governo - programa de reformas - 2015-2019

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REPÚBLICA PORTUGUESA Proposta de Programa de Estabilidade 2015 - 2019 Abril de 2015

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  • REPBLICA PORTUGUESA

    Proposta de

    Programa de Estabilidade

    2015 - 2019

    Abril de 2015

  • Este documento foi elaborado com informao disponvel at data de 15 de abril de 2015.

    MINISTRIO DAS FINANAS Av. Infante D. Henrique, 1 1149-009 LISBOA Telefone: (+351) 21.881.6820 Fax: (+351) 21.881.6862 http://www.min-financas.pt

  • PROGRAMA DE ESTABILIDADE 2015 - 2019

    i

    ndiceSumrio Executivo .................................................................................................................................. I

    I. Enquadramento Macroeconmico .................................................................................................. 1

    I.1 Desenvolvimento Internacional e Mercados Financeiros .......................................................... 1

    I.1.1 Enquadramento Internacional ....................................................................................... 1

    I.1.2 Mercados Financeiros em Portugal .............................................................................. 3

    I.2 Cenrio Macroeconmico para Portugal................................................................................... 8

    I.2.1 Desenvolvimentos Recentes ......................................................................................... 8

    I.2.2 Principais Hipteses Externas .................................................................................... 10

    I.2.3 Previses para a Economia Portuguesa e Riscos Inerentes (2015-2019) .................. 10

    I.2.4 Anlise de Riscos do Cenrio Macroeconmico ......................................................... 14

    I.2.4.1 Principais Riscos Internacionais com Impacto na Economia Portuguesa ................... 14

    I.3 Evoluo dos Desequilbrios Macroeconmicos ..................................................................... 16

    I.3.1 Desequilbrios Externos e Competitividade ................................................................. 17

    I.3.2 Desequilbrios Internos ............................................................................................... 20

    II. Estratgia Oramental .................................................................................................................... 25

    II.1 Desenvolvimentos Recentes das Finanas Pblicas .............................................................. 25

    II.2 Perspetivas de Mdio Prazo para as Finanas Pblicas 2015-2019 ...................................... 32

    II.2.1 Estratgia Oramental e Objetivos de Mdio Prazo ................................................... 32

    II.2.1.1 O Enquadramento Oramental Europeu ................................................................ 32

    II.2.1.2 Estratgia Oramental 2015-2019 .......................................................................... 37

    II.2.1.3 Iniciativas de Poltica Oramental .......................................................................... 38

    II.2.1.4 Projees Oramentais .......................................................................................... 41

    II.2.1.5 Dinmica da Dvida Pblica .................................................................................... 44

    II.2.2 Quadro Plurianual de Programao Oramental para 2015-2019 .............................. 44

    III. Anlise de Sensibilidade ................................................................................................................ 47

    III.1 Anlise de Sensibilidade ao Enquadramento Macroeconmico ............................................. 47

    III.1.1 Previses Macroeconmicas e Oramentais de outras Entidades ............................. 47

    III.1.2 Choques ...................................................................................................................... 50

    III.2 Anlise de Riscos na Estratgia Oramental .......................................................................... 56

    III.2.1 Riscos do Setor Empresarial do Estado (SEE) ........................................................... 56

    III.2.2 Riscos de Responsabilidades Contingentes ............................................................... 60

    III.2.2.1 Garantias e Contragarantias .................................................................................. 60

  • PROGRAMA DE ESTABILIDADE 2015 - 2019

    ii

    III.2.2.1.1 Garantias Concedidas ao Setor Bancrio .............................................................. 60

    III.2.2.1.2 Garantias Concedidas a Outras Entidades ............................................................ 60

    III.2.2.2 Parcerias Pblico-Privadas .................................................................................... 62

    III.2.3 Estratgia de Gesto da Dvida Direta do Estado e o seu Impacto na Exposio aos

    Riscos ......................................................................................................................... 63

    IV. Sustentabilidade das Finanas Pblicas ...................................................................................... 67

    IV.1 Anlise da Sustentabilidade de Longo Prazo das Finanas Pblicas ..................................... 67

    IV.2 Sustentabilidade da Dvida Pblica ........................................................................................ 70

    V. Qualidade das Finanas Pblicas ................................................................................................. 73

    V.1 A Qualidade da Despesa na Justia ....................................................................................... 73

    V.2 A Qualidade da Despesa na Sade ........................................................................................ 76

    V.3 A Qualidade da Despesa na Educao .................................................................................. 83

    VI. Enquadramento Institucional das Finanas Pblicas ................................................................. 87

    VI.1 Reforma do Processo Oramental .......................................................................................... 87

    VI.1.1 Reviso/Execuo da Lei de Enquadramento Oramental ......................................... 87

    VI.1.2 Reforo do Controlo da Despesa e Compromissos .................................................... 88

    VI.1.3 Procedimentos Contabilsticos e Prestao de Contas .............................................. 88

    VI.2 Reforma Fiscal ........................................................................................................................ 88

    VI.2.1 Reforma Estrutural da Administrao Tributria e Aduaneira ..................................... 88

    VI.2.2 Reforo do Combate Fraude e Evaso Fiscais ..................................................... 89

    VI.2.3 Reforma Estrutural do Sistema de Tributao das Empresas (IRC) ........................... 90

    VI.2.4 Reforo da Competitividade - Cdigo Fiscal do Investimento ..................................... 91

    VI.2.5 Reforma do Sistema de Tributao das Pessoas Singulares (IRS) ............................ 92

    VI.2.6 Reforma da Fiscalidade Verde .................................................................................... 94

    Apndice Quadros Estatsticos ........................................................................................................ 95

  • PROGRAMA DE ESTABILIDADE 2015 - 2019

    iii

    ndice de Quadros

    Quadro I.1. Crescimento Econmico Mundial .... 1

    Quadro I.2. Agregados de Crdito Bancrio em Portugal ....................................................... 5

    Quadro I.3. Principais Indicadores ...................... 8

    Quadro I.4. Enquadramento Internacional Principais Hipteses .................................. 10

    Quadro I.5. PIB e Importaes ......................... 10

    Quadro I.6. Principais Indicadores .................... 11

    Quadro II.1. Conta das Administraes Pblicas ..................................................... 25

    Quadro II.2. Saldo Oramental em 2014 .......... 27

    Quadro II.3. Indicadores Oramentais .............. 29

    Quadro II.4. Dinmica da Dvida Pblica .......... 30

    Quadro II.5. Pases com Procedimento por Dfice Excessivo em 2014 ........................ 31

    Quadro II.6. Flexibilidade no mbito do Pacto de Estabilidade e Crescimento .................. 34

    Quadro II.7. Previso para a Conta das Administraes Pblicas 2015-2019 ......... 42

    Quadro II.8. Principais Indicadores de Finanas Pblicas 2015-2019 ................... 43

    Quadro II.9. Dinmica da Dvida Pblica .......... 44

    Quadro III.1. Previses Macroeconmicas ........ 48

    Quadro III.2. Previses Oramentais ................ 49

    Quadro III.3. Previses Macroeconmicas ........ 49

    Quadro III.4. Previses Oramentais ................ 50

    Quadro III.5. EBITDAr no Sector dos Transportes ................................................ 57

    Quadro III.6. Dvida Garantida pelo Estado s IC ............................................................... 60

    Quadro III.7. Garantias Concedidas a Outras Entidades ................................................... 61

    Quadro III.8. Perfil de Refinanciamento da Carteira Ajustada no Final de 2014 ............ 64

    Quadro III.9. Impacto de um Aumento Imediato e Permanente das Taxas de Juro de Mercado em 1 p.p. ..................................... 65

    Quadro IV.1. Despesas Relacionadas com o Envelhecimento da Populao ................... 68

    Quadro IV.2. Penses e Contribuies do Sistema Pblico ......................................... 69

    ndice de Grficos

    Grfico I.1.Preo Spot do Petrleo Brent ........... 2

    Grfico I.2. Taxas de Juro a 3 meses do Mercado Monetrio...................................... 2

    Grfico I.3. Emprstimos a Sociedades no Financeiras .................................................. 5

    Grfico I.4. Emprstimos a Particulares ............. 5

    Grfico I.5. Taxas de Juro de Emprstimos em Portugal ....................................................... 6

    Grfico I.6. Spread* das Taxas de Juro de Emprstimos (saldos) a Sociedades no Financeiras .................................................. 6

    Grfico I.7. Taxas de Juro dos Novos Emprstimos a Sociedades no Financeiras at 1 milho de euros .............. 7

    Grfico I.8. Taxas de Juro dos Novos Emprstimos a Sociedades no Financeiras acima de 1 milho de euros ..... 7

    Grfico I.9. Desempenho Comparativo dos ndices Bolsistas .......................................... 7

    Grfico I.10. Contributos para o Crescimento do PIB .......................................................... 9

    Grfico I.11. Decomposio das Exportaes de Bens ........................................................ 9

    Grfico I.12. Contributos para o Crescimento do PIB ........................................................ 12

    Grfico I.13. Decomposio da Procura Interna12

    Grfico I.14. Evoluo da Posio de Investimento Internacional ......................... 13

    Grfico I.15. Variao da Capacidade/Necessidades de Financiamento da Economia Portuguesa .. 13

    Grfico I.16. Evoluo dos Preos .................... 14

    Grfico I.17. Evoluo do Desemprego............. 14

    Grfico I.18. Evoluo da Populao Ativa ....... 14

    Grfico I.19. Evoluo da Posio de Investimento Internacional em % do Produto ...................................................... 17

  • PROGRAMA DE ESTABILIDADE 2015 - 2019

    iv

    Grfico I.20. Evoluo dos Passivos de Investimento Direto em % do Produto ....... 17

    Grfico I.21. Grau de Abertura da Economia ... 18

    Grfico I.22. Peso das Exportaes no Produto18

    Grfico I.23. Evoluo da Balana Corrente .... 18

    Grfico I.24. Termos de Troca .......................... 18

    Grfico I.25. Taxa de Cmbio Real Efetiva ...... 19

    Grfico I.26. Taxa de Cmbio Real Efetiva vis--vis rea do Euro ..................................... 19

    Grfico I.27. Custos de Trabalho por Unidade Produzida .................................................. 19

    Grfico I.28. Diferencial de Custos de Trabalho por Unidade Produzida entre Portugal e AE 19 ......................................................... 19

    Grfico I.29. Quota de Mercado das Exportaes de Bens e de Servios .......... 20

    Grfico I.30. Fluxo de Crdito ao Setor Privado no Financeiro ........................................... 21

    Grfico I.31. Emprstimos s Sociedades no Financeiras ................................................ 21

    Grfico I.32. Endividamento das Sociedades no Financeiras ......................................... 22

    Grfico I.33. Endividamento dos Particulares ... 22

    Grfico I.34. Taxa de Desemprego (15-74) ...... 22

    Grfico I.35. Emprego (tica das Contas Nacionais) ................................................. 22

    Grfico I.36. Contributos para o Emprego por Nvel de Escolaridade................................ 23

    Grfico I.37. Contributos para o Emprego por Setor de Atividade ..................................... 23

    Grfico I.38. Taxa de Desemprego Jovem (15-24 anos) .................................................... 23

    Grfico I.39. Taxa de Desemprego por durao23

    Grfico II.1. Ajustamento Oramental entre 2010 e 2014 .............................................. 26

    Grfico II.2. Evoluo da Despesa Pblica ...... 28

    Grfico II.3. Taxas de Juro das OT a 10 anos .. 29

    Grfico II.4. Contributos para a Variao do Saldo Global .............................................. 30

    Grfico II.5. Evoluo da Dvida Pblica 2010-2014 .......................................................... 31

    Grfico II.6. Saldo Oramental na rea do Euro em 2014 ............................................ 32

    Grfico II.7. Dvida das Administraes Pblicas na rea do Euro em 2014 ........... 32

    Grfico III.1. Previses de Crescimento do PIB 48

    Grfico III.2. Previses do ndice de Preos no Consumidor (IPC) ...................................... 48

    Grfico III.3. Aumento do Preo do Petrleo em 20% ...................................................... 50

    Grfico III.4. Anlise de Sensibilidade ao Aumento da Taxa de Juro de Curto Prazo em 1 p.p. .................................................... 51

    Grfico III.5. Anlise de Sensibilidade Diminuio da Procura Externa em 1 p.p. .. 52

    Grfico III.6. Anlise de Sensibilidade Diminuio do PIB em 1 p.p. ...................... 54

    Grfico III.7. Anlise de Sensibilidade ao Aumento em 1 p.p. da Taxa de Desemprego............................................... 55

    Grfico III.8. Evoluo da Dvida Remunerada das Empresas Pblicas de Transportes e Gesto da Infraestrutura Ferroviria .......... 57

    Grfico III.9. Contributos para as Poupanas das PPP ..................................................... 59

    Grfico III.10. Encargos Brutos ......................... 59

    Grfico IV.1. Hipteses Macroeconmicas e Demogrficas ............................................. 68

    Grfico IV.2. Variao das Despesas Relacionadas com o Envelhecimento da Populao em Portugal, rea do Euro e UE .............................................................. 69

    Grfico IV.3. Cenrio de sensibilidade das Despesas Relacionadas com o Envelhecimento da Populao ................... 70

    Grfico IV.4. Comparao das Despesas Relacionadas com o Envelhecimento da Populao entre o AR2012 e o AR2015 .... 70

    Grfico IV.5. Projeo da Dvida Pblica .......... 71

    Grfico IV.6. Sensibilidade da Dvida Pblica Taxa de juro ............................................... 71

    Grfico IV.7. Sensibilidade da Dvida Pblica ao crescimento nominal do PIB.................. 71

    Grfico V.1.Receita e Despesa do SNS em % do PIB ........................................................ 76

    Grfico V.2. Stock dos Pagamentos em Atraso no SNS ....................................................... 77

  • PROGRAMA DE ESTABILIDADE 2015 - 2019 I

    Sumrio Executivo

    O Programa de Estabilidade para 2015-2019 descreve o enquadramento macroeconmico e

    oramental de mdio prazo para Portugal, sendo a sua apresentao um momento central no

    processo de coordenao poltica dos Estados-Membros da Unio Europeia no mbito do

    Semestre Europeu.

    Com a concluso do Programa de Ajustamento Econmico e Financeiro (PAEF), Portugal iniciou uma

    nova etapa na interao com as instituies europeias e os restantes Estados-Membros. Esta interao

    assenta agora num conjunto especfico de procedimentos segundo o qual a Comisso Europeia analisa

    as polticas econmicas e oramentais dos Estados-Membros, apresenta recomendaes e acompanha a

    sua concretizao, com vista a assegurar a coordenao poltica na Unio Europeia o designado

    Semestre Europeu.

    Um dos momentos-chave deste processo decorre em abril, quando cada Estado-Membro submete o

    documento de estratgia econmica de mdio-prazo o Programa Nacional de Reformas e o Programa

    de Estabilidade que constitui o reflexo oramental daquele. Estes documentos so assim decisivos para

    a adequada articulao das polticas econmicas e oramentais a nvel europeu, mas tambm para a

    necessria reflexo sobre as reformas que cada Pas considera prioritrias para promover o crescimento

    e o desenvolvimento econmicos.

    O Programa de Estabilidade marca a apresentao das opes polticas que iro nortear o prximo

    quadrinio, as quais so enquadradas num cenrio macroeconmico e numa trajetria oramental de

    mdio-prazo. tambm o momento em que os Estados-Membros renovam o compromisso de assegurar

    finanas pblicas sustentveis, no quadro das regras oramentais aplicveis a nvel europeu. Este

    compromisso assume uma relevncia acrescida para os pases da rea do euro, na sequncia do recente

    reforo das regras oramentais atravs dos pacotes legislativos intitulados Six-Pack e Two-Pack e da

    aprovao do Tratado sobre Estabilidade, Coordenao e Governao na Unio Econmica e Monetria

    (Tratado Oramental).

    As perspetivas para a economia Portuguesa em 2015-2019 apontam para a continuidade da

    recuperao da economia e do emprego, contrastando com o perodo de crise mais recente.

    O cenrio macroeconmico apresentado sinaliza a entrada num ciclo mais favorvel, prevendo-se uma

    acelerao gradual do crescimento do produto ao longo do horizonte de projeo, assente em contributos

    positivos da procura interna e das exportaes lquidas, no relanamento do investimento e na melhoria

    sustentada das condies no mercado de trabalho. O crescimento anual do Produto Interno Bruto (PIB)

    dever fixar-se em 1,6% do PIB este ano, acelerando para 2,0% em 2016 e 2,4% em 2017, mantendo-se

    em torno desse valor em 2018 e 2019. A taxa de desemprego, por sua vez, dever atingir 13,2% em

    2015, diminuindo gradualmente at um valor de 11,1% em 2019. Tambm o ajustamento externo dever

    prosseguir, prevendo-se o registo de um excedente externo de 2,7% do PIB no final do perodo de

    projeo. Estas perspetivas so encorajadoras mas tambm prudentes. A implementao de novas

    reformas estruturais ao longo do perodo ter um impacto positivo na trajetria atualmente prevista,

    reforando o potencial de crescimento e criao de emprego.

    Em matria oramental, a estratgia apresentada mantm o mesmo sentido de responsabilidade

    dos ltimos quatro anos respeitando o enquadramento europeu aplicvel e o princpio de

  • PROGRAMA DE ESTABILIDADE 2015 - 2019

    II

    sustentabilidade das finanas pblicas , e permite o desagravamento gradual dos sacrifcios dos

    Portugueses.

    Para 2015 reiterado o compromisso de reduzir o dfice oramental para um valor inferior a 3% do PIB,

    permitindo encerrar o Procedimento por Dfice Excessivo. Portugal entrar assim no brao preventivo do

    Pacto de Estabilidade e Crescimento j a partir de 2016, beneficiando das condies de flexibilidade

    recentemente comunicadas pela Comisso Europeia. Na estratgia oramental desenhada, o Pas

    alcana o objetivo de mdio-prazo para o saldo estrutural j em 2016, um ano antes do previsto no ltimo

    documento de estratgia oramental de mdio prazo.

    Este resultado reflete o sucesso da poltica oramental dos ltimos anos, assente num sentido de

    disciplina e rigor. O ajustamento concretizado no perodo 2011-2014 resultou numa decisiva e sustentada

    estabilizao da situao econmica e oramental em Portugal. Esta estabilizao notvel tendo em

    conta um ponto de partida de bancarrota iminente, e particularmente relevante por permitir o desenho de

    um cenrio para 2015-2019 em que so revertidas as principais medidas transitrias de consolidao que

    tiveram que ser adotadas no perodo mais crtico de emergncia financeira. Esta reverso ser

    necessariamente gradual, em linha com uma disponibilidade oramental crescente ao longo do tempo.

    A manuteno do sentido de responsabilidade evidente na definio de uma trajetria oramental que

    assegura o cumprimento das regras europeias, abrindo a possibilidade de requerer formalmente o uso da

    flexibilidade para os Estados-Membros posicionados na vertente preventiva. Ainda que o Governo tenha

    inteno de requerer a clusula das reformas estruturais e/ou a clusula do investimento no perodo

    abrangido pelo presente Programa de Estabilidade. Tendo presente que a sua utilizao restrita, exige-

    se uma solicitao formal Comisso Europeia, acompanhada de demonstrao quantificada dos

    benefcios econmicos e oramentais a mdio-prazo. O recurso s clusulas da flexibilidade do Pacto de

    Estabilidade e Crescimento ter de ser criteriosamente ponderado, garantido a escolha das opes com

    maior potencial de retorno.

  • I. ENQUADRAMENTO MACROECONMICO

    I.1 Desenvolvimento Internacional e Mercados Financeiros

    I.1.1 Enquadramento Internacional

    As projees para a economia mundial, recentemente apresentadas pela Comisso Europeia (CE),

    apontam para um reforo do crescimento em 2015, que se ir prolongar em 2016, face estabilizao

    em torno de 3,3% nos dois ltimos anos. As atuais perspetivas indicam uma reviso em alta

    relativamente aos ltimos meses, nomeadamente para o conjunto das economias avanadas, de forma

    mais expressiva para os Estados Unidos da Amrica (EUA), rea do euro e Japo. No caso da rea do

    euro, para alm de um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) mais forte do que o antecipado no 4.

    trimestre de 2014, esta evoluo deve tambm ser influenciada por uma descida mais acentuada do

    preo do petrleo e das restantes matrias-primas no energticas; por uma taxa de cmbio efetiva do

    euro mais fraca e pelo impacto das recentes medidas de poltica monetria no convencionais do Banco

    Central Europeu (BCE) (Quantitative Easing), repercutindo-se numa melhoria das condies de

    financiamento das economias e no fortalecimento da procura interna.

    Pelo contrrio, as expectativas de crescimento para os principais pases emergentes (com exceo da

    India) tm vindo a ser revistas em baixa, com destaque para a Rssia e o Brasil, refletindo preos mais

    baixos das matrias-primas com impacto no desequilbrio das contas externas e da situao oramental,

    enfraquecimento do sistema financeiro, alguma instabilidade poltico-social e o agravamento de tenses

    geopolticas em alguns desses pases (com destaque para a crise Rssia/Ucrnia e a instabilidade no

    Mdio Oriente).

    Quadro I.1. Crescimento Econmico Mundial

    (taxa de crescimento real, em %)

    (*) com base no PIB avaliado em paridade de poder de compra. ** 2013. (P) Previso.

    Fontes: FMI, World Economic Outlook, abril 2015. Para 2014, Institutos nacionais de estatstica.

    (%)

    Economia Mundial 100,0 3,4 3,5 3,8

    Economias avanadas 43,1 1,8 2,4 2,4

    das quais:

    EUA 16,1 2,4 3,1 3,1

    rea do euro, da qual : 12,1 0,9 1,5 1,6

    Alemanha 3,4 1,6 1,6 1,7

    Frana 2,4 0,4 1,2 1,5

    Itlia 2,0 -0,4 0,5 1,1

    Espanha 1,5 1,4 2,5 2,0

    Reino Unido 2,4 2,6 2,7 2,3

    Japo 4,4 -0,1 1,0 1,2

    Economias Emergentes 56,9 4,6 4,3 4,7

    das quais:

    China 16,3 7,4 6,8 6,3

    ndia 6,8 7,2 7,5 7,5

    Rssia 3,3 0,6 -3,8 -1,1

    Brasil 3,0 0,1 -1,0 1,0

    Por memria

    Unio Europeia 17,2** 1,4 1,8 1,9

    Estrutura 2014* 2014 2016P2015P

    Captulo

    1

  • PROGRAMA DE ESTABILIDADE 2015 - 2019

    2

    2

    Assim, nos prximos anos, prev-se uma melhoria do desempenho da economia mundial, assente no

    reforo do crescimento das economias avanadas, onde se espera um crescimento relativamente forte

    dos EUA; uma melhoria no Japo e uma recuperao moderada da Unio Europeia (UE), em que todos

    os Estados-Membros devero voltar a crescer a partir de 2015, facto que no sucedia desde 2007

    (devendo registar-se o crescimento mais fraco na Crocia e o mais forte na Irlanda). Mas, em resultado

    de uma ainda fraca atividade econmica decorrente do processo de ajustamento dos balanos dos

    setores pblico e privado, em diversos pases, o mercado de trabalho da rea do euro ainda revelar uma

    situao de fragilidade. Assim, a taxa de desemprego no dever descer abaixo dos 10,6%, em 2016,

    refletindo uma grande disparidade de situaes entre os pases. Relativamente ao conjunto dos pases

    emergentes e em desenvolvimento, especialmente os asiticos (particularmente a ndia), a economia ir

    acelerar, beneficiando tambm de nveis mais baixos dos preos das matrias-primas, embora mantendo

    um crescimento menos robusto face ao verificado na dcada de 2000. Os pases emergentes mais

    dependentes da exportao do petrleo e de outras matrias-primas, tais como Rssia, Brasil, Argentina

    e Venezuela, devero registar uma desacelerao da economia, e alguns deles, como a Rssia e o Brasil

    podero mesmo entrar em recesso econmica, refletindo polticas menos expansionistas derivadas da

    correo de estrangulamentos estruturais e de desequilbrios internos e externos para alm, em alguns

    deles, da confluncia de riscos geopolticos.

    O preo do petrleo, de acordo com o Fundo Monetrio Internacional (FMI) dever reduzir-se de forma

    acentuada em 2015, para 58 USD/bbl (51 /bbl), situando-se muito abaixo das previses do outono de

    2014 (-41% e -31%, respetivamente) e aproximando-se dos nveis registados em 2009. Para 2016 e

    2017, esperado um aumento do preo do petrleo, mantendo-se, no entanto, em nveis inferiores aos

    observados em 2014. Relativamente aos preos das matrias-primas no energticas, as projees do

    FMI preveem uma quebra de 14,1% em 2015, a qual se configura mais acentuada do que a registada em

    2014, devido descida mais pronunciada dos preos dos produtos alimentares e agrcolas.

    Grfico I.1.Preo Spot do Petrleo Brent

    (USD/barril e /bbl)

    Grfico I.2. Taxas de Juro a 3 meses do Mercado Monetrio

    (mdia mensal, em %)

    (P) Previso do FMI, World Economic Outlook, abril 2015.

    Fontes: FMI, Bloomberg e Banco de Portugal.

    Fonte: Banco de Portugal.

    Quanto inflao, as previses do FMI para 2015 apontam para uma diminuio significativa para a

    generalidade das economias avanadas e para uma ligeira acelerao para o conjunto dos pases

    emergentes, situando-se em nveis elevados em alguns pases da Amrica Latina (Brasil), da sia (ndia)

    e Rssia. Tanto para os EUA como para a rea do euro, a taxa de inflao mdia deve situar-se num

    valor prximo do nulo em 2015 (0,9% e -0,2%, respetivamente em 2014) para aumentar em ambos em

    2016, em linha com a recuperao econmica e, no caso da rea do euro, incorporando tambm o

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    rea do Euro EUA

  • PROGRAMA DE ESTABILIDADE 2015-2019

    3

    impacto das medidas de poltica monetria no convencionais recentemente adotadas pelo BCE.

    Entretanto, as taxas de juro de curto prazo mantm-se em valores historicamente baixos nos EUA e na

    rea do euro, estando prevista uma subida nos prximos anos, no primeiro caso em resultado da

    orientao menos expansionista da Reserva Federal dos EUA. Relativamente taxa de cmbio, prev-se

    uma depreciao acentuada do euro face ao dlar em 2015, regressando para nveis de 2004.

    Apesar do surgimento de novos fatores positivos, nomeadamente os baixos preos da energia, a

    incerteza associada s perspetivas econmicas mundiais permanece elevada e a intensificao dos

    riscos de reviso em baixa relacionam-se com as tenses geopolticas, o reaparecimento de volatilidade

    nos mercados financeiros e cambiais, num contexto de polticas monetrias divergentes entre as

    principais economias, e com a execuo incompleta das reformas estruturais. Para alm disso, um

    perodo prolongado de inflao muito baixa, ou mesmo de deflao, ser igualmente prejudicial quer para

    as perspetivas de crescimento mundial e, nomeadamente, europeu, quer para a persistncia de um

    excessivo endividamento pblico e privado, apesar do elevado esforo de desalavancagem registado no

    perodo mais recente. Adicionalmente desconhece-se a evoluo da situao da Grcia, bem como os

    desenvolvimentos subsequentes e impactos, designadamente no mercado de dvida soberana dos pases

    perifricos.

    Por outro lado, ainda no est totalmente definida a orientao da poltica monetria da Reserva Federal

    dos EUA para os prximos anos, desconhecendo-se o momento da possvel subida das taxas de juro

    federais, mantidas no intervalo entre 0% e 0,25% desde finais de 2008. Neste aspeto, qualquer poltica

    monetria mais restritiva, com a eventual subida das taxas de juro diretoras ainda em 2015, poder ter

    impacto no ritmo de crescimento da economia norte-americana e aumentar as incertezas nos mercados

    financeiros internacionais, com repercusses numa maior sada de fluxos de capitais dos pases

    emergentes e numa forte desvalorizao cambial das moedas desses pases.

    No caso da rea do euro, assistiu-se em 2014 e no incio de 2015 a uma diminuio dos riscos

    financeiros associados s dvidas soberanas, devido, em parte, persistncia de uma poltica monetria

    marcadamente acomodatcia do BCE, atravs da aplicao de instrumentos convencionais e de medidas

    no convencionais de cedncia de liquidez1. Estas medidas visam incentivar a concesso de

    emprstimos aos agentes econmicos, no sentido de dinamizar a economia e evitar a persistncia de

    uma situao de deflao. Tambm foram alcanados progressos na construo da Unio Bancria

    destinada a limitar a fragmentao financeira e a divergncia nas condies de financiamento entre os

    pases desta zona2.

    I.1.2 Mercados Financeiros em Portugal

    O ano de 2014 foi marcado por importantes desenvolvimentos e mudanas a nvel europeu relativamente

    ao quadro legal, regulamentar e institucional aplicvel ao setor financeiro, com importantes repercusses

    em Portugal.

    1 Estas medidas traduziram-se na aquisio de ativos do setor privado no financeiro, na facilitao de novos fluxos de

    crdito economia, aquisio de uma carteira abrangente de covered bonds e, no perodo mais recente, no lanamento de um programa alargado de aquisio de ativos (programas de compra de dvida titularizada, obrigaes colateralizadas e ttulos de dvida pblica) totalizando 60 mil milhes de euros de compras mensais no mercado secundrio entre maro de 2015 e pelo menos at final de setembro de 2016. 2 Neste contexto, registou-se uma melhoria significativa para os pases mais perifricos da rea do euro (com exceo

    da Grcia) mais afetados pela crise das dvidas soberanas, tendo-se assistido a uma descida acentuada do diferencial de rendibilidade das taxas de juro de longo prazo desses pases face Alemanha (no caso de Portugal de 408 p.b. no final de dezembro de 2013, para 150 p.b. no dia 31 de maro de 2015).

  • PROGRAMA DE ESTABILIDADE 2015 - 2019

    4

    4

    No plano legal e regulamentar, foi publicado o Decreto-Lei n. 157/2014, de 24 de outubro, que (i) adota,

    na ordem jurdica interna, determinadas opes conferidas aos Estados-Membros pelo Regulamento

    (UE) n. 575/2013, relativas aos requisitos prudenciais para as instituies de crdito e empresas de

    investimento; (ii) transpe a Diretiva n. 2013/36/UE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 26 de

    junho de 2013, relativa ao acesso atividade de superviso prudencial das instituies de crdito e

    empresas de investimento, procedendo a uma alterao profunda do Regime Geral das Instituies de

    Crdito e Sociedades Financeiras; e (iii) altera o Cdigo dos Valores Mobilirios e um vasto conjunto de

    disposies legislativas respeitantes a medidas de natureza preventiva e repressiva de combate ao

    branqueamento de vantagens de provenincia ilcita e ao regime sancionatrio no setor financeiro em

    matria criminal e contraordenacional. Esta legislao veio, assim, reforar significativamente os

    requisitos prudenciais e os poderes de superviso do regulador bancrio.

    Foi ainda aprovada a Diretiva n. 2014/59/UE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 15 de maio de

    2014, que estabelece um enquadramento para a recuperao e resoluo das instituies de crdito e

    empresas de investimento. Esta Diretiva visa estabelecer regras comuns relativas interveno em

    entidades em desequilbrio financeiro, com o propsito de salvaguardar os interesses dos contribuintes e

    a estabilidade financeira.

    Por fim, foi aprovada a Diretiva n. 2014/49/UE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 16 de abril de

    2014, que substituiu a Diretiva n. 94/19/CE, relativa aos sistemas de garantia de depsitos e veio

    reforar a proteo dos depositantes no contexto de crises de instituies de crdito.

    No plano institucional, nos termos do Regulamento n. 1024/2013, o BCE assumiu, a 4 de novembro de

    2014, a responsabilidade pela superviso dos bancos da rea do euro (envolvendo diretamente cerca de

    120 instituies/grupos bancrios significativos), aps uma fase preparatria de um ano, que incluiu uma

    anlise aprofundada da resilincia e dos balanos dos bancos de maior dimenso da rea do euro

    (Comprehensive Assessment), assim como a adoo de atos jurdicos que definem como funcionar o

    Mecanismo nico de Superviso (MUS) e a criao das novas estruturas de governao no BCE. Assim,

    os resultados dos testes de stress bancrios, publicados a 26 de outubro de 2014, avaliaram a solidez

    financeira das instituies bancrias mais significativas (representando cerca de 82% dos ativos do

    sistema bancrio europeu), tendo sido globalmente positivos.

    Estes desenvolvimentos traduzem o reforo das exigncias de superviso do setor financeiro e o

    arranque da Unio Bancria, com o intuito de salvaguardar, de forma mais acentuada, quer a estabilidade

    financeira quer os interesses dos contribuintes e reduzir a fragmentao financeira da Unio Europeia,

    em particular na rea do euro.

    Neste enquadramento, a evoluo do crdito tem sido marcada pelo impacto do reforo das regras de

    superviso bancria sobre a estrutura de capital dos bancos, a liquidez disponvel e rcios de

    solvabilidade. Paralelamente, o processo de desalavancagem ainda em curso reflete-se no ajustamento

    dos balanos dos bancos, das empresas no financeiras e das famlias. Em conjunto, estes fatores

    determinam que o crdito concedido ao setor privado tenha continuado a registar variaes negativas,

    em todos os segmentos, em 2014 e no incio de 2015.

  • PROGRAMA DE ESTABILIDADE 2015-2019

    5

    Quadro I.2. Agregados de Crdito Bancrio em Portugal

    (taxa de variao anual, em %)

    Nota: As taxas de variao anual so calculadas com base na relao entre saldos dos emprstimos bancrios em fim de ms, ajustados de operaes de titularizao. Quebra de srie entre Nov-14 e Dez-14.

    Fonte: Banco de Portugal.

    De facto, tem-se registado um agravamento da reduo dos emprstimos bancrios concedidos ao setor

    privado no financeiro, cuja taxa de variao anual diminuiu para -5,3%, em janeiro de 2015 (-4,7% no

    mesmo perodo de 2014). Esta evoluo decorre essencialmente da queda mais acentuada nos

    emprstimos s sociedades no financeiras (-7,5%), uma vez que a queda dos emprstimos a

    particulares desacelerou face ao ano anterior (-3,7%), refletindo uma recuperao significativa do crdito

    ao consumo, j que o crdito habitao se deteriorou ligeiramente nos ltimos dois meses. Por sua vez,

    na rea do euro, a tendncia descendente registada, entre 2012 e 2013, nos emprstimos destinados s

    empresas no financeiras e aos particulares inverteu-se a partir de 2014.

    Grfico I.3. Emprstimos a Sociedades no Financeiras

    (taxa de variao anual, em %)

    Grfico I.4. Emprstimos a Particulares (taxa de variao anual, em %)

    Fontes: Banco de Portugal e BCE.

    O financiamento do setor financeiro residente s empresas privadas no financeiras em Portugal diminuiu

    cerca de 4,9 mil milhes de euros em 2014, na generalidade dos setores, com destaque para a

    construo, imobilirio, atividades de consultoria, tcnicas e administrativas e, alojamento e restaurao.

    As empresas com maior decrscimo foram as microempresas e pequenas empresas, que apresentaram

    uma diminuio de 3,7 mil milhes de euros em dezembro de 2014 face ao perodo homlogo.

    Em janeiro de 2015, o peso dos crditos de cobrana duvidosa no total do crdito concedido aumentou,

    particularmente no segmento das empresas no financeiras (14,6%, +2,8 p.p. do que em dezembro de

    2013) e das famlias (nas vertentes de outros fins, peso de 15,9%, +3,3 p.p. do que no final de 2013). Em

    relao materializao do risco de crdito para a habitao, o peso dos emprstimos de cobrana

    duvidosa tem subido ligeiramente, mas continuou a apresentar nveis de incumprimento contidos,

    situando-se em 2,5% em janeiro de 2015, para o qual tem contribudo o nvel relativamente baixo das

    taxas de juro, que por sua vez tem permitido a manuteno, ou mesmo reduo, da prestao mensal

    mdia nos contratos deste segmento.

    Dez-13 Jan-14 Fev-14 Mar-14 Abr-14 Mai-14 Jun-14 Jul-14 Ago-14 Set-14 Out-14 Nov-14 Dez-14 Jan-15

    Emprstimos ao sector privado no financeiro -4,4 -4,7 -4,6 -4,6 -5,1 -5,2 -5,2 -5,5 -5,4 -4,8 -4,8 -4,9 -5,3 -5,3

    Sociedades no financeiras -4,7 -5,5 -5,2 -5,4 -6,6 -7,0 -7,2 -7,9 -7,6 -6,3 -6,4 -6,6 -7,6 -7,5

    Particulares -4,2 -4,1 -4,1 -4,1 -3,9 -3,8 -3,7 -3,7 -3,7 -3,7 -3,7 -3,7 -3,8 -3,7

    para habitao -3,8 -3,8 -3,8 -3,9 -3,8 -3,8 -3,8 -3,8 -3,7 -3,8 -3,8 -3,8 -4,0 -4,0

    para consumo -7,2 -6,4 -6,2 -5,7 -5,3 -4,6 -3,3 -2,9 -3,0 -2,8 -2,6 -2,5 -2,3 -2,0

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    rea do euro (AE) Portugal

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    rea do euro (AE) Portugal

  • PROGRAMA DE ESTABILIDADE 2015 - 2019

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    6

    Em janeiro de 2015, os depsitos do setor no monetrio totalizaram 230 mil milhes de euros (+ 4,9 mil

    milhes de euros face ao perodo homlogo). Para este comportamento contribuiu a acelerao dos

    depsitos das sociedades no financeiras (6,9%, em termos homlogos), enquanto os depsitos das

    famlias se mantiveram relativamente estveis (um crescimento em torno de 0,6%).

    No que respeita evoluo dos custos de financiamento, o ano de 2014 e o incio de 2015 foram

    marcados por uma diminuio das taxas de juro dos emprstimos, que se estendeu tanto s sociedades

    no financeiras como aos particulares. de destacar a descida mais pronunciada para o primeiro caso, a

    qual registou uma quebra de 41 p.b. face a janeiro de 2014, situando-se em 4,0% em janeiro de 2015.

    Grfico I.5. Taxas de Juro de Emprstimos em Portugal

    (valores mdios, fim de perodo, em %)

    Grfico I.6. Spread* das Taxas de Juro de Emprstimos (saldos) a Sociedades no

    Financeiras (em p.p.)

    Nota: * O spread resulta da diferena entre taxa de juro de emprstimos e Euribor a 6 meses.

    Fontes: Banco de Portugal e BCE.

    Paralelamente descida das taxas de juro dos saldos dos emprstimos s empresas no financeiras, as

    taxas de juro dos novos emprstimos tambm apresentaram uma evoluo descendente (mais

    significativa para operaes at 1 milho de euros). Ainda assim, permanecem acima da mdia da rea

    do euro, devido ocorrncia em simultneo de vrios fatores: i) o ajustamento na economia portuguesa

    teve consequncias na situao financeira de muitas empresas, em particular na qualidade do crdito e

    no aumento significativo da perceo de risco por parte dos bancos; ii) o balano dos bancos

    portugueses continuou a ser afetado pelos efeitos de operao realizadas no passado, tanto do lado do

    ativo como do passivo, as quais contriburam para que o custo de financiamento se mantivesse elevado

    face rendibilidade dos ativos geradores de juros3; e iii) as expectativas do impacto no setor financeiro

    decorrente da futura alienao do Novo Banco.

    Com efeito, em fevereiro de 2015, as taxas de juro de novos emprstimos a sociedades no financeiras

    em Portugal situaram-se em 4,7% para emprstimos at 1 milho de euros e em 3,5% acima de 1 milho

    de euros (correspondendo a um spread face a Euribor a 3 meses em torno dos 464 e 346 pontos base,

    respetivamente).

    3 Tratando-se da baixa rendibilidade proveniente dos emprstimos habitao anteriormente concedidos, culminando

    em taxas de juro abaixo dos custos de financiamento atual dos bancos, afetando negativamente a sua margem financeira e obrigando manuteno de um elevado spread aplicado aos novos emprstimos concedidos s sociedades no financeiras.

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  • PROGRAMA DE ESTABILIDADE 2015-2019

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    Grfico I.7. Taxas de Juro dos Novos Emprstimos a Sociedades no Financeiras

    at 1 milho de euros

    (%)

    Grfico I.8. Taxas de Juro dos Novos Emprstimos a Sociedades no Financeiras

    acima de 1 milho de euros

    (%)

    Fontes: Banco de Portugal e BCE.

    No primeiro trimestre de 2015, assistiu-se a uma valorizao expressiva dos ndices bolsistas europeus,

    mais acentuada para os setores no financeiros, traduzindo, em parte, a poltica monetria mais

    expansionista do BCE. Esta poltica resulta numa diminuio do custo de financiamento futuro esperado e

    num efeito positivo no valor atualizado dos lucros empresariais futuros esperados. Igualmente, o facto de

    o Eurogrupo ter chegado a acordo no que se refere ao prolongamento do programa de assistncia

    financeira Grcia tambm ajudou a aumentar a apetncia pelo risco. Assim, no final de maro de 2015,

    e face ao final do ano de 2014, o ndice Euro Stoxx50 subiu 18%, o valor mais elevado desde o quarto

    trimestre de 2009, e que compara com um crescimento homlogo de 1% no ano de 2014.

    No mesmo perodo, o ndice PSI-20 apresentou um melhor desempenho face ao ndice de referncia da

    rea do euro, revelando, a perspetiva de uma retoma econmica mais forte e de maiores lucros

    empresariais. De facto, no primeiro trimestre de 2015, este apreciou-se 24%, que compara com uma

    depreciao de 27% no ano de 2014.

    Grfico I.9. Desempenho Comparativo dos ndices Bolsistas

    (maro 2013 = 100, fim de perodo)

    Fontes: CMVM e IGCP.

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    -14

    Jan-1

    5

    Mar-15

    PSI-20 DJ Euro Stoxx50 DOW JONES

  • PROGRAMA DE ESTABILIDADE 2015 - 2019

    8

    8

    I.2 Cenrio Macroeconmico para Portugal

    I.2.1 Desenvolvimentos Recentes

    No ano de 2014, a atividade econmica, medida pelo PIB, registou um crescimento real de 0,9%, que se

    traduz numa melhoria de 2,5 p.p. face quebra de 1,6% verificada em 2013, sendo o primeiro

    crescimento anual positivo observado desde 2010. Em termos trimestrais, a par de uma distribuio

    quase uniforme do perfil de crescimento do PIB, destaca-se o contributo menos negativo da procura

    externa lquida na segunda metade do ano, concomitante com uma acelerao das exportaes de bens

    e de servios.

    Quadro I.3. Principais Indicadores

    (taxa de variao, %)

    (1) Contas Nacionais.

    Fontes: INE, Eurostat.

    Em termos anuais, e com exceo do consumo pblico, todas as componentes da despesa registaram

    variaes homlogas positivas. As exportaes desaceleraram em linha com a procura externa dirigida

    economia portuguesa, sendo de realar o impacto negativo das exportaes de bens energticos4,

    materializando um contributo mdio de -1,8 p.p. que contrasta com o contributo de 2,6 p.p. no ano

    precedente. A acelerao expressiva da procura global (+2,6 p.p. face a 2013), e, assim, do seu contedo

    importado, explica o comportamento das importaes durante 2014.

    Aps 5 anos consecutivos de contrao, de realar o crescimento de 2,5% registado pelo investimento

    [formao bruta de capital fixo (FBCF)], uma acelerao de 9,2 p.p. face ao ano anterior, principalmente

    na sua componente de outras mquinas e equipamentos (14,8%, +10,8 p.p. face a 2013) e de

    equipamento de transporte (21,9%, -2,9 p.p. face a 2013). Apesar do processo de ajustamento em curso

    ter resultado na forte contrao do investimento em construo, especialmente na sua componente

    residencial, a taxa de crescimento homloga observada traduz uma acelerao de 10,4 p.p. quando

    comparada com a quebra de -14,7% registada em 2013. O aumento do Investimento est em linha com o

    aumento da utilizao da capacidade produtiva na indstria transformadora e contribui para atenuar o

    impacto da depreciao do stock de capital da economia portuguesa.

    4 Combustveis, leos minerais e matrias betuminosas.

    I II III IV I II III IV

    PIB e Componentes da Despesa (em termos reais)

    PIB -1,6 0,9 -4,1 -2,3 -1,3 1,4 0,9 0,9 1,2 0,7

    Consumo Privado -1,5 2,1 -4,3 -2,0 -0,8 1,2 2,1 1,7 2,6 1,9

    Consumo Pblico -2,4 -0,3 -3,0 -3,3 -2,7 -0,5 -0,2 0,1 0,4 -1,4

    Investimento (FBCF) -6,7 2,5 -15,5 -7,4 -3,7 1,2 0,0 3,7 4,1 2,4

    Exportaes de Bens e Servios 6,4 3,4 2,3 7,0 7,3 9,0 3,3 2,0 2,9 5,3

    Importaes de Bens e Servios 3,9 6,4 -3,4 6,1 6,4 6,7 9,1 3,9 5,4 7,1

    Contributos (p.p.)

    Procura Interna -2,5 2,1 -6,2 -2,6 -1,6 0,5 3,1 1,6 2,2 1,4

    Procura Externa Lquida 0,9 -1,2 2,1 0,3 0,3 0,8 -2,2 -0,7 -1,0 -0,7

    Evoluo dos Preos

    IPC 0,3 -0,3 0,2 0,6 0,3 -0,1 -0,1 -0,3 -0,5 -0,1

    IPC Subjacente 0,2 0,1 -0,2 0,5 0,3 0,1 0,0 0,0 0,0 0,2

    IHPC Portugal 0,4 -0,2 0,4 0,8 0,4 0,1 -0,1 -0,2 -0,3 0,0

    IHPC rea do Euro 1,3 0,4 1,9 1,4 1,3 0,8 0,6 0,6 0,4 0,2

    Evoluo do Mercado de Trabalho

    Emprego (1) -2,9 1,4 -5,3 -4,2 -2,5 0,6 1,5 1,6 1,8 0,7

    Populao Ativa -1,8 -1,1 -1,8 -2,1 -2,3 -1,1 -1,3 -0,9 -0,7 -1,6

    Taxa de Desemprego (%) 16,2 13,9 17,5 16,4 15,5 15,3 15,1 13,9 13,1 13,5

    dos quais: % de Desemprego de Longa Durao 62,1 65,5 58,7 62,0 64,5 63,6 63,6 67,4 66,9 64,5

    2014 2013 2014

    2013

  • PROGRAMA DE ESTABILIDADE 2015-2019

    9

    Por fim, a par de uma evoluo favorvel do emprego, o ano de 2014 foi marcado por um aumento do

    consumo privado em 2,1% (-1,5% em 2013), fruto de um crescimento expressivo do consumo de bens

    duradouros (14,9%) e de bens correntes no alimentares (1,3%). De referir que, apesar do aumento na

    componente de bens duradouros, esta ainda se encontra 8,8% abaixo do valor registado no ano de 2011.

    Grfico I.10. Contributos para o Crescimento do PIB

    (p.p.)

    Grfico I.11. Decomposio das Exportaes de Bens

    (contributos, p.p.)

    Fontes: INE e Ministrio das Finanas.

    A taxa de desemprego em 2014 fixou-se nos 13,9%, uma diminuio de 2,3 p.p. face a 2013. De acordo

    com os dados do Inqurito ao Emprego, publicado pelo Instituto Nacional de Estatstica (INE), este valor

    suportado por um aumento da populao empregada em 1,6% (-2,6% em 2013), bem como por uma

    reduo mdia anual de 15,1% da populao desempregada. Para o crescimento observado no emprego

    contribuiu, em particular, o setor das indstrias transformadoras (4,8%, +9,7 p.p. face a 2013), bem como

    dos servios (+3,8%). No mesmo sentido, a populao ativa diminuiu a um ritmo inferior ao observado no

    ano precedente (+0,7 p.p.).

    Pela tica da contabilidade nacional, excluindo o contributo negativo do emprego nas Administraes

    Pblicas (variao de -3,4% em 2014), o emprego no setor privado cresceu 2,3% (5 p.p. superior ao

    registado em 2013). Apesar de o desemprego de longa durao ter registado uma reduo anual de

    10,4%, este valor traduz um ritmo de diminuio inferior ao conjunto da populao desempregada,

    resultando num aumento da sua representatividade de 62,1% para 65,5% da populao desempregada.

    Por outro lado, a taxa de desemprego jovem (15-24 anos) acompanhou esta tendncia mais favorvel,

    diminuindo 3,3 p.p., de 38,1% em 2013, para 34,8% em 2014.

    O ndice de preos no consumidor (IPC) registou uma variao mdia homloga de -0,3% em 2014, 0,6

    p.p. abaixo do verificado em 2013. Para esta reduo contribuiu a componente de bens, com uma

    variao mdia anual de -1,1%, influenciado por uma diminuio dos preos dos produtos energticos (-

    1,4%, -0,7% em 2013) e dos produtos alimentares no transformados (-2,1%, 2,6% em 2013). Estes

    dados so assim especialmente marcados pela evoluo do preo das matrias-primas energticas e

    no energticas nos mercados internacionais. De facto, o diferencial da inflao total face subjacente

    (que exclui os bens alimentares no processados e bens energticos) foi de -0,4 p.p. em 2014, quando,

    em 2013, tinha sido de +0,1 p.p.. Por fim, o diferencial na evoluo do ndice harmonizado de preos no

    consumidor (IHPC) entre Portugal e a rea do euro persistiu em 2014, apesar de ligeiramente inferior,

    reforando o ajustamento dos preos relativos que se encontra em curso.

    -8.0

    -6.0

    -4.0

    -2.0

    0.0

    2.0

    4.0

    2012 2013 2014 2013 I II III IV 2014 I II III IV

    Procura Externa Lquida Investimento Consumo Privado

    Consumo Pblico PIB

    -4.0

    -2.0

    0.0

    2.0

    4.0

    6.0

    8.0

    2012 2013 2014 2013 I II III IV 2014 I II III IV

    Combustiveis Qumicos Outros Exportaes de Bens

  • PROGRAMA DE ESTABILIDADE 2015 - 2019

    10

    10

    I.2.2 Principais Hipteses Externas

    A elaborao do cenrio macroeconmico para 2015-2019 tem subjacente um conjunto de hipteses

    sobre o comportamento de algumas variveis macroeconmicas externas que condicionam a evoluo

    da economia portuguesa no horizonte de projeo. Estas hipteses refletem a informao disponvel at

    meados de abril de 2015.

    Quadro I.4. Enquadramento Internacional Principais Hipteses

    Nota: Crescimento da procura externa relevante calculado com base em dados do BCE.

    (e) estimativa. (p) previso. (a) Euribor a 3 meses.

    Fontes: Ministrio das Finanas, NYMEX, CE, Economic Forecast, fevereiro, 2015 (dados entre 2015 e 2016).

    A procura externa relevante para Portugal apresenta uma forte acelerao para 2015 e 2016, consistente

    com a ltima informao disponvel e que aponta para uma melhoria do crescimento das economias

    avanadas, incluindo a rea do euro, onde se encontram os principais parceiros comerciais da economia

    portuguesa (Espanha, Alemanha e Frana).

    Com efeito, para 2015, espera-se um reforo significativo das importaes de Espanha, da Alemanha, de

    Frana, da Itlia e do Reino Unido e, para 2016, destaca-se a continuao da acelerao das

    importaes da Alemanha e de Itlia.

    Quadro I.5. PIB e Importaes

    (variao homloga real, em %)

    (p) previso.

    Fontes: Eurostat e FMI, World Economic Outlook, abril de 2015.

    As hipteses para o preo do petrleo refletem a informao implcita no mercado de futuros do Brent

    transacionados em meados de maro de 2015. De acordo com esta informao, o preo do petrleo

    dever registar, em 2015, uma diminuio acentuada, tendncia que dever ser revertida nos anos

    seguintes.

    Em relao taxa de juro de curto prazo e taxa de cmbio do euro face ao dlar, consideraram-se as

    hipteses definidas pelo FMI, para 2015 e 2016, e assumiu-se a manuteno do ltimo valor para o

    restante horizonte de projeo.

    I.2.3 Previses para a Economia Portuguesa e Riscos Inerentes (2015-2019)

    As previses apresentadas nesta seco tm por base as hipteses anteriormente referidas, informao

    mais recente relativa aos desenvolvimentos da atividade econmica, tanto nacional como internacional,

    bem como as previses publicadas por organizaes nacionais e internacionais.

    Crescimento da procura externa relevante (%) MF 3,3 4,5 5,2 5,2 5,2 5,2

    Preo do petrleo Brent (US$/bbl) NYMEX 99,5 59,7 68,2 72,0 74,5 76,0

    Taxa de juro de curto prazo (mdia anual, %) (a) CE 0,2 0,0 0,1 0,5 0,8 0,8

    Taxa de cmbio do EUR/USD (mdia anual) CE 1,33 1,17 1,17 1,17 1,17 1,17

    2019(p)2014(e) 2015(p) 2016(p) 2017(p) 2018(p)Fonte

    I II III IV I II III IV

    rea do euro 0,9 1,1 0,8 0,8 0,9 1,5 1,6 4,3 3,7 3,7 3,9 4,0 4,3 4,0

    Espanha 1,4 0,6 1,2 1,6 2,0 2,5 2,0 7,6 9,4 4,9 8,6 7,7 8,7 5,0

    Alemanha 1,6 2,3 1,4 1,2 1,5 1,6 1,7 3,4 3,4 3,4 3,0 3,4 4,5 5,0

    Frana 0,4 0,8 0,0 0,4 0,2 1,2 1,5 3,8 4,2 2,8 3,3 4,8 4,5 3,7

    Itlia -0,4 -0,1 -0,3 -0,5 -0,5 0,5 1,1 1,8 0,4 2,8 1,3 2,0 2,1 2,4

    Reino Unido 2,6 2,7 2,9 2,8 3,0 2,7 2,3 1,8 5,5 0,4 -0,1 3,0 3,9 3,9

    2016P

    ImportaesPIB

    2015P 2016P2014 2014 2015P2014 2014

  • PROGRAMA DE ESTABILIDADE 2015-2019

    11

    Deste modo, prev-se, para 2015, um crescimento do PIB de 1,6% em termos reais5, o qual resulta da

    manuteno do contributo positivo da procura interna (1,6 p.p.), associado a uma ligeira desacelerao

    do consumo privado e a uma acelerao do investimento (FBCF), bem como de um contributo positivo da

    procura externa (0,1 p.p.) que compara com um contributo de -1,1 p.p. no ano anterior.

    Dada a perspetiva de um gradual aumento da taxa de crescimento das exportaes, em linha com a

    projeo da procura externa dirigida economia portuguesa, de esperar que o ajustamento das contas

    externas continue: o saldo conjunto da balana corrente e de capital dever fixar-se em 2,1% do PIB,

    aumentando a capacidade lquida de financiamento da economia portuguesa, e a balana corrente

    dever atingir um excedente equivalente a 0,5% do PIB, idntico ao de 2014 e contribuindo positivamente

    para a correo da posio de investimento internacional.

    Neste contexto, a recuperao econmica iniciada em 2014 dever acelerar progressivamente ao longo

    do horizonte de projeo. Para esta evoluo concorrer, primeiramente, o contributo positivo da procura

    interna, associada a um reforo do investimento do setor empresarial, bem como, uma estabilizao da

    procura externa lquida, condicionada por um aumento das importaes de bens e servios a par da

    evoluo do contedo importado da procura global. Como referido, estima-se um crescimento gradual e

    contnuo das exportaes, sendo a componente da despesa a apresentar maior dinamismo.

    Quadro I.6. Principais Indicadores

    (taxa de variao, %)

    (1) Contas Nacionais (e) estimativa; (p) previso.

    Fontes: INE e Ministrio das Finanas.

    5 O que representa uma reviso em alta de 0,1 p.p. face estimativa apresentada no Relatrio do Oramento do

    Estado para 2015.

    PIB e Componentes da Despesa (em termos reais)

    PIB -1,6 0,9 1,6 2,0 2,4 2,4 2,4

    Consumo Privado -1,5 2,1 1,9 1,9 2,1 2,1 2,1

    Consumo Pblico -2,4 -0,3 -0,7 0,1 0,1 0,2 0,2

    Investimento (FBCF) -6,7 2,5 3,8 4,4 4,9 4,9 5,0

    Exportaes de Bens e Servios 6,4 3,4 4,8 5,5 5,7 5,7 5,8

    Importaes de Bens e Servios 3,9 6,4 4,6 5,3 5,4 5,4 5,7

    Contributos (p.p.)

    Procura Interna -2,5 2,1 1,6 1,9 2,2 2,2 2,2

    Procura Externa Lquida 0,9 -1,1 0,1 0,1 0,2 0,2 0,2

    Evoluo dos Preos

    Deflator do PIB 2,2 1,2 1,3 1,4 1,4 1,4 1,4

    IPC 0,3 -0,3 -0,2 1,3 1,4 1,4 1,4

    Evoluo do Mercado de Trabalho

    Emprego (1) -2,9 1,4 0,6 0,8 0,9 0,9 1,0

    Taxa de Desemprego (%) 16,2 13,9 13,2 12,7 12,1 11,6 11,1

    Produtividade aparente do trabalho 1,3 -0,5 1,1 1,2 1,4 1,4 1,4

    Saldo das Balanas Corrente e de Capital (em % do PIB)

    Necessidades lquidas de f inanciamento face ao exterior 2,4 1,9 2,1 2,0 2,2 2,4 2,7

    - Saldo da Balana Corrente 0,9 0,5 0,5 0,4 0,8 1,0 1,4

    da qual Saldo da Balana de Bens -4,1 -4,4 -3,7 -3,8 -3,8 -3,8 -3,9

    - Saldo da Balana de Capital 1,5 1,4 1,6 1,5 1,5 1,4 1,3

    2019(p)

    2018(p)2017(p)2013 2014(e) 2015(p) 2016(p)

  • PROGRAMA DE ESTABILIDADE 2015 - 2019

    12

    12

    Grfico I.12. Contributos para o Crescimento do PIB

    (p.p.)

    Grfico I.13. Decomposio da Procura Interna

    (2012 = 100)

    Fontes: INE e Ministrio das Finanas.

    Relativamente ao consumo privado, reflexo do forte ajustamento dos ltimos anos (uma reduo de

    10,3% entre 2010 e 2013), bem como de uma evoluo mais favorvel do emprego, prev-se um

    crescimento de 1,9% em 2015 (-0,2 p.p. face a 2014). A partir de 2015, o consumo privado dever manter

    taxas de crescimento relativamente constantes, em linha com o rendimento disponvel real, por fora do

    ajustamento esperado no nvel de endividamento das famlias, tendo implcito uma estabilizao da taxa

    de poupana6. De igual modo, a reposio salarial prevista para a Funo Pblica, o nvel baixo das

    taxas de juro e do preo do petrleo so fatores adicionais para a sustentao deste nvel de consumo

    privado.

    Por sua vez, prev-se que o consumo pblico registe uma contrao de cerca de 0,7% em 2015, prximo

    do verificado em 2014 (-0,3%), fruto de um continuado esforo de consolidao oramental. Atendendo

    s metas oramentais estabelecidas, antecipa-se que o consumo pblico apresente um crescimento

    muito limitado no horizonte de previso (cerca de 0,2%).

    Relativamente ao investimento, prev-se um crescimento de 3,8% da FBCF em 2015 (2,5% no ano

    transato), refletindo condies menos restritivas de financiamento s empresas ligadas ao sector

    transacionvel e uma melhoria do sentimento econmico. Para o perodo subsequente prev-se uma

    acelerao dos nveis de investimento, com taxas de crescimento de 4,4% no ano de 2016 e atingindo

    um crescimento mdio homlogo prximo de 5% entre 2017 e 2019, aumentando da capacidade

    produtiva em resposta acelerao da procura global, nomeadamente para o setor transacionvel. Com

    taxas de crescimento superiores s perspetivadas para o conjunto da atividade econmica, o peso do

    investimento no PIB tender a aumentar face aos nveis verificados em 2014 (15,4%), concorrendo para

    a reposio do stock de capital da economia portuguesa e aumento do seu produto potencial. Este

    aumento da taxa de investimento dever estar alinhado com o aumento da taxa de poupana do total da

    economia. Tambm para esta acelerao, no perodo entre 2017-2019, dever contribuir a atividade da

    nova Instituio Financeira de Desenvolvimento, criada para acelerar a canalizao de financiamento s

    pequenas e mdias empresas, tal como a implementao do Plano Junker, designadamente no que se

    refere concretizao de grandes projetos transfronteirios. Igualmente, a concretizao da Estratgia

    Europa 2020, impulsionar a evoluo do investimento.

    6 Em 2013, o endividamento dos Particulares, medido pelos seus passivos de emprstimos, representou 121,4% do

    Rendimento Disponvel Bruto, uma reduo de 6,7 p.p. face ao mximo registado no ano de 2009. Em 2014, os encargos com juros equivaliam a 3,75% do Rendimento Disponvel Bruto, um valor idntico ao observado no ano precedente.

    -8,0

    -6,0

    -4,0

    -2,0

    0,0

    2,0

    4,0

    6,0

    2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019

    Procura Interna Procura Externa Lquida PIB

    90,0

    95,0

    100,0

    105,0

    110,0

    115,0

    120,0

    2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019

    Procura Interna Consumo Privado

    FBCF Consumo Pblico

  • PROGRAMA DE ESTABILIDADE 2015-2019

    13

    As exportaes de bens e servios devero continuar a apresentar um comportamento positivo com um

    crescimento de 4,8% em 2015, valor que representa uma acelerao face a 2014 e que pressupe a

    manuteno de ganhos de quota de mercado. Para o ano de 2016 e seguintes, prev-se que as taxas de

    crescimento das exportaes se fixem entre 5,5% a 5,8%, beneficiando da evoluo prevista para a

    procura externa dirigida economia portuguesa, em especial por parte dos pases europeus, e

    igualmente de uma evoluo favorvel do mercado cambial juntamente com a manuteno dos custos de

    trabalho por unidade produzida (CTUP), contribuindo assim para uma melhoria da competitividade da

    economia portuguesa face aos seus principais parceiros.

    A continuao do bom desempenho das exportaes de bens e de servios, mesmo com o crescimento

    das importaes (ligeiramente abaixo das exportaes), permite antever uma evoluo favorvel para a

    capacidade de financiamento da economia portuguesa, mantendo-se o seu perfil excedentrio. Tendo a

    economia portuguesa alcanado uma capacidade de financiamento face ao exterior equivalente a 1,9%

    do PIB em 20147 (2,4% no ano de 2013), perspetiva-se um valor prximo dos 2,1% em 2015, com uma

    progressiva melhoria no horizonte de previso, promovendo a continuada correo do endividamento

    externo da economia. Este resultado materializa uma melhoria do saldo de todas as balanas,

    destacando-se o saldo conjunto da balana de bens e servios, com um excedente prximo dos 2,5% do

    produto em 2019 (0,5% e 1,5% em 2014 e 2015, respetivamente), que compensar a relativa

    deteriorao do saldo da balana de rendimentos primrios. Tambm os ganhos de termos de troca

    cumprem um papel ativo neste ajustamento.

    Grfico I.14. Evoluo da Posio de Investimento Internacional

    (em % do PIB)

    Grfico I.15. Variao da Capacidade/Necessidades de Financiamento da

    Economia Portuguesa

    (contributos, p.p.)

    Nota: Saldo da balana corrente acumulado com ano base na Posio de Investimento Internacional de 2000.

    Fontes: INE, Banco de Portugal e Ministrio das Finanas.

    Fontes: INE e Ministrio das Finanas.

    Apesar de um contributo positivo dos servios e do efeito da depreciao do euro face ao dlar, a

    evoluo dos preos, mais precisamente do IPC, dever ser marcada por uma diminuio de 0,2% em

    2015 (+0,1 p.p. face a 2014), fruto essencialmente do impacto da quebra do preo do petrleo, com

    especial enfoque na primeira metade do ano. A par da recuperao da economia, com a progressiva

    reduo do hiato do produto, e de uma evoluo favorvel das remuneraes por trabalhador, a taxa de

    inflao dever retomar uma trajetria moderadamente ascendente, convergindo para uma taxa de

    variao anual em torno de 1,4% em 2019. Estes dados no so alheios aos esforos de

    desalavancagem ativa do setor privado no financeiro em Portugal. Note-se que as expectativas para a

    7 tambm importante notar que, excluindo o saldo da balana de bens energticos, este excedente teria alcanado

    os 5,4% em 2014.

    -140

    -130

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    2000

    2001

    2002

    2003

    2004

    2005

    2006

    2007

    2008

    2009

    2010

    2011

    2012

    2013

    2014

    2015

    2016

    2017

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    2019

    P. Investimento Internacional Saldo Acumulado Bal. Corrente e Capital

    -4,0

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    5,0

    2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019

    Volume Importaes Volume Exportaes

    Efeito Termos de Troca Efeito Rendimentos

    Efeito PIB Var. Total

  • PROGRAMA DE ESTABILIDADE 2015 - 2019

    14

    14

    inflao encontram-se ainda assim ancoradas num valor inferior taxa de referncia para a rea do euro,

    podendo conduzir a ganhos de competitividade-preo dentro da rea monetria.

    Ao nvel do mercado de trabalho, prev-se uma reduo gradual da taxa de desemprego no horizonte de

    previso. Assim, em 2015, a taxa de desemprego dever fixar-se nos 13,2% (valor inferior aos 13,9% do

    ano anterior), evoluindo para uma taxa de 11,1% em 2019, movimento que ser ancorado no crescimento

    da populao empregada, aps as redues verificadas entre 2009 e 2013. Promove-se, assim, a

    convergncia da taxa de desemprego para o seu valor estrutural. Aps a correo verificada no ano de

    2014 (-0,9%), os custos unitrios do trabalho devero estabilizar, em resultado de um alinhamento das

    remuneraes por trabalhador com o aumento da produtividade.

    Grfico I.16. Evoluo dos Preos

    (taxa de variao, %)

    Grfico I.17. Evoluo do Desemprego

    (em %)

    Fontes: INE e Ministrio das Finanas.

    Grfico I.18. Evoluo da Populao Ativa

    (contributos, p.p.)

    Fontes: INE e Ministrio das Finanas.

    I.2.4 Anlise de Riscos do Cenrio Macroeconmico

    O contexto de incerteza elevada quer a nvel internacional quer interno, pode condicionar as previses

    para a economia portuguesa para o horizonte 2015-2019.

    I.2.4.1 Principais Riscos Internacionais com Impacto na Economia Portuguesa

    Em termos internacionais, os principais riscos prendem-se com a possibilidade de um desempenho

    menos positivo do que o previsto para a rea do euro, especialmente dos principais parceiros comerciais

    de Portugal, na medida em que consubstanciaria um desenvolvimento menos favorvel da procura

    -4,0

    -3,0

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    -1,0

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    2008

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    2017

    2018

    2019

    Defl. PIB Defl. Cons. Privado Remun./trabalhador (esc. dta.)

    -5,0

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    2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019

    Taxa de Desemprego (% Pop. Ativa, eixo esq.) Emprego (tvh, %)

    -4,0

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    -1,0

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    2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019

    Pop. Empregada Pop. Desempregada Variao Pop. Ativa

  • PROGRAMA DE ESTABILIDADE 2015-2019

    15

    externa e teria assim consequncias no crescimento econmico, para o qual as exportaes do um

    contributo relevante. Ainda neste domnio, dada a importncia do comrcio externo e do investimento

    entre Portugal e Angola, de referir que o efeito da queda do preo do petrleo na atividade econmica

    de Angola e nas suas receitas fiscais poder conduzir a implicaes negativas sobre a dinmica das

    exportaes de bens portugueses com impacto no crescimento da economia portuguesa, amortecendo

    os efeitos benficos que esta refletiria da queda do preo do petrleo.

    Presentemente, um dos principais fatores que poder levar a um crescimento econmico mundial abaixo

    do previsto prende-se sobretudo com a evoluo das economias emergentes, nomeadamente da China,

    e, sobretudo dos pases exportadores de petrleo e de restantes matrias-primas, com destaque para a

    Rssia, Brasil e outros pases da Amrica Latina (Argentina e Venezuela, devendo ambos manter-se em

    recesso em 2015 e 2016). Assim, na China, apesar do consumo continuar com um crescimento robusto,

    o mercado de habitao tem vindo a abrandar e as fragilidades do sistema financeiro persistem (com

    necessidades de uma maior regulao macro prudencial e de uma maior liberalizao do setor), com

    consequncias num aumento de desequilbrios macroeconmicos no longo prazo. Por enquanto, os

    efeitos positivos da baixa do preo do petrleo na economia chinesa e a baixa taxa de inflao tm

    permitido aplicar uma poltica de menor restritividade monetria, com uma descida da taxa diretora e uma

    reduo de reservas legais dos bancos.

    J em relao Rssia (para alm das tenses geopolticas com a Ucrnia e da imposio de sanes

    que restringem o acesso das empresas aos mercados financeiros externos) e aos pases da Amrica

    Latina acima referidos, estes esto a ser fortemente afetados pela baixa do preo do petrleo e por uma

    turbulncia nos mercados financeiros caracterizados por uma forte depreciao das suas moedas e

    elevada taxa de inflao. Estes eventos tm levado aplicao de uma poltica monetria mais restritiva

    resultando num aumento dos custos de financiamento empresarial, com impacto negativo sobre a

    procura externa da rea do euro. Neste contexto, uma orientao divergente da poltica monetria entre a

    rea do euro (mais expansionista) e os EUA (mais restritiva) tem impacto numa acrescida volatilidade

    cambial e dos mercados financeiros internacionais, podendo refletir-se numa maior fuga de capitais dos

    pases emergentes, levando a amplos movimentos de depreciao das suas moedas com reflexos na

    subida da taxa de inflao e obrigando esses pases a implementar uma poltica monetria mais restritiva.

    Esta poltica teria consequncias na deteriorao da procura global com reflexos na estabilidade poltica,

    econmica e social de muitos pases. Por outro lado, esses pases emergentes encontram-se atualmente

    com uma forte exposio cambial com consequncias ao nvel do aumento do seu endividamento.

    No caso da rea do euro, embora se tenha assistido a uma diminuio dos riscos financeiros associados

    s dvidas soberanas, devido persistncia de uma poltica monetria marcadamente acomodatcia por

    parte do BCE, aos progressos alcanados em torno da construo da Unio Bancria Europeia, de

    consolidao oramental e do impacto favorvel das reformas estruturais executadas em vrios pases,

    permanecem as incertezas relativamente ao desenlace da situao da Grcia, cujo programa de

    ajustamento viu a respetiva vigncia prolongada por quatro meses. Apesar de no se ter registado

    qualquer contgio no mercado de dvida soberana da periferia (tendo-se assistido, no perodo mais

    recente, a uma reduo acentuada das taxas de rendibilidade a 10 anos, para mnimos histricos em

    Itlia, Espanha, Irlanda e Portugal) subsiste a incerteza quanto ao desenvolvimento subsequente do

    programa de ajustamento, bem como a suspenso da aceitao da dvida pblica grega pelo BCE como

    colateral. Estes fatores contriburam para a volatilidade e aumento das taxas de juro gregas e, tambm

    para a depreciao significativa da taxa de cmbio do euro. Os investidores internacionais reduziram a

    sua exposio aos mercados financeiros da Grcia, indicando uma menor apetncia pelo risco devido

  • PROGRAMA DE ESTABILIDADE 2015 - 2019

    16

    16

    fragilidade do seu sistema bancrio, caracterizado por uma fuga de depsitos e por um peso elevado de

    crdito vencido.

    Por outro lado, a execuo de uma poltica monetria fortemente expansionista do BCE poder no ser

    suficiente para resolver os principais desequilbrios estruturais da rea do euro, visto que assenta na

    vertente de oferta de liquidez. Com efeito, os indicadores econmicos previstos para o conjunto da rea

    do euro demonstram uma recuperao ainda frgil da economia, baseados num fraco crescimento do

    investimento e num mercado de trabalho ainda dbil. Para alm disso, apesar de um elevado esforo de

    desalavancagem feito, nos ltimos anos, por famlias e empresas em muitos pases da rea do euro, o

    endividamento privado permanece ainda muito elevado, podendo constituir um obstculo ao crescente

    endividamento junto do sector bancrio, com vista recuperao do investimento, criao de emprego e

    diminuio do desemprego.

    Adicionalmente, existe um risco de deflao na economia mundial, sobretudo nas economias avanadas

    (mais especificamente para a rea do euro, cuja taxa de inflao deve permanecer demasiado baixa

    durante um perodo prolongado), com repercusses negativas no crescimento econmico e no PIB

    potencial, dificultando a reduo do endividamento do sector pblico e privado.

    I.3 Evoluo dos Desequilbrios Macroeconmicos

    No mbito do exerccio do Semestre Europeu, uma das novidades no reforo das regras de governao

    da UE a superviso alargada aos desequilbrios macroeconmicos. Neste mbito, os Estados-

    Membros so analisados em termos de potenciais desequilbrios, essencialmente com base num painel

    de 11 indicadores associados a 11 limites definidos.

    Em novembro de cada ano, a Comisso publica os resultados desta anlise no Alert Mechanism Report,

    que identifica os Estados-Membros que exigem uma apreciao aprofundada (In-Depth Review), mas

    no apresenta quaisquer concluses. No Semestre Europeu 2014-2015, o relatrio publicado a 28 de

    novembro de 2014 identificou 16 pases da UE que exigiam uma In-Depth Review por estarem em risco

    de desequilbrio Portugal foi um desses 16 pases. Neste relatrio, Portugal registava desequilbrios em

    quatro reas especficas: endividamento externo, privado e pblico e desemprego.

    Todos estes indicadores indicam desequilbrios de stock que se tm acumulado desde meados da

    dcada de 90. Esto a ser corrigidos, mas dada a sua dimenso exigiriam sempre mais tempo de

    ajustamento. Por oposio, em indicadores de fluxo, como por exemplo a quota de mercado das

    exportaes, Portugal no excede os limites estabelecidos.

    ainda de referir que Portugal no est sujeito ao Procedimento por Desequilbrios Excessivos (um

    procedimento corretivo para desequilbrios macroeconmicos, paralelo ao Procedimento por Dfice

    Excessivo). Porm, como os desequilbrios em anlise foram caracterizados como excessivos pela

    Comisso, Portugal estar sujeito a uma monitorizao especfica dos mesmos e ter de apresentar

    polticas especficas decisivas para os combater.

    Neste ponto focar-se- nalgumas das dimenses mais relevantes para a monitorizao destes

    desequilbrios, designadamente os relacionados com as contas externas, competitividade e desequilbrios

    internos, com indicadores quer de stock, quer de fluxo, que se tm ajustado rapidamente.

  • PROGRAMA DE ESTABILIDADE 2015-2019

    17

    I.3.1 Desequilbrios Externos e Competitividade

    Para analisar este ponto, a Comisso Europeia faz referncia direta a um conjunto de 5 indicadores:

    posio de investimento internacional (PII), balana corrente, taxa de cmbio real efetiva, quota de

    mercado das exportaes e custo de trabalho por unidade produzida. A sua evoluo avaliada face a

    um limiar definido de acordo com o exerccio do AMR, bem como fazendo referncia a indicadores de

    natureza complementar.

    No ano de 2014, a PII da economia portuguesa equivalia a -111,6% do produto, verificando-se uma

    melhoria de 7 p.p. face ao ano precedente e que compara com -100,8%, em 2011. Em termos mdios

    anuais, a deteriorao registada entre o final de 2011 e o final de 2014 (-3,6 p.p.) traduz:

    1. Um contributo negativo de efeitos de valorizao (-4,8 p.p.);

    2. Um efeito denominador com origem na quebra do produto interno bruto nominal (-0,5 p.p.) e;

    3. Um excedente registado na balana corrente e de capital desde 2012 (1,7 p.p.).

    Grfico I.19. Evoluo da Posio de Investimento Internacional em % do Produto

    (contributos, p.p.)

    Grfico I.20. Evoluo dos Passivos de Investimento Direto em % do Produto

    (contributos, p.p.)

    Nota: A Posio de Investimento Internacional corresponde ao valor lquido entre ativos e passivos financeiros, face ao resto do mundo.

    Fontes: INE, Banco de Portugal e Ministrio das Finanas.

    Tendo em conta a sua dimenso, o reequilbrio da posio de investimento internacional ir exigir a

    manuteno de excedentes da balana corrente e de capital, os quais se esperam venham a ser o fruto

    de uma maior dinmica das exportaes.

    Em 2014, o grau de abertura da economia portuguesa correspondia a 78,6% do PIB, um valor 6,3 p.p.

    inferior mdia da rea do euro. Quando comparado com a situao em 2011, regista-se um diferencial

    de -9,4 p.p., sinalizando assim o processo de convergncia que decorreu nestes anos, por fora de um

    maior contributo das exportaes para o crescimento do produto. De facto, registou-se um aumento

    significativo do peso das exportaes no produto entre 2011 e 2014, (+5,4 p.p.).

    -15.0

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    Ef. Crescimento Nominal Ef. Fluxo Ef. Valorizao Var. Anual

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    05-2007 08-2010 11-2014 2011 2012 2013 2014

    Ef. Crescimento Nominal Ef. Fluxo Ef. Valorizao Var. Anual

  • PROGRAMA DE ESTABILIDADE 2015 - 2019

    18

    18

    Grfico I.21. Grau de Abertura da Economia

    (taxa de variao, %)

    Grfico I.22. Peso das Exportaes no Produto

    (taxa de variao, %)

    Nota: Medido pelo peso das exportaes e importaes de bens e servios no produto.

    Fontes: Eurostat e Ministrio das Finanas.

    Para o elevado nvel de endividamento externo da economia portuguesa concorreu a acumulao de

    sucessivos dfices da balana corrente e de capital que, entre 1999 e 2010 representaram, em termos

    mdios anuais cerca de 8,4% do PIB.

    Em 2011, iniciou-se o processo de correo deste desequilbrio. Assim, em 2014, a capacidade de

    financiamento da economia situou-se em 1,9% do PIB, (6,1 p.p. superior ao verificado em 2011 e 11 p.p.

    acima de 2010).

    Igualmente relevante, entre 2011 e 2014 registou-se um ganho de termos de troca acumulado de 3,7%,

    resultante de uma quebra do preo das exportaes de bens e servios inferior observada para as

    importaes.

    Grfico I.23. Evoluo da Balana Corrente

    (taxa de variao, %)

    Grfico I.24. Termos de Troca

    (taxa de variao, %)

    Fontes: INE e Ministrio das Finanas.

    Um indicador relevante para avaliar a competitividade-preo da economia a evoluo da taxa de

    cmbio real efetiva8, ponderada pelos seus principais parceiros comerciais. Fazendo uso de uma amostra

    alargada de 42 economias industrializadas, possvel verificar que esta varivel possui um

    comportamento relativamente estvel. Entre 2008 e 2014, esta registou uma desvalorizao de 5,3%

    8 .Deve ainda ser mencionado que a competitividade-preo parte de um conjunto mais vasto de determinantes da

    competitividade de uma economia. A eficincia produtiva, a qualidade dos produtos, a integrao na cadeia de valor, a especializao ou a geografia so alguns dos mencionveis

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    Portugal rea Euro (19) Dif. (esc. dta.)

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    2005

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    2014

    Portugal rea Euro (19) Dif. (esc. dta.)

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    2011

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    Bal. Corrente Bal. Corrente Excl. Prod. Energticos

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    2001

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    2006

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    2014

    08-2

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    11-2

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    Termos de Troca Exportaes Importaes

  • PROGRAMA DE ESTABILIDADE 2015-2019

    19

    para Portugal e 10,6% para a rea do euro. Tal foi consequncia de uma maior acelerao dos custos na

    rea do euro entre 2001 e 2009.

    Grfico I.25. Taxa de Cmbio Real Efetiva

    (taxa de variao, %)

    Grfico I.26. Taxa de Cmbio Real Efetiva vis--vis rea do Euro

    (2000=100)

    Nota: 42 Parceiros Comerciais. Deflacionada pelo IHPC. Para 2014 utilizado valor mdio dos trs primeiros trimestres.

    Fontes: Eurostat e Ministrio das Finanas.

    Nota: Para 2014 utilizado valor mdio dos trs primeiros trimestres.

    Fontes: FMI, INE e Ministrio das Finanas.

    Como se conclui pela observao das variveis acima ilustradas, o ajustamento da taxa de cmbio real

    efetiva teve particular relevncia ao nvel do mercado de trabalho, nomeadamente no alinhamento, em

    termos mdios, da produtividade com as remuneraes por trabalhador. A dcada de 2000 foi

    efetivamente caracterizada por um crescimento das remuneraes por trabalhador a um ritmo superior ao

    verificado para o conjunto da rea do euro, tendo porm sido parcialmente compensado, a partir de 2006,

    por progressivos aumentos da produtividade do fator trabalho. Entre 2011 e 2014, a reduo das

    remuneraes por trabalhador (em cerca de -0,9% de forma acumulada), em conjunto com um aumento

    equivalente da produtividade (+0,8%), permitiu uma diminuio do custo unitrio do trabalho em 1,7%. No

    conjunto da rea do euro, por sua vez, assistiu-se a um aumento de 0,3% na produtividade do trabalho e

    de 4,5% nas remuneraes por trabalhador, resultando numa deteriorao de 4,2% dos custos unitrios.

    Tendo o ano de 2000 como base, o diferencial entre Portugal e a rea do euro eliminado em 2011 e em

    2014 este diferencial positivo situou-se em -8 p.p..

    Grfico I.27. Custos de Trabalho por Unidade Produzida

    (2000=100)

    Grfico I.28. Diferencial de Custos de Trabalho por Unidade Produzida entre Portugal e AE 19

    (p.p.)

    Fontes: Eurostat e Ministrio das Finanas. Nota: Tendo por base a evoluo acumulada iniciada no ano de 2000.

    Fontes: FMI, INE e Ministrio das Finanas.

    Enquanto fatores de competitividade, pode ainda analisar-se o ganho (ou a perda) de quota de mercado

    das exportaes nacionais. Os resultados de acordo com a procura externa dirigida economia nacional

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    2008

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    Dif. AE18 Portugal

    90

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