governo eletrÔnico: possibilidades e desafios na ... · regulamenta o direito constitucional de...
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Departamento de Ciências Sociais
GOVERNO ELETRÔNICO: POSSIBILIDADES E DESAFIOS NA
PERSPECTIVA DAS CIÊNCIAS SOCIAIS
Aluna: Tainah Rosa Resplande
Orientador: Ricardo Emmanuel Ismael de Carvalho
Introdução
Os portais eletrônicos estaduais têm-se consolidado como um potencial instrumento
para a governança pública. A utilização das tecnologias da informação e comunicação (TICs)
pela administração pública pode possibilitar não apenas a gestão de informações e serviços,
mas a abertura do Estado à sociedade, fomentando a interação e a participação popular no
processo decisório. O desafio posto a esse instrumento é o de inserir mecanismos
participativos que privilegiem relações mais democráticas e transparentes entre decisores e
cidadãos. Nessa perspectiva, a Lei de Acesso à Informação surge como um marco legal que
regulamenta o direito constitucional de acesso às informações públicas e obriga os órgãos e as
entidades públicas à divulgação das mesmas em sítios oficiais, estando sujeitos a sanções no
caso do não cumprimento da Lei.
A discussão sobre Governo Eletrônico se insere num contexto de transformação e
reconfiguração pelo qual a sociedade vem passando nas últimas décadas, em que esta passa a
ser mediatizada pelos aparatos digitais cada vez mais presentes nas relações sociais,
econômicas e políticas. No Brasil, a sua criação está centrada no bojo da Reforma do Estado,
ocorrida ao longo dos anos 1980 e 1990 que, entre outros, teve como pontos principais a
busca da excelência e a otimização dos processos internos do governo, a obtenção de maior
eficiência administrativa e o aumento da participação da sociedade na gestão e previsão de
serviços públicos (Prado et al, 2012).
A emergência do uso das tecnologias interativas como um fenômeno de massas,
sobretudo, com a expansão da internet, e a consolidação de modelos de modernização
administrativa do setor público, baseada no uso intensivo das TICs, são razões que, segundo
Prado et al (2012), podem explicar a consolidação do governo eletrônico como conceito
importante no final dos anos 1990. Os mesmos autores salientam (idem, p. 13) que, embora
haja várias definições de governo eletrônico1, “é possível enxergar no conceito governo
eletrônico um potencial para aperfeiçoar o relacionamento entre governo e cidadãos, uma vez
que está baseado no uso de ferramentas que aumentam a agilidade e a transparência nas trocas
de informações na sociedade”. Neste contexto, o governo eletrônico não se restringiria à
simples automação dos processos e disponibilização de serviços
públicos por meio de operações online na internet (Abramson;
Means, 2001), mas se estenderia à transformação da maneira
pela qual o governo, por meio do uso das TIC, atinge os seus
objetivos para cumprimento do papel do Estado (ibidem, p. 15).
1 Para o Word Bank (2003, apud Prado et al, 2012, p. 120), “governo eletrônico refere-se ao uso, por agências
governamentais, de tecnologias de informação (como redes de longa distância, internet e computação móvel) capazes de transformar as relações com cidadãos, empresas e outras unidades de governo. Essas tecnologias podem servir a diferentes fins, como: melhor prestação de serviços aos cidadãos, interações mais eficazes como empresas e a indústria, empowerment do cidadão por meio do acesso a informações ou mais eficiência na administração governamental. Baum e Di Maio (2000, apud Prado et al, 2012, p. 121) concebem “governo eletrônico como a contínua otimização da prestação de serviços governamentais, participação dos cidadãos e governança pela transformação das relações internas e externas através das tecnologias, internet e novas mídias”.
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A partir dessa conceituação de governo eletrônico associada à transparência e
accountability dos governos fica evidente o conceito de governança eletrônica, uma vez que o
foco da atuação passa estar no conjunto da sociedade e não apenas no ambiente interno do
governo. No Brasil, a criação e expansão dos portais na internet associados a programas de
governo eletrônico, a partir dos anos 1990, nos permitem compreendê-los como instrumentos
capazes de melhorar o acesso às informações públicas, estimular a ampliação do processo de
prestação de contas e criar mais interatividade e participação popular2.
Prado (2009, apud Pinho, 2012, p. 25) classifica os portais governamentais em três
categorias, conforme suas diferentes funções e sua relação com a promoção da transparência,
a saber: Portais de Negócios, Portais de Entrada e Portais de Transparência. Os portais do
primeiro tipo referem-se àqueles “criados inicialmente para facilitar a realização de negócios
pelo governo”. Atrelado a essa função, promovem também a transparência dos processos de
compras e convênios. Os do segundo tipo “correspondem aos portais cuja função é ser um
veículo de apresentação do governo e fornecimento de links para os serviços ou informações
públicas prestadas pelos órgãos do governo”, o fato de “possuir grande quantidade de
informações demonstra sua importância na promoção da transparência”. Os portais
governamentais do terceiro tipo “são considerados iniciativas distintas quanto à transparência,
pois são aqueles constituídos com a finalidade específica de prestar contas do governo”.
No debate sobre a relação entre governo e sociedade na era digital, a avaliação dos
portais governamentais no âmbito estadual ganha relevância na medida em que a regulação do
acesso à informação pública, principalmente, por meio de legislações, torna obrigatória que
informações, documentos, dados oficiais e variadas prestações de contas sejam
disponibilizados na internet para o uso dos cidadãos, além de que os governos estaduais
passam a ser pressionados a respeito da implantação de mecanismos de participação social
através dos sítios governamentais, na perspectiva de uma maior governança pública.
Em face ao exposto até aqui é que se dará prosseguimento a este relatório. No primeiro
momento, pretende-se apresentar os resultados das análises dos portais governamentais das
Secretarias Estaduais de Planejamento dos estados de Rio de Janeiro, São Paulo, Minas
Gerais, Ceará, Pernambuco e Bahia, a partir de um estudo comparativo cuja metodologia se
baseou no modelo proposto por José Antônio Gomes de Pinho [1]. Em seguida, busca-se
concentrar a análise no portal da Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão do Rio de
Janeiro (SEPLAG-RJ) a fim de compreender melhor as potencialidades, limitações e desafios
do governo eletrônico enquanto um novo modelo de gestão pública na esfera estadual, bem
como a implantação da Lei Federal nº 12.527, de 18 de novembro de 2011, mais conhecida
como Lei de Acesso à Informação.
Metodologia
A análise dos portais eletrônicos das referidas Secretarias de Planejamento partiu da
avaliação de quatro aspectos: a configuração dos portais, o grau de informação por ele
proporcionada ao usuário, a transparência do governo por meio do portal e o incentivo à
participação popular, através da utilização das TICs. A avaliação da configuração dos portais
levou em conta a presença de ferramentas e informações que facilitam o entendimento e a
navegação do usuário, tais como: mapa de orientação, ferramenta de busca, as informações
em destaque na página inicial, a condição dos layouts e a facilidade de acesso aos links.
2 No artigo “A internet na participação política de organizações da sociedade civil”, Jussara Borges e Othon
Jambeiro (2012), ao discutirem o esgotamento da democracia representativa nos países do Ocidente e a busca de formas de democracia participativa, destacam o papel da internet como um espaço que possibilita acelerar a participação popular.
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O grau de informação proporcionada pelos portais foi avaliado levando em
consideração as informações e serviços disponíveis aos cidadãos, a fim de que o usuário
receba as informações que demanda de forma clara e precisa. Nesse caso, observou-se a
veiculação de notícias e de atos governamentais, a restrição de áreas e necessidade de
cadastramento, a atualização das informações prestadas, a disponibilização do Diário Oficial
em versão eletrônica, a atração de investimentos para os estados, o acesso a consulta de
tributos e 2ª via de carnê, assim como a licitações, compras e solicitação de serviços. A
transparência dos portais foi analisada segundo a possibilidade de acompanhamento de
informações prestadas sobre projetos governamentais e de acesso a demonstrativos
financeiros e cronogramas de execução orçamentária, e divulgação de execução orçamentária
de exercícios anteriores.
Por fim, ao analisar a questão da participação popular, investigou-se a forma pela qual o
cidadão é inserido nos debates em torno das ações governamentais e de que meios ele dispõe
para apresentar sugestões e avaliar as políticas públicas. Para tanto, verificou-se a presença de
formulário eletrônico, ouvidorias e disponibilização de contatos, lista de perguntas freqüentes,
canal aberto para discussão de políticas públicas, meios para acompanhamento das obras
públicas e espaço para pesquisa de opinião e avaliação dos serviços públicos. A avaliação dos
portais compreendeu os meses de fevereiro e maio de 2012. Para subsidiar a análise do portal eletrônico da Secretaria de Estado de Planejamento e
Gestão do Rio de Janeiro (SEPLAG-RJ) foram realizadas entrevistas com quatro gestores
desse órgão, nos meses de abril e maio de 2013. Foi permitido o acesso ao Superintendente de
Governança Eletrônica da SEPLAG-RJ, Henrique Lima, a dois assessores de Comunicação
Social, Lúcio Santos e Luís Fernando Taylor, como também ao Rogério Andrade, que ocupou
o cargo de especialista em políticas públicas e gestão governamental nessa Secretaria até o
ano de 2012.
As entrevistas foram orientadas pela aplicação de um questionário estruturado com doze
perguntas abertas que buscou contemplar temas essenciais e inerentes ao propósito do
governo eletrônico, tais como: controle social, transparência, prestação de contas, participação
social, interação entre governo e sociedade, sociabilização e acesso a informações. Essa
análise ainda está fundamentada na própria investigação do portal feita nos últimos cinco
meses que, por sua vez, também se baseou pelo modelo proposto por Pinho (2008).
Desenvolvimento
Investigando os portais governamentais das Secretarias Estaduais de Planejamento
A avaliação dos portais das Secretarias de Planejamento dos estados privilegiados nesta
pesquisa revelou que, de forma geral, apresentam boa configuração. Os únicos que não
apresentavam um mapa de orientação foram o de Pernambuco e o da Bahia. Apesar de
apresentar essa ferramenta, o portal do Rio de Janeiro surpreendeu pelo fato de a mesma não
funcionar da maneira como se espera, isto é, o mapa disponibilizava links para outras
Secretarias do Estado em vez de estruturar o conteúdo do próprio portal. No portal do Ceará,
o mapa de orientação era apresentado na forma de um ícone, de modo que partiria da
subjetividade do usuário entendê-lo ou não como referente a um mapa. A ferramenta de
busca, imprescindível para a facilitação da navegação, só não foi encontrada nos portais de
Ceará e Pernambuco. Tais ferramentas são úteis e importantes para dar agilidade ao usuário a
fim de que encontre o que necessita.
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Todos os portais apresentaram layouts agradáveis3, com cores leves e bom espaçamento
entre links e informações. Os portais da região Nordeste poderiam apresentar as opções para
aumento e diminuição da fonte. Além dessas opções, os portais do Rio de Janeiro, São Paulo
e Minas Gerais também ofereciam a opção de contraste entre letras e o pano de fundo. Essas
ferramentas são importantes para facilitar a leitura. Um aspecto observado no portal da Bahia
é que, embora não haja tais opções, as informações dispostas possuem tamanho de fonte
maior do que normalmente se costumar encontrar em outros portais.
Todos apresentavam bem suas informações em destaque na página inicial. O portal de
São Paulo se sobressaía pela qualidade do modelo visual exposto. As informações destacadas
se assemelhavam, em termos de desenho gráfico, às notícias veiculadas em grandes jornais
eletrônicos, por exemplo, como a Folha de São Paulo. No portal da Bahia, as notícias
principais podem ser visualizadas em formato box ou lista. A diferença entre esses formatos é
que, no modo lista, o usuário tem acesso às informações iniciais da notícia. No formato box,
só é possível visualizar o título da mesma. Quanto à facilidade de acesso aos links, os portais
de Ceará, Pernambuco e Bahia apresentaram certa deficiência no período da análise, no
sentido de que para se chegar à informação desejada era necessário que o usuário percorresse
um longo caminho entre os links. No portal do Rio de Janeiro, inúmeros links levavam a uma
página com erro.
No que se refere ao grau de informação proporcionado pelos portais, foi percebido que,
de forma geral, atendem satisfatoriamente a demanda do usuário. Os portais da região
Nordeste disponibilizam as informações sobre atos governamentais em áreas específicas,
destinadas às últimas notícias, atualizadas quase que diariamente. O portal de São Paulo
também apresenta bem essas informações através de um “Clipping Regional”. No portal de
Minas Gerais é possível encontrá-las no link “Banco de Notícias”, ao passo que, o portal
fluminense, apenas veiculava notícias que diziam respeito exclusivamente às agendas da
unidade gestora.
Não houve problemas para acessar as diversas áreas analisadas dos portais. Pedidos de
cadastramento prévio só foram encontrados nos portais do Rio de Janeiro (para acessar o link
do Diário Oficial), de São Paulo (para acessar os editais de licitações por pregão eletrônico), e
no de Pernambuco. Considerando a necessidade do cadastro esse foi realizado em pouco
tempo, o que não caracterizou um atraso substancial na consulta, mas, há que se levar em
conta a possibilidade dos usuários desistirem da consulta ao se depararem com essas áreas
restritas. Outra dificuldade foi encontrada no portal de Pernambuco quando o link “Todos por
PE” apresentou falha no direcionamento, indicando que o usuário não teria as condições
necessárias para tal acesso, sem, no entanto, esclarecer quais condições seriam essas.
O link para a versão eletrônica do Diário Oficial foi encontrado em destaque nos portais
do Ceará, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia. O que surpreende é o fato deste link não ter
sido encontrado nos portais de Pernambuco e São Paulo. Surpreende pela importância que
possui e por ser um elemento básico de comunicação e transparência com o público. Quanto
ao acesso às licitações do Estado, o portal do Ceará disponibilizava um link que direcionava o
usuário para o “Portal Compras”, onde eram apresentadas as informações referentes às
compras, licitações e serviços. O portal de São Paulo também apresentava um link de acesso
às licitações. O portal da Bahia exige do usuário certa paciência para localizar o acesso a esse
serviço, pois não há qualquer referência na página inicial, o que se verifica é a possibilidade
de acessar o link “Transparência Bahia”. Ao fazê-lo, o usuário é direcionado a uma página em
que consta o link “ComprasNet”. Nesse espaço, ele poderá acessar as informações sobre os
serviços de compras eletrônicas e licitações do Estado.
3 “Entende-se por layout agradável aquele que tem uma programação visual leve (de cores não muito
agressivas) e com equilíbrio entre espaços vazios e espaços de informação. Assumimos que é uma definição puramente subjetiva, variando de observador para observador” (Pinho, 2008, p. 483).
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No período da pesquisa, percebeu-se que o portal de São Paulo foi o único a apresentar
um link destinado à atração de investimentos para o Estado, o único que soube explorar o
potencial da comunicação via internet para divulgar as capacidades e vocações do Estado. O
link direcionava para um sítio arrojado, com muitas informações econômicas sobre São Paulo,
divididas em diversos setores, onde era possível fazer uma análise comparativa de seu
potencial econômico com o do país. Em nenhum outro portal foi encontrado um link para tal
fim. Em relação aos outros serviços, o único que disponibilizava algum serviço ao cidadão foi
o do Ceará, através de um link chamado “Extrato de pagamento e Declaração de
Rendimento”. Em relação à disponibilização de consultas tributárias e 2ª via de carnês, nada
pode ser encontrado nos referidos portais.
Os portais de Minas Gerais e Rio de Janeiro apresentam peculiaridades em relação a
esse serviço. No primeiro, o usuário encontra um link que o direciona para o “Portal de
Compras”. Todavia, para que o sistema funcione corretamente e permita o acesso a esse portal
é necessário que o usuário utilize o navegador Firefox versão 2 ou superior ou o Internet
Explorer versões de 6 a 9, caso contrário está sujeito a “diferentes erros que poderão ocorrer
durante as operações”. Da mesma forma, o cidadão que tiver interesse em acessar o sistema
de aquisição e compras do Rio de Janeiro só poderá fazê-lo mediante o uso do navegador
Internet Explorer de versão igual ou superior a 6. Com o avanço da tecnologia e da
diversidade proporcionada por ela se esperaria poder acessar esses serviços através de outros
navegadores de importância similar, sem que houvesse a necessidade de se utilizar um único
sistema de navegação. No caso de Pernambuco, embora não tivesse sido encontradas
informações sobre tais serviços ou links que conduzissem a elas no portal de sua Secretaria de
Planejamento, essas estavam disponíveis no “Portal da Transparência” 4do Estado.
No que tange à transparência dos governos por meio dos portais de suas Secretarias de
Planejamento, o que se pode observar é que, em termos gerais, as informações
governamentais eram superficiais e genéricas. Com exceção do portal de São Paulo, os portais
possibilitaram de maneira insatisfatória o acompanhamento dos projetos por via eletrônica.
No portal cearense foi possível localizar apenas a execução financeira do governo referente ao
ano de 2010. No portal pernambucano existia um link chamado “Monitoramento das ações
em 2008”, onde se supunha uma tentativa de governo de envolver a sociedade com as
organizações governamentais. No entanto, o que pôde ser visualizado, de forma um tanto
desorganizada, foi o funcionamento da Secretaria na implantação deste programa a partir
2006. O portal da Bahia concentra no link “Planejamento” informações relacionadas a
instrumentos e orientações orçamentárias, bem como ao monitoramento e avaliação dos
resultados e, embora os arquivos em formato PDF demorem um tempo para ser baixado, o
conteúdo pode ser acessado. No caso mineiro, há um link que dá acesso às áreas de
“Planejamento e Orçamento”, como também há o que direciona para o “Portal da
Transparência” do Estado.
Ainda analisando esse aspecto, verifica-se que o Portal de São Paul dispunha de uma
área com demonstrativo da aplicação de recursos em diferentes áreas de política pública,
apresentados em um gasto dinâmico, com valores referentes aos principais programas,
possibilitando a comparação entre o que é definido por lei e o que estava em execução. No
link “Parcerias Público-Privadas”, projetos, objetivos e custos eram detalhadamente
apresentados. O portal também apresentava de maneira exemplar os dados referentes ao
orçamento, disponíveis desde 2007, e que poderiam ser comparados ano a ano. O portal
pernambucano, por sua vez, apresentava os dados referentes ao relatório da ação do governo
4 No âmbito federal, o Portal da Transparência foi criado em 2004 por iniciativa da Controladoria Geral da
União (CGU) com o propósito específico de combater a corrupção e aumentar a transparência pública, mediante a promoção da transparência dos gastos públicos e o incentivo ao controle social (Prado et al, 2012, p. 26).
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(de 2007) de maneira rudimentar, em formato Word e com uma linguagem pouco complexa.
O portal do Rio de Janeiro apresentava razoavelmente bem seus dados.
Tais constatações permitiram a impressão de que os governos ainda não estivessem
engajados em uma genuína manifestação de accountability5, visto que dispunham dos
suportes tecnológicos sem que, no entanto, se utilizassem de suas ferramentas para apresentar
de forma transparente suas ações e seus dados financeiros. A esse respeito, ao analisarem o
uso das novas tecnologias para a promoção da transparência, Prado et al (2012, p. 19),
reconhecem o poder das novas TICs para a concretização do ideal de um governo
transparente, mas observam que “é preciso, antes de tudo, fortalecer as instituições, o sistema
de representação política, aprofundar a democracia participativa, buscar o estabelecimento de
consensos e a formulação de políticas públicas mais efetivas, o que demanda, em princípio, a
existência de governos responsáveis (accountable) e verdadeiramente democráticos”.
O último aspecto analisado nos portais eletrônicos daquelas Secretarias estava
relacionado à presença de mecanismos de participação popular e interação. Foi verificado que
todos os portais dispunham de ao menos uma ferramenta de contato dos cidadãos com os
agentes governamentais. O portal do Ceará fornecia o endereço físico para correspondência e
telefone para contato. Apesar da existência de um link “Fale Conosco” no portal
pernambucano, houve bastante dificuldade para enviar uma pergunta, pois o portal
apresentava erro na execução desta ferramenta. No entanto, a pergunta pôde ser enviada e a
resposta chegou apenas duas semanas depois do contato estabelecido. Os portais do Rio de
Janeiro, Minas Gerais, Bahia e São Paulo também disponibilizavam o link “Fale Conosco”. O
portal fluminense oferecia, assim como o pernambucano, o endereço físico, o telefone e o
endereço eletrônico. Os portais de Minas Gerais e Bahia apenas apresentavam o formulário
eletrônico para o envio das questões. Apesar de dispor desse canal de comunicação não eram
oferecidos quaisquer outros meios de contato nesse espaço. Percebeu-se nesses dois portais
que o endereço físico das Secretarias aparece em todas as páginas dos respectivos sítios. No
caso da Bahia, além do endereço físico, também é informado o telefone geral e o telefone da
Ouvidoria. De modo similar ao portal fluminense, o envio das perguntas no portal de São
Paulo se deu sem problemas e as respostas chegaram dois dias depois.
O portal de São Paulo, aliás, foi o que apresentou o sistema de contatos mais completo,
disponibilizando cinco canais de comunicação: formulário eletrônico, correio eletrônico,
telefone, endereço físico para apresentação pessoal e endereço para carta, além de
disponibilizar um link para sítios relacionados, como ouvidorias de outros órgãos e PROCON.
O portal paulista também apresentava um sistema de ouvidoria bem completo, inclusive,
introduzindo o usuário através de um pequeno informativo a respeito da importância desse
canal de comunicação. Esse sistema de ouvidoria só pôde ser verificado novamente no portal
da Bahia. Outro aspecto positivo observado no portal de São Paulo foi o link “Conheça o
Ouvidor”, onde o usuário podia acessar o currículo com foto do responsável pelo setor. As
iniciativas desse portal demonstram a preocupação em abrir várias alternativas para interagir
com o cidadão e aproximá-lo mais do Estado. Também pode ser considerada como positiva a
5 As discussões sobre o conceito accountability emergiram na agenda pública em meados dos anos 1990.
Contudo, conforme Prado et al (2012, p. 16), ainda não há uma definição precisa para o termo na literatura e nem mesmo uma tradução desta expressão para a língua portuguesa. A Organização das Nações Unidas (ONU) a define, “sinteticamente, para línguas não-inglesas, como relacionado ao agir com responsabilidade e de forma responsiva ao mesmo tempo” (idem). Segundo esses autores, “quando esta ação se relaciona ao setor público, podem ser definidas diferentes dimensões de accountability”. Nessa perspectiva Richard Heeks (1998, apud Prado et al, 2012, p. 17) define onze dimensões internas e externas. Para os mesmos (id), em se tratando do papel desempenhado pelo governo eletrônico na transparência governamental, a dimensão externa da accountability pode ser considerada a mais importante na sua definição, uma vez que tal dimensão “pode ser entendida não só pela relação de legitimação do governo perante os cidadãos, mas, também, pela relação do cidadão como cliente de produtos oferecidos pelo setor público, um dos focos do governo eletrônico”.
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iniciativa do portal de Minas Gerais ao lançar sua Secretaria de Planejamento e Gestão nas
redes sociais, com página ativa no Facebook e Twitter. O portal carioca também se utiliza
desse último canal de comunicação. Esses canais permitem que a sociedade expresse suas
críticas em tempo real, tirem suas dúvidas, solicitem informações e cobrem respostas.
Quanto aos mecanismos de participação social, constatou-se que o portal de São Paulo
foi o único que possibilitou uma lista de “Perguntas Frequentes”, ainda assim restrita à área
referente às “Parcerias Público-Privadas”. Também se verificou que nenhum dos portais
disponibilizava um canal de discussão de políticas públicas antes de sua elaboração pelo pode
Legislativo, nem mesmo uma pesquisa de opinião ou de avaliação dos serviços públicos.
Além do portal de São Paulo, que possibilitava o acompanhamento dos Projetos de Parcerias
Público-Privadas, nenhum dos demais dispunha de tal ferramenta. Nesse particular, Borges e
Jambeiro (2012, p. 45) destacam a internet como “um canal em que os atores podem
problematizar suas questões e interesses a partir da sua própria elaboração”, mediante a
abertura de espaços para a discussão.
Dada essas análises e considerando a ampla gama de possibilidades proporcionadas pelo
uso das novas tecnologias, torna-se importante refletir sobre o uso que os cidadãos podem dar
à internet no seu envolvimento com questões políticas, mas, principalmente, sobre a abertura
que o agente público está disposto a conceder à sociedade por meio de mecanismos que
permitam compartilhar com a mesma a elaboração de políticas mais abrangentes. A avaliação
dos portais governamentais das Secretarias Estaduais de Planejamento dos estados de Rio de
Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Ceará, Pernambuco e Bahia evidenciou a necessidade de se
criar ferramentas e canais de participação que permitam o provimento de informações
relevantes e a abertura do Estado à sociedade para a discussão da agenda pública.
Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão do Rio de Janeiro (SEPLAG-RJ) e a Lei
de Acesso à Informação: por uma maior governança pública eletrônica
A Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão do Rio de Janeiro (SEPLAG-RJ) foi
criada pelo Decreto nº 40.486, do dia 1º de janeiro de 2007, a partir da reforma administrativa
promovida pelo governador Sérgio Cabral que reduziu a estrutura do Estado com o objetivo
de melhorar a gestão pública. A base para a sua criação está na fusão entre a Secretaria de
Controle e Gestão, a Secretaria de Planejamento e Integração Governamental e a Secretaria de
Administração e Reestruturação. Desde a posse do então governador, em seu primeiro
mandato, assume como Secretário desse novo órgão o senhor Sérgio Ruy Barbosa.
Dentre as atribuições dessa Secretaria, destaca-se: planejar e coordenar a ação
governamental, mediante a elaboração, o acompanhamento e o controle de planos, programas
e projetos globais e regionais, de duração anual e plurianual, bem como o estudo e a
proposição de diretrizes para o desenvolvimento econômico e social do Estado;
executar, acompanhar e controlar as atividades orçamentárias, de administração financeira e
de contabilidade, e a elaboração e execução dos orçamentos fiscal e de investimento das
empresas controladas pelo Estado; coordenar, compatibilizar, avaliar a formulação e a
operacionalização das políticas públicas, bem como propor alternativas de correção e
redimensionamento das ações governamentais; articular as diversas iniciativas e projetos das
áreas de racionalização, reestruturação organizacional, governança eletrônica e modernização
da gestão com vistas à inovação, eficiência e eficácia do Poder Executivo6.
O Superintendente de Governança Eletrônica da SEPLAG-RJ, Henrique Lima, define as
atribuições dessa Secretaria a partir das suas cinco áreas de competências: Planejamento,
Orçamento, Patrimônio, Recursos Humanos e Recursos Logísticos. “Essas são as áreas que a
6 Fonte: Site oficial da Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão do Rio de Janeiro (SEPLAG-RJ). Disponível
em: < http://www.rj.gov.br/web/seplag>.
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SEPLAG-RJ executa no sentido de gerir e definir normas gerais para o governo. São áreas
que, de certa forma, fornecem meios para que as pessoas possam realizar políticas públicas”.
Sobre o cargo que ocupa desde 1º de janeiro de 2007, afirma que, “do ponto de vista prático, é
uma Superintendência que trata, em primeiro lugar, de TI, e em segundo lugar, de governo
eletrônico”, onde desenvolve um trabalho gerencial e administrativo.
Em termos de governo eletrônico, o mesmo admite que “estamos numa fase em que a
gente pode considerar como um primeiro ciclo”. Nesse sentido, alega que “quando a gente
assumiu o governo do Rio de Janeiro as coisas eram muito desestruturadas. Por exemplo, a
área de compras não tinha nenhum sistema de informação; tudo se organizava por processos
administrativos. Não havia nem sequer base de dados. Na área de pessoal, não havia um
sistema de gestão de pessoas”. Diante desse contexto, Henrique Lima observa que a
Superintendência de Governança Eletrônica da SEPLAG-RJ tem se organizado naquelas
cinco áreas, “desde o início desse mandato em 2007 até os dias de hoje”, para a implantação
de sistemas de informação que possam gerar informações do ponto de vista do governo
eletrônico. Contudo, afirma ser um processo gradual que depende dos avanços alcançados em
cada área no que tange à organização dos dados.
Partindo do que inicialmente fora exposto por Henrique Lima e da definição de governo
eletrônico enunciada por Rogério Andrade7, a saber: “como toda forma de emprego de
tecnologia da informação e comunicação no setor público, visando reforma administrativa,
eficiência da burocracia, por um lado, e, por outro, gerando canais de comunicação, de
participação de servidores, entre cidadãos, fornecedores, enfim, todos os interessados, todos
os grupos de interesses (stakeholders), que atuam direta ou indiretamente nos temas afetos à
atuação governamental”, torna-se indispensável uma análise sobre as atuais condições do
portal eletrônico da SEPLAG-RJ com a finalidade de esclarecer os avanços, as dificuldades e
os desafios do governo eletrônico como um novo modelo de gestão pública. O referido portal apresenta boa configuração, dispondo de um layout agradável,
ferramentas que facilitam a navegação do usuário (mapa de orientação e a ferramenta de
busca), informações relevantes em destaque na página inicial e facilidade de acesso aos links.
Possui uma programação visual leve e equilíbrio no espaçamento entre links e informações.
Oferece as opções de aumento e diminuição da fonte e de alto contraste entre as letras e o
pano de fundo, que consistem numa alternativa para a visualização do portal a fim de facilitar
a leitura. Conforme foi destacado na primeira parte desse relatório, o mapa de orientação
disponibiliza links para outras secretarias e órgãos de governo em vez de estruturar o
conteúdo do próprio portal.
Sobre as informações em destaque, percebeu-se a divulgação de notícias relacionadas às
ações da SEPLAG-RJ, como também a informações de serviços para os servidores do Estado
e cidadãos em geral. Além do painel interativo que permite o acesso a três órgãos de governo
relacionados a essa Secretaria, também são disponibilizados banners de acesso a serviços
como o portal do Rio Poupa Tempo, o Sistema de Consignações do Estado do RJ e a Consulta
às Remunerações, bem como a links de informações sobre os Relatórios dos Municípios em
Dados e a Disponibilidade de Bens Móveis Disponíveis para Transferência.
Os menus a serem consultados estão disponíveis de maneira clara e objetiva. No caso de
haver conexão com outros links, esses também estão dispostos de maneira clara e possuem
fácil acesso. Também se verifica na página inicial o link que dá acesso ao Diário Oficial do
Estado, todavia, é necessário um cadastramento prévio para acessá-lo. Embora o cadastro seja
realizado em pouco tempo, há que se considerar a possibilidade do usuário desistir da consulta
mediante essa restrição. Seria interessante que o acesso a esse documento fosse livre,
7 Ocupou o cargo de especialista em políticas públicas e gestão governamental pelo período de um ano e meio
na SEPLAG-RJ, tendo saído no início de 2012.
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independente de qualquer restrição, visto ser um elemento básico de comunicação e
transparência com o público. A SEPLAG-RJ não disponibiliza em seu portal uma seção de
atos governamentais. As informações disponíveis estão mais referidas à veiculação de notícias
que dizem respeito às agendas da unidade gestora do que a esses atos. Essas notícias são
atualizadas quase que diariamente pela Assessoria de Comunicação8 que, por conseguinte, é
órgão responsável pelo gerenciamento e atualização do referido portal.
O serviços oferecidos por essa Secretaria estão concentrados no menu “Serviços”, onde
há uma ferramenta de busca que permite ao usuário delimitar a pesquisa por palavras,
conforme o perfil a que se destinam os serviços ou por ordem alfabética. Os tipos de serviços
oferecidos estão divididos de acordo com os diferentes perfis: Cidadão, Fornecedor, Governo,
e Servidor Público. Há ainda o link para o “Serviço de Acesso a Informações”, que permite ao
interessado “ter acesso a informações contidas em documentos em poder de órgãos e
entidades públicas da administração direta e indireta do Poder Executivo do Estado do Rio de
Janeiro”9.
Também é possível acessar através desse menu o link para “Consulta à Remuneração”
de todos os servidores públicos e militares ativos, empregados celetistas, temporários,
requisitados, ocupantes de cargos em comissão ou função de confiança dos órgãos da
Administração Direta e Indireta do Poder Executivo do Estado do Rio de Janeiro. A consulta
pode ser realizada por qualquer cidadão mediante o número do CPF ou parte do nome da
pessoa a ser pesquisada. O acesso a informação é rápido e sem restrições. E, finalmente, tem-
se o link de “Serviço de Acesso ao Contracheque dos Ex-Participantes e beneficiários da
Previ- Banerj”. Ao clicar nesse link o usuário é direcionado para um site fora do portal. A
consulta é restrita aos ex-participantes e beneficiários e só é possível mediante senha
particular dos mesmos.
Os “Serviços para o Cidadão” estão divididos em sete links: CPF, Economia, Justiça –
Processos Judiciais, Legislação, Legislação Tributária Básica, UPO – Acompanhamento de
Processos, Valor da UFIR (2000 em diante). Desses, chama atenção o referente à “Economia”
que se supõe ser um link destinado à atração de investimento para o Estado. Ele possibilita o
acesso ao link “Incentivos ao Investidor – AGERIO” que, por sua vez, direciona para o site da
Agência Estadual de Fomento, cujo objetivo principal é estimular o desenvolvimento
econômico do Rio de Janeiro10
. O link “Justiça – Processos Judiciais” disponibiliza links que
direcionam para órgãos do Poder Judiciário estadual, como Tribunal de Justiça, Corregedoria
Geral da Justiça e Defensoria Pública Geral.
Quanto aos links de Legislações, o primeiro apresenta diversas legislações que
poderiam ser organizadas no portal conforme as áreas de referência, por exemplo, leis de
trânsito, de meio ambiente, de arquivos, de tributos, etc. Os links, na verdade, direcionavam
aos sites em que as legislações poderiam ser consultadas, o que demandaria mais uns passos
na consulta do usuário. O acesso às legislações sobre o meio ambiente não puderam ser
acessadas, pois as páginas listadas não foram encontradas ou eram inválidas. Ao clicar no link
“Legislação Tributária Básica” o usuário é direcionado ao portal da Secretaria de Estado de
Fazenda (SEFAZ), onde as legislações estão organizadas conforme área e matéria a que se
8 A equipe da Assessoria de Comunicação Social da SEPLAG-RJ é composta por quatro profissionais com
formação na respectiva área de atuação. 9O requerimento a essas informações deve ser feito mediante o preenchimento do formulário-padrão e do
termo de responsabilidade que estão disponíveis em arquivo PDF nesse mesmo link. Não há demora para baixar o arquivo. 10
Os produtos da AGERIO são destinados para os setores público e privado e “vão desde o crédito mínimo de R$ 300 para os microempreendedores até financiamentos robustos para grandes empresas e investimentos em pesquisa e desenvolvimento”.
Departamento de Ciências Sociais
destinam. Apesar de alguns links permitirem o acesso imediato às leis, diversas páginas que
não puderam ser acessadas, pois também não foram encontradas no servidor.
O acesso aos “Serviços para o Fornecedor” encontra certa restrição. É disponibilizado
ao usuário link para acessar o Sistema Integrado de Gestão de Aquisições (SIGA) do governo
do RJ, que consolida todas as informações sobre as licitações realizadas pela SEPLAG-RJ.
No entanto, o sistema SIGA é somente compatível com o navegador Internet Explorer versão
6 ou superior. Caso o usuário não disponha desse navegador, não poderá ter acesso aos
processos de compras do poder executivo do Estado do Rio de Janeiro, bem como às compras
diretas. Sem levar em conta essa restrição, o assessor de Comunicação Social da SEPLAG-RJ,
Lúcio Santos, reconhece como aspectos positivos desse sistema a possibilidade de qualquer
pessoa acompanhar um pregão eletrônico via internet e o estimulo à competitividade entre os
fornecedores, uma vez que a implantação desse sistema fez com que aumentasse a oferta de
empresas querendo ser fornecedores do Estado. Ele também reconhece a economicidade que
pode ser gerada nos gastos públicos pela incorporação de novas tecnologias. Conforme o
mesmo, “a vantagem disso para o Estado é que passou a comprar mais barato porque a
competição aumentou, e aumentou porque mais fornecedores puderam participar”.
Em se tratando dos “Serviços para o Governo”, são apresentados quinze serviços,
metade dos listados para os Servidores Públicos. Dentre eles, há os que possuem acesso
restrito, como o de Controle e Pesquisa de Preços, o Sistema de Informações Gerenciais e o
Portal Corporativo; os links de serviços que direcionam para a página inicial do Portal do
Governo do Estado do Rio de Janeiro, como o de Manual de Auxílio Alimentação; os links
que direcionam a documentos que não puderam ser encontrados no servidor, como o Atestado
de Acessibilidade e as Listas de verificação da acessibilidade de deficiências auditiva, motora
e visual; os links que não possuem nenhum conteúdo, como o de Resoluções SEPLAG; e,
finalmente, aqueles cujos endereços eletrônicos também não foram encontrados no servidor,
como os do Sistema Integrado de Gestão Orçamentária (SIGO) e o da Programação
Orçamentária (SPO).
Os “Serviços para os Servidores Públicos” estão listados em ordem alfabética. Em sua
maioria, consiste na divulgação de informações sobre como requerer alguns direitos e
auxílios, por exemplo, aposentadoria, licença para casamento, auxílio funeral, etc. Há também
links para acesso a contracheques e informe de rendimentos, bem como à lista de convênios
com unidades de ensino e estabelecimentos credenciados com o estado. O servidor também
pode ter acesso aos endereços dos postos de atendimento para a realização da perícia médica,
assim como ao calendário de pagamento do ano vigente. O número maior de serviços
oferecidos para os servidores públicos justifica-se, segundo Lúcio Santos, porque “este é o
nosso alvo (...), essa é a nossa sociedade. É claro que a gente está aberto a toda sociedade
porque o portal é web, (...), mas, efetivamente, as informações que estão ali têm um interesse
maior por parte de quem é servidor público”.
De acordo com aquela classificação de Prado (2009, apud Pinho, 2012, p. 25) quanto
aos portais governamentais, pode-se classificar o portal eletrônico da SEPLAG-RJ como um
portal de entrada, visto configurar-se como “um veículo de apresentação do governo e
fornecimento de links para os serviços ou informações públicas prestadas pelos órgãos do
governo”. De fato, também é assim que Lúcio Santos o define: “o portal da SEPLAG-RJ é a
porta de entrada que a sociedade procura para as informações relativas ao planejamento,
orçamento e gestão”. No entanto, é possível questionar que tipo de informações e serviços o
agente público está querendo oferecer quando restringe o acesso aos mesmos ou disponibiliza
links com erro, que não possuem conteúdo ou cujos documentos não puderam ser
encontrados.
No que se refere à transparência do governo por meio do portal, percebeu-se certa
preocupação em disponibilizar uma grande quantidade de informações. Os menus “Projetos”,
Departamento de Ciências Sociais
“Licitação”, “Legislação”, “Planejamento RJ”, “Orçamento RJ”, “Patrimônio RJ”, “Recursos
Humanos” e “Recursos Logísticos” disponibilizam o acesso a muitos links que concentram
informações referentes à prestação de contas. Apesar de ter sido feita uma análise detalhada
de cada link, será levado em conta apenas os mais relevantes para o que se pretende avaliar
nessa pesquisa. No menu “Projetos”, percebeu-se que apesar de ser disponibilizado ao
cidadão as informações básicas sobre cada projeto, a maioria disponível em arquivos formato
PDF, não há um espaço que permita ao usuário ter um acompanhamento das ações. No menu
“Licitação”, o usuário pode acessar o link “Aviso de Licitação”, onde constam as informações
básicas sobre os pregões eletrônicos em vigência, sobre as concorrências e as tomadas de
preço, assim como dos anos de 2012 e alguns de 2011. Para ter acesso ao edital de cada ação
(pregão, concorrência ou tomada de preço), há a informação de que é necessário acessar o
portal eletrônico do SIGA. Contudo, esse portal tem aquela restrição. No link “Histórico de
Licitações”, o usuário tem acesso às informações básicas dos pregões eletrônicos realizados
em 2011 e 2010.
No menu “Legislação”, o usuário encontra uma ferramenta de busca que permite
selecionar a área de atuação a que se refere à legislação a ser pesquisada (Federal, Estadual,
Municipal) e também o tipo da legislação (Leis, Decretos, Resoluções). Nesse link, o usuário
também tem acesso a outros três dispositivos: Legislação Estadual, Resoluções SEPLAG,
Legislação Federal. No link “Legislação Estadual”, é permitido o acesso a Leis e Decretos
Estaduais, a Legislação Pessoal, aos Atos Legais do PPA, LDO e LOA, e aos Atos Legais da
Execução Orçamentária. Um aspecto observado no link “Legislação Pessoal” foi a indicação
de endereço eletrônico da SUBRE/SEPLAG ([email protected]) a todos os
usuários para o qual os mesmos poderão encaminhar suas observações. No entanto, não há
referência sobre o que seja a SUBRE/SEPLAG. Um e-mail foi enviado para o referido
endereço eletrônico solicitando esclarecimentos, mas, como resposta, foi recebida uma
notificação de que o mesmo não pôde ser enviado, pois o endereço é inválido. A sigla também
não foi localizada organograma da instituição em análise. Um e-mail foi encaminhado para o
Fale Conosco da SEPLAG-RJ, que respondeu prontamente informando que aquele órgão
mudou de nome e hoje se chama Subsecretaria de Administração de Pessoal – SUBAP. Não
consta qualquer informação no portal sobre tal mudança, muito menos foi verificada a
atualização da informação no link.
Os Atos Legais que dispõem sobre o Plano Plurianual, a Lei de Diretrizes
Orçamentárias e a Lei do Orçamento Anual referem-se aos exercícios de 2004 a 2007. Os
arquivos relacionados às legislações sobre as LOA não puderam ser acessados, pois os
documentos não foram encontrados no servidos. Da mesma forma, aconteceu com todas as
leis, decretos e deliberações referentes às Legislações Estaduais Relacionadas. Apesar de
haver a referência aos números das legislações, ao resumo do que ser trata cada uma delas e a
data de publicação no Diário Oficial, o acesso a ao seu conteúdo não é permitido. Tanto os
Atos Legais da Execução Orçamentária, como as Resoluções SEPLAG e as Resoluções
Conjuntas – SEPLAG referem aos exercícios de 2007 a 2012. Não se verificou em nenhum
deste qualquer documento referente ao ano vigente. Os arquivos disponibilizados nesses links
possuem linguagem com códigos técnicos, alguns deles apresentam notas para facilitar a
leitura e entendimento do usuário, outros não, de modo que ele tem a informação, mas pode
ficar sem entender o seu significado (sobretudo, no que tange à especificação de siglas e o que
tais códigos representam).
No menu “Planejamento RJ”, é possível acessar nove links, dentre os quais destacam-
se: Relatórios de Acompanhamento, Plano Plurianual (PPA): Planejamento &
Monitoramento, Planejamento Estratégico. A partir do primeiro, é possível ter acesso ao
Relatório de Produto das Ações Realizadas - Exercício 2013 e ao Relatório de Produto das
Ações Realizadas - Exercício 2012. Verificou-se no Relatório de 2012 que, apesar de possuir
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uma Introdução, não há um Índice que possa situar o leitor às informações que do documento
e facilitar o acesso às mesmas (o leitor tem que percorrer todo o documento até localizar a
informação desejada). Os Relatórios não são paginados. Eles apresentam as ações de todas as
Secretarias do Estado, não apenas a da SEPLAG. O Relatório de cada Secretaria é iniciado
com a divulgação de informações em forma de texto, com uma linguagem clara e de fácil
compreensão, a começar pela introdução dos programas (é apresentada uma introdução para
cada programa explicitado), seus objetivos e as análises dos mesmos (fazendo referência às
iniciativas tomadas, as ações empreendidas e aos resultados alcançados). Posteriormente, são
apresentadas informações quantitativas a partir de tabelas que possuem linguagem técnica em
alguns dados cuja análise poderá ser mais bem realizada por quem detém certo conhecimento
na área. Os dados referem-se à especificação do programa e seu objetivo, às ações
orçamentárias e sua finalidade, e também às execuções financeira e física. Ao final dos
Relatórios não há uma síntese dos dados informados. Essa é realizada separadamente em cada
programa apresentado.
No link “Plano Plurianual (PPA): Planejamento & Monitoramento”, o usuário encontra
uma breve introdução sobre o que consiste esse instrumento da gestão pública e os seus
objetivos. Também disponibiliza o acesso ao PPA 2012-2015, a Revisão exercício 2014, a
Revisão exercício 2013 e aos PPA anteriores. Ao clicar no PPA 2012 – 2015 ele será
direcionado a uma página em que poderá acessar os dois Volumes do documento, bem como
uma versão adaptada do mesmo (PPA de Bolso 2012-2015). Os arquivos podem ser baixados
em PDF. Trata de documentos elaborados como que para publicação. Possuem índice,
apresentação e introdução. No Volume I, o cidadão tem acesso à apresentação e introdução da
Lei que estabelece o Plano Plurianual 2012-2015 – Lei nº 6.162, a Contextualização
Estratégica e, também, a Programação Setorial do Poder Executivo, ou seja, são apresentados
os programas de cada Secretaria do Estado. Para cada Programação Setorial são apresentadas
as atribuições da Secretaria, o diagnóstico da área, o macro-objetivo e os objetivos setoriais.
No Volume II, a Lei nº 6.162 é novamente apresentada e introduzida ao leitor, há a
continuação da Programação Setorial do Poder Executivo, a Programação das Empresas
Estatais Independentes, bem como a Programação dos Demais Poderes (Assembléia
Legislativa, Tribunal de Contas, Tribunal de Justiça e Ministério Público). O interessado
também pode ter acesso por meio desse documento aos Projetos do Plano de
Desenvolvimento Sustentável do Norte e Noroeste Fluminense do Estado, às Metas e
Prioridades para 2012 e a Emendas Parlamentares. Em seguida é apresentado o detalhamento
dos programas finalísticos setoriais. Pode-se dizer que o PPA de Bolso 2012-2015 está mais
voltado para a circulação entre o público geral pela estrutura do documento (apenas 25
páginas, enquanto que cada Volume apresenta mais de 400 páginas), as informações
privilegiadas, a linguagem e os recursos informativos utilizados (mais didáticos e
ilustrativos). No link “Planejamento Estratégico”, o usuário terá acesso a uma breve introdução sobre
o que consiste o planejamento estratégico, como também aos Planos Estratégicos do Governo
do RJ para os anos 2007 a 2027 e de 2012 a 2031. Esses documentos estão disponíveis em
duas versões: português e inglês. No entanto, demora um pouco para carregar. A página
referente à versão em inglês do Plano Estratégico de 2007 a 2027 não pôde ser encontrada
(pode ter sido removida ou estar indisponível temporariamente). Os Planos Estratégicos estão
elaborados como que para publicação, a linguagem é de fácil compreensão e percebe-se a
utilização de recursos ilustrativos para facilitar o entendimento, por exemplo, tabelas, gráficos
e destaque de informações. O Plano Estratégico de 2007 a 2027 apresenta uma análise
situacional e prospectiva, a visão de futuro de longo prazo, a estratégia do governo, a
estratégia de promoção de investimentos e os projetos estratégicos estruturantes e prioritários.
O Plano Estratégico atual apresenta os contextos e tendências do Estado, a visão do Rio de
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Janeiro em 2031, os cenários e projeções, os desafios setoriais de longo prazo, as estratégias
setoriais e os investimentos setoriais programados.
No menu “Orçamento RJ”, o usuário encontra a possibilidade de acessar oito links,
dentre os quais destacam-se: Lei do Orçamento Anual e Quadro de Detalhamento de Receitas
e das Despesas. No primeiro, o usuário terá acesso a uma breve introdução sobre o Orçamento
do Estado e de como se dá o processo que transforma o projeto de lei na Lei Orçamentária
Anual. Nessa página, encontra-se disponível links para acesso às LOA dos anos de 2007 a
2013. Os documentos são grandes. Todos com mais de oitocentas páginas, compostos em sua
maioria pela apresentação das principais atribuições e legislação das unidades orçamentárias,
dos demonstrativos de receitas e despesas e da síntese da aplicação por fonte de recursos de
cada órgão do governo e das secretarias estaduais. O segundo link fornece ao usuário o
“Quadro de Detalhamento de Receitas e das Despesas de 2007 a 2008”. São documentos
estritamente técnicos, com informações quantitativas que demandam conhecimentos prévios
para melhor entendimento.
Dentre os três links oferecidos no menu “Patrimônio RJ”, destacou-se o referente ao
“SISPAT”, onde o usuário recebe informações sobre o Sistema de Gestão do Patrimônio
Imobiliário do Estado (SISPAT), que foi desenvolvido pela SEPLAG com o objetivo de
aumentar a eficiência da gestão dos bens imóveis do Estado. Segundo informações do portal,
“o SISPAT é um sistema de controle de patrimônio composto de ferramentas de
georreferenciamento, filtros de consulta, inserção de plantas de arquitetura, relatórios de
vistoria, laudos de avaliação, fotos e documentação legal”, que já está sendo utilizado por essa
Secretaria “com a migração dos dados existentes do sistema anterior, porém com grandes
limitações de informações”. São apresentados ao usuário os objetivos do Sistema e as
inovações na gestão pública com a sua implantação, mas não é disponibilizado o acesso ao
mesmo.
No menu “Recursos Humanos”, destacou-se o link “Estatísticas”, onde a SEPLAG-RJ
disponibiliza informações estatísticas relativas ao pessoal do Estado, a partir de 2008. Nesse
sentido, o usuário pode acessar links referentes à Despesa com Pessoal e Quantitativo de
Servidores, onde encontram disponíveis “as despesas liquidadas dentro do conceito
orçamentário e financeiro do Poder Executivo (administração direta, autarquias e fundações) e
dos outros poderes, além dos aposentados e pensionistas”, assim como links referentes à
Folha de Pagamento Normal, onde terá acesso a quanto “é gasto a cada mês e ao quantitativo
de pessoal, por órgão da administração direta”. A uma breve introdução a fim de situar o
usuário do portal nas informações que encontrará nesse espaço.
Os links relacionados à “Despesa com Pessoal e Quantitativo de Servidores” estão
organizados sob o nome Conceito Orçamentário e Financeiro - Despesa Liquidada. Ao clicar
no link referente a cada ano, o usuário será direcionado a outra página onde irá encontrar links
de acesso a arquivos em formato PDF que divulgam as despesas mensais do pessoal do Poder
Executivo e de outros poderes, bem como o consolidado de tais despesas. As planilhas
informam os tipos de despesas e os valores gastos em cada mês do ano, além de observações
pertinentes a certos valores. Os links relacionados à “Folha de Pagamento Normal” estão
organizados conforme os anos a que se referem e divididos em dois sublinks: “Total Ativos –
Janeiro a Dezembro” e “Total Inativos – Janeiro a Dezembro”. As planilhas apresentam o
valor bruto e o número de servidores pagos conforme o órgão da administração direta ou
indireta e o devido mês, respectivamente. O usuário também dispõe de informações quanto
aos conceitos referidos nos documentos.
No menu “Recursos Logísticos”, destaca-se o link “Rede Logística”, por meio do qual é
possível acessar outros dois links “Rede de Gerenciadores do SIGA” e “Rede de Pregoeiros”.
O primeiro link fornece ao usuário informações sobre o Sistema Logístico do Rio de Janeiro,
a implantação da Rede de Gerenciadores do SIGA – REDESIGA, que tem o “intuito de
Departamento de Ciências Sociais
estabelecer diretrizes, padronizar procedimentos, promover a capacitação e a certificação dos
agentes que nela atuam, bem como manter mecanismos de comunicação entre eles” e as
atribuições do Gerenciador do SIGA. Também é disponibilizado o link de acesso ao site da
REDESIGA e o endereço eletrônico para contato com os gerenciadores do SIGA. O link
referente à Rede de Pregoeiros - REDPREG, que tem “o objetivo de estabelecer diretrizes para
a atuação dos Pregoeiros, padronizar os procedimentos relativos às atribuições destes,
promover a certificação e a capacitação e manter mecanismos de comunicação entre os
mesmos”, está estruturado de modo semelhante a do primeiro. Oferece o link para acesso ao
site da REDEPREG e também endereço eletrônico para contato. Ambos os links identificam o
gerente atual de cada Rede.
Em face ao que foi encontrado nos menus e links expostos, é possível dizer que, de
certo modo, o portal da SEPLAG-RJ contribui para uma cultura política associada à
transparência e a prestação de contas das suas atividades. Para o Rogério Andrade, “a cultura
associada à transparência está diretamente ligada à oferta de informações, e isso o site da
SEPLAG-RJ tem. É claro que você pode fazer uma avaliação da qualidade, da quantidade, da
periodicidade de atualização desses dados, mas existem informações básicas, isso já é um
passo para que você inicie uma cultura de transparência”. De fato, foi observada uma
quantidade bem considerável de documentos, informações, dados financeiros referentes ao
governo atual e ao anterior, legislações, que se supõe responder a essa prestação de contas. No
entanto, cabe aqui iluminar uma das discussões mais importantes entre governo e eletrônico e
transparência salientada por Prado et al (2012, p. 32) “se a disponibilidade de informações no
site por si só promove transparência ou se a mera implantação de um programa de governo
eletrônico implica aumento de transparência governamental”.
Nessa discussão, Pinho (2008) considera que apesar das possibilidades trazidas pelas
novas TIC, os governos não a utilizam em proporção ao seu potencial. Em sendo assim, o
problema da transparência não é tecnológico, mas de cultura e desenvolvimento político.
Nessa mesma linha de análise, Prado e Loureiro (2006, apud Prado et al, 2012, p. 32)
consideram que o aumento da transparência governamental só ocorreria de fato mediante a
existência de mecanismos institucionais que “obriguem os governantes a prestar contas dos
seus atos ao conjunto da sociedade e pela existência de “vontade política” dos governantes
para criação de uma agenda voltada para a transparência”. A Lei Federal nº 12.527, de 18 de
novembro de 2011, surge como um desses mecanismos de imposição da prestação de contas
ao regular o acesso às informações governamentais, conforme previsto na Constituição
Federal de 1988.
Mais conhecida como Lei de Acesso à Informação, a legislação supracitada obriga os
órgão e entidades públicas federais, estaduais e municipais a divulgarem seus dados,
independente do pedido expresso de qualquer cidadão, no âmbito de suas competências. O
artigo 5º prevê como dever do Estado garantir o direito de acesso à informação mediante
procedimentos objetivos e ágeis, de forma transparente, clara e em linguagem de fácil
compreensão. A Lei ainda estabelece, em seu artigo 8, § 2º, que “os órgãos e entidades
públicas deverão utilizar todos os meios e instrumentos legítimos de que se dispuserem, sendo
obrigatória a divulgação em sítios oficiais da rede mundial de computadores (internet)”. Para
tanto, torna-se obrigatório garantir a autenticidade e a integridade das informações disponíveis
para acesso, bem como mantê-las atualizadas.
Dentre as informações mínimas que a lei obriga ser divulgada pelos órgãos e entidades
públicas, pode-se destacar: registros de quaisquer repasses ou transferências de recursos
financeiros; registros das despesas; informações concernentes a procedimentos licitatórios,
inclusive os respectivos editais e resultados, bem como a todos os contratos celebrados;
dados gerais para o acompanhamento de programas, ações, projetos e obras de órgãos e
entidades. O artigo 33 da referida lei dispõe que os servidores públicos que não prestarem as
Departamento de Ciências Sociais
informações solicitadas e não apresentarem justificativa legal poderão sofrer sanções
administrativas e até ser processados por improbidade. Os órgãos e entidades públicas
dispõem de um prazo legal de vinte dias para atender as solicitações de acesso à informação,
podendo ser prorrogados por mais dez dias, mediante justificativa expressa.
No âmbito da SEPLAG-RJ foi criada uma Comissão para tratar da Lei de Acesso à
Informação, que está ligada à Chefia de Gabinete. Segundo Lúcio Santos, “a Comissão foi
criada para estabelecer o que pode e o que não pode ser divulgado”. Henrique Lima considera
que “a Lei de Acesso à Informação é uma boa lei, só que ela não é uma boa lei 100% do seu
termo. (...) Cada vez que uma pessoa entra com um pedido [de acesso à informação], obriga
que uma série de pessoas tenha que trabalhar, tenha que se movimentar para responder; isso
tem custo”. Sob essa perspectiva, o Superintendente de Governança Eletrônica dessa
Secretaria ressalta que prestar contas tem um preço.
Como resposta a essa questão, o assessor de Comunicação Social evidenciou que,
“quando surgiu a Lei de Acesso à Informação, a gente tratou de pegar o máximo de
informações que a SEPLAG-RJ tem, e que pode disponibilizar no site, e colocar no site com o
objetivo não só de transformar a informação mais transparente possível, mas para evitar esse
tipo de coisa que o Henrique falou: o custo”. Essa também é a sua justificativa para a grande
quantidade de informações que o portal oferece. Ele ainda reconhece que essa grande
quantidade de informação pode dificultar a navegabilidade do usuário. No entanto, Luís
Fernando Taylor considera que o trabalho de transparência no portal está sendo feito não
apenas por conta da Lei, “mas também por isso, é um trabalho que já era feito anteriormente”.
No que tange aos mecanismos de participação da sociedade via portal eletrônico,
percebeu-se certa carência de canais de comunicação que permitam a abertura do Estado à
sociedade. Conforme salientado por Rogério Andrade, verificou-se que há uma preocupação
maior em disponibilizar informações do que de criar mecanismos de interação com sociedade
civil. “O portal disponibiliza informações básicas sobre o funcionamento daquele órgão “e
muito pouco em relação a canais de participação, outras esferas de deliberação tanto para os
servidores quanto para os cidadãos”. Diante disso, o mesmo considera que o “portal da
SEPLAG-RJ está numa fase muito informacional e pouco transacional e interativa”. Os
assessores de Comunicação Social citaram o twitter da SEPLAG-RJ e o e-mail “Fale
Conosco” como os meios disponíveis no portal que permitem a participação e interação com a
sociedade11
.
De acordo com Lúcio Santos, o “„Fale Conosco‟ e o twitter estão dentro desse espírito
de governo eletrônico de as pessoas não precisarem vir pessoalmente até o órgão para terem
suas demandas atendidas”. O primeiro é administrado pela Subsecretaria de Administração de
Pessoal. Segundo informaram, a Assessoria de Comunicação não participa do processo que
funciona da seguinte maneira: ao receberem o e-mail do usuário, essa Subsecretaria direciona
a solicitação para a área que está sendo demanda e essa área então responde através do
próprio “Fale Conosco”. O twitter, por sua vez, é totalmente administrado por aquela
Assessoria. É utilizado como um meio para divulgar informações, como também para receber
demandas e esclarecer dúvidas. Santos afirmou que, além desses mecanismos, há uma
preocupação da Assessoria de Comunicação de disponibilizar no site “todas as informações
que a gente imagina que possa ter algum tipo de demanda da sociedade”.
A esse respeito, foi indagado aos gestores se há na SEPLAG-RJ algum tipo de registro
e/ou estatísticas das demandas feitas pelos diferentes atores sociais. Os mesmos responderam
não haver. Sobre esse ponto, cabe ressaltar que a Lei de Acesso à Informação estabelece que
na divulgação das informações deverão constar, no mínimo, respostas às perguntas mais
11
O endereço eletrônico do “Fale Conosco” é oferecido no menu “Contatos”, enquanto o link de acesso ao twitter está disponível na própria configuração do portal.
Departamento de Ciências Sociais
frequentes da sociedade (Artigo 8, § 1º, inciso VI). Um questionamento possível no âmbito
dessa Secretaria de Planejamento seria “como responder ao que não se sabe que está sendo
perguntado?”. Também não se verificou no portal qualquer espaço ou canal de comunicação
que precede e permeia a construção de políticas públicas e nem para a avaliação dos serviços
públicos pelos cidadãos.
Finalmente, no caso da SEPLAG-RJ, a análise quanto ao potencial do governo
eletrônico para o desenvolvimento do controle social da administração pública revelou que
não está restrito apenas ao papel da internet, por meio de sua tecnologia. Há outros aspectos
que precisam ser considerados quando se discute a falta de participação política. Para Luís
Fernando Taylor, “a SEPLAG-RJ está dando para a população, para o cidadão, o que eles
precisariam para se envolverem”. No entanto, a distância que ainda se percebe entre a esfera
governamental e a sociedade pode analisada pela “crise generalizada de legitimidade política”
imperante no mundo contemporâneo e a “indiferença dos cidadãos por seus representantes”
(Castells, 2003a apud Pinho e Winkler, 2012, p. 92). Assim, por um lado, os políticos “divulgam suas declarações e
responsabilidades burocraticamente”, enquanto que os cidadãos
“[...] não vêem muito sentido em gastar energia em indagações
políticas, exceto quando atingidos por um evento que desperta
sua indignação ou afeta seus interesses pessoais” (idem).
Considerações Finais
A análise dos portais das Secretarias de Planejamento dos Estados privilegiados nesta
pesquisa revelou que, de forma geral, apresentam boa configuração e disponibilizam
satisfatoriamente informações e serviços aos cidadãos. Por outro lado, observou-se que as
informações governamentais referentes à prestação de contas à sociedade eram superficiais e
genéricas, passando a impressão de que eles ainda não estivessem engajados em uma genuína
manifestação de accountability. Nesse ponto, merece destaque o portal da Secretaria de
Planejamento da Bahia (SEPLAN-BA) que concentra no link “Planejamento” informações
relacionadas a instrumentos e orientações orçamentárias, bem como ao monitoramento e
avaliação dos resultados, introduzindo ao usuário o objetivo de cada instrumento
orçamentário, mas que não disponibiliza acesso para o acompanhamento de licitações e
compras, por exemplo.
Em se tratando dos mecanismos de participação popular e interação, foi verificado que
todos os portais dispunham de ao menos uma ferramenta de contato dos cidadãos com os
agentes governamentais. O sistema de contatos do portal de São Paulo é o mais completo,
apresentando cinco canais de comunicação, além de também possuir um sistema de ouvidoria.
Esse sistema só pôde ser verificado novamente no portal da Bahia. O portal de Minas Gerais
inovou ao lançar sua Secretaria nas redes sociais, com página ativa no Facebook e Twitter. O
portal carioca também se utiliza dessa última ferramenta. Todavia, evidenciou-se a
necessidade de se criar ferramentas que permitam o provimento de informações relevantes
para a discussão da agenda pública. A entrevista realizada com gestores da Secretaria de
Estado de Planejamento e Gestão do Rio de Janeiro revelou, por exemplo, que não há nessa
Secretaria qualquer tipo de registro das demandas solicitadas por atores distintos. Da mesma
forma, constatou-se que nenhum dos portais disponibilizava um canal de discussão de
políticas públicas, nem mesmo de uma pesquisa de opinião ou avaliação de serviços públicos.
O portal eletrônico da SEPLAG-RJ, que é gerenciado pela Assessoria de Comunicação
Social dessa Secretaria, pode ser avaliado como estando numa fase incipiente de governança
eletrônica, onde se percebe uma prioridade muito informacional e pouco interativa. Nota-se
uma preocupação em disponibilizar informações básicas no que tange às atribuições e
competências desse órgão, por exemplo, nas áreas de planejamento, orçamento, logística,
patrimônio e recursos humanos, mas, no entanto, não se verifica a mesma preocupação em
Departamento de Ciências Sociais
oferecer canais abertos de comunicação e de discussão entre a sociedade e o poder público
que permita aos cidadãos compartilhar em tempo real suas necessidades, sugestões e
avaliações.
A implantação da Lei Federal nº 12.527/2011 tem contribuído significativamente para o
processo de transparência e de prestação de contas das atividades da SEPLAG-RJ. Foi criada
no interior dessa Secretaria uma Comissão que trata da Lei de Acesso à Informação para
avaliar e responder as demandas dos diversos atores sociais pertinentes a esse dispositivo. A
obrigação legal de tornar público informações de interesse coletivo ou geral,
independentemente de requerimentos, incidiu no aumento da oferta de informações no portal
eletrônico. Contudo, ainda assim observam-se algumas restrições relacionadas ao grau de
informação e condições de acesso às mesmas que podem limitar a comunicação e a
transparência com o público.
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