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INTEGRAÇÃO REGIONAL E GLOBALIZAÇÃO DA ECONOMIA: AS DUAS FACES DA NOVA ORDEM MUNDIAL MARCÍLlO TOSCANO FRANCA FILHO Professor de Direito Administrativo da Universidade Federal da Paraíba, aluno do Mestrado em Ciências Jurídicas da Faculdade de Direito da Universidade Federal da Paraíba, assessor de juiz federal na Seção Judiciária da Paraíba, ex-aluno da Universidade Livre de Berlim. SUMÁRIO 1. Nota Introdutória. 2. A Ordem Internacional Contemporânea. 3. A Globalização das Economias. 4. A Integração Regional. 5. À guisa de conclusão. 6. Bibliografia. 1. NOTA INTRODUTÓRIA Oriundo do jargão jornalístico, o termo globalização, em tempos de exaltação da contemporaneidade, logo se vulgarizou e ganhou numerosos adeptos no universo da política, da academia e do comércio, que de pronto associaram-no ao vocábulo integração, devido ao seu forte acento economicista.

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JURÍDICA - INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO

Governo é que o projeto objetiva . brasileira para a era do Mercosul.

) constitucional do art. 151, inc. IH, a União, nem mesmo com a de poder desonerativo sobre as

Estados e Municípios. 24

.c. n° 1/69 assim redigido: § 2° A União, mediante mteres~e social ou econômico nacional, poderá

IUruClpWS, a União era detentora de tais poderes.

INTEGRAÇÃO REGIONAL E GLOBALIZAÇÃO DA ECONOMIA: AS

DUAS FACES DA NOVA ORDEM MUNDIAL

MARCÍLlO TOSCANO FRANCA FILHO

Professor de Direito Administrativo da Universidade Federal da Paraíba, aluno do Mestrado em Ciências Jurídicas da Faculdade de Direito da Universidade Federal da

Paraíba, assessor de juiz federal na Seção Judiciária da Paraíba, ex-aluno da Universidade Livre de Berlim.

SUMÁRIO

1. Nota Introdutória. 2. A Ordem Internacional Contemporânea. 3. A Globalização das Economias. 4. A Integração Regional. 5. À guisa de conclusão. 6. Bibliografia.

1. NOTA INTRODUTÓRIA

Oriundo do jargão jornalístico, o termo globalização, em tempos de exaltação da contemporaneidade, logo se vulgarizou e ganhou numerosos adeptos no universo da política, da academia e do comércio, que de pronto associaram-no ao vocábulo integração, devido ao seu forte acento economicista.

jeolane
Caixa de texto
Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos, n. 18, ago./nov. 1997
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I

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REVISTA JURÍDICA - INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO 36 MARCÍLIO TOSCANO FRANCA FILHO

Atualmente, encontram-se referências fartas àqueles dois termos, sobretudo associando-os às facilidades de comunicação, ao processamento veloz de informações, à formação de blocos econômicos multilaterais e à mobilidade internacional dos fatores produtivos. Entretanto, os seus efeitos sobre a sociedade vão muito mais além do que a esfera unicamente financeira e tecnológica da economia da informação, como veremos a partir de agora. Processos complexos, não é sem razão o grande número de metáforas de que se utilízam os estudiosos do tema na busca de sua compreensão: aldeia global, nova babeI, terceira onda, sociedade amébica e sociedade informática I denotam esforços teóricos de apreensão do fenômeno em toda a sua totalidade ou, minima de malis, nas várias faces que o compõem.

Dada a suma importância que assumem os fenômenos da globalização e da integração para a compreensão do mundo contemporâneo, mormente no campo do Direito - quando demandam a construção de novos institutos e o aperfeiçoamento de antigos conceitos - as presentes investigações têm por fim caracterizar o alcance daquelas duas categorias, atualmente tão cheias de significados, e, assim, revelar a atuação dos seus principais atores (Estados, blocos econômicos, organismos plurilaterais, empresas transnacionais), a organização de suas estruturas básicas (os subsistemas político, econômico e jurídico) e o desenvolvimento de seus processos (as ações dos sujeitos desse sistema: transnacionalízação do capital, descentralização política e reestruturação do modo capitalista de produção).2

Apesar das leituras interdisciplínares demandadas pelo tema em Geografia, Economia, Ciência Polftica, Administração Pública e Relações Internacionais, as presentes notas constituem um trabalho jurídico e, como tal, privilegiarão o estudo das categorias do Direito na abordagem dos objetos estudados, em detrimento de todas as outras ciências referidas.

IANNI, 1995, p. 15.

2 Cf. MARTINS, Luciano. Um Mundo em Transformação. In: VELLOSO & MARTINS, 1994, p.

5.

Uma última observação Se recentes e ainda em constrw integracionismo demandam um conclusões gerais, sistêmicas, processo de conformação, pare momento, de uma Teoria Ge mesmo muitas das idéias apre: são fruto de um esforço reflexi pequenas impropriedades ou r reflexos daqueles dois fenômen<

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3 Cf. MARTINS Luciano. Ordem intemaciOl Poder. In: VELLOSO & MARTINS. 1994,

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se referências fartas àqueles dois l~-os às facilidades de comunicação, mformações, à formação de blocos

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'Jlsjormação. In: VELLOSO & MARTINS. 1994, p.

MARCÍLIO TOSCANO FRANCA FILHO 37

Uma última observação se nos impõe. Como fenômenos recentes e ainda em construção, o estudo de globalismo e integracionismo demandam um cuidado especial: o de se evitar conclusões gerais, sistêmicas, definitivas. Estando ainda em processo de conformação, parece impossível a constituição, no momento, de uma Teoria Geral acerca das duas categorias; mesmo muitas das idéias apresentadas por expressivos teóricos são fruto de um esforço reflexivo ainda jovem, logo, passível de pequenas impropriedades ou revisões com a consolidação dos reflexos daqueles dois fenômenos.

lI. A ORDEM INTERNACIONAL CONTEMPORÂNEA

As noções de globalização e nova ordem mundial se confundem no plano político internacional. Assim, por razões de rigor metodológico, exige-se, de logo, delimitar o que seja ordem internacional já que, só a partir da conceituação desse elemento, poder-se-á compreender o que seja uma nova ordem. Ademais, a compreensão do que seja uma ordem nova, supõe, logicamente, um pré-conhecimento do que seja uma ordem bem como o de sua antiga versão.

Tomaremos por ordem internacional o conjunto formal ou informal de princípios, normas, instituições e procedimentos decisórios que, refletindo a correlação de forças em plano mundial, regulam as relações internacionais.3 É, portanto, a ordem internacional o grande sistema mundial4 de relações de poder constituído por princípios, regras e atores próprios, bem assim por

3 . Cf. MARTINS Luciano. Ordem Internacional, Interdependência Assimétrica e Recursos de

Poder. In: VELLOSO & MARTINS, 1994, p. 116.

4 Immanuel W ALLERSTEIN (al'ud IANNI, 1995, p. 28) afirma que "um sistema mundial é um

sistema social, um sistema que possui limites, estrutura, grupos, membros, regras de legitimação e coerência. Sua vida resulta das forças conflitantes que o mantêm unido por tensão e o desagregam, na medida em que cada um dos grupos busca sempre reorganizá-lo em seu benefício. Tem as características de um organismo, na medida em que tem um tempo de vida durante o qual suas características mudam em alguns dos seus aspectos, e permanecem em outros. Suas estruturas podem definir-se como fortes ou débeis em momentos diferentes, em termos da lógica interna de seu funcionamento."

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REVISTA JURÍDICA - INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO MARCÍLIO TOSCANO FRANCA FILHO 38

diversos outros subsistemas peculiares. Um mapa da distribuição do poder pelo mundo.

A nova conformação mundial de fatores políticos, econômicos, militares, estratégicos e ideológicos que, a partir de 1989, se sobrepôs à bipolaridade, à Guerra Frià e ao conflito ideológico dual, é o meio ambiente que serve de palco para a ordem globalizada. Diz-se nova ordem porque, desde a sua constituição, com a implosão do bloco soviético, há uma nova forma de distribuição do poder no globo, diferente da que vinha predominando desde o final da Segunda Guerra Mundial.

A bipolaridade foi o fenômeno político mais característico do Pós-Guerra. Decorreu do enfraquecimento político das antigas potências européias e a conseqüente emergência dos Estados Unidos e União Soviética como os novos centros dominantes do poder mundial, personificando, cada um, um projeto político e uma visão-de-mundo (Weltanschauung) opostos e excludentes.

Em 1945, terminada a Segunda Guerra, os Estados Unidos se afirmam como grande credor do mundo capitalista e, assim, consolidam sua hegemonia perante os países industrializados, sobretudo os da Europa Ocidental, destruídos pelo estado de beligerância que durara seis catastróficos anos. De outro lado, sob influência política e ajuda econômica da antiga União Soviética, boa parte da Europa Centro-Oriental, onde as tropas soviéticas substituíram rapidamente o inimigo germânico, tornou-se socialista, estatizando toda a sua economia, fechando-se para o mercado internacional e construindo a faixa de segurança do território soviético conhecida como Cortina de Ferro. 5 Foi nas Conferências de Yalta, em fevereiro de 1945, e, principalmente, de Potsdam, em agosto do mesmo ano, que Stalin, Churchill e Roosevelt redesenharam o mapa europeu, consolidando os espaços de dominação americano e soviético.

A partir de 1946, a busca de ampliação das respectivas zonas de influência americana e soviética, faz com que as relações entre

5 Célebre expressão utilizada por W. Churchill, em discurso de 1946, que denotava a satelitização

dos Estados europeus centro-orientais.

Estados Unidos e União Soviét originando o fenômeno da Guerra edificação e consolidação de 1

político-militares, como a Organi Norte (OTAN), para os países caI para os socialistas.

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)eculiares. Um mapa da distribuição

fiaI de fatores políticos, econômicos, )lógicos que, a partir de 1989, se ruerra Fria e ao contlito ideológico lue serve de palco para a ordem ~m porque, desde a sua constituição, soviético, há uma nova forma de globo, diferente da que vinha

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neno político mais característico do fraquecimento político das antigas lseqüente emergência dos Estados no os novos centros dominantes do o, cada um, um projeto político e ;chauung) opostos e excludentes.

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em discurso de 1946, que denotava a sale/ilização

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Estados Unidos e União Soviética comecem a se deteriorar, originando o fenômeno da Guerra Fria, marcado, sobretudo, pela edificação e consolidação de um rígido sistema de alinças político-militares, como a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), para os países capitalistas, e o Pacto de Varsóvia, para os socialistas.

O fenômeno da Guerra Fria tem suas raízes num equilíbrio pelo terror: o domínio da tecnologia bélica nuclear e a possibilidade de uma suicida guerra quente, travada nos campos de batalha, traziam a concreta e iminente possibilidade de destruição não só do inimigo, mas a do próprio agressor. A caracterização desse fenômeno pode ser extraída da lição de Magnoli (1990, p. 51):

Henry Kissinger, homem-chave da diplomacia americana nos governos Richard Nixon e Gerald Fard, captou a essência da guerra fria ao escrever: A diplomacia contemporânea se desenvolve em circunstâncias sem precedentes. Raras vezes existiu base menor de entendimento entre as grandes potências, mas tampouco jamais foi tão coibido o uso da força. (. .. ) O temor da confrontação bélica direta, que na era nuclear parece constituir caminho seguro para o mútuo suicídio, bloqueia o uso da força para a solução dos conflitos. Por outro lado, a negociação resulta normalmente inútil, já que as superpotências encaram como vitais cada um dos seus múltiplos interesses espalhados pelo planeta. Nem paz, nem guerra: Guerra Fria.

Evitando sempre um confronto direto, os dois grandes atores do teatro das relações internacionais, Estados Unidos e União Soviética, deslocaram o eixo de suas ações estratégicas para territórios fora das respectivas fronteiras nacionais - veja-se Coréia, Cuba, Vietnã, Irã, Afeganistão e Alemanha - assim, procuraram construir um complexo subsistema de pactos e alianças regionais com países dotados de menores (e altamente desiguais entre si) recursos de poder. Tais subsistemas se formaram seja pela ameaça do bastão, seja pela promessa de cenoura e, no mais das vezes, pelo emprego alternado de ambas

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as coisai. Essa inter-relação entre o sistema mundial bipolar e os diversos subsistemas regionais de conquista e manutenção de influências findou por originar uma hierarquia entre os países: as superpotências - atores principais no plano internacional, os seus Estados satélites - coadjuvantes - e uma massa de países que, estrategicamente inúteis, não mereciam maiores atenções (constituída, sobretudo, pelas ex-colônias de independência recente).

A divisão da Alemanha e, particularmente, de Berlim, são retratos eloqüentes dessa época de bipolarização e Guerra Fria.

Com a capitulação do Reich, os Aliados, através do Tratado de Potsdam, dividiram o território alemão em quatro zonas de ocupação. Por aquele acerto, o norte do país ficou então sob controle de Londres; o sul, com Washington, o oeste sob o controle de Paris e o leste, com Moscou, que desde logo quis edificar ali um Estado socialista. A fim de garantir os seus objetivos, a então União das Repúblicas Socialistas Soviéticas mostrava-se cada vez mais empenhada em constituir um Estado alemão separado e independente. Em represália, os Estados Unidos, com apoio das demais potências aliadas, injetaram uma vultosa quantidade de dólares na reconstrução dos conglomerados industriais germânicos, através do Plano Marshall, e promovem uma reforma monetária criando o vigoroso Deutsche Mark (DM). Essas medidas pretendiam, antes de tudo, consolidar a dominação americana e abalar a frágil sustentação econômica da zona soviética. Como retaliação, Moscou empreendeu um duro bloqueio do fornecimento de energia elétrica e gêneros alimentícios à Berlim Ocidental,7 tentando asfixiar a cidade. 8

6 MARTINS, Luciano. Ordem Internacional, Interdependência Assimétrica e Recursos de Poder. In: VELLOSO & MARTINS, 1994, p. 127.

7 Durante cerca de oito meses, entre 1948 e 1949, a cidade sobreviveu graças a uma ponte aérea com a Alemanha Ocidental: aviões das potências capitalistas lançavam sobre a cidade os gêneros de primeira necessidade numa das maiores façanhas lécnicas de sustentação [ofiística em tempos de paz, segundo MAGNOLI (1990, p. 61).

8 MAGNOLI, J990, p. 6 J.

Entre setembro de 1948 conversações das potências o acerca da reunificação alemã, Yalta, representantes alemães d francesa, americana e inglesa oficializar a instituição da Repl através da elaboração da Lei denominação - em lugar de Cl objetivo denotar o caráter ordenamento, longe de intent dividido.

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'A JURÍDICA - INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO

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Entre setembro de 1948 e maIO de 1949, cessadas as conversações das potências ocidentais com a União Soviética acerca da reunificação alemã, como previsto originalmente em Yalta, representantes alemães dos parlamentos estaduais das zonas francesa, americana e inglesa reuniram-se em assembléia para oficializar a instituição da República Federal da Alemanha (RFA) através da elaboração da Lei Fundamental (Grundgesetz), cuja denominação - em lugar de Constituição (Verfassung) - teve por objetivo denotar o caráter transitório e provisório daquele ordenamento, longe de intentar constituir um Estado Alemão dividido,

Como corolário direto da criação da República Federal da Alemanha, a União Soviética fomenta a instituição da República Democrática Alemã (RDA) e radicaliza na demarcação e proteção das suas fronteiras, até chegar à construção do Muro de Berlim, em 13 de agosto de 1961, símbolo que melhor representa a dicotomia político-ideológica da época.

Com o xadrez da política internacional sendo conduzido com exclusividade por Estados Unidos e União Soviética, os demais Estados, hierarquicamente inferiores, migraram os seus esforços no plano internacional para a ampliação e consolidação de espaços econômicos. Se na cena política o espetáculo já tinha suas estrelas, coube aos outros países a busca de palcos alternativos na seara econômica, onde, mais facilmente, poderiam mudar sua posição na hierarquia do poder internacional.

Essa relativa dissociação entre o político e o econômico teve conseqüências importantes e que vão aparecer com mais clareza na fase que se inaugura com o fim da guerra fria. As reconstruções econômicas européia e japonesa representam a maximização dessas oportunidades e espaços de manobra.

(00')

Os países que souberam reestruturar seu sistema produtivo, seja por mobilização de recursos próprios, seja aproveitando-se da circunstância de serem áreas prioritárias para inversões e financiamento externo, ou pela combinação

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MARCÍLIO TOSCANO FRANCA FILHO REVISTA JURÍDICA - INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO 42

das duas coisas, lograram, em meio a condições internacionais que pareciam hostis e inflexíveis, encontrar (OU abrir) os espaços que permitiram sua expansão econômica e consolidação política9

.

O Wirtschaftswunder, expressão alemã que diz desse milagre econômico do pós-guerra, deveu-se, sobretudo, aos fartos incentivos estrangeiros (americano e soviético) para o soerguimento industrial e urbano, à existência de um numeroso exército industrial de reserva e à desnecessidade de se gastar esforços e recursos para manter uma posição hegemônica mundial, como ocorria com as superpotências através de seus largos orçamentos militares.

Entre as conseqüências daquele Wirtschaftswunder encontram­se as bases para a ordem globalizada que viria a seguir: a expansão do sistema capitalista mundial, o surgimento de novos centros de poder econômico, um considerável aumento do fluxo comercial internacional, a revolução tecnológica.

Com o ruir do Muro de Berlim, em 1989, e de todo o bloco totalitário de que era alicerce (União Soviética e aliados do Pacto de Varsóvia), emergiu o fim da tradicional geopolítica que regera as relações internacionais desde o pós-guerra (1945). A partir de então, à antiga divisão bipolar da hegemonia mundial vem-se sobrepondo uma nova configuração de poder, cuja tônica é a do surgimento de novos atores no teatro das relações internacionais, da pulverização de conflitos regionais, da instituição de fóruns de diálogo transnacional, da inserção de novos temas na agenda global, da abertura da economia e da eliminação das barreiras econômicas.

No plano das relações internacionais, foram muitas as repercussões do fim da Guerra Fria. A princípio, a dissolução do bloco socialista e o fim do conflito Leste-Oeste provocaram uma euforia de tal grandeza que se chegou mesmo a crer em umfim da

9 MARTINS, Luciano. Ordem Internacional, Interdependência Assimétrica e Recursos de Poder.

In: VELLOSO & MARTINS, 1994, p. 128.

história, como pretendeu Fuk em uma paz perpétua, como c o início de um unipolarismo J Espaçonave Terra (ou Disney pelo tecno-cosmos, longe dos comunista.

Ledo engano. Findo o bip4 eterna foi desfeita pela pulveri partes do globo e pelo ress nacionalismos xenófobos e fi fenômeno? Como se não bast fictícias impostas pelos euro] suas colônias afro-asiáticas nc Guerra Fria, tanto os Esta( Soviética mantiveram amord dos seus Estados satélites, comum. Isso fez com que ( aumentando sem despertar ideológico que, uma vez romr O ex-secretário de Defes McNamara12 retrata com prec:

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12 A Nova Ordem Internacional. In: VEW

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URÍDICA - INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO

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~ssão alemã que diz desse milagre deveu-se, sobretudo, aos fartos lericano e soviético) para o mo, à existência de um numeroso e à desnecessidade de se gastar

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lim, em 1989, e de todo o bloco rnião Soviética e aliados do Pacto tradi~ional geopolítica que regera o pos-guerra (1945). A partir de da hegemonia mundial vem-se

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história, como pretendeu Fukuyama no seu célebre ensaio,lo ou em uma paz perpétua, como dissera Kant nos idos de 1700. Seria o início de um unipolarismo político, sob os auspícios de quem a Espaçonave Terra (ou Disneylândia Global) caminharia tranqüila pelo tecno-cosmos, longe dos percalços das ameaças nuclear ou comunista.

Ledo engano. Findo o bipolarismo, essa crença inicial de paz eterna foi desfeita pela pulverização de conflitos étnicos em várias partes do globo e pelo ressurgimento de formas perversas de nacionalismos xenófobos e fundamentalismo. 11 As razões desse fenômeno? Como se não bastassem as demarcações de fronteiras fictícias impostas pelos europeus, sob o rigor da violência, em suas colônias afro-asiáticas no século passado, durante os anos da Guerra Fria, tanto os Estados Unidos como a então União Soviética mantiveram amordaçadas todas as etnias conflituosas dos seus Estados satélites, em nome do respectivo inimigo comum. Isso fez com que os ódios e incompreensões fossem aumentando sem despertar atenções debaixo do cimento ideológico que, uma vez rompido, deu lugar a sangrentas batalhas. O ex-secretário de Defesa dos Estados Unidos, Robert

12 . - f ~M N amara enomeno:c retrata com precIsa0 esse

Como bem demonstrou o episódio do fraque, o mundo do futuro não será um mundo sem conflitos, seja entre grupos dentro de uma nação, seja através de fronteiras nacionais. As diferenças raciais e étnicas permanecerão. Revoluções políticas irromperão à medida que as sociedades progredirem. Disputas históricas sobre fronteiras políticas irão continuar. Diferenças econômicas entre as nações, à medida que a revolução tecnológica do século XXf se espalhar sobre o globo

10 FUKUYAMA, Francis. LlI Fin de I'Histoire et le dernier Homme. Paris, Flamarions, 1992. Ou a

versão em inglês: The End of History and de lasl Man, New York, The Free Press, 1992.

11 São muitos os exemplos desses conflitos: a questão palestina; a rivalidade entre tribos na Somália; a guerra civil no Haiti; a luta terrorista entre cristãos e protestantes na Irlanda (IRA); os bascos na Espanha (ETA); os curdos no fraque e Turquia (PKK); os turcos na Alemanha; o conflito entre Tibete e China.

12 A Nova Ordem Internacional. In: VELLOSO & MARTINS, 1994, p. 35.

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MARCÍLIO TOSCANO FRANCA FILHO REVISTA JURÍDICA - INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO 44

de modo desigual, irão intensificar-se. Nos últimos 45 anos, 125 guerras, com um saldo de quarenta milhões de mortos, ocorreram no Terceiro Mundo. Os dispêndios militares do Terceiro Mundo aproximam-se dos duzentos bilhões de dólares ao ano. Quintuplicaram, em dólares constantes, entre 1960 e meados da década de 1980 (... ).

Na nova ordem mundial, o unilateralismo político-militar americano, mesmo travestido em multilateralismo através das decisões do Conselho de Segurança das Nações Unidas - a fim de assegurar-lhe legitimidade - foi incapaz de se mostrar eficiente na garantia da paz mundial depois do fim das ideologias.

Tentando-se minimizar os conflitos e distúrbios da combalida paz mundial, algumas iniciativas marcam essa nova ordem internacional. É uma certeza entre cientistas políticos e estudiosos de várias áreas a íntima relação entre o aumento dos conflitos e o mal desempenho econômico: o atraso econômico e social é um fermento ideal para o fomento de ódios e incompreensões. Daí a preocupação ascendente para com a criação de instrumentos que preservem a diversidade de perfis e fomentem a cooperação internacional. Uma prova disso é o prestígio que vêm adquirindo as organizações supranacionais de ajuda mútua e diálogo, como a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a Organização Mundial do Comércio (ex-GATT) e ainda a idéia de que um país da periferia do sistema' capitalista internacional, como o Brasil, passe a integrar o Conselho de Segurança das Nações Unidas.

A decadência do militarismo nuclear e a pulverização de conflitos regionais só contribuíram para a valorizada existência de foros multilaterais para discussão e encaminhamento das questões internacionais e para o crescente prestígio da própria Organização das Nações Unidas (ONU).I3

13. . o Ih d . .DepOIS da Guerra Fna, a NU e o seu Conse o e Segurança passaram a atuar com multo maIs desenvoltura até mesmo em situações que fogem às tradicionais noções de agressão, como as violações a direitos humanos, o problema ambiental e a segurança alimentar (as várias conferências da ONU nos últimos anos reforçam esta tese).

Há de se ressaltar que, n contraditório falar-se em unipola atualmente um multipolarismo ec presença de outras potências de seguras que a americana, desempenhando papéis fundamer destas potências econômicas n Nações Unidas, já que lhes é in econômico e anão político.

15 1

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15 AMORIM, Celso. Os Frágeis Pilares da N01

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JURíDICA - INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO

ltensificar-se. Nos últimos 45 anos ia de quarenta milhões de mortos: fundo. Os dispêndios militares do n-se dos duzentos bilhões de dólares m dólares constantes, entre 1960 e (. ..).

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MARCÍLlO TOSCANO FRANCA FILHO 45

Há de se ressaltar que, na verdade é de certo modo contraditório falar-se em unipolaridade americana quando se tem atualmente um multipolarismo econômico no plano global, com a presença de outras potências de economias até mais estáveis e seguras que a americana, como Japão e Alemanha, desempenhando papéis fundamentais. 14 Daí a tentativa de inserção destas potências econômicas no Conselho de Segurança das Nações Unidas, já que lhes é inconcebível a posição de gigante econômico e anão político. 15 Longe de eliminar a competição global, portanto, o fim da Guerra Fria apenas a transmutou para a seara econômica. Assim, a tão celebrada unipolaridade política americana tem pois que ser vista com certo relativismo, já que, se os Estados Unidos são o principal ator do teatro internacional da nova ordem, não são os únicos.

Quanto aos demais Estados, mesmo os nem tão fortes economicamente, há muito que deixaram de ser meros objetos passivos das decisões e ações dos grandes atores. Já não se pode falar mais de eurocentrismo histórico tampouco em um americanocentrismo. Com o ocaso da bipolarização, muitos países periféricos (entre eles Brasil, Índia, África do Sul) se fizeram presentes em iniciativas globalmente relevantes, como a proteção ambiental, a condenação do racismo, a restauração da paz em áreas conflituosas e eliminação de resquícios do colonialismo. A História passou a ser agora realmente universal, já que seus agentes estão em múltiplas partes do globo (poliarquia) e agindo em concerto, interdependentemente.

Outro aspecto a ser ressaltado é que, com a universalização da história, principalmente nos últimos anos, surgiram também novos tipos de atores na cena mundial. Se antes a política internacional era entendida essencialmente como a movimentação de Estados­Nacionais no teatro mundial, agora ela passou a ter a co­participação de empresas transnacionais, organizações não-

14 'd' . • , . d t b tHá quem diga que a combah a econonua amencana so 101 capaz e sus entar o em a e contra Saddam Hussein no Golfo Pérsico, em 1992, graças à sólida ajuda económica de japoneses e alemães.

15 AMORIM, Celso. Os Frágeis Pilares da Nova Ordem. In: BAUMANN, 1996, p. 22.

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I

MAR CÍLIO TOSCANO FRANCA FILHO REVISTA JURÍDICA - INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO46

governamentais e blocos econômicos multilaterais. A diplomacia deixou de ser, pela primeira vez na História, um esporte de reais apenas, para admitir novos jogadores.

O surgimento desses blocos econômicos multilaterais é uma das principais características da ordem contemporânea - a nova ordem mundial. Se a princípio, tal fato deveu-se a razões estritamente estratégicas e geopolíticas, resultantes do conflito Leste-Oeste, aos poucos ele toma contornos mais econômicos, passando a ser motivado, entre outros, pela consecução dos seguintes objetivos:

ampliação da resistência frente às barreiras alfandegárias - tarifárias (impostos de importação/exportação) ou não-tarifárias (inspeções fito-sanitárias, quotas, licenças, práticas discriminatórias nas licitações públicas, preços mínimos ou máximos, depósitos prévios, subsídios);

• fomento do intercâmbio tecnológico;

• ampliação dos mercados consumidores;

• maior facilidade de acesso às matérias-primas;

• maior poder de barganha nas negociações internacionais, e

• majoração dos benefícios das vantagens comparativa/6 e economias de escala. 17

lII. A GLOBALIZAÇÃO DAS ECONOMIAS

Como visto, o esfacelamento do bloco de países socialistas produziu vastas e relevantes conseqüências nas relações políticas e econômicas interestatais nos anos seguintes ao fim da Guerra Fria.

16 Sistema que prevê a especialização econômica de cada país ou região na atividade para a qual estivesse melhor aparelhado, segundo os fatores produtivos de que disponha. Essa especialização garantiria o equilíbrio das trocas internacionais.

17 Redução do custo dos produtos à medida que se aumenta a quantidade produzida.

Com a decadência do p< hegemonia mundial, se antes encontrava amparo, sobretudo políticos, a partir de então o vínculos passou a ter por supc econômicas - o comércio inten tendo desaparecido o grande co com maior força o fenômeno ( buscarem a ampliação e a con como forma de adquirirem n internacionais. Nessa conjuntUI balizador e marco referencial competição global deixa de estratégico-econômica.

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18 TOJAL, 1996, p. 6.

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RÍDICA - INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO

Imicos multilaterais. A diplomacia z na História, um esporte de reais dores.

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MARCÍLIO TOSCANO FRANCA FILHO 47

Com a decadência do poder militar enquanto fonte da hegemonia mundial, se antes a aproximação entre os países encontrava amparo, sobretudo na afinidade de seus sistemas políticos, a partir de então o interesse no estabelecimento de vínculos passou a ter por suporte mais fundamental as relações econômicas - o comércio internacional. E por que isso? Porque, tendo desaparecido o grande conflito bipolar internacional, surgiu com maior força o fenômeno (mencionado acima) de os Estados buscarem a ampliação e a consolidação de espaços econômicos como forma de adquirirem relevância no teatro das relações internacionais. Nessa conjuntura, o mercado passa a ser o novo balizador e marco referencial das relações diplomáticas. 18 A competição global deixa de ser estratégico-militar para ser estratégico-econômica.

Muitos teóricos e analistas das relações internacionais viram surgir nessa conjuntura a concretização da vitória da Democracia Liberal (democracia representativa conjugada à economia de mercado) sobre todos os outros regimes político-econômicos. Tal fato legitimou a intensa propagação e consolidação, em nível mundial, de um discurso do vitorioso capitalismo, em óbvia reação ao derrotado estatismo comunista, na linha da liberação e autogestão dos mercados, o máximo possível independentes de injunções políticas que pudessem restringir a livre-circulação de fatores produtivos. A esta circunstância de extraordinário favorecimento do comércio multilateral, baseada no distanciamento formal entre o político e o econômico e na facilidade de veloz circulação dos fatores produtivos, chama-se globalização.

Dentro da formação do complexo fenômeno da ordem globalizada, corno forma de garantir e valorizar a independência do mercado, houve uma retomada dos ideais iluministas do individualismo e da sublimação da liberdade através da consolidação da doutrina neoliberal, cujos arautos, desde a década de oitenta, já tomavam os centros de poder das principais

18 TOJAL, 1996, p. 6.

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REVISTA JURÍDICA - INSTITUiÇÃO TOLEDO DE ENSINO48

economias capitalistas 19. Mais que simplesmente propugnar pelo Estado mínimo, o neoliberalismo seria o grande incentivador da prosperidade, tomando o lugar do antiquado, dispendioso e obsoleto Welfare State, com seus maciços compromissos de investimentos sociais e interferência no setor econômico. Na verdade, longe de representar o absenteísmo estatal, indica o neoliberalismo uma mudança de perspectiva na intervenção do Estado na economia: a atividade estatal deveria voltar-se, sim, para o subsídio e o estímulo aos processos de oligopolização e pesquisa tecnológica20 e para o downsising da máquina pública a fim de combater a alta dos juros e da inflação, decorrente do déficit público.

O atual estágio da globalização é, pois, conseqüência direta do crescimento da economia internacional a partir do fim da 11 Guerra Mundial (a Weltwirtschaft da doutrina alemã), da ampliação das facilidades de transporte e comunicação,21 da alta convertibilidade de todas as moedas européias, da internacionalização dos mercados financeiros, da redução de dinamismo da economia americana a partir o fim dos anos 60,22 do aumento da produção dos Tigres Asiáticos, da ascensão de equipes econômicas neoliberais para comandar as políticas econômicas de importantes países e do avanço tecnológico. 23

19 A partir do final da década de 80, houve um retomo ao tradicionalismo (fora de moda desde meados dos anos 60) nos núcleos governamentais, através da ascensão dos partidos conservadores e retração dos sociais-democratas, como os Republicanos nos Estados Unidos, a CDUlCSU na Alemanha, os Conservadores na Inglaterra, Os próprios líderes socialistas no poder (como Felipe Gonzáles e Miterrand) foram obrigados a uma radical mudança nos seus modelos de gestão.

20 MAGNOLI, 1990, p. 103.

21 Com a agilização do transporte e das comunicações, espaço e tempo foram reduzidos, provocando um favorecimento extraordinário da produção e das trocas internacionais: ampliação do acesso a insumos, mercados consumidores e tecnologias.

22 Sobre essa decadência da economia americana, BAUMANN (1996, p. 41) afirma que em 1975,

as reservas mundiais eram preponderantemente (80%) compostas por dólares estadunidenses, e só marginalmente (6%) por marcos alemães. Duas décadas, depois a preferência pelo marco quase triplicou (16%), e a participação do dólar foi reduzida a pouco mais de 60%.

23 BAUMANN, Renato. Uma Visão Econômica da C/obalização. In: BAUMANN, 1996, p. 38.

MARCÍLIO TOSCANO FRANCA FILHO

Numa perspectiva financeira notoriedade, o fenômeno da g aumento do volume de recurs aumento da velocidade de cir interação destes dois efeitos sot mobilidade, numa visão otirn eficiente das barreiras protecion não), graças, sobretudo, às rOl (Acordo Geral sobre Tarifas e C

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24 BAUMANN, op. cit., p. 33.

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~RÍDICA - INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO

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aGlobalização. In: BAUMANN, 1996, p. 38.

MARCÍLIO TOSCANO FRANCA FILHO 49

Numa perspectiva financeira que, sem dúvida, é a de maior notoriedade, o fenômeno da globalização compreende: a) um aumento do volume de recursos na economia global; b) um aumento da velocidade de circulação destes recursos e c) a interação destes dois efeitos sobre as economias nacionais. 24 Tal mobilidade, numa visão otimista, representaria a superação eficiente das barreiras protecionistas internacionais (tarifárias ou não), graças, sobretudo, às rodadas de negociação do GATT (Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio). Entretanto, há que se ressaltar que esta exagerada velocidade de circulação também aumenta consideravelmente os receios de grandes movimentos especulativos (hot-money) internacionais, majorando os riscos de diversos tipos para as economias nacionais (veja-se o exemplo da recente crise mexicana).

A essa extraordinária velocidade do capital foi indispensável a redução dos obstáculos de tempo e espaço, obtidos com o melhoramento tecnológico de transportes e comunicações. O investimento em tecnologia e o surpreendente desenvolvimento, a partir de meados da década de setenta, das comunicações, informática e transportes são fatores determinantes nesse processo de globalização das economias, na medida em que provocam profundas mudanças nas estruturas produtivas e modelos de gestão. O professor Moreira Neto (1995 b, p. 21), em arguta percepção, chega a afirmar a existência de uma Revolução das Comunicações:

O conhecimento cientifico e tecnológico, integrados e estimulados pelo método, juntos promoveram uma nova etapa civilizatória.

(... )

Na verdade, não seria imprópria a referência a uma Revolução das Comunicações, como seu mais expressivo subproduto, graças à qual, informação e conhecimento,

, amplamente disseminados, notadamente pelos meios

24 BAUMANN, op. cit., p. 33.

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MARCÍLlO TOSCANO FRANCA FILHO SO REVISTA JURÍDICA - INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO

eletrônicos, tornaram-se as mais importantes riquezas da sociedade e dos países. Não por outro motivo, os recursos básicos das economias deixam de ser o capital, a terra e o trabalho, como no ensinamento da economia clássica, para ser o conhecimento: o seu acesso e a capacidade de utilizá-lo na produção, transformação, circulação, distribuição e consumo das riquezas nas sociedades contemporâneas em rápida transformação. Assim, a Revolução das Comunicações, abrindo-nos a -Era do Conhecimento, define um novo tipo de cultura, já antecipada por Peter Drucker como a sociedade pós-capitalista, em que a superação do saber sobre o ter se refletirá profundamente sobre o homem e suas instituições.

A ampliação e a melhoria da infra-estrutura comunicacional e de transportes entre os vários pontos do planeta levou a efeito a concretização da idéia da Aldeia Global. Nela, o domínio da informação e da tecnologia darão o tom diferencial das vantagens comparativas entre os sujeitos da atividade econômica - quer públicos ou privados - originando uni novo paradigma para a competitividade.

Entre outros aspectos, na Aldeia Global, além das informações circularem em velocidade cada vez maior, a publicidade passa a ser vista por um público bem mais amplo e os produtos têm agora um mercado mundial. Assim, pode-se concluir que, numa ótica produti va e comercial, o processo de globalização se traduz numa crescente homogeneização internacional das estruturas de oferta e

2S f , f '1'Ademanda; enomeno que, a um so tempo, garante e aCl lta:

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2S BAUMANN, op. cit., p. 34.

26 o prestígio da /ntemational Organization o) qualidade e padronização (ISO 9000 e ISO 14

27 .BAUMANN,op. Clt., p. 3S.

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\ JURÍDICA - INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO

as mais importantes riquezas da Não por outro motivo, os recursos reixam de ser o capital, a terra e o mento da economia clássica, para ser :esso e a capacidade de utilizá-lo na , circulação, distribuição e consumo dades contemporâneas em rápida a R~volução das Comunicações, nheclmento, define um novo tipo de tr Peter Drucker como a sociedade superação do saber sobre o ter se

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MARCÍLIO TOSCANO FRANCA FILHO 51

produtivo, comprovada pelas exigências crescentes de certificação internacional ;26

• a mudança do eixo da competitividade, que deixa de ser o produto em si, para ser a tecnologia de processos (não só de produção, mas de fornecimento, de controle da qualidade, de atendimento e informação ao consumidor, de assistência técnica, entre outros);

• o maior investimento na formação de mão-de-obra qualificada e aperfeiçoada, na pesquisa e no desenvolvimento de produtos, com consultas aos clientes a fim de atender a necessidades mais específicas;

• a descentralização geográfica da produção das empresas, o que provoca a sua especialização nas áreas em que são mais eficientes e, assim, otimizam as vantagens comparativas de cada lugar e originam afábrica-global;

• a formação de vínculos mais rígidos entre empresas, através de joint ventures, participações acionárias e franquias, já que a produção global exige padrões mais rígidos de fornecimento e qualidade de componentes e matérias-primas e um investimento (leia-se risco) ampliado em tecnologia.

Um outro fator característico da globalização, agora sob um ponto de vista institucional, aponta para a convergência da regulação político-econômica dos países. 27 Para se garantir a maior mobilidade de capitais, fatores produtivos e bens de consumo, promove-se a homogeneização das relações jurídicas e econômicas entre os sujeitos privados da atividade econômica e os Estados, aproximando os institutos da responsabilidade civil e do poder de polícia no que tange a direitos do consumidor e direito do mercado financeiro.

26 o prestígio da Intemational Organization of Standartization (IS01, com suas normas sobre qualidade e padronização (ISO 9000 e ISO 14000, p. ex.l, dá provas desse fenômeno.

27 BAUMANN, op. cit., p. 35.

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52 REVISTA JURÍDICA - INSTITUIÇÃO TOIEDO DE ENSINO

Um segundo aspecto institucional da economia a ser sublinhado é a crescente perda de soberania das autoridades responsáveis pelas políticas econômicas nacionais na ordem globalizada. Tal fato se deve tanto à formação dos blocos econômicos, como à necessidade de adaptação das economias nacionais às migrações internacionais dos fatores produtivos. As políticas cambial e salarial, por exemplo, passam a depender muito mais das regras externas do que da vontade exclusiva das autoridades monetárias ou fiscais. Se, de um lado, o cenário internacional globalizado mostra inúmeras oportunidades e facilidades através da captação de recursos estrangeiros, de outro, impõe algumas restrições rígidas às políticas macro-econômicas nacionais (câmbio e taxa de juros), evitando-se desequilíbrios que favoreçam movimentos especulativos, como os que já desestabilizaram algumas economias latino-americanas recentemente.

Ao sabor desses novos ventos, a afluência de determinantes externos na ordenação das economias nacionais faz com que, à agenda econômica dos Estados, fiquem também associados outros temas de relevância supranacional, como proteção ambiental, tributação, monitoramento das empresas transnacionais, etc. As preocupações das macros-sociedades internacionais provocaram a inserção de novos temas na agenda mundial. Neste sentido, a salvaguarda do interesse público internacional reflete-se nas exigências econômicas de proteção ambiental, já instituídas para a certificação ISO-14000, e na inserção de cláusulas sociais, com a proibição do dumping social, nas negociações comerciais multilaterais.

Há ainda um último aspecto a ser ressaltado no âmbito econômico da globalização que, entretanto, não detém o consenso dos analistas e estudiosos: é a tendência à oligopolização dos mercados. Se, por um lado, há quem saliente que sobreviverá tão­só aquele conglomerado empresarial que melhor se aproveitar das vantagens comparativas internacionais (matérias-primas, tecnologia, mão-de-obra e facilidades de câmbio), de outro lado, verifica-se, porém, que o número de empresas transnacionais

MARCÍLIO TOSCANO FRANCA FILHO

aumentou sensivelmente nos ú contrapõe à tese oligopolista.

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28 BAUMANN, op. cit., p. 35

29 Interdependência significa mútua dependênci efeitos recíprocos entre nações ou entre freqüência resultam de transações intemaci mensagens através das fronteiras (Robert K 64).

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JURíDICA - INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO

:nstitucional da economia a ser erda de soberania das autoridades

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MARCÍLlO TOSCANO FRANCA FILHO 53

aumentou sensivelmente nos últimos vinte anos,28 fato que se contrapõe à tese oligopolista.

De tudo isto, podemos inferir que a grande marca que a globalização imprime nas economias nacionais é a de provocá-las à abertura e à maior interdependência,29 rompendo, mais que nunca antes, com a idéia de autarquia econômica, sobretudo em virtude das facilidades de transporte, comunicação e aquisição de insumos econômicos.

Desde há muito, é certo, as práticas comerciais extrapolaram as fronteiras geográficas nacionais. Afinal, a própria diversidade de fatores produtivos bem como as demandas sociais de consumo, peculiares a cada país, impulsionavam os Estados à prática de uma economia aberta. A interdependência econômica internacional sempre conduziu os Estados a uma inexorável prática de comércio exterior.

O que vai singularizar, entretanto, a economia globalizada do pós-guerra é justamente a maior interdependência entre as economias e também a mudança dos seus sujeitos/atores. Se antes as relações econômicas internacionais eram produzidas a partir das ações dos Estados isolados, agora a inserção dos países na economia global se dá através das empresas transnacionais e, sobretudo, dos blocos econômicos e outros sujeitos plurilaterais, como a Comunidade Européia do Carvão e do Aço (CECA), COMECON, Comunidade Econômica Européia, União Européia, ALADI, ALALC, NAFTA, MERCOSUL, GATT, Banco Mundial, Empresas Internacionais, entre tantos outros exemplos.

28 BAUMANN,op. cil., p. 35

29 Interdependência significa mútua dependência, (...) diz respeito a situações caracterizadas pelos efeitos recíprocos entre nações ou entre atores em diferentes nações. Estes efeitos com freqüência resultam de transações internacionais: fluxos de dinheiro, mercadorias, pessoas e mensagens através das fronteiras (Robert KEOHANE e Joseph S. NYE, apud IANNI, 1995, p. 64).

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I'. 54 REVISTA JURÍDICA -INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO

IV. A INTEGRAÇÃO REGIONAL

o fim da Guerra Fria e a conseqüente reestruturação econômica dela advinda introduziram profundas modificações nas relações político-econômicas internacionais. Desde então, uma das tônicas do sistema dessas relações tem sido indubitavelmente a do agrupamento dos países 'em tomo de megablocos transnacionais.

Como visto anteriormente (v. Capítulo II, in fine), se, a princípio, tal fato deveu-se a razões estritamente estratégicas e geopolíticas, resultantes do conflito Leste-Oeste, aos poucos ele toma contornos econômicos, visto que, pela integração, se minimizam os efeitos do protecionismo e do risco em pesquisa tecnológica e são maximizadas as vantagens comparativas e economias de escala.

Esta é, pois, a característica basilar da ordem mundial contemporânea ao lado da globalização econômica: a integração; o esforço de convivência comunitária entre Estados-parceiros, com regras próprias e bem definidas, que dá origem a macros­sociedades plurilaterais, principais atores da cena internacional neste período de mundialização da economia. Essa integração, também denominada minilateralismo ou parceria restrita, é o fenômeno político mais expressivo nesta última década de Século XX.

A integração decorre (... ) da consciência política amadurecida que hoje, como nunca, o mundo tende a se congregar em blocos, porque a conquista de territórios e de mercados pelas armas, sempre impugnada de radicalismo e nacionalismo, cedeu espaço à competição pela eficiência, o que mais tem a ver com a redução dos custos de transação que com o aumento dos custos de confrontação. Nesse novo mundo, que está se erguendo sobre os escombros indeploráveis das ideologias e das guerras totais, assoma a consciência plenária de que as organizações mais tradicionais cumpriram um papel desbravador na construção dos modelos políticos do próximo milênio: cabe-lhes afirmar as regras do jogo e

MARCÍLlO TOSCANO FRANCA FILHO

pavimentar a via de integraç de blocos econômicos homog

Favorecida sobremaneira p~

econômica, bem como pela integração dos Estados na atI regionalizada. É na cooper: semelhantes no desenvolvimen1 concretizando os laços mais prc ser corriqueiro, atualmente, ' integração o adjetivo regional.

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30 MOREIRA NETO. I995a. p. 208.

31 POCAR. 1984, p. 13.

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,JURÍDICA - INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO

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MARCÍLIO TOSCANO FRANCA FILHO 55

pavimentar a via de integração dos países-membros na forma de blocos econômicos homogêneos com objetivos comuns. 30

Favorecida sobremaneira pela homogeneidade geográfica e econômica, bem como pela identidade histórico-cultural, a integração dos Estados na atualidade se apresenta fortemente regionalizada. É na cooperação entre Estados próximos, semelhantes no desenvolvimento sócio-econômico, que se estão concretizando os laços mais promissores do integracionismo. Daí ser corriqueiro, atualmente, ver-se associado ao substantivo integração o adjetivo regional.

O Prof. Fausto Pocar, respeitado estudioso do fenômeno da integração na Universidade de Milão, salienta com propriedade que, mediante a criação de formas associativas e integrativas, cada grupo de Estados pertencentes a uma área com raízes históricas e culturais suficientemente homogêneas procura, na verdade, além de uma simples cooperação econômica, também a sua identidade para afirmar-se no contexto internacional. 3

!

Ressalta ainda o professor italiano que, não por acaso, a atuação da ONU tem sido no sentido de fomentar a formação de organismos regionais de cooperação (como a CEPAL, por exemplo).

Vasto é o número de formas e mecanismos existentes para se levar a integração a efeito. De modo geral, o que caracteriza tais processos de integração é o fato de serem, a um só tempo, programáticos, por envolverem uma mudança do enfoque dos fins do Estado, mas também pragmáticos, já que se implementam através de mecanismos técnico-jurídicos visando sempre à maior eficiência. Tomando-se a sua elaboração e abrangência, as formas de integração podem variar de uma simples Zona de Livre Comércio até um complicado sistema confederativo de União Econômica, em ordem crescente de complexidade, conforme se vê na Tabela 1 (adiante).

30 MOREIRA NETO, 1995a, p. 208.

31 POCAR, 1984, p. 13.

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56 REVISTA JURÍDICA - INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO

o fio condutor que perpassa e une todos esses novos modos de interação internacional é a harmonização de interesses político­econômico-jurídicos, através de renúncias a competências soberanas, com o fim de se atingir um objetivo comum, tanto mais amplo quanto a complexidade do mecanismo utilizado.

Na ordem integrada, pois, já se prenuncia uma profunda perda de competências por parte do Estado e uma limitação de sua soberania. Observa Panebianco (1981, p. 65) que uma das características da reorganização internacional é justamente a projeção, no plano internacional, da atividade dos órgãos constitucionais internos, tanto do Governo Central, quanto do Governo Regional. O novo modelo emergente representa uma profunda transformação da soberania do Estado nacional e da forma de governo do Estado constitucional democrático do século xx. O processo de reorganização localiza-se no ponto de encontro da teoria da comunidade internacional e do Estado, para onde confluem elementos de ambos e onde constroem a ordem internacional com novos fundamentos. Na perspectiva internacional, a comunidade mundial é uma pluralidade de comunidades parciais como ambiente único de civilização jurídica, em lugar de um pluralismo de Estados nacionais soberanos e independentes: como conseqüência dessas relações, a dimensão unionista é internacionalmente uma característica do Estado, e, a limitação de sua soberania representa uma contrapartida institucional.

Caracterização

É a forma menos complexa. Restringe­se tão-s6 à eliminação ou redução das barreiras alfandegárias entre os Estados signatários.

Agrega à anterior a livre circulação de bens e mercadorias e adoção de uma tarifa externa comum (TEC).

MARCÍLIO TOSCANO FRANCA FILHO

Garante a homog política comerci circulação de fi (pessoas, serviços capitais).

É um mercado ( monetário único, externa, social, fi. defesa comuns, poderes constit\ comunitários supr

E, como visto até aqui, se o nos últimos tempos, revendo modelos de atuação, o Din: regulamentação estatal - ta demandando a construção de n< de antigos conceitos, originand Corroborando esse raciocíni< Dolinger, renomado intemaciOl universalismo no plano políti( plano econômico, e isto só s preparar o caminho pela supeTl

O Direito da Integração p didático do Direito Internaci meado por disposições admini civis e comerciais, que se aplic dos Estados que compõem zo aduaneiras ou as comunidade, ser um embrião de um Direito integração econômica prossi~

configurando-se uma Comunil

32 apud CASELLA. 1996, p. I7.

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1\ JURÍDICA - INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO

ssa e une todos esses novos modos de ?armonização de interesses político­e: .de renúncias a competências tmgIr um objetivo comum, tanto mais e do mecanismo utilizado.

, já se prenuncia uma profunda perda do Estado e uma limitação de sua mco (1981, p. 65) que uma das aç~o internacional é justamente a 'lclOnal, da atividade dos órgãos to do Governo Central, quanto do modelo emergente representa uma wberania do Estado nacional e d . a 'onstltucional democrático do século !n~Zação. localiza-se no ponto de mdade mternacional e do Estado os de ambos e onde constroem ~ IVOS fundamentos. Na perspectiva

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MARCÍLIO TOSCANO FRANCA FILHO 57

Caracterização

Garante a homogeneização de tarifas, política comercial comum, livre circulação de fatores de produção (pessoas, serviços, bens, mercadorias e capitais).

É um mercado comum com sistema monetário único, adoção de políticas externa, social, fiscal, econômica e de defesa comuns, transferência de poderes constitucionais a órgãos comunitários supranacionais.

E, como visto até aqui, se o Estado tem se transformado tanto nos últimos tempos, revendo muitos de seus papéis e seus modelos de atuação, o Direito - como principal meio de regulamentação estatal também foi obrigado a mudar, demandando a construção de novos institutos e o aperfeiçoamento de antigos conceitos, originando, assim, o Direito da Integração. Corroborando esse raciocínio, salientou o Professor Jacob Dolinger, renomado internacionalista, que antes que se alcance o universalismo no plano político, haver-se-á de consolidá-lo no plano econômico, e isto só será possível se o plano jurídico preparar o caminho pela superação dos nacionalismos. 32

O Direito da Integração pode ser entendido como o ramo didático do Direito Internacional Público, extremamente per­meado por disposições administrativas, tributárias, trabalhistas, civis e comerciais, que se aplicam por recepção do direito interno dos Estados que compõem zonas de livre comércio, as uniões aduaneiras ou as comunidades econômicas incipientes. Tende a ser um embrião de um Direito Comunitário, na medida em que a integração econômica prossiga e atinja níveis mais elevados, configurando-se uma Comunidade, dotada de direito próprio e

32 apud CASELLA. I996, p. 17.

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~

REVISTA JURÍDICA - INSTITUiÇÃO TOLEDO DE ENSINO 58 MARCÍLIO TOSCANO FRANCA FILHO

com características supranacionais. 33 São os seguintes elementos que individualizam o Direito da Integração: 34

• Autonomia: o Direito da Integração independe do ordenamento interno dos Estados, sendo bastante em si para sua eficácia e validade. Tem como fontes tanto os tratados internacionais como as normas oriundas dos órgãos comuns legiferantes; não é um direito estrangeiro, é metanacional, já que também é o direito de cada uma das nações integradas, coroado de hierarquia sobre os ordenamentos internos;

• Contratualismo: nasce dos tratados internacionais, que para ele têm a mesma força das constituições nacionais;

• Efeitos impositivo e de primazia: o Direito da Integração é obrigatório e se sobrepõe aos ordenamentos nacionais;

• Efeito direto: o Direito da Integração, composto de normas self executing, independe de ratificação dos parlamentos nacionais para a sua vigência no espaço jurisdicional integrado; e

!I III • Uniformidade de interpretação e aplicação pelos órgãos

comunitários, utilizando-se basicamente de dois processos ­a integração normativa positiva e a integração normativa negativa.

De todo o exposto, resta claro que dois são os principais objetos de investigação do Direito da Integração contempora­neamente: (a) o reexame das noções clássicas de Estado e Soberania; e (b) o problema da validade e eficácia do Direito da Integração.

Historicamente, a noção de Estado que tomamos como unívoca é a de Estado de Direito, que surgiu como um conceito tipicamente liberal, florescendo como principal arma da insurgente burguesia européia dos séculos XVI e XVII no

33

combate ao Antigo Regime e à legil à compreensão deste conceito de I que, ao lado do território, da populé um de seus elementos constitt científicos, pode-se afirmar que político supremo e independente pe em que, dentro do seu território, t

auto-organizar e gerir, não sendc ordem, e, no relacionamento inl igualdade com todos os demais E qualquer outro.

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No âmbito dessa segunda preo( nacional e metanacional - há de constituições nacionais que, de Ir

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E na Alemanha, França, Itália constitucionais já existem.

MOREIRA NETO, 1995a. p. 210.

34 ..FONTOURA (1993. p. 4) e DROMI et alu (1995, p. 51). 35

MOREIRA NETO, 1995a, p. 219.

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RÍDICA - INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO

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ado que tomamos como unívoca le surgiu como um conceito ) como principal arma da los séculos XVI e XVII no

i, p. 51).

MARCÍLIO TOSCANO FRANCA FILHO 59

combate ao Antigo Regime e à legitimação divina dos reis. Basilar à compreensão deste conceito de Estado é a noção de Soberania, que, ao lado do território, da população e da ordem jurídica, forma um de seus elementos constituintes. Sem maiores rigores científicos, pode-se afirmar que Soberania significa o poder político supremo e independente pertencente ao Estado, na medida em que, dentro do seu território, tem plena competência para se auto-organizar e gerir, não sendo limitado por nenhuma outra ordem, e, no relacionamento internacional, está nivelado em igualdade com todos os demais Estados, não se subordinando a qualquer outro.

Visto que efeito impositivo, efeito direto e efeito de primazia são basilares à constituição de um Direito da Integração, obviamente, essa concepção estatal moderno-iluminista descrita acima haverá de ser repensada, assim como deverá ser também a relação das normas jurídicas estatais com as normas metanacionais da ordem jurídica integrada.

No âmbito dessa segunda preocupação - relações entre direito nacional e metanacional - há de se levar em conta o fator das constituições nacionais que, de maneira mais explícita, deverão prever a delegação de competências a órgãos supranacionais, para que se concretize a instância principal da integração jurídica: o metaconstitucionalismo, superação simultânea do Direito Constitucional (interno e baseado na soberania) e do Direito Internacional Público (externo e baseado na coordenação), como se o direito nacional e o integrado fossem um o prosseguimento do outro. 35

No âmbito do Mercosul, as constituições de' Brasil (em processo de mudança), Argentina (reformada em 1994), Paraguai (reformada em 1992) já se preparam para uma delegação de poderes mais explícita a uma instância integradora supranacional. E na Alemanha, França, Itália e Espanha esses dispositivos constitucionais já existem.

35 MOREIRA NETO, 1995a, p. 219.

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REVISTA JURÍDICA - INSTITUiÇÃO TOLEDO DE ENSINO60

Atualmente, o projeto integracionista mais desenvolvido - e por isso mesmo o que se nos apresenta como modelo paradigmático de integração - é a União Européia, com sua sólida formação de instituições comunitárias e ambiciosos projetos de harmonização social, política e econômica. Entretanto, apesar de referencial, não é ela o único modelo existente. Assim, para concluirmos, vejamos alguns aspectos daquela e de outras das mais relevantes ordens integradas atualmente existentes:

União Européia: É um conjunto de ações de integração que abandonam o plano meramente fiscal para abranger a homogeneização técnico-sócio-político-econômica entre doze países europeus. Os próprios teóricos da integração reconhecem que na formação de blocos econômicos, a União Européia é a primeira experiência concreta, na história econômica, política e social de um grupo de países em plena democracia e soberania a optarem, politicamente, por uma união gradual e contínua. 36

i

Dessa União decorrem a criação de um Banco Central Europeu, a definição e novos processos decisórios comunitários (envolvendo a Comissão - o órgão executivo - e o Conselho de Ministros, o

1, Parlamento Europeu, o Tribunal de Justiça, entre outros), a 111;1

instituição da ECUIEURO (a unidade monetária da UE), a criação de uma cidadania européia e a adoção de uma política externa comum. É ela o modelo de integração adotado para o Mercosul e muitos dos fins objetivados pelo Tratado de Assunção foram alcançados pela Comunidade Econômica Européia, a etapa anterior e que originou a União. O processo integracionista que resultou na União Européia inicia-se com a assinatura do Tratado de Roma, em 25 de março de 1957, passa pela constituição do Ato Único Europeu, de 1986, até chegar à adoção do Tratado de Maastricht, em 7-2-92.

Mercosul - Mais que uma simples zona de livre comércio, o Mercado Comum do Cone Sul se pretende, a longo prazo, um espaço sem fronteiras interiores caracterizado pela livre circulação de pessoas, bens, serviços e capitais e que adota políticas

36 KUNZLER & MACIEL, 1995, p. 271.

MARCÍUO TOSCANO FRANCA FILHO

econômicas comuns. Historican Montevidéu, de 1980, que criOl para o Desenvolvimento e a Intt. Integração, assinado por Brasi normativa fundamental, entreta Assunção, de 26 de março Argentina, Paraguai e Uruguai, I

Ouro Preto, de 17 de dezembro I

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) e em produto interno bruto

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37 comum.

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37 K . 3UNZLER & MACIEL, op. clt., p. 13 .

38 ..DROMI et alll, 1995, p. 125, e CASELLA,

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JURÍDICA - INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO MARCÍLlO TOSCANO FRANCA FILHO 61

~acionista mais desenvolvido - e por ese~,ta como modelo paradigmático ro~e~a, com sua sólida formação de ~blCI0S0S projetos de harmonização mtretanto, apesar de referencial não :. Assim, para concluirmos, vej~mos outras das mais relevantes ordens

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njunto de ações de integração que ment~. fiscal para abranger a o-pohttco-econômica entre doze ~eóricos da integração reconhecem ~onômicos, a União Européia é a na história econômica, política e

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lples zona de livre comércio, o ie pret,ende, a longo prazo, um Lra~te~lzado pela livre circulação :apltms e que adota políticas

economlcas comuns. Historicamente, é resultante do Tratado de Montevidéu, de 1980, que criou a Associação Latino-Americana para o Desenvolvimento e a Integração (ALADI) e do Tratado de Integração, assinado por Brasil e Argentina em 1988. A sua nOrnlativa fundamental, entretanto, é atualmente o Tratado de Assunção, de 26 de março de 1991, subscrito por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, complementado pelo Protocolo de Ouro Preto, de 17 de dezembro de 1994. Formado pelos ministros da economia e das relações exteriores dos países-membros, o Conselho do Mercado Comum é o órgão superior do Mercosul.

NAFTA - O North American Free Trade Agreement (Tratado de Livre Comércio da América do Norte) é a zona de livre comércio criada desde 1 de janeiro de 1994 entre Estados Unidos, México e Canadá. Foi uma decorrência natural do Acordo de Livre Comércio assinado pelos EUA e pelo Canadá em 1989 e, atualmente, é o maior bloco econômico em população (363,3 milhões de habitantes), em extensão territorial (21,3 milhões de km2

) e em produto interno bruto (6,4 U$ trilhões).

Mercado Comum Árabe - Cuida-se de um acordo de unidade econômica firmado desde 1957 entre Arábia Saudita, Iraque, Jordânia, Kuwait, Líbano, Marrocos, Emirados Árabes Unidos, Síria, Sudão, Tunísia e Iêmen, Apesar da denominação, a sua atividade se situa mais no plano da cooperação, em uma zona de livre intercâmbio, do que na integração através de um mercado

37 comum.

Pacto Andino - Também conhecido como Acordo Sub-regional Andino é o acordo entre Bolívia, Colômbia, Venezuela, Equador e Peru com objetivo de harnlonização de políticas econômicas e coordenação das políticas industriais. 38 Os seus órgãos centrais são a Comissão, o Conselho, o Tribunal de Justiça e o Parlamento; para assessorá-los há os conselhos e comissões.

37 , 33KUNZLER & MACIEL, op, Clt., p. 1 .

38 DROMl et alii, 1995, p. 125, e CASELLA, 1996, p. 135.

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REVISTA JURÍDICA - INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO MARCÍLIO TOSCANO FRANCA FILHO 62

APEC - A Cooperação Econômica Ásia Pacifico é um foro intergovernamental entre Austrália, Nova Zelândia, Estados Unidos, Canadá, Coréia, Japão, Chile, China, Taiwan, Hong Kong, Filipinas, Indonésia, Brunei, Tailândia, Malásia, México, Nova Guiné e Singapura. Visa sobretudo à liberação comercial, fomento do comércio e cooperação político-econômica.

v. À GUISA DE CONCLUSÃO

Com o surgimento da Nova Ordem Mundial, desde o fim da Guerra Fria, estreitaram-se como nunca as relações econômicas entre as diversas partes do globo, sobretudo em decorrência da revolução tecnológica. Deu-se origem, assim, ao fenômeno da mundialização da economia, que rompia com as fronteiras geográficas nacionais do comércio e da produção e limitava a liberdade de execução das políticas cambial, tributária e financeira dos países, já que aumentava a interdependência entre os países.

Na abertura econômica, restou claro que, melhor que ingressar sozinhos no mercado global, suportando os altos riscos da

"I'I:.,ii ;,11

competição econômica, o meio mais eficiente para que os atores se tornassem fortes e competitivos globalmente seria através do estreitar dos laços de parceria e cooperação com outros atores, o que lhes possibilitaria, entre outras coisas, a especialização naquilo que melhor produzem e o compartilhamento de tecno­logias e mercados. Através desse minilateralismo (integração) dar­se-ia o caminho mais sólido para se ingressar na internaciona­lização (globalização).39

Quanto mais integrada a economia internacional, maiores as exigências de reformulação das estratégias de atuação do Estado e de fortalecimento de seus núcleos coordenadores e reguladores (quadros técnico-funcionais especializados e assessorias de planejamento, de controle e jurídica), para que se combatam a

39 Nesse sentido, não haveria, como pretendem alguns teóricos, um paradoxo entre globalização ­centrífuga - e regionalização - centrípeta. De fato, são fenômenos convergentes, já que só pela integração regionalizada, os pequenos atores adquirem força e competitividade para enfrentar o mercado global.

especulação financeira, o en empecilhos maiores do desenvo

A reforma do Estado, portal dirigida a transferir prioridad€ integração dos mercados intt: reforma passa pelo deslocamen carentes de sua intervenção COl

mais firme da atuação do setor no consumo.

Sendo assim, vê-se que um 1 Estado diz respeito à reform\ nossos modelos jurídicos - p Francesa - a contemporaneida permanecem sem resposta. Co ordem, soberania e cidadani, apenas a partir da tríade libe que ignorem importantes d tradicional do Direito, fund estatalidade e unicidade, é posl de ineficiência.

Na ordem globalizada, o C idéias de parceria e controle, categorias, sem esquecer qm pobreza extrema, segurança al migratórios e direitos humanos urgente, mesmo após a queda d

Ainda no aspecto jurídico-Ie novos sujeitos na História pfO' fez nascer dentro de cada ~

normativas, propiciou a criaçã< metaconstitucional, entre outI instâncias de negociação de~

processos esses que precisa utilizados pelo ordenamento pc

40 IPEA, 1994, passim.

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Ao JURÍDICA - INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO

Econômica Ásia Pacifico é um foro Austrália, Nova Zelândia, Estados rapão, Chile, China, Taiwan, Hong

['Brunei, Tailândia, Malásia, México, Isa sobretudo à liberação comercial,

eração político-econômica.

)io

Iva Ordem Mundial, desde o fim da :omo nunca as relações econômicas ~lobo, sobretudo em decorrência da se origem, assim, ao fenômeno da I, que rompia com as fronteiras nércio e da produção e limitava a íticas cambial, tributária e financeira 1 interdependência entre os países.

;tou claro que, melhor que ingressar 1, suportando os altos riscos da o mais eficiente para que os atores itivos globalmente seria através do e cooperação com outros atores, o : outras coisas, a especialização I e o compartilhamento de tecno­;e minilateralismo (integração) dar­para se ingressar na internaciona­

:onomia internacional, maiores as estratégias de atuação do Estado e leos coordenadores e reguladores :specializados e assessorias de rídica) , para que se combatam a

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MARCÍLlO TOSCANO FRANCA FILHO 63

especulação financeira, o endividamento e ~ crise .fiscal ­empecilhos maiores do desenvolvimento econômICO e socIal.

A reforma do Estado, portanto, toma-se imperativa e deve ser dirigida a transferir prioridades e funções e articular a segura

. 40· h dintegração dos mercados mterno e externo. O camm o .a reforma passa pelo deslocamento do. setor públic? para áreas m~Is

carentes de sua intervenção concomItantemente a regulamentaçao mais firme da atuação do setor privado na produção, no mercado e no consumo.

Sendo assim, vê-se que um ponto basilar nesta reengenharia do Estado diz respeito à reformulação do seu aparato legal. Aos nossos modelos jurídicos - paradigmáticos desde a Revolução Francesa - a contemporaneidade impõe desafios crescentes que permanecem sem resposta. Conceitos como justiça, l~gitim~d~de,

ordem, soberania e cidadania não podem ser maIS defmIdos apenas a partir da tríade liberdade-igualda~~-fraternidade se~

que ignorem importantes demandas S.O~IalS. A .conc~pçao

tradicional do Direito, fundada no tnpe da raclOnalrdade, estatalidade e unicidade, é posta em xeque e começa a dar provas de ineficiência.

Na ordem globalizada, o Direito há de se adaptar melhor às idéias de parceria e controle, desenvolvendo novos institutos e categorias, sem esquecer que questões como meio ambiente, pobreza extrema, segurança alimentar, desemprego, movimentos migratórios e direitos humanos continuam a reclamar uma solução urgente, mesmo após a queda do Muro de Berlim.

Ainda no aspecto jurídico-legal, vale ressaltar que a inserção de novos sujeitos na História provocou um pluralismo jurídico, que fez nascer dentro de cada sociedade novas fontes e formas normativas, propiciou a criação de um direito para-estatal (do tipo metaconstitucional, entre outros) e permitiu a proliferação de instâncias de negociação desestatizadas (como a arbitragem), processos esses que precisam ser melhor compreendidos e utilizados pelo ordenamento positivo.

40 IPEA, 1994' , jJa.mm,

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MARCÍLIO TOSCANO FRANCA FILHO REVISTA JURÍDICA - INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO 64

o alto custo fiscal do Welfare State tem provocado a diminuição das tarefas estatais, a fragmentação de suas instituições e a transferência à sociedade de algumas de suas políticas através da descentralização. Com o objetivo de diminuir desperdícios, irracionalidades e baixa eficiência,4I a descentralização denota uma nova perspectiva de gestão administrativa nas sociedades contemporâneas que privilegia uma estrutura menos hierarquizada, mais horizontal e, desse modo, assegura maior eficiência, já que cria maior especialização, aumenta a rapidez e a flexibilidade na oferta e de serviços públicos, evita a sobrecarga e o emperramento nos níveis centrais da Administração e responde melhor às demandas locais.42

De todo o exposto, infere-se o enfraquecimento dos Estados Nacionais, baseados na soberania absoluta, no intervencionismo e no centralismo. No âmbito da nova ordem mundial, essas organizações transferem poderes a fortes estruturas superestatais (comunitárias, p. ex.) e, de outro lado, são esvaziadas pela valorização de processos de gerenciamento e controle remetidos à

li' sociedade civil.43 Tal mudança favorece em muito a l1,lil autonomização das empresas privadas,44 sujeitos econômicos

importantíssimos no processo de universalização da história, na medida em que possuem uma mobilidade e uma capacidade adaptati va extraordinárias no meio ambiente econômico.

Todos esses aspectos ressaltados aqui referentes à reengenharia dos Estados contemporâneos sublinham, mais que uma simples medida de estratégia política, uma fundamental opção de sobrevivência na configuração da nova ordem mundial.

41 VY 'J'JLE 1997. p. __ o

42 LEVY, op. cit .• p. 66.

43 '.IPEA. op. Clt., passlm.

44 . IPEA, op. cit.. passlm

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JRÍDICA - INSTITUiÇÃO TOLEDO DE ENSINO MARCÍLIO TOSCANO FRANCA FILHO 65

Welfare State tem provocado a atais, a fragmentação de suas à sociedade de algumas de suas

<.ação. Com o objetivo de diminuir :s e baixa eficiência,41 a i nova perspectiva de gestão :ontemporâneas que privilegia uma , mais horizontal e, desse modo, .~ue cria maior especialização,

)lhdade na oferta e de serviços emperramento nos níveis centrais ~lhor às demandas locais. 42

e o enfraquecimento dos Estados ia absoluta, no intervencionismo e ia nova ordem mundial, essas s a fortes estruturas superestatais )Ut~o lado, são esvaziadas pela mClamento e controle remetidos à ança favorece em muito a privadas,44 sujeitos econômicos e universalização da história, na

mobilidade e uma capacidade o ambiente econômico.

los aqui referentes à reengenharia blinham, mais que uma simples

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