento Conservacionista da Regio Norte de Guarulhos A prtica da terraplenagem desponta como um dos principais condicionantes dos impactos e degradaes ambientais no meio fsico ocasionados pela ocupao urbana em Guarulhos. A supresso do solo superficial frtil, a eroso intensa e deslizamento de solos, rochas e aterros, o assoreamento de canais e as enchentes, apresentam consequncias graves populao, e formam o conjunto de efeitos resultantes de prticas inadequadas de desmatamento e movimentao de terra. Dentre os fatores de ordem natural e fsica que regem estes fenmenos, est a constituio dos materiais manipulados na terraplenagem, ou seja os solos e rochas, e as formas que o relevo possui, que responsvel pela intensidade destes processos (ANDRADE, 2001b).

Imagem de satlite da cidade de Guarulhos

A imagem de satlite mostra o contraste entre a rea de ocupao urbana, a sul, impermeabilizando o solo, e a rea que ainda apresenta cobertura vegetal, a norte, propiciando a presena dos servios ambientais da biosfera, como a proviso de gua, para o abastecimento; a regulao do escoamento de gua; o conforto trmico e a reduo da poluio.

livro_v3.indd 53

9/24/aaaa 17:16:15

54

GUARULHOS TEM HISTRIA

Entretanto, a expanso urbana dirige-se para norte onde ocorrem os terrenos menos aptos ocupao, devido ao relevo de maiores amplitudes e declividades, de morros e montanhas, em terrenos cristalinos, cujos solos so mais suscetveis eroso e a reas de risco a escorregamentos, produo de sedimentos e intensificao de enchentes. Assim, o impacto ambiental da expanso urbana duplo, pois, alm da perda dos servios da biosfera, proporcionados pela cobertura vegetal, como a perda de conforto trmico, perda de mananciais, etc; sua forma inadequada de avanar sobre os terrenos vem gerando os processos geolgicos acima referidos, com conseqncias nefastas sobre o bem estar humano. Alm disso, todos estes processos tero conseqncias sobre a rea urbanizada, pois esta rea a sul encontra-se a jusante da rea norte, conforme a disposio das bacias. Desta forma, a ocupao inadequada nas cabeceiras de drenagem promover, alm da perda dos mananciais e nascentes, maiores escoamentos de gua a jusante. Em condies inadequadas de ocupao, devem ser esperadas enchentes maiores e mais freqentes nas reas urbanas a sul. Eroses e escorregamentos constituiro fontes de sedimentos importantes para assorear crregos e rios na rea urbanizada intensificando as enchentes, caso no sejam promovidas orientaes para que o uso e ocupao do solo se realizem de forma adequada s limitaes geotcnicas dos novos terrenos que o municpio vem ocupando. O planejamento do uso do solo baseado nas caractersticas geotcnicas e sob um enfoque conservacionista condio fundamental para a manuteno dos servios da biosfera na regio norte do municpio de Guarulhos. Neste sentido, a criao de Unidades de Conservao de Uso Sustentvel como so organizadas no Brasil, em especial as reas de Proteo Ambiental, corresponde a uma poltica pblica voltada racionalizao das atividades scio-econmicas sob uma perspectiva ecolgica. As regies do Cabuu, Tanque Grande, Capelinha e Morro Grande, situadas a norte de Guarulhos dependem deste conceito para propiciar condies favorveis prtica de uma ocupao adequada, com a preservao dos mais importantes mananciais locais de abastecimento de Guarulhos, assumindo medidas e aes necessrias para a preveno dos processos geolgicos referidos e manuteno de servios ambientais fundamentais ao bem estar da comunidade guarulhense. Tais medidas podem corresponder no s a criao de novas unidades de conservao como tambm e, sobretudo, orientao de uma ocupao adequada aos condicionantes das novas reas de expanso da cidade de Guarulhos.

livro_v3.indd 54

9/24/aaaa 17:16:16

EXPANSO URBANA E PROBLEMAS GEOAMBIENTAIS DO USO DO SOLO EM GUARULHOS

55

BIBLIOGRAFIAAB SABER, A. N. So Paulo: Ensaio Entreveros. So Paulo: EDUSP/Imprensa Oficial

do Estado de So Paulo, 2004. 519 p. O conceito de sistemas de relevo aplicado ao mapeamento geomorfolgico do Estado de So Paulo. In: 2o Simpsio Regional de Geologia.. v2,. 1979, Rio Claro. Anais...Rio Claro: SBG, 1979. p. 253-262. ANDRADE, M. R. M. Cartografia de Aptido para o assentamento urbano do municpio de Guarulhos-SP. 1999, 154 p., 7 mapas. Dissertao de Mestrado em Geografia. Departamento de Geografia, Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias Humanas, Universidade de So Paulo, So Paulo, 1999. ANDRADE, M. R. M. Carta Geopedolgica do municpio de Guarulhos SP: Base de orientao para o assentamento urbano. In: IV Simpsio Brasileiro de Cartografia Geotnica, 2001, Braslia. Anais em CD ROM. Braslia: ABGE, 2001a. ANDRADE, M. R. M. Cartografia de Aptido Fsica para o assentamento urbano do municpio de Guarulhos-SP: Subsdios para o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano. In: IV Simpsio Brasileiro de Cartografia Geotnica, 2001, Braslia. Anais em CD ROM. Braslia: ABGE, 2001b. FERRAZ, J. C. F. Urbs nostra. So Paulo: Ed. PINI/EDUSP. 1991. INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLGICAS DO ESTADO DE SO PAULO S. A. Alteraes no meio fsico decorrentes de obras de engenharia. So Paulo, n. 61. Boletim IPT. 165 p. 1992. JULIANI, C. Geologia, petrognese e aspectos metalogenticos dos grupos Serra do Itaberaba e So Roque na regio das Serras do Itaberaba e da Pedra Branca, NE da Cidade de So Paulo, SP. 1993, 2v. Tese de Doutorado em Geocincias. Instituto de Geocincias, Universidade de So Paulo, So Paulo, 1993.ALMEIDA, F. F. M. PONANO, W. L.; BISTRICHI, C. A., CARNEIRO, C. D. R; ALMEIDA, M. A.; PIRES NETO, A. G.; PRANDINI, F. L.; NAKAZAWA, V. A.; LUZ DE FREITAS, C. G.; DINIZ, N. C. Cartografia geotcnica nos planos diretores regionais e municipais. In: Curso de geologia aplicada ao meio ambiente. So Paulo. 1995. p. 187-202. RICCOMINI, C. RIFT CONTINENTAL DO SUDESTE DO BRASIL. 1989. Tese de Doutorado em Geocincias. Instituto de Geocincias, Universidade de So Paulo, So Paulo, 1989. 304 p. SANTOS, A.; NAKAZAWA, V. A. Eroso e Assoreamento da RMSP. In: Mesa Redonda. Problemas geolgicos e geotcnicos da Regio Metropolitana de So Paulo. Maio, 1980. So Paulo: ABGE. 1992. p. 177-194. SANTOS, M. A urbanizao brasileira. So Paulo: Editora Hucitec, 1993. 157 p. SILVA, J. & SOUZA, M. J. L. Anlise ambiental. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, 1988. 199 p. TRICART, J. Ecodinmica. Rio de Janeiro: FIBGE/Super. Rio de Janeiro. 1977. 97 p.

livro_v3.indd 55

9/24/aaaa 17:16:16

livro_v3.indd 56

9/24/aaaa 17:16:17

PARTE III | HISTRIA SOCIAL, POLTICA E ECONMICA

livro_v3.indd 57

9/24/aaaa 17:16:17

58

GUARULHOS TEM HISTRIA

livro_v3.indd 58

9/24/aaaa 17:16:17

MAROMOMI, OS PRIMEIROS HABITANTES DE GUARULHOS: DA PERAMBULAO AO ALDEAMENTO

59

Maromomi, Os Primeiros Habitantes de Guarulhos: da Perambulao ao Aldeamento.Antonio Benedito Prezia Para conhecer a histria dos indgenas Maromomi1, chamados posteriormente de Guarulho ou Guarulhos, precisamos recuar no espao e no tempo, reportandonos a milhares de anos antes de nossa era, quando chegaram os primeiros povoadores no litoral. As atuais pesquisas indicam a presena humana no litoral paulista h pelo menos cinco mil anos. Eram povos coletores, que viviam de peixes, mariscos e pequenos animais qu