grupo ii – classe i – plenÁrio tc 010.448/2017-9. · embargantes: comdasp consultoria...
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GRUPO II – CLASSE I – PLENÁRIO
TC 010.448/2017-9.
Natureza: Embargos de Declaração.
Entidade: Serviço Social da Indústria – Departamento Regional do Amazonas (Sesi/AM).
Embargantes: Comdasp Consultoria Empresarial Ltda. (CNPJ 84.486.513/0001-44) e Serviço
Social da Indústria – Departamento Regional do Amazonas (Sesi/AM).
Representação legal:
- Raimundo Hitotuzi de Lima (OAB/AM 2.024) e outros, representando a Comdasp Consultoria
Empresarial Ltda.;
- Mauro Porto (OAB/DF 12.878) e outros, representando o Sesi/AM.
SUMÁRIO: TOMADA DE CONTAS ESPECIAL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. ACÓRDÃO
1.414/2017-TCU-PLENÁRIO. INEXISTÊNCIA DOS SUPOSTOS VÍCIOS APONTADOS.
CONHECIMENTO. REJEIÇÃO. CIÊNCIA.
RELATÓRIO
Trata-se, no presente momento, de embargos de declaração opostos pela Comdasp
Consultoria Empresarial Ltda. e pelo Social da Indústria – Departamento Regional do Amazonas
(Sesi/AM) em face do Acórdão 1.414/2017 proferido pelo Plenário do TCU em processo de
representação formulada pela Criart Serviço de Terceirização de Mão-de-Obra Ltda. sobre
possíveis irregularidades na Concorrência nº 4/2016 promovida pelo Sesi/AM para a
contratação de serviços de conservação, limpeza e manutenção predial no Clube do
Trabalhador.
2. Em suma, o aludido Acórdão 1.414/2017 foi proferido pelo Plenário do TCU nos
seguintes termos:
“(...) 9.1. conhecer da presente representação, com fulcro no art. 237, inciso VII, do
Regimento Interno do TCU, para, no mérito, considerá-la procedente;
9.2. determinar que, por força do art. 71, IX, da Constituição de 1988, do art. 45 da Lei
nº 8.443, de 1992, e do art. 251 do RITCU, o Serviço Social da Indústria – Departamento
Regional do Amazonas adote, no prazo de até 90 (noventa) dias, contados da ciência desta
deliberação, as providências necessárias para a anulação da Concorrência nº 4/2016, com
todos os atos dela decorrentes, aí incluído o contrato celebrado com a Comdasp Consultoria
Empresarial Ltda., tendo em vista a ofensa aos princípios da indisponibilidade do interesse
público, da competitividade na licitação, da economicidade, da razoabilidade e da busca pela
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proposta mais vantajosa para a administração, sem prejuízo de que, dentro desse mesmo
prazo, o Serviço Social da Indústria – Departamento Regional do Amazonas promova a
conclusão de nova licitação destinada à contratação dos correspondentes serviços, devendo
informar o TCU sobre o resultado de todas essas medidas ainda dentro do referido prazo;
9.3. determinar que, nas futuras licitações, o Sesi/AM faculte aos licitantes a
oportunidade de apresentarem as suas justificativas em relação à possível desclassificação por
proposta de preços considerada inexequível, em respeito aos princípios da indisponibilidade
do interesse público, da competitividade na licitação, da economicidade, da razoabilidade e da
busca pela proposta mais vantajosa para a administração e à jurisprudência do TCU (v. g.:
Súmula nº 262 do TCU);
9.4. determinar a conversão da presente representação em processo de tomada de
contas especial (TCE) , nos termos do art. 47 da Lei nº 8.443, de 1992, com o intuito de
promover a reparação do erário em função dos danos já perpetrados pela contratação da
Comdasp Consultoria Empresarial Ltda., a partir da Concorrência nº 4/2016, com valores acima
da melhor proposta indevidamente desclassificada no certame, ficando autorizada, desde já, a
citação de todos os responsáveis pela prática da aludida irregularidade;
9.5. enviar cópia deste Acórdão, bem como do Relatório e da Proposta de Deliberação
que o fundamenta, à representante, ao Sesi/AM e à Comdasp Consultoria Empresarial Ltda. e
ao Ministro de Estado do Desenvolvimento Social, para ciência; e
9.6. determinar que a unidade técnica promova o monitoramento da determinação
contida no item 9.2 deste Acórdão, dispensando o monitoramento, contudo, em relação à
determinação contida no item 9.3 deste Acórdão.”
3. Inconformada, a Comdasp Consultoria Empresarial Ltda. suscitou a ocorrência de duas
supostas omissões no aludido Acórdão 1.414/2017 (Peça nº 47), aduzindo, para tanto, que:
“(...) A manifestação da embargante (peça 23, p. 1-20), além do rebate pontual das
razões apontadas pela representante (que foram duas: desclassificação pela cotação incorreta
do IRPJ e da CSLL e desclassificação da sua proposta de menor preço, por desatendimento de
exigência quanto a cotação do material de higienização do parque aquático); fora suscitado,
também, aspectos relacionados com (i) a manifesta CONCORRÊNCIA DESLEAL, da
representante e com (ii) superveniência de PRINCÍPIOS DE SAÚDE PÚBLICA, entre outros (fato
superveniente: TAC em Natal/RN e atendimento ao parâmetro do preço estimado - aspectos
esses não insertados nestes embargos).
Quanto a esses dois pontos em destaque, e que na visão da recorrente se constituem
na suscitada omissão do julgado, assim se pronunciou a embargante (peça 23, p. 1-20),
conforme os excertos abaixo:
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111.1 - CONCORRÊNCIA DESLEAL
Apontando ter havido ato de concorrência desleal, por parte da embargada, na sua
manifestação (peça 23, p. 1 - 20), a embargante sedimentou as seguintes considerações (e que
se reitera aos fins dos presentes embargos de declaração): (...).
Em outro tópico da manifestação (peça 23, p. 1-20), a embargante - ainda que com
foco na demonstração da inexequibilidade da proposta da embargada - intrinsecamente
também realçou o escamoteamento de custos, o que se se considera como reforço à ideia de
ter havido, da parte da Embargada, nítida CONCORRÊNCIA DESLEAL, apontado mais o
seguinte: (...).
Sem embargo do conteúdo do Acórdão 3.309/2014-TCU-Plenário, amoldado que foi,
por certo, à uma questão específica, embora com contornos tangentes à debatida nestes
autos, o mesmo não inserta posicionamento da jurisprudência do E. TCU, quanto a questão da
CONCORRÊNCIA DESLEAL, assim aquela que se revela predatória, incidindo contra a ordem
econômica, com o escopo de ‘ganhar e dominar mercado’ a qualquer custo, com preços
irrealísticos e fora das médias de mercado.
Não se imagina que a ideia lançada no Acordão embargado, intrinsecamente,
contenha estímulo à CONCORRÊNCIA DESLEAL, ainda que resulte ‘vantagem’ para o Erário.
A perspectiva de estimular preços irrisórios ou de valor zero, incompatíveis com os
preços dos insumos e salários de mercado, ou sem margens de lucro, data vênia, não pode ser
admitida como legítima, ainda que resulte vantagem para a Administração. (...).
Ainda que se alegue relativismo da norma - como sucedeu nas razões de decidir -, tem-
se que é uma percepção inadequada, e, em última instância, se mostra prejudicial à
Administração Pública, porque atua para fomentar uma concentração junto aos grandes
conglomerados (que podem zerar despesas administrativas e renunciar a lucros), na
contramão da necessária e estratégica formação de uma pluralidade de fornecedores outros
aptos, estimulando competição saudável e legítima.
Enfim, com todo respeito, isso não pode ser concebido como uma ‘estratégia
comercial’ lícita e aceitável pela Administração Pública. (...).
Cabe, pois, ao TCU como órgão de controle externo, em razão de sua atribuição
constitucional de fiscalização e controle da Administração Pública, estar atento quanto a
evolução de práticas CONCORRÊNCIA DESLEAL que também causam prejuízo ao consumidor
final e às entidades envolvidas, tal qual é a pratica da representante.
Em última instância, essa percepção fundada numa equivocada ideia de que ‘vale tudo’
em termos de ‘estratégia comercial’, por tudo, viola vários princípios de direito administrativo,
entre os quais, mais acentuadamente, o da isonomia entre os licitantes, da legalidade e o da
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vinculação ao edital (na medida em que vários dispositivos deste, nesses casos, de omissão de
custos, são descumpridos).
Pede-se a procedência dos presentes embargos de declaração a fim de que seja
apreciada a matéria objeto dos presentes embargos, atribuindo-se a estes os efeitos
infringentes e modificativos nos termos do art. 287, § 7°, do RITCU.
111.2 - A QUESTÃO DE SAÚDE PÚBLICA QUE INFLUIU NA DECISÃO DO SESI
Por outro lado, data maxima venia de Vossa Excelência, pontuando em torno de
questões de saúde pública, a justificar a desclassificação da embargada, pelo SEI/FIEAM, e
mediante as diligências mínimas adotadas, na sua manifestação (peça 23, p. 1-20) a
embargante sedimentou também as seguintes considerações (e que se reitera aos fins dos
presentes embargos de declaração): (...).
Também neste caso, Eminente Ministro Relator, nem no parecer da Secex/AM, nem
nas razões de decidir (Relatório), houve qualquer manifestação ou posicionamento quanto à
questão de saúde pública suscitada, considerando-se os milhares de usuários que,
semanalmente, se utilizam das dependências do Clube do Trabalhador, fazendo uso do parque
aquático. (...).
Com efeito, embora esse aspecto de saúde pública tenha sido ressaltado no item 11,
do Relatório (excertos das informações prestadas pela Embargante - peça 23, p. 1-20), quanto
a essa questão (saúde pública) nada foi mencionado nas razões de decidir, e tinha a
Embargante a expectativa de que, pondo-se isso em consideração, relevar-se-ia a singeleza das
diligências encetadas no processo licitatório, pelo SESI/FIEAM, para o fim de concluir (e
decidir) objetivamente pela inexequibilidade da oferta da Embargada.
E as diligências encetadas, foi esclarecido da manifestação da Embargante, foram: (i)
consulta à empresa especializada em limpeza de piscinas e (ii) junto ao então fornecedor, em
termos de gastos mensais com materiais de piscina.
Enfim, este tema (saúde pública) foi objeto de clara sustentação, na peça de
manifestação da Embargante, destacando-se ali a superveniência desses aspectos, enfatizando
ademais que foram, assim, considerados pelo SESI/FIEM, influindo decisivamente para a
desclassificação da proposta da Embargada (eis que se apresentava com cotação ínfima de
materiais necessários à higienização das piscinas que compõem o parque aquático do Clube do
Trabalhador), mas, lamentavelmente, quanto ao tema, não houve consideração alguma, nem
no parecer da Secex/AM, nem nas razões de decidir, o que se pede, enfim, suceda ao ensejo
dos presentes aclaratórios, de modo a oportunizar a completa prestação jurisdicional.
ASSIM EXPOSTO, requer a acolhida dos presentes Embargos de Declaração, para o fim
de que, apreciados oportunize a manifestação desta E. Corte de Contas, também quanto a
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matéria esgrimida pela Embargante no processo, envolvendo, in casu, (i) a concorrência
desleal da Embargada e (ii) a superveniência de aspectos relacionados à saúde pública, a
validar a decisão adotada pelo SESI/FIEAM, atribuindo-se à decisão efeitos infringentes e
modificativos, em conformidade com o art. 287, § 7º, do RITCU.”
4. Por seu tuno, o Sesi/AM acostou os seus embargos à Peça nº 49, nos seguintes termos:
“(...) II.a. DA OMISSÃO. Do Rito Processual de Acordo com o RLC da entidade.
Inicialmente, deve ser observado o entendimento consolidado do TCU de que os
serviços sociais autônomos, por não estarem incluídos na lista de entidades enumeradas no
parágrafo único do art. 1° da Lei n° 8.666/93, não estão sujeitos à observância dos estritos
procedimentos na referida lei, mas sim aos seus regulamentos próprios devidamente
publicados (Decisão 907/1997-Plenário).
Por certo, o fato de as entidades dos Serviços Sociais Autônomos terem regulamentos
próprios de licitação não retira a possibilidade de controle de seus atos de licitação pelo TCU.
Assim, além do SESI não poder ser confundido com a Administração Pública, não
poderia haver a aplicação subsidiária da Lei 8.666/1993, tendo em vista que o rito de
julgamento das propostas está expressamente previsto nos arts. 15 e 22 do Regulamento de
Licitações e Contratos da entidade, que assim dispõem: (...).
Ou seja, percebe-se que com relação aos Princípios Constitucionais, o Regulamento de
Licitações e Contratos do SESI já ponderou e deu efetividade aos princípios constitucionais
necessários e aplicáveis às aquisições da entidade, seguindo sua natureza privada, que em
nada se confunde com a Administração Pública.
Desta forma, tendo em vista a gestão privada da entidade, não poderia ser exigida a
aplicação do art. 48, II, § 1°, alíneas ‘a’ e ‘b’, da Lei n° 8.666/1993 ao SESI, ou ainda a Instrução
Normativa MPOG n° 2/2008, uma vez inexistente qualquer afronta a princípios constitucionais
pelo SESI/AM, que inclusive conta com Regulamento de Licitações e Contratos próprio, com
previsão para a habilitação técnica dos licitantes (art. 12, inciso II).
No caso, foi facultado à licitante oferecer manifestação contra a decisão que a
desclassificou do certame, na forma do art. 22 do Regulamento de Licitações e Contratos da
entidade, mas que, naquela oportunidade, deixou de demonstrar a viabilidade da proposta.
(...)
Por oportuno, para que não pairem quaisquer dúvidas sobre a escolha tomada na
licitação em questão, e ainda que fosse possível admitir a aplicação subsidiária da Lei n°
8.666/1993, na forma de seu art. 48, II, § 1°, alíneas ‘a’ e ‘b’, o acórdão embargado foi omisso
também em relação ao valor da proposta da empresa representante, que deveria ser
considerada manifestamente inexequível também pelos critérios da administração pública,
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uma vez que foi cotada à proporção de 59,50% (cinquenta e nove inteiros e cinco décimos
percentuais) do valor orçado, bem abaixo do previsto na Lei Geral de Licitações nas licitações
públicas.
Dessa forma, o SESI/AM não poderia ser confundido com a Administração Pública, por
possuir ‘inegável autonomia administrativa, limitada, formalmente, apenas ao controle
finalístico, pelo Tribunal de Contas, de aplicação dos recursos recebidos’, devendo ser tornado
insubsistentes os itens 9.4 do acórdão embargado, ante a ausência de qualquer prejuízo ao
licitante.
II.b. DA OMISSÃO. Da Inexistência de Dano ao Erário.
Por fim, verifica-se ainda omissão no entendimento de que haveria possível dano ao
erário, a justificar a conversão da representação em tomada de contas especial.
Como visto, a unidade técnica entendeu que o SESI/AM teria optado por contratar a
segunda colocada do certame, ao preço de R$ 4.775.927,16 (peça 22, p. 25), e que, por essa
razão, teria havido uma contratação ‘a um preço R$ 1.937.646,24 maior, o que corresponde a
um custo 68% maior do que a proposta da Criart Ltda.’
Já no Item 20 do voto de V. Exa., destacou-se que ‘a partir do prosseguimento da
aludida concorrência com a subsequente contratação, a despeito das referidas oitivas do TCU
a respeito da irregularidade nos procedimentos’, o dano ao erário teria se materializado sobre
as parcelas contratuais já executadas.
No entanto, verifica-se nos documentos trazidos aos autos que o contrato decorrente
da Concorrência n° 4/2016 foi assinado no dia 2/5/2017, ou seja, no mesmo dia do protocolo
da presente representação, e no mesmo dia do protocolo da presente representação, e bem
antes de qualquer oitiva do TCU ao SESI/AM, cujo Oficio foi expedido somente em 12/5/2017.
Assim, deve ser levado em conta que o SESI/AM, em nenhum momento, tomou
conhecimento do objeto da presente representação antes da assinatura do referido contrato,
a configurar qualquer ato ilegítimo ou antieconômico.
Além disso, inexistem quaisquer condições a justificar a conversão da presente
representação em tomada de contas especial.
No caso, não deve ser considerado como parâmetro o preço orçado pela empresa
representante, mas sim o orçado pelo SESI/AM, no valor de R$ 4.770.000,00, a demonstrar a
compatibilidade e a adequabilidade dos custos incorridos para a consecução do objeto
contratado.
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Nesse contexto, o valor da contratação mostrou-se adequado, pertinente e compatível
com o objeto licitado, e não a proposta da empresa representante, manifestamente
inexequível.
Além disso, não se poderia entender que a empresa representante teria apresentado
preço mais favorável à ‘administração pública’. Primeiro por se tratar de aquisição por
entidade privada; segundo, por não poder ser utilizado parâmetro de dano em ‘potencial’,
uma vez que a proposta apresentada pela representante era manifestamente inexequível,
conforme mencionado acima.
Dessa forma, tanto a assinatura do contrato, como a continuidade dos serviços estão
de acordo com os parâmetros previamente orçados pelo SESI/AM.
Também por esse motivo, mostra-se necessário tornar insubsistente o Item 9.4 do
acórdão embargado, ante a inexistência da prática de qualquer ato ilegal, ilegítimo ou
antieconômico de que tenha resultado dano ao erário.
III — DO PEDIDO
Pelo exposto, em razão da omissão e contradições apontadas, impõe-se o
conhecimento e acolhimento dos embargos declaratórios, com efeitos modificativos, para
reconhecer as omissões do acórdão quanto à inexistência de ato antieconômico, para, assim:
a) conhecer o presente recurso, nos moldes do art. 282, do RITCU;
b) atribuir efeito suspensivo ao Item 9.4, do Acórdão 1.414/2017-TCU-Plenário; para,
ao final,
c) tornar insubsistente o Item 9.4, do Acórdão 1.414/2017-TCUPlenário, ou, ainda,
c.1) reformular a redação do Item 9.4, do Acórdão 1.414/2017-TCU-Plenário, para
sobrestar a conversão em tomada de contas especial, até que sejam apreciados, em definitivo,
os demais itens do acórdão.”
5. Enfim, o feito foi retirado da pauta da Sessão do Plenário de 30/8/2017, diante da
prévia marcação de audiência com o representante do Sesi/AM.
É o Relatório.
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PROPOSTA DE DELIBERAÇÃO
Como visto, trata-se, no presente momento, de embargos de declaração opostos pela
Comdasp Consultoria Empresarial Ltda. e pelo Social da Indústria – Departamento Regional do
Amazonas (Sesi/AM) em face do Acórdão 1.414/2017 proferido pelo Plenário do TCU em
processo de representação formulada pela Criart Serviço de Terceirização de Mão-de-Obra
Ltda. sobre possíveis irregularidades na Concorrência nº 4/2016 promovida pelo Sesi/AM para
a contratação de serviços de conservação, limpeza e manutenção predial no Clube do
Trabalhador.
2. Preliminarmente, entendo que o TCU deve conhecer dos presentes embargos, por
atenderem aos requisitos legais e regimentais de admissibilidade.
3. De todo modo, no mérito, os dois embargos de declaração devem ser rejeitados, pelas
razões que passo a expor.
4. Ao responderem às oitivas realizadas previamente à prolação do Acórdão 1.414/2017-
Plenário, os ora embargantes apresentaram as suas justificativas em relação aos indícios de
irregularidade inerentes à Concorrência nº 4/2016 e, especialmente, em relação à
desclassificação da proposta da Criart Serviços de Terceirização de Mão-de-Obra Ltda., sem
que lhe tenha sido oportunizada a possibilidade de adequação da proposta por meio de
diligências (itens 11.8 e 11.16 do edital), em desacordo com a jurisprudência do TCU.
5. Em linhas gerais, a prolação do referido acórdão foi motivada pelo fato de a melhor
oferta de preço ter sido desclassificada sem a possibilidade de a licitante demonstrar a
viabilidade da sua proposta, tendo sido celebrada a subsequente contratação de outra
empresa com potencial lesividade ao erário.
6. Inconformada, a Comdasp Consultoria Empresarial Ltda. apontou a ocorrência de
supostas omissões no referido Acórdão 1.414/2017-Plenário, aduzindo, para tanto, em suma,
que não teriam sido abordados os aspectos relacionados com a concorrência desleal pela
empresa representante e com a superveniência dos princípios de saúde pública.
7. Por seu turno, o Sesi/AM também apontou a incidência de supostas omissões no
referido decisum, aduzindo, em síntese, que não teria sido observado que: i) os serviços sociais
autônomos teriam regulamentos próprios de licitação; ii) a proposta de preço da ora
representante seria manifestamente inexequível; e iii) o dano ao erário seria inexistente.
8. Todas essas considerações dos aludidos embargantes já teriam sido espancadas,
todavia, na prolação do Acórdão 1.414/2017-Plenário, devendo-se destacar, ainda, que as
aludidas alegações recursais não conseguiram evidenciar a ocorrência das supostas omissões
na referida deliberação do TCU.
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9. Ocorre que, entre outras relevantes razões, o principal fundamento para a condenação
dos ora embargantes consistiu na injustificada e indevida desclassificação da então licitante
(ora representante), tendo ficado registrado, no voto condutor do aludido Acórdão
1.414/2017-Plenário, que:
“(...) 9. Em linhas gerais, os gestores do Sesi/AM tentaram justificar as referidas falhas,
aduzindo que a desclassificação da ora representante teria decorrido única e exclusivamente
de erro no preenchimento da proposta, ao não cotar mensalmente o material de manutenção
do parque aquático, ao passo que a vencedora do certame (Comdasp Consultoria Empresarial
Ltda.) alegou que a ora representante não teria utilizado todos os meios cabíveis para
comprovar a exequibilidade da sua proposta de preço.
10. Ocorre que a pronta desclassificação de licitantes em virtude da apresentação de
planilhas de custos e de formação de preços, com alguns itens faltantes ou com valores
inadequados, sem que seja dada a prévia oportunidade de retificar as falhas apontadas, já foi
objeto de apreciação por este Tribunal em vários julgados, sendo tratado como irregularidade.
11. Como bem registrou o auditor da Secex/AM, a jurisprudência deste Tribunal é
firme no sentido de que, antes de ser declarada a inexequibilidade dos preços ofertados pelos
licitantes, deve lhes ser facultada a possibilidade de comprovarem a exequibilidade de suas
propostas (v. g.: Acórdãos 3.092/2014 e 1.161/2014, do Plenário).
12. Na mesma linha, a Súmula nº 262 do TCU destaca que: ‘O critério definido no art.
48, inciso II, § 1º, alíneas ‘a’ e ‘b’, da Lei nº 8.666/93 conduz a uma presunção relativa de
inexequibilidade de preços, devendo a Administração dar à licitante a oportunidade de
demonstrar a exequibilidade da sua proposta.’ (...)”
10. Os ora embargantes se limitaram, contudo, à mera tentativa de se eximirem das suas
responsabilidades pelas irregularidades evidenciadas na fundamentação do referido Acórdão
1.414/2017, argumentando, em essência, que teria sido inadequada a proposta da referida
licitante e que o Sesi/AM não estaria submetido à aplicação subsidiária da Lei nº 8.666, de
1993, além de suscitarem a inexistência de dano ao erário, sem, contudo, efetivamente
demonstrarem a existência das supostas omissões na referida deliberação do TCU, já que
buscaram muito mais a indevida rediscussão de mérito do correspondente feito pela
inadequada via destes embargos de declaração.
11. Bem se vê que o fundamento do Acórdão 1.414/2017 consistiu na inobservância do
direito de a licitante ter a sua proposta revista pela administração do Sesi/AM, e não no
suposto exame das características da correspondente proposta, em si, devendo ser destacado,
nesse ponto, que os embargos opostos pelo Sesi/AM tendem a padecer até mesmo de
preclusão lógica, já que, de um lado, ele teria manejado os embargos para o esclarecimento
das supostas omissões no Acórdão 1.414/2017, ao passo de, do outro lado, o Sesi/AM
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prontamente interpôs o seu pedido de reexame contra o aludido acórdão, demonstrando, com
isso, que não subsistiriam as supostas omissões nem a necessidade do referido
esclarecimento.
12. De mais a mais, no aludido Acórdão 1.414/2017, o TCU não exigiu a aplicação da Lei nº
8.666, de 1993, aos serviços sociais autônomos, já que as entidades do Sistema S se submetem
aos seus regulamentos próprios, mas apenas pugnou pela observância da jurisprudência do
TCU, até porque, estando fundamentada na correta aplicação dos princípios básicos da
administração pública, a referida jurisprudência, em sintonia com a Súmula nº 262 do TCU, não
pode ser desconsiderada pelo Sesi/AM.
13. Enfim, no que concerne ao dano ao erário, o voto condutor do Acórdão 1.414/2017
bem evidenciou que a contratação dos referidos serviços ocorreu em valor bastante superior
ao da proposta indevidamente desclassificada, ficando configurado, assim, o possível débito
em relação às parcelas contratuais já executadas.
14. Entendo, portanto, que o TCU deve conhecer dos presentes embargos de declaração
para, no mérito, rejeitá-los, sem prejuízo de determinar o subsequente envio dos autos à
Serur, para a análise do pedido de reexame interposto pelo Sesi/AM à Peça nº 50.
Ante o exposto, proponho que seja prolatado o Acórdão que ora submeto a este
Colegiado.
TCU, Sala das Sessões, em 6 de setembro de 2017.
Ministro-Substituto ANDRÉ LUÍS DE CARVALHO
Relator
ACÓRDÃO Nº 1974/2017 – TCU – Plenário
1. Processo nº TC 010.448/2017-9.
2. Grupo II – Classe de Assunto: I – Embargos de Declaração.
3. Embargantes: Comdasp Consultoria Empresarial Ltda. (CNPJ 84.486.513/0001-44) e Serviço
Social da Indústria – Departamento Regional do Amazonas (Sesi/AM).
4. Entidade: Serviço Social da Indústria – Departamento Regional do Amazonas (Sesi/AM).
5. Relator: Ministro-Substituto André Luís de Carvalho
5.1. Relator da deliberação recorrida: Ministro-Substituto André Luís de Carvalho.
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6. Representante do Ministério Público: não atuou.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo no Estado do Amazonas (Secex/AM).
8. Representação legal:
8.1. Raimundo Hitotuzi de Lima (OAB/AM 2.024) e outros, representando a Comdasp
Consultoria Empresarial Ltda.;
8.2. Mauro Porto (OAB/DF 12.878) e outros, representando o Sesi/AM.
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos que, no presente momento, tratam de embargos de
declaração opostos pela Comdasp Consultoria Empresarial Ltda. e pelo Social da Indústria –
Departamento Regional do Amazonas (Sesi/AM) em face do Acórdão 1.414/2017 proferido
pelo Plenário do TCU em processo de representação formulada pela Criart Serviço de
Terceirização de Mão-de-Obra Ltda. sobre possíveis irregularidades na Concorrência nº 4/2016
promovida pelo Sesi/AM para a contratação de serviços de conservação, limpeza e
manutenção predial no Clube do Trabalhador;
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão do Plenário, ante
as razões expostas pelo Relator, em:
9.1. conhecer dos embargos de declaração opostos pela Comdasp Consultoria Empresarial
Ltda. e pelo Social da Indústria – Departamento Regional do Amazonas (Sesi/AM) em face do
Acórdão 1.414/2017-TCU-Plenário, com base no art. 34 da Lei nº 8.443, de 1992, para, no
mérito, rejeitá-los;
9.2. dar ciência da presente deliberação aos embargantes; e
9.3. determinar o envio dos autos à Serur para a análise do pedido de reexame interposto, à
Peça nº 50, pelo Sesi/AM contra o Acórdão 1.414/2017-TCU-Plenário.
10. Ata n° 35/2017 – Plenário.
11. Data da Sessão: 6/9/2017 – Extraordinária.
12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-1974-35/17-P.
13. Especificação do quorum:
13.1. Ministros presentes: Raimundo Carreiro (Presidente), Walton Alencar Rodrigues,
Benjamin Zymler, Augusto Nardes e Aroldo Cedraz.
13.2. Ministro-Substituto convocado: Marcos Bemquerer Costa.
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13.3. Ministros-Substitutos presentes: Augusto Sherman Cavalcanti, André Luís de Carvalho
(Relator) e Weder de Oliveira.
(Assinado Eletronicamente)
RAIMUNDO CARREIRO (Assinado Eletronicamente)
ANDRÉ LUÍS DE CARVALHO
Presidente Relator
Fui presente:
(Assinado Eletronicamente)
CRISTINA MACHADO DA COSTA E SILVA
Procuradora-Geral