GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo, Editora Atlas,

2002.

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1 – Como encaminhar uma Pesquisa?

A pesquisa é um projeto racional e sistemático com objetivo de proporcionar

respostas aos problemas que são propostos, através da utilização cuidadosa de métodos,

técnicas e outros procedimentos científicos até a satisfatória apresentação dos resultados.

Elas podem ter razões de ordem intelectual e/ou razões de ordem prática, designadas

como “puras” e/ou “aplicadas”. Para isso é necessário que, além das qualidades pessoais

do pesquisador, consideremos os recursos humanos, materiais e financeiros necessários

a sua efetivação.

O projeto de pesquisa é uma ação planejada que envolve a formulação de

problema (claramente elaborado), a especificação de seus objetivos (bem determinados),

uma justificativa para a sua realização, a construção de hipóteses e a operacionalização

dos conceitos (modalidade de pesquisa, os procedimentos de coleta e análise dos dados),

entre outros. É o projeto que possibilitará, em muitos casos, esquematizar os tipos de

atividades e experiências criativas.

2 – Como formular um Problema de Pesquisa?

É preciso, primeiramente, verificar se o problema cogitado se enquadra na

categoria de científico, ou seja, quando um problema envolve variáveis que podem ser

tida como testáveis, que podem seguir algumas regras práticas, como (a) o problema

deve ser formulado como pergunta sobre o tema, pois assim provoca-se uma

problematização; (b) o problema deve ser claro e preciso, através do emprego de termos

rigorosamente definidos, pois somente assim, há indícios de que o fenômeno poderá ser

medido; (c) o problema deve ser empírico, estudado como fatos ou “coisas”, e não

possui julgamentos morais ou de valores; (d) o problema deve ser suscetível de solução;

e (e) o problema deve ser delimitado a uma dimensão viável.

3 – Como construir Hipóteses?

A hipótese é uma proposição, ou seja, uma expressão verbal suscetível de ser

declarada verdadeira ou falsa, testável, que pode vir a ser a solução do problema.

As hipóteses podem (1) ser casuísticas, ou seja, algo que ocorre em um

determinado caso, em que são tidos como únicos; (2) referirem-se à frequência de

acontecimentos, ao antecipar que uma determinada característica ocorra em maior ou

menor frequência, em determinado grupo, sociedade e/ou cultura; (3) estabelecer

relações de associação entre variáveis, com o objetivo de conferir maior precisão

(descrição) aos enunciados científicos, sejam hipóteses, teorias, leis, princípios ou

generalizações; (4) estabelecer relações de dependência entre duas ou mais

variáveis, em que uma variável interfere na outra, estabelecendo relações de causa e

efeito, por exemplo.

O processo de elaboração da hipótese é de natureza criativa, e ela pode se

originar a partir da observação de relações entre os fatos do dia-a-dia, baseado em

resultado de outras investigações, derivadas de teorias (conjunto mais amplo de

conhecimento das ciências), ou da intuição. Entretanto, para que ela possa ser

logicamente aceitável, ela deve ter seus referentes variáveis claramente definidos,

preferencialmente operacionalizáveis e especificados com precisão, observáveis através

da observação, parcimoniosa (hipótese simples preferível a uma mais complexa),

passível de ser testada empiricamente, com técnicas adequadas de coleta de dados e com

um sistema teórico consistente, com maior poder de explicação do que as anteriores.

4 – Como classificar as Pesquisas?

A classificação ocorre com base em objetivos gerais, a saber, (1) Pesquisa

Exploratória: com o objetivo de proporcionar uma maior familiaridade com o

problema, torná-lo mais explícito ou construir hipóteses. Elas envolvem (a)

levantamento bibliográfico; (b) entrevistas com pessoas que tiveram experiências

práticas com o problema pesquisado; e (c) análise de exemplos que “estimulem a

compreensão” (Selltiz et al., 1967, p.63, apud Gil, 2002); (2) Pesquisa Descritiva: com

o objetivo de descrever as características de determinada população e/ou fenômenos e o

estabelecimento de relações entre variáveis, determinando a natureza dessa relações; (3)

Pesquisa Explicativa: cuja preocupação central é a de identificar os fatores que

determinam ou que contribuem para a ocorrência dos fenômenos, aprofundando o

conhecimento da realidade ao explicar a razão, o porquê das coisas.

A classificação das pesquisas é importante para estabelecer o marco teórico e a

aproximação conceitual e operativo da pesquisa. O delineamento (design) da pesquisa,

ou seja, o seu planejamento em sua dimensão mais ampla, deve considerar o ambiente

em que são coletados os dados e as formas de controle das variáveis envolvidas, cujas

fontes podem ser o “papel” (fontes bibliográficas), ou aqueles fornecidos por pessoas,

como em pesquisas de experimentais, o delineamento mais prestigiado nos meios

científicos, pois o pesquisador torna-se um agente ativo para testar hipóteses e

estabelecer relações de causa e efeito entre as variáveis.

A pesquisa ex-post facto ocorre “a partir de um fato passado”, após a ocorrência

de variações na variável dependente no curso natural dos acontecimentos, identificando

situações que se desenvolveram naturalmente, sem o controle do pesquisador; o estudo

de coorte leva em consideração grupos de pessoas que possuam alguma característica

em comum (um grupo controle e outro experimenta), os quais são acompanhados por

algum tempo, com o objetivo de observar e analisar o que ocorre com elas; o

levantamento é uma interrogação direta às pessoas, como por exemplo, o censo, ou um

levantamento por amostragem, com características mais descritivas do que explicativas;

o estudo de campo, com o foco em uma comunidade, corresponde a uma imersão do

pesquisador no cotidiano dessa comunidade; o estudo de caso é um estudo profundo e

exaustivo de um ou poucos objetos, de maneira a permitir o seu amplo e detalhado

conhecimento, cujos resultados podem ser apresentados na condição de hipóteses e não

de conclusões, proporcionando uma visão global do problema ou de identificar

possíveis fatores que o influenciam ou são por ele influenciados; a pesquisa ação “é um

tipo de pesquisa com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação

com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual, pesquisadores e

participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo

cooperativo ou participativo” (Thiollent, 1985, p.14, apud Gil, 2002).

5 – Como delinear uma Pesquisa Bibliográfica?

A pesquisa bibliográfica envolve as seguintes etapas: (1) escolha do tema; (2)

levantamento bibliográfico preliminar; (3) formulação do problema; (4) elaboração do

plano provisório do assunto; (5) busca das fontes; (6) leitura do material: exploratória,

seletiva, analítica, interpretativa; (7) fichamento; (8) organização lógica do assunto; (9)

redação do texto.

6- Como delinear uma Pesquisa Documental?

A pesquisa documental envolve as seguintes etapas: (1) determinação dos

objetivos; (2) elaboração do plano de trabalho; (3) identificação das fontes; (4)

localização as fontes e obtenção do material; (5) tratamento dos dados; (6) confecção

das fichas e redação do trabalho; (7) construção lógica e redação do trabalho.

7 – Como delinear uma Pesquisa Experimental?

Os passos da Pesquisa Experimental são: (1) formulação do problema; (2)

construção das hipóteses; (3) operacionalização das variáveis; (4) definição do plano

experimental: (4.1) plano de uma única variável; (4.2) planos fatoriais; (5) determinação

dos sujeitos; (6) determinação do ambiente; (7) coleta de dados; (8) análise e

interpretação dos dados; (9) apresentação das conclusões.

8 – Como delinear uma Pesquisa Ex-post facto?

Na pesquisa ex-post facto podemos identificar as seguintes etapas: (1)

formulação do problema; (2) construção das hipóteses; (3) operacionalização das

variáveis; (4) localização dos grupos para investigação; (5) coleta de dados; (6) análise e

interpretação dos dados; (7) apresentação das conclusões.

9 – Como delinear um Estudo de Coorte?

Esta pode ser esquematizada nas seguintes etapas: (1) formulação do problema;

(2) construção das hipóteses; (3) operacionalização das variáveis; (4) seleçãodos

participantes; (5) acompanhamento dos participantes e verificação dos efeitos; (6)

análise e interpretação dos dados; (7) apresentação dos resultados.

10 – Como delinear um Levantamento?

A sequencia das fases de um levantamento podem ser listadas como sendo: (1)

especificação dos objetivos; (2) operacionalização dos conceitos e variáveis; (3)

elaboração do instrumento de coleta de dados; (4) pré-teste do instrumento; (5) seleção

da amostra; (6) coleta e verificação dos dados; (7) análise e interpretação dos dados; (8)

apresentação dos resultados.

11 – Como delinear Estudos de Campo?

A especificidade de cada Estudo de Campo acaba por ditar os seus próprios

procedimentos. Entretanto, é possível definir algumas de suas etapas, observáveis na

maioria dos estudos com essa característica conforme a seguir: (1) elaboração do projeto

inicial; (2) exploração preliminar; (3) formulação do projeto de pesquisa; (4) pré-teste

dos instrumentos e procedimentos de pesquisa; (5) coleta de dados; (6) análise dos

dados: redução, categorização, interpretação; (7) redação do relatório.

12 – Como delinear um Estudo de Caso?

Yin (2001) e Stake (2000), apud Gil, 2002, definem um conjunto de etapas que

podem ser seguidas na maioria das pesquisas definidas como Estudo de Caso, apesar de

não haver um consenso em relação às etapas a serem seguidas. São algumas delas: (1)

formulação do problema; (2) definição da unidade-caso: instrínseco, instrumental ou

coletivo; (3) determinação do número de casos; (4) elaboração do protocolo: visão

global do projeto, procedimentos de campo, determinação das questões, guia para

elaboração do relatório; (5) coleta de dados; (6) avaliação e análise dos dados; (7)

preparação do relatório.

13 – Como delinear uma Pesquisa-ação?

A ação dos pesquisadores e dos grupos interessados faz com que ocorra um

constante vaivém entre as fases, que é determinado pela dinâmica do grupo de

pesquisadores em seu relacionamento com a situação pesquisada. Alguns conjuntos de

ações, não necessariamente ordenadas temporalmente, podem ser considerados: (1) fase

exploratória; (2) formulação do problema; (3) construção de hipóteses; (4) realização do

seminário; (5) seleção da amostra; (6) coleta de dados; (7) análise e interpretação dos

dados; (8) elaboração do plano de ação; (9) divulgação dos resultados.

14 – Como delinear uma Pesquisa Participante?

O modelo apresentado, baseado em Le Boterf (1984) e Gajardo (1984) apud Gil,

2002, é baseado em quatro fases: (1) montagem institucional e metodológica; (2) estudo

preliminar e provisório da região e da população pesquisada; (3) análise crítica dos

problemas; (4) programa ação e aplicação de um plano de ação.

15 – Como calcular o tempo e o custo do projeto?

Deve-se levar em consideração (1) a dimensão administrativa da pesquisa; (2) o

cronograma da pesquisa; (3) o orçamento da pesquisa.

16 – Como redigir o projeto de pesquisa?

Alguns elementos considerados essenciais e outros itens inerentes à

especificidade da pesquisa torna o modelo relativamente flexível. O roteiro apresentado,

seguindo as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

Em relação à estruturação do texto, alguns dos itens a serem considerados são:

(1) Introdução, com uma justificativa, uma definição e delimitação do problema, revisão

da literatura, objetivos e/ou hipóteses; (2) Metodologia, informando o tipo de pesquisa,

a população e amostra, a coleta e análise dos dados; (3) cronograma de execução; (4)

suprimentos e equipamentos; (5) custo do projeto. tipo que

Em relação ao estilo do texto, devem ser mantidos a impessoalidade, a a

objetividade, a clareza, a precisão, a coerência, a concisão e a simplicidade.