grandes sermões do mundo - clarence e. macartey

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Grandes Semões do Mundo E-book digitalizado por: Levita Digital Com exclusividade para: http://ebooksgospel.blogspot.com/

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Sermão de Jesus Cristo - Sermão da Montanha..Isaías - Santo Agostinho

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Grandes Semes do Mundo

E-book digitalizado por: Levita Digital

Com exclusividade para:

http://ebooksgospel.blogspot.com/GrandesSermes

do MundoSermes de 28 dos maiores pregadores do mundo, incluindo Agostinho, Joo Calvino, Martinho Lutero, Jonathan Edwards, John Wesley, Charles Finnney, Charles Spurgeon e outros

ClARENCE E. MACARTNEY, EditorTraduoDegmar Ribas Jnior

Todos os direitos reservados. Copyright 2OO3 para a lngua portuguesa da Casa Publicadora das Assemblias de Deus. Aprovado pelo Conselho de Doutrina.Ttulo do original em ingls: Great Sermons ofthe WorldHendrickson Publishers, Peabody, Massachussetts, EUA Primeira edio em ingls: 1997 Traduo: Degmar Ribas JniorPreparao dos originais: Kleber Cruz Reviso: Alexandre Coelho Capa: Flamir Ambrsio Editorao: Olga Rocha dos SantosCDD: 25O - Sermes ISBN: 85-263-O542-5As citaes bblicas foram extradas da verso Almeida Revista e Corrigida, edio de 1995, da Sociedade Bblica do Brasil, salvo indicao em contrrio.Para maiores informaes sobre livros, revistas, peridicos e os ltimos lanamentos da CPAD, visite nosso site: http://www.cpad.com.brCasa Publicadora das Assemblias de Deus

Caixa Postal 331

2OOO1-97O, Rio de Janeiro, RJ, Brasil1 edio/2OO3SumrioIntroduo

1.Jesus Cristo.O Sermo da Montanha

2.Profeta Isaas: Livro de Isaas, Captulos 63 e 64

3.Apstolo Pedro: O Sermo que Ganhou Trs Mil Almas

4.Clemente de Roma: Cristo e a Igreja

5.Joo Crisstomo: A Grandeza do Apstolo Paulo

6.Agostinho: As Dez Virgens

7.Venervel Bede: O Encontro da Misericrdia e da Justia

8.Thomas Kempis: Tomando a Cruz

9.Martinho Lutero: Estvo

1O.Joo Calvino: Suportando a Perseguio

11.John Howe: As Lgrimas do Redentor

12.Robert South: O Homem Criado Imagem de Deus

13.Jonathan Edwards:Os Mortos Bem-aventurados

14.JohnWesley: O Grande Julgamento

15.George Whitefield: Arrependimento

16.Samuel Davies: A Ressurreio Geral

17.Rowland Hill: Demonstraes Gloriosas da Graa do Evangelho

18.Robert Hall: O Missionrio Cristo

19.Christmas Evans: O Triunfo do Calvrio2O.Thomas Chalmers: O Poder Expulsivo de um Novo Afeto

21.Charles Grandison Finney: Mordomia

22.Thomas Guthrie: Os Pecados e as Tristezas da Cidade

23.FrederickW Robertson: Egosmo, como Mostrado no Carter de Balao

24.Henry Parry Liddon: Os Primeiros Cinco Minutos depois da Morte

25.Charles Haddon Spurgeon: Poupado!26.Phillips Brooks: A Lmpada do Senhor

27.Francis Landey Patton: A Letra e o Esprito

28.George Campbell Morgan: O Poder do Evangelho

Introduo

Certo ouvinte, entusiasmado com a pregao de um famoso pregador, perguntou-lhe se poderia ter o privilgio de mandar imprimir a pregao que acabara de ouvir. "Sim", respondeu o pregador, "contanto que voc tambm mande imprimir o trovo". Mas isso impossvel!

Podemos imprimir o registro escrito do que o pregador disse; mas no a luz dos olhos, o brilho da face, a curva que a mo descreve, a atitude do corpo, a musicalidade da voz. Quando registramos o tema, as divises e pargrafos e at as mesmas palavras que foram ditas, no temos o pregador. Tudo o que podemos dizer de um sermo impresso o que J disse acerca da majestade do Criador: "Eis que isto so apenas as orlas dos seus caminhos; e quo pouco o que temos ouvido dele! Quem, pois, entenderia o trovo do seu poder?" (J 26.14). Quanto maior o pregador, maior o contraste entre o registro escrito e o sermo falado. Lemos que milhares de pessoas se apinhavam para ouvir extasiadas as pregaes de Whitefield e, depois, nos perguntamos o que produzia tal impresso nas pessoas, quando temos em mos um dos sermes de Whitefield. O trovo e o raio se foram.

Ler um sermo clebre como visitar a cena de um grande acontecimento na histria. Especialmente proveitoso para os pregadores a leitura dos sermes feitos pelos filhos do trovo do plpito do passado. Na qualidade da mais nobre paixo da terra, pregar tambm uma grande arte. Toda a glria e fascnio do plpito cristo surge diante de ns ao lermos as declaraes dos profetas de Deus que argumentavam com homens acerca da justia, temperana e julgamento futuros.

Ao compilar este volume de sermes, vali-me de todos os perodos de pregao crist, desde os dias dos apstolos at o presente.

Tambm inclu um exemplo da eloqncia do Antigo Testamento.

A regra geral seguida foi selecionar os pregadores famosos dos diferentes perodos. verdade que s vezes os maiores pregadores no eram grandes sermonrios. Contudo, por mais admirvel que um sermo seja, dificilmente considerado um dos grandes sermes do mundo, a menos que tenha sido pregado por um dos grandes pregadores da poca. Isto tornou minha tarefa muito mais fcil, pois ningum questionar a categoria dos pregadores cujos sermes aparecem neste volume.

Na preparao deste volume, recebi sugestes muito teis de meu amigo e antigo instrutor, reverendo Frederick W. Loetscher, D.D., LL.D., professor de histria eclesistica do Seminrio Teolgico de Princeton.

Clarence E. MacartneyJesus Cristo:

O Sermo da Montanha

BEM-AVENTURADOS os pobres de esprito, porque deles o Reino dos cus. Bem-aventurados os que choram, porque eles sero consolados. Bem-aventurados os mansos, porque eles herdaro a terra. Bem-aventurados os que tm fome e sede de justia, porque eles sero fartos. Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcanaro misericrdia. Bem-aventurados os limpos de corao, porque eles vero a Deus. Bem-aventurados os pacificadores, porque eles sero chamados filhos de Deus. Bem-aventurados os que sofrem perseguio por causa da justia, porque deles o Reino dos cus. Bem-aventurados sois vs quando vos injuriarem, e perseguirem, e, mentindo, disserem todo o mal contra vs, por minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque grande o vosso galardo nos cus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vs.

Vs sois o sal da terra; e, se o sal for inspido, com que se h de salgar? Para nada mais presta, seno para se lanar fora e ser pisado pelos homens.

Vs sois a luz do mundo; no se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte. Nem se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas, no velador, e d luz a todos que esto na casa. Assim resplandea a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai, que est nos cus.

No cuideis que vim destruir a lei ou os profetas; no vim ab-rogar, mas cumprir. Porque em verdade vos digo que, at que o cu e a terra passem, nem um jota ou um til se omitir da lei sem que tudo seja cumprido. Qualquer, pois, que violar um destes menores mandamentos e assim ensinar aos homens ser chamado o menor no Reino dos cus; aquele, porm, que os cumprir e ensinar ser chamado grande no Reino dos cus. Porque vos digo que, se a vossa justia no exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no Reino dos cus.

Ou vistes que foi dito aos antigos: No matars; mas qualquer que matar ser ru de juzo. Eu, porm, vos digo que qualquer que, sem motivo, se encolerizar contra seu irmo ser ru de juzo, e qualquer que chamar a seu irmo de raa ser ru do Sindrio; e qualquer que lhe chamar de louco ser ru do fogo do inferno. Portanto, se trouxeres a tua oferta ao altar e a te lembrares de que teu irmo tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmo, e depois vem, e apresenta a tua oferta. Concilia-te depressa com o teu adversrio, enquanto ests no caminho com ele, para que no acontea que o adversrio te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao oficial, e te encerrem na priso. Em verdade te digo que, de maneira nenhuma, sairs dali, enquanto no pagares o ltimo ceitil.

Ouvistes que foi dito aos antigos: No cometers adultrio. Eu, porm, vos digo que qualquer que atentar numa mulher para a cobiar j em seu corao cometeu adultrio com ela. Portanto, se o teu olho direito te escandalizar, arranca-o e atira-o para longe de ti, pois te melhor que se perca um dos teus membros do que todo o teu corpo seja lanado no inferno. E, se a tua mo direita te escandalizar, corta-a e atira-a para longe de ti, porque te melhor que um dos teus membros se perca do que todo o teu corpo seja lanado no inferno. Tambm foi dito: Qualquer que deixar sua mulher, que lhe d carta de desquite. Eu, porm, vos digo que qualquer que repudiar sua mulher, a no ser por causa de prostituio, faz que ela cometa adultrio; e qualquer que casar com a repudiada comete adultrio.

Outrossim, ouvistes que foi dito aos antigos: No perjurars, mas cumprirs teus juramentos ao Senhor. Eu, porm, vos digo que, de maneira nenhuma, jureis nem pelo cu, porque o trono de Deus, nem pela terra, porque o escabelo de seus ps, nem por Jerusalm, porque a cidade do grande Rei, nem jurars pela tua cabea, porque no podes tornar um cabelo branco ou preto. Seja, porm, o vosso falar: Sim, sim; no, no, porque o que passa disso de procedncia maligna.

Ouvistes que foi dito: Olho por olho e dente por dente. Eu, porm, vos digo que no resistais ao mal; mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe tambm a outra; e ao que quiser pleitear contigo e tirar-te a vestimenta, larga-lhe tambm a capa; e, se qualquer te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas. D a quem te pedir e no te desvies daquele que quiser que lhe emprestes.

Ou vistes que foi dito: Amars o teu prximo e aborrecers o teu inimigo. Eu, porm, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem, para que sejais filhos do Pai que est nos cus; porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons e a chuva desa sobre justos e injustos. Pois, se amardes os que vos amam, que galardo tereis? No fazem os publicanos tambm o mesmo? E, se saudardes unicamente os vossos irmos, que fazeis de mais? No fazem os publicanos tambm assim? Sede vs, pois, perfeitos, como perfeito o vosso Pai, que est nos cus.

Guardai-vos de fazer a vossa esmola diante dos homens, para serdes vistos por eles; alis, no tereis galardo junto de vosso Pai, que est nos cus.

Quando, pois, deres esmola, no faas tocar trombeta diante de ti, como fazem os hipcritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que j receberam o seu galardo. Mas, quando tu deres esmola, no saiba a tua mo esquerda o que faz a tua direita, para que a tua esmola seja dada ocultamente, e teu Pai, que v em secreto, te recompensar publicamente.

E, quando orares, no sejas como os hipcritas, pois se comprazem em orar em p nas sinagogas e s esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo que j receberam o seu galardo. Mas tu, quando orares, entra no teu aposento e, fechando a tua porta, ora a teu Pai, que v o que est oculto; e teu Pai, que v o que est oculto, te recompensar. E, orando, no useis de vs repeties, como os gentios, que pensam que, por muito falarem, sero ouvidos. No vos assemelheis, pois, a eles, porque vosso Pai sabe o que vos necessrio antes de vs lho pedirdes.

Portanto, vs orareis assim: Pai nosso, que ests nos cus, santificado seja o teu nome. Venha o teu Reino. Seja feita a tua vontade, tanto na terra como no cu. O po nosso de cada dia d-nos hoje. Perdoa-nos as nossas dvidas, assim como ns perdoamos aos nossos devedores. E no nos induzas tentao, mas livra-nos do mal; porque teu o Reino, e o poder, e a glria, para sempre. Amm! Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, tambm vosso Pai celestial vos perdoar a vs. Se, porm, no perdoardes aos homens as suas ofensas, tambm vosso Pai vos no perdoar as vossas ofensas.

E, quando jejuardes, no vos mostreis contristados como os hipcritas, porque desfiguram o rosto, para que aos homens paream que jejuam. Em verdade vos digo que j receberam o seu galardo. Porm tu, quando jejuares, unge a cabea e lava o rosto, para no pareceres aos homens que jejuas, mas sim a teu Pai, que est oculto; e teu Pai, que v o que est oculto, te recompensar.

No ajunteis tesouros na terra, onde a traa e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladres minam e roubam. Mas ajuntai tesouros no cu, onde nem a traa nem a ferrugem consomem, e onde os ladres no minam, nem roubam. Porque onde estiver o vosso tesouro, a estar tambm o vosso corao.

A candeia do corpo so os olhos; de sorte que, se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo ter luz. Se, porm, os teus olhos forem maus, o teu corpo ser tenebroso. Se, portanto, a luz que em ti h so trevas, quo grandes sero tais trevas!

Ningum pode servir a dois senhores, porque ou h de odiar um e amar o outro ou se dedicar a um e desprezar o outro. No podeis servir a Deus e a Mamom.

Por isso, vos digo: no andeis cuidadosos quanto vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. No a vida mais do que o mantimento, e o corpo, mais do que a vestimenta? Olhai para as aves do cu, que no semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. No tendes vs muito mais valor do que elas? E qual de vs poder, com todos os seus cuidados, acrescentar um cvado sua estatura? E, quanto ao vesturio, porque andais solcitos? Olhai para os lrios do campo, como eles crescem; no trabalham, nem fiam. E eu vos digo que nem mesmo Salomo, em toda a sua glria, se vestiu como qualquer deles. Pois, se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe e amanh lanada no forno, no vos vestir muito mais a vs, homens de pequena f? No andeis, pois, inquietos, dizendo: Que comeremos ou que beberemos ou com que nos vestiremos? (Porque todas essas coisas os gentios procuram.) Decerto, vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas essas coisas; mas buscai primeiro o Reino de Deus, e a sua justia, e todas essas coisas vos sero acrescentadas.

No vos inquieteis, pois, pelo dia de amanh, porque o dia de amanh cuidar de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal.

No julgueis, para que no sejais julgados, porque com o juzo com que julgardes sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos ho de medir a vs. E por que reparas tu no argueiro que est no olho do teu irmo e no vs a trave que est no teu olho? Ou como dirs a teu irmo: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, estando uma trave no teu? Hipcrita, tira primeiro a trave do teu olho e, ento, cuidars em tirar o argueiro do olho do teu irmo.

No deis aos ces as coisas santas, nem deiteis aos porcos as vossas prolas; para que no as pisem e, voltando-se, vos despedacem.

Pedi, e dar-se-vos-; buscai e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-. Porque aquele que pede recebe; e o que busca encontra; e, ao que bate, se abre. E qual dentre vs o homem que, pedindo-lhe po o seu filho, lhe dar uma pedra? E, pedindo-lhe peixe, lhe dar uma serpente? Se, vs, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que est nos cus, dar bens aos que lhe pedirem? Portanto, tudo o que vs quereis que os homens vos faam, fazei-lho tambm vs, porque esta a lei e os profetas.

Entrai pela porta estreita, porque larga a porta, e espaoso o caminho que conduz perdio, e muitos so os que entram por ela. E porque estreita a porta, e apertado o caminho que leva vida, poucos h que a encontrem.

Acautelai-vos, porm, dos falsos profetas, que vm at vs vestidos como ovelhas, mas interiormente so lobos devoradores. Por seus frutos os conhecereis. Porventura, colhem-se uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos? Assim, toda rvore boa produz bons frutos, e toda arvore m produz frutos maus. No pode a rvore boa dar maus frutos, nem a rvore m dar frutos bons. Toda rvore que no d bom fruto corta-se e lana-se no fogo. Portanto, pelos seus frutos os conhecereis.

Nem todo o que me diz-. Senhor, Senhor! entrar no Reino dos cus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que est nos cus. Muitos me diro naquele Dia: Senhor, Senhor, no profetizamos ns em teu nome? E, em teu nome, no expulsamos demnios? E, em teu nome, no fizemos muitas maravilhas? E, ento, lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vs que praticais a iniqidade.

Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras e as pratica, assemelh-lo-ei ao homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha. E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e no caiu, porque estava edificada sobre a rocha. E aquele que ouve estas minhas palavras e as no cumpre, compar-lo-ei ao homem insensato, que edificou a sua casa sobre a areia. E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e caiu, e foi grande a sua queda.

Profeta Isaas:

Livro de Isaas, Captulos 63 e 64QUEM este que vem de Edom, de Bozra, com vestes tintas? Este que glorioso em sua vestidura, que marcha com a sua grande fora? Eu, que falo em justia, poderoso para salvar. Por que est vermelha a tua vestidura? E as tuas vestes, como as daquele que pisa uvas no lagar? Eu sozinho pisei no lagar, e dos povos ningum se achava comigo; e os pisei na minha ira e os esmaguei no meu furor; e o seu sangue salpicou as minhas vestes, e manchei toda a minha vestidura. Porque o dia da vingana estava no meu corao, e o ano dos meus redimidos chegado. E olhei, e no havia quem me ajudasse; e espantei-me de no haver quem me sustivesse; pelo que o meu brao me trouxe a salvao, e o meu furor me susteve. E pisei os povos na minha ira e os embriaguei no meu furor, e a sua fora derribei por terra.

As benignidades do Senhor mencionarei e os muitos louvores do Senhor, consoante tudo o que o Senhor nos concedeu, e a grande bondade para com a casa de Israel, que usou com eles segundo as suas misericrdias e segundo a multido das suas benignidades. Porque o Senhor dizia: Certamente, eles so meu povo, filhos que no mentiro. Assim ele foi seu Salvador. Em toda a angstia deles foi ele angustiado, e o Anjo da sua presena os salvou; pelo seu amor e pela sua compaixo, ele os remiu, e os tomou, e os conduziu todos os dias da antigidade. Mas eles foram rebeldes e contristaram o seu Esprito Santo-, pelo que se lhes tornou em inimigo e ele mesmo pelejou contra eles. Todavia, se lembrou dos dias da antigidade, de Moiss e do seu povo, dizendo: Onde est aquele que os fez subir do mar com os pastores do seu rebanho? Onde est aquele que ps no meio deles o seu Esprito Santo, aquele cujo brao glorioso ele fez andar mo direita de Moiss? Que fendeu as guas diante deles, para criar um nome eterno? Aquele que os guiou pelos abismos, como o cavalo, no deserto, de modo que nunca tropearam? Como ao animal que desce aos vales, o Esprito do Senhor lhes deu descanso; assim guiaste ao teu povo, para criares um nome glorioso.

Atenta desde os cus e olha desde a tua santa e gloriosa habitao. Onde esto o teu zelo e as tuas obras poderosas? A ternura das tuas entranhas e das tuas misericrdias detm-se para comigo! Mas tu s nosso Pai, ainda que Abrao nos no conhece, e Israel no nos reconhece. Tu, Senhor, s nosso Pai; nosso Redentor desde a antigidade o teu nome. Por que, Senhor, nos fazes desviar dos teus caminhos? Por que endureces o nosso corao, para que te no temamos? Faz voltar, por amor dos teus servos, as tribos da tua herana. S por um pouco de tempo, foi possuda pelo teu santo povo; nossos adversrios pisaram o teu santurio. Tornamo-nos como aqueles sobre quem tu nunca dominaste e como aqueles que nunca se chamaram pelo teu nome.

! Se fendesses os cus e descesses! Se os montes se escoassem diante da tua face! Como quando o fogo inflama a lenha e faz ferver as guas, para fazeres notrio o teu nome aos teus adversrios, assim as naes tremessem da tua presena! Quando fazias coisas terrveis, que no espervamos, descias, e os montes se escoavam diante da tua face. Porque desde a antigidade no se ouviu, nem com ouvidos se percebeu, nem com os olhos se viu um Deus alm de ti, que trabalhe para aquele que nele espera. Saste ao encontro daquele que se alegrava e praticava justia, daqueles que se lembram de ti nos teus caminhos; eis que te iraste, porque pecamos; neles h eternidade, para que sejamos salvos. Mas todos ns somos como o imundo, e todas as nossas justias, como trapo da imundcia; e todos ns camos como a folha, e as nossas culpas, como um vento, nos arrebatam. E j ningum h que invoque o teu nome, que desperte e te detenha; porque escondes de ns o rosto e nos fazes derreter, por causa das nossas iniqidades.

Mas, agora, Senhor, tu s o nosso Pai; ns, o barro, e tu, o nosso oleiro; e todos ns, obra das tuas mos. No te enfureas tanto, Senhor, nem perpetuamente te lembres da iniqidade; eis, olha, ns te pedimos, todos ns somos o teu povo. As tuas santas cidades esto feitas um deserto; Sio est feita um deserto, Jerusalm est assolada. A nossa santa e gloriosa casa, em que te louvavam nossos pais, foi queimada; e todas as nossas coisas mais aprazveis se tornaram em assolao. Conter-te-ias tu ainda sobre estas calamidades, Senhor? Ficadas calado, e nos afligidas tanto?

Apstolo Pedro:O Sermo que Ganhou Trs Mil Almas

O Sermo de Pedro no Dia de Pentecostes (At 2.14 -36, 38b, 39)

VARES judeus e todos os que habitais em Jerusalm, seja-vos isto notrio, e escutai as minhas palavras. Estes homens no esto embriagados, como vs pensais, sendo esta a terceira hora do dia. Mas isto o que foi dito pelo profeta Joel:

E nos ltimos dias acontecer, diz Deus, que do meu Esprito derramarei sobre toda a carne; e os vossos filhos e as vossas filhas profetizaro, os vossos jovens tero vises, e os vossos velhos sonharo sonhos; e tambm do meu Esprito derramarei sobre os meus servos e minhas servas, naqueles dias, e profetizaro; e farei aparecer prodgios em cima no cu e sinais em baixo na terra: sangue, fogo e vapor de fumaa. O sol se converter em trevas, e a lua, em sangue, antes de chegar o grande e glorioso Dia do Senhor; e acontecer que todo aquele que invocar o nome do Senhor ser salvo.

Vares israelitas, escutai estas palavras: A Jesus Nazareno, varo aprovado por Deus entre vs com maravilhas, prodgios e sinais, que Deus por ele fez no meio de vs, como vs mesmos bem sabeis; a este que vos foi entregue pelo determinado conselho e prescincia de Deus, tomando-o vs, o crucificastes e matastes pelas mos de injustos; ao qual Deus ressuscitou, soltas as nsias da morte, pois no era possvel que fosse retido por ela. Porque dele disse Davi:

Sempre via diante de mim o Senhor, porque est minha direita, para que eu no seja comovido. Por isso, se alegrou o meu corao, e a minha lngua exultou; e ainda a minha carne h de repousar em esperana. Pois no deixars a minha alma no Hades, nem permitirs que o teu Santo veja a corrupo. Fizeste-me conhecidos os caminhos da vida; com a tua face me enchers de jbilo.

Vares irmos, seja-me lcito dizer-vos livremente acerca do patriarca Davi que ele morreu e foi sepultado, e entre ns est at hoje a sua sepultura. Sendo, pois, ele profeta e sabendo que Deus lhe havia prometido com juramento que do fruto de seus lombos, segundo a carne, levantaria o Cristo, para o assentar sobre o seu trono, nesta previso, disse da ressurreio de Cristo, que a sua alma no foi deixada no Hades, nem a sua carne viu a corrupo. Deus ressuscitou a este Jesus, do que todos ns somos testemunhas. De sorte que, exaltado pela destra de Deus e tendo recebido do Pai a promessa do Esprito Santo, derramou isto que vs agora vedes e ouvis. Porque Davi no subiu aos cus, mas ele prprio diz:

Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te minha direita, at que ponha os teus inimigos por escabelo de teus ps.

Saiba, pois, com certeza, toda a casa de Israel que a esse Jesus, a quem vs crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo.

Arrependei-vos, e cada um de vs seja batizado em nome de Jesus Cristo para perdo dos pecados, e recebereis o dom do Esprito Santo. Porque a promessa vos diz respeito a vs, a vossos filhos e a todos os que esto longe: a tantos quantos Deus, nosso Senhor, chamar.

Clemente de Roma:Cristo e a Igreja

O mais antigo exemplo de pregao crist, fora do Novo Testamento, a denominada Segunda Epstola de Clemente, endereada Igreja em Corinto. Como o leitor perceber, esta epstola na verdade um sermo dirigido a seus "irmos e irms". Clemente de Roma foi uma das grandes figuras da Igreja Primitiva e bem pode ter sido este Clemente a quem Paulo se refere na Epstola aos Filipenses como seu "cooperador". Ele considerado um dos Pais Apostlicos e o segundo ou terceiro bispo de Roma. Eusbio o faz bispo de Roma de 92 a 1O1 d.C. De Clemente temos uma Epstola aos Corntios, a qual de grande importncia como testemunho primitivo das grandes doutrinas crists, como a Trindade, a expiao e a justificao pela graa. Mas a Segunda Epstola aos Corntios atribuda a Clemente de Roma considerada uma falsificao. Algum pregador ou escritor desejou dar aceitao sua produo servindo-se do peso do nome Clemente. No obstante, a Epstola, na verdade, o sermo, de imenso interesse para a Igreja de hoje como o mais antigo exemplo de pregao ps-apostlica. Suas declaraes, um tanto quanto comuns, pulsam com vida, porque nos so as mais antigas inflexes do plpito cristo. Neste sermo o pregador cita duas declaraes de Cristo, as quais eram evidentemente correntes naquela poca, mas que no foram registradas no Novo Testamento.

Este primeiro dos sermes cristos mostra como os temas do pregador Deus, Cristo, a alma, o julgamento, o cu e o inferno no mudam de gerao em gerao, e como o Cristo encontrado na pregao deste desconhecido dos primrdios do Cristianismo igual ao Cristo pregado hoje Jesus Cristo o mesmo ontem, e hoje, e eternamente.

Cristo e a Igreja

PRECISAMOS pensar em Cristo em termos elogiosos. Irmos, adequado que vocs pensem em Cristo como pensam em Deus como o Juiz dos vivos e dos mortos. E no nos convm pensar levianamente de nossa salvao; se pensamos pouco nEle, tambm esperaremos obter seno pouco dEle. E aqueles de ns que ouvem falar negligentemente destas coisas, como se fossem de pequena monta, pecam, no sabendo de onde fomos chamados, por quem e para que lugar, e o quanto Jesus Cristo se submeteu para sofrer por nossa causa. Que retorno lhe daremos, ou que fruto ser digno do que Ele nos deu? Pois quo grandes so os benefcios que lhe devemos! Ele nos tem dado luz graciosamente; como Pai, Ele nos chamou de filhos; Ele nos salvou quando estvamos prestes a perecer. Que louvor lhe ofereceremos, ou que lhe daremos pelas coisas que recebemos? ramos deficientes no entendimento, adorando pedras, madeira, ouro, prata e metal, trabalhos das mos de homens; e nossa vida era nada mais que morte. Envolvidos em cegueira e com tais trevas diante dos olhos, recebemos viso e, por sua vontade, pusemos de lado aquela nuvem em que estvamos envolvidos. Ele teve compaixo de ns e misericordiosamente nos salvou, observando os muitos erros nos quais estvamos emaranhados, bem como a destruio a qual estvamos expostos e da qual no tnhamos esperana de salvao, exceto a que nos deu. Ele nos chamou quando ainda no existamos e nos quis para que do nada alcanssemos uma existncia real.

A verdadeira confisso de Cristo. Vamos no s cham-lo Senhor, pois isso no nos salvar. Ele disse: "Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor, ser salvo, mas aquele que pratica a justia". Portanto, irmos, vamos confess-lo por nossas obras, amando-nos uns aos outros, no cometendo adultrio, no falando mal uns dos outros ou apreciando a inveja, mas sendo moderados, compassivos e bons. Tambm devemos partilhar o que temos uns com os outros e no sermos avarentos. Mediante tais obras, vamos confess-lo, e no por aquelas obras que, ao contrrio, no o glorificam. E no adequado que temamos aos homens, mas antes a Deus. Por isso, se fizermos tais coisas ms, o Senhor diz: "Ainda que vs estivsseis reunidos comigo em meu prprio seio, contudo se vs no guardsseis os meus mandamentos, eu vos lanaria fora e vos diria: Apartai-vos de mim; no sei de onde sois, vs, obreiros da iniqidade".

Este mundo deve ser menosprezado. Portanto, irmos, deixando de boa vontade nossa peregrinao neste presente mundo, faamos a vontade daquEle que nos chamou e no temamos nos apartar deste mundo. O Senhor disse: "Vs sereis como cordeiros no meio de lobos". E Pedro respondeu e lhe disse: "E se os lobos despedaarem os cordeiros?" Jesus disse a Pedro: "Os cordeiros, depois que esto mortos, no tm motivo para temer os lobos; e do mesmo modo, no temeis aqueles que vos matam e no podem fazer mais nada convosco; mas temei aquele que, depois que vs estais mortos, tem poder sobre a alma e o corpo para lan-los no fogo do inferno". E considerem, irmos, que a peregrinao na carne neste mundo breve e passageira, mas a promessa de Cristo grande e maravilhosa, at o restante do Reino por vir e da vida eterna. Por que curso de conduta, ento, devemos alcanar estas coisas, seno levando uma vida santa e ntegra, julgando estas coisas mundanas como no pertencentes a ns e no fixando nosso desejo nelas? Pois se desejamos possu-las, abandonamos o caminho da retido.

Os mundos presente e futuro so inimigos entre si. Agora o Senhor declara: "Ningum pode servir a dois senhores". Se desejamos, ento, servir a Deus e a Mamom, no nos ser proveitoso. "Pois que aproveitaria ao homem ganhar todo o mundo e perder a sua alma?" (Mc 8.36). Este mundo e o seguinte so dois inimigos. Um instiga ao adultrio e corrupo, avareza e ao engano; o outro diz adeus a essas coisas. No podemos ser amigos de ambos; e nos cabe, ao renunciar um, nos assegurar do outro. Consideremos que melhor odiar as coisas presentes, visto que so insignificantes, transitrias e corruptveis, e amar as que esto por vir como sendo boas e incorruptveis. Se fizermos a vontade de Cristo, encontraremos descanso; caso contrrio, nada nos livrar do castigo eterno se desobedecermos os seus mandamentos. Assim tambm diz a Escritura em Ezequiel: "Ainda que No, Daniel e J estivessem no meio dela, vivo eu, diz o Senhor Jeov, que nem filho nem filha eles livrariam" (Ez 14.2O). Se homens to eminentemente justos so incapazes por sua justia de livrar os prprios filhos, como podemos esperar entrar na residncia real de Deus, a menos que mantenhamos nosso batismo santo e imaculado? Ou quem ser nosso defensor, a no ser que sejamos achados possuidores de obras de santidade e justia?

Temos de nos esforar para sermos coroados. Portanto, meus irmos, lutemos com todo o empenho, sabendo que, em nosso caso, a disputa est bem mo e que muitos empreendem longas viagens para lutar por uma recompensa corruptvel; contudo, nem todos so coroados, mas s aqueles que laboram duramente e se esforam gloriosamente. Esforcemo-nos, ento, de modo que sejamos coroados. Corramos o caminho reto da corrida que incorruptvel, e nos empenhemos para que sejamos coroados. Temos de nos lembrar de que aquele que se esfora na competio corruptvel, se for descoberto que agiu incorretamente, preso e aoitado, e seu nome retirado de todos os registros. O que vocs acham disso? Acerca daqueles que no preservam o selo irrompvel, a Escritura diz: "... o seu verme nunca morrer, nem o seu fogo se apagar; e sero um horror para toda a carne" (Is 66.24).

A necessidade de arrependimento enquanto estamos na terra. Durante o tempo em que estamos na terra, pratiquemos o arrependimento, porque somos como barro nas mos do artfice. Se o oleiro faz um vaso e este fica torcido ou se quebra em suas mos, ele o molda de novo; mas se antes disso ele o lanou na fornalha, ele j no pode mais ajud-lo. Assim, enquanto estamos neste mundo, arrependamo-nos de todo o corao das ms aes que fizemos na carne para que sejamos salvos pelo Senhor, enquanto ainda temos oportunidade de arrependimento. Depois que deixarmos o mundo, o poder de confessar ou arrepender-se j no nos pertencer. Portanto, irmos, ao fazermos a vontade do Pai, ao conservarmos a carne santa e ao observarmos os mandamentos do Senhor, obteremos a vida eterna. O Senhor diz no Evangelho: "Se vs no guardastes o que era pequeno, quem vos entregar o que grande? Pois eu vos digo que aquele que fiel no mnimo, tambm fiel no muito". isto o que Ele quer dizer: "Mantende a carne santa e o selo livre de contaminao para que recebais a vida eterna".

Seremos julgados na carne. E que ningum diga que esta mesma carne no ser julgada nem ressuscitar. Considerem em que estado vocs foram salvos, em que estado receberam a viso, se no foi quando estavam nesta carne. Temos de preservar a carne como o templo de Deus. Assim como vocs foram chamados na carne, assim tambm sero julgados na carne. Assim como Cristo, o Senhor, que nos salvou, embora fosse primeiramente Esprito, tornou-se carne, e desse modo nos chamou, assim tambm receberemos a recompensa nesta carne. Amemo-nos uns aos outros para que todos alcancemos o Reino de Deus. Enquanto temos oportunidade de sermos curados, rendamo-nos a Deus, que nos ouve, e lhe retribuamos. De que forma? Atravs do arrependimento de coraes sinceros; Ele sabe todas as coisas de antemo e conhece o que est em nosso corao. Rendamos a Ele louvor, no s com nossos lbios, mas tambm com o corao, para que Ele nos aceite como filhos. O Senhor disse: "Estes so meus irmos: os que fazem a vontade de meu Pai".

O vcio deve ser abandonado e a virtude, seguida. Portanto, meus irmos, faamos a vontade do Pai que nos chamou, para que vivamos. Sigamos com veemncia a virtude, mas abandonemos toda tendncia m que nos leve transgresso, e fujamos da impiedade, para que males no nos alcancem. Se formos diligentes em fazer o bem, a paz nos seguir. Por esta causa, tais homens no podem encontrar paz, os quais so influenciados pelos terrores humanos e preferem o prazer momentneo promessa que ser cumprida depois. Eles desconhecem que tormento o atual prazer incorre ou que felicidade est envolvida na promessa futura. E se na verdade eles fizessem apenas tais coisas, seria o mais tolervel. Mas eles persistem em saturar almas inocentes com suas doutrinas perniciosas, no sabendo que eles recebero uma dupla condenao, tanto eles quanto aqueles que os ouvem.

Devemos servir a Deus, confiando nas suas promessas. Sirvamos a Deus com corao puro e seremos justos; mas se no o servimos, porque no cremos nas suas promessas, seremos miserveis. A palavra proftica tambm declara: "Miserveis so aqueles de mente dupla e que duvidam em seu corao, dizendo: 'Todas estas coisas ouvimos falar at nos dias de nossos pais; mas, embora esperemos dia-a-dia, no vimos nenhuma delas se realizar'. Tolos! Comparai-vos a uma rvore; por exemplo, a videira. Em primeiro lugar, vm as folhas, ento o broto aparece; depois, a uva verde, e em seguida, o fruto completamente maduro. Assim, da mesma forma, meu povo suporta perturbaes e aflies, mas depois receber suas boas ddivas". Portanto, meus irmos, no sejamos de mente dobre, mas esperemos e suportemos, para que tambm obtenhamos a recompensa. Pois Ele fiel, aquEle que prometeu que dar a todos uma recompensa de acordo com as suas obras. Se praticarmos a justia vista de Deus, entraremos no seu Reino e receberemos as promessas: "... o olho no viu, e o ouvido no ouviu, e no subiram ao corao do homem..." (1 Co 2.9).

Devemos buscar constantemente o Reino de Deus. Esperemos, momento a momento, o Reino de Deus em amor e justia, visto que no sabemos o Dia do Senhor. O prprio Jesus, sendo perguntado pelos fariseus sobre quando viria o seu Reino, respondeu: "O Reino de Deus no vem com aparncia exterior. Nem diro: Ei-lo aqui! Ou: Ei-lo ali! Porque eis que o Reino de Deus est entre vs. E como aconteceu nos dias de No, assim ser tambm no dia do Filho do Homem. Comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, at o dia em que No entrou na arca, e veio o dilvio e consumiu a todos Como tambm da mesma maneira aconteceu nos dias de L: comiam, bebiam. compravam, vendiam, plantavam e edificavam. Mas, no dia cm que L saiu de Sodoma, choveu do cu fogo e enxofre, consumindo a todos. Assim ser no dia em que o Filho do Homem se h de manifestar" (Lc 17.2O,21,26-29).

A Igreja viva o Corpo de Cristo. Portanto, irmos, se fizermos a vontade de Deus, nosso Pai, seremos da primeira Igreja, quer dizer, a espiritual, que foi criada antes do sol e da lua; mas se no fizermos a vontade do Senhor, seremos da Escritura que diz: "Minha casa foi feita em covil de ladres". Escolhamos, ento, ser da Igreja da vida para que sejamos salvos. No suponho, porm, que vocs ignoram que a Igreja viva o Corpo de Cristo; pois a Escritura diz: "Deus fez o homem, macho e fmea". E os livros e os apstolos claramente declaram que a Igreja no do presente, mas desde o princpio. Ela era espiritual, como nosso Jesus tambm o era, mas foi manifesta nos ltimos dias para que Ele nos salvasse. Agora a igreja, sendo espiritual, foi manifesta na carne de Cristo, querendo nos dizer que se qualquer um de ns a mantiver na carne e no a corromper, Ele a receber novamente no Esprito Santo: pois esta carne a cpia do esprito. Ningum que corrompa a cpia participar da original. isto o que Ele quer dizer: "Guardai a carne, para que vs participeis do esprito". Mas se dizemos que a carne a Igreja e o esprito, Cristo, ento aquele que usou vergonhosamente a carne usou vergonhosamente a Igreja. Tal indivduo no participar do esprito, que Cristo. Esta carne pode participar de tal vida e incorrupo, quando o Esprito Santo for unido a ela. Ningum pode declarar ou dizer "o que o Senhor preparou" para os seus eleitos.

F e amor, o apropriado retorno a Deus. Agora, no penso que lhes dei conselho trivial em relao ao autocontrole, o qual se algum o fizer no se arrepender, mas salvar a si mesmo e a mim, que o aconselho. No pequena recompensa fazer voltar uma alma peregrina e perecvel para que seja salva. Esta a recompensa que temos para retornar a Deus que nos criou, se aquele que fala e ouve, fala e ouve com f e amor. Permaneamos nas coisas em que cremos, justos e santos, para que com ousadia pecamos a Deus, que disse: "Enquanto tu ainda estiveres falando, eu direi: Eis-me aqui, eu estou aqui". Esta declarao o sinal de grande promessa: o Senhor diz de si mesmo que Ele est mais pronto a dar, do que aquele que pede, de pedir. Sendo participantes de to grande generosidade, no sejamos invejosos uns dos outros na obteno de tantas coisas boas. Pois to grande quanto o prazer que estas declaraes tm por eles que as fizeram, to grande a condenao para aqueles que so desobedi-entes.

A excelncia da caridade. Portanto, irmos, tendo recebido no pequena ocasio de arrependimento, enquanto temos oportunidade, voltemo-nos a Deus que nos chamou, enquanto ainda o temos como aquEle que nos recebe. Se renunciarmos estes prazeres e conquistarmos nossas almas, no fazendo nossos desejos maus, participaremos da misericrdia de Jesus. Mas vocs sabem que o Dia do Julgamento "vem como fogo ardente", e algumas partes "dos cus derretero". Toda a terra ser como chumbo derretido no fogo, e ento as obras ocultas e abertas dos homens aparecero. A caridade, por conseguinte, coisa boa, assim como o arrependimento de pecados; o jejum melhor que a orao, mas a caridade melhor que ambos; "mas o amor cobre uma multido de pecados". A orao proveniente de uma conscincia boa liberta da morte. Bendito todo aquele que est cheio destas coisas, pois a caridade alivia o fardo do pecado.

O perigo de impenitncia. Arrependamo-nos de todo o corao, a fim de que nenhum de ns perea no caminho. Se temos mandamentos dizendo-nos para afastar os homens dos dolos e instru-los, quanto mais no deve a alma que j conhece a Deus perecer! Ajudemo-nos uns aos outros para que tambm ajudemos os fracos quanto ao que bom, a fim de que todos sejam salvos; e vamos nos converter e admoestar uns aos outros. No pensemos em dar ateno e acreditar agora somente quando somos admoestados pelos presbteros, mas tambm quando voltamos para casa, lembrando-nos dos mandamentos do Senhor. No sejamos arrastados por luxrias mundanas, mas busquemos progredir nos mandamentos do Senhor, para que todos tenhamos a mesma mente, sejamos unidos vida. O Senhor disse: "Eu vim para reunir todas as naes, tribos e lnguas". Ele fala acerca do dia da sua manifestao, quando vir e nos remir, cada um de acordo com suas obras. E os incrdulos "vero a sua glria" e fora. Eles acharo estranho quando virem a soberania do mundo em Jesus, dizendo: "Ai de ns! Tu eras aquele, e ns no sabamos, no cremos, e no obedecemos aos presbteros quando eles declaravam as coisas concernentes nossa salvao". E "o seu verme nunca morrer, nem o seu fogo se apagar; e sero um horror para toda a carne". Ele fala acerca daquele Dia do Julgamento quando eles vero aqueles entre ns que eram descrentes e agiam enganosamente com os mandamentos do Senhor. Mas quando os justos, que fizeram o bem, suportaram tormentos e odiaram os prazeres da alma, virem aqueles que se desviaram e negaram a Jesus mediante palavras ou aes, o quanto eles so castigados com tormentos atrozes num fogo inextinguvel, daro glria a Deus, dizendo: "Haver esperana para aquele que, de todo o corao, serviu a Deus".

O pregador confessa sua prpria pecaminosidade. Sejamos do nmero daqueles que do graas e servem a Deus, no dos descrentes que j esto julgados. Eu tambm, sendo completo pecador e at agora no livre da tentao, mas ainda estando cercado pelas maquinaes do Diabo, emprego diligncia para seguir a justia, a fim de que tenha foras para chegar nem que seja perto dela, temendo o julgamento por vir.

Ele Justifica sua exortao. Irmos e irms, depois que o Deus da verdade foi ouvido, leio para vocs uma solicitao para que dem ateno s coisas que esto escritas, a fim de que se salvem a si mesmos e salvem aquele que l entre vocs. Como retribuio, peo-lhes que se arrependam de todo o corao, recebendo a salvao e a vida. Fazendo isto, teremos estabelecido uma meta para que todo jovem se empenhe pela devoo e bondade de Deus. E, insensatos que somos, no nos sintamos afrontados e desagradados, sempre que algum nos admoesta e nos faz voltar da iniqidade para a justia. s vezes, quando estamos praticando coisas ms, no o percebemos, por causa da disposio dobre e incredulidade que esto em nosso peito, e por estarmos "obscurecidos em nosso entendimento" por nossas vs concupiscncias. Pratiquemos a justia para que sejamos salvos at o fim. Benditos so aqueles que obedecem estes mandamentos. Mesmo que por um pouco de tempo sofram o mal no mundo, eles desfrutaro o fruto imortal da ressurreio. Que o piedoso no se lamente, se for desgraado nos tempos atuais; uma poca bendita o aguarda. Ele, vivendo novamente nas alturas com o Senhor, estar alegre por uma eternidade sem pesar.

Palavras finais de consolao. Doxologia. Nem seus entendimentos fiquem perturbados ao verem os injustos tendo riquezas e os servos de Deus, pobreza duradoura. Sejamos crentes, irmos e irms. Estamos nos esforando na lida do Deus vivo; somos disciplinados pela vida presente para que sejamos coroados na vida futura. Nenhum dos justos recebeu fruto de imediato, mas esperou por ele. Se Deus desse recompensa imediata aos justos, estaramos nos exercitando no assunto e no na santidade. Pareceramos ser justos, ao mesmo tempo que buscaramos o que no santo, mas o que lucrativo. E por conta disso, o julgamento divino surpreendeu um esprito que no era justo e o prendeu com correntes.

Ao nico Deus invisvel, o Pai da verdade, que nos enviou o Salvador e Prncipe da incorrupo, por meio de quem Ele nos manifestou a verdade e a vida celestial, a Ele seja a glria para sempre e sempre. Amm.

Joo Crisstomo:A Grandeza do Apstolo Paulo

Joo Crisstomo (conhecido como "Boca de ouro") , depois dos apstolos, o pregador mais famoso na histria do Cristianismo. Nasceu em Antioquia, em 347, e morreu em Ponto, em 4O7. Comeou o estudo da retrica e mostrou grande promessa para o futuro, mas, mediante os esforos piedosos de sua me, Antusa, ele abraou o Cristianismo e se retirou para o deserto, onde passou dez anos em meditao e renncia. Depois, tornou-se dicono e, mais tarde, presbtero em Antioquia. Logo chamou a ateno como pregador, sobretudo atravs de uma srie de sermes sobre as esttuas, pregado numa poca em que o imperador Teodsio pretendia lanar severas represlias contra o populacho de Antioquia, onde suas esttuas haviam sido destrudas numa revolta.

Como arcebispo de Constantinopla, Crisstomo pregou corajosamente contra as polticas da imperatriz Eudoxia. Sua atitude inflexvel para com o tribunal e os clrigos licenciosos e avarentos fizeram-no vtima de uma conspirao eclesistica, e ele foi condenado por contumcia pelo snodo conclamado pelos seus inimigos e levado a Bitnia. A fria popular era to grande que o imperador teve de cham-lo de volta. Mas logo o enviaram para o exlio outra vez e, depois de ser levado de lugar em lugar, faleceu a caminho do deserto de Ptio.

Seus sermes so na maioria expositivos ou comentrios fluentes sobre o texto de uma passagem bblica. Deste modo, ele cobriu grandes pores do Novo Testamento. Crisstomo linha amplo alcance e poderia dedilhar cada nota do corao humano. Um dos exemplos mais nobres de sua eloqncia sua ltima homlia sobre a Epstola aos Romanos. No apenas um dos melhores exemplos de eloqncia patrstica, mas talvez o maior tributo que jamais foi dado ao apstolo Paulo.

A Grandeza do Apstolo Paulo

QUEM h de orar por ns, desde que Paulo partiu? Estes que so os imitadores de Paulo.

Apenas nos consideremos dignos de tal intercesso a fim de que no seja que ouamos s a voz de Paulo aqui, mas que, no futuro, quando tivermos partido, sejamos tambm contados dignos de ver o lutador de Cristo. Ou, antes, se o ouvirmos aqui. certamente o veremos no outro mundo, se no perto dele, ainda o veremos com certeza, brilhando perto do trono do Rei. Onde os querubins cantam a glria, onde voam os serafins, l veremos Paulo, com Pedro, e como chefe e lder do coro dos santos, e desfrutaremos seu amor generoso. Pois se quando estava aqui ele amava tanto os homens, que, tendo a escolha de partir e estar com Cristo, escolheu ficar aqui, muito mais ali ele mostrar um afeto mais caloroso.

Eu amo Roma at por isso, embora tenha-se de fato outra base para louv-la, por sua grandeza, antigidade, beleza, populao numerosa, poder, riqueza e sucessos na guerra. Mas deixei passar tudo, e a estimo abenoada por conta disto: que em sua vida ele lhes escreveu, amou-os tanto, falou com eles enquanto estava conosco e sua vida chegou a um fim ali. Portanto, a cidade mais notvel sob este aspecto do que sob todos os outros juntos. E como corpo grande e forte, tem como dois olhos brilhando os corpos desses santos. O cu no to luminoso, quando o sol envia seus raios, como a cidade de Roma enviando estas duas luzes a todas as partes do mundo. Daquele lugar Paulo ser tomado, como tambm Pedro. Apenas considere e estremea com o pensamento de que viso Roma ver, quando Paulo surgir de repente daquele depsito, junto com Pedro, e for elevado para o encontro com o Senhor. Que rosa Roma enviar para Cristo! Que duas coroas a cidade ter! Com que correntes douradas ela ser cingida! Que fundaes possuem! Portanto, eu admiro a cidade, no pelo muito ouro, nem pelas colunas, nem por outro aparato ali encontrado, mas por estes pilares da Igreja.

O que seria se me fosse dado lanar-me em volta do corpo de Paulo, ser cravado ao tmulo e ver o p daquele corpo que "supria o que estava faltando" de Cristo, que trazia "as marcas", que semeou o Evangelho em todos os lugares, sim, o p daquele corpo pelo qual ele andou por todos os lugares! O p daquele corpo pelo qual Cristo falou e a luz brilhou mais luminosa que um raio, e a voz saiu (mais terrvel que um trovo para os demnios!), pelo qual ele articulou aquela voz abenoada, dizendo: "Eu mesmo poderia desejar ser amaldioado, por meus irmos", com a qual ele falou: "Perante reis, eu no me envergonhei", com a qual viremos a conhecer Paulo, com a qual tambm viremos a conhecer o Mestre de Paulo. No nos to terrvel o trovo, como foi essa voz aos demnios! Pois se eles estremeciam ao ver as roupas dele, muito mais estremeciam diante de sua voz. Esta voz os levou cativos, limpou o mundo, ps um basta s doenas, expulsou vcios, elevou a verdade bem alto, fez Cristo cavalgar sobre ela e em todos os lugares saiu com ele; e como de querubim era a voz de Paulo, pois assim como o querubim estava assentado sobre esses poderes, assim ele estava na lngua de Paulo. Porque tinha se tornado merecedor de receber Cristo falando somente as coisas que eram aceitveis a Cristo, e voando como serafim a alturas indizveis! Pois que mais sublime do que aquela voz que diz: "Porque estou certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poder separar do amor de Deus, que est em Cristo Jesus, nosso Senhor!" (Rm 8.38,39)? Que remgios este discurso no parece ter a vocs? Que olhos? Era devido a isso que ele disse: "Porque no ignoramos os seus ardis" (2 Co 2.11). Por causa disso, os demnios no s fogem ao ouvi-lo falar, mas at ao verem as suas roupas.

Esta a boca, de cujo p eu gostaria de ver, pela qual Cristo falou coisas grandiosas e secretas e maiores do que em sua prpria pessoa (pois assim como Ele fez, assim Ele tambm falou maiores coisas pelos discpulos), pela qual o Esprito deu ao mundo esses orculos maravilhosos. Por qual coisa boa essa boca no operou? Por ela os demnios foram expulsos, os pecados libertados, os tiranos amordaados, as bocas de filsofos caladas, o mundo levado para Deus, os selvagens persuadidos a aprender sabedoria, a ordem da terra foi alterada. As coisas no cu tambm ela disps do modo como quis, prendendo quem seria preso e soltando no outro mundo "de acordo com o poder que lhe foi dado".

No s da boca, mas do corao tambm eu gostaria de ver o p, o qual o homem no erraria em chamar o corao do mundo, fonte de bnos incontveis e um comeo e elemento de nossa vida. Pois o esprito de vida foi abastecido de tudo isso, e distribudo pelos membros de Cristo, no como sendo enviado pelas artrias, mas por livre escolha de boas aes. Esse corao era to grande quanto a abranger cidades, povos e naes inteiras. "Pois o meu corao", diz ele, 'est aumentado". Contudo, at um corao to grande assim, a caridade que o aumentou muitas vezes o deixou apertado e oprimido. Pois ele diz: "Porque, em muita tributao e angstia do corao, vos escrevi, com muitas lgrimas" (2 Co 2.4). Eu desejaria ver esse corao mesmo depois de sua decomposio, que ardia por todo aquele que estava perdido, que sofria dores de parto uma segunda vez pelos filhos que tinham provado o aborto, que via a Deus ("pois os puros de corao", diz ele, "vero a Deus"), que se tornou um sacrifcio ("pois o sacrifcio para Deus um corao contrito"), que era mais sublime que os cus, que era mais largo que o mundo, que era mais brilhante que os raios do sol, que era mais quente que o fogo, que era mais forte que o diamante, que enviou rios ("pois rios", diz ele, "de gua viva fluiro do seu ventre"), nos quais estava uma fonte que brota e d de beber, no face da terra, mas s almas dos homens, dos quais no s rios, ms at fontes de lgrimas vertiam dia e noite, que viviam a vida nova, no esta nossa (porque "eu vivo", diz ele, "ainda que no eu, mas Cristo vive cm mim", assim o corao de Paulo era o seu corao, uma tbua do Esprito Santo e um livro da graa); que tremia pelos pecados dos outros (pois "eu temo", diz ele, "que por algum meio eu vos tenha labutado em vo; para que como a serpente iludiu Eva; temendo que quando eu vier no vos ache como eu quereria"); o qual temeu por si mesmo c tambm estava confiante (porque eu temo, diz ele, "para que, pregando aos outros, eu mesmo no venha de alguma maneira a ficar reprovado", 1 Co 9.27). E, "estou certo de que nem [...] os anjos, [...] nem as potestades [...! nos poder separar" (Rm 8.38,39); que foi contado digno de amar a Cristo como nenhum outro homem o amou; que menosprezou a morte e o inferno, no obstante ficou quebrantado pelas lgrimas de irmos (pois ele diz: "Que fazeis vs, chorando e magoando-me o corao?", At 21.13); que sofria com pacincia, ainda que no podia suportar estar ausente dos tessalonicenses pelo espao de uma hora!

Anseio ver o p das mos que estavam em correntes, por cuja imposio o Esprito foi concedido, atravs das quais os escritos divinos chegaram at ns, pois: "Vede com que grandes letras vos escrevi por minha mo" (Gl 6.11), e, novamente: "Saudao da minha prpria mo, de mim, Paulo" (2 Ts 3-17); dessas mos vista das quais a serpente "caiu no fogo".

Almejo ver o p dos olhos que ficaram cegos gloriosamente, que recuperaram a viso para a salvao do mundo; que at no corpo foram contados dignos de ver a Cristo, que viu coisas terrestres, embora no as visse, que viu as coisas que no se vem, que no viu sono, que estavam alertas meia-noite, que no foram afetados como os nossos olhos o so.

Tambm veria o p dos ps que percorreram o mundo e no se cansaram, que estavam presos no tronco quando a priso foi sacudida, que passaram por regies habitadas ou despovoadas, que caminharam em tantas jornadas.

E por que preciso falar dos membros? Eu veria o tmulo onde a armadura da justia foi posta, as armas da luz, os membros que agora vivem, mas que em vida foram mortificados; e em todos os membros de quem Cristo vivia, que estavam crucificados para o mundo, que eram membros de Cristo, que eram revestidos em Cristo, eram templo do Esprito, edifcio santo, "unidos no Esprito", cravados ao temor de Deus, que tinham as marcas de Cristo. Este corpo um muro para aquela cidade, que mais segura que todas as torres e que milhares de ameias. E com ele est o tmulo de Pedro. Ele o honrou enquanto vivia. Ele "subiu para ver Pedro" e, ento, mesmo quando faleceu, a graa o permitiu ficar com ele.

Eu veria o leo espiritual. Assim como o leo respira fogo sobre bandos de raposas, assim ele se arrojou sobre o cl de demnios e filsofos, e como o estouro de um raio foram derrotadas as hostes do Diabo. Pois ele nem mesmo veio para dispor a batalha em ordem contra si, visto que ele temeu tanto e tremeu diante dEle, como se visse sua sombra e ouvisse sua voz, ele fugiu at certa distncia. E assim livrou de si o fornicador, embora a certa distncia, e outra vez o arrebatou das suas mos; e assim outros tambm, para que fossem ensinados a "no blasfemar". E considerem como Ele enviou seus prprios seguidores contra ele, despertando-os, provendo-os. E certa vez ele diz aos efsios: "No temos que lutar contra carne e sangue, mas. sim, contra os principados, contra as potestades" (Ef 6.12). Ento ele tambm pe nosso prmio nas regies celestiais. Pois no lutamos pelas coisas da terra, diz ele, mas pelo cu e as coisas dos cus, E para os outros, ele diz: "No sabeis vs que havemos de julgar os anjos? Quanto mais as coisas pertencentes a esta vida?" (1 Co 6.3).

Sejamos nobres, pondo tudo isso no corao; pois Paulo era homem, participante da mesma natureza conosco e tendo tudo o mais em comum conosco. Mas pelo fato de ter mostrado to grande amor por Cristo, ele foi acima dos cus e ficou com os anjos. E assim tambm se ns nos despertarmos um pouco e nos inflamarmos nesse fogo santo, poderemos emular esse homem santo. Fosse isso impossvel, ele nunca teria bradado a plenos pulmes e dito: "Sede meus imitadores, como tambm eu, de Cristo" (1 Co 11.1). No nos coloquemos to somente a admir-lo, ou fiquemos apenas impressionados com ele, mas o imitemos para que tambm ns, quando partirmos, sejamos contados dignos de ver e compartilhar a glria indescritvel, a qual Deus conceda que todos a alcancemos pela graa e amor para com o homem de nosso Senhor Jesus Cristo, por quem e com quem seja a glria ao Pai, com o Esprito Santo, agora e eternamente. Amm.

Agostinho:As Dez Virgens

Agostinho i um dos maiores nomes na histria da Igreja crist. Ele era um tio arrancado do fogo, como o prprio Paulo, poderoso trofu do Esprito Santo. Nasceu em Tagasta, frica (atual Souk-Ahras, Arglia), em 13 de novembro de 354, e morreu em Hipona, frica, em 28 de agosto de 43O. Seu pai era pago, mas sua me, Mnica, era crist de maravilhosa beleza de carter e profundidade de f. Quando jovem, Agostinho foi treinado para a carreira da retrica. Ele viveu em pecado com uma moa que lhe deu um filho, a quem era profundamente dedicado, dando-lhe o nome de Adeodato. "dado por Deus". Durante esses anos de vida licenciosa, sua me nunca deixou de orar e se esforar pela converso dele. Foi a ela que o bispo de Tagasta fez a clebre observao, que tem consolado tantas mes ansiosas, que "um filho de tantas lgrimas no pode ser perdido'.

Quando seguia sua profisso de retrica em Milo, Agostinho ps-se sob a influncia de Ambrsio, bispo de Milo, e foi levado vida crist. Mas ele estava to enredado na sensualidade, que se esquivava de sacrifcio que envolvesse uma confisso de f. Depois de intensas lutas espirituais, descritas graficamente na sua obra Confisses, Agostinho finalmente achou Cristo e a paz. Em 396, foi feito bispo da sede episcopal de Hipona, na frica. Da em diante, tornou-se uma das grandes figuras da Igreja daqueles tempos, na verdade, de todos os tempos. Sua mente poderosa criou uma srie de livros, sendo o maior deles A Cidade de Deus, obra vasta na qual ele procura vindicar o Cristianismo e concebe a Igreja como uma ordem nova e divina que surge das runas do Imprio Romano. Engajou-se em muitas controvrsias, sendo a mais importante a controvrsia com Pelgio e os pelagianos. Contra Pelgio, que afirmava ser o pecado de Ado puramente pessoal, e afetava s a ele, Agostinho defendeu a doutrina do pecado original, que os homens herdam de Ado uma natureza pecadora e. assim, esto sob condenao. Agostinho aclamado por todas as escolas da Igreja Crista, e tanto catlicos quanto protestantes o consideram, ao lado do apstolo Paulo, como o grande mestre em relao ao significado do pecado e ao passado da natureza humana.

Seu sermo sobre "As Dez Virgens" um interessante tratado de um dos grandes temas de plpito: a Segundo Vinda de Cristo. Especialmente belas so as palavras finais: "As nossas lmpadas alumiam entre os ventos e as tentaes desta vida. Mas deixemos que nossa chama queime fortemente, que o vento da tentao aumente o fogo, em vez de apag-lo".

As Dez Virgens

Ento, o Reino dos cus ser semelhante a dez virgens..." (Mt 25-1)

VOCS que estavam presentes ontem se lembram de minha promessa, a qual, com a ajuda do Senhor, ser cumprida hoje, no somente a vocs, mas aos muitos outros que tambm se reuniram aqui. No questo fcil dizer quem so as dez virgens, cinco das quais so sbias e as outras cinco, tolas. No obstante, de acordo com o contexto desta passagem a qual desejei que fosse lida hoje novamente a vocs, amados, no penso, at onde o Senhor me conceder entendimento, que esta parbola ou similitude relacione-se somente com essas mulheres. Estas, por uma santidade peculiar e mais excelente, so chamadas virgens na igreja, as quais, por um termo mais habitual, tambm chamamos "as religiosas"; mas, se no me engano, esta parbola se relaciona com a totalidade da Igreja. No entanto, embora devamos entend-la somente acerca daquelas que so chamadas "as religiosas", no so dez? Deus proba que to grande companhia de virgens seja reduzida a to pequeno nmero! Porm, talvez algum diga: "Mas, e se embora sejam tantas em profisso exterior, contudo, na verdade sejam to poucas, que escassas dez podem ser encontradas!" No assim. Pois se Ele tivesse querido dizer que as virgens boas s deveriam ser entendidas pelas dez. Ele no teria representado cinco tolas entre elas. Se este o nmero das virgens que so chamadas, por que as portas so fechadas contra as cinco?

Entendamos, amados irmos, que esta parbola se relaciona com todos ns, isto , com toda a Igreja, no somente com o clero de quem falamos ontem; nem somente com o laicato, mas com todos em geral. Ento, por que as virgens so dois grupos de cinco? Estas virgens so todas as almas crists. Mas para que eu possa lhes dizer o que pela inspirao do Senhor penso, no so almas de todo tipo, mas as almas que tm f e parecem ter boas obras na Igreja de Deus; e, no obstante, at entre elas, "cinco so sbias e cinco so tolas". Primeiro, vejamos por que so chamadas "cinco" e por que "virgens" e, depois, consideremos o restante. Cada alma no corpo denotada pelo nmero cinco, porque faz uso dos cinco sentidos. No h nada de que tenhamos percepo pelo corpo, seno pela porta de cinco dobras: a viso, a audio, o olfato, o paladar ou o tato. Aqueles que se privam da viso ilcita, da audio ilcita, do olfato ilcito, do paladar ilcito e do tato ilcito, por causa da sua incorrupo, receberam o nome de virgens.

Mas se bom abster-se dos estmulos ilcitos dos sentidos e. por conta disso cada alma crist recebeu o nome de virgem, por que cinco so admitidas e cinco rejeitadas? Todas so virgens e, no obstante, cinco so rejeitadas. No o bastante que sejam virgens e que tenham lmpadas. So virgens por causa da abstinncia do uso ilcito dos sentidos; tm lmpadas por causa das boas obras. De cujas boas obras o Senhor disse: "Assim resplandea a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai, que est nos cus" (Mt 5.16). Outra vez Ele diz aos discpulos: "Estejam cingidos os vossos lombos, e acesas as vossas candeias" (Lc 12.35). Nos "lombos cingidos" est a virgindade; nas "candeias acesas", as boas obras.

O ttulo de virgindade no normalmente aplicado aos casados; contudo, at neles h certa virgindade de f que produz castidade de casados. Saibam, santos irmos, que todo aquele que, como a tocar a alma, tem f incorrupta, pratica abstinncia de coisas ilcitas e faz boas obras, no adequadamente chamado de "virgem". Toda a Igreja, que consiste em virgens, meninos, homens casados e mulheres casadas, por um nome chamada de virgem. Como provamos isso? Ouam a declarao do apstolo Paulo, que diz no somente s mulheres religiosas, mas a toda a Igreja: "... porque vos tenho preparado para vos apresentar como uma virgem pura a um marido, a saber, a Cristo" (2 Co 11.2). E porque devemos nos precaver contra o Diabo, o corruptor desta virgindade, o apstolo acrescentou: "Mas temo que, assim como a serpente enganou Eva com a sua astcia, assim tambm sejam de alguma sorte corrompidos os vossos sentidos e se apartem da simplicidade que h em Cristo" (v. 3). Poucos tm virgindade fsica; no corao, todos devemos t-la. Se a abstinncia do que ilcito bom, pelo que recebeu o nome de virgindade, e as boas obras so louvveis, que so significadas pelas lmpadas, por que cinco so admitidas e cinco rejeitadas? Se h uma virgem e uma que leva lmpada, que contudo no admitida, onde ela se ver, que nem preserva a virgindade das coisas ilcitas e que nem desejando ter boas obras anda em trevas?

Destes, meus irmos, sim, destes vamos tratar. Aquele que no v o que mau, aquele que no ouve o que mau, aquele que desvia seu olfato dos fumos ilcitos e seu paladar da comida ilcita dos sacrifcios, aquele que recusa o abrao da esposa de outro homem, reparte o po com os famintos, traz o estranho sua casa, veste os desnudos, reconcilia os litigiosos, visita os doentes, sepulta os mortos; ele com certeza uma virgem, ele com certeza tem lmpadas. O que mais buscamos? Algo, contudo, ainda busco. O santo Evangelho me colocou nesta busca. Est escrito que at entre estas virgens que levam lmpadas, algumas so sbias e algumas tolas. Como vemos isso? Como fazemos distino? Atravs do leo. Alguma coisa grande, alguma coisa sumamente grande significa este leo. Vocs acham que no o amor? Isto dizemos medida que investigamos o que ; no nos aventuramos a julgamento precipitado. Eu lhes direi por que o amor parece estar significado pelo leo. O apstolo diz: "... e eu vos mostrarei um caminho ainda mais excelente. Ainda que eu falasse as lnguas dos homens e dos anjos e no tivesse caridade, seria como o metal que soa ou como o sino que tine" (1 Co 12.31b; 13-1). A caridade o caminho acima dos demais, a qual com boa razo est significada pelo leo, pois o leo mantm-se acima de todos os lquidos. Coloque gua, derrame leo, e este se manter sobre a gua. Coloque leo, derrame gua, e o leo ainda assim permanecer sobre a gua. Se voc mantiver a ordem habitual, ele ficar no ponto mais alto; se voc mudar a ordem, ele continuar no ponto mais alto. "A caridade nunca falha".

Tratemos agora das cinco virgens sbias e das cinco virgens tolas. Elas desejavam ir ao encontro do Esposo. Qual o significado de "sair ao encontro do Esposo?" Ir com o corao, estar esperando por sua vinda. Mas Ele tarda. "E, tardando o esposo, tosquenejaram todas". O que significa "todas"? Tanto as tolas quanto as sbias "tosquenejaram todas e adormeceram". Este sono bom? O que quer dizer este sono? que com a tardana do Esposo, "por se multiplicar a iniqidade, o amor de muitos se esfriar" (Mt 24.12)? Devemos entender este sono assim? No gosto disso. Eu lhes direi por qu. Porque entre elas esto as virgens sbias; e, certamente, quando o Senhor disse: "E, por se multiplicar a iniqidade, o amor de muitos se esfriar", Ele continuou, dizendo: "Mas aquele que perseverar at ao fim ser salvo" (v. 13). Onde estariam essas virgens sbias? Elas no esto entre aquelas que vo perseverar at ao fim"? Elas no seriam admitidas entre todas, irmos, por nenhuma outra razo seno porque elas perseverariam at o fim. Nenhuma frieza de amor se insinuou sobre elas; nelas o amor no esfriou, mas conserva seu brilho ainda at o fim. E porque brilham at o fim, as portas do Esposo esto abertas para elas. dito a elas que entrem, como quele servo excelente: "Entra no gozo do teu senhor" (Mt 25-21). Qual o significado de "todas dormiram"? H outro sono do qual ningum escapa. Lembram-se da declarao do apstolo: "No quero, porm, irmos, que sejais ignorantes acerca dos que j dormem, para que no vos entristeais, como os demais, que no tm esperana" (1 Ts 4.13), ou seja, concernente queles que esto mortos? Por que eles so chamados 'os que j dormem", mas esto no seu prprio dia? Ento, "todas dormiram". Vocs acham que pelo fato de algum ser sbio, no morre? Seja a virgem tola ou a sbia, todas sofrem o sono de morte igualmente.

Mas os homens dizem continuamente para si mesmos: "Eis que o Dia do Julgamento est vindo. Tantos males esto acontecendo, tantas tribulaes se multiplicam; vejam, todas as coisas que os profetas disseram esto quase cumpridas. O Dia do Julgamento j est s portas". Aqueles que falam assim, em f, superam astuciosamente tais pensamentos para "encontrarem-se com o Esposo". Mas, vejam! guerra sobre guerra, tributao sobre tribulao, terremoto sobre terremoto, fome sobre fome, nao contra nao e o Esposo ainda no veio. Enquanto se espera que Ele venha, todos os que dizem: "Vejam, Ele est vindo, e o Dia do Julgamento nos encontrar aqui", dormem. Enquanto dizem isto, continuam a dormir. Que cada um de ns tenha em vista este seu sono e persevere at ao seu sono de amor; que o sono o ache esperando assim. Pois, suponha que ele dormiu. "Aquele que dorme no ressuscitar?" Ento, "todas dormiram". Tanto as sbias quanto as virgens tolas, na parbola, todas dormiram.

"Mas, meia-noite, ouviu-se um clamor". O que " meia-noite"? Quando no h nenhuma expectativa, absolutamente nenhuma convico. A noite indica ignorncia. O indivduo faz um clculo consigo mesmo: "Vejam, tantos anos se passaram desde Ado, e os seis mil anos esto se completando, e ento imediatamente de acordo com a computao de certos expositores, o Dia do Julgamento vir". Contudo, estes clculos vm e passam, e ainda a chegada do Esposo tarda, e as virgens que haviam ido encontr-lo, dormem. E, vejam, quando Ele no esperado, quando os homens dizem: "Os seis mil anos foram esperados, e, passaram-se. Como saberemos quando Ele vir?" Ele vir meia-noite. O que significa "vir meia-noite"? Vir quando vocs no estiverem cientes. Por que Ele vir quando vocs no estiverem cientes? Ouam o prprio Senhor: "No vos pertence saber os tempos ou as estaes que o Pai estabeleceu pelo seu prprio poder" (At 1.7). "O Dia do Senhor", diz o apstolo, "vir como o ladro de noite" (1 Ts 5-2). Portanto, vigiem de noite para que no sejam surpreendidos pelo ladro. Pois o sono da morte quer vocs durmam ou no vir.

Mas, meia-noite, ouviu-se um clamor" (Mt 25.6). Que clamor foi este. seno acerca do qual o apstolo diz: "Num abrir e fechar de olhos, ante a ltima trombeta"? "... porque a trombeta soar, e os mortos ressuscitaro incorruptveis, e ns seremos transformados" (1 Co 15-52). E quando o clamor foi dado meia-noite: "A vem o esposo!", o que se segue? "Ento, todas aquelas virgens se levantaram". O que significa todas "elas" se levantaram? "Vem a hora", disse o prprio Senhor, "em que todos os que esto nos sepulcros ouviro a sua voz [...1 [e] sairo" (Jo 5.28,29). Ento, ante a ltima trombeta. todos se levantaro. "As loucas, tomando as suas lmpadas, no levaram azeite consigo. Mas as prudentes levaram azeite em suas vasilhas, com as suas lmpadas" (Mt 25.3,4). Qual o significado de "no levaram leo em suas vasilhas"? O que quer dizer "em suas vasilhas"? Em seus coraes. O apstolo diz: "Nossa glria esta, o testemunho de nossa conscincia". H o leo, o leo precioso; este leo proveniente do dom de Deus. Os homens podem pr leo em suas vasilhas, mas no podem criar a azeitona. Vejam, eu tenho leo, mas vocs criaram o leo? proveniente do dom de Deus. Vocs tm leo. Levem-no consigo. O que "lev-lo convosco"? Tenham-no dentro de si para agradar a Deus.

Essas virgens tolas que no levaram leo consigo desejam agradar os homens mediante essa abstinncia, por meio da qual so chamadas virgens, e mediante suas boas obras, quando parecem levar lmpadas. E se desejam agradar os homens, e por conta disso fazem todas essas obras louvveis, elas no levam leo consigo. Se vocs levam-no consigo, levam-no no interior onde Deus v; ali levam o testemunho de sua conscincia. Pois aquele que anda para ganhar o testemunho de outrem no leva leo consigo. Se vocs se privam das coisas ilcitas e fazem boas obras para serem louvados pelos homens, no h leo interior. E assim, quando os homens comeam a deixar seus louvores, as lmpadas falham. Observem, amados, antes que essas virgens dormissem, no est escrito que as lmpadas se apagavam. As lmpadas das virgens sbias queimavam com um leo interior, com a garantia de uma boa conscincia, com uma glria interior, com uma caridade interna. Contudo, as lmpadas das virgens tolas tambm queimavam. Por que queimavam? Porque ainda no havia falta dos louvores dos homens. Mas depois que se levantaram, na ressurreio dos mortos, elas comearam a preparar as lmpadas, ou seja, comearam a se preparar para prestar contas a Deus das suas obras. E porque no h ningum a louvar, cada um est inteiramente engajado em sua prpria causa, no h ningum que no pense em si mesmo, ento no havia ningum para lhes vender leo; assim as lmpadas comearam a falhar, e as tolas correram at as cinco sbias e disseram: "Dai-nos do vosso azeite, porque as nossas lmpadas se apagam" (Mt 25.8). Elas procuravam o que se acostumaram a buscar, para brilhar com o leo de outrem, para andar segundo os louvores de outrem.

Porm, as sbias disseram: "No seja caso que nos falte a ns e a vs; ide, antes, aos que o vendem e comprai-o para vs" (v. 9). Esta no era a resposta daqueles que do conselho, mas daqueles que escarnecem. Por que elas escarnecem? Porque eram sbias, porque a sabedoria estava nelas. Porque elas no eram sbias de si mesmas; mas essa sabedoria estava nelas, acerca da qual est escrito em certo livro, ela dir queles que a menosprezaram, quando eles caram nos males que ela as prenunciou: "Eu rirei em sua destruio". O que significa, ento, esta zombaria das virgens sbias diante das tolas?

"Ide. antes, aos que o vendem e comprai-o para vs", vocs que nunca viveram bem, mas pelo fato de os homens os louvarem, eles lhes vendiam leo. O que significa "lhes vendiam leo"? Vendiam louvores, elogios. Quem vende elogios, seno os lisonjeiros? O quanto teria sido melhor vocs no terem aquiescido com os lisonjeiros e terem levado leo consigo, e em prol de uma boa conscincia terem feito todas as boas obras. Ento vocs podem dizer: "O justo me corrigir em misericrdia e me reprovar, mas o leo do pecador no engordar minha cabea". Antes, ele diz, que o justo me corrija, que o justo me reprove, que o justo me esbofeteie, que o leo do pecador engorde minha cabea. O que o leo do pecador, a no ser as blandcias do lisonjeiro?

Ento, "ide, antes, aos que o vendem"; isto vocs se acostumaram a fazer. Mas ns no lhes daremos. Por qu? 'No seja caso que nos falte a ns e a vs". O que significa 'no seja caso que nos falte"? Isto no foi falado em falta de esperana, mas em humildade sbria e piedosa. Pois embora o homem bom tenha uma boa conscincia, como ele sabe como Deus pode julgar quem no enganado por ningum? Ele tem uma boa conscincia, nenhum pecado concebido no corao o solicita, contudo, ainda que sua conscincia seja boa, por causa dos pecados dirios da vida humana, ele disse a Deus: "Perdoa-nos as nossas dvidas"; considerando que ele fez o que vem a seguir, "assim como ns perdoamos aos nossos devedores". Ele repartiu o po aos famintos de corao, de corao ele vestiu os desnudos; daquele leo interior ele fez boas obras, e contudo nesse julgamento at sua boa conscincia treme.

Vejam ento o que significa "dai-nos do vosso azeite". Foi dito a cias: "Ide, antes, aos que o vendem". Considerando que vocs estavam acostumados a viver segundo os louvores dos homens, vocs no levam leo consigo; mas no lhes podemos dar nada, para que "no seja caso que nos falte a ns e a vs". Pois dificilmente julgamos a ns mesmos, quanto menos julgaremos vocs? O que significa "dificilmente julgamos a ns mesmos"? Porque "quando o Rei justo se assentar no trono, quem se gloriar que o seu corao puro?" Pode ser que voc no descubra nada em sua prpria conscincia. Mas aquele que v melhor, cujo olhar divino penetra as coisas mais profundas, descobre algo; Ele v que pode ser algo, Ele descobre algo. Quanto melhor voc lhe dizer: "No entres agora em julgamento com o teu servo", quanto melhor: "Perdoa-nos as nossas dvidas". Porque tambm lhe ser dito por causa dessas tochas, por causa dessas lmpadas, "tive fome, e deste-me de comer". E ento? As virgens tolas tambm no fizeram o mesmo? Sim, mas elas no o fizeram diante dEle. Como o fizeram? Conforme, que Deus nos livre, Ele disse: "Guardai-vos de fazer a vossa esmola diante dos homens, para serdes vistos por eles; alis, no tereis galardo junto de vosso Pai, que est nos cus. [...] E, quando orares, no sejas como os hipcritas, pois se comprazem em orar em p nas sinagogas e s esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo que j receberam o seu galardo" (Mt 6.1,5). Elas compraram leo, deram o preo, no foram defraudadas pelos louvores dos homens: buscaram os louvores dos homens e os tiveram. Estes louvores dos homens no as ajudaram no Dia do Julgamento. Mas as outras virgens, como o fizeram? "Assim resplandea a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai, que est nos cus" (Mt 5.16). Ele no disse: 'podem glorificar voc". Porque voc tem leo de si mesmo. Orgulhe-se e diga: Eu o tenho; mas tenho o leo dEle, "e que tens tu que no tenhas recebido?" Assim desse modo agiu uma, e de outro, a outra.

No de se admirar que "tendo elas ido compr-lo", enquanto buscavam por pessoas por quem serem louvadas, no acharam nenhuma; enquanto esto buscando por pessoas por quem serem consoladas, no acham nenhuma; que a porta aberta e "o esposo chega"? A Noiva, a Igreja, glorificada com Cristo, para que os vrios membros se renam no seu todo. "... e as que estavam preparadas entraram com ele para as bodas, e fechou-se a porta" (Mt 25.1O). Ento as virgens tolas vieram cm seguida; mas tinham comprado ou encontrado leo de quem pudessem comprar? Portanto, acharam as portas fechadas; passaram a bater, mas era muito tarde.

dito, e verdade, no se trata de declarao enganosa: "Batei, e abrir-se-vos-"; mas agora quando o tempo da misericrdia e no quando o tempo do julgamento. Pois esses tempos no podem ser confundidos, visto que a Igreja canta ao seu Senhor da "misericrdia e julgamento". o tempo da misericrdia; arrependam-se. Vocs podem se arrepender no tempo do julgamento? Ento, vocs sero como essas virgens contra quem a porta estava fechada. "Senhor, senhor. abre-nos a porta!" O qu! Elas no se arrependeram por no terem levado leo consigo? Sim, mas de que proveito foi o seu ltimo arrependimento, quando a verdadeira sabedoria escarneceu delas? Portanto, 'a porta estava fechada". E o que lhes foi dito? "Eu no vos conheo". Ele no as conhecia, aquEle que conhece todas as coisas? O que Ele quer dizer com "eu no vos conheo"? Eu as repilo, Eu rejeito vocs. Segundo meu conhecimento, Eu no as reconheo; meu conhecimento no conhece vcios. Agora, isto coisa maravilhosa, no conhece vcios e julga os vcios. No os conhece na prtica; julga reprovando-os. Assim, "no vos conheo".

As cinco virgens sbias vieram e "entraram". Quantos de vocs, meus irmos, esto na profisso do nome de Cristo! Que haja entre vocs as cinco sbias, mas que no sejam somente cinco. Que haja entre vocs as cinco sbias que pertencem a esta sabedoria do nmero cinco. Pois a hora vir, e vem quando no sabemos. Vir meia-noite; vigiem. Assim o Evangelho conclui: "Vigiai, pois, porque no sabeis o Dia nem a hora" (Mt 25.13). Mas se todos dormirmos, como vigiaremos? Vigiem com o corao, vigiem com f, vigiem com esperana, vigiem com amor, vigiem com boas obras; e ento, quando dormirem no corpo, vir o tempo em que vocs ressuscitaro. E quando vocs tiverem ressuscitado, preparem as lmpadas. Ento no se apagaro mais, sero renovadas com o leo interno da conscincia; o Noivo os abraar no seu abrao espiritual, Ele os trar sua casa, onde vocs nunca dormiro, onde sua lmpada nunca se apagar. Porm, no momento estamos no trabalho, e as nossas lmpadas alumiam entre os ventos e as tentaes desta vida. Mas deixemos que nossa chama queime fortemente, que o vento da tentao aumente o fogo, em vez de apag-lo.

Venervel Bede:O Encontro da Misericrdia e da Justia

O Vbnervel Bede nasceu em 672 e morreu em 735. Ele passou a maior parte da vida no mosteiro em Jarrow-on-Tyne. Sua obra mais notvel foi a Histria Eclesistica da Nao Inglesa. Suas ltimas horas foram gastas terminando a traduo para o vernculo do Evangelho de Joo. Infelizmente, esta obra se perdeu.

H imensa quantidade de sermes da Idade Mdia, mas poucos esto disponveis em ingls. Os pregadores medievais no tinham dvidas sobre o cu, o inferno, a alma e a obra redentora de Jesus Cristo. Diante da incerteza de muitos de nossos sermes modernos, reconfortante estudar um sermo da Idade Mdia.

Como veremos no sermo pregado por Bede, havia muito da arte dos contadores de histrias nos sermes deste antigo pregador.

O Encontro da Misericrdiae da Justia

"A misericrdia c a verdade se encontraram... (Sl 85.1O)

HAVIA certo Pai de famlia, um Rei poderoso, que tinha quatro filhas. Uma se chamava Misericrdia; a segunda, Verdade; a terceira. Justia; e a quarta, Paz; de quem se diz: "A Misericrdia e a Verdade se encontraram; a Justia e a Paz se beijaram'1. Ele tinha tambm certo Filho muito sbio, a quem ningum se comparava em sabedoria. Tinha igualmente certo criado a quem havia exaltado e enriquecido com grande honra; pois Ele o fizera segundo sua prpria semelhana e similitude, e isso sem mrito precedente por parte do criado. Mas o Senhor, como o costume com tais mestres sbios, desejava prudentemente explorar e conhecer o carter e a f do seu criado, se este lhe era ou no digno de confiana. Assim Ele deu-lhe uma ordem fcil, e disse: "Se tu fizeres o que eu te digo, eu te exaltarei a maiores honras; se no, tu perecers miseravelmente".

O criado ouviu a ordem, e sem demora, a infringiu. Por que preciso dizer mais? Por que preciso retard-lo com minhas palavras e lgrimas? Este criado orgulhoso, obstinado, altivo e inchado de vaidade, buscou uma desculpa para sua transgresso e colocou toda a culpa no seu Senhor. Pois quando ele disse: "A mulher que me deste para estar comigo, me enganou", ele jogou toda a culpa no seu Criador. O seu Senhor, mais bravo por tal conduta contumaz do que pela transgresso da ordem, chamou quatro dos mais cruis executores e ordenou que um deles o lanasse na priso, que outro o estrangulasse, que o terceiro o decapitasse e que o quarto o afligisse com tormentos atrozes. To logo se oferecer ocasio, eu lhes darei o nome de cada um dos atormentadores.

Esses torturadores, estudando como pr em execuo a prpria crueldade, levaram o miservel homem e comearam a afligi-lo com toda sorte de castigos. Mas uma das filhas do Rei. por nome Misericrdia, quando ouviu falar sobre este castigo do criado, correu apressadamente priso. Olhando para dentro e vendo o homem entregue aos atormentadores, no pde deixar de ter compaixo dele, porque sua caracterstica ter misericrdia. Ela rasgou as roupas, bateu palmas e deixou o cabelo cair solto em torno do pescoo. Chorando e gritando, ela correu ao Pai e, ajoelhando-se diante dos seus ps, comeou a dizer com voz sria e dolorosa: "Meu Pai amado, no sou eu tua filha Misericrdia? E tu no s chamado misericordioso? Se tu s misericordioso, tenha misericrdia de teu criado. Se tu no tens misericrdia dele, tu no podes ser chamado de misericordioso; e se tu no s misericordioso, tu no podes ter a mim, Misericrdia, como tua filha". Enquanto ela argumentava com o Pai, sua irm, Verdade veio e perguntou por que Misericrdia estava chorando. "Sua irm, Misericrdia", respondeu o Pai, "deseja que eu tenha piedade daquele transgressor orgulhoso, cujo castigo designei". A Verdade, quando ouviu isto, ficou muito irada e olhou duramente para o Pai. "No sou eu", disse ela, "tua filha Verdade? Tu no s chamado verdadeiro? No verdade que tu estabeleceste uma punio para ele e o ameaaste com a morte por tormentos? Se tu s verdadeiro, tu seguirs o que verdadeiro: se tu no o seguires, tu no podes ser verdadeiro; se tu no s verdadeiro, tu no podes ter a mim, Verdade, como tua filha". Neste ponto, vocs percebem, "a Misericrdia e a Verdade se encontraram". A terceira irm, isto , a Justia, ouvindo esta discusso, contenda, disputa e pleito, e convocada pelo clamor, comeou a inquirir a causa da Verdade. E a Verdade, que s podia falar o que era verdadeiro, disse: "Esta nossa irm, a Misericrdia, se que ela deve ser chamada de irm, visto que no concorda conosco, deseja que nosso Pai tenha piedade daquele transgressor orgulhoso". Ento a Justia, com um semblante bravo e meditando num desgosto que ela no tinha esperado, disse ao Pai: "No sou eu a Justia, tua filha? Tu no s chamado justo? Se tu s justo, tu exercers justia no transgressor; se tu no exerceres essa justia, tu no podes ser justo; se tu no s justo, tu no podes ter a mim, Justia, como tua filha". Ento aqui estavam, de um lado, a Verdade e a Justia, e de outro, a Misericrdia. A Paz fugiu para um pas muito distante. Pois onde h discusso e contenda, no h paz; e quanto maior a contenda, para mais longe a Paz afugentada.

Ento, estando uma de suas filhas perdida, e as outras trs em calorosa discusso, o Rei achou extremamente difcil encontrar uma maneira de determinar o que deveria fazer, ou para qual lado deveria inclinar-se. Pois se desse ouvidos Misericrdia, Ele ofenderia a Verdade e a Justia; se desse ouvidos Verdade e Justia, no poderia ter Misericrdia por sua filha; e, no obstante, fazia-se necessrio que Ele fosse misericordioso e justo, pacfico e verdadeiro. Havia grande necessidade de um bom conselho. Portanto, o Pai chamou seu Filho sbio, e o consultou sobre o assunto. Disse o Filho: "Dai-me, meu Pai, este presente assunto para conduzir, e eu castigarei o transgressor para ti, e trarei em paz para ti as tuas quatro filhas". "Estas so grandes promessas'1, respondeu o Pai, "se a ao concordar com a palavra. Se tu podes fazer o que dizes, eu agirei como tu me exortares". Tendo recebido o mandato real, o Filho levou consigo sua irm Misericrdia. "Pulando montanhas, ignorando colinas", eles chegaram priso, e "olhando pelas janelas, olhando pelas grades", viu o criado encarcerado, barrado da vida presente, devorado pela aflio, e "desde a planta do p at ao alto da cabea no havia nele nada so". Fie o viu no poder da morte, porque por ele a morte entrou no mundo. Ele o viu devorado, porque, quando um homem est morto, ele comido pelos vermes. E porque agora tenho a oportunidade de lhes falar, vocs sabero os nomes dos quatro atormentadores. O primeiro, que o colocou na priso, a Priso da vida presente, da qual se diz: "Ai de mim, que sou constrangido a morar em Meseque". O segundo, que o atormentou, a Misria do mundo, que nos ataca com todos os tipos de dor c misria. O terceiro, que o estava matando, a Morte, que destri e a tudo mata; o quarto, que o estava devorando, o Verme... Ento, o Filho, vendo o seu criado entregue a estes quatro atormentadores, no pde seno ter Misericrdia dele, porque a Misericrdia era sua companheira, e irrompendo na priso da morte, "conquistou a morte, amarrou o homem forte, tomou os seus bens" e distribuiu os esplios. E, "subindo ao alto, levou cativo o cativeiro e deu dons aos homens". Ele trouxe de volta o criado ao seu pas, o coroou com duplicada honra e o vestiu com uma roupa de imortalidade. Ao ver tal coisa, Misericrdia no teve mais base de reclamao. A Verdade no achou causa de descontentamento, porque seu Pai foi achado verdadeiro. O criado havia pago todas as penas. A Justia, de igual modo, no reclamou, porque fora executada a justia no transgressor; e, assim, "aquele que tinha-se perdido, foi achado". A Paz, ento, quando viu que suas irms estavam em concrdia, voltou e se uniu a elas. E agora, vejam que "a Misericrdia e a Verdade se encontraram; a Justia e a Paz se beijaram". Assim, pelo Mediador dos homens e anjos, o homem foi purificado e reconciliado, e a centsima ovelha foi trazida de volta ao aprisco de Deus. A este aprisco Jesus nos traz, a quem seja a honra e o poder para sempre. Amm.

Thomas Kempis:Tomando a Cruz

Thomas Kempis nasceu: em 1381, em Kampen, na orla de Zuiderzee, Pases Baixos, e morreu no mosteiro do monte Santa Ins, em Zwolle, em 1471. Setenta anos de sua longa vida foram passados no convento agostiniano do monte Santa Ins. Foi l que ele produziu o imortal clssico da vida devocional A imitao de Cristo, o qual, como escreveu o Dr. Charles Hodge, "espalhou-se como incenso pelos corredores e nichos da Igreja Universal".

Seu sermo "Tomando a Cruz" um belo e eloqente tributo a Cristo e a cruz.

Tomando a CruzMas longe esteja de mim gloriar-me, a no ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo." (Gl 6.14)

IRMOS amados, o bem-aventurado Paulo, o observador excelente dos segredos divinos, declara-nos nas supracitadas palavras, que a cruz a maneira certa de viver bem, o melhor ensinamento de como sofrer adversidade, a escada mais firme por meio da qual subimos ao cu por seu maior sinal. esta que conduz seus amantes ao pas da luz eterna, da paz eterna, da bem-aventurana eterna, que o mundo no pode dar, nem o Diabo tirar. A fraqueza humana detesta o sofrimento da pobreza, desdm, vilania, fome, fadiga, dor, necessidade, escrnio, que muitas vezes so sua sorte, e que pesam e perturbam os homens. Mas todas estas coisas unidas formam, por seus sofrimentos mltiplos, uma cruz saudvel, ordenando assim Deus esta dispensao para ns. Aos verdadeiros portadores da cruz, eles abrem o porto do Reino celestial. Essa luta para eles prepara a palma da vida; essa conquista para eles representa o diadema de glria eterna.

cruz verdadeiramente bendita de Cristo, que sustentou o Rei do cu, e que trouxe para o mundo inteiro o gozo da salvao! Por ti os demnios so postos em fuga; os fracos so curados; os tmidos so fortalecidos: os pecadores so limpos; os inativos so estimulados; os orgulhosos so humilhados; os desumanos so tocados; e os devotos so orvalhados com lgrimas. Bem-aventurados so aqueles que diariamente lembram a paixo de Cristo, e desejam levar a prpria cruz aps Cristo. Irmos bons e religiosos, que esto inscritos na obedincia, tm, na aflio diria de seus corpos e na resignao de suas vontades, uma cruz que em seu aspecto exterior pesada c amarga. Mas interiormente cheia de doura, por causa da esperana de salvao eterna, e o afluxo de consolo divino, que prometido queles que so quebrantados de corao. Se eles no a sentem imediatamente ou no a percebem, que concedida sobre eles passo a passo, devem contudo esper-la com pacincia e resignar-se vontade divina. Porque Ele sabe bem quando o tempo de mostrar misericrdia e qual o mtodo de ajudar os aflitos, assim como o mdico est bem familiarizado com o ofcio de curar, e o capito do navio com a arte de navegar. Aqueles que tomaram a cruz em seu corao tm grande confiana e motivo de glria na cruz de Jesus Cristo. Eles no confiam nem esperam serem salvos por mritos e obras prprias, mas pela misericrdia de Deus e pelos mritos de Cristo Jesus, crucificado por nossos pecados, em quem eles crem fielmente; a quem com o corao amam, com a boca confessam, louvam, pregam, honram e exaltam. Deus prova seus amigos pela santa cruz, se o amam verdadeiramente ou em aparncia, e se guardam seus mandamentos perfeitamente.

Eles so provados principalmente pela tolerncia s injrias e pela remoo das consolaes internas; pela morte de amigos e pela perda de propriedade; pelas dores de cabea e pelos ferimentos nos membros; pela abstinncia de comida e pela aspereza das roupas; pela dureza