guardiões e guardiãs das sementes da paixão, preservando a biodiversidade no curimataú paraibano

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Guardiões e guardiãs das sementes da paixão, preservando a biodiversidade no Curimataú Paraibano Na comunidade Baixa Verde, município de Bananeiras-PB, convivem agricultores e agricultoras experimentadores (as) que exemplificam bem o que é determinação, trabalho e superação. Os moradores mais antigos relatam histórias de opressão e exploração trabalhista que sofriam vivendo nas terras de um grande fazendeiro. Em meados da década de 80, sob a orientação das comunidades eclesiais de base, da igreja católica e da criação da CPT na região, começaram a participar de reuniões que discutiam os seus direitos e deveres. A partir dessa luta puderam se organizar em busca de melhores condições de vida na comunidade. Em 1989, os agricultores conseguiram, juntamente com a equipe da CPT, a desapropriação da terra. Cada família recebeu aproximadamente cinco hectares de terra, e assim foram construindo suas casas e parte de uma nova história. Conscientes da importância das organizações e mobilizações comunitárias, os moradores de Baixa Verde começaram a criar grupos de jovens e mulheres que continuam na busca de melhorias para a convivência no campo. Em uma dessas mobilizações, tomaram conhecimento de uma experiência de semeio em outra comunidade, mais uma vez reuniram-se e foram conhecer de perto essa novidade. Todos ficaram encantados e resolveram colocar em prática essa experiência em Baixa Verde. A partir da prática do semeio, pensaram em criar um banco de sementes comunitário. Por ser uma prática nova e pouco conhecida na comunidade, alguns moradores acharam que o banco de sementes seria algo sem utilidade. Mas aqueles que acreditaram na importância de um banco de sementes foram mais firmes neste propósito, e no ano de 2009 começaram a colocar em prática o que antes era só um ideal. Ano 7. nº1347 Setembro/2013 Lucinete selecionando as sementes

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Guardiões e guardiãs das sementes da paixão, preservando a biodiversidade no Curimataú Paraibano

Na comunidade Baixa Verde, município de Bananeiras-PB, convivem agricultores e agricultoras experimentadores (as) que exemplificam bem o que é determinação, trabalho e superação. Os moradores mais antigos relatam histórias de opressão e exploração trabalhista que sofriam vivendo nas terras de um grande fazendeiro. Em meados da década de 80, sob a orientação das comunidades eclesiais de base, da igreja católica e da criação da CPT na região, começaram a participar de reuniões que discutiam os seus direitos e deveres. A partir dessa luta puderam se organizar em busca de melhores condições de vida na comunidade. Em 1989, os agricultores conseguiram, juntamente com a equipe da CPT, a desapropriação da terra. Cada família recebeu aproximadamente cinco hectares de terra, e assim foram construindo suas casas e parte de uma nova história.

Conscientes da importância das organizações e mobilizações comunitárias, os moradores de Baixa Verde começaram a criar grupos de jovens e mulheres que continuam na busca de melhorias para a convivência no campo. Em uma dessas mobilizações, tomaram conhecimento de uma experiência de semeio em outra comunidade, mais uma vez reuniram-se e foram conhecer de perto essa novidade. Todos ficaram encantados e resolveram colocar em prática essa experiência em Baixa Verde. A partir da prática do semeio, pensaram em criar um banco de sementes comunitário. Por ser uma prática nova e pouco conhecida na comunidade, alguns moradores acharam que o banco de sementes seria algo sem utilidade. Mas aqueles que acreditaram na importância de um banco de sementes foram mais firmes neste propósito, e no ano de 2009 começaram a colocar em prática o que antes era só um ideal.

Ano 7. nº1347Setembro/2013

Lucinete selecionando as sementes

Realização Patrocínio

Para iniciar o banco de sementes, os moradores da comunidade se reuniram na associação e sugeriram que todos trouxessem algumas sementes que tivessem em casa para serem selecionadas. Como no começo o numero de sementes ainda era pequeno, armazenavam as sementes em garrafas pets, mas com o passar do tempo quantidade de sementes foi aumentando, e passaram a armazenar em silos e pequenos tonéis. “Nosso banco possui muitas sementes, temos sementes de feijão carioca, feijão guandu, feijão gordo, fava meia rama, milho, jerimum, macaxeira, coentro, quiabo, couve, batata e quiabo”, diz Lucinete( presidente da Associação de Moradores de Baixa Verde).

No período de plantio, as sementes são distribuídas para toda comunidade, e plantadas nos quintais. Assim as famílias conseguem cultivar alimentos que serão consumidos por todos. Quando colhidos em grande quantidade, os agricultores e agricultoras repassam para associação para que sejam vendidos em feiras locais. O lucro dessas vendas é dividido igualitariamente entre todos. Em períodos de poucas chuvas, como esse em que a comunidade está passando, os moradores estrategicamente vendem as sementes que não foram plantas. Assim o banco encontra-se sempre em atividade. “Nossas sementes da tradição estão plantadas, estamos esperando o tempo de colher para novamente guardar nossas sementes” diz Iva (integrante da comissão de sementes). Com o beneficiamento das tecnologias sociais para convivência com o Semiárido desenvolvida pela ASA na comunidade Baixa Verde, as famílias conseguem armazenar água para continuar produzindo, mesmo nos períodos de pouca chuva. Alguns moradores e moradoras da comunidade relatam, o quanto é importante a participação nas atividades organizadas pelo CEOP e pela ASA. “Nas reuniões que participamos sempre aprendemos muitas coisas que utilizamos em nossa terra e que nos ajudam ate a melhorar o banco de sementes”, diz Lucinete.

Iniciativas como essa do banco de sementes da comunidade Baixa Verde, contribuem com a manutenção da biodiversidade das sementes nativas e demonstra o quanto organização comunitária e troca de experiências tornam a convivência no Semiárido mais agradável.