grande sertão: veredas

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Grande Sertão: Veredas é aqui apresentado por um dos grandes especialistas na obra de Guimarães Rosa e no estudo da literatura comparada, assegurando ao leitor uma visão de conjunto da ficção de um dos maiores autores do século XX.

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Impresso no Brasil, outubro de 2013

Copyright © 2013 by Eduardo F. Coutinho

Os direitos desta edição pertencem aÉ Realizações Editora, Livraria e Distribuidora Ltda.Caixa Postal 45321 – CEP 04010-970 – São Paulo – SPTelefax (5511) [email protected]/www.erealizacoes.com.br

EditorEdson Manoel de Oliveira Filho

Coordenador da Biblioteca Textos FundamentaisJoão Cezar de Castro Rocha

Produção editorialLiliana Cruz

PreparaçãoPatrizia Zagni

RevisãoCecília Madarás

Capa e projeto gráficoMauricio Nisi Gonçalves

DiagramaçãoAndré Cavalcante Gimenez

Pré-impressão e impressãoEdições Loyola

Reservados todos os direitos desta obra.Proibida toda e qualquer reprodução desta edição por qualquer meio ou forma, seja ela eletrônica ou mecânica, fotocópia, gravação ou qualquer outro meio de reprodução, sem permissão expressa do editor.

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Grande Sertão: VeredaS Travessias

Eduardo F. Coutinho

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SUMÁRIO

| 1. A travessia de João Guimarães Rosa –

dados biográficos

| 2. A obra de Guimarães Rosa em seu conjunto

| 3. O Grande Sertão: Veredas no contexto da

literatura brasileira e latino-americana como

um todo

| 4. O Grande Sertão: Veredas – estudo crítico

| 5. O olhar no Grande Sertão: Veredas –

comentário sobre uma passagem-chave

| Sugestões de leituras sobre o Grande Sertão:

Veredas

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A travessia de João Guimarães

Rosa – dados biográficos

Primeiro de seis filhos de Florduardo Pinto Rosa e Francisca (Chiquitinha) Guimarães Rosa, João Guimarães Rosa nasceu em 27 de junho de 1908, em Cordisburgo, Minas Gerais, cidade situa-da entre Curvelo e Sete Lagoas, zona de fazendas e engorda de gado. Sua infância passada no lo-cal deixou marcas tão fortes em sua vida que este veio a tornar-se mais tarde o cenário de muitas de suas estórias, e o nome da cidadezinha (literal-mente, “o Burgo do Coração”) viria a constituir a primeira e a última palavra de seu discurso de posse na Academia Brasileira de Letras, três dias antes de seu falecimento. A casa onde nasceu e passou os primeiros anos de vida é hoje um pe-queno museu, mantido o mais próximo possível da época em que ele lá viveu.

Rosa aprendeu as primeiras letras em sua cida-de natal com um professor que ia às casas lecionar, mestre Candinho, e foi iniciado no francês por um franciscano, frei Esteves, demonstrando desde cedo grande interesse pelas línguas. Após breve perma-nência em um internato em São João del-Rei, foi levado, em 1918, pelo avô materno, o poeta

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e ensaísta Luiz Guimarães, para Belo Horizonte, onde foi matriculado no Colégio Arnaldo. Desde menino, estudou música e, no colégio, desenvol-veu também certo gosto pelos esportes, mas o que mais o ocupava eram as leituras, que o tornaram frequentador assíduo da biblioteca da cidade. Em 1925, terminados os preparatórios, matriculou-se na Faculdade de Medicina de Minas Gerais, onde se graduou em 1930, tendo sido o orador da turma. Por essa época, já havia escrito diversos contos, que publicou na revista O Cruzeiro, do Rio de Janeiro, e ganhado quatro prêmios. Trabalhou também, em 1929, como funcionário do Serviço de Estatísti-ca de Minas Gerais e, no ano seguinte, casou-se com Lígia Cabral Pena, mudando-se para Itaguara, onde exerceu por dois anos a profissão de médico. Em 1932, por ocasião da Revolução Constitucio-nalista, atuou como médico voluntário da For-ça Pública e, em 1933, tornou-se oficial-médico do 9o Batalhão de Infantaria, em Barbacena. Essa época, embora não muito produtiva em termos literários, foi extremamente importante para sua carreira como escritor, pois, como ele mesmo de-clarou, “fui médico, rebelde, soldado. [...] Como médico conheci o valor místico do sofrimento; como rebelde, o valor da consciência; como solda-do, o valor da proximidade da morte...”.1

1 Günter Lorenz, “Diálogo com Guimarães Rosa”. In: Eduardo F. Coutinho (org.), Guimarães Rosa. 2. ed. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1991, p. 67.

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O ano de 1934 marcou uma virada na vida profissional de Guimarães Rosa. Nesse ano, ele prestou exame para o Itamaraty e, aprovado, ini-ciou sua carreira como diplomata, abandonando o exercício da Medicina. Mudou-se, então, para o Rio de Janeiro, com sua esposa e as duas filhas, Vilma e Agnes, nascidas a primeira em Itaguara e a segunda durante sua estada em Barbacena. A partir dessa época, passou a dedicar-se cada vez mais à literatura e, em 1936, recebeu o prêmio da Academia Brasileira de Letras com o livro de poemas “Magma”, que nunca quis publicar. Em 1937, movido pela saudade da terra, escreveu os contos que iriam formar seu futuro livro Sagarana, submetendo-o, com o pseudônimo de Viator, ao concurso Humberto de Campos, da Editora José Olympio, no qual obteve o segundo lugar.

Em 1938, seguiu, na qualidade de cônsul, para Hamburgo, Alemanha, seu primeiro posto como diplomata. Lá, já separado de sua esposa, conhe-ceu Aracy Moebius de Carvalho, funcionária do Consulado, com quem veio a casar-se posterior-mente. Juntos, Rosa e Aracy ajudaram muitos ju-deus a deixar o país. Em 1942, com o ingresso do Brasil na guerra, ele foi internado, com Cícero Dias, Cyro de Freitas e outros, em Baden-Baden. Libertado em troca de diplomatas alemães, o es-critor retornou ao Brasil e, logo em seguida, foi transferido para Bogotá, como secretário da Em-baixada. Durante esse período, Rosa retomou o livro de contos e, em 1946, já vivendo no Rio

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de Janeiro, como chefe do Serviço de Documen-tação do Itamaraty, publicou Sagarana, pela Edi-tora Universal, obtendo extraordinário sucesso. O livro, que contou com uma nova edição apenas quatro meses depois, recebeu o prêmio da Socie-dade Felipe d’Oliveira e foi aclamado como uma das mais importantes obras de ficção surgidas no Brasil naqueles últimos anos.

Os anos que se seguiram à publicação de Sa-garana foram marcados por grande atividade na área da diplomacia, e, com relação à literatura, embora se trate de um período de labor intenso, os principais resultados só se fizeram sentir mais tarde. Ainda em 1946, nomeado chefe de gabinete do ministro João Neves da Fontoura, Guimarães Rosa foi a Paris como membro da delegação à Conferência da Paz e, em 1948, esteve em Bogotá como secretário-geral da delegação brasileira à IX Conferência Pan-americana. Nesse mesmo ano, voltou a Paris, onde permaneceu até 1951 como primeiro-secretário e conselheiro da Embaixada. De retorno ao Brasil, foi de novo nomeado chefe de gabinete do ministro João Neves e, em 1953, tornou-se chefe da Divisão de Orçamento. Alguns anos mais tarde, em 1958, viria a ser promovido embaixador. No que diz respeito a sua produção literária, Rosa publicou em 1947, no Correio da Manhã, uma longa reportagem poética – “Com o Vaqueiro Mariano” –, resultado de uma excursão ao Mato Grosso realizada dois anos antes; e, em 1951, saiu a terceira edição de Sagarana, agora pela

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José Olympio. A reportagem, que foi publicada novamente em edição limitada, pela Hipocampo, em 1952, foi posteriormente incluída em seu li-vro Estas Estórias (1969). Nesse ano de 1952, Rosa realizou uma viagem ao sertão mineiro, a cavalo, no meio de vaqueiros que levavam uma boiada de Andrequicé a Araçaí, e essa experiência deixou marcas que transparecem com vigor no restante de suas obras.

O ano de 1956 foi o ano áureo da produção literária de Guimarães Rosa. Em janeiro, veio a lume Corpo de Baile, um conjunto de nove longas novelas, em dois volumes, que, a partir da tercei-ra edição, se desdobrou em três livros autônomos: Manuelzão e Miguilim (1964), No Urubuquaquá, no Pinhém (1965) e Noites do Sertão (1965). A obra teve imensa repercussão e repetiu o sucesso de Sagarana. Quatro meses depois, em maio, foi publicado o que viria a ser o único romance do autor e sua obra--prima: Grande Sertão: Veredas, um épico de cerca de seiscentas páginas, que explorou ao máximo o universo sertanejo já presente nas obras anteriores e elevou até a última potência todas as questões apre-sentadas nessas obras. O livro estourou nas livrarias e despertou enorme interesse da crítica, consagran-do Guimarães Rosa como um dos escritores de maior respeitabilidade no país. Além disso, rendeu--lhe três prêmios de alto prestígio: o Machado de Assis, do Instituto Nacional do Livro, o Carmen Dolores Barbosa, de São Paulo, e o Paula Brito, da municipalidade do Rio de Janeiro.

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Com o impacto que essas duas obras tiveram no meio intelectual brasileiro, passaram-se alguns anos sem que Guimarães Rosa viesse a publicar novas narrativas, mas a procura por seus livros se tornou cada vez maior e sua fortuna crítica am-pliou-se consideravelmente, com o surgimento de ensaios e artigos de grande qualidade, produzidos pelo que de melhor havia em termos de críticos literários no país. Em 1961, foi conferida ao autor a consagração oficial com a atribuição do prê-mio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto de sua obra. Nesse mesmo ano, Sagarana foi publicado em Portugal e três das novelas de Corpo de Baile foram traduzidas para o francês e publicadas pelas Éditions du Seuil.

O livro seguinte de Guimarães Rosa foi lan-çado em 1962, com o título de Primeiras Estórias. Trata-se de uma coleção de 21 pequenos contos em que o autor, deixando de lado a caudalosida-de de seu Grande Sertão: Veredas, destaca-se justa-mente pela contenção, densidade e economia da linguagem. Como os anteriores, o livro alcançou também expressivo êxito e foi muito bem rece-bido pela crítica. Nesse mesmo ano, Guimarães Rosa assumiu, no Itamaraty, a chefia do Serviço de Demarcação de Fronteiras, em cuja função tomaria parte ativa nos futuros casos do Pico da Neblina (1965) e das Sete Quedas (1966), ativi-dades que lhe renderam uma homenagem pós-tuma – a concessão de seu nome ao pico de uma montanha na fronteira com a Venezuela.

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Em 1963, Guimarães Rosa candidatou-se, pela segunda vez, à Academia Brasileira de Letras, na vaga de João Neves da Fontoura, tendo sido eleito por unanimidade em 8 de agosto.

Em 1965, Guimarães Rosa já era também al-tamente conceituado no exterior. Vários de seus livros haviam sido traduzidos para o francês, o italiano, o inglês e o alemão, e muitas dessas tra-duções foram reeditadas. O Grande Sertão: Veredas, por exemplo, alcançou na Alemanha três edições sucessivas. Por essa época, ele começou ainda a despertar o interesse de cineastas brasileiros, que produziram as primeiras versões cinematográficas de suas obras. Em 1965, foi filmado Grande Sertão: Veredas e, no ano seguinte, A Hora e Vez de Augusto Matraga, baseado em uma narrativa quase homô-nima de Sagarana. O primeiro filme não consti-tuiu uma experiência muito feliz, mas o segundo, dirigido por Roberto Santos, é considerado um clássico da cinematografia brasileira e até hoje é projetado em diversos festivais internacionais.

O ano de 1967 começou muito bem para Guimarães Rosa. Em abril, foi ao México, com o intuito de representar o Brasil no I Congresso Latino-Americano de Escritores, em que atuou como vice-presidente. Ao regressar, fez parte, ao lado de Jorge Amado e Antônio Olinto, do júri do II Concurso Nacional de Romance “Wal-map”, que premiou um livro de Oswaldo França Jr. Em julho, publicou Tutameia, nova coletânea de contos, mais curtos ainda que os de Primeiras

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Estórias. O livro traz como curiosidades o sub-título “Terceiras Estórias”, embora nunca tenha havido as segundas, e a singularidade de apresen-tar quatro prefácios, que constituem uma espécie de ars poetica do autor. Indagado por sua filha Vilma onde estavam as segundas estórias, visto que Tutameia se nomeava “Terceiras”, Rosa lhe contestou jocosamente que era para despertar a curiosidade do leitor. O fato é que o livro, apesar de seu cunho nitidamente hermético, em que a exploração da linguagem poética atinge talvez seu ponto de maior elaboração, alcançou o mes-mo sucesso dos anteriores.

Em novembro, após uma demora pouco co-mum de mais de quatro anos, Guimarães Rosa decidiu tomar posse na Academia Brasileira de Letras e marcou o evento para o dia 16, data em que completaria oitenta anos o seu antecessor João Neves da Fontoura. A cerimônia, em que foi saudado pelo acadêmico Afonso Arinos, cons-tituiu um acontecimento, e seu discurso, uma das poucas páginas lidas por ele em público e em que faz a apologia do amigo João Neves, é uma peça rara, tipicamente rosiana. No dia 19 de novem-bro, três dias apenas após a cerimônia, que ele temia como por um pressentimento, Guimarães Rosa faleceu de enfarte quando se encontrava em casa, escrevendo em seu gabinete. A reper-cussão de sua morte foi imensa, não só pelo lugar que o escritor havia conquistado no panorama da literatura brasileira do século XX, como também

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pelas circunstâncias que a cercaram. Uma grande quantidade de pessoas dirigiu-se ao seu velório na Academia Brasileira de Letras e ao enterro no cemitério São João Batista. A imprensa dedicou espaço considerável à cobertura do acontecimen-to e, principalmente, a homenagens ao autor e a artigos e estudos críticos sobre sua obra. Por essa época, Rosa era também bastante conhecido no exterior, tanto pelas traduções de suas obras quanto pelos estudos críticos que vinham sendo realizados sobre ele em universidades estrangei-ras, e a imprensa internacional também notificou amplamente o fato.

Além das obras mencionadas, publicadas por Guimarães Rosa, é mister lembrar que ele também colaborou em duas obras coletivas: O Mistério dos M M M, um romance escrito com Viriato Cor-reia, Dinah Silveira de Queiroz, Lúcio Cardoso, Herberto Sales, Jorge Amado, José Condé, Anto-nio Callado, Orígenes Lessa e Rachel de Queiroz, sob a coordenação de João Condé, e publicado no Rio de Janeiro, por O Cruzeiro, em 1962, e Os Sete Pecados Capitais, em colaboração com Otto Lara Resende, Carlos Heitor Cony, Mário Do-nato, Guilherme Figueiredo, José Condé e Lygia Fagundes Telles, publicado também no Rio de Ja-neiro, pela editora Civilização Brasileira, em 1964.

Em 1968, comemorando um ano de sua morte, a editora José Olympio publicou o volume Em Memória de João Guimarães Rosa, onde foram reunidos, além de trabalhos de tipos diferentes

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sobre o escritor e o homem, o discurso de sua posse na Academia Brasileira de Letras, intitulado “O Verbo e o Logos”, e o de recepção, de Afonso Arinos de Melo Franco. Foram também incluí-dos o discurso proferido pelo então presidente da Academia, Austregésilo de Athayde, no dia do en-terro de Rosa, e os das sessões especiais que lhe dedicaram a Academia e o Conselho Nacional de Cultura, do qual ele também era membro. Acres-cidas ao volume encontram-se uma bibliografia ativa e passiva do autor, feitas por Plínio Doyle, e farta iconografia. O volume se inicia com um poema de Carlos Drummond de Andrade sobre o autor, um “Perfil de João Guimarães Rosa”, por Renard Perez, um texto de Graciliano Ramos sobre o concurso a que Rosa concorrera com a primeira versão de Sagarana, à época intitulada simplesmente “Contos”, e o parecer do júri que avaliou “Magma”.

Nos anos de 1969 e 1970 foram publicados, ainda pela editora José Olympio, com nota intro-dutória de Paulo Rónai, grande amigo do escritor, os volumes Estas Estórias e Ave Palavra. O primei-ro inclui oito contos, quatro dos quais divulgados durante a vida do autor, e a reportagem “Com o Vaqueiro Mariano”. São contos que se inserem na mesma linha de reflexão do autor e vêm am-pliar ainda mais o trabalho de ourivesaria da lin-guagem, realizado ao longo de toda a sua vida, e de esmero na técnica de narrar. O segundo livro reúne 37 textos, por ele considerados definitivos,

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sobre assuntos variados (notas de viagem, diários, poesias, contos, flagrantes, reportagens poéticas e meditações) publicados também na imprensa, no período de 1947 a 1967, além de outros treze em que ele começara a trabalhar para esse volume, quatro dos quais inéditos. Foram acrescentadas ainda cinco crônicas, quatro das quais já publi-cadas, que fariam parte de outro pequeno livro, Jardins e Riachinhos.

Outros textos de Guimarães Rosa foram pu-blicados postumamente. Em 1972, saiu, pelo Ins-tituto Cultural Ítalo-Brasileiro de São Paulo, o volume J. Guimarães Rosa – Correspondência com o Tradutor Italiano Edoardo Bizzarri (1962-1967), que reúne a troca de cartas que ele manteve com este durante o processo de tradução de Corpo de Baile para o italiano. Em 1973, foi lançada sua Se-leta, organizada por Paulo Rónai para a Coleção Brasil Moço, da editora José Olympio. Em 1975, foi publicada pela editora Duas Cidades uma série de cartas enviadas por Guimarães Rosa a Paulo Dantas, que as editou sob o título Sagarana Emoti-va. Em 1997, sessenta anos depois de sua premia-ção, saiu a primeira edição de Magma, satisfazendo, assim, a curiosidade dos admiradores e estudiosos da obra rosiana, até então somente familiarizados com sua escrita em prosa. Finalmente, em 2003, foram publicadas mais duas compilações de car-tas do autor: Ooó do Vovô: Correspondência de João Guimarães Rosa, Vovô Joãozinho, com Vera e Beatriz Helena Tess, pela Edusp/Imprensa Oficial, e João

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Guimarães Rosa. Correspondência com seu Tradutor Alemão Curt Meyer-Clason (1958-1967), organi-zada por Maria Apparecida Faria Marcondes Bus-solotti e publicada pela Universidade Federal de Minas Gerais em convênio com a Nova Fronteira.

Desde a publicação de suas primeiras obras, o interesse por Guimarães Rosa é crescente, não só no meio intelectual e acadêmico, que de imediato o acolheu com entusiasmo (salvo, evidentemente, algumas exceções), mas também por parte do pú-blico em geral, o que atesta a enorme quantidade de edições que se sucedem de seus textos, o nú-mero de traduções que foram feitas para os mais diversos idiomas e a espantosa abundância de estu-dos críticos, inclusive números especiais de revis-tas, teses e dissertações universitárias, que se vêm produzindo sobre os mais variados aspectos de sua vasta produção. Essa fortuna crítica, que cresce as-sustadoramente a cada ano, tanto no Brasil quanto no exterior, deu origem, em 1983, ao volume Gui-marães Rosa, organizado por Eduardo F. Coutinho e publicado pela Civilização Brasileira, que teve ainda uma segunda edição em 1991. Em 1994, foi também publicada, desta vez pela Nova Aguilar, a edição João Guimarães Rosa. Ficção Completa, em dois volumes, que contém também uma ampla bi-bliografia de e sobre o autor, reeditada e atualizada em 2009; e, em 2006, saiu um número especial de Cadernos de Literatura Brasileira, do Instituto Morei-ra Salles, dedicado inteiramente ao autor, também com ampla bibliografia ativa e passiva.

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Mas o interesse pela obra de Guimarães Rosa não para aí. Além da tradução para outros idiomas, os contos, as novelas e o romance de Guimarães Rosa vêm sendo traduzidos intersemioticamen-te para outros meios, como o cinema, o teatro, a dança, a música e a televisão, onde encontraram expressões por vezes muito bem-sucedidas. No cinema, pode-se citar, além do já mencionado A Hora e Vez de Augusto Matraga, A Terceira Margem do Rio (1994), de Nelson Pereira dos Santos, e mais recentemente Mutum, de Sandra Kogut; no teatro, Vau da Sarapalha (1992), dirigida por Luiz Carlos Vasconcellos, e as leituras dramáticas de Guimarães Rosa feitas pelo grupo Os Miguilins, de Cordisburgo; na música, A Terceira Margem do Rio (1994), composta por Milton Nascimento e Cae tano Veloso; e na TV, a minissérie Grande Ser-tão: Veredas (1985), baseada em roteiro de Walter George Durst e dirigida por Walter Avancini.

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