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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PIAUÍ GRUPO ESPECIAL DE TRABALHO - META 4/2014 DO CNJ Resolução 001/2014 do Tribunal de Justiça do Estado do Piauí - DJe 7.454, de 17.2.2014 Processo 0000022-97.2009.8.18.0056 Classe: Ação civil de improbidade administrativa Autor: Ministério Público do Estado do Piauí Réu: Quirino de Alencar Avelino e outros Identificar e julgar tile 32/Í2/2014 as acoes de improbidade administrativa e as nções penais relacionadas n crimes contra a administração pública distribuídas até 31 de dezembro de 2Q12. SENTENÇA 1. Relatório Trata-se de açao civil pública por ato de improbidade administrativa ajuizada pelo Ministério Público do Estado do Piauí em face de Quirino de Alencar Avelino, Posto Avelino, Quirino Avelino Neto, Ecol engenharia Ltda e José Borges de Sousa Araújo, amplamente qualificados nos autos, ao qual é atribuída a prática de ato ímprobos que configurariam as hipóteses previstas no art.10,1, VIII e IX, da Lei ns 8.429/92. Alega o órgão ministerial, ern síntese, o seguinte: a) que a Prefeitura adquiriu pneus, câmaras de ar e combustível para veículos pertencentes à Secretaria Municipal de Itaueira/PI sem possuir veículos registrados em seu nome; b) que o combustível foi adquirido no Posto Avelino, de propriedade do senhor Quirino Avelino Neto, filho de então prefeito, não havendo registro de procedimento licitatório; c) que a prefeitura contratou a empresa ECOL Engenharia Ltda para a execução de obras de melhoria habitacional, com gastos de R$ 240.000,00 (duzentos e quarenta mil reais), porém com benefícios para poucas pessoas; d) quando do pagamento desta quantia deixou-se de realizar a cobrança do ISS devido. Ao final, requer a sua condenação às sanções estabelecidas no art. 12, inciso II, do mesmo diploma legal. A inicial foi instruída com os documentos de fls. 13/45. Notificado (fl. 51), o réu Quirino de Alencar Avelino apresentou manifestação às fls. 52/56, acompanhada dos documentos de fls. 58/115. Notificado (fl. 118), o requerido Quirino Avelino Neto apresentou manifestação às fls. 119/125. Decisão de recebimento da petição inicial à fl. 140. Citado, Quirino de Alencar Avelino apresentou contestação às fls. 147/149, ratificando os termos da manifestação preliminar. Juntou documentos de fls. 150/153. Citado, Quirino Avelino Neto apresentou contesta£ãje—às. fls. 154/160, Rodrigo Tolentino Juiz de Direito

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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PIAUÍGRUPO ESPECIAL DE TRABALHO - META 4/2014 DO CNJ

Resolução n° 001/2014 do Tribunal de Justiça do Estado do Piauí - DJe n° 7.454, de 17.2.2014

Processo n° 0000022-97.2009.8.18.0056Classe: Ação civil de improbidade administrativaAutor: Ministério Público do Estado do PiauíRéu: Quirino de Alencar Avelino e outros

Identificar e julgar tile 32/Í2/2014 as a coesde improbidade administrativa e as nçõespenais relacionadas n crimes contra aadministração pública distribuídas até 31 dedezembro de 2Q12.

SENTENÇA1. Relatório

Trata-se de açao civil pública por ato de improbidade administrativaajuizada pelo Ministério Público do Estado do Piauí em face de Quirino de Alencar Avelino, PostoAvelino, Quirino Avelino Neto, Ecol engenharia Ltda e José Borges de Sousa Araújo, já amplamentequalificados nos autos, ao qual é atribuída a prática de ato ímprobos que configurariam ashipóteses previstas no art.10,1, VIII e IX, da Lei ns 8.429/92.

Alega o órgão ministerial, ern síntese, o seguinte: a) que a Prefeituraadquiriu pneus, câmaras de ar e combustível para veículos pertencentes à SecretariaMunicipal de Itaueira/PI sem possuir veículos registrados em seu nome; b) que ocombustível foi adquirido no Posto Avelino, de propriedade do senhor Quirino AvelinoNeto, filho de então prefeito, não havendo registro de procedimento licitatório; c) que aprefeitura contratou a empresa ECOL Engenharia Ltda para a execução de obras demelhoria habitacional, com gastos de R$ 240.000,00 (duzentos e quarenta mil reais), porémcom benefícios para poucas pessoas; d) quando do pagamento desta quantia deixou-se derealizar a cobrança do ISS devido.

Ao final, requer a sua condenação às sanções estabelecidas no art. 12,inciso II, do mesmo diploma legal. A inicial foi instruída com os documentos de fls. 13/45.

Notificado (fl. 51), o réu Quirino de Alencar Avelino apresentoumanifestação às fls. 52/56, acompanhada dos documentos de fls. 58/115.

Notificado (fl. 118), o requerido Quirino Avelino Neto apresentoumanifestação às fls. 119/125.

Decisão de recebimento da petição inicial à fl. 140.

Citado, Quirino de Alencar Avelino apresentou contestação às fls. 147/149,ratificando os termos da manifestação preliminar. Juntou documentos de fls. 150/153.

Citado, Quirino Avelino Neto apresentou contesta£ãje—às. fls. 154/160,

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TFTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PIAUÍ

GRUPO ESPECIAL DE TRABALHO - META 4/2014 DO CNJResolução n° 001/2014 do Tribunal de Justiça do Estado do Piauí - DJe ng 7.454, de 17.2.2014

ratificando os termos da manifestação preliminar. Não juntou documentos.

Realizada audiência preliminar (fls. 178/179), foi decretada a revelia darequerida Ecol Engenharia Ltda, com o desentranhamento da sua peça de defesa dos autos;foram fixados os pontos controvertidos e determinada a realização de diligências e deferidaa produção probatória. Juntados os documentos de fls. 180/196.

Ofício da Câmara Municipal de Itaueira (fl. 204), juntando a lei queregulamenta o ISS (fls. 205/257).

Ofício da Procuradoria da FUNASA (fl. 262), juntando o procedimento deprestação de contas do Convénio i\ 905/2006 (fls. 263/273).

Realizada audiência de instrução e julgamento (fl. 280).

Ofício da FUNASA às fls. 281/290.

Ofício do TCE/PI (fl. 295), encaminhando a prestação de contas domunicípio no exercício de 2008 (fls. 296/311).

Ofício do DETRAN/PI às fls. 314/324, 326/355.

Alegações finais do Ministério Público pugnando pela procedência dospedidos (fls. 358/367). Alegações finais do requerido Quirino de Alencar Avelino às fls.369/375. Alegações finais de Quirino Avelino Neto às fls. 376/385. Alegações finais de EcolEngenharia Ltda. às fls. 386/398.

Era o que havia a relatar, no essencial.

2. Fundamentação

A ação de improbidade administrativa é aquela em que se pretende oreconhecimento judicial de condutas ímprobas praticadas por agentes públicos e terceiros,bem como a consequente aplicação das sanções legalmente estabelecidas, com o escopo depreservar o princípio da moralidade administrativa e, consequentemente, o interessepúblico. Não há dúvidas, portanto, de que se cuida de poderoso instrumento de controlejudicial sobre atos que a lei caracteriza como de improbidade.

A principal fonte normativa sobre a matéria é o art. 37, § 4Q, da

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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PIAUÍGRUPO ESPECIAL DE TRABALHO - META 4/2014 DO CNJ

Resolução n° 001/2014 do Tribunal de Justiça do Estado do Piauí - DJe n° 7.454, de 17.2.2014

Constituição da República, segundo o qual os atos de improbidade administrativaprovocam a suspensão dos direitos políticos/ a perda da função pública/ a indisponibilidadedos bens e o ressarcimento ao erário/ sem prejuízo da ação penal cabível. Coube à Lei ng

8.429/92 disciplinar a matéria no plano infraconstitucional, conceituando os atos deimprobidade/ esmiuçando as sanções deles decorrentes e estabelecendo a forma como deveser conduzido o respectivo processo judicial.

Da análise da malha normativa (regras e princípios) que sustenta aresponsabilização por improbidade administrativa - a qual, segundo a melhor doutrina/representa esfera autónoma de responsabilidade jurídica/ ao lado da tradicional tríadeformada pelas responsabilidade s civil, penal e administrativa -/ constata-se que asconsequências impostas pelo ordenamento jurídico ao agente ímprobo são bastante severase necessárias à tutela jurídica da moralidade/ embora/ lamentavelmente, sejam muito poucoaplicadas.

Justamente por essas razoes - severidade das sanções e subutilização datutela constitucional da moralidade administrativa -, a condenação por ato de improbidadedeve ser sempre lastreada em provas contundentes da prática da conduta ilícita, inclusiveem relação ao elemento subjetivo exigido para o tipo legal (dolo para os atos que acarretemenriquecimento ilícito ou firam os princípios aplicáveis à Administração Pública; culpa oudolo para as condutas que causem prejuízo ao erário), mas não pode falhar por razões decondescendência ou conformismo. O património público e a moralidade são preciososdemais para esse tipo de postura.

Feitas essas primeiras ponderações acerca da responsabilidade jurídica porato de improbidade administrativa, passo à análise do caso especificamente tratado nestesautos.

2.1. Questões prévias

2.1.1. Da ilegitimidade passiva

recurso.Decidido na audiência preliminar de fls. 178/179, sem a interposição de

2.2. Mérito

2.2.1. Da aquisição de pneus, câmaras de ar e combustível para veículos

pertencentes à Secretaria Municipal de Itaueira/PÍ sem possuir veículos registrados em seu nome.

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TRIBUNA! DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PIAUÍGRUPO ESPECIAL DE TRABALHO - META 4/2014 DO CNJ

Resolução nc 001/2014 do Tribunal de Justiça do Estado do Piauí - DJe nQ 7.454, de 17.2.2014

A compra de pneus, câmaras de ar e combustível em favor da Secretaria deAgricultura e meio ambiente ficou comprovada pelos documentos de fls. 16/25; em favor daSecretaria de Educação e Cultura às fls. 26/31.

O requerido Quirino de Alencar Avelino/ em sua manifestação preliminar(fls. 52/56), afirma expressamente que "os bens de propriedade do município são postos em nomeda prefeitura municipal e destinados a cada secretaria ou órgão da administração, posto emdisponibilidade para a realização de serviços das pastas.

Conforme ofícios do DETRAN (fls. 314/324, 326/355), constatou-se aexistência de diversos veículos movidos a diesel de propriedade do município de Itaueíra.Além disso, é comum que maquinados como tratores, esteiras, pá carregadeiras, dentrooutros, são utilizados apenas em obras, não possuindo registro no DETRAN.

Na linha de entendimento do Superior Tribunal de Justiça, a Lei 8429/92visa resguardar os princípios jurídicos no que atine ao combate à corrupção, da imoralidadequalificada e da grave desonestidade, não sendo seu escopo a punição pela prática de merasirregularidades administrativas.

Não se deve equiparar ilegalidade à improbidade, pois se assim o fosse,qualquer violação a texto da lei seria punido com as penosas sanções da Lei 8429/92, o que,efetivamente, não é o escopo buscado pela referida norma. Nesse sentido:

"ADMINISTRATIVO. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.ACUMULAÇÃO DE CARGOS PÚBLICOS. AUSÊNCIA DE DOLO OUMÁ-FÉ. PRESTAÇÃO EFETIVA DE SERVIÇO PÚBLICO. MODICIDADEDA CONTRAPRESTAÇÃO PAGA AO PROFISSIONAL CONTRATADO.INEXISTÊNCIA DE DESVIO ÉTICO OU DE INABÍLITAÇÃO MORALPARA O EXERCÍCIO DO MÚNUS PÚBLICO. CONFIGURAÇÃO DEMERA IRREGULARIDADE ADMINISTRATIVA.1. "A Lei n. 8.429/92 visa a resguardar os princípios da administraçãopública sob o prisma do combate à corrupção, da imoralidade qualificada eda grave desonestidade funcional, não se coadunando corn a punição demeras irregularidades administrativas ou transgressões disciplinares, asquais possuem foro disciplinar adequado para processo e julgamento."(Nesse sentido: REsp 1.0S9.911/PE, Rei. Min. Castro Meira, Segunda Turma,julgado em 17.11.2009, DJe 25.11.2009.)2. Na hipótese de acumulação de cargos, se consignada a efetiva prestaçãode serviço público, o valor irrisório da contraprestação paga ao profissionale a boa-fé do contratado,- há de se afastar a violação do art. 11 da Lei n.8.429/1992, sobretudo quando as premissas fáticas doacórdão recorrido

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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PIAUÍGRUPO ESPECIAL DE TRABALHO - META 4/2014 DO CNJ

Resolução n2 001/2014 do Tribunal de Justiça do Estado do Piauí - DJe ng 7.454, de 17.2.2014

evidenciam a ocorrência de simples irregularidade e inexistência de desvioético ou inabilitação moral para o exercício do múnus público. (Precedente:REsp 996.791/PR, Rei. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em8.6.2010, DJe 27.4.2011.) Agravo regimental improvido. (STJ - AgRg no REsp1245622 / RS, 2a Turma, rei. Min. Humberto Martins, j. 16/06/2011, DJe24/06/2011)".

As notas de empenho são documentos que servem corno garantia aocredor mas, principalmente, para o controle e programação dos gastos públicos. E aproibição de efetuar despesa sem prévio empenho provém de clara e direta imposição legal(Lei n- 4.320, art. 60: "é vedada a realização de despesa sem prévio empenho"}. Embora tais notasfossem emitidas em nome de Secretarias municipais, verifica-se que os recibos e notas fiscaiseram emitidos em nome da prefeitura de Itaueira. Desse modo, fica claro que o realordenador das despesas era o próprio município.

Diante desse panorama, o fato de nas notas de empenho figurar comounidade orçamentaria secretarias municipais, por si só, configuram mera irregularidade,não qualificáveis como ato de improbidade administrativa. Até porque todas as despesasforam comprovadas com notas fiscais e recibos.

Outrossim, não há provas nos autos da efetiva ocorrência de desvio deverbas ou outra fraude grave cometida no tocante à aquisição de pneus e câmaras de ar.

2.2.2. Da fraude no -processo licitatório - aquisição de combustível de empresapertencente ao filho do prefeito e sem a realização de -procedimento licitatório

Com relação à ausência de procedimento licitatório, o requerido Quirinode Alencar Avelino colacionou aos autos documentação (fls. 75/115) acerca da realização delicitação, na modalidade tomada de preços, para a aquisição de combustível pelo municípiode Itaueira/PI, figurando como único concorrente a empresa Q. Avelino Neto (fl. 101),vencedor do certame (fl. 108), posteriormente homologado pela autoridade municipal (£1109), e como consequência assinado o contrato para fornecimento de produtos (fls. 112/114).

Ocorre que o vencedor do certame era (e continua sendo) filho do entãoprefeito. Resta, portanto, verificar, se existe impedimento legal para a contratação dedescendente de prefeito, ainda que sagrado vencedor de procedimento licitatório realizadoregularmente.

O artigo 9- da Lei 8666/93 estabelece os casos em que urnapessoa não pode

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Resolução ne 001/2014 do Tribunal de Justiça do Estado do Piauí ~DJe n° 7.454, de 17.2.2014

participar de licitação. É certo que o referido art. 9- não estabeleceu, expressamente,restrição à contratação com parentes dos administradores, razão por que há doutrinadoresque sustentam, com fundamento no princípio da legalidade, que não se pode impedir aparticipação de parentes nos procedimentos licitatórios, se estiverem presentes os demaispressupostos legais, em particular a existência de vários interessados em disputar o certame( v.g. BULOS, Uadi Lamrnêgo. Licitação em caso de parentesco. In: BLC - Boletim deLicitações e Contratos, v. 22, n. 3, p. 216/233, mar. 2009).

No entanto, entendo que no presente caso restou configurada violação aosprincípios da moralidade e da impessoalidade que devem nortear a atuação daAdministração Pública. Ainda que não exista disposição expressa na legislação federal querege o tema, verifica-se que foi essa a intenção axiológica do legislador ao estabelecer o art.9- desta lei, em especial nos parágrafos 39 e 4Q, vedando a prática de conflitos de interessenas licitações, ainda mais em casos como o ora apreciado, no qual se promoveu acontratação de filho do prefeito mediante tomada de preços em'que apenas essa empresacompareceu ao certame.

julgado:Nesse sentido já se posicionou o Supremo Tribunal Federal em recente

"DIREITO CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. LICITAÇÃO ECONTRATAÇÃO PELA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA MUNICIPAL. LEIORGÂNICA DO MUNICÍPIO DE BRUMADINHO-MG. VEDAÇÃO DECONTRATAÇÃO COM O MUNICÍPIO DE PARENTES DO PREFEITO,VICE-PREFEITO, VEREADORES E OCUPANTES DE CARGOS EMCOMISSÃO. CONSTITUCIONALIDADE. COMPETÊNCIASUPLEMENTAR DOS MUNICÍPIOS. RECURSO EXTRAORDINÁRIOPROVIDO. A Constituição Federal outorga à União a competência paraeditar normas gerais sobre licitação (art. 22, XXVII) e permite, portanto, queEstados e Municípios legislem para complementar as normas gerais eadaptá-las às suas realidades. O Supremo Tribunal Federal firmouorientação no sentido de que as normas locais sobre licitação devernobservar o art. 37, XXI da Constituição, assegurando a igualdade decondições de todos os concorrentes. Precedentes. Dentro da permissãoconstitucional para legislar sobre normas específicas em matéria delicitação, é de se louvar a iniciativa do Município de Brumadinho-MG detratar, em sua Lei Orgânica, de tema dos mais relevantes em nossa polis,que é a moralidade administrativa, princípio-guia de toda a atividadeestatal, nos termos do art. 37, caput da Constituição Federal. A proibição decontratação com o Município dos parentes, afins ou consanguíneos, doprefeito, do vice-prefeito, dos vereadores e dos ocupantes de cargo emcomissão ou função de confiança, bem como dos servidores e empregados

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Resolução n° 001/2014 do Tribunal de Justiça do Estado do Piauí - DJe n° 7.454, de 17.2.2014

públicos municipais, até seis meses após o fim do exercido das respectivasfunções, é norma que evidentemente homenageia os princípios daimpessoalidade e da moralidade administrativa, prevenindo eventuaislesões ao interesse público e ao património do Município, sem restringir acompetição entre os licitantes. Inexistência de ofensa ao princípio dalegalidade ou de invasão da competência da União para legislar sobrenormas gerais de licitação. Recurso extraordinário provido. (STF - RE423560 MG, 2- Turma, rei. Min. Joaquim Barbosa, j. 29/05/2012, DJe18/06/2012)".

Assim, o direcionamento de contratação ao filho do chefe do executivomunicipal, único concorrente do certame licitatório, ocasiona a admissão de propostaseventualmente superfaturadas e inservíveis aos legítimos interesses da AdministraçãoPública. Por esse raciocínio, o dano ao erário seria in ré ipsa, ou seja, decorreria da próprianatureza do ato praticado e independeria de prova expressa.

Há precedentes do Superior Tribunal de Justiça que acolhem a tese,conforme se pode concluir da leitura dos seguintes arestos, com grifos por mim adicionados:

RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL DE IMPROBIDADE. INDEVIDADISPENSA DE LICITAÇÃO. DANO AO ERÁRIO. RESSARCIMENTO.LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO.CARACTERIZAÇÃO DE CULPA DA EMPRESA CONTRATADA.PROVA DO PREJUÍZO. DANO IN RE IPSA. NECESSIDADE DEPRÉVIO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO,INACUMULATIVIDADE DE PENAS E IMPOSSIBILIDADE DERESTITUIÇÃO INTEGRAL DO QUE FOI RECEBIDO CARENTES DEPREQUESTIONAMENTO. DISCUSSÃO DOS TEMAS NO VOTOVENCIDO. SÚMULA 320/STJ. 1. O Ministério Público tem legitimidadepara propor ação civil pública de improbidade para pleitear, também, oressarcimento do erário. Súmula 329/STJ e Precedentes. 2. Evidenciado noacórdão recorrido, à luz das circunstâncias fático-processuais descritas pdoTribunal de origem, a culpa por parte da empresa contratada sem licitação,cabe a condenação com base no art. 10 da Lei n°- SA29/1992 e a aplicação daspenalidades previstas no art. 12, H, do mesmo diploma. Precedentes. 3. Aindevida dispensa de licitação, por impedir que a administraçãopública contrate a melhor proposta, causa dano in ré ipsa.Ldescabenão exigir do autor da ação civil pública prova q. respeito dotema. Precedentes da Segunda Turma. 4. Carecem de prequestionamentodos temas jurídicos relativos às alegações de necessidade de prévioprocedimento administrativo, de inacumulatividade de determinadas penas e

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de impossibilidade de restituição integral de todos os valores recebidos,incidindo, no caso, a Súmula 320/STJ. 5. Recurso especial conhecido em

parte e não provido. (REsp 817.921/SP, Rei. Ministro CASTRO MEIRA,SEGUNDA TURMA, julgado em 27/11/2012, DJe 06/12/2012)

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. OFENSA AO ART. 535

DO CPC. INOCORRÊNCIA. FRAC10NAMENTO DE OBJETO PARAPROVOCAR DISPENSA. PREJUÍZO AO ERÁRIO IN RE IPSA. ART.

334, INC. I, DO CPC. PATO NOTÓRIO SEGUNDO REGRASORDINÁRIAS DE EXPERIÊNCIA. INQUÉRITO CIVIL. VALORPROBATÓRIO RELATIVO. CARGA PROBATÓRIA DE PROVA

DOCUMENTAL. AUTENTICIDADE DOS DOCUMENTOS OBTIDOSNA FASE PRÉ-JUDICIAL NÃO QUESTIONADA. SUFICIÊNCIA DOS

ELEMENTOS PROBANTES. 1. Trata-se, na origem, de ação civil pública

para provocar a declaração de nulidade de contrato administrativo, comconsequente reparação de danos, em razão de ter havido /racionamento deobjeto licitado com o objetívo de permitir a dispensa de licitação. 2. Oacórdão recorrido entendeu que a irregularidade estava provada, mas que

não haveria como se anular o contrato para garantir o ressarcimento, umavez que não existiria, nos autos, prova de efetivo prejuízo ao erário. Alémdisso, a origem fundamentou descartou a caracterização de prejuízos por ter

havido prestação do serviço contratado. 3. Nas razões recursais, sustenta a

parte recorrente ter havido violação aos arts. 535 do Código de ProcessoCivil (CPC) - porque o acórdão seria omisso -, 4r, inc. III, "a", da Lei n.4.717/65, 2a do Decreto-lei n. 2.300/86 e 159 do Código Civil de 1916 ~ aoargumento de que a violação ao procedimento licitatório, embora não possa

configurar improbidade administrativa na espécie, por questões referente adireito intertemporal (não havia a Lei n. 8.429/92), é motivo que enseja anulidade do ato e o consequente ressarcimento ao erário - e 333 e 372 doCPC - ao fundamento de que a instrução da causa com o inquérito civil,

tratando-se de provas produzidas em fase pré-judicial, é suficiente parademonstrar as irregularidades. 4. Inicialmente, não viola o artigo 535 do

CPC, tampouco nega prestação jurisdicional, acórdão que, mesmo sem terexaminado individualmente cada um dos argumentos trazidos pelo vencido,

adota fundamentação suficiente para decidir de modo integral acontrovérsia, conforme ocorreu no caso em exame. 5. No mais, e âe_seassentar que o prejuízo ao erário, na espécie (/racionamento âeobjeto licitado, com ilegalidade^ da dispensa ãe procedimento

licitatório}, que geraria q. lesiviâade apta a ensejar a nulidade e oressarcimento ao erário, é in ré ipsa, na medida em _que o PoderPúblico deixa de, por condutas de administradores, contratar a

melhor proposta (no caso, em razão ao /racionamento jz consequentenão-realização da licitação, houve verdadeiro direcionamento da

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Resolução 11° 001/2014 do Tribunal de Justiça do Estado do Piauí ~ DJe nc 7.454, de 17.2.2014

contratação). 6. Além disto, conforme o art. 334, íncs. I e IV, independemde prova os fatos notórios. 7. Ora, evidente que, segundo as regrasordinárias de experiência (ainda mais levando em conta tratar-se, na espécie,de administradores públicos), o ãirecionamento de licitações, por meio de/racionamento ao objeto e dispensa indevida de procedimento de seleção(conforme reconhecido pela origem), levará à contratação de proposta^eventualmente superfaturadas (salvo nos casos em que não existemoutras partes capazes de oferecerem os mesmos produtos e/ou serviços). 8.Não fosse isto bastante, to da a^ sistemática legal colocada na Lei n.8.666/_93 e no Decreto-lei n. 2.300/86 baseia-se na presunção ãejyue aobediência aos_seus ditames garantirá a escolha da melhor propostaem ambiente de igualdade de condições. 9. Dessa forma, milita em favorda necessidade de procedimento licitatório precedente à contratação apresunção de que, na sua ausência, a proposta contratada não será aeconomicamente mais viável e menos dispendiosa, daí porque o prejuízoao erário é notório. Precedente: REsp 1.190.189/SP, de minha relataria,Segunda Turma, DJe 10.9.2010. 10. Despicienda, pois, a necessidade deprovando efetivo prejuízo porque, constatado, ainda que_por meio deinquérito civil, que houve indevido ^racionamento de objeto edispensa de Hçitação_J.njustificaãa (novamente: essas foram asconclusões da origem após analise dos autos), o preiuízo_ê inerente àconduta. Afinal, não haveria sentido no esforço de provocar ofracionamentCL^iara âispensar_a licitação se fosse possível, desdesempre, mesmo sem. ele,_oferece.r a melhor proposta, pois o peso dailicituãe da conduta, peso este que deve ser conhecido por quem sepretende administrador, faz concluir que os envolvidos iriam aderirà legalidade se esta fosse viável aos seus propósitos^ 11. Por fim, oinquérito civil possui eficácia probatória relativa para fins de instrução daação civil pública. Contudo, no caso em tela, em que a prova dairregularidade da dispensa de licitação é feita pela juntada de notas deempenho diversas, dando conta da prestação de serviço único, com clarofracionamento do objeto, documentos estes levantados em inquérito civil,não há como condicionar a veracidade da informação à produção da provaem juízo, porque tais documentos não tiveram sua autenticidade contestadapela parte interessada, sendo certo que, trazidos aos autos apenas em juízo,não teriam seu conteúdo alterado. 12. Recurso especial parcialmenteprovido. {REsp 1280321/MG, Rei. Ministro MAURO CAMPBELLMARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 06/03/2012, DJe09/03/2012)

Trata-se de verdadeiro modelo ilegal de gestão, o que impõe oreconhecimento do carater doloso da conduta do réu, apto de configurar, também, ato deimprobidade violador dos princípios da Administração Pública.

Rodrigo TolentinoJuiz de Direito

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Resolução nQ 001/2014 do Tribunal de Justiça do Estado do Piauí - DJe n° 7.454, de 17.2.2014

Forte nessas razões, reconheço a prática de atos de improbidadeadministrativa pelo réu, nas modalidades previstas nos arts. 10, caput e inciso VIII, e 11,

caput, ambos da Lei ne 8.429/92, consistentes na contratação irregular de parente próximo aochefe do poder executivo municipal em procedimento, ocasionando prejuízo aos cofres

públicos.

2.2.3. Da contratação da empresa ECOL Engenharia Ltda vara a execução de

obras de melhoria habitacional em convénio com a FUNASA, com gastos de R$ 240.000,00 (duzentos

e quarenta mil reais), porém com benefícios para poucas pessoas.

Quanto à verificação ou não da prática de ato de improbidadeadministrativa, deve-se valer dos relatórios elaboradas pela própria FUNASA, não somentepor ser a entidade que liberava os recursos para a execução das obras, mas sobretudoporque realizava fiscalização in loco e elaborava parecer técnico sobre a regular aplicação dodinheiro destinado ao programa.

Durante visita técnica realizada em 02/02/2010 (fls. 264/265), foi elaboradoum relatório/ no qual se constatou que as metas físicas atingiram o percentual de 85% dasmetas pactuadas, sendo favorável à liberação da 3- parcela destinada ao programa (fl. 266).E a nota técnica de fl. 268, datada de 20/06/2012, dispôs que as pendências de ordemdocumental foram sanadas.

Ofício da FUNASA de fl. 281 informou que foi feita a prestação de contasfinal do referido convénio, mas ainda não houve o julgamento da mesma, por encontrar-seaguardando análise.

Entretanto, como se discute nos autos apenas os valores referentes as duasprimeiras parcelas recebidas pelo município, constata-se, da leitura do parecer financeiro nB

63/2010, da Coordenação Regional do Piauí, sugestão para aprovação da prestação de contasparcial, "visto ter sido comprovada a boa e regular aplicação dos recursos pactuados".

Posteriormente/ por meio do despacho do Presidente da FUNASA à época,foram convalidados todos os atos praticados até o término de sua vigência, e prorrogada asua vigência, pois não vislumbrada a ocorrência de irregularidades e atendidos os princípiosconstitucionais (fl. 193).

Com relação à eventual fraude ou inexistência de processo licitatório, há

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nos autos contrato de prestação de serviços pactuado entre a empresa ECOL EngenhariaLtda. e o município de Itaueira/PI (fls. 40/43), e os termos de adjudicação e homologação docertame licitatório referente à tomada de preços nQ 010/2007 (fls. 180/181), no qual sagrou-sevencedora a referida empresa. Por fim, constam recibos emitidos pela ECOL Engenhariareferentes à primeira parcela da obra executada (fls. 71/72).

Assim, somente tais documentos apresentados não são suficientes paraconcluir acerca da efetiva realização de procedimento licitatório, bem como sobre sualicitude. No entanto, também não se pode presumir, de plano, que houve qualquerfavorecimento, fraude ou dilapidação do património público.

Presume-se, inclusive, o contrário. Pelo documento de fl. 181, a requeridaECOL Engenharia receberia R$ 312.983,51 (trezentos e doze mil novecentos e oitenta e trêsreais e cinquenta e um centavos), sendo que com a celebração do convénio, o municípioreceberia a quantia de R$ 300.000,00 (trezentos mil reais), havendo uma diferença de apenasR$ 12.983,51 (doze mil novecentos e oitenta e três reais e cinquenta e um centavos).

Desse modo, de acordo com as provas constantes dos autos, não vislumbroqualquer irregularidade com relação à execução do programa de melhoria habitacional. Noentanto, com relação à licitude do procedimento licitatório, não há documentos nos autosque comprovem a sua efetiva realização, o que ofende os princípios da AdministraçãoPública (legalidade, economicidade, moralidade) e também o direito fundamental previstono inciso XXI do art. 37 da Constituição Federal, devendo, assim, ser censurada nestaoportunidade.

2.2.4. Da ausência de recolhimento do ISS devido - renúncia fiscal dotributo.

De acordo com o art. 21 c/c art. 28, item 7, subitens 7.01, 7.02 e 7.05,do Código Tributário Municipal de Itaueira, o ISS tem como fato gerador os serviços deengenharia, a exemplo de execução de empreitada de construção civil, além de reparação,conservação e reforma de edifícios.

Assim, via de regra, os serviços prestados pela ECOL são passíveisde recolhimento do ISS. Até mesmo porque não se aplica ao caso as hipóteses de não-incidência (art 22) e isenção (art. 52), bem corno os demais casos previstos na legislaçãofederal e na Constituição da República.

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Em se tratando de ISS, impõe-se a irrestrita obediência ao seuaspecto material - prestação de serviços - nada interessando os aspectos meramentenegociais ou documentais. Somente com a efetiva realização (conclusão/ ou medição poretapas) dos serviços é que ocorre o respectivo fato gerador tributário com a verificação doseu aspecto temporal.

No caso dos autos, constata-se que o pagamento de cada etapa doserviço contratado era realizado após a efetiva prestação dos serviços, de modo que caberiaao tomador de serviços realizar a retenção do ISS devido no momento do pagamento.

Retenção do ISS consiste na obrigação de o tomador do serviço (ocontratante) de reter o valor correspondente ao ISS devido pelo prestador do serviço, nomomento do pagamento do serviço contratado. Assim, o prestador do serviço receberá opreço contratado deduzido do valor do imposto devido na prestação, que será recolhido aoscofres públicos pelo tomador do serviço.

Dessa forma, reconheço a prática de atos de improbidadeadministrativa pelos réus, nas modalidades previstas nos arts. 10, caput e inciso IX, e 11,caput, ambos da Lei nQ 8.429/92, consistentes na ação negligente de arrecadação de tributos,ocasionando prejuízo aos cofres públicos.

2.3- Da proporcionalidade das sanções

Doutrina e jurisprudência são unânimes em exigir que o julgador, aoimpor as sanções legalmente previstas para a prática de atos de improbidade, faça-o deacordo com a gravidade do fato e na medida da real necessidade de cada uma daspenalidades. Pois bem, a lei de improbidade administrativa, em seu art. 12, estabelece asseguintes sanções (destaquei):

Art. 12. Independentemente das sanções penais, civis e administrativasprevistas na legislação específica, está o responsável pelo ato de improbidadesujeito às seguintes comínações, que podem ser aplicadas isolada oucumulativamente,^e__acordo com a gravidade do fato:

I - na hipótese do artigo 9a, perda dos bens ou valores acrescidosilicitamente ao património, ressarcimento integral do dano, quando houver,perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de oito a dez anos,pagamento de multa civil de até três vezes o valor do acréscimo patrimonial

e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ouincentivos fiscais ou creditídos, direta ou indiretamente, ainda que por

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intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo dedez anos;II- na hipótese do artigo 10, ressarcimento integral do dano, perda dos_bensou valores acrescidos ilicitamente ao património, se _ concorrer estacircunstância, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos decinco a oito anos, pagamento de multa civil de até duas vezes o valor dodano e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ouincentivos fiscais ou__creditícios, __direta ou hidíretamente, ainda que porintermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo decincoIII - na hipótese do artigo 11, ressarcimento integral áo_âano, se houver,perda da função publica, suspensão dos direitos políticos_de três a cincoanos, pagamento de multa civil de até cem vezes o valor da remuneraçãopercebida pelo agente e proibição de contratar com o Poder Público oureceber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, ãireta ouindiretamente, ainda que por intermédio de pessoa juridica_ãa qual seja sóciomajoritário, velo prazo de três anos._Parágrafo único. Na fixação das penas previstas nesta Lei o juiz levara emconta a extensão do dano causado, assim como o proveito patrimonial obtidopelo agente.

Diante dos termos legais, e considerando que a intensidade e aextensão do ato sancionatório deve guardar relação de proporcionalidade com a lesividadeda conduta que se pretende reprimir ou prevenir, entendo serem adequadas e necessárias asseguintes sanções:

a) Quirino de Alencar Avelino

Preliminarmente, cumpre estabelecer que para o presente requeridoserão aplicadas as sanções previstas no art. 12, II, da Lei 8429/92, em razão da adoção doprincípio da consunção ou absorção para prevalecer a norma de nível punitivo maiselevado.

Ressarcimento integral dos prejuízos causados ao erário, consistentes nototal do 155 não recolhidos em favor do município de Itaueira/PI. Deixo de condenar noressarcimento de danos com relação às outras infrações praticadas diante da nãocomprovação efetiva de prejuízos causados.

Perda da função pública - Tendo em vista que o réu atualmente ocupao cargo de Prefeito Municipal, decreto a perda de seu mandato eletivo.

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Resolução n9 001/2014 do Tribunal de Justiça do Estado do Piauí - DJe ne 7.454, de 17.2.2014

Suspensão dos direitos políticos - Considerando que não há notícias nosautos, nem em consulta ao sistema ThemisWeb de prática de atos semelhantes aos que seanalisam nesta oportunidade, e tendo em vista a gravidade das condutas por ele praticadas,aplico a suspensão de seus direitos políticos pelo prazo de cinco anos, nos termos do art. 12,E, da LIA.

Multa civil — A multa civil não tem natureza indenizatória,funcionando como desestímulo à prática ilícita. Diante disso, e mais uma vez atento àlesividade da conduta atribuída ao réu, condeno-o ao pagamento de multa correspondenteao valor do dano causado.

Proibição de contratar com o poder público ou receber benefícios ouincentivos fiscais ou creditídosf direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídicada qual seja sócio majoritário — Imponho a sanção no patamar de cinco anos, nos termos do art.12, inciso II, da Lei n5 8.429/92.

b) Posto Avelino

Preliminarmente, cumpre estabelecer que para o presente requeridoserão aplicadas as sanções previstas no art. 12, II, da Lei 8429/92, em razão da adoção doprincípio da consunçao ou absorção para prevalecer a norma de nível punitivo maiselevado.

Não se aplicam as sanções de perda da função pública e suspensão dosdireitos políticos, por se tratar de pessoa jurídica.

Ressarcimento de Danos — não houve comprovação efetiva do valor doprejuízo causado, e não é questão a ser apurada em fase de liquidação de sentença, de modoque fica prejudicada a análise da respectiva sanção.

Multa civil - A multa civil não tem natureza indenizatória,funcionando como desestímulo à prática ilícita. No entanto, diante da não comprovação dodano efetivo causado, deixo de aplicar a sanção de multa civil.

Proibição de contratar com o poder público ou receber benefícios ouincentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídicada qual seja sócio majoritário - Imponho a sanção no patamar de cinco anos, nos termos do art.12, inciso II, da Lei ns 8.429/92.

Rodrigo TolentinoJuiz de Direito

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Resolução ns 001/2014 do Tribunal de Justiça do Estado do Piauí - DJe n° 7.454, de 17.2.2014

c) Quiríno Avelino Neto

Preliminarmente, cumpre estabelecer que para o presente requeridoserão aplicadas as sanções previstas no art. 12, II, da Lei 8429/92, em razão da adoção doprincípio da consunção ou absorção para prevalecer a norma de nível punitivo maiselevado.

Perda da função pública - Tendo em vista que o requerido não ocupacargo público ou mandato eletivo, deixo de aplicar esta sanção.

Suspensão dos direitos políticos - Considerando que não há notícias nosautos, nem em consulta ao sistema ThemisWeb de prática de atos semelhantes aos que seanalisam nesta oportunidade, e tendo em vista a gravidade das condutas por ele praticadas,aplico a suspensão de seus direitos políticos pelo prazo de cinco anos, nos termos do art. 12,E, da LIA.

Ressarcimento de Danos ~ não houve comprovação efetiva do valor doprejuízo causado, e não é questão a ser apurada em fase de liquidação de sentença, de modoque fica prejudicada a análise da respectiva sanção.

Multa civil - A multa civil não tem natureza indenízatória,funcionando como desestímulo à prática ilícita. No entanto, diante da não comprovação dodano efetivo causado, deixo de aplicar a sanção de multa civil.

Proibição de contratar com o poder público ou receber benefícios ouincentivos fiscais ou creditícios, direta ou indíretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídicada qual seja sócio majoritário - Imponho a sanção no patamar de cinco anos, nos termos do art.12, inciso II, da Lei n2 8.429/92.

d) ECOL Engenharia Ltda.

Preliminarmente/ cumpre estabelecer que para o presente requeridoserão aplicadas as sanções previstas no art. 12, II, da Lei 8429/92, ern razão da adoção doprincípio da consunção ou absorção para prevalecer a norma de nível punitivo maiselevado.

Não se aplicam as sanções de perda da função pública e suspensão dosdireitos políticos, por se tratar de pessoa jurídica.

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Ressarcimento integral dos prejuízos causados ao erário, consistentes nototal_do ISS não recolhidos em favor do município de Itaueira/PI.

Multa civil - A multa civil não tem natureza indenizatória,funcionando como desestímulo à prática ilícita. Diante disso, e mais uma vez atento àlesividade da conduta atribuída ao réu, condeno-o ao pagamento de multa correspondenteao valor do dano causado.

Proibição de contratar com o poder público ou receber benefícios ouincentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídicada qual seja sócio majoritário - Imponho a sanção no patamar de cinco anos, nos termos do art.12, inciso II, da Lei nQ 8.429/92.

Tais penalidades, a meu sentir, atenderão aos fins sociais a que sepropõe a lei de improbidade administrativa.

3. Dispositivo

Ante o exposto, na forma do art. 269, inciso I, do Código de ProcessoCivil, julgo parcialmente procedentes os pedidos contidos na inicial para, reconhecendo aprática de atos de improbidade administrativa que causam lesão ao erário e ofensivos aosprincípios da Administração Pública (arts. 10 e 11 da Lei ne 8.429/92):

1) condenar o réu Quirino de Alencar Avelino às seguintes sanções,estipuladas corn base na gravidade de sua conduta: a) ressarcimento integral do valor do ISSnão recolhido em favor do erário municipal; b) suspensão dos direitos políticos por cincoanos; c) proibição de contratar com o poder público ou receber benefícios ou incentivosfiscais ou crediticios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídicada qual seja sócio majoritário, pelo prazo de cinco anos; d) e pagamento de multa civil emmontante correspondente ao valor do dano causado, devidamente corrigido pelos índicesoficiais de atualização monetária.

2) condenar o réu Posto Avelino às seguintes sanções, estipuladas combase na gravidade de sua conduta: a) proibição de contratar com o poder público ou receberbenefícios ou incentivos fiscais ou crediticios, direta ou indiretamente, ainda que porintermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de cinco anos.

3) condenar o réu Quirino Avelino Neto às seguintes sanções,estipuladas com base na gravidade de sua conduta: a) suspensão dos direitos políticos por

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cinco anos; b) proibição de contratar com o poder público ou receber benefícios ouincentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio depessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de cinco anos.

4) condenar o réu JECQL Engenharia Ltda. às seguintes sanções/

estipuladas com base na gravidade de sua conduta: a) ressarcimento integral do valor do ISSnão recolhido em favor do erário municipal; b) pagamento de multa civil em montantecorrespondente ao valor do dano causado, devidamente corrigido pelos índices oficiais deatualizaçao monetária; c) proibição de contratar com o poder público ou receber benefíciosou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio depessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de cinco anos.

Condeno os réus, solidariamente, ao pagamento das custasprocessuais, as quais deverão ser tempestiva e devidamente calculadas pela Secretaria destejuízo.

Sem condenação em honorários advocatícios, tendo em vista que aação foi proposta pelo Ministério Público.

Publique-se. Registre-se. Intimem-se os réus por publicação oficial.

Vista ao Ministério Público.

intes providências: a)Ato de Improbidadeotifique-se à Câmara

Após o trânsito emJHÍgado/)àdoteinsira-se o nome dos réus no Cadastro .Nacional deU26ndenadosAdministrativa; b) comunique-se oMunicipal de Itaueira/PI do conteú

Teresina, 08

Rodrigo TolentinoJuiz de Direito

Rodrigo TolentinoJuiz de Direito

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