governo reage aos ataques da elite contra os movimentos sociais

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BRASIL DE FATO 3 De 14 a 20 de agosto de 2003 CONJUNTURA POLÍTICA CONJUNTURA POLÍTICA SEGURANÇA ALIMENTAR SEGURANÇA ALIMENTAR NACIONAL A direita, tendo como porta-vozes alguns governadores, juízes e a grande imprensa, procura encurralar o governo Lula, disseminando a idéia de que as mobilizações populares estão levando o país ao caos; os ministros reagem e não aceitam as provocações Para conservadores, democracia é sinônimo de caos social Claudia Jardim, da Redação “Há um preconceito de classe contra os movimentos so- ciais. Quando é ocupação de sem- teto, parece que o mundo vai aca- bar. Envolve um preconceito de classe. Isso tem um nome, é o pobre. Traz a consciência da dramaticidade da situação do Bra- sil, a herança que recebemos nos últimos 50 anos. Traz o medo”. Palavras do ministro José Dirceu, da Casa Civil, no dia 5. Sua declaração, porém, não basta para convencer os ultraconservadores, que insistem em criminalizar os movimentos sociais. Ora no discurso de gover- nadores, ora na truculência de parte do Judiciário, todos ajuda- dos pela grande imprensa, que tem desempenhado o papel de verda- deiro “partido das elites”. Jarbas Vasconcelos (PMDB), governador de Pernambuco, é um especialista em truculência: auto- rizou a violenta ação de despejo de 300 famílias acampadas em Engenho Prado, a ponto de me- recer denúncia da Organização das Nações Unidas (ONU) por violação aos direitos humanos. Por isso, vem a público afirmar que, se o governo não impuser limites “às invasões, pode se ter algo muito mais grave do que um gol- pe militar”. DIREITA & MÍDIA O ministro Márcio Tomaz Bastos, da Justiça, não deixou pas- sar em branco a provocação do governador. “Não vamos aceitar o conselho da direita de que é preciso baixar o pau nos movi- mentos sociais, porque não é pre- ciso”, afirmou no dia 11. Para ele, há uma condescendên- cia natural no regime democráti- co com os movimentos sociais, e o governo não deixará que haja ruptura e transgressão às normas da legalidade. “É o momento dos que nunca tiveram vez, nem voz, de serem protagonistas da histó- ria política do país”, afirmou, por sua vez, o ministro das Cidades, Olívio Dutra, ao Brasil de Fato. Porém, para a considerada grande imprensa, quando os pro- tagonistas são os pobres e os movimentos sociais, então está instaurado o “caos social”. Nessa mídia, em vez de informações, especulações. Que vão desde a suposta movimentação ilegal de dinheiro pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), até a organização de guer- rilhas pré-revolucionárias. VELHOS FACTÓIDES Como a história só se repe- te como farsa, ultimamente as maiores redes de televisão e de jornal voltam a usar e abusar da mesma ladainha que foi sua ca- racterística às vésperas do golpe de 1964: a democracia e a ordem estariam ameaçadas. Exemplos não faltam. Em entrevista ao Es- tado de S.Paulo, dia 1º, Eliézer Rizzo de Oliveira, cientista polí- tico da Universidade de Campi- nas, afirmou que a violência é inerente ao MST, pois um de seus ícones é Che Guevara. E o país corre o risco de “colombianização”, com a for- mação de “milícias paramilita- res contra a reforma agrária, em luta com as forças paramilitares a favor dela”. No entanto, esse tipo de rea- lectuais que têm contribuído para criar um clima de caos so- cial . “A direita sempre teve in- telectuais a seu serviço para ra- cionalizar seus interesses. É o que eles têm feito”. ORDEM E DESORDEM Marilena Chauí, professora de filosofia da Universidade de São Paulo, colocou os devidos pingos nos ii, em entrevista à Folha de S.Paulo, dia 3. Aos que conside- ram a organização dos movimen- tos sociais ameaça à democracia e responsáveis pelo caos social,deu um recado: ao contrário da “cri- se” que o jornal tenta criar, o momento é de comemoração pelo fato de o país estar, finalmen- te, conhecendo uma experiência democrática. “Democracia não é, como querem os liberais, o regime da lei e da ordem. Não estamos numa monarquia absolutista. Na democracia, graças ao trabalho do conflito, a sociedade diz ao governo o que ela pensa, o que quer e como quer que seja fei- to”, disse ela. E assim têm feito os movimen- tos sociais país afora.Além de exigir do governo a realização das refor- mas agrária e urbana, têm ocupado os espaços ociosos e terras impro- dutivas para garantir condições mí- ção não é fenômeno novo na his- tória do Brasil. Para o advogado Plinio Arruda Sampaio, um dos fundadores do Partido dos Traba- lhadores (PT), a reação da direita é reflexo das mudanças propostas pelo governo Lula, em especial, a reforma agrária. Ele critica a postura dos inte- Justiça surpreende e libera transgênicos Claudia Jardim, da Redação A Monsanto está em festa, mas pode ser por pouco tempo. No dia 12, a desembargadora Selene Maria de Almeida, do Tri- bunal Regional Federal (TRF) de Brasília (DF), suspendeu a sen- tença da 6º vara da Justiça, e li- berou o cultivo e a comerciali- zação de transgênicos no país. A liminar terá validade até o julga- mento do mérito da ação, que vai ser analisada por mais dois desembargadores do TRF. A decisão ainda está sendo analisada pelos ministérios da Agricultura e do Meio Ambien- te. ”O que estamos entendendo é que há uma liberação temporária para pesquisas sobre transgênicos, e uma liberação do plantio até o julgamento definitivo da questão. Como não tenho certeza, vou aguardar a posição da minha con- sultoria para decidir”, afirmou o ministro Roberto Rodrigues, da Agricultura. GOLPE Já o Ministério do Meio Ambiente, divulgou nota sobre os riscos da decisão da juíza e do cultivo de transgênicos: “A liberação do plantio da soja transgênica pode causar sérios riscos para o meio ambiente do Brasil, tendo em vista não te- rem sido realizados estudos ambientais em nosso país, como reconhecido pela própria desembargadora ao conceder a liminar”. De seu lado, a juíza Salete Maria de Almeida alega ter se baseado nos estudos de órgãos científicos internacio- nais que “comprovam a sanida- de da soja Roundup Ready”. “Essa ação é um golpe na ci- dadania brasileira para favorecer os interesses da transnacional.”, afirma o deputado estadual Frei Sérgio Görgen (PT-RS). Para ele, o recurso apresentado pela Mon- santo, e acatado pela Justiça, tem como objetivo principal garantir o plantio de organismos geneti- camente modificados (OGMs) já para a próxima safra. Em 2002, a Monsanto teve prejuízo de cerca de 1,7 bilhão de dólares e, de acordo com a previsão da Innovest Strategic Value Advisors, suas ações de- vem ficar abaixo da média do mercado a médio e longo pra- zo. De acordo com pesquisa da Innovest, a rejeição aos alimen- tos transgênicos tem crescido no mundo, inclusive nos Esta- dos Unidos. RECURSO O Instituto de Defesa do Con- sumidor (Idec), responsável, jun- tamente com o Greenpeace, pela ação civil pública que levou à sus- pensão do cultivo transgênico, divulgou nota afirmando que vai recorrer da decisão da juíza e la- menta a ação. Enquanto os ministérios e as organizações decidem a legitimida- de da liminar, a Comissão Intermi- nisterial encarregada de elaborar projeto de lei sobre biossegurança deve encaminhar proposta ao Con- gresso Nacional, até o dia 15, para ser votado em regime de urgência, no máximo em 45 dias, e estabele- cer as novas regras e o futuro dos transgênicos no Brasil. O ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos não aceita conselhos das elites conservadoras nimas de moradia e sobrevivência. Mas, em nome da “ordem”, devem enfrentar as milícias orga- nizadas pelos latifundiários, que seguem armados e assassinando trabalhadores rurais; as polícias de governadores truculentos; a criminalização dos líderes dos movimentos sociais; e, de quebra, o reacionário coro da grande mídia. O ministro Nilmário Mi- randa (Direitos Humanos) con- sidera um absurdo a criminalização de lideranças dos sem-terra. “Antes de os juízes condenarem e criminalizarem as ocupações, teriam que avaliar a função so- cial da terra, que está improdu- tiva”, afirma. PRÉ-GOLPE? Analistas políticos de TVs, rá- dios e jornais de todo o país vêm comparando a conjuntura políti- ca atual com o período que ante- cedeu o golpe de 1964. Este tipo de comparação é “uma tentativa da direita para intimidar os mo- vimentos sociais e o governo. O exército brasileiro está completa- mente integrado ao governo, não há qualquer risco de golpe mili- tar”, assegura Nilmário Miranda. Não se deixar intimidar, diz o deputado federal Ivan Valente (PT-SP), significa viabilizar as propostas do governo para que possam, efetivamente, atender às demandas sociais. “O governo não pode entrar na provocação de elites acostumadas a concen- trar riqueza e terras. Para man- ter o projeto conservador, eles criam essas tensões, mas não há comparação com a correlação de forças de 64 e de hoje”, explica o deputado. O compromisso anunciado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva de priorizar a reforma agrária no próximo semestre tem se afinado com o discurso de seus ministros. Para descontentamen- to dos ruralistas e dos conserva- dores brasileiros, no dia 11, o mi- nistro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rosseto, afir- mou, em São Paulo, que “os mi- lhares de trabalhadores e traba- lhadoras sem-terra que estão nas ruas deste país não são crimino- sos, são lutadores da justiça, da dignidade e da democracia”. Marcha do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) chegando em Santa Margarida do Sul (RS). O juiz Loraci Flores de Lima, da 2ª Vara Federal de Santa Maria, determinou na segunda-feira, dia 11, que o MST suspenda a marcha que faz em direção a São Gabriel, na região Fronteira Oeste, e que os ruralistas que se preparavam para sair pela BR-290 ao encontro dos sem-terra também desistam da mobilização José Doval/Zero Hora/AE José Cruz/ABR

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Para conservadores, democracia é sinônimo de caos social

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Page 1: Governo reage aos ataques da elite contra os movimentos sociais

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CONJUNTURA POLÍTICACONJUNTURA POLÍTICA

SEGURANÇA ALIMENTARSEGURANÇA ALIMENTAR

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LA direita, tendo como porta-vozes alguns governadores, juízes e a grande imprensa, procuraencurralar o governo Lula, disseminando a idéia de que as mobilizações populares estão

levando o país ao caos; os ministros reagem e não aceitam as provocações

Para conservadores, democraciaé sinônimo de caos social

Claudia Jardim, da Redação

“Há um preconceito declasse contra os movimentos so-ciais. Quando é ocupação de sem-teto, parece que o mundo vai aca-bar. Envolve um preconceito declasse. Isso tem um nome, é opobre. Traz a consciência dadramaticidade da situação do Bra-sil, a herança que recebemos nosúltimos 50 anos. Traz o medo”.Palavras do ministro José Dirceu,da Casa Civil, no dia 5.

Sua declaração, porém, nãobasta para convencer osultraconservadores, que insistemem criminalizar os movimentossociais. Ora no discurso de gover-nadores, ora na truculência departe do Judiciário, todos ajuda-dos pela grande imprensa, que temdesempenhado o papel de verda-deiro “partido das elites”.

Jarbas Vasconcelos (PMDB),governador de Pernambuco, é umespecialista em truculência: auto-rizou a violenta ação de despejode 300 famílias acampadas emEngenho Prado, a ponto de me-recer denúncia da Organizaçãodas Nações Unidas (ONU) porviolação aos direitos humanos. Porisso, vem a público afirmar que,se o governo não impuser limites“às invasões, pode se ter algomuito mais grave do que um gol-pe militar”.

DIREITA & MÍDIAO ministro Márcio Tomaz

Bastos, da Justiça, não deixou pas-sar em branco a provocação dogovernador. “Não vamos aceitaro conselho da direita de que épreciso baixar o pau nos movi-mentos sociais, porque não é pre-ciso”, afirmou no dia 11.Para ele, há uma condescendên-cia natural no regime democráti-co com os movimentos sociais, eo governo não deixará que hajaruptura e transgressão às normasda legalidade. “É o momento dosque nunca tiveram vez, nem voz,de serem protagonistas da histó-ria política do país”, afirmou, porsua vez, o ministro das Cidades,Olívio Dutra, ao Brasil de Fato.

Porém, para a consideradagrande imprensa, quando os pro-tagonistas são os pobres e osmovimentos sociais, então estáinstaurado o “caos social”. Nessamídia, em vez de informações,especulações. Que vão desde asuposta movimentação ilegal dedinheiro pelo Movimento dosTrabalhadores Rurais Sem Terra(MST), até a organização de guer-rilhas pré-revolucionárias.

VELHOS FACTÓIDESComo a história só se repe-

te como farsa, ultimamente asmaiores redes de televisão e dejornal voltam a usar e abusar damesma ladainha que foi sua ca-racterística às vésperas do golpede 1964: a democracia e a ordemestariam ameaçadas. Exemplosnão faltam. Em entrevista ao Es-tado de S.Paulo, dia 1º, EliézerRizzo de Oliveira, cientista polí-tico da Universidade de Campi-nas, afirmou que a violência éinerente ao MST, pois um deseus ícones é Che Guevara. E opaís cor re o r isco de“colombianização”, com a for-mação de “milícias paramilita-res contra a reforma agrária, emluta com as forças paramilitaresa favor dela”.

No entanto, esse tipo de rea-

lectuais que têm contribuídopara criar um clima de caos so-cial . “A direita sempre teve in-telectuais a seu serviço para ra-cionalizar seus interesses. É o queeles têm feito”.

ORDEM E DESORDEMMarilena Chauí, professora de

filosofia da Universidade de SãoPaulo, colocou os devidos pingosnos ii, em entrevista à Folha deS.Paulo, dia 3. Aos que conside-ram a organização dos movimen-tos sociais ameaça à democracia eresponsáveis pelo caos social,deuum recado: ao contrário da “cri-se” que o jornal tenta criar, omomento é de comemoraçãopelo fato de o país estar, finalmen-te, conhecendo uma experiênciademocrática.

“Democracia não é, comoquerem os liberais, o regime dalei e da ordem. Não estamosnuma monarquia absolutista. Nademocracia, graças ao trabalhodo conflito, a sociedade diz aogoverno o que ela pensa, o quequer e como quer que seja fei-to”, disse ela.

E assim têm feito os movimen-tos sociais país afora. Além de exigirdo governo a realização das refor-mas agrária e urbana, têm ocupadoos espaços ociosos e terras impro-dutivas para garantir condições mí-

ção não é fenômeno novo na his-tória do Brasil. Para o advogadoPlinio Arruda Sampaio, um dosfundadores do Partido dos Traba-lhadores (PT), a reação da direitaé reflexo das mudanças propostaspelo governo Lula, em especial, areforma agrária.

Ele critica a postura dos inte-

Justiça surpreende e libera transgênicosClaudia Jardim, da Redação

A Monsanto está em festa,mas pode ser por pouco tempo.No dia 12, a desembargadoraSelene Maria de Almeida, do Tri-bunal Regional Federal (TRF)de Brasília (DF), suspendeu a sen-tença da 6º vara da Justiça, e li-berou o cultivo e a comerciali-zação de transgênicos no país. Aliminar terá validade até o julga-mento do mérito da ação, que vaiser analisada por mais doisdesembargadores do TRF.

A decisão ainda está sendoanalisada pelos ministérios daAgricultura e do Meio Ambien-te. ”O que estamos entendendo éque há uma liberação temporáriapara pesquisas sobre transgênicos,e uma liberação do plantio até ojulgamento definitivo da questão.

Como não tenho certeza, vouaguardar a posição da minha con-sultoria para decidir”, afirmou oministro Roberto Rodrigues, daAgricultura.

GOLPEJá o Ministér io do Meio

Ambiente, divulgou nota sobreos riscos da decisão da juíza edo cultivo de transgênicos: “Aliberação do plantio da sojatransgênica pode causar sériosriscos para o meio ambiente doBrasil, tendo em vista não te-rem sido realizados estudosambientais em nosso país, comoreconhecido pela própr iadesembargadora ao conceder aliminar”. De seu lado, a juízaSalete Maria de Almeida alegater se baseado nos estudos deórgãos científicos internacio-

nais que “comprovam a sanida-de da soja Roundup Ready”.

“Essa ação é um golpe na ci-dadania brasileira para favoreceros interesses da transnacional.”,afirma o deputado estadual FreiSérgio Görgen (PT-RS). Para ele,o recurso apresentado pela Mon-santo, e acatado pela Justiça, temcomo objetivo principal garantiro plantio de organismos geneti-camente modificados (OGMs) jápara a próxima safra.

Em 2002, a Monsanto teveprejuízo de cerca de 1,7 bilhãode dólares e, de acordo com aprevisão da Innovest StrategicValue Advisors, suas ações de-vem ficar abaixo da média domercado a médio e longo pra-zo. De acordo com pesquisa daInnovest, a rejeição aos alimen-tos transgênicos tem crescido

no mundo, inclusive nos Esta-dos Unidos.

RECURSOO Instituto de Defesa do Con-

sumidor (Idec), responsável, jun-tamente com o Greenpeace, pelaação civil pública que levou à sus-pensão do cultivo transgênico,divulgou nota afirmando que vairecorrer da decisão da juíza e la-menta a ação.

Enquanto os ministérios e asorganizações decidem a legitimida-de da liminar, a Comissão Intermi-nisterial encarregada de elaborarprojeto de lei sobre biossegurançadeve encaminhar proposta ao Con-gresso Nacional, até o dia 15, paraser votado em regime de urgência,no máximo em 45 dias, e estabele-cer as novas regras e o futuro dostransgênicos no Brasil.

■ O ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos não aceitaconselhos das elites conservadoras

nimas de moradia e sobrevivência.Mas, em nome da “ordem”,

devem enfrentar as milícias orga-nizadas pelos latifundiários, queseguem armados e assassinandotrabalhadores rurais; as polícias degovernadores truculentos; acriminalização dos líderes dosmovimentos sociais; e, de quebra,o reacionário coro da grandemídia. O ministro Nilmário Mi-randa (Direitos Humanos) con-sidera um absurdo a criminalizaçãode lideranças dos sem-terra.“Antes de os juízes condenareme criminalizarem as ocupações,teriam que avaliar a função so-cial da terra, que está improdu-tiva”, afirma.

PRÉ-GOLPE?Analistas políticos de TVs, rá-

dios e jornais de todo o país vêmcomparando a conjuntura políti-ca atual com o período que ante-cedeu o golpe de 1964. Este tipode comparação é “uma tentativada direita para intimidar os mo-vimentos sociais e o governo. Oexército brasileiro está completa-mente integrado ao governo, nãohá qualquer risco de golpe mili-tar”, assegura Nilmário Miranda.

Não se deixar intimidar, dizo deputado federal Ivan Valente(PT-SP), significa viabilizar aspropostas do governo para quepossam, efetivamente, atender àsdemandas sociais. “O governonão pode entrar na provocaçãode elites acostumadas a concen-trar riqueza e terras. Para man-ter o projeto conservador, elescriam essas tensões, mas não hácomparação com a correlação deforças de 64 e de hoje”, explicao deputado.

O compromisso anunciadopelo presidente Luiz Inácio Lulada Silva de priorizar a reformaagrária no próximo semestre temse afinado com o discurso de seusministros. Para descontentamen-to dos ruralistas e dos conserva-dores brasileiros, no dia 11, o mi-nistro do DesenvolvimentoAgrário, Miguel Rosseto, afir-mou, em São Paulo, que “os mi-lhares de trabalhadores e traba-lhadoras sem-terra que estão nasruas deste país não são crimino-sos, são lutadores da justiça, dadignidade e da democracia”.

■ Marcha do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) chegando em SantaMargarida do Sul (RS). O juiz Loraci Flores de Lima, da 2ª Vara Federal de Santa Maria,determinou na segunda-feira, dia 11, que o MST suspenda a marcha que faz em direção aSão Gabriel, na região Fronteira Oeste, e que os ruralistas que se preparavam para sairpela BR-290 ao encontro dos sem-terra também desistam da mobilização

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