giardiose 1. introduÇÃo · sintomática: diarreia e dor abdominal ... assintomática e raramente...

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1 GIARDIOSE 1. INTRODUÇÃO Infecção por parasitas (protozoários) - I.D. Maioria: assintomáticas Sintomática: diarreia e dor abdominal (agudo) Crônico: fezes amolecidas, com aspecto gorduroso, anorexia Zoonose (ANFIXENOSE) IMPORTÂNCIA: Má absorção nutrientes Retardo no desenvolvimento do hospedeiro Crianças Animais de produção 2. SINONÍMIA: Enterite por giárdia 3. HISTÓRICO: 1681 - Giardia lamblia observada pela 1ª vez por Leeuwenhoek em suas próprias fezes (“animalúnculos móveis”) 1859 descrito pelo médico tcheco Lambl (Cercomonas intestinalis) 1915 zoólogo Charles Stiles Giardia lamblia 1979 - reconhecida como zoonose pela Organização Mundial de Saúde Primeiro protozoário humano a ser conhecido 4. IMPORTÂNCIA ECONÔMICA SAÚDE ANIMAL Países desenvolvidos e em desenvolvimento Rebanhos e Pets (cães e gatos) Giardíase: doença protozoal entérica clinicamente mais importante em cães e gatos Animais de rua e aglomerados (canis, lojas)

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GIARDIOSE

1. INTRODUÇÃO

Infecção por parasitas (protozoários) - I.D.

Maioria: assintomáticas

Sintomática: diarreia e dor abdominal (agudo)

Crônico: fezes amolecidas, com aspecto gorduroso, anorexia

Zoonose (ANFIXENOSE)

IMPORTÂNCIA:

Má absorção nutrientes

Retardo no desenvolvimento do hospedeiro

Crianças

Animais de produção

2. SINONÍMIA:

Enterite por giárdia

3. HISTÓRICO:

1681 - Giardia lamblia observada pela 1ª vez por Leeuwenhoek em suas próprias fezes

(“animalúnculos móveis”)

1859 – descrito pelo médico tcheco Lambl (Cercomonas intestinalis)

1915 – zoólogo Charles Stiles – Giardia lamblia

1979 - reconhecida como zoonose pela Organização Mundial de Saúde

Primeiro protozoário humano a ser conhecido

4. IMPORTÂNCIA ECONÔMICA – SAÚDE ANIMAL

Países desenvolvidos e em desenvolvimento

Rebanhos e Pets (cães e gatos)

Giardíase: doença protozoal entérica clinicamente mais importante em cães e gatos

Animais de rua e aglomerados (canis, lojas)

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5. PREVALÊNCIA EM ANIMAIS:

Cães (VASCONCELOS, 2003)

Prevalência: 12 a 50%

Cães em canis: até 32% / Gatos: 1,4 a 11%

Cães adultos: assintomática e raramente é detectada

Jovens: sinais clínicos podem estar presentes

Jovens: (XIAO, 2004)

Gatos: 15%

Cães: 20 – 35%

Bezerros: 5 – 90%

Suínos: 7 – 44%

Prejuízos econômicos: comprometer o desenvolvimento e o desempenho do animal

Bovinos: (THOMPSON, 2004)

Mundial: corte e leiteiro

Taxas altas de infecção: jovens

Relatos de taxas de prevalência de 100%

Rebanhos EUA, Austrália, Europa

Perdas econômicas – diarreia

Ovinos: (Aloísio et al. ,2006)

G. duodenalis: causar uma síndrome de má absorção grave em cordeiros

perdas econômicas

Diagnóstico diferencial: decréscimo no ganho de peso ou em casos

prolongados de diarreia que não são responsivos ao tratamento com

antibióticos

6. IMPORTÂNCIA - SAÚDE PÚBLICA

Uma das principais parasitoses intestinais no Brasil

Acomete ampla variedade de hospedeiros: homem e animais mamíferos (zoonose)

Estreito relacionamento homem/animal favorece a transmissão

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Relacionada à falta de higiene e saneamento (econômico e social)

7. DISTRIBUIÇÃO:

Mundial

Maior prevalência: países em desenvolvimento

Epidemias: aglomerações humanas

Instituições fechadas (asilos, enfermarias)

Crianças: creches e orfanatos (8 meses - 12 anos)

Ingestão de água / recreacional

HIV +

Diarreia dos viajantes (endêmica)

8. PREVALÊNCIA EM HUMANOS:

Países ricos: 5%

Países pobres: 40% (OIE, 2010)

Brasil: 28,5% indivíduos assintomáticos e sintomáticos (Neves, 2004)

Brasil - Crianças – creche:

Prevalência: 4 a 30% até 50%

Creches: 20 a 60% (COMUNIDADE MÉDICA, 2004)

Creche pública – Rio Grande (RS)

Prevalência geral: 64,2% parasitas (106/165)

Mais prevalente: Giardia lamblia (30,3%) (Berne, 2007)

9. SURTO ZOONÓTICO:

EUA – 1976

Cidade de 6 mil habitantes 128 casos

Manancial em área montanhosa castores infectados (fezes contaminaram a água

de abastecimento)

10. ZOONOSE:

Isolados humanos e animais – similaridade genética

Potencial zoonótico

2004 – entrou para a Lista de Doenças Negligenciadas da OMS

Estratégias de controle em países pobres

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11. ETIOLOGIA:

Protozoário flagelado

Filo: Sarcomastigophora

Classe: Zoomastigophorea

Ordem: Diplomonadida

Família: Hexamitidae

Gênero: Giardia

Determinação da espécie de Giardia

Morfologia do parasita e espécie de hospedeiro

Giardia duodenalis, G. lamblia, G. intestinalis (sinônimo)

Humanos e mamíferos (domésticos) Potencial zoonótico

G. canis (cão)

G. muris (roedores)

G. agilis (anfíbios)

G. ardae (garças)

G. psittaci (aves)

G. microti (ratos silvestres) Específicas de animais

Zoonose: G. duodenalis

Atualmente: análise molecular (DNA)

7 grupos genéticos

12. CICLO DE VIDA:

Monoxeno (em uma só espécie de hospedeiro)

2 formas evolutivas

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13. TROFOZOÍTO:

• Forma ativa (alimenta / reproduz rapidamente )

• Coloniza I.D.

• Piriformes (pêra)

• 12 a 15 μm de compr. x 5 a 9 μm de largura

• Móveis

• 4 pares de flagelos

• 2 núcleos

• Face ventral côncava (ventosa)

• Fixar enterócito (nutrição)

• Não invasora mucosa intestinal

14. CISTO:

• (forma infectante)

• Forma de resistência no ambiente

• Eliminado fezes (diagnóstico)

• Imóvel

• Ovóide

• 12μm de compr. x 8μm de largura

• 2 ou 4 núcleos

• Membrana dupla

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15. RESISTÊNCIA - CISTOS

Cistos: alta resistência ambiental.

2 meses no exterior - úmido

Cloração da água

Aquecimento até 60°C

16. INATIVAÇÃO

- 4ºC

Fervura da água / 5 min.

Desinfetantes (quaternário de amônio)

Dessecação / luz solar

17. CICLO DE VIDA:

Cisto (fezes, água, alimentos)

Ingestão

Desencistamento no estômago/jejuno (pH ácido)

Trofozoíto

Multiplicação (divisão binária)

Coloniza ID (tapete) – ventosa

Ceco (pH alcalino e sais biliares)

Encistamento

Cisto

Fezes

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18. EPIDEMIOLOGIA:

Fonte de infecção

Humanos infectados

Animais domésticos e silvestres infectados

Reservatório

Ruminantes (bovinos e ovinos) – para ser humano

Contaminação ambiental com as fezes

Via de eliminação

Fezes

Bezerros: maiores taxas de excreção de cistos (1 milhão cistos/grama - entre 4

e 12 semanas de idade)

900 milhões cistos / dia (intermitente)

Via de transmissão: FECAL - ORAL

Ingestão de CISTOS

Água / alimentos com cistos (origem humana ou animal) (indireta)

Contaminação mãos com cistos (direta) ingestão

Babás / cuidadores / enfermeiros (falta de higiene)

Contato estreito com animais (pets ou ocupacional

Veterinário, funcionários, moradores

Porta de entrada

Oral – mucosa digestória

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Hospedeiro susceptível

Homem (jovens, imunossuprimidos, idosos)

Animais

19. TRANSMISSÃO HÍDRICA:

Principal atinge uma população toda

Bovinos (bezerros) – F.I. fezes com cisto água

Área de pastagem – escoamento superficial

Esgoto humano / dejeto animal água

Água com cistos irrigação hortaliças!

Cloração não elimina cisto (filtração)

Falha em sistema de tratamento de água

Água não tratada

20. PATOGENIA:

Baixa dose infectante (< 10 cistos)

Fixação dos trofozoítos na mucosa do ID (“atapetamento”) Atrofia das vilosidades

Inflamação Redução atividades de enzimas intestinais Má absorção

Aumento motilidade intestinal Diarreia

Complicação: Síndrome da má absorção

DOENÇA NO HUMANO:

Período de incubação: 1 – 4 sem. (média 10 dias)

Período pré-patente de 10 a 16 dias (cistos nas fezes)

2 formas clínicas: idade, resposta imunológica, grau de infestação

Assintomática ou Sintomática

Aguda: diarreia aquosa (gordurosa), dor estomacal, náusea, vômito, distensão

abdominal, flatulência, perda de peso

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Crônica: diarreia recorrente e breve

21. IMUNIDADE: Sem imunidade protetora duradoura

Existe uma resposta imune infecção auto-limitante Certo grau de resistência após primeira infecção – adultos

Detecção de Acs específicos

Menor susceptibilidade – área endêmica

22. PERÍODO DE TRANSMISSIBILIDADE: Período de transmissibilidade: enquanto persistir a infecção Importância epidemiológica da F.I. assintomática

23. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL: Laboratorial: exame parasitológico das fezes

Identificação de cistos no exame direto de fezes (fezes formadas)

Método de Faust – fezes frescas: centrifugação e flutuação (solução de sulfato de zinco 30%)

3 amostras de fezes – maior sensibilidade (7 dias)

Identificação de trofozoítos no fluido duodenal - aspiração / biópsia (fezes diarreicas)

Detecção de antígenos nas fezes (ELISA) - confirmativo

PCR

Semelhante em humano e animal 24. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL: Enterites causadas por protozoários, bactérias ou outros agentes infecciosos 25. TRATAMENTO EM HUMANO: (MS, 2010) Medicamentoso – antiparasitário

Paliativo e sintomático

Fluidoterapia (mulheres grávidas e crianças)

26. TRATAMENTO NOS ANIMAIS: Metronidazol

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Mebendazol e albendazol

Quinacrina

Furazolidona

Ipronidazol

Benzimidazóis

Vacinação (?) – Justifica-se no caso de um canil !

27. VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA: Objetivos

Diagnosticar e tratar os casos para impedir a transmissão direta ou indireta da infecção a outros indivíduos

Não é doença de notificação compulsória

Surtos – notificados órgão de saúde local (Secret. Munic.Saúde) 28. PREVENÇÃO E CONTROLE: Higiene pessoal / Educação sanitária

Lavar as mãos – trocar fraldas, banheiro

Contato com animais (pets ou criação)

Higiene ao preparar alimentos

Saneamento básico – tratamento água, tratamento de esgoto

Isolamento - Pessoas com giardíase devem ser afastadas do cuidado de crianças.

Tratamento das pessoas infectadas

Tratamento dejeto animais (evitar contaminação solo, água, hortas)

Evitar doença nos animais: Limpeza instalações animais, vacinação de cães e gatos, cuidado com água de consumo animal

29. CONCLUSÕES: Ação médico veterinário.

Diagnóstico e controle nos animais.

Medidas de educação em saúde (zoonose).

Problema socioeconômico – saneamento.

Prevenir é mais fácil (e barato) que remediar.

PRINCIPAIS REFERÊNCIAS: 1. ACHA, P. N.; SZYFRES, B. Zoonoses and Communicable Diseases Common to Man and

Animals. 3. ed. Vol. I, II, III. Scientific and Technical Publication nº 580, Parasitoses.

Washington, D.C.: PAHO 2003.

2. CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA VETERINÁRIA DO RIO GRANDE DO SUL. Programa de

zoonoses – Região Sul. Manual de zoonoses. 1ª ed. Volume II. 2011.