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Guardar a água e usá-la com sabedoria

Helvecio Mattana SaturninoEDITOR

E-MAIL: [email protected]

Três décadas de existência da represa fizeramflorescer um próspero desenvolvimento na fazendaBoa Fé, no município de Conquista, em MinasGerais. Ao fundo, o pivô de 100 ha, onderealizam-se demonstrações de campo paramilhares de participantes dos encontros técnicosanuais de milho e soja (foto de Jônadan Ma).Justamente a matéria sobre represas ensejou queesta edição englobasse dois números da ITEM.

recarga dos aqüíferos subterrâneos é amelhor forma de armazenar a água. Paraisso, há necessidade que ela se infiltre,

com o melhor condicionamento físico dos solos eo maior controle da erosão.

Nesse aspecto, vale chamar a atenção para o tra-balho dos produtores brasileiros, que vem avançan-do com o sistema Plantio Direto, principalmente porações articuladas entre os diversos atores que atu-am em favor desse sistema. São ações de esforçosconjuntos com a pesquisas pública e privada, quefortalecem parcerias de associações como Associa-ção do Plantio Direto no Cerrado (APDC) e a As-sociação Brasileira de Irrigação e Drenagem(ABID) e alimentam a florescente rede de ClubesAmigos da Terra e similares, os quais desenvolvemsuas atividades com base municipal e regiões de in-fluência, contribuindo permanentemente para omelhor manejo dos recursos hídricos.

Outra forma de armazenar água é estimular aconstrução de represas, pois estas viabilizam mui-tos negócios e trazem um novo equilíbrio onde sãoimplantadas. É um item muitas vezes determinantepara que haja um salto expressivo na qualidade devida de grande parte da comunidade, impulsionan-do agronegócios calcados na agricultura irrigada.

São represas com todas as condicionantes parafavorecer a melhor gestão das bacias hidrográfi-cas, com um amplo acervo técnico e regulatóriopara que as mesmas sejam construídas e acompa-nhadas, exigindo-se permanentes ações no senti-do de fomentá-las adequadamente.

No rico processo dialético dos Congressos Na-cionais de Irrigação e Drenagem (Conirds), essesassuntos estão permanentemente em pauta. Per-segue-se um equilibrado desenvolvimento da irri-gação e drenagem, somando-se experiências e es-forços com empresas de serviços e de equipamen-tos de irrigação e com os mais diversos atores des-ses agronegócios, tendo-se a água como centro das

atenções. Organismos reguladores, de ensino, depesquisa e de assistência técnica são mobilizadospara o trabalho em favor do desenvolvimento deuma agricultura irrigada cada vez mais próspera.

O símbolo dos Conirds, que pairou nos Cerra-dos em 2002, em Minas Gerais, estará em Juazeiro,na Bahia, de 26 a 31 de outubro deste ano, com arealização do XIII Conird.

A cada evento, a cada reunião no campo, a cadaclamor da sociedade, aumentam a certeza e a con-vicção em favor de mais forças a serem mobiliza-das para que haja mais atenção, recursos e apri-moramentos dos instrumentos já existentes, a fimde impulsionar e fortalecer programas de irriga-ção e drenagem em todo o Brasil.

Assim, é indispensável a mobilização de todosos mecanismos disponíveis para a racional ocupa-ção de perímetros públicos, para o chamamentodos diversos atores do setor privado, desobstruin-do-se impedimentos de ordem creditícia e ambien-tal, seja pelo melhor ordenamento de compromis-sos, pelas renegociações, pelo diálogo, seja pela na-tural logística de melhor atender às emergentes pri-oridades do governo.

A agricultura irrigada tem a capacidade de res-paldar as necessidades dos mercados interno e ex-terno com a consistência de atividades permanen-tes, fazendo florescer maiores oportunidades denegócios e empregos ao longo do ano.

A

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CONSELHO EDITORIAL:ALBERTO DUQUE PORTUGAL

EDSON ZORZIN

ESTEVES PEDRO COLNAGO

FERNANDO ANTÔNIO RODRIGUEZ

HELVECIO MATTANA SATURNINO

JORGE KHOURY

JOSÉ CARLOS CARVALHO

LUIZ CARLOS HEINZE

SALASSIER BERNARDO

COMITÊ EXECUTIVO: ANTÔNIO A. SOARES, DEVANIR GARCIA DOS

SANTOS, FRANCISCO DE SOUZA, GENOVEVA RUISDIAS, HELVECIO

MATTANA SATURNINO E PAULO ROBERTO COELHO LOPES

EDITOR: HELVECIO MATTANA SATURNINO E-MAIL:[email protected] OU [email protected]

JORNALISTA RESPONSÁVEL: GENOVEVA RUISDIAS (MTB/MG 01630JP). E-MAIL: [email protected]

REPORTAGENS E ENTREVISTAS: CRISTINA RIBEIRO E GENOVEVA RUISDIAS

AUTORIA DOS ARTIGOS TÉCNICOS: ADERALDO DE SOUZA E SILVA,ADERSON SOARES DE ANDRADE JÚNIOR, ANTÔNIA FONSÊCA DE

JESUS MAGALHÃES, ANTÔNIO TEIXEIRA DE MATOS, DEMETRIUS

DAVID DA SILVA, EDSON ALVES BASTOS, MARCOS EMANUEL DA

COSTA VELOSO, EGÍDIO A. KONZEN, EUGÊNIO FERREIRA COELHO,FERNANDO FALCO PRUSKI, LUÍS CÉSAR DIAS DRUMOND E

VALDEMÍCIO FERREIRA DE SOUZA

REVISÃO: MARLENE A. RIBEIRO GOMIDE, ROSELY A. R. BATTISTA E

CIBELE PEREIRA DA SILVA (SUPORTE TÉCNICO).

FOTOGRAFIAS: ARQUIVOS DA ASSOCIAÇÃO DO PLANTIO DIRETO NO

CERRADO, DO DEPARTAMENTO NACIONAL DE OBRAS CONTRA A

SECA, DA EMBRAPA MEIO NORTE, DO GOVERNO DA BAHIA, DA

RURALMINAS, DA SECRETARIA DE MEIO AMBIENTE E

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DE MG, DA UNIVERSIDADE

FEDERAL DE VIÇOSA, DA VALMONT COMÉRCIO E INDÚSTRIA LTDA.,EVERARDO MANTOVANI, GENOVEVA RUISDIAS, HELVECIO

MATTANA SATURNINO E ROBERTO THOMAZIELLO

PUBLICIDADE: ABID , PELO E-MAIL: [email protected] OU PELO FAX

(61) 274.7245.

PROGRAMAÇÃO VISUAL, ARTE E EDITORAÇÃO GRÁFICA: GRUPO DE

DESIGN GRÁFICO LTDA – RUA CÔNEGO JOÃO PIO, 150, BAIRRO

MANGABEIRAS, BELO HORIZONTE, MG, FONE: (31) 3225.5065 E

TELEFAX: (31) 3225.2330.

TIRAGEM: 6.000 EXEMPLARES.

ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE

IRRIGAÇÃO E DRENAGEM (ABID) – SCLRN 712, BLOCO C - 18,BRASÍLIA, DF, CEP: 70760-533 - FONE: (61) 273-2154 OU (61)272-3191; FAX: (61)274-7245 E E-MAIL: [email protected]

PREÇO DO NÚMERO AVULSO DA REVISTA: R$ 10,00 (DEZ REAIS).

OBSERVAÇÕES: A EDIÇÃO DESTA REVISTA CIRCULA NO SEMESTRE

SEGUINTE AO DE SUA EDIÇÃO.

OS ARTIGOS ASSINADOS SÃO DE RESPONSABILIDADE DE SEUS AUTORES,NÃO TRADUZINDO, NECESSARIAMENTE, A OPINIÃO DA ABID. AREPRODUÇÃO TOTAL OU PARCIAL PODE SER FEITA, DESDE QUE

CITADA A FONTE.

AS CARTAS ENVIADAS À REVISTA OU A SEUS RESPONSÁVEIS PODEM OU

NÃO SER PUBLICADAS. A REDAÇÃO AVISA QUE SE RESERVA O DIREITO

DE EDITÁ-LAS, BUSCANDO NÃO ALTERAR O TEOR E PRESERVAR A

IDÉIA GERAL DO TEXTO.

ESSE TRABALHO SÓ SE VIABILIZOU GRAÇAS À ABNEGAÇÃO DE MUITOS

PROFISSIONAIS E AO APOIO DE INSTITUIÇÕES PÚBLICAS E PRIVADAS.

REVISTA TRIMESTRAL DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE IRRIGAÇÃO

E DRENAGEM – ABID

Nº 56 / 57 - 4º TRIMESTRE DE 2002 E

1º TRIMESTRE DE 2003ISSN 0102-115X

ITEMITEMIRRIGAÇÃO & TECNOLOGIA MODERNA

LEIA NESTA EDIÇÃO:

Cartas dos leitores – Página 6

Publicações – Página 7

COBERTURA ESPECIAL DO XII CONGRESSO

NACIONAL DE IRRIGAÇÃO E DRENAGEMREALIZADO EM UBERLÂNDIA, MG, DE 9 A

13 DE SETEMBRO DE 2002

OpiniãoParticipantes avaliam o XII Conird. Página 10

Expansão da agricultura irrigada nas mãosda desburocratização

Organizadores fazem um balanço sobre o XIIConird e participantes traçam um panorama sobre

a situação da agricultura irrigada no País. Página 13

Falta de políticas públicas voltadas para omeio rural no Brasil, uma entrevista com ochefe-geral da Embrapa Solos, Doracy Pessoa

Ramos. Página 17

Citricultura irrigada brasileira ainda temmuito a crescer

O seminário sobre “O agronegócio da fruticulturairrigada: o exemplo da citricultura” apontou

alternativas para maior sustentabilidade ecompetitividade dos citros. Conheça as conclusões

deste seminário. Página 20

Irrigação e fertirrigação na citricultura, deEugênio Ferreira Coelho e Antônia Fonseca de

Jesus Magalhães. Página 27

Cafeicultura: irrigação amplia o leque paramaior competitividade

O seminário sobre “O futuro da cafeiculturairrigada” levantou uma discussão atual e

importante sobre custos de produção e números dacomercialização do café. Página 32

Suinocultura: de bem com o meio ambienteAs principais discussões do seminário sobre “Uso

de águas residuárias da suinocultura na agriculturairrigada”, especialmente as relativas ao necessário

licenciamento ambiental estão na página 37

Reciclagem de água residuária dasuinocultura, de Egídio Arno Konzen. Página 40

Pastagens irrigadas: futuro promissorpara um novo agronegócio

O seminário sobre “Produção intensiva da pecuárialeiteira e de corte em pastagens irrigadas” apontousoluções para essas cadeias produtivas. Página 47

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Sistema Plantio Direto, um parceiro dos rios brasileirosConheça os principais resultados do seminário “Uso de águassubterrâneas e manejo de bacias hidrográficas”. Página 52

Fonte de financiamento para a pesquisa que vise aotimização do uso da água – Página 54

XIII Conird: uma realização conjunta ABID e Governo daBahia – Página 55

Represar é preciso

A represa, como forma de armazenar e conservar a água, em grandesreservatórios ou dentro das fazendas, são determinantes no manejo dasbacias hidrográficas e na maior viabilização de uma agricultura irrigadasustentável. Os debates no XII Conird ensejaram uma matéria especialsobre o assunto, utilizando-se as experiências mineira e brasileira.Página 56

Impactos decorrentes da construção de reservatórios paraacumulação de água, de Antônio Teixeira de Matos, DemetriusDavid da Silva e Fernando Falco Pruski. Página 60

EnqueteA revista ITEM ouviu a opinião de autoridades e do setor produtivosobre a importância da construção de represas no meio rural. Conheçao que eles pensam sobre o assunto. Página 67

Por que é tão difícil o licenciamento para a construção debarragens?O secretário de Estado de Meio Ambiente e DesenvolvimentoSustentável de Minas Gerais, José Carlos Carvalho e o ex- ocupante damesma pasta, Celso Castilho, debatem o assunto. Página 71

Projetos à espera de decisão e de incentivoProdutores mostram os problemas que enfrentam para obteremoutorga de direito para o uso da água em Minas Gerais, enquanto nomunicípio de Conquista, MG, o empresário Ma Shou Tao mostra osavanços obtidos a partir da viabilização de duas barragens na FazendaBoa Fé. Página 72

Mais facilidade para a construção de pequenas barragenspara a contenção de chuvas – Página 74

Audiência pública tenta aparar arestas entre a agriculturae o setor ambiental – Página 78

Como se tornar um colhedor de chuva – Página 81

Uma força tarefa para resolver acúmulo de pedidos deoutorgas de água em Minas Gerais – Página 84

Informe Técnico Publicitário da Irrigaplan/Naandan – Página 85

Um dia será possível conseguir um licenciamento ambientalmais rápido em Minas Gerais? Um debate que precisa serintensificado em todos os estados brasileiros – Página 86

Notas Técnicas – Página 88

Navegando na Internet – Página 90

A construção de represas no meio rural éconsiderada fundamental para a produçãocompetitiva de alimentos. Com as mesmas,descortina-se um melhor equilíbrio hídrico,mais chances de impulsionar osagronegócios calcados na agriculturairrigada e uma nova paisagem com todos osatrativos da água

Os debates em torno das conferências,seminários e minicursos que aconteceramno XII Conird, realizado em Uberlândia, de 9a 13/set/2002, estão retratados nesta edição

O Brasil ainda tem muito a ganhar noaproveitamento do mercado citrícola.A irrigação é uma parceira importante paralibertar a cultura da dependência doporta-enxerto limão-cravo e produzir frutasde qualidade, que atendam ãs exigênciasdo mercado externo

A produção da pecuária leiteira e de cortesob pastagens irrigadas é um sistema viávele vantajoso, desde que o produtor adotedecisões importantes, antes de implantá-loe de como geri-lo. Conheça asrecomendações técnicas sobre o assunto

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CARTASleitores

Convocação do professorSalassier Bernardo

“Solicito a atenção da comunidade de profes-sores, pesquisadores, técnicos e estudantes de pós-graduação, incluindo usuários de sistemas de irri-gação e de drenagem, a fim de apoiarmos a Asso-ciação Brasileira de Irrigação e Drenagem (ABID),tornando-nos sócios e pagando as anuidades.

Precisamos parabenizar os idealizadores dessetrabalho. É sempre muito bom incentivar e poderparticipar de publicações específicas, acessíveis aum maior número de pessoas. Cada vez mais, osestudiosos não podem prescindir de acompanharmatérias publicadas em revistas conceituadas eeditadas com freqüência, sob pena de ignorar ocenário científico da atualidade. O fluxo contínuodas informações nos obriga a caminhar com rapi-dez e as matérias da revista ITEM possibilitam essacaminhada: os olhos para o futuro e, ao mesmotempo, sem ignorar o paradigma científico da atu-alidade.

Receber a revista ITEM é muito bom. Ver a re-tomada dessa importante via de comunicação,com a qualidade e esmero já de oito primorosasedições, leva-nos ao compromisso maior, ao com-prometimento de estarmos juntos nessa importan-te empreitada. Assim precisamos, além de enviarmatérias pertinentes para publicação, participarefetivamente. Só deste modo, conseguiremosmanter uma revista de tal importância, realizar osConirds, organizando-nos cada vez mais, não per-mitindo que uma iniciativa desta natureza frustreos seus idealizadores, bem como a todos os seususuários”. SALASSIER BERNARDO (reitor da Uni-versidade Estadual Norte Fluminense - Uenf).

Debate Oportuno“A União Federal, através da Agência Nacional

de Águas (ANA), e os Estados, através dos órgãosespecíficos – em Minas Gerais, o Instituto Mineirode Gestão das Águas (Igam) –, estão em fase degrande agitação para implementar a nova legisla-ção que disciplina os recursos hídricos.

Com efeito, a Constituição Federal de 1988, aLei Federal no 9.433/97 e a Lei Estadual no 13.199/99 trouxeram profundas modificações no conteú-do e na forma de como cuidar dos nossos rios,seja no que diz respeito à dominialidade das águasou na forma de constituição dos Comitês de Ba-cia. Há, ainda, a questão da outorga ou a superdelicada questão da cobrança pelo uso das águas.

Tudo se constitui em uma grande novidade,

recomendando a todos – órgãos públicos, entida-des e pessoas – o máximo cuidado. Se erros foremcometidos, todo o sistema poderá ficar compro-metido.

Neste quadro de dúvidas e inquietações, gos-taria de cumprimentar a revista ITEM pela oportu-na e esclarecedora matéria sobre a questão dosrecursos hídricos, publicada na edição no 52/53.Empresas, profissionais e órgãos públicos tiverama oportunidade de se posicionar a respeito dotema, enriquecendo a discussão e apontando ca-minhos.

Neste processo, destaca-se a importância doConselho Estadual de Recursos Hídricos e do Igamna implementação da Política Estadual de Recur-sos Hídricos, bem como a difícil e complexaimplementação da cobrança pelo uso das águas,de longe o maior obstáculo a ser vencido.

De parabéns, portanto, a revista ITEM, bemcomo a jornalista Genoveva Ruisdias, autora damatéria, que, em 11 páginas bem redigidas e ilus-tradas, traduziu de forma equilibrada e isenta oestado-da-arte da questão do gerenciamento dosrecursos hídricos em Minas Gerais”. CARLOS AL-BERTO SANTOS OLIVEIRA (chefe da Assessoriade Meio Ambiente da Federação da Agriculturado Estado de Minas Gerais-Faemg).

Sugestões para a ITEM“Parabéns pelo esforço na reativação da ABID.

A qualidade da revista ITEM, sob todos os aspec-tos, é de padrão internacional.

Com relação à proposta de manter a comuni-dade científica atualizada sobre teses/dissertaçõesna área de irrigação, via ITEM, achei a idéia muitoboa. Acredito que basta incluir a cada número umarelação das teses/dissertações defendidas pelo Bra-sil afora, com destaque para o título, universida-de/departamento/escola, nome do orientador e doorientado com os respectivos endereços eletrôni-cos.

A ITEM também poderia, a cada número, darum destaque sobre os cursos de pós-graduaçãono Brasil em irrigação, drenagem, engenharia deágua e solo, recursos hídricos, com informaçõessobre a instituição que o oferece, corpo docente,linhas de pesquisa etc., para orientar futuros can-didatos a títulos de mestre e doutor.

Com relação ao XIII Conird, estamos conten-tes com a notícia de que o mesmo será realizadoem Juazeiro, cidade próxima de Cruz das Almas.Estaremos lá sem dúvida alguma”. ÁUREO OLI-VEIRA (PhD., Depto. Engenheiro Agrícola, Escolade Agronomia/UFBA, Cruz das Almas, Bahia).

6 ITEM • Nº 56/57 • 4º trimestre 2002 e 1º trimestre 2003

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PUBLICAÇÕESA trajetória de vida, o

interesse historiográfico ea prática política de Mar-co Antônio Tavares Coelhoaparecem reunidos em“Rio das Velhas”: memó-ria e desafios, publicado

pela Editora Paz e Terra. A obra trata de uma dasquestões mais prementes da atualidade: a agoniados rios, focaliza o Rio das Velhas, o afluente doSão Francisco que corta, do sul para o norte, ocoração de Minas Gerais.

Nos capítulos iniciais, o autor apresenta umanarrativa contextualizada de fatos históricos im-portantes, que tiveram desdobramentos nas pro-ximidades do rio - como a Guerra dos Emboabas,que confrontou mineiros e paulistas na primeirametade do século XVIII. O resgate dessas passa-gens e seu paralelo com a realidade atual parti-ram da contribuição indispensável dos registrosdo naturalista inglês Richard Burton, em 1867:Viagem de canoa de Sabará ao Oceano Atlântico.

A preocupação com a educação ambiental e aorientação dos professores, responsáveis diretospela condução do processo educacional de seusalunos, são as principais razões desta cartilhareeditada pelo Projeto Manuelzão.

Em 64 páginas, 17 capítulos, fácil linguagem,muitas fotos, gráficos e ilustrações com a figuraemblemática de Manuelzão, personagem do es-critor mineiro Guimarães Rosa, os autores dacartilha (Marcus Vinícius Poliguano, Apolo HeringerLisboa, Antônio Leite Alves, Antônio ThomázGonzaga da Mata Machado, Tarcísio Márcio Ma-galhães Pinheiro e Ana Luiza Dolabela Amorim)fornecem aos mestres um material interessante aser trabalhado nas escolas, especialmente paraaquelas localizadas nos 51 municípios que com-põem a Bacia do Rio das Velhas.

Cada uma dessas escolas, localizadas num des-ses municípios, tem direito a uma cota de dez

Rio das Velhas, memórias e desafios de um dosprincipais afluentes do São Francisco

Essa retrospectiva histórica também procura es-clarecer os efeitos da mineração para a bacia doRio das Velhas ao longo dos séculos 17 e 18. Entreoutras conseqüências, o desenvolvimento da ativi-dade mineradora e a busca incontida de riquezatransportaram para os territórios, antes desabita-dos das Minas Gerais, contínuas levas de imigran-tes provenientes da Europa e do litoral da Colônia.

Depois de relembrar como o rio era caudalososéculos atrás, o autor põe-se a investigar as cau-sas de sua progressiva poluição, da diminuição edo mau uso de suas águas. Ressalta pecados capi-tais na exploração do território, como a devasta-ção das florestas, os erros no cultivo do solo, acontaminação dos cursos d’água, o incremento daatividade industrial.

Páginas: 208Preço: R$ 30,00Informações: Projeto ManuelzãoFones: (31) 3248-9817, (31) 3248-9819Telefax: (31) 3248-9818

Uma viagem ao Projeto Manuelzão e à bacia doRio das Velhas – 2 ª edição

exemplares, de acordocom informações dacoordenação do Proje-to Manuelzão. Masquem se interessarpelo tema e pelacartilha também poderá ter acesso gratuito a umexemplar. É interessante conhecer as diferentes ini-ciativas que estão sendo conduzidas com o objeti-vo de salvar os nossos rios.

Páginas: 64Informações e distribuição: Projeto ManuelzãoEnd.: Faculdade de Medicina da UFMG, Av. Alfre-do Balena, 190 - 1o andar, sala 10.012, SantaEfigênia, Belo Horizonte, Minas GeraisFones: (31) 3248-9816 e (31) 3248-9819Telefax: (31) 3248-9818E-mail: manuelzão@manuelzão.ufmg.brSite: www.manuelzão.ufmg.br

4º trimestre 2002 e 1º trimestre 2003 • Nº 56/57 • ITEM 7

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PUBLICAÇÕES

Foi lançado oficialmente no 28º CongressoBrasileiro de Pesquisas Cafeeiras, realizado em Ca-xambu (MG), de 29/10 a 1º/11/02, o livro Cultivodo Cafeeiro Irrigado em Plantio Circular sob PivôCentral, de autoria dos engenheiros agrônomosRoberto Santinato, do Ministério da Agricultura,Pecuária e Abastecimento/ Procafé e André LuísT. Fernandes, professor da Universidade de Ube-raba.

Trata-se de uma obra completa sobre a produ-ção de café irrigado com pivô central, em plantiocircular, desde a escolha da área (clima, solo, águanecessária), implantação da lavoura (limpeza, ins-talação do pivô central, demarcação e locação doscarreadores e acesso, espaçamento e variedades,

Sob a iniciativado Proágua Semi-Árido Obras (UGPO),três técnicos do Mi-nistério da Integra-ção Nacional, Cris-tiano César Aires

Rocha, Lázaro Luiz Neves e Maria Inês MuanisPersechini, coordenaram a elaboração de um tra-balho, que poderá ser de grande utilidade para ór-gãos do governo e particulares que desejam cons-truir barragens ou reabilitar as já existentes, visan-do a sua operação e manutenção em condições desegurança.

Na apresentação inicial da publicação, o ex-mi-nistro da Integração Nacional, Luciano Barbosa,lembrou que “as barragens são obras geralmenteassociadas a um elevado potencial de risco, devidoà possibilidade de um eventual colapso, com con-seqüências catastróficas para as estruturas das pró-prias barragens, ao meio ambiente, com destrui-ção da fauna e da flora e, principalmente, pela per-da de vidas humanas”.

Segundo ele, o Brasil, por contar com vastosrecursos hídricos, possui um número expressivo debarragens. “Felizmente, têm ocorrido poucos aci-

Manual de Segurança e Inspeção deBarragens

dentes, de conseqüências limitadas, uma vez quesão raros os causados pela natureza. A isso, soma-se o excelente padrão técnico de nossas obras”, con-siderou. Ele lembrou que estes fatores não devemser motivo de despreocupação e quem constrói umabarragem deve estar sempre atento às suas condi-ções de segurança estrutural e operacional, identifi-cando problemas, recomendando reparos, restriçõesoperacionais e/ou modificações quanto às análisese aos estudos para determinar soluções adequadas.

O objetivo principal do Manual de Segurança eInspeção de Barragens é estabelecer parâmetros eum roteiro básico para orientar os procedimentosde segurança a serem adotados em novas barra-gens, quaisquer que sejam os seus proprietários, emanter as já construídas em um estado de segu-rança compatível com seu interesse social e dedesenvolvimento.

Páginas: 150, acompanhado de um CDInformações: Ministério da Integração Nacional,Secretaria de Infra-estrutura Hídrica, Departamen-to de Projetos e Obras Hídricas.End.: Esplanada dos Ministérios, Bloco E, 6º, 7º,8º e 9º andares - Cep 70062-900 – Brasília/DFSite: www.integracao.gov.br

Cultivo do Cafeeiro Irrigado em Plantio Circularsob Pivô Central

preparo do solo e fertili-zação, plantio e replantio,quebra-ventos), condução(tratos nutricionais - fun-ção dos nutrientes, exigên-cias, excessos e toxidades,nutrição foliar; tratos cul-turais – capinas, podas; tratos fitossanitários – pra-gas e doenças), quimigação, colheita e recomen-dações técnicas para funcionamento e manuten-ção do sistema pivô central.

Páginas: 250, sendo 50 em cores.Preço: R$50,00Pedidos pelo e-mail: [email protected]

8 ITEM • Nº 56/57 • 4º trimestre 2002 e 1º trimestre 2003

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O livro propõe um jei-to diferente de ver, sentire cuidar de gestão deáguas. Em seus 16 capítu-los e em 208 páginas ele éprovocante e estimulador,às vezes chocando aoexplicitar obviedades pou-co consideradas, e às ve-

zes desmitificando afirmações e comportamentosutilizados nos jogos de poder de pessoas e de or-ganizações em suas reservas de espaços políticos,econômicos e sociais. O título da obra é significa-tivo em sua simplicidade e revela o empenho emintegrar cidadãos comuns, pessoas da sociedadecivil não-organizada, como atores e autores narede de ambientalistas.

O pressuposto também é óbvio: além de algu-mas grandes indústrias e de poucas empresas co-merciais, as donas-de-casa e empregados domés-ticos são os consumidores urbanos que cotidiana-mente manejam maiores volumes de água. Maisdestacada ainda é a posição de produtores e tra-balhadores rurais, por suas atividades altamentedependentes de águas e porque estão próximosde nascentes, zonas de recargas, áreas florestadas,lagos, córregos, ribeirões, e de tantos fatores de-terminantes no ciclo hidrológico.

Imagine o salto qualitativo na gestão ambien-tal (ou autogestão?) quando as mulheres forem

Organizados por Renato Santos Duarte,o Banco do Nordeste e a Fundação JoaquimNabuco editaram e estão colocando à dispo-sição dos interessados três publicações dasérie Estudos sobre as Secas no Nordeste.Trata-se dos volumes 1, 5 e 6, sob os respec-tivos títulos: A seca de 1958, uma avaliaçãoda Etene; Do desastre natural à calamidadepública, a seca de 1998-1999; e O estado-da-arte das tecnologias para a convivênciacom as secas no Nordeste. Para complemen-tar a série, está prevista a edição de maisquatro títulos sobre o mesmo tema.

Estudos sobre as Secas noNordeste

• A seca de 1958, uma avaliação da Etene – Páginas: 200• Do desastre natural à calamidade pública, a seca de

1998-1999 – Páginas: 144• O estado-da-arte das tecnologias para a convivência

com as secas no Nordeste – Páginas: 90Preço: R$5,00 o volumeInformações: (85) 299-3737.Pedidos pela internet: www.banconordeste.gov.br/ren

adequadamente valorizadas e reconhecidas comoambientalistas em suas compras (menos plásticos,menos isopor, menos enlatados etc.), em seus há-bitos (mais produtos naturais e mais elementosbiodegradáveis em sabões, detergentes, xampus,sabonetes) e em seus cuidados em produzir me-nos lixos e em assegurar aproveitamento econô-mico no lixo que for produzido.

Outro salto será dado quando o produtor ru-ral tiver informações, tecnologias, assistência téc-nica e apoio comercial para cuidar de alternativaseconômicas ecológicas, auto-sustentáveis e maisrentáveis do que atividades convencionais geral-mente dominadas por grandes grupos.

O livro Gente Cuidando das Águas trata dissonão apenas na teoria, mas como um exercício aca-dêmico, porque, na prática, ele é a visualizaçãoda base filosófica e conceitual da metodologia quevem sendo aplicada no Projeto Gente Cuidandodas Águas, desenvolvido pioneiramente em dezmunicípios da Bacia do Ribeirão da Mata, próxi-mo a Belo Horizonte.

Páginas: 208Distribuição: Central de VoluntáriosEnd.: Rua Silva Freire, 133, bairro Horto,

CEP: 31035-070 - Belo Horizonte/MGTelefax: (31) 3481-1188E-mail: [email protected]: www.voluntarios.mg.org.br

Gente Cuidando das Águas

4º trimestre 2002 e 1º trimestre 2003 • Nº 56/57 • ITEM 9

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OpiniãoUberlândia foi o palco do XII Congresso Nacional de Irrigação e Drenagem

(XII Conird), realizado de 9 a 13 de setembro de 2002. Reuniu políticos,cientistas de várias áreas, professores, técnicos, produtores rurais,

estudantes, industriais e comerciantes, que debateram uma extensaprogramação sobre o tema “A inserção da agricultura irrigada no ciclo

hidrológico, com segurança alimentar, revitalização hídrica e sustentabilidadeambiental”. Conheça a opinião de alguns dos participantes:

“A organização do XIIConird está de parabéns.É um evento de primeironível. A capacidade demobilização da Abid élouvável. Este trabalhode mobilização dos seto-res privado e governa-mental é muito importan-te. A etapa seguinte é amaior mobilização doprodutor. Cabe à Abidconseguir atrair esse pú-blico também. Nossa in-tenção é estar ao lado daAbid nesse processo.”

ANTÔNIO ALFREDO TEIXEIRA MENDES –gerente de Operações da NaanDan/Irrigaplan

“Acho importante even-tos como este porque aju-dam na retomada e nofortalecimento da nossaassociação, a Abid. Temosum grande potencial deirrigação no país e este éo caminho. Junto ao Con-gresso, recebemos a revis-ta ITEM que traz o regis-tro do que acontece. Te-mos a persistência dos or-ganizadores e a consistên-cia do temário. Tudo issoé muito positivo.”

FRANCISCO MAVIGNIER FRANÇA – gerentedo Ambiente de Políticas de Desenvolvimento doBanco do Nordeste

“Todos os congressos sãoimportantes para desper-tar o produtor e as lide-ranças rurais para osavanços tecnológicos, atroca de experiências e oconhecimento de políti-cas voltadas para o setor.Estou vendo tudo issoaqui, com muita proprie-dade. Hoje, nós não po-demos mais errar. Se issoacontecer, teremos quesair da atividade. Foi umaoportunidade fantástica.Digo isso porque sou ir-rigante há 15 anos e sem-pre acompanho esses en-contros.”

PAULO ROBERTO ANDRADE DA CUNHA –presidente do Sindicato Rural de Uberlândia

“É importante que oslocais tenham sintoniacom o assunto a ser tra-tado, e a escolha da ci-dade de Uberlândiapara sediar o XIIConird foi muito feliz.O evento foi válido paraa discussão da agricul-tura irrigada. O poten-cial a explorar é muitogrande.”

MARCELO PRADO – secretário de Indústria eComércio do estado de Minas Gerais do governode Itamar Franco

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“Foi um esforço magnífi-co dos organizadores,que trouxeram os melho-res nomes. O evento é olocal correto para cons-trutivos debates entreprodutores, pesquisado-res e industriais. Tivemosum produtivo eventopara a cafeicultura irriga-da e uma oportunidadeímpar de vivenciar ricosdebates em torno das po-líticas voltadas para osrecursos hídricos e a irri-gação. Mas, temos tam-bém que desenvolver fór-mulas para conseguiruma maior mobilização eparticipação do setorprodutivo, seguramenteo que poderia colher maisbenefícios desse processointerativo.”

ANTÔNIO DE PÁDUA NACIF – gerente-geralda Embrapa Café

“O XII Conird é umexemplo a ser seguido.Deve ser mantido todosos anos. Os temas sãobastante positivos. Aindahá muito o que aprender.É uma oportunidade quetodo setor tem de apri-morar o conhecimento.”

HUMBERTO SANTA CRUZ – diretor-presiden-te da Associação dos Agricultores e Irrigantes doOeste da Bahia (Aiba)

“A participação de todosos setores envolvidos nacadeia da agricultura ir-rigada consumou a im-portância deste XIIConird. O semináriocom ênfase na citricultu-ra irrigada foi muitooportuno.”

DANILO JOSÉ FANELLI LUCHIARI – consultorde irrigação

“Ficou claro neste XIIConird que a agriculturairrigada é uma soluçãoem termos de garantia deprodução e de logísticapara um equilibrado de-senvolvimento. Por isso,eventos como este são desuma importância para oBrasil.”

CARLOS HENRIQUE JORGE BRANDO – con-sultor da P&A Marketing Internacional

“O conteúdo do XIIConird estava excelente.Outro ponto forte foi olocal. Só esperava umaparticipação melhor. Te-mos que nos mobilizarpara verificarmos comomelhor inserir o Conirdno calendário, minimizarconflitos de eventos e lo-grar mais benefícios comesse trabalho em curso naAbid, difundindo-o paraconseguirmos a maiorampliação de seus propó-sitos. Para os expositorestambém é uma excelenteoportunidade de mostraro que há de novo.”

LUIZ ANTÔNIO DE LIMA – Rain Bird do Brasil

“Este encontro foi muitoprodutivo. É importantenotar o que recebemosem nossas pastas, com ocuidadoso registro detudo que foi abordado,como os Anais do Con-gresso e duas edições daITEM. Lamento porquem não esteve presen-te, pois perdeu uma gran-de oportunidade de tro-car experiências. Aguar-do ansioso pelas novasedições da revista ITEMe sinto-me orgulhoso pornossa associação.”

LEONARDO UBIALI JACINTO – engenheiroagrícola, Pivot Equipamentos

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“Este evento significoumais um importante pas-so da Abid. Uma associ-ação que tem muito acontribuir sob o ponto devista da agricultura irriga-da no Brasil. É difícil verum evento de tamanhaqualidade. Este é ummarco muito importante.A partir de cada eventotemos condições de fazera Abid mais forte. A agri-cultura irrigada tem sidomuito combatida, mas deforma equivocada. É umagrande geradora de ri-queza e empregos.”

EVERARDO CHARTUNI MANTOVANI – pro-fessor da Universidade Federal de Viçosa

“Tivemos um excelentenível de explanações edebates, com uma ótimarepresentatividade. Emum país onde se tem avantagem comparativa deabundância de recursoshídricos, é importantetratar temas como do se-minário de produção in-tensiva da carne e leiteem pastagens irrigadas.”

ANTÔNIO BATISTA SANCEVERO – pesquisa-dor e chefe-feral da Embrapa Gado de Corte

“A Abid é uma entidadeque viveu uma época áu-rea e depois passou poranos difíceis e agora retor-na com força total. OsConirds propiciam o diá-logo entre os setores. Oagricultor e toda a iniciati-va privada já têm consciên-cia dos problemas que têmpela frente. O importanteé acharmos caminhos nodiálogo com o governo.”

BERNHARD KIEP – Valmont Ind. e Com. Ltda

“Os assuntos discutidosno XII Conird são abso-lutamente atuais. Otemário abrangente mefaz concluir que este éum evento de grande im-portância para o setor daagricultura irrigada emtodo o Brasil.”

IRENE GUIMARÃES ALTAFIN – coordenado-ra Setorial de Recursos Hídricos e Saneamento daFinanciadora de Estudos e Projetos do Ministérioda Ciência e Tecnologia (Finep)

“Um encontro como este,na minha opinião, foi dosmais importantes que játivemos, porque a aborda-gem foi muito ampla, coma participação de pales-trantes de renome e dedebatedores representan-do o homem do campo.Isso é muito importante.”

DORACY PESSOA RAMOS – chefe-geral daEmbrapa Solos

“A mudança do calendá-rio da UFU me deixoufrustrado porque haviaplanejado ter todo o cor-po discente e docenteparticipando desse ex-pressivo evento aqui emUberlândia. Do ponto devista técnico, o eventosuperou as expectativas.”

FERNANDO CEZAR JULIATTI – diretor do Ins-tituto de Ciências Agrárias da UFU

“Esperamos muitas mu-danças para viabilizarainda mais o setor daagricultura irrigada, efóruns como este repre-sentam a aproximaçãodestas possibilidades.”

REINALDO CAETANO – presidente da Associa-ção dos Cafeicultores de Araguari

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Expansão da agriculturairrigada nas mãos da

desburocratização

egundo o presidente do XII Conird, Helve-cio Mattana Saturnino, os objetivos foramplenamente atingidos: “Fortalecer as discus-

sões e conseguir um maior entendimento sobre asnovas tecnologias e avanços em favor do uso efi-ciente da água e demais recursos naturais, para re-solver problemas de gestão compartilhada dos re-cursos hídricos e evidenciar o grande potencialdesse agronegócio para a segurança alimentar,geração de empregos e conquistas de mercados,com melhores produtos e maior constância de ofer-ta”. Helvecio salientou também o crescente traba-lho cooperativo com o expressivo comparecimen-to das empresas de equipamentos de irrigação, daparticipação dos dirigentes da câmara setorial deequipamentos de irrigação da Abimaq, dos diri-gentes de diversas associações de produtores, aexemplo dos da Aiba, do apoio das instituições go-vernamentais e da excelente qualidade das diver-sas atividades, com o concurso de profissionais al-tamente comprometidos com o setor. As revistasITEM 54 e 55, que cada participante recebeu, evi-denciaram o que foi programado e discutido noevento, com diversos assuntos enfocados em arti-gos técnicos e entrevistas, facilitando e enrique-cendo os debates.

O professor Antônio Soares, responsável pelasecretaria técnica, fez um balanço positivo dosanais distribuídos em um CD, enfatizando o cres-cente comprometimento de estudantes, professo-res e pesquisadores com a qualidade dos trabalhos.

Maiores dificuldadesCom o objetivo de promover verdadeiros fóruns

de debates entre os elos da cadeia do agronegó-cio, constaram da programação do XII Conirdquatro conferências: Recursos Hídricos e Parceri-as para o Desenvolvimento Sustentável da Agri-cultura Irrigada; Plano Nacional de Irrigação eDrenagem (Planird); Sistema de Informação deApoio à Agricultura Irrigada e Integração Tecno-lógica, Socioeconômica e Comercial no Agrone-gócio da Agricultura Irrigada, onde enfocou-se oProirriga.

Em todas elas descortinou-se um horizonte pro-missor. O alerta comum: que haja maior empenhono ordenamento das ações e racionalidade dos in-vestimentos por parte dos setores público e priva-

O agronegócio calcado na agriculturairrigada descortina-se como

uma das importantes vertentes parainteriorizar o desenvolvimento

brasileiro de forma sustentável.Entre outros, este foi um dos

principais pontos de reflexão do XIICongresso Nacional de Irrigação e

Drenagem (XII Conird).

A agricultura brasileira precisa fazerfrente aos desafios de uma economia

cada vez mais globalizada.O XII Congresso Nacional de

Irrigação e Drenagem (XII Conird),realizado em Uberlândia (MG),

no período de 9 a 13 de setembro de2002, contou com a participação de

cerca de 500 representantes dossetores produtivo, governamental, de

equipamentos, da pesquisa e dosmeios acadêmicos. Para os

idealizadores do evento, um dosgrandes resultados do Congresso foi

o almejado entrosamento entre osdiversos órgãos relacionados com a

água. Esta constante integração,conforme avaliação geral dos

participantes, será uma dasferramentas que impulsionará o

crescimento da agricultura irrigadabrasileira

S

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do. Esta otimização pode ser traduzida principal-mente pela desburocratização de procedimentose processos, conforme afirmaram os empresáriosdo setor de equipamentos presentes no evento.

Mesmo com o impulso dado pelo governo, aexemplo Moderfrota, o setor ainda não havia re-cebido o alcance dessa linha de crédito. O que sevê com muita preocupação são as exigências im-postas pelas autoridades relacionadas com a água,para a normatização do uso deste recurso. BernardKiep (Valmont Ind. e Com. Ltda.), Luiz Antôniode Lima (Rain Bird do Brasil), Antônio AlfredoTeixeira Mendes (Irrigaplan), Nilson Schemmer(Fockink) e Leonardo Ubiali Jacinto (Pivot Equi-pamentos Agrícolas e Irrigação Ltda.) comparti-lham o mesmo sentimento. Falta agilizar mecanis-mos e processos para que um importante setorcomo o da agricultura irrigada se fortaleça e ga-nhe o espaço que precisa ser ocupado para gerarmais negócios, empregos e renda.

A outorga da água, o licenciamento ambientale a liberação de crédito para o produtor são im-prescindíveis para o funcionamento da agriculturairrigada. No entanto, os empresários presentes noXII Conird lamentam as dificuldades que o agri-cultor enfrenta na viabilização de seus projetos.“O grande gargalo do Proirriga, por exemplo, e daprópria agricultura irrigada, é que a burocraciapara conseguir financiamento não é pequena. Oprodutor desanima diante das barreiras impostaspara iniciar a atividade”, enfatizou Bernard Kiep,durante a primeira conferência.

“A burocracia ambiental é o nosso maior pro-blema. Todos temos consciência que o controle douso da água é indispensável, mas os processos deoutorga são muito lentos e acabam inviabilizandoos planos do agricultor”, ponderou LeonardoUbiali. Para o executivo da Pivot Ltda., o créditotambém necessita ser desburocratizado para faci-litar o desenvolvimento do setor. “Não estamosfalando em subsídio, mas em descomplicação. Nãotem cabimento, por exemplo, que o Banco exijaprojeto de viabilidade econômica para o produtorrural comprar um pivô. Por isso mesmo, tenho inú-meros clientes que solicitam o financiamento di-reto com a empresa para não se sentar à mesa comum gerente bancário”, completou.

Este fator, na opinião do empresário daIrrigaplan, é também cultural. Antônio Alfredoacredita que um dos entraves para expansão daagricultura irrigada no Brasil é o atraso do produ-tor em relação à assimilação de novas tecnologias.Esta inércia pode ser atribuída ao excesso de co-nhecimento exigido para implantação de um pro-jeto de irrigação. No entanto, esse comportamen-to vem mudando nos últimos anos exatamenteporque quem está investindo na atividade tem per-cebido que o retorno econômico é muito positivo.

Os números apresentados durante o XII Conirdcomprovam: a irrigação contribui significativamen-

te com o desenvolvimento do agronegócio, com ageração de renda e, principalmente, com o desen-volvimento humano. Por outro lado, a área irriga-da no Brasil, de 3,2 milhões de hectares, ainda ébem pouco expressiva, quando comparada inter-nacionalmente, mostrando-se nítida a necessida-de do estabelecimento de políticas e ações quepromovam e fomentem o desenvolvimento da agri-cultura irrigada.

Para Nilson Níveo Schemmer, representante daFockink e presidente da Câmara Setorial de Equi-pamentos de Irrigação da Abimaq, a recente in-trodução de uma série de inovações tecnológicas,que possibilitam aos equipamentos controlar deforma mais adequada e automatizada a aplicaçãoda água, coloca o Brasil em paridade com a van-guarda mundial. Utilizados corretamente, os no-vos sistemas de irrigação elevam os rendimentos,reduzindo ao mínimo as perdas, diminuindo a ne-cessidade de drenagem e promovendo a integra-ção da irrigação com outras operações simultâne-as, como a adubação, o controle de pragas e dedoenças.

“O objetivo dos esforços de desenvolvimentotecnológico em curso, em relação às técnicas deirrigação, resume-se em alcançar, de forma per-manente, a otimização da relação água captada/produção de alimentos. O XII Conird é um belotrabalho de congregação desses esforços. Portan-to, as inovações tecnológicas consubstanciadas naimplantação da irrigação não devem ficar relegadasa um segundo plano, a fim de que não ocorramprejuízos para o aperfeiçoamento do processo pro-dutivo, para o incremento da produtividade e con-seqüentemente, da produção agrícola. Além dis-so, como se sabe, os equipamentos de irrigaçãotambém estão sujeitos ao processo de depreciação,necessitando de devidas reposições. Evidentemen-te, a não ocorrência destas contribui para o pro-cesso de descapitalização na agricultura, com con-seqüentes entraves para o desenvolvimento daagropecuária”, ponderou o representante da Câ-mara Setorial de Equipamentos de Irrigação.

Melhorias urgentesO secretário da Agricultura, Pecuária e Abas-

tecimento de Minas, deputado federal OdelmoLeão, foi enfático: “Precisamos de recursos parainvestimentos em segmentos importantes como oda agricultura irrigada. Para isso, precisamos fa-zer o dever de casa”, afirmou referindo-se às re-formas governamentais necessárias.

Representantes dos produtores fizeram corocom o setor de equipamentos, quanto às reclama-ções ao governo. O presidente do Sindicato Ruralde Uberlândia, Paulo Roberto Andrade Cunha, vêcomo solução eleger representantes na Câmara eno Senado que tenham compromisso com a clas-se. “Não há como ser um produtor sem uma polí-

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tica agrícola bem definida e de longo prazo, isto é,de no mínimo cinco anos. Só assim saberemosquando vamos plantar e quando vamos colher”,justificou.

Cunha ainda compara, negativamente, o cus-teio agrícola que já chegou a US$25 bilhões, se-gundo ele, e que hoje não passa de US$10 bilhões.“Veja que estamos diante de um superávit da ba-lança comercial agrícola da ordem de US$20 bi-lhões, em 2002, e a contrapartida do governo é ir-risória”, completou.

Todos concordam que a qualidade e a quanti-dade da água disponível depende de um controlede uso. O ponto de conflito, segundo os produto-res rurais, vai ao encontro da opinião de outrossetores: a burocracia para obtenção da outorga eprocedimentos para medição e cobrança pelo con-sumo da água.

Reinaldo Caetano, presidente da Associaçãodos Cafeicultores de Araguari, enfatizou o momen-to positivo para a cafeicultura irrigada, já que açõesforam tomadas pelo Ministério da Agriculturacomo o leilão de opção e a disponibilização de re-cursos para a pré-comercialização do café. Mas,os processos de outorga, na sua opinião, não têmsido bem conduzidos.

“O que faltam, na verdade, são estudos maisaprofundados para cobrança da água, para quenão se torne um imposto. Temos verificado que emalguns Estados, onde esta cobrança está sendoencaminhada para uma espécie de Fundo, não ocor-re a reversão para a própria bacia”, pontuouHumberto Santa Cruz, presidente da Associação dosAgricultores e Irrigantes do Oeste da Bahia (Aiba).

O consultor de irrigação, Danilo José FanelliLuchiari, fez uma espécie de desabafo em nomedos citricultores paulistas que lhe procuram paraencomendar projetos técnicos de irrigação emcitros. Segundo ele, a outorga é essencial desde quevenha acompanhada de um Plano Diretor. “O ca-minho adotado está aquém da realidade dos pro-blemas do citricultor. Porque não se executa amedição da água de forma direta como ocorre coma energia?”, argumentou.

Procedimento padrãoPor se tratar de um dos assuntos mais polêmi-

cos da atualidade, os organizadores do XII Conirddestinaram, além das conferências, uma série deseminários para discutir os problemas diretamen-te ou indiretamente relacionados com a quantida-de e com a qualidade da água disponível. Seja pelanecessidade do uso racional do recurso, seja pelafiscalização ambiental ou pelo pagamento e con-cessão de outorga, palestrantes, debatedores e par-ticipantes trocaram experiências e discutiramexaustivamente os rumos da agricultura irrigadadiante destes entraves em todos os seminários re-alizados: “A Organização dos Comitês de Bacias

Conferências, palestras, minicursos e visitas técnicascompuseram a programação do XII Conird

O secretário da Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas,Odelmo Leão e o presidente do XII Conird, Helvecio M. Saturnino

O responsável pela secretaria técnica do evento, professorAntônio Soares

Nilson Schemmer, representante da Fockink e presidente daCâmara Setorial de Equipamentos de Irrigação da Abimaq

Gisela Damm Foratini, superintendente de Fiscalização da ANA

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Hidrográficas e as Outorgas para Irrigação”, “OUso de Águas Residuárias da Suinocultura na Agri-cultura Irrigada”, “Produção Intensiva de Pecuá-ria Leiteira e de Corte em Pastagens Irrigadas”,“Uso de Águas Subterrâneas e Manejo de BaciasHidrográficas”, “O Futuro da Cafeicultura Irriga-da”, “O Agronegócio da Fruticultura Irrigada: OExemplo da Citricultura” e “Irrigação e Fertirri-gação em Cultivos Protegidos e Hortaliças”.

A cada debate, representantes de órgãos comoa Agência Nacional de Águas (ANA) e InstitutoMineiro de Gestão de Águas (Igam) colocaram aurgência na assimilação dos procedimentos já re-gulamentados em lei. O preenchimento de formu-lários e demais exigências feitas ao produtor antesda outorga vêm garantir o controle quantitativo equalitativo do uso da água, conforme explicouArlene Côrtes da Rocha, responsável pelo escritó-rio regional do Igam, em Araguari.

Na reflexão de quem regulamenta o uso daágua, são três os maiores desafios da atualidade:garantir o aporte regularizado de água para agri-cultura, em face da crescente competição com osoutros setores da economia; racionalizar o uso daágua e controlar os efeitos no meio ambiente. Gi-sela Damm Forattini, superintendente de Fiscali-zação da ANA, disse que muito ainda precisa serfeito para o envolvimento harmônico e integradoda sociedade na gestão das águas, mas até o mo-mento os resultados apontam que as políticas jáadotadas estão no caminho certo.

Política agrícola A preocupação em implantar uma política agrí-

cola e pecuária condizente com as necessidades ecom a realidade brasileira em consonância com agestão feita pelo Ministério da Integração Nacio-nal, foi focada durante XII Conird pelas discus-sões em torno do novo modelo de irrigação e doPlano Nacional de Irrigação e Drenagem (Planird).

Francisco Mavignier França, gerente do Am-biente de Políticas de Desenvolvimento do Bancodo Nordeste, explicou que estas novas políticas eestratégias para um novo modelo de irrigação têmum horizonte de aplicabilidade de 20 anos. Paraele, o cenário mostra que a irrigação é a atividadeeconômica que conseguirá reverter o grande pro-blema social da pobreza. “No Nordeste já temosuma infra-estrutura pronta de 50 mil hectares, comágua e irrigantes selecionados para serem assenta-dos. Em até três anos poderemos agregar a estaárea mais 150 mil hectares. Ou seja, o governo temnas mãos um instrumento extraordinário para re-duzir a fome e a miséria, com geração de empregoe de renda”, explicou França.

Novos investimentosPara alavancar o setor, o coordenador geral de

Análise Econômica da Secretaria de Política Agrí-

cola do Ministério da Agricultura, Wilson Vaz deAraújo, anunciou durante sua palestra que, paraeste ano agrícola de 2002/03, o governo está desti-nando R$21,6 bilhões para financiar as operaçõesde custeio, investimento e comercialização da sa-fra. Segundo Araújo, o Brasil pode atingir até 30milhões de hectares irrigados, com um potencialgarantido para entrar definitivamente no merca-do externo: “planos como o Proirriga vão propici-ar a abertura de novos mercados pois, com ele,teremos regularidade de oferta. Além disso, vive-remos uma redução dos riscos climáticos, maioroferta de empregos por hectare, utilização dos so-los o ano todo com até três culturas e produtoscom preços mais favoráveis ao agricultor”.

Também, com o objetivo de impulsionar o se-tor, o governo aguarda a efetivação do Plano Na-cional de Irrigação e Drenagem (Planird), que,segundo Edson Zorzin, diretor de Desenvolvimen-to Hidroagrícola da Secretaria de Infra-EstruturaHídrica do Ministério da Integração Nacional, atra-sou por conta das mudanças internas do próprioMinistério. O diretor explicou, durante a aberturado evento, que como o projeto visa impulsionar aagricultura com maior abastecimento interno eexterno, a irrigação está sendo tratada com priori-dade.

Na opinião de Luiz Lima, gerente Mercosul daRain Bird Internacional, o Planird irá facilitar acaptação de recursos no exterior por se tratar deum plano bem fundamentado.

Este plano, assim como as demais iniciativasinstitucionais, foi transferido para o governo Lulaque, conforme avaliação geral dos participantes doencontro em Uberlândia, certamente mereceráatenção e terá continuidade, haja vista a impor-tância da agricultura para o país.

Terreno fértilPara os participantes, palestrantes e organiza-

dores do XII Conird, o novo governo tratará o se-tor agrícola com responsabilidade e prioridade,pois, esta é a grande aptidão do Brasil, que encer-rou 2002 com uma movimentação de mais deUS$100 bilhões somente no agronegócio.

Dada esta expressividade, os Conirds continu-arão contribuindo para elevar o nível da agricultu-ra irrigada através da integração dos setorescorrelacionados. O XIII Conird será realizado emJuazeiro (BA), um dos pólos mais importantes deirrigação do país, no período de 26 a 31 de outu-bro de 2003. �

Maiores informações poderão ser obtidas com os organi-zadores: Antônio A. Soares, [email protected] eHelvecio Mattana Saturnino, [email protected]. Apágina na Internet www.furnarbe.org.br/abid.conird trazinformações sobre o evento.

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E N T R E V I S T A DORACY PESSOA RAMOS

Item – Na sua opinião, qual foia abordagem mais importantedo seminário “Uso de águassubterrâneas e manejo de baci-as hidrográficas”?Doracy – Este foi um dos maisimportantes debates de todo oXII Conird e dos que já partici-pei até então, pois contamoscom a participação de palestran-tes de renome e de debatedoresrepresentando o homem docampo. Dessa forma, foi possí-vel trazer à tona o problema daoutorga da água e outros quetalvez não fossem tão esperadoscomo a questão ambiental, aproteção da água a partir domomento em que ela cai no solo.

Item – Em relação à outorga, oSeminário contou com a presen-ça de um representante do Igamno Triângulo Mineiro, queanunciou a intenção dedesmistificar o assunto. Isto foipossível? Qual sua opinião acer-ca do assunto?Doracy – Para mim, a outorgaestá numa fase muito inicial,haja vista que ainda existem pro-blemas básicos apresentadospelo próprio produtor, como asua liberação à medida em queexistem condições de vazão su-ficiente dos poços de água sub-terrânea. A outorga é funda-mental. É necessária até comogarantia para o próprio irrigan-te, que implanta um sistema deprodução caro como a irrigação,demandando altos investimen-tos e que, em contrapartida, pre-

cisa ter uma garantia de susten-tabilidade, ou seja, ter água su-ficiente e de boa qualidade parase produzir.

Item – Em relação às águas sub-terrâneas, em que fase se encon-tram os processos de outorga?Doracy – Seus critérios aindanão estão bem definidos. A si-tuação não está clara para nós.Conhecemos bem todos os nos-sos aqüíferos, porém ainda nãoos temos bem delimitados. Esteé o grande problema: muitasvezes iniciamos um processo deoutorga sem ter a exata noçãode quantos serão beneficiados.Aí, chega um determinado mo-mento em que esse processo temque ser paralisado, pois mais umpoço pode prejudicar o aqüíferoe, conseqüentemente, aquelesirrigantes que ainda não conse-guiram a outorga, sentem-seprejudicados. Quando isso acon-tece, ocorre um apelo judicialque demanda uma revisão. Estarevisão pode então prejudicaruma pessoa que já se estabele-ceu. Por isso, é necessário quese defina melhor todo este pro-cesso.

Item – Qual seria a solução ime-diata para evitar problemascomo este?Doracy – Precisamos conhecermelhor nossos aqüíferos, fazen-do estudos complementares.Temos que detalhar mais nossaspesquisas. O último estudo deaqüíferos de Minas Gerais é re-

Falta depolíticas públicas

voltadas para omeio rural no Brasil

Políticas públicas

voltadas para o meio

rural, que proporcionem

maiores investimentos

em pesquisa,

disponibilidade de terras

e de créditos para o

produtor, são, na opinião

do chefe-geral da

Embrapa Solos, Doracy

Pessoa Ramos, ações

vitais para o

desenvolvimento da

produção agrícola

brasileira. No entanto,

quaisquer medidas

devem ser tomadas

sempre priorizando o

conhecimento

tecnológico e ambiental,

de forma que questões

consideradas como

solução, a exemplo da

outorga da água, não se

tornem barreiras para o

crescimento do setor.

Esta análise foi feita pelo

pesquisador em

entrevista para a revista

ITEM, durante o XII

Conird, quando

representava o

presidente da Embrapa.

Ele também sente a falta

de integração de

esforços entre os setores

responsáveis pela

condução da política de

recursos hídricos.

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ferente à década de 80, ou seja,foi realizado há mais de 20 anos.Não tem sido feito nenhum es-tudo dirigido para um conheci-mento mais apurado da distri-buição da água subterrânea. Co-nhecemos sua forma, sua expan-são, mas sem detalhes. A própriaperfuração de poços ainda ocor-re em cima de suposições. Àsvezes, faz-se um trabalho enor-me de perfuração, o produtorgasta dinheiro, e não se obtêmos resultados esperados.

Item – Quais as práticas que aEmbrapa recomenda para queo produtor se torne um produ-tor de água?Doracy – Diversificação de cul-turas e integração lavoura-pecu-ária; incremento da biodiversi-dade nos sistemas de produçãoe de rotação de culturas; adoçãode sistemas agroflorestais eagroecológicos; recomposiçãodas matas ciliares e proteção dostopos de morro e encostas íngre-mes; recuperação de áreas de-gradadas e proteção de áreasfrágeis; difusão eficiente das tec-nologias, visando o uso e o ma-nejo sustentáveis da terra; incen-tivos que assegurem a adoção detecnologias apropriadas; plane-jamento participativo do uso dasterras nas bacias hidrográficas,com a inserção dos produtoresrurais no processo decisório.

Item – Outro ponto polêmico doXII Conird é o pagamento daágua. Qual sua visão sobre oassunto?Doracy – É uma questão muitodelicada que precisa ser exaus-tivamente discutida. Porém, nãohá como negar: precisamos terum fundo de recursos para es-ses estudos. E não pode ser umfundo perdido como tem sidofeito até hoje pelos governos.Por isso mesmo, os estudos fo-ram paralisados. Não existe, atu-almente, recurso financeiro dosgovernos federal e estadual paraesse fim. São estudos muito ca-

ros. Dessa cobrança pela água,uma taxa deve reverter exata-mente para essa finalidade. Issodeve ser visto como um apoio aopróprio produtor.

Item – E como você vê aestruturação destes recursos? Ogoverno deveria então destinar,de imediato, uma parcela paraa pesquisa?Doracy – Com certeza. E o go-verno está voltado para isso.Nossos governantes sabem mui-to bem que a água pode ser mo-tivo de guerra. Ela é o petróleodo futuro. Não podemos esque-cer que existe uma água super-ficial que demanda um cuidadomuito grande no que diz respei-

to ao seu uso, descontaminaçãoe preservação. Não podemossimplesmente admitir que, portermos grandes aqüíferos, nãoexistirá falta da água superfici-al. É um recurso renovável, sim.Mas, seu acesso vai-se tornandocada vez mais difícil. Há possi-bilidade de essa águaaprofundar-se cada vez mais,haja vista que o lençol vai sendorebaixado, dificultando sua ob-tenção. Temos que ter um cui-dado muito grande para que elatambém não se contamine.

Item – Que cuidados são esses?Doracy – Preservação do solo,que é o verdadeiro filtro daágua. Quando começamos a fa-zer o manejo e a ocupação dasterras, sabemos com muita cla-

reza das conseqüências desseuso. Considerando que o solo éfundamental para a nossa pro-dução de alimentos, mas quetambém o é para a limpeza, parao filtro dessa água, contribuímospara que só vá água limpa parao subterrâneo. O solo, através deseus mecanismos físico-quími-cos e biológicos, consegue, semtrazer prejuízos significativos asi próprio, fazer a depuração.Porém, não podemos nos esque-cer que existem limites. Se aágua chegar muito poluída, comcerteza, alguma impureza vaipassar para o subterrâneo. Nãotenho dúvida que seria um cri-me poluir nossas águas subter-râneas.

Item – A solução seria então,descontaminar a água antes queela caia no solo? De que forma?Doracy – É um processo econo-micamente quase que inviável.O que pode ser feito, primeira-mente, é não permitir que aágua que utilizamos se contami-ne tanto. No caso da água desuperfície, o processo é simples.E temos que pensar no coleti-vo: os residentes nas áreas urba-nas e rurais e as indústrias. De-manda uma conscientização dapopulação como um todo, espe-cificamente da população urba-na. Esta educação para o ambi-ente é importante principalmen-te porque, seguramente, o Bra-sil será, no futuro, o país que iráalimentar o mundo, pois é o quetem maior potencial para produ-ção de alimentos. No entanto,para isso, precisa ter um ambi-ente de qualidade. Imagine nos-sa produção atual de grãos. Elapode ser duplicada. Temos tec-nologia para isso, e a mais avan-çada do mundo. Dominamos oconhecimento dos solos tropi-cais. As condições climáticasbrasileiras são extremamente fa-voráveis para sustentar uma pro-dução 12 meses por ano. Porém,precisamos priorizar a preserva-ção dos solos e da água.

E N T R EDORACY PESSOA RAMOS

“Precisamos conhecermelhor nossos aqüíferos,

fazendo estudoscomplementares. Temos

que detalhar mais nossaspesquisas. O último estudo

de aqüíferos de MinasGerais é referente à décadade 80, ou seja, foi realizado

há mais de 20 anos”

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Item – Essa conscientizaçãotambém é necessária para coi-bir a formação dos lixões nasáreas urbanas?Doracy – Realmente, a contami-nação por lixo ainda é muito for-te. Isso não cabe mais em umpaís avançado como o Brasil. Éuma enorme fonte de poluiçãodo solo que considero inadmis-sível. Além dessa forma típica depoluição urbana, vemos a con-taminação por indústrias.

Item – No caso das áreas rurais,quais seriam as soluções paraevitar a contaminação da água?Doracy – Aprendemos a mane-jar nossos solos, a produzir nasnossas condições tropicais comconhecimentos importados, comtecnologias, na época, maisavançadas e é bom ressaltar quehoje somos exportadores de tec-nologia. Mas, infelizmente,aprendemos com eles a usarmuito fertilizante, muito defen-sivo agrícola e ainda continua-mos com essa prática sem co-nhecer nossas condições de soloe ambiente tropicais, que exi-gem um manejo completamen-te diferente.

Item – Comparando o Brasilcom outros países mais avança-dos, como está o nosso setor depesquisa?Doracy – Os pesquisadores quemais entendem de solos tropi-cais estão no Brasil. Nós, inclu-sive, modificamos outros siste-mas de classificação de outraspartes do mundo que não têmas informações que nós dete-mos. Hoje, o Brasil está na van-guarda em conhecimento dascondições de solos. No que dizrespeito à genética e ao melho-ramento vegetal, encontramo-nos emparelhados com aquelespaíses considerados mais avan-çados. Tanto que estamos expor-tando engenharia genética parao mundo. Nossa desvantagem éem número de pesquisadores.

Para se ter uma idéia, a Embra-pa Solos tem convênios com osmaiores órgãos de pesquisa domundo para realização de estu-dos em conjunto.

Item – Por falar em parceria,como você vê, hoje, a integraçãodos órgãos relacionados à águae à agricultura irrigada?Doracy – Isto tem chamadomuito a nossa atenção. O quan-to entendemos que existe deconhecimento em todos os ní-veis no nosso país, mas de for-ma isolada, segmentada. Aindafalta integração entre todos ossetores e órgãos. Esse diálogo,certamente, irá viabilizar solu-ções para a maior parte dos pro-blemas da agricultura, do meioambiente. Todo problema envol-ve um processo em cadeia, umasérie de indicadores, de conhe-cimentos. Já estamos no cami-nho. A dificuldade de recursostrouxe à tona a união, o consór-cio, a busca de parcerias. NaEmbrapa Solos, não desenvolve-mos projetos sem parcerias.Com isso, aprendemos que nãosomos os donos da verdade.Fóruns como esse proporciona-do pela Abid são fundamentaisno fortalecimento dessa integra-ção.

Item – Há uma tendência mun-dial de descentralização de de-cisões. No entanto, trazendo areflexão para a agricultura, ain-da se depende de forma vital dosgovernantes, para desenvolveressas ações. Qual a sua opiniãosobre isso?Doracy – Eu chamo isso de au-sência de políticas públicas. Apolítica pública passa, obrigato-riamente, pela participação detoda a comunidade. Ela éestabelecida muitas vezes poruma coordenação maior de umdeterminado setor, mas devepassar por todos que diretamen-te ou indiretamente serão afe-tados por esta política. E que seesteja atento às modificações de

impactos sociais, ambientais eaté mesmo econômicos. Nósprecisamos exercer a políticapública na sua integridade. Onosso Legislativo tem que estaratento às necessidades de modi-ficações e de ajustes.

Item – Trazer de volta o homempara o campo, valorizando seutrabalho e mostrando que ele éfundamental para existência deuma nação, passa então por es-tas políticas públicas?Doracy – Sim, voltada para osetor rural. O homem urbanoprecisa entender que os maioresproblemas de uma cidade sãocausados por questões rurais.Corrigir isso é muito mais bara-

to do que deixar que a popula-ção fique sofrendo as conseqü-ências, por exemplo, de falta deemprego, de segurança, de saú-de, de meio ambiente. Tudo isso,com uma política pública volta-da para o meio rural, seria a so-lução. Se for oferecido para umcidadão, que está marginalizadono meio urbano, a chance de seencaixar em uma área rural, cer-tamente ele vai voltar. Esta é arazão do êxodo rural: falta depolíticas públicas. Temos queestar atentos aos políticos queescolhemos. Temos que cobrarações efetivas para o meio rural.

Maiores informações com o enge-nheiro agrônomo Doracy Pessoa Ra-mos, através do e-mail: [email protected].

V I S T A DORACY PESSOA RAMOS

“Nossosgovernantessabem muito

bem que a águapode ser motivode guerra. Ela é o

petróleo dofuturo”

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icou claro no XII Conird que o exemploda citricultura pode ser ampliado paratoda a fruticultura irrigada, pois toda ela

vislumbra um futuro promissor desde que se in-vista em pesquisa, implantação de novas tecno-logias e extensão rural. Em termos de quantida-de, o potencial brasileiro é muito grande, noentanto, a qualidade ainda está aquém das exi-gências do mercado consumidor, talvez por fal-ta de visão empresarial da dimensão do agrone-gócio dos citros.

O consultor de irrigação, Danilo José FanelliLuchiari, palestrante do evento, abordou a situ-ação da citricultura irrigada brasileira com estasnuances no intuito de levar os presentes – re-presentantes dos setores produtivo, empresari-al, de pesquisa e governamental – a uma refle-xão e, por conseqüência, a algumas respostasimediatas. Para tanto, retroagiu na história dacultura de citros, mostrando sua evolução, defi-ciências e perspectivas sobre o enfoque da irri-gação.

Segundo Luchiari, se hoje o Brasil ainda nãose firmou como um país exportador de frutascítricas in natura é por falta do desenvolvimen-to técnico específico para este segmento de mer-cado. A citricultura irrigada começou com umacerta expressividade nos anos 70, nas proximi-dades de Limeira (SP), com destino ao mercadode fruta in natura nacional. Na época, o agricul-tor irrigava no período de acabamento das fru-tas, principalmente para melhorar a aparência eo tamanho destas. Graças a esta iniciativa, elefoi percebendo que a prática agregava maiorvalor a sua comercialização e resultava numaexcelente relação custo/benefício com a adoçãoda irrigação. Esta experiência consolidou entãoa irrigação que, inicialmente, ganhou maior es-paço na região centro-norte do estado de SãoPaulo.

A irrigação atualmente é bastante praticadano parque citrícola paulista, conforme afirmouo consultor. Sua maior vantagem constitui-se naantecipação da florada e da própria produção,fazendo com que o produtor obtenha preçosmelhores de comercialização. Além disso, inibeuma série de problemas fitossanitários, melho-ra a qualidade da casca, polpa, tamanho dos fru-tos e, conseqüentemente, aumenta significativa-mente a produtividade, como já havia sido cons-tatado pelos primeiros citricultores que utiliza-ram o sistema.

“Estes benefícios relacionam-se diretamen-te à citricultura de mesa, ou seja, paracomercialização da fruta in natura. No caso daprodução destinada à indústria de sucos, o prin-cipal benefício é o aumento da produtividadeseguido da própria qualidade do produto. Ape-

Citricultura irrigadabrasileira ainda tem

muito a crescer

Embora o mercado de citros possa ser consideradoum ótimo filão, o Brasil ainda dá os primeiros passos

em direção ao aproveitamento deste potencial.A citricultura irrigada é a grande saída. Há quem

duvide disso, já que o parque citrícola nacionalencontra-se consolidado, utilizando técnicas

modernas e alta tecnologia. No entanto, não foicriado com o objetivo de produzir frutas de primeira

qualidade - principal exigência do consumidorinternacional. Se uma determinada parcela desta

produção atinge os padrões de consumo de outrospaíses como os Estados Unidos, é por mera

conseqüência de um grande volume de frutas colhidas

anualmente.

FFO

TO D

AN

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LU

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IARI

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sar de que esta última vantagem ainda não é bemremunerada no Brasil. Nossa indústria quer qua-lidade, mas ainda não emprega uma política de-finida sobre ela”, lamentou Luchiari.

Necessidade de tecnologiaCom o crescimento do mercado nacional de

citros irrigado veio a demanda por tecnologia,consolidada com o uso dos sistemas de microas-persão e gotejamento. Nesta fase, segundoDanilo Luchiari, toda a pesquisa brasileira ori-entava e pressionava a citricultura para a opçãoda microaspersão devido às particularidades donosso parque citrícola. Alegavam que ogotejamento não iria atender às necessidadeshídricas e fisiológicas dos citros para a realidadebrasileira.

Mesmo assim, os grandes grupos produtoresdecidiram experimentar os dois sistemas por ini-ciativa própria, até concluir que o gotejamentoera o mais viável por apresentar menor custo,um manejo operacional simplificado e alta pro-dutividade – com apenas uma linha de gotejoobtinha-se grande produção. A possibilidade dese fazer fertirrigação, que é a principal práticanutricional da citricultura, a qual o Brasil nãoapresenta domínio comparada aos países pro-dutores do Primeiro Mundo, também auxiliouna adoção da irrigação localizada.

Mais uma experiência então se consolidoucom uma prática usual do parque citrícola. Atu-almente, mais de 30 mil hectares irrigados noestado de São Paulo utilizam o gotejamento emuma linha por planta. Transformando em núme-ros, no sistema autopropelido, a produtividademédia é de 40 t/ha, e no gotejamento, com umalinha por planta, é de 50 t/ha.

Um exemplo de sucesso da irrigação por as-persão via autopropelido foi apresentado pelodiretor técnico da fazenda Sete Lagoas, CarlosVan Pires de Wit, o qual relatou o seu trabalhovoltado à produção de laranja orgânica com ex-celente resultado de produtividade, e enfatizoua adequação do sistema de irrigação com a con-dução da cultura, admitindo que todo o sucessoalcançado está no domínio da tecnologia e nocorreto manejo da irrigação, adquiridos por maisde 30 anos de experiência.

“Apesar do autopropelido apresentar menorcusto de investimento, a tendência dos citrosagora seria a irrigação localizada, pela própriaescassez dos mananciais hídricos, a qual tende ase agravar substancialmente. Porém, com as di-ficuldades para obtenção de outorga da água,vai ficar mais difícil para aquele agricultor quepretende adotar a irrigação”, salientou o con-sultor.

Na contramãoEntre todas as dificuldades que a citricultu-

ra irrigada brasileira enfrenta, a maior delas, semdúvida alguma, é a falta d’água superficial paraatender à necessidade de expansão do parquecitrícola e suas conseqüências. Danilo Luchiariexternou não só uma opinião própria como da-queles que lhe procuram para assessorar na im-plantação do sistema. Segundo relatou, não háuma campanha contra a outorga da água. Todostêm consciência de ser essencial e inevitável. Noentanto, os caminhos traçados pelo governo vãona contramão da realidade do agricultor. Os cri-térios para obtenção da outorga são subjetivos,bastante complexos, como ele mesmo classifica,poderiam ser simplificados e mais eficazes, sim-plesmente passando a monitorar as microbaciase adotar a medição direta dos irrigantes.

“As exigências firmadas pelo setor de outor-ga deverão inibir a expansão da citricultura bra-sileira já que a irrigação não é mais uma tendên-cia, e sim uma necessidade produtiva. Hoje, dos850 mil hectares de citros plantados, apenas 60mil são irrigados. Daí, visualizamos uma deman-da bastante significativa pela implantação do sis-tema. Com as dificuldades para obtenção daoutorga, o citricultor estará sem saída, caso nãoseja estabelecido um plano diretor para o seg-mento”, pontuou o consultor.

Outro problema apontado durante o XIIConird, que limita a expansão da irrigação emcitros, é o custo de implantação, já que na rela-ção custo/benefício, o produtor tem buscadosempre o menor custo de investimento e não omelhor retorno financeiro, deixando de consi-derar os custos operacionais. Aliam-se a este, obaixo profissionalismo e a falta de planejamen-to. Na irrigação sazonal, o produtor procura omercado de equipamentos nas vésperas de ini-ciar o sistema. Nessa hora, as dificuldadestransparecem para uma entrega rápida e preçosacessíveis. O ideal, segundo Luchiari, é ter tem-po para projetar, negociar e comprar.

Danilo Luchiari(ao microfone)considera asexigências paraa concessão daoutorga comofator deinibição para aexpansão dacitriculturanacional

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Durante oseminário,

foramapontadas

soluções paraos principais

problemas dacitricultura

irrigada

E quando a irrigação é localizada ainda ocor-re a falta do conhecimento técnico das empre-sas de equipamentos e respectivos usuários, oca-sionando no baixo nível de aproveitamento datecnologia adotada. “Na irrigação localizadaobservamos que 30% das áreas enfrentam difi-culdades operacionais por falta de capacitaçãotécnica da mão-de-obra envolvida, outro proble-ma encontrado no gotejamento é o alto teor deferro presente em nossas águas, o que pode cau-sar problemas de entupimento no sistema se nãofor corrigido. A falta de mão-de-obra capacita-da para implantar e operar os equipamentos, ouaté mesmo para fazer uma correta manutençãopreventiva, gera atraso em todo o processo deirrigação”.

Soluções viáveisDiante dos grandes problemas que aflingem

o setor da citricultura irrigada, os participantesdo seminário enumeraram, em conjunto, algu-mas soluções simples e imediatas ou pelo me-nos a ser resolvidas a médio prazo:

• qualificação humana para implantar o siste-ma – o agricultor deve procurar uma orienta-ção técnica qualificada;

• melhoria do manejo operacional dos sistemasde irrigação e adoção do balanço hídrico nasáreas irrigadas para melhor racionalização dosrecursos hídricos;

• cautela na liberação de recursos por parte dosbancos – o citricultor, ao solicitar linha de cré-dito junto ao setor financeiro, deve receberorientação técnica conforme a região onde osistema será instalado. Isso porque, cada áreado país tem características e demandas muitoespecíficas. A medida pouparia uma série dedificuldades e dissabores para o produtor;

• expansão para outras áreas – dentro de umparque citrícola com muitos problemas fitos-sanitários, o recomendável é desenvolver emoutras regiões a citricultura de mesa, com téc-nicas mais apuradas, com maior diversificaçãode porta-enxerto e variedades comerciais dealta qualidade e que hoje enfrenta uma sériede doenças graves como a morte súbita;

• utilização da fertirrigação para melhorar aqualidade do fruto – exigência cada vez maisconstante dos consumidores brasileiro e inter-nacional, o ideal é o uso da adubação via irriga-ção. Um sistema simples, viável e econômico;

MÉTODOS DE IRRIGAÇÃO EM CITROS

Aspersão sobre copa – inicialmente era a única opção utilizada na irrigação de citros. Mais utilizadona década de 60 pelo baixo custo;

Autopropelido – quando foi implantado, apresentou ótimos resultados e boa adequação do siste-ma para a realidade da citricultura, principalmente para a produção de frutas de mesa. Isso por-que geralmente o produtor de frutas de mesa tem em seu pomar diversas variedades de citrosque, por sua vez, têm comportamentos diferentes. Possibilitando usar nas diferentes variedades omesmo sistema de irrigação, o autopropelido constitui-se em um método prático, fácil e viáveleconomicamente;

Pivô central – a concepção deste sistema normalmente requer planejamento prévio dos pomarespara sua implantação, além de limitações quanto ao aproveitamento das áreas e topografia, opivô central ainda não conseguiu ganhar muito espaço nos pomares;

Localizada por gotejamento e microaspersão – apresenta em suas características a adequação emqualquer tipo de plantio, topografia, tamanho e perfil da área irrigada, oferece economia de águae energia, possibilita a fertirrigação e fornece água somente no sistema radicular da cultura.

Deve-se considerar que o método de irrigação mais indicado é aquele que atende melhor ascaracterísticas da propriedade adaptada a cada região em particular, por isso é importante aorientação técnica para implantação dos sistemas de irrigação.

FOTO EMBRAPA MEIO-NORTE

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• reaproveitamento de água – com a escassezdo recurso, deve-se optar pela reutilização daágua das cidades e indústrias. Isto exceto paraa aspersão por conter riscos de patógenos;

• intensificação da pesquisa sobre manejo de ir-rigação, coeficientes de cultura, viabilidadeeconômica de tipos de sistemas para os prin-cipais pólos de irrigação e culturas predomi-nantes e intensificação da extensão rural.

Ótimo negócioEncontrar soluções para os problemas mais

evidentes da citricultura brasileira constitui-se naprópria expansão das divisas nacionais. O agro-negócio da citricultura no estado de São Paulo,por exemplo, gera uma receita de US$1,5 bilhão/ano, conforme informou Danilo Luchiari. Na sa-fra de 2001/2002, foram produzidos aproximada-mente 330 milhões de caixas de citros no Brasil,sendo 30% destinadas ao consumo in natura esomente 3,4 milhões de caixas exportadas. En-quanto que a exemplo da citricultura de fruta innatura da Califórnia, EUA, que gera uma receitaanual de US$850 milhões/ano, constituindo-se em

um excelente negócio para o agricultor.Ao optar pela irrigação em citros, tanto o pro-

dutor como a própria agricultura brasileira ex-pandem automaticamente estes ganhos, já queo sistema:• antecipa a florada e a colheita proporcionan-

do vantagens competitivas e até mesmo auxi-lia no controle de doenças;

• garante uma florada intensa quando o ciclo deirrigação é iniciado corretamente após o perí-odo de estresse da cultura e, conseqüentemen-te, diminui os custos dos tratamentos fitossa-nitários;

• assegura maior pegamento das flores e reduzconsideravelmente a queda de “chumbinhos”ou frutas de tamanho pequeno;

• aumenta a produtividade;• leva a obter frutos com qualidade maior com

relação a coloração, tamanho, polpa;• amplia a diversificação de porta-enxertos, li-

berando-se o setor do uso exclusivo do limão-cravo.

Além dessas vantagens, o setor tem um pa-pel social: a citricultura, segundo o Ministérioda Agricultura, gera 420 mil empregos diretos.

A morte súbita dos citros, que já atingiu cerca de lmilhão de plantas em Minas Gerais e São Paulo (dado apre-sentado pelo suplemento Agropecuário do jornal “Estadode Minas”, edição de 10.02.2003), está mobilizando cer-ca de 30 pesquisadores de dez instituições, dentre elas oCentro APTA Citros “Sylvio Moreira” - IAC e o Fundo deDefesa da Citricultura (Fundecitrus), que têm buscado des-cobrir suas causas, as formas de disseminação e os meiosde controle. A nova doença foi observada, pela primeiravez, por técnicos da Fundecitrus em 2001, no municípiomineiro de Comendador Gomes, em talhões da variedadeValência, enxertada sobre limão-cravo. Rapidamente, foi-se alastrando e, no mesmo ano, a doença atingiu não sóoutros talhões, como também propriedades fora da re-gião inicial. Outros seis municípios já foram afetados: Frutale Uberlândia, em Minas Gerais; Colômbia, Altair, Barretose Guaraci, no estado de São Paulo.

O nome morte súbita dos citros foi criado devido àrapidez com que mata as plantas de variedades tardias(‘Natal’ e ‘Valência’), na primavera e início do verão. OMinistério da Agricultura, Abastecimento e Pecuária estáeditando uma Instrução Normativa Federal, para definirnormas de conduta com o objetivo de tentar restringir adoença às regiões afetadas. Uma delas seria a proibiçãodo trânsito de material vegetal para locais onde não exis-te a doença, não incluindo aí os frutos in natura. Alémdisso, foi definido que, até que seja publicada a InstruçãoNormativa, os órgãos de Defesa dos estados de MinasGerais e São Paulo acompanharão os viveiros existentesnos municípios onde foi constatada a morte súbita.

MORTE SÚBITA: CITRICULTURA TRADICIONAL EM PERIGO

Segundo o supervisor técnico do Fundecitrus, AntônioCelso Libanore, está sendo feito um levantamento fora daárea onde já foi constatada a doença. Enquanto isso, arecomendação é que o citricultor esteja atento e, ao me-nor sinal da doença, entre em contato com a fundação.

“Os primeiros sintomas são: perda generalizada do bri-lho das folhas, ligeira desfolha, com poucas brotações no-vas e sem brotações internas. No entanto, a característicamais típica da doença é a presença de coloração amarela-da nos tecidos internos da casca do porta-enxerto. Rapi-damente, as plantas doentes apresentam grande quanti-dade de raízes mortas”, alerta Libanore.

Instituições de pesquisa de São Paulo envolvidas nosestudos da morte súbita e a cooperação internacional

• Centro Avançado de Pesquisa Tecnológica do Agrone-gócio de Citros Sylvio Moreira (CAPTACSM) do InstitutoAgronômico de Campinas (IAC);• Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP);• Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (FCAV/Unesp), Jaboticabal;• Fundecitrus;• Instituto Biológico, São Paulo;• Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária (Inta),Argentina;• Institut National de la Recherche Agronomique (Inra),França;• Instituto Valenciano de Pesquisas (Ivia), Espanha;• Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda);• Universidade da Flórida, Estados Unidos.

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RevoluçãoA questão da morte súbita, conforme Danilo

Luchiari, veio trazer novas perspectivas para airrigação nos citros. Mesmo não conhecendo suacausa, sabe-se que a doença desenvolve-se emporta-enxerto de limão-cravo, utilizado pelagrande resistência à seca. Exatamente por isso,85% da citricultura brasileira utilizava esta cul-tura sem precisar de irrigação.

“A resposta dos citros à irrigação depende do forneci-mento de água nos diferentes estádios fenológicos e nasestações de crescimento anteriores”, com esta afirma-ção, Regina Célia de Matos Pires, pesquisadora do Insti-tuto Agronômico de Campinas (IAC), iniciou sua palestradurante o seminário sobre fruticultura irrigada, no XIIConird.

Segundo a pesquisadora, o manejo de água correto éfundamental para que o citricultor atinja seus objetivosde produção. Déficit hídrico pode ocasionar fechamentode estômatos, menor desenvolvimento de plantas,enrolamento e queda de folhas e frutos, causando me-nor produção. Se tal situação se estender ao longo dos

MANEJO DA IRRIGAÇÃO EM CITROS

meses e até anos, certamente resultará em queda dataxa de crescimento da planta (aérea e raízes), afetandoo volume da copa, e, nas fases de frutificação, enchi-mento e maturação, poderá haver redução no peso dosfrutos.

“O déficit hídrico durante o florescimento reduz opegamento dos frutos e, após o florescimento, agrava aqueda natural de frutos pequenos e fracos. O períodocrítico do déficit hídrico dos citros é exatamente dabrotação até o fruto atingir 2,5 a 3,0 cm de diâmetro(período em que ocorre a divisão celular dos frutos).Nesta fase deve-se irrigar freqüentemente”, complemen-ta Regina Pires.

A partir do momento que o limão-cravo pas-sa a ser uma ameaça, o agricultor não terá outraescolha a não ser utilizar porta-enxertos quedemandam, entre outras práticas, a irrigação. “Oparque citrícola tradicional terá, inevitavelmen-te, que passar por mudanças significativas. Amédia de renovação necessária é de 5% ao ano.Dessa forma, se pensarmos em dez anos, são50%. Ou seja, 400 mil hectares com necessidadede serem irrigados”, finalizou Luchiari.

Variação hídricaAs frutas cítricas necessitam de 900 a

1.200mm de água por ano. Esta variação se dáem função: da região de cultivo; dos tratos cul-turais (cobertura do solo; plantas invasoras); dadensidade de plantio; do porte das plantas (ida-de); da duração da estação de crescimento; domanejo das irrigações (método); e das combi-nações copa-cavalo. No caso da irrigação com-plementar às chuvas, tem-se aplicado de 400 a600 mm de água por ano.

Nas regiões citrícolas do estado de São Pau-lo, por exemplo, é comum a adoção de lâminamédia de 120mm/mês. Em regiões com eleva-das precipitações, devem ser considerados valo-res probalísticos, e o uso de dados mensais deevapotranspiração pode subestimar a necessida-de de água pela cultura, por considerar os diasnublados e chuvosos em que a evapotranspira-ção é baixa.

Para iniciar a irrigação, segundo explicouRegina Pires, deve-se considerar a interaçãoentre a temperatura do ar e o estado hídrico dasplantas, pois estas desencadeiam reações meta-bólicas relacionadas com balanço entrecarboidratos e nitrogênio – substratos para a sín-tese metabólica, juntamente com os hormônios

A citriculturairrigada comportadesde a ocupação

de técnicosespecializados até

analfabetos naseleção de

produtos para aexportação

FOTO EMBRAPA MEIO-NORTE

FOTO GENOVEVA RUISDIAS

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4º trimestre 2002 e 1º trimestre 2003 • Nº 56/57 • ITEM 25

vegetais. De modo geral, o produtor deve co-meçar o processo uma a três semanas após ob-servar que as folhas mantêm-se murchas ao ama-nhecer.

Quando, quanto e como aplicar a irrigaçãoé, portanto, fundamental para uma boa produ-ção de citros, levando-se em conta adubação(fertirrigação), controle fitossanitário, clima,aspectos econômicos e estratégias de conduçãoda cultura. “Os objetivos da irrigação são o pon-to comum de todo citricultor: maximizar a pro-dução e a qualidade, racionalizar o uso de mão-de-obra, energia e água. Além destes, deve evi-tar a ocorrência de problemas fitossanitários;aplicações excessivas ou deficientes de água edesperdício de fertilizantes.

Na visão de Regina Pires, o dinamismo daágua no sistema solo-planta-atmosfera, aliado àincerteza da ocorrência de chuvas e demandaatmosférica, exige um controle diário da umida-de do solo e/ou do consumo de água da culturadurante todo o ciclo.

Métodos de monitoramentoOutro alerta da pesquisadora do IAC relaci-

ona-se ao rigoroso monitoramento da irrigaçãode citros. A confiabilidade do processo aumen-ta se o produtor associar mais de um método decontrole. As opções de manejo da água são asseguintes:

1. Via planta – considerar o estado hídrico daplanta, ou seja: resistência estomática, poten-cial de água nas folhas, temperatura foliar,conteúdo de água nas folhas, diâmetro docaule, dissipação térmica, pulso de calor, son-da de calor transiente, balanço de calor nocaule (fluxo de seiva), taxa de crescimentodo fruto, entre outros. Estes métodos sãopromissores, porém, devido à complexidadeenvolvida no processo e aos custos, estes têmsido mais utilizados para fins de pesquisa.

2. Via solo – tem por objetivo o monitoramen-to da água no solo por métodos diretos ouindiretos. Podem ser avaliados por diferen-tes formas: gravimetria, TDR, sonda deneutrons, Diviner, Enviruscan, sensoreseletrométricos, tensiômetros, dentre outros.O monitoramento da água no solo é a corre-ta interpretação do valor efetivo das precipi-tações e irrigações que atingem o solo e fi-cam disponíveis às plantas, além da realiza-ção de balanço hídrico. Estas informaçõessão muito importantes para irrigações emcondições complementares às chuvas. Noentanto, devem-se observar alguns cuidadosna instalação de sensores e no monitoramen-to da água no solo, que são: acompanhamen-to técnico nos primeiros ciclos; região de pro-jeção da copa, nunca junto ao tronco (1/3 a2/3 do diâmetro da copa; profundidade efe-tiva; distância entre o gotejador e o sensor –

Um dos exemplos de sucesso da citriculturairrigada brasileira é o agronegócio da lima-áci-da ou limão ‘Tahiti’ no estado do Piauí. Com oapoio técnico da Embrapa Meio-Norte, a regiãoencontrou vantagens competitivas na produçãoda fruta e, hoje, em uma área mínima de 233hectares, obtém 5.977 toneladas por ano, re-sultando em uma receita de US$1.673.560, sen-do US$383.425, só em exportações. No total,o Brasil tem arrecadado anualmente cerca deUS$2.301.000, com exportações da lima-ácida.

O pesquisador da Embrapa Meio-Norte,Valdemício Ferreira de Sousa, relatou aos parti-cipantes do seminário sobre fruticultura irriga-da, do XII Conird, como se desenvolveu a cul-tura da lima-ácida irrigada no Piauí e porqueela é hoje um dos principais objetos de pesqui-sa do órgão. Em primeiro lugar, a região conse-gue produzir a fruta durante os doze meses doano graças às suas características climáticas: tem-

peratura média de 27,9°C; insolação de 2.810,5 h ano -1; umidaderelativa do ar em torno de 69,2%; e precipitação de 1.300 mm.

Essas condições ambientais, segundo Valdemício Sousa, propi-ciam a obtenção de uma qualidade do fruto acima da média naci-onal. Ou seja, 48% da lima-ácida produzida no Piauí tem uma colo-ração uniforme contra apenas 10% em outras áreas. “Estes fatoresclimáticos aliados ao manejo de irrigação da cultura transformaramo Estado em um importante produtor e exportador, haja vista que omercado internacional exige, entre outras características, que o as-pecto da fruta tenha esta uniformidade”, explica o pesquisador.

LIMA-ÁCIDA

FOTO EMBRAPA MEIO-NORTE

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bulbo úmido). Por meio de tensiômetros ououtros sensores de monitoramento, as irri-gações são realizadas sempre que se atinge opotencial de água crítico para a cultura. Otensiômetro tem-se destacado em várias cul-turas e locais no mundo por ser um métodosimples e econômico (0 a 80 kPa). A adequa-ção do uso do tensiômetro para fins de ma-nejo das irrigações em citros é comprovadano Brasil e no exterior. Ele determina o mo-mento da irrigação e, de forma indireta, per-mite a aferição da lâmina, identificando irri-gações excessivas ou deficientes.

3. Via clima – pode ser realizado pela simplesreposição do consumo de água diário da cul-tura, pela somatória do consumo diário deágua pela cultura desde o dia da última irri-gação e, finalmente, pela realização de ba-lanço hídrico (BH). A evapotranspiração dacultura (ETc) representa a quantidade deágua que deve ser reposta ao solo para man-ter o crescimento em condições ideais. A ETcpode ser medida diretamente por lisímetros,por estudos de balanço hídrico de campo oupelo método do balanço de energia. Taismétodos, devido à complexidade envolvida,são, normalmente, utilizados para fins depesquisa. Além de medir a ETc, esses méto-dos possibilitam a determinação dos valoresde coeficiente de cultura (Kc) e, dessa for-ma, fornecem meios para a estimativa de de-manda da água.

Produção Integrada de FrutasEste mesmo consumidor exigente, ou seja a

Europa, inspirou o Brasil a se preparar, desde1996, através da Embrapa, para um sistema deprodução denominado Produção Integrada deFrutas (PIF). Para se tornar cada vez mais com-petitivo, o Ministério da Agricultura disponibi-lizou então recursos gerenciados pelo CNPq, aosdiversos projetos de fruticultura, entre eles o dalima-ácida.

O objetivo deste investimento, conforme ex-plicou Valdemício Sousa, é o de preparar as fa-zendas produtoras para que obtenham o selo dequalidade da fruta o mais rápido possível. “AEmbrapa está disponibilizando aos interessadosem exportar a lima-ácida o Certificado de Ava-liação da Conformidade da PIF. Isto porque, jáem 2003, a Europa estará exigindo o selo paraimportar a fruta brasileira. Além disso, a procu-ra do mercado externo tem aumentado a cadaano, demandando mais qualidade e produtivi-dade, com maiores investimentos em tecnolo-gia”, explicou.

Entre os produtores interessados em obter oselo de qualidade está a Frutas do Nordeste S/A- Frutan, importante produtora de lima-ácida doPiauí, sediada em uma área total de 180 hecta-res. Inicialmente, a empresa restringia-se à pro-dução de manga para os mercados interno e ex-terno e foi percebendo o potencial do limão‘Tahiti’, sobretudo para o consumo Europeu.

Em 2001, a Frutan comercializou 1.760 to-neladas, destas 805 toneladas para o mercadoexterno, ou seja, um lucro de US$700 mil. Osprincipais países compradores são Inglaterra,França e Espanha.

Como funciona a ProduçãoIntegrada

A Produção Integrada de Frutas (PIF) temcomo atividades:• elaboração das Normas Técnicas Específicas

(NTE) para a cultura da lima-ácida.• elaboração dos cadernos de campo e de pós-

colheita e definição da grade de agroquímicos.• treinamento e capacitação de produtores e téc-

nicos em Produção Integrada de lima-ácida.• ajustes tecnológicos:• manejo ecológico de pragas;• manejo de água e nutriente;• material propagativo e porta-enxerto.

FertirrigaçãoEste tema ministrado pelo consultor Luiz

Milner demonstrou a importância de adubar viairrigação localizada e as técnicas utilizadas parasua aplicação. A fertirrigação possibilita a apli-cação imediata do fertilizante em períodos demaior exigência hídrica e nutricional da cultura,a aplicação monitorada de nutrientes integradacom o manejo correto da irrigação potencializao resultado final, aumentando ainda mais a pro-dutividade e melhorando a qualidade do fruto.A fertirrigação apresenta vantagens econômicase seu domínio técnico é a principal ferramentapara se produzir frutas de mesa com alta quali-dade. Esta técnica vem sendo muito utilizada emnosso parque citrícola e é a principal responsá-vel pela diferença de produtividade deste siste-ma, quando comparado com a irrigação por as-persão via autopropelido.

Seminário: “O agronegócio da fruticultura irrigada:o exemplo da citricultura”.

Maiores informações com o coordenador Danilo JoséFanelli Luchiari, engenheiro agrônomo e consultorindependente, e-mail: [email protected].

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4º trimestre 2002 e 1º trimestre 2003 • Nº 56/57 • ITEM 27

Métodos de irrigaçãoodos os métodos de irrigação (superfície,aspersão e microirrigação/gotejamento)têm sido usados nas culturas cítricas.

Os métodos de irrigação por superfície sãoconsiderados de baixa eficiência e vêm sendogradualmente substituídos pelos métodos de ir-rigação pressurizada, como aspersão e microas-persão/gotejamento.

A irrigação por aspersão tem sido usada, tan-to como aspersão sobrecopa, quanto comosubcopa. Este método proporciona 100% demolhamento da área cultivada, não impondo,portanto, nenhuma limitação ao pleno desenvol-vimento das raízes. Os sistemas de irrigação lo-calizada, como gotejamento e microaspersão são

EUGÊNIO FERREIRA COELHO

ENGENHEIRO AGRÍCOLA, PESQUISADOR DA EMBRAPA MANDIOCA E

FRUTICULTURA, E-MAIL: [email protected] POSTAL 07 44380-000, CRUZ DAS ALMAS/BA

ANTONIA FONSÊCA DE JESUS MAGALHÃES

ENGENHEIRA AGRÔNOMA, PPESQUISADORA DA EMBRAPA MANDIOCA E

FRUTICULTURA, E-MAIL: [email protected] POSTAL 07, 44380-000, CRUZ DAS ALMAS/BA

Na maior parte do território brasileiro,o volume anual de chuvas é insuficiente

para atender às necessidadesdas plantas cítricas. A distribuição

irregular das chuvas propicia aocorrência de longos períodos de déficit

hídrico no solo e conseqüente estressehídrico às plantas, gerando grandes

quebras de produção. Neste contexto, airrigação deve constituir-se em

ferramenta indispensável para oincremento da produção.

O uso da irrigação em pomares cítricosproporciona inúmeros benefícios.

O aumento da produção de frutos nospomares irrigados é da ordem de

35% a 75%, comparado aos pomaresnão irrigados, gerando ganhoeconômico extra ao produtor.

A irrigação assegura boa florada epegamento, o que induz à produção de

frutos de melhor qualidade.

T

Irrigação e fertirrigação nacitricultura

Irrigação e fertirrigação nacitricultura

FOTOS EMBRAPA MEIO-NORTE

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28 ITEM • Nº 56/57 • 4º trimestre 2002 e 1º trimestre 2003

os que mais se proliferam em todo o mundo.Entre as vantagens desse método inclui-se altaeficiência de aplicação, baixa pressão, facilida-de de operação e bom controle sobre a umidadee aeração do solo.

Os sistemas de irrigação localizada, diferentedos sistemas de irrigação por aspersão e superfí-cie, não molham toda a superfície do terreno.Portanto, um mínimo de área molhada, represen-tado pela percentagem de área média molhadapelo emissor (Pm) em relação à área total da plan-ta, deve ser considerado. Para fins práticos, reco-mendam-se valores entre 33% e 67% para oscitros. Em regiões de precipitação considerável(acima de 1.200 mm), valores de Pm inferiores a33% são aceitáveis para solos de textura média afina, ou seja, solos siltosos e argilosos. Os soloscom textura mais próxima do silte e argila ten-dem a ser mais propícios ao gotejamento que ossolos arenosos. Para plantas cítricas, devem-seinstalar dois gotejadores por planta após o plan-tio e, quando mais desenvolvidas (a partir de 12meses), devem-se instalar pelo menos quatrogotejadores por planta dispostos ao redor do tron-co com a linha lateral em anel ou em rabo deporco, sendo que, em solos de textura média aarenosa, devem-se instalar de cinco a seisgotejadores por planta. A microaspersão se adap-ta melhor aos solos arenosos, que aparentemen-te asseguram maior área molhada à planta. Osmicroaspersores podem ser dispostos próximosàs plantas ou entre as plantas na fileira.

Necessidades hídricasO consumo anual de água pelas plantas cítri-

cas varia de 600 a 1.200 mm. No estado de SãoPaulo, o consumo de água aproxima-se de 3mm/dia em pomares irrigados e de 1,5 mm/dianaqueles não irrigados. Os dados de diferentesregiões do mundo mostram que o consumo doscitros no período de inverno é de 1,5 mm/dia eno período de verão é de 3,2 a 4,7 mm/dia. Tem-se verificado o consumo médio de plantas adul-tas e sadias de 55 a 110 L/planta/dia, no inverno,e de 110 a 190 L/planta/dia, na estação seca daprimavera, podendo chegar de 220 a 260 L/plan-ta/dia durante os meses quentes e secos do ve-rão.

Semelhante ao que ocorre com as culturasagrícolas em geral, as necessidades de água doscitros variam conforme o estádio fenológico dasplantas. Nas fases de brotação, emissão de bo-tões florais, frutificação e início de desenvolvi-mento dos frutos há maior demanda de água eas plantas são muito sensíveis ao déficit hídrico,sendo que o aumento no tamanho dos frutos estáaltamente relacionado com a absorção de água.Na fase de maturação, colheita e semidormência,a demanda hídrica é menor.

Manejo da irrigaçãoPode-se programar a irrigação de uma área

cultivada usando-se um método ou uma combi-nação de dois ou mais métodos. Entre os méto-dos disponíveis de manejo da irrigação, os maisusados na prática baseiam-se em (1) medidas doteor ou estado da água no solo e (2) balançoaproximado de água do solo.

Medidas da água no soloNeste caso, o momento da irrigação é deter-

minado pelo estado atual da água do solo, pormeio de sensores, quer para determinação doconteúdo de umidade, quer para determinaçãodo potencial de água do solo.

O conteúdo de umidade do solo pode serobtido pelo método gravimétrico, pelo uso daTDR (Reflectometria no Domínio do Tempo) epela sonda de nêutrons. Os blocos de resistên-cia elétrica e o tensiômetro permitem a obten-ção indireta da umidade do solo, necessitandoda curva de retenção da água do solo. Portanto,conhecendo-se a umidade atual do solo (θa,), pormeio de qualquer um dos métodos acima, e com-parando-a com a umidade do solo crítica (c paraa cultura, decide-se irrigar quando θa < θc. Co-nhecendo-se θa, então LRN pode ser dada pelaequação 1.

Mesmo sendoconsiderado umsetor produtivo

consolidado, acitricultura nacional

precisa investir naprodução integrada

para atingir ospadrões

internacionais dequalidade exigidos

pelo mercado

FOTOS DANILO LUCHIARI

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4º trimestre 2002 e 1º trimestre 2003 • Nº 56/57 • ITEM 29

LNR = (θCC – θa) . z (1)

onde θCC e θa estão em cm3.cm-3 e z (mm). A má-xima LRN admissível antes de se irrigar ocorrequando θa = θc, mas nada impede que o citricultorirrigue o pomar para valores de θa < θc.

Os potenciais matriciais mantidos entre -15 e-30 kPa, a 30 cm de profundidade, proporcionamcrescimento adequado à cultura, sendo que valo-res de -30 a -45 kPa têm sido tomados como limi-te para a manutenção de teores adequados deágua à cultura, além dos quais deve-se irrigar. Ocrescimento das raízes é reduzido para potenci-ais matriciais no solo inferiores a -600 kPa.

Balanço de água na zonaradicular

Para fins de manejo da irrigação de um po-mar de plantas cítricas, o balanço hídrico no solopode ser escrito como se segue:

Di = Di-1 + ETc + Dr – I – Pe (2)

onde Di = déficit atual de água no perfil do solona profundidade z até o dia i (mm), Di-1= déficitde água no perfil do solo até o dia anterior (i-1),ETc = evapotranspiração da cultura (mm),Dr = drenagem (mm) além da profundidade z,I = lâmina líquida de irrigação e Pe = precipita-ção efetiva (mm), ou seja, a fração da precipita-ção total P que contribui para atender às neces-sidades hídricas das plantas.

O objetivo do balanço é acompanhar diaria-mente a variação do conteúdo de umidade dosolo, partindo do solo na capacidade de campo.Como o balanço é diário, todos os componentesda equação devem também ser diários, ou seja,o citricultor deve ter à mão os valores diários deETc, Dr, I, e Pe.

Assim, com base na equação 2, decide-se ir-rigar de acordo com as seguintes condições:

(1) Se Di > LRN, então irrigar(2) Se Di < LRN, então não irrigar

onde LRN é dado pela equação 1. Se a irriga-ção não ocorre no momento certo, Di vai-se tor-nando maior que LRN e as plantas passarão asofrer deficiência hídrica com todas as conseqü-ências ao crescimento, desenvolvimento e pro-dução de frutos.

A lâmina genérica I e a lâmina limite LRNvisam trazer umidade do solo à capacidade decampo. Para fins práticos, considera-se despre-zível a drenagem da água após uma irrigação,pois entende-se que a lâmina de irrigação é su-ficiente unicamente para elevar a umidade dosolo à capacidade de campo. Após uma chuva(P), num dia, usa-se o seguinte critério:

(3) Se P > Di, então Pe = Di e Dr = P – Di(4) Se P < Di, então Pe = P e Dr = 0

O método do balanço hídrico pode ser em-pregado independentemente do método de irri-gação usado para irrigar o pomar. No caso damicroirrigação, Keller & Bliesner (1990) sugeri-ram um fator de correção envolvendo os compo-nentes ETc e Pe da equação 2, da seguinte forma:

U = 0,1 * (Ps)0,5 * (ETc –Pe) (3)

onde Ps = percentagem de área sombreada, to-mada como sendo a razão entre a projeção dacopa da árvore no chão ao meio-dia e a áreaocupada pela planta.

FertirrigaçãoA fertirrigação objetiva o uso racional dos

fertilizantes na agricultura irrigada. Entre asvantagens da fertirrigação podem-se destacar(Frizzone et al., 1985):a) minimização do trabalho de aplicação do fer-

tilizante;b) economia e comodidade de aplicação;c) distribuição e localização do fertilizante mais

próximo da planta;d) ajuste às diferentes etapas de desenvolvimen-

to da planta;e) eficiência de uso e economia de fertilizante;f) controle da profundidade de aplicação;g) melhor controle sob a quantidade aplicada;h) favorecimento da aplicação de micronu-

trientes;i) preservação da qualidade das águas subter-

râneas.Entre as limitações destacam-se:

a) envenenamento e contaminação de água po-tável;

b) não aplicável a todo tipo de fertilizante;c) possibilidade de entupimento dos emissores

de água;d) corrosão;e) necessidade de mão-de-obra qualificada;f) incompatibilidade entre diferentes formas de

fertilizantes.As plantas cítricas, como as demais culturas,

possuem requerimentos nutricionais diferenci-ados com o tempo, isto é, há uma variação naintensidade de absorção de nutrientes ao longodo ano. No estádio fenológico de floração, ademanda por N começa a acentuar-se, maximi-zando no início da frutificação, após a queda daspétalas, e reduzindo-se a partir de então. Emcondições de florescimento natural, o que ocor-re em setembro, com colheita de frutos em mar-ço, sugere-se, a princípio, o seguinte parcelamen-to do N anual: 10% de setembro a outubro, 60%

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30 ITEM • Nº 56/57 • 4º trimestre 2002 e 1º trimestre 2003

de novembro a janeiro, 20% de fevereiro a mar-ço e 10% de abril a maio.

Nas condições edafoclimáticas do Nordeste,com maior abrangência para Tabuleiros Costei-ros, no Brasil, as doses anuais de N podem serdistribuídas, conforme o Quadro 1.

tados de pesquisas próprios para a condição defertirrigação sejam apresentados.

O uso do fósforo (P), via água de irrigação,tem sido, principalmente, por meio de fertilizan-tes fosfatados (fosfato monoamônico, 48% P2O5,e diamônico, 45% P2O5) e em menor escala comuso do ácido fosfórico. Ao se usarem fosfatados,deve-se cuidar para evitar a formação de preci-pitados nos sistemas de irrigação, principalmentepara águas com elevados teores de Ca e Mg epH alcalino. Os problemas de precipitação comos fertilizantes fosfatados podem ser evitadosprocurando-se reduzir o pH para valores entre6 e 6,5. Isto pode ser feito mediante a adição deácido nítrico, fosfórico ou sulfúrico durante afertirrigação.

A maior fixação do P no solo e o maior tem-po requerido para sua liberação na solução dosolo limitam a sua aplicação via fertirrigação emrelação ao N e ao K. Sua demanda pela plantasegue a mesma tendência apresentada para o Ne para o K. Uma única aplicação no início dafloração pode ser suficiente, não havendo ne-cessidade de outras aplicações durante o cicloanual. O Quadro 3 sugere as dosagens anuais deP para os citros, para as condições edafoclimáti-cas do Nordeste, com maior abrangência paraTabuleiros Costeiros.

As doses anuais de potássio ou K2O paracitros, determinadas para uso via solo, são apre-sentadas no Quadro 2 para as condições edafo-climáticas do Nordeste, com maior abrangênciapara Tabuleiros Costeiros. Tais valores podem,inicialmente, ser usados via água até que resul-

QUADRO 1Doses anuais de N (kg.ha-1) para citros, segundo a idade das plantas

Espaçamento Plantio 1º 2º 3º 4º 5º 6º(m x m) ano ano ano ano ano ano

P do solo (mg.dm-3)

<6 7-12 13-20 <6 7-12 13-20 <6 7-12 13-20 <6 7-12 13-20 <6 7-12 13-20 <6 7-12 13-20 <6 7-12 13-20

8 x 5 ou 7 x 6 15 10 5 20 10 10 25 15 10 25 15 10 30 30 10 30 20 15 40 30 20

7 x 4 ou 6 x 5 25 15 10 30 15 15 40 20 15 40 25 15 45 30 15 45 30 20 60 45 30

6 x 4 30 20 10 40 20 20 50 30 20 50 30 20 60 40 20 60 40 30 80 60 40

Fonte: Magalhães (1997)

Período

Espaçamento Plantio 1º 2º 3º 4º 5º >6º(m x m) ano ano ano ano ano ano

8 x 5 ou 7 x 6 20 30 40 50 60 80 1007 x 4 ou 6 x 5 30 40 60 80 100 120 1506 x 4 40 60 80 100 120 160 200

Fonte: Magalhães (1997)

QUADRO 2Doses anuais de K2O (kg.ha-1) para citros, segundo a idade das plantas

Espaçamento Plantio 1º 2º 3º 4º 5º >6º(m x m) ano ano ano ano ano ano

Nível de K2O (mg.dm-3)

<20 <20 <20 <20 <20 21-40 41-60 <20 21-40 41-60 <20 21-40 41-60

8 x 5 ou 7 x 6 20 30 40 50 60 40 30 70 50 30 80 60 40

7 x 4 ou 6 x 5 30 45 60 70 80 60 45 100 75 45 120 90 60

6 x 4 40 60 80 100 120 80 60 140 100 60 160 120 80

Fonte: Magalhães (1997)

QUADRO 3Doses anuais de P2O5 (kg.ha-1), segundo a idade das plantas

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4º trimestre 2002 e 1º trimestre 2003 • Nº 56/57 • ITEM 31

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Pense nisto...

PENSE NISTO e compareçaContatos pelo e-mail: [email protected]

Na edição nº 51 da revista ITEM,mostrou-se como funciona oSistema de Suporte à DecisãoAgrícola, o Sisda, através de um

INFORME TÉCNICOPUBLICITÁRIO.Em quatro páginas, por iniciativados interessados, explicou-se oresultado de um trabalho de anosde pesquisa e como o setorprodutivo poderá obter proveitointegral de seu sistema deirrigação, com economia de água.Nessa mesma linha de mostrarseus produtos e serviços, já houveo concursoda Rain Bird (Item nº 48 e 51)

da Pivot Equipamentos deIrrigação Ltda (Item nº 51)

da Netafim do Brasil (Item nº 48)

da Carborundum Irrigação(Item nº 49)

da Polysac (Item nº52/53)

da Valmont (Item nº 54), eda Irrigaplan/NaanDan (Item nº 56/57).

O INFORME TÉCNICOPUBLICITÁRIO é uma formaque as empresas do setor deirrigação e drenagem têm paramostrar seu produto, seusserviços, explicando-os comdetalhes. Com esse instrumento,a ABID poderá ser sempre umaparceira, facilitandoentendimentos que favoreçam aspromoções de negócios.

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32 ITEM • Nº 56/57 • 4º trimestre 2002 e 1º trimestre 2003

Cafeicultura:irrigação amplia o leque paramaior competitividade

Cafeicultura:irrigação amplia o leque paramaior competitividade

nfelizmente, ainda vemos uma culturamuito arraigada e equivocada que co-loca a irrigação como solução para o

problema da seca. O que falta na cadeia produ-tiva do café é um trabalho maior de conscienti-zação dos benefícios do sistema. Esta sim é umasolução totalmente viável em termos de garan-tia de produção, além de outras vantagens comoqualidade e preço final”, avaliou o especialistaem Planejamento e Negócios e sócio da P&AMarketing Internacional, Carlos Henrique Jor-ge Brando, durante o seminário sobre “O futu-ro da cafeicultura irrigada”, que integrou o XIIConird, em Uberlândia, MG.

Sem excessosA irrigação no café ainda enseja uma outra

vantagem: ela aumenta a oferta de áreas paraagricultura, sobretudo no Cerrado. No entanto,o sucesso depende, na opinião de Carlos Bran-do, da integração de conhecimentos e experiên-cias entre produtores, técnicos, pesquisadores eoutros componentes dessa cadeia produtiva,como neste seminário promovido pela Abid.Esta sinergia é necessária não só para o alcanceda qualidade do café, como também para redu-zir os custos de produção. “A aplicação de água

Preconceito ou simplesmente falta de

informação acerca dos benefícios da

cafeicultura irrigada continua

impedindo o produtor, que ainda

não aderiu ao sistema, de conhecer

suas características e vantagens

competitivas. Através de um

planejamento executado com

profissionalismo, o investidor

certamente será contemplado com

resultados bem interessantes.

“I

FOTO ROBERTO THOMAZIELLO

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4º trimestre 2002 e 1º trimestre 2003 • Nº 56/57 • ITEM 33

em excesso, por exemplo, pode causar lixiviaçãoe a conseqüente contaminação do lençol freáti-co”, explicou o especialista em Planejamento eNegócios.

O gerente geral Embrapa Café, Antônio dePádua Nacif, responsável pela coordenação doconsórcio institucional que desenvolve o Progra-ma de Pesquisa e Desenvolvimento do Café(P&D), integrou-se ao ciclo de palestras do XIIConird, alertando os presentes acerca do desen-volvimento tecnológico e das oportunidades nacafeicultura irrigada. Segundo ele, o produtorprecisa ter um grande cuidado em não usarinsumos acima do recomendado, controlando ouso dos fertilizantes e defensivos principalmenteno combate ao bicho-mineiro e à ferrugem. ParaNacif, o cafeicultor deve investir na redução decustos de manutenção e no aumento da produti-vidade. “Abre-se aqui um desafio para a pesqui-sa: como racionalizar a produção de café em altaprodutividade e menor nível de insumos. Varie-dades resistentes às pragas seriam também, muitobem-vindas e o aumento da eficiência do uso daágua, por plantas com adequada arquitetura dosistema radicular, levariam a uma economia desserecurso natural, por exemplo”, considera ele.

Irrigação no combate aodéficit hídrico

A questão da água – manejo, acesso, preser-vação e pagamento – é o fator preponderante eporque não dizer, limitante na cultura do café.“A vulnerabilidade da oferta brasileira reside,entre outros aspectos, na dependência crescen-te de insumos e de água, já que as áreas planta-das são muito adensadas. Se hoje a produção éde 15 sacas/hectare, a projeção para o futuro éde 20/22”, alertou Carlos Brando. Seus estudosapontam que o déficit hídrico atual do país, ali-ado aos problemas climáticos como a geada, érisco real que tem impacto direto na produção eno lucro (ver Quadro 1).

A migração da cafeicultura em direção aoNorte do país, juntamente com as mudanças cli-máticas e o adensamento das áreas de cultivo,levou à escassez da água, conforme os dadosapresentados pelo especialista em marketing.Mesmo assim, com tecnologia e pesquisa hácomo controlar o problema através da própriairrigação. “Em locais onde a situação é crônica,os custos operacionais da irrigação são obvia-mente maiores, e o retorno também é bem maisrápido: entre três e seis anos recupera-se todo oinvestimento”, ponderou.

Na Bahia, por exemplo, o café precisa ser irri-gado diariamente. Em outros locais com maioríndice de chuvas, o turno de rega pode ser de trêsem três dias e até de sete em sete dias, conformeexplicou Antônio Nacif. Esta variação reflete di-retamente nos custos. Em lavouras beneficiadascom chuvas de 1.200 a 1.400 milímetros, porémmal distribuídas – que podem faltar em momen-tos críticos como na floração e na granação, estarpreparado para um mínimo de irrigações estra-tégicas é um bom negócio. Ainda nestes casos,segundo o gerente da Embrapa Café, compensa-ria muito o empreendimento. “Quando falamosem cafeicultura irrigada, temos que fazer uma se-paração lógica: em zonas de alto risco e em zonasaptas para o cultivo de café com eventual neces-sidade de irrigação”, conclui.

Benefícios da irrigaçãoE se as questões dos custos da energia e da

cobrança da água dificultam o investimento, poroutro lado, levam ao uso sustentável da água,de forma racional, evitando assim a escassez.Este foi apenas um dos benefícios diretos da ir-rigação, citados por Carlos Brando, que aindaenumerou os demais:1. garantia e aumento de produção gerando sus-

tentabilidade econômica, pois melhora a se-gurança do produtor em relação ao clima, aoadensamento e às geadas e cria disponibili-dade do produto em épocas de escassez, jáque proporciona um início mais rápido daprodução e uma recuperação também maiságil de podas e geadas;

2. possibilidade de fazer a fertirrigação, dimi-nuindo o uso de mão-de-obra, dando maisprecisão e uniformidade à produção, eotimizando o uso de fertilizantes;

3. aumento da seletividade da colheita atravésdo controle da floração, da fixação das flores,irrigando sempre no dia anterior à colheita;

4. melhora substancial da qualidade dos grãosque, normalmente, são em tamanho maior,proporcionando uma bebida com alto controlefitossanitário e nutrição mais equilibrada.

QUADRO 1Perda da produção por déficit hídrico(milhões de sacas)

Ano Potencial Embrapa/ USDAConab

1999/2000 37 27 312000/2001 39 28 342001/2002 42 28 34

Total 118 83 99

– base Embrapa/Conab: 118 – 83 = 35 milhões (equivalen-te à geada muito severa em todas as áreas sujeitas)

– base USDA: 118 – 99 = 19 milhões (equivalente à geadanas áreas de risco altíssimo e alto)

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34 ITEM • Nº 56/57 • 4º trimestre 2002 e 1º trimestre 2003

Competitividade e pesquisa:os maiores trunfos

“Nos últimos 20 anos, o preço médio do cafétem sido mantido a US$86 a saca. Este preçoindica claramente que a cafeicultura irrigada écompetitiva e tem espaço. Considerando aindaque ela pode produzir café de melhor qualidadee, com isso, obter um adicional de 20% a 30%no preço do produto, faz com que se torne ain-da mais competitiva”, avaliou Antônio de PáduaNacif. Em termos de produtividade geral de ali-mentos, o gerente geral da Embrapa Café acre-dita ainda que a irrigação aumenta uma certeza:ela é capaz de diminuir o risco de deficiência deabastecimento, conforme demonstrado no grá-fico a seguir:

Durante sua palestra no seminário sobreCafeicultura, Mantovani relatou que até o anode 1998 a pesquisa em cafeicultura irrigada eralimitada. Após este período, com a visão de queo café seria o foco principal, o setor ganhou maisespaço, contando com 15 instituições (Universi-dade Federal de Goiás e Agência Rural, emGoiás; Embrapa-CPAC, no Distrito Federal;Universidade Federal de Viçosa, UniversidadeFederal de Lavras, Empresa de Pesquisa Agro-pecuária de Minas Gerais (Epamig), Universi-dade de Uberaba e Universidade Federal deUberlândia, em Minas Gerais; Empresa Baianade Desenvolvimento Agrícola (EBDA) e Uni-versidade Federal da Bahia, na Bahia; EmpresaCapixaba de Pesquisa Agropecuária (Emcaper),no Espírito Santo; Universidade Estadual Nor-te Fluminense e Pesagro, no Rio de Janeiro; Ins-

Esta alta produtividade e qualidade são re-sultados de pesquisas e estudos como os reali-zados pelo Programa de Pesquisa e Desenvolvi-mento do Café (P&D Café), e demonstra que osucesso da cafeicultura irrigada reside na utili-zação de conhecimento especializado e tecno-logia. Neste campo, o Brasil saiu na frente, lide-rou mudanças, profissionalizou o negócio tradi-cional do café e criou um modelo de cafeicultu-ra. Segundo Carlos Brando, o P&D Café mos-trou ao mundo um modelo único de pesquisa:“descentralizado, democrático e pluralista”.

Através desta pesquisa, foi possível realizarum moderno gerenciamento de risco na produ-ção do agronegócio, colocando o Brasil comoreferência mundial. Esta forma moderna e pro-fissional de tratar a cafeicultura tem por objeti-vo, segundo Everardo Chartuni Mantovani, pes-quisador do Núcleo de Cafeicultura Irrigada(PNP&D Café/Embrapa), dar sustentação tec-nológica, social e econômica ao desenvolvimen-to do agronegócio café, pela identificação deproblemas do setor, geração e difusão de tecno-logias e informações.

A água não pode faltar em momentos importantes da culturacomo floração e granação. A irrigação estratégica éconsiderada um bom negócio

FOTOS GENOVEVA RUISDIAS/EVERARDO MANTOVANI

Algodão Arroz Café Feijão Milho Soja Trigo

5000

4000

3000

2000

1000

0

Prod

utiv

idad

e (K

g/ha

)

Irrigada

Média brasileira

189%48%

61%

16% 59%

55%

140%

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4º trimestre 2002 e 1º trimestre 2003 • Nº 56/57 • ITEM 35

tituto Agronômico de Campinas e MA-Procafé,em São Paulo) e 42 subprojetos, além de inves-timentos para formação dos pesquisadores.

“A pesquisa em cafeicultura irrigada deveconsiderar as necessidades locais, regionais enacionais; os objetivos a curto, médio e longoprazos; os temas científicos e tecnológicos; asprioridades adequadamente definidas; os recur-sos financeiros disponíveis; a disponibilidade depesquisadores e a infra-estrutura existente”, ex-plica Mantovani. Segundo ele, especificamenteo PNP&D Café tem como prioridades os meca-nismos de controle da floração do cafeeiro, asnecessidades hídricas e a produção de água, aviabilidade técnica e econômica, bem como afertirrigação e as chamadas “recomendaçõestecnológicas” (cultivares, fitossanidade, carên-cias nutricionais etc.).

Investimentos são cruciaisAlém dos investimentos em pesquisa, o go-

verno também incentivou a cafeicultura irriga-da através de medidas consideradas pelo produ-tor como positivas. José Carlos Grossi, produ-tor da região de Patrocínio, MG, e que estevepresente nas discussões do XII Conird, relatouque o momento ainda não é totalmente favorá-vel para o cafeicultor, pois o próximo ano aindadeve ser de preços não muito vantajosos para asaca do café.

No entanto, com um pouco de prudência emuito trabalho, 2004 deverá surgir como umanova fase para o setor. Enquanto isso, “o gover-no federal está fazendo sua parte. Em 2002 to-mou medidas muito bem-vindas, como os recur-sos destinados à pré-comercialização. Essa ga-rantia de preço em torno de R$130,00 foi exce-lente”, ponderou.

Para Reinaldo Caetano, presidente da Asso-ciação dos Cafeicultores de Araguari (MG) –também presente no seminário sobre cafeicul-tura irrigada –, o apoio federal é imprescindível.Entre as medidas governamentais por ele cita-das como cruciais para o cafeicultor brasileirodestacou o leilão de opção, que retirou do mer-cado cerca de seis milhões de sacas de café. Comisso, o preço do produto chegou a R$140,00.

“Os 10% dos cafeicultores de Araguari (MG)que não praticam a irrigação em suas lavouras,não o fazem por falta de financiamentos”, justi-fica. Na sua opinião, não há como conduzir acultura do café sem a irrigação, sobretudo naregião do Triângulo Mineiro. Mesmo com 100%das lavouras irrigadas, os altos custos da técnicademandam financiamento adequado à realida-de do cafeicultor.

Conforme os estudos de viabilidade econô-

mica da Embrapa Café, os custos de implanta-ção da irrigação que, inicialmente, demandamgrandes investimentos, podem ser diluídos atra-vés de financiamento, com prazos de 15 a 20anos, não causando, assim, forte impacto na ren-tabilidade do empreendimento. No entanto, amanutenção da cultura irrigada constitui-se emum dos maiores entraves para o produtor aderirao sistema (quadro 2).

O gerente geral da Embrapa Café apresen-

tou um levantamento realizado pela Associa-ção de Agricultores e Irrigantes do Oeste daBahia (Aiba) que distribui percentualmente aparticipação de cada integrante na despesa deuma safra (quadro 3).

QUADRO 2

CUSTOS DA IRRIGAÇÃO POR HECTCUSTOS DA IRRIGAÇÃO POR HECTCUSTOS DA IRRIGAÇÃO POR HECTCUSTOS DA IRRIGAÇÃO POR HECTCUSTOS DA IRRIGAÇÃO POR HECTAREAREAREAREARE

Descrição Valor (R$)

Custo de implantação até os primeiros 6 meses 2.800,00

Formação do sétimo ao 18º mês 1.950,00

Pivô Central 2.600,00

Subtotal (Pivô + Formação) 7.350,00

Custeio da primeira safra, com colheita(19º ao 30º mês) 5.900,00

Subtotal (Manutenção) 5.900,00

Máquinas e Equipamentos 1.000,00

Construções Básicas2 casas • 1 galpão • terreiro • lavador e tulha 1.340,00

Subtotal (imobilizado) 2.340,00

Total geral 15.590,00Fonte: Embrapa Café

QUADRO 3

DISTRIBUIÇÃO DOS CUSTOS DE CUSTEIODISTRIBUIÇÃO DOS CUSTOS DE CUSTEIODISTRIBUIÇÃO DOS CUSTOS DE CUSTEIODISTRIBUIÇÃO DOS CUSTOS DE CUSTEIODISTRIBUIÇÃO DOS CUSTOS DE CUSTEIODA CAFEICULDA CAFEICULDA CAFEICULDA CAFEICULDA CAFEICULTURA TURA TURA TURA TURA IRRIGADA

Descrição dos itens Participação (%)

Macronutrientes + correção .............. 28,78Micronutrientes ................................. 6,00Embalagens e outros ......................... 9,00Controle fitossanitário ....................... 15,05Operações entressafra ....................... 7,05Operações mecânicas da safra ........... 6,98Mão-de-obra da safra ........................ 10,31Preparo ............................................. 2,37Transporte ......................................... 4,19Conservação ...................................... 3,09Administração e assistência técnica ... 7,18

Total ................................................. 100Fonte: Aiba

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36 ITEM • Nº 56/57 • 4º trimestre 2002 e 1º trimestre 2003

O Oeste baiano é um exemplo evidente deque a cafeicultura irrigada gera resultados desucesso. Toda a região é irrigada, sendo 787hectares por gotejo e 12.328 hectares por pivô.Nela, 70 produtores, com uma área média in-dividual de 187 hectares creditaram suas es-peranças e recursos na técnica com predomí-nio do sistema de plantio circular, em espa-çamento próximo a 3,80m x 0,50m.

Humberto Santa Cruz, presidente da As-sociação de Agricultores e Irrigantes do Oes-te da Bahia (Aiba) e também produtor de caféirrigado na região, deu seu depoimento du-rante o XII Conird, afirmando que a área ocu-pa um espaço importante nos cenários nacio-nal e internacional. As condições de tempe-ratura, altitude e luminosidade são bastantefavoráveis ao desenvolvimento da cultura econtribuem para a qualidade do produto fi-nal. Prova disso é que o Estado desenvolve acertificação de seu café através de marcas querepresentam as três principais regiões produ-toras, e já se encontra em processo de implan-

tação a marca “Café da Bahia Cerrado”.As vantagens enumeradas por Santa Cruz

para a cafeicultura irrigada foram, entre ou-tras, que com ela é possível produzir café emgrande escala e em áreas com clima mais seco.No entanto, destacou positivamente a mudan-ça de mentalidade do produtor, que se viuobrigado a ter uma visão mais empresarial donegócio café. “A cafeicultura irrigada dá mai-or segurança na comercialização, pois os vo-lumes de produção são pré-definidos, hácomo programar a venda, e quanto maior aqualidade, melhores são os preços. Tudo issofez com que o cafeicultor ampliasse seus ho-rizontes”, ressaltou. Segundo o presidente daAiba, a expectativa de colheita desta safra2001/2002 na região é de 500 mil sacas, comuma produtividade de 60 sacas/ha (quadro 4).

Seminário: “O futuro da cafeicultura irrigada”.Maiores informações com o coordenador Everardo Char-tuni Mantovani, engenheiro agrícola e professor da Uni-versidade Federal de Viçosa, e-mail: everardo@mail. ufv.br.

Bahia colhe bons frutos

EVOLUÇÃO DA ÁREA PLANTADA E DA PRODUÇÃO NO OESTE DA BAHIA

ÁREA PLANTADA ÁREA - PRODUÇÃO

Área Total área Total Média Área emplantada plantada covas de produção Produção Média

Ano (ano/ha) (ha) (unid) covas/ha (ha) (sacas) (ha)

1994 100 100 410.000 4.1001995 340 440 1.814.560 4.1241996 994 1.434 7.799.645 5.439 100 6.000 60,001997 952 2.386 13.155.974 5.514 289 17.516 60,611998 1.687 4.073 24.301.358 5.966 921 56.888 61,771999 2.274 6.347 40.203.542 6.334 1.525 95.702 62,732000 2.980 9.227 59.705.798 6.470 3.322 221.699 66,732001 3.009 12.236 79.176.505 6.471 5.207 274.352 52,692002* 450** 12.686 82.088.192 6.471 8.930 500.000 56,002003* 11.520 645.000 56,002004* 12.686 704.000 56,00Fonte: Aiba

(*) valor estimado(**) área plantada até fev./2002OBS: No cálculo da média estimada para os anos 2002 e 2003, foi considerada a produção da área implantadaaté 24 meses anteriores à colheita da safra respectiva. Na safra estimada para 2004, foi considerada a produçãode toda a área implantada até fev./2002. Assim, a produção estimada para 2004 ainda poderá sofrer acrésci-mos pela implantação de novas áreas ocorrida até maio de 2002. A média de produção/ha para os anos de2002 a 2004 foi estimada com base nos históricos da produção da região até hoje.

A irrigaçãolocalizada

cresce no Oestebaiano

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QUADRO 4

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4º trimestre 2002 e 1º trimestre 2003 • Nº 56/57 • ITEM 37

Evitar problemas ambientais que certamenteirão ocasionar em multas e até suspensão da ativi-dade ou reduzir os custos com a utilização de fer-tilizantes em culturas como o café? No caso da pro-dução integrada suinocultura/agricultura, os dois.No Brasil, muitos suinocultores já implantaram emsuas granjas o sistema que aproveita as águasresiduárias dos suínos na agricultura irrigada nãosó com o objetivo de fazer as pazes com os órgãosgovernamentais de gestão ambiental, como tam-bém para incrementar sua produção agrícola a ummenor custo.

O funcionamento do sistema, a visão do setorde meio ambiente e as experiências de produtoresque já aderiram à produção integrada constituí-ram em um dos seminários da pauta do XII Conird,em Uberlândia. O coordenador dos trabalhos eprofessor da Universidade Federal de Viçosa, An-tônio Alves Soares, classificou o debate como umdos mais ricos em termos de conteúdo e conheci-mento técnico.

“A suinocultura brasileira cresceu muito nosúltimos anos e com um alto nível técnico e profis-sional. No entanto, não foram colhidos somentebons frutos como geração de novos empregos, ren-da e riqueza. Surgiram também dificuldades como setor de meio ambiente já que a atividade pode-se tornar uma das maiores fontes poluidoras deágua. Para se ter uma idéia, um animal adulto pro-duz, por dia, dejetos equivalentes ao que produ-zem oito pessoas. Por isso, foram necessárias me-didas alternativas como as discutidas durante o XIIConird que, inclusive ocasionaram novos benefí-cios para os produtores”, relatou Soares.

Tais soluções constituem-se em projetos queaproveitam os dejetos líquidos dos suínos em cul-turas como café, cana e milho. Entre as vantagensapresentadas no seminário sobre “Uso de águasresiduárias de suinocultura na agricultura irriga-da” estão: aproveitamento integral e racional detodos os recursos produtivos disponíveis dentro dapropriedade rural; aumento da estabilidade dossistemas de produção existentes com o investimen-to em novos componentes tecnológicos;maximização da eficiência dos sistemas de produ-ção, reduzindo custos e melhorando a produtivi-dade; e associação dos diversos componentes dacadeia produtiva em sistemas integrados, susten-táveis social e economicamente, e que preservemo meio ambiente.

Superando os custosSegundo o palestrante e pesquisador da Embra-

pa Milho e Sorgo, Egídio Arno Kozen, a implanta-ção de projetos de produção deve obedecer a nor-mas de equilíbrio entre os passivos e ativosambientais decorrentes dos sistemas de produção –cobertura do solo com resíduos de culturas ou ve-getação viva, proteção das fontes de água, plantiodireto, fertilização adequada, reposição de matase/ou pastagens em áreas impróprias para culturasanuais, corte planejado de árvores e reciclagem ade-quada de resíduos. Ou seja, os dejetos de suínospodem constituir fertilizantes eficientes e segurosna produção de grãos e de pastagem, desde que pre-cedidos dos ativos ambientais que assegurem a pro-teção do meio ambiente, antes de sua reciclagem.

Pesquisas da Embrapa Milho e Sorgo consta-taram que os benefícios econômicos dos sistemasde produção de grãos com a utilização de dejetosde suínos superam seus custos. Porém, é necessá-rio conhecer o volume e a composição dos dejetosproduzidos pelos diversos sistemas ou núcleos deprodução. “O volume de dejeto produzido poranimal/dia deve ser acrescido de 20% como medi-da de segurança para o cálculo da capacidade dearmazenamento”, explicou Egídio Kozen.

Manejo adequadoOs dejetos da suinocultura, conforme foi de-

monstrado durante o Seminário, podem ser utili-zados integralmente ou com separação de sólidos.A parte líquida pode ser utilizada na fertirrigação,e a sólida transformada em composto orgânico,também aproveitada como fertilizante. No caso dosdejetos líquidos, a aplicação é feita por equipamen-tos de aspersão ou com tanques mecanizados.As formas de distribuição dos dejetos são através de:• tanques tratorizados – que permitem fazer a dis-

tribuição uniforme e/ou localizada no solo. O in-vestimento é alto e ainda ocorre a limitação deárea possível de adubar, tanto em quantidade,quanto em topografia.

• sistemas de aspersão – que permitem a distri-buição apenas de maneira uniforme, porém, commaior precisão. Sua maior vantagem é a possibi-lidade de maior área fertilizada com o mesmoinvestimento em equipamento, reduzindo o custoda fertilização, normalmente em torno de 50%sobre a aplicação com tanque tratorizado.

Suinocultura, de bemcom o meio ambiente

O coordenador doseminário sobre“Uso de águasresiduárias dasuinocultura naagricultura irrigada”,professor AntônioAlves Soares

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38 ITEM • Nº 56/57 • 4º trimestre 2002 e 1º trimestre 2003

RecomendaçõesEncontrar o ponto de equilíbrio entre o uso de

dejetos e o correto manejo do solo não parece sertarefa fácil para o produtor. No entanto, a asses-sora do IEF recomenda alguns procedimentos prá-ticos:• a utilização de dietas mais bem balanceadas;• melhor manejo do rebanho;• melhor higienização a seco;• melhores linhagens de suínos com maior apro-

veitamento dos nutrientes fornecidos;• tratamento dos efluentes antes da disposição fi-

nal, visando à redução da carga orgânica;• respeito à capacidade de uso do solo.

Integração agrícola epecuária

O suinocultor Rogério LeonardoOliveira relatou aos participantes doXII Conird a experiência realizada emsua propriedade, a fazenda Makena,localizada no município de Patrocínio,MG. Há 25 anos na atividade, a gran-ja Makena conta com um plantel demil matrizes e uma significativa pro-dução de dejetos. Por isso mesmo, hámais de dez anos, foi iniciado o plan-tio de 1,5 milhão de pés de café dis-tribuídos em 300 hectares, dentro dosistema de produção integrada.

“No início, implantamos o siste-ma para diminuir os problemasambientais. Com o tempo fomos per-cebendo as inúmeras vantagens da uti-lização dos dejetos da suinocultura”,explicou Rogério Oliveira. Segundoele, em partes da lavoura, conseguiu-se a redução em torno de 40% na uti-lização de adubo químico, colhendogrãos de melhor qualidade e tamanho,o que é economicamente significati-vo. Para 2002, os proprietários da fa-zenda Makena esperam diminuir nopatamar de 60% e uma produtivida-de ainda maior.

Em relação aos custos, RogérioOliveira ressaltou que a implantaçãodo sistema é perfeitamente viável.Para uma granja como a sua, de milmatrizes, o gasto é de, aproximada-mente, R$40 mil. Investimento que,conforme ele mesmo avalia, é válidose levar em conta a economia de adu-bo químico e a melhora na produçãoagrícola.

Desmistificando olicenciamento ambiental

O licenciamento ambiental nada mais é do queo procedimento administrativo pelo qual os órgãosseccionais competentes, ligados à Secretaria deMeio Ambiente e de Desenvolvimento Sustentá-vel (Semad), licenciam a localização, a instalaçãoe a operação dos empreendimentos que utilizamrecursos ambientais e possam ser causadores efe-tivos ou potenciais de poluição ou degradação am-biental.

Atividades como a suinocultura, consideradaspoluidoras ou potencialmente poluidoras, depen-

Exigências ambientaisApós a publicação, em 1995, da Deliberação

Normativa Copam nº 34/95, estabelecendo normas parao licenciamento e controle da suinocultura, os suino-cultores brasileiros viram-se obrigados a obter o licen-ciamento ambiental para conseguir a regulamentaçãoda atividade. Para tanto, segundo Fabiana Vilela, asses-sora técnica do Instituto Estadual de Florestas (IEF) etambém palestrante do XII Conird, é necessária a apre-sentação de estudos ambientais para implantação de sis-temas de controle do efluente gerado. No caso da ado-ção da fertirrigação como alternativa de controle am-biental, o produtor ainda deve ter o cuidado com o ma-nejo e conservação do solo, evitando assim, processoserosivos, saturação de solos, contaminação de águas sub-superficiais e escoamento superficial.

Fabiana Vilela explicou que, antes de mais nada, osuinocultor deve considerar dois pontos importantes ediscuti-los com o técnico responsável pelo estudo am-biental em sua propriedade. O primeiro deles é a quan-tidade de dejetos que se pode adicionar ao solo e porquanto tempo. “Esta preocupação existe em função daspossíveis conseqüências negativas no solo comodesequilíbrios iônicos, fitotoxicidade às plantas, polui-ção da atmosfera por volatização e contaminação daságuas superficiais e sub-superficiais por lixiviação, demaneira que os sistemas adubados com esses resíduossejam auto-sustentáveis”.

A segunda consideração é a variação da composiçãoquímica em função do tipo de alimentação empregada,fases de produção e do manejo de água empregado nasgranjas de suínos. Isso porque, nos dejetos, vários nutri-entes encontram-se em quantidades desproporcionaisem relação à capacidade de extração das plantas. Asadubações contínuas numa mesma área poderão ocasi-onar desequilíbrios químicos, físicos e biológicos no solo,cuja gravidade dependerá da composição desses eflu-entes, da quantidade aplicada, da capacidade de extra-ção das plantas, do tipo de solo e do tempo de utiliza-ção dos dejetos.

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4º trimestre 2002 e 1º trimestre 2003 • Nº 56/57 • ITEM 39

dem de licenças ambientais para cada fase de im-plantação e operação do empreendimento emquestão. “Para aqueles empreendimentos relacio-nados com as atividades agrícolas, pecuárias e flo-restais, o empreendedor deverá entrar em contatocom o IEF, na cidade mais próxima ao seu empre-endimento”, explicou Fabiana Vilela.

O roteiro para pleitear o licenciamento é o se-guinte:1. O empreendedor preenche o Formulário de

Caracterização do Empreendimento (FCE);2. O FCE é protocolado na Divisão Administra-

tiva e de Informação do IEF/Copam;3. O IEF emite a Orientação Básica (OB), envia-

a através de correio por AR (aviso de recebi-mento), onde relata os documentos necessári-os para o licenciamento do empreendimento einforma os custos de análise, de acordo com aDN 01/90. O empreendedor terá um prazo má-ximo de 90 dias para entrega destes documen-tos;

4. O empreendedor protocola os documentos, opedido de licença e o recibo do pagamento doscustos de análise;

5. Após conferência da documentação, o IEF for-maliza o processo, recebendo numeração própria;

6. O IEF publica no Diário Oficial “Minas Ge-rais” o requerimento da licença;

7. O empreendedor publica em jornal de circula-ção na região onde se encontra o empreendi-mento a ser licenciado, o pedido de licença, deacordo com a DN 013/95;

8. Encaminha-se o processo à Assessoria Técni-ca para emissão de Parecer Técnico e em se-guida à Assessoria Jurídica para emissão deParecer Jurídico.

9. O processo será julgado em reunião da Câma-ra de Atividades Agrossilvipastoris (CAP), câ-mara esta pertencente ao Conselho Estadualde Política Ambiental (Copam), que dentre ou-tras competências está a de decidir sobre os pe-didos de concessão dos diferentes tipos de li-cença ambiental: licença prévia, licença de ins-talação, licença de operação, licença de insta-lação corretiva e licença de operação correti-va, para as atividades agrícola, pecuária e flo-restal de pequeno, médio ou grande porte epotencial poluidor e degradador: As reuniõesda CAP são abertas ao público, ao empreen-dedor ou responsável, devendo o empreende-dor participar dela quando do julgamento deseu processo.Se o suinocultor tiver sua atividade enquadra-

da em porte menor que o classificado pela Delibe-ração Normativa, o licenciamento será feito de for-ma diferente. Neste caso, ele preencherá o For-mulário de Caracterização do Empreendimento(FCE), fornecido pelo IEF, assinará um Termo deCompromisso, o qual será registrado em cartório,comprometendo-se a não degradar o meio ambi-

ente e a adotar medidas mitigadoras de impactosambientais. O órgão seccional enviará a documen-tação ao secretário-executivo do Copam, que con-cederá o licenciamento. A validade desta licençaserá de um ano, a partir da data da concessão dalicença.

Tipos e validade de licençasLICENÇA PRÉVIA (LP): concedida na fase de

planejamento da atividade a ser implantada, deacordo com os planos, programas e projetosaprovados, incluindo medidas de controle am-biental e condicionantes a serem atendidas naspróximas fases de sua implementação. Paraempreendimentos com significativo potencialde impacto ao meio ambiente, a LP só será con-cedida após a aprovação do Estudo de Impac-to Ambiental e Relatório de Impacto Ambien-tal - EIA/RIMA. A LP tem validade de atéquatro anos, correspondendo ao prazo previs-to no cronograma aprovado para elaboraçãodos planos, programas e projetos relativos aoempreendimento;

*LICENÇA DE INSTALAÇÃO (LI): autoriza ainstalação do empreendimento de acordo comos planos, programas e projetos aprovados, in-cluindo as medidas de controle ambiental edemais condicionantes. A LI tem validade deaté seis anos, correspondendo ao prazo previs-to no cronograma para implantação do empre-endimento, incluindo qualquer medidamitigadora prevista nesta fase. Esta poderá serprorrogada por até dois anos, mediante análi-se do requerimento do empreendedor;

LICENÇA DE OPERAÇÃO (LO): esta licença au-toriza a operação do empreendimento de acor-do com os planos, programas e projetos apro-vados, após verificar o cumprimento do queconsta das licenças anteriores, com medidas decontrole ambiental e condicionantes determi-nadas para a operação. A LO tem validade deoito, seis e quatro anos para as atividades en-quadradas na Deliberação Normativa Copam no01, de 22 de março de 1990, respectivamente,para as classes I, II e III. Esta licença serárevalidada por período fixado, na dependênciade que o empreendedor não tenha incorrido emalguma penalidade prevista na legislação am-biental. O pedido de revalidação da licença deoperação deverá ser protocolado no órgão sec-cional - IEF - com a documentação necessáriaaté noventa dias do vencimento da licença. �

Seminário: “Uso de águas residuárias da suinocul-tura na agricultura irrigada”.

Maiores informações com o coordenador AntônioAlves Soares, engenheiro agrícola e professor daUniversidade Federal de Viçosa, e-mail: [email protected].

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40 ITEM • Nº 56/57 • 4º trimestre 2002 e 1º trimestre 2003

abe-se que a alimentação representa gran-de parte do custo final do suíno produzi-do. O aproveitamento das rações, efeti-

vamente convertidas em crescimento e aumen-to de peso, atinge uma média de 40% a 60%,sendo o restante eliminado pelas dejeções(Kiehl, 1985). As rações dos suínos são concen-tradas e, em função do baixo aproveitamento,mantêm alta concentração de elementos nasdejeções. Esse fato leva a uma incidência eleva-da no custo final do suíno, que pode atingir ín-dices de 20% a 25%. A minimização do efeitodesse custo e a possibilidade de redução deinsumos químicos são alcançados pela adequa-da utilização dos dejetos (Konzen, 2000). Paraisso, são estabelecidos alguns objetivos:• aproveitar integral e racionalmente todos os

recursos disponíveis dentro da propriedaderural;

• aumentar a estabilidade dos sistemas de pro-dução existentes com o investimento em no-vos componentes tecnológicos;

• maximizar a eficiência dos sistemas de produ-ção, reduzindo custos e melhorando a produ-tividade, estabelecendo o princípio de que: “Oresíduo de um sistema pode constituir-se eminsumo para outro sistema produtivo”;

• associar os diversos componentes da cadeiaprodutiva em sistemas integrados sustentáveissocial e economicamente, e que preservem omeio ambiente.

Esses objetivos lançam um grande desafiopara o agronegócio: “O desenvolvimento de sis-temas de produção agropecuários, capazes deproduzir alimentos em qualidade e quantidadesuficientes, sem afetar adversamente os recur-sos de solo e o meio ambiente”.

Reciclagem de águaresiduária da suinocultura

Há um consenso generalizado em todos ossetores da sociedade de que o setor da

suinocultura deva adotar uma postura derespeito à qualidade do meio ambiente e

de vida. Dentro desta concepção, aimplantação de projetos de produção deveobedecer às normas de equilíbrio entre os

passivos e ativos ambientais decorrentesdos sistemas de produção.

A Região Centro-Oeste, no contexto atual, éhoje detentora de cerca de 320 mil matrizes

em produção, gerando em torno de 17,5milhões de m3 de dejetos, com

aproximadamente 97% de água.Independente de como foram considerados,os dejetos de suínos apresentam alto poder

poluente, especialmente para os recursoshídricos, em termos de demandabioquímica de oxigênio (DBO). A

consideração deste artigo é de que essesdejetos devem e podem ser reciclados de

forma que sejam transformados em insumoagrícola útil e econômico, com um mínimode agressão ambiental. São apresentados,

portanto, os caminhos a ser seguidos para aconcretização desta meta.

EGÍDIO ARNO KONZEN

PESQUISADOR DA EMBRAPA MILHO E SORGO

CAIXA POSTAL 151 - CEP 35701-970 - SETE LAGOAS/MGTEL.: (31) 3779-1151 -E-MAIL: [email protected]

S

Reciclagem de águaresiduária da suinocultura

Através daagriculturairrigada, osdejetos da

suinoculturapodem ser

reciclados etransformados

em insumosagrícolas úteis,com o mínimo

de agressãoambiental,

inclusive,depurando a

água

FOTO UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA

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4º trimestre 2002 e 1º trimestre 2003 • Nº 56/57 • ITEM 41

A aplicação desse desafio implica em algunsinvestimentos em ativos ambientais para alcan-çar a sustentabilidade de todos os elos da cadeiaprodutiva. O balanço da contabilidade ambien-tal necessariamente inclui os seguintes ativosambientais: cobertura do solo com resíduos deculturas ou vegetação viva, proteção das fontesde água, cultivo mínimo e plantio direto, fertili-zação adequada, reposição de matas e/ou pasta-gens em áreas impróprias para culturas anuais,corte planejado de árvores e reciclagem adequa-da de resíduos.

Reciclagem de resíduoslíquidos da suinocultura

As alternativas de utilização dos dejetos desuínos mais praticadas no Centro-Oeste brasi-leiro são as integrações de suínos com a produ-ção de grãos e pastagens para bovinos de corte ede leite. Para a utilização, torna-se necessárioconhecer o volume e a composição dos dejetosproduzidos pelos diversos sistemas ou núcleosde produção. O ciclo completo considera 150 a170 L dia-1 por fêmea no plantel. Para o núcleode produção de leitões, o volume de dejetos pormatriz no plantel é de 35 a 40 L/dia, e na termi-nação (25 a 110 kg) a produção diária varia de12 a 15 L/suíno. Esses valores devem ser acres-cidos de 20%, como medida de segurança parao cálculo da capacidade de armazenamento(Konzen, 2000).

A disponibilidade de área livre para a apli-cação e a redução da carga orgânica são deter-minantes da capacidade de armazenamento, quenão deve ser menos do que 90 dias, consideran-do-se 120 a 150 dias a capacidade de maior se-gurança ambiental (Oliveira, 1993). O armaze-namento pode ser em lagos de estabilização na-tural, impermeabilizados com manta plásticacoberta com terra ou por processo de compac-tação, preenchendo os requisitos do tempo deestabilização. A impermeabilização destes obe-dece a critérios construtivos, devendo os talu-des obedecerem a inclinação de 2,5 a 3,0 para 1(Konzen & Barros, 1997). A locação dos lagosem pontos estratégicos, dentro das áreas de pro-dução ou próximo aos locais de utilização, re-duz o custo operacional dos sistemas de distri-buição. A utilização dos dejetos pode ser feitade forma integral ou com separação de sólidos.O líquido resultante do processo separatóriopode ser destinado à fertirrigação, a açudes decriação de peixes ou ainda ser utilizado comoágua reciclada para higienização, desde que ade-quadamente tratado. O sólido transformado emcomposto orgânico constitui-se num excelente

fertilizante agrícola na propriedade. A distribui-ção dos dejetos de suínos pode ser feita por equi-pamentos de aspersão (aplicação uniforme nosolo) e/ou com tanques mecanizados (aplicaçãouniforme e localizada). Ambos apresentam as-pectos convenientes e inconvenientes.

Composição dos resíduos

A maior parte dos criatórios suinícolas pro-duz dejetos com sólidos que variam de 1,7% a3,0%. Os dejetos coletados em sistemas de lâmi-nas d’água e canaletas variam em conteúdo sóli-do de 1,7% a 2,6%. De acordo com a concentra-ção de sólidos, os dejetos apresentam uma com-posição aproximada, ilustrada no Quadro 1.As concentrações poderão variar, dependendoda diluição causada pelo uso de maior ou me-nor quantidade de água no sistema de higieni-zação, e desperdiçada nos bebedouros. Com basenesses teores de material sólido, pode-se verifi-car que as quantidades de nutrientes, nitrogê-nio, fósforo e potássio variam entre 4,5 kg e 6,0kg m-3 (Miranda et al., 1999).

O conhecimento desses valores constitui abase da adubação para cada cultura, em funçãoda produtividade pretendida. A distribuição dosdejetos com tanques tratorizados representa uminvestimento alto e há limitação de área possí-vel de adubar, tanto em quantidade, quanto emtopografia, e ainda o de compactação do solopelo intenso trânsito. Os tanques tratorizadospermitem, por outro lado, fazer a distribuiçãouniforme e/ou injetada no solo. Os sistemas deaspersão, com investimento similar, permitem adistribuição apenas de maneira uniforme, po-rém, com maior precisão. Outro aspecto positi-vo da aspersão é a maior abrangência de áreafertilizada com o mesmo investimento em equi-pamento, o que reduz o custo da fertilização,normalmente em torno de 50% sobre a aplica-ção com tanque tratorizado, além de não ofere-

QUADRO 1Conteúdo médio de nutrientes, NPK, dos dejetos de suínos deacordo com o teor de sólidos

kg m-3 ou kgt-1 de dejetos

Sólidos 0,72% 1,63% 2,09% 2,54% 3,46% 4,37%

Nitrogênio 1,29 1,91 2,21 2,52 3,13 3,75P2O5 0,83 1,45 1,75 2,06 2,68 3,29K2O 0,88 1,13 1,25 1,38 1,63 1,88

NPK 3,00 4,49 5,21 5,96 7,44 8,92

Fonte: Miranda et al. (1999). (Embrapa Suínos e Aves, Emater-SC, Epagri-SC).

Elementos/

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42 ITEM • Nº 56/57 • 4º trimestre 2002 e 1º trimestre 2003

cer limitações relativas ao trânsito na área ou àtopografia. Os sistemas de aspersão exigem, noentanto, a retenção dos pêlos e de materiais es-tranhos, tais como tampinhas e frascos de medi-camentos, hastes de capim, plásticos etc. Estesmateriais constituem fonte de entupimento dosequipamentos de aspersão. A retenção destespoderá ser feita por um sistema de grades combarras verticais, com três a quatro distanciamen-tos diferentes entre as barras, em ordem decres-cente (10, 7 e 5 milímetros).

Resultados agronômicos naprodução de grãos em preparoconvencional e plantio direto

A dosagem dos resíduos líquidos de suínosdeve sempre obedecer à reposição da exporta-ção de nutrientes pela produção das culturas(Quadro 2).

As respostas produtivas com 30, 60 e 90 kgha-1 de nitrogênio em cobertura não tiveram efei-to em quaisquer das doses aplicadas, o que levaa conclusão que estas supriram as necessidadesem nitrogênio para produções de 7 mil a 8 milkg ha-1 de milho (Fig. 2).

As pesquisas ainda demonstraram que osdejetos de suínos têm baixo efeito residual, mes-mo com doses de 135 e 180 m3 ha-1. No primei-ro ano de efeito residual, a produtividade de-cresceu 60% para 45 a 90 m3 ha-1 e 50% para135 a 180 m3 ha-1. Já no terceiro ano, o efeitoresidual praticamente foi inexistente, igualando-se as produções às da testemunha (Fig. 3).

Esses resultados levam à recomendação dedoses anuais de 45 a 90 m3 ha-1, como manuten-ção, para se alcançar a produtividade de 5.500 a7 mil kg ha-1 de milho. Além destas pesquisas,desenvolveu-se um trabalho de utilização dedejetos de suínos com 5, 4, 3 e 2 meses antecipa-dos ao plantio do milho. A dose única de 64 m3

ha-1 foi aplicada de maneira exclusiva e associa-da a 30, 60 e 120 kg ha-1 de nitrogênio em cober-tura. As produções mais elevadas (6 mil e 6.500kg ha-1) foram atingidas nas aplicações com 4 e5 meses antecipados ao plantio.

O desenvolvimento das áreas de observaçãofoi realizado dentro do Programa Renda Real,em Rio Verde, GO. As áreas para milho foramadubadas da seguinte forma: testemunha semadubação; adubação química recomendada; 50m3 ha-1 de dejetos de suínos (exclusivo); 25 m3

ha-1 de dejetos de suínos + 50% da adubaçãoquímica; 50 m3 ha-1 de dejetos de suínos + 60 kgha-1 de uréia em cobertura; 75 e 100 m3 ha-1 dedejetos de suínos (em aplicação exclusiva). Osresultados variaram de 3.440 até 8.440 kg ha-1

(Fig. 4).

QUADRO 2Exportação de nutrientes pela produção de diversas culturas

Culturas Produção N P2O5 K2O

kg ha-1 exportação em kg ha-1

Milho 6.000 136 28 39Milho silagem 32.000 224 90 275Soja 2.700 164 14 51Cana 70.000 91 6 77Pastagem (MS) 30.000 450 45 600Café 3.600 161 25 154

Fonte: Adaptado de Yamada (1994); Coelho & França (1995); Faria et al. (1998).

QUADRO 3Quantidades de nitrogênio, fósforo e potássioincorporadas ao solo através do esterco líquidode suínos, na produção de milho em pesquisasrealizadas em Patos de Minas, MG (1984/1990)

Esterco kg ha-1

m3 ha-1 NT P2O5 K2O Total-NPK

15 48 81 20 14930 95 162 41 29845 143 243 62 44864 204 346 88 63890 286 486 124 896

135 429 729 180 1.338180 572 972 248 1.792

Fonte: Konzen (1990)

As pesquisas sobre reciclagem de dejetos desuínos na produção de milho grão foram reali-zadas pelo Centro Nacional de Pesquisa de Mi-lho e Sorgo, em Sete Lagoas, MG, e sobre recu-peração de pastagem nativa, pela UniversidadeFederal de Santa Maria, RS. A cultura de milhofoi desenvolvida em Patos de Minas, MG, emparceria com a Agroceres-Pic, Emater-MG eEpamig, durante o período de 1984 a 1990. Paraa fertilização das áreas foram utilizadas diversasdoses (Quadro 3) em aplicação exclusiva e com-binada com adubação química. A produtivida-de com o uso de doses crescentes de dejetos desuínos (45, 90, 13 e 180 m3 ha-1), em aplicaçãoexclusiva em solo de cerrado, atingiu os níveisque variaram de 5.180 a 7.650 kg de milho ha-1

(Fig. 1). A produtividade da testemunha e daadubação química completa foi de 1.600 e 3.800kg ha-1 , respectivamente.

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4º trimestre 2002 e 1º trimestre 2003 • Nº 56/57 • ITEM 43

FIGURA 1 – Produção de milho com o uso do esterco líquido desuínos, em aplicação exclusiva e combinada com adubação quími-ca, em solo de cerrado (LV), Patos de Minas, MG (1985/1986/1987)

FIGURA 2 – Produção de milho obtida associando-se quantidadesde esterco líquido de suínos a diferentes níveis de nitrogênio emcobertura, em solo de cerrado (LV), Patos de Minas, MG (1986/1987)

FIGURA 3 – Efeito residual das quantidades de esterco líquidode suínos aplicadas de forma exclusiva em solo de cerrado (LV),Patos de Minas, MG (1987/1990)

FIGURA 4 – Produção de milho alcançada pelas adubações comdejetos de suínos em sistema de plantio direto, Rio Verde, GO(1999/2000)

FIGURA 5 – Produção de soja, alcançada pelas adubações comdejetos de suínos em sistema de plantio direto, Rio Verde, GO(1999)

FIGURA 6 – Estudo comparativo de aplicação anual da dose de40m3 ha-1 de dejetos de suínos, realizadas por tanque tratorizadoou aspersão. (Epagri-SC & Embrapa Suínos e Aves, 1995)

Aduboquím.

Test. 45m3 90m3 135m3 180m3 90m3+

aduboquím.

90m3+P 90m3

nãoincorp.

7.3907.657

6.8137.210

5.498

6.455

5.179

3.488

1.665

9.000

7.500

6.000

4.500

3.000

1.500

0

Prod

ução

de

milh

o -

K

g ha

-1

DOSES DE DEJETOS

7.152

7.8948.205

0 Kg N 30 Kg N 60 Kg N 90 Kg N9.000

7.500

6.000

4.500

3.000

1.500

0

Prod

ução

de

milh

o -

K

g ha

-1

45 m3 ha-1 90 m3 ha-1 135 m3 ha-1

DOSES DE DEJETOS

Residensial 3 anos

Residensial 2 anos

Aplicação anual

Residensial 1 ano

8.000

7.000

6.000

4.000

3.000

1.000

0

Prod

ução

de

milh

o -

K

g ha

-1

2.000

5.000

508

2.152

4.848

6.162

7.698 7.700

Test.

DOSES DE DEJETOS

Aduboquímico

45m3 90m3 135m3 180m3

9.000

7.500

6.000

4.500

3.000

1.500

0

Prod

ução

de

milh

o -

K

g ha

-1

Semadubo

DOSES DE DEJETOS

Aduboquímico

50m3 25m3+50%adubo

50m3+60Kgadubo

100m375m3

4.470

6.480

8.160

6.490

7.470

8.7609.000

4.000

3.000

2.000

1.000

0

Prod

ução

de

soja

-

Kg

ha-1

Testemunha

DOSES DE DEJETOS

Aduboquímico

25m3 50m3 75m3

2.650

3.2403.430

3.530 3.520

6 12 18 24 30 36 42 48 54 60

Área adubada com 40m3 ha-1

12

8

4

0

Aspersão Tanque

Cus

to

- R

$ m

-3

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44 ITEM • Nº 56/57 • 4º trimestre 2002 e 1º trimestre 2003

FIGURA 7 – Produção relativa de matéria seca e proteína bruta, deBrachiaria brizantha cv. Marandu, fertilizada com doses crescentesde dejetos de suínos, Goiânia, GO (Barnabé, et al.,2001)

FIGURA 8 – Capacidade de suporte em pastagem de braquiarãofertilizada com 180 m3 ha-1 de dejetos de suínos, durante cincociclos de produção (Rio Verde. Go. 2002)

FIGURA 9 – Ganho diário de peso (GPD), em gramas por cabeça earrobas, de 480 bovinos de corte em sistema de pastoreio intensivo empastagem de braquiarão fertilizada com dejetos de suínos, durante operíodo de dezembro de 2001 a abril de 2002 (Rio Verde, GO, 2002)

FIGURA 10 – Capacidade de suporte de pastagens de capins mom-baça e tanzânia fertirrigadas com dejetos (Brazilândia, MS, 2002)

FIGURA 11 – Teores de cobre no perfil de Latossolo Vermelho decerrado, com três anos sucessivos de aplicação de dejetos de suí-nos, na produção de milho (Patos de Minas, MG, 1990)

FIGURA 12 – Concentrações de zinco no perfil de Latossolo Ver-melho de cerrado, com três anos sucessivos de aplicação de dejetosde suínos (Patos de Minas, MG, 1990)

400

300

200

100

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Testemunha

DOSES DE DEJETOS

Aduboquímico

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1999

ANO

2000 2001 2002 2003(projeção)

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2,51

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0

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254animais

LOTE DE ANIMAIS

119animais

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710 722

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GPD gramas

GP Arrobas - 120 dias8

6

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1997

Períodos de Fertirrigação

1998 1999 2000 2001

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2002

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obre

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Kg-1

Test.

DOSES DE DEJETOS

45 m3 90 m3 135 m3

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21,8

25

6,2

1,2

8,68,8 9,1

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1,0

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0

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cent

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obre

-

mg

Kg-1

Test.

DOSES DE DEJETOS

45 m3 90 m3 135 m3

1,31,2

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2,8

2,5

0,70,6

0,80,7

1,2

1,6

0,2

00 - 20 cm

20 - 40 cm

40 - 60 cm

3,0

00 - 20 cm

20 - 40 cm

40 - 60 cm

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4º trimestre 2002 e 1º trimestre 2003 • Nº 56/57 • ITEM 45

A produtividade atingida com 50 m3 ha-1 dedejetos de suínos em aplicação exclusiva foi si-milar à adubação química e 49% superior à tes-temunha. As doses de 75 m3 e 100 m3 ha-1 pro-duziram 12% e 20% a mais do que a de 50 m3

ha-1. Quando foram combinadas as doses de 25m3 ha-1 + 50% da adubação química e 50 m3 ha-

1 + 60 kg de uréia, as produções igualaram-se.A avaliação do custo para 50 m3 ha-1 represen-tou apenas 12%, enquanto a adubação químicafoi de 32%. O mesmo trabalho foi realizado coma soja, também em sistema de plantio direto. Asadubações utilizadas foram as seguintes: teste-munha sem adubação; adubação química reco-mendada; 25, 50 e 75 m3 ha-1 de dejetos líqui-dos de suínos, todas em aplicação exclusiva. Osresultados variaram de 2.464 a 3.397 kg ha-1. Adose de 25 m3 ha-1 produziu 7% a mais do que aadubação química e apenas 1,5% e 2,5% menosdo que as doses de 50 e 75 m3 ha-1, respectiva-mente (Fig. 5).

Benefício/custo dos sistemas deprodução de milho com estercode suínos e adubação química

Estudo de custos da aplicação de dejetos,feito em Santa Catarina pela Epagri-SC e Em-brapa Suínos e Aves, compara os sistemas deaplicação com tanque tratorizado e aspersão.Avaliaram-se os dois sistemas com a dose anualde 40 m3 ha-1 em áreas que variaram de 6 a 60hectares (Fig. 6).

O estudo mostra que em área de até 24 hec-tares adubados, os custos de ambos os sistemaspraticamente se equipararam. À medida em quea área fertilizada aumentou, os custos de asper-são decresceram mais do que os do tanquetratorizado. A adubação de 60 hectares com as-persão mostrou um custo 52,6% menor que afeita com tanque tratorizado. A quantidade maiseconômica de dejetos de suínos é estabelecidapela relação de quilos de milho necessários parapagar 1 m3 de dejetos aplicados no solo. As do-ses econômicas, encontradas nos trabalhos rea-lizados, variaram de 45 até 104 m3 ha-1 de dejetoslíquidos, aplicados a lanço de forma exclusiva.Os resultados da relação benefício/custo, damaioria dos sistemas de utilização dos dejetoslíquidos de suínos na adubação de milho, mos-traram índices de 1,64 a 1,68. Isso quer dizer quea produção de milho com dejetos de suínos teveuma rentabilidade de 64% e 68%, sem contarcom os efeitos benéficos que a adubação orgâ-nica opera no solo.

Resultados na recuperação depastagens com dejetos de suínos

Os primeiros resultados de pesquisa com re-cuperação de pastagens nativas foram desenvol-vidos pela Universidade Federal de Santa Ma-ria, no Rio Grande do Sul. Essa pesquisa utili-zou dejetos de suínos em pastagens nativas du-rante os anos de 1998 e 1999, aplicando dosesde 20 e 40 m3 ha-1. A dose de 20 m3 proporcio-nou aumentos na produção de matéria seca porha/ano na ordem 21% a 204%. Já para dose de40 m3, esses acréscimos foram de 32% a 307%.Outra pesquisa de adubação de Brachiariabrizantha cv. Marandu, com doses crescentes dedejetos de suínos, realizada na UniversidadeFederal de Goiás, mostrou um incremento de156% na produção de matéria seca e 230% naproteína (Fig. 7).

Houve acréscimos de produção desde a me-nor dose em comparação à testemunha, atingin-do incremento de 156% para a matéria seca e230% para a proteína, na dose de 150 m3 ha-1. Adose de 100 m3 teve produção semelhante à daadubação química.

Os resultados da adubação de 78 hectares debraquiarão com 180 m3 ha-1 ano de dejetos desuínos, durante cinco anos, em fazenda localiza-da em Rio Verde, GO, mostraram que a partir doquarto ano foi possível manter uma lotação de3,77 U.A. por hectare, em sistema de pastoreiointensivo, no período de dezembro de 2001 amaio de 2002 (Fig. 8). Os ganhos diários dosanimais variaram de 0,71 a 1,25 kg por cabeça/dia, dependendo do lote, se cruzado ou Nelorepuro, considerado o período de utilização dopotencial máximo da pastagem (Fig. 9). Duran-te o pastoreio, foi feita uma suplementação de1,2 kg de concentrado protéico/energético poranimal. Além do desempenho dos animais, cons-tatou-se que as pastagens mantiveram-se total-mente verdes durante todo o período de seca,possibilitando a recria de três a quatro animaisjovens por hectare, sendo que, em condições nor-mais, sem a fertilização orgânica, provavelmen-te não passaria de um animal por hectare.

Observações realizadas nas pastagens de ca-pins tanzânia, mombaça e braquiarão, fertirriga-das com dejetos de suínos, em Brazilândia, MS,mostram produções de até 8,0 toneladas de ma-téria seca por hectare por mês. Essas pastagensproporcionaram, em 1999, uma produção em tor-no de 1.899 kg de peso vivo por hectare, com umalotação de 5,4 U.A. ha-1 e um ganho em peso de0,899 kg/cabeça/dia. No período anterior, a pro-dução alcançou 1.508 kg de peso vivo por hecta-re. A economia de fertilizante químico foi acimade 85% em 1.200 hectares fertirrigados (Fig. 10).

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46 ITEM • Nº 56/57 • 4º trimestre 2002 e 1º trimestre 2003

Movimentação de elementosno solo

Um estudo do perfil de Latossolo Vermelhode cerrado (Patos de Minas, MG, 1990) com uti-lização de doses crescentes de dejetos de suínos(45, 90 e 135m3 ha-1), durante três anos suces-sivos, abrangendo as camadas de 0-20, 20-40 e40-60 cm, mostrou diferenças acentuadas nasconcentrações de cobre e zinco. A concentra-ção de cobre e zinco no perfil do solo é fator deextrema importância, visto que, em altas concen-trações, pode atingir os mananciais de água, emfunção de sua movimentação em profundidadeno solo. O cobre, em especial, é extremamenteprejudicial à saúde humana e animal. A deposi-ção nas camadas de 0-20, 20-40 e 40-60 cm émostrada na Figura 11.

O zinco mostrou movimentação bem maisreduzida dentro das camadas do solo, manten-do concentrações similares em todas as cama-das e tratamentos estudados. Os teores variaramde 1,2 mg a 2,8 mg kg-1 (Fig. 12).

Os percentuais de matéria orgânica, dentrode uma mesma camada, não mostraram diferen-ças entre os tratamentos aplicados. O conheci-mento dessas movimentações de elementos nosolo visualiza possíveis desbalanços e efeitosnocivos nas camadas mais profundas do solo, aomesmo tempo que possibilita estabelecer estra-tégias para corrigir rumos nos sistemas de utili-zação dos dejetos de suínos como fertilizantesna produção agropastoril.

Conclusões e recomendações• Os dejetos de suínos podem constituir fertili-

zantes eficientes e seguros na produção degrãos e de pastagem, desde que precedidos dosativos ambientais que assegurem a proteçãodo meio ambiente, antes de sua reciclagem.

• Os benefícios econômicos dos sistemas de pro-dução de grãos, com a utilização de dejetosde suínos, superam seus custos.

• As doses de dejetos de suínos devem sempreobedecer à reposição da exportação de nutri-entes pelas produções.

• As doses econômicas de dejetos de suínos paraa produção de milho em áreas de cerrado, emplantio tradicional, variam de 45 a 90 m3 ha-1,para produtividade de 5 mil a 7 mil kg ha-1; epara plantio direto de 50 a 100 m3 ha-1 para asprodutividades de 6.700 a 8.400 kg ha-1.

• A movimentação dos componentes no perfildo solo indica a necessidade de acompanha-mento dos desbalanços ocorridos e a correçãode rumos do sistema de reciclagem dos dejetosde suínos. �

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARNABÉ, M.C. Produção e composição bromatológicada Brachiaria brizantha cv. Marandu adubada comdejetos de suínos. Goiânia: Escola de Veterinária, UFG,2001. (Tese Mestrado).

EPAGRI. Aspectos práticos do manejo de dejetos de suí-nos. Florianópolis,SC: EPAGRI/Embrapa Suínos eAves, 1995. 106p.

KIEHL, E.J. Fertilizantes orgânicos. Piracicaba, Agronô-mica Ceres Ltda. 1985. 492p.

KONZEN, E. A Alternativas de Manejo, Tratamento e Uti-lização de Dejetos Animais em Sistemas Integrados deProdução. Sete Lagoas, MG: Embrapa Milho e Sorgo,2000. 32p. ( Embrapa Milho e Sorgo: Documento. 5).

KONZEN, E. A .; PEREIRA FILHO, I. A .; BAHIA FI-LHO, A .F.C.; PEREIRA, F.A . Manejo de esterco lí-quido de suínos e sua utilização na adubação do milho.Sete Lagoas, MG: EMBRAPA-CNPMS, 1997.31p.(EMBRAPA-CNPMS. Circular técnica 25).

KONZEN, E. A . & BARROS, L. C. de. Lagoas de estabi-lização natural para armazenamento de dejetos líqui-dos de suínos. Sete Lagoas, MG: Embrapa Milho eSorgo, 1997. 14p. (Documento 9).

OLIVEIRA, P.A . V. de. (Coord). Manual de manejo e uti-lização de dejetos de suínos. Concórdia, SC: EmbrapaSuínos e Aves, 1993. 188p. (Documento,27).

Eak/XIIConird.doc.agosto/2002

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4º trimestre 2002 e 1º trimestre 2003 • Nº 56/57 • ITEM 47

oordenado pelo chefe-geral da EmbrapaGado de Corte, Antônio Batista Sanceve-ro, o seminário mostrou que o sistema é

viável e vantajoso desde que o produtor tome al-gumas providências antes de implantá-lo. “Seucusto de implantação, bem como a manutenção sãoelevados. Estima-se que esse investimento compen-sa em áreas onde o valor da terra esteja acima deUS$1.500,00/ha e já exista um trabalho de recupe-ração das pastagens. A grande vantagem do siste-ma é que a utilização de técnicas de cultivo, mane-jo sob fertirrigação e a rotação de culturas (forra-gens e grãos), com seus sinergismos e complemen-taridades, garantam a sustentabilidade da produ-ção de grãos, carne e leite”, explica Sancevero.

Armindo Neivo Kichel, pesquisador da Embra-pa Gado de Corte, também palestrante do XIIConird, alertou que pelo menos 90% dos pecua-ristas de corte ainda desconhecem procedimentosfundamentais que devem preceder a adesão ao sis-tema de pastagens irrigadas. Primeiramente, o pro-dutor deve estar atento à qualidade e à quantida-de de água disponível, à distância de captação e àburocracia para obtenção de outorga. Neste últi-

Pastagensirrigadas:

futuropromissor

para um novoagronegócio

Embora ainda não haja muitas

pesquisas em relação à irrigação

de pastagens, este é um

agronegócio florescente graças

à pressão dos agricultores

produtores de grãos que

começam a se dedicar à

pecuária, impulsionando a

atualização daqueles que já

exerciam tradicionalmente a

atividade. Com números e

experiências de sucesso, os

profissionais da Uniube e Fazu

deram ênfase a resultados

promissores ao ensejo do

seminário sobre “Produção

intensiva da pecuária leiteira e

de corte em pastagens

irrigadas”, no XII Conird.

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Sistemas de produção pecuária sob pivô

Aspersor Senninger - Modelo 8025RD-1 1/4”M operando em sistema de irrigaçãoem malha

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48 ITEM • Nº 56/57 • 4º trimestre 2002 e 1º trimestre 2003

mo caso, algumas experiências como as relatadaspelo professor da Uniube, Luís César Dias Dru-mond, demonstram que este é um dos pontos deestrangulamento do processo de implantação dairrigação. “Existem projetos nossos que demora-ram mais de seis meses para sair do papel por con-ta da obtenção da outorga”, alerta Drumond.

Planejamento eficazCom esta espécie de check-list orientadora de

todas as etapas a serem cumpridas, chega o mo-mento de contratar mão-de-obra qualificada emtodos os níveis, incluindo uma consultoria técnicaque irá fazer o projeto de irrigação, execução econtrole. Com a terra adubada, a pastagem recu-perada e realizado o manejo nutricional,reprodutivo e sanitário do rebanho, o produtor iráentão iniciar a atividade, sempre supervisionadapelos profissionais contratados.

Uma comprovação do valor de um bom plane-jamento é a experiência da Fazenda Boa Fé, situa-da no município de Conquista, Triângulo Mineiro,representada pelo engenheiro agrônomo JônadanHsuan Min Ma, membro da família proprietáriado empreendimento. A meta para os próximosanos é produzir 4,5 milhões de litros de leite/anoou 20 mil litros de leite/ha com um rebanho de 450vacas. Para tanto, a Fazenda Boa Fé já conta comuma estrutura dimensionada, onde um funcioná-rio atenderá uma produção de mil litros de leite,num total de 12 colaboradores .Hoje, a produçãoem três turnos de ordenha com 290 vacas emlactação é de 7.000 L/dia, num total de mais de2.200.000 litros previstos para 2002.

“A integração do pastejo que estamos fazendocom a assessoria dos profissionais da Fazu deveráreduzir em R$0,03/litro o custo de produção doleite. Até chegar nesta fase, digamos desejável, te-remos concluído todo o projeto de implantação dairrigação do pasto de tifton 85, a um custo médiototal de R$1,3 mil o hectare”, explica o diretor daFazenda Boa Fé. Este investimento incluirá todosos itens relativos à irrigação do sistema: mão-de-obra, equipamentos, tubulação, custo do projeto,consultoria dos profissionais, entre outros. OutrosR$600,00/ha serão necessários para os itens rela-tivos ao sistema de piqueteamento, como cercas,cochos de água, sistema de corredores etc.

Sistema de irrigação em malhaAs 680 cabeças de gado da Fazenda Boa Fé,

em sua maioria da raça Holandesa, estão alojadasem um sistema de Loose - Housing para as vacasem lactação e piquetes de grama - estrela para asdemais categorias, numa área total de 9,8 ha. Paraas 290 vacas em lactação, são três estábulos comcapacidade de alojar aproximadamente 140 vacasem cada um, situados à frente de uma área depastejo de 25 hectares em sistema de malhas. Aotodo, 11 malhas de irrigação alimentam dois siste-mas de pastejo – um de gado de recria com bezer-ras e novilhas e outro com animais adultos, comvacas secas e em final de lactação.

Jônadan espera, com este sistema, aumentar ageração de matéria seca em quantidade equivalen-te a 100 hectares de silagem, reduzindo significati-vamente o custo de produção de leite do sistemacompleto atual (cria + recria + produção), quehoje é em torno de R$0,40 o litro de leite. “Em2001, produzimos 14.133 litros de leite por hecta-re, incluindo-se 140 hectares de área de produçãode silagem de milho. Consideramos os númerosaltamente competitivos, mesmo que a margem lí-quida operacional tenha ficado entre 13% e 15%.Neste ano, pretendemos fechar com uma produ-ção um pouco maior, na faixa de 14.700 litros/ha.Na ponta do lápis, ele deverá ser mais competitivoque a cana-de-açúcar, o milho e até mesmo que asoja, a despeito dos seus altos preços atuais”, com-pleta. O mais importante é que a atividade leiteiradeve ser altamente competitiva e lucrativa em facedo custo de oportunidade das culturas menciona-das, e é neste ponto que a tecnologia de irrigaçãode pastagem certamente irá auferir as suas vanta-gens econômicas, proporcionando ao setor de pe-cuária leiteira o merecido destaque nalucratividade da organização como um todo.

Ganhos efetivos sem mágicaEntre os relatos, Adilson Aguiar colocou em

números, durante do XII Conird, um de seus pro-jetos que encontra-se no segundo ano de estádio.Nos primeiros 12 meses de manejo da produçãointensiva em pastagens irrigadas, obteve-se com640 animais, 426 kg de peso médio, com aprovei-tamento da forragem em torno de 39%. A expec-tativa é de que este aproveitamento chegue a 60%.“Até então, o ganho diário por animal foi de 700gramas e a conversão alimentar de 13,5 kg de ma-téria seca para cada quilograma de peso vivo, oque é excelente. Quero chamar a atenção para al-gumas publicações que mostram um ganho em pivôna área irrigada da ordem de 1kg/dia. Este núme-ro é mágico pois a forragem tropical não tem po-tencial para isso. Ela tem proteína para dar esseganho, mas o nível de energia limita os ganhos emtorno de 700 kg/dia”, alertou.

Como exemplo, o profissional da Fazu fez uma

Na fazendaBoa Fé, no

município deConquista, MG,

as pastagensirrigadas fazem

parte dosistema de

produção de7.000 litros de

leite por dia

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4º trimestre 2002 e 1º trimestre 2003 • Nº 56/57 • ITEM 49

simulação onde, se for ofertado 3 kg de matériaseca por 100 kg de peso vivo do animal, este chegaa aproveitar 85% da forragem total. Ao oferecer 6kg, o aproveitamento cai para 50%. Aumentandoeste número para 9 kg, o ganho pode atingir 1 kg,mas o aproveitamento da forragem entra na casados 33%. “Esta situação é desejável em pastagemque não recebe adubação, em sistemas extensivos,em solos pobres. Neste caso, eu exploro o ganhoanimal já que não posso explorar o ganho por hec-tare”, pondera Aguiar.

Para se obter vantagens em áreas irrigadas, aoferta de forragem dificilmente pode passar de 6kg de matéria seca por 100 kg de peso vivo. Nestecaso, o aproveitamento é de 50% e os ganhos depeso ficarão em torno de 700 a 750g, o que, naopinião dos profissionais da Fazu, é o que verda-deiramente pode ser considerado lucrativo.

Aspersão em malha tambémpara grandes produtores

Segundo o professor Luís César Drumond, arecomendação da aspersão em malha, a princípio,era para pequenos produtores. No entanto, algunsproprietários rurais começam a aderir ao sistemaem escalas maiores. O processo de malha difere-se da aspersão convencional, pois toda a tubula-ção é enterrada, numa profundidade que varia de40 a 80 cm, dependendo do trânsito ou não demaquinário no local.

Outra vantagem da malha é a menor intensida-de de aplicação e, conseqüentemente, uma vazãotambém menor de água, utilizando-se de formaotimizada a capacidade de retenção do solo. “Isto éprimordial em qualquer projeto de irrigação. E, nocaso da malha, é mais essencial ainda, porque noconceito de irrigação trabalha-se com uma capaci-dade de retenção de acordo com a profundidadeexplorada pelas raízes”, explica Drumond.

Considerando 60 cm explorados pelas raízes,em média, é possível fazer o manejo com base natensão da água do solo, da evapotranspiração oucombinando ambos. Neste caso, o sistema pode serdimensionado para trabalhar de 8 a 10 horas emcada ponto, permanecendo ligado no período no-turno, mesmo em sistemas trifásicos maiores, coma implantação de um timer.

Em áreas maiores, conforme relatou LuísCésar Drumond, o que tem viabilizado o proces-so de irrigação por aspersão em malha é o desen-volvimento tecnológico nas empresas de irriga-ção. O resultado são aspersores com vazão de 6mil litros/hora em uma pressão de 3 atm e espa-çamento de 900 m².

Seminário: “Produção Intensiva da pecuária leiteirae de corte em pastagens irrigadas”.Maiores informações com o coordenador AntônioBatista Sancevero, engenheiro agrônomo, e-mail:[email protected] .

Já com vários projetos implanta-dos, Adilson de Paula Almeida Aguiare Luís César Dias Drumond, além dodiretor Eduardo Marquez Palmério,apresentaram a estrutura da Fazendada Uniube – com 500 hectares de áreae inúmeros sistemas de produção –,que hoje dispõe de experimentos comgado de leite.

Em esquema de parceria, utilizan-do quase que exclusivamente mão-de-

obra familiar, a Uniube cobra em torno de 20% da rendada produção experimental, aplicando-a na própria terra e

investindo em equipamentos. O produtor, por sua vez, tra-balha em uma área de dez hectares e obtém um lucro líqui-do mensal da ordem de R$2 mil. Isso porque, segundoPalmério, o projeto ainda não chegou ao seu apogeu.

“Não temos em nossa fazenda o gado de corte, pois, acada dia que passa, ele perde mais expressão no TriânguloMineiro. No entanto, nossos projetos em outras áreas nosdão a certeza de que a irrigação tem efeito muito positivotambém no corte. Isso, é claro, se o fazendeiro colocar obezerro recém-desmamado diretamente no capim irrigadoe um ano depois, levá-lo para o abate. Além das vantagensde preço, o retorno sobre o investimento é bem mais signi-ficativo”, pontua Eduardo Palmério.

A experiência da Fazu

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50 ITEM • Nº 56/57 • 4º trimestre 2002 e 1º trimestre 2003

Os aspersores e a engenhosidade do sistema de

LUÍS CÉSAR DIAS DRUMOND

([email protected])

TANTO A IRRIGAÇÃO por aspersão convenci-onal como a de aspersão em malha (tambémconhecida como de tubos enterrados) têm aflexibilidade de maior adaptação à qualquerforma geométrica do terreno. Em decorrên-cia da praticidade, das facilidades de modula-ções e adequações à capacidade de investimen-to de cada empreendedor, observa-se umacrescente expansão do sistema em malha.

O SISTEMA DE ASPERSÃO convencional ne-cessita de mudanças tanto dos aspersoresquanto das linhas laterais. Já no sistema deaspersão em malha, as linhas laterais de deri-vação e principal são enterradas, necessitan-do apenas da mudança dos aspersores e co-locação dos tampões com rosca para vedarcada saída.

OS PROJETOS EM MALHA, com aspersores debaixo e médio alcance, têm espaçamento des-de 12 x 12 m até 24 x 24 m e um homem ope-ra um sistema de até 75 a 100 ha. O equilí-brio de pressão dos pontos que compõem asmalhas é facilmente conseguido com regula-dores de pressão (Figura 1).

PARA PROJETOS COM MINICANHÕES, quesão instalados em espaçamentos que variamdesde 30 x 30 m até 42 x 42 m, onde é comumum homem operar sistemas de 100 a 200 ha,recomenda-se usar aspersores de materialplástico (Figura 2), para evitar desgastes queocorrem nos acoplamentos com o adaptadorde PVC quando da utilização dos aspersoresmetálicos.

FIGURA 1FIGURA 1FIGURA 1FIGURA 1FIGURA 1 – Vista do aspersor e do regulador depressão

FIGURA 2FIGURA 2FIGURA 2FIGURA 2FIGURA 2 – Adriano Camargo, responsável pelo setor de produção leiteirada fazenda Boa Fé: “Uma boa gerência de custos depende dos manejos dairrigação, das adubações e dos animais”

Esses modelos de aspersores (minicanhões)são importados. A falta de reguladores de pres-são para essa faixa de vazão e o preço muito ele-vado, quando disponíveis, são os maioreslimitantes na utilização dos mesmos. Em decor-rência disso, o equilíbrio hidráulico deverá ser re-alizado associando-se a pressão de serviço indicadapara o espaçamento e a vazão adotada no proje-to, com a diferença de nível e perda de carga paracada ponto. Com esse modelo de aspersor, apli-ca-se uma lâmina maior que aspersores utilizadosem projetos de áreas menores. Sendo assim, deve-se conhecer a capacidade de retenção de água nosolo e o balanço hídrico da região. Associandoesses fatores ao consumo de água da forrageiraao longo de seu ciclo nas estações do ano, deter-mina-se o período de irrigação máximo possívelpara cada condição. Após a montagem do proje-to, estabelece-se a forma que será conduzido omanejo racional de água e energia elétrica. É im-prescindível que o produtor tenha um pluviôme-

FOTO HELVECIO SATURNINO

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4º trimestre 2002 e 1º trimestre 2003 • Nº 56/57 • ITEM 51

irrigação em malha

tro instalado próximo a área do projeto. Os métodosque têm sido mais utilizados são:a) temperatura e evaporação de água de tanque

classe A;b) curva de retenção de água no solo e tensiome-

tria;c) estações meteorológicas automatizadas.

O espaçamento entre aspersores a ser adotadono projeto, depende principalmente de condições devento, capacidade de retenção de água no solo evazão disponível para as condições de cerrado, oespaçamento de 30 x 30 metros tem sido bastanteusado, porém isso depende das condições locais decada projeto.

Para melhor controle da irrigação, sugere-se autilização de softwares como o do Sisda.

ELABORADO O PROJETO, a montagem desse sis-tema no campo é relativamente simples mas exi-ge uma cuidadosa e bem supervisionada instala-ção. Os tubos de PVC, que compõem as malhas,ficam enterrados e trabalham com pressões rela-tivamente baixas. Isso diminui os custos, utilizan-do-se tubulações de paredes mais finas e de me-nor diâmetro, dado o requerimento de menorvazão por malha ou linha, pois haverá um asper-sor ou no máximo dois, funcionando por vez emcada malha ou linha com saída interligada.

NOS PONTOS DOS ASPERSORES, assentam-se asestacas de madeira ou outro material, para su-porte aos tubos de acesso à rede subterrânea. Aprofundidade de colocação da malha será fun-ção da cultura e do manejo que se pretenda darao solo. O importante é testar todo o sistema ecorrigir eventuais vazamentos antes de fechar asvalas com terra.

NO CASO DE UMA CULTURA RASTEIRA, comoa do Tifton 85 (Figura 3), os aspersores são colo-cados a cerca de 40 cm em relação ao nível dosolo. Quando se tratar de culturas de porte maiselevado, a exemplo do café, da cana-de-açúcar,do capim elefante etc., deve-se prever um pro-longamento no tubo e o uso de suportes, direta-mente na estaca, visto que o uso de tripé dificul-ta bastante o trabalho da pessoa que opera o sis-tema no campo e isso é realizado de acordo como crescimento das plantas.

O TEMPO DE FUNCIONAMENTO do aspersor porposição irá depender da evapotranspiração, dacapacidade de retenção de água no solo, do es-

tágio de desenvolvimento da cultura que,entre outros fatores, determinam quandoe quanto irrigar.

APÓS COMPLETAR CADA IRRIGAÇÃO,desliga-se a bomba e trocam-se os asper-sores para a outra posição, identificadapor uma mesma cor em cada malha. As-sim, a base do aspersor ou do reguladorde pressão deverá ser pintada com a mes-ma cor da malha que irá irrigar. Isso é bá-sico para facilitar a gerência e a operaçãono campo.

OS REQUERIMENTOS IMPOSTOS pelomanejo da irrigação irão determinar oscustos do projeto hidráulico. Preconiza-sea irrigação de pelo menos duas posiçõespor aspersor/dia: uma funcionando a noi-te e outra de dia. Em cada linha da malha,caracterizada por pontos interligados, po-derá funcionar um ou dois aspersores, de-pendendo do projeto, onde o suprimentode água e de energia estará pesando naspossibilidades de bombeamento e alterna-tivas de benefícios/custos. Quanto maior avazão e a pressão por aspersor maiores se-rão os diâmetros e espessura da parede dastubulações e maior também será a potên-cia instalada de bombeamento. �

FIGURA 3FIGURA 3FIGURA 3FIGURA 3FIGURA 3 – Produção da pastagem irrigada deTifton 85, sob a fiscalização de Nilton Scandiuzzi,Adilson de Paula Aguiar, Luís César Dias Drumonde Jônadan Ma

FOTO LUÍS CÉSAR DIAS DRUMOND

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52 ITEM • Nº 56/57 • 4º trimestre 2002 e 1º trimestre 2003

diversas áreas. Em algumas paisagens de terrasaltas, como as do Oeste baiano, a água subterrâ-nea constitui a única fonte disponível.

A racionalidade no uso das águas dependedo conhecimento técnico da dinâmica dos siste-mas hídricos e do manejo racional e sustentávelde áreas de recarga, fundamentais para garantira sua disponibilidade em quantidade e com qua-lidade.

Nos debates, concluiu-se que outorga e utili-zação dependem da compreensão dos sistemasexistentes, ferramenta fundamental para os ór-gãos responsáveis pela gestão descentralizada eparticipativa exercida pelos comitês de bacias hi-drográficas e pelos conselhos estaduais de recur-sos hídricos.

Critérios e sistemas de uso adotados devemconsiderar a interferência antrópica nas áreas derecarga, onde é essencial a utilização de siste-mas que maximizem a infiltração e, conseqüen-temente, promovam a mitigação da erosãohídrica, tendo como base os princípios do siste-ma Plantio Direto. Esse sistema promove a mí-nima mobilização do solo, rotação de culturas ea manutenção da cobertura permanente do solo.O exemplo da Bacia Hidrográfica do Rio Ara-guari, como fórum apropriado na busca de solu-ção para os conflitos decorrentes dos usos múl-tiplos da água, é importante como modelo paraações em andamento em outras bacias, como ado rio São Francisco, em especial na região doOeste da Bahia, área de recarga do AqüíferoUrucuia.

Sistema PlantioDireto, um parceirodos rios brasileiros

exemplo da região Oeste do estado daBahia, área de contribuição do rio SãoFrancisco (rios Grande e Correntina),

a água subterrânea constitui-se na principal fontede água para diferentes usos, especialmente paraa irrigação. Complementando as fontes de águassuperficiais, o aproveitamento de águas subter-râneas depende de formas econômicas e social-mente viáveis de captação e utilização.

No seminário, foram discutidos a disponibi-lidade, em termos de quantidade e de qualida-de, das águas superficiais e subterrâneas, e osfundamentos técnicos que permitem a decisãosobre o uso racional e sustentável, incluindo as-pectos relativos à outorga e sua utilização, con-siderando-se o crescimento demográfico e a ex-pansão dos agronegócios com suas diversas ca-deias produtivas.

Ênfase especial foi dada ao melhor conheci-mento técnico científico do processo de recar-ga dos aqüíferos, tomando como exemplo a re-gião de Araguari, em Minas Gerais, borda supe-rior do Aqüífero Guarani e área de alta intensi-dade de cultura de café irrigado. Nessa região,90% dos mais de 20 mil hectares de cultura docafé são irrigados.

IMPORTÂNCIA DOS AQÜÍFEROS – A utili-zação de fontes de águas subterrâneas, ao ladodas águas superficiais de rios e represas, é umamaneira prática, econômica e segura para a irri-gação de diversas culturas, especialmente pelamaior, ou mesmo, única forma de captação para

O sistema Plantio Direto, como base para omanejo sustentável das bacias hidrográficas, foi

considerado fundamental para a recarga dosaqüíferos subterrâneos e manutenção das vazões

dos rios ao longo do ano. Esta foi uma dasconclusões do seminário sobre “Uso de Águas

Subterrâneas e Manejo de Bacias Hidrográficas”.

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FOTOS APDC/CAT

Na foto superior, soja e na inferior café, ambas em Plantio Direto. Um sistemaque avança em todas as atividades agropecuárias

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4º trimestre 2002 e 1º trimestre 2003 • Nº 56/57 • ITEM 53

DEGRADAÇÃO DOS SOLOS – As palestrasproferidas mostraram que a importância do ma-nejo integrado em bacias hidrográficas na recar-ga plena dos sistemas hídricos é justificada peloavançado estado de degradação dos solos brasi-leiros devido sua susceptibilidade à erosão. Sobocupação, a degradação do solo é a causa prin-cipal da elevadas perdas anuais de solo (822 mi-lhões de toneladas) e de água (170 bilhões dem3), conforme estimativa apresentada na tabela1. Essas perdas implicam em um impacto de R$13 bilhões/ano, devido às perdas de nutrientes,à depreciação da terra, aos gastos com serviçospúblicos e à reposição de reservatórios provoca-dos pelo assoreamento (Quadro 2).

O planejamento integrado de uso e manejoem bacias hidrográficas é fundamental para a so-ciedade por representar maior disponibilidade emelhor utilização da água, com expressivamelhoria do ambiente. Ficou evidente a necessi-dade da execução de estudos tendo como panode fundo a efetiva integração temática, comoapresentado na figura 1.

Esforços nesse sentido devem envolver estu-dos agro-socioeconômicos, caracterizações, mo-nitoramento edafo-climático, levantamento e ex-pectativa de demanda de uso, permitindo a mo-delagem integrada da exploração de águas sub-terrâneas e superficiais. Esses estudos permitemdescortinar cenários sobre o uso e manejo dosrecursos naturais, visando o desenvolvimentosustentável.

Os participantes do evento, especialmenteprodutores rurais, concluíram que o desenvolvi-mento de estudos integrados no âmbito da ba-cia hidrográfica do rio São Francisco constitui a

QUADRO 1Perda anual de solo e de água por erosão hídrica no Brasil emfunção do tipo de ocupação de solo(Estimativa apresentada por SANTOS & CÂMARA, 20021)

Perda de Solo Perda de Água

Tipo de Área (ha) Média Total Média TotalOcupação t ha-1 ano-1 T ano-1 m3 ha-1 ano-1 106 m3 ano-1

Lavouras 50.104.483 15,0 751.567.248 2.519 126.213Pastagens 177.700.471 0,4 71.080.189 252 44.781Total 227.804.955 --- 822.647.436 --- 170.994

Seminário: “Uso de águas subterrâneas e manejo debacias hidrográficas”.Informações com o coordenador Pedro Luiz de Freitas,engenheiro agrônomo, diretor da Associação do Plan-tio Direto no Cerrado (APDC), e-mail: [email protected], fone: (62) 225.0230; fax: (62) 202.6020.

QUADRO 2Impacto econômico devido a degradação das terras no Brasil(estimativa apresentada em SANTOS & CÂMARA, 20021)

Custos AnuaisImpacto (milhões de reais)

Perda de nutrientes e de matéria orgânica ............. 7.947,00Depreciação da terra .............................................. 4.560,00Tratamento de água para o consumo humano ...... 0,93Manutenção de estradas ....................................... 672,00Reposição de reservatórios por assoreamento ........ 163,60Total ...................................................................... 13.343,53

base necessária para a manutenção da vazão e amitigação dos efeitos da erosão, como a sedi-mentação adiantada dos mananciais hídricos. �

FIGURA 1

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inanciamento de projetos científicose de desenvolvimento tecnológico des-tinado a pesquisas para melhor utili-

zação da água”. Este é o CT-Hidro ou Fundo Seto-rial de Recursos Hídricos do Ministério da Ciênciae Tecnologia, criado através da Lei no 9.993 de 24/07/2000 e regulamentado pelo Decreto no 3.874 de19/07/2001. Seu aporte advém de 4% de compensa-ção financeira das geradoras de energia elétrica.

Apresentado durante a primeira conferência doXII Conird, pela coordenadora setorial de Recur-sos Hídricos e Saneamento da Financiadora de Es-tudos e Projetos do Ministério da Ciência e Tecno-logia (Finep), Irene Guimarães Altafin, o FundoSetorial, em seu primeiro ano de atuação, finan-ciou 123 projetos num total de R$24 milhões derecursos.

“Estamos atentos ao uso da água na irrigação, àgestão dos recursos hídricos. O CT-Hidro insere-seneste contexto, pois objetiva viabilizar pesquisas queinovem, que avancem no conhecimento e que te-nham, sobretudo, potencial de aplicabilidade”, pon-

tuou Irene Altafin, em sua apresentação na confe-rência do dia 10 de setembro.

ComprometimentoO resultado final das pesquisas, segundo a co-

ordenadora da Finep, deverá ser sempre o uso ra-cional da água. Os recursos são aplicados por meiode uma gestão compartilhada entre Ministério daCiência e Tecnologia, Finep, CNPq, Agência Na-cional de Águas (ANA), demais ministérios envol-vidos, setor produtivo, comunidade acadêmica eoutras entidades relacionadas.

Quem se beneficia com o Fundo Setorial assu-me uma contrapartida financeira em torno de 40%,dependendo do porte da empresa, no sentido degerar maior comprometimento entre as partes. Odinheiro retorna para CT-Hidro, aumentando oaporte de recursos para novas pesquisas.

Em 2002, o MCT aplicou cerca de R$28 mi-lhões em pesquisa no CT-Hidro no que diz respei-to à água, totalizando, através de fundos setoriaiscomo CT-Infra, CT-Petro e CT-Energ, financiamen-tos da ordem de R$743 milhões.

Segundo Irene Altafin, este montante destina-do ao CT-Hidro foi dividido, respeitando a diver-sidade e a necessidade de cada área do territóriobrasileiro. Do total, 30% é destinado às regiõesNorte, Nordeste e Centro-Oeste. “Nosso objetivoé incentivar projetos que gerenciem as bacias hi-drográficas, que melhorem a qualidade da água, ahidrologia, a climatologia e viabilizem a reutiliza-ção do recurso. No entanto, sabemos que existemlocalidades com maior demanda de investimentoque outras”, explica.

Maiores informações poderão ser prestadas pela Finep(AGE - Superintendência da Área de Integração Universi-dade Grandes Empresas, DEOP I - Departamento de Ope-rações I, Praia do Flamengo, 200 - 4º andar, CEP 22210-030 - Rio de Janeiro - RJ).

Fonte de financiamentopara pesquisa que

vise a otimização douso da água

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Irene Guimarães Altafin

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a interlocução com o governo da Bahia,observa-se a grande sensibilidade e visãopara o agronegócio com base na agricultura

irrigada e na revitalização hídrica, tendo-o como for-ma de combater a pobreza e caminhar para ciclos deprosperidade.

Ter parceiros atentos para assuntos permanentesdos Conirds, liderando e abraçando a realização desseevento, reivindicando-o e propondo-o para acontecerno período de 26 a 31 de outubro de 2003, em Juazeiro,Bahia, evidencia a liderança que o Estado vem exer-cendo na expansão desse setor.

Trata-se, também, de abrir oportunidades paramais negócios, mais intercâmbios e mais reflexõessobre o papel da agricultura irrigada para o desen-volvimento socioeconômico brasileiro, tendo-se comopalco o Rio São Francisco e o pólo Juazeiro/BA -Petrolina/PE como exemplo das potencialidades exis-tentes em todo o Brasil na utilização compartilhadados recursos hídricos.

Com isso, a ABID estará buscando e exercitandotodas as parcerias e somatórios de esforços, juntan-do-se aos poderes municipais, notadamente o deJuazeiro, sede do evento, a organismos federais aexemplo da Codevasf, Embrapa, CNPq, Finep, de Mi-nistérios como da Integração Nacional, Meio Ambi-ente, Agricultura, Ciência e Tecnologia, universida-des, bem como com o setor privado, com as empre-sas de equipamentos de irrigação, de planejamento eassistência técnica, associações e cooperativas, enfim,articulando-se ao máximo com os setores público eprivado para uma ampla integração tecnológica, co-mercial e social, perseguindo-se sempre o inteligenteuso da água.

O governador do Estado, Paulo Souto, tendo agestão hidrogeológica como forma de impulsionar odesenvolvimento sustentável, conta uma equipe arti-culada para atrair investimentos para o Estado. O se-cretário estadual da Agricultura, Irrigação e Refor-ma Agrária, Pedro de Deus, requer o máximo de aten-ção para o setor, vendo-o como a grande alternativapara ampliar as oportunidades de empregos, comcustos relativamente baratos.

O secretário estadual de Meio Ambiente e Re-cursos Hídricos, Jorge Khoury, salienta o empenhoda Bahia em ser parceiro na realização do XIIIConird, pleiteando-o para o Estado, em trabalho juntocom a ABID. “Trata-se do agronegócio, que quere-mos cada vez mais pujante. O secretário Pedro deDeus, como líder e coordenador desse processo, tem

XIII Conird: uma realizaçãoconjunta ABID e Governo da Bahia

Jorge Khoury:o dinamismo daagricultura irrigada deJuazeiro é o atrativomaior para o XIII Conird

a permanente parceria da nossa equipe para o desen-volvimento sustentável da agricultura irrigada. A re-alização do XIII Conird em Juazeiro é motivo demuito júbilo para todos nós, e haveremos de realizarum grande evento”, enfatiza o Secretário.

Paulo Souto: o governo daBahia tem na agriculturairrigada uma dasprincipais molas paraimpulsionar o progressosocioeconômico

Pedro de Deus:a realização do XIII Conirdé uma importanteconquista e forma demobilizar mais esforçosno setor

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Bahia

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om 28 anos de experiência no assunto eassento no Conselho Estadual de Políti-ca Ambiental (Copam), José Elias da Cu-

nha, diretor de Gerenciamento de Projetos da Ru-ralminas, conhece bem a situação de escassezhídrica imposta a regiões como Norte de Minas eVale do Jequitinhonha, e a importância do papeldesempenhado pelas represas. A partir dos inú-meros debates que tem participado, envolvendoprofissionais de várias especialidades, ele conside-ra ser essa “uma equação difícil de ser resolvida,pois não é fácil nivelar enfoques diferentes sobreuma mesma questão. Para um biólogo, é uma he-resia a intervenção em uma área de proteção am-biental para a construção de um criatório de rãs”.

Nos compromissos de combate a fome e

ao desemprego assumidos pelo governo federal,

a agricultura irrigada tem um importante papel

a cumprir. Mas, para algumas regiões mineiras e

para fazendas nas mais diversas localizações no

Brasil, a nova palavra de ordem passa a ser uma só:

Represar é preciso

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Segundo Elias, o que deveria ser pensado é nodinamismo da vida e na impossibilidade de parali-sação do crescimento populacional. “Temos queconstruir barragens para gerar energia elétrica eter mais água para irrigar. E para se plantar, te-mos que desmatar. Por isso, considero que a saídaé o plano diretor de recursos hídricos de uma ba-cia”, aponta ele.

PROBLEMAS COM SOLUÇÕES – Um plano di-retor de recursos hídricos de uma bacia faz o le-vantamento completo do rio e seus afluentes, des-de a nascente até a foz, mostrando problemas esoluções. “Normalmente, um plano diretor apon-ta as áreas degradadas e o que deve ser feito parasua recuperação; o potencial para a irrigação, as-sociado a um balanço hídrico; ações necessáriaspara não haver contaminação da bacia, para a con-servação de solo, e assim por diante”. Para JoséElias, o caminho do entendimento passa pelos pla-nos diretores, pois em vez de questões pontuais, asituação passa a ser examinada como um todo.“Quando se pensa em bacia hidrográfica, verifica-se um conjunto de ações para que ela sobreviva”.

O estabelecimento de planos diretores de re-cursos hídricos em Minas Gerais teve início, basi-camente, com uma proposta feita pela Ruralmi-nas ao Banco Mundial, para o financiamento deações voltadas para um melhor aproveitamento dasbarragens do Jequitinhonha. Trabalhando na ver-tente do desenvolvimento sustentável, o Bancoconcordou em financiar projetos, desde que fosseelaborado um plano diretor de recursos hídricosdas duas bacias - Pardo e Jequitinhonha.

Acumulando, infiltrando e vertendo água, represas auxiliam o melhor fluxo hídrico ao longo do ano

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O estudo teve a duração de três anos e nas au-diências públicas realizadas, a irrigação foi apon-tada como a principal atividade econômica a serdesenvolvida. Com isso, foi viabilizada a criaçãode quatro pólos de irrigação envolvendo as duasbacias, com a implantação dos projetos Bananal,Caraíbas e Calhauzinho. Através dos distritos deirrigação, os produtores da chamada agriculturafamiliar irão trabalhar com escala, em todas as ati-vidades, desde a compra do adubo até acomercialização, o que dará outra dimensão e sus-tentação ao projeto.

Outro exemplo é o plano diretor da bacia doRio Verde/Grande, que apontou a construção dereservatórios como solução para o aumento daoferta de água e meio de sanear os conflitos deágua existentes na região.

Já o plano diretor da Bacia do São Francisco,recentemente concluído e cuja elaboração custoucerca de R$ 40 milhões, representa investimentosestimados de R$ 1,5 bilhão em ações a serem de-senvolvidas. Estão sendo finalizados os estudos re-ferentes ao plano diretor do Baixo Rio Grande,cujos recursos foram recentemente viabilizadosdentro da própria Ruralminas.

“Basicamente, 70% dos rios do estado de Mi-nas Gerais encontram-se cobertos por planos di-retores, faltando apenas as bacias do Leste que en-volvem os governos da Bahia e do Espírito Santo ea bacia do Rio Paranaíba, que envolve os governosdo Mato Grosso, Goiás e Distrito Federal”, garanteJosé Elias.

TROCA DA MISÉRIA PELA ESTABILIDADE –Municípios localizados nas bacias dos Rios Pardoe Jequitinhonha estão trocando situações de mi-séria total pela estabilidade e produção, graças àagricultura irrigada. “Uma série de barragensconstruídas pela Cemig, há alguns anos, garantiuo desenvolvimento de projetos, que estão de acor-do com as idéias defendidas pelo presidente da Re-pública, de apoio à agricultura familiar”, cita JoséElias da Cunha.

Atualmente, estão identificados quatro pólosregionais para o desenvolvimento da agriculturairrigada, perfazendo cerca de 30 mil hectares emSalinas, Araçuaí, Machado Mineiro e Almenara,que, certamente, irão modificar o panoramasocioeconômico da região, através da geração deemprego e renda e da elevação da qualidade devida das comunidades locais. O primeiro dessespólos, o de Salinas, já é citado como exemplo des-sa mudança e deverá ser totalmente implantadoem 2003.

Além disso, o represamento também contribuipara a perenização e regularização do fluxo daságuas de rios. Araçuaí, por exemplo, antes da cons-trução da represa no Rio Calhauzinho, passou porsérios problemas de enchentes, que provocaram,inclusive, a mudança do centro comercial local parauma área mais alta. Segundo Argileu Martins da

Silva, diretor técnico da Empresa de AssistênciaTécnica e Extensão Rural de Minas Gerais(Emater-MG), a intervenção ambiental tornou-senecessária, como forma de garantir às gerações fu-turas a qualidade de vida almejada para o presen-te. “E isso requer a aplicação de tecnologia, análi-ses e estudos existentes hoje sobre os impactos pro-vocados por essa intervenção”, complementa ele.

A transformação provocadapelas represas

A Emater/MG, através de contrato com con-sórcios construtores e com a própria Cemig, vemdesempenhando um importante papel no reassen-tamento de famílias que, devido à construção derepresas no território mineiro, são obrigadas a des-locarem de suas moradias. Um exemplo é o traba-lho junto à represa de Irapé, que está sendo cons-truída no Rio Jequitinhonha.

A represa de Irapé irá trazer inúmeros benefí-cios para a região, entre eles:• permitir a regularização do fluxo de água do Je-

quitinhonha;• viabilizar sistemas de produção na região, que

antes eram inviáveis por falta de energia;• trabalhar a questão do garimpo predatório pra-

ticado a montante do eixo da barragem;

Irapé entra em operação em agosto de 2005

A barragem de Irapé, que dará origem à hidrelétrica daUsina Presidente JK, está sendo construída entre os municípi-os de Berilo e Grão Mogol, às margens do Rio Jequitinhonha,e vem sendo considerada a maior obra de todos os temposimplantada no Vale.

Segundo a Cemig, a barragem terá um reservatório de 13.716hectares, acumulando um volume útil de 3,696 milhões de metroscúbicos de água. Sua altura será de 205 metros e o comprimen-to total da crista de 551 metros. A potência instalada será de360 MW, podendo abastecer uma cidade de 1 milhão de habi-tantes ou vários pequenos municípios.

O cronograma de obras prevê o início das operações daprimeira unidade geradora em agosto de 2005, sendo que asduas outras turbinas entrarão em operação em outubro e de-zembro do mesmo ano.

Foram identificados 754 imóveis que serão inundados pelofuturo reservatório. As famílias ali residentes serão deslocadaspara projetos de reassentamento a serem implantados nos pró-prios municípios atingidos, no Vale do Jequitinhonha ou, atémesmo, em outro local do estado de Minas Gerais, que dispo-nha de condições adequadas para esse tipo de projeto.

O custo total do projeto está orçado em R$ 744 milhões e abarragem destina-se à geração de energia elétrica. Adicional-mente, a operação do reservatório servirá para a regularizaçãodas vazões do Jequitinhonha e contenção de cheias.

4º trimestre 2002 e 1º trimestre 2003 • Nº 56/57 • ITEM 57

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• possibilitar a implantação de projetos derecomposição de área de recarga e de mataciliar para impedir o assoreamento do rio; e,• utilizar a água para produção e geraçãode emprego numa região vocacionada paraa agropecuária e, em especial, para a produ-ção irrigada de frutas.

Os possíveis impactos negativos provoca-dos pela intervenção no ambiente já foramdevidamente dimensionados e podem serminimizados com a ação do Estado, sob a fis-calização do Ministério Público. “A barragemde Irapé poderá trazer mais benefícios do queprejuízos, desde que haja compreensão de secriarem condições adequadas e propíciaspara as famílias locais. Com isso, teremos alium benefício para a sociedade, como umtodo”, afirma o diretor da Emater.

Atualmente, existem 3 mil homens traba-lhando na implantação do projeto na região.Estão sendo mantidos entendimentos com oconsórcio responsável pela construção darepresa, para que as refeições consumidas poresses trabalhadores sejam fornecidas pelaprodução local, impulsionando a economiaregional e deflagrando-se o sistema de pro-dução intensiva.

SUSTENTABILIDADE COM RESPONSABILIDA-DE – Em regiões de Minas Gerais, como Norte,Nordeste e parte do Jequitinhonha/Mucuri, o ci-clo de chuvas está concentrado em, no máximo,quatro meses ao ano. Grandes cursos de água comoos Rios São Francisco, Pardo, Mucuri e Jequiti-nhonha fazem parte da geografia local. A precipi-tação pluviométrica varia de 700 a 1.100 mm, de-pendendo da interferência do ciclo de seca e demicroclimas. Para essas regiões, não é possível aprodução competitiva de alimentos sem o uso dairrigação, havendo necessidade de se acumularágua.

“Se isso não for feito, a sobrevivência de 2,5milhões de famílias estará comprometida”, consi-dera Argileu, que encara a questão do represamen-to da água como uma estratégia para propiciar con-dições para produção de alimentos, de segurançaalimentar e de geração de renda e de emprego.Outras condições climáticas, como pouca chuva ebaixa umidade do ar, favorecem o cultivo irrigadoe a produção de culturas, às vezes com mais deuma safra anual, principalmente de frutas, com umgrau de brix elevado e baixo índice de doençasfúngicas.

“Então, é importante transformar em vantagemuma situação climática de aridez. E pode-se fazerisso, através do represamento e da acumulação daprecipitação. A intervenção do homem pode serbenéfica, desde que feita com responsabilidade,analisando-se os fatores ambientais e o impactoprovocado”, afirma o dirigente da Emater.

PEQUENOS BARRAMENTOS – As primeiras ex-periências da acumulação e captação de água empequenos barramentos foram desempenhadas pelaassistência técnica mineira em municípios comoVarzelândia (Norte de Minas), Chapada do Nortee Berilo (Jequitinhonha/Mucuri) e outras locali-dades, onde, junto com o Estado e às vezes com ogoverno federal, os municípios têm feito investi-mentos com diferentes objetivos. Entre eles, o deacumular água para garantir a recarga de lençóisfreáticos e artesianos, além de viabilizar a perma-nência de famílias no meio rural.

No município de Vazante (Norte de Minas), aEmater, ao lado da prefeitura e outros órgãos mu-nicipais, desenvolveu um trabalho no curso d’águaque abastece a cidade, com a construção de umasérie de barragens no entorno e próximas à nas-cente do rio.

Em outro município, Águas Vermelhas, na mes-ma região, foram construídas nove barragens, comlâminas d’água com um pouco mais de um hecta-re, ao longo do curso do Rio Pati, iniciativa quecontou com a participação direta da Ruralminas.O rio, que era intermitente, tornou-se perene e,nas margens dessas barragens, passou-se a prati-car a horticultura, com a utilização de microasper-são, cuja produção vem sendo comercializadanuma feira livre local.

Como chegar a um consenso nasquestões de meio ambiente?

A partir das atuais discussões entre os setoresprodutivo e ambiental, constata-se a existência deum conflito no estado de Minas Gerais em relaçãoa várias questões de interesse das duas áreas. Odiretor-técnico da Emater-MG, Argileu Martins daSilva, considera o fato uma realidade importantepara se atingir uma maturidade de informação econceituação sobre questões ambientais e de pro-dução.

“O conflito é necessário para a construção deuma proposta de desenvolvimento e métodos deprodução que sejam bons para todo mundo”, afir-ma ele, acreditando ser possível produzir com sus-tentabilidade no Brasil, a partir das tecnologias jádesenvolvidas. “Basta que as pessoas, Estado e so-ciedade, consigam compreender e enxergarconceitualmente o todo”, pondera ele.

SISTEMA PLANTIO DIRETO – A questão da secano Estado está fazendo parte da pauta de váriosdebates conduzidos no Vale do Jequitinhonha eNorte de Minas, com o enfoque na necessidade derecomposição e manutenção dos lençóis. Cerca de50% da área do solo mineiro está coberta por pas-tagens, a maior parte degradada, que necessita deuma estratégia bem planejada no processo de re-cuperação.

Argileu Martins da Silva

José Elias da Cunha

FOTOS GENOVEVA RUISDIAS

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Com a elaboração do plano diretor de recursos hí-dricos para os vales dos Rios Jequitinhonha e Pardo(Planvale), foram identificados quatro pólos regionaispara o desenvolvimento da agricultura irrigada, locali-zados nos municípios de Salinas, Araçuaí, Machado Mi-neiro e Almenara. Serão cerca de 30 mil hectares dispo-níveis nos chamados Pólos de Desenvolvimento da Agri-cultura Irrigada dos Vales do Jequitinhonha e Pardo (PDI-Jepar), que darão a chance de transformação do antigo“vale da pobreza” numa região de produção agrícola.

O perímetro de irrigação em fase mais adiantada éo de Salinas, com a implantação do projeto Bananal.Está com infra-estrutura viária pronta e vai ocupar umaárea de 1.131 hectares. Estão sendo construídas, ao lon-go do Rio Bananal, 30 barragens denominadas galgárias(são pequenas captações laterais para os diversos lotesdo perímetro, onde a água perpassa o nível da barra-gem), destinadas a diminuir o assoreamento provoca-do por partículas de material sólido, que poderão dani-ficar as bombas de irrigação.

Deverá ser mantida a mesma divisão fundiária exis-tente, com lotes numa extensão máxima de 15 hecta-res, destinados à prática da agricultura familiar. As 190propriedades existentes no projeto dedicam-se atual-mente ao cultivo irrigado da cana-de-açúcar e à produ-ção de cachaças de marcas já bastante conhecidas nomercado.

Araçuaí é o segundo perímetro em andamento e de-verá abrigar o projeto Calhauzinho, numa área de 930hectares. Um terceiro projeto, Caraíbas, com 250 hec-tares, deverá ser instalado em Ruberlita, todos seguin-do a mesma linha adotada no projeto Bananal.

A Universidade Federal de Viçosa, através da Fun-dação Arthur Bernardes, responsabilizou-se pela elabo-ração dos estudos referentes a questõessocioeconômicas, de água e de solo. Através do pro-grama PDI-Jepar, espera-se a criação de 30 mil empre-gos diretos e indiretos e uma produção anual de ali-mentos de 128 mil toneladas, gerando uma receita de64 milhões de dólares.

Os dois últimos pólos, de Machado Mineiro e deAlmenara, encontram-se somente em fase de planeja-mento, dependendo da sensibilização dos novos gover-

nos federal e estadual para a obtenção de recursos. Oúltimo levantamento feito pela Ruralminas apontou se-rem necessários US$ 346 milhões em projetos e obras,segundo José Elias da Cunha, diretor de Gerenciamen-to de Projetos, para implantação de todo o programa.

Uma das vertentes do trabalho da Ruralminas estávoltada para a mecanização agrícola onde, devido a cus-tos de máquinas mais atrativos do que os cobrados pelomercado, as prefeituras municipais têm solicitado os ser-viços da instituição.

Com objetivos que vão desde perenizar rios, amor-tecer cheias, abastecer de água, até a prática da pisci-cultura, a parceria resultou, em 2002, na construção de164 pequenas barragens, 180 açudes e 214 tanques depiscicultura.

A represa, como forma de armazenar e conservarágua, deixou de ser apenas uma questão de opção epassou a ser uma necessidade, principalmente em regi-ões onde o ciclo da chuva está concentrado em deter-minados meses do ano, cosnidera Argileu Martins daSilva, diretor técnico da Emater/MG, referindo-se, prin-cipalmente, às regiões Norte, Nordeste e a que englobao Vale do Mucuri. “Como estamos destruindo e não con-servando as áreas de recarga, a tendência é de diminui-ção do volume dos cursos d’água. Quem imaginava, há20 anos, que teríamos problemas de abastecimento deágua para consumo da população em Uberaba? “ques-tiona o técnico.

Ma Tien Min, produtor rural e presidente da Funda-ção Triângulo, que tem um programa cooperativo depesquisas agrícolas na região, considera fundamental,para a agricultura (explorações vegetais e animais), aconstrução de represas em propriedades rurais. O pro-dutor conta com duas represas na propriedade do Gru-po Boa Fé, em Conquista/MG, que permitem a irrigaçãoem períodos de estiagem, sem comprometer o cursodas águas, pois a reserva garante o fluxo normal do rio.“A irrigação não faz o papel de Deus, mas permite usarmelhor os recursos que Ele nos dá e para isso é impor-tante o represamento de águas”, considera ele. Mindefende um plano geral de construção de represas, cominvestimentos voltados para melhor dimensionamentoe utilização dos recursos hídricos.

Para a diretoria técnica da Emater-MG, o sis-tema Plantio Direto contribui para a questão daágua, por impactar menos o solo, permitir umainfiltração mais adequada da chuva. Em especi-al, na produção de grãos e rotação de culturas,incluindo-se aí a rotação com as pastagens e suarecuperação.

Entende também que o empobrecimento e adescapitalização generalizada dos produtores ru-rais demanda uma maior compreensão por parte

do governo, que deverá passar pela securitizaçãoe negociação de dívidas, colocando o setor em con-dições de investir para produzir melhor, dada aimportância estratégica do segmento para a balan-ça comercial e geração de empregos. “Para umamaior adoção de uma tecnologia como a do siste-ma Plantio Direito, para reverter esse quadro dedegradação, como um exemplo, o produtor preci-sa estar motivado e capitalizado adequadamente”,conclui Argileu Martins da Silva. �

PDI-Jepar, a possibilidade de produção, empregoe renda no vale da pobreza

4º trimestre 2002 e 1º trimestre 2003 • Nº 56/57 • ITEM 59

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construção de barragens e de seus reservatórios de contenção de água, comoqualquer outra atividade humana, é ge-

radora de impactos ambientais. Há de se atentar,no entanto, que os impactos ambientais decorren-tes desses empreendimentos são, na maioria dasvezes, diretamente proporcionais à área inunda-da. A formação de um reservatório de água para aprodução de energia elétrica não deve ser avalia-da da mesma forma que a construção de um reser-vatório para abastecimento público ou para aviabilização da atividade agropecuária, principal-mente projetos de irrigação.

O atendimento da demanda de água para abas-tecimento público é outro exemplo de benefíciomaior do que o custo ambiental, uma vez que oimpacto da falta d’água nas cidades e indústrias émuito grande.

A sustentabilidade da agropecuária, na maiorparte das propriedades agrícolas, é dependente dareservação de água para uso em períodos de es-cassez, o que é geralmente resolvido com a cons-trução de pequenos reservatórios. Caso inviabilizeo armazenamento de água nas propriedades agrí-colas, é evidente que deverão ocorrer outros im-

Impactos decorrentes da construção dereservatórios para acumulação de água

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Os impactos ambientais decorrentes da construção de barragens são, na maioria dasvezes, proporcionais às áreas inundadas.

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Construída no local onde havia um atoleiro, a barragem da fazenda Boa Fé, no município de Conquista, MG, garante a produção agropecuária durante todo o ano

FOTO ARQUIVO DA VALMONT

ANTÔNIO TEIXEIRA DE MATOS, DEMETRIUS DAVID DA SILVA

E FERNANDO FALCO PRUSKI

PROFESSORES DO DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA AGRÍCOLA E AMBIENTAL

UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA

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pactos de maior dimensão, tais como: aumento damiserabilidade e do êxodo rural e, com ele, todosos problemas associados, como diminuição da pro-dução de alimentos, inflação, inchamento das ci-dades, diminuição da qualidade de vida, aumentoda violência etc.

Os impactos provocados por pequenos reser-vatórios geralmente são de pouca expressividadeperante os benefícios que eles podem proporcio-nar. Dessa forma, considera-se necessária a revi-são de alguns conceitos e até mesmo da legislação,de forma que desmistifique e viabilize, quando ocusto ambiental for menor que o benefíciosocioeconômico, a construção de reservatóriospara acumulação de água. Assim, nada mais perti-nente que estimular e facilitar o trabalho de cons-trução de barragens nas fazendas, para conserva-ção de água e solo, melhorando a recarga das ba-cias hidrográficas e o fluxo hídrico ao longo do ano,viabilizando projetos de irrigação, para maior pro-dução de alimentos e geração de empregos. Quan-to maior for o armazenamento de água nas pro-priedades, maiores serão os benefícios para a soci-edade, incluindo-se aí maiores possibilidades deoutorgas a jusante. Considera-se, portanto, que, aocontrário do que se apregoa, um programa de es-tímulo à construção de pequenas barragens deveser implementado em favor dos produtores, de for-ma que venha transformá-los também em “produ-tores e conservadores” de água.

Com o intuito de tentar ser menos parcial, pre-tende-se, neste texto, apresentar uma discussãotanto sobre os aspectos positivos como negativosassociados à construção de barragens.

1. IntroduçãoO termo barragem pode ser definido como o

elemento estrutural construído transversalmenteà direção do escoamento de um curso d’água, for-mando um reservatório artificial, com a finalidadede acumular ou elevar o nível da água. As barra-gens podem ser de terra, pedra ou enrocamento,alvenaria, concreto ou mista. A escolha do tipo dematerial a ser empregado na barragem dependedas condições geológicas e geotécnicas do localonde será construída, do material disponível paraemprego na construção, da disponibilidade de re-cursos para a obra etc.

Entre as finalidades da construção de diques ebarragens estão a geração de energia elétrica, ocontrole de enchentes e regularização de vazões, anavegação, o abastecimento doméstico, a irriga-ção, a dessedentação de animais, a piscicultura, opaisagismo e a recreação. Para possibilitar que es-ses objetivos sejam alcançados, as barragens deve-rão garantir um volume ou nível de água suficien-te para cumprir as necessidades requeridas para oreservatório formado. Deve ser assegurada uma

profundidade mínima para a navegação; o forne-cimento contínuo de vazão para a geração de ener-gia elétrica, abastecimento público ou irrigação; oacúmulo de um volume de água para o desenvolvi-mento de piscicultura, atividades recreativas oupaisagismo local; ou ainda proporcionar a conten-ção de um volume de água disponível que poderiaprovocar enchentes a jusante.

Há muito se reconhece a importância da cons-trução de barragens com o fim de viabilizar o abas-tecimento doméstico e industrial, a geração deenergia elétrica, a produção agrícola e a criaçãode animais. Porém, nos últimos tempos, acalora-das discussões têm ocorrido por ocasião do plane-jamento de novas obras. É sabido que expressivosimpactos ambientais podem advir da construçãode barragens e da conseqüente formação dos re-servatórios de acumulação. Entretanto, freqüen-temente os aspectos positivos têm sido ignoradosou relevados, dando-se ênfase exclusivamente aosaspectos negativos associados a essas obras.

2. Impactos positivos advindosda construção de barragens

REGULARIZAÇÃO DA VAZÃOA grande variabilidade temporal das vazões

evidenciadas em um rio tem como resultado a ocor-rência de excessos nos períodos mais úmidos e acarência nos períodos secos. Em virtude disso, aregularização é de extrema importância, uma vezque, quando o aproveitamento dos recursos hídri-cos prevê a retirada de uma vazão maior que amínima, torna-se necessária a acumulação dos ex-cessos para atender aos períodos cujas vazões na-turais são menores que aquelas derivadas. Estaacumulação de água é obtida exatamente a partirda construção de barragens que permitem areservação de água nos períodos chuvosos, visan-do o uso nos períodos de estiagem, quando geral-mente a demanda de água é máxima nos diversossegmentos, nitidamente pela agricultura irrigada,o principal usuário de água, tanto no Brasil comono mundo.

RESERVAÇÃO DE ÁGUA PARAABASTECIMENTO PÚBLICO E INDUSTRIAL

Considera-se, em média, ser necessário o for-necimento diário de 200 litros por habitante parasatisfação das necessidades cotidianas. O consu-mo na indústria é muito variável, dependendo dotipo de produto e do processo empregado. A títu-lo de exemplo, usinas sucro-alcooleiras utilizamentre 150 e 300 m3 de água por tonelada de cana-de-açúcar processada, enquanto em indústrias decelulose e papel o consumo é de 20 a 450 m3 portonelada de polpa produzida. Caso não sejamconstruídos reservatórios para fornecimento deágua para esses fins, haverá, nos períodos mais se-

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cos do ano, problemas de fornecimento podendoprovocar queda na produção e, por conseqüência,desemprego.

ATENUAÇÃO DOS DANOS DECORRENTES DEUMA CHEIA

Existem diversas medidas possíveis para com-bater os efeitos decorrentes do excesso de água nosrios e para reduzir os riscos de enchentes. O termoatenuação visa enfatizar que raramente é possívelexercer um controle pleno sobre as cheias, buscan-do-se normalmente reduzir os danos decorrentesdestas. Uma cheia é o resultado do escoamentosuperficial em uma quantidade que não pode sertransportada pelo leito do rio, sendo, a construçãode reservatórios de regularização das vazões, umadas medidas disponíveis para atenuar os danos cau-sados às áreas marginais aos rios. A onda de cheiaao entrar no reservatório sofre uma variação noseu comportamento, modificando a altura da lâ-mina acumulada e, conseqüentemente, o volumede água acumulado e a área da bacia de acumula-ção, promovendo um retardamento na hidrógrafade saída.

VIABILIZAÇÃO DA AGRICULTURA EPECUÁRIA

A construção de barragens é também positivaem regiões nas quais, em determinados períodosdo ano, os cultivos agrícolas exigem suplementa-ção de água via irrigação, e a disponibilidade deágua para a dessedentação de animais é baixa;

CRIAÇÃO DE AMBIENTE FAVORÁVEL AODESENVOLVIMENTO DA PISCICULTURA

A prática da pesca pode tornar-se fonte impor-tante de renda ou atividade esportiva, podendogerar emprego para a população ribeirinha;

DISPONIBILIZAÇÃO DE ÁGUA PARAANIMAIS DOMÉSTICOS E SILVESTRES

O acesso à água de lagos, represas e açudes é,geralmente, mais fácil do que nos cursos d’água,muitas vezes encaixados em vales de difícil acesso,ou que têm a vazão muito reduzida em períodosde seca;

AUMENTO DA RECARGA DE ÁGUASUBTERRÂNEA E ELEVAÇÃO DO NÍVELFREÁTICO

A manutenção de uma carga hidrostática maiselevada sobre o terreno e o aumento da área parainfiltração proporcionam maior recarga de águaem direção aos mananciais subterrâneos. O abas-tecimento de aqüíferos subterrâneos é fundamen-tal para aumentar o escoamento de base,minimizando oscilações de vazão em cursos d’águasuperficiais.

Com a elevação do nível freático, poderá ha-ver maior disponibilização de água para as plan-

tas, por efeito de ascensão capilar, além de possi-bilitar fluxo de água subterrânea suficiente para amanutenção da vazão e perenização de pequenoscórregos sob influência dessas águas freáticas.

A conservação de água na propriedade, possi-bilitando o aumento na “produção” de água nabacia hidrográfica, torna-se significativa se, nosdrenos naturais de escoamento de chuva, foremconstruídas barreiras que impeçam a rápida saídade água da bacia. Por isso, a construção de barra-gens e de seus respectivos reservatórios de conten-ção tem sido considerada uma das técnicas maiseficazes para o aumento da retenção (abstraçãosuperficial) de água na bacia hidrográfica, possibi-litando, com isso, o aumento da vazão de base.

RESERVATÓRIOS PODEM FACILITAR A DEPU-RAÇÃO DE ÁGUAS POLUÍDAS

O represamento da água proporciona tempode detenção da água suficiente para que ocorra asedimentação de partículas que estavam em sus-pensão, diminuindo a turbidez das águas e, comisso, os custos de seu tratamento com vistas àpotabilização ou uso industrial. Além disso, casoas águas tenham em suspensão material orgânico,proveniente de lançamento de esgotos domésticos,industriais ou de atividades agropecuárias, os re-servatórios passam a funcionar como grandes la-goas de estabilização, onde algas, aproveitando-seda disponibilidade de nutrientes em solução e daluz solar, liberam oxigênio como produto dafotossíntese; microrganismos aeróbios, em virtu-de da disponibilidade de oxigênio dissolvido nomeio, degradam o material orgânico em suspen-são, possibilitando, assim, a depuração da água. Deforma semelhante, ocorre a diminuição da conta-minação das águas com bactérias provenientes dotrato intestinal de animais de sangue quente, o queindica diminuição dos riscos de veiculação hídricade doenças.

A avaliação sistemática de amostras de água,coletadas a montante e a jusante de reservatóriosformados para produção de energia elétrica, temcomprovado redução da concentração de materi-ais em suspensão nas águas, da demanda biológicade oxigênio (DBO), da concentração de metaispesados e de contaminação com bactérias do gru-po coliformes fecais.

A regularização das vazões também favorece adiluição de esgotos nos períodos de estiagem, o quedeve proporcionar redução do impacto desses lan-çamentos na qualidade do curso d’água a jusante.

CRIAÇÃO DE PONTO DE LAZER ERECREAÇÃO

Os reservatórios e açudes, formados com o bar-ramento de cursos d’água, geralmente tornam-secentro para práticas esportivas e de lazer e podeser o local explorado com atividades econômicas,podendo gerar, inclusive, empregos.

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MELHORIA NO MICROCLIMA LOCALA água, em virtude de seu elevado calor espe-

cífico, atua como importante fator de equilíbrioambiental, concorrendo para que haja diminuiçãoda oscilação térmica diária e anual e aumento daumidade relativa do ar, aspecto favorável para re-giões de clima seco (esse foi um dos objetivos daconstrução, por exemplo, do lago Paranoá, no Dis-trito Federal).

3. Impactos ambientaisnegativos e medidasmitigadoras e compensatóriasSabe-se que barragens, mesmo sendo projeta-

das dentro das técnicas modernas, provocam im-pactos ambientais negativos. Por esta razão, naconcepção e dimensionamento, na implantação ena operação de barragens, o empreendedor deveadotar uma série de medidas para evitar e/ou ate-nuar impactos ambientais negativos. Neste item,estão listados os principais impactos negativos daimplantação de uma barragem e seu respectivoreservatório, procurando-se apresentar de que for-ma o problema pode ser minimizado ou mitigado.

3.1. Meio físicoPERDA, DE FORMA IRREVERSÍVEL,DAS ÁREAS INUNDADAS

A área inundada por reservatórios de grandesespelhos d’água pode inutilizar, para fins agríco-las ou outras atividades, áreas expressivas. Entre-tanto, torna-se importante ressaltar que partesantes não exploradas ou de baixo valor comercialna propriedade poderão ser incorporadas ao pro-cesso produtivo, se for considerado que o insumo

água, pouco utilizado anteriormente por razõeseconômicas (custo de bombeamento), estará maispróximo e poderá ser usado com custo mais baixo,na irrigação. Dessa forma, a relação custo-benefí-cio do investimento na correção do solo e fertili-zação poderá tornar-se mais favorável.

DEGRADAÇÃO DE ÁREAS USADAS PARA OEMPRÉSTIMO E O DEPÓSITO DE MATERIALROCHOSO E DE BOTA-FORAS PARA A CONS-TRUÇÃO DA BARRAGEM

Essas áreas são terrenos alterados pela remo-ção da cobertura vegetal, compactação do solo edisposição de rejeitos da construção.

Para mitigação dos impactos causados por áre-as de empréstimo, sempre que possível, deve-seoptar por locais que futuramente estarão dentroda área a ser inundada, evitando-se impactosambientais negativos sobre a paisagem.

Para a recuperação das áreas de empréstimo,o terreno deve ser remodelado, atenuando-se ta-ludes íngremes e suavizando formas retilíneas, demodo que reintegre o local à paisagem e evite, aomesmo tempo, o desenvolvimento de processoserosivos. O recobrimento da superfície com a ca-mada de solo removido, quando no início da ex-ploração da área, é também medida fundamental.

INSTABILIDADE DOS TALUDES MARGINAISDO RESERVATÓRIO

A estabilização dos taludes marginais do reser-vatório deverá ser feita para que não ocorradesbarrancamento das encostas e, com isso,assoreamento do leito do reservatório e prejuízosà paisagem e à recuperação da mata ciliar.

O uso de técnicas de engenharia e o plantio deespécies de sistema radicular profundo e difusodevem ser suficientes para o controle dedeslizamento de encostas marginais.

Na fazendaBoa Fé, aexploraçãoagropecuáriaem harmoniacom a represa ea recomposiçãoflorística,favorecendoum novoequilíbrioambiental

FOTO HELVECIO SATURNINO

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RISCOS DE EUTROFIZAÇÃO DA ÁGUAA presença de grandes quantidades de nutri-

entes nos reservatórios pode provocar impactoscom conseqüências graves, especialmente em áre-as de clima quente, onde ocorre rápido e forte cres-cimento de algas e plantas aquáticas superiores,que consomem o oxigênio dissolvido na água, po-dendo dificultar o aproveitamento da água, prin-cipalmente para o caso de barragens com fins deabastecimento público e piscicultura.

O controle da eutrofização das águas é reco-mendável não só para reservatórios, mas tambémpara cursos d’água, e deve estar fundamentadono impedimento do lançamento de efluentes ricosem fósforo e nitrogênio (esgotos domésticos, águasresiduárias agroindustriais, de criatórios de animaise de escoamento superficial de áreas agrícolas fer-tilizadas) nas águas. A conscientização da popula-ção quanto aos riscos do lançamento de resíduosorgânicos na água, quanto à forma correta de apli-cação de fertilizantes e de disposição de águasresiduárias no solo, o tratamento de efluentes antesdo seu lançamento no reservatório e o refloresta-mento das margens do lago são medidas necessári-as para que o problema possa ser minimizado.

AUMENTO DO POTENCIAL EVAPORATIVO DAÁGUA (principalmente em regiões áridas esemi-áridas)

A construção de reservatórios de acumulaçãoprovoca, devido ao crescimento da evaporação de-corrente do aumento da superfície líquida sujeitaao processo evaporativo, uma redução da vazãomédia de longa duração do rio a jusante do localem que ocorre o barramento, o que, aparentemen-te, causa prejuízos aos demais usos.

A análise dos efeitos advindos da construçãodo reservatório de Sobradinho, situado no Rio SãoFrancisco, indica perdas por evaporação da ordemde 200 m3/s. Obviamente isso representa uma abs-

tração no volume total de água que escoa a jusantedo barramento. Comportamento que induz, natu-ralmente, a um entendimento de que grandes pre-juízos estão associados à construção do reservató-rio. A análise mais detalhada desse comportamentopermite evidenciar, entretanto, um aumento decerca de 500 m3/s na vazão média mensal do mêsmais seco e uma redução da ordem de 1.000 m3/sna vazão média mensal do mês mais chuvoso, fa-tos que conduzem, inevitavelmente, a umquestionamento: “O efeito negativo da redução davazão média de longa duração em cerca de 200 m3/s não seria compensado pelo aumento de 500 m3/sna vazão média mensal do mês mais seco, quandohá justamente maior necessidade de água por di-versos dos setores usuários, e pela redução da or-dem de 1.000 m3/s na vazão média mensal do mêsmais chuvoso, exatamente quando as vazões exces-sivas podem conduzir a problemas de enchentes?”.Talvez a resposta a esta questão ainda não pareçaóbvia a muitos, mas sem sombra de dúvidas é algoque precisa ser mais bem discutido pela socieda-de, dentro da ótica de gestão dos recursos hídricosque está sendo proposta pela Lei no 9.433 e quepermite uma participação efetiva e democráticados diversos segmentos da sociedade.

ELEVAÇÃO NO NÍVEL DO LENÇOLFREÁTICO DE ÁREAS A MONTANTE DORESERVATÓRIO: PROBLEMAS SANITÁRIOS DECONTAMINAÇÃO COM MATERIAL DE FOS-SAS SÉPTICAS, ATERROS SANITÁRIOSE CEMITÉRIOS

A elevação do nível do lençol freático, causa-do pela elevação do nível d’água no reservatórioformado, poderá provocar, em algumas situações,risco de contaminação de águas freáticas com ma-terial fecal de fossas sépticas, aterros sanitários ecemitérios que se encontrem a montante da bar-ragem.

RISCO DE PRODUÇÃO DE METANO QUECAUSA PROBLEMAS DE EFEITO ESTUFA

Caso não haja a retirada da mata de áreas a serinundadas, além dos prejuízos à navegação e àpesca, o risco de danos, por agressão química, àsturbinas (em caso de hidrelétricas) e à estruturada barragem, poderá haver putrefação do materi-al orgânico no fundo do reservatório, podendoocorrer a geração de gás metano, um dos respon-sáveis pelo efeito estufa no planeta.

Para prevenir esses problemas, a área a ser inun-dada deve ser totalmente limpa, promovendo-se aeliminação da vegetação e de outras possíveis fon-tes de nutrientes para as águas. A legislação brasi-leira (Lei no 3824, de 23 de novembro de 1960)obriga a destoca e a conseqüente limpeza das ba-cias hidráulicas dos açudes, represas ou lagos arti-ficiais, permitindo apenas a reserva de áreas comvegetação necessária à proteção da ictiofauna e dasreservas indispensáveis à garantia da piscicultura.

Nosrepresamentos,é fundamental

o compromissocom o fluxo a

jusante

FOTO ARQUIVO DA VALMONT

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ALTERAÇÕES NA PAISAGEM REGIONALCaso todas as medidas de remodelamento de

áreas de empréstimo e de recuperação da mataciliar tenham sido devidamente providenciadas, apaisagem, inexoravelmente, deverá mudar paramelhor, uma vez que a beleza cênica de um lagocircundado por mata é inegável (lembremo-nos deSete Quedas).

3.2. Meio bióticoPERDA DE FLORESTAS E DE ESPÉCIES DAFLORA, E DIMINUIÇÃO DE ÁREA PARASOBREVIVÊNCIA DE ANIMAIS TERRESTRESDE VIDA SILVESTRE

Na fase de planejamento da barragem, deve-sebuscar a melhor área para a localização da repre-sa, assim como a melhor cota de inundação, pro-curando-se, com isso, evitar perdas de florestasprimárias, áreas de grande capacidade agrícola ouáreas urbanas.

A inundação de áreas de matas ribeirinhas aoscursos d’água, quando realmente existentes, ou deáreas de proteção permanente pode ser compen-sada se for colocado na Legislação Florestal umatenuante de que essas áreas poderiam ser libera-das para uso (isto é, construção de barragens), casoo empreendedor comprometa-se criar áreas de pre-servação permanente (faixas de 20 a 50 m de lar-gura, dependendo da área de espelho d’água doreservatório) ao redor do reservatório. Nessas áre-as, devem ser empreendidos esforços para apro-veitar, ao máximo, espécies nativas na área de mataciliar. Há de se convir que a área criada poderá sermuito maior que a anteriormente existente, o quepoderá propiciar habitat ideal para os animais ter-restres ribeirinhos. Outra importante medida decompensação é a remoção dos animais das áreas aserem inundadas e a manutenção em unidades deconservação (Resolução 010/87 do Conama), composterior soltura nas áreas de proteção permanentecriadas, quando elas estiverem em condições ide-ais para ser usadas como refúgio dos animais.

MODIFICAÇÃO BRUSCA DE UMECOSSISTEMA TERRESTRE PARA AQUÁTICO

Com o barramento da água, pela construçãoda barragem, haverá modificação brusca de umecossistema terrestre para aquático e, ao mesmotempo, mudança de um ecossistema lótico (águascorrentes no curso d’água), para lêntico (águas debaixa velocidade no lago artificial ou reservatório).Com isso, áreas antes de ambiente terrestre serãotransformadas em ambiente aquático, causandodestruição da vegetação terrestre e substituição dafauna aquática pela terrestre.

A expulsão de animais terrestres das áreas inun-dadas é um impacto negativo inegável sobre a vidasilvestre, mas que pode, porém, ser compensadocom a criação de áreas reflorestadas (mata ciliar)ao redor de todo o reservatório. Nesse caso, a área

para refúgio de animais deverá aumentar muito,deixando de ser restrita a uma pequena faixa emtorno de um curso d’água.

ALTERAÇÕES NA COMPOSIÇÃO DAICTIOFAUNA

A alteração de ambiente lótico para lênticodeverá proporcionar alterações na ictiofauna (es-pécies de peixes) local, uma vez que espécies nati-vas podem não se ambientar no novo habitat. Umacompensação que pode ser providenciada é orepovoamento do reservatório com a introduçãode alevinos de espécies de peixes, de elevado valoreconômico, mais adaptadas ao novo meio. Ressal-ta-se que órgãos ambientais devem ser, anterior-mente, consultados, a fim de que não se introdu-zam espécies que sejam muito agressivas ou quesejam predadoras de outras.

INTERRUPÇÃO DA MIGRAÇÃO DE PEIXESA barragem construída torna-se um impedi-

mento físico à passagem de algumas espécies quetêm por hábito a migração em determinadas épo-cas do ano (fenômeno da piracema). A única for-ma de minimizar este dano ambiental é a constru-ção de “escadas” ou outras formas de transposi-ção da barragem. O extravasor de águas de vazãonormal e de enchentes pode ser devidamente adap-tado para que os peixes possam fazer a transposi-ção da barragem.

RISCOS DE PROLIFERAÇÃO DE VETORES DEDOENÇAS ASSOCIADAS À ÁGUA (malária,esquistossomose etc.)

As mudanças nas condições de escoamento daságuas, acompanhadas de uma ampliação de áreasde águas pouco profundas nas margens dos reser-vatórios, especialmente em regiões onde o clima étropical, fazem surgir ambientes adequados à pro-liferação de vetores transmissores de doenças li-gadas à água, como malária, esquistossomose, eoutras. A escolha de um local, onde ocorra reten-ção de maior volume de água em relação à áreainundada para a construção da barragem, é funda-mental para que esses problemas possam serminimizados. Fora disso, apenas o controle do cres-cimento de plantas aquáticas halófitas (de raízespenetrantes no solo e exposição de folhas acimada superfície, como a taboa) ou flutuantes (raízesflutuantes e folhas expostas sobre a superfície daágua, como a salvínia e o aguapé), nas margens doreservatório, já que esse é o habitat ideal para adeposição de ovos de insetos e a fixação de cara-cóis hospedeiros do agente patogênico da esquis-tossomose.

3.3. Meio antrópicoNa construção de grandes reservatórios de

água, a área diretamente afetada, ou seja, a áreainundada poderá ser grande, podendo incluir até

4º trimestre 2002 e 1º trimestre 2003 • Nº 56/57 • ITEM 65

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aquelas urbanizadas. Se aspectos relacionados coma estrutura social, econômica, demográfica e cul-tural da população atingida pela inundação da áreado reservatório forem ignorados, poderá haver au-mento da tensão e conflitos e empobrecimentoeconômico e cultural das populações envolvidas.Por esta razão, devem-se buscar medidas atenuan-tes adequadas, que não somente minimizem os im-pactos ambientais negativos, mas também produ-zam os benefícios econômicos e ambientais neces-sários para as comunidades afetadas.

Dentre os impactos ao meio socioeconômico,são comuns:

PREJUÍZOS NO USO DA ÁGUA PARAOUTROS FINS

A construção da barragem pode alterar os finspara utilização da água e, com isso, prejudicar ou-tros usos, o que gera conflitos. O uso para irriga-ção, geração de energia elétrica, para possibilitara navegação e as demandas dos usuários situadosa jusante da barragem, deve, obrigatoriamente,estar garantido. Para que isso seja possível, deveser mantida, a jusante do reservatório, uma vazãocompatível com as necessidades de atendimentodas atividades antes exercidas pelos usuários deágua. Por essa razão, os usos da água do reservató-rio formado devem ser previamente planejados edisciplinados, para garantir o melhor aproveita-mento econômico e social da água acumulada. Oplano de uso dos recursos hídricos envolvidos noprojeto deve ser elaborado de maneira democráti-ca, com a participação de todos os afetados e en-volvidos no empreendimento.

NECESSIDADE DE DESLOCAMENTO DEPOPULAÇÕES DE ÁREAS INUNDADAS

O deslocamento de populações é um proble-ma de difícil mitigação, uma vez que altera valoresculturais e históricos intrínsecos ao desenvolvimen-to das áreas rurais e cidades inundadas. No casode áreas urbanas e agrícolas serem atingidas, deve-

se estabelecer amplo processo de comunicaçãosocial com a comunidade, buscando solucionar, demaneira democrática e participativa, não somenteos problemas econômicos (indenização justa, subs-tituição das bases de subsistência) resultantes deum possível reassentamento, como também os pro-blemas sociais (moradia, infra-estruturas social esanitária) e culturais (translado de cemitérios e ins-talações culturais e de culto, vínculos etnológicos).

PERDA, DE FORMA IRREVERSÍVEL, DESÍTIOS HISTÓRICO-CULTURAIS E PAISAGENSDE GRANDE VALOR ECOLÓGICO

Em determinadas situações, a inundaçãoprovocada pelo reservatório pode submergir sítioshistórico-culturais e paisagens de grande valor eco-lógico e/ou turístico, como foi o caso de Sete Que-das. A criação de uma nova área de preservação per-manente, povoada por espécies nativas consorcia-das com outras de bom impacto visual, e a manu-tenção das condições do espelho d’água sempre lim-po e isento de plantas aquáticas são formas de com-pensar a perda de paisagens de valor ecológico.

POSSÍVEL INTERRUPÇÃO DE RODOVIAS,ESTRADAS RURAIS ETC. E INUNDAÇÃO DECIDADES OU VILAS

A construção de uma barragem pode propor-cionar a interrupção de rodovias, estradas rurais edemais vias de comunicação e até mesmo cidadescompletas, gerando desvantagens econômicas esociais para os habitantes ribeirinhos e para a re-gião.

No caso de interrupção de vias de acesso, comomedida compensatória, devem-se construir viasalternativas, que permitam o livre trânsito da co-munidade, na tentativa de minimizar a segmenta-ção das comunidades que apresentem fortes laçosde união.

RISCOS DE AUMENTO DA MISERABILIDADEE DE EXTERMÍNIO DE GRUPOS ÉTNICOS

As populações rurais e indígenas são as maisafetadas pelos grandes projetos de construção debarragens, pelas próprias características de seumodo de vida e sua forte vinculação com a terra,seu principal meio de produção. Recomenda-seassessoramento técnico aos afetados pela constru-ção da barragem, notadamente para os que terãode substituir a atividade de extrativismo vegetal ecaça por atividade de pesca.

AUMENTO DA TAXA DE DESEMPREGO RURALSe o reservatório não for explorado com dife-

rentes fins, poderá haver desemprego na área doempreendimento. Entretanto, o correto planeja-mento da exploração do reservatório para irriga-ção, pesca, práticas esportivas e turismo deverá,ao contrário, ser fonte de emprego para a popula-ção local. �

66 ITEM • Nº 56/57 • 4º trimestre 2002 e 1º trimestre 2003

FOTO HELVECIO SATURNINO

A construção debarragens é

positiva para aagricultura de

regiões que, emalguns períodos

do ano, exigesuplementação

de água,através da

irrigação

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“Não se pode misturar o empreendimento de umagrande barragem, para a produção de energia elétri-ca, com grandes impactos ambientais e usar as mes-mas regras para uma pequena barragem voltada paraa conservação de água e recuperação de bacia hidro-gráfica. Uma pode ser extremamente positiva para omeio ambiente e a outra, negativa. Espero que aAgência Nacional de Águas (ANA) saiba encontraro melhor caminho, até porque ela foi criada para isso,para o Estado brasileiro ter um aparelho institucionalcapacitado para encontrar o melhor rumo deimplementação da política nacional de águas, queatenda aos interesses do país, sobretudo os interessesdos agricultores, que dependerão cada vez mais da

água para desenvolver umaagricultura tecnificada ecompetitiva.”

JOSÉ CARLOS CARVA-LHO, ex-ministro do MeioAmbiente e Desenvolvi-mento Sustentável e atualsecretário de Estado doMeio Ambiente e Desen-volvimento Sustentável deMG

“A construção de represas em propriedades ru-rais é uma excelente idéia, aliás, a única forma deatender às demandas do produtor rural, em períodode estiagem. E, mais do que isso, na medida em que

se faz isso, estamos indire-tamente perenizando osrios. Tenho a certeza de queesse assunto vem sendo dis-cutido através do InstitutoMineiro de Gestão deÁguas (Igam).”

CELSO CASTILHO, ex-secre-tário de Estado de Meio Am-biente e DesenvolvimentoSustentável de Minas Gerais

“A questão da água é importante por estar direta-mente associada à vida. Cada caso deve ser analisadoporque, em relação às grandes represas, tem-se a cons-ciência de seu impacto ambiental e da necessidadede uma avaliação sobre as medidas de compensaçãoa serem feitas, às vezes, ambientais, outras vezes,

mitigatórias. Para a pequena represa, é importanteuma avaliação preliminar, mas sabe-se que o impac-to é mínimo e, muitas vezes, positivo, porque vai ge-rar condições para uma área irrigada, de replantio ede produção de alimentos. Trabalha-se tentando evi-tar o desmatamento e, se isso acontecer, que seja omínimo possível para não ampliarmos as áreas de-gradadas. Uma represa, por menor que seja, seriaideal se pudesse evitar o desmatamento. Mas, comoa água é o bem mais valioso do terceiro milênio, te-mos tratado o assunto com certo cuidado, para nãogerar desconforto nesse processo. Sem dúvida, as pe-quenas represas são estimulantes, pois as proprieda-des rurais com reservatórios de água podem produ-

zir mais e melhor e, desdeque elas conciliem a água euma reserva de mata, con-segue-se preservar toda a bi-odiversidade existente.”

JOSÉ DE ANCHIETA DOSSANTOS , ex-diretor deFauna e Recursos Pesqueirosdo Instituto do Meio Ambi-ente e dos Recursos Natu-rais Renováveis - Ibama

“Apesar de se perceber que existem muitas corren-tes ambientalistas contrárias à política de construçãode represas, entendo que o grande fabricante de águasencontra-se nas propriedades rurais. No momento emque o produtor constrói barragens, na verdade, ele estáaumentando a capacidade de infiltração do solo. Eletambém está reservando água para consumir nummomento necessário, contribuindo para que não exis-ta um gargalo na questão futura de conflito de água. Oque será mais racional: reservar e captar um volumede água que não vai interferir na vazão do rio, ou tirarágua no período de seca e criar conflito de água a

jusante? É muito mais raci-onal ter-se um reservatóriode água na fazenda para con-tar com um consumo progra-mado durante o período ne-cessário, sem prejudicar oucriar conflitos.”

JOSÉ ELIAS DA CUNHA,diretor de Gerenciamentode Projetos da FundaçãoRural Mineira - Ruralminas

EnqueteQual é a sua opinião sobre a construção de represas para oarmazenamento e a conservação de água a ser utilizada nairrigação, especialmente na época de estiagem?

4º trimestre 2002 e 1º trimestre 2003 • Nº 56/57 • ITEM 67

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“Vejo a construção de represas como uma ativi-dade importantíssima, desde que ela seja feita tecni-camente correta e respeitando o meio ambiente. Porexemplo, que não se limite apenas à construção dabarragem ou do açude, unicamente como atividadefim de produção de alimentos. Que ela esteja concili-ada às atividades de proteção da água e do solo e, naárea onde estiver localizada, seja reflorestada a partealta e mantida a vegetação natural nas partes próxi-mas, até 50 metros. Deve ser cercada para não per-mitir atividades antrópicas e destruição do meio am-

biente por homens e ani-mais. Conciliando aspectosprodutivos e conservacionis-tas, a barragem é realmenteum instrumento de sumaimportância.”

JOSÉ DO CARMO NEVES,ex-presidente e assessor dadiretoria de Desenvolvimen-to Florestal do Instituto Es-tadual de Florestas - IEF/MG

“Vejo a questão do represamento da água comouma estratégia para propiciar condições de produ-ção de alimentos, de segurança alimentar, de gera-ção de renda e de emprego. É necessário ter-se umaampla compreensão da intervenção do homem noecossistema e no ambiente, e a represa representa isso.É evidente que, por uma questão de sobrevivência, ohomem precisou interferir no ambiente. Essa inter-venção hoje precisa ser feita com a responsabilidade

da sustentabilidade. Se qui-sermos ter produção agríco-la em algumas regiões mi-neiras, vamos precisar de ir-rigação. Para isso, é impres-cindível acumular água, euma das formas é represar.”

ARGILEU MARTINS DASILVA, diretor técnico daEmpresa de AssistênciaTécnica e Extensão Rural -Emater/MG

“O plano diretor de irrigação do Vale do RioGrande, contratado pelos governos federal e do Es-tado por quase R$1 milhão, é um estudo de consulto-ria que ainda não foi entregue ao governo de MinasGerais porque estão faltando recursos para seremsaldados. É praticamente um plano de gerenciamentohídrico. A margem esquerda do Rio Grande, voltadapara o estado de São Paulo, conta com 120 mil hecta-res irrigados. Do lado de Minas Gerais, existem 10mil hectares. Se não houver reservação de água, po-deremos aumentar essa área em 20 mil hectares. Mas,se ela existir, conseguiremos chegar a 107 mil hecta-res, um aumento de 400% na capacidade de aprovei-tamento da água. Se quisermos conviver com a es-cassez de água e ampliarmos o seu uso, a reservaçãoé absolutamente necessária. No Brasil, hoje, se pen-

sarmos em ampliar a agri-cultura irrigada, temos quepensar seriamente nesse as-sunto.”

DEPUTADO PAULO PIAU,membro efetivo da Comis-são de Política Agrícola eAgroindustrial da Assem-bléia Legislativa de MinasGerais

“Como ainda não temos os planos de recursoshídricos que serão gerados pelos comitês de bacia, aquestão de critérios para utilização da água aindaestá em fase preliminar. Em Minas Gerais, existeum critério que determina que as outorgas não po-dem ultrapassar 30% da vazão chamada Q 7/10. Essavazão representa as dez menores vazões registradasnuma seqüência de sete dias para um determinadocurso d’água. É uma medida conservadora e bené-fica, do ponto de vista hidrológico. Com isso, ga-rante-se a manutenção de pelo menos 70% do cursod’água, mesmo na situação de menor vazão. O Ins-tituto Mineiro de Gestão de Águas (Igam) deve es-tar outorgando a construção de barragens para finsde irrigação, à luz desses limites. É um direito legí-

timo do proprietário rurallançar mão desse recurso,da mesma forma que extra-ir água para abastecimentourbano, para geração deenergia etc. Enfim, o im-portante é garantir o múl-tiplo uso da água.”

ANTÔNIO PROCÓPIO S.REZENDE, gerente de Pro-gramas e Ações Ambientaisda Cemig

“Não existe critério de impedimento para a cons-trução de represas. Existem critérios técnicos para a suaviabilização. O interessado tem que justificar sua cons-trução: pressurização e aumento da vazão; se a barra-gem vai ser construída em função da irrigação; quantosserão os irrigantes beneficiados. Muitas vezes, a cons-trução da barragem demanda um processo de licencia-mento ambiental, mas o uso da água da barragem é umadefinição do comitê de bacias. Aí, entra o chamado usomúltiplo, que tem que ser preservado, porque a água éum bem público. Ninguém pode construir uma barra-

gem e achar que, por essefato, somente essa pessoa vaiusufruir e fazer uso dela. Nãoé assim, o comitê é quem de-libera sobre isso. A comuni-dade local é quem decide, viacomitê.”

WILLER HUDSON PÓS, ex-diretor-presidente do Igame ex-presidente da Funda-ção Estadual do Meio Am-biente - Feam

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JOSÉ FRANCISCO DOS SANTOS RUFINO

PARTICIPANTE DO XII CONIRD NA QUALIDADE DE DIRETOR-GERAL DO DNOCS

A origem do termo “açude” perde-se nas bru-mas da história e vem do árabe “assudd” quesignifica construção destinada a represar aságuas de rio ou levada, extensão de água repre-sada artificialmente, em geral para irrigação deculturas em regiões sujeitas a secas.

A formulação de Arrojado, que caminha paracompletar um século, resultou dos estudos cien-tíficos da fase pioneira do Departamento Naci-onal de Obras Contra as Secas (Dnocs), antigaInspectoria de Obras Contra as Secas (IOCS) eque, desde então, observaram que o regimehidrológico dos rios do semi-árido nordestino ca-racteriza-se por ser torrencial e intermitente,mercê das marcadas irregularidadespluviométricas e do embasamento cristalino dossolos brasileiros, rasos em sua maior porção.Associado a esses fatores, irregularidadespluviométricas e baixa capacidade de absorçãodo solo, tem-se o fato de que as altas tempera-turas registradas na região resultam em altas ta-xas de evaporação e evapotranspiração.

Outra característica da região semi-árida bra-sileira diz respeito à freqüência com que as se-cas são registradas, o que, para diversos estudi-osos, não permite qualquer afirmação sobre aexistência de ciclos no Nordeste. Essaimprevisibilidade é que conduziu osformuladores pioneiros à definição da açudagemcomo resposta aos desafios de conviver com ofenômeno climático da seca, e cuja prática, diga-se de passagem, já se registrava, ainda que deforma primitiva e com características rudimen-tares, seja como retenção de água, seja como for-ça motriz a mover rodas d’água em engenhos.

Ainda do ponto de vista ambiental, osubestrato cristalino, que responde por cerca de95% da área do semi-árido, e sobre o qual seassentam solos rasos e com escoamentos super-ficiais maiores do que a porção de água que seinfiltra, ao inverso do que acontece nas áreas

“É importante que a sociedade brasilei-ra tenha consciência de que as barragens sãouma forma concreta de armazenar esse bemtão precioso que é a água! Como exemplo,podemos citar o Chile, que só tem água parao abastecimento da população e para a irri-gação por causa das barragens, responsáveispela coleta do degelo oriundo dos Andes. Ouseja, se não existissem barragens, o Chile pas-

saria oito mesessem água. Vamoscuidar desse bemeconômico e terágua o ano todo,com o devidogerenciamento.”

BERNHARD KIEP,presidente daValmont Indústria eComércio Ltda.

“A represa, como instrumento de regu-larização e de reserva de volume de água parafins de irrigação, sendo bem projetada e bemconstruída, com acompanhamento de profis-sionais que conheçam e tenham experiência

nesse ramo, é sem-pre positiva. É im-portante que, mes-mo acumulandovolumes, ela man-tenha vazões esco-ando a jusante.”

L E O N A R D OMITRE ALVIM,chefe da Divisão deCadastramento eOutorga do Igam

“Quando o estudo é bem feito e a barra-gem bem locada, ela contribui porque regu-lariza e melhora as condições de umidade. Oproblema é que, na maior parte dos casos,ela não é bem projetada e acaba provocandoproblemas a jusante, prejudicando os usuá-rios abaixo dela. Mas, se a barragem é bemprojetada, considerando todos os parâmetrosexigidos pela lei e pelo Igam, é muito bem-

vinda, melhora eregulariza as condi-ções de vazão, deumidade e de chu-va, ajudando o ciclohidrológico.”

CÉLIA MARIABRANDÃO FROÉS,diretora de Contro-le das Águas doIgam

4º trimestre 2002 e 1º trimestre 2003 • Nº 56/57 • ITEM 69

José Francisco dosSantos Rufino

FOTO ARQUIVO DO DNOCS

Resgatando umpouco da História:

Açudes,por que não?

Resgatando umpouco da História:

Açudes,por que não?

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sedimentares, propicia condições favoráveis àconstrução de açudes. Isso porque, nos perío-dos secos, as possibilidades naturais de acesso àágua restrigem-se à captação através das fissurasou fraturas existentes nas rochas cristalinas, ondeas águas são, na maioria das vezes, poucas e sa-linas, e nos aluviões que também apresentam res-trições relativas à quantidade e qualidade.

Aliás, em atenção à história, que sempre temo que nos ensinar, registramos que, na dimen-são do tempo, a barragem de operaçãointeranual, enquanto proposta de intervenção nosemi-árido, situa-se entre as condições que mo-tivaram a criação de um órgão técnico (a pio-neira IOCS), que possibilitasse a convivência donordestino com as irregularidades climáticascom que a natureza dotou a região. Testemunhatal fato a Barragem do Cedro, a primeira gran-de obra de açudagem construída no semi-árido,cujo projeto inicial data de 1882, hoje monumen-to nacional tombado pelo Instituto doPatrimônio Histórico e Artístico Nacional.

Há que se ter em mente que a elevada taxade evaporação de cerca de 2 mil mm por ano é ogrande tributo que incide sobre as águas acu-muladas nos açudes. Entretanto, como a evapo-ração é função da área do espelho d’água, quan-to menor e mais raso for o açude, maior é a suaperda relativa. Daí ser correto afirmar que umaçude com 100 milhões de m3 de capacidade de-volve à atmosfera muito menos água do que 100açudes com capacidade para 1 milhão de m3.

Acerca dessa condição, cabe referência a umdos clássicos da literatura das secas, o livro“Seccas contra a secca”, de autoria de Phelippee Theophilo Guerra e editado em 1909: “Exa-minemos mais detalhadamente as vantagens dosaçudes, ficando desde logo claro que não nosreferimos aos pequenos açudes que secam nosprimeiros meses de verão. Esses, de muito pro-veito e de muita utilidade para os seus donos,nas crises mais prolongadas falham em críticascircunstâncias. São como amigos pouco dedica-dos: ausentam-se nos grandes perigos”.

Daí emergem algumas considerações funda-mentais. Em primeiro lugar, é importante regis-trar a imperiosa necessidade de se ter um efeti-vo controle dos recursos hídricos desde o seu ní-vel mais primário, que é o da bacia hidrográfica.É preciso que se entenda que a implementaçãode obras de açudagem deve ser concebida comoum sistema no qual cabem diferentes níveis deacumulação que regulem vazões sem compro-meter o rendimento de cada bacia. A utilizaçãodo licenciamento prévio para a implantação dequalquer obra hídrica é fundamental para quenão continuem a ocorrer situações em que riostributários de grandes açudes estratégicos sejam

barrados, interrompendo as suas recargas e acar-retando prejuízos seriíssimos, tanto a usuáriosurbanos como a usuários agrícolas.

Por outro lado, é fundamental que o plane-jamento desses sistemas considere as condiçõesambientais dos mananciais e as necessárias açõesde revitalização, dentre as quais a recuperaçãodas Matas Ciliares tem caráter de fundamentalimportância. Um outro aspecto básico diz res-peito ao correto gerenciamento da operação dosaçudes no contexto da bacia hidrográfica. Paratanto, estudos e simulações hidrológicas, o di-mensionamento correto das capacidades de acu-mulação, a utilização de sistemas de controle ede regulação das vazões etc. devem ser cuidado-samente utilizados quando da elaboração dosprojetos.

Contudo, é preciso compreender que aumen-tar a reserva hídrica através da construção deaçudes, ou mesmo a otimização da utilização dosexistentes, através da racionalização dos usos daágua, são condições necessárias, mas não sufici-entes, para resolver o problema da carência derecursos hídricos nas comunidades rurais dosemi-árido nordestino.

Assumem papel relevante neste quadro, osprogramas e as campanhas públicas de educaçãopara o uso racional dos recursos hídricos, escla-recendo-se à sociedade que a água é um bem quedemanda altos investimentos públicos até que sejalevada à “ponta” do sistema em condições de con-sumo, não sendo, portanto, tolerável o seu des-perdício. Os órgãos municipais, estaduais e fede-rais, envolvidos com a questão dos recursos hí-dricos, deverão munir-se de um sistema de infor-mações para esclarecer a população como evitar,tanto o uso inadequado, como o desperdício.

Democratizar é, também, abrir à sociedadeos dados sobre ela mesma, dotando-a das infor-mações necessárias ao desenvolvimento da ci-dadania. Para isso, os órgãos deverão estar maisinformatizados, seja com vistas ao controle dosrecursos hídricos, seja com vistas ao fornecimen-to das informações corretas sobre a situação dosmananciais que alimentam os sistemas.

O estímulo ao desenvolvimento de organi-zações de usuários da água também deve ser bus-cado com o objetivo de envolver a sociedade,fazendo com que esta exerça o seu papel de con-trole social, tornando-se uma parceira, tanto naotimização dos recursos, como no combate aodesperdício e à sua má aplicação.

Para que tudo isso aconteça é preciso quehaja água. Tal como a fábula da cigarra e da for-miga, é preciso estocar os excedentes para po-der consumir na escassez.

ESSE É O PAPEL DO AÇUDE. �70 ITEM • Nº 56/57 • 4º trimestre 2002 e 1º trimestre 2003

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atual fase de implantação da Lei Nacionalde Gerenciamento de Recursos Hídricos foiapontada pelo ex-Ministro do Meio Ambi-

ente e Desenvolvimento Sustentável e atual secretá-rio estadual da área em Minas Gerais, José CarlosCarvalho, como responsável pelas dificuldades naobtenção de licenciamento para empreendimentoscomo a construção de represas. “A lei é nova e hánaturais incertezas que terão que ser equacionadas”.

No entanto, foi enfático ao analisar empreendi-mentos que causam impacto ambiental como as gran-des represas de produção de energia elétrica e os quesão construídos para servir como reservatórios e fa-zem parte de um conjunto de iniciativas para a con-servação de água de uma bacia ou sub-bacia hidro-gráfica. “Não se pode usar as mesmas regras para doistipos diferentes de empreendimento”, afirma.

O ex-secretário de Estado do Meio Ambiente eDesenvolvimento Sustentável, Celso Castilho, apon-tou a atuação de organizações não-governamentais edo Movimento Nacional dos Atingidos pelas Barra-gens (MAB) como responsáveis pelas maiores difi-culdades impostas na construção de barragens.

AS DIFICULDADES DE MINAS GERAISAS DIFICULDADES DE MINAS GERAISAS DIFICULDADES DE MINAS GERAISAS DIFICULDADES DE MINAS GERAISAS DIFICULDADES DE MINAS GERAIS – Se-gundo Castilho, a construção de uma barragem podesignificar o desalojamento de pessoas que estão ajusante ou a montante, além de problemas em rela-ção à questão da outorga e ao uso múltiplo da água .

Ele considera ser necessário dar condições ao Ins-tituto Mineiro de Gestão de Águas (Igam) de aten-der às demandas da sociedade. A instituição recebeuma média mensal de 150 pedidos de concessão deoutorga, que levam cerca de 45 dias para serem re-solvidos. Anteriormente, o prazo exigido era de 120dias. Para um melhor atendimento, Castilho consi-dera urgente a restruturação do Igam. “Não é possí-vel que um órgão que gerencie os recursos hídricosdo Estado tenha somente cinco ou seis técnicos deformação superior”, afirma ele.

Para o ex-secretário, a área de meio ambiente ébastante complicada, porque permeia interesses con-trários. “Às vezes, atende-se a um empreendedor, masexiste uma demanda contrária da sociedade. Por isso,temos que trabalhar com muito diálogo”.

DESCENTRALIZAÇÃO COM OS COMITÊSDESCENTRALIZAÇÃO COM OS COMITÊSDESCENTRALIZAÇÃO COM OS COMITÊSDESCENTRALIZAÇÃO COM OS COMITÊSDESCENTRALIZAÇÃO COM OS COMITÊS –O secretário José Carlos Carvalho considera que aAgência Nacional de Águas (ANA) saberá encontraro melhor caminho para a implementação da políticanacional das águas, que atenda aos interesses do país,sobretudo aos dos agricultores, que dependem daágua para desenvolver uma agricultura tecnificada ecompetitiva.

Ele aponta a centralização do modelo existentecomo responsável pela demora na concessão de ou-torgas. A solução, segundo Carvalho, poderá vir coma ampliação da criação dos comitês de bacias hidro-gráficas e das agências de água.

Em Minas Gerais, existem 17 comitês de baciaestaduais formados, enquanto que, em nível nacio-nal, foram formados os comitês do Rio Paraíba doSul, do Rio Doce e, mais recentemente, do Rio SãoFrancisco, considerado uma verdadeira obra de en-genharia política.

Para José Carlos Carvalho, a política de recursoshídricos no Brasil foi construída de forma colegiadae participativa, com a tramitação da Lei de Geren-ciamento de Recursos Hídricos por longo tempo noCongresso Nacional. “Sendo assim, entendo que essaestabilidade institucional fará com que essas políti-cas tenham um grande grau de continuidade no atualgoverno”.

Citando os avanços ambientais alcançados em oitoanos de governo passado, Carvalho acredita ser fun-damental começar um ciclo novo com base na utili-zação de instrumentos econômicos para incentivar ouso sustentável dos recursos da natureza e punir ouso predatório.

Segundo o ex-ministro, esse novo período já teveinício com a criação do Programa Nacional de Forta-lecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) florestal,que dispõe de uma linha de crédito de estímulo aosagricultores ligados à agricultura familiar na recupe-ração de suas propriedades rurais, com juros de 4%ao ano sem correção monetária, carência de oito anos,prazo de 12 anos e bonificação de 25% deadimplência.

Através de medida provisória, também foi criadoo IPI verde, um incentivo fiscal para a indústria dereciclagem, que se baseia no crédito presumido doIPI de 15%. O ex-ministro também acredita que oagricultor precisa ter estímulos fiscais e crédito paraconservar os remanescentes florestais em sua propri-edade, adotar práticas conservacionistas do solo efazer uma agricultura diferente daquela que fazíamosno passado. “Quando falamos em estimular os agri-cultores, falamos num sentido amplo de conservaçãodos recursos naturais renováveis, incluindo solo, flo-ra, fauna e água. Essa é uma outra questão importan-te que tem que ser considerada no futuro: a políticaambiental não pode continuar tratando de maneiraisolada os recursos naturais. Temos que aprender, coma própria arquitetura da natureza, como fazer a me-lhor engenharia institucional na abordagem integra-da desses temas”, considera ele.

Por que é tão difícil o licenciamentopara a construção de barragens?

A importância de compartilhar experiências e soluções

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José CarlosCarvalho,secretário doMeio Ambiente eDesenvolvimentoSustentável deMinas Gerais

4º trimestre 2002 e 1º trimestre 2003 • Nº 56/57 • ITEM 71

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MATIAS OTÁVIO ROXO NOBRE é engenheiroagrônomo. Há três anos tem propriedade rural de cin-co mil hectares, entre os municípios de Unaí e Buritis,onde cultiva café em 600 hectares, com o uso de pivôe lepa. Obteve uma outorga junto ao Igam, que o au-toriza a utilizar 50 litros por segundo, no processo deirrigação de suas culturas. Seu gasto com água é, pelomenos, cinco vezes maior do que o autorizado. Porisso mesmo, entrou há dois anos com um processo deampliação da outorga, para o qual não teve resposta.

Como acha importante garantir o uso da água,especialmente em períodos de estiagem, há seis me-ses pretende construir uma represa no Ribeirão Be-

bedouro, afluente do Rio Urucuia, que por sua vez éafluente do Rio São Francisco.

“Estamos dispostos a fazer todas as obras neces-sárias para a recomposição da flora e da fauna, masestou encontrando dificuldades em conseguir escla-recimentos que me autorizem fazer o empreendimen-to”, afirma ele. Seguindo a orientação do Igam, en-comendou um estudo hidrológico para a construçãoda barragem.

Ele considera que a agricultura tem pressa e pre-cisa remunerar-se para fazer investimentos. “Nós sen-timos que os órgãos não têm condições e nem equi-pes técnicas suficientes para analisar os projetos e dar-nos as diretrizes necessárias”, queixa-se ele.

Projetos à esperade decisão e de incentivo

“A agricultura tem pressa”

Um projeto mais ambicioso

MARCIANO DE PAULO MARQUES é vereadore microempresário, proprietário de uma empresaprestadora de serviços de assessoria ambiental e deengenharia ambiental. Mora em Tupaciguara, no Tri-ângulo Mineiro.

Ele tem um projeto mais ambicioso, voltado parao Ribeirão Cachoeira dos Corças, que deságua no RioParanaíba, na represa de Itumbiara. É um projeto queenvolveria, inicialmente, 72 produtores da região evisa trabalhar a bacia dos córregos dos produtores,especialmente aqueles que têm irrigação com pivô.

A idéia é trabalhar a bacia como um todo, fazen-do o levantamento de todo o universo de produtores,especialmente os que utilizam a água para a irriga-ção. Seriam identificados, ao longo da bacia e das pro-priedades rurais, pontos de coleta de água, bolsõesou represas. “Nossa proposta é fazermos, dentro des-sas bacias, desvios com autorização do IEF/Copam,com acompanhamento do Igam, de determinadosvolumes de água para cada propriedade e depósitosde água. As bombas de captação sairiam diretamen-te dessas represas”, esclarece.

Segundo ele, os períodos de utilização dos pivôsseriam divididos em dois ou três horários. Funciona-riam 12 horas e teriam um mesmo período para re-posição da água. O fluxo normal do ribeirão, riachoou rio continuaria por 12 horas consecutivas. “Na re-alidade, vamos preservar o uso da água e ampliar asua possibilidade de uso”, considera.

A idéia é obter junto ao Igam uma outorga cole-tiva e não só de produtores isolados. “Se trabalhar-mos em conjunto, teremos maior qualidade e garan-tia da utilização da água, não lesando atuais e futurosprodutores irrigantes, nem pequenos, nem médiosprodutores, conservando o meio ambiente”, garante

Marques. Um projeto de interesse social, acredita ele,que pode ser aprimorado por outros municípios doTriângulo Mineiro.

Ele vem, há oito meses, discutindo e buscandoparcerias para sua implantação com a prefeitura mu-nicipal e os produtores. A maior dificuldade, segun-do ele, é a de mobilização dos órgãos públicos para oestabelecimento de um acordo, envolvendo IEF/Igam/ Copam/ Promotoria do Meio Ambiente regio-nal, que alegam necessitar de uma orientação superi-or para a tomada de decisão.

PROBLEMAS NA REGIÃO – A economia deTupaciguara baseia-se na agropecuária, com desta-que para a participação da irrigação, responsável porum número significativo de empregos no município.

Como vereador, Marciano Marques assiste a umatual período de turbulência na região, especialmentena atuação do comando da PM junto com a Promoto-ria da Comarca de Tupaciguara, para o cumprimentoda legislação ambiental. “Não somos contra a lei, masnão aceitamos a forma como esse processo vem sendoconduzido. Sob a orientação da promotoria pública, aPM está aplicando multas pesadas, como o caso de umprodutor que recebeu terras como herança e junto umamulta no valor de R$ 54 mil, devido à falta de outorgapara uma represa construída há 35 anos em área depreservação permanente”, relata Marciano.

Segundo ele, pelo mesmo motivo, a Promotoriasolicitou, há seis meses, que fossem destruídas todasas represas do município, fato que iria causar umimpacto ambiental muito grande. A região tem umnúmero significativo de represas e o município, abun-dância em água oriunda de muitos córregos, nascen-tes e vertentes.

FOTOS GENOVEVA RUIS DIAS

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Há 30 anos, o imigrante chinês Ma ShouTao comprou uma fazenda no município deConquista, Minas Gerais, e transformou-senum dos desbravadores pioneiros do Cerra-do brasileiro. Ao lado da mulher, Constân-cia, sua principal incentivadora, tornou-se umempresário rural bem-sucedido.

Quando iniciou seu trabalho pioneiro nafazenda, o Sr. Ma Shou Tao teve que encararum sério problema. Em sua propriedade ha-via uma área de atoleiro, que era um verda-deiro sumidouro de gado e uma constanteameaça para as pessoas. A solução veio atra-vés da construção de duas represas, com es-pelhos de água de seis e quatro hectares. Aságuas que alimentavam o atoleiro são origi-nárias de duas diferentes nascentes dentro dapropriedade. Estas formam o córrego BoaSorte, que deságua no ribeirão Ponte Alta (nadivisa dos municípios de Uberaba e Conquis-ta), que, por sua vez, alimenta o curso do rioGrande. A Fazenda Boa Fé está dentro domunicípio de Conquista, nas proximidades dopovoado de Jubaí.

E o que era problema virou solução. Cons-truídas de acordo com critérios técnicos e con-servacionistas, as represas eliminaram o ato-leiro e o Sr. Ma Sou Tao não teve mais difi-culdades com o abastecimento de água parao desempenho de atividades agropecuárias.

Há nove anos, o Sr. Ma Shou Tao instalouum pivô central, que irriga uma área de 105hectares com culturas de milho, feijão e soja,captando água da maior represa e, da outrarepresa, acaba de suprir 25 hectares irrigadospelo sistema de malha, voltado para o pastejorotacionado com o capim tyfton 85, atenden-do a exploração leiteira.

Incentivador do desenvolvimento e daadoção de tecnologias agropecuárias, o Sr. MaShou Tao promove o já tradicional encontrotécnico anual de milho e soja, justamente uti-lizando a área irrigada pelo pivô para aten-der as demonstrações práticas de todos osavanços genéticos e de tratos dessas culturas.Em 2003, tiveram a participação de 2.700 vi-sitantes nesse evento, em uma programaçãoque se repetiu por três dias consecutivos.

REPRESAS VIABILIZAM NOVOS AGRONE-GÓCIOS – Justamente com base na represa,irrigando-se o material genético de ponta, ob-

servou-se essa prática e objetiva difusão tec-nológica para produtores, técnicos e diversosatores dessas cadeias produtivas, com o con-curso de empresas e instituições de pesquisaque atuam em todo o Brasil. Assim, a Fazen-da Boa Fé transformou-se numa verdadeirareferência tecnológica para os produtores eem importante respaldo para as pesquisas dossetores público e privado.

Além de atender à fazenda, que tambéminclui uma pequena piscicultura, as águas dasrepresas passaram a servir aos empregadosque moram dentro da propriedade e praticama horticultura e a criação de aves.

Ao sair da fazenda Boa Fé, o sistemahídrico do qual faz parte o córrego Boa Sorteatende a pelo menos 10 outras propriedadesrurais. Ao longo desses 29 anos da constru-ção das represas, nunca houve nenhum tipode reclamação dos proprietários a jusante.

Segundo Jônadan Hsuan Mi Ma, diretorexecutivo da Agropecuária Boa Fé, o pedidode direito de outorga de água superficial foiencaminhado ao Instituto Mineiro de Gestãodas Águas, em Belo Horizonte, em abril de2000, que o repassou ao Instituto Estadual deFlorestas de Minas Gerais. Até hoje, a outor-ga definitiva não foi concedida.

Atualmente, aos 80 anos de idade, Ma ShouTao não perdeu seu veio empreendedor, lide-rando a família para novos e arrojados empre-endimentos. O Grupo Ma Shou Tao é compos-to pela Agropecuária Boa Fé, que atua na pro-dução agrícola e pecuária na região de Ubera-ba, iniciando uma indústria alimentícia à basede soja, uma transportadora, uma empresa decomercialização e, e mais recentemente, en-trou no segmento de armazéns gerais.

Represas mudaram os horizontes da Fazenda Boa Fé

Ma Shou Tao esua esposa,Contância:avanços emnovosagronegóciosao viabilizaremduas represasna fazendaBoa Fé

FOTO ARQUIVO PESSOAL

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VISÃO POSITIVA, TAMBÉM DO IEF – Otécnico Antônio de Pádua Alves, do Instituto Es-tadual de Florestas (IEF), entende como positi-va a construção de pequenas barragens com ocunho de preservação das áreas de influência derecarga hídrica de nascentes. Ele considera desuma importância a construção de barraginhasem propriedades rurais. “O IEF tem tambémfeito uma parceria com alguns setores para eincentivar essa modalidade. A própria lei esta-dual florestal, recentemente publicada, traz essaquestão de construção e utilização debarraginhas, até mesmo dentro de áreas de re-serva legal”, considera ele.

O artigo ao qual ele se refere é o de no 20, daLei no 14.309, de 20/06/2002, que determina oseguinte:

“É livre a construção de pequenas barragensde retenção de águas pluviais para controle deerosão, melhoria da infiltração das águas no soloe dessedentação de animais, em áreas de pasta-gem e, mediante autorização do órgão compe-tente, conforme definido em regulamento, emárea de reserva legal.”

MUDANÇA DE PERFIL DO IEF – Antônio dePádua destacou também a mudança de perfil deatuação do IEF, um órgão que tem a responsabili-dade de controlar e fiscalizar a exploração flores-tal no Estado e que tem participado de programasde incentivo e conscientização ambiental.

“É uma forma de proporcionar aos produto-res, a maioria deles quase sempre descapitaliza-dos, o conhecimento de que, através dessas pe-quenas ações, eles podem ter a oportunidade deexplorar a terra de maneira racional. Se o produ-tor desmatar aleatoriamente, sem critérios técni-cos, logicamente terá os recursos hídricos da pro-priedade cada vez mais escassos”, considera ele.

O técnico destaca ainda uma inovação, noâmbito de conservação ambiental, que a lei flo-restal estadual traz, denominada “servidão flo-restal”, em que o produtor rural poderá emitir

A outorga é necessária quando ocorre a intervençãoem um curso d’água.

O produtor rural tem identificado áreas como grotase regiões apropriadas para a retenção de água de

chuva e está construindo barragens para reter ereservar a água para a época de estiagem. A iniciativacontribui para a infiltração, percolação e alimentaçãodo aqüífero e outros cursos d’água. Para esses casos,

o Instituto Mineiro de Gestão de Águas (Igam)fornece uma declaração, isentando o produtor da

necessidade de outorga.

Mais facilidade para aconstrução de pequenas barragensde contenção da água das chuvas

Mais facilidade para aconstrução de pequenas barragensde contenção da água das chuvas

Barragem construída pela Ruralminas, em Minas Novas, com 225.000 m3 de água acumulada FOTO ARQUIVO DA RURALMINAS

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títulos de mercado, em virtude de locais e áreasde relevante interesse ambiental e ecológico.Atualmente, o IEF está trabalhando na regula-mentação da lei. Em breve, uma propriedadebem conservada terá a possibilidade de serinserida nesse contexto. Será mais valorizada doque outra propriedade que não tenha um nívelinteressante de preservação e conservação am-biental.

PRODUTOR, UM INJUSTIÇADO – Para o as-sessor da Diretoria de Desenvolvimento Flores-tal e ex-presidente do IEF de Minas Gerais, Josédo Carmo Neves, o produtor rural não produzapenas alimentos, mas também é um produtorde águas. “Quando falamos de nascente, ela estána propriedade dele, e ele é um injustiçado, por-que tem de preservar a nascente, gastando comcercas e plantio. Nós, aqui da cidade, recebemostodo esse esforço de preservação por parte doprodutor, sem nenhum reconhecimento sobreesse benefício”.

No entendimento desse experiente técnico,o produtor rural necessita de mais apoio, já quea sociedade é a beneficiada direta no caso daágua. “Precisamos ajudar e dar condições aoprodutor rural para proteger sua nascente. Mui-tas vezes, isso deixa de ser feito por falta de re-cursos financeiros”, considera ele.

MEDIDA COMPENSATÓRIA – “Indepen-dente do tamanho do empreendimento, qual-quer intervenção em área de preservação per-manente exige autorização específica do IEF”,garante Antônio de Pádua Alves, engenheiro flo-restal e técnico da Coordenadoria de Controlee Fiscalização da Diretoria de Monitoramentoe Controle do órgão.

No entendimento de técnicos do IEF, essamedida compensatória tem como objetivo repa-rar um dano irreversível causado pela supressãode vegetação. Existe uma série de proposiçõesque podem ser assim classificadas. Na realida-de, essas iniciativas são tratadas entre ovistoriador do IEF e o empreendedor, que iden-tifica o critério técnico mais viável para a regiãoe a situação onde o projeto vai ser construído.

“Se a represa vai ocupar uma área de doishectares, por exemplo, o produtor poderia com-pensar com a recuperação de uma área degra-dada de igual tamanho”, exemplifica Antônio dePádua.

OUTORGA – A outorga representa a autori-zação para a intervenção no curso d’água. Se-gundo o Igam, não é um processo tão complica-do, mas exige que sejam feitos projetos e estu-dos, para que esse reservatório cumpra realmen-

te as funções para as quais está sendo proposto,sem prejudicar os usuários a jusante e o usuárioconstrutor a montante, e que tenha os volumesnecessários de água. É importante que o estudodemonstre o papel de regularização da vazão.

A demora na liberação do processo é atri-buída à quantidade de documentos exigidos, es-pecialmente pelo IEF. No caso de dificuldadesna liberação da outorga, o produtor que provar,através de protocolo, que deu entrada ao pedi-do junto ao Igam ou junto à Agência Nacionalde Águas (ANA), terá andamento de seu pro-cesso no IEF. Após a entrega de toda a docu-mentação, o IEF faz uma vistoria local, dentrode um prazo que, segundo o órgão, não extrapola90 dias.

Recomendações do IgamMesmo considerando a represa construída

para fins de irrigação como um instrumento im-portante para a regularização do volume doscursos de água, os técnicos do Igam fazem umasérie de recomendações:• a represa deve ser bem projetada e construí-

da com acompanhamento de profissionaisque conheçam e tenham experiência nesseramo;

• é importante que mantenha vazões escoan-do a jusante;

• a construção de um reservatório é uma inter-venção no recurso hídrico, pois trata-se de umaalteração no regime, e quando há captação,altera a quantidade dos recursos hídricos, es-tando, portanto, sujeita à outorga;

• no caso de captações a fio de água, a outorgaé concedida, tendo por base a Q7/10, vazãoque serve de referência para o Igam na con-cessão de outorgas para o uso de águas dosrios e cursos d’água em Minas Gerais. Nocaso da construção de reservatórios, essa re-lação se inverte. Ao invés de se poder captarno máximo 30% dessa Q7/10, com o poten-cial de regularização que esse barramentoproporciona, podem-se captar vazões supe-riores a 30%, contanto que se dê garantiasque 70% da Q7/10 seja escoada a jusante,durante todo o tempo;

• a simulação de balanço hídrico não deve sercalculada só para mínimas, mas também deacordo com as vazões máximas, principal-mente no período chuvoso; e,

• além de um bom projeto e estudo, é essenci-al o monitoramento da barragem e de suasvazões, tanto as de entrada quanto as de saí-da do barramento, ao longo do tempo. A ma-nutenção periódica é importante, comrevegetação e limpeza das margens para evi-

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tar o assoreamento das margens.Dentro do Igam, se o processo vier bem ins-

truído, com projeto, com a simulação de comoessa barragem irá funcionar, e com a documen-tação completa do IEF ou do Ibama (se for áreade parque nacional), a autorização sai no máxi-mo em 50 dias, segundo Célia Maria BrandãoFróes, diretora de Controle das Águas do Igam.

Quem pensa ser fácil, nos dias de hoje, cons-truir uma represa ou barragem aproveitando umcurso d’água em sua propriedade rural, está re-dondamente enganado. Apesar de ser conside-rada, tecnicamente, uma importante alternativapara conservação e armazenamento de água, aconstrução de barramentos, de acordo com alegislação ambiental vigente, requer do empre-endedor paciência, persistência e recursos.

Os procedimentos necessáriospara a construção de represasno meio rural em Minas Gerais

Para construir uma barragem ou represa emum curso d’água de Minas Gerais, independen-te da área a ser ocupada pelo empreendimento,o produtor deve levar em conta que terá queprovidenciar, pelo menos, dois diferentes pro-cessos a ser encaminhados aos órgãos de meioambiente: um de autorização para desmate jun-to ao IEF e outro, de outorga de direito de usodas águas, junto ao Igam.

Em 5 de novembro de 2002, foi publicadauma nova Deliberação Normativa (DN) do Con-selho Estadual de Recursos Hídricos (CERH),que estabelece a classificação dos empreendi-mentos quanto ao porte e potencial poluidorpara os fins de outorga do direito de uso de re-cursos hídricos, aplicação de penalidades e de-mais instrumentos de gestão de recursos hídri-cos. Dentre os principais empreendimentos su-jeitos à outorga, pode ser citada a construção debarramentos.

A partir da DN/CERH no 7, de 04/11/2002,a classificação do empreendimento passou a serfeita pelo uso da água. “Antes, analisávamos oporte do empreendimento. Hoje, observamos ouso dos recursos hídricos. Estamos levando emconta critérios como escassez de água, possibili-dade de conflitos, utilização do barramento paramúltiplos usos e o fato de ele estar localizadonuma região com grande ou baixa disponibili-dade hídrica”, afirma Leonardo Mitre Alvim deCastro, chefe da Divisão de Cadastramento eOutorgas do Igam.

Dessa forma, ele explica como um barramen-to pode ter diferentes classificações, dependen-do da região onde for construído. “Pode ser con-siderado de médio porte no Sul de Minas e de

grande porte no Norte, Vale do Jequitinhonhaou Noroeste do Estado, regiões com alto riscode escassez hídrica”, considera o técnico.

Os casos de solicitação de outorga para em-preendimentos classificados como de “grandeporte e com potencial poluidor” serão encami-nhados para deliberação pelo respectivo comitêde bacia hidrográfica, por meio de parecer téc-nico da equipe da Divisão de Cadastramento eOutorgas do Igam. Na falta do comitê, a delibe-ração desses processos caberá à Câmara de Re-cursos Hídricos do Copam.

LEGISLAÇÃO EM VIGOR – Apesar de esta-rem ligados à Secretaria de Estado de Meio Am-biente e Desenvolvimento Sustentável, a análi-se dos dois processos transcorre de forma inde-pendente em dois órgãos.

Primeiro, junto ao IEF, para obtenção daautorização para supressão de vegetação em áreade preservação permanente, que vai requerer umProjeto Técnico de Reconstituição da Flora(PTRF), além do pagamento de taxas de visto-ria que variam de R$38,00 a R$2.803,00, depen-dendo da localização e do tamanho do empre-endimento.

Além disso, o IEF exige do produtor umasérie de documentos (ler matéria sobre “Repre-sas e legislação em vigor”, que traz, na íntegra,duas legislações que regem o assunto no Esta-do: a Portaria IEF no 1, de 03/01/2001, e a Deli-beração Normativa no 7, de 04/11/2002, do Con-selho Estadual de Recursos Hídricos). Para osinteressados, o site do Igam, www.igam.mg.gov.br, traz na íntegra mais duas Portarias, as denos 10/98 e 07/99, que também determinam cri-térios técnicos para barramentos em MinasGerais. Já o site do IEF, www.ief.mg.gov.br, trazna íntegra a Lei Florestal no 14.309, de 20/06/2002, cuja interpretação vem sendo motivo depolêmica entre os setores ambiental e produti-vo de Minas Gerais (ler matéria “Audiência pú-blica tenta aparar arestas entre a agricultura e osetor público ambiental”) .

No segundo processo junto ao Igam, para aobtenção da outorga, o produtor deverá apre-sentar o projeto de construção da represa devi-damente assinado por um responsável, que de-verá ser um profissional com registro no Conse-lho Regional de Engenharia e Arquitetura(Crea). Deverá vir, ainda, acompanhado de es-tudo hidrológico de regularização de vazões eestudo hidráulico das estruturas do barramen-to, elaborado preferencialmente por engenhei-ro hidrólogo.

Caso o rio seja considerado de jurisdiçãonacional, o processo de pedido de outorga de-verá ser encaminhado à ANA.

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Os critérios de classificação doporte de represas

Para a construção de barramentos ou repre-sas, a Deliberação Normativa do CERH-MG no7, em seu artigo 2o, parágrafos II, III, IV, VII eVIII considera como de grande porte, “a locali-zação do ponto de uso em corpo d’água” e a “so-licitação de outorgas para obras, serviços, estru-turas de engenharia que possam modificar amorfologia ou margens do curso d’água ou alte-rar seu regime”.

Quanto ao enquadramento de corpos d’água,abordado nos incisos IV e V do artigo 2o, sãodefinidas cinco classes para as águas doces, vari-ando de especial até a Classe 4, em função dopadrão de qualidade do corpo d’água e dos seususos preponderantes.

Segundo Mitre, os rios mineiros estão sendoenquadrados de acordo com essa classificação,levando em conta os usos preponderantes. Deacordo com a Resolução no 020/86 do ConselhoNacional de Meio Ambiente (Conama), os cor-pos d’água classificados como de Classe especi-al são aqueles destinados ao abastecimento do-méstico, sem prévia ou com simples desinfecçãoe à preservação do equilíbrio natural das comu-nidades aquáticas. Os corpos d’água de Classe Isão aqueles destinados ao abastecimento domés-tico, após tratamento simplificado, à proteçãodas comunidades aquáticas, à recreação de con-tato primário, à irrigação de hortaliças que sãoconsumidas cruas e de frutas que se desenvol-vem rentes ao solo e que são ingeridas cruas semremoção de película, além da criação natural e/

ou intensiva (aqüicultura) de espécies destina-das à alimentação humana. As outras classes sãodestinadas a corpos de água cujos fins prepon-derantes sejam menos nobres.

MÉDIO E PEQUENO PORTES – A definiçãodas represas/barramentos como de médio porteestá prevista nos incisos III, V, VI e VIII do arti-go 3o da DN. Destes, pode ser destacado o incisoIII que determina o médio porte em função dasua localização em “bacia hidrográfica situadaem região de alto risco de escassez”.

A DN especifica ainda um prazo de dois anospara o estabelecimento da classificação das Uni-dades de Planejamento e Gestão de RecursosHídricos, de acordo com o seu risco de escassez,em função de seu potencial hídrico. E, na faltadessa classificação, são estabelecidos três valo-res para o rendimento específico unitário míni-mo com dez anos de recorrência a ser observa-dos na área de drenagem do ponto de uso doempreendimento (alíneas “a”, “b” e “c”, pará-grafo único, artigo 5º).

Os empreendimentos, não enquadrados nosartigos 2o e 3o dessa DN, serão considerados depequeno porte.

Quanto ao uso insignificante, os comitês debacia vão definir critérios para sua caracteriza-ção. Na ausência de definição do respectivoComitê de Bacia, a definição é realizada peloIgam. Para esses empreendimentos, apesar denão serem sujeitos à outorga de direito de usodas águas, é necessário o cadastro no Igam, sen-do emitida uma Certidão de Uso Insignificante,com prazo de 3 anos. �

Desde 4 de novembro de 2002, está em vigor, no esta-do de Minas Gerais, a Deliberação Normativa no 07, doConselho Estadual de Recursos Hídricos de Minas Ge-rais, que estabelece a classificação dos empreendimen-tos quanto ao porte e potencial poluidor, tendo em vis-ta a legislação de recursos hídricos do estado de MinasGerais, e dá outras providências. Esta deliberação po-derá ser conhecida na íntegra através do site do Insti-tuto Mineiro de Gestão de Águas (www.igam.mg.gov.br), que traz a legislação estadual e nacional sobrerecursos hídricos.

Outra legislação que norteia a construção de represasem Minas Gerais é a Portaria no 01, de 03 de janeiro de2001, na qual o Instituto Estadual de Florestas de MinasGerais (IEF) se baseia para autorizar a supressão de ve-getação em áreas de preservação permanente, em casosde empreendimentos de interesse social ou público. A

Portaria traz também a relação de procedimentos, do-cumentação e projetos de recuperação necessários, bemcomo a tabela de taxas cobradas pela instituição. Essaportaria e a legislação em vigor sobre o assunto pode-rão ser conhecidas através do site do IEF (www.ief.mg.gov.br).

Além da legislação acima, aplicável especificamente noestado de Minas Gerais, o Conselho Nacional de MeioAmbiente (Conama) editou duas resoluções que tratamsobre o assunto. São as resoluções no 302, que dispõesobre os parâmetros, definições e limites de Áreas dePreservação Permanente de reservatórios artificiais e oregime de uso do entorno, e no 303, de 20 de março de2002, que dispõe sobre parâmetros, definições e limitesde áreas de preservação permanente. Estas duas resolu-ções poderão ser conhecidas, na íntegra, através do siteda Agência Nacional de Águas (www.ana.gov.br).

REPRESAS E LEGISLAÇÃO EM VIGOR

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m auditório lotado de produtores rurais mi-neiros, a maioria adepta da agricultura irri-gada, e uma mesa composta por autoridades

ligadas à área do meio ambiente, além de vários de-putados estaduais, compuseram o cenário. A reuniãopresidida pelo deputado João Batista de Oliveira ecapitaneada pelo deputado reeleito Paulo Piau dei-xou evidente que existe um longo caminho a percor-rer para que o meio ambiente não seja um empecilhoao desenvolvimento sustentável da agricultura.

A legislação sobre o meio ambiente é ainda umassunto relativamente novo neste país e sua aplica-ção tem provocado inúmeras distorções, entre elas, ade surgimento de posturas de estrelismo por parte detécnicos, da polícia florestal e do ministério público,até a criação de situações propícias à prática decorrupção, no entendimento expresso pelo deputadoPaulo Piau. “A aplicação de multas, que foram cria-das com o objetivo de educar o setor produtivo, está-se transformando em orçamento de alguns organis-mos públicos”, alertou o parlamentar.

MINAS GERAIS: PLUVIOMETRIA DE UMGRANDE PIVÔ CENTRAL – Morosidade no examedos processos na obtenção de outorgas para o uso daágua pela agricultura irrigada; desentrosamento en-tre os órgãos do setor ambiental do Estado para aconcessão de licenciamentos ambientais; falta de con-dições materiais, de maior preparo técnico e profissi-onal dos recursos humanos envolvidos; além da co-brança indevida e do alto valor dos emolumentos porserviços prestados pelos órgãos da área ambientalforam algumas das queixas relacionadas pelos repre-sentantes rurais durante a audiência pública.

O presidente da Federação da Agricultura doEstado de Minas Gerais (Faemg), Gilman Viana Ro-drigues, acredita que o armazenamento da água é oinstrumento de preservação do futuro da agriculturae a solução para os problemas de estiagem e deestresse hídrico de algumas regiões do estado de Mi-nas Gerais. “É preciso pensar no significado e naimportância da agricultura para o Brasil”, ponderouViana.

“O principal interessado em preservar os recur-sos naturais é o produtor rural, como também é estaa intenção do poder público. Mas, a engrenagem nãoestá funcionando: a fiscalização cobra o cumprimen-to da lei, o produtor tenta mas não consegue regula-rizar sua situação”, queixa-se o produtor rural, JoãoRanulfo Pereira, de Paracatu.

As condições hidrográficas apresentadas pelo es-tado de Minas Gerais foi um dos problemas levanta-dos por esse produtor. A média estadualpluviométrica está em torno de 1.500 mm anuais, igua-litariamente dariam 4 mm diários. “Na verdade, comesse raciocínio, Minas Gerais é um grande pivô cen-tral e o armazenamento de água é a solução”, con-cluiu ele, queixando-se também que, em vez de rece-ber incentivos para este empreendimento, o setorrural vem sendo “inibido” ao tentar colocar em prá-tica a construção de barramentos.

Audiência públicatenta aparar arestasentre a agricultura e

o setor públicoambiental

A indispensável oportunidade defrancas interlocuções

Autoridades e produtores debateram seus problemas na audiência pública daAssembléia Legislativa de Minas Gerais

U

Uma tentativa de sanear conflitos, aparararestas e formar parcerias entre o poder

público e o setor produtivo, além deesclarecer problemas provocados porpunições aplicadas aos produtores na

interpretação da legislação ambiental, emespecial, da Lei Florestal nº 14.309, de 20/06/

2002, foram os principais objetivos de umaaudiência pública promovida pela Comissãode Política Agrícola e Agroindustrial, no dia

23 de outubro de 2002, na AssembléiaLegislativa de Minas Gerais.

FOTO GENOVEVA RUISDIAS

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ARBITRARIEDADES – Além de documentos comsugestões encaminhados pelo Sindicato Rural deUberaba e pela Emater-MG, a Faemg contribuiu comuma análise conjuntural da aplicação da legislaçãoambiental vigente, onde tece uma série de críticas.

“Quanto à reserva legal e o licenciamento ambien-tal, sua exigência tem sido feita de forma arbitrária,com o fechamento de pivôs, embargos de atividades,exigência de termos de ajustamento de conduta im-praticáveis etc.(...). Querem impor tão somente aoprodutor rural o dever da proteção e conservação domeio ambiente, quando esta atribuição é de compe-tência do poder público e da coletividade, conformemuito bem determina o artigo 225 da ConstituiçãoFederal”, cita o documento.

E continua: “Neste contexto, a Faemg, represen-tando os produtores rurais de Minas Gerais, o Insti-tuto Estadual de Florestas (IEF), a Promotoria deJustiça e a Polícia Ambiental devem construir umcaminho, onde seja possível aparar algumas arestaslegais e institucionais, estabelecendo-se uma agendamínima com os seguintes pontos para discussão:• instituição e averbação da reserva legal, nos ter-

mos do artigo 16, parágrafo 8o do Código Flores-tal ( Lei nº 4.771/65);

• recomposição da reserva legal à luz do que dis-põe o artigo 225, parágrafo 1o, I, da ConstituiçãoFederal de 1988;

• gratuidade da reserva legal (instituição e averba-ção) para pequenas propriedades, conforme dis-põe o artigo 16, parágrafo 9o do Código Florestal,o que não está sendo praticado;

• licenciamento ambiental, estratégias de ação con-junta entre as entidades;

• custos do licenciamento ambiental em MinasGerais são os maiores do Brasil, impondo-se aoempreendedor rural taxas que podem atingirR$25.657,48 (projeto), mais R$12.828,74 (EIA/Rima), representando um fator de desestímulo àbusca do licenciamento; e,

• revisão da burocracia interna do IEF, que impõeprocedimentos desnecessários e complicados aoprodutor rural, inclusive ao reflorestador, hojetotalmente desestimulado, quando no momentoda colheita não consegue a guia de controle am-biental (GCA) para comercializar seu produto(eucalipto ou pinus).”

EM BUSCA DE UM PACTO – Com base nosdepoimentos dos produtores e documentos apresen-tados nessa audiência pública, a Comissão de Políti-ca Agrícola e Agroindustrial da AssembléiaLegislativa elaborou um documento, que foi encami-nhado ao governador de Minas Gerais, Aécio Neves.

“Temos que encontrar uma maneira de buscaravanços no meio ambiente, sem travar o setor produ-tivo. Estamos degradando há 500 anos, precisamosde pagar esse passivo ambiental, mas não podemosparar de produzir”, considera o deputado Paulo Piau.E cita dois exemplos, em que se torna urgente o esta-belecimento de entendimentos:1. A Promotoria do Meio Ambiente e a Polícia Flo-

restal entendem que não se pode usar água de

vereda. A legislação determina que não pode ha-ver interferência em área de reserva permanente,mas não a interpretação de que não se pode usara água desta área. No chapadão mineiro, princi-palmente no Triângulo Mineiro, praticamentetoda a água é de vereda. Se houver proibição deusá-la, o setor produtivo será paralisado.

2. A Corregedoria do Tribunal de Justiça determi-nou que os cartórios não podem passar escrituraspara propriedades rurais que não tenhamaverbado a área de reserva legal de 20%. No en-tendimento do deputado Piau, esta é uma medi-da radical, que travou a realização de negóciosem Minas Gerais.

Outro ponto crucial refere-se ao alto valor dastaxas e multas cobradas pelo Estado nas questõesambientais. Para o deputado, o governo deveria teruma melhor compreensão da situação e isentar situ-ações irregulares em empreendimentos antigos, de10, 20, 30 anos.

“Minas está precisando produzir e cuidar domeio ambiente”, afirma o parlamentar, consideran-do que a palavra-chave do novo governo é o de bus-car o estabelecimento de um pacto na obtenção deavanços para o meio ambiente sem prejudicar o se-tor produtivo.

Propostas dosprodutores rurais mineirospara o governo estadual

O deputado Paulo Piau encaminhou ao governa-dor Aécio Neves, um relatório dessa audiência públi-ca realizada na Assembléia Legislativa. No documen-to, destacou que todos os representantes das entida-des presentes manifestaram-se, claramente, pela ne-cessidade de preservação do meio ambiente. Contu-do, pleiteiam a concessão de prazos razoáveis paraque as disposições legais sejam implementadas e quehaja um programa de divulgação do conteúdo dessasleis no meio rural.

Um segundo aspecto refere-se à necessidade demodificação da postura e da forma de atuação dosórgãos e agentes públicos encarregados da aplicaçãodas leis, substituindo-se atitudes arbitrárias e autori-tárias pelo diálogo e pela ação educativa, buscandoestabelecer parcerias com os produtores rurais paraatingir o objetivo de proteção do meio ambiente e dodesenvolvimento sustentável da produção de bensagrícolas.

Entre as reinvindicações apresentadas, os produ-tores destacam a regulamentação da Lei nº 14.309/2002, que está sendo elaborada pelo IEF, sem ouviros demais segmentos interessados. Destaca ser fun-damental a regulamentação da Seção III do CapítuloII da Lei Estadual no 14.309, tendo como objetivos:a) desvincular a concessão de licenciamento ambien-

tal e outorga do direito de uso da água da averba-ção da reserva legal;

b) explicitar que a averbação da reserva legal parafins de registro de cédula rural poderá ser dispen-

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sada, quando requerida para promover ações jun-to a agente financeiro;

c) aceitar, com o objetivo de minimizar os custos deimplantação, os levantamentos topográficos e decaracterização da cobertura vegetal, realizados deforma expedita, com o emprego de GPS, imagensde sensores remotos ou similares, para fins dedemarcação da reserva legal;

d) explicitar que a solicitação de licenciamento jun-to ao IEF, para uso alternativo do solo (licençapara desmatar), deverá sempre ser acompanhadada averbação da reserva legal;

e) normatizar a gratuidade de averbação para pe-quenas propriedades rurais (menores que 30/50hectares), com os seguintes pressupostos:– o projeto técnico, a assessoria jurídica e o acom-panhamento da implantação da reserva ficariama cargo da Emater e do IEF, os quais têm, do pontode vista institucional, todas as condições para su-prir a escassez existente de profissionais legalmen-te habilitados para prestar tais serviços;– possibilitar que seja firmado convênio entre aFaemg, Fetaemg, Emater e IEF, para facilitar aoperacionalização das ações de implantação dareserva legal em Minas Gerais, tanto no que dizrespeito ao pequeno produtor (gratuidade), quan-to aos posseiros e nas propriedades médias e gran-des. Definir ainda, no âmbito desse mesmo con-vênio, que os pequenos produtores e agricultoresfamiliares tenham a possibilidade de optar pelaterceirização dos serviços de locação da reserva eda produção de mapas, que serão remuneradospor meio de recurso orçamentário do poder pú-blico, desde que o valor não exceda a 5% do pre-ço médio elaborado pela Emater e IEF.

É necessário estender a gratuidade da averbaçãoda reserva legal às propriedades com até quatromódulos rurais, pois tal conceito adapta-se melhor àrealidade do Estado que o simples estabelecimentode um número de hectares conforme estabelecido nalegislação federal. Assim, sugere-se que sejam estu-dadas formas legais de promover a modificaçãosugerida.

No âmbito do Poder Executivo, sugere-se: desti-nar recursos orçamentários para que o IEF e aEmater possam executar os procedimentos de loca-ção da reserva legal e produção de mapas, inclusiveprevendo-se os casos de gratuidade de tal operação.

Ao Poder Legislativo, propõe-se: apoiar iniciati-va parlamentar de introduzir lei de criação de pro-grama e fundo que visem financiar e incentivar aimplantação da reserva legal em Minas Gerais nasdiversas formas previstas na legislação.

Ao Ministério Público e ao Poder Judiciário su-gere-se: estabelecer, no âmbito de suas atribuições,prazo compatível – não inferior a dois anos – paraexigir o cumprimento das normas legais referentesà recuperação das reservas legais nas médias e gran-des propriedades e posses rurais, especialmentequando ficar demonstrado que haverá necessidadede aporte expressivo de capital para atender às de-terminações legais.

TAXAS E PENALIDADES – Quanto às taxas co-bradas por serviços prestados pelos órgãos estaduaisde meio ambiente e penalidades aplicadas, houve umamanifestação unânime das entidades ruralistas de queos valores são extorsivos, especialmente em compa-ração com as demais unidades da federação. Comoexemplo, o relatório cita que a taxa de licenciamentopara a suinocultura em Minas Gerais tem valor míni-mo de R$3.800,00 para a taxa de análise de EIA/RIMA, enquanto no Paraná os custos desse mesmoserviço são de R$380,00.

Em relação às penalidades, os presentes à audi-ência consideraram que há uma preocupação perma-nente entre os fiscais dos órgãos seccionais da Semadem aplicar multas que, via de regra, são cominadascomo gravíssimas, cujos valores podem atingirR$70.000,00. A fiscalização não se tem valido da penade advertência, que tem caráter educativo e contri-buiria para divulgar a nova legislação no meio rural.

Os produtores consideram ser necessária umarevisão dos valores das taxas e emolumentos cobra-dos, lembrando ainda que algumas dessas taxas ain-da estão indexadas e sofrem reajuste mensal.

LICENCIAMENTO AMBIENTAL – Os produto-res rurais solicitam que se estabeleça um mecanismosimplificado para o licenciamento ambiental nas pro-priedades rurais. Hoje, os estudos ambientais são deelevada complexidade e chegam a inibir até mesmoos técnicos da Emater, que sentem dificuldade paracumprir todas as etapas exigidas pelo formato esta-belecido pela Feam. Não há uma hierarquização bemformulada desses estudos em relação ao potencialpoluidor dos diversos empreendimentos. Além dis-so, os prazos demandados pela Feam, IEF e Igam paraa concessão de licenças ambientais, autorizações e ou-torgas do direito de uso da água inviabilizam, muitasvezes, o empreendimento, em face do calendário agrí-cola.

INTERVENÇÕES EM VEREDAS E ÁREAS DEPRESERVAÇÃO PERMANENTE – Os produtoresconsideram ser necessário reformular a Lei no 14.309(Lei Florestal), para evitar a dubiedade de interpre-tação no que diz respeito às intervenções em veredase demais áreas de preservação permanente. Algunsórgãos têm interpretado o parágrafo 10 do artigo 13(os produtores sugerem a supressão desse parágra-fo), como uma proibição a qualquer tipo de interven-ção em vereda, inclusive a captação de águas, a cons-trução de barramentos e o uso agrícola. Essa inter-pretação traz dificuldades para regiões do TriânguloMineiro, Alto Paranaíba, Noroeste e Norte de Mi-nas, pois as veredas, em muitos casos, representamas únicas fontes de água superficial das propriedadesrurais e mesmo para o abastecimento de aglomera-dos urbanos. Por outro lado, parte da fiscalização temadotado o disposto no parágrafo 8º do mesmo artigo,que diz que a utilização de área de preservação per-manente será admitida mediante licenciamento am-biental. Esse dispositivo está em consonância com oque reza o artigo 11, que resguarda a ocupaçãoantrópica já consolidada, desde que não haja alter-nativa locacional para a intervenção. �

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E N T R E V I S T A MAURÍCIO FERNADES

Item – Qual é o quadro do Es-tado em relação ao aproveita-mento de recursos hídricos nomeio rural?Maurício Fernandes – Em Mi-nas Gerais, chove de 600 mma 1.800 mm anuais. Metadedesta chuva vira enxurrada,escoamento superficial, nossoinimigo público. No ciclo daágua, temos que minimizar aenxurrada e essa água tende ase infiltrar no solo. Parte des-sa água infiltrada é utilizada nometabolismo da planta e partevai para o lençol freático, dan-do origem às nascentes e aoscursos d’água. Um trabalhoque buscamos junto ao meiorural é fazer com que seja uti-lizada a irrigação artificial comsistemas eficientes no consumode água e que a água da chuvaseja mais aproveitada. Existeum conjunto de técnicas paradiminuir o escoamento super-ficial e a enxurrada. Devemosnos preocupar também com asáreas que recarregam os len-çóis. Quando me preocupoapenas com a nascente e nãocom o sistema de toda a nas-cente, tendo conhecimendo es-pacial das áreas de recarga, écomo se eu tivesse uma contacorrente e só fizesse retiradas.

Item – Que técnicas são essas?Maurício Fernandes – Com re-lação ao curso d’água, seria fe-char e cercar e deixar a vege-tação nativa regenerar, sem aintervenção do homem ou dosanimais. Mas o mais importan-te é a parte que recarrega anascente. Outra preocupação

Como se tornar umcolhedor de chuvas

A construção de uma bar-ragem ou de uma represa nomeio rural requer altos inves-timentos, sendo consideradapor alguns técnicos e produto-res um empreendimento caro,burocrático e que, na maioriados casos, exige medidas de re-paração do meio ambiente,como no caso de desmatamen-to de áreas. Maurício Fernan-des, coordenador técnico deBacias Hidrográficas daEmater/MG, alerta o produtorpara a adoção de técnicas decolheita de chuvas, antes departir para a construção deuma barragem.

Segundo ele, se o meio ru-ral não é valorizado pela pro-dução de alimentos, deveriaser pela produção de águas,que será aproveitada por todosos setores da atividade huma-na, tanto pelo abastecimentopúblico, quanto por outras ati-vidades econômicas. A árearural é a maior captadora dechuvas, ocupando cerca de80% do território em MinasGerais.

Fernandes considera a ci-dade um meio artificializado,impermeabilizado, especial-mente quando se fala em cicloda água. “Principalmente nasnossas cidades, que não têmplanejamento de bolsões ver-des e os próprios loteamentossão feitos à revelia da partetécnica. A água sai do meiorural, em qualidade muitas ve-zes boa, passa pela cidade, époluída e devolvida ao meiorural”, afirma ele, em entrevis-ta à revista ITEM.

é com as nascentes ao longo docurso e com a vegetação ciliarou Mata Ciliar, responsáveispela manutenção dessas nas-centes.A legislação florestal determi-na que a menor faixa de vege-tação ciliar deve ser de 30metros de cada lado da mar-gem. À medida em que o cursod’água vai alargando, esta faixatambém vai aumentando. Ela éimportante não só para mantera vazão do curso d’água, mastambém para manter a fauna,que depende do sombreamentoe das frutas aí produzidas. Nasregiões acidentadas, isso é maisdifícil e torna-se um ponto deconflito, pois, muitas vezes, oagricultor só tem aquela vere-da ou várzea para produzir.Elas vêm sendo desmatadas hámuitos anos (desde os temposda colonização) e para reintro-duzir a vegetação ciliar, muitasvezes tem-se que ocupar umaparte da várzea que o produtortinha para produzir cereais ehortaliças.

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E N T R EMAURÍCIO FERNADES

Item – Quais são as vantagenspara o produtor, ao se tornarum produtor de águas? Maurício Fernandes – Se oprodutor rural for um produ-tor de águas, em quantidade equalidade, ele deverá ser bene-ficiado por isso. Se está aumen-tando a vazão do curso d’águaem seu território, está benefi-ciando mais a comunidade doque a si próprio. Então, temque ser compensado. Ele nun-ca deveria ser penalizado a pa-gar pelo uso da água. O pro-dutor rural tem que ser vistode forma diferente. Nossa le-gislação ambiental deveria sermuito mais motivadora do quepunitiva.Para isso, os serviços de assis-tência técnica e de pesquisa,tanto oficiais quanto privados,são fundamentais, porque de-têm a tecnologia de controledo ciclo da água a ser feito commaior eficiência no meio rural.A tecnologia é simples, masnão adianta apenas um produ-tor fazer o trabalho de colhei-ta de chuva, isoladamente. Éum trabalho a ser desenvolvi-do pela comunidade onde elevive.

Item – Como esse trabalhodeve ser conduzido?Maurício Fernandes – Nas re-giões semi-áridas, existe muitaperda de água do solo por eva-poração. Deve-se fazer um tra-balho de motivação, de bene-

fícios para o produtor que fazcolheita de chuvas; usar siste-mas de irrigação mais eficien-tes e fazer com que os técnicoscheguem antes daqueles queapenas querem vender o equi-pamento. O técnico é impor-tante para fazer o planejamen-to. A irrigação é uma técnicade fundamental importância,mas nós que temos um regimerazoável de chuvas, temos queaproveitá-la e fazer com que airrigação artificial seja comple-mentar. Com isso , teremosuma maior eficiência da irri-gação, economia de energia e,conseqüentemente, de custos.Acho que a ABID, como au-toridade máxima da irrigaçãono país em termos técnicos ede mobilização do setor, devecaminhar para além da irriga-ção tradicional, partir para umtrabalho de utilização da águade chuva dentro do sistema.

Item – A agricultura irrigadapode ser apontada como a res-ponsável pela escassez deágua, como está acontecendono Triângulo Mineiro, especi-almente em Uberaba?Maurício Fernandes – Acho

que não. No Triângulo Minei-ro, especialmente em Ubera-ba, temos um alto índice deadoção de técnicas de conser-vação de solo e de água. Gran-de parte da agricultura e dapecuária da região conta comsistema de terraceamento (ca-nais em curva de nível, que re-têm água de chuva), como tam-bém cobertura das pastagens,que as transformam em melho-res receptoras e encaminhado-ras de águas para o lençol fre-ático. Outro detalhe: a agricul-tura da região está passandodo plantio convencional parao sistema Plantio Direto, quemantém a estrutura natural dosolo e aumenta a infiltração daágua. Então, a agricultura estámuito mais preocupada empreservar o meio ambiente doque outras atividades. Em ci-dades do porte de Belo Hori-zonte, vê-se o desperdício deágua no meio urbano. Já a agri-cultura não desperdiça água,pois quando se faz a irrigação,a água vai para o solo e toma ocaminho desejado. Se a irriga-ção for malfeita, boa parte des-sa água pode virar enxurrada.Sistemas de irrigação têm de

As nascentesnão são apenas

os chamados”olhos d’água”,

encontradosnas grotas. Na

verdade, para aexistência dosolhos d’água,

primeiro épreciso

acontecer ainfiltração da

água daschuvas para

abastecer oslençóis

subterrâneos,ou lençóis

freáticos. Estes,por sua vez,

abastecem oscórregos, rios e

demais cursosd’água

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V I S T A MAURÍCIO FERNADES

ser constantemente revistos,para caminharmos cada vezmais para a eficiência. A irri-gação é fundamental, pois agri-cultura sem irrigação, seja me-canizada ou de superfície, é dealto risco. Uma atividade eco-nômica tem de ter o mínimo deriscos.

Item – A agricultura irrigadapode se tornar o “bode expia-tório” desta situação?Maurício Fernandes – Bodeexpiatório? É muito difícil afir-mar algo sem se medir. Temque haver um monitoramentodo que está acontecendo, vercomo essa água está sendo uti-lizada e o seu retorno ao solo.Depois, deve-se verificar ou-tros usos da área, que estãolevando ao conflito. De todaforma, a área rural é muitomais produtora do que consu-midora de água. Pelos núme-ros frios das estatísticas, a agri-cultura consome mais de 70%da água. Este termo “conso-me” é mal empregado, porquea água além de cumprir o ciclohidrológico, sendo depuradaao “passar” pelo sistema solo-planta, também volta ao meio

ambiente na forma de alimen-tos e outros bens. É uma ques-tão de segurança alimentar.

Item – Qual é a sua opiniãosobre a construção de repre-sas e barragens no meio rural,como forma de armazenarágua para a irrigação?Maurício Fernandes – A bar-ragem não seria uma técnicaúnica de conservação de águas.Existe um conjunto de técni-cas integradas que pode fazercom que uma propriedade ouum conjunto de bacia hidro-gráfica rural não necessite debarragem. Mas acredito nãoser complicada a construção deuma barragem. Se você provar,tecnicamente, que através deum projeto esse empreendi-mento é necessário e não pre-judicará quem está a jusante,não haverá grandes problemas.A recomendação para a cons-trução de represas e barragensvai depender da situação, dascondições locais da proprieda-de e da inserção dela na baciahidrográfica. A assistência téc-nica, junto com o produtor, éimportante no processo de de-cisão sobre a necessidade de

uma barragem, o local onde eladeverá ser construída e quaisos procedimentos legais a se-rem adotados. Mais difícil queconstruir uma barragem é con-vencer o meio urbano sobre aimportância dela para o produ-tor rural.

Item – O senhor acha que omeio rural deve pagar pelo usoda água, mesmo sendo consi-derado um produtor de água?Maurício Fernandes – O meiorural não pode ser encaradocomo consumidor, mas comoaquele que garante a água emquantidade e qualidade paraoutros setores da economia. Aidéia que se tem sobre a legis-lação ambiental em relação aosrecursos hídricos é a de que oprodutor rural seja trabalhadode forma a adotar tecnologiasde colheita de água. Se um gru-po de produtores de uma ba-cia hidrográfica consegue man-ter ou aumentar a vazão docurso d’água, ao invés de pa-gar por ela, tem é que receberbenefícios. Jamais deve ser umpagador de águas, mas sim serresponsabilizado como umguardião de águas. Não pode-mos onerar ainda mais a pro-dução agrícola, que já é tãopenalizada com outros ônus.Logicamente, aquele produtorque desperdiça e não conser-va os recursos naturais, temque ser educado e cobrado,mas não pagar por isso. �

Para proteger erecuperar asnascentes nasuapropriedade,faça o seguinte:

1 - Cerque anascente a umadistânciamínima de 50metros do olhod’água.

2 - Faça a cercacom quatro fiosde arame. Adistância entreos mourõesdeve ser de 6m.Já os balancinsdevem sermontados a1,5m dedistância umdo outro.

3 - Não corte enem plantenada dentro daárea cercada.Deixe que todaa vegetaçãodesenvolva-senaturalmente:é a regeneraçãonatural

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Uma força tarefa para resolveracúmulo de pedidos deoutorgas de água em MG

erca de 1.600 processos de pedidos de outor-ga de direito do uso da água estão acumula-dos no Instituto Mineiro de Gestão da Água

(Igam), dos quais 90% originários do setor agrícola edestinados à irrigação. O corpo técnico da institui-ção tem capacidade para analisar uma média diáriade 27 processos, enquanto 60 novos pedidos são pro-tocolados.

Além da demora no início da análise, os proces-sos autorizativos de empreendimentos que chegamcom documentação incompleta ou que necessitam daparticipação de outros órgãos da área de meio ambi-ente demandam mais tempo de análise e atrasos, ge-rando insatisfação dos setores técnicos e produtivo eacabam constituindo-se num empecilho para a expan-são do setor agrícola em Minas Gerais.

A situação, que vem sendo alvo de protestos des-de o ano passado, provocou uma reunião na Secreta-ria Estadual do Meio Ambiente e DesenvolvimentoSustentável, com a participação de três secretários deEstado, de lideranças do setor agropecuário, de re-presentantes da iniciativa privada e do Legislativo,numa tentativa de encontrar soluções. Um documentoreivindicatório, fruto de uma audiência pública pro-movida pela Comissão de Política Agrícola e Agroin-dustrial da Assembléia Legislativa de Minas Geraisjá havia encaminhado a questão para o Poder Execu-tivo.

FORÇA TAREFA – Para dar vazão aos pedidosacumulados de outorga, além de passar a adotar cri-térios menos burocráticos na revisão decadastramentos, o Igam irá contar com uma forçatarefa composta por técnicos da Emater, Epamig eRuralminas, que irão apoiar na fase inicial de instru-ção dos processos de outorga. A conclusão do pro-cesso e a concessão da outorga continuam a cargo doIgam.

Esta foi a principal solução encontrada na discus-são promovida na Semad pelos secretários de Estadodo Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável,José Carlos Carvalho, de Desenvolvimento Econô-mico, Wilson Brumer e da Agricultura, Pecuária eAbastecimento, deputado federal Odelmo Leão.

Muitos empreendedores rurais estão aguardan-do a concessão de outorga para definições importan-tes para a próxima safra agrícola, como a obtençãode financiamentos junto aos Bancos, para a aquisi-ção de equipamentos de irrigação, a definição da áreaa ser plantada e o preparo do solo.

DESAFIOS – “Os processos mais antigos, comoos de outorga para reservatórios que já têm 10, 20 ou

30 anos de existência, não são consideradosemergenciais. Mais urgentes são aqueles que podemtrazer complicadores para a próxima safra”, conside-ra o engenheiro agrônomo Paulo Teodoro de Carva-lho, atual diretor presidente do Igam.

Recém-empossado no cargo, Paulo Teodoro con-sidera que, além da desobstrução dos trabalhos deconcessão de outorga, tem outros desafios pela fren-te, como o de contar com uma equipe considerada“enxuta” demais para atender aos recursos hídricosdo Estado que, além de um maior entrosamentoinstitucional, necessita de maior capacitação e trei-namento.

O Igam dispõe de um número grande de infor-mações sobre águas superficiais e subterrâneas doEstado, que precisam ser constantemente atualiza-das. Essas informações dão suporte a um sistema geo-referenciado com mapas, de apoio aos processos deconcessão de outorgas. Outro grande desafio do Igamé o de promover a organização dos comitês das baci-as hidrográficas, cuja implantação definitiva irá de-safogar muitas das atuais responsabilidades do órgão.

REPRESAS – Para o diretor presidente do Igam,do ponto de vista produtivo e de disponibilidade to-tal da água, a construção de represas ou reservatóri-os de água no meio rural tem suas vantagens, quenão podem ser negligenciadas.

“Se irá propiciar o uso racional no processo pro-dutivo, não traz problemas a jusante, porque não re-servar a água no período de abundância?”, questionaele, destacando a importância da reconstituição detodas as condições ambientais e ictiológicasprovocadas pelo deslocamento da vegetação ciliar emvolta das represas.

Ele também considera importante que o produ-tor rural leve em conta o tempo necessário para olicenciamento de um empreendimento desses, já queexistem reservatórios que dependem apenas de umaautorização do Igam e do IEF, mas outros, de maiorenvergadura, cujo licenciamento poderá depender deanálises e estudos mais complicados, como RCA/PCA(Relatório de Controle Ambiental e Plano de Con-trole Ambiental) e EIA/RIMA (Estudo de ImpactoAmbiental e Relatório de Impacto Ambiental).

“Outra questão que o empreendedor tem que terconsciência é a de que os licenciamentos não são per-manentes, podendo ou não ter suas licenças de ope-ração prorrogadas. Isso irá depender do monitora-mento e fiscalização, pois se existe o impacto ambien-tal, o empreendimento tem que ser mitigado de umaforma ou de outra”, alerta ele.

C

84 ITEM • Nº 56/57 • 4º trimestre 2002 e 1º trimestre 2003

Paulo Teodorode Carvalho,

diretorpresidente do

Igam

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ara o técnico responsável pela análise deprocessos e concessões na área de licen-ciamento ambiental, será possível ter aces-

so a informações que dependem de outros ór-gãos da área, via intranet, e dar seus parecerescom mais segurança e rapidez.

Para quem encara hoje a obtenção de umalicença ambiental em Minas Gerais como umverdadeiro calvário, o relato anterior assemelha-se a um sonho. Mas é uma prática que deverátornar-se real até o final de 2003, com a implan-tação do subprojeto referente ao licenciamentoambiental do Programa Nacional de Meio Am-biente (PNMA II), em desenvolvimento no Es-tado, com apoio e recursos do Ministério doMeio Ambiente e do Banco Mundial. SegundoSimone Ribeiro Rolla, coordenadora da Unida-de de Coordenação do Estado do PNMA II, serápossível implantar a idéia de que processos quelegalmente não funcionariam, não entrem emnenhuma dos três órgãos integrantes do Siste-ma Estadual de Meio Ambiente de Minas Ge-rais.

Mesmo dependendo de decisões

de diferentes órgãos ambientais,

como o Instituto Estadual de

Florestas (IEF/MG), a Fundação

Estadual do Meio Ambiente

(Feam), o Instituto Mineiro de

Gestão de Águas (Igam), ou a

Secretaria Estadual do Meio

Ambiente e Desenvolvimento

Sustentável de Minas Gerais

(Semad), será possível ao

interessado acompanhar os

pareceres e as interpretações

técnicas através da internet.

P

Um dia será possível conseguirum licenciamento ambiental mais

rápido em Minas Gerais?Um debate que precisa ser intensificado em todos os estados brasileiros

Um dia será possível conseguirum licenciamento ambiental mais

rápido em Minas Gerais?Um debate que precisa ser intensificado em todos os estados brasileiros

FOTO HELVECIO SATURNINO

86 ITEM • Nº 56/57 • 4º trimestre 2002 e 1º trimestre 2003

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QUADRO

Área-piloto para a implanta-ção das ações do PNMA II:Belo Horizonte, Contagem, Nova Lima, OuroPreto, Pedro Leopoldo, Ribeirão das Neves,Sabará, Santa Luzia, Sete Lagoas, Vespasiano,Lagoa Santa, Confins, Funilândia, Matozi-nhos, Prudente de Morais, Capim Branco, Ra-posos, Itabirito, Rio Acima, São José da Lapa,Taquaraçu de Minas, Nova União, Caeté, Bru-madinho e Ibirité.A partir dessas definições, o Programa en-contra-se em sua primeira etapa, que visa apromoção do reforço institucional do Sisema-MG, através da integração e da descentrali-zação de seus processos autorizativos e defiscalização. Esta etapa prevê a implantaçãode um Sistema de Informações AmbientaisIntegradas (Siam), seguindo-se uma segun-da etapa, que enfatiza a descentralização dosistema integrado para a área-piloto seleci-onada (Bacia do Alto do Rio das Velhas).

CONTEXTO ESTADUAL – Com a criação daSemad em 1996, constituiu-se o Sistema Esta-dual de Meio Ambiente (Sisema-MG), compos-to por instituições consolidadas como o IEF (ori-ginário da área de Agricultura), a Feam (origi-nária da área de Ciência e Tecnologia) e o Igam(criado em 1997 e originário do antigo Departa-mento Estadual de Recursos Hídricos). Diferen-tes instituições, com distintas agendas de atua-ção, que convergiam para um só objetivo.

O documento “Diagnóstico do Sistema de Li-cenciamento Ambiental de Minas Gerais - in-ventário de informações”, elaborado no perío-do de 2000/2001, indicava a necessidade dereestruturação dos processos autorizativos doSisema-MG. Um dos problemas identificadosera a dificuldade tríplice em lidar simultanea-mente com a gestão de recursos ambientais/na-turais e o controle de atividades econômicas,com os processos sendo conduzidos de maneirasegmentada, sem a devida integração entre astrês agendas técnicas.

INTEGRAR E DESCENTRALIZAR, DUASMETAS – Foram definidas, então, as priorida-des ambientais e as áreas de atuação. Entre elas,a escolha da área-piloto para a implantação doPNMA II, como prioridade ambiental do Esta-do. A área estabelecida foi a Região Metropoli-tana de Belo Horizonte e as bacias do Rio dasVelhas e do Rio Paraopeba, nos territórios dre-nados pelas nascentes do curso principal até oinício do seu médio curso, tendo em vista os pro-

blemas de degradação ambiental apontados. Elaabrange 23 municípios e uma concentraçãopopulacional de 3,8 milhões de habitantes.

INTEGRAÇÃO DE INFORMAÇÕES – Estafase visa apontar soluções para a fragmentaçãodos processos autorizativos, sejam eles afetos aoIEF, ao Igam ou à Feam. Objetiva-se uma inte-gração processual e um tratamento dessa infor-mação, que beneficie não só o usuário, mas tam-bém os técnicos na hora de analisar os processos.

“Para os técnicos também é uma situação com-plicada, quando o processo depende de uma aná-lise e de um parecer que envolva as três casas.Não é possível considerar uma autorização dedesmate, sem imaginar seu impacto no ponto devista dos recursos hídricos”, explica Adriano Tos-tes de Macedo, gerente da Divisão de Avaliaçãoe Planejamento Ambiental da Feam.

A integração de procedimentos processuais,a normatização de indicadores de qualidade am-biental, a padronização de análises técnicas e deconceitos (o que seriam medidas compensatóri-as, mitigadoras, etc.) são indispensáveis para opreparo, avaliação, implantação e acompanha-mento dos projetos. A idéia é que, através deseminários, se consiga chegar a um dialeto co-mum a ser falado pelos técnicos de cada um dosórgãos e evoluir para que seja consenso dentrodo Sesima.

Para Renato Moreira Hadad, assessor da Pre-sidência da Feam e coordenador da Comissãode Informática dos quatro órgãos, “a idéia é es-tabelecer uma rede ligando as quatro casas:Semad, Igam, Feam e IEF. Estando montada arede, o próximo passo será a disponibilização dasinformações existentes”. Serão eliminadas as pi-lhas de processos das mesas dos técnicos, já queeles passarão a trabalhar com a informação ele-trônica e maior agilidade. �

Renato Moreira Hadad Simone Ribeiro RollaAdriano Tostes de Macedo

FOTO GENOVEVA RUISDIAS

4º trimestre 2002 e 1º trimestre 2003 • Nº 56/57 • ITEM 87

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grande potencial para exploração agrícolasob irrigação da região Meio-Norte do Bra-sil deve-se a sua boa disponibilidade de so-

los e recursos hídricos em diferentes agroecossiste-mas. A região, formada pelos Estados do Piauí eMaranhão, ocupa uma área de 585.744 km corres-pondente a 38 % da região Nordeste (IBGE, 2000).

Segundo diagnóstico realizado pela Embrapa,no Estado do Maranhão, as áreas consideradasprioritárias para irrigação correspondem a 250.000ha, identificadas nas bacias hidrográficas dos riosParnaíba, Itapecuru, Munin, Mearim e Tocantins.No Estado do Piauí, para os programas de desen-volvimento dos recursos hídricos, a meta é irrigarcerca de 100.000 ha nos próximos cinco anos. Pre-dominam, no Estado, os Latossolos Vermelho -Amarelo e Neossolos Quartzarênicos, que juntosocupam cerca de 70 % de sua área e apresentampotencial de exploração agrícola, desde que sejamutilizados capital e tecnologia.

Os recursos hídricos do Piauí apresentam ele-vada disponibilidade superficial e subterrânea. Aságuas superficiais estão quase totalmente inseridasna bacia do rio Parnaíba, com uma área total de330.400 km2. Em termos de bacias secundárias, for-madoras da bacia do rio Parnaíba, tem destaque orio Gurguéia, com área de 49.800 km2, sendo estaa área mais explorada e indicada para as ativida-des agrícolas. Essa bacia produz cerca de 600 mi-lhões de m3/ano. A água subterrânea é extrema-mente abundante, com qualidade para irrigação eabastecimento (Embrapa, 1989). Por suas caracte-rísticas, já se encontram em implantação e explo-ração vários projetos de agricultura irrigada.

Segundo o pesquisador da Embrapa Meio-Nor-te, Aderson Soares de Andrade Júnior, as caracte-rísticas de solo e recursos hídricos são extremamen-te favoráveis à exploração agrícola sob irrigação,mas as principais áreas irrigadas da região apre-sentam uma série de problemas e entraves que di-ficultam o alcance da viabilidade técnica e econô-mica da atividade. Um dos fatores que contribui éa carência de informações básicas para possibili-

tar um manejo adequado de irrigação, bem comoa falta de estudos visando a adequada caracteriza-ção qualitativa dos recursos hídricos para subsidi-ar seu planejamento e sua exploração racional.

FRUTICULTURA IRRIGADA – Com o intuitode contribuir para o desenvolvimento sustentávelda agricultura irrigada, nas áreas consideradasprioritárias na região Meio-Norte, foi aprovadopelo Projeto de Apoio ao Desenvolvimento de Tec-nologia Agropecuária para o Brasil (Prodetab) oprojeto “Caracterização e uso racional de recur-sos hídricos na região Meio-Norte do Brasil”.

A Universidade Federal do Piauí, EmbrapaMeio Ambiente, Secretaria Estadual de Meio Am-biente e de Recursos Hídricos, Universidade Fe-deral do Ceará, Embrapa Agroindústria Tropicale Esalq/USP são os parceiros na execução do pro-jeto, que é coordenado pela Embrapa Meio-Nor-te, através dos pesquisadores Aderson Soares deAndrade Júnior, Edson Alves Bastos e MarcosEmanuel da Costa Veloso. O projeto é parcialmen-te financiado com recursos do Banco Mundial econta com a ordem de R$ 715.000,00 para ser exe-cutado num período de três anos.

De acordo com informações da Secretaria deAgricultura, Abastecimento e Irrigação do Estadodo Piauí, as principais áreas irrigadas da regiãoMeio-Norte são o Distrito de Irrigação dos Tabu-leiros Litorâneos do Piauí (Ditalpi), situado emParnaíba com uma área irrigável de 10.000 ha, ondejá se encontram em operação 540 ha com fruticul-tura irrigada (coco, banana, goiaba, cajueiro anão emelancia); o Distrito de Irrigação dos Tabuleiros deSão Bernardo (Ditasb), localizado em São Bernar-do-MA, com uma área total irrigável de 20.000 ha,dos quais cerca de 654 ha já foram distribuídos aosirrigantes e estão prestes a entrar em operação. �

Informações com os pesquisadores: Aderson Soares de Andra-de Júnior (e-mail: [email protected]); Edson AlvesBastos (e-mail: [email protected]); e Marcos Ema-nuel da Costa Veloso (e-mail:[email protected]).

Essa sessão da ITEM tem como objetivo divulgar informações sobre projetose potencialidades sobre a agricultura irrigada, notícias de articulações

Recursos hídricos e agricultura irrigadana região Meio-Norte do Brasil

NOTAS TÉCNICASpermanentes em favor da organização das informações em determinadas áreas, enfim, abrigar assuntos de especialrelevância que, se disponibilizados, podem ajudar aos leitores e provocar maior intercâmbio entre os interessados.

Para inaugurá-la, dois projetos com especial ênfase no potencial de desenvolvimento da agriculturairrigada nos estados do Maranhão e do Piauí.

O

88 ITEM • Nº 56/57 • 4º trimestre 2002 e 1º trimestre 2003

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m conseqüência dos inúmerosproblemas advindos da desor-denada utilização da água do

aqüífero Serra Grande, região dosemi-árido piauiense, aliado ao fato depoucos estudos no sentido de proporalternativas para sua utilização susten-tável, foi aprovada, junto ao CNPquma ação de pesquisa que está sendocoordenada Embrapa Meio-Norte emparceria com a Embrapa Meio Ambi-ente e a Companhia de Pesquisa deRecursos Minerais (CPRM-PI). Essaação é componente do Programa deRecursos Hídricos do projeto “Insti-tuto do Milênio do Semi-Árido: bio-diversidade, bioprospecção e conser-vação de recursos naturais”, coorde-nado pela Universidade Estadual deFeira de Santana, na Bahia.

Com o prazo para execução pre-visto para 2002/2004, a ação objetivarealizar o monitoramento qualitativoe quantitativo das águas do aqüíferoSerra Grande, por intermédio de po-ços artesianos já existentes, visando àobtenção de informações para subsi-diar a proposta de um modelo de ges-tão racional e sustentável desse impor-tante recurso hídrico. Além disso, pre-tende-se cadastrar todos os poços daárea em estudo; levantar e tabular asinformações existentes de todos os po-ços da área de estudo; levantar e ta-bular os dados fisiográficos da região;identificar, de forma georreferencia-da, prováveis fontes de impactosambientais comprometedoras da qua-lidade da água do aqüífero SerraGrande; elaborar mapa temático di-gital de risco de contaminação doaqüífero Serra Grande na área em es-tudo; elaborar, com base na situaçãoatual, a evolução de um cenário detendências futuras, considerando o de-senvolvimento histórico do processo;propor ações de intervenção imedia-ta, visando subsidiar o poder públicona tomada de decisões, para chegar aum cenário desejável. �

Maiores informações também poderão serprestadas por: Valdemício Ferreira de Sousa([email protected]), Aderaldo deSouza e Silva ([email protected]), Aderson Soares de Andrade Júnior (e-mail: [email protected]); EdsonAlves Bastos (e-mail: [email protected]); e Marcos Emanuel da CostaVeloso (e-mail:[email protected]).

Proposta para oProposta para oProposta para oProposta para oProposta para omonitoramento e gestãomonitoramento e gestãomonitoramento e gestãomonitoramento e gestãomonitoramento e gestãodo Aqüífero Serra Grandedo Aqüífero Serra Grandedo Aqüífero Serra Grandedo Aqüífero Serra Grandedo Aqüífero Serra Grandena microrregião de Picos,na microrregião de Picos,na microrregião de Picos,na microrregião de Picos,na microrregião de Picos,semi-árido Piauensesemi-árido Piauensesemi-árido Piauensesemi-árido Piauensesemi-árido Piauense

E

4º trimestre 2002 e 1º trimestre 2003 • Nº 56/57 • ITEM 89

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Navegando nainternet

A informação é uma das principaisaliadas do produtor rural e aInternet, uma ferramenta essencialpara que ele se mantenha atualizadosobre novas tecnologias e a políticados setores de recursos hídricos emeio ambiente. Nossas dicas de sitese portais de interesse são:

.agricultura.gov.brPortal do Ministério da Agricultura, Pe-cuária e Abastecimento, onde se obtêminformações sobre a estrutura da insti-tuição governamental, legislação, recur-sos humanos, qualidade e notícias atua-lizadas diariamente. Através dele, po-dem-se chegar aos sites de quaisquerórgãos ligados ao Ministério e às infor-mações que eles trazem. São eles: Em-brapa, Instituto Nacional de Meteorolo-

gia (Inmet), Ceagesp, Agrofit, Proagro,Secretaria de Apoio Rural e Cooperativis-mo (Sarc) e Serviço Nacional de Proteçãode Cultivares (SNPC) etc.

.ana.gov.brSite da Agência Nacional de Águas, cominformações atualizadas sobre a políticade recursos hídricos, informações para osprodutores rurais em relação à legislaçãovigente.

.banconordeste.gov.br/irrigaSite do Banco do Nordeste, que divulgaa rede de irrigação, criada no âmbito doestudo que subsidiou o projeto do NovoModelo de Irrigação do programa Brasilem Ação. Traz os cinco volumes resultan-tes desse trabalho.

.cprm.gov.brSite sobre o Serviço Geológico do Brasil,ligado à Secretaria de Minas e Metalur-gia do Ministério de Minas e Energia,abrangendo as águas superficiais e sub-terrâneas, levantamentos e estudos so-bre recursos hídricos desenvolvidos nasdiversas sedes regionais.

.codevasf.gov.brSite da Companhia de Desenvolvimentodo Vale São Francisco e do Paranaíba, quetraz os programas de irrigação daCodevasf, além de informações sobreagricultura irrigada, barragens etc.

.embrapa.brSite da Empresa Brasileira de PesquisaAgropecuária, onde poder-se-ão acessardiretamente informações sobre qualqueruma das unidades da empresa.

.integracao.gov.brSite do Ministério da Integração Nacio-nal, onde pode-se chegar às informaçõesda Codevasf, além de poder acessar pu-blicações como o Frutiséries, cuja ediçãoestá sob a responsabilidade do Departa-mento de Projetos Especiais da Secreta-ria de Infra-Estrutura Hídrica.

.iwmi.orgSite do International Water ManagementInstitute, um centro internacional quetrata da irrigação e da água, em inglês,com informações de todo mundo.

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