grelha - 1ª chamada

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Concurso de ingresso para a formação inicial no Centro de Estudos Judiciários Julho de 2012, primeira chamada Grelha de correcção e avaliação O presente documento deve ser utilizado em articulação com a edição oficial do enunciado. Indicações gerais: (A) Verificar primeiro se foram cumpridas as indicações de escolha: a prova a corrigir deve incluir uma resposta à pergunta obrigatória, e uma resposta a uma das outras duas perguntas. (B) Dimensão da prova: indicou-se aos candidatos um volume máximo de quatro páginas. Se a prova incluir folhas adicionais, apenas serão corrigidas as quatro primeiras páginas, ignorando-se o conteúdo das restantes. (C) Correcção linguística: A lógica de cálculo da nota é a seguinte: em primeiro lugar, calcula-se uma nota somando pontos correspondendo às qualidades substantivas da prova; em segundo lugar, deduz-se desta nota até dois pontos de penalização, calculados em função do número de erros ortográficos e de sintaxe. Conta-se uma dedução de 0,1 ponto por erro. A dedução pode ir até 2 pontos. Quem fizer mais de 20 erros é reprovado. Por precaução, convirá sempre avaliar e atribuir uma nota também ao conteúdo das respostas. (D) Correcção da substância: apresenta-se a seguir uma tabela identificando os cinco parâmetros aplicados. Os parâmetros 1, 4 e 5 (“Pertinência”, “Criatividade” e “Estruturaçao”) são parâmetros gerais e aplicam-se de maneira semelhante a todas as perguntas. Os parâmetros 2 e 3 (“Análise textual” e “Qualidade da informação”) dependem mais directamente das várias perguntas. Indicações adicionais em relação a estes dois parâmetros encontrar-se-ão, portanto, a seguir a cada pergunta. (E) Escala de correcção: A cada parâmetro corresponderá um valor de 0 a 2,00 , aplicando-se a seguinte escala: Excelente: ........................................ 2,00 Muito bom: ....................................... 1,75 Bom: ................................................. 1,50 Razoável: .......................................... 1,25 Suficiente: ......................................... 1,00 Insuficiente: ...................................... 0,75 Mau: .................................................. 0,50 Muito mau: ....................................... 0,25 Ausência de resposta: ....................... 0,00

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Page 1: Grelha - 1ª Chamada

Concurso de ingresso para a formação inicial no Centro de Estudos Judiciários Julho de 2012, primeira chamada

Grelha de correcção e avaliação

O presente documento deve ser utilizado em articulação com a edição oficial do

enunciado.

Indicações gerais:

(A) Verificar primeiro se foram cumpridas as indicações de escolha: a prova a corrigir

deve incluir uma resposta à pergunta obrigatória, e uma resposta a uma das outras duas

perguntas.

(B) Dimensão da prova: indicou-se aos candidatos um volume máximo de quatro

páginas. Se a prova incluir folhas adicionais, apenas serão corrigidas as quatro primeiras

páginas, ignorando-se o conteúdo das restantes.

(C) Correcção linguística: A lógica de cálculo da nota é a seguinte: em primeiro lugar,

calcula-se uma nota somando pontos correspondendo às qualidades substantivas da

prova; em segundo lugar, deduz-se desta nota até dois pontos de penalização, calculados

em função do número de erros ortográficos e de sintaxe. Conta-se uma dedução de 0,1

ponto por erro. A dedução pode ir até 2 pontos. Quem fizer mais de 20 erros é

reprovado.

Por precaução, convirá sempre avaliar e atribuir uma nota também ao conteúdo das

respostas.

(D) Correcção da substância: apresenta-se a seguir uma tabela identificando os cinco

parâmetros aplicados. Os parâmetros 1, 4 e 5 (“Pertinência”, “Criatividade” e

“Estruturaçao”) são parâmetros gerais e aplicam-se de maneira semelhante a todas as

perguntas. Os parâmetros 2 e 3 (“Análise textual” e “Qualidade da informação”)

dependem mais directamente das várias perguntas. Indicações adicionais em relação a

estes dois parâmetros encontrar-se-ão, portanto, a seguir a cada pergunta.

(E) Escala de correcção: A cada parâmetro corresponderá um valor de 0 a 2,00 ,

aplicando-se a seguinte escala:

Excelente: ........................................ 2,00

Muito bom: ....................................... 1,75

Bom: ................................................. 1,50

Razoável: .......................................... 1,25

Suficiente:......................................... 1,00

Insuficiente: ...................................... 0,75

Mau:.................................................. 0,50

Muito mau: ....................................... 0,25

Ausência de resposta: ....................... 0,00

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Concurso de ingresso no CEJ 2012 – Prova de cultura geral, primeira chamada

Grelha de avaliação e correcção – p. 2

Mais concretamente, em relação aos parâmetros gerais, a escala aplicar-se-á da maneira

seguinte:

Parâmetros 1 e 5: Partir-se-á do máximo, deduzindo fracções em função das

incorrecções encontradas. Exemplos: uma resposta que, do ponto de vista da

estruturação, apresenta o defeito de não se separarem parágrafos poderá baixar para 1,75

ou 1,5 no parâmetro 5; se também apresentar uma repetição não justificável da mesma

ideia, agrava-se a penalização e baixa-se para 1,5 ou 1,25, etc.; uma resposta onde se

encontrou uma digressão pouco pertinente e não adequadamente justificada baixa, no

parâmetro 1 para 1,75 ou 1,5; mais outro elemento não pertinente: baixa mais um

bocado. Digressões não inteiramente necessárias poderiam, no entanto, ser compensadas

pelo facto de as questões centrais serem claramente destacadas e abordadas em

prioridade.

Parâmetro 2: Partir-se-á do mínimo, aumentando o valor em função do que se encontrar

de pertinente, em particular comentários aos elementos de textos referidos a seguir na

presente grelha de correcção. Estes elementos não devem ser tomados nem como lista

exaustiva (candidatos imaginativos poderão focalizar-se ainda noutros aspectos) nem

como obrigatória (pode imaginar-se uma resposta convincente que omita um ponto,

compensando-o por um tratamento particularmente cuidadoso dos pontos

seleccionados). Convirá combinar neste parâmetro dois critérios: abrangência da

análise, por um lado (leque de elementos do texto comentados); rigor na leitura e

interpretação (citações textuais; cuidado na selecção e no comentário destas).

Parâmetro 3: Partir-se-á do mínimo, aumentando o valor em função do que se encontrar

de pertinente, em particular referências à bibliografia indicada na perspectiva das

provas. Tratando-se de provas sem consulta, a apreciação deste parâmetro não poderá

ser formalista. Uma resposta revelando globalmente uma boa cultura geral, mesmo que

não refira fontes específicas de conhecimento, deveria merecer pelo menos 1 neste

parâmetro. Também aqui convirá combinar dois critérios: diversidade das referências,

por um lado; precisão nestas referências. Por exemplo: uma referência a um capítulo em

particular de uma das obras aconselhadas poderá garantir o máximo de 2 pontos. Um

simples alusão a uma das obras recomendadas poderá merecer entre 1 e 1,5; e o 2 ser

atingido se se acrescentar outra alusão a fontes de conhecimento exterior ao texto

apresentado.

Parâmetro 4: Partir-se-á do mínimo, aumentando o valor em função do que se encontrar

de positivo (ver os indicadores referidos na tabela). Uma resposta globalmente

convincente, sem originalidade mas sóbria, bem construída e denotando bom senso

deveria merecer pelo menos 1 neste parâmetro.

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Concurso de ingresso no CEJ 2012 – Prova de cultura geral, primeira chamada

Grelha de avaliação e correcção – p. 3

Parâmetros de avaliação (entre aspas a terminologia legal)

Pon-tua-ção

Competências a avaliar Indicadores

1. Pertinência

(“Pertinência”)

2 Capacidade de entender a pergunta e de focalizar / delimitar adequadamente a sua exposição em função desta pergunta

Temas principais da resposta correspondem directamente à pergunta. Ausência de elementos de resposta sem ligação óbvia ou adequadamente justificada com a pergunta (a “palha” deve ser penalizada).

2. Análise textual

(“Capacidade de análise”)

2 Capacidade de boa leitura e apropriação do trecho proposto

Ver a lista de elementos do texto submetido que deveriam ter sido comentados / tidos em conta na exposição em relação a cada questão

3. Informação (“Qualidade da informação”)

2 Capacidade de aproveitar a bibliografia indicada para as provas

Ver a lista de elementos da bibliografia pertinentes inventariados em relação a cada questão

4. Criatividade

(“Capacidade de aplicação” [do pensamento dos autores estudados e do próprio candidato], “simplicidade”)

2 Capacidade de diversificar as fontes de inspiração e de compor de maneira convincente as ideias que destas se derivam.

Capacidade de expressar em termos simples ideias complexas.

Possuir um estilo próprio, “fazer diferença”.

Referências a obras não incluídas na bibliografia, podendo tratar-se tanto de textos como de outras obras de arte / culturais; relacionamentos particularmente bem conseguidos entre os elementos de resposta; entre diferentes leituras e/ou exemplos vividos ou retirados da actualidade; interpretações criativas do trecho a analisar; capacidade de ilustrar por exemplos concretos; originalidade na escolha destes exemplos ou referências; conclusões imaginativas; capacidade de devolver perguntas / imaginar novas perguntas, etc. Devem valorizar-se provas que visivelmente se centram nos temas de reflexão e não se preocupam em corresponder às expectativas dos correctores; que saibam ser ousados.

5. Estruturação

(“Síntese, simplicidade e clareza da exposição”)

2 Capacidade de produzir um texto bem construído, fluido, favorecendo uma boa exposição do pensamento e uma boa comunicação

Texto estruturado: parágrafos adequadamente dimensionados / recortados; partes claramente identificadas; ordenamento da matéria adequado à matéria a expor; equilíbrio quantitativo entre as partes; existência de introdutórios e conclusivos; ausência de repetições; ausência de “saltos” não justificáveis na exposição. Capacidade de relacionar com precisão entre si os elementos das diferentes partes do trabalho (ex. elementos de crítica bem apoiados em elementos da análise dos trechos).

Correcção linguística (ortografia, sintaxe,pontua

[penalização até 2 pont

Capacidade de produzir um texto correctamente formulado, revelando uma sólida formação geral e cuidado na realização das tarefas assumidas.

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Concurso de ingresso no CEJ 2012 – Prova de cultura geral, primeira chamada

Grelha de avaliação e correcção – p. 4

ção). os negativos, ou reprova-ção]

Questão 1

Jürgen Habermas, Um ensaio sobre a Constituição da Europa, Lisboa: Edições 70,

2012 (ed. orig. Berlim, 2011), p. 89 s.

Na base de uma análise cuidadosa deste texto, formule uma breve síntese do processo

de integração europeia tal como aqui descrito (máx. 1 pág.) e, extraindo desta descrição

um elemento em particular, que escolherá livremente, proponha uma apreciação crítica,

tirando partido, entre outros, da bibliografia estudada na perspectiva destas provas (máx.

1 pág.).

2. Análise textual

(trechos que deveriam em princípio ser comentados /possíveis considerações críticas, a título de exemplo)

O processo:

“pacificação de um continente ensanguentado” (peso inicial de finalidades predominantemente económicas, que explicariam as actuais fraquezas políticas e sociais da UE)

“construção de capacidades de acção política a um nível superior”

“continente cujo peso político e económico está a diminuir”

Um resultado do processo: “comunidade que possui autoridade para legislar de forma vinculativa em relação aos Estados membros, sem cobertura de um poder estatal congruente” = “inovação” com “força civilizadora”. (força civilizadora ou processo afectando a soberania dos Estados membros?)

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Concurso de ingresso no CEJ 2012 – Prova de cultura geral, primeira chamada

Grelha de avaliação e correcção – p. 5

Virtualidades para o futuro: face “às forças políticas e aos constrangimentos sistémicos de uma sociedade globalizada” “os povos procuram (...)” (Será que ‘os povos’, as pessoas na Europa, estão em condição de entender o que está em jogo a nível global e de dar efectivamente apoio – ou de se opor efectivamente – às estratégias das instâncias europeias? / Será que as políticas europeias emanam ‘dos povos’, ou dependerão fundamentalmente das opções de alguns governos com maior peso político efectivo?)

alternativa: utilizar a sua “margem de acção política “

- “de forma defensiva, para a preservação do seu biótopo cultural”

- “de forma ofensiva, para prosseguir a construção de (...) capacidades globais de governação” (Será que a composição heterogénea das forças dos 27 estados membros pode formar um poder efectivo, geo-politicamente relevante?)

3. Informação

(Leituras adicionais)

No mesmo livro: a ideia de um “cosmopolitismo mais abrangente” (a Europa deve ser experienciada como actor no mundo global; p. 71)

Giddens, A Europa na Era Global: a integração económica pesou mais do que a vontade de reestabelecer a paz; a EU deve tornar-se “global”

Portugal invisível, capítulo sobre mercados financeiros (Sofia Terlica e Bernardo Coelho).

Capítulos de Ziller e de Arnaud em Gonçalves / Guibentif, Novos Territórios do Direito.

...

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Concurso de ingresso no CEJ 2012 – Prova de cultura geral, primeira chamada

Grelha de avaliação e correcção – p. 6

Questão 2

“A individualização significa (...) que a biografia dos seres humanos é desligada de

definições predeterminadas, que se torna dependente de decisões e é atribuída como

tarefa na acção de cada um. Diminui a proporção das oportunidades de vida que

escapam em princípio a decisões, e aumenta a proporção da biografia aberta a decisões

e que deverá ser construída pela própria pessoa: as biografias tornam-se assim

‘reflexivas’; biografias socialmente predeterminadas são transformadas em biografias

produzidas – ou devendo ser produzidas – pelos próprios. As decisões sobre a formação,

a profissão, o local de trabalho, a residência, o cônjuge, o número de filhos, etc., com

todas as suas sub-distinções, não apenas podem, mas devem ser tomadas. Até em

situações nas quais seria exagerado falar em ‘decisões’, na ausência tanto de

consciência como de alternativas, o indivíduo terá que se ‘limpar’ das consequências de

decisões que não tomou. Isto significa: pressupostos institucionais e de história de vida

geram, por assim dizer, peças de construção de possibilidades de combinações

biográficas. Na transição entre ‘a biografia normal e a biografia electiva’ está a formar-

se um novo tipo de biografia, carregado de conflitos e historicamente ainda pouco

praticado: a ‘biografia-bricolage’ (...)”.

(Ulrich Beck, A sociedade do risco, ed. orig.: Frankfurt-am-Main, 1986)

A partir de uma leitura cuidadosa deste texto, reconstitua as características da realidade

social contemporânea tal como é aqui descrita por Beck (máx. 1 pág.). Discuta as

implicações desta realidade social no percurso de vida dos indivíduos, escolhendo um

dos exemplos concretos referidos no texto (máx. 1 pág.). A bibliografia recomendada

para as provas poderá servir para inspirar a discussão do exemplo.

2. Análise textual

(trechos que deveriam em princípio ser comentados / que poderiam inspirar exemplos)

Fenómeno principal: “individualização” = “biografia dos seres humanos (...) dependente de

decisões e é atribuída como tarefa na acção de cada um” ; “desligada das definições

predeterminadas”.

Três características em particular:

(1) Pressão sobre os indivíduos: “decisões (...)com todas as suas sub-distinções, não apenas

podem, mas devem ser tomadas.”

(2) “Até em situações nas quais seria exagerado falar em ‘decisões’, na ausência tanto de

consciência como de alternativas, o indivíduo terá que se ‘limpar’ das consequências de decisões

que não tomou.” = A biografia de uma pessoa é interpretada como resultando de decisões mesmo quando a pessoa não tinha – ou não percepcionava – alternativas quando seguiu um determinado rumo.

(3) produção da biografia tem lugar num contexto complexo / diferenciado: onde se distinguem, pelo menos, as esferas da formação, da profissão, da comunidade local, da familia: “decisões sobre a formação, a profissão, o local de trabalho, a residência, o cônjuge, o

número de filhos, etc.” e não é fácil conciliar as exigências que surgem nas diferentes esferas: “um novo tipo de biografia, carregado de conflitos e historicamente ainda pouco

praticado: a ‘biografia-bricolage’”

Estas três características convergem no que Beck designa brevemente no trecho por “reflexividade”, noção que merecerá ser explicitada.

Exemplos poderão ser construídos por referência a um destes três domínios: “formação”,

o mundo profissional: “a profissão, o local de trabalho”; a família: “a residência, o cônjuge, o

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Grelha de avaliação e correcção – p. 7

número de filhos”

3. Informação

(Leituras adicionais)

A relacionar com a noção de biografia bricolada: Bauman, Amor líquido

Lahire, O Homem plural

História da vida privada, por exemplo capítulo sobre “Sexualidades em construção, entre privado e público” (Verónica Policarpo)

Poderia relacionar-se a reflexão com tónica crítica de Beck sobre a construção das biografias, com a reflexão com tónica mais voluntarista de Sen sobre a valorização das potencialidades de cada um, que poderá passar por novas formações, escolhas etc.

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Questão 3

(Amartya Sen, O desenvolvimento como liberdade, Lisboa, Gradiva, 2003 [publ. orig.

1999])

Partindo de uma leitura cuidadosa do texto, explicite o argumento principal aqui

defendido por Sen, procurando formular também a concepção da economia contra a

qual ele o apresenta (máx. 1 pág.). Escolha depois, inspirando-se nos exemplos

evocados no texto, uma medida ou política social susceptível de ilustrar tal argumento.

Descreva-a brevemente, pondo em evidência os seus possíveis efeitos na luta contra a

pobreza (máx. 1 pág.) .

2. Análise textual

(trechos que deveriam em princípio ser comentados / que poderiam inspirar exemplos)

O desenvolvimento significa a ampliação do “leque (...) de opções” dos indivíduos e a possibilidade para estes de “viver vidas mais compensadoras”

ou seja não apenas “prosperidade económica”, isto é: maior “produtividade”, “crescimento económico” e aumento dos “rendimentos individuais”. (aspectos nos quais as concepções dominantes da economia se focalizam de maneira excessiva.)

Sendo que a “ampliação do leque de opções” (das “capabilidades” / “potencialidades” numa terminologia proposta por Sen noutros escritos e noutros lugares do livro recomendado) dos indivíduos não beneficia apenas o próprio indivíduo, mas a dinâmica colectiva de desenvolvimento: é considerada como fazendo parte dos factores “directamente ‘desenvolvimentais’” que têm um papel também “na promoção da produtividade ou do crescimento económico”. (Sen insiste no texto nos benefícios individuais [“pois contribuem para ... vidas mais longas ....”] mas quer deixar claro que também existem efeitos macro-económicos: “em acréscimo ao papel ...”).

A medida a propor poderá inscrever-se nos domínios:

- da formação escolar e/ou profissional (“uma melhor educação”)

- da saúde, fecundidade, maternidade etc. (“melhores cuidados de saúde, um serviço médico mais rigoroso”)

- da promoção das “liberdades concretas”: mais abstracto, exigindo especificação. Pode pensar-se na promoção do associativismo, em apoios a pequenas empresas, etc.

Nos dois elementos da resposta, convirá avançar o mais longe possível na explicitação dos mecanismos pelos quais a ampliação das “potencialidades individuais” beneficia a

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indivíduos e colectividades: favorece a capacidade individual de se dar objectivos, de se aliar / associar a outras pessoas para os concretizar, de actuar trabalhar na perspectiva da sua concretização; o que poderá ter importância particular em todas as actividades que consistem no cuidar de outros e da vida, o que diz particularmente respeito às mulheres. Favorece também, a nível das sociedades, a qualidade das relações entre as pessoas, devido ao seu bem estar físico, material e moral, assim como a intensidade das relações entre gerações, logo os processos de aprendizagem colectiva e de cidadania, devido nomeadamente a maior longevidade (“vidas mais longas, mais livres e mais fecundas”).

3. Informação

(Leituras adicionais)

No mesmo livro, capítulo “A perspectiva da liberdade”

Olhar sobre a pobreza, por exemplo ponto sobre “Situações de doença como dificuldades acrescidas”, “Redes de sociabilidade”, etc.

Giddens, A Europa da Era Global, capítulos sobre “Justiça social” e sobre “Bem estar ... positivo”

História da vida privada: por exemplo o capítulo sobre a intervenção do Estado no domínio da família (Karin Wall)

Poderia relacionar esta visão optimista da valorização do potencial dos indivíduos com as reflexões mais críticas de Beck e Lahire sobre as consequências da individualização.

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