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Paulo Cesar de Abreu Paiva Junior – Gestão de Políticas Públicas – EACH - USP LESTE (E-mail: [email protected] / [email protected] ) ACH3503 - TEORIAS DA DEMOCRACIA Prof. Dr. Wagner Pralon Mancuso Resenha da literatura recomendada - Aula 03 (John Stuart Mill) Governo Democrático e a Representação "Por todas essas considerações é evidente que o único governo capaz de satisfazer inteiramente todas as exigências do estado social é aquele em que o povo todo participe; que é útil, qualquer participação, mesmo nas funções públicas mais modestas; que a participação deverá ser por toda a parte tão grande quanto o grau geral de melhoramento da comunidade que o permita; e que é de desejar-se, como situação extrema, nada menos do que a admissão de todos a uma parte do poder soberano do Estado. Todavia, desde que é impossível à todos (...) participarem pessoalmente (...) segue-se que o tipo ideal de governo perfeito tem de ser o representativo..." (Stuart Mill, último comentário do cap. 3) No primeiro parágrafo do excerto recomendado o autor já se demonstra contrário à velha lógica aristotélica de que "não se importa quantos ou quem governe, mas sim para quantos e para quem se governa". A idéia de um "monarca justo" que governe pelo bom interesse de todos parece não mais ser justificável. Seu posicionamento é significativamente contrário ao postulado do "esclarecimento dos déspotas", sendo realista na medida em que infere a impossibilidade de um monarca "a tudo ver". Mesmo que tão idealizado líder fosse realmente real e presente - segundo o autor - a decorrente "apatia" da sociedade diante da participação absoluta do déspota no exercício governo, garantiria a ela apenas a perda de todo seu potencial para ter "voz (...) em seu próprio destino...". TEXTO BASE: John Stuart Mill - Considerações sobre o governo representativo - Brasília: editora da UnB, 1981. (caps. 3, 6, 7 e 8).

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Page 1: Governo Democrático e a Representação - Stoa Social · John Stuart Mill - Considerações sobre o governo representativo ... distante da idéia de igualdade e exercício da liberdade

Paulo Cesar de Abreu Paiva Junior – Gestão de Políticas Públicas – EACH - USP LESTE (E-mail: [email protected] / [email protected])

AACCHH33550033 -- TTEEOORRIIAASS DDAA DDEEMMOOCCRRAACCIIAA Prof. Dr. Wagner Pralon Mancuso

Resenha da literatura recomendada - Aula 03

(John Stuart Mill)

Governo Democrático e a Representação "Por todas essas considerações é evidente que o único governo capaz de satisfazer inteiramente todas as exigências do estado social é aquele em que o povo todo participe; que é útil, qualquer participação, mesmo nas funções públicas mais modestas; que a participação deverá ser por toda a parte tão grande quanto o grau geral de melhoramento da comunidade que o permita; e que é de desejar-se, como situação extrema, nada menos do que a admissão de todos a uma parte do poder soberano do Estado. Todavia, desde que é impossível à todos (...) participarem pessoalmente (...) segue-se que o tipo ideal de governo perfeito tem de ser o representativo..." (Stuart Mill, último comentário do cap. 3)

No primeiro parágrafo do excerto recomendado o autor já se demonstra contrário à

velha lógica aristotélica de que "não se importa quantos ou quem governe, mas sim para

quantos e para quem se governa". A idéia de um "monarca justo" que governe pelo bom

interesse de todos parece não mais ser justificável. Seu posicionamento é significativamente

contrário ao postulado do "esclarecimento dos déspotas", sendo realista na medida em que

infere a impossibilidade de um monarca "a tudo ver".

Mesmo que tão idealizado líder fosse realmente real e presente - segundo o autor - a

decorrente "apatia" da sociedade diante da participação absoluta do déspota no exercício

governo, garantiria a ela apenas a perda de todo seu potencial para ter "voz (...) em seu

próprio destino...".

TEXTO BASE:

John Stuart Mill - Considerações sobre o governo

representativo - Brasília: editora da UnB, 1981. (caps. 3,

6, 7 e 8).

Page 2: Governo Democrático e a Representação - Stoa Social · John Stuart Mill - Considerações sobre o governo representativo ... distante da idéia de igualdade e exercício da liberdade

Paulo Cesar de Abreu Paiva Junior – Gestão de Políticas Públicas – EACH - USP LESTE (E-mail: [email protected] / [email protected])

É interessante perceber o quanto a presente leitura nos lembra Tocqueville em

alguns aspectos: o autor até cita seu nome laudatoriamente quando comenta sobre a

extensão do sufrágio, no oitavo capítulo. Em um forte contraponto, Mill comenta que a

religião (sob certa forma) serviria unicamente para propósitos da salvação pessoal,

transportando uma inspiração restrita ao gênero social. Tal motivação talvez estivesse mais

distante da idéia de igualdade e exercício da liberdade conjunta que Tocqueville comenta

se valendo do mesmo exemplo, sob interpretação diferente.

Outra aproximação que podemos exercitar entre os dois estudos, são os comentários

do autor sobre os perigos e enfermidades que podem existir nos governos representativos.

Assim como Tocqueville fez em seu tratado sobre a democracia, Mill comenta sobre estas

potenciais dificuldades: dentre elas, a má delegação de poderes, a pior divisão e o exercício

das funções públicas, a incapacidade dos grupos controladores, a identificação de

interesses que não se identifiquem com o bem-estar geral da comunidade, dentre outras.

Stuart Mill comenta sobre o maior perigo dentre todos que enumera: "Um dos

maiores perigos da democracia, portanto, (...) está no sinistro interesse dos que ocupam o

poder...".

Posteriormente, fez uma revisão sobre os questionamentos acerca da noção da

"MAIORIA" e da "TOTALIDADE", e como principal consideração, pode comentar que

a democracia apresentou dois rumos de definição: o primeiro, a de que se trata de um

"governo de todo o povo, pelo povo todo, igualmente representado"; o segundo rumo, de

que a democracia na realidade casual em que se aplica, trata-se "do governo de todo povo

por simples maioria do povo de maneira exclusivamente representada".

Em linhas gerais, após a leitura do excerto recomendado, fica o questionamento:

com relação a democracia enquanto conceito também prático, como impedir os abusos de

seus preceitos sem contrariá-los?