gladiadores na roma antiga

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GARRAFFONI, Renata. Gladiadores na Roma Antiga: dos combates às paixões cotidianas. São Paulo: Annablume- Fapesp, 2005. Resenha Autora: Valéria Fratini A autora Renata Senna Garraffoni é professora da Universidade Federal do Paraná, graduada em História pela Unicamp em 1997, mestre em História pela Unicamp em 1999 e doutora em História pela Unicamp em 2004. Pesquisadora associada ao CPA (Centro do Pensamento Antigo) e colaborada da Unicamp, publicou vários artigos na área de História Antiga, além dos livros Bandidos e Salteadores na Roma Antiga em 2002 e Gladiadores na Roma antiga – dos combates às paixões cotidianas em 2005 ambos pela Editora Annablume e é uma das organizadoras do livro New Perspectives on the Ancient World, publicado pela Archeopress. O livro tem como finalidade levar o leitor leigo a conhecer o interior da vida cotidiana de um gladiador na Roma Antiga e para os estudiosos em Roma Antiga o livro traz uma vasta ampla discussão historiográfica. A relatos que o primeiro combate de gladiadores foi realizado em 264 a.C. na cidade de Roma em memória do falecido Iunius Brutus Pera. Porém alguns estudiosos afirmam que os combates se originaram na região de Campânia e teriam chegado aos romanos por meio dos etruscos. Há algumas polemicas em relação ao fim dos combates de gladiadores, alguns afirmam que foi devido ao código de Teodosiano outros que foi devido ao cristianismo. Sobre a origem dos combates de gladiadores há alguns aspectos que não podem ser esquecidos, o caráter religioso, funerário e privado das primeiras lutas que após a época republicana começou a ser um espetáculo público. Com essa mudança de espetáculo privado para público também houve uma Valéria Fratini – aluna de História na Universidade do Sagrado Coração - Resenha feita para a disciplina Antiga II.

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Resenha

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Page 1: Gladiadores Na Roma Antiga

GARRAFFONI, Renata. Gladiadores na Roma Antiga: dos combates às

paixões cotidianas. São Paulo: Annablume-Fapesp, 2005.

Resenha

Autora: Valéria Fratini

A autora Renata Senna Garraffoni é professora da Universidade Federal do Paraná, graduada em História pela Unicamp em 1997, mestre em História pela Unicamp em 1999 e doutora em História pela Unicamp em 2004. Pesquisadora associada ao CPA (Centro do Pensamento Antigo) e colaborada da Unicamp, publicou vários artigos na área de História Antiga, além dos livros Bandidos e Salteadores na Roma Antiga em 2002 e Gladiadores na Roma antiga – dos combates às paixões cotidianas em 2005 ambos pela Editora Annablume e é uma das organizadoras do livro New Perspectives on the Ancient World, publicado pela Archeopress.

O livro tem como finalidade levar o leitor leigo a conhecer o interior da vida cotidiana de um gladiador na Roma Antiga e para os estudiosos em Roma Antiga o livro traz uma vasta ampla discussão historiográfica.

A relatos que o primeiro combate de gladiadores foi realizado em 264 a.C. na cidade de Roma em memória do falecido Iunius Brutus Pera. Porém alguns estudiosos afirmam que os combates se originaram na região de Campânia e teriam chegado aos romanos por meio dos etruscos. Há algumas polemicas em relação ao fim dos combates de gladiadores, alguns afirmam que foi devido ao código de Teodosiano outros que foi devido ao cristianismo.

Sobre a origem dos combates de gladiadores há alguns aspectos que não podem ser esquecidos, o caráter religioso, funerário e privado das primeiras lutas que após a época republicana começou a ser um espetáculo público. Com essa mudança de espetáculo privado para público também houve uma mudança na nomenclatura: múnus – combates e ludi – espetáculo.

Essa mudança de caráter privado para público é considerada pela historiografia um marco fundamental, pois neste período houve uma mudança de percepção e os combates de gladiadores passaram a ser um espetáculo de proporções maiores que os originais.

Garraffoni apresenta neste livro estudos realizados desde Augusto até Trajano período de grande expansão destes espetáculos e é neste período que é finalizada a construção de um de seus maiores símbolos – O coliseu de Roma. Utilizado para diversos espetáculos que divertiam os membros da elite e as camadas populares. Os espetáculos representavam o poder do Imperador, era um jogo de violência e coragem, poder e derrota que tinha como objetivo buscar uma definição de identidade do povo e do Império.

Valéria Fratini – aluna de História na Universidade do Sagrado Coração - Resenha feita para a disciplina Antiga II.

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Durante a leitura do capitulo I é fácil perceber que Garraffoni da ênfase a ideia de uma manobra política da elite para diversão da plebs e mantê-la afastada das decisões imperiais, seu papel na constituição da identidade romana em oposição à bárbara, sua importância dentro das festas religiosas e triunfos, a expressão do poder romano por meio das lutas entre gladiadores de diferentes etnias. Além do mais, recentemente, a violência é uma preocupação dos estudiosos classicistas que se dedicaram a estudar a arena romana.

Diversos estudiosos procuram estabelecer um panorama geral do Império Romano abordando uma serie de temas que traz para a cena as camadas populares, como por exemplo, as diferenças entre ricos e pobres, entre dominadores e dominados e os conflitos sociais.

Apesar da ênfase na violência e no abuso nos combates romanos e que se tornaram um verdadeiro banho de sangue eles tiveram seu lado positivo, pois, foi da brutalidade dos combates romanos que surgiu o cristianismo.

Garraffoni traz em seu livro várias percepções de estudiosos sobre o sadismo e banho de sangue no cotidiano de homens que pisaram nas areias dos anfiteatros e lutaram por suas vidas. Para muitos historiadores esses gladiadores eram um ser quase desumano e era necessário para o bom funcionamento da sociedade, pois ele expressava de uma só vez crueldade e erotismo, virtude e vício. Estas dualidades eram a base para a constituição do que era ser um romano em tempos de império.

Também é descrita a função social da arena como a de acomodar a violência dentro da ordem social.

N0 capitulo II a autora trata de diversos preconceitos sobre a sociedade romana, tais como, a ideia do romano que deturpava ou copiava a elaborada cultura grega e o conceito de plebe ociosa que se divertia com espetáculos sangrentos. Também trata da construção da identidade romana em contraposição a uma barbara, definindo assim o que era ser romano em meados do principiado. A arena é vista como um instrumento de reprodução e perpetuação dos ideais da sociedade, isto é, como uma instituição de romanização.

A arena para a plebs tinha função política e social romana expressando os ideais de cultura romana existentes na época. Para o Princeps a arena tinha como função transmitir a ideologia romana.

Nesta visão em que se privilegia a função política dos espetáculos os gladiadores raramente são citados, o que não deixa de ser curioso se pensarmos que eram os protagonistas dos combates. Da mesma maneira que os espectadores são transformados em um coro único de vozes, os gladiadores de personagens centrais, são reduzidos a coadjuvantes, quando não esquecidos por completo.

Os aspectos da estrutura arquitetônica dos anfiteatros romanos e sua dinâmica social são tratados no capitulo III por Garraffoni qual nos traz o ponto de vista

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historicamente falando dos historiadores que acreditam que a arquitetura dos anfiteatros tenha relação na comunicação não verbal com aqueles que ali frequentavam por meio do contexto histórico, social e simbólico.

Os anfiteatros feitos de pedra ou madeira eram espaços em que se constituíram relações sociais e experiências de vida diversas de pessoas das mais variadas etnias e camadas sociais. Os anfiteatros durante o séc. I d.C. foram importantes na imposição de valores romanos sobre as populações hispânicas (indígenas), a romanização utilizou as construções de anfiteatros em diferentes locais do império com o objetivo de urbanizar os povos hispânicos.

Durante a leitura percebemos uma comparação entre os anfiteatros gregos que surgiram para as cerimônias e rituais de caráter religioso. Já os anfiteatros romanos não eram um reflexo do teatro grego pois tinham seu próprio estilo. O teatro romano não tinha o caráter sagrado e visava à diversão e ao prazer, a comédia toma o lugar da tragédia. Os espetáculos de circo romanos eram violentos, se baseavam em competições entre os romanos que eram sacrificados publicamente.

Os anfiteatros foram construídos de formas e tamanhos diferentes visando os aspectos práticos e econômicos, alguns anfiteatros foram especialmente desenhados para caçadas e tinham que ser montados próximos de florestas. Já outros anfiteatros foram projetados para os combates de gladiadores e execuções públicas onde muitas vezes utilizam cenários com motivos mitológicos ou de batalhas históricas. Devido sua estrutura de drenagem da água existe a possibilidade que o Coliseu tenha sido inundado e utilizado para combates navais (naumaquias). Também havia vários anfiteatros pequenos chamados de Ludi que eram utilizados como centro de treinamento para os gladiadores praticarem e desenvolverem suas habilidades.

A sociedade romana adorava torcer por seus gladiadores favoritos e muitas vezes por se encontrarem aglomerados em espaço fechado suas diferenças sociais, de etnias, idade e gênero causavam conflitos e rixas no interior dos anfiteatros romanos principalmente durante as distribuições de prêmios o que impôs a demarcação de lugares por hierarquias ou classes sociais.

No capítulo IV a autora nos mostra o cotidiano dos gladiadores, seus treinos e lutas, vitorias ou derrotas. Há referências sobre a existência de mulheres gladiadoras e nas diversas pesquisas feitas pela autora encontramos informações sobre diferentes tipos de armas em várias formas ou tamanhos utilizados durante os combates entre gladiadores.

Ao contrário do que vemos em filmes os gladiadores não eram somente escravos, prisioneiros de guerra ou criminosos. Havia muitos membros de elite que se tornavam-se gladiadores vendendo sua liberdade temporariamente aos lanistas por meio de contrato que determinava a duração das atividades assim como o dinheiro recebido pelas vitórias.

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As lápides estudadas demonstraram que até mesmo os gladiadores não só lutavam somente, eles também passavam boa parte do tempo treinando, comiam e bebiam, tinham família, amigos que sofriam junto com eles sua derrota ou se alegravam em sua vitória ao termino dos combates. E assim como nós hoje os gladiadores viviam e tinham suas preocupações, dilemas, desejos e sonhos.

Por fim e não menos importante a autora utiliza de todos os recursos historiográficos e arqueológicos durante a pesquisa sobre os gladiadores. Tais como as pinturas de Jean-Leon Gérôme, os grafites encontrados em Pompeia, as lápides funerárias e diversas fontes bibliográficas.

Conclusões

Durante a leitura do livro em vários momentos comparei a situação de Roma no séc. I e o mundo atualmente. Vemos que os imperadores utilizavam os combates entre gladiadores para controlar, acalmar, desinformar a população romana. Não posso deixar de observar que os governantes não mudaram muito já que utilizam dos mesmos mecanismos para controlar a população o que mudou foi que ao invés de combates entre gladiadores hoje temos a televisão com suas novelas, séries, campeonatos futebolísticos com a única meta de vendar a população dos acontecimentos políticos, econômicos, sociais, ambientais do nosso mundo.

Por outro lado, a população romana parecia não se interessar por política antigamente o que facilitou o controle dos imperadores sobre os mesmos e hoje com todas as possibilidades de sermos bem informados sobre o que acontece ao nosso redor devido aos meios de comunicação existentes no séc. XXI também não nos interessamos por nada que não seja divertido, enfim somos o espelho dos nossos antepassados e o que é pior optamos por viver na ignorância.

Outro momento na leitura que cria uma certa comparação é quando a autora descreve os anfiteatros com suas arenas ovais ou circulares rodeadas de degraus a céu aberto e sua importância cultural para os romanos. Atualmente os anfiteatros romanos com suas arquiteturas majestosas e várias arquibancadas projetadas para acomodar romanos nos diversos combates foram substituídos pelos estádios cada vez maiores e com as mesmas funções do sec. I acomodar os espectadores durante os eventos esportivos ou de espetáculos.

E atualmente existe combate de gladiadores? Essa foi a minha pergunta durante a leitura do quarto capitulo e depois de uma reflexão podemos comparar o combate de gladiadores a vários esportes existentes atualmente tais como: artes marciais, boxe, MMA. Atualmente os gladiadores não lutam por sua liberdade ou por sua vida e sim por dinheiro. E assim como antigamente os lutadores ou gladiadores conquistam fama e poder com suas lutas/combates. O livro é uma ótima leitura e uma base enriquecedora de informações sobre a Roma no sec. I e nos faz pensar se mudamos muito como ser pensante do sec. I até os dias atuais.

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