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FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU MAGALHÃES GRAU DE INFORMAÇÃO DOS CONCLUINTES DE ODONTOLOGIA SOBRE LER/DORT Gisele Cazarin Orientador: Prof. Dr. Djalma Nunes Marques Recife, 2003.

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FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ

CENTRO DE PESQUISAS AGGEU MAGALHÃES

GRAU DE INFORMAÇÃO DOSCONCLUINTES DE ODONTOLOGIA

SOBRE LER/DORT

Gisele Cazarin

Orientador: Prof. Dr. Djalma Nunes Marques

Recife, 2003.

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Gisele Cazarin

GRAU DE INFORMAÇÃO DOSCONCLUINTES DE ODONTOLOGIA

SOBRE LER/DORT

Monografia apresentada como

requisito parcial à obtenção do

título de Especialista no Curso

de Pós-Graduação lato sensu

de Residência Multiprofissional

em Saúde Coletiva do

CPqAM/FIOCRUZ/MS, sob a

orientação do Prof. Dr. Djalma

Nunes Marques.

Recife, 2003.

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Gisele Cazarin

GRAU DE INFORMAÇÃO DOSCONCLUINTES DE ODONTOLOGIA

SOBRE LER/DORT

Monografia aprovada como requisito parcial à obtenção do título de Especialista no

Curso de Pós-Graduação lato sensu de Residência Multiprofissional em Saúde

Coletiva do CPqAM/FIOCRUZ/MS, pela comissão formada pelos Professores:

Orientador: __________________________________

Prof. Dr. Djalma Nunes Marques - NESC/CPqAM/ FIOCRUZ

Examinador: _________________________________

Prof. Oscar Bandeira Coutinho Neto - UFPE

Recife, 2003

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À minha mãe, pelo incentivo e apoio a

mim dedicado.

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...”Minha independência, tão valiosa, tão

querida, escapou

Nada para mim além de cuidados

Dias se arrastando para sempre, sempre sem fim

Cuidado ao esticar os braços

Cuidado ao colocar as roupas

Cuidado ao abrir uma torneira

O cuidado se infiltra mais e mais – infinito em

meus pensamentos

Que inveja, de quem consegue comer sem dor

Dirigir, pentear os cabelos da minha filha...”

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Trecho do depoimento de Mersina, uma vítima de

LER/DORT..

Extraído do livro de Codo e Almeida (1995).

Agradecimentos

Ao Prof. Djalma Nunes Marques que além de orientador, antes de tudo é um amigo.

A Profª. Idê Gomes Dantas Gurgel pela dedicação e empenho prestados durante arealização deste trabalho.

Ao Prof. Oscar Coutinho Neto pela valiosa contribuição para a realização destetrabalho.

A Profª Maria de Fátima Fonseca Marques pelo apoio e paciência.

Ao Prof. Petrônio José Martelli pela inestimável contribuição na pesquisa de campodeste trabalho.

Ao meu esposo Sebastianjorge pela compreensão, amor e companheirismo, essenciaisna realização deste trabalho e na minha vida.

A Carlos Feitosa Luna pela realização da estatística deste trabalho e pela inestimávelcolaboração.

A Rodrigo Brito e Roberta Buarque pela grande ajuda na pesquisa de campo.

A Mégine Carla Cabral da Silva pelas contribuições na realização da bibliografia destetrabalho.

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Aos professores e funcionários do NESC, principalmente a Duda e Carlos pessoas comquem tivemos o privilégio de conviver mais de perto.

Às amigas (os) do Curso de Residência, pessoas pelas quais tenho grande admiraçãoe carinho.

Aos Funcionários do Distrito V pelo apoio e compreensão demonstrados durante a faseda pesquisa de Campo.

Aos concluintes da FOP e UFPE sem os quais este trabalho não teria se realizado.

A todos que contribuíram para a realização deste estudo.

Sumário

LISTA DE SIMBOLOS, SIGLAS E ABREVIATURAS VIII

LISTA DE FIGURAS IX

LISTA DE TABELAS X

LISTA DE GRÁFICOS XI

RESUMO 12

ABSTRACT 13

1. INTRODUÇÃO 14

2. REFERENCIAL TEÓRICO 18

2.1. Aspectos Gerais das LER/DORT 18

2.1.1. Aspectos Epidemiológicos 18

2.1.2. Nomenclatura 20

2.1.3. Determinantes causais 20

2.1.4. Aspectos Clínicos 22

2.1.5. Mecanismo de Produção 24

2.1.6. Diagnóstico 24

2.1.7. Prevenção 25

2.2. LER/DORT e Odontologia 26

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2.2.1. Fatores de risco 27

2.2.1.1. Fatores ligados ao ambiente de trabalho 27

2.2.1.2. Fatores Organizacionais/Psicossociais 27

2.2.1.3. Fatores Biomecânicos 28

2.2.2. Aspectos Clínico-Epidemiológicos 29

2.2.3. Aspectos Ergonômicos 31

2.2.4. Prevenção e Tratamento 38

3. OBJETIVOS 42

3.1. Objetivo Geral 42

3.2. Objetivos Específicos 42

4. CASUÍSTICA E MÉTODO 43

4.1. Desenho de Estudo 43

4.2. População de Estudo 43

4.3. Critério de Inclusão e Exclusão 44

4.4. Fonte de Dados 44

4.5. Instrumento de Coleta de Dados 44

4.6. Análise de Dados 45

4.7. Considerações Éticas 45

5. RESULTADOS 46

6. DISCUSSÃO 60

6.1. Com respeito ao gênero 60

6.2. Percepção dos fatores de risco para LER/DORT 60

6.3. Ergonomia 61

6.4. Informações sobre LER/DORT 63

6.5. Sinais e Sintomas 63

6.5. Regiões do corpo mais atingidas 64

6.6. Fatores de risco 64

6.7. Medidas Preventivas 65

7. CONCLUSÕES 67

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS 68

9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 69

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ANEXO 77

VIII

Lista de Símbolos, Siglas e

Abreviaturas

ACD - Auxiliar de Consultório Dentário

CD - Cirurgião-Dentista

CLT - Consolidação das Leis do Trabalho

CNS - Conselho Nacional de Saúde

CPqAM - Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães

CTD - Cumulative Trauma Disorder

DORT - Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho

FDI - Fédération Dentaire International

FOP - Faculdade de Odontologia de Pernambuco

IES - Instituição de Ensino Superior

INSS - Instituto Nacional de Seguridade Social

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ISO - International Standard Organization

LER - Lesões por Esforços Repetitivos

LTC - Lesões por Traumas Cumulativos

OCD - Occupacional Cervicobrachial Disorder

RPG - Reeducação postural global

RSI - Repetitive Strain Injuries

SAT - Seguro de Acidentes do Trabalho

SPSS - Statistical Package for the Social Sciences

THD - Técnico em Higiene Dental

UFPE - Universidade Federal de PernambucoIX

Lista de Figuras

Figura 1 - Cirurgião-Dentista trabalhando em pé 32

Figura 2 - Consultório Odontológico datado de 1910 33

Figura 3 - Modelo de Consultório odontológico atual 34

Figura 4 - Posição de trabalho conforme Schön 36

Figura 5 - Posição do Equipo do Tipo 1 38

Figura 6 - Exercícios de alongamento e relaxamento 40

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X

Lista de Tabelas

Tabela 1- Freqüência dos concluintes 2001.2 segundo I.E.S. 43

Tabela 2 - Freqüência dos concluintes 2002.1 segundo I.E.S. 43

Tabela 3 - Distribuição dos concluintes de acordo com

a faixa etária (em anos) 46

Tabela 4 - Distribuição dos principais riscos à saúde

na profissão de Odontologia relacionados pelos formandos 48

Tabela 5 - Freqüência de Sinais e Sintomas considerados

característicos de LER/DORT pelos estudantes 56

Tabela 6 - Distribuição das regiões do corpo identificadas

como sendo mais freqüentemente acometidas pelas LER/DORT

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em Cirurgiões-Dentistas, segundo os formandos 57

Tabela 7 - Percentagem dos fatores de risco considerados

pelos concluintes mais relevantes na ocorrência de LER/DORT

no trabalho odontológico 58

Tabela 8 - Freqüência dos fatores considerados importantes,

pelos estudantes, na prevenção de LER/DORT 59

XI

Lista de Gráficos

Gráfico 1- Distribuição dos pesquisados segundo gênero 46

Gráfico 2 - Percentual dos concluintes que consideram que

sua profissão oferece algum risco à sua saúde 47

Gráfico 3 - Percentual dos concluintes que afirmaram que seu Curso

oferece informações sobre Ergonomia 49

Gráfico 4 - Distribuição dos Concluintes segundo

o grau de satisfação em relação à disponibilidade

de informação sobre Ergonomia durante o Curso de Odontologia 50

Gráfico 5 - Percentual de pesquisados segundo a posição

mais adequada para o paciente na maioria dos procedimentos 51

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Gráfico 6 - Freqüência dos pesquisados segundo a posição

mais adequada para o operador (CD) destro utilizando visão direta 52

Gráfico 7 - Percentual de concluintes segundo a posição

mais adequada para o equipamento de operação (Equipo) 53

Gráfico 8 - Distribuição dos pesquisados conforme

o fato de conhecer a Síndrome de LER/DORT 54

Gráfico 9 - Percentual de concluintes segundo o grau de satisfação

quanto à disponibilidade de informação sobre LER/DORT no Curso

de Graduação 55

Cazarin, Gisele. Grau de informação dos concluintes de Odontologia sobre

LER/DORT. 2003. 107 f. Monografia (Programa de Residência Multiprofissional em

Saúde Coletiva) CPqAM/FIOCRUZ/MS, Recife, 2003.

Resumo

A magnitude das crescentes estatísticas assumidas pelas LER/DORT, atualmente, tem

tornado esta Síndrome um grave problema de Saúde Pública. Nos últimos anos vem se

observando um aumento na prevalência destas afecções entre profissionais de

Odontologia. Estudos relatam que cerca de 29,5% destes profissionais abandonaram

prematuramente a profissão em virtude de patologias caracterizadas como LER/DORT.

Em um entendimento mais amplo, é sabido que a promoção da saúde nos ambientes

de trabalho e a prevenção de danos representam importantes ações na diminuição do

acometimento por esta Síndrome. Para tal é essencial que os Cirurgiões-Dentistas,

durante a sua formação acadêmica, tenham acesso à informação acerca deste agravo

e dos fatores de risco relacionados à profissão. Deste modo é importante ressaltar o

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papel, de grande relevância, das Instituições de Ensino Superior na qualidade da

informação transmitida. Com o objetivo de identificar o grau de informação sobre as

LER/DORT nos concluintes de Odontologia, inscritos nas Faculdades de Odontologia

da Região Metropolitana do Recife, utilizou-se um questionário semi - estruturado e

auto-aplicado. Os resultados da pesquisa apontam para a necessidade de maior

investimento em ações educativo-preventivas durante a Graduação, como medida

necessária à garantia de uma melhor qualidade de vida e saúde dos futuros

profissionais de Odontologia.

Abstract

The magnitude of the growing statistics assumed nowadays by Repetitive Strain Injuries

(RSI), has made this syndrome a severe problem in Public Health. In recent years, an

increase in the prevalence of RSI has been observed among Dentistry professionals.

Studies show that nearly 29,5% of these professionals, abandon their professions

prematurely in virtue of pathologies characterized by this syndrome. From a wider

viewpoint, it is generally understood that prevention and the encouragement of healthy

practices at the work place, represent important actions for minimizing the occurrence of

this syndrome. For this end, it is essential that Dentists have access to information

concerning the worsening situation of this syndrome, as well as other general risk

factors related to their profession during their academic studies. It is important to

highlight the role and relevance of higher education institutions, with respect to the

quality of information that is taught to students. Semi-structured and self-applied

questionnaires were filled out by graduates from Dentistry Universities around the

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Metropolitan Area of Recife, with the objective of identifying the level of awareness

about RSI. The results of this research, suggest a need for greater investment in

educational and preventive actions for Dentistry students, to guarantee general health

and a better quality of life for future Dental Practitioners.

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1. Introdução1. Introdução1. Introdução1. Introdução

Os Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT) também

denominados no Brasil de Lesões por Esforços Repetitivos (LER), se constituem

atualmente num problema de Saúde Pública, com ampla repercussão social e

econômica. Tal fato tem sido observado não apenas no Brasil, mas em diferentes

países, onde os registros apontam um alto contingente de trabalhadores acometidos

por estas afecções (Régis Filho & Lopes, 1991; Ribeiro, 1997; Settimi, 1998; Brasil,

2001-b; Sato, 2001).

As estatísticas brasileiras mostram um crescente aumento na prevalência das

LER/DORT com relação às outras doenças profissionais, particularmente a partir de

1987, com o reconhecimento destas afecções como sendo de origem ocupacional pela

Previdência Social (Oliveira, 1991; Assunção 1995; Mendes & Dias, 1999). Este fato

ocorreu, provavelmente, devido à rápida absorção de inovações tecnológicas por parte

da indústria, trazendo consigo uma intensa fragmentação e divisão de tarefas,

incremento das jornadas de trabalho e exigência de aumento da produtividade

(Assunção, 1995; Ribeiro, 1997; Santana et al., 1998). De acordo com Assunção (1995),

o surgimento abrupto dos casos de LER/DORT em todo o país defrontou-se com um

Sistema de Saúde despreparado; tanto do ponto de vista institucional quanto do ponto

de vista profissional. A ocorrência deste fato é verificada tanto no que diz respeito ao

diagnóstico destas afecções quanto com respeito aos procedimentos terapêuticos.

Além da discussão sobre os aspectos relacionados ao diagnóstico e ao

tratamento dos sintomas de LER/DORT, se observa, ainda, que a denominação desta

Síndrome não é homogênea em todos os países, podendo ser denominada de LER,

DORT e Lesões por Traumas Cumulativos (LTC) no Brasil, Repetitive Strain Injuries

(RSI) na Austrália, Occupacional Cervicobrachial Disorder (OCD) no Japão e de

Cumulative Trauma Disorder (CTD) nos Estados Unidos (Assunção & Rocha, 1993;

Assunção, 1995; Verthein & Minayo-Gomez, 2000; Brasil, 2001-b).

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Segundo Settimi (1998), as LER/DORT, por definição, são um fenômeno

relacionado ao trabalho, caracterizado pela ocorrência de vários sintomas de

aparecimento insidioso, concomitantes ou não, tais como, dor, parestesia, sensação de

peso e fadiga muscular, geralmente no pescoço, cintura escapular e/ou membros

superiores. Sendo possível, em muitos casos, identificar em seu quadro sintomatológico

entidades neuro-ortopédicas definidas como tendinites, tenossinovites, compressão de

nervos periféricos; sendo responsáveis freqüentemente por incapacidade laboral

temporária ou permanente. Assunção (1995) salienta que o aumento da incidência das

LER/DORT e sua disseminação justificam a necessidade de defini-la, e a partir daí,

procurar métodos e instrumentos que possam melhor compreendê-la em todos os seus

aspectos.

Entre as diferentes categorias de profissionais que utilizam as mãos como

principal instrumento de trabalho e que, portanto, são freqüentemente acometidos por

sintomas de LER/DORT, encontram-se os profissionais da Odontologia (Nogueira,

1983; Medeiros & Riul, 1994; Burke, Main & Freeman, 1997; Régis Filho & Lopes, 1997;

Santana et al., 1998; Lusvarghi, 1999; Caldeira-Silva et al., 2000; Michelin et al., 2000).

Esta prevalência, segundo Caldeira-Silva et al. (2000), vem se manifestando de forma

crescente nos últimos anos.

Doorn (1995), citado por Santos Filho & Barreto (2001), afirma que os

profissionais de Odontologia ocupam o primeiro lugar em afastamentos do trabalho por

incapacidade temporária ou permanente decorrentes de LER/DORT. Burke, Main &

Freeman (1997) em estudo realizado no Reino Unido, concluíram que as desordens

osteomusculares foram as mais freqüentes causas de abandono precoce da profissão,

na referida categoria profissional, respondendo por cerca de 29,5% dos casos.

Apesar destas afecções apresentarem cada vez mais prevalência entre os

Cirurgiões-Dentistas, muito pouco se conhece sobre as características dos sintomas

que acometem esta categoria particular de trabalhadores (Santos Filho & Barreto,

2001).

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Alguns autores (Nogueira, 1983; Possas, 1989; Barreira, 1994; Freeman, Main &

Burke, 1995-b; Lusvarghi, 1999; Michelin et al., 2000) afirmam que a maioria dos

trabalhadores, incluindo os profissionais de Odontologia, desconhece os riscos à

saúde envolvidos na sua atividade profissional e que, portanto, não têm consciência

das medidas de prevenção. Deste modo, com respeito à prevenção desta Síndrome é

importante ressaltar que este conhecimento é fundamental.

Para Castro et al. (1994), um meio eficaz de prevenir as referidas afecções

consiste em informar os trabalhadores sobre os riscos implícitos na sua atividade

profissional e, isto deveria ser realizado através de atividades de educação

continuada.

Considerando que o aluno de Odontologia a partir do 4º período de Curso inicia

suas primeiras aulas práticas com atividades pré-clínicas, em manequim, e atividades

clínicas com atendimento a pacientes, seria de suma importância que estes alunos

começassem a ser conscientizados, desde então, sobre os riscos do adoecimento por

LER/DORT. Deste modo, destaca-se o importante papel desempenhado pelas

Instituições de Ensino Superior (IES) na abordagem das LER/ DORT, com ênfase na

prevenção destas afecções.

Segundo Lieber (1991), a formação acadêmica pode trazer contribuições na

capacidade de percepção de riscos, sendo fundamental que as IES realizem

autocríticas permanentes e promovam o acesso ao conhecimento. De acordo com

este mesmo autor, é através da informação e a renovação de valores que cada

profissional poderá melhorar o seu discernimento em relação aos fatores de risco

presentes em sua profissão.

Diante do exposto, este trabalho foi desenvolvido com a finalidade de conhecer o

grau de informação dos concluintes de Odontologia da Universidade Federal de

Pernambuco (UFPE) e da Faculdade de Odontologia de Pernambuco (FOP) com

relação aos riscos laborais da sua futura profissão, mais precisamente sobre os riscos

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17

de adquirir LER/DORT. Os sujeitos selecionados para o presente trabalho foram os

estudantes do último ano do Curso em questão, pelo fato dos mesmos terem cumprido

a maior parte da carga horária teórica e, também, por estarem prestes a se integrar ao

mercado de trabalho.

Na literatura nacional não foi encontrado nenhum trabalho de pesquisa no

sentido de detectar o grau de informação dos profissionais de Odontologia,

particularmente no que se refere a estudantes concluintes, e, portanto, futuros

profissionais propensos a serem acometidos desta Síndrome.

Desta forma, justifica-se este estudo principalmente pela ausência de trabalhos

que contemplem a qualidade da informação oferecida nas Instituições de Ensino

Superior de Odontologia, quanto à prevenção, fatores causais e mecanismos de

proteção e promoção da saúde, nesta categoria profissional, com relação às

LER/DORT.

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2. Referencial Teórico2. Referencial Teórico2. Referencial Teórico2. Referencial Teórico

2.1. Aspectos Gerais das LER/DORT

É muito antigo o conhecimento de que as atividades desenvolvidas no trabalho

podem ser causa de desordens osteomusculares. Já em 1700, Ramazzini descreveu o

sofrimento dos artesãos escriturários, sinalizando a repetitividade do esforço, a

sobrecarga estática dos membros superiores e a tensão exigida. As causas imediatas e

os sintomas por ele descrito são muito semelhantes aos apresentados pelos

escriturários modernos, mas há muita diferença entre o modo de adoecimento dos

escribas descritos por Ramazzini e o modo de adoecimento na sociedade atual

(Braverman, 1987; Ribeiro, 1997; Mendes & Dias, 1999).

Para Ribeiro (1997), após a segunda metade do século XX o caráter e a

exigência do trabalho se fizeram universais, e, portanto, a Síndrome de LER/ DORT que

até então era restrita a algumas categorias de trabalhadores, passou a estar presente

em todas as atividades econômicas e a sujeitar todas as categorias profissionais. De

acordo com Fergunson (1984), citado por Oliveira (1991), e Brasil (2001-b), a referida

afecção tornou-se tão freqüente, que chegou a ser considerada uma nova epidemia

industrial tanto em países industrializados como em países em processo de

industrialização.

2.1.1. Aspectos Epidemiológicos

Estudos epidemiológicos realizados em diversos países afirmam que a incidência

de LER/ DORT aumentou consideravelmente ao longo das últimas décadas em todo o

mundo. Os números não são precisos na maioria dos países, porém estudos realizados

nos Estados Unidos concluíram que cerca de 65% das doenças registradas como

ocupacionais naquele país são de LER/DORT. Muitos países vivenciaram situações

epidêmicas, como por exemplo, o Japão, na década de 70 e a Austrália na década de

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19

80 (Oliveira, 1991; Assunção & Rocha, 1994, Assunção, 1995; Brasil, 2001-b; Brasil,

2001-d).

Segundo Oliveira (1991), no Brasil as estatísticas globais são incompletas, seja

porque os Sistemas de Informação das doenças ocupacionais são extremamente

falhos, devido ao grande sub-registro, seja porque só em 1987, em virtude da pressão

social e incorporação de conhecimento de literatura (Brasil, 2001-b), alguns quadros de

LER/ DORT foram reconhecidos formalmente como patologias decorrentes do trabalho.

Mendes & Dias (1999) ressaltam que cerca de 90% dos casos diagnosticados e

notificados ao Seguro Social Brasileiro, nestes últimos anos, devem-se exclusivamente

a afecções classificadas como quadros da Síndrome. No entanto, é importante ressaltar

que as estatísticas de LER/DORT, no país, até o momento, se referem ao segmento

dos trabalhadores com vínculo empregatício regido pela Consolidação das Leis do

Trabalho (CLT), segurados pela Previdência Social e cobertos pelo Seguro de

Acidentes do Trabalho (SAT). Desta forma, ficam excluídos das estatísticas, os

trabalhadores do mercado informal, empregadores, empregados domésticos,

autônomos e funcionários públicos efetivos (Assunção, 1995; Brasil, 2001).

Embora sejam necessários mais estudos epidemiológicos para confirmação dos

dados, a literatura descreve que as LER/DORT freqüentemente tornam os trabalhadores

acometidos incapacitados para o trabalho, atingindo comumente indivíduos jovens em

idade produtiva, (em torno dos 35 anos), e preferencialmente do gênero feminino. Como

explicação provável para o fato das mulheres serem mais acometidas que os homens,

citam-se os seguintes fatores: 1) trabalhos repetitivos são geralmente delegados a

mulheres; 2) existência de dupla jornada de trabalho feminina; 3) diferenças músculo-

esqueléticas entre os gêneros. Além disso, estudam-se dentre os fatores causais, a

influência de fatores hormonais e o uso de anticoncepcionais (Assunção, 1995; Sato et

al., 1993; Assunção & Rocha, 1994; Ribeiro, 1997; Reis et al., 2000; Brasil, 2001-b).

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20

2.1.2. Nomenclatura

A nomenclatura das LER/DORT assume um importante papel no diagnóstico

desta Síndrome. Vários são os profissionais da área de Saúde que referem imprecisão

nos diagnósticos realizados no Serviço Público e na Clínica Privada devido à acirrada

discussão existente na literatura com relação à terminologia utilizada para descrevê-las

(Marques, 2000).

O termo, Lesões por Esforços Repetitivos, foi introduzido no Brasil pelo Médico

Mendes Ribeiro, em 1986, originado da tradução do termo Australiano “Repetitive Strain

Injuries” (Assunção & Rocha, 1994; Verthein & Minayo-Gomez, 2000). De acordo com

Assunção & Rocha (1994), esta denominação é a mais difundida entre técnicos e/ou

trabalhadores. Em 1997, a Previdência Social substituiu o termo LER pelo termo DORT

sigla de “Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho”, tradução escolhida

para a terminologia ”Work Related Musculoskeletal Disorders” (Signori, 2000; Brasil,

2001-b).

Diversos autores (Cleland, 1987 apud Assunção, 1995; Codo & Almeida, 1995;

Lusvarghi, 1999; Mendes & Dias, 1999; Verthein & Minayo-Gomez, 2000; Brasil, 2001-b)

preferem o termo DORT porque o mesmo permite o reconhecimento de maior variedade

de entidades mórbidas, bem definidas ou não, causadas pela interação de vários fatores

laborais, tais como, os biomecânicos e psicossociais. Desta forma, corrige a idéia de

que os quadros clínicos de LER/DORT estão relacionados a um fator de risco, ou então

que haja necessariamente uma lesão orgânica.

2.1.3. Determinantes Causais

De acordo com Brasil (2001-a), diante do aumento da freqüência de LER/DORT,

estudiosos têm tentado explicar sua gênese por meio de várias teorias. E apesar das

dificuldades decorrentes da falta de conhecimento sedimentado sobre o tema, parece

estar se formando um consenso de que estas afecções resultam da relação entre quatro

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conjuntos de fatores de risco: 1) fatores biomecânicos; 2) fatores relacionados ao

ambiente de trabalho; 3) fatores ligados à organização do trabalho; 4) fatores

psicossociais. Segundo Brasil (2001-b), vale ressaltar que nenhum destes fatores

isoladamente é suficiente para desencadear as LER/DORT, e, além disso, estes devem

ser avaliados segundo a sua intensidade, duração e freqüência.

Em seguida, para um maior esclarecimento acerca destes fatores, estes serão

descritos, de acordo com diversos autores (Maciel, 1985; Oliveira, 1991; Sato et al.,

1993; Assunção & Rocha, 1994; Barreira, 1994; Ferreira, Maciel & Paraguay, 1994;

Assunção, 1995; Régis Filho & Lopes, 1997; Brasil, 2001-a; Brasil, 2001-b; Brasil, 2001-

d):

1) Fatores biomecânicos: Relacionam-se a exigências mecânicas sobre os tecidos

moles, podendo causar reações mecânicas ou fisiológicas. Como exemplo de fatores

biomecânicos podemos citar: 1) repetitividade - ligada ao ritmo e ao conteúdo da tarefa;

2) força - aquela gerada pelo sistema músculo-esquelético para ser aplicada sobre um

objeto exterior e que pode ser mensurada; 3) compressão mecânica - ocorre quando há

esmagamento dos tecidos moles através do contato direto contra um objeto duro com

bordas vivas ou pegas estreitas.

2) Fatores relacionados ao ambiente de trabalho: Estes fatores se referem a algumas

características ambientais, tais como: temperatura, ruído, iluminação, vibração e

inadequação ergonômica dos equipamentos.

3) Fatores ligados à organização do trabalho ou Fatores administrativos: Estes são

atrelados ao modo como a atividade é desenvolvida, em relação ao tempo; se há

realização de pausas, exigência de produtividade ou pressão de chefia e clientes, entre

outros.

4) Fatores psicossociais: representa os aspectos subjetivos da organização do trabalho,

o modo como este é percebido pelo trabalhador. Como, por exemplo, podemos citar: a

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invariabilidade das atividades e ausência de autonomia em relação ao trabalho, o que

transforma o indivíduo em um mero executor de tarefas contribuindo para uma

crescente insatisfação no trabalho.

Na visão do autor Brasil (2001-a), a associação entre os fatores psicossociais e

problemas ostemusculares ainda não está totalmente esclarecida podendo, muitas

vezes, causar a impressão de que alguns sintomas de LER/DORT estão apenas na

mente dos trabalhadores e que estes fingem os sintomas com o intuito de receber

benefícios previdenciários.

Já o autor Ribeiro (1997), destaca que pelo fato da maioria das vítimas serem

mulheres, facilita ao empregador e à sociedade responsabilizar os mesmos pelo seu

próprio adoecimento, passando estas afecções a serem “coisa de mulher” nervosa ou

louca, ressaltando, desta maneira, que a causa da doença seria uma espécie de

susceptibilidade individual exclusivamente psicológica.

Alguns adeptos da teoria de que as LER/DORT seriam expressões de conflitos

psíquicos, explicados como expressão de insatisfação e de desejos não realizados, são

bastante criticados. Isto porque esta abordagem não leva em consideração os aspectos

histórico e social no processo de adoecimento, além de desconsiderar os achados

clínico-epidemiológicos da existência de alterações físicas, nos pacientes acometidos

por esta Síndrome. Outro aspecto a ser questionado neste enfoque psíquico, é o da

desconsideração da comprovada importância das alterações ergonômicas e da

organização do trabalho na prevenção destas afecções (Sato et al., 1993; Ribeiro, 1997;

Verthein & Minayo-Gomez, 2000; Brasil, 2001-a; Brasil, 2001-b).

2.1.4. Aspectos Clínicos

De acordo com Assunção (1995), a dor está presente em todos os indivíduos

acometidos por LER/DORT e este sintoma costuma ter seu início gradual e restrito a

uma região anatômica (punho, ombro, cotovelo, etc.). Além da dor, podem existir

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queixas, concomitantes ou não, de parestesia, edema subjetivo, rigidez matinal e

alterações subjetivas de temperatura.

O autor Brasil (2001-c) ressalta que há uma fase inicial na qual os sintomas são

basicamente advindos de um processo de fadiga incipiente ou de um processo

inflamatório. Nos casos em que o indivíduo sente desconforto e não necessariamente

dor, estes sintomas acabam passando despercebidos, em muitos casos. Nesta fase é

possível obter um completo restabelecimento orgânico e funcional, desde que haja

orientação ao indivíduo e afastamento das causas. Porém, nas fases mais avançadas,

nas quais há uma alteração no sistema modulador da dor, o que se pode obter é o

controle e o equilíbrio dos sintomas, mas dificilmente a sua regressão total.

De acordo com Caldeira-Silva et al. (2000), o Instituto Nacional de Seguro Social

(INSS), em 1998, definiu quatro estágios de evolução das LER/DORT:

!" Estágio 1 - Sensações de dor e desconforto na região afetada. Durante o trabalho,

as sensações vão e voltam.

!" Estágio 2 - O incômodo vira dor. Sentem-se formigamentos e sensações de calor

na área atingida. Neste estágio, às vezes, surge um pequeno nódulo na região

afetada.

!" Estágio 3 - Nesta etapa, o quadro de LER/DORT está completamente instalado. A

dor é maior durante a noite. Há perda da força muscular, o que pode, muitas vezes,

impedir a continuidade da atividade profissional.

!" Estágio 4 - Aparecem edemas na área afetada, há transpiração, alteração da

sensibilidade e comprometimento dos nervos – o que pode requerer tratamento

cirúrgico. O local atingido torna-se sensível ao simples toque, o edema transforma-se

numa deformidade e, dependendo do tipo de LER/DORT, os dedos podem atrofiar-se

pelo desuso, levando o doente à depressão profunda.

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2.1.5. Mecanismo de Produção

Para Lockwood (1989) e, Fonseca (1998), citado por Signori (2000), existem

inúmeras teorias envolvendo a gênese destas afecções, contudo a mais citada é que

devido ao esforço contínuo (repetitivo e/ou intenso) durante a contração muscular, a

perfusão capilar fica diminuída ou ausente, causando um déficit no aporte do oxigênio e

nutrientes, resultando, como conseqüência, no acúmulo de metabólitos, ácido láctico e

outros catabólitos causadores de processo inflamatório e álgico local.

2.1.6. Diagnóstico

O diagnóstico de LER/DORT se baseia fundamentalmente na história

ocupacional e no exame clínico (Oliveira Júnior, 1993; Assunção & Rocha, 1994). Para

Sato et al. (1993), existe, por parte de alguns profissionais de saúde, a supervalorização

dos resultados dos exames complementares, de tal modo, que o resultado negativo

destes significa a inexistência da afecção.

Por outro lado, Brasil (2001-d) afirma que a dificuldade de diagnóstico de

LER/DORT envolve complicadores não só na área clínica, como também, nas áreas

previdenciária, trabalhista, de responsabilidade civil e, às vezes, até criminal. Além

destes complicadores, este autor relata que pelo fato dos quadros de LER/DORT serem

heterogêneos e desencadeados por múltiplos fatores, a relação entre causa e efeito, na

maior parte das vezes, não é facilmente estabelecida.

Verthein & Minayo-Gomez (2000) admitem que, apesar das LER/DORT serem

reconhecidas no Brasil como doenças do trabalho, muitos profissionais de saúde do

INSS apesar de confirmar a existência da afecção não admitem que a enfermidade

esteja associada ao trabalho e, com grande freqüência, negam o nexo com o trabalho,

condição esta, fundamental para que o trabalhador receba o benefício a que faz jus.

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De acordo com Sato et al. (1993), o diagnóstico precoce destas afecções

envolve situações complexas, como por exemplo, a dificuldade do portador em admitir

que apresenta sintomas da Síndrome, logo que estes se iniciam. Tal fato ocorre com

freqüência por medo de demissão e/ou de preconceito dos colegas, fazendo com que

muitas das vítimas somente procurem auxílio quando se encontram em estágios

avançados da Síndrome.

2.1.7. Prevenção

Para a prevenção das LER/DORT, diante da multiplicidade de fatores que

predispõem o seu aparecimento, um dos recursos do qual se pode dispor, no local de

trabalho, é o da análise ergonômica do ambiente. Esta análise teria por finalidade

apontar os pontos críticos de cada atividade laboral, com base na complexidade e

subjetividade inerentes à mesma e, a partir daí, identificar os riscos, e suas

características moduladoras (Brasil, 2001-b).

De acordo com Cárdia, Duarte & Almeida (1994) a prevenção dos riscos

ergonômicos é realizada através de intervenções no nível macroergonômico ou

organizacional (aspectos cognitivos da execução da tarefa) e no nível microergonômico

(aspectos ambientais do posto de trabalho e trabalho de conscientização dos

trabalhadores). Alguns autores (Assunção & Rocha, 1994; Ferreira, Maciel & Paraguay,

1994; Lima, 1997; Brasil, 2001-a; Brasil, 2001-b; Brasil, 2001-c) relatam que

intervenções voltadas exclusivamente para os aspectos microergonômicos têm obtido

uma baixa resolutividade de 10 a 15% na prevenção de LER/DORT, enquanto que as

modificações de natureza macroergonômica conseguem reduzir cerca de 80% dos

casos da Síndrome.

De acordo com Brasil (2001-a), a prevenção das LER/DORT baseia-se na

capacitação técnica de Recursos Humanos e definição de política para ações de

Vigilância em Saúde do Trabalhador. Estas ações baseiam-se, principalmente, na

inspeção dos locais de trabalho, reconhecimento de situações que podem demandar

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avaliação ergonômica, proposição de medidas de controle e eliminação de riscos e

utilização de recursos de vigilância em saúde e fiscalização do trabalho.

2.2. LER/DORT e Odontologia

A profissão de Odontologia apresenta diversos riscos laborais, sendo

freqüentemente associados a agravos à saúde, tanto de ordem física como de ordem

psíquica (Nogueira, 1983; Lopes & Villanacci Neto, 1994; Medeiros & Riul, 1994; Burke

Main & Freeman, 1997; Lusvarghi, 1999; Poi et al., 1999; Barreto, 2001; Santos Filho &

Barreto, 2001).

De acordo com Santos Filho & Barreto (2001), estudos sistemáticos sobre

distúrbios músculo-esqueléticos em Cirurgiões-Dentistas vêm sendo realizados desde a

década de 50. Entretanto, apesar do considerável tempo de estudo destes distúrbios

em Odontologia, o conhecimento sobre estes problemas ainda é muito incipiente,

deixando lacunas na compreensão da história natural destas afecções.

Dentre os fatores de risco à saúde relacionados ao ambiente de trabalho

odontológico, de um modo geral, pode-se destacar: os riscos físicos (presença de ruído,

radiação ionizante, vibração, iluminação, temperatura), riscos biológicos (contaminação

por vírus, bactéria, fungo), riscos químicos (intoxicação por mercúrio, desinfetantes,

anestésicos locais e voláteis) e riscos microergonômicos (esforço físico intenso,

exigência de postura inadequada, uso de instrumentos e equipamentos inadequados).

Alguns destes fatores podem estar diretamente relacionados à ocorrência de

LER/DORT, como por exemplo: a vibração e os riscos microergonômicos (Nogueira,

1983; Medeiros & Riul, 1994; Régis Filho & Lopes, 1997; Santana et al., 1998;

Lusvarghi, 1999; Michelin et al., 2000; Barreto, 2001).

Além dos fatores presentes no ambiente de trabalho odontológico

predisponentes ao aparecimento destas afecções, podemos também citar outros

fatores de risco para LER/DORT: 1) Fatores relacionados à organização do trabalho

(ausência de pausas, jornada prolongada de trabalho, exigência de determinada

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produtividade) 2) Fatores psicossociais (estresse, insatisfação social e pessoal,

monotonia, perfeccionismo, compulsão pelo trabalho) 3) Fatores biomecânicos

(repetitividade, uso de forças excessivas e compressão mecânica) (Nogueira, 1983;

Medeiros & Riul, 1994; Freeman, Main & Burke, 1995-a; Burke, Main & Freeman, 1997;

Santana et al., 1998; Lusvarghi, 1999; Caldeira-Silva et al., 2000; Barreto, 2001;

Pernambuco, 2001).

2.2.1. Fatores de risco para LER/DORT na Odontologia

2.2.1.1. Fatores ligados ao ambiente de trabalho

1. Riscos microergonômicos- representados basicamente pela postura inadequada e

prolongada dos membros superiores e pelo uso de instrumentos inadequados

(Lusvarghi, 1999; Caldeira-Silva et al., 2000). Brasil (2001-b) ressalta que as dimensões

de um posto de trabalho ou as demandas visuais decorrentes da exigência das tarefas

não causam problemas músculo-esqueléticos, no entanto, estes fatores podem tornar

obrigatória a adoção de posturas e métodos de trabalho que poderão provocar ou

agravar as manifestações de LER/DORT.

2. Riscos físicos/vibração - Lusvarghi (1999) e, Barreto (2001), consideram que a

constante vibração gerada pela turbina de alta rotação e pelo micro-motor de baixa

rotação - os quais são utilizados, principalmente, durante o preparo de cavidades e

trabalham numa faixa de 200 a 250 rpm - pode propagar-se pelos membros superiores,

gerando micro lesões e contribuindo para o aparecimento de problemas vasculares,

neurológicos e articulares, os quais podem levar à ocorrência de LER/DORT.

2.2.1.2. Fatores Organizacionais/Psicossociais

Michelin et al. (2000), relatam que muitos Cirurgiões-Dentistas exercem sua

atividade profissional insatisfeitos e sob tensão. De acordo com outros autores,

(Nogueira, 1983; Maciel, 1985; Santos Filho & Barreto, 2001) certas condições

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relacionadas ao ambiente de trabalho contribuem para o aumento destas situações de

ansiedade e estresse, podendo, desta forma, aumentar as solicitações musculares, o

que resultaria numa condição predisponente ao aparecimento de sintomas

característicos de LER/DORT. As condições ambientais desfavoráveis relatadas seriam:

ruído intenso proveniente, principalmente, da turbina de alta rotação e compressor

odontológico - motor-fonte de energia para o funcionamento dos aparelhos - e

condições adversas de iluminação e temperatura.

De acordo com Lusvarghi (1999), outros fatores relacionados à organização do

trabalho que contribuem para o aumento do estresse do profissional de Odontologia e

que os tornam mais suscetíveis a adquirirem LER/DORT, podem estar representados

por: jornadas de trabalho prolongadas, trabalho em turnos, dupla jornada de trabalho

(em tarefas domésticas, com os filhos, dois vínculos empregatícios, etc.); inexistência

de pausas; cobrança de determinada produtividade, até mesmo quando o trabalho é

realizado autonomamente; ritmo intenso de trabalho; pressão de chefia e clientes;

variabilidade e imprevisibilidade das tarefas, notadamente quando é exigida uma

intervenção maior do que a prevista; dificuldade de absenteísmo e substituição do

profissional, devido ao vínculo e a confiança estabelecidos na relação Cirurgião-

Dentista/Paciente; ausência de auxiliares e de cooperação entre os colegas;

competitividade entre profissionais; ameaça de demissão; falta de manutenção

preventiva dos equipamentos; aumento da carga de trabalho; prejuízo financeiro

(Burke, Main & Freeman, 1997; Lusvarghi, 1999); problemas com o pessoal auxiliar e

nervosismo dos pacientes em relação ao tratamento (Burke, Main & Freeman, 1997).

2.2.1.3. Fatores Biomecânicos

1. Repetitividade - Representada pela repetição de movimentos que ocorre durante a

realização das tarefas. A Odontologia é uma profissão rica nestes movimentos que

podem ser exemplificados, dentre outros, pela raspagem radicular (limpeza de tártaro) e

pela instrumentação de canais radiculares (tratamento de canal) (Lusvarghi, 1999).

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2. Uso de força - De acordo com Lusvarghi (1999), o uso de luvas atua como um

agente biomecânico predisponente ao aparecimento de LER/DORT na Odontologia,

pois dificulta a movimentação das mãos, a sensibilidade tátil e a noção do uso da força,

exigindo maior esforço para a execução das atividades. Segundo Caldeira-Silva et al.

(2000), uma maneira de minimizar este problema seria a utilização de luvas do tamanho

adequado para mãos de cada profissional.

3. Compressão mecânica - Ocorre quando o Cirurgião-Dentista exerce força no uso de

instrumentos com pegas antianatômicas, levando à pressão no local de contato

(Lusvarghi, 1999).

2.2.2. Aspectos Clínico-Epidemiológicos

Embora a maioria dos estudos epidemiológicos seja de corte transversal, nos

quais a doença e a exposição são estudados concomitantemente e, portanto, sujeitos a

diferentes vieses, alguns trabalhos têm oferecido subsídios para a identificação dos

sinais e sintomas e quadros clínicos mais importantes na Odontologia (Santos Filho &

Barreto, 1998; Caldeira-Silva et al., 2000).

Para Lin et al. (1998-b), citado por Caldeira-Silva et al. (2000), os sinais e

padrões clínicos que expressam as LER/DORT são freqüentemente vagos e

inespecíficos, porém as principais queixas relatadas pelos Cirurgiões-Dentistas

acometidos por estas afecções são: dor, inflamação, fadiga, pressão, queimor e

latejamento ou tensão exagerada, acometendo principalmente os membros superiores

e segmentos lombar e cervical da coluna vertebral.

Augustson & Morken (1996), citados por Poi et al. (1999), afirmam que com

freqüência são relatadas, pelos Cirurgiões - Dentistas, dores na parte inferior das costas

(49%), seguidas de desconforto no pescoço (47%) e no ombro (45%), além de dores em

outras regiões, tais como: pulso (21%), parte superior das costas (20%), quadris (18%),

cotovelo (12%) e tornozelo (10%).

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Régis Filho & Lopes (1997), investigando a freqüência de manifestação dolorosa

em quatro regiões do corpo: dedos, pulso, cotovelo, e ombro, em Cirurgiões-Dentistas

de Santa Catarina, encontraram um percentual mais alto de sintomas entre as mulheres

(52,94%), sendo que destas 36,84% apresentaram dor no pulso, 31,57% no ombro,

26,32% nos dedos e 5,27% no cotovelo.

Santana et al. (1998), pesquisaram o perfil epidemiológico das desordens

osteomusculares em 100 Cirurgiões-Dentistas de Salvador-BA e concluíram que, dentre

os profissionais do gênero masculino, 44,7% apresentavam sintomatologia dolorosa,

enquanto que o gênero feminino obteve um percentual de 60,4%, e a faixa etária mais

atingida, neste gênero, foi de 27-34 anos. Do percentual de mulheres atingidas, as

regiões anatômicas referidas foram dedos (68,75%), coluna (28,1%), pulso (25%),

região escapular (25%), seguida de cotovelo (15,6%) e ombro (6,25%). Dentre os

profissionais do gênero masculino, as regiões mais acometidas foram dedos (76%),

coluna (23,57%), pulso (28,57%), região escapular (23,8%) e cotovelo (14,28%).

Para Lusvarghi (1999), o Cirurgião-Dentista apresenta uma predisposição para o

desenvolvimento de um quadro de espasmo de acomodação da musculatura ciliar nos

olhos, já que este profissional fixa o olhar em um detalhe da boca por um tempo

prolongado, sem pausas, conseqüentemente piscando menos e fazendo com que os

olhos fiquem ressecados e ardendo. Este problema pode tornar-se muito grave,

podendo ser classificado como quadro de LER/DORT, embora ainda não esteja incluído

na legislação (Maciel, 1985; Lusvarghi, 1999).

Michelin et al. (2000), analisando 36 Cirurgiões-Dentistas docentes da Faculdade

de Odontologia da Universidade de Passo Fundo-RS, identificaram que 31%

apresentaram problemas osteomusculares na região lombar, 27% na região cervical,

seguido de ombro (23%) e de problemas no pulso (17%). Os indivíduos acometidos

apresentaram em média 23 anos de atividade profissional e faixa etária entre 50 e 60

anos.

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Santos Filho & Barreto (2001), estudando a prevalência de dor osteomuscular

em Cirurgiões-Dentistas (CD) de Belo Horizonte-MG, verificaram que 58%

apresentavam este sintoma no segmento superior, sendo que destes 26% relataram

dor diária e 40% dor moderada/forte. Das regiões acometidas, 22% foram de dor no

braço, 21% na coluna, 20% no pescoço, e 17% no ombro.

2.2.3. Aspectos Ergonômicos

Uma maneira de se melhorar o desempenho, a motivação e a satisfação no

trabalho odontológico encontra-se na aplicação de princípios de Ergonomia nos

equipamentos e no consultório como um todo. Um consultório com equipamentos

ergonomicamente planejados proporciona um aumento de produtividade, melhoria na

qualidade do serviço prestado e diminuição da fadiga na equipe de trabalho. Quando a

ergonomia é efetiva nos consultórios, o profissional tem mais probabilidade de estar

satisfeito e motivado para exercer suas atividades e conseqüentemente prevenir as

LER/ DORT (Maciel, 1985; Chinellato, et al., 1991; Assunção & Rocha, 1994; Freeman,

Main & Burke, 1995-a; Freeman, Main & Burke, 1995-b; Régis Filho & Lopes, 1997;

Michelin et al., 2000; Orenha & Eleutério, 2000).

A Ergonomia, cujo objeto é o homem em situação de trabalho, tem como objetivo

analisar as inter-relações existentes entre as condições de trabalho, conforto,

segurança e eficácia, possibilitando ao trabalhador produzir mais e melhor, com mais

conforto e menor fadiga (Fischer & Paraguay, 1989; Caldeira-Silva et al., 2000).

O estudo e a aplicação de princípios ergonômicos na prática odontológica pode

ser remetida aos anos 50, onde inovações importantes nos equipamentos foram sendo

introduzidas, dentre as quais, destacam-se: a criação da cadeira onde o paciente ficaria

deitado, o primeiro mocho (assento odontológico) rodante e a turbina de alta rotação

(Kilpatrick, 1966). A partir de então, começaram a surgir as primeiras propostas de

modificações no processo de trabalho odontológico, inclusive a mudança do trabalho da

posição ortostática para a posição sentada (Frazão, Gonzales & Rosa, 1995; Santos

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Filho & Barreto, 2001). Apesar disto, Medeiros (1971) relata pesquisa sobre o exercício

profissional de Cirurgiões-Dentistas, no Estado de São Paulo, no qual refere que dos

380 profissionais inquiridos, no ano de 1967, 61,84% admitiram trabalhar

costumeiramente em pé. Este autor justifica tal fato da seguinte maneira: “... até pouco

não existia no mercado (brasileiro) um mocho que realmente permitisse trabalhar

sentado de forma adequada”. Na figura abaixo (Figura 1), observa-se a postura de

trabalho mencionada.

Figura 1 - Cirurgião-Dentista trabalhando em pé

Fonte: Arquivo pessoal

Na figura 2, onde se visualiza um Consultório do ano de 1910 observam-se

algumas condições de trabalho ergonomicamente desfavoráveis, como por exemplo,

cadeira odontológica não reclinável e mocho com assento fixo e sem encosto (circulado

em vermelho ). Desde esta década até meados dos anos 50, não foram registradas

muitas alterações no “design” dos equipamentos e nas condições ergonômicas de

trabalho, conforme relatado anteriormente.

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Figura 2 - Consultório Odontológico datado de 1910

Fonte: Arquivo pessoal

Nos anos 60, dentre as inovações impulsionadas pelos EUA, com o intuito de

aumentar a produtividade e a eficácia dos tratamentos odontológicos foi desenvolvida a

denominada Odontologia à quatro mãos, onde o Cirurgião-Dentista trabalha auxiliado

por uma ACD (Auxiliar de Consultório Dentário) ou uma THD (Técnico em Higiene

Dental) (Kilpatrick, 1966).

No Brasil, os autores Porto, Eleutério & Castro (1971), observaram em estudo

sobre condições de trabalho em Odontologia, realizado em 1968, que 35% dos 110

profissionais pesquisados trabalhavam auxiliados, contra um percentual de 64,9% que

trabalhavam sozinhos.

Mais recentemente destacam-se os seguintes Centros de investigação de

Ergonomia aplicada à Odontologia: Human Performance Institute de Atami, no Japão, e

o Center for the Study of Human Performance in Dentistry, nos EUA. Ambos têm

contribuído com pesquisas e projetos de treinamento e formação de Cirurgiões-

Dentistas (CD) em posições, técnicas, métodos e sistemas de trabalho

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ergonomicamente orientados e na utilização de termos numéricos para a comunicação

e intercâmbio científico (Vianna & Arita, 1989; Arita, Lascala & Vianna , 1993).

Na figura 3, observa-se um Consultório moderno com bancadas

ergonomicamente planejadas, cadeira odontológica ajustável para cada tipo de

procedimento e mocho rodante (destacado em vermelho).

Figura 3 – Modelo de Consultório odontológico atual

Fonte: Arquivo pessoal

Em relação à Ergonomia aplicada à prática odontológica, há vários fatores a

serem analisados, tais como: a posição do paciente, posição do operador (Cirurgião-

Dentista-CD), posicionamento da equipe auxiliar (ACD ou THD) e a posição do

equipamento de operação (equipo) (Frazão, Gonzales & Rosa, 1995; Caldeira-Silva et

al., 2000; Pernambuco, 2001).

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A maioria dos estudos preconiza que, de modo geral, o paciente deve estar na

posição supina (deitado de costas), pois esta é uma posição potencialmente mais

benéfica, tanto para o paciente quanto para o operador (Arita & Vianna, 1989;

Chinellato et al., 1991; Figlioli & Porto, 1992; Arita, Lascala & Vianna , 1993; Frazão,

Gonzales & Rosa, 1995; Osaki & Figlioli, 1997; Caldeira-Silva et al., 2000). Para Arita,

Lascala & Vianna (1993), a posição supina promove descanso natural máximo,

oferecendo maior superfície de contato corporal, estabilidade e relaxamento para o

paciente, evitando assim movimentos bruscos. Em geral, este critério aplica-se a maior

parte dos procedimentos, podendo sofrer restrições durante moldagens e tomadas

radiográficas, pois para estas atividades a posição convencionada é a posição sentada.

Porém, alguns autores (Kilpatrick, 1966; Chinellato et al., 1991) relatam que até mesmo

estes procedimentos citados poderão ser realizados com o paciente na posição supina,

a qual apresenta a vantagem de economia de tempo em relação à posição

convencional.

Em se tratando da posição do operador e equipe auxiliar, Caldeira-Silva et al.

(2000) e, Pernambuco (2001) afirmam que a International Standard Organization (ISO)

e Fédération Dentaire International (FDI) convencionaram dividir o consultório em áreas.

Para demarcá-las, devemos idealizar o mostrador de um relógio, no qual o centro

corresponde ao eixo dos ponteiros, e o aro corresponde a uma circunferência traçada

ao redor da cadeira odontológica, a qual deverá estar na posição horizontal. A posição

de 12 horas é sempre indicada pela cabeça do paciente, ou seja, atrás da cadeira.

Desta forma o eixo 6-12 horas, divide a sala em duas áreas: à direita da cadeira (área

do CD) e à esquerda da cadeira (área da equipe auxiliar) (Figura 4):

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Figura 4 - Posição de trabalho conforme Schön

Fonte: Barros (1991) citado por Caldeira-Silva et al. (2000).

Considerando o paciente na posição supina, a posição da equipe vai depender:

da característica do operador (destro ou não), da posição do equipamento, da região da

arcada dentária a ser operada e do tipo de visão adotada pelo operador - direta ou

indireta (com espelho bucal) (Caldeira-Silva et al., 2000).

Caldeira-Silva et al. (2000) afirmam que o trabalho sentado, para o CD, é

indicado para tarefas que não exigem força ou movimentação, pois apresentam

inúmeras vantagens: gasto menor de energia, menor desgaste e a utilização de vários

pontos de suporte: piso, assento, encosto, apoio para os braços e a superfície de

trabalho. Entretanto, o trabalho na posição sentado deve ser evitado, por longos

períodos, alternando-se com outras atividades, como andar ou ficar em pé.

Diversos autores (Chinellato et al., 1991; Osaki & Figlioli, 1997; Caldeira-Silva et

al., 2000; Santos Filho & Barreto, 2001) consideram que a postura ideal para o CD é

sentado, em posição de 9 horas (ao lado do paciente), com as pernas abertas e a

articulação do joelho em 90 graus. No entanto, outros autores (Nogueira, 1983; Figlioli

& Porto, 1992) avaliam que as posições de trabalho do CD devem variar de acordo com

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37

a região a ser operada e dentro desta perspectiva, as posições mais vantajosas em

termos ergonômicos seriam as de 9 e 11 horas. Em uma análise distinta, Frazão,

Gonzales & Rosa (1995) e, Santos Filho & Barreto (2001) consideram que a posição de

12 horas (atrás do paciente) também é adequada para o CD por permitir que o mesmo

alcance a maioria das superfícies dentárias com visão direta (sem o auxílio do espelho

bucal).

A posição do THD e/ou ACD deve variar entre a posição de 1, 2 ou 3 horas,

dependendo da atividade a ser realizada (afastamento de língua e bochecha, sucção de

sangue e ou saliva). Desta maneira o CD executa seu trabalho, confortavelmente

sentado, com visão direta, com uma única mão, com o mínimo de desgaste de energia

e o máximo de produtividade (Figlioli & Porto, 1992; Osaki & Figlioli, 1993; Frazão,

Gonzales & Rosa, 1995; Caldeira-Silva et al., 2000).

Em relação à posição do equipamento de operação (equipo), a ISO/FDI, citadas

por Caldeira-Silva et al. (2000) e, Pernambuco (2001) idealizaram um sistema aceito

internacionalmente que classifica o equipamento conforme sua localização em tipo 1, 2,

3 e 4:

!" Tipo 1- O equipamento se posiciona à direita da cadeira odontológica e à direita do

CD.

!" Tipo 2 - Equipamento localizado à esquerda do CD e atrás da cadeira.

!" Tipo 3 - Equipamento localizado sobre o braço esquerdo da cadeira ou de frente

para o paciente.

!" Tipo 4 - Localiza-se no encosto da cadeira, ao lado da cabeça do paciente.

Figlioli & Porto (1992) e, Caldeira-Silva et al. (2000) preconizam que a posição

ideal do equipamento é a posição 1, pois esta é a que mais se adapta as posições do

paciente, CD e equipe auxiliar recomendadas anteriormente (Figura 5):

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38

Figura 5 - Posição do Equipo do Tipo 1

Fonte: Pernambuco (2001).

Segundo Medeiros & Riul (1994), a distância ideal, em se tratando de acuidade

visual, tanto para o campo operatório quanto para os instrumentais é de 35 a 50 cm. A

uma distância menor que 35 cm do paciente poderão ocorrer problemas, tais como:

contaminação por microorganismos ou detritos provenientes do tratamento, já uma

distância maior que 50 cm provocará a necessidade de grandes movimentos de braços,

prejudicando a flexibilidade e apoio de operador (CD).

2.2.4. Prevenção e Tratamento

Considerando que as LER/DORT, do ponto de vista Ergonômico, estão

relacionadas ao modo como trabalho é organizado, onde se articulam e integram o

ambiente, os equipamentos e instrumentos de trabalho, faz-se necessário para sua

prevenção uma abordagem que atente para uma visão global do processo de trabalho,

onde as modificações na organização do mesmo desempenham papel fundamental

nestas ações preventivas (Assunção & Rocha, 1994).

Em relação ao ambiente de trabalho odontológico, este deve ser avaliado no

tocante ao ruído, iluminação e temperatura. Uma maneira de minimizar os efeitos

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adversos do ruído, consiste no uso de protetores auriculares do tipo especial por serem

mais indicados em locais onde a comunicação verbal é necessária (Nogueira, 1983;

Maciel, 1985; Medeiros & Riul, 1994; Lusvarghi, 1999; Caldeira-Silva et al., 2000). Além

disso, é recomendado que o compressor odontológico seja instalado fora do

Consultório (Santos Filho & Barreto, 2001). As condições de visibilidade do Cirurgião-

Dentista devem ser de modo que permitam realizar a tarefa visual com segurança,

precisão, rapidez e eficiência, e para tal, o ambiente deve estar uniformemente

iluminado, aproveitando-se o máximo de luz natural (Medeiros & Riul, 1994; Lusvarghi,

1999). Maciel (1985) considera que a temperatura do ambiente deve estar dentro da

faixa de conforto térmico dos indivíduos.

Além destes fatores, o planejamento do ambiente de trabalho deve levar em

conta os aspectos microergonômicos, com a adequação dos equipamentos e

instrumentais, de modo a permitir que o profissional adote uma postura confortável, com

ampla liberdade de movimentos, evitando a contratura muscular prolongada da postura

estática (Nogueira, 1983; Maciel, 1985; Assunção & Rocha, 1994; Medeiros & Riul,

1994; Régis Filho & Lopes, 1997; Lusvarghi, 1999; Caldeira-Silva et al., 2000; Michelin

et al., 2000; Santos Filho & Barreto, 2001).

Segundo Michelin et al. (2000), a Organização Mundial de Saúde declarou que

os fatores psicossociais são, pelo menos, tão importantes quanto os fatores físicos na

prevenção de LER/DORT. Dentre as modificações na organização do trabalho

odontológico, que contribuem para evitar o estresse psicológico e, conseqüentemente,

prevenir as LER/DORT, ressalta-se: alteração do ritmo de trabalho; realização de

pausas curtas e freqüentes; realização de exercícios de alongamento e relaxamento;

presença de auxiliar no consultório; organização do agendamento, evitando marcar

pacientes em lista de espera (“overbook”) e alternando procedimentos que necessitam

do uso intensivo das mãos; administração eficiente do tempo; estabelecimento de um

ambiente agradável de trabalho entre os pacientes e profissionais auxiliares; e

avaliação médica periódica dos profissionais (Kilpatrick, 1966; Assunção & Rocha,

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1994; Freeman, Main & Burke, 1995-b; Régis Filho & Lopes, 1997; Caldeira-Silva et al.,

2000; Barreto, 2001; Santos Filho & Barreto, 2001).

Os exercícios de distensionamento devem ser realizados com freqüência e

sempre que possível, no intervalo entre um paciente e outro. Durante o alongamento é

recomendado: 1) não ultrapassar o limite de expansibilidade dos músculos 2) sustentar

o exercício por 15 segundos 3) evitar compensações posturais 3) repetir cada

alongamento por três vezes, alternando os lados. Desta maneira, devem ser alongados

as regiões do pescoço, ombros, braços, punhos, cotovelos e dedos, conforme Figura 6

(Régis Filho & Lopes, 1997; Poi et al., 1999; Caldeira-Silva et al., 2000; Pernambuco,

2001):

Figura 6 - Exercícios de alongamento e relaxamento

Fonte: Pernambuco (2001).

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Além disso, algumas atividades sugeridas pelos diversos autores deverão ser

evitadas, tais como: tricô ou crochê, esfregar ou torcer roupa, bater bolo, segurar

panelas pelo cabo, esportes com raquete, pintura, redação e carregamento de peso

(Régis Filho & Lopes, 1997; Caldeira-Silva et al., 2000).

Na opinião de Barreira (1994), para que seja alcançado sucesso nas estratégias

de prevenção de LER/DORT é necessário que todas as pessoas envolvidas com a

situação de trabalho em questão, estejam conscientes da problemática e de sua

responsabilidade na detecção e eliminação dos fatores de risco presentes. Para Brasil

(2001-b), apesar da ampla difusão de informações sobre LER/DORT pela imprensa

sindical e empresarial, o campo da divulgação ainda é muito falho.

Outros estudiosos afirmam que (Assunção & Rocha, 1994; Lusvarghi, 1999;

Caldeira-Silva et al., 2000) o tratamento das LER/DORT exige uma abordagem

multiprofissional e interdisciplinar e a associação de vários recursos terapêuticos, de

acordo com o quadro sintomatológico, dentre os quais destacam-se: uso de

medicamentos, acupuntura, RPG (Reeducação Postural Global), cinesioterapia, e em

casos mais severos, bloqueios anestésicos e/ou tratamento cirúrgico

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3. Objetivos3. Objetivos3. Objetivos3. Objetivos

3.1. Objetivo Geral

!" Conhecer o grau de informação no que diz respeito às LER/DORT dos concluintes

de Odontologia das Instituições de Ensino Superior da Região Metropolitana da Cidade

do Recife.

3.2. Objetivos Específicos

!" Descrever o grau de informação acerca das LER/DORT (fatores de risco e

prevenção) recebido pelos alunos de Graduação em Odontologia durante o Curso.

!" Descrever o grau de informação dos concluintes em relação aos sinais, sintomas e

principais regiões do corpo que são afetadas pelos distúrbios osteomusculares

decorrentes do exercício da profissão.

!" Conhecer o grau de informação dos formandos sobre a Ergonomia aplicada ao

consultório odontológico.

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43

4. Casuística e Método4. Casuística e Método4. Casuística e Método4. Casuística e Método

4.1. Desenho de Estudo

Para este trabalho foi realizado um estudo epidemiológico de Corte Transversal do

tipo Descritivo.

4.2. População de Estudo

A população deste estudo foi composta por alunos regularmente matriculados

nos Cursos de Odontologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE),

localizada no Município do Recife e Faculdade de Odontologia de Pernambuco (FOP),

localizada no Município de Camaragibe, os quais se encontravam no último período do

Curso, nos semestres de 2001.2 e 2002.1.

A amostra incluiu 183 de um total de 201 alunos, o que representou 91,04% dos

concluintes de ambas as I.E.S., nos referidos períodos. Esta população encontra-se

distribuída conforme tabelas abaixo:

Tabela 1 - Freqüência dos concluintes 2001.2 segundo I.E.S.

I.E.S. N n %

UFPE 53 51 96,22%

FOP 60 57 95%

TOTAL 113 108 100,0

Tabela 2 - Freqüência dos concluintes 2002.1 segundo I.E.S.

I.E.S. N n %

UFPE 39 33 84,61%

FOP 49 42 85,71%

TOTAL 88 75 100,0

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44

4.3. Critério de Inclusão e Exclusão

A amostra foi composta dos alunos que devolveram o questionário corretamente

preenchido.

4.4. Fonte de Dados

Levantamento de dados primários.

4.5. Instrumento de Coleta de Dados

Inicialmente, foi realizado um pré-teste com o instrumento onde se procedeu à

seleção aleatória da amostra composta por dez concluintes. Tal procedimento serviu

para que se efetuassem algumas modificações complementares neste instrumento.

O processo de coleta de dados foi realizado através de uma pesquisa de campo, e

para tal os concluintes preencheram um questionário semi - estruturado, desenhado

especificamente para este trabalho. O questionário (ANEXO 1) foi respondido

individualmente, sem identificação e constando de uma combinação de 16 perguntas

abertas e de múltipla escolha sobre:

1) Caracterização da população (sexo, idade e IES)

2) LER/DORT (quadro clínico, fatores de risco e prevenção)

3) Ergonomia (geral e aplicada à Odontologia)

Os instrumentos de coleta de dados foram distribuídos em sala de aula e também

durante atividades clínicas em ambas as Instituições, sendo que, previamente, foi

realizada uma reunião de esclarecimento sobre a pesquisa, com os alunos.

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4.6. Análise de Dados

Os dados coletados foram repassados para folhas de cálculos do programa Excel

da Microsoft e analisados mediante o programa SPSS (Statistical Package for the

Social Sciences) versão 8.0.

4.7. Considerações Éticas

Uma vez que não houve identificação nominal nos questionários, garantiu-se a

privacidade dos sujeitos relacionados neste estudo. O projeto deste trabalho foi

submetido à Comissão de Ética do CPqAM para apreciação, e obteve parecer favorável

condizente com a conduta ética em pesquisas que envolvem seres humanos, de acordo

com o Código de Ética, Resolução do Conselho Nacional de Saúde (CNS) nº 196 de

1996 e complementares.

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5. Resultados5. Resultados5. Resultados5. Resultados

No presente estudo, a taxa de participação foi de 91,04% (N=138) dos

concluintes de ambas as Instituições de Ensino Superior.

Com relação ao perfil da amostra, 65% (N=138) foi do sexo feminino (Gráfico 1),

e a maior prevalência de idade foi de 23 anos, com 32,2% (Tabela 3).

Gráfico 1- Distribuição dos pesquisados segundo gênero

Tabela 3 - Distribuição dos concluintes de acordo com a faixa etária (em anos)

FAIXA ETÁRIA N %

Até 22 30 16,4

23 59 32,2

24 45 24,6

25 26 14,2

26-35 23 12,6

TOTAL 183 100,0

65%

35%

Feminino Masculino

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94% dos 138 concluintes pesquisados reconhecem que a profissão do Cirurgião-

Dentista oferece riscos à saúde (Gráfico 2), sendo o risco de contaminação por

microorganismos o mais citado com 31,2% (N=171), seguido do risco de adquirir

LER/DORT (28,1%, N= 171) e risco de desenvolvimento de problemas auditivos

(12,6%, N=171) (Tabela 4). Dos que consideram que sua profissão não oferece riscos à

saúde (6%, N= 183), 3,8% destes justificaram sua resposta afirmando que o risco

inexiste desde que sejam observados os princípios de biossegurança.

Gráfico 2 - Percentual dos concluintes que consideram que sua profissão oferece

algum risco à sua saúde

6%

94%

Não Sim

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Tabela 4 - Distribuição dos principais riscos à saúde na profissão de Odontologia

relacionados pelos formandos

RISCO N %

Risco biológico 129 31,2

LER/DORT 116 28,1

Audição 52 12,6

Coluna 38 9,2

Visão 35 8,5

Outros 21 5,1

Radiação 13 3,1

Estresse 9 2,2

BASE* 413 100

* Considerando que um formando poderia citar mais de uma resposta, optou-se por considerar uma base

para o cálculo dos percentuais, que no caso, representou o número total de respostas (413),

provenientes de 171 concluintes.

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49

Dentre os concluintes que assinalaram que seu Curso de Graduação oferece

informação sobre Ergonomia (93%, N= 138) (Gráfico 3), 38,2% (N=99) tiveram aula

sobre este assunto na Disciplina de Orientação Profissional I (FOP) e 26% (N=84)

tiveram aula na disciplina de Dentística II (UFPE). Quanto à disponibilização de

informações sobre Ergonomia durante o Curso, 35,5% (N=183) dos formandos

consideraram regular (Gráfico 4). 53,4% (N=149) dos formandos afirmaram que a

informação repassada é escassa e para 20,9% (N=149) dos concluintes este assunto

deveria ser mais enfatizado na prática.

Gráfico 3 - Percentual dos concluintes que afirmaram que seu Curso oferece

informações sobre Ergonomia

93%

7%

Sim Não

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50

Gráfico 4 - Distribuição dos Concluintes segundo o grau de satisfação em relação

à disponibilidade de informação sobre Ergonomia durante o Curso de

Odontologia

1,1

8,7

26,8

35,5

21,9

6

0

5

10

15

20

25

30

35

40

Excelente

Muito Bom

Bom

Regular

Ruim

Péssimo

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Em se tratando do grau de informação dos formandos sobre Ergonomia aplicada

à Odontologia, conforme observado no Gráfico 5, a maioria dos pesquisados considera

que a posição ergonomicamente ideal para o paciente é a posição supina (78,7 N=183).

Gráfico 5 - Percentual de pesquisados segundo a posição mais adequada para o

paciente na maioria dos procedimentos

2,27,1

78,7

9,8

2,2

0

10

20

30

40

50

60

70

80

Deitado de lado

Posição de Trendelemburg

Posição supina

Sentado

ignorado

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Com relação à posição mais adequada para o Cirurgião-Dentista (CD), os

formandos consideraram a posição de 9 horas (73,2%, N=138) (Gráfico 6).

Gráfico 6 - Freqüência dos pesquisados segundo a posição mais adequada para o

operador (CD) destro utilizando visão direta

11,57,7

3,8

73,2

3,8

0

10

20

30

40

50

60

70

80

11 horas

12 horas

8 horas

9 horas

Ignorado

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53

22,4

19,7

15,3

2,7

39,9

0

5

10

15

20

25

30

35

40

Tipo 1

Tipo 2

Tipo 3

Tipo 4

Ignorado

No Gráfico 7 observa se que a maioria dos estudantes (39,9%, N= 138) ignora a

posição preconizada para o Equipo.

Gráfico 7 - Percentual de concluintes segundo a posição mais adequada para o

equipamento de operação (Equipo)

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96% (N=138) dos pesquisados afirmaram conhecer as LER/DORT (Gráfico 8),

sendo que 37,3% de um total de 175 concluintes tomou conhecimento através do Curso

de Odontologia. 35% dos pesquisados (N=183) consideraram a qualidade das

informações como regular (Gráfico 9), pois estes avaliaram que o Curso oferece pouca

informação sobre o assunto, justificativa esta apontada por 76,2% (N=102).

Gráfico 8 - Distribuição dos pesquisados conforme o fato de conhecer a Síndrome

de LER/DORT

96%

4%

Sim Não

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Gráfico 9 - Percentual de concluintes segundo o grau de satisfação quanto à

disponibilidade de informação sobre LER/DORT no Curso de Graduação

1,12,7

19,1

35

15,8

12

14,2

0

5

10

15

20

25

30

35

Excelente

Muito bom

Bom

Regular

Ruim

Péssimo

Ignorado

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Os sinais e sintomas mais freqüentes de LER/DORT, na opinião de 182

formandos foram dor (24%), fadiga (20,7%) e inflamação (19,3%), conforme observado

na Tabela 5.

Tabela 5 - Freqüência de Sinais e Sintomas considerados característicos de

LER/DORT pelos estudantes

SINAIS E SINTOMAS N %

Dor 175 24,0

Fadiga 151 20,7

Inflamação 141 19,3

Sensação de peso 86 11,8

Edema 74 10,1

Parestesia 49 6,7

Rompimento de tendões e ligamentos 48 6,6

Osteoporose 6 0,8

BASE* 730 100,0

* Considerando que um formando poderia citar mais de uma resposta, optou-se por considerar uma base

para o cálculo dos percentuais, que no caso, representou o número total de respostas (730) provenientes

de 182 concluintes.

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Em relação às regiões do corpo mais freqüentemente afetadas pela Síndrome de

LER/DORT na profissão de Odontologia, 182 concluintes julgaram ser o punho com

percentual de 19,6%, seguido das mãos com 17,6% e coluna cervical com 14,5%

(Tabela 6).

Tabela 6 - Distribuição das Regiões do Corpo identificadas como sendo mais

freqüentemente acometidas pelas LER/DORT em Cirurgiões-Dentistas, segundo

os formandos

REGIÕES DO CORPO N %

Punho 166 19,6

Mãos 149 17,6

Coluna Cervical 123 14,5

Pescoço e Região escapular 112 13,2

Coluna Lombar 95 11,2

Braço 75 8,8

Ombro 61 7,2

Cotovelo 27 3,2

Olhos 26 3,1

Pés 6 0,7

Tornozelo 5 0,6

Quadris 3 0,4

BASE* 848 100,0

* Considerando que um formando poderia citar mais de uma resposta, optou-se por considerar uma base

para o cálculo dos percentuais, que no caso, representou o número total de respostas (848) provenientes

de 182 concluintes.

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Os fatores de risco avaliados como predisponentes no adoecimento por

LER/DORT em Odontologia, segundo os pesquisados, foram assim classificados por

180 concluintes em ordem de importância de acordo com a Tabela abaixo (Tabela 7),

destacando–se a exigência de postura inadequada (15,3%), jornada de trabalho

prolongada (14,0%) e esforço físico intenso (13,3%) (Tabela 7).

Tabela 7- Percentagem dos fatores de risco considerados mais relevantes pelos

concluintes na ocorrência de LER/DORT no trabalho odontológico.

FATORES DE RISCO N %

Exigência de postura inadequada 157 15,3

Jornada de trabalho prolongada 143 14,0

Esforço físico intenso 136 13,3

Ausência de pausas 122 11,9

Ausência de auxiliares 115 11,2

Ruído 63 6,1

Metas de produtividade 55 5,4

Vibração do equipamento 42 4,1

Iluminação 41 4,0

Pressão de chefia e clientes 35 3,4

Insatisfação social e pessoal 26 2,5

Previsibilidade de tarefas 20 2,0

Radiação 19 1,9

Temperatura 17 1,7

Vírus 14 1,4

Bactéria 10 1,0

Mercúrio 10 1,0

BASE* 1025 100,0

* Considerando que um formando poderia citar mais de uma resposta, optou-se por considerar uma base

para o cálculo dos percentuais, que no caso, representou o número total de respostas (1025)

provenientes de 180 concluintes.

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Dentre 179 formandos, um total de 19,6% referem que a adequação dos

equipamentos de acordo com análise ergonômica seria a melhor forma de prevenção

dos sintomas destas afecções. Já 18,8% destes consideram os exercícios de

alongamento e relaxamento como uma medida eficaz de prevenção, enquanto que

17,5% consideram a realização de pausas durante o trabalho a maneira mais eficiente

na prevenção de LER/DORT (Tabela 8).

Tabela 8 - Freqüência dos fatores considerados importantes, pelos estudantes, na

prevenção de LER/DORT

MEIOS DE PREVENÇÃO N %

Análise ergonômica dos

equipamentos

162 19,6

Exercícios de alongamento e

relaxamento

156 18,9

Realização de pausas 145 17,5

Conscientização dos trabalhadores 136 16,4

Ambiente agradável de trabalho 98 11,9

Exercícios com bolinhas de

borracha

97 11,7

Acupuntura e fisioterapia 27 3,3

Administração de antiinflamatórios 6 0,7

BASE* 827 100,0

* Considerando que um formando poderia citar mais de uma resposta, optou-se por considerar uma base

para o cálculo dos percentuais, que no caso, representou o número total de respostas (827) provenientes

de 179 concluintes.

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6. Discussão6. Discussão6. Discussão6. Discussão

A importância de se conhecer o grau de informação sobre LER/DORT entre os

concluintes de Odontologia, consiste no fato de que este conhecimento é uma

ferramenta fundamental na prevenção destas afecções. Diversos autores (Nogueira,

1983; Possas, 1989; Lieber, 1991; Barreira, 1994; Freeman, Main & Burke, 1995-b;

Lusvarghi, 1999; Michelin et al., 2000) referem à importância da informação na

detecção dos fatores de risco, que se relacionam diretamente com o acometimento por

esta Síndrome. Desta forma, a discussão em torno do grau de informação dos

concluintes de Odontologia a respeito das LER/DORT será norteada a partir do enfoque

na prevenção dos sintomas desta Síndrome, na referida categoria profissional.

6.1. Com respeito ao gênero

Neste estudo foi observado um predomínio de concluintes do sexo feminino

(65% N= 138), este resultado corrobora com os achados de Freire, Souza e Pereira

(1995), os quais realizaram um estudo sobre o perfil dos acadêmicos ingressos na

Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Goiás, e obtiveram resultados

semelhantes: 57% de acadêmicos foram do sexo feminino. De acordo com Régis Filho

& Lopes (1997), ao longo da última década, a procura pela profissão tem sido maior por

parte das mulheres.

6.2. Percepção dos fatores de risco para LER/DORT

Quanto aos riscos à saúde que a profissão de Odontologia oferece aos seus

praticantes (Tabela 4), os concluintes (N = 171) apontaram dentre os principais: o risco

biológico (31,2%), risco de adquirir LER/DORT (28,1%) e risco de desenvolvimento de

problemas auditivos (12,6%) estes resultados concordam com os trabalhos de diversos

autores (Nogueira, 1983; Medeiros & Riul, 1994; Freeman, Main & Burke, 1995-a ;

Burke, Main & Freeman, 1997; Santana et al., 1998; Lusvarghi, 1999; Caldeira-Silva, et

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al., 2000; Barreto, 2001; Pernambuco, 2001). Dentre estes resultados, chama-se

atenção para o alto percentual de formandos que afirmaram que a profissão oferece

risco de acometimento por LER/DORT (28,1%), o que pode ser considerado uma fonte

de viés, já que o questionário foi auto-aplicado e no cabeçalho do mesmo, constava o

título do trabalho, podendo desta forma ter sugestionado os pesquisados. Ressalta-se,

ainda, o baixo percentual de concluintes que consideraram o estresse como fator de

risco (2,2%), já que para Burke, Main & Freeman (1997) há um consenso de que a

Odontologia é a atividade profissional mais estressante da área de saúde.

Em relação à justificativa dos formandos que consideram que a profissão de

Odontologia não oferece riscos à saúde, desde que sejam aplicados os princípios de

biossegurança (3,8% N=183), é possível supor que estes somente levaram em conta os

riscos biológicos da profissão, já que as normas de biossegurança referem-se a um

conjunto de práticas de controle de riscos biológicos (Teixeira & Valle, 1996).

6.3. Ergonomia

Apesar da maioria dos formandos (93%, N=138) terem afirmado que tiveram

aulas de Ergonomia durante a Graduação, 35,5% (N=138) consideraram estas

informações regulares, justificando que este assunto deveria ter sido mais explorado

tanto na teoria quanto na prática. Pela análise da grade curricular de ambas as IES

(ANEXO 2 - UFPE e 3 - FOP) é possível fundamentar estas justificativas fornecidas

pelos formandos.

Observa-se, nas referidas grades curriculares, que as aulas sobre Ergonomia e

Doenças profissionais são oferecidas, em ambas as Instituições, em apenas uma

Disciplina de período semestral, ao longo do Curso de Graduação. Em relação à carga

horária semestral teórica destas Disciplinas, nota-se que tanto em um Curso quanto no

outro é de 30h, sendo que na UFPE, a Disciplina oferece, ainda, uma carga horária

prática de 60h perfazendo um total de 90h (vide ementa da Disciplina de Dentística

II/UFPE e Conteúdo Programático da Disciplina de Orientação Profissional I/FOP -

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ANEXO 4 e 5, respectivamente). A carga horária total destas Disciplinas mostra-se

escassa, já que a carga horária plena dos Cursos em questão, é de 3.870 h na UFPE e

4.845 h na FOP, demonstrando, portanto, que a Ergonomia é pouco explorada durante

a Graduação.

Ainda em relação à análise das Grades curriculares dos referidos Cursos, outro

ponto a ressaltar relaciona-se com a queixa dos formandos, de que os princípios de

Ergonomia deveriam ser mais cobrados na prática, pois se observa que as Disciplinas

que abordam este assunto são oferecidas, somente, no começo do Ciclo profissional

(4º período do Curso).

Vianna & Arita (1989) e, Arita, Lascala & Vianna (1993) afirmam que as aulas de

Ergonomia durante a graduação devem ser enfatizadas desde as atividades pré-

clínicas, realizadas no manequim, visando despertar e conduzir em cada aluno a

conscientização do processo para o desempenho futuro como profissional da área de

saúde bucal. Vianna & Arita (1989) destacam que a literatura refere que o treinamento

laboratorial, na maioria das Faculdades Brasileiras de Odontologia, não está ligado a

Ergonomia e que a metodologia educacional pertinente a este assunto é ignorada ou

insuficientemente explorada. Michelin et al. (2000) concluíram, em seu estudo sobre

Distúrbios musculoesqueléticos em Cirurgiões-Dentistas, que 31% dos profissionais de

Odontologia que apresentavam sintomas de problemas osteomusculares não haviam

adquirido conhecimentos sobre Ergonomia durante sua Formação Acadêmica.

Das questões relativas a Ergonomia aplicada à Odontologia, os resultados

encontrados nos Gráficos 5 e 6 corroboram com diversos autores no tocante a posição

mais adequada para o paciente (posição supina) e para o Operador-CD (posição de 9

horas) (Santos Filho & Barreto, 2001; Caldeira-Silva et al., 2000, Osaki & Figlioli, 1997;

Chinellato et al., 1991). Porém, no Gráfico 7, verifica-se que a maior parte dos

pesquisados (39,9%, N=138) desconhece a posição mais adequada para o Equipo, que

segundo Caldeira-Silva et al. (2000) e, Figlioli & Porto (1992) deve ser a posição do

Tipo 1 (à direita da cadeira e à direita do Cirurgião-Dentista – Figura - 5). Isto reforça o

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fato de que os conhecimentos adquiridos na Graduação sobre Ergonomia são

insuficientes para a prevenção de LER/DORT.

6.4. Informações sobre LER/DORT

Em se tratando de informações sobre LER/DORT, somente 37,3% (N=175) dos

concluintes relataram ter conhecido estas afecções através do Curso de Graduação, e

35,5% dos pesquisados (N=138) consideraram que este assunto foi pouco explorado

durante sua formação acadêmica. Através da análise do Conteúdo Programático das

Disciplinas de Dentística II/UFPE e de Orientação Profissional I/ FOP (ANEXO 4 e 5,

respectivamente) verifica-se não haver menção ao estudo das LER/DORT durante

estas Disciplinas. De acordo com diversos autores (Nogueira, 1983; Possas, 1989;

Lieber, 1991; Barreira, 1994; Freeman, Main & Burke, 1995-b; Lusvarghi, 1999; Michelin

et al., 2000) um dos papéis das Instituições de Ensino Superior de Odontologia seria o

de promover o acesso à informação sobre os riscos laborais relativos a esta profissão,

neles incluídos os riscos para o desenvolvimento das LER/DORT, contribuindo, desta

maneira, para que o aluno, futuro profissional, seja capaz de perceber tais riscos e,

portanto, ter consciência de medidas de prevenção e eliminação destes fatores

predisponentes para o acometimento por esta Síndrome.

6.5. Sinais e Sintomas

Dos resultados encontrados na Tabela 5, podemos constatar que os três

primeiros sinais e sintomas (dor - 24%, fadiga - 20,7% e inflamação - 19,3%)

assinalados por 182 estudantes, como sendo característicos de LER/DORT na

Odontologia, concordam com os estudos de Assunção (1995), Lin et al. (1998-b) apud

Caldeira-Silva (2000), Santana et al. (1998), Santos Filho & Barreto (2001). No entanto,

os 4º e 6º lugares que correspondem a edema com 10,1% e rompimento de tendões e

ligamentos com 6,6%, discordam dos trabalhos dos autores supracitados. Assunção

(1995) cita que além da dor, dentre outros sintomas, pode existir queixa de edema; só

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que este se dá de forma subjetiva. E nenhum dos trabalhos pesquisados relata que as

LER/DORT possam causar rompimento de tendões e ligamentos.

6.5. Regiões do corpo mais atingidas

Todas as regiões do corpo citadas na Tabela 6, excetuando-se os pés, podem

ser acometidas de sintomas osteomusculares, em maior ou menor grau, em Cirurgiões-

Dentistas, de acordo com os trabalhos de Augustson & Morken (1996) citado por Poi

(1999); Régis Filho & Lopes (1997); Santana et al. (1998); Lin et al. (1998-b) apud

Caldeira-Silva et al. (2000); Lusvarghi (1999); Michelin et al., (2000); e, Santos Filho &

Barreto (2001). Na tabela citada, observa-se o pequeno percentual de pesquisados (N =

182) que apontaram a região dos pés como uma das afetadas (0,6%); em contraste

com as regiões apontadas pelos formandos como mais freqüentemente atingidas

(punho - 19,6%, mãos -17,6%, coluna cervical - 14,5%, e pescoço e região escapular -

13,2%). Estes resultados corroboram com alguns autores (Lin et al. 1998 - b apud

Caldeira-Silva et al. 2000; Settimi, 1998; Santos Filho & Barreto, 2001) que afirmam que

as LER/DORT acometem com mais freqüência os segmentos superiores.

6.6. Fatores de risco

As informações registradas sobre os fatores de risco para a ocorrência de

LER/DORT no trabalho odontológico, revelam que os acadêmicos (N = 180) levaram

mais em conta os riscos microergonômicos (exigência de postura inadequada -15,3%, e

esforço físico intenso - 13,3%) e alguns fatores ligados à organização do trabalho

(jornada de trabalho prolongada - 14,0%, ausência de pausas- 11,2%, e ausência de

auxiliares -11,9%) no acometimento por estas afecções (Tabela 7). Estes fatores de

risco mencionados são considerados relevantes na predisposição para o adoecimento

por LER/DORT conforme diversos estudiosos (Nogueira, 1983; Cárdia, Duarte &

Almeida, 1994; Medeiros & Riul, 1994; Freeman, Main & Burke, 1995-a; Burke, Main &

Freeman, 1997; Santana et al., 1998; Lusvarghi, 1999; Caldeira-Silva, et al., 2000,

Pernambuco, 2001; Santos Filho & Barreto, 2001). Porém, outros autores (Assunção &

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Rocha, 1994; Cárdia, Duarte & Almeida, 1994; Ferreira, Maciel & Paraguay, 1994; Lima,

1997; Brasil, 2001-b; Brasil, 2001-c) avaliam que os fatores relacionados à organização

do trabalho são determinantes primordiais no adoecimento, já que a experiência mostra

que intervenções realizadas em ambientes de trabalho com o propósito exclusivo de

modificar o mobiliário não diminuíram a incidência de LER/DORT, pelo contrário em

alguns casos até aumentaram.

Ainda, em relação à Tabela 7 podemos observar algumas respostas em

desacordo, como por exemplo, radiação, vírus, mercúrio e bactéria como fatores

predisponentes à ocorrência de LER/DORT. Além disso, podemos também, registrar os

baixos percentuais relativos às condições do ambiente de trabalho (ruído - 6,1%,

temperatura - 1,7% e iluminação - 4,0%) consideradas por alguns autores (Nogueira,

1983; Maciel, 1985; Michelin et al., 2000; Santos Filho & Barreto, 2001) como condições

essenciais para o bem estar do profissional, evitando, desta maneira, um aumento da

contratura muscular. E observa-se, ainda, o baixo percentual relativo ao risco físico da

vibração do equipamento-4,1% considerado como um fator de risco direto para a

ocorrência destas afecções na Odontologia (Lusvarghi, 1999; Barreto, 2001; Brasil,

2001-b).

6.7. Medidas Preventivas

No que se refere às medidas preventivas, nota-se que os resultados encontrados

na Tabela 8 (N=179) corroboram com alguns autores que afirmam que a adequação

dos equipamentos de acordo com análise ergonômica (19,6%), os exercícios de

alongamento e relaxamento (18,9%) e a realização de pausas (17,5%) são algumas

das formas de prevenção das LER/DORT (Kilpatrick, 1966; Nogueira, 1983; Maciel,

1985; Assunção & Rocha, 1994; Medeiros & Riul, 1994, Freeman, Main & Burke, 1995-

b; Régis Filho & Lopes, 1997; Lusvarghi, 1999; Caldeira-Silva et al., 2000; Michelin et

al., 2000; Santos Filho & Barreto, 2001). Ressaltando, ainda, que 16,4 % reconheceram

a importância da conscientização dos profissionais de Odontologia como forma eficaz

de prevenção, o que está de acordo com os estudos de Nogueira (1983); Barreira

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(1994); Castro et al. (1994); Freeman, Main & Burke (1995-b); Lusvarghi (1999); e,

Michelin et al. (2000). Entretanto, destaca-se o desconhecimento de 11,7 % (N=179)

dos concluintes que afirmam que exercícios manuais com bolinhas de borracha seriam

uma boa medida preventiva nos casos de LER/DORT, este resultado discorda de

Caldeira-Silva et al. (2000) que relatam que os músculos não necessitam de

recondicionamento específico e que, portanto, o uso destes artifícios de borracha

estariam contra-indicados, podendo em alguns casos agravar o problema.

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7. Conclusões7. Conclusões7. Conclusões7. Conclusões

A análise e discussão dos resultados coletados nos permitem concluir que:

!" Um percentual de 94,5% dos formandos pesquisados considera que sua futura

profissão oferece algum risco a sua própria saúde, sendo que os riscos mais citados

foram: risco biológico (31,2%), risco de adquirir LER/DORT (28,1%) e risco de

desenvolvimento de problemas auditivos (912,6%).

!" A maior parte dos pesquisados (95,6%) relatou conhecer a Síndrome de

LER/DORT, sendo que 37,3% de um total de 175 formandos afirmaram ter obtido

informações sobre este assunto no Curso de Graduação.

!" As informações recebidas sobre LER/DORT, durante o período acadêmico foram

avaliadas pelos concluintes pesquisados como sendo regular por um percentual de

35,5% (N=138).

!" O grau de informação dos concluintes, em relação a estas afecções, foi considerado

satisfatório, pois a maior parte das questões relacionadas aos seus aspectos clínico-

epidemiológicos (sinais e sintomas, regiões acometidas, fatores de risco e prevenção)

foi respondida corretamente. No entanto, apesar dos formandos terem boas noções

teóricas sobre esta Síndrome, 76,2% de 102 concluintes relataram que este assunto

deveria ter sido mais abordado na prática.

!" A maioria dos formandos (93%) afirmou que seu Curso de Graduação oferece aulas

sobre Ergonomia. Contudo, em se tratando de Ergonomia aplicada à Odontologia,

particularmente, na questão sobre a posição preconizada para o equipamento de

Operação (Equipo), as respostas mais freqüentes foram em branco, denotando,

portanto, que os concluintes ignoram esta questão considerada primordial para a

prevenção de LER/DORT, na odontologia.

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8. Considerações Finais8. Considerações Finais8. Considerações Finais8. Considerações Finais

Apesar do grau de informação sobre LER/DORT, neste estudo, ter sido

considerado satisfatório, este se revela insuficiente para a prevenção destas afecções,

já que a Prevalência destas têm aumentado cada vez mais no meio odontológico.

Sugerimos, para a prevenção da Síndrome em Odontologia, que sejam criadas

oportunidades para que profissionais e estudantes possam conhecer melhor sobre o

assunto tanto na teoria, quanto na prática e, desta forma, reduzir os fatores de risco

presentes no ambiente de trabalho. Julgamos necessário que os Órgãos competentes,

tais como, Conselho Regional de Odontologia, Sindicato dos Odontologistas e

Instituições de Ensino Superior (IES) implementem programas de conscientização,

destacando, neste caso, o importante papel desempenhado pelas IES, uma vez que

quanto mais cedo o profissional for conscientizado, menor probabilidade terá de ser

acometido por estas afecções.

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ANEXO 1

QUESTIONÁRIO

Grau de Informação sobre as LER/DORT nos Concluintes de Odontologia em

Pernambuco

1. Sexo F ( ) M ( )

2. Idade _____ anos

3. Assinale, por favor, a Instituição de Ensino a qual pertence:

( ) U.F.PE

( ) F.O.P

4. Você considera que o Trabalho do Cirurgião-Dentista (CD) apresenta algum risco à

sua saúde?

Sim ( ) Não ( )

Se Sim, explique e apresente três principais riscos:

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Se Não, justifique:

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

5. Seu Curso de Graduação oferece conhecimentos sobre Ergonomia? Sim ( ) Não ( )

Se sim, em qual (is) Disciplina (as)?

______________________________________________________________________

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6. Qual a sua opinião quanto a disponibilização de informações sobre Ergonomia

oferecidas pelo Curso de Odontologia?

( ) Péssimo ( ) Bom

( ) Ruim ( ) Muito bom

( ) Regular ( ) Excelente

Justifique sua resposta:

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

7. Indique a posição mais adequada para o paciente, na maioria dos procedimentos:

( ) posição supina

( ) sentado

( ) Posição de Trendelemburg

( ) deitado de lado

8.Qual destas posições é melhor recomendada para o operador (CD) destro e utilizando

visão direta:

( ) 12 horas ( ) 9 horas

( ) 11 horas ( ) 8 horas

9.Assinale a alternativa que corresponde à posição preconizada para o Equipo:

( ) Tipo 1 ( ) Tipo 3

( ) Tipo 2 ( ) Tipo 4

10. Você conhece a Síndrome Lesões por Esforços Repetitivos (L.E.R.)/ Distúrbios

Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (D.O.R.T) ?

( ) Sim ( ) Não

11. Em qual (is) destes meios você obteve informações sobre LER/DORT?

( ) Curso de Odontologia ( ) Internet

( ) Congressos, Jornadas e Simpósios de Odontologia ( ) Diretório Acadêmico (DA)

( ) Periódicos e Jornais Científicos/ Livros Didáticos ( ) Não conheço

( ) Meios de Comunicação de massa (TV, Rádio, jornal etc.) ( ) Outros

______________________________________________________________________

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12. Caso você tenha recebido informações no Curso de Odontologia, qual a sua opinião

quanto a disponibilização de informações sobre LER/DORT oferecidas pelo mesmo?

( ) Péssimo ( ) Bom

( ) Ruim ( ) Muito bom

( ) Regular ( ) Excelente

Justifique sua resposta:

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

13. Assinale, abaixo, o que você conhece como sendo os principais sinais e sintomas

das LER/DORT:

( ) Parestesia ( ) Rompimento de tendões e ligamentos

( ) Fadiga ( ) Inflamação

( ) Osteoporose ( ) Sensação de peso

( ) Dor ( ) Edema

14.Quais destas regiões do corpo são mais freqüentemente acometidas, nos

Cirurgiões-Dentistas, pelas LER/DORT?

( ) Pescoço e Região Escapular ( ) Quadris

( ) Coluna Cervical ( ) Cotovelo

( ) Coluna Lombar ( ) Olhos

( ) Ombro ( ) Tornozelo

( ) Punho ( ) Braço

( ) Pés ( ) Mãos

15. Quais destes fatores de risco relacionados ao trabalho, você considera relevantes

na ocorrência das LER/DORT, na categoria odontológica?

( ) Ruído ( ) Vibração do equipamento

( ) Radiação ( ) Previsibilidade das tarefas

( ) Vírus ( ) Metas de produtividade

( ) Esforço físico intenso ( ) Jornada de trabalho prolongada

( ) Exigência de postura inadequada ( ) Insatisfação social e pessoal

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( ) Pressão da chefia e clientes ( ) Mercúrio

( ) Ausência de auxiliares ( ) Iluminação

( ) Bactéria ( ) Temperatura

( ) Ausência de pausas ( ) NDR

16. Assinale as alternativas que você considera importantes na PREVENÇÃO das

LER/DORT?

( ) Administração de antiinflamatórios ( ) Acupuntura e Fisioterapia

( ) Exercícios manuais com bolinhas de borracha ( ) Ambiente agradável de trabalho

( ) Realização de pausas ( ) Conscientização dos trabalhadores sobre as LER/DORT

( ) Exercícios de alongamento e relaxamento ( ) Adequação dos equipamentos de acordo

( ) NDR com análise Ergonômica