governo reage aos ataques da elite contra os movimentos sociais
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LA direita, tendo como porta-vozes alguns governadores, juízes e a grande imprensa, procuraencurralar o governo Lula, disseminando a idéia de que as mobilizações populares estão
levando o país ao caos; os ministros reagem e não aceitam as provocações
Para conservadores, democraciaé sinônimo de caos social
Claudia Jardim, da Redação
“Há um preconceito declasse contra os movimentos so-ciais. Quando é ocupação de sem-teto, parece que o mundo vai aca-bar. Envolve um preconceito declasse. Isso tem um nome, é opobre. Traz a consciência dadramaticidade da situação do Bra-sil, a herança que recebemos nosúltimos 50 anos. Traz o medo”.Palavras do ministro José Dirceu,da Casa Civil, no dia 5.
Sua declaração, porém, nãobasta para convencer osultraconservadores, que insistemem criminalizar os movimentossociais. Ora no discurso de gover-nadores, ora na truculência departe do Judiciário, todos ajuda-dos pela grande imprensa, que temdesempenhado o papel de verda-deiro “partido das elites”.
Jarbas Vasconcelos (PMDB),governador de Pernambuco, é umespecialista em truculência: auto-rizou a violenta ação de despejode 300 famílias acampadas emEngenho Prado, a ponto de me-recer denúncia da Organizaçãodas Nações Unidas (ONU) porviolação aos direitos humanos. Porisso, vem a público afirmar que,se o governo não impuser limites“às invasões, pode se ter algomuito mais grave do que um gol-pe militar”.
DIREITA & MÍDIAO ministro Márcio Tomaz
Bastos, da Justiça, não deixou pas-sar em branco a provocação dogovernador. “Não vamos aceitaro conselho da direita de que épreciso baixar o pau nos movi-mentos sociais, porque não é pre-ciso”, afirmou no dia 11.Para ele, há uma condescendên-cia natural no regime democráti-co com os movimentos sociais, eo governo não deixará que hajaruptura e transgressão às normasda legalidade. “É o momento dosque nunca tiveram vez, nem voz,de serem protagonistas da histó-ria política do país”, afirmou, porsua vez, o ministro das Cidades,Olívio Dutra, ao Brasil de Fato.
Porém, para a consideradagrande imprensa, quando os pro-tagonistas são os pobres e osmovimentos sociais, então estáinstaurado o “caos social”. Nessamídia, em vez de informações,especulações. Que vão desde asuposta movimentação ilegal dedinheiro pelo Movimento dosTrabalhadores Rurais Sem Terra(MST), até a organização de guer-rilhas pré-revolucionárias.
VELHOS FACTÓIDESComo a história só se repe-
te como farsa, ultimamente asmaiores redes de televisão e dejornal voltam a usar e abusar damesma ladainha que foi sua ca-racterística às vésperas do golpede 1964: a democracia e a ordemestariam ameaçadas. Exemplosnão faltam. Em entrevista ao Es-tado de S.Paulo, dia 1º, EliézerRizzo de Oliveira, cientista polí-tico da Universidade de Campi-nas, afirmou que a violência éinerente ao MST, pois um deseus ícones é Che Guevara. E opaís cor re o r isco de“colombianização”, com a for-mação de “milícias paramilita-res contra a reforma agrária, emluta com as forças paramilitaresa favor dela”.
No entanto, esse tipo de rea-
lectuais que têm contribuídopara criar um clima de caos so-cial . “A direita sempre teve in-telectuais a seu serviço para ra-cionalizar seus interesses. É o queeles têm feito”.
ORDEM E DESORDEMMarilena Chauí, professora de
filosofia da Universidade de SãoPaulo, colocou os devidos pingosnos ii, em entrevista à Folha deS.Paulo, dia 3. Aos que conside-ram a organização dos movimen-tos sociais ameaça à democracia eresponsáveis pelo caos social,deuum recado: ao contrário da “cri-se” que o jornal tenta criar, omomento é de comemoraçãopelo fato de o país estar, finalmen-te, conhecendo uma experiênciademocrática.
“Democracia não é, comoquerem os liberais, o regime dalei e da ordem. Não estamosnuma monarquia absolutista. Nademocracia, graças ao trabalhodo conflito, a sociedade diz aogoverno o que ela pensa, o quequer e como quer que seja fei-to”, disse ela.
E assim têm feito os movimen-tos sociais país afora. Além de exigirdo governo a realização das refor-mas agrária e urbana, têm ocupadoos espaços ociosos e terras impro-dutivas para garantir condições mí-
ção não é fenômeno novo na his-tória do Brasil. Para o advogadoPlinio Arruda Sampaio, um dosfundadores do Partido dos Traba-lhadores (PT), a reação da direitaé reflexo das mudanças propostaspelo governo Lula, em especial, areforma agrária.
Ele critica a postura dos inte-
Justiça surpreende e libera transgênicosClaudia Jardim, da Redação
A Monsanto está em festa,mas pode ser por pouco tempo.No dia 12, a desembargadoraSelene Maria de Almeida, do Tri-bunal Regional Federal (TRF)de Brasília (DF), suspendeu a sen-tença da 6º vara da Justiça, e li-berou o cultivo e a comerciali-zação de transgênicos no país. Aliminar terá validade até o julga-mento do mérito da ação, que vaiser analisada por mais doisdesembargadores do TRF.
A decisão ainda está sendoanalisada pelos ministérios daAgricultura e do Meio Ambien-te. ”O que estamos entendendo éque há uma liberação temporáriapara pesquisas sobre transgênicos,e uma liberação do plantio até ojulgamento definitivo da questão.
Como não tenho certeza, vouaguardar a posição da minha con-sultoria para decidir”, afirmou oministro Roberto Rodrigues, daAgricultura.
GOLPEJá o Ministér io do Meio
Ambiente, divulgou nota sobreos riscos da decisão da juíza edo cultivo de transgênicos: “Aliberação do plantio da sojatransgênica pode causar sériosriscos para o meio ambiente doBrasil, tendo em vista não te-rem sido realizados estudosambientais em nosso país, comoreconhecido pela própr iadesembargadora ao conceder aliminar”. De seu lado, a juízaSalete Maria de Almeida alegater se baseado nos estudos deórgãos científicos internacio-
nais que “comprovam a sanida-de da soja Roundup Ready”.
“Essa ação é um golpe na ci-dadania brasileira para favoreceros interesses da transnacional.”,afirma o deputado estadual FreiSérgio Görgen (PT-RS). Para ele,o recurso apresentado pela Mon-santo, e acatado pela Justiça, temcomo objetivo principal garantiro plantio de organismos geneti-camente modificados (OGMs) jápara a próxima safra.
Em 2002, a Monsanto teveprejuízo de cerca de 1,7 bilhãode dólares e, de acordo com aprevisão da Innovest StrategicValue Advisors, suas ações de-vem ficar abaixo da média domercado a médio e longo pra-zo. De acordo com pesquisa daInnovest, a rejeição aos alimen-tos transgênicos tem crescido
no mundo, inclusive nos Esta-dos Unidos.
RECURSOO Instituto de Defesa do Con-
sumidor (Idec), responsável, jun-tamente com o Greenpeace, pelaação civil pública que levou à sus-pensão do cultivo transgênico,divulgou nota afirmando que vairecorrer da decisão da juíza e la-menta a ação.
Enquanto os ministérios e asorganizações decidem a legitimida-de da liminar, a Comissão Intermi-nisterial encarregada de elaborarprojeto de lei sobre biossegurançadeve encaminhar proposta ao Con-gresso Nacional, até o dia 15, paraser votado em regime de urgência,no máximo em 45 dias, e estabele-cer as novas regras e o futuro dostransgênicos no Brasil.
■ O ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos não aceitaconselhos das elites conservadoras
nimas de moradia e sobrevivência.Mas, em nome da “ordem”,
devem enfrentar as milícias orga-nizadas pelos latifundiários, queseguem armados e assassinandotrabalhadores rurais; as polícias degovernadores truculentos; acriminalização dos líderes dosmovimentos sociais; e, de quebra,o reacionário coro da grandemídia. O ministro Nilmário Mi-randa (Direitos Humanos) con-sidera um absurdo a criminalizaçãode lideranças dos sem-terra.“Antes de os juízes condenareme criminalizarem as ocupações,teriam que avaliar a função so-cial da terra, que está improdu-tiva”, afirma.
PRÉ-GOLPE?Analistas políticos de TVs, rá-
dios e jornais de todo o país vêmcomparando a conjuntura políti-ca atual com o período que ante-cedeu o golpe de 1964. Este tipode comparação é “uma tentativada direita para intimidar os mo-vimentos sociais e o governo. Oexército brasileiro está completa-mente integrado ao governo, nãohá qualquer risco de golpe mili-tar”, assegura Nilmário Miranda.
Não se deixar intimidar, dizo deputado federal Ivan Valente(PT-SP), significa viabilizar aspropostas do governo para quepossam, efetivamente, atender àsdemandas sociais. “O governonão pode entrar na provocaçãode elites acostumadas a concen-trar riqueza e terras. Para man-ter o projeto conservador, elescriam essas tensões, mas não hácomparação com a correlação deforças de 64 e de hoje”, explicao deputado.
O compromisso anunciadopelo presidente Luiz Inácio Lulada Silva de priorizar a reformaagrária no próximo semestre temse afinado com o discurso de seusministros. Para descontentamen-to dos ruralistas e dos conserva-dores brasileiros, no dia 11, o mi-nistro do DesenvolvimentoAgrário, Miguel Rosseto, afir-mou, em São Paulo, que “os mi-lhares de trabalhadores e traba-lhadoras sem-terra que estão nasruas deste país não são crimino-sos, são lutadores da justiça, dadignidade e da democracia”.
■ Marcha do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) chegando em SantaMargarida do Sul (RS). O juiz Loraci Flores de Lima, da 2ª Vara Federal de Santa Maria,determinou na segunda-feira, dia 11, que o MST suspenda a marcha que faz em direção aSão Gabriel, na região Fronteira Oeste, e que os ruralistas que se preparavam para sairpela BR-290 ao encontro dos sem-terra também desistam da mobilização
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