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Inn er- ) C (. _ 2 , I-b ,r<) 0, 2 =. PeOAL-Q O'-' P C-0 Ac C,-,A GONSALVES, Elisa Pereira. Conversas sobre iniciacao a pesquisa cientifica. Campinas, SP: Alinea, 2001. Pasta n ° data%CQ / ' Professor Si L\n,q TANAP S Materfa Curso N.° Originais\ (apitulo I Projeto de pesquisa : primeiras questoes A exigencia de fazer urna pesquisa no final de um curso de gracuacao ou de pos - graduacao geralmente causa, entre os alunos, uma serisacao incomoda: a pes- quisa e compreendida como aquele trabalho dificil, que o aluno nao tern " a menor ideia de como se comeca". Quando, existe uma nocao de como se corneca, muitas vezes o aluno nab tem " ideia se vai conseguir terminar". Se pare o aluno o trabalho parece ser dificil, para o professor tambem nab e tarefa facil : antes mesmo de orientar o aluno sobre urn determinado terra, ele precisa desconstruir o "fantasma da pesquisa " ou o "pavor da mo- nografia", desfazendo as pre-nocoes e os preconceitos criados em torno dessa questao. Esse trabalho de., desconstrucao nab e tarefa facil diante da resistencia criada pelos alunos . 0 prirneiro passo para quebrar essa resistencia talvez seja o de criar urna abertura pare uma compreensao muito simples: a de que o processo de pest . uisa pode ser prazeroso . E preciso $ I /'

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Inn er- ) C (. _ 2 , I-b ,r<) 0,2 =. PeOAL-Q O'-'

P C-0 Ac C,-,A

GONSALVES, Elisa Pereira.Conversas sobre iniciacao a pesquisa cientifica.Campinas, SP: Alinea, 2001.

Pasta n ° data%CQ / '

Professor Si L\n,q TANAP S

Materfa

Curso

N.° Originais\

(apitulo I

Projeto de pesquisa : primeiras questoes

A exigencia de fazer urna pesquisa no final de umcurso de gracuacao ou de pos -graduacao geralmentecausa, entre os alunos, uma serisacao incomoda: a pes-quisa e compreendida como aquele trabalho dificil, que oaluno nao tern "a menor ideia de como se comeca". Quando,existe uma nocao de como se corneca, muitas vezes oaluno nab tem " ideia se vai conseguir terminar".

Se pare o aluno o trabalho parece ser dificil, para oprofessor tambem nab e tarefa facil : antes mesmo deorientar o aluno sobre urn determinado terra, ele precisadesconstruir o "fantasma da pesquisa " ou o "pavor da mo-nografia", desfazendo as pre-nocoes e os preconceitoscriados em torno dessa questao.

Esse trabalho de., desconstrucao nab e tarefa facildiante da resistencia criada pelos alunos . 0 prirneiropasso para quebrar essa resistencia talvez seja o de criarurna abertura pare uma compreensao muito simples: a deque o processo de pest. uisa pode ser prazeroso . E preciso

$ I /'

a

10 Elisa Pereira Gonsalves

ter como ponto de partida a ideia de que, pela frpnte, voce,podera mergulhar num espaco que pode,,ter comocaracteristica principal a alegria da descoberta.'E isso so.depende de voce!

Voce pode ate concluir a sua pesquisa sem estarenvolvido com o tema, transformando o seu trabalho emuma cruz a ser carregada. Mas se voce optar por colocarnesse cami ai a ens agradaveis, nao tenho duvida:o seu trabalho sera muito mais interessaute.

Estar envolvido com a pesquisa e muito im ortante,sobretudo porque a investigacao cientifica requer rigor,disc ciplina, aten o, enfim, um olhar que nao dispen-samos cotidianamente. Pesquisar da trabalho, sim, nao etarefa simples, mas nao e uma missao impossivel!

Ao optar por urn trabalho de pesquisa cientifica,voce se depara com a necessidade de tomar algumasdecisoes. Por exemplo, voce precisa definir o que vaiestudar, que tipo de abordagem ira fazer, que recursosmetodol6gicos ira utilizar. 0 que pode orientar vocediante de tantas decisoes?

A "chave do misterio", sem,duvida, esta relacio-nada a organizacao do projeto de pesquisa.

Quando resolvemos seguir um caminho ou fazeruma viagem, o primeiro passo, geralmente, e fazer umplanejamento. 0 projeto de pesquisa e uma expressaoescrita desse planejamento, e o documento que revelauma serie de decisoes que voce tomou para seguirviagem.

Para iniciarmos nossa conversa, varnos colocaralgumas questoes basicas como a definicao do que e umprojeto de pesquisa, sua estrutura basica para, em se-guida, esclarecermos alguns termos como monografia,dissertacao e tese.

Conversas sobre Iniciacao a Pesquisa Cientifica 11

i. Definindo o que a um projeto de pesquisa

Para realizar uma monografia e necessario or ani-zar primeiro? guia. E o momento de construir o seuprojeto de pesquisa.

Mas o que e um projeto de pesquisa?Certa vez, o professor Dr. Ettore Gelpi, da Universi-

dade de Paris I, convidado para participar na qualidadede examinador na banca de projeto de uma aluna quecursava o mestrado em Educacao na Universidade Fede-al da Paraiba, fez a seguinte consideracao: o momento

mais privilegiado de um curso de p6s-graduacao e aconstrucao e a analise do rp ojeto de pesquisa, pois la esta-rii inscrito o so , a vontade. Como uma planta que sefaz para construir uma Casa: e o desejo que esta contidoali.' A casa nao e o melhor momento, nao e a fase maiscriativa, 6:o, que " deu para. fazer".

O. jato de pesquisa deve funcionar como um guiado pesquisador em vela ao aos passosa s-eg .ix. Apesar deder um roteiro pre-estabelecido e rigorosamente elabo-rado, o projeto nao ,e imutavel, ao contrario, o caminhopercorrido ao longo da pesquisa acaba por imprimir-lhenovas caracteristicas, novos aspectos, colocando novasexigencias pare o investigador.

Podemos` dizer que o momento da construcao doproeto e o momento mais criativo e ind,vyd^zal__dopesquisador, como afirmou o professor Gelpi. For outrolado, tambem e certo que o processo de investigacao, pelasua riqueza, transforma o sonho, por vezes reduzindo-o,por vezes ampliando mais ainda os seus horizontes.

O roeto e uma apresentacao organizada doconjunto i s q,uevoce tomou Pm rela ao a inves-tiga ao cient ficaque pretendewem reender. Para que oprojef'o seja eficiente, ele precisa ser bern pensado e bemredigido, pois ele e um documento escrito, e a materia-lizacao de um planejamento.

12 Elisa Pereira Gonsalves

ro-'ef:bdeve ser entendido como um instrumentode o. Ele existe para dar uma direcao, para ajudar vocea descobrir pistas para compreender alguns problemas enao para criar um obstaculo para o seu entendimento!

Mas o projeto nao e uma proposta fechada, imuta-ve e inflexivel. Ao contrario! Ao longo da investigacaovoce pode incorporar novos elementos ao projeto,'elementos que nao foram previstos inicialmente. Essemovimento de abertura e pr6prio de qualquer atividadeplanejada.

0 ro' to deve ser entendido como um ro u- pois a um documento escrito resultante de um exer-cicio academico e cientifico -, e tambem como umproce so - pois e um instrumento dinamico, que tem aimportante caracteristica de ser .flexivel.

Atente tambem para a seguinte questao: o planeja-rnento da pesquisa ' i o dnte todo o proce cueinvestigacao e nao s6 no momento inicial. Voce elaboraum guia como ponto de partida - que e o projeto -, mas aolongo do estudo novos elementos podem ser incorpo-rados, outros podem ser descartados. Esse movimento deselecao/incorporacao de elementos e pr6prio da ciencia,e ele mesmo que imprime uma qualidade ao trabalho deinvestigacao cientifica.

0 projeto tambem preenche a seguinte finalidade:possibilita a comunicacao entre os seus pares, permitindouma troca, o que e uma experiencia muito rica e comumnos cursos de pos-graduacao..Expondo seu projeto paraseus colegas e professores, voce pode descobrir lacunas,enxergar novas possibilidades metodol6gicas, dentreoutras coisas.

Converses sobre lniciacao a pesquisa cientifica 13

E importante ressaltar tambem que o exercicio deelaboracao do projeto tern uma finalidade pedagOgica.Ao elabora-lo, voce estara exercitando certas regras dojogo cientifico, aprendendo a lidar corn elas em algumamedida. Nesse aspecto, esse exercicio de elaboracao efundamental para a formacao do pesquisador.

Nao se esqueca que, ao elaborar seu projeto, voceestara lidando corn elementos cientificos e extra-cienti-ficos. A elaboracao de um ro'e to _de e q sa am licelidar corn pelo menos tres dimensoes, que estao interli-gadas:%^ • a( nsao_tecn que remete para as regras

instituidas sobre a elaboracao de um projeto depesquisa cientifica, ja que existe um consenso nacomunidade cientifica sobre o mkleo basico quetodo^ojeto deve contemplar;

L • c `mensao teori a que corresponds as escolhas dopesquisador (terra, referencial teorico etc.) quenorteiam a reconstrueao_de._un hjefp de conhe-cimen#o._.eo, proce^imentos proprios ,consensuais no cameo da ciencia;

3 • a thrnensao afet va,^que revels o envolvimento dopesquisador corn o terra escolhido.

t. A estrutura basics de um projeto de pesquisa

Um projeto des^u.s,a pole ser or anizado devaries maneiras. Nao existe um padrao rigidamenteestabelecido e imutavel. Um pesquisador pods optar porapresentar o seu sumario do projeto da forma mais''^clasi'^ justificative,. problems, objetivos, metodo-log_ia, cronograma, bibhografia.

14 Ellsa Pereira Gonsalves Conversas sobre Iniciacao a Pesquisa Cientifica 15

Essa e uma estrutura basica que pode sera resen-tada de muitas outras formas. Uma autra- possibilidade apresentacao e a seguinte: orem o pro ema,ambito-da problematica, objetivos, consideracoes'te6-rico-met------gicas, cronograma e bibliografia. Tam-bem e comum encontrarmos projetos com a seguintesegtiencia: delineando o objeto de estudo, consideracoeste6rico-metodol6gicas, cronograma e bibliografia.

Qualquer que seja a sua apresentacao formal, oprojeto de ^es^uisa deve contemplar um ftucleo'basi .Isto significa que, mesmo que a forma deV apresentacaoseja diversa, todo projeto deve responder as seguintesperguntas:

o que psgW ui.a ' (Definicao do problema, hipoteses,' baseteorica e conceitual);

• or-`se pesquisarn (Justificativa da escolha doproblema ), _«.._ .___

• ara que -pesquisar' (ProPositos do estudo, seus.........-objetivos);_ .,_cotno pesquisar3 (Metodologia);giaa.ndo pesquisa.r7 (Cronograma de execucao);com que recurs- ? (Orcamento);pesquisado por quem;4 (Equipe de trabalho, pesqui-sacYores, coordenadores, orientadores).

(Deslandes, 1996, p. 36)

Esse e o nucleo basico de um projeto de pesquisa.Para comecar a elaborar o seu projeto, responda a cadauma das perguntas acima.

Ap6s tentar responder as questoes nucleares quecompoem o seu projeto de pesquisa, preste atencao nocaminho que voce esta tracando, nas partes que voce naoconsegue dissociar quando pensa no problema; nasquestoes que voce pretende dar maior visibilidade. Aten-tando para o caminho do seu pensamento - "como cheguei-ate essa questao?" - voce podera apresentar melhor e commais clareza as suas ideias.

Quando voce esta atento para o caminho do seupensamento pode perceber as conexoes 'que fez parachegar a uma questao, pode apontar com seguranca, porexemplo, em ue momento da sua reflexao o obietivo doseu projeto _emergiu. No_,geral,,.,Q_.Qbjetivo_d . prajLetoemeda problematizac,o que voce faz de um tema emuitas vezes fica dificil recorta-lo para, em seguida, fazeruma colagem na parte especifica do projeto destinada aosobjetivos. Nao crie esse tipo de obstaculo para voce: se oseu objetivo fica melhor na parte destinada ao problema,tudo bern. 0 importante nao e obedecer regras - que nosao fixas -, o importante e deixar que as suas ideias sejamexpostas cornk lareza. Nao assassine a sua ideia em nomede uma camisa-de-forca que voce mesmo criou.

Respondida cada pergunta do nucleo basico, e hora depensar na forma de apresentar o seu projeto. Lembre-se:

A forma de apresentacao do prpjeto esta, pri-meiramente, vinculada a construcao do problema, jaque esta intimamente relacionada ao conteudo. Istosignifica que, ao delimitar o seu problema, voce devepensar na exposicao mais adequada para o seu texto.

Por isso, dedique um pouco do seu tempo para pen-sar sobre a forma de organizacao do seu projeto. Lembre-se que existe uma l6gica na forma. Ela nao e depositariado seu projeto. Mais do que isso, a forma apresenta e faz oprojeto.-Voce ja sabe qual e o nucleo basico. A partir dal,sinta-se a vontade para dispor de forma criativa o seutrabalho.

Da mesma maneira que a estrutura do projeto temum nucleo basico, o percurso da investigacao cientificatambeM possui alguns elementos comuns. E interessantea contribuicao de Goldenberg (1999) neste momento. A

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16 Elisa Pereira Gonsalves

autora compara o processo de investigacao com umarelagdo amorosa. Vamos acompanha-la:

A pesquisa apresenta diferentes fases . A fase inicial,que pode ser chamada de exploratoria , lembra uma ' paquera'de dois adolescentes . E o momento em que se tenta descobriralgo sobre o objeto de desejo, quern mais escreveu (ou seinteressou) sobre ele , como poderia haver uma aproximacao,qual a melhor abordagem dentre todas as possiveis paraconquistar este objeto. (Goldenberg , 1999, p.72).

Observe que na fase explorat6ria voce esta sondan-do, buscando uma primeira aproximacao. Podemos dizerque a fase explorat6ria corresponde a um olhar, aindadistante, mas que indica uma atencao, um desejo.

Iniciada a "paquera", e necessario um cuidadomaior, uma disciplina. E o momento de organizar o pro-jeto de investigacao: '

Em seguida , vem a fase que equivale ao "namoro", umafase de maior compromisso que exige urn conhecimento maisprofundo , urna dedicarao quase que exclusiva ao objeto depaixao. E a fase de elaboragao do projeto de pesquisa em queo estudioso mergulha profundamente no tema estudado.(Goldenberg , 1999, p.72).

Segundo Goldenberg (1999), se a fase 'do "namoro"for bem-sucedida, o pesquisador acaba por envolver-seprofundamente com o seu objeto de estudo, iniciando afase do "casamento":

A terceira fase e o 'casamento ', em que a pesquisaexige fidelidade, dedicacao , atengao aoseu cotidiano, que efeito de altos e baixos . 0 pesquisador deve resolver todosos problemas que vao aparecendo, desde os mais simples(corno se vestir para . realizar as entrevistas ) ate os mais cru-ciais (como garantir a verba para a execucao da pesquisa).(Goldenberg, 1999, p .72-73).

Conversas sot re Iniclacao a Pesquisa Cientifica 17

Por fim, a autora apresenta o ultimo momento.Talvez seja uma das poucas "separacoes" felizes:

Por ultimo, a fase da "separacao", em que o pesqui-sador precisa se distanciar do seu objeto para escrever o rela-torio finalda pesquisa. E o momento em que a necessarioolhar o mais, criticamente possivel o objeto estudado, emque e preciso fazer rupturas, sugerir novas pesquisas. E omomento de ver os defeitos e qualidades do objeto amado.(Goldenberg, 1999, p.73).

3. Subjetividade e investigacao dentifica

Vamos refletir um pouco mais sobre a ideia de"distanciamento " no trabalho de investigacao cientifica,ja que e muito difundida no espago academico acompreensao de que quanto mais distanciado , melhorvoce enxerga o objeto de pesquisa.

Ao contrario de Goldenberg (1999), nao creio que a"separacao" seja uma condigdo necessaria para que possaemergir urn olhar mais critico sobre a pesquisa. Destacoaqui tres pontos importantes nessa discussao : o . rimeir, ,que diz respeito apossibilidade de compreender a partirdo envolvimento; o un„ o ponto, que se revere a rela-ao sujeito-2bjeto do conhecimento; e, por fim, a questao

d etividade do conhecimento.,4°' Sobre o rimeir ponto, destaco o seguinte: tenhoutrido uma certa desconfianca sobre o suposto "olhar

privilegiado" de posicoes que, de tao distanciadas, de taoiluminadas, nao enxerga mais. Proponho o caminho in-verso, aquele que acentua a cond cdo de estar e nvolvidopara buscar a compreensaoEstar envolvido nao ternaqui o sentido reducionista - tal corno muitas pesquisasparticipantes anunciaram - de fazer parte de uma deter-

18 Elisa Pereira Gonsalves

minada comunidade . Estar envolvido significa assumiruma condicao que e natural ao se humano : a condicao doestar junto . a condicao depertencer existencialmente auma ,.,-.de

A condicao de estar-juntoindica, de acordo comMaffesoli (1999), o reconhecimento de uqe o conheci-mento esta em liga^ao com oetadQ-dQmundQ, impondoum lulgamento de existencia - que esta aquem da discus-sao so re julgamento de fato e julgamento de valor.

Sobre esse tema , mais uma questao : n6s nos enxer-gamos como humanos atraves deuma racionalidade quee hist6rica, que e produto da "posicao . normal". das pes-soas que vivem em sociedade . Isto significa uma coisa, nominimo, muito interessante : a ideia de is anciamee doo j e t o " la^uisa e uma criacao humana_datada deforma especial dos araut^c^do-il»m ints.mol-Pense_nisso.

ponto a ser destacado trata da distincaonsagrada entre sujeito e objeto da pesquisa.

Os estudos de Humberto Maturana e FranciscoVarela (1995) sobre as bases biol6gicas do entendimentohumano evidenciam que o cerebro nao e um sistema queprocessa informacoes; ao contrario, e um criador_deimps da realidade. A realidade seria, portanto uma

i expressao da organizacao cerebral que interage comimagens, modificando-as a luz das experiencias reais.

Nessa compreensao, a distingdo sujeito-objetoperde os seus contornos dicptomicos, pois ja nao saopolos separados. A r cao sujeito-objeto assume a formade um continuum; Nesses termos, todo esfor^ cod com-preensao do mundo advem de um espirito contempla-tive, clue modifica o queve. Isso significa que, acluijo q>a,muitos denominam de ccsisa em si esua propriainter-pre^ aao. azer cienci e, portanto, um exercicio decriacao e de a miracao.--------------------------

Conversas sobre Iniciacao a Pesquisa Cientifica 19

9^%A t6rcei a questao fundamental nesse debate sobrea` separacao" do pesquisador com relacao ao seu objetode estudo se refere a afetividade do conhecimento. Tendoa nao concordar com a idei_ a de ue o distanciamento,exercidopelo controle do afeto, erp mitiria uma"visaomais realisia" da vida social, especialmente pelascontribuicoes recentes do campo das biociencias. Veja-mos o debate colocado em cena, por Ant6nio Damasio(1996).

Mediante analise empirica no ambito da neuro-logia, Damasio129)_szpera a visao d>cotomica quesepara a razao da emocao e constata que os sentimentossao elementos constituintes da razao.

Alem disco, Damasio afirma que os. sentimentostern um estatuto privilegiado, pois estao presentes emtoda a atividade mental e tern uma condicao de anterio-ridade,ridade, isto e, constituem um kr^^

quadro de referenda pars o que vem a seguir eles tem sem-pre uma palavra a dizer sobre o modo de fun d fiamentodorecto do c6 re da cognioao . Sua influencia 6,imensa(Damasio, 1996 , pp. 190-1).

A mente origina-se da atividade cerebral queinterpreta, utilizando-se de afeto e de emocao, ao exite

-enstro neu r , sem um componente de afetividade.-firiste descoberta essa para os positivistas que preten-

diam afastar as pre-nocoes e a subjetividade -do trabalhodo cientista social!

Toda essa discussao para, finalmente, afirmar: nemdistanciamento, nem separacao, nem controle do afeto. 0percurso teorico-metodologico da investigacao cientificanao se da em contraposicao aos elementos subjetivos. Asubjetividade e, ela mesma, condicao para o exercicio dainvestigacao cientifica.

20 - Elisa Pereira Gonsalves

4. Esdarecendo os termos monografia, disserta4ao e tese

'0 trabalho onogrdfic pode ser compreendidocoma uma atividade e pesquisa cientifica, sendo geral-mente solicitado pars conclusa o.* de cursos de gduacaoe de pos-graduacao.

A monografia e um estudo profundo sobre umaautor (a), um tema, uma_epoca , isto e, remete pars umtrabalho escrito sobre um tema especifico : mon (o) = unico,graf(o) = escrever.

Assim, ao escrever um trabalho monografico, voceestara diante do desafio de aprofundar um aspecto. dosmuitos que integrarn urn determinado assunto. Naspalavras de Severino,

o trabalho monografico caracteriza-se mais pela unicidade edelimitarao do tema e pela profundidade do tratamento do quepor sua eventual extensao, generalidade ou valor didatico (Se-verino, 1996, p.104).

A extensao do trabalho monografico evariavel. MasCanto em nivel de graduacao ou de pos-graduacao, o maisimportante aqui e a qualidade e nao a quantidade.

Como produto de urn estudo cientifico sobre urndeterminado terra, a(ffio on grafi e caracterizada orurn trabalho rigoroso, que sistematiza observa goes,crfticas ere Iexoes ei s pelo aluno. Mas Cabe destacarque uma monografia ultrapassa o nivel da compilacao detextos, ou seja, nao se trata de uma serie de resumos eopinioes pessoais, trata-se de uma analise de dados que

contribua para elucidar determinados aspectos do terraestudad.Q.,

Portanto, cuidado!

Conversas sobre Iniciacao a Pesquisa Clentifica 21

Fazer monografia nao a fazer urn exercicio decopia de varios textos, repetindo incessanternente oque ja foi dito por outro! Tambem cuide do oposto: urntrabalho monografico nao e a manifestacao de suas'opinioes pessoais, sera fundaments-las!

0 trabalho monografico pode ser caracterizado apartir dos seguintes pontos: 6 .um trabalho escrito, orga-nizado sistematicamente e completo; versa sobre umtema especifico; e um estudo detalhado de um objeto;trata o objeto em profundidade e nao em alcance; possuiuma metodologia cientifica; revela-se Como uma contri-buicao pessoal pars o desenvolvimento da ciencia (Lakatose Marconi, 1992, p. 152).

A monografia apresenta a seguinte estrutura: intro-ducao, desenvolvimento e conclusao.

Apesar de ser a primeira parte do trabalho monogra-fico, a introducao e a ultima tarefa a ser feita. Isso ocorreporque voce precisa de um texto para saber o que vocedeve introduzir. Booth (2000) distingue tres elementosque devem estar contidos numa introducao:

• contexto: voce localiza o seu problema em um"pano de fundo", situando-o no interior das dis-cussoes mais relevantes sobre o terra. Ao fazerisso voce estara criando uma "base comum", ma-peando um terreno que permitira ao leitor umacompreensao mais ampliada do seu problema.

• problema: deixe claro qual e objeto.,da sua pesquisa,qual e a contribuicao'que pretende dar para a com-preensao do tema.

• resposta: declare qual e a resposta - sempre pro-vis6ria - que voce descobriu para o seu problema.

22 Elisa Pereira Gonsalves

E importante lembrar que, na introducao, voce deveforr ular de maneira clara o tem a da.pesguffsa, consi^e-rando doffs as ectos o assuntoue sera tY ra(a ideiageral, situando e delimitando o problem, justificando otema, definindo os termos e indicando o percurso meto-dologico) e Como serd desenvolvido (as ideias maisimportantes, a distribuicao e os objetivos dos capitulos).

No geral, a primeira referencia para elaborar aintroducao da monografia e o projeto de pesquisa.Retome o projeto, avalie o que foi cumprido, o que foimodificado, o que foi ampliado, o que foi descartado. Aintroducao e uma especie de "acerto de contas" com o seuprojeto inicial.

E nao se esqueca de que a introducao deve conterum elemento e seduca de convenciment Ao partirdela, o leitor deve se convencer de que voce descobriu umproblema que merece atencao e que tem consideragoes

,.- nportantes a fazer sobre ele.A segunda parte da monografia o d v ento

Nessa parte voce devera explicar, discutir e demonstraras principais ideias do trabalho. E o "miolo" do texto; porisso, a sua parte mais extensa.

O desenvolvimento sera sem rp e dividido em partes.O nidmero e2artes ou capftulos de pende do tipo de,inves-tiga^ao feita. A divisao traz claroza a exposicao e deve serorganizadazada de forma equilibrada, ou seja, cad a__n todeve ter aproximadamente o mesmo_niimero de pagers.

Preste atengdo: o sumario do seu projeto nao precisaser dividido exatamente em introducao, desenvolvimento econclusao. A coisa nao funciona assim. Essa e a estruturabasica que toda monografia deve conter..Mas na apresen-tacao formal, e privilegiada outra forma de exposicao: nogeral, o sumario umaintrodu aQ, os ca rp"tulos ea conclusao. 0 conjunto dos capitulos e que forma o queestamos chamando de desenvolvimento.

Conversas sobre Iniciacao a Pesquisa Cientifica 23

Na ultima parte da monografia, a eon I AS "n. vicedevg,retomar de forma sintetica^s..gxinip colo-cadas nas dugs primeiras Partes do trabalho (na intro-dticao e no desenvolvimento), estabelecendo possiveisrelacoes e elaborando algumas. consideracoes finais, atitulo de fechamento.

Sao tres as 12rincipais caracteristicas da c clus_ao: aessencialidade (s' tese interpretativa das principais ideias

Vo trabalho); a brevidade (o texto deve ser curto, claro econvincente); e a pessoalidade (a conclusao deve eviden-ciar com muita clareza o ponto de vista do autorwjsasrefiexoes fe).

No sentido lato, monografia indica todo trabalhoci n_tifio que r^,^u Ie c pesqisa. Apes at de ter o cardterd "tratamento de um tema delimitado", as monografiasvariam com relacao ao nivel de investigacao. Isto signi-fica que voce pode ter uma monografia feita em nivel degraduacao ou de pbs-graduacao: o que difere e a quali-dade do aprofundamento.

Em nivel de pbs-graduacao stricto sensu, desta-camos dois tipos de trabalhos cientificos: tese de doutora-m'ento e a dissertacao de mestrado.

A tese de doutorado e o tipo mais caracteristico demonografia. Refletindo sobre um terra unico e especifico,a tese deve colocar um problema, demonstrando hip6-tese - se for o caso -, e, atraves de uma argumentacaos6lida, convencer o leitor da sua proposii ao.

Exige-se da tese de doutoramento uma contribuicaooriginal sobre o terra. Ela deve significar um progressopara o campo em que esta inserida, uma "descoberta", nosentido atribuido por Umberto Eco:

Quando se fala em "descoberta", em especial no campohumanista, nao cogitamos de invenrbes revolucionariascomo a descoberta da fissao do atomo, a teoria da relatividadeou uma vacina contra o cancer: podem ser descobertas mais

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24 Elisa Pereira Gonsalves

modestas, considerando °se resultado "cientifico" ate mesmouma maneira nova de ler e entender urn texto classico, a iden-tificaoao de um manuscrito que Ianoa nova luz sobre a bio-grafia de urn autor, urna reorganizacao e releitura de estudosprecedentes que conduzem a maturacao e sistematizaoaodas ideias que se encontravarn dispersas em outros textos.Em qualquer caso, o estudioso deve produzir urn trabalhoque, teoricamente, os outros estudiosos do rarno nao deve-riarn ignorar, porquanto diz algo de novo sobre o assunto(Eco, 1983, p. 2).

A dissertacao de mestrado, por sua vez, cumpre asexigencias 'de uma monografia: e a apresentagao dosresultados de uma reflexao sobre um tema delimitado.

Como e um trabalho de iniciacao a ciencia, rigoro-samente orientado, e evidente que nao se pode exigir dadissertacao de mestrado um nivel de originalidade.Assim, por ser um trabalho cientifico que corresponde ainiciacao a investigacao, a dissertacao possui um caraterdidatico acentuado.

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