grande entrevista É preciso tirar a frelimo e o mpla do poder · 2012-07-17 · do jornais...

6
www.canalmoz.co.mz 30 Meticais Maputo, Quarta-Feira, 11 de Julho de 2012 Director: Fernando Veloso | Ano 7- N.º 868 | Nº 156 Semanário publicidade publicidade de Moçambique de Moçambique publicidade Grande Entrevista É preciso tirar a Frelimo e o MPLA do poder O “advogado dos pobres” em Angola, ficou célebre ao processar criminalmente o presidente angolano, José Eduardo dos Santos, acusando-o de crime de peculato, isto é, de se aproveitar do cargo e do Estado em proveito próprio Filme pornográfico com dirigente do INGC agita a Beira Página 02

Upload: others

Post on 28-Jan-2020

2 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Grande Entrevista É preciso tirar a Frelimo e o MPLA do poder · 2012-07-17 · do jornais privados são todos li-gados ao regime, não pode dizer que tem democracia. Você não

www.canalmoz.co.mz 30 Meticais

Maputo, Quarta-Feira, 11 de Julho de 2012

Director: Fernando Veloso | Ano 7- N.º 868 | Nº 156 Semanário

publicidadepublicidade

de Moçambiquede Moçambique

publicidade

Grande Entrevista

É preciso tirar a Frelimo e o MPLA do poder

O “advogado dos pobres” em Angola, ficou célebre ao processar criminalmente o presidente angolano, José Eduardo dos Santos, acusando-o de crime de peculato, isto é, de se aproveitar do cargo e do Estado em proveito próprio

Grande Entrevista

É preciso tirar a É preciso tirar a Frelimo e o MPLA Frelimo e o MPLA

O “advogado dos pobres” em Angola, ficou célebre ao processar criminalmente o presidente angolano, José Eduardo dos Santos, acusando-o de crime de peculato, isto é, de se aproveitar do cargo e do Estado em proveito próprio

Filme pornográfico com dirigente do INGC agita a Beira

Página 02

Page 2: Grande Entrevista É preciso tirar a Frelimo e o MPLA do poder · 2012-07-17 · do jornais privados são todos li-gados ao regime, não pode dizer que tem democracia. Você não

Canal de Moçambique | Quarta-Feira, 11 de Julho de 201216

Entrevista

David Mendes

Borges Nhamirre

Manuel David Mendes, ou simplesmente David Mendes, advogado e político, presidente do Partido Popular de Angola, é conhecido como “advogado dos pobres”, mas ficou célebre ao processar criminalmente o presidente angolano, José Edu-ardo dos Santos, acusando-o de crime de peculato. Encontrámo--lo numa estância hoteleira da capital moçambicana e depois de muita negociação, aceitou abrir a boca e falar… e falou mesmo. Descreveu o regime de medo e exclusão social e eco-nómica, implantado em Angola pelo Governo do MPLA. Disse que Portugal está a ser coloni-zado por Angola, e agora é a 19ª província angolana. Criticou a comunidade internacional que está a ser silenciada pelos re-cursos naturais, convivendo e legitimando – e por vezes até fi-nanciando – regimes ditatoriais e corruptos em África. Quando convidado a falar de Moçam-bique, sem rodeios, afirmou que Angola e Moçambique são governados por regimes ditato-riais comunistas, que devem ser afastados do poder, seja nas ur-nas ou na rua, para permitir que os dois povos se desenvolvam. Melhor mesmo é ler a entrevis-ta, que passamos a transcrever na íntegra em discurso directo:

Canal de Moçambique (Ca-nal): É político, advogado e activista dos direitos huma-nos, angolano. É também tra-tado por “advogado dos po-bres”. Quem é David Mendes, numa auto-descrição?

David Mendes: Eu acho que sou um cidadão comprometido com o meu país, comprometido com as mudanças no meu país e particularmente comprometido com as pessoas pobres. Venho de uma família pobre, nasci num bairro pobre, cresci num ambiente de pobreza. Cheguei onde cheguei, conquistei espaço da forma que conquistei, então acho que tenho, no mínimo, a obrigação de retribuir aos meus irmãos, aquelas pessoas que sofrem, que não têm como so-breviver, que não têm acesso à justiça. Sinto a minha obrigação moral de retribuir todo o apoio que a sociedade me deu, para chegar onde eu cheguei. Numa só palavra, eu sou um cidadão comprometido com a cidadania.

Canal: Entre várias acções de notoriedade nacional e internacional que tem desen-cadeado em Angola, David Mendes ficou célebre ao apre-sentar queixa à Procuradoria--Geral da República contra o presidente José Eduardo dos Santos, acusando-o de crime de peculato, ou seja, desvio de fundos do Estado angolano para o exterior… Tem provas contra o Presidente?

David Mendes: Em África é muito arriscado questionar um chefe de Estado, e em Angola é igual. Você põe em causa a sua vida, põe em causa tudo o que projectou para si mesmo, por-que estes regimes não são tole-rantes. Tudo que para eles chei-re à ameaça, respondem com violência e esta violência chega

ao ponto de matar as pessoas. Portanto, é um compromisso

que eu assumi comigo mesmo de moralizar a sociedade. Foi o próprio presidente José Edu-ardo dos Santos que desafiou a sociedade. Foi ele que veio a público dizer que quem soubes-se, que denunciasse, que apre-sentasse queixa. É óbvio que como eu sabia, como tinha pro-vas, tomei a iniciativa. E para que não pensassem que era uma mera especulação, avancei com uma queixa-crime, e dando to-dos os elementos de facto para que a sociedade soubesse o que se está a passar.

Canal: O Procurador res-

pondeu que não podia proce-der à investigação, visto que a constituição angolana con-fere imunidade ao presidente. Ficou satisfeito com esta res-posta? Não há quem julgue o cidadão José Eduardo dos Santos?

David Mendes: Na nossa qualidade de advogados, acha-mos a resposta do procurador inconcebível, na medida em que quem tem a capacidade de impulsionar um processo, é a procuradoria. O que a procura-doria podia ter feiro, seria pegar os factos e investigar. E confir-mados os factos, remetia-os à Assembleia Nacional, pedindo a esta autorização para agir. Não se recusar. Porque quem deve investigar os factos é a procu-radoria. Havendo uma denúncia de um cidadão, a PGR não pode dizer que não pode investigar.

No caso do peculato, este é um dos poucos crimes, à se-

melhança da traição, em que o presidente da República pode ser destituído. Não é o Procu-rador que destitui o presidente. Mas o Procurador, perante os factos, remete-os à Assembleia Nacional e esta deveria requerer que o presidente fosse destituí-do. Portanto, nós reclamamos à procuradoria.

E mais, para além de José Eduardo dos Santos, há outras pessoas que nós apresentámos como tendo cometido crimes. E se ele não investiga José Edu-ardo dos Santos, que investigue os outros. Depois se houver a tal conexão objectiva (com José Eduardo dos Santos), a Procu-radoria remeteria o processo a quem com competência. Por-tanto, esta negação do procura-dor, para nós, é infundada.

Canal: Quer isso dizer que não desistiu do processo? Quais são os passos a seguir. O que vai fazer agora?

David Mendes: Não vou de-sistir. Como disse, nós apresen-támos uma reclamação à PGR e se esta não responder à nossa re-clamação, vamos apresentar di-rectamente à comissão de recla-mações e petições de cidadãos, onde vamos colocar a questão e, por outro lado, também, não nos inibe de irmos, quer ao Pro-vedor da Justiça, quer directa-mente ao Tribunal Constitucio-nal, por denegação da justiça. Porque sentimos que está a ser denegada justiça. A PGR ao re-cusar a nossa queixa, estaria a denegar a nossa queixa, por isso

Durante o tempo colonial nunca tinha ouvido falar de fuzilamentos, mas o primeiro impacto depois da independência foi o fuzilamento em praça pública. Foi assim em Angola e em

Moçambique também. A vida não tem valor para o MPLA e a Frelimo

Não estou preocupado que da próxima vez, quando chegar ao aeroporto de Maputo, digam-me: não pode entrar. Nós temos de afastar a Frelimo e o MPLA do poder. Os indivíduos do partido comunista

angolano, o MPLA, e os indivíduos do partido comunista de Moçambique, a Frelimo, devem ser afastados, para os nossos países se desenvolverem de uma forma mais democrática e equitativa

Vocês aqui têm os serviços de segurança e nós também os temos, como havia a PIDE-DGS. Andam a perseguir pessoas. Não dão liberdade às pessoas. Estes têm um comportamento pior

do que os colonos

Advogado e político angolano em Grande Entrevista ao Canal de Moçambique

Moçambique e Angola são governados por ditaduras comunistas

Page 3: Grande Entrevista É preciso tirar a Frelimo e o MPLA do poder · 2012-07-17 · do jornais privados são todos li-gados ao regime, não pode dizer que tem democracia. Você não

17Canal de Moçambique | Quarta-Feira, 11 de Julho de 2012

Entrevista

“Não vou desistir”

nós vamos continuar. Esgotados todos os mecanismos internos, é óbvio que não nos vão restar outros mecanismos que não seja recorrer à justiça internacional.

Canal: Num regime onde o

presidente controla quase to-das as instituições, quer seja pelo poder constitucional, quer seja pelo poder económi-co que detém, ao apresentar esta queixa-crime, tinha fé que pudesse avançar ou fê-lo por uma mera formalidade?

David Mendes: É preciso que ganhemos consciência de que estamos em época de mudança e ter a coragem de enfrentar um ditador. É um exemplo de mu-dança. Não é fácil, mas precisa-mos de dar exemplo à sociedade que temos que enfrentar os dita-dores. Os ditadores não podem continuar a reinar sem que as pessoas façam alguma coisa. Eu me sinto nessa obrigação de fa-zer alguma coisa.

Canal: David Mendes é di-rigente da ONG “Associação Mãos Livres”, que se bate pela defesa dos Direitos Hu-manos… como avalia a situa-ção dos Direitos Humanos em Angola?

David Mendes: A situação dos direitos humanos em An-gola, diria que está em dois pólos: um de desenvolvimento positivo e outro de desenvol-vimento negativo. No pólo de desenvolvimento positivo há uma melhoria substancial das condições de vida das pessoas. Mas em contrapartida, há cada vez mais a limitação do exercí-cio dos direitos políticos: São reprimidas as manifestações; Há perseguições políticas; O

acesso à economia está limitado a duas famílias: a família Dos Santos e a família Vandunen. O resto é periferia. Então, quando falamos de direitos económicos e sociais, temos esses dois pó-los. O acesso à economia está vedado à maioria dos angolanos e o acesso à política está vedado à oposição.

Canal: Acha que Angola é uma democracia?

David Mendes: Não, Angola não é um Estado democrático. Angola é Estado de direito, por-que tem normas jurídicas. Mas não é Estado democrático. É um estado de ditadura, sob capa de uma democracia multipartidá-ria. Temos um presidente com 33 anos de poder, vai conquistar mais 5 e depois mais 5, pelo que pensa estar, no mínimo, 43 anos no poder. Você não diz que tem uma democracia quando, para ter um emprego, tem que ter um cartão do partido no poder. Quando você, para ter acesso ao crédito, tem que ter acesso ao cartão do partido no poder. Quando você não tem televisão privada, rádios privadas, quan-do jornais privados são todos li-gados ao regime, não pode dizer que tem democracia. Você não pode dizer que tem democracia quando não tem poder de esco-lha. Em Angola não tem poder de escolha. Ou MPLA ou mais ninguém. Ou está com o MPLA ou é contra o MPLA. Esta é a teoria. Então quando está num país com esses limites, não pode dizer que está na democracia. A democracia não é só a plurali-dade dos partidos políticos, mas sobretudo a alternância política.

Canal: Angola é descrita como uma potência emergen-

te regional, muito pela produ-ção e exportação do petróleo. Até a sua cidade capital, Lu-anda, tem sido classificada em vários rankings como uma das cidades mais caras do mundo. Os angolanos gozam desse poder económico nas suas famílias, nos seus pratos, nas suas vidas?

David Mendes: Não existe. Existe uma promiscuidade entre o poder político e o poder eco-nómico. O poder económico e o poder político estão nas mãos da família Dos Santos e da família Vandunen. O resto é periferia. Angola é uma farsa de ponto de vista visual. Angola não tem um crescimento económico, tem crescimento de infra-estruturas. Luanda tem prédios, tem estra-das em que o número de carros nem cabe, mas a periferia é uma miséria absoluta. É pior do que os países mais pobres da região. Angola tem um índice de pobre-za extremamente alto. Luanda não tem água, não tem sanea-mento de meio base. As pessoas vendem uma falsa imagem de Angola. Aquilo que as pessoas vêm na televisão, é uma falsa imagem. Angola de verdade é uma Angola de miséria, onde a maioria das pessoas vive numa situação de miséria. O índice de crescimento económico do país, não é o índice de crescimen-to do bem-estar da população. Porque é grande a disparidade entre os burgueses, entre os de-tentores do dinheiro, os endi-nheirados e não ricos, porque Angola não tem ricos, mas tem endinheirados, que roubam di-nheiro público e agora estão a comprar Portugal. Portugal se transformou na 19ª província de Angola. Porque há um grupo de endinheirados, dirigidos pelas famílias Dos Santos e Vandu-nen, que usam dinheiro público como se fosse sua lavra e fazem do dinheiro do Estado aquilo que lhes apetece.

Canal: Já disse que a “po-breza extrema é pior que no período colonial”, como ex-plica isto agora que os angola-nos aparentemente têm mais acesso à saúde, à educação, ao emprego, a infraestruturas sociais melhoradas?

David Mendes: Você sabe quantos chineses estão a tra-balhar em Angola? Você sabia que quem ocupa a construção em Angola são chineses? Os angolanos não têm acesso à

construção civil… até trabalhos básicos são tomados pelos chi-neses. Sabia que os portugueses retomaram todos os restauran-tes e hotéis? Mais de 120 mil portugueses estão em Angola. Qual é o acesso que o angolano tem ao emprego. Não há uma estatística real para que se possa dizer que o angolano tem aces-so ao emprego. É tudo mentira, tudo uma fantasia. O angolano não tem emprego. Antes se di-zia que o problema do angolano era o fraco nível de escolarida-de. Hoje Angola tem mais de 8 universidade privadas. Hoje tem centenas de jovens com licenciaturas em Angola e fora do País, mas não tem emprego. Mas o chinês e o português e o brasileiro chegam e têm o seu emprego e futuro garantido, que o angolano não tem.

Quando falamos que o ango-lano vive mal, dizem: “mas tem telemóvel”. Não há retrocesso no espaço e no tempo. Nós fa-lamos é da comparação do nível de vida entre os governantes e os governados. No tempo colo-nial, o governado tinha um ní-vel de vida não muito abaixo do governante, hoje, o governado está numa situação de milhares de quilómetros do governado. E mais, no período colonial, o go-vernado tinha acesso ao gover-nante. Entre nós, o governado não tem acesso ao governante. Há uma barreira. José Eduardo dos Santos sai à rua com uma segurança de mil homens. A cidade fica sitiada. Vê-se que não há uma relação entre o governante e o governado. No tempo colonial, não havia isso. No tempo colonial podia não comer a carne, mas tinha aces-so ao peixe. Hoje você nem tem acesso ao peixe. Por isso, não pense que ter um telemóvel é sinal de estar a viver melhor do que no período colonial. Não! Os padrões de comparação são diferentes.

Canal: Isso não é saudosismo?

David Mendes: Não, não pode ser saudosismo porque quando Angola se torna inde-pendente eu tinha apenas 15 anos. Não posso ter saudades de coisas da infância. Não se dife-rencia muito a forma, por exem-plo, de ter acesso ao ensino. Eu tive acesso à faculdade de direi-to porque tive o aval da JMPLA (Juventude da MPLA). Então, a discriminação é igual.

Canal: Esta discriminação

continua hoje?

David Mendes: Hoje a dis-criminação é económica. Você para ter acesso à faculdade de direito é quase impossível. Na faculdade pública há mais de 10 mil concorrentes para 100 vagas. E nas universidades pri-vadas você tem que pagar 250 a 350 dólares por mês. Só tem acesso aquelas pessoas cujos pais têm poder económico. Os que os pais não têm poder eco-nómico, não têm acesso à edu-cação. Por isso está aí a discri-minação. É visível…

Hoje em Angola ainda se es-tuda debaixo das árvores. Não vai dizer que no tempo colonial também estudavam debaixo das árvores. Era diferente. As con-dições económicas são diferen-tes. Angola é o segundo maior produtor de petróleo em Africa. O que nós fazemos com o di-nheiro do petróleo? Para melhor controlar o petróleo, José Edu-ardo criou um fundo de petró-leo, onde pôs um dos seus filhos como gestor? O que você está à espera? De um regime que não tem outro parâmetro de compa-ração senão a ditadura colonial, e ditadura muito extrema.

Se a PIDE-DGS andava atrás das pessoas, os nossos serviços de inteligência fazem a mesma coisa. Hoje todo o mundo tem medo de falar ao telefone, tem medo de andar em grupo… vi-vemos sob um regime de terror. Isso é pior do que o colonia-lismo. Eu era criança até aos meus 15 anos quando chegou a independência, e não se vivia sob terror. Hoje qualquer crian-ça tem medo. Se o presidente estiver a sair, todos têm medo de vir à rua porque podem levar um tiro. O que é isso? É uma di-tadura absoluta!

Canal: Em batalhas demo-cráticas, a opinião da maioria é que conta. Estará a maioria dos angolanos farta do regi-me do MPLA? O que acha? E se realmente as pessoas estão cansadas do MPLA, porquê não retiram o MPLA do po-der, por mecanismos constitu-cionais: o voto?

David Mendes: A vontade popular pode ser manipulada. Estas são maiorias absolutas como as de Mubarak, ex-presi-dente do Egipto que ganhou as últimas eleições com mais de 90% dos votos, mas não termi-

(Continua na página seguinte)

Page 4: Grande Entrevista É preciso tirar a Frelimo e o MPLA do poder · 2012-07-17 · do jornais privados são todos li-gados ao regime, não pode dizer que tem democracia. Você não

Canal de Moçambique | Quarta-Feira, 11 de Julho de 201218

Entrevista

Os recursos tornam arrogantes os governos corruptos e vocês vão sentir isso

(Continua na página seguinte)

(Continuação da página anterior)

nou o mesmo mandato porque foi deposto pela população.

Quando você em época de campanha distribui dinheiro pelas pessoas, sem justificar de onde esse dinheiro sai. Quando em época de campanha força as autoridades tradicionais a vir ao seu comício, dando bicicletas, para lhes comprar a consciên-cia, isso é manipulação, não é vontade da maioria. A maio-ria é impedida de exprimir a sua vontade. E se virmos, por exemplo, os próprios intelectu-ais têm medo de se exprimir. E se os intelectuais têm medo de se exprimir, o que espera de um vendedor da rua, de um cidadão

simples?Então, são vontades manipu-

ladas. Há dias o MPLA disse que faria uma festa de milhões. Obrigaram as pessoas a ir ao co-mício. Obrigaram os alunos a ir ao comício, fecharam escolas, fecharam mercados, obrigaram as pessoas a irem para o estádio com as camisolas de José Edu-ardo e do MPLA. É uma maio-ria forçada, não é uma maioria de consciência.

Abra a televisão pública, a TPA, para ver o que há-de as-sistir. “O MPLA é que fez, o MPLA é que fez”. É tudo ma-nipulação. O Estado não exis-te, não é o Estado que fez, é o

MPLA. O Estado foi capturado pelo MPLA.

Canal: Existem estudos que mostram que em Moçam-bique e em Angola os parti-dos no poder, a Frelimo e o MPLA, respectivamente, cap-turaram o Estado. Por exem-plo, as cerimónias do partido, aqui, são mais organizadas do que as do Estado. Nota-se isso em Angola?

David Mendes: Nós estamos num Partido-Estado. O Estado é o MPLA. Não podemos ter re-ceio de dizer isso. O MPLA tem primazia em tudo. Uma activi-dade do MPLA pára o país. Por exemplo, o dia 10 de Dezembro do MPLA é superior ao dia 17 de Setembro, dia do herói na-cional. O aniversário de José Eduardo dos Santos é superior mais do que as festas do dia da independência. Está aí essa pro-miscuidade entre o partido e o Estado.

Canal: David Mendes é po-lítico, inclusive já foi ministro no Governo do MPLA, mas decidiu sair do governo, ago-ra age em defesa dos Direitos Humanos, é advogado bem--sucedido. Porque decidiu sair do Governo para a oposição? Há também quem o acuse de estar a usar a política para ga-nhar influência como advoga-do privado, é o caso de Bento Kangamba…

David Mendes: Bento Kan-gamba é um indivíduo que não tem nível. Bento Kangamba é uma das pessoas que não pode justificar o dinheiro que tem. Onde encontrou o dinheiro que tem? Não tem nenhuma fábri-ca, não tem indústria, não tem nada.

Eu vivo como advogado. A minha actividade remunerató-ria é de advogado. É de lá onde tiro o meu ganha-pão. Como activista dos direitos humanos, presto parte do meu tempo, se-não mesmo a maior parte do meu tempo, nesta causa. Porque é um problema de uma causa. E nós os intelectuais não podemos nos abster das causas.

O que eles querem é que eu me abstenha das causas. Eu não recebo do Estado. Vivo do meu dinheiro, dinheiro que eu ganho com muito sacrifício. O nível de vida que eu tenho, é graças ao meu empenho, graças à minha dedicação.

Canal: E então porque saiu do MPLA para militar na oposição?

David Mendes: É a minha forma de poder manifestar o meu descontentamento, de po-der demonstrar que devemos mudar. Não é todos nos empre-nhar no MPLA à espera duma benesse, à espera dum cargo, à espera de não sei o quê… É isso que Bento Kangamba não interpreta. Porque ele fora do MPLA não sobreviveria, então ele pensa que todos nós temos que estar no MPLA, como for-ma de transformar este Partido--Estado num partido que perdu-re por todo o sempre. Mas nós não estamos para servir um re-gime caduco. Nós estamos para derrubar este regime. E vamos derrubar este regime nas urnas ou na rua. De alguma forma nós vamos derrubar este regime.

Canal: É público que David Mendes tem sofrido ameaças e perseguições, e numa dessas entrevistas foi citado a dizer que isso resulta do “facto de continuar a resistir a negociar

o silêncio”. O que é negociar o silêncio?

David Mendes: Negociar o silêncio é a prática de regimes corruptos como o nosso. Dão-te um valor económico elevado e você deixa de falar. É assim que calam jornalistas. É assim que calam activistas. Oferecem-te um bem material e tu largas a causa. Eu não estou a negociar o meu silêncio. Eu estou para lutar pela causa. Sejam quais forem as consequências.

Canal: Já lhe foi proposto algum bem em troca do seu silêncio, alguma vez?

David Mendes: Eu já denun-ciei isso, as tentativas de cor-rupção.

Canal: Há casos concretos que tem e pode mencionar?

David Mendes: Temos… e estamos a dizer que nos próxi-mos dias vamos publicar um re-latório onde tudo isso virá. No-mes e o que fizeram, incluindo jornalistas.

Canal: Não aceita mencio-nar em primeira-mão alguns nomes e casos concretos aqui?

David Mendes: Não, eu quero deixar. Eu vim aqui para repousar por causa de muito stress. Felizmente tenho muitas amizades aqui que me podem proporcionar algum conforto, aqui em Moçambique, longe da Angola. Vim para ganhar fôlego, sair daqui um pouco mais sereno e preparar o nosso próximo passo. Mas nós vamos publicar o nosso relatório sobre os escândalos em Angola, desde financeiros até narcotráficos e outros.

Canal: “Faz parte dos ge-nes do regime ganhar com fraude e perpetuar-se no poder a qualquer custo nem que para isso tenha de hipo-tecar todo o petróleo para calar a comunidade inter-nacional…”, são suas pa-lavras numa entrevista ao “Folha 8”. Qual acha que é o papel da comunidade in-ternacional em Angola?

David Mendes: Fui muito

claro na minha carta ao presi-dente Obama, onde dizia que o petróleo não pode falar mais alto que a liberdade das pesso-as, que a democracia. Angola usa o petróleo como meio de chantagem e as nações calam--se diante de petróleo.

No encontro que tive tam-bém com a chanceler alemã (Angela Merkel), em Angola, transmiti isso, que o petróleo não pode calar as grandes na-

ções. No mínimo, ela garantiu que

tudo faria para que a força do petróleo não calasse a Alema-nha, mas países como Portugal, por exemplo, Brasil, e outros, a força do petróleo, cala essas nações. A União Europeia está a vergar perante o poder do pe-tróleo de Angola.

Canal: O que pensa dos estados ocidentais que nos

seus países não toleram diri-gentes corruptos, ditadores e arrogantes, mas em África, e Angola especificamente, se aliam a um regime com evi-dências suficientes de ser an-tidemocrático?

David Mendes: É a tal po-lítica de petróleo, política de recursos. E acredito que actual-mente Moçambique vive como vive porque depende muito

da comunidade internacio-nal, mas vocês hão-de sentir os efeitos de petróleo. Vocês hão-de sentir os efeitos dos recursos; Como o petróleo torna os governos arrogantes. É o caso de Angola. Os outros países como querem os bene-fícios dos recursos, deixam-se calar.

Page 5: Grande Entrevista É preciso tirar a Frelimo e o MPLA do poder · 2012-07-17 · do jornais privados são todos li-gados ao regime, não pode dizer que tem democracia. Você não

19Canal de Moçambique | Quarta-Feira, 11 de Julho de 2012

Entrevista

A “Princesa Isabel” (dos Santos) está a comprar tudo em Portugal… Angola está a colonizar Portugal

Luanda é um contentor de lixo

(Continuação da página anterior)

Canal: Angola tem mais de meia centena de ministros e vi-ce-ministos. Sabendo o grande fardo que um ministro repre-senta para o Estado, julga isso necessário num país onde há mulheres e crianças que mor-rem em partos caseiros por fal-ta de maternidades?

David Mendes: Não é com a existência de meia centena de ministros que se pode de-monstrar que há competência. Há compadrio. O nepotismo. É tudo no seio da família. Vão ocupando todos os ministérios para ocupar todos os espaços.

Mas o aberrante nem é isso. Você tem uma pediatria onde põe três crianças na mesma cama, mas estás a construir um monstro que é a futura As-sembleia Nacional. Não há di-nheiro para construir hospitais, mas há dinheiro para construir Assembleia da República, que é um monstro igual ao Capitó-lio americano. Você não teve dinheiro para construir uma universidade, mas por causa do CAN construiu 4 estádios que agora estão aí a adormecer sem nenhum valor. No Afro-básquete construiu 5 pavilhões, que estão aí a adormecer sem nenhum valor. Quer dizer, não se investe nas áreas prioritá-rias como educação e saúde.

Com tanto espaço que tem Luanda e Angola, você está a afastar o mar porque quer cons-truir na Marginal. Quer fazer da Marginal algo moderno, enquanto não tem saneamento

básico a menos de 5 quilóme-tros da cidade. Enquanto a pró-pria cidade de Luanda não tem iluminação. Quer dizer, você tem hábitos ocidentais, quer mostrar uma cidade ocidental, quando na verdade você vive numa miséria absoluta. Lu-anda é um contentor de lixo.

Não fomos capazes de resol-ver problemas de saneamento de base, problemas de lixo, mas vê prédios de luxo a levantar, para acomodar o mesmo grupo de famílias e agora também, infe-lizmente, a alguns portugueses.

Canal: A sua vida política, como vai? O Tribunal Cons-titucional angolano rejeitou centenas de assinaturas apre-sentadas pelo Partido Popular liderado por si. As eleições são já em Agosto…

David Mendes: Até ao mo-mento que eu lhe falo, tive o úl-timo contacto com Luanda hoje e até aqui ainda não decidiram o futuro do meu partido. Quase todos os partidos já se decidi-ram qual é o futuro, uns par-ticipam, outros não. Mas seja qual for o resultado que vier, nós vamos continuar na políti-ca. Porque até hoje nós fizemos a política fora do Parlamento. Por isso nada nos vai prejudi-car continuar a fazer política fora do parlamento. Concorren-do como não, entrando como não no parlamento, nós va-mos continuar a fazer política.

Canal: Já disse “todos nós

que nos assumimos publi-camente que não somos do MPLA e que lutamos com todo o nosso esforço e inteligência para implantar em Angola um verdadeiro Estado Demo-crático e de Direito… somos tratados como angolanos de segunda”. Como explica isto, com factos?

David Mendes: Nós os que não fazemos parte do regime, as pessoas até têm medo de convi-ver connosco. Imagina, assaltam a sede do meu partido apresen-to a queixa à polícia e a polícia não se digna sequer a mandar alguém da polícia de investi-gação para apurar. Imagina um grupo de pessoas, que a coberto da televisão, vai à minha casa para se manifestar. Imagina o que é fazer manifestação numa casa de um cidadão, a coberto da televisão. A polícia é chama-da a intervir, aparece, prende os ditos líderes da manifestação, mas quando vou à polícia, já os libertaram. Vão à minha casa queimam a minha viatura, e a polícia nada diz. O que é que se espera como resultado disso? É que se fosse cidadão da primei-ra, tudo isso não aconteceria, mas como somos a periferia…

Canal: Disse que há angola-nos por conveniência, mas que basta atravessarem as fron-teiras angolanas já são portu-gueses, brasileiros, russos… Quem são esses?

David Mendes: Os ditos em-

presários angolanos. Todos eles têm dupla nacionalidade. Saem contigo como angolano e che-gam lá fora já são portugueses. Entram como angolanos e saem como portugueses. Só são ango-lanos porque Angola lhes dá re-cursos económicos. Angola para eles é só a fonte da riqueza….

Canal: Que são esses “eles”?

certamente que tem nomes…

David Mendes: A família Dos Santos e a família Van-dunen. São as duas famílias que dominam o país. E são as duas famílias que estão com cordão umbilical em Portugal, São Tomé, Cabo Verde, Guiné.

Canal: Como descreve a re-lação entre Angola e Portugal?

David Mendes: Hoje eu di-ria que Angola está a colonizar Portugal. Portugal para Angola é a nossa 19ª província. Por-que a “Princesa Isabel (filha de José Eduardo dos Santos) está a comprar tudo em Portugal e Portugal está de joelhos para Angola. Portugal tem em Ango-la a sua subsistência. O futuro de Portugal passa por Angola. Por isso Portugal é agora a 19ª província de Angola.

Canal: Desde 25 de Abril de 1974, com o fim da monarquia em Portugal, já houve mudan-ça de regimes inúmeras vezes.

Em Angola são sempre os mes-mos a governar. Acha que o povo angolano é especial, não gosta de mudar os seus políti-cos como faz o povo português, por exemplo?

David Mendes: Não. O povo angolano não é povo especial. Isso é o que eles dizem, a di-tadura. Mas se os angolanos fossem um povo especial, José Eduardo dos Santos não preci-sava de sair à rua com mil ho-mens. Tem medo de quê? Faz o que faz porque ele sabe que não é querido. O povo é obrigado pela ditadura.

Se somos um povo especial, é porque somos um povo que estamos a ser corrompidos pela

música e pelo álcool.Sabe quanto se paga em con-

certos musicais em Angola? Muito dinheiro… e sabe porquê se paga isso?

Para entreter o povo e evitar que se revolte. Vocês se assis-tem podem ver que a televisão angolana começa e fecha com Kuduro, que é musica e dança. Isso é para alienar os jovens. Música e álcool é o que se faz em Angola.

Não é porque somos um povo especial, é porque somos um povo que estamos a ser corrom-pidos pela música e pelo álcool. Isso faz com que esqueçamos, por um momento, dos nossos problemas, mas não porque o povo seja especial. Nós quere-

mos a mudança e um dia vamos mudar.

Quando começaram as mani-festações, primeiro foram três pessoas, depois 10 e depois 50 e hoje até indivíduos das forças de segurança, se manifestam. Porque não somos um povo es-pecial.

Se ler os jornais oficiais,

o meu nome aparece sempre como pessoa que está agitando, mas eu não agito. Eu sou apenas o exemplo de uma pessoa livre e estou preparado para por esta liberdade pagar com a própria vida, porque estamos a lidar com um regime que quando não compra a sua consciência, elimina-te fisicamente.

(Continua na página seguinte)

“Ainda não decidiram o futuro do meu partido”

Page 6: Grande Entrevista É preciso tirar a Frelimo e o MPLA do poder · 2012-07-17 · do jornais privados são todos li-gados ao regime, não pode dizer que tem democracia. Você não

Canal de Moçambique | Quarta-Feira, 11 de Julho de 201220

Entrevista

Canal: Acredita que estes regimes podem mudar?

David Mendes: Nós temos

que afastá-los do poder para os nossos países se desenvolve-rem.

Eu não estou preocupado que

da próxima vez, quando chegar no aeroporto de Maputo digam: não entre. Nós temos de afastá--los do poder. Os indivíduos do

partido comunista angolano, o MPLA, os indivíduos do parti-do comunista Moçambique, a Frelimo, devem ser afastados

para os nossos países se de-senvolverem de uma forma mais democrática e equitati-va. Não há outra maneira.

Canal: O que deixa de men-sagem para os moçambicanos que lutam para a edificação de uma sociedade mais justa?

David Mendes: É preciso não ter medo. Isso é importante. É preciso que cada um de nós se sinta livre. E se nós nos sentir-mos com medo, não vamos a lado nenhum. Eles fazem com que vivamos no medo para não reivindicarmos os nossos direi-tos. É esse o grande problema.

Tal como em Angola, aqui vejo indivíduos com carros de grande cilindrada, mas quando vamos à periferia estamos a ver miséria. Mas que governantes são esses que não sabem que com o preço daquele carro poderiam pôr medicamento nos hospitais?

Que governantes são es-

ses que não pensam que com o preço desses carros de-veriam construir escolas? A sociedade deve reagir.

Infelizmente o povo procura os líderes e os líderes são inte-lectuais. É preciso que os inte-lectuais não se deixem intimi-dar. É preciso que os intelectuais assumam o seu papel de luta-dores por uma causa. Os pro-fessores universitários, eu fico triste quando os vejo a fazer ba-julação ao regime. Eles devem ser formadores de consciência, mas vejo professores univer-sitários que são bajuladores…

Meus irmãos, tal como em Angola, eu digo: temos que combater o medo, temos de nos libertar desses ditadores que querem que nós vivamos sob o medo para que eles possam pro-

gredir. O nosso medo é a pros-peridade deles. A nossa cons-ciência de luta é o recuo deles. Então ganhemos consciência de luta. Temos que lutar pela nossa dignidade, pela dignida-de do povo moçambicano, pela dignidade do povo angolano. É esta dignidade que fará com que os povos possam progredir.

Canal: Últimas palavras….

David Mendes: Para finalizar quero dizer que nada me calará, talvez só a morte me calará. E que fique bem claro, eu não me exilo, vou continuar a viver em Angola. Queira José Eduardo dos Santos ou não eu vou conti-nuar a falar. Ou então use outros mecanismos: que me mande ma-tar. (Canal de Moçambique)

O nosso medo é a prosperidade deles. A nossa consciência de luta é o recuo deles. Então ganhemos consciência de luta. Temos que lutar pela nossa dignidade, pela dignidade do povo

moçambicano, pela dignidade do povo angolano

Temos que afastá-los do poder para os nossos países se desenvolverem

É preciso não ter medo

(Continuação da página anterior)

Os que nos libertaram acham que têm o direito de nos explorar porque nos libertaram

Canal: Há quem diga que há necessidade dos povos afri-canos se libertarem dos seus libertadores. Argumenta-se que os actuais dirigentes estão a agir da mesma forma como os colonos. O colono apenas mudou da cor, de branco para

preto, mas o jugo continua… partilha da mesma opinião?

David Mendes: Os nossos libertadores, do MPLA e da Frelimo, pensam que nós temos uma dívida com eles. E nos fa-zem sofrer porque nos liberta-

ram. E eles acham que têm o direito de nos explorar porque nos libertaram. Mas nós não lhes mandamos ir para as ma-tas. Eles foram de consciência.

Vocês aqui têm os serviços de segurança e nós também te-mos, como havia a PIDE-DGS.

Andam a perseguir as pessoas. Não dão a liberdade às pesso-as. Estes têm um comporta-mento pior do que os colonos.

Durante o tempo colonial nunca tinha ouvido falar de fuzilamento, mas o primeiro impacto depois da independên-

cia, foi o fuzilamento em praça pública. Foi assim em Angola e em Moçambique também. A vida não tem valor para es-tes (MPLA e Frelimo. Matar foi a coisa mais natural. Estes nossos libertadores não têm a noção do mal que nos fazem.

Moçambique e Angola são ditaduras comunistas

Canal: Certamente que sabe um pouco de Moçambique, este país irmão de Angola. O que acha que os dois países têm de comum, para além da história de um colonizador co-mum?…

David Mendes: É a simpatia. O povo moçambicano é sim-pático. É um povo espontâneo. É igual ao povo angolano. Os nossos regimes políticos não

alteraram nada a forma de estar dos povos. Venho para Moçam-bique muitas vezes e não sinto muita diferença de Angola. Mas temos, como defeito, duas di-taduras. A vossa é talvez mais branda, menos violenta, ao que parece. A vossa aqui pelo me-nos engana que permite que haja jornais privados, rádios e televisões privados, mas a nos-sa nem sequer isso permite. E

isso é próprio de regimes comu-nistas. A Frelimo é um partido comunista. O MPLA é um parti-do comunista. Embora venham agora com capa de socialistas, isso é uma farsa, são partidos comunistas.

O seu comportamento é um comportamento do centralismo democrático, da obediência, do grande líder. Quanto o grande líder fala, o resto é periferia.

Então, são dois regimes comu-nistas, que estão a governar de forma ditatorial, sem capacida-de de desenvolver as duas na-

ções. E se eles não saírem do poder, isso vai fazer com que os nossos países fiquem cada vez mais atrasados.

Peculato: o que é?

Peculato é o facto do fun-cionário público que, em razão do cargo, tem a posse de coisa móvel pertencente à adminis-tração pública ou sob a guar-da desta (a qualquer título), e dela se apropria, ou a dis-trai do seu destino, em pro-veito próprio ou de outrem”.

O artigo 312 do Código Pe-nal tipifica o peculato como:

Crime de apropriação por parte do funcionário público, de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou privado de que tenha a posse em razão do cargo, ou desviá-lo em proveito próprio ou alheio. Além de, não tendo a posse, mas valendo-se da facilidade que lhe proporciona o cargo, subtrai-o

ou concorre para que seja sub-traído para si ou para alheio.

Há três formas de peculato

Peculato-apropriação, o fun-cionário público se apropria do dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou partícular de que tem o agen-te a posse em razão do cargo;

Peculato-desvio, o funcio-nário público aplica ao objecto material destino diverso que lhe foi determinado em bene-fício próprio ou de outrem;

Peculato-furto, o funcionário público não tem a posse do ob-jeto material e o subtrai, ou con-corre para que outro o subtraia, em proveito próprio ou alheio, por causa da facilidade propor-cionada pela posse do cargo.