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Geopatrimónio da ilha de São Nicolau 1 GLOSSÁRIO E ABREVIATURAS Arribas Definem-se como um ressalto com um pendor acentuado (15º a 90º), com ou sem cobertura vegetal, se então em evolução atual, cuja génese resulta da ação combinada de processos continentais (físico-químicos e biológicos) combinados com processos ligados à dinâmica das águas do mar na faixa litoral. Caldeiras vulcânicas - É uma depressão arredondada que resulta do abatimento da parte interior de um cone vulcânico por esvaziamento do reservatório de magma que lhe estava subjacente. Quando estão cheias pelas águas das chuvas assumem o aspeto de lagoas. Chaminé vulcânica - Conduta mais ou menos cilíndrica no interior do aparelho vulcânico por onde sobe o magma. Deltas lávicos - São formações vulcânicas que dão origem às Fajãs. A sua génese está nas escoadas lávicas que ao avançarem para o mar, adquirem uma morfologia aplanada que resultam em extensões planas junto ao nível do mar e na base das encostas das arribas. Disjunção colunar prismática - Fragmentação do corpo rochoso vulcânico em porções com forma de prisma. EROT - Programa Nacional de Esquema de Regulamento do Ordenamento do Território Filões São formas subvulcânicas que constituem corpos intrusivos de pequena profundidade, podendo gerar relevos residuais que marcam igualmente a paisagem vulcânica. Jorra - Material de escória de lavas de cor escura, com densidade e formas variadas associadas a magma pouco viscoso, nomeadamente o basáltico-andesítico, que ao atingir o solo, solidifica e confere formas diversas. Este material é utilizado na construção de infraestruturas como substituto da areia. PANA II - Plano de Ação Nacional para o Ambiente, elaborado pelo Governo PDM - Planos Diretores Municipais PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

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Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

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GLOSSÁRIO E ABREVIATURAS

Arribas – Definem-se como um ressalto com um pendor acentuado (15º a 90º), com

ou sem cobertura vegetal, se então em evolução atual, cuja génese resulta da ação combinada

de processos continentais (físico-químicos e biológicos) combinados com processos ligados à

dinâmica das águas do mar na faixa litoral.

Caldeiras vulcânicas - É uma depressão arredondada que resulta do abatimento da

parte interior de um cone vulcânico por esvaziamento do reservatório de magma que lhe

estava subjacente. Quando estão cheias pelas águas das chuvas assumem o aspeto de lagoas.

Chaminé vulcânica - Conduta mais ou menos cilíndrica no interior do aparelho

vulcânico por onde sobe o magma.

Deltas lávicos - São formações vulcânicas que dão origem às Fajãs. A sua génese está

nas escoadas lávicas que ao avançarem para o mar, adquirem uma morfologia aplanada que

resultam em extensões planas junto ao nível do mar e na base das encostas das arribas.

Disjunção colunar prismática - Fragmentação do corpo rochoso vulcânico em

porções com forma de prisma.

EROT - Programa Nacional de Esquema de Regulamento do Ordenamento do

Território

Filões – São formas subvulcânicas que constituem corpos intrusivos de pequena

profundidade, podendo gerar relevos residuais que marcam igualmente a paisagem vulcânica.

Jorra - Material de escória de lavas de cor escura, com densidade e formas variadas

associadas a magma pouco viscoso, nomeadamente o basáltico-andesítico, que ao atingir o

solo, solidifica e confere formas diversas. Este material é utilizado na construção de

infraestruturas como substituto da areia.

PANA II - Plano de Ação Nacional para o Ambiente, elaborado pelo Governo

PDM - Planos Diretores Municipais

PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

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PROGEO - Associação Europeia para a Conservação do Património Geológico, que

tem como objetivo geral incentivar a conservação do património geológico (geoconservação)

e a proteção de sítios e paisagens de interesse geológico.

RPALCDP - Rede Parlamentar para o Ambiente na Luta contra a Desertificação e a

Pobreza.

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

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CAPÍTULO I

I.1.Introdução Geral

Partindo do princípio que um dos objetos de estudo da Geografia consiste na

observação das paisagens, o conhecimento de Cabo Verde e em particular da Ilha de São

Nicolau, despertou-me interesse do ponto de vista do valioso património natural

(geopatrimónio) – motivo pelo qual decidi dedicar a presente tese ao estudo desse tema.

Na sociedade, em muitos casos, o património é conhecido por elementos de valor cultural

que traduzem acontecimentos de valor histórico (monumentos, artes) e ainda pelos bens e

heranças adquiridos dos nossos antepassados. De modo equivalente, alguns elementos

naturais pelo seu significado científico, didático, simbólico e cultural, também podem ser

considerados como valores patrimoniais, incluindo-se em duas vertentes: a componente

biótica, que se integra na biodiversidade, e a componente abiótica, ou seja a parte mineral da

terra, cujas caraterísticas são indispensáveis para o suporte da biodiversidade e de toda a vida

no planeta, incluindo a dos Seres Humanos. Contudo, os elementos do geopatrimónio

associados à cultura refletem na paisagem uma ligação importante.

Segundo Vieira (2008, p. 532) “uma das questões que se coloca, logo de início, à

definição de qualquer tipo de património, quer seja ele cultural, artístico, histórico, natural

(…) e presumivelmente também, o património geomorfológico, relaciona-se com a

importância que as sociedades atribuem aos diferentes bens e à necessidade de classificação,

recuperação e preservação dos bens considerados mais importantes enquanto heranças

passadas e legado para as gerações vindouras”.

Com efeito, numa definição mais abrangente, Coelho (1992, cit. por Pereira, 2006, p. 17),

define o património como “um conjunto de bens móveis e imóveis cuja conservação seja de

interesse social, quer pela ligação com factos históricos relevantes, quer pelo excecional

valor artístico, arqueológico, etnográfico, bibliográfico, compreendendo os monumentos

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

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naturais, os sítios e as paisagens que seja importante conservar e proteger, pela feição

notável com que tenham sido dotados pela natureza ou agenciados pela indústria humana”.

A temática a que dedico esta tese tem sido pouco estudada em Cabo Verde. As

principais investigações têm-se centrado sobretudo na importância da sustentabilidade

biológica. Existem trabalhos de investigação desenvolvidos na Universidade do Minho

(Portugal) a respeito do geopatrimónio, em algumas ilhas de Cabo Verde nomeadamente na

Ilha do Fogo, como é o caso da Dissertação de Mestrado de Alfama (2007) e na Ilha de

Santiago, com a Dissertação de Doutoramento de Pereira (2010). Contudo impõe-se a

necessidade de realizar mais estudos no sentido de conhecer e esclarecer melhor a temática

em estudo.

Quando observamos uma paisagem natural, estamos a contemplar não só a flora e a fauna

existentes, mas também o seu suporte geológico e geomorfológico. É este suporte geológico

e/ou geomorfológico, que serve de base a toda a biodiversidade existente desde do chão que

pisamos até ao espaço envolvente. Brilha (2005), um dos primeiros especialistas na promoção

do geopatrimónio em Portugal, realçou a importância do património natural como um todo,

integrando os elementos excecionais de geodiversidade e da biodiversidade.

É neste contexto que surge o presente trabalho de investigação, dedicado ao estudo do

geopatrimónio da Ilha de São Nicolau. Para cumprir este objetivo, será indispensável

identificar a diversidade geológica existente na ilha, dedicando particular atenção aos

elementos geomorfológicos de interesse patrimonial e outros que a eles se associam, como se

pode verificar na Fig. 1.

Através desse exercício esperamos dar a conhecer o património geológico e

geomorfológico da Ilha de São Nicolau e contribuir para a divulgação de Cabo Verde para

além das suas fronteiras, bem como contribuir para a valorização e preservação dos seus

recursos naturais, não só no contexto das áreas protegidas mas também noutras que poderão

vir a ser reconhecidas como tal. Por fim, pretende-se ainda com este estudo promover uma

organização mais racional e equilibrada do território cabo-verdiano.

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

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Património Cultural

Religião

Agricultura

Gastronomia

Música

Literatura

Artesanato

Património Natural

Elementos abióticos

Geopatrimónio

Património Geológico Património Geomorfológico

Elementos bióticos

Património Paisagistico

Figura 1. Esquema representativo do património em categorias temáticas articulado com

outros elementos no contexto paisagístico da Ilha de São Nicolau (adaptado de Figueiró et al, 2013).

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

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I.2. Objetivos e Metodologia

O presente trabalho centra-se numa proposta de metodologia de estudo de alguns

geossítios da Ilha de São Nicolau.

Para alcançar este objetivo geral, propomo-nos atingir os seguintes objetivos

específicos:

Analisar a atual situação do ambiente geológico e geomorfológico de Cabo Verde,

com particular destaque para a Ilha em estudo.

Definir alguns conceitos de base para a implementação de uma estratégia de

geoconservação e a sua aplicação no Ordenamento do Território.

Inventariar e avaliar os geossítios da Ilha de São Nicolau, de modo a com base em

critérios de seriação, contribuir para a implementação da estratégia da

geoconservação.

Aplicar estratégias de conservação de modo a garantir uma gestão sustentada dos

recursos geológicos e/ou geomorfológicos, essencialmente nos geossítios que possuem

inegável valor científico, cultural, turístico ou outro bem como em relação aos

processos naturais que neles se desenvolvem.

Valorizar e divulgar o geopatrimónio, de modo a que o público possa reconhecer o

valor desses geossítios, acompanhado da produção de meios que favoreçam a sua

divulgação.

Propor estratégias de desenvolvimento a nível geoturístico, de forma a contribuir para

a valorização da Ilha de São Nicolau.

Quanto à metodologia utilizada, primeiramente procedeu-se à consulta de dados

documentais e bibliográficos que permitissem uma análise de algumas ilhas de Cabo Verde,

nomeadamente o Património Natural da Ilha do Fogo, e da Serra da Malagueta na Ilha de

Santiago. Foram ainda consultados alguns relatórios elaborados pelas Câmaras Municipais da

Ilha de São Nicolau, nomeadamente um Esquema Regional e o Plano de Ordenamento do

Território, legislação, entre outros relatórios do Ministério do Ambiente de Cabo Verde (o

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

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PANA II 2004-2014)1. Para além destes trabalhos científicos, foi ainda consultada uma

variedade de suportes bibliográficos de autores especialistas na proteção, valorização e

divulgação do património geológico em Portugal, nomeadamente a metodologia seguida por

Brilha (2005) e pelo grupo que pertence à Associação Europeia para a Conservação do

Património Geológico em Portugal (PROGEO).

Numa segunda fase, realizámos o trabalho de campo para a inventariação a recolha

fotográfica dos geossítios e procedeu-se à construção da ficha de análise dos geossítios

inventariados. A caraterização geológica e/ou geomorfológica dos geossítios baseou-se na

análise da carta geológica da ilha, à escala 1/50.000 de Macedo et al. (1975) e na consulta da

publicação da constituição das formações geológicas e geomorfológicas do arquipélago de

Cabo Verde de Bebiano (1932) e no estudo do solo da mesma ilha da autoria de Nunes

(1962).

Com o auxílio do software ArcGis10.1 e o recurso ao Software Excel, procedeu-se à

construção de toda a cartografia, dos gráficos e das tabelas presentes no trabalho. Os dados

para a construção dos gráficos de precipitação média mensal, foram disponibilizados pelo

Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica da Cidade da Praia (Cabo Verde). Os dados

populacionais presentes nos quadros foram recolhidos na plataforma do Instituto Nacional de

Estatística (INE).

Do ponto de vista da sua estrutura, o presente trabalho encontra-se dividido em cinco

capítulos fundamentais. O primeiro capítulo, aborda a introdução, os objetivos e metodologia

e as questões relativas ao enquadramento teórico que fundamenta a temática do

geopatrimónio, incluindo os conceitos-chave e a sua aplicação nas Ilhas de Cabo Verde, bem

como uma revisão do estado da arte.

No segundo capítulo, foi elaborada uma caraterização geral da área em estudo - Ilha de

São Nicolau (Cabo Verde), que abrange a sua localização geográfica, a formação geológica e

1 Pana II, representa o segundo Plano de Ação Nacional para o Ambiente, elaborado pelo Governo. Entre os

principais objetivos do relatório destacamos os seguintes: Definir as orientações de política de gestão principal

dos Recursos Naturais; Estabelecer oportunidades ambientais e prioridades de desenvolvimento; Identificar as

intervenções que facilitam o uso efetivo e eficaz de recursos naturais; Definir as estruturas institucionais e os

mecanismos necessários para a coordenação setorial; Promover a integração das preocupações ambientais nos

planos de desenvolvimento socioeconómico bem como promover as condições de vida da população.

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

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geomorfológica bem como as caraterísticas da situação socioeconómica, incluindo os

elementos sociais e os hábitos culturais.

O terceiro capítulo, ou seja a componente prática do trabalho, abrange a caraterização

dos geossítios selecionados e inicia-se com uma abordagem de alguns autores com

conhecimento das metodologias ou critérios que foram utilizados para a inventariação dos

mesmos geossítios e para a avaliação da metodologia proposta.

O quarto capítulo aborda a inventariação e várias fases que constituem uma estratégia

de geoconservação e, por último, o quinto capítulo apresenta um plano de estratégia do

geoturismo, abrangendo os geossítios presentes neste trabalho.

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

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I.3- Estado da arte

Para efetuar uma inventariação em termos genéricos é preciso recorrer à recolha de

dados. Por este motivo, aquando da enumeração dos objetivos pretendidos, além do trabalho

de campo efetuado de maneira a identificar e reconhecer os geossítios inventariados, foi

necessário proceder a uma revisão bibliográfica recorrendo a várias temáticas de caráter

científico que abordam temas relativos ao geopatrimónio das ilhas de Cabo Verde, no caso

particular, à Ilha de São Nicolau.

Apesar de não ter encontrado nenhum trabalho de investigação científica que aborde

esta temática para a ilha em estudo, foram examinadas temáticas semelhantes para as outras

ilhas que acabam por se aplicar ao presente estudo.

Landim (2013) apresentou à Universidade de Évora a sua Dissertação de Mestrado

sobre o tema “Serra da Malagueta (Santiago Cabo Verde): Estratégia de Conservação e

Valorização do Património Histórico e Cultural”. Para a mesma ilha, também foi apresentado

o trabalho de Pereira (2010) sobre o tema: “Concetualização de uma estratégia de

geoconservação para Cabo Verde e a sua aplicação para a Ilha de Santiago”.

Com a mesma temática desta vez referente à Ilha do Fogo destaca-se o trabalho de

Alfama (2007) sobre o tema: “Inventariação, caraterização e proposta de valorização do

Património Geológico da Ilha do Fogo”. Pereira e Alfama (2008) abordaram o tema sobre o

“Património Geológico da Ilha de Santiago e da Ilha do Fogo (Cabo Verde) ” e Victória

(2008) abordou o tema: “O papel das geociências e o lugar da geologia em Cabo Verde”.

No primeiro Congresso de Desenvolvimento Regional em Cabo Verde, Pereira et al.

(2009) nos seus trabalhos, fizeram uma proposta para a ”Compreensão do Património

Geológico e da Geoconservação na Conservação da Natureza em Cabo Verde”.

Alves (2009) enfatizou a importância do “Ecoturismo no Património Arquitetónico

de Cabo Verde, das Potencialidades à Prática”. Perante as referências apresentadas,

podemos concluir que existem já bastantes trabalhos científicos realizados acerca desta

temática no país.

Do ponto de vista da Ilha de São Nicolau, não existe uma vasta bibliografia sobre esta

temática, no entanto procedeu-se à consulta do trabalho de Monteiro e Cunha (2009) acerca

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

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das “Tempestades de setembro na Ilha de São Nicolau”. Consultaram-se ainda outros

trabalhos mais antigos sobre o estudo dos “Solos da Ilha de São Nicolau” de Nunes (1962), o

“Estudo de precipitações em São Nicolau” de Olivry (1981) e o trabalho da “Ilha de São

Nicolau nos séculos XV a XVIII” de Teixeira (2004).

Do ponto de vista geológico, a revisão consistiu também na consulta da “Geologia do

Arquipélago de Cabo Verde” de Bebiano (1932).

I.4.Geopatrimónio em Cabo Verde – diagnóstico da situação ambiental atual.

Quando se abordam questões relacionadas com a geodiversidade, a paisagem é um dos

principais fatores a ter em consideração. Em todas as paisagens naturais a geodiversidade

exerce o seu contributo, tendo presente que são os diferentes tipos de substrato rochoso, do

relevo, do clima e da vegetação que a caraterizam.

No âmbito do património natural, a biodiversidade tem sido a grande prioridade

mesmo a nível internacional. Ora, a natureza para além dos seus componentes bióticos, ou

seja a diversidade da natureza viva que a constitui (espécies de seres animais e vegetais) é

também composta por componentes abióticos, que constituem o substrato natural do solo

onde se desenvolve toda a atividade orgânica, bem como as variedades de estruturas

geológicas, tectónicas, geomorfológicas e de materiais geológicos (litologia, solos, minerais e

fósseis) (Nieto, 2004 cit. por Pereira 2010, p.29).

No âmbito da filosofia ambiental a geodiversidade é algo de grande valor. Por isso,

existe a necessidade de a proteger e conservar. O ato de proteger e de conservar alguma coisa

segundo Brilha (2005, p. 33), justifica-se porque lhe é atribuído algum valor seja ele

económico, cultural, sentimental ou outro. Gray (2004, cit. por Brilha 2005, p. 33) também

discrimina de seguida o valor intrínseco, cultural, estético, económico, funcional, científico e

educativo da geodiversidade.

Este mesmo autor afirma que de todos os valores da geodiversidade, o valor

intrínseco assume-se como o mais subjetivo. Esta subjetividade prende-se com a dificuldade

da sua quantificação e também com certos valores religiosos, filosóficos e culturais próprios

de cada sociedade.

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

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O valor cultural da geodiversidade do ponto de vista de Pereira (2010, p. 33) está,

relacionado com as questões arqueológicas e históricas, também associadas aos bens da

diversidade geológica do meio físico que influenciam direta ou indiretamente, as atividades

sociais, culturais e religiosas do ser humano. Muitas pessoas procuram certas explicações

transcendentais entre o meio cultural e o meio físico.

Grey (2004, cit. por Pereira 2010, p. 33) utilizou o termo geomitologia para explicar

esta realidade. O conceito em estudo poderá ser ilustrado através do exemplo do Forte da

Preguiça na Ilha de São Nicolau em Cabo Verde, que marca na paisagem a história do trajeto

de Vasco da Gama a caminho do Brasil. Do ponto de vista arqueológico e paleontológico,

podemos tomar como exemplo o seminário da Ilha de São Nicolau.

O valor estético da geodiversidade também apresenta um caráter subjetivo. Todas as

paisagens naturais possuem algum tipo de valor estético relativamente a um determinado

elemento ou a uma estrutura geológica. A forma como as pessoas observam a paisagem é

muito relativa. Para Brilha (2005, p. 36) as paisagens naturais quando observadas constituem

uma atividade de lazer bastante consensual. Decidir se uma paisagem é mais bela de que

outra é algo inevitável e discutível.

Na perspetiva do valor económico, Brilha (2005) considera que no caso da

geodiversidade este já é mais percetível pois praticamente todos os bens e serviços são

dotados de um valor económico adquirido através da exploração do petróleo, carvão, gás

natural, da exploração de minerais, da construção de barragens etc. Podemos também referir-

nos à exploração de materiais para a construção (os inertes no caso da areia, brita e jorra),

entre outros recursos naturais.

Grey (2004, cit. por Pereira, 2010, p. 36) reafirma que a importância económica desses

recursos naturais não se limita apenas aos valores económicos já mencionados no início do

capítulo, mas são também igualmente importantes os fósseis, solos, recursos paisagísticos,

energia geotérmica entre outras riquezas existentes.

Do ponto de vista do valor funcional a geodiversidade é indiscutível no âmbito da

conservação da natureza. Segundo Grey (2004, cit. por Pereira, 2010 p. 36), “tanto os solos,

como os sedimentos, as paisagens e as rochas têm um valor funcional no sistema ambiental,

quer seja do ponto de vista físico ou biológico”. Este autor considerou o valor funcional da

geodiversidade em duas perspetivas:

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

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1- O valor da geodiversidade in situ de caráter utilitário para o ser humano,

referindo-se à valorização da geodiversidade no seu local original ao contrário

do valor económico depois de explorado para a (construção de barragens,

cidades, vias de comunicações…).

2- O valor da geodiversidade enquanto substrato para a sustentação dos sistemas

físicos e ecológicos na superfície terrestre. Esta tem influência direta na

biodiversidade, quer na criação de condições para a sua fixação quer no seu

próprio desenvolvimento e manutenção. Refere-se a certos locais onde existem

condições para o desenvolvimento de certas espécies de vegetais e para a fixação

de aves, que reúnem condições para a sua alimentação ou então para a sua

reprodução.

No que diz respeito ao valor científico da geodiversidade, segundo Brilha (2005, p. 40)

quer no domínio das Ciências da Terra quer noutras áreas científicas, este requer uma

investigação e interpretação do seu conhecimento.

De acordo com Vieira (2008, p.554) um elemento geomorfológico do ponto de vista

científico, ganha valor através da sua representatividade mediante os processos que evoluem

na superfície terrestre. Assim um elemento geomorfológico patrimonial ganha importância,

enquanto objeto de estudo de interesse para uma comunidade científica. Este mesmo autor

realçou a importância de “inserir no âmbito do valor científico, os recursos didáticos e

pedagógicos, na sua capacidade de transmissão de processos geomorfológicos e ambientais

que conduzem à elaboração das formas atuais da superfície da terra”.

Muitos dos estudos científicos realizados nos últimos tempos, revelam preocupação

perante as ameaças à geodiversidade em todo o mundo. Ameaças essas que advêm direta e

indiretamente da ação do ser humano, através da exploração dos recursos naturais,

provocando impactos negativos a vários níveis:

Ao nível da paisagem, na fragmentação dos ecossistemas e através da desflorestação

(por exemplo em Portugal têm-se verificado em alguns locais, a exploração de pedreiras a céu

aberto e paisagens queimadas pelos incêndios – fenómenos que se assumem como

verdadeiros flagelos);

Ao nível dos afloramentos rochosos, a atividade extrativa pode consumir “objetos

geológicos nomeadamente fósseis ou minerais, de valor científico, pedagógico ou outro”

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

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(Brilha, 2005), e ainda ao nível das infraestruturas, para a execução de estradas, construção de

barragens entre outras construções. Todas essas e outras explorações que não foram aqui

mencionadas têm impactos diretos ou indiretos na geodiversidade.

No caso de Cabo Verde, também o ser humano faz do seu espaço geográfico

diferentes usos de acordo com as formas que encontrou para potencializar os recursos

naturais. Segundo Pereira (2010, p. 42) “a exploração dos recursos geológicos é das

atividades mais antigas, se entendermos que os primeiros instrumentos eram feitos de

pedras”. Na Ilha de São Nicolau ainda hoje, se encontram aldeias feitas com pedras

basálticas, algumas cobertas de palha de cana-de-açúcar, outras com telhados cuja telha é

localmente conhecida por “Telha Branca”. Outras habitações já se encontram em estado de

degradação, como é o caso da localidade de Ribeira Funda, como se pode observar nas

fotografias das Figs. 2 e 3.

Figuras 2 e 3- Habitações construídas com pedras de basalto, palha de cana-de-açúcar e telha branca.

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

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A carência de materiais para a construção civil sempre esteve presente em Cabo

Verde, daí a grande necessidade de recorrer aos recursos geológicos locais. Os impactos das

atividades antrópicas refletem-se cada vez mais, no aumento da pressão urbanística e na

construção de estradas e outras infraestruturas. Estas atividades, quer seja de forma legal quer

seja de forma clandestina, têm gerado grandes problemas relacionados com a exploração

desses recursos sobretudo de materiais piroclastos, areias, jorras e britas.

Em São Nicolau, no Município do Tarrafal são particularmente notórios os impactos

das atividades extrativas na paisagem, sobretudo a nível visual, devido às quantidades de

materiais extraídos, como as fotografias das Figs. 4 e 5 ilustram.

Figuras 4 e 5 - Impactos visuais na paisagem no domo da Praia Branca: Explorações

abandonadas.

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

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De igual modo no Município de Tarrafal também se verifica a destruição das praias

devido ao consumo excessivo de areia, contribuindo não só para o desaparecimento por

completo das mesmas, mas desencadeando também efeitos negativos nos lençóis freáticos e

na biodiversidade costeira, como se poderá observar na fotografia presente na Fig. 6.

Figura 6- Ilustração das atividades antrópicas (extração de areia) exercidas na Praia do Barril.

Nas áreas mais montanhosas como no caso do parque verde de Monte Gordo, a

biodiversidade no que se refere à flora também tem sido muito afetada pela prática da

agricultura, a existência de animais soltos e a destruição da floresta para a criação de recursos

lenhosos, que por sua vez têm contribuído para a degradação dos solos colocando em risco

um número considerável de espécies.

A partir do século XX, mais propriamente de 1975, a população Cabo-Verdiana

começou a consciencializar-se dos problemas ambientais que ocorriam à escala internacional,

intensificando-se a legislação no que concerne à conservação da natureza. Em 1992, as

Nações Unidas organizaram uma conferência no Rio de Janeiro sobre o ambiente e o

desenvolvimento, na sequência da qual foi criado um tratado da diversidade biológica. Este

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

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tratado, deu origem ao desenvolvimento de publicações através da criação de artigos, livros

conferências, workshops etc. que têm vindo a ganhar ênfase no âmbito da biodiversidade.

Em 1993, Cabo Verde, em conformidade com outros países após a conferência do

Rio, adotou o seu primeiro instrumento legal ambiental, que definiu as leis de base da política

do ambiente.

No entanto, com a elaboração do plano de Ação para o Ambiente (PANA II) -

documento orientador das intervenções no setor do ambiente - foi estabelecido um objetivo

estratégico para o período compreendido entre 2004-2014. Esse objetivo consistiu na gestão

sustentável dos recursos ambientais, avaliando problemas de caráter ambiental nomeadamente

ao nível da biodiversidade, desertificação, mudanças climáticas, ordenamento do território,

gestão de recursos hídricos, solos, paisagens, recursos oceânicos, orlas costeiras e recursos

energéticos.

Apesar de todos os progressos e avanços no domínio ambiental, a temática da

geodiversidade tem sido pouco reconhecida. Em Cabo Verde no que se refere à conservação

da natureza em particular, verifica-se um crescente interesse pelo tema. No entanto, ainda é

atribuída pouca importância ao património geológico e/ou geomorfológico. Em termos

científicos, o interesse pela temática também tem vindo a crescer, com o aparecimento de

publicações e trabalhos de investigação centrados no estudo de algumas ilhas de Cabo Verde.

Embora já tenha referido anteriormente a este nível é importante desde já referir, a

Dissertação de Mestrado de Vera Alfama (2007) - “Inventariação, caraterização e proposta

de valorização para a Ilha do Fogo”, a Dissertação de Doutoramento de José Pereira (2010)

aplicada à Ilha de Santiago - “Concetualização de uma estratégia de geoconservação para

Cabo Verde e sua aplicação para a Ilha de Santiago” e ainda a mais recente Dissertação

desenvolvida por José Landim (2013), também aplicada à Ilha de Santiago - “Estratégia de

Conservação e valorização do património”. Todos insistiram na necessidade de inventariação

de propostas de geossítios, de modo a promover a sustentabilidade do património geológico

destas Ilhas.

Atualmente têm sido elaborados planos de gestão ambiental, alguns já aprovados, para

a criação de parques naturais em algumas Ilhas, nomeadamente o Parque Natural do Monte

Gordo na Ilha de São Nicolau, o Parque Natural da Ilha do Fogo e o Parque Natural da Serra

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

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da Malagueta, na Ilha de Santiago. Com a divulgação da geodiversidade presente nesses

parques Naturais, a temática do geopatrimónio tem vindo a ganhar uma maior ênfase.

Em agosto de 2012, a rede parlamentar para o ambiente na luta contra a desertificação

e a pobreza - a RPALCDP, apresentou o projeto “7 maravilhas de Cabo Verde” no sentido de

preservar a excelência das condições naturais que o país proporciona, de modo a promover e

divulgar o seu potencial paisagístico, enfatizando os monumentos naturais, paisagens e locais

de interesse científico com destaque para os patrimónios naturais e os ecossistemas.

O Arquipélago de Cabo Verde carateriza-se por um ecossistema frágil, tendo em conta

a conjugação de diversos fatores, nomeadamente o clima e a ação antrópica. A este nível, o

governo tem vindo a implementar medidas de caráter legislativo com vista à proteção e

conservação dos recursos naturais.

Neste contexto, tem ainda demonstrado a preocupação e intenção de criar redes de

áreas protegidas, atendendo à necessidade de proteção de espécies ameaçadas em vias de

extinção e de recuperação dos ecossistemas mais vulneráveis. Respondendo aos desafios

ambientais que o país enfrenta e à necessidade de preservar e conservar a exploração de

recursos geológicos naturais que têm sido explorados de forma descontrolada (Lopes,

Ermelinda, 2010, pp. 54-64), dadas as necessidades das populações, os recursos naturais

(areias, jorras, britas) têm vindo a ganhar maior importância, junto do governo bem como a

suscitar uma maior sensibilização da população.

Contudo o país tem beneficiado de apoios financeiros nomeadamente das Nações

Unidas (PNUD), através da implementação do projeto de “Consolidação do sistema de áreas

protegidas em Cabo Verde 2010”, com o objetivo de realçar a importância da conservação/

valorização das áreas protegidas marinhas e Parque Naturais. Apesar dos gabinetes e serviços

do sector ambiental existentes em Cabo Verde não terem prestado grande interesse à questão

do geopatrimónio, vimos que a política do governo na matéria do ambiente e conservação está

presente na lei de bases geral e nos Planos Diretores Municipais (PDM).

O Município de São Nicolau em particular, através do Esquema Regional do

Ordenamento do Território (EROT), aprovado pelo decreto-lei nº3/2003, possui uma alínea

que serve de complemento à lei das áreas protegidas. Este instrumento rege a organização

espacial da Ilha com o objetivo de promover o seu desenvolvimento sustentável.

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

18

Este decreto-lei (EROT) diz, ainda que à administração pública compete na matéria

“realizar uma espécie de catálogo das paisagens da Ilha com a identificação e cartografia dos

espaços com potenciais valores paisagísticos devendo estes ser objeto de medidas específicas

(espaços de valor cénico, itinerários de interesse paisagístico, botânico, ambiental etc.).

Porém, a cartografia visual da paisagem permitirá estabelecer normas e critérios para cada um

dos espaços classificados com valor paisagístico”.

No segundo plano de Ação Nacional para o Ambiente (PANA II- 2004-2014),

encontram-se definidos planos e projetos até ao ano 2014, sublinhando vários temas

nomeadamente a educação ambiental e a proteção da biodiversidade em Cabo Verde bem

como o programa de conservação da biodiversidade biológica terrestre e da biodiversidade

biológica marinha.

Ora, os elementos da biodiversidade e da conservação gravitam em torno dos

ecossistemas, da flora, da fauna e da proteção de espécies ameaçadas. Se os elementos

geológicos ou geomorfológicos constituem o suporte desta biodiversidade, porque não

comtemplá-los nestes planos ou projetos?

Mesmo que o património biológico seja uma prioridade, o que seria hoje do país se

todas estas leis tivessem sido aplicadas partindo do princípio que, desde 1990, o ambiente foi

integrado nas políticas nacionais para o desenvolvimento sustentável. Certamente grande

parte dos problemas ambientais descritos anteriormente não teriam causado tantos

constrangimentos e a necessidade de conservação seria vista numa perspetiva mais alargada.

Verifica-se que ainda hoje a sociedade atribui pouca importância e valor ao

património. Contudo, tem vindo a verificar-se uma maior preocupação com o

desenvolvimento socioeconómico tendo em conta os recursos naturais que o país proporciona.

Mesmo a legislação, manifesta esta preocupação através da lei de bases em matéria do

ambiente e conservação da natureza. A Constituição da República publicada em 1980, já

apresentava no seu artigo nº7, alínea K, medidas sobre a proteção da paisagem, da natureza,

dos recursos naturais e do meio ambiente, bem como em relação ao património histórico-

cultural e artístico nacional, frisando no artigo 6, alínea b, a soberania sobre todo o território

abrangendo as águas, o mar territorial assim como os respetivos leitos e subsolos.

Em 1990, foi previsto na lei nº102/90, de 29 de Dezembro, o estabelecimento das

bases do património cultural e natural. Em 1993, o decreto-lei nº86/93 de 26 de julho, definiu

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

19

a base da política ambiental. Mais tarde em 2003, o decreto-lei nº3/2003 de 24 de fevereiro

estabeleceu o regime jurídico das áreas protegidas através do qual foram criados alguns

Parques Naturais, nomeadamente o Parque Natural do Monte Gordo na Ilha de São Nicolau, o

Parque Natural da Serra da Malagueta na Ilha de Santiago e o Parque Natural do Fogo na

própria Ilha.

Ainda dentro da temática do ambiente, encontramos referências às áreas protegidas no

decreto-lei nº 44/2006, defendendo a valorização de um ambiente sadio e ecologicamente

equilibrado bem como a necessidade de executar políticas adequadas de Ordenamento do

Território e a promoção nacional de todos os recursos naturais, salvaguardando a sua

capacidade de renovação, a estabilidade ecológica e a educação ambiental.

Mais tarde na portaria nº3/2006, o governo elaborou o segundo plano de Ação para o

Ambiente (PANA II) - documento orientador das intervenções no setor do ambiente durante o

período de 2004-2014 - abordando um conjunto de problemáticas ambientais englobando os

setores públicos, privados e municipais/governamentais. Mais se encontra um quadro de

tabela de legislação, que pode ser consultado em anexo I.

Como vimos a legislação cabo-verdiana evidencia uma grande preocupação com a

gestão dos recursos naturais nomeadamente os recursos hídricos, em particular a escassez de

água devido à irregularidade da precipitação, à exploração descontrolada de inertes (areia…),

bem como em relação à erosão que tem afetado o País nestes últimos tempos. No entanto,

continua a verificar-se a necessidade de colocar em prática a legislação, de modo a divulgar e

valorizar o património.

Sendo, o património geológico, um importante componente do património natural,

pode ser definido, como “recursos geológicos não renováveis que pelo seu valor estético,

cultural, educativo e científico devem ser preservados para a geração vindoura” Brilha,

(2005). Neste sentido, com base na temática em estudo, seria importante definir as ações de

proteção e valorização do património geológico, ou seja, implementar medidas de

geoconservação de forma sustentável para o bem-estar do país.

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

20

I.5. Geopatrimónio e Património Geomorfológico - Conceitos.

Segundo Vieira (2008 p. 532) ”uma das questões, que se coloca logo de início, à

definição de qualquer tipo de património, quer seja ele cultural, artístico, histórico, natural

(…) e presumivelmente também, ao património geomorfológico, relaciona-se com a

importância que as sociedades atribuem aos diferentes bens e à necessidade de classificação,

recuperação e preservação dos bens considerados mais importantes enquanto heranças

passadas e legado para as gerações vindouras”.

O geopatrimónio define-se por um conjunto de geossítios inventariados e

caraterizados numa dada área ou região (Brilha, 2005 p. 52) sendo um termo abrangente, que

integra os elementos notáveis da geodiversidade, nomeadamente o património petrológico,

hidrogeológico, geomorfológico, mineralógico, paleontológico, mineiro entre outros. Do

mesmo modo, o conceito de geopatrimónio habitualmente não integra as coleções

museológicas de rochas, fósseis e minerais por duas ou mais razões.

Primeiramente, porque os elementos destas ocorrências já não se encontram no seu

estado natural, segundo, porque as amostras que se encontram nos museus públicos estão

automaticamente protegidas da deterioração por processos naturais, roubo, vandalismo etc.

Contudo é inegável que essas coleções possuem valor patrimonial científico, pedagógico,

estético, económico (…).

Carvalho (1999) define o geopatrimónio como qualquer ocorrência de natureza

geológica, tal como um afloramento rochoso, uma pedreira abandonada, uma jazida com

fósseis, etc. desde que assuma um valor documental que justifique a sua preservação como

herança às gerações vindouras.

Para Brilha, o geopatrimónio corresponde a um conjunto de ocorrências de elementos

da geodiversidade com excecional valor, nomeadamente os geossítios conhecidos também

como geomonumentos, quando estes apresentam uma particular grandiosidade. Os

geomonumentos por sua vez são uma ocorrência geológica ou geótopo com interesse

geológico (científico e pedagógico), que apresenta caraterísticas de monumentalidade, beleza,

raridade e grandiosidade.

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

21

Ainda segundo Brilha (2005, pp.54), “o património geomorfológico também faz

parte do património geológico, que abarca as formas e modelação da paisagem. No

património geológico integram-se todos os “elementos que constituem a geodiversidade,

englobando o património geomorfológico, o património paleontológico, o património

hidrogeológico”. Partindo da ideia deste autor, aqui também podemos integrar na

geodiversidade o património cultural paisagístico bem como os recursos derivados do

património geológico.

Rodrigues (1989, cit. Pereira 2006, p. 49) foi uma das primeiras investigadoras a fazer

referência ao termo património geomorfológico em Portugal. Na sequência da realização do

estudo de caso das Fórnia de Alvados no Maciço Calcário Estremenho, a autora defendeu o

interesse patrimonial geomorfológico e paisagístico das geoformas bem como a necessidade

de as conservar de modo a defender o aproveitamento racional das suas potencialidades. Ao

mesmo tempo reconheceu os seus valores de interesse estético, científico e económico.

Rodrigues (1989, et al. 2011, pp. 281-294) define o património

geomorfológico/geológico, como um conjunto de elementos naturais abióticos existentes na

superfície da terra e que devem ser preservados por gerações após gerações, devido ao seu

valor patrimonial incluindo assim o património geológico, geomorfológico, pedológico,

hidrológico. A grande diferença em relação aos trabalhos de Brilha é que os trabalhos de

Luísa Rodrigues não consideram que o património geológico integre o património

geomorfológico, que é considerado contrariamente, daquele, como se vê na citação anterior.

Na sequência dos aspetos concetuais do património geomorfológico, Cunha e Vieira

(2002/2004, p. 19) incluem dois tipos de ocorrências com elementos do património

geomorfológico: “as formas do relevo e depósitos correlativos, que de per se ou em conjunto

são representativos de determinados processos morfogenéticos. Estes depósitos, quer sejam

grandes ou pequenos, isolados ou formando conjunto sistémicos, valerão em função do

caráter de excecionalidade e originalidade, associada ou não à raridade que apresentam,”

representada na Fig. 7.

De acordo com Vieira (2008, p. 549) os sítios geomorfológicos ou geomorfossítios são

elementos constituídos por formas de relevo e depósitos correlativos desenvolvidos a várias

escalas, aos quais se atribuem um conjunto de valores (científico, estético, cultural, ecológico

e económico) decorrentes da perceção do ser humano. ”Estes elementos geomorfológicos,

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

22

apresentando elevado valor patrimonial devem ser objeto de proteção legal e promoção

cultural, científico-pedagógico e para atividades de lazer, desporto e turismo”

Cumbe (2007, p. 41) classifica um geossítio como uma parte integrante da geosfera

que apresenta uma particular importância para a compreensão da história geológica da terra,

apesar de estar limitado em termos de espaço físico.

Já Brilha (2005, p. 52) define um geossítio como um local de “ocorrência de um ou

mais elementos da geodiversidade (afloramentos quer em resultado da ação de processos

naturais quer devido à intervenção humana), bem delimitado geograficamente e que apresente

valor singular do ponto de vista científico, pedagógico, cultural, turístico ou outro”.

Do ponto de vista geomorfológico, os geossítios são conhecidos por geomorfossítios -

termo proposto por Panniza (2001, cit. por Cumbe, 2007, p. 42). Este autor considera os

geomorfossítios como “paisagens geomorfológicas (incluindo processos) com valor

científico, cultural/ histórico, estético, social e económico de acordo com a perceção e o uso

humano”.

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

23

Figura 7- Esquema concetual do património geomorfológico (Cunha e Vieira 2004, p.549).

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

24

I.6. Como aplicar estes conceitos no Ordenamento do Território?

Em Portugal, a Lei de bases do Ambiente nº11/87 de 7 de abril, artigo nº5, alínea b,

define o ordenamento do território como um processo integrado da organização do espaço

biofísico, tendo como objetivo o uso e a transformação do território de acordo com as suas

capacidades, vocações e a permanência dos valores de equilíbrio biológico e de estabilidade

geológica, numa perspetiva de aumento da sua capacidade de suporte de vida.

A Carta Europeia de Ordenamento do Território de 1983 define-o como uma

disciplina científica, uma técnica administrativa e uma política que se desenvolve numa

perspetiva interdisciplinar e integrada, tendente ao desenvolvimento equilibrado e à

organização física do espaço segundo uma estratégia de conjunto. A mesma carta destaca a

gestão responsável dos recursos naturais e a proteção do ambiente, como principais objetivos

do Ordenamento do Território.

Neste contexto, as geociências têm adquirido em Cabo Verde maior importância

nomeadamente nas áreas do ensino da geografia, biologia e na investigação (Victória, 2008

p.290). Os planos implantados pelo governo têm vindo a dar ênfase à necessidade de proteger

o ambiente nas áreas de suporte da biodiversidade e dos recursos naturais (recursos hídricos,

geológicos e minerais) e aos impactos ambientais. Contudo, a componente geológica tem

vindo a ganhar consistência à medida que a sociedade adquire consciência do seu valor no

âmbito da educação, suporte da biodiversidade e na valorização do património natural.

Assim o papel das Geociências, do ponto de vista científico é cada vez mais

importante no Ordenamento estratégico do Território, na melhoria do ambiente e na

valorização do património natural, pois ou uma vez que, o património é um recurso

importante para o desenvolvimento (…). Cabo Verde constitui uma grande maravilha da

natureza e possui uma variedade de geossítios de grande interesse que requer medidas

específicas de conservação, de modo a promover a gestão racional dos recursos naturais e a

valorização do património natural. A sua valorização como local de interesse geomorfológico

é vista na perspetiva, de unidade territorial com atributos geológicos relevantes para incluir no

Ordenamento do Território.

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

25

A necessidade de preservar as referências do património natural de um determinado

lugar uma vez que este se considere inigualável, é um dos motivos para garantir a sua

preservação. A paisagem física não é somente a flora e a fauna. É também e sobretudo o

suporte geológico. Carvalho e Brilha (2010, p.436) enfatizam o interesse científico da

conservação dos geossítios uma vez que esta é essencial para garantir o desenvolvimento das

Geociências. Mas, para isso, é preciso pôr em prática as políticas e estratégias de conservação

da natureza e de Ordenamento do Território.

Para o Planeamento e Ordenamento do Território, devem ter-se em conta os valores

patrimoniais e locais com interesse geológico ou geomorfológico. Por isso, os geossítios

quando integrados num programa de um roteiro ligado ao turismo da natureza, contribuem

para o desenvolvimento das sociedades locais.

Na Ilha de São Nicolau, a atividade turística encontra-se numa fase ainda muito

incipiente. Os valores patrimoniais que ela possui poderão motivar o aparecimento de muitos

mais espaços naturais valorizados com vista a desenvolver a ilha no sentido económico e

sociocultural. Por outro lado, deve apostar-se na política educativa para que haja um

conhecimento sobre o geopatrimónio, alertando dessa forma as populações, para as questões

de sensibilização e proteção do ambiente.

Segundo Brilha (2005) o património geológico pode constituir um recurso de elevado

valor seja ele científico, pedagógico, turístico ou económico. Estes conceitos podem ser

aplicados como estratégias para o desenvolvimento territorial com base na geodiversidade.

Até à atualidade poucos têm sido os trabalhos dedicados aos temas relacionados com

a geoconservação e a geodiversidade em Cabo Verde. Devido às suas condições climáticas, as

ilhas estão sujeitas a grandes ameaças face à sua suscetibilidade no que diz respeito a grandes

riscos geomorfológicos nomeadamente à erosão, aos riscos de cheia, à escassez de recursos

geológicos, à perda da biodiversidade etc. Esses problemas estão também relacionados com o

ordenamento do território. Por este motivo, é necessário preservar os recursos contra a sua

exploração.

A falta de consistência destes materiais traz graves consequências ao nível de

potenciais riscos geomorfológicos. Para além destas consequências, é importante ter em

mente que são recursos esgotáveis cuja perda será irreversível.

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

26

CAPÍTULO II. ÁREA EM ESTUDO

II. 1-Enquadramento Geográfico

O Arquipélago de Cabo Verde localiza-se aproximadamente a 455 km da costa

ocidental Africana, entre os paralelos 17º13´ e 14º 18´ de latitude norte e entre os meridianos

22º 42´ e 25º 22´ de longitude oeste de Greenwich e a 1400 km a sul sudoeste (SSW), das

Canárias.

O Arquipélago é constituído por um conjunto de dez ilhas e cinco ilhéus principais.

Estas dez ilhas foram divididas em dois grupos consoante a sua exposição ao vento dominante

que sopra do nordeste (ventos alísios): o grupo de Sotavento e o grupo de Barlavento.

Segundo Bacelar (1932, pp. 10-12) “as ilhas emergem de um soco submarino, em

forma de ferradura, situado aproximadamente a 3000 metros de profundidade. Deste soco

emergem três pedestais, que se podem observar na Fig. 8: a norte compreende as Ilhas de

Santo Antão, São Vicente, os Ilhéus (Raso, Branco) e a Ilha de São Nicolau; na parte Leste-

Sul as Ilhas do Sal, Boavista, Maio, Santiago e Ilhéus (Rabo de junco…); e a Oeste as Ilhas

do Fogo, da Brava e os Ilhéus. Entre a Ilha de São Nicolau e a do Sal, existe um pedestal

secundário que chega quase a atingir a superfície do oceano com cerca de 80 metros de

profundidade.

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

27

Figura 8- Distribuição das Ilhas de Cabo Verde nos três pedestais.

Pereira, (2010 p. 113), adaptado a (Bebiano 1932).

A Ilha de São Nicolau é a quinta ilha do Arquipélago inserida no grupo de Barlavento.

É a última ilha deste grupo, na direção nordeste-sudoeste (NW-SE), atingindo 1500 m de

altitude acima do nível médio da água do mar, tendo como ilhas vizinhas Santo Antão,

seguido de São Vicente, a noroeste e na parte extremo do sudoeste, a Ilha deserta de Santa

Luzia e os Ilhéus Branco e Raso. Em direção a norte-noroeste (N-NE), encontra-se a Ilha do

Sal, Fig. 9.

Situa-se entre os paralelos 16º 28` N e 16º 40` 41`` N e os meridianos 24º 00` 47`` e

24º 25` 57``W (Macedo et al; 1988) e ocupa uma superfície com cerca de 343 km2. O

comprimento máximo é de 45 km na direção este-oeste e a largura máxima de 25 km na

direção norte-sul. Possui uma formação muito peculiar, semelhante ao continente africano na

parte ocidental (norte-sul), que abrange a ponta do Espechinho à Vermelharia com 23 km, e a

ponta da Prainha e Brouco com 16 km.

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

28

A configuração da Ilha de São Nicolau é bastante distinta das outras ilhas, devido à

falha do campo da Preguiça, que a separa em duas partes. A parte mais larga, tanto para a

vertente norte como para a vertente sul, é constituída por vários esporões que formam entre

elas verdadeiros canhões, que se denomina de corpo da Ilha. A outra parte mais adelgaçada,

tem um alongamento em forma de uma cauda, com cerca de 38 km de comprimento e 5 km

de largura média respetivamente na direção oste-este.

Figura 9- Enquadramento Geográfico da Ilha de São Nicolau

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

29

II.2- O Clima

Do ponto de vista climático, Cabo Verde localiza-se entre a zona dos Anticiclones

Subtropicais e a zona de Baixas Pressões Equatoriais, onde predominam os chamados ventos

gerais ou alísios do nordeste. O clima de Cabo Verde está muito dependente da posição da

convergência intertropical (CIT), que corresponde a uma superfície de descontinuidade que

separa o ar húmido proveniente das duas zonas de divergência de massa de ar e de natureza

diversa, situadas em cada um dos hemisférios.

As posições do Anticiclone dos Açores e da convergência intertropical (CIT)

determinam principalmente a sucessão dos tipos de tempo que constitui a dinâmica do clima

das ilhas, (Ribeiro, 1960, pp.49-50). Os dois tipos de tempo são designados de tempo das

águas que correspondem aos meses mais chuvosos (os meses de julho a outubro), em que a

Frente Intertropical se desloca para norte transpondo o Arquipélago, de maneira que este fica

atingido pela massa de ar quente e húmido temporariamente.

A instabilidade das massas de ar deve-se sobretudo ao “ar da monção” quente,

húmido e instável que se associa às depressões vindas de Leste e outras depressões que se

formam no Atlântico sul das ilhas. São estas instabilidades, que dão origem a chuvas por

vezes violentas e escassas provocando mau tempo, e outras vezes de forma prolongada, mas

de intensidade variada (Ribeiro, 1960, pp. 53-54). O tempo seco corresponde aos restantes

meses do ano. O facto de os ventos alísios não transportarem ar húmido, faz com que o país

apresente seca durante quase todo o ano.

Segundo Semedo (2004, cit. Alfama, 2007, p. 26) devido à influência da corrente fria

do norte das ilhas, designada também de Corrente das Canárias, a precipitação e a humidade

sofrem influências marítimas. Quando ocorrem os ventos alísios, a massa de ar proveniente

do anticiclone dos Açores arrefece em contato com o mar frio. Este fenómeno faz com que as

condições da atmosfera estabilizem, dificultando a ocorrência de precipitações.

Rebelo (1999, p. 48) do ponto de vista da climatologia, salientou “ a posição relativa

da CIT no decorrer do ano, porque a ela se associa uma massa de ar fortemente pluviogénica

de ar tropical marítimo instável da moção de sudoeste, do qual o arquipélago recebe os

aguaceiros da estação das águas”.

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

30

As ilhas possuem caraterísticas áridas e semiáridas com tendência para a seca

reforçada pelos ventos alísios do nordeste (NE) que determinam a estação seca, também

conhecida pelo harmatão. É uma corrente de ar quente e seco muitas vezes acompanhado de

poeiras, que sopra de Este do Continente Africano (Teixeira, 2004) que se faz sentir no início

do ano por vezes com frequência no mês de outubro.

Nunes (1962) define duas regiões climáticas para a Ilha de São Nicolau. Estas duas

regiões climáticas são afetadas pelos condicionalismos à escala local consoante a exposição

das vertentes. A primeira região climática abrange a ponta Leste, estendendo-se pelo Campo

de Preguiça e englobando toda a zona Sul do Oeste da Ilha, avançando para W e NW.

O facto de esta área possuir declives e altitudes baixas, faz com que o ar tenha

dificuldades em atingir alturas suficientes devido aos movimentos de convecção, o que vai

resultar numa fraca formação de nuvens e consequente precipitação. A segunda região

climática possui características mais húmidas, com o predomínio de relevos mais acentuados

que distinguem estas duas regiões climáticas.

É nesta segunda região climática da ilha, que se avistam os grandes vales bem como as

áreas agrícolas de maior relevância para a agricultura (vale de Fajã) e para o sequeiro

(Cachaço, Lobo Pelado, Pico Agudo, Covoada, vale de Camarões e de Matim). A ilha de São

Nicolau possui um clima suave, mas que não se diferencia tanto do clima geral do país. A

temperatura é amena chegando a atingir valores máximos mensais que rondam os 26 a 27º C.

Um estudo feito por Olivry (1981, p. 40) sobre a ”Precipitação em São Nicolau” com

base nas classificações geográficas e climáticas, indica que a ilha apresenta um clima árido.

Também realçou que as particularidades de cada área fazem sobressair a grande diversidade,

em função dos fatores locais.

Na realidade, acontece que muitas vezes chove numa parte da ilha enquanto na outra

nem sequer chega a cair uma gota de chuva. Por vezes a chuva nem chega à terra, ficando

mesmo no oceano. São os contrastes do sistema montanhoso que explicam as diferenças de

precipitação entre as partes das ilhas.

O clima tem uma influência muito forte na paisagem presente nos diversos pontos da

ilha. Nas palavras de Orlando Ribeiro (cit. Correia, 1996 p.85) estão sempre presentes as

influências: do quadro local geográfico, da exposição das vertentes, da morfologia, da altitude

e da componente atmosférica que marcam esta diversidade. No entanto, a precipitação é um

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

31

aspeto que merece destaque devido à sua escassez, variabilidade e irregularidade que se

relacionam com a forma como esta se distribui na ilha.

Amaral (1964, p.17), na sua Dissertação de Doutoramento sobre a “Ilha de Santiago

Cabo Verde: a terra e os homens”, realçou a importância do clima, como um fator primário

na paisagem da ilha uma vez que a condiciona em todo o seu aspeto. Segundo este autor “o

clima determina um tipo de particular solidariedade entre as diversas ordens de fenómenos,

como a evolução do relevo, os solos e a vegetação, o regime hidrográfico e a ocupação

humana”.

A importância do clima reflete-se na paisagem e em todos os aspetos da vida do Cabo-

Verdiano. É a abundância de precipitação que assegura a agricultura (cultivo do milho e do

feijão), que constitui a base de subsistência de grande parte das ilhas sobretudo nas áreas

rurais. Caso contrário, a sua escassez origina transtornos para quem depende dela para a sua

sobrevivência.

A chuva reflete um tipo particular de solidariedade na alma do povo que se transmite

na cultura, música, gastronomia e também na literatura locais. Muitos poetas e escritores

fornecem-nos essa descrição, através da cartografia real e simbólica dos espaços da paisagem

e da sociedade com belíssimos romances do país.

Por exemplo, o poeta escritor Eugénio Tavares diz “o que seria de Cabo Verde se a

natureza decidisse abençoar-nos com chuvas regulares? (…). Mas infelizmente (…) em

menos de um mês, toda essa alegre beleza começa a secar, a definhar de novo e o castanho

cobre a ilha. A voz do poeta eugeniano continua toda a hora a escoar na boca das ribeiras,

nos campos áridos das Ilhas Cabo Verdianas, nas cordas dos instrumentos musicais (…) no

coração amigo dos imigrantes, em todas as latitudes, nas vozes livres do poeta” (in Romance

Mornas e Cantigas Crioulas, Eugénio Tavares).

Já Lopes Chiquinho sobre esta temática afirma o seguinte: “O ano agrícola começou

com boa cara, com a chuva geral logo em princípio de agosto. Toda a ilha foi semeada.

Mamãe recomendava (…) que semeasse todo o milho. A prenda que tinha na cabeça

imunizava-me contra o trabalho agrícola. Enxada não é para a gente aprendida (…)”

(Romance Caboverdiano, Lopes Chiquinho).

Com base nas precipitações médias mensais num período de vinte anos (1980-2000)

verificadas nas cinco estações meteorológicas selecionadas nas diferentes partes da ilha

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

32

(gráficos 1 a 5, ver anexo II) é possível ter uma noção da variabilidade da precipitação e da

influência dos ventos alísios durante os meses a partir de outubro. No período mais chuvoso

influenciado pela convergência Intertropical (CIT), como se pode verificar nos gráficos acima

mencionados, os valores de precipitação mais elevados registam-se nos meses de agosto e

setembro, em todos os cantos da ilha.

Um dos fatores condicionantes está ligado à orografia, ou seja, ao contraste do sistema

montanhoso. Como se pode observar, são valores que se registam nas localidades que estão

abrangidas pela região mais húmida, de relevos muito acentuados e com exposições voltadas

a N e NE - é o caso do posto de Canto Fajã com cerca de cento e vinte milímetros, do posto

da Praia Branca com cem milímetros, seguido do posto de Cachaço aproximadamente com

oitenta milímetros. Contrariamente o posto da Ladeira da Vila de Ribeira Brava, apresenta

aproximadamente setenta milímetros, e por fim, o do Juncalinho com cerca de oitenta

milímetros, onde se verifica uma ligeira influência da exposição do relevo refletindo-se em

valores de precipitação relativamente mais baixos.

II.3- Aspetos geológicos

Do ponto de vista geológico, a Ilha de São Nicolau assim como as outras ilhas que

constituem o Arquipélago, são de origem vulcânica. Em geral, esta ilha é ocupada por mantos

basálticos (Fig. 10) também designados por “série basáltica” que formam camadas extensas,

quase sempre inclinadas para as áreas costeiras com o pendor que varia entre os 6 a 10º. Estes

mantos são acompanhados de produtos piroclásticos (brechas, aglomerados, lapilis, tufos e

escórias).

Estes produtos vulcânicos foram derramados principalmente pela cratera principal que

atualmente ocupa a área designada de Monte Gordo, Bebiano (1932, p. 99). Esta série

basáltica por vezes é cortada por filões de rochas ácidas. Estas formações verificam-se em

algumas áreas, sobretudo as que abrangem o vale da ribeira Brava, o vale da ribeira do

Recanto e a Figueira de Coxe. Os filões apresentam um certo contraste entre a cor branca das

rochas ácidas e a cor escura do manto basáltico, que Bebiano designou por “complexo da

Vila”.

O mesmo autor afirma que a parte mais adelgaçada da ilha que será mencionada mais

à frente do capítulo, formou-se a partir dos vulcões secundários situados nas proximidades do

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

33

Monte Bissau, Tope Simon e Monte Vermelho. Em certas áreas, observam-se alguns vulcões

que foram expelindo grande quantidade de lapilis, nestas áreas. Vulcões, esses, que se

apresentam hoje em formato de “caldeiras”, como por exemplo na cratera que se verifica a

norte nas proximidades do aeroporto da Preguiça com cerca de 2 km, a Caldeira do Manjolo

Grande e Ladrão com cerca de 6 km e a do Morro Galinha a sueste do Juncalinho etc.

De acordo com a Notícia Explicativa da Carta Geológica da Ilha de São Nicolau (Cabo

Verde), escala de1/50.000 de Macedo et al. (1988, pp. 1-32) admite-se que a história

geológica da ilha tenha ocorrido em “três ciclos eruptivos completos, muitas vezes

interrompidos por deposições sedimentares, nomeadamente os calcarenitos, conglomerados e

areias, produzidas sobretudo nos períodos de relativa calma vulcânica - (Complexo Eruptivo

Interno Antigo, o Complexo Eruptivo Principal e os Depósitos Sedimentares).

Os materiais piroclásticos distribuem-se pela maior parte do maciço montanhoso e

também pelo resto da Ilha, nomeadamente nas extremidades de NW (Localidade de Praia

Branca) e nas direções de SW e Sul (na região do Monte Gordo, Monte Bissau, Casinhas,

Ponta Calheta e Porto Lapa).

Na costa da ilha, os depósitos fossilíferos terciários são dominantes por vezes

intercalados de mantos basálticos, com maior representação nas áreas do Carriçal,

Castilhianos, Ribeira Alta e Chão do Barril.

As rochas granulares estão presentes em alguns locais e são de origem “mentílica”,

(Mendes, 1980, cit. por Macedo, 1988, p. 4) e incorporadas em escoadas basálticas de

carbonatitos e blocos soltos de natureza calcítica.

Do ponto de vista geotectónico, Mateus Nunes (1962) identificou uma interrupção de

uma fratura na região da Preguiça que separa o corpo da ilha de uma cauda. A mesma falha

geológica na direção norte-sul foi também identificada por Bacelar Bebiano (p. 115). A

descoberta dos sedimentos fossilizados bem como a presença de fósseis marinhos no Monte

Focinho vieram comprovar que o atual campo da Preguiça esteve submerso, tendo sido

levantado mais tarde a superfície que se observa com cerca de 200 metros de altitude.

Mediante a informação presente na Notícia Explicativa Geológica, do ponto de vista

da estratigrafia, a ilha apresenta as seguintes unidades estratigráficas que também se podem

observar no quadro da Fig.11.

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

34

1- Complexo Eruptivo Interno Antigo - representa a unidade de afloramentos rochosos

mais antiga da ilha, constituída na maior parte por filões de origem basáltica

acompanhados de brechas intravulcânicas, escoadas lávicas, materiais piroclásticos de

natureza fonolítica, numa idade mais recente. A maior parte destes afloramentos verifica-

se nas áreas da Vila de Ribeira Brava, na encosta escarpada de Calenjão, na localidade de

Talho, Pombas, Cabeço de Vaca e Baia de Barreiro.

2- Sedimentos do Miocénico Superior - representam os níveis de conglomerados de

calcário e calcarenitos fossilíferos intercalados entre as rochas do Complexo Eruptivo

Antigo. A maior parte desses afloramentos verifica-se no Campo da Preguiça e na Ribeira

do Boqueirão.

3- A formação de Figueira de Coxe - é constituída por derrame lávico e piroclásticos

submarinos, separados em alguns locais por sedimentos da idade Miocénica Superior.

Esta unidade também se verifica na Vila de Ribeira Brava, Queimada, na área de

Carvoeiro, Belém, Ponta de Cachorro, Juncalinho, Moro Braz e Ribeira Alta.

4- Depósito Conglomerático-Brechóide - esta unidade contém uma estratigrafia semelhante

ou idêntica às Ilhas de Santiago, Boavista, Maio e São Vicente. É constituída

essencialmente por depósitos sedimentares (elementos poligénicos, rolados e angulosos de

varias dimensões). Estes materiais verificam-se praticamente na estrada que vai da Ribeira

Brava ao Calenjão, nos planaltos de Fajã, Ribeira Prata, Belém e Juncalinho.

5- Complexo Eruptivo principal - esta unidade geológica domina a maior parte da ilha. A

estratigrafia é comparada com o complexo eruptivo do Pico de Antónia na ilha de

Santiago e a formação de Calheta na Ilha de Boa Vista. A maior parte, constitui-se por

escoadas subaéreas e submarinas e ainda piroclastos de natureza basáltica. Esta formação

observa-se na localidade do Carriçal, Debaixo de Rocha, a norte de Ribeira Brava, no

Talho, Ribeira de Boqueirão, Cabaçalinho, Fajã e nas principais ribeiras como a ribeira de

Calhau, ribeira Seca, Prainha, ribeira Manca, e entre Fragata e Praia Branca.

6- Formação de Preguiça - está associada a outras formações, nomeadamente o Complexo

Eruptivo Principal mencionado anteriormente, a formação do Monte Gordo e os

Sedimentos Quaternários, que serão abordados seguidamente. É constituída por escoadas

subaéreas e submarinas, acompanhadas por piroclastos. Estas formações estendem-se pela

área de Cachaço, sobretudo os piroclastos em forma de filões, em todo o vale da Fajã,

Cabaçalinho, Morro Alto, Chão Bonito, nas áreas litorais do sul de Tarrafal, do porto da

Preguiça, da Ponta Preta e da Boca da Ribeira.

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

35

7 - Formação do Monte Gordo - esta formação tem um paralelismo com os episódios

vulcânicos que ocorreram nas outras ilhas de Cabo Verde, como por exemplo as formações de

Monte das Vacas na Ilha de Santiago.

Os materiais piroclásticos (lapili, escórias e bombas) do Monte Gordo marcam

praticamente a morfologia da maior parte da Ilha bem como as escoadas lávicas do Complexo

Eruptivo Principal. Em algumas partes orientais, encontram-se aparelhos secundários que

conservam ainda as crateras (por exemplo nas proximidades do aeroporto da Preguiça).

Verificam-se também os maiores afloramentos com os mesmos materiais nas áreas do Parque

Natural do Monte Gordo, Praia Branca, Vila da Ribeira Brava, Morro Alto, Monte Bissau,

etc.

8 - Formações Sedimentares Quaternárias - estes sedimentos plistocénicos são

essencialmente calcários, de fáceis marinha, alguns terraços e dunas fósseis. No entanto os

sedimentos de maior desenvolvimento nesta ilha são na sua maioria da idade holocénica,

compostos por depósitos de vertentes, enxurradas e cones de dejeção, com predominância de

aluviões e areias em algumas áreas.

As fáceis marinhas são representadas por areias e cascalheira das praias. Alguns

desses depósitos podem ser encontrados na foz e a montante da Ribeira Brava, Ribeira do

Chamiço, Ribeira Prata, Cabeço de Vaca, Campo de Preguiça, Chão de Norte, estrada de

Juncalinho, Ponta Preta, Carriçal, e a Noroeste do Tarrafal.

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

36

Figura 10. Carta Geológica da Ilha de São Nicolau (Macedo et al. 1988).

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

37

Figura 11- Quadro Estratigráfico da Ilha de São Nicolau

Idade Formações Fácies Continentais e Fácies Marinhas

Holocénico

Aluviões (a), Areia (ar), depósitos de vertente (dv), Depósitos de

enxurrada (de)

Cones de dejeção (cd), Cascalheira de praia (cp), areias de praia

(ap)

Plistocénico

Terraços (t), Dunas fósseis (df),Calcários (cal)

Formação do Monte Gordo Cones de piroclastos (pi), Pequenas escoadas (m), basaltos

Pliocénico Formação da Preguiça Escoadas subaéreas (mPG) e submarinas (LRPG) e Piroclastos

basálticos (PiPg)

Mantos subaéreos (M), Piroclastos (Pi), Chaminés fonolíticas

intercaladas

Complexo Eruptivo

Principal

Mantos submarinos basálticos das séries inferiores (LRi) e

superiores (LRs)

Sedimentos intercalados (conglomerados, calcários, calcarenitos,

fossilíferos e dunas fósseis)

Miocénico Superior-Pliocénico

Lavas submarinas superiores, Lavas submarinas inferiores,

conglomerados, calcários, calcarenitos fossilíferos (cgcal)

Depósitos conglomeráticos brechóides (CB), conglomerados e

brechas sedimentares e camadas areno-argilosas

F. de Figueira de Coxe

Mantos (ф) e piroclastos (π) submarinos

Conglomerados, calcários e calcarenitos fossilíferos de Monte

Focinho Miocénico Superior

Ante Miocénico Superior

Complexo Eruptivo Interno

Antigo (CA, sl)

Escoadas, Chaminés (ch), piroclastos (Pi) Fonólito (Ø)

Filoniano de base e brechas intravulcânicas (CA,sr)

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

38

II.4 - Aspetos Geomorfológicos

Segundo Bebiano (1932) a orientação das ilhas derivou dos diversos diques e filões

que se encontram hoje na Ilha de Santo Antão e também devido ao relevo submarino das ilhas

de Sotavento. Este fato, parte do princípio que as ilhas se formaram ao longo da fratura de

orientação E-W, proveniente dos fenómenos vulcânicos.

A Ilha de São Nicolau na sua totalidade apresenta uma variedade de formas de relevo

que lhe confere uma configuração única face às restantes Ilhas. De acordo com a descrição de

(Nunes, 1962) já mencionada anteriormente, esta configuração divide-a em duas formas

dando-lhe a aparência de um corpo na direção Norte-Sul (o Maciço Montanhoso do Monte

Gordo) e mais adelgaçante em forma de uma cauda, no sentido Este-Oeste.

Estas caraterísticas resultaram da diferenciação da natureza dos mantos geológicos

que cobriram a superfície da ilha nas últimas décadas da erupção vulcânica, que resultou a sua

divisão geológica. No entanto, a origem e a idade muito recentes atribuem à ilha um relevo de

caráter violento, marcado pela erosão em quase toda a sua superfície (Nunes,1962). Por outro

lado, a orografia e os ventos alísios devido ao seu comportamento em função da distribuição

do relevo, oferecem-lhe um caráter mais árido para a região sul.

A ilha inclui dois maciços montanhosos: um deles domina a parte central e destaca-se

pelos relevos mais significativos do ponto de vista orográfico, atingindo o ponto mais alto - o

Monte Gordo com 1312 metros de altitude e o Alto das Cabaças com 656 metros de altitude.

O outro maciço localiza-se a oriente cujos alinhamentos se estendem nos sentidos Este-Oeste

em forma de cristas, que terminam no Monte Matias e no Morro Vermelho, como se pode

observar na Fig. 12.

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

39

Figura 12. Mapa hipsométrico da Ilha de São Nicolau

A configuração geomorfológica define por vezes uma paisagem marcada por

elevações em terrenos de piroclastos (escória e lapilis em forma cónica), alternados com uma

certa assimetria e sem interrupções, que geralmente se encontram nas proximidades de

algumas nascentes de água (áreas de Hortelã, Torno d´Água…).

Por outro lado encontram-se relevos muito acidentados, que chegam a atingir valores

superiores a 40º, numa cadência quase ritmada, separados por vales profundos e muito

encaixados que cortam as formações basálticas e as escórias vulcânicas (Fig. 13). Em alguns

casos, estes vales apresentam formas muito alargadas de vertentes abruptas ou em forma de

anfiteatro, como por exemplo, o vale da Vila da Ribeira Brava. Em outros casos, instalaram-

se em filões de traquito e outras rochas duras que desenham na paisagem formas de cristas e

picos.

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

40

Figura 13. Mapa de declives da Ilha de são Nicolau

Os afloramentos rochosos apresentam alternâncias de matérias lávicas, piroclásticas e

disjunções basálticas. Devido a esta alternância, o fundo dos vales mantém grande quantidade

de carga sólida que ao ser arrastada pelas correntes confere-lhe uma platitude bem marcada.

Devido à riqueza do solo, grande parte dos campos aluvionares dos fundos dos vales

são aproveitados para a prática da agricultura. O solo distribui-se na ilha respeitando os

efeitos climáticos. Por exemplo nas superfícies de maior elevação, apresenta uma tonalidade

mais escura com vários horizontes de acumulação em comparação com os solos áridos que

constituem as crostas carbonatadas de profundidades variáveis nas plataformas costeiras.

Relativamente à hidrografia, as ribeiras já referidas anteriormente, são geralmente

muito profundas e com poucos afluentes. Alguns leitos são pedregosos e apresentam

percursos variados de caráter torrencial e temporário, devido ao regime a que estão sujeitos.

Em tempos, parte das linhas de água acabaram por se instalar nos depósitos de vertente, à

medida que os sedimentos arrastados se iam acumulando.

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

41

Excecionalmente em algumas ribeiras a água brota nas nascentes - é o caso da Ribeira

Funda, Camarões, Queimada, Ribeira Brava, Ribeira Prata, Fontainha e a ribeira de Calhau.

Na parte oriental verificam-se os casos da Ribeira Seca, Ponte d´água e Ribeira Alta. A

existência destas nascentes faz com que a vegetação apareça em certas áreas e nas ribeiras que

se iniciam no Maciço Montanhoso do Monte Gordo.

As orlas costeiras da ilha materializam-se por imponentes falésias que alternam com

plataformas litorais de encostas, constituídas na sua maioria por materiais na fase de alteração

e de desmoronamento adjacentes. A linha de costa apresenta formas modeladas bastante

recortadas e irregulares, que desenham em determinados troços grandes formações de deltas

lávicos dando origem a grandes baías. Muitas dessas baías são constituídas por substrato

rochoso variado que, por vezes, dá origem a praias de areias com dimensões e cores

diferentes.

Deste modo, pode-se dizer que a morfologia vigorosa da ilha é responsável por

paisagens diversificadas e de grande valor estético que por isso têm um elevado valor

patrimonial.

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

42

Figura 14 - Sistema Montanhoso do Arquipélago em altitude.

Fonte: Saraiva (1961, p.28).

II.5 - Dinâmica sociodemográfica

As ilhas foram descobertas provavelmente em dois períodos: em 1460, o grupo de

Sotavento e em 1462 o grupo de Barlavento, no qual está inserida a Ilha de São Nicolau. Foi

preciso introduzir tudo: “homens, animais, a cultura alimentar vinda de Portugal, de África,

do Brasil e da Índia. O cruzamento destes povos deu origem ao povo Cabo-verdiano e à sua

cultura como a musica (a Morna, o Batuque, a coladeira), a gastronomia (o milho) introduzido

do Brasil e à própria língua o “Crioulo” (Amaral, 1964, p.19).

Desde do período da colonização, o Ser Humano privilegiou os recursos da Natureza

através da navegação - o mar. O Ser Humano sempre desenvolveu no seu espaço geográfico a

prática de diversos atividades, de modo a satisfazer as suas necessidades, daí que o meio

tenha sido obrigado a sofrer determinadas alterações.

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

43

Do ponto de vista administrativo a ilha divide-se em dois concelhos: o Concelho da

Vila de Ribeira Brava e o Concelho da Vila do Tarrafal (Fig.15).

Figura 15. Divisão administrativa dos dois concelhos.

Com base nos dados do censo de 2010, presentes no quadro da (Fig.16), a ilha tem

uma população total de 12817 habitantes. O Concelho da Vila de Ribeira Brava possui um

total de 7580 habitantes distribuídos por vinte e cinco localidades, enquanto o Concelho do

Tarrafal possui um total de 5237 habitantes, distribuídos por cinco localidades.

Figura 16. Quadro da população total por concelho segundo o sexo

População total por concelho segundo o sexo

Concelho Masculino Feminino

Ribeira Brava 3886 3694

Tarrafal 2735 2502

Fonte: Instituto Nacional de Estatística, Censo 2010

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

44

O gráfico presente na Fig.17 apresenta as barras do crescimento demográfico a desde

1940 até ao ano de 2010 para a Ilha de São Nicolau. Como vimos a população até aos anos

cinquenta do século passado teve um crescimento muito lento, marcado por longos períodos

de crise provocados pela fome, doenças sanitárias e infeciosas (gastroenterite, paludismo etc.)

e as secas prolongadas de 1941-1942 e 1947-1948.

Figura 17- Gráfico da evolução da população (1940-2010)

Graças à melhoria das condições sanitárias, às medidas tomadas através de programas

de assistência médica (como a vacinação) e à consequente diminuição da fome, foi possível

reduzir a mortalidade.

O período de 1950-1960 reflete a explosão demográfica de 10366 para 13866

habitantes na Ilha de São Nicolau. Este crescimento ficou marcado por um período de elevada

natalidade e uma mortalidade decrescente em todo o país. Como se pode observar no gráfico,

os anos de 1970 registaram a maior subida de população desta ilha com cerca de 16308

habitantes. A partir desta data até 2010, a população diminuiu significativamente.

0,0

2.000,0

4.000,0

6.000,0

8.000,0

10.000,0

12.000,0

14.000,0

16.000,0

18.000,0

1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010

Evolução da população num período de 70 anos

População

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

45

Esta diminuição da população esteve associada ao fenómeno emigratório sobretudo da

população jovem à procura de novas oportunidades para outras ilhas nomeadamente, a Ilha de

São Vicente e a Ilha Sal, devido às ofertas de emprego ligadas ao turismo. De destacar ainda a

emigração para o estrangeiro (Angola, Portugal, EUA, Holanda…).

Com base nos dados estatísticos presentes no quadro da Fig.18, é possível verificar

que a população ativa e ocupada, concentra-se na sua maioria no concelho da Vila da Ribeira

Brava, com destaque para os indivíduos do sexo masculino. Pelo contrário, os valores mais

elevados da população desempregada verificam-se no concelho do Tarrafal afetando

sobretudo a parte masculina.

Figura 18. Quadro da população ativa e desempregada nos dois concelhos em percentagem.

População ativa ocupada

(total) em (%) Masculino Feminino

População

desempregada

(total)

Masculino Feminino

Vila de Ribeira

Brava 2.750 64,2 35,8 136 66,2 33,8

Vila do Tarrafal 1.825 64,9 35,1 190 55,8 44,2

Ambos os sexos 15-24 25-44 45-64 > 65 -

Vila de Ribeira

Brava 4,7 11,2 3,2 2,6 0 -

Vila do Tarrafal 9,4 18,4 7,7 5,9 0 -

Fonte: Instituto Nacional de Estatística, Censo 2010

Quanto ao nível de ensino, apesar de existir uma escola de ensino básico e secundário

em cada concelho, a vila do Tarrafal é a que apresenta maior percentagem de população sem

escolaridade, e com nível pré- escolar, relativamente alto em relação ao concelho da Vila de

Ribeira Brava. A desigualdade que se verifica entre os dois concelhos ao nível do desemprego

pode justificar-se, pelos diferentes níveis de instrução/escolaridade nos dois concelhos,

Fig.19.

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

46

Figura 19. Quadro do nível de ensino da população com três ou mais anos em percentagem

Nível de ensino da população 3 anos ou mais (%)

Sem nível / nunca

frequentaram

Pré-

escolar

Alfabetiza

ção

Ensino

básico Secundário

Curso

médio

Bacharel

ou

superior

Vila de Ribeira Brava 4,7 4,3 2,3 54,9 23,2 0,7 1,8

Vila do Tarrafal 12,4 6 1,8 52,3 23,2 0,9 1,4

Fonte: Instituto Nacional de Estatística, Censo 2010

II.6. Dinâmicas das atividades económicas

Desde o final do século XVII a forma de sobrevivência da população já assentava no

seu património natural ou nas suas riquezas naturais, através da exploração dos recursos do

solo nomeadamente a urzela2, o algodão e o dragoeiro (planta autóctone da ilha) e outros

produtos florestais.

Mais tarde, no século XVIII, assistiu-se ao surgimento do café e de plantas

oleaginosas como a purgueira (jatropha curcas) entre outras plantas produtoras de fibras

como o caso do Carapete (furcraea foetida), que constituíam a riqueza económica da ilha bem

como a criação de gado. Esta foi a primeira fonte de rendimento económico da ilha desde o

século XV (Teixeira, 2004, p. 94). Desde sempre a agricultura de sequeiro, por outras

palavras o cultivo do milho e do feijão bem como a criação de gado já mencionada, foram os

produtos-chave que marcaram o desenvolvimento de São Nicolau e das outras ilhas em geral,

como por exemplo a Ilha de Santiago, Amaral (1964).

A chuva, apesar dos constrangimentos provocados no aproveitamento da colheita do

milho e dos seus derivados desempenha um papel primordial na dinâmica económica da ilha,

2 A urzela trata-se de um líquen que nasce nas rochas das áreas costeiras. Essa planta foi aproveitada como

tintureira para a confeção de tecidos, no país em que esta atividade estava mais desenvolvida, sobretudo as

manufaturas holandesas e inglesas.

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

47

porque em períodos de pluviosidade abundante a produção de produtos agrícolas é garantida e

a agricultura é um setor que representa a base de subsistência de quase toda a economia do

país.

Dada a sua importância, a ilha possui uma forte vocação para a atividade agrícola. A

Câmara Municipal de São Nicolau tem vindo a contribuir para aumentar a produção

diversificando-a para as zonas húmidas. Embora seja uma agricultura de autossuficiência,

continua a ter dois tipos de exploração: a de sequeiro e a de regadio. A cultura de regadio

existe em pequena proporção e em espaços agrícolas muito dispersos, nomeadamente no vale

de Fajã.

Desenvolve-se em terrenos irrigados, cuja água provém de galerias. Na cultura de

regadio predomina essencialmente o cultivo da banana, cana-de-açúcar, produtos hortícolas,

raízes e tubérculos.

A pesca embora seja importante para a economia local, continua a ser deficientemente

explorada pelas populações. Embora seja significativo para a economia, o peixe destina-se

essencialmente ao sustento familiar. Contudo, constitui uma mais-valia para a economia no

Concelho do Tarrafal (onde se encontram as respetivas fábricas de conserva do peixe), não só

pelo número de pessoas empregadas direta e indiretamente como também para o consumo

alimentar da população.

Destaca-se ainda a venda de peixe no mercado no Concelho da Ribeira Brava pela

população vinda da localidade da Preguiça. Os condicionalismos ligados à falta de

infraestruturas, de incentivos à população e a uma deficiente rede de transportes de ligação

entre as ilhas, faz com que a distribuição do peixe seja feita basicamente no seu estado natural

para o mercado, como por exemplo o peixe salgado feito de forma tradicional bem como o

enlatado de atum.

O comércio, quer em São Nicolau quer em todo o Arquipélago, desenvolve-se em

virtude da posição geoestratégica que lhe proporcionou o Oceano Atlântico como ponto de

referência para a navegação e linha de ligação entre as outras ilhas.

Quanto ao turismo, mesmo que as vocações estejam mais viradas para a praia e o mar,

a atividade turística presente na ilha encontra-se em fase de iniciação. Entre as principais

razões que poderão justificar esta realidade poderão apontar-se a falta de infraestruturas,

manutenção, a ausência de um plano estratégico de desenvolvimento do turismo a nível

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

48

ambiental e consequentemente de um roteiro turístico nacional. São Nicolau apresenta

grandes potencialidades políticas e ambientais em vários domínios, que poderão contribuir

para um desenvolvimento dinâmico caso sejam bem aproveitadas, sobretudo pela sua

diversidade paisagística, patrimonial e cultural.

Na sequência de todas estas condições/condicionalismos vimos desde do início que o

ser humano sempre aproveitou os georecursos em todas as atividades, na produção dos seus

utensílios e na exportação dos seus bens.

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

49

CAPÍTULO III. GEOPATRIMÓNIO DA ILHA DE SÃO NICOLAU

III.1- Caraterização dos geossítios com interesse geopatrimonial

Na Fig. 20, apresenta-se o mapa com a localização dos geossítios que foram

identificados, localizados e descritos na Ilha de São Nicolau. Para cada geossítio foi elaborada

uma ficha de identificação de acordo com a metodologia de Brilha (2005), seguida de uma

breve descrição das características geológicas, geomorfológicas e estéticas bem como do

valor científico e didático que se associa a cada um dos locais assinalados levando a

considerá-los como elementos do Geopatrimónio.

Figura 20. Mapa da Localização dos Geossítios da Ilha de São Nicolau

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

50

Geossítio A1, Figura 21

Sítio de interesse patrimonial identificado - A1 Ribeira Funda

Localidade e Concelho Concelho de Ribeira Brava

Coordenadas 16.39`02.50``N 24.19`47.28 O

Legenda: A- aspeto do fundo do vale; B- aglomerado habitacional construído com basalto; C-

panorâmica sobre a baía a partir do aglomerado populacional; D- prática de plantações

agrícolas de espécies (tubérculos, cana de açúcar, banana…).

A B

C D

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

51

Este sítio trata-se de um elemento patrimonial de caráter paisagístico. Pela sua

localização privilegiada observa-se um conjunto particular de elementos patrimoniais, de

índole geológica (os mantos de basalto escuro e as escórias vulcânicas)3 geomorfológica,

hidrológica e cultural.

A norte deste local, observa-se um vale designado “vale da Ribeira Funda”, que

apresenta um aspeto muito cavado e profundo. Devido à acumulação de grandes patamares de

materiais de vertente proveniente do arrastamento das grandes chuvadas e à existência de uma

nascente de captação de água que se conserva ainda na galeria que aí se verifica, o homem

usufrui deste vale para o desenvolvimento de plantações agrícolas (cana de açúcar e

tubérculos).

Para o setor sul, verifica-se a morfologia litoral. Observa-se que o domínio do mar dá

uma configuração costeira em forma de baía. Nas arribas que vão recuando, à medida que

aumenta a extensão da praia e diminui a agitação marítima, observam-se calhaus rolados de

várias dimensões.

O aglomerado habitacional que se observa é construído utilizando produtos

autóctones, o basalto e palhas de cana-de-açúcar como materiais de construção demostrando a

sua originalidade. Trata-se de uma área com caraterísticas rurais. Atualmente sofreu a

influência do fenómeno do êxodo rural, encontrando-se habitada apenas por um único

morador.

Apesar do percurso ser exclusivamente pedestre, a partir da localidade mais próxima

(Estância de Brás) a acessibilidade ao local considera-se boa.

Tendo em conta alguns fatores mencionados, este local possui valores que podem ser

considerados como património associado à paisagem rural, agrícola e litoral. São valores que

podem ser visitados e aproveitados por exemplo para o desenvolvimento socioeconómico da

ilha.

3 A escória trata-se de um material bastante permeável, que permite um fácil escoamento da água da chuva.

Também atua como um filtro purificante da água.

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

52

Geossítio A2, Figura 22

Sítio de interesse patrimonial

identificado- A2 Praia do Barril

Localidade e Concelho Concelho da Vila do Tarrafal

Coordenadas (Google Earth) 16.36`09.46``N 24.24`50.72``O

Legenda: A- sinais de pressão antrópica (extração de areia); B- dunas de areia com propriedades

medicinais; C- pormenores da praia do Barril.

A

A

B C

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

53

Considera-se este sítio de caráter paisagístico. Trata-se de uma das maiores praias da

ilha. Localiza-se no litoral do Município da Vila do Tarrafal em direção ao eixo da via da

Praia Branca. Os elementos patrimoniais identificados são essencialmente de natureza

geomorfológica, sendo de destacar as baías em forma de conchas, os recursos minerais não

metálicos (areia da praia para a construção civil e areia das dunas com propriedades

medicinais) e o domínio da paisagem pelo mar.

Destaca-se também a presença de dunas que possuem caraterísticas muito particulares

devido à composição química dos materiais locais no que diz respeito por exemplo, ao

tratamento de doenças com indicações terapêuticas, nomeadamente o reumatismo,

osteoartrose, inflamações entre outras.

Para além dos elementos geomorfológicos, a praia possui outras particularidades de

valor ecológico, por exemplo em relação às desovas das tartarugas marinhas. Tanto a

acessibilidade como a visibilidade deste local são bastante favoráveis.

Tendo em conta os elementos aqui presentes, este geossítio deverá ser considerado um

local de interesse para a geoconservação uma vez que possui valores importantes que podem

ser explorados a nível científico, económico e estético. No entanto, a vulnerabilidade do seu

estado atual é elevada devido à exploração de areia exigindo uma estratégia de

geoconservação a curto prazo.

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

54

Geossítio A3, Figura 23

Sítio de interesse patrimonial

identificado- A3 Carberim

Localidade e Concelho Concelho da Vila do Tarrafal

Coordenadas (Google Earth) 16.39`01.34``N 24.25`01.02``O

Legenda: A- estruturais sedimentar em forma de cunha; B- Dobras intercaladas; C e D- pormenores de

laminação horizontal e sub-horizontal; E e F- Sucessão de formações de pias; G- Pormenor dos lapili

e tufos de escória estratificados de cor amarelada; H- formação de ouriços- do- mar.

A B

F G H

D E C

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

55

Este geossítio localiza-se nas interfaces costeiras próximas da localidade da Praia

Branca. Trata-se de um local de grande interesse geomorfológico que apresenta formas

diversificadas. Este geossítio evidencia-se na paisagem pela sua representatividade e

singularidade no conjunto das ilhas.

Os elementos geomorfológicos aqui identificados destacam-se pela variedade de

formas vulcânicas resultante das ações erosivas de caráter eólico, marinho, formas litológicas

(sedimentares), estratigráficas, formas de dobras intercaladas e outras em formas de

laminação sub-horizontal e em forma de fendas encrustadas. Este sítio é ocupado na sua

maior parte por lapili e tufos de escória4 que se dispõem verticalmente em estratos alternados

de cor amarelada, com abundância de crostas carbonatadas.

No limite inferior das plataformas, observam-se diversas lagoas circulares e ainda uma

sucessão de pias provenientes da dissolução do sal, algumas ocupadas por ouriços-do-mar.

Este sítio destaca-se também pela escultura natural em forma de cunhas, em sedimentos bem

consolidados, que variam à medida que o vento muda de direção. Na sua periferia, inclui

também outros elementos de interesse local nomeadamente (areias e jorras). Não restam

dúvidas de que este geossítio possui um conjunto de elevados valores científicos, didáticos e

complementares.

A vulnerabilidade é reduzida, relativamente a ações antrópicas, mas elevada face aos

processos naturais dependente quase exclusivamente das ações erosivas que provocam o

desmantelamento dos materiais piroclásticos na sua estrutura interna. Apesar do percurso

apresentar alguns desníveis no terreno, a visibilidade é boa em todos os quadrantes. Propõe-se

a integração deste local no património geomorfológico da ilha.

4 De salientar também que este geossítio foi eleito uma das 7 maravilhas do país, em Dezembro de 2013.

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

56

Geossítio A3.1 Figura 24

Sítio do elemento patrimonial

identificado- A3.1 Carberim

Elemento identificado Grutas

Localidade e Concelho Concelho da Vila do Tarrafal

Coordenadas (Google Earth) 16.39`01.34``N 24.25`01.02``O

Legenda: A - parte superior da gruta; B- aspeto de uma tuna lávica; C- diversidade florística no

interior da gruta; D – Pormenor de pequenas exsurgências.

B D

A C

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

57

Para além do interesse do seu património geomorfológico, Carberim considera-se

também um conjunto dotado de valor com significado arqueológico ou mesmo da

conservação de biodiversidade, dada a existência de grutas ou tunas lávicas aqui presentes.

No seu interior, verifica-se a presença de uma superfície húmida que sustenta a

diversidade florística que aqui se manifesta, bem como pequenas exsurgências de

concentração de água de forma difusa. No teto da gruta, observam-se formações com

alternância de estalactites lávicas resultantes da solidificação de pingos de lava.

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

58

Geossítio A 4. Figura 25

Sítio de interesse patrimonial

identificado- A4 Domo/cone de escórias de Praia Branca

Localidade e Concelho Concelho da Vila do Tarrafal

Coordenadas (Google Earth) 16º38`43.88 N" e 24º 24`04.56"W

Legenda: A- material de escória e do calcário fossilífero de cor branca; B-formações estratigráficas no

seu interior, com camadas intercaladas de lapili e tufos; C- sinais de degradação da paisagem

(exploração da jorra); D- Domo rochoso ou cone de escórias.

A B

C D

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

59

Este sítio localiza-se nas proximidades da Praia Branca. Neste local, destaca-se o

Domo rochoso como elemento geomorfológico dominante bem como as formações

estratigráficas existentes no seu interior, constituídas por camadas de lapilis e tufos. Destaca-

se ainda, a presença de calcário fossilífero 5 de cor branca, assente sobre o manto basáltico -

limburgítico olivínico.

A génese deste domo estará relacionada com as características de erupção vulcânica

(traquitos que formam os domos sobre as camadas basálticas), bem como a idade, intensidade

e atuação dos agentes erosivos. Os materiais piroclastos à medida que se foram acumulando,

deram origem a elevações vulcânicas como estas, também conhecidas em forma de “cones de

escória”. Este local destaca-se também pela importância dos recursos minerais (Jorra), que já

foram mencionados nos sítios anteriores.

As condições de acesso e de observação são favoráveis. Este sítio apresenta ainda

algumas riquezas do ponto de vista estético e pedagógico, às quais poderá ser atribuída

alguma importância.

5 Este calcário fossilífero, assenta sobre um manto basaltico-limburgítico olivínico, e é coberto por outro manto

de um basalto olivínico. Este calcário apresenta cor branca, dura, constituída por pequenas partículas sub-

angulosas, conchas de animais marinhos, cristais de augite, olivina e por basaltos muito alterados” (Bebiano,

1932, p. 112). Os domos ou cones escória, estão na origem dos vulcões monogenéticos basálticos, que originam

acumulações gerando formas efusivas cónicas e em agulhas como essas.

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

60

Geossítio A5, Figura26

Sítio de interesse patrimonial identificado-

A5 Debaixo de Rocha

Localidade e Concelho Concelho da Vila do Tarrafal

Coordenadas (Google Earth) 16.36`38.65``N / 24.15`46.17``O

Legenda: A- Pormenor de um perfil colunar basáltico flabeliforme ou prismático e a formação de

dunas de areia branca que se acumulam na sua base; B- Aspeto da praia.

B B

A

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

61

Este sítio localiza-se a sudeste da Vila do Tarrafal. Apesar das condições de circulação

serem um pouco desfavoráveis devido à própria constituição do solo, é possível obter uma

boa visibilidade.

Aqui os elementos identificados do ponto de vista do património, estão associados à

sua pequena baía e à morfologia que se lhe associa. A arriba que aqui se observa apresenta um

perfil colunar, alternado do basáltico também designado de prismas. Por vezes, estas formas

encontram-se intercaladas por blocos que disjuntam destes prismas, dando origem a formas

triangulares designados por leque. Estas geoformas resultaram-se do arrefecimento das

diferentes qualidades de lavas.

Na paisagem destaca-se a existência de grandes cordões de dunas de areia que se vão

acumulando na base das vertentes devido à força do vento. Trata-se de um local muito

conhecido pela comunidade local e também muito favorável à prática do turismo balnear e de

diversões na altura do verão. Estes fatores atribuem a este sítio algumas riquezas que

merecem ser visitadas, divulgadas e preservadas.

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

62

Geossítio A6, Figura 27

Sítio de interesse patrimonial

identificado - A6 Piscina natural do Juncalinho

Localidade e Concelho Concelho da Vila de Ribeira Brava

Coordenadas (Google Earth) 16.36`13.50``N / 24.11`19.40``O

Legenda: A- a morfologia da piscina em formato de disjunção esferoidal; B- plataformas de abrasão

marinha com pavimento poligonal.

A piscina natural da Lagoa localiza-se na mesma povoação de Juncalinho. A

acessibilidade é bastante favorável devido à sua conexão com a via principal da Vila de

Ribeira Brava, e possui boas condições de observação.

Os elementos geomorfológicos aqui representados destacam-se na paisagem pela

morfologia da piscina com forma circular privilegiando a observação do fenómeno geológico

de disjunção esferoidal presente nas escoadas lávicas que ali ocorrem. Destaca-se também a

disjunção colunar, cortada por plataformas de abrasão marinha que emergem na superfície

com aspeto de um “pavimento poligonal”. Além do interesse geológico, existem outros

interesses relacionados com o turismo balnear, bem como o valor cultural das festividades de

verão.

A B

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

63

Geossítio A7, Figura 28

Sítio de interesse patrimonial

identificado – A7 Forte da Preguiça

Localidade e Concelho Concelho da Vila de Ribeira Brava

Coordenadas (Google Earth) 16.33`11.92``N / 24.17`59.24``W

Legenda: A- Baía e a presença de estruturas colunares e/ou prismáticas; B - Símbolo da conotação

histórica das embarcações conduzidas por Vasco da Gama; C- Canhões Militares do antigo Forte da

Preguiça e o ponto de observação da morfologia do relevo envolvente.

C B

A

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

64

Este sítio representa o antigo forte da Preguiça situado na mesma localidade. O

presente miradouro constitui um ponto de observação importante quer para o mar, quer para

um conjunto de colinas morfo-estruturais de relevos assimétricos.

Trata-se de um local emblemático da ilha, devido à sua conotação histórica/ cultural

relacionada com a existência do antigo forte chamado “Forte da Preguiça”. São notáveis os

canhões militares e a estátua que retrata o percurso da rota marítima das primeiras

embarcações conduzidas por Vasco da Gama a caminho do Brasil. Possui um porto de

desembarque marítimo conhecido como um dos mais antigos da ilha, que atualmente se

apresenta alguns sinais de degradação.

No entanto continua a ser alvo de alguma utilidade, nomeadamente para o

desembarque de pequenos barcos/botes de pesca local. De salientar ainda, do ponto de vista

morfológico de que deste mesmo porto, se observa a presença da arribas com alternância de

estruturas colunares e/ou prismáticas resultantes da disjunção do basalto. Os acessos tanto

para este ponto de observação como para o porto são favoráveis, partindo quer da Vila da

Ribeira Brava quer do Campo da Preguiça.

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

65

Geossítio A8, Figura 29

Sítio de interesse patrimonial

identificado – A8 Carriçal

Localidade e Concelho Ribeira Brava

Coordenadas (Google Earth) 16.46`16.11``N / 23.57`35.13``W

Legenda: A- formações de deltas lávicos; B- arriba/falésia e o pormenor da vegetação devido à criação

de lençóis de água freáticos; C- local de desembarque de pequenos barcos de pesca local.

C B

A

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

66

Este sítio localiza-se a cerca de quarenta quilómetros da Vila de Ribeira Brava. O

trajeto até esta localidade considera-se muito pouco acessível, devido à natureza árida e

pedregosa do solo. A aproximação deste sítio permite uma observação magnífica quer a nível

da geomorfologia quer a nível da paisagem.

Considera-se particularmente importante a morfologia dos deltas lávicos, resultante do

afastamento da planície junto ao nível do mar bem como as camadas calcárias intercaladas

com mantos basálticos. Estas geoformas tiveram origem em escoadas de lava. Ao avançarem

para o interior do oceano originaram um recuo da linha de costa. São formações muito

conhecidas também na Ilha da Madeira e nas Ilhas do arquipélago dos Açores.

Outra particularidade que se identifica diz respeito “à formação arribas”, nas encostas.

Estas arribas e/ou falésias na maior parte das vezes encaixam nos troços terminais das ribeiras

que desaguam junto ao mar. Os materiais fluviais que aí se depositam proporcionam a criação

de lençóis freáticos no solo que favorecem a prática da agricultura.

Para além dos elementos de interesse geomorfológico, destacam-se outros aspetos

históricos/culturais - caso do reconhecimento da mais antiga fábrica de conserva do atum e do

pescado em São Nicolau.

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

67

Geossítio A9, Figura 30

Sítio de interesse patrimonial

identificado – A9 Monte Gordo

Localidade e Concelho Localiza-se na interface entre o concelho da Vila da Ribeira Brava e Vila

do Tarrafal.

Coordenadas (Google Earth)

17º 2´20.11´´N/ 24º 8´52.55´´W

A B

C D

E F G

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

68

Legenda: A- entrada do Monte Gordo; B- pormenores de formações de buracas de dimensões variadas

nas vertentes; C- morfologia altimétrica em formato de agulhas e cristas; D- comunidade de

dragoeiros; E- comunidade de tortolhos; F- maciço montanhoso em imagem de satélite; G- formações

de esterias nas vertentes.

Este sítio localiza-se na área de Cachaço conhecida pelo maciço montanhoso do

Monte Gordo. É o setor de maior altitude da ilha (1312 m), na parte ocidental, com uma

superfície de 952 hectares. Foi reconhecida como Parque Natural a nível nacional, pelo

decreto-lei nº3/2003 de 24 de fevereiro, aprovado pelo decreto regulamentar nº 10/2007, de 3

de setembro.

Aqui existe uma forte ligação entre o clima, a vegetação, o relevo e a atividade

humana. A variedade dos elementos naturais existentes no local assume uma importância

variável. Do ponto de vista geomorfológico, destaca-se desde já a importância deste conjunto

montanhoso.

Alguns setores conferem uma morfologia altimétrica em formato de agulhas e cristas,

bem como a presença de depósitos de vertentes estratificados em esterias e de grandes

perfurações resultantes da sobreposição do manto basáltico sobre a lava conferindo um aspeto

vesicular e cavernoso. Estas perfurações podem ser também designadas de buracas se assim

se entender).

Os vales são geralmente profundos, alguns em forma de escombreiras cobertas de

vegetação da base ao topo da montanha ao longo do parque. As formações subvulcânicas

salientes, distribuem-se, geralmente em formato de filões e diques desmantelados de rochas

granulares (traquitos e fonólitos) que cortam a “série basáltica”, de altitude e direções

variadas.

Do ponto de vista hidrogeológico, trata-se de uma paisagem marcada por um

ecossistema húmido que beneficia da topografia local, da variação topo climática e da

ocorrência do nevoeiro que envolve o cabeço do maciço durante todo o ano. Destaca-se

também pela divisão feita por duas grandes ribeiras: a ribeira de Calhau e a ribeira Prata, com

grande predomínio de intrusões de rocha andesítica.

Nas superfícies mais aplanadas, destaca-se também a importância do valor ecológico

da flora resultante de diferentes tipos de vegetação composta por eucaliptos (eucalyptus),

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

69

pinheiros bravos (p. pinaster) e ervas gramíneas. Em particular encontram-se algumas

espécies endémicas, exclusivas da própria ilha, como por exemplo o dragoeiro6 (Dracaena

Draco), o tortolho que abrande a maior comunidade (Euphorbia tuckeyana) e algumas

espécies de género angiospérmico ameaçadas de extinção.

Neste sítio existe o miradouro mais espetacular da ilha quer a nível da morfologia quer

a nível da paisagem. Nos dias de céu limpo, é possível avistar a Ilha vizinha de São Vicente e

os dois principais Ilhéus: Ilhéu raso e ilhéu Branco. Permite ainda apreciar o empenho do

homem no amanho das terras em locais inacessíveis.

Para além destes fatores, integra um património associado à paisagem de caráter

agrícola. Integram-se ainda os aspetos culturais relacionados nomeadamente com a agricultura

de sequeiro baseado no milho, nos feijões e na batata ao longo da escarpa de falha (designada

de Cachaço) bem como com a criação de gado e o artesanato (por exemplo a tecelagem feita

pelas folhas do dragoeiro).

Do ponto de vista da sua valorização, os elementos identificados apresentam um

conjunto de valores de elevado nível científico, cultural, ecológico, estético e económico

relevante para a compreensão da composição geomorfológica do solo, do clima, da vegetação

e da paisagem.

6 O dragoeiro tem um crescimento muito lento. Os que foram plantados aproximadamente nos anos 80, possuem

cerca de cinco palmos de altura. Já os que apresentam medidas superiores a esta e com aspeto mais envelhecido,

considera-se que possuem aproximadamente 300 a 400 anos. Esta planta contém uma certa utilidade para o

fabrico da tecelagem, inclusive o próprio sangue que é utilizado na confeção, na colagem etc.

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

70

Geossítio A10, Figura 31

Sítio de interesse patrimonial

identificado – A10 Hortelã

Localidade e Concelho Concelho da Vila do Tarrafal.

Coordenadas (Google Earth) 16º35`51.35``N/ 24º21`57.8``W

Legenda: A- presença de grandes extensões de materiais piroclastos de cor escura sem coesão (jorra);

B- estratigrafia de lavas submarinas antigas, e sedimentos de cor amarelada; C- estratos sob a forma

de laminação de sedimentos; D- presença de elevações ou relevos assimétricos, de declives variados,

em forma de um domo endógeno achatado.

A B

C D

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

71

Este sítio pertence a um pequeno núcleo populacional que se localiza no limite SW,

mais precisamente na “parte do amortecimento” do parque do Maciço Montanhoso do Monte

Gordo. Na sua área dominam grandes extensões de materiais piroclásticos (lapili e escórias

sem coesão de cor escura).

Do ponto de vista geomorfológico, destacam-se neste sítio três elementos de particular

interesse: a estratigrafia de lavas submarinas antigas, a sedimentologia de cor amarelada,

acompanhada de materiais de escória soltos. Estes elementos apresentam, dimensões variáveis

em estratos de laminação sub-horizontal e em forma de dobras, provenientes dos materiais

acima referidos. Na parte este, o terreno é constituído por um conjunto de elevações ou

relevos, de materiais piroclastos (de escória e lapili), que se apresentam em forma de cone

escória ou em forma de domo7 endógeno achatado, muito regulares, simétricos e com declives

variados. De destacar também a grande abundância de recursos minerais (jorras).

Este sítio possui ainda um miradouro através do qual se avistam algumas ribeiras de

interesse local (a ribeira de Calhau e da Fragata). A paisagem apresenta um aspeto muito

árido, esculpido e acastanhado, com destaque para a cobertura de espécies exóticas. As

características presentes neste local justificam intervenções no que diz respeito à

vulnerabilidade e ao seu valor científico.

7 Os Domos estão na origem dos vulcões monogenéticos basálticos, que originam acumulações, gerando também

formas efusivas cónicas como aquelas em forma de agulha que se verificam no geossítio nº12.

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

72

Geossítio A 11, Figura 32

Sítio de interesse patrimonial

identificado – A11 Vale de Fajã de Baixo

Localidade e Concelho Concelho da Vila da Ribeira Brava

Coordenadas (Google Earth) 17º 2`29.39``N/ 24º 8`9.05``W

Legenda: A- aspeto da paisagem com a permanência da agricultura tradicional de regadio; B- aspeto

morfológico da plataforma do vale.

Este sítio enquadra-se nas formações de Fajãs. O termo Fajã do ponto de vista

geomorfológico, geralmente resulta de plataformas que emergem muitas vezes nas orlas

costeiras das ilhas, constituídas por escodas lávicas provenientes do material basáltico e do

desmoronamento adjacente das arribas (muito comum nas Ilhas dos Açores, Madeira e Cabo

Verde). Resultam também da acumulação de materiais aluvionares provocados pelo

arrastamento de chuvas intensas na foz das ribeiras, formando plataformas de dimensões

variadas suscetíveis à prática de culturas de regadio - o caso do vale da Fajã em São Nicolau.

O elemento patrimonial aqui apresentado destaca-se do ponto de vista paisagístico,

geomorfológico e orográfico, pela aproximação do maciço montanhoso do Monto Gordo. Ao

nível dos recursos hidrogeológicos, destaca-se a existência de uma galeria de captação de

B A

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

73

água proveniente da exsurgência que ocorre no subsolo do Monte Gordo em direção às Fajãs.

Esta galeria possui 2300 metros de comprimento e drena as águas subterrâneas por um vale

fóssil num total de 500m3/dia.

Para além dos elementos identificados, associa-se a esta paisagem um património de

caráter agrícola assente em grandes culturas tradicionais de regadio, suportados pela

existência desta galeria. Atualmente já se verificam novas técnicas de regadio como por

exemplo a irrigação por gotejamento. As condições de acesso e de observação não apresentam

nenhum obstáculo.

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

74

Geossítio A12, Figura 33

Sítio de interesse patrimonial

identificado – A12 Monte Sentinha

Localidade e Concelho Cachaço, Concelho da Vila da Ribeira Brava

Coordenadas (Google Earth) 17º 0`58.03`` N/ 24º 8`37.25``W

Legenda: A- localização do Santuário de Nossa Senhora de Monte Sentinha B - afloramento rochoso

em formato de agulha e/ ou domo- chaminé, cristas e a presença de campos de cultivo do sequeiro

(milho, feijão)

Este geossítio localiza-se na área de Cachaço. O elemento geomorfológico aqui

identificado evidencia-se na paisagem, no afloramento rochoso que é constituído por mantos

de basalto em forma8 de chaminé, pico e cristas. Esta formação, possui caraterísticas

morfológicas que levam a integrá-la no grupo dos relevos residuais.

8 Com base no estudo de novos conceitos em vulcanologia elaborado por Nunes (2002; p. 5-22), as geoformas da

área em estudo estão relacionadas com os diferentes momentos da erupção vulcânica, com as características da

sua ocorrência, dinâmica, natureza e a atuação dos agentes erosivos. As suas estruturas estão relacionadas com

os fluxos de lava e materiais piroclásticos que se verificam em grandes proporções por todo o país. Na sequência

destas manifestações, originaram estas geoformas.

B A

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

75

A sua formação resulta da erosão que pode originar corpos intrusivos em pequenas

profundidades dando origem a formas de agulha e /ou domo- chaminé como as apresentadas.

Este afloramento rochoso possui um valor essencialmente estético e científico que justifica a

sua importância para a compreensão dos processos que contribuíram para a sua formação.

Para além da componente paisagística, também poderá valorizar-se a posição que este

afloramento ocupa no conjunto do relevo da ilha.

A este elemento geomorfológico associam-se alguns aspetos culturais e rituais

religiosos, devido à aproximação do Santuário de Nossa Senhora de “Monte Sentinha”, que

possui particular importância para a comunidade local e a ilha em geral.

A acessibilidade não apresenta qualquer obstáculo e as condições de observação são

favoráveis.

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

76

Geossítio A13, Figura 34

Sítio de interesse patrimonial

identificado – A 13 Miradouro do Caminho Novo

Localidade e Concelho Cabaçalinho, Concelho do Tarrafal

Coordenadas (Google Earth) 16º 40`27.09`` N / 24º10`58.69`` W

Legenda: A- miradouro, que permite alcançar todo a parte note do vale da Ribeira Brava; B-

Pormenores da morfologia do relevo em forma de pequenas agulhas, aspeto do fundo do vale e

consequente predomínio da agricultura ao longo da sua extensão.

A

B

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

77

Este sítio localiza-se na proximidade de Cabaçalinho, a este, do lado oposto ao Monte

Sentinha. Do miradouro aqui apresente, é possível observar toda a parte norte do vale da

Ribeira Brava (Espomba, Campim, Água das Patas, Talho).

O aspeto geomorfológico aqui está relacionado com a cobertura vegetal, bem como,

com a presença dos respetivos aglomerados, particularmente importantes ao longo do fundo

de todo o vale. É ainda de referir a presença de regos, também designados por socalcos, onde

predomina tanto a agricultura de sequeiro como de regadio.

Considera-se importante destacar as rochas basálticas, com pormenores em forma de

agulhas e a morfologia do relevo. O facto de nos encontrarmos num local muito elevado,

permite uma magnífica visualização. Podemos atribuir alguns valores como o valor científico

relacionado com as formas do relevo assim como valores estéticos, paisagísticos e culturais.

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

78

III.2- Discussão teórica e metodológica sobre os critérios de avaliação dos geossítios

A avaliação, consiste, no cálculo do valor que cada geossítio apresenta de acordo com

os critérios utilizados. Brilha (2005), afirma que após a inventariação, cada geossítio deve ser

sujeito a um processo adequado de avaliação ou quantificação do seu valor ou relevância.

O processo de quantificação numérica de geossítios não é tarefa fácil e raramente é

efetuado, principalmente por não se encontrarem bem definidos os seus principais critérios de

base (Brilha, 2005). A avaliação ajuda-nos a estabelecer prioridades na seleção dos geossítios

de interesse geopatrimonial que queremos conservar (…). Por esta razão, pode revelar-se

“comprometedor dizer que o geossítio A é mais importante do que o geossítio B”. Após a

avaliação dos geossítios, prossegue-se para as etapas seguintes onde deve ser aplicada uma

estratégia de geoconservação: classificação, conservação, valorização, divulgação e

monitorização.

A definição dos critérios ou modelos de avaliação dos elementos patrimoniais, tem

sido, objeto de análise muito discutido entre vários autores. Deste modo, têm vindo a surgir

várias propostas de novas metodologias de modo a reduzir a subjetividade associada a este

método de avaliação.

Assim, para além do modelo de avaliação e inventariação do geopatrimónio e/ ou património

geomorfológico proposto por Brilha (2005), têm vindo a surgir outros modelos mais

atualizados que têm sido objeto de estudo por parte do mesmo e de outros autores que fazem

parte do grupo da associação Europeia para a conservação do património geológico

(PROGEO) em Portugal, autores como Paulo Pereira, Diamantino Pereira e M. Isabel Alves.

Relativamente à metodologia de avaliação do património geomorfológico aplicaram

ao Parque Natural do Montesinho, uma nova metodologia utilizando como critérios, “a

importância científica reconhecida na caraterização geomorfológica e/ou em trabalhos

científicos anteriores; a estética, valorizando-se a peculiaridade e as caraterísticas da

dimensão do local em comparação com outros locais existentes na mesma área, a nível

regional e/ ou a nível nacional; a associação entre os elementos geomorfológicos e culturais,

por exemplo castros, castelos, práticas agrícolas e assentamentos de povoações; a associação

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

79

entre elementos ecológicos e geomorfológicos como por exemplo a nidificação de aves de

rapina em escarpas, o habitat de morcegos em grutas e a existência de vegetação de altitude”.

Galopim Carvalho (1999) conhecido em Portugal como “pai do património geológico”

incluindo o geomorfológico, no seu trabalho, “geomonumentos: Uma reflexão sobre a sua

caraterização e enquadramento num projeto nacional de defesa e valorização do Património

Natural” considerou três tipos de geomonumentos, cuja definição da escala assenta nos

seguintes critérios:

A nível de afloramentos, ou a nível local, reúne pequenas ocorrências de valores

geológicos ou paleontológicos, com dimensões na ordem de dezenas de metros (jazidas

paleontológicas, dunas, aspetos litológicos particulares); a nível de sítio, inclui os elementos

geológicos ou geomorfológicos, envolvendo áreas a uma escala um pouco maior no geral,

suscetíveis de delimitação (os campos de lapiás, os vales das buracas, campos de dunas que se

verificam em Portugal); a nível da paisagem, este abarca a partir de um ou mais pontos de

observação, grandes áreas de interesse geológico e geomorfológico, à escala quilométrica (o

miradouro) da Cascata do Pulo do Lobo, o vale Glaciário do Zêzere, Portas do Ródão em

Portugal.

Considera-se ainda a metodologia de avaliação do património geomorfológico dos

autores Lúcio Cunha e António Vieira (2004) para espaços de montanha, tendo como

referência a região centro de Portugal. Este critério procede à avaliação de elementos

geomorfológicos, definindo entre eles valores, que parecem ser mais indicados para a

avaliação, como base na “Diversidade, Conservação, Datação, Raridade/Originalidade,

Vulnerabilidade, Recursos pedagógicos, Recursos didáticos, Valor ambiental, Situação

sociogeográfica, Valor histórico e Valor espiritual”.

Em torno desta discursão, António Vieira (2008) na sua Dissertação de Doutoramento

ao avaliar o “Património Geomorfológico da Serra de Montemuro”, atribui ao Valor

intrínseco/valor científico, critérios como: raridade/originalidade, diversidade,

representatividade, interesse paleogeográfico, integridade e conhecimento científico.

O valor cultural integra-se os critérios de: Importância histórico-arqueológica,

importância religiosa/espiritual, e eventos artísticos/culturais. O valor económico considera os

critérios de Importância turística, Recurso turístico, Importância desportiva, prática

desportiva, existência de itinerários turísticos/culturais.

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

80

O Valor estético é avaliado segundo os critérios: de diversidade paisagística, presença

de água, contraste de cor e a Presença de elementos não harmónicos. O Valor ecológico inclui

a Diversidade ecológica, Importância ambiental e Ocorrências de habitats específicos.

Finalmente o Valor de Uso e Gestão, integra: a Acessibilidade, Vulnerabilidade, Proteção,

Condições de observação, intensidade e uso.

Panizza (1991, 2001, cit. por António Vieira, 2008) também se propõe a avaliar o

património geomorfológico de forma simplificada, com base nos valores científicos dos

elementos geomorfológicos, tendo em conta o valor didático e a qualidade enquanto,

exemplos da evolução geomorfológica. Para o Valor científico, este autor utilizou um outro

critério que consiste no grau de preservação apresentado em cada elemento patrimonial.

Já António Gomez - Ortiz et al (2010), no trabalho que realizaram sobre o Parque

Nacional da Serra da Nevada em Espanha, do ponto de vista científico atribuem à paisagem

critérios como: a originalidade, singularidade, a diversidade paisagística (geomorfológica,

pedológicas, botânicas hidrológicas-microfaunísticas, lençóis de água).

O Valor cultural confere, critérios de importância histórico - cultural da paisagem

(paisagens culturais, a estrutura interna e a arquitetura local, paisagens humanas, o modo vida

de a distribuição da população). Ao valor de uso, atribuem-se critérios como a proteção e a

vulnerabilidade (uso de práticas agrícolas tradicionais, práticas de pecuária, culturas em

terraços irrigados, redes de canais).

O Valor socioeconómico é composto, por critérios relacionados com a importância

dos recursos. Finalmente o Valor ecológico, assenta em critérios com base na diversidade,

ambientes ecológicos, vulnerabilidade, e a capacidade de carga.

Como vimos a metodologia utilizada nas etapas de inventariação é muito discutível e

subjetiva. Desde dos trabalhos publicados pelos autores mais antigos até à atualidade, ambos

procedem em avaliar os mesmos valores utilizando critérios que consideram mais adequados

aos elementos presentes nas áreas em análise bem como nas suas variantes. Verifica-se

igualmente uma certa aproximação dos autores na avaliação de valores quantitativos do

património geomorfológico.

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

81

Ao mesmo tempo, tendo em conta que, cada geossítio pode variar de acordo com os

elementos patrimoniais que neles existem e a sua dimensão, quer seja ela grande ou pequena,

existe a necessidade de ter em conta a importância da escala, quando comtemplamos um

património geológico e/ou, geomorfológico.

Por exemplo, Cunha e Vieira (2004, p. 20) enfatizaram o interesse da escala de análise

na classificação de elementos patrimoniais geomorfológicos. No mesmo sentido, Galopim

Carvalho (1999) também, chamou a atenção para a importância da escala em que se pode

observar um património geomorfológico. Ao nível da escala, estes elementos são avaliados

não só pela dimensão das formas geomorfológicas e a dimensão da paisagem, mas também

pela forma como estes elementos se articulam. Assim, os autores acima referidos consideram

a existência de três tipos de escalas de análise:

A nível local ou elementar integra-se em regra um único elemento geomorfológico,

na ordem das dezenas de metros. A nível intermédio onde se associam vários elementos

geomorfológicos na ordem das centenas ou milhares de metros. A nível geral pode ser

analisada de forma mais ampla na ordem dos quilómetros.

Uma vez clarificada a importância da escala na análise, passamos à fase da

inventariação.

Neste trabalho, para a definição dos elementos geomorfológicos de valor patrimonial

foram propostos parâmetros de quantificação mediante os critérios baseados na metodologia

de Brilha (2005) mais ou menos modificados, por uma questão de adequação do local. Assim

sendo serão considerados os seguintes critérios:

A- Critérios intrínsecos/ científicos ao geossítio

A.1- Abundância/raridade

A.2- Extensão em m2.

A.3- Grau de conhecimento científico

A.4- Utilidade como modelo para a ilustração de processos geológicos

A.5- Diversidade de elementos de interesse

A.6- Local-sítio

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

82

A.7- Associação com elementos de índole Cultural

A.8- Associação com outros elementos do meio natural

A.9- Estado de conservação

B- Critérios relacionados com o uso potencial dos geossítios

B.1- Possibilidades de realizar atividades (científicas, pedagógicas, turísticas, recreativas

B.2- Condições de observação

B.3- Possibilidades de recolha de objetos geológicos

B.4- Acessibilidade

B.5- Proximidade a povoações

B.6- Número de habitantes

B.7- Condições socioeconómicas

C- Critérios relacionados com a necessidade de proteção dos geossítios

C.1- Ameaças atuais ou potenciais

C.2- Situação atual ou legal.

C.3- Interesse para a exploração mineira

C.4- Valores dos terrenos (euros/m2)

C.5- Regime de Propriedade

C.6- Fragilidade

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

83

III.3. Estratégias de Geoconservação

A geoconservação é um novo paradigma que surgiu no contexto da conservação da

natureza, no âmbito de iniciativas internacionais promovidas pela UNESCO e pela

Associação Europeia para Conservação do Património Geológico (PROGEO). Para estas

entidades, para a conservação da geodiversidade de qualquer região é indispensável delinear

estratégias de geoconservação, pois só assim é possível combater as ameaças ao

geopatrimónio e promover a conservação dos geossítios encontrados.

Para autores como Galopim Carvalho (1999) e José Brilha (2010, p. 435) a

geoconservação considera-se uma nova área de especialidade das Geociências que integra as

vertentes de geoconservação partindo primeiramente da inventariação, seguido da

identificação, avaliação, conservação e gestão de elementos da geodiversidade de elevado

valor. Estas etapas devem ser analisadas, de forma sequencial, tendo em conta os objetivos

que se pretendem atingir (Fig. 35).

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

84

Figura 35. Fluxograma que integra as várias etapas de implementação de uma estratégia de

geoconservação em áreas limitadas, (Brilha, 2005).

De acordo com Galopim Carvalho (1999, p. 5) à semelhança de qualquer património

construído, que pelo seu significado e/ou grandiosidade é considerado um monumento, o

mesmo se aplica às geoformas pelas suas caraterísticas, seja um domo rochoso, uma fajã, uma

paisagem vulcânica, uma disjunção prismática, filões de mantos lávicos entre outros

elementos de ocorrências geológicas e/ou geomorfológicas. O mesmo se aplica também aos

georecursos culturais e/ou históricos que com eles se articulam.

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

85

Pereira et al (2009, p. 3198) sublinham que, “a geoconservação sugere conservar

elementos geológicos com valor de exceção, da mesma forma que a conservação da

biodiversidade prevê conservar espécies que ostentam caraterísticas de exceção”. Assim

sendo a conservação do meio natural, envolve o recurso a um conjunto de medidas e ações

que visam manter a recuperação do valor natural de um determinado lugar.

Sharples (2002, cit. Pereira et al.; p. 3199) afirma que a geoconservação só é bem-

sucedida se englobar a conservação da biodiversidade e da geodiversidade. A geoconservação

apesar de ser uma temática mais recente, é a mais indicada para descrever as iniciativas de

conservação da geodiversidade, não só na perspetiva de base de sustentação dos habitats mas

também na articulação deste conceito como os processos geológicos naturais para a formação

da paisagem.

Num trabalho publicado por Brilha et al. (2008, p. 433) sobre a “geoconservação

como uma oportunidade entre os países lusófonos”, salientaram-se que ainda em 2008, não se

conheciam iniciativas oficiais no âmbito da geoconservação. No entanto depois desta data têm

sido publicados alguns trabalhos de investigação que já foram mencionados numa fase

anterior deste trabalho, assim como alguns inventários de geossítios de promoção turística,

tendo em vista a sua conservação e valorização.

Neste sentido é importante conhecer os geossítios com elementos de interesse

geomorfológico, não apenas da ilha em estudo em particular mas sim de Cabo Verde em geral

de forma a contribuir não só para a sua divulgação, mas também para promover iniciativas do

ponto de vista legal para a sua conservação.

Como já foi referido anteriormente, de acordo com Brilha, et al. (2008, p. 434) a

geoconservação deve estabelecer eixos de ligação estruturantes nomeadamente na

conservação da natureza, uma vez que o património natural é constituído por elementos de

valores abióticos que englobam o termo da geodiversidade (rochas, solos, formas do

relevo…) e valores bióticos (a flora e a fauna).

O Ordenamento do Território deve ter tido em conta, na definição de linhas estratégias

para o planeamento do territorial devendo considerar, as caraterísticas dos sítios serem

analisados. Neste caso os sítios com elementos de valor patrimonial devem ser agrupados

quando se incrementam opções estratégicas no território.

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

86

A política educativa desde que foi implementada pelo desenvolvimento sustentável

das Nações Unidas que decorre até 2015, assim como qualquer iniciativa que promova um

uso sustentado da natureza, estão enquadradas nas referidas opções estratégicas. O valor

educativo do património geomorfológico é indispensável em todos os níveis de ensino

incluindo alunos e professores.

Ainda dentro da política educativa, Brilha e Galopim; (2010, p. 436) enfatizam a

importância do valor científico na geoconservação, pois este deve ser devidamente sustentado

em critérios científicos e didáticos, que encaixam nas políticas de conservação da natureza e

de ordenamento do território, Fig. 36. Uma vez que os geossítios constituem elementos

integrantes do património natural, é de esperar que estas políticas considerem, com o mesmo

grau de importância, quer a conservação dos elementos notáveis da geodiversidade, quer os da

biodiversidade.

Assim sendo o turismo da Natureza, também se apoia nos princípios do turismo

sustentável. Os geossítios podem possuir valores turísticos, estando inseridos nos programas

do turismo da natureza ou neste caso no geoturismo. Quando estes são apoiados podem gerar

receitas de apoio à comunidade local.

É nesta perspetiva que enquadramos a estratégia da geoconservação, no sentido de

concretizar uma metodologia de trabalho que vise sistematizar as tarefas no âmbito da

avaliação do património geomorfológico. Esta tarefa pode ser realizada num país, num

concelho numa área protegida ou num outro sítio (Brilha, 2005, p. 94).

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

87

Figura 36. Esquema de critérios científicos enquadrados nas políticas de conservação da natureza e do

Ordenamento do Território (Brilha e Carvalho, 2010, p. 437).

CAPÍTULO IV. ETAPAS DE ESTRATÉGIAS DE GEOCONSERVAÇÃO

IV.1- Inventariação

Tendo em conta as geoformas que cada geossítio apresenta, na sua avaliação, de

acordo com Pereira (2006, p. 63; 2006) é importante saber o que se vai avaliar, porquê e

como? Estas três questões, presentes na Fig.37, consideram-se importantes na avaliação do

património geomorfológico e/ou geológico,

As geoformas serão avaliadas em função da sua variedade, formação, dimensão e

sobretudo o seu valor, observados numa perspetiva diferente do ponto de vista da paisagem

ou tendo em conta a paisagem em que se encontram.

Porque avaliamos? Esta questão, num sentido restrito, procura soluções para a

preservação desses elementos e valorizá-los enquanto recursos naturais. Em sentido lato,

considera-se que os sítios com elementos de interesse geomorfológico sejam integrados, numa

política de conservação da natureza. Por último, o como? – remete-nos, para a metodologia

mais adequada para a avaliação de cada elemento, tendo em conta as primeiras questões que

se colocaram inicialmente (o que e porque avaliar?).

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

88

Figura 37. Esquema representativo das três questões importantes que se colocam no âmbito

da avaliação dos elementos geomorfológicos Pereira (2006, p. 63).

Em termos gerais, esta inventariação consiste na realização da recolha bibliográfica

(trabalhos científicos relativos à temática em estudo), e cartográfica (para um melhor

conhecimento geológico da ilha).

Posteriormente, a esta fase de recolha de dados, seguiu-se o trabalho de campo que se

centrou na seleção dos geossítios, com elementos de interesse patrimonial, de reconhecimento

geomorfológico e outros que se integram no local de inventariação bem como as caraterísticas

naturais (a vulnerabilidade, o tipo de ocupação, valor etc.), e a ilustração fotográfica dos

referidos geossítios.

Cada um dos geossítios possui uma ficha de avaliação, com os resultados adaptados a

cada caso, acompanhada das ilustrações fotográficas e cartográficas através da apresentação

de cartas geológicas. Encontram-se também os aspetos relacionados com a necessidade de

proteção, o seu valor, uso e as suas potencialidades. As fichas de avaliação encontram-se no

anexo III.

Avaliar

O Que ?

Como ?

Porque ?

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

89

Os geossítios distinguem-se pela variedade de formações geológicas e

geomorfológicas, os recursos minerais e outros valores que neles se articulam. Cada geossítio

de acordo com as suas caraterísticas pode apresentar um ou mais elementos de interesse

diferentes: geomorfológico (estrutural, estratigráfico), sedimentológico, recursos minerais,

interesse cultural etc.

O domínio geomorfológico permite distinguir formações litorais, vulcânicas,

hidrogeológicas, estratigráficas, Fajãs e os recursos naturais. As formações diferenciam os

geossítios. Alguns pelos diversos estratos climáticos que apresentam distinguem-se em áreas:

áridas, semiáridas, húmidas e semi-húmidas. Distinguem-se ainda pela raridade, diversidade

de elementos paisagísticos e outros elementos que neles se articulam.

Na sequência do processo da inventariação, foram identificados treze geossítios de

elementos patrimoniais diferentes distribuídos pela ilha, incluindo ou englobando uma área

protegida - o Parque Natural do Monte Gordo.

IV.2- Avaliação numérica/quantificação

Esta avaliação abrange somente os geossítios com elementos de interesse

geomorfológico, propostos para a classificação que se apresentam no quadro cinco, Fig.38.

Após a etapa da inventariação dos elementos identificados, os geossítios serão submetidos à

avaliação numérica (Brilha, 2005, p. 90). Esta etapa consiste em estabelecer um valor

numérico relevante a cada elemento de forma a estabelecer uma comparação entre eles.

Quando esta etapa é utilizada na inventariação dos geossítios a avaliação será mais precisa,

principalmente se o objetivo for enquadrá-los nas etapas de conservação e/ ou divulgação

Pereira, et al (2007, p.240).

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

90

A1 Ribeira Funda

A2 Praia do Barril

A3 Carberim

A4 Domo de Praia Branca

A5 Debaixo de Rocha

A6 Piscinas do Juncalinho

A7 Forte da Preguiça

A8 Carriçal

A9 Monte Gordo

A10 Hortelã

A11 Fajã de Baixo

A12 Monte Sentinha

A13 Miradouro do Caminho Novo

Figura 38. Geossítios proposto para a classificação

Com base na discussão metodológica descrita no ponto anterior (III.2), para a

avaliação quantitativa dos elementos geomorfológicos presente neste trabalho, optou-se pelos

critérios definidos por Brilha (2005) por uma questão de adaptação às caraterísticas do local,

nomeadamente (a dimensão, reduzido número de habitantes, publicações, condições

económicas etc.). Os critérios estão presentes no quadro seis que se encontra no anexo IV.

Cada elemento patrimonial proposto para a área em estudo, obedece a um parâmetro de

ponderação de classificação numa escala crescente de 0 a 5, presente no quadro sete da Fig.

39.

Figura 39- Quadro dos resultados numéricos dos critérios de avaliação

Designação A1 A2 A3 A4 A5 A6 A7 A8 A9 T B1 B2 B3 B4 B5 B6 B7 T C1 C2 C3 C4 C5 C6 T Média

GS. 1 Ribeira Funda 3 2 2 1 4 3 2 3 3 23 1 3 4 3 1 1 1 14 5 5 3 1 3 3 20 19,0

GS. 2 Praia do Barril 5 3 3 5 4 3 3 3 2 31 3 5 3 3 2 4 3 23 1 3 5 3 3 3 18 24,0

GS. 3 Carberim 5 3 3 5 5 5 4 3 4 37 5 3 3 3 3 4 3 24 3 3 3 2 4 4 19 26,7

GS. 4 Domo de Praia

Branca 3 2 3 3 4 3 2 3 2 25 3 5 3 3 3 3 3 23 5 5 4 2 4 3 23 23,7

GS. 5 Baixo Rocha 4 2 3 3 4 3 3 2 4 28 3 3 3 3 3 3 3 21 5 3 3 1 4 3 19 22,7

GS. 6 Piscinas de

Juncalinho 4 2 2 3 4 3 2 2 4 26 3 3 3 3 2 2 3 19 3 5 3 2 4 3 20 21,7

GS. 7 Forte da Preguiça 5 2 3 1 4 3 4 2 4 28 3 5 3 3 3 4 3 24 3 3 3 2 3 3 17 23,0

GS. 8 Carriçal 4 2 3 3 4 3 3 2 2 26 3 3 3 2 1 1 1 14 5 5 3 1 3 3 20 20,0

GS. 9 Monte Gordo 5 3 4 5 5 5 3 5 4 39 5 5 3 3 4 4 3 27 3 1 3 3 4 5 19 28,3

GS. 10 Hortelã 5 3 4 5 5 5 3 3 2 35 5 3 3 2 2 3 3 21 5 1 5 3 3 4 21 25,7

GS. 11 Vale Fajã de Baixo 4 3 3 3 3 3 3 3 4 29 3 5 4 5 4 4 3 28 3 3 3 4 1 3 17 24,7

GS. 12 Monte Sentinha 4 2 3 3 4 3 3 3 4 29 3 5 4 3 4 4 3 26 3 3 3 2 3 5 19 24,7

GS. 13 Miradouro do

Caminho Novo 3 3 3 3 3 3 3 3 3 27 3 5 4 3 3 3 3 24 3 3 3 2 3 5 19 23,3

Os geossítios presentes, cujos elementos de interesse geomorfológico foram propostos,

para a avaliação de valores, numéricos ou quantitativos, abrangem, somente os que se

encontram localizados na cartografia da, Fig. 20. O Parque Natural do Monte Gordo, neste

caso, deve ser enquadrado numa categoria aparte. O facto de se tratar de uma área protegida

faz com que seja valorizado e alvo de interesse do ponto de vista legislativo.

Através do conhecimento que possuo do local, considero que alguns geossítios em

análise atingiram valores de quantificação diferentes daqueles que havia pensado

previamente. Como por exemplo, o Hortelã (GS 10), em relação ao Vale da Fajã (GS11) e ao

Monte Sentinha (GS12), o Debaixo de Rocha (GS5),em comparação com o Forte da Preguiça,

e a Ribeira Funda (GS1), em relação a Carriçal (GS 8).

Algum dos critérios como a abundância/ raridade, local tipo, possibilidades de realizar

atividades científicas, pedagógicas, turísticas e recreativas atingiram valores superiores aos

que Brilha (2005) considerou para a definição dos elementos patrimoniais de âmbito nacional

e internacional. Contudo, por uma questão de adequação à ilha em análise os geossítios foram

todos considerados no âmbito Regional ou Local.

A aplicação da quantificação, consiste no resultado da média simples dos três conjuntos de

critérios, que se encontra no quadro da, Fig.40. Tendo em conta a formula que foi utilizada

considera que: Q- corresponde à quantidade final da relevância do geossítio (arredondada ás

décimas) e o A, B e C- correspondem à soma dos resultados obtidos para cada conjunto de

critério. Neste caso, quanto maior é o valor do Q, maior é a relevância do geossítio e a

necessidade de aplicar uma estratégia de geoconservação.

Quadro modelo de avaliação

Geossítios de âmbito

Internacional ou Nacional Geossítios de âmbito Regional ou local

Q=2A+B+1.5C/ 3 Q=A+B+C/3

A1 > 3; Os geossítios de âmbito nacional ou internacional são

aqueles que possuem, em acumulação, os seguintes

valores.

Os que não se enquadram nestes valores devem ser

considerados como sendo de âmbito regional ou local.

A3 > 4;

A6 > 3;

A9 > 3;

B1 >3;

B2 > 3;

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

93

Figura 40. Quadro dos resultados finais dos valores quantificados dos critérios

IV.3.Classificação

Após os geossítios terem sido avaliados quantitativamente, procedeu-se à fase da

classificação dos mesmos, requerendo os elementos de interesse patrimonial/ geomorfológico

um enquadramento legal existente para a sua proteção. Sob o ponto de vista legal, a nível

mundial, não se conhecem leis específicas para a classificação de geossítios e do património

geológico (Alarcón et al.2004, cit. por Pereira, 2010).

No entanto para alguns autores como Brilha (2005, p.106) os procedimentos de

classificação adotam percursos diferentes consoante o âmbito em que se enquadram:

A)- Classificação de geossítios de âmbito nacional (a proposta deverá ser aprovada em

Conselho de Ministros e a classificação publicada em decreto -lei regulamentar).

Critérios Q= (A+B+C) /3

A B C Valor do Q

GS1 Ribeira Funda 23 14 20 19,0

GS 2 Praia do Barril 31 23 18 24,0

GS 3 Carberim 37 24 19 26,7

GS 4 Domo de Praia Branca 25 23 23 23,7

GS 5 Debaixo de Rocha 28 21 19 22,7

GS 6 Piscinas de Juncalinho 26 19 20 21,7

GS 7 Forte da Preguiça 28 24 17 23,0

GS 8 Carriçal 26 14 20 20,0

GS 9 Monte Gordo 39 27 19 28,3

GS 10 Hortelã 35 21 21 25,7

GS 11 Vale de Fajã de Baixo 29 28 17 24,7

GS 12 Monte Sentinha 29 26 19 24,7

GS 13 Miradouro Caminho Novo 27 24 19 23,3

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

94

B)- Classificação de geossítios de âmbito regional e local (a classificação de áreas

protegidas neste âmbito deverá ser aprovada pelo Ministro do Ambiente e posteriormente

publicada em Decreto Regulamentar).

C) Classificação de geossítios de âmbito municipal (é um processo mais simples e a

classificação depende apenas da autarquia, aprovada pela Assembleia Municipal).

Estes procedimentos dependem da legislação usada por cada país. Em Cabo Verde,

apesar de a legislação não ser bem esclarecedora sob o ponto de vista desta temática, surgiu

em 2003 o decreto-lei nº3/2003, de 24 de fevereiro, que veio demonstrar algum interesse pela

classificação dos espaços naturais, paisagens, monumentos e lugares. A classificação dos

espaços naturais, quer seja a biodiversidade, e/ ou os recursos naturais de função (ecológica,

cultural, turística e de interesse socioeconómico), leva a que estes se considerem relevantes e

merecedores de ser integrados na Rede Nacional das Áreas Protegidas.

O decreto de lei em cima referido, criou, tipologias de áreas protegidas bem como

instrumentos de gestão capazes de diferenciar diversos interesses como a conservação da

biodiversidade, aspetos geológicos e geomorfológicos, a proteção de valores culturais,

estéticos e a satisfação das necessidades básicas do cidadão.

Os elementos patrimoniais dos respetivos geossítios inventariados/avaliados neste

trabalho foram classificados no âmbito da escala local, intermédia e geral. Neste sentido

partilhamos da posição de Brilha (2005, pp. 106-107) que propõe a ideia da classificação ser

considerada no âmbito destas três escalas e pelas autarquias, onde se encontra inserido cada

geossítio, pelo facto de este ser um processo mais simples do ponto de vista burocrático.

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

95

IV. 4 Conservação

Esta etapa tem como principal objetivo manter a integridade física do geossítio e ao

mesmo tempo assegurar a acessibilidade do público (Brilha, 2005 p. 107). Esta fase consiste

em avaliar cada geossítio, tendo em conta as vulnerabilidades e fragilidades que eles

apresentam. Também deve estar relacionada com a degradação ou grau de perda, face à

intervenção de fatores naturais e/ou antrópicos.

Como não é possível conservar todos os geossítios, talvez por uma questão de

disponibilidade de recursos financeiros de cada país, convém ter em atenção os que se

encontram mais vulneráveis e degradados quer por fatores antrópicos ou naturais quer em

função da sua vulnerabilidade ou da sua relevância, de forma a decidir e definir uma

estratégia futura. Os geossítios que não foram inseridos nestas duas etapas (conservação e

divulgação) terão de aguardar por uma próxima oportunidade, sabendo que qualquer

inventário tem sempre continuidade. Contudo o objetivo aqui é manter a integridade física de

todos eles, criando condições sobretudo de acesso ao público para que possam ser

reconhecidos e eventualmente integrados numa possível inventariação.

Neste contexto, face à degradação ou perdas provocadas na maioria dos casos por

fatores antrópicos, que se observa no quadro nove da, Fig.41, e de acordo com a perceção que

fiquei da observação feita no trabalho de campo, proponho uma ação de conservação para os

geossítios que necessitam de uma proteção especial.

Assim, proponho em primeiro lugar a conservação da localidade de Hortelã, (GS 11),

no sentido de minimizar a extração de lenha, evitar os animais soltos, a prática da agricultura

e a extração de jorras, de forma a recuperar o aspeto da paisagem e aplicar medidas

legislativas que permitam evitar situações que contribuam para a sua degradação.

De seguida, proponho a conservação da Praia do Barril (GS 2) e o Domo rochoso da

Praia Branca (GS4), no sentido de suspender a extração de areia de forma ilegal e

incontrolável, promovendo ações de formação que sensibilizem as pessoas para as

consequências causadas pela perda de recursos naturais, enquanto perdas irreversíveis, no

sentido de preservar a integridade física dos mesmos.

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

96

De acordo com Cumbe (2007, p.46) em algumas situações poderá não ser possível

conservar um determinado geossítio no seu estado natural, em virtude de fatores de ordem

natural, da degradação ou outros (vandalismo, por exemplo despejos de lixos). No entanto,

poderá haver uma nova proposta de conservação para aos geossítios que apresentem alguma

degradação, após terem sido alvo de intervenções tendo em vista a sua recuperação.

Figura 41. Quadro de informação relativa ao Grau de interesse que apresenta cada um dos geossítios

bem como a vulnerabilidade e a necessidade de proteção de cada um.

Geossítios Área de interesse Grau de

interesse Vulnerabilidade

Necessidade

de proteção

A1 Geomorfológico, hidrogeológico, turístico,

científico B B P

A2 Geomorfológico, recursos minerais, turístico,

científico A A U

A3 Geomorfológico, estratigráfico, sedimentológico,

turístico, paisagístico, científico A B U

A4 Paisagístico, Geomorfológico, estratigráfico,

recursos minerais, científico M A U

A5 Geomorfológico, estratigráfico, recursos minerais,

turístico, científico M B P

A6 Geomorfológico, interesse Cultural, turístico,

científico M B P

A7 Paisagístico, interesse cultural, geomorfológico,

científico B B P

A8 Geomorfológico, paisagístico, turístico, científico B B P

A9 Geomorfológico, Sedimentológico,

Hidrogeológico, Paisagístico, científico A B P

A10 Geomorfológico, Estratigráfico, Recursos minerais,

paisagístico, científico A A U

A11 Geomorfológico, hidrogeológico, Interesse cultural,

Paisagístico, científico M B P

A12 Geomorfológico, Sedimentológico, paisagístico,

científico M B P

A13 Geomorfológico, Sedimentológico,

Hidrogeológico, Paisagístico, científico A B P

Nota: O Grau de interesse científico e de Vulnerabilidade considera-se: (A- Alto, B- Médio) e para a

necessidade de proteção (U – urgente, P- pouco urgente).

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

97

IV.5 - Proposta de valorização e divulgação

“Entende-se por valorização, um conjunto de ações de informação e interpretação, que

ajudam o público a reconhecer o valor dos geossítios. Estas ações podem ser divulgadas por

intermédio da produção de painéis informativos e /ou interpretativos, que são colocados nas

proximidades de cada um dos estabelecimentos de percursos temáticos, que abrangem vários

geossítios numa região”. Independentemente da escala em que foi inserido qualquer geossítios

e da sua relevância, serão alvo de valorização e divulgação, aqueles que apresentarem menor

valor de perda, baixa vulnerabilidade de degradação e se encontrarem em bom estado de

conservação (Brilha, 2005 p.108).

Neste sentido, os geossítios mais vulneráveis aguardam por condições adequadas, para

que futuramente possam ser alvo da respetiva valorização e divulgação. Por conseguinte, os

geossítios menos vulneráveis, estando enquadrados numa estratégia de geoconservação e com

uma avaliação prévia da sua vulnerabilidade, poderão ser devidamente valorizados e

divulgados.

Consideraram-se num primeiro momento dois geossítios: em primeiro lugar o Monte

Gordo (GS.9), por possuir maior pontuação e pelo facto de se tratar de uma área protegida,

deve ser enquadrado numa categoria aparte. Considera-se uma área valorizada e com

condições criadas do ponto de vista legislativo. Apesar disso devem- se valorizar todos os

elementos da geodiversidade, uma vez que o processo de inventariação é feito

sistematicamente, para que todos, sejam, incluídos.

Por esta razão, e tendo em conta o critério da igualdade na valorização dos elementos

da geodiversidade, sugere-se que os elementos de interesse geológico e/ou geomorfológicos

sejam aqui integrados.

Em segundo lugar proponho o Carberim (GS3 e GS 3.1). Apesar de estar

comtemplado nesta etapa de valorização e divulgação, merece uma atenção especial da parte

das entidades locais e municipais. O facto de ter sido eleito há aproximadamente seis meses

uma das sete maravilhas do Arquipélago de Cabo Verde, é também uma mais-valia que deve

ter, tida em consideração. Para além disso, este geossítio possui interesse do ponto de vista

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

98

científico, pois integra diferentes categorias temáticas do ponto de vista geomorfológico,

estratigráfico, climático e etnográfico, entre outras, que certamente não tiveram ainda

oportunidade de ser consideradas, nos diversos domínios das Geociências.

Neste sentido, no âmbito do cumprimento do artigo 16 do decreto-lei nº 3/2003 de 24

de fevereiro, proponho que o Carberim seja integrado num plano de gestão de uma área

protegida, criando-se estratégias no sentido de o valorizar como património geomorfológico

da ilha.

Num segundo momento, propõem-se, os geossítios que apresentaram valores

numéricos inferiores ao Monte Gordo e ao Carberim, o caso do Monte Sentinha (GS 12), Fajã

de Baixo (GS11), o miradouro do Caminho Novo (GS13), o Debaixo de Rocha, (GS 5), Forte

da Preguiça (GS 7), Piscinas de Juncalinho (GS 6), Ribeira Funda (GS1), e Carriçal (GS8).

Num terceiro momento, concedera-se estarem enquadrados nesta mesma etapa os

geossítios, que aguardando uma avaliação prévia da sua vulnerabilidade9- o caso da Praia do

Barril (GS 2), o Domo da Praia Branca (GS 4) e o Hortelã (GS 10).

Pode-se dizer que a fraca sensibilização das pessoas pela conservação da natureza,

reflete-se muito na cultura e na comunidade. No contexto da ilha em estudo, a população

apenas começou a ter consciência da importância da valorização dos recursos naturais que

esta possui muito tardiamente.

É neste sentido que a educação ambiental revela a sua utilidade. De acordo com Vieira

(2008, p. 590), a ausência de uma política de educação ambiental traduz-se na reduzida

informação dada desde dos níveis do ensino secundário as temáticas relacionadas com o

ambiente físico e ou/geológico, condicionando o conhecimento dos indivíduos relativamente

aos elementos geomorfológicos (Fig. 42).

9 O domo Rochoso da Praia Branca, (GS4), apesar de apresentar fortes sinais de degradação, a probabilidade de

perda dos elementos que possui, é menor em relação à Paria do Barril (GS 3) e à Hortelã (GS 10). Por este

motivo, não se encontra, num terceiro momento dos geossítios que aguardam uma avaliação prévia da sua

vulnerabilidade.

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

99

Figura 42. Esquema metodológico para o desenvolvimento e a promoção do património

geomorfológico Vieira (2008 p. 589).

O autor, também sublinha, a importância do “desenvolvimento estratégico como um

elemento fundamental que potencie iniciativas de divulgação e sensibilização dirigidas aos

diferentes público-alvo (públicos-alvo em geral e públicos-alvo específicos), e em especial à

população estudantil, com capacidade de interiorização de mensagens de caráter ambiental

mais elevado”.

A ilha tem muito para descobrir! Mas o descobrir por si só não é o suficiente. É

preciso conhecer o seu valor a nível científico e recorrer aos recursos interpretativos e

informativos, que abrangem os elementos que se observam.

Assim sendo, primeiramente é importante adotar a utilização de estratégias, dando

prioridade e incentivando a observação do campo, porque quando qualquer aspeto é

observado seja ele um elemento geomorfológico ou outro, há sempre uma reflexão e

motivação por parte do observador na leitura da paisagem. É uma estratégia que pode ser

efetuada, por exemplo, através de percursos educativos, turísticos e outros acompanhados por

técnicos com adequada formação científica que através do reconhecimento dos sítios onde se

encontram estes elementos, poderão prestar informações úteis sobre estes assuntos.

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

100

Em segundo lugar, deve ter-se em atenção a escolha do público-alvo que deverá ser

diferenciada, desde as temáticas mais simples até aos conteúdos científicos mais

aprofundados, de acordo com as suas motivações, caraterísticas e escalões etários.

As ações de divulgação, consideram-se, também importantes através da produção de

recursos interpretativos. Segundo, Dias, et al, (p. 133) esta produção assume-se como um

importante recurso com base nos painéis interpretativos, incluindo dois tipos de audiência: o

público em geral e a população escolar em particular. O público em geral inclui os turistas, a

população local e os visitantes. Este grupo atrai visitantes muitas vezes por simples lazer, por

motivação ou por interesse científico. A população escolar é considerada a dois níveis: ao

nível do ensino básico e do ensino secundário. Esta divulgação também poderá ser

desenvolvida através de revistas, folhetos, produção de páginas na Internet, criação de DVD´S

e CD ROMS etc.

IV.6- Monitorização

Segundo Pereira (2006, p. 313) a monitorização, diz respeito à análise e verificação

da evolução do estado de conservação de cada geossítio ao longo do tempo. Trata-se de um

controlo periódico da degradação do geossítio a qual ocorrendo por processos naturais e/ou

antrópicos, poderá, levar a uma segunda definição de estratégia de gestão de modo a garantir e

salvaguardar o valor do geossítio.

Brilha (2005), frisou a importância da monitorização, sugerindo, que esta seja

realizada pelo menos de forma anual. Após este período, os elementos devem ser inseridos na

estratégia de conservação, independentemente do nível em que o geossítio for enquadrado.

Com o tempo, os geossítios podem sofrer alterações provocadas por fatores tanto de

origem antrópica, como de origem natural. De acordo com Pereira (2010, p. 323) existe a

necessidade de implantar medidas de correção e mitigação como por exemplo- obras de

drenagem para evitar o desmoronamento e erosão de taludes; corte de vegetação e/ou desrame

sobretudo (dos elementos que impedem a visibilidade quer a nível turístico e/ou científico) e

limpezas através de recolhas de lixo entre outras medidas pertinentes e previstas pela

legislação.

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

101

Em suma, a monitorização permite não só manter o estado de conservação do geossítio

como também avaliar o comportamento da sua vulnerabilidade. Brilha (2005, p.110), sublinha

a importância de comunicar às entidades competentes a situação atual e a quantidade da perda

dos elementos de cada local, de modo a retificar todo o processo anteriormente descrito.

“Os técnicos responsáveis pela monitorização deverão acompanhar todas as etapas

prévias de modo a ter uma perceção mais concreta das modificações que os geossítios vão

apresentando”. A mesma responsabilidade deve caber também à entidade responsável pelos

espaços naturais protegidos, integrando ações que visem a monitorização dos mesmos.

CAPÍTULO V. PROPOSTA DE ESTRATÉGIA GEOTURÍSTICA

V.1- Proposta de estratégia geoturística para o desenvolvimento da Ilha de São

Nicolau.

O conceito de Geoturismo, começou, a ser utilizado em meados dos anos noventa e

continua a ser aplicado até à atualidade. Uma das primeiras definições muito divulgada foi de

Thomas (2000).

Thomas (cit. Figueiró, et al. 2013, p. 68) adaptou o conceito direcionando-o para os

aspetos geológicos dos destinos turísticos. Para este autor, o geoturismo consiste em

disponibilizar “serviços e meios interpretativos que promovam o valor e o benefício social de

geossítios geológicos e geomorfológicos, assegurando simultaneamente a sua conservação

para o uso de estudantes, de turistas e outras pessoas com interesses recreativos e de lazer”.

Segundo Rodrigues (comunicação oral, 6 de fevereiro de 2014), o conceito de

geoturismo, pode ser considerado em sentido restrito ou em sentido lato. Em sentido restrito,

o geoturismo centra-se na sustentabilidade do geopatrimónio, que inclui os geoturistas, que

usufruem da sua beleza adquirindo conhecimentos que contribuem para a sua valorização e

conservação.

A população local, é, a que retira maiores benefícios das receitas gerados pelo

geoturismo promovendo-o de forma sustentável e valorizando-o como um recurso natural

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

102

local. Em sentido lato, o geoturismo é uma forma de turismo que usufrui do sustento do

geopatrimónio, articulando outros valores do património histórico/cultural (material e

imaterial) de uma região.

O geoturismo é uma atividade que se baseia na geodiversidade. Mesmo assim nem

todas as definições relacionam de forma clara, o turismo, a geodiversidade e o geopatrimónio

(Brilha, 2005). Por exemplo a Nacional Geographic Society (2001, cit. por Brilha 2005, pp.

121-122) entende o geoturismo, como um tipo de turismo que reforça as caraterísticas

principais de um local a ser visitado, concretamente o ambiente, a cultura, a estética, o

património, sem se esquecer do bem-estar dos seus cidadãos.

Esta atividade é cada vez mais comum nas escolhas dos turistas a nível nacional e

internacional e tem contribuído para o desenvolvimento económico de muitos países no

mundo. Este conceito está ainda relacionado com os elementos abióticos da Terra. Assim

sendo é impossível falar do geoturismo sem o geopatrimónio. Ao acrescentar-se esta

componente geoturística, exige-se que os geossítios sejam visitados tanto para atividades de

lazer, como para o ensino, tendo presente ao mesmo tempo o seu valor económico.

Dada a importância das estruturas físicas no sustento da ecologia dos recursos

bióticos, muitos autores consideram que o estudo do geoturismo difere do turismo tradicional,

porque está ligado à temática das Ciência da Terra e a conceitos da geodiversidade (elementos

abióticos, geopatrimónio, geossítios etc.). Também difere do turismo da natureza e/ou

ecoturismo, porque este está sobretudo ligado à flora, à fauna e a outras atividades (...).

Segundo Brilha (2005, p. 124) o ecoturismo tem-se baseado especialmente na

biodiversidade de destinos turísticos. Mas a geodiversidade contém algumas vantagens

relativamente ao ecoturismo como por exemplo: é uma atividade que se pratica todo o ano e

não se restringe às estações sazonais, as ofertas podem ser complementadas, promove o

desenvolvimento do artesanato ligado à diversidade local, não está dependente dos hábitos da

fauna e serve de aconchego ao turista quando se encontra em locais sobrelotados.

Em Cabo Verde, já se ouve falar muito do mercado turístico tanto a nível nacional

como internacional. Em relação aos anos anteriores, este fator tem sido um potencial gerador

de emprego em algumas ilhas onde se verifica uma maior concentração da população. O

crescimento de estabelecimentos hoteleiros aumentou de forma significativa nos últimos anos

em todas as ilhas (Cunha e Jacinto, 2013).

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

103

Essa atividade vocaciona-se quase exclusivamente para o segmento Sol-Praia,

verificando-se poucas ofertas turísticas vocacionadas para a diversidade paisagística que o

território proporciona. O segmento turístico Sol-Praia, tem exercido uma forte pressão sobre o

ambiente. Cabo Verde é um país insular, de dimensão reduzida com ecossistemas frágeis,

sujeitos a grandes problemas de escassez de recursos naturais, provenientes da variabilidade

das condições climáticas nomeadamente a – seca. A construção dos grandes resorts e hotéis

tem intensificado um turismo de massas nomeadamente em algumas ilhas.

Esta atividade revela-se inconciliável num território, com carência de recursos para a

construção de grandes infraestruturas. Contudo em todas as ilhas, como poderá constatar-se

na tabela que se encontra no anexo V, existe uma diversidade de potencialidades não só

direcionadas para o Sol – Praia, mas também para a geodiversidade, associada aos valores

culturais/históricos, económicos, sociais e outras modalidades alternativas.

Tendo isso em conta, é importante dar prioridade à sustentabilidade da atividade

turística, objetivo que se pode conseguir também através do Geoturismo, pois este não

implica pressão sobre o ambiente, e ao mesmo tempo, promove a sua conservação e

valorização, podendo ter efeitos nos setores assentes nesta atividade.

De acordo com a National Geographic Society (cit. por Brilha, 2005, pp.122-123) o

geoturismo também procura minimizar o impacto natural e ambiental, nas comunidades que

acolhem os “fluxos turísticos, inserindo-se num conceito mais alargado de turismo

sustentável”. Também é importante analisar as ameaças e as fragilidades do local de modo a

estabelecer a capacidade de carga ou utilização que o geossítio pode suportar, o tipo de

atividade que mais se adequa ao local, acompanhados da monitorização periódica.

Brilha (ob. Cit.), afirma que, um local com potencialidades paisagísticas deve ser

comtemplado com estratégias que visem a geoconservação para a garantia da sustentabilidade

dos geossítios. Pois bem, esta poderá ser a mentalidade a desenvolver nas ilhas de Cabo

Verde.

Segundo, Fidalgo et al. (2010, p.3) “na atualidade o que mais pode condicionar a

prosperidade de um lugar será o número de pessoas talentosas e criativas que nele residem,

ao contrário do que sucedia na era industrial, onde pouco mais que o número de residentes

importava”.

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

104

Cunha e Vieira (2002-2004) também revelam que a revitalização de espaços

economicamente deprimidos coloca algumas questões em termos de gestão de recursos

ambientais. E os que particularmente se ligam com as formas do relevo, acabam quase sempre

por funcionar como geotópos, muito procurados pelas suas caraterísticas que assentam na sua

raridade, interesse científico, originalidade, grandiosidade ou beleza, que constituem um

verdadeiro património geomorfológico e/ou geológico.

Neste sentido pretende-se relacionar ou integrar o geoturismo num modelo global que

promova um património particularmente diversificado de elementos. Aqui o marketing

territorial, poderá, ser entendido numa perspetiva de pensar e planear um desenvolvimento a

partir das expetativas e necessidades atuais, em estrita articulação com os potenciais recursos

que a ilha possui.

Como já foi dito anteriormente, em Cabo Verde, e que se pode observar nos quadros

presente em anexo VI, o turismo, sofreu um rápido desenvolvimento em todas as ilhas.

Excetuando a Ilha do Maio, em comparação com as outras ilhas, o turismo em São Nicolau

ainda se encontra em fraco desenvolvimento. Neste contexto, entende-se que é importante

propor uma estratégia de desenvolvimento adequada aos seguintes objetivos:

Objetivos gerais:

1. Preparar a sociedade para o conhecimento desta temática;

2. Aplicar as estratégias de conservação do ambiente, de valorização e

conservação do geopatrimónio;

3. Melhorar a conetividade de ligação de redes de transportes marítimos e

terrestres;

4. Integrar o Município de São Nicolau num destino turístico sustentável tendo

em conta as suas potencialidades naturais.

5. Integrar o Parque natural do Monte Gordo de forma mais rentável

valorizando-a geoturisticamente.

Objetivos específicos:

Promover propostas no sentido de:

1. Integrar o património geológico/geomorfológico em diferentes estratégias de

desenvolvimento local e regional.

2. Formação profissional e ambiental.

3. Definir locais de acesso para a mobilização das pessoas e veículos.

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

105

4. Desenvolver produtos turísticos através de um roteiro geoturístico.

5. Introduzir painéis ilustrativos correspondentes a cada temática nos locais de

observação, respeitando as especificidades do público-alvo.

6. Edificar e requalificar os espaços (limpezas e condições de manutenção).

7. Criar um marketing de destinos através de brochuras e guias de painéis

informativos.

8. Produzir sítios Web para divulgação.

9. Criar condições de ligação de vias de transportes marítimos e aéreos

10. Apostar nas políticas públicas de desenvolvimento de espaços rurais para a

criação de percursos pedestres e percursos propostos com base no património

geomorfológico para o Monte Gordo e para o Carberim.

11. Aproveitar a qualidade do mar e do sol para a promoção de atividades

desportivas nomeadamente o mergulho desportivo, a pesca desportiva, Surf, body

board etc.

No âmbito do desenvolvimento sustentável, podemos aqui mencionar por exemplo o

contributo que os geoparques têm exercido como potenciadores do geoturismo. O geoparque

é um projeto criado pelo financiamento da UNESCO, onde se englobam muitos países da

Europa. Dentro deste grupo de países no qual Portugal se encontra inserido, foram criados o

geoparque Naturtejo ou da Meseta Meridional, geoparque das ilhas dos Açores, geoparque de

Arouca, e mais recentemente o geoparque Terras de Cavaleiros.

Estes possuem áreas onde a geomorfologia se destaca e constituem lugares de elevado

interesse turístico, cultural, cénico, didático e científico. Para Rodrigues et al. (p. 1355) um

geoparque centra-se na geoconservação, educação e geoturismo provenientes dos valores da

geodiversidade de um determinado território, incluindo o património arqueológico,

histórico/cultural e cultural (Fig.43).

Nestes geoparques encontram-se vários produtos geoturísticos ao dispor dos visitantes,

desde os culinários, aventuras, percursos pedestres, dança, artesanato etc. Em Cabo Verde

ainda não foi proposta a criação de nenhum geoparque. No entanto, no país domina uma

diversidade de riqueza natural cuja, a singularidade de certas geoformas podem ser

valorizadas num plano estratégico geoturístico cujas potencialidades que poderão atrair vários

visitantes.

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

106

Segundo Rodrigues e Carvalho (2009, p.1359) um destino torna-se mais desenvolvido

quando maior for a variedade de ofertas, mesmo quando se trata do geoturismo ou de um

turismo especializado ou de “nicho”. Num local que apresenta grandes valores do património

geológico é importante articular os valores históricos, culturais, naturais (biológico e

geológico). Também é importante dizer que o geoturismo não vem sobrepor-se ao ecoturismo

mas sim complementar outros valores pertencentes à geodiversidade que contribuem para o

desenvolvimento local. Neste contexto, o geopatrimónio funciona como um impulsionador

dos roteiros geoturísticos integrando as vertentes naturais e culturais. Ao mesmo tempo é uma

forma de valorizar este património.

Relativamente a esta temática não tenho conhecimento de nenhum percurso no âmbito

do geopatrimónio na área em estudo. No entanto, em Cabo Verde conheço o caso do Parque

Natural da Ilha do Fogo, com percursos interpretativos propostos por Vera Alfama (2007).

No caso português, têm vindo a desenvolver-se alguns trabalhos científicos com

exemplos de percursos específicos, no âmbito do património geomorfológico, como, por

exemplo, os propostos por Vieira (2008), para a Serra de Montemuro, assim como outros

percursos propostos para o Maciço de Sicó por Cunha e Vieira (2002/2004) e no Parque

Natural de Montesinho por Paulo Pereira (2006).

É neste sentido, que proponho um percurso geoturístico para os geossítios

inventariados na Ilha de São Nicolau. O objetivo é enquadrá-los numa proposta de

valorização e conservação através do geoturismo, que visa conhecer os seus valor a nível

educativo, natural e cultural, trazendo se possível, contributos para o desenvolvimento local.

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

107

Figura 43. Esquema concetual do Geoturismo articulado, adaptado a (2008 Rodrigues, p. 44).

V.1.1- Descrição do percurso ecoturístico

Para conhecer os geossítios inventariados, avaliados e classificados, propõem-se os

seguintes percursos que se observam na, Fig. 44. Estes poderiam, ser efetuados, em três dias

para não ser tão exaustivo para os turistas, uma vez que, os percursos propostos incluem

setores com declives muito íngremes e que só poderão ser percorridos a pé, exigindo desse

modo algum esforço físico (é o caso, por exemplo, da Ribeira Funda - GS1). Na figura 45,

também se verifique, uma cartografia que representa um roteiro geoturístico, representativo

dos caminhos de acesso aos respetivos geossítios.

Educação

e

Conservação

Geodiversidade

Geoturismo

Ecoturismo

Valores culturais

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

108

Figura 44. Descrição dos percursos dos geossítios

No primeiro, segundo e terceiro dias, poderia iniciar-se e terminar o percurso a partir

da Vila da Ribeira Brava, devido à possibilidade de ai pernoitar. Sendo assim no primeiro dia,

seguir-se-ia da Vila da Ribeira Brava em direção à localidade de Estância de Brás, onde se

iniciaria o ponto de partida, para a localidade de Ribeira Funda (GS1), através de um caminho

exclusivamente pedestre mas que também poderia ser percorrido através de montados (burro,

cavalo). Ao longo deste caminho observar-se-ia o domínio do mar de um lado e do outro, o

sistema montanhoso do “Cenoral”.

O primeiro ponto de observação, seria, um pequeno miradouro chamado de “Montador

do Burro” onde se visualiza uma parte da aldeia, já desabitada e o mar. O segundo ponto de

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

109

observação seria o miradouro de Cruz. Aí poderia disfrutar-se da excelente paisagem da

aldeia e dos elementos naturais existentes.

O ponto de paragem seria feito na própria aldeia onde haveria a oportunidade de

observar a morfologia do mar, do relevo, o encaixe do vale de Camarões (aldeia vizinha), de

um lado e do outro lado o vale da Ribeira Funda, assim como a presença das atividades

exercidas pelo ser humano no amanho da terra (GS 1). Nesta localidade, poderia aproveitar-se

o resto do dia para algumas atividades piscatórias, práticas balneares e de lazer como por

exemplo um piquenique.

No segundo dia, partindo da Vila da Ribeira Brava, o primeiro ponto de paragem

poderia iniciar-se em Fajã (GS11). Ali, poderia contemplar – se a paisagem, o cultivo de

(banana, cana de açúcar, tubérculos…), bem como a prática agrícola de regadio, e os relevos

imponentes, envolventes. De seguida seguir-se-ia em direção ao Monte Sentinha (GS 12).

Ao aproximarmo-nos da localidade de Cachaço, verifica-se uma mudança, clara na

topografia do local. O afloramento rochoso ou domo rochoso de Monte Sentinha destaca-se

com bastante clareza, em forma de chaminé e/ou pico. À sua volta destaca-se a cor verde,

sobretudo devido ao predomínio do cultivo da agricultura de sequeiro (milho e feijão,

batata…). Ao avançar se para a direita do domo rochoso encontra-se a respetiva Capela de

Monte Sentinha que representa interesse do ponto de vista cultural e religioso para a

comunidade local.

Desta paragem seguir-se-ia para o ponto mais alto da ilha, Monte Gordo (GS 9) –

ponto central do respetivo Parque Natural. Ainda na localidade do Cachaço, verifica-se na sua

periferia a escarpa de falha coberta de vegetação, nevoeiros e uma parte exterior do Maciço. O

ponto de paragem seria feito já dentro do Parque Natural. Primeiramente, haveria, a

oportunidade de desfrutar da magnífica e ampla diversidade da paisagem ao longo de todo o

setor.

Ao circular-se pelo parque vai-se comtemplando a vista panorâmica do encaixe dos

vales, das formações geomorfológicas de filões, cristas, buracas, ao longo das vertentes e dos

relevos mais acidentados. Também seria possível observar a diversidade de espécies vegetais

em destaque, grandes comunidades de tortolho (Euphorbia tuckeyana), dragoeiro (Dracaena

Draco), entre outras espécies endémicas bem como comunidades de eucaliptos e de pinheiros.

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

110

Seguindo-se pelo Caminho Novo em direção à Vila do Tarrafal, a próxima paragem

seria no miradouro, onde haveria a oportunidade de visualizar todo o vale que liga à vila

principal: a Vila da Ribeira Brava. Observar-se-ia ao mesmo tempo a morfologia do relevo e a

disposição dos pequenos aglomerados dispersos ao longo do vale e das vertentes.

Deste ponto, logo á direita deslocar-nos-íamos para a Hortelã (GS 11), que

corresponde à área de amortecimento do Parque Natural do Monte Gordo, mas com

morfologia e contraste paisagísticos diferentes. À entrada do local, seria feita uma paragem

para observar a morfologia do relevo em forma de domo achatado, depósitos de vertentes e

escoadas de materiais piroclásticos. Mais para o interior do local, encontra-se um cenário um

pouco diferente com uma formação estratigráfica proveniente de materiais piroclásticos

formidáveis.

Da Hortelã, seguir-se-ia para a Vila do Tarrafal, pela estrada que liga á Praia do Barril

(GS 2). Nesta paragem, haveria a oportunidade de usufruir de uma excelente baía, da praia, do

domínio do mar, dos recursos minerais (areia) bem como observar os sinais ou vestígios da

sua extração.

Continuando pela mesma estrada, seguir-se-ia para o domo rochoso da Praia Branca

(GS 4). No seu interior, à medida que o Ser Humano vai aproveitando para extrair os recursos

minerais (jorra), podem-se observar grandes filões de formações estratigráficas, provenientes

dos materiais piroclásticos (lapili, tufos) e a presença de calcário fossilífero de cor branca.

Aqui poderia também visualizar-se o aglomerado populacional da localidade da Praia Branca.

O próximo ponto de paragem seria o Carberim (GS 3). Neste local, haveria a

oportunidade de observar uma grande variedade de elementos geomorfológicos. Também se

poderia disfrutar da riqueza que a paisagem proporciona e das pequenas lagoas que aí se

apresentam para efeito balnear.

Por último, para terminar o percurso do dia regressar-se-ia pela mesma estrada em

direção à Debaixo Rocha (GS 5). Ao longo do caminho, poderiam observar-se diversas

morfologias do relevo, do solo e ainda algumas pedreiras abandonadas. Ao aproximarmo-nos

do local o cenário torna-se diferente, ou seja, varia do castanho para o azul.

Haveria a oportunidade de observar um grande perfil horizontal com formas de

disjunção colunar basáltica, também designadas por prismas ao longo da sua arriba. Seria

ainda possível encontrar formações de dunas de areia branca transportadas pelo vento que se

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

111

vão acumulando na base desta vertente. Por outro lado, haveria a possibilidade de terminar o

dia a disfrutar da praia.

Como já se referiu no parágrafo anterior, devido ao facto de alguns dos geossítios se

encontrarem muitos dispersos uns dos outros e com acessos pouco favoráveis, como por

exemplo para a localidade do Carriçal, no terceiro dia o primeiro ponto de paragem poderia

iniciar-se no Forte da Preguiça (GS 7). Para chegar a este local, segue-se pela estrada,

partindo da Vila da Ribeira Brava ou do Aeroporto da Preguiça.

O primeiro ponto de paragem seria no miradouro, onde haveria a oportunidade de estar

em contato com os antigos canhões militares que lá se encontram, e com uma estátua que

retrata o percurso da navegação de Vasco da Gama a caminho do Brasil. Este mesmo ponto,

possibilita uma observação magnífica quer para um conjunto de relevos residuais, quer para o

mar e para a própria localidade.

Ao avançar-se para o antigo cais, poderia fazer-se uma segunda paragem de modo a

observar a praia junto à falésia ou arriba e as formações de estruturas prismáticas ao longo da

vertente. Também poderiam observar-se os processos erosivos desencadeados pelo mar bem

como a pesca tradicional local.

Daqui, seguir-se-ia em direção à piscina do Juncalinho (GS 6). Ao longo do percurso,

haveria a oportunidade de disfrutar de excelentes vistas para o mar de um lado, do outro lado

aspetos geomorfológicos de elementos de natureza basáltica e conhecer o aglomerado

populacional de Moro Braz.

O primeiro ponto de paragem seria feito na própria localidade, onde haveria a

oportunidade de dialogar com a população e apreciar a disposição do povoamento. O segundo

ponto de paragem, seria, na piscina, onde haveria a possibilidade de a utilizar para fins

balneares. Para além disso, seria possível observar com pormenor as formações do basalto

escuro em forma de disjunção colunar, a própria piscina em formato esferoidal e ainda

alternâncias de pias de água, que se foram formando à medida que o mar avançou para a terra.

Do Juncalinho, continuar-se-ia o percurso em direção ao Carriçal (GS 8). Embora seja

transitável por carro, o percurso é moroso devido às condições do terreno que possuem

caraterísticas muito pouco favoráveis. Ao longo do caminho, a observação dos elementos

geomorfológicos de natureza basáltica seria constante.

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

112

A vista da entrada do Carriçal é fabulosa. De imediato, surge-nos uma imagem de uma

superfície mais ou menos aplanada e o predomínio das formações de escoadas de lavas em

forma de deltas bem como a presença do aglomerado populacional. Ao avançarmos para a sua

periferia que se considera a parte mais central e mais frequentada pelos visitantes, haveria a

oportunidade de conhecer a antiga fábrica de conserva do peixe, embora em avançado estado

de degradação. Na sua arriba contemplar-se-ia a vegetação proveniente do lençol freático, a

praia para efeitos balneares, o mar e ainda atividades piscatórias tradicionais.

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

113

Figura 45. Roteiro geoturístico representativo dos caminhos de acesso aos respetivos geossítios

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

114

Considerações Finais

Ao realizar este trabalho surgiram algumas dificuldades na obtenção de dados bem

como as deslocações para a ilha em estudo. Porém os objetivos foram em meu entender

alcançados. A realização deste trabalho permitiu-me conhecer a Ilha de São Nicolau, de uma

forma mais pormenorizada e, sobretudo do ponto de vista dos seus elementos

geomorfológicos. O trabalho de campo e a seleção dos geossítios contribuíram sem dúvida

para um maior enriquecimento a este trabalho. Esta investigação trouxe-me, também, grande

incentivo para aprofundar mais o conhecimento desta temática, motivação para conhecer

melhor esta ilha e desenvolver melhor os elementos que compõem a sua natureza.

No entanto, espero que sirva também como um incentivo, e que futuramente, possam

surgir novas investigações, representativas de elementos geopatrimoniais com o mesmo

interesse, ainda desconhecidos da grande maioria da população e dos visitantes da ilha.

Do ponto de vista do geoturismo, este poderá constituir uma estratégia que as

entidades locais poderão desenvolver ou aplicar no sentido de promover o desenvolvimento

económico, de valorizar, conservar esses geossítios e fazer destes sítios locais de interesse,

para a prática de atividades pedagógicas, recreativas e de lazer tendo em vista o bem-estar de

todos.

Pelo que foi referido ao longo deste trabalho, o estudo da geodiversidade tem dado

grandes contributos para a conservação e valorização do património geológico e/ou

geomorfológico em todo o mundo. Em Cabo Verde, em particular na Ilha de São Nicolau,

esta temática requer maior atenção na área científica e pedagógica, através da criação de

recursos didáticos e pedagógicos capazes de transmitir o seu conhecimento e contribuir para a

sua divulgação junto das populações.

Do ponto de vista do património natural, o país possui uma grande riqueza de valores,

que normalmente não têm sido utilizados na promoção e no desenvolvimento desses lugares.

Na verdade, as entidades governamentais e municipais, muito têm contribuído através da

criação de algumas áreas protegidas e revelando preocupações perante ameaças adversas,

como a exploração dos recursos e a fragmentação dos ecossistemas. O país reúne condições

Geopatrimónio da ilha de São Nicolau

115

do ponto de vista legislativo e governamental no âmbito da política da conservação da

natureza e do ordenamento do território com medidas que visam a sua proteção, mas que

precisam de ser postas em prática com maior vigor.

No âmbito da conservação da natureza, através das iniciativas promovidas pela

UNESCO e por outras entidades como a Associação Europeia para a Conservação do

Património Geológico em Portugal, as estratégias de geoconservação têm contribuído para

combater muitas ameaças referentes ao geopatrimónio. Ao mesmo tempo, as técnicas de

geoconservação (inventariação, avaliação, classificação, valorização e monitorização), que

têm sido aplicadas e discutidas por vários autores em diversos países, contribuem para a sua

valorização e inserção em políticas de desenvolvimento sustentável.

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