grãos de versos 15

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Um verso deve ser plantado / Resultado de cuidadoso trabalho / Revelar o caos, / ser porta-voz do universo / Reunir a singularidade / em cada compasso do tempo / Pode surgir do silêncio / Dito, recitado, espremido / até virar um caldo / que umedeça a alma / e cure o tormento. / Surge do cotidiano, / vem dos lugares mais longínquos / Construir um sentido / é sua meta, fora do óbvio.

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São Paulo - 2016

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Copyright © 2016 by Editora Baraúna SE Ltda.

Capa Fernando Neves

Diagramação Felippe Scagion

Revisão Patrícia A. Murari

Edição 2007 1ªEd Editora Catavento, Maceió (Al)

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

________________________________________________________________

J71g

José, Luciano Grãos de versos / Luciano José .- 1. ed. - São Paulo: Baraúna, 2016.

ISBN 978-85-437-0501-9

1. Poesia brasileira. I. Título.

16-32438 CDD: 869.91 CDU: 821.134.3(81)-1

________________________________________________________________19/04/2016 22/04/2016

Impresso no BrasilPrinted in Brazil

DIREITOS CEDIDOS PARA ESTAEDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br

Rua da Quitanda, 139 – 3º andarCEP 01012-010 – Centro – São Paulo – SPTel.: 11 3167.4261www.EditoraBarauna.com.br

Todos os direitos reservados.Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio, sem a expressa autorização da Editora e do autor. Caso deseje utilizar esta obra para outros fins, entre em contato com a Editora.

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“Tudo o que sobrará de mim é papel impresso”(Ferreira Gullar)

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Sumário

o CAoS DoS GrÃoS .............................................................11

CoNSiDErAÇÕES Do AuTor .............................................18

EXErCÍCio ............................................................................21

PrESENÇA ...............................................................................22

VoYEuriSmo LiTErário ......................................................23

SEGrEDo ................................................................................24

LiVro LiBErTo ......................................................................25

oriGEm ...................................................................................26

CoNTESTAÇÃo .....................................................................27

um VErSo ...............................................................................28

ComPoSiÇÃo ........................................................................29

EXiGÊNCiA .............................................................................30

rEiNCiDENTE.........................................................................31

PArADEiro .............................................................................32

DESTiNo .................................................................................33

riSCo DE AmAr .....................................................................34

iNTENÇÃo oBSCurA ...........................................................35

AuSÊNCiA ...............................................................................36

AViÃo ......................................................................................37

LiBErTiNAGEm .......................................................................38

muLHErES FATAiS ..................................................................39

ComuNiCAÇÃo ....................................................................40

CAmArALENTA ......................................................................41

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AJEiTADo ................................................................................42

CoNQuiSTA ...........................................................................43

rEAÇÃo ..................................................................................44

CoNDiÇÃo ............................................................................45

mEDiDA ...................................................................................46

ADJETiVADo ...........................................................................47

imPorTÂNCiA ........................................................................48

BrASiLiAN WAY ......................................................................49

ESCoLHAS ..............................................................................50

o ÚNiCo SoBrEViVENTE ....................................................51

A TriLHA Do LoGoS .......................................................52

JorNADA imAGiNáriA ...................................................54

iNVASÃo .................................................................................55

CirCuiTo ...............................................................................56

EXiSTÊNCiA ............................................................................57

TrANSiTÓrio ........................................................................58

SuBSTÂNCiA ..........................................................................59

CorPo ....................................................................................60

CADEirA..................................................................................61

TrANSFormAÇÃo ................................................................62

EVENTo ..................................................................................63

A CiGArrA ..............................................................................64

CAÇADA ..................................................................................65

rECEiTA PArA CAPTurAr rAToS .......................................66

ViDA DE CÃo .........................................................................67

iNComPATiBiLiDADE DE ESPÉCiE .......................................68

PEiXE .......................................................................................69

GuArDA-rouPA ....................................................................70

A rEDE ...............................................................................71

DESCASo ................................................................................72

uNiVErSo muSiCAL ......................................................73

SAmBA ................................................................................74

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o ETErNo CANTADor ........................................................75

DorES DE muSAS ..................................................................76

QuATro BESouroS .............................................................77

LABiriNTo DA CriAÇÃo ................................................79

LoNGE DA TErrA ..................................................................80

PACTo .....................................................................................81

NomES ....................................................................................82

o NomE E o SEr ...................................................................83

EXÓTiCo ................................................................................84

GoSTo ....................................................................................85

ACoLHiDA ..............................................................................86

A CoSTurEirA .......................................................................87

ouSADiA .................................................................................88

BuSCA .....................................................................................89

CirCuNSTÂNCiA ...................................................................90

CoNiVÊNCiA ..........................................................................91

moVimENTo Em Dor mAior E FuGA ...............................92

NoiTE iNFELiZ .......................................................................93

oNiPrEPoTÊNCiA.................................................................94

ANÍBAL ....................................................................................95

CAmiSA DE ForÇA ................................................................96

DA Dor À FArrA ...................................................................97

PEDiDo rEVELADor ............................................................98

ALÍVio ......................................................................................99

FomE .....................................................................................100

ESTADoS DE CoNSCiÊNCiA ..............................................102

DECiSÃo ...............................................................................103

mAL ACoSTumADo ............................................................104

iNDiFErENÇA .......................................................................105

SEm DESTiNo .......................................................................106

ENTENDimENTo .................................................................107

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o CAoS DoS GrÃoS

Grãos de versos podem ser grãos diversos, onde se subentende grãos como gônadas (mônadas) e os versos como a cadeia que replica e gera o poema. Grão lem-bra semente e, por contágio semântico, sêmen: eis uma leitura feita por quem desconfia até da própria medula, visualizando esta poesia que se quer erótica ao tempo que deflagra um lirismo que tem como interface o processo de se pôr letra em música.

Grãos diversos (grãos de versos) homologam a he-terolateralidade, pois o poeta sabe que “ser diferente é o que nos resta” e deve saber também que nem sempre cabe no real o que se resolve em um poema. O real não é apenas o todo observável, mas um buraco negro que suga o ideal do ego. Decifra-me ou te devoro.

O mistério dos grãos revela-se de intricada episte-me. Os objetos granulares (areia, farinha, pílulas, açú-car, sementes etc.) obedecem a uma estranhíssima lei de mecânica de fluídos que atende pelo nome de Hagen--Poiseuille. Gotthilf Hagen (1797-1884), um engenheiro alemão, e Jean-Louis-Marie Poiseuille (1799-1869), um médico francês, ambos curiosos estudiosos da matéria em estado granular. Tal lei postula que a velocidade de um fluído dentro de um cano aumenta à medida que tam-bém cresce a altura da coluna deste fluído. Se uma pessoa põe pequenos grãos e outros maiores num mesmo reci-piente e em seguida o agita a tendência é que as sementes

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maiores subam e desçam as menores. É o chamado “efei-to castanha-do-pará” (ou: Brazil nut effect, em ianquês), isso vem barafundando os físicos e cientistas envolvidos na área de pesquisa industrial. Os materiais granulares seriam “meios dissipativos” úteis para se compreender o caos como uma “criticalidade autoorganizada”. Como todo poema é um caos inconscientemente organizado, pois a arte, de algum modo, é coletiva (e onírica), o poeta às vezes lampeja, antecipando conceitos filosóficos e, até, científicos. Só não nos interessa a poesia tear-jerker (pu-xadora de lágrimas) que é o lugar-comum de toda proesia protoparnasiana provinciana, poesia-pranto, sub-surreal ou lacrimogênese lírica.

A bordo da espaçonave Terra, que perfaz uma órbita fantástica, em torno da via Ápex, um ponto marginal da Via-Láctea, viajamos todos, (até aqueles que em pânico trancam-se em casa), e de graça. A nossa espaçonave desen-volve uma velocidade aproximada de 100.000 quilômetros por hora (chegaríamos à lua em apenas 240 minutos), sob a atração gravitacional do sol que leva 220 milhões de anos para fazer seu movimento de translação, em volta daque-le ponto. Viajor e aeronave, poema e poeta, num plano onde o espaço é o alfabeto e o tempo o decodificador. Se o homem não tivesse inventado a linguagem, a humani-dade teria enlouquecido, escreveu o eruditíssimo Dirceu Lindoso. Li há muito tempo, que o princípio da “inde-terminação” de Heisenberg delibera que a ação de medir altera consequentemente o objeto a ser medido. Tudo se passa como se as partes desmembradas fossem maiores que o todo de onde provêm, que algumas estrelas fossem mais

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velhas que o próprio universo, ou que as peças retiradas de uma máquina, por exemplo, depois não coubessem em seu próprio sistema. O espaço é mágico. Também o ato de ler altera o lido e a leitura do poema transforma o poema (a cada releitura) e também nos modifica, e deste progressivo movimento interativo se enriquece a obra. A leitura plura-liza o texto com sua insidiosa modificação contínua. Mas não devemos exagerar, poesia pode provocar hipocondria e a obsessão por teorias literárias abstrusas e exegeses com-plexas podem ser tão hilárias quanto estudar o comporta-mento sexual dos tatus ou contar o número de grãos de areia da praia de Jatiúca.

O que não podemos é fugir de nós mesmos ou do espaço social que nos cerca e nos bloqueia com as coura-ças ideológicas do instinto. Hegel observou que ninguém aprende a partir da história, o que nos obrigaria indefi-nidamente a repetir o eterno erro cíclico. O escoadouro da poesia é a própria poesia, o poeta não é honesto nem fingidor, apenas um proxeneta da arte, um indivíduo que coloca o ego a serviço da literatura, aquele para quem e para o qual a arte e somente a obra de arte está acima de todas as coisas. Claro que eu me refiro ao verdadeiro poeta. Poesia é uma coisa, chilique, outra.

Quanto à imensa discordância entre críticos, histo-riadores e filósofos (e leitores) que não se detone a cabeça, afinal, como nos ensinou Guimarães Rosa: “Vida é muito discordada. Tem partes, tem artes. Tem as neblinas de Si-ruiz. Tem as caras todas do Cão e as vertentes do viver”.

A certa altura o autor nos adverte que “a gaveta era sua confidente e crítica”, pois bem-aventurados sejam

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aqueles que hibernam os seus textos inéditos na solidão escura das gavetas antes de dá-los a luz, para que tomem forma. No poema Intenção obscura uma putativa canta-da a uma morena é ensaiada em linguagem coloquial--irônica, numa linha tão estimada e estimulada por Ezra Pound. Às vezes parte para uma espécie de limerick hu-morístico (“Tigre idoso nem sempre é tigre de benga-la”) noutras, investe paulificante nos versos licenciosos (“Plantar verde e colher maduro / Dançar e ficar de pau duro”); ou contempla o lugar-comum e rima amor com dor, o que nem sempre constitui crime de lesa-poesia. Em Sem destino a lição de abismo conduz à volúpia da inércia, à acídia niilista. Jogo de palavras, trocadilhos, ri-mas emparelhadas e apelo ao fescenino fazem parte do caldeirão lírico deste autor que ainda acredita na força da poesia e no seu discurso demiúrgico.

O autor, cujos recursos de musicalidade e ritmo logo se evidenciam, deve abastecer a Musa com bastantes teo-rias. Isso se detecta em sua poesia alusiva, de produtor que teoriza sobre o seu trabalho, que brinca metalitera-riamente com as palavras. Poesia que adere ao pavilhão auditivo. Poesia de ouvido que não quer ser do olvido. Nota-se de imediato a inata filiação do autor à melopeia, a dança da memória. Mesmo quando o autor canta a crise e celebra o caos ele sabe da “sonata que acalenta a massa”.

Tomo a liberdade para discordar dos que advogam a superioridade da poesia erudita sobre o produto chama-do “letra”, ou seja, o conteúdo textual da música popular. A letra, devidamente guarnecida pela melodia, arranjo e interpretação, às vezes supera o verso literário, produzido

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por uma minoria culta para a leitura “edificante” de uma silenciosa minoria letrada. A música popular brasileira está de corpo presente na elaboração de muitos dos poe-mas aqui vazados. Cita Noel, Tom Jobim, Elis, Dolores Duran, Maysa. Inventa palavras e reorganiza termos es-trangeiros, tudo em nome do texto. Como professor de filosofia não descarta Descartes e cogitabundo busca a fla-ma alucinada do corpo feminino, da musa-mulher, mito já tão desgastado em ritos e celebrações multisseculares. A esse respeito, considero ilustrativo o poema Exigência, mesmo que não ilumine as massas, nem sonde o inefável.

Poesia nunca vendeu bem no Brasil (em lugar ne-nhum, aliás, exceto na utopolândia!) e permanecerá ven-dendo migalhas, sendo a atividade estéril-estética mais trabalhosa e sem retorno de todas as artes. Contudo (ou com nada), a classe média e aqueles desprovidos de re-cursos são os que mais produzem e consomem poesia. Rico, a rigor, não se dedica nem se alimenta de poesia já que verso não alavanca lucros e o investimento financeiro é a mola escatológica da burguesia letrada e iletrada, na-cional e estrangeira, sua suprema ironia. Sendo uma ati-vidade nulamente remunerada (ao contrário do roman-ce e do teatro que, em alguns casos, rendem dinheiro, este excremento do diabo!) o que leva alguém a produzir textos poéticos ou encarar a carreira de poeta, talvez a mais esquisita do planeta, segundo Borges? Como crítica da vida, a poesia é a peça artística mais cobiçada pelos idólatras das musas para registrar os impactos amorosos, mesmo que estes impactos não signifiquem poesia. Talvez desses raros arroubos da mocidade se vingue a poesia, e