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GESTÃO SOCIAL E GOVERNANÇA EM REDE DE POLÍTICAS PÚBLICAS NO BRASIL: Coproduzindo uma Tecnologia em Gestão Social com o Coletivo de Mulheres do Bairro do Calafate. Salvador Bahia Brasil. Elizabeth Matos Ribeiro-NPGA/PDGS-UFBA ([email protected]) Walter de Oliveira Pinto Júnior-PDGS-UFBA([email protected]) RESUMO Este artigo apresenta a concepção teórico-metodológica e uma discussão preliminar sobre os resultados da pesquisa realizada como objeto da dissertação de Mestrado defendida no Programa de Desenvolvimento e Gestão Social da Universidade Federal da Bahia (PDGS- UFBA), em 2017. O objetivo central desse estudo foi contribuir para o fortalecimento institucional e a formação cidadã do Coletivo de Mulheres do Calafate, organização social que atua há 25 anos na proteção de mulheres em situação de violência em Salvador-BA. O foco desse trabalho foi desenvolver metodologias que possibilitassem o desenvolvimento de coprodução de tecnologias em gestão social dirigidas para o fortalecimento do protagonismo social feminino nas políticas públicas baianas. PALAVRAS-CHAVES: Gestão Social; Governança Pública; Rede de Políticas Públicas; Tecnologias de Gestão Social; Violência contra Mulheres. NOTA BIOGRÁFICA DOS AUTORES: Elizabeth Matos Ribeiro Doutora em Ciências Políticas e da Administração pela Universidade de Santiago de Compostela-Espanha (2000). Professora Associada I da UFBA É líder do Grupo de Pesquisa Núcleo de Estudos Conjunturais em Administração-NEC e vice-líder do Grupo de Pesquisa em Administração Política. Integra o Grupo de Espaços Deliberativos e Governança Pública, apoiado pela CLACSO. Walter de Oliveira Pinto Junior Mestre no Programa de Desenvolvimento e Gestão Social pelo PDGS-UFBA (2017). Especialista em Gestão de Políticas Públicas de Gênero e Raça. Vice Coordenador do Projeto de Pesquisa e Extensão Estratégias de Governança em Rede de Políticas Públicas: Coproduzindo Tecnologias Sociais para o Enfrentamento das violências contra a Mulher, o Racismo e a Lgbtfobia" apoiado pela UFBA. 1. Introdução Este artigo apresenta a concepção teórico-metodológica e uma discussão preliminar sobre os resultados da pesquisa realizada como objeto da dissertação de Mestrado defendida no Programa de Desenvolvimento e Gestão Social da Universidade Federal da Bahia (PDGS-

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GESTÃO SOCIAL E GOVERNANÇA EM REDE DE POLÍTICAS PÚBLICAS NO BRASIL: Coproduzindo uma Tecnologia em Gestão Social com o Coletivo de Mulheres do Bairro do Calafate. – Salvador – Bahia – Brasil.

Elizabeth Matos Ribeiro-NPGA/PDGS-UFBA ([email protected])

Walter de Oliveira Pinto Júnior-PDGS-UFBA([email protected])

RESUMO

Este artigo apresenta a concepção teórico-metodológica e uma discussão preliminar sobre os resultados da pesquisa realizada como objeto da dissertação de Mestrado defendida no Programa de Desenvolvimento e Gestão Social da Universidade Federal da Bahia (PDGS-UFBA), em 2017. O objetivo central desse estudo foi contribuir para o fortalecimento institucional e a formação cidadã do Coletivo de Mulheres do Calafate, organização social que atua há 25 anos na proteção de mulheres em situação de violência em Salvador-BA. O foco desse trabalho foi desenvolver metodologias que possibilitassem o desenvolvimento de coprodução de tecnologias em gestão social dirigidas para o fortalecimento do protagonismo social feminino nas políticas públicas baianas. PALAVRAS-CHAVES: Gestão Social; Governança Pública; Rede de Políticas Públicas; Tecnologias de Gestão Social; Violência contra Mulheres. NOTA BIOGRÁFICA DOS AUTORES: Elizabeth Matos Ribeiro Doutora em Ciências Políticas e da Administração pela Universidade de Santiago de Compostela-Espanha (2000). Professora Associada I da UFBA É líder do Grupo de Pesquisa Núcleo de Estudos Conjunturais em Administração-NEC e vice-líder do Grupo de Pesquisa em Administração Política. Integra o Grupo de Espaços Deliberativos e Governança Pública, apoiado pela CLACSO. Walter de Oliveira Pinto Junior Mestre no Programa de Desenvolvimento e Gestão Social pelo PDGS-UFBA (2017). Especialista em Gestão de Políticas Públicas de Gênero e Raça. Vice Coordenador do Projeto de Pesquisa e Extensão Estratégias de Governança em Rede de Políticas Públicas: Coproduzindo Tecnologias Sociais para o Enfrentamento das violências contra a Mulher, o Racismo e a Lgbtfobia" apoiado pela UFBA. 1. Introdução

Este artigo apresenta a concepção teórico-metodológica e uma discussão preliminar

sobre os resultados da pesquisa realizada como objeto da dissertação de Mestrado defendida no Programa de Desenvolvimento e Gestão Social da Universidade Federal da Bahia (PDGS-

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UFBA), em 2017. O objetivo central desse estudo foi contribuir para o fortalecimento institucional e a formação cidadã do Coletivo de Mulheres do Calafate1 (CMA), organização social que atua há 25 anos na proteção de mulheres em situação de violência em Salvador-BA. O foco desse trabalho foi, portanto, desenvolver metodologias que possibilitassem o desenvolvimento de coprodução de tecnologias em gestão social dirigidas para o fortalecimento do protagonismo social feminino nas políticas públicas baianas. Nesse sentido, buscou-se avançar nas bases para a formação de uma Rede de Governança em Políticas Públicas.

A abordagem teórica sobre Gestão Social e Governança Pública que orientaram a pesquisa que originou este artigo utilizou como referência central os estudos críticos em Administração com ênfase na teoria da Administração Política. Com essa base conceitual crítica buscou-se contribuir para a coprodução e aplicação de instrumentos tecnológicos inovadores voltados para a melhoria da comunicação e articulação da Rede de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres em Salvador-BA. Partiu-se do pressuposto de que está rede de políticas públicas se configura e atua quando seus atores sociais e institucionais cumprem seu papel social de forma efetiva e qualificada. Nesse sentido, esse artigo tem também como objetivo secundários difundir e discutir com a comunidade científica e a sociedade sobre os possíveis impactos sociais e políticos desse esforço, sobretudo na vida de mulheres em situação de violência doméstica e familiar brasileiras e baianas, em particular.

Esse compromisso acadêmico e social ganha relevo pelo compromisso de construir bases metodológicas inovadoras para ampliar e potencializar oportunidades de novas aprendizagens para o exercício da cidadania no Brasil. Nesse sentido, foram utilizados como recursos metodológicos centrais os recursos disponibilizados pelos jogos educativos, que recebeu aqui a denominação de ‘Jogo Cidadania Ativa’, a pesquisa-ação e a observação participante que integradas deram o suporte necessário para a coprodução da Tecnologia de Gestão Social denominada “Mulheres em Rede”. Conforme já destacado anteriormente, esse esforço teve por finalidade contribuir para a promoção de ações públicas comprometidas com o desenvolvimento socioterritorial com ênfase na garantia dos direitos humanos das mulheres.

A opção por construir uma Tecnologia de Gestão Social (TGS) atendeu as orientações do próprio programa de mestrado que utiliza esse recurso metodológico como instrumento educativo para induzir os mestrandos a produzir projetos acadêmicos que tenham algum impacto junto à sociedade. Para cumprir essa meta foram definidas os seguintes objetivos orientadores da pesquisa aplicada: (a) discutir, inicialmente, o entendimento e articulação dos conceitos de Gestão, Gestão Social e Governança Pública à luz dos Estudos Críticos em Administração e com ênfase na teoria da Administração Política; (b) realizar uma reflexão crítica e contextualizada sobre os conceitos de Políticas Públicas com ênfase na crítica a abordagem dominante da Escola Racional de Políticas Públicas (ARPP) e integrando como contrapontos orientadores do estudo as contribuições das abordagens da Policy Advocacy e da Policy Network; (c) reconhecer a trajetória das Políticas Públicas para as Mulheres no Brasil, na Bahia e em Salvador; e b) desenhar instrumentos metodológicos em gestão social para apoiar

1 Coletivo de Mulheres do Calafate (CMC) instituição social localizada no município de Salvador, estado da Bahia-Brasil, criada em 1992 para dar suporte às mulheres do bairro de San Martin, bairro pobreza da periferia de Salvador. O Coletivo foi criado para dar suporte às mulheres negras e pobres residentes no território, em resposta aos altos índices de violência doméstica registrados. O CMC se caracteriza, essencialmente, como instituição promotora de ações de conscientização das mulheres em situação de violência, através da realização de palestras, oficinas e rodas de conversas, além da articulação de políticas sociais inclusivas junto aos órgãos públicos e outras organizações sociais. O objetivo da organização social é, portanto, educar as mulheres do bairro e de outras localidades com informações referentes à garantia dos direitos humanos e outros temas relevantes para uma formação cidadã. Merece destacar que ao longo dos 25 anos de existência desse coletivo as atividades desenvolvidas revelaram vinculação com outros grupos de atenção à mulher, localizados no município de Salvador, no estado da Bahia e, de algum modo, com outros grupos nacionais.

o desenvolvimento colaborativo de Tecnologias em Gestão Social (TGS) para a promoção do desenvolvimento socioterritorial.

Tomando como referência essas diretrizes a pesquisa se orientou pela seguinte premissa: os movimentos sociais de mulheres, voltados para a promoção de mudanças dos valores que ainda embasam as relações de gênero e perpetuam a manutenção de diversas formas de violência contra as mulheres no Brasil, podem, por meio de uma melhor articulação entre gestão e governança em rede de políticas públicas, contribuir para transformar essa realidade, colaborando, pois, com o processo de empoderamento e garantia do protagonismo social das lideranças femininas do Coletivo estudado.

Com base nessa premissa, o estudo buscou contribuir para a construção de uma agenda positiva de políticas públicas sob a liderança de uma organização da sociedade civil que tem por objetivo apoiar as mulheres em situação de risco, o CMC. Esse esforço criou oportunidades de integrar os atores sociais interessados na concepção, implementação e avaliação de ações públicas com vistas a contribuir para o fortalecimento das possibilidades de coprodução de políticas públicas no Brasil.

Nesse sentido, acredita-se que este trabalho tem relevância por propor, em primeiro lugar, ampliar o escopo teórico-metodológico sobre os conceitos e as articulações possíveis entre gestão, gestão social, governança pública, e, em segundo lugar, por conseguir demonstrar que, apesar da complexidade que envolve as relações entre Sociedade e Estado, é possível avançar na construção de novas bases teórico-metodológicas de práticas sociais inovadores e criativas que possibilitem à sociedade e ao poder público ter uma compreensão mais ampliada das relações sociais, substituindo, desse modo, a abordagem tradicional ‘estadocentrica’ que, por estar comprometida em preservar os interesses dominantes (hegemônicos) acaba aprofundado as desigualdades já consagradas, especialmente no Brasil, impedindo, assim, os avanços necessários para a promoção das transformações sociais. 2. Contextualizando as bases Históricas, Teóricas e Analíticas da Pesquisa

Para orientar melhor o entendimento do objeto de estudo que orientou esse estudo será apresentada uma breve contextualização sobre a evolução histórica e as principais ações públicas realizadas para dar conta da situação de violência sobre as mulheres no Brasil, com destaque para a realidade de um bairro selecionado da cidade de Salvador-BA. Nesse sentido, considerou-se fundamental iniciar essa revisão sociohistórica tomando como base uma afirmação importante feita por Franco (2012, p. 194-195) sobre o sentido de políticas públicas ao afirmar que

[...] política não se restringe à esfera do Estado e de suas instituições. Ela atravessa os domínios da vida cotidiana e se encontra presente nas relações variadas que se estabelecem entre os indivíduos, incluindo aquelas entre homes e mulheres. Também há política as representações e simbologias elaboradas pelos diversos grupos sociais e nas manifestações (espontâneas ou organizadas) em que até mesmo os sentimentos têm peso importante.

Segundo o citado autor, a participação política não pode ser vista como algo restrito à

conquista desses direitos, se referindo, fundamentalmente, à luta pelo sufrágio feminino. É fundamental, pois, reconhecer que a articulação na perspectiva da ação social para a garantia dos direitos da mulher é uma ação de enfrentamento à hegemonia do individualismo e ideologia neoliberal que, para os movimentos em favor dos direitos da mulher e/ou feministas, torna-se uma tarefa árdua pela necessidade de transpor as relações de poder baseadas, ainda, no gênero.

Nesse contexto, merece destacar que uma das estratégias da Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB) é o movimento histórico que tem marcado a luta feminista nas políticas

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públicas e que se consolidou para confrontar os ditames do Estado tradicional (baseado, ainda, em valores e princípios burgueses, patriarcais, sexistas e racistas). Esse movimento tem como meta alcançar uma mudança de vida significativa para as mulheres. Como orientação para o êxito desta articulação e luta política, Gohn (2004) traz a leitura do ‘empoderamento’ da comunidade como ação viabilizadora do protagonismo dos indivíduos e da sociedade na condução de sua própria história. O autor reforça, entretanto, que a emancipação e participação social não passa apenas pela participação da sociedade na esfera pública através da inserção em conselhos e outras formas de inserção institucionalizadas. No caso da experiência brasileira lembra que as conquistas alcançadas a partir de 2003, quando se observa a institucionalização dos espaços formais de participação social, essa conquista, ainda que tenha muita importância, não deve ser considerada como ação substitutiva da atuação do Estado. Ao contrário, alega o autor que os instrumentos de ação política, legitimados pela Constituição Brasileira de 1988 (no seu Art. 6°), devem ser reconhecidas como mecanismos que garantam o cumprimento pleno dos direitos e deveres dos cidadãos, com especial ênfase nos movimentos assertivos que propiciem o acesso pleno às políticas públicas de educação, saúde, segurança, cultura e demais serviços sociais com qualidade e universalidade.

Como consequência direta do processo recente de construção e consolidação das bases democráticas no Brasil, com vistas a garantir a participação plena das mulheres na construção das políticas públicas, cabe destacar a criação, em 1985, do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, fruto da articulação conjunta entre os movimentos sociais (feministas) e as lideranças políticas responsáveis pela Constituinte. Conforme destaca Ferreira (2005, p. 27),

Constituinte pra valer tem que ter palavra de mulher! Esse é o lema do lobby do batom, força-tarefa que reúne mulheres dos mais variados partidos e movimentos sociais. Elas elaboram emendas populares e recolhem milhares de assinaturas por todo o país, debatem com deputados, partidos, autoridades do Executivo e do Judiciário e com a sociedade civil. A Carta das Mulheres Brasileiras para os Constituintes, entregue durante a solenidade no Congresso Nacional, foi a primeira plataforma política feminista para a sociedade brasileira, trazendo propostas pertinentes a todas as cidadãs e cidadãos brasileiros.

Sob o ponto de vista das conquistas sociais recentes no Brasil, Theodoro (2003) ressalta

que apesar de se observar no contexto Pós-Constituinte uma gradativa ampliação dos gastos sociais no Brasil, é fundamental ter atenção para o fato de que esse esforço não tem sido acompanhado de todos os elementos que possam garantir um processo de participação social mais efetivo e qualificado, dirigido para a construção de bases sólidas e inclusivas do Estado democrático de direito. Ressalta, pois, que é fundamental observar os contextos políticos que podem mascarar uma falsa realidade do que se espera de uma verdadeira democracia, isto é, que garanta, efetivamente, a defesa e o alcance pleno dos direitos e deveres sociais.

Reforça essa análise crítica Garcia (2006, p. 129) ao afirmar que

Se, de um lado, foi uma conquista da sociedade, que mobilizou no processo constituinte, do outro tem representado ambiguidades no discurso e nas práticas dos diversos segmentos, que ficam no limite da autonomia de se atuar nesses espaços para a democratização das gestões. Mas é preciso estar atento para as frequentes manipulações do poder público que, muitas vezes, se utiliza de muitos segmentos para legitimar suas políticas e dividir o ônus de políticas desastradas.

No que se refere à contribuição do processo participativo em um contexto social global

e local, que tem como base as novas tecnologias da informação e comunicação merece destacar

as contribuições trazidas sobre esse tema por Castells (2012, p. 23-24), especialmente ao introduzir o conceito de sociedade em rede. Esse conceito é fundamental para o objetio desse estudo que é contribuir para a emancipação e empoderamento das mulheres em situação de violência em Salvador. Segundo a abordagem da ação comunicativa de Habermas trazida pelo autor, é importante considerar, pois, que quando se desencadeia o processo de ação política, compreendida como base fundamental para promover a indução da ação dos atores sociais em direção às mudanças coletivas, prevalece

[...] a mais poderosa emoção positiva: o entusiasmo, que reforma a mobilização societária intencional. Indivíduos entusiasmados, conectados em rede, tendo superado o medo, transformam-se num ator coletivo consciente. Assim, a mudança social resulta da ação comunicativa que envolve a conexão entre redes de redes neurais dos cérebros humanos estimulados por sinais de um ambiente comunicacional formado por redes de comunicação. A tecnologia e a morfologia dessas redes de comunicação dão forma ao processo de mobilização e, assim, de mudança social, ao mesmo tempo como processo e como resultado.

No que se refere aos avanços dos movimentos dos direitos das mulheres, merece

registrar que a capacidade de mobilização histórica desse conjunto de atores sociais foi responsável pela defesa dos direitos dos menos favorecidos. Esta capacidade de mobilização não pode ser desprezada, ao contrário, deve ser incentivada e legitimada a ponto de que estas muitas vozes femininas possam reverberar com a mesma força do ativismo da liberiana Leymah Gbowee, prêmio Nobel da Paz, em 2011, ao declarar a seguinte frase2 “Uma noite sonhei com uma voz que me dizia pra reunir mulheres, pois, juntas, iríamos acabar com a guerra”.

Ao selecionar para a realização dessa pesquisa uma Organização Social que atua com políticas de proteção a mulheres em situação de violência no município de Salvador, capital do estado da Bahia, é fundamental fazer uma breve contextualização da situação de violência desse grupo, considerando essa experiência tanto no contexto local como também no âmbito nacional. Salvador, capital do estado da Bahia, possui uma população de aproximadamente 2.675.656 (IBGE, 2010) e neste universo as mulheres representam 53,32% da população total do município, revelando uma expressiva maioria em relação ao total de homens. Outro dado relevante que merece ser observado nesse conjunto de informações estatísticas é o predomínio de mulheres negras (autodeclaradas como pretas e pardas), que representam 78,78% da população feminina da municipalidade. Chama a atenção também sobre essa realidade social o percentual elevado de famílias chefiadas por mulheres que alcança 46,17%, superando a média nacional que é de 38,71% e a estadual que é de 39,87%. No que se refere aos índices de educação observa-se um dado curioso e importante para a realidade brasileira que indica que as mulheres representam a maioria da população alfabetizada, 53,75%, considerando a população com 10 anos ou mais de idade alfabetizadas (IBGE, 2010). Ainda que a taxa de alfabetização dessa população seja expressiva, da ordem de 95,82%, ainda é ligeiramente inferior à masculina que é de 96,43%.

Com base nesses dados sobre a realidade da população feminina do município de Salvador, pode-se deduzir que o mapa da violência contra as mulheres nesse território é formado majoritariamente pelo gênero feminino, que, em geral, revela ter baixo índice educacional e que assume o papel de liderança de suas famílias – são como definem alguns estudos sobre o tema, ‘chefes de família’ não apenas no sentido financeiro como também responsáveis pela orientação da formação dos filhos. 2 Frase apresentada em discurso realizado em Salvador, Bahia-Brasil, durante o evento Fronteiras do Pensamento,

realizado em 201.

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Segundo o Mapa da Violência publicado pela Organização Mundial da Saúde MS (2015), o Brasil figura com uma taxa de 4,8 homicídios por 100 mil mulheres. No contexto de 83 países estudados com dados homogêneos a referida pesquisa indica que o Brasil ocupa a 5ª posição, evidenciando que os índices locais excedem, em muito, os encontrados na maior parte dos países analisados. À frente do Brasil estão apenas El Salvador, Colômbia e Guatemala (três países latino-americanos) e a Federação Russa que evidenciam taxas superiores. Comparando às taxas dos países desenvolvidos, a exemplo do Reino Unido, Iralanda, Dinamarca, Japão e Escócia, o numero da violência contra mulheres no Brasil são ainda mais elevados. Claro que o fato do nosso país esta entre os mais violentos no ranking mundial, não isenta os demais países, com maiores ou mais baixos indicadores, comparativamente, pois o que se observa é a persistência de números impressionantemente elevados em muitos países, pobres ou desenvolvidos, revelando que o tema da violência contras as mulheres ainda não foi assumido como uma ação prioritária.

Os indicadores destacados pela OMS mostram a dramática situação dos índices de violência sobre as mulheres do Brasil. E no mapa nacional, o estado da Bahia ocupa a 12ª posição com taxa de 5,8 homicídios para cada 100 mil mulheres. Ao avaliar a posição de Salvador, capital do Estado, constata-se outro indicador alarmante visto que o município ocupa a 10ª posição nesse ranking, revelando uma das mais elevadas taxas de feminicídios do país, 7,9 homicídios para cada 100 mil mulheres. Entre os anos de 2006 e 2013, essa taxa cresceu em 53,4% e se comparado aos anos de 2013 e 2014 revela um crescimento alarmante de 181,4%.

Outros estudos destacam que no Brasil a cada cinco minutos uma mulher é agredida e que, em 70% dos crimes contra as mulheres, os agressores são os namorados, os companheiros, os maridos ou os ex-maridos. Segundo balanço divulgado no 1º semestre de 2012, a Central de Atendimento à Mulher (que atende através do acesso Ligue 180), um serviço vinculado à Secretaria de Políticas para as Mulheres, criada desde 2006, registrou quase três milhões de atendimentos e apontou a Bahia como o terceiro estado brasileiro com registro do maior número de denúncias de violência contra a mulher. Para dar maior visibilidade a esses índices alarmantes esse levantamento foi divulgado no mesmo dia em que a Lei nº 11.340/2000, conhecida como “Lei Maria da Penha”, completou seis anos. Merece destacar que esta Lei conceitua e define as formas de violência vividas por mulheres no cotidiano, caracterizada como violência física, psicológica, sexual, patrimonial e moral.

Naturalmente essas fortes evidências tem motivado a inclusão na agenda pública no Brasil a formulação de políticas públicas dirigidas para o enfrentamento da violência contra a mulher. Dentre os principais diversos esforços empreendidos nessa direção merece destacar, inicialmente, as contribuições do movimento feminista e de mulheres em situação de violência. Esse movimento contribuiu para a criação da Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra a Mulher que criou, em 2001, a Rede de Atenção à Mulher em situação de violência. A proposição dessa inovação de Política Pública em Rede foi justificada a partir dos resultados de algumas experiências locais exitosas e também tomou como base reflexões realizada por diversas organizações de apoio às mulheres. Como resultado desses esforços coletivos foram definidas algumas diretrizes que apontaram a urgência da adoção de um modelo de ação pública dirigido para promover medidas de prevenção da violência, bem como qualificar a atenção às mulheres em situação de violência utilizando como instrumento os instrumentos disponibilizados pelas redes sociais. O objetivo do governo e das organizações sociais integradas a esse movimento era, pois, criar possibilidades mais articuladas e efetivas de gestão e governança pública, de modo a potencializar os recursos disponibilizados pelo Estado e também pela sociedade civil organizada. A figura 01 apresentada a seguir mostra a estrutura dessa Rede de Enfrentamento.

Figura 01 – Estrutura da Rede de Enfrentamento

Fonte: Elaborado pelos autores inspirados no GT da Rede Brasil, 2016.

A Rede de Atenção à Mulher passou a ser denominada, a partir de 2015, no município

estudado de Rede de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres de Salvador e Região Metropolitana e se assume como principal destaque a atuação conjunta para o fomento e fortalecimento das estratégias promovidas pelo poder público e pelos atores sociais, sobretudo tendo como meta a aplicação plena da Lei Maria da Penha. O Grupo de Trabalho que conforma esta Rede tem como objetivo central promover articulação entre os diversos atores públicos e sociais envolvidos e comprometidos com as ações de combate a violência doméstica e familiar contra a mulher em Salvador e RMS. Esse esforço articulado produziu alguns relatórios técnicos que possibilitou a construção de indicadores de monitoramento, produziu algumas avaliações das políticas públicas de enfrentamento à violência contra as mulheres e promoveu ações de capacitação de equipes técnicas multidisciplinares e de gestores públicos que atuam na área. Para alcançar essas finalidades foram realizados encontros e seminários com o objetivo de promover diálogos com as diversas instâncias que conformam o poder público (legislativo, judiciário e executivo) com o objetivo de ampliar e fortalecer outras Redes de Apoio as Mulheres existentes no interior do Estado da Bahia.

Dentre as principais conquistas do Grupo de Trabalho que liderou esta Rede pode-se destacar a mobilização em torno do Projeto de Lei nº. 4559, de 2004, que deu origem à Lei Maria da Penha, incluindo a realização de diversas ações relevantes como algumas principais: a promoção de audiências públicas; o estímulo à criação do Grupo Especializado de Defesa da Mulher-GEDEM, vinculado ao Ministério Público-BA e do Núcleo Especializado de Defesa da Mulher-NUDEM, liderado pela Defensoria Pública-BA; a realização de uma ampla mobilização intitulada "Lei Maria da Penha na Bahia: cumpra-se" que teve por objetivo criar varas de violência doméstica e familiar contra a mulher no judiciário e que resultou na inclusão dessa agenda no Projeto de Lei de Reforma do Judiciário baiano junto à Assembleia Legislativa; e a criação das Varas de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher nas comarcas de Salvador, Feira de Santana e Vitória da Conquista, entre outras ações.

Merece destacar como resultado relevante desse movimento a participação do Grupo de Trabalho da Rede no processo de sistematização e desenho metodológico do Dossiê apresentado à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito, conhecida como CPMI da Violência contra as Mulheres e a composição da Relatoria e da Comissão Preparatória da Audiência Pública na Bahia que pretendeu traduzir as condições de trabalho para o desenvolvimento das políticas de prevenção à violência e a atenção prestada às mulheres em situação de violência no

COLETIVO DE

MULHERES DO CALAFATE

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estado da Bahia. Por outro lado, cabe destacar a árdua e enorme tarefa de identificar os obstáculos e angústias – que podem ser denominados de aspectos subjetivos - que envolvem mulheres, profissionais e gestoras comprometidas com a responsabilidade de enfrentamento à violência contra as mulheres.

Mas, apesar das conquistas acima destacadas, os serviços dos equipamentos de atenção e prevenção à violência contra as mulheres nos municípios baianos, em especial em Salvador, Capital do Estado da Bahia, essas medidas não atendem plenamente aos critérios de integração e articulação necessários para uma melhor estruturação do que se concebe como uma Rede de Políticas Públicas. Essa insuficiência se deve justamente ao fato de que, mesmo com a concepção inovadora de políticas públicas em rede, as práticas das ações públicas no Brasil, lideradas pelo Estado, são orientadas, ainda pelos vícios tradicionais do patrimonialismo e também das práticas burocráticas (adaptadas à nossa realidade cultural) arraigadas. Esses resquícios duradouros, próprios da nossa formação social e do Estado Nacional, revelam, pois, que a atuação em rede exige o estabelecimento de cooperação intra e interinstitucional, particularmente em se tratando de um país de dimensões continentais e estruturado em um padrão de federalismo que, em tese, deveria garantir a autonomia dos entes federativos. Mas na prática o que se observa é a preservação de uma cultura centralizadora na mão do governo central (União) e a perpetuação da falta de capacidade política, técnica e financeira dos entes municipais e estaduais de estabelecerem inter-relações que possam garantir a eficiência e efetividade das ações públicas caracterizadas formalmente como Redes de Políticas Públicas.

Se contrapondo a essa tradição ‘estadocêntrica’, observam-se movimentos consistentes de organizações sociais com o objetivo de fortalecer ações coletivas para o enfrentamento da ausência de bens e serviços que deveriam ética e legalmente serem assumidos pelo Estado. Mas, diante das evidências demonstradas nos indicadores citados acima, a sociedade brasileira e soteropolitana (nome que caracteriza os nascidos em Salvador-BA), em especial, não pode ficar a espera de uma reação racional e objetiva por parte do poder público, apesar do reconhecimento dos importantes avanços institucionais alcançados. No caso particular dos indicadores negativos e graves da violência, especialmente a violência contras as mulheres, é necessário e urgente que a sociedade se mobilize para fazer frente a esse drama nacional que tem matado ou dizimado estruturas familiares mais que em muitos países que estão em guerra civil.

Conforme destaca Bobbio (1986), as sociedades modernas e contemporâneas têm enfrentado muitos desafios para garantir a consolidação dos valores e princípios democráticos. Afirma o autor que as experiências democráticas adotadas por países em 'desenvolvimento' ou 'subdesenvolvidos', a partir da segunda metade do século XX, têm enfrentado problemas ainda maiores, se comparados às nações desenvolvidas e que tiveram as condições e o tempo necessários para avançar em processos deliberativos mais avançados. Ressalta o autor que o primeiro desafio dessas nações é superar as pressões para implantar regimes políticos democráticos inspirados em experiências forâneas, desconectadas, na sua maioria, da realidade local e distantes das necessidades e expectativas reais da população. Como segundo desafio, Bobbio destaca as dificuldades desses países de mobilizar as instituições estatais e sociais para avançar em projetos comprometidos com uma formação cidadã sólida que liberte os indivíduos do 'domínio' e das vontades de grupos dominantes (ou utilizando a linguagem gramsciana, hegemônicos).

Com base na análise dos dados alarmantes acima destacados sobre o tema projeto desse estudo e baseado nas contribuições trazidas por Bobbio, podemos concluir que, embora muitos dos países em desenvolvimento sejam considerados democracias plenas, tomando essa acepção no seu sentido estritamente formal (institucional), observa-se a predominância de um entendimento simplificado e generalizado em torno de uma concepção de democracia baseada exclusivamente na simples representação de processos legítimos de escolha dos dirigentes governamentais e de seus respectivos representantes parlamentares através do voto. A esse

movimento institucional o citado autor classifica de mecanismo de delegação de responsabilidades. Nesse contexto formalístico ressalta que os indivíduos se consideram como dependentes do ato de benevolência do Estado e esperam do poder público todas as iniciativas pra ao atendimento das necessidades mínimas, revelando, desse modo, uma percepção de políticas públicas como resultado das benesses dos políticos e não fruto de lutas sociais.

Com base nessa análise pragmática e centralizada acerca das ações governamentais se confirma, pois, o predomínio da abordagem da Análise Racional de Política Pública (ARPP) que defende uma concepção e execução objetiva e pragmática das políticas públicas. Essa corrente, infelizmente, tem sido predominante (hegemônica) na condução das ações governamentais na maioria dos países desenvolvidos e essa influência tem sido decisiva e determinante nos países em desenvolvimento e pobres que estabeleceram historicamente uma dependência dos países líderes e tem acatado essas orientações como fruto de inovações própria da chamada Administração Pública gerencial, pautada no princípio da eficiência e dos resultados.

Esse contexto impõe, portanto, investimentos em estudos e desenhos metodológicos inovadores, pautados não mais em concepções positivistas ou instrumentalistas da Administração Pública, mas fundados em estudos críticos e emancipadores que integrem na análise das relações complexas entre Sociedade e Estado compromissos na construção de novas diretrizes, princípios e objetivos comprometidos com o alcance do bem estar coletivo ou do ‘bem comum’ – conceitos ou discursos muito presentes tanto nas Cartas Constitucionais contemporâneas, consideradas como revolucionárias ou cidadãs, como a brasileira, mas muito distantes de garantir práticas participativas efetivas.

Com base nessa breve contextualização sobre a situação sociohistórica que os indicadores de violência sobre as mulheres no Brasil revelam e sobre as insuficientes ações implementadas pelo poder público para dar conta dessa realidade, contata-se a necessidade de a academia invista no desenvolvimento de estudos e no desenho de instrumentos de políticas públicas tendo como base teorias e metodológicas críticas dirigidas para validar possibilidades criativas e efetivas de coprodução de ações sociais transformadoras da atual realidade social. Esse esforço deve estar comprometido, pois, com o desenvolvimento de tecnologias de gestão social capazes de potencializar a sociedade e o setor público para o enfrentamento de relações sociais de produção, distribuição e consumo que impedem a promoção de transformações sociais efetivas e duradouras (base fundamental para uma inserção social digna e sustentável).

Com o propósito de colocar as produções acadêmicas e metodológicas à disposição da sociedade, garantindo, desse modo, o cumprimento do papel social da Universidade (promovendo, assim, a extensão dos saberes e práticas desenvolvidas), considera-se que esse trabalho cumpre essa missão na medida em que se propôs a contribuir para avançar no que aqui classificamos de estudos deliberativos. Ao escolher a dimensão da gestão social e da governança pública em rede esse trabalho fez uma opção consciente fazer essa discussão no âmbito dos Estudos Críticos em Administração e da Administração Política, em particular. Essa escolha teórica se deve ao fato dos pesquisadores reconhecerem que abordar a perspectiva complexa e multidisciplinar das políticas públicas, especialmente utilizando a metodologia de coprodução, demandaria assumir uma perspectiva mais integradora dos diversos saberes e práticas que esse esforço coletivo exige. O que implica admitir, com base em uma breve definição feita por Santos e Ribeiro (2009), que administrar representa uma ação humana intencional, dirigida ou orientada para alcançar determinadas finalidades (individuais, profissionais, organizacionais e sociais), pode-se considerar que tudo na vida social é de algum modo, Administrado.

Desse modo, considerar a administração como campo do conhecimento e de práticas sociais concretas implica integrar as diversas dimensões sociais responsáveis por esse desafio: a sociedade (organizada em diversas representações, incluindo o mercado e as pequenas

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organizações sociais) e o Estado (materializado nas diversas organizações da administração pública, incluindo as que estão voltadas para atender as demandas sociais como as que assumiram o compromisso sociohistórico de produzir bens e serviços econômicos – estruturadas nas chamadas empresas públicas). Para os objetivos desse trabalho foram selecionadas organizações representativas da sociedade civil organizada e as inter-relações Constitucionais possíveis com o poder público, através da coprodução de políticas públicas. No caso brasileiro essa possibilidade está garantida pela Constituição Federal de 1988 que prevê a plena participação das chamadas Parcerias Público Sociais (PPSs) – assim como também prevê as Parcerias Público Privadas (PPPs) que não só objeto desse estudo.

Mas, apesar dos avanços institucionais trazidos pela nossa Constituição de 1988, a realidade evidencia, com dados fartos e graves, essa impossibilidade sociohistórica (possíveis somente através de estruturais radicais nas relações sociais) e administrativa (que exigem investir na capacidade política e técnica do Estado e da sociedade). Os diagnósticos (leituras da realidade social, política e administrativa) já estão feitos há muito tempo (utilizando as mais diversas e variadas metodologias desde as mais conservadoras às mais críticas). No caso brasileiro temos a ‘radiografia’ dos principais problemas, riscos e tendências dos âmbitos administrativo (Administração Pública e sua elação com a sociedade), sociais (incluindo desde as leituras que focam nos limites e potencialidades do padrão de ‘crescimento’ econômico nacional, baseado nos princípios do livre mercado, até os desafios das profundas desigualdades que ainda marcam as relações sociais no país). Mas a atual conjuntura dramática que atravessa nosso3 país revela que investir somente em diagnósticos (mesmo os resultantes das mais sofisticadas metodologias impostos ou sugeridos pelas agências multilaterais de fomento) não tem se revelado suficiente. O passo fundamental e decisivo nessa direção é investir em políticas públicas transformadoras ou estruturantes tanto no âmbito das políticas sociais inclusivas como principalmente das ações que envolvam a integração da população marginalizada na produção, distribuição e consumo da renda e da riqueza nacional.

Como estamos muito distantes de lograr esse êxito ou alancar esse objetivo, não apenas por que faltam ideias criativas e inclusivas como as que serão apresentadas na próxima seção desse artigo (como resultado da pesquisa) com vistas a dotar a sociedade e o Estado das competências necessárias para esse fim, mas principalmente por que não há um “Projeto de Nação” ou um “Projeto de Sociedade” dirigido para conduzir esse processo de transformação social. Mas ainda que seja necessário ter ciência dos desafios e do nível elevado de investimentos que precisam ser feitos tanto pela acadêmica (através do desenvolvimento de estudos e metodologias que contribuam para aumentar o poder de deliberação da sociedade), como, principalmente, os esforços que necessitam ser empreendidos, de forma sistemática e continuados, pela sociedade para preparar-se não apenas para cobrar do Estado políticas públicas de qualidade e efetivas, como também preparar-se para deliberar sobre as necessidades coletivas e desenvolver capacidades para exercer com plenitude o papel de controle social. Em uma democracia participativa os cidadãos e a sociedade devem estar inseridos no processo decisório assumindo, assim, o compromisso em todas as etapas da concepção de um “Projeto de Nação” que vislumbre integrar e incorporar a todos os atores interessados. Mas como já ressaltado anteriormente, o que se observa no nosso País e na maioria das nações subdesenvolvidas ou em desenvolvimento é justamente o contrário: há o predomínio de padrões elitistas de gestão pública e gestão social, onde as instituições assumem a prerrogativa pela condução de todos os processos decisórios reforçando, assim, os elementos que caracterizam uma democracia puramente formal. Uma das características mais marcantes desse padrão elitista de governar é a inibição da participação popular. Nessa realidade, a população é apenas

3 Realidade que não se diferencia de muitas outras nações da América Latina e de outras países que integram outras

regiões e continentes pobres.

convocada a manifestar suas escolhas a cada período, preservando, assim, seu papel funcional de legitimar os processos políticos, consagrando, desse modo, o que a literatura corrente classifica de modelo de planejamento e políticas públicas top down (‘de cima para baixo’), fundamentado na convicção de que os ‘negócios’ do Estado são complexos e exigem domínios técnicos elevados. Em grande medida a abordagem da ARPP, dominante na maioria das nações e, em particular no Brasil, sustenta esse pensamento conservador, ainda que utilize metodologias ditas inovadoras, mas pautadas em princípios gerencialistas que visam mais cumprir a agenda monotemática de equilíbrio fiscal do Estado em detrimento de aprofundar ações que qualifiquem os gastos públicos e reduzam os vícios patrimonialistas e os novos que tem conseguido garantir a perpetração dos interesses privados sobre os coletivos, mesmo que essa realidade descumpra totalmente um dos princípios fundamentais da Administração Pública consagrados na Constituição de 1988 que é justamente garantir os interesses coletivos em detrimento dos interesses privados. Corroborando com essa percepção crítica, merece destacar nessa análise as contribuições trazidas por Arretche (1999) ao defender que a participação em associações civis geraria sociedades fortes, que resultaria, consequentemente, na formação de governos fortes e éticos, que seriam caracterizados, desse modo, por sua capacidade de conceber, implementar e avaliar políticas públicas que atendam as demandas de cada contexto regional e local, pautadas não apenas no alcance da eficiência, mas fundamentalmente comprometidas como sua qualidade e efetividade, ou seja, com o alcance da finalidade coletiva, bem maior de qualquer sociedade que se pretenda “civilizada” (para usar um conceito carregado de imprecisões e contradições) e justa.

No que se refere às políticas que favoreçam a participação das mulheres, Nunes (2006) nos ajuda a reconhecer que essa situação é ainda mais problemática e dramática especialmente no caso das mulheres em situação de violência, objeto dessa pesquisa, pois, envolve o direito à vida. Para o autor a integração ativa das mulheres nas políticas públicas passa por um processo lento de conscientização da sociedade sobre um problema histórica milenar que é opressão feminina na maioria das sociedades conhecidas. Ao trazer para esse debate a reflexão crítica elaborada por Paulo Freire4 que defendia que era preciso “Formar para Transformar” a sociedade brasileira, este texto estudo procurou reforçar que quando o ‘oprimido’ (excluído) assume espaço de protagonista adquire a oportunidade de ter ‘voz’ nas discussões relevantes sobre a concepção das ações públicas orientadoras dos processos de socialização. Nesse sentido, os desafios da participação, empoderamento e protagonismo social e político das mulheres em situação de violência no Brasil, na Bahia e em Salvador, em particular, são enormes visto que, além de estarem associados ao déficit de participação política na defesa dos interesses sociais no país, são reflexos também de uma cultura social e cultural machista profundamente arraigada na nossa sociedade.

Mas, apesar do reconhecimento desses problemas e dos enormes desafios que fundam e ainda orientam as relações sociais brasileiras, consideramos ser fundamental avançar em estudos e proposições de intervenções sociais que tenham por objetivo construir bases consistentes para a sedimentação das transformações necessárias, especialmente no que se refere às políticas de apoio às mulheres em situação de violência. Conforme já destacado acima, apesar de alguns avanços observados mais recentemente (a partir de 2005) na gestão das políticas públicas dirigidas para as mulheres, especialmente mediante a criação da Rede Nacional de Políticas de Mulheres, os dados publicados pelos institutos oficiais de pesquisa (em abito nacional e internacional) e as próprias evidências empíricas reforçam que ainda vivenciamos uma realidade dramática. Persistem muitas limitações tanto na concepção das 4 Reconhecido educador crítico brasileiro situado entre o final dos anos de 1950 e inicio dos anos de 1964, de

formação marxista, autor de um método que tem servido de base para a construção do projeto popular para o Brasil.

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políticas como principalmente na capacidade do poder público torna-las efetivas. Esses obstáculos se referem notadamente em relação à desarticulação intra organizacional (entre as ações dos próprios entes públicos) e, principalmente, no que se refere à desconexão total entre estas políticas e as mulheres – incluindo nesse contexto os familiares mais diretos que também carecem do apoio e proteção imediato do poder público necessitados. 3. Coproduzindo Tecnologias de Gestão Social com o Coletivo de Mulheres do Calafate

Considerando a breve contextualização sociohistórica apresentada acima, que serviu de

base orientadora da escolha das concepções teóricas e metodológicas que deram suporte ao desenho e adaptação das Tecnologias de Gestão Social selecionadas, este capítulo está dedicada a apresentar, inicialmente, uma breve síntese sobre os conceitos de TGS, para, em um segundo momento, descrever os métodos desenhados e aplicados no Coletivo de Mulheres do Calafate, trazendo algumas breves análises sobre os principais resultados já alcançados.

Para situar melhor os leitores sobre o tema é importante informar que por TGS entendem-se abordagens metodológicas inovadoras dirigidas tanto para capacitar e qualificar as ações da sociedade, em torno da solução coletiva de problemas sociais; ou dirigidas para dotar grupos sociais interessados de competências técnicas e políticas para empreender projetos/negócios socioeconômicos (como alternativa ao lucro privado), com o objetivo de construir bases de empreendimentos solidários/comunitários que tenham como princípio a promoção de políticas de desenvolvimento socioterritorial cooperativas, inclusivas e sustentáveis. Considera-se que um dos grandes desafios a serem superados para uma atuação integrada e interdependente, eficiente e sustentável em torno da coparticipação de diversos atores é enorme. Essas dificuldades ocorrem em diversas dimensões, mas para os objetivos desse trabalho um dos maiores desafios é justamente conseguir métodos que possibilitem novas e variadas formas de aprendizagens individuais e grupais em torno de dotar os sujeitos e os coletivos de capacidade de deliberação pública.

Em torno dessa perspectiva emergem os conceitos e metodologias de coprodução de políticas públicas, cogestão e governança pública. São conceitos e práticas essenciais para possibilitar o longo percurso que a sociedade marginalizada brasileira tem que vencer utilizando como principal recurso político e técnico a integração e articulação social continuada, o que de partida já revela o grau de complexidade, pois envolve não apenas o humano, mas um humano marcado historicamente por trajetórias de luta emancipatória (com menor expressividade não pela qualidade desses movimentos, mas pela força da hegemonia perpetrada historicamente pelo sistema socioeconômico dominante – o capitalismo), mas também condicionado por processos de dominação manifesto por comportamentos individuais e coletivos de resignação, aceitação, acomodação, alienação, ou por diversas outras expressões de descrença em relação ao sistema socioeconômico, político e cultural dominante.

Conforme destacado por Feenberg (2010, p. 3), diferentemente da expectativa advindas das Ciências Exatas em torno de uma tecnologia ou inovação tecnológica para garantir a competitividade própria do mundo empresarial, no âmbito das Ciências Sociais e das Ciências Sociais Aplicadas (que integra as áreas de Administração, Economia, Direito e Contabilidade, entre outros cursos que tem aderência com essas áreas) a expectativa de uma TGS está normalmente associada à produção de “impactos sociais imediatos e poderosos”. Conforme destacado por João Ubaldo Ribeiro (1968), a Administração como campo de conhecimento integrado às Ciências Sociais Aplicadas, particularmente a Administração Pública, assume um papel diferenciado não apenas na concepção e execução de instrumentos planejamento e controle dos processos de trabalho (práticas gerenciais), mas exige considerar outros elementos subjetivos próprios das relações humanas, denominadas pelo autor e por outros estudiosos vinculados aos Estudos Críticos em Administração e à Administração Política, de elementos

que deem conta das complexidades e intersubjetividades que conformam as relações entre e para as pessoas (envolvendo desde interesses individuais, grupais e organizacionais até alcançar os objetivos sociais). Nesse sentido, a concepção de TGS que será aqui adotada assume como referência teórica e metodológica o campo da Administração denominada também de gestão social ou gestão socioterritorial. O esforço foi, portanto, desenhar em conjunto com os atores sociais selecionados do Coletivo de Mulheres do Calafate uma Tecnologia de Gestão Social comprometida com a educação cidadã e o empoderamento das mulheres em situação de violência, objeto privilegiado desse estudo.

O termo Tecnologia Social ganhou relevância mais recentemente, segundo referenciado por Otterloo (2008, p. 28) e compreende a concepção, elaboração e implantação de produtos, técnicas ou metodologias reaplicáveis, desenvolvidas na interação com atores sociais interessados e, por essa razão, deve representar compromissos com soluções efetivas dos problemas sociais com a finalidade de promover, assim, bases para a transformação social. Segundo a autora, com esse conceito fica explicitado que

[...] a visão de tecnologia social deve ser potencializada na perspectiva de se ampliar a compreensão dos referenciais sobre desenvolvimento e inclusão social, e de se construir alternativas que possibilitem: a) a inversão da lógica perversa que sustenta o atual modelo de desenvolvimento, responsável pelo fomento das desigualdades, da exclusão social, da precarização das relações de trabalho; e b) a difusão e reaplicação, de forma democrática e participativa, de tecnologias sociais, na perspectiva da cogestão, da produção de conhecimentos, da solidariedade, do aprofundamento da consciência comunitária ampliando o conceito de inclusão social e de sustentabilidade. (OTTERLOO, 2008, p. 22).

Em síntese, a definição e o papel social de uma Tecnologia Social podem ser melhor

sintetizadas através da definição trazida por Santos (2010, p. 1) que compreende que

O processo de transformação [social] permite duas possibilidades. Uma tem sido por meio de movimentos revolucionários – que, embora ensejem procedimentos rápidos no alcance dos propósitos, o saldo histórico termina, senão desaconselhando de todo essa via, pelo menos, recomenda cautela em sua adoção. Outra, mais de acordo com a ordem historicamente estabelecida, tem sido através de mudanças “consensuadas” – porém, a lentidão na produção dos resultados é tão irritante que parece sugerir a ruptura como a única alternativa possível.

Essa demarcação entre processo revolucionário e processo de transformação pactuada

nos anima, pois, a validar a relevância deste projeto de pesquisa, visto tratar-se de uma proposição que teve como objetivo central coproduzir e aplicar metodologias (TGS) dirigidas para aumentar a capacidade de conhecimentos conceituais e técnicos sobre temas vinculados a participação e controle social.

A concepção de uma articulação de governança em rede de atores sociais e do protagonismo social e político das mulheres adotada neste trabalho pode ser melhor compreendida no mapa conceitual mostrado abaixo que reúne a estrutura da estratégia de desenvolvimento socioterritorial (Figura 01), que tem três pilares básicos: a gestão social, a governança em rede e a articulação de redes complexas.

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Figura 02 – Estrutura da Estratégia de Desenvolvimento da TGS

FONTE: Elaboração dos autores, 2017. A triangulação estabelecida no mapa cognitivo indicado na figura acima busca

estabelecer, portanto, algumas correlações relevantes entre as dimensões de representatividade (representados pelos balões); de interação (representados pelas setas); de produtos e/ou significados gerados da interação (representados pelos retângulos); de circunscrição espacial, localizado em um dado território que identificamos como geográfico e político (o município de Salvador, bairro do Calafate) e virtual (web 2.0); com as características apontadas como aspectos negativos (precedidos do sinal -) representando os desafios a serem vencidos pela gestão e como aspectos positivos (precedidos do sinal +) representando aspectos favoráveis à governança em rede; que podem descrever as seguintes correlações:

x Da relação entre Gestão e Redes Complexas - que compreende que o produto Rede Social Temática sugere e facilita a articulação em rede, possibilitando um modo de gestão crítico (integrando as ações do poder público e o social) e identificada por esse estudo como saída estratégica para os problemas evidenciados na pesquisa;

x Da relação entre Governança em Rede e Redes Complexas – que reflete o processo de comunicação e difusão do conhecimento aparecem como habilidade/competências e atribuição, respectivamente; e

x Da relação entre Gestão e Governança em Rede – que reflete a interação entre os diversos atores sociais e institucionais estabelecidos no sistema de garantia de direitos da mulher, orientados sob uma atuação militante proveniente das origens dos movimentos feministas e de mulheres. Com base nesse mapa conceitual considera-se que os modelos de TGSs com ênfase no

tema Governança de Políticas Públicas em Rede aqui proposto representa uma inovação em relação ao atual padrão que orienta a Rede de Enfrentamento da Violência contra a Mulher em Salvador e RMS, na medida em que ressignifica os papéis dos atores institucionais e sociais interessados, bem como estabelece as novas dimensões de comunicação, interação, articulação, necessárias para a análise e resolução de conflitos oriundos de problemas antigos sob novas perspectivas de atuação de gestão e governança em rede de políticas públicas.

Com base nas definições citadas no mapa e na breve discussão sobre o conceito de TGS foram coproduzidas e aplicadas duas tecnologias, conforme descrito no quadro abaixo:

Quadro 01 – Síntese da Concepção e Definição dos Produtos da TGS

Formato Descrição Produto

Game Jogo Cidadania Ativa

01 Jogo colaborativo contendo: caixa, instruções, tabuleiro alvo, tabuleiro painel, Cartas, entre outros recursos, adaptado da metodologia desenhada por Ana Pires.

Plataforma em Web 2.0

Rede Social Temática: Mulheres em Rede

01 Plataforma contendo: funcionalidades de comunicação e articulação em rede; informações sobre direitos das mulheres; lista de serviços de atenção à mulher; Blog; área de cadastro; área de financiamento colaborativo, entre outros recursos.

Fonte: Elaboração própria, 2017 Essas duas tecnologias foram selecionadas por possibilitar estabelecer uma maior e mais produtiva aproximação da equipe de pesquisa com o Coletivo. No caso do Jogo Cidadão Ativo considerou-se que um instrumento lúdico ajudaria os diálogos com as mulheres, bem como tinha densidade para aprofundar conhecimentos, discussões e deliberações sobre conceitos fundamentais sobre os temas centrais orientadores da TGS: participação e controle social. Já o desenho e implantação da Plataforma Virtual Rede Social Temática: Mulheres em Rede daria ao Coletivo, ao grupo de pesquisadores da UFBA e a outros atores sociais parceiros a possibilidade de interagir de forma mais intensa e em tempo real para aprofundar conhecimentos, conhecer novos atores e experiências de aprendizagens em políticas públicas e principalmente coproduzir agendas coletivas em torno dos temas relacionados a situação da violência contras mulheres, assim como também sobre outras prioridades de ações públicas que tenham relação direta ou indireta com o papel político e social desse coletivo na comunidade do Calafate e em outros territórios vulneráveis.

Conforme já mencionado, compreende-se que uma metodologia de TGS deve apresentar aspectos de inovação no âmbito da gestão social e da governança pública. Nesse sentido, essa proposta metodológica desse projeto deu ênfase em criar uma tecnologia em Gestão e Governança em Rede de Políticas Públicas com atenção ao tema que aflige as mulheres em situação de violência associadas ao coletivo do Calafate. Desenvolver uma TGS em rede é mais complexo, pois, vai exigir o envolvimento de diversos atores institucionais e sociais interessados do tema, envolvendo desde os diversos representantes do poder público, passando pelos beneficiários diretos até alcançar outros agentes sociais interessados direta ou indiretamente em contribuir para minimizar o problema da violência sobre as mulheres.

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O objetivo fundamental das TGS coproduzidas e implementadas foi contribuir para o desenvolvimento de competências transformadoras e emancipadoras do Coletivo de Mulheres do Calafate, através do que se definiu como concepção e implementação de ‘ações e práticas administrativas transformadoras’ (denominadas por outros estudos e propostas metodológicas como: gestão social, desenvolvimento e gestão socioterritorial, economia solidária, entre outras abordagens convergentes).

3.1. Descrição e Breve Análise da Aplicação do Jogo Cidadão Ativo

A concepção teórica que fundamentou a metodologia Jogo Cidadania Ativa, resultado

da adaptação do Programa Cidadão Ativo desenvolvido por Pires5 (2014) está ancorado na abordagem do design thinkink e, conforme destacado pela autora esse método traduz uma nova forma de pensar e abordar problemas (organizacionais complexos), isto é, representa uma forma de pensamento centrado nas pessoas.

Segundo Vianna (2013), a Gamication - termo inglês sem tradução ou equivalente imediato em português – se refere ao uso de jogos em atividades diferentes. Para o autor os jogos são um modelo moderno de organização das pessoas com o fim de alcançar um dado objetivo. Ressalta que a estrutura e os modelos operacionais de gestão e gerência das empresas ainda são os mesmos do final do século XIX e inicio do XX, baseados nos princípios clássicos da Administração Científica, criados e difundidos por Taylor, e que defende a hierarquia, a burocracia e a especialização do trabalho como instrumentos fundamentais para garantir a produtividade e competitividade dos negócios. Esse modelo tradicional de administrar exige funções e responsabilidades claramente definidas, processos exatos e gerência baseada em comando e controle, a semelhança dos métodos utilizados em organizações militares de diversas épocas históricas.

Em oposição aos princípios da racionalidade administrativa (instrumental), o citado autor afirmar que a Gamification utiliza as possibilidades trazidas pela revolução das Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs) inauguradas, a partir dos anos de 1970 e 1980. Essa revolução tecnológica (base da chamada 3ª Revolução Industrial) vai trazer, pois, novas possibilidades de (re)organizar os processos de trabalho e (re)definir as relações sociais de produção, distribuição e consumo, privilegiando aspectos das relações e inter-relações humanos. Os jogos emergem, portanto, como um desses recursos inovadores e se caracterizam por terem melhor e maior capacidade de se ajustar às complexidades e flexibilidades que emergem nessa nova ordem social do capitalismo.

Ao observar a tendência crescente do uso dos jogos como método de interação organizacional, essencialmente em empresar corporativas, esse estudo passou a examinar de que maneira esse recurso lúdico poderia auxiliar o entendimento de problemas sociais complexos e, mais ainda, como poderia auxiliar o desenvolvimento de processos coletivos de aprendizagens comprometidos com a construção de bases sólidas através do investimento em educação cidadã que garantissem o alcance de transformações sociais significativas. Nesse sentido, foi integrado ao problema central da pesquisa a seguinte reflexão: como os jogos poderiam contribuir para mobilizar as mulheres que integram o coletivo do bairro do Calafate em torno tanto da necessidade de promover transformações nos padrões de gestão social e governança pública, como de investir na formação cidadã continuada, de modo a aparelhar a organização social (o CMA) para potencializar seu papel como instrumento de transformação social? 5 Doutora em Administração pela Escola de Administração da UFBA, com notório saber em jogos de inovação

empresarial, tendo o Jogo de Inovação (JOIN) como principal portfólio dessa metodologia aplicada pela autora junto à Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB) que tem aplicado o jogo para melhorar a gestão de diversas empresas baianas.

A resposta a essa questão levou o grupo a conhecer melhor o Programa Cidadão Ativo, uma proposta metodológica adaptada do Jogo de Inovação (JOIN) criado por Pires (2014) para estimular mudanças nas relações interpessoais em empresas privadas, para ser aplicado em organizações públicas e/ou sociais. Com essa adaptação a autora observou, através de experiências aplicadas na disciplina Indivíduo e Espaço Público, integrada ao currículo da formação superior de Gestão Pública da UFBA, que o Jogo de Inovação poderia ser aplicado com possibilidade de êxito nessas organizações. Os resultados parciais demonstraram que por tratar-se de organizações com elevado grau de complexidade e problemas difusos para resolver, a Gamification poderia trazer novos métodos que ajudaria, em primeiro lugar, a capacitar os atores a problematizar melhor a realidade social e organizacional que necessitavam compreender para depois contribuir para transformar; em segundo lugar, daria a esses aprendizes a oportunidade de contemplar os problemas sociais e/ou organizacionais que desejavam modificar; em terceiro lugar, permitiria aos interessados definir quais conteúdos e/ou técnicas administrativas e práticas precisariam investir, em conformidade com o perfil de cada grupo de atores – essa possibilidade elimina o uso recorrente de formações clássicas baseadas em transmissão de conteúdos pré-definidos, normalmente utilizados com a intenção de estar formando os cidadãos/profissionais; por fim, esse recurso metodológico poderia se revelou como um método de fácil replicação por qualquer ator disposto a ser um multiplicador dessa metodologia no seu território.

Respondida as dúvidas sobre a possibilidade de utilização do jogo para os objetivos desse estudo, foi produzida uma adaptação do “Programa Cidadão Ativo” que passou a ser denominado de Jogo Cidadão Ativo, conforme mostra a foto abaixo. A expectativa da pesquisa era, pois, que esse instrumento pudesse desenvolver algumas competências políticas e administrativas que qualificassem as mulheres que integravam o Coletivo a problematizar as questões sociais que avaliavam mais urgentes, de modo a identificar, progressivamente, quais as possibilidades de solução, quais as redes de atores que poderiam ser integradas e, finalmente, como transformar essa leitura mais ampliada e coletiva acerca do problema observado em um projeto viável e com potencial para ser articulado em uma rede mais ampla de políticas públicas (envolvendo tanto o poder público como outros atores sociais). Após a adaptação e aplicação do Jogo Cidadania Ativa junto ao Coletivo de Mulheres do Calafate, observou-se os seguintes resultados:

a) Contribuiu para que as mulheres percebessem a necessidade de investir na formação

continuada do grupo com ênfase no fortalecimento das inter-relações; b) Estimulou algumas mulheres a participar em outras arenas públicas, levando suas

experiências e trazendo novos conhecimentos e práticas sociais e administrativas; e c) Possibilitou que o coletivo integrasse atividades em grupo dirigidas para pensar

problemas conjuntamente e não apenas para dividir as dores oriundas das situações de violência.

d) Puderam, pois, vivenciar juntas reflexões sobre problemas sociais mais complexos do que imaginavam isoladamente o que as ajudou a pensar sobre os desafios, riscos e possibilidades do atendimento de ações públicas que garantam os direitos humanos;

e) Ficou evidenciado na aplicação do Jogo seu potencial de replicação junto a outros grupos sociais no mesmo território e em outros espaços, revelando-se como um instrumento potente e de fácil uso para a Educação Cidadã.

3.2. Descrição e Breve Análise da Cocriação do Portal Mulheres em Rede O recurso metodológico e tecnológico da virtualização das interações e dos conteúdos,

especialmente de conhecimentos, características do atual paradigma tecnológico que

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conformam as sociedades contemporâneas, abre novas possibilidades de relacionamento e compartilhamento entre indivíduos e organizações. Nesse contexto, assiste-se à expansão crescente dos recursos das comunicações virtuais e da emergência de diversas plataformas de educação à distância, com especial ênfase para a utilização de abordagens de gestão da inovação em redes interorganizacionais de cooperação ou colaboração. Nesse sentido, a plataforma virtual que deu suporte à concepção e implantação da Rede Social Temática denominada de Mulheres em Rede é considerada como instrumento relevante para o desenvolvimento e consolidação de novas bases para a construção interativa de competências. Foi utilizada a plataforma em web 2.0 que oferece recursos de software livre. Essa metodologia se fundamentou, por um lado, na identificação e disponibilização de instrumentos tecnológicos gratuitos que poderão contribuir para ampliar o alcance das ações lideradas pelo Coletivo de Mulheres do Calafate, mediante a difusão de informações e trocas de experiências entre os atores envolvidos, direta e indiretamente, com as políticas públicas de apoio as mulheres em situação de violência em Salvador, na Bahia e no Brasil. Por outro lado, acredita-se que essa solução possibilitará uma gestão mais efetiva das políticas públicas para apoiar as mulheres, ao permitir ao poder público e a outros atores interessados em estabelecer articulação com o CMC, tendo como referência as informações, os avanços metodológicos e outras contribuições disponibilizadas no Portal. Essa possibilidade torna-se, ainda, mais relevante considerando a profunda assimetria entre os atores interessados na referida política, especialmente as mulheres que ainda se veem desassistidas em uma sociedade e um Estado dirigido por valores culturais onde predomina visões e comportamentos machistas e sexistas. Esse contexto cultural adverso impede que as vítimas possam interagir, em tempo real, com outros atores fundamentais para o desenvolvimento de ações efetivas de proteção, inclusão e empoderamento. O Portal Mulheres em Rede poderá, pois, contribuir para reduzir essas distâncias e, quando estiver em funcionamento, talvez possa atuar como espaço de prevenção, proteção e denúncia, além poder ser também um espaço de interação de assuntos mais leves, mais lúdicos, mais humanizados, criando alternativas mais confiáveis para que essas mulheres possam encontrar abrigo emocional e espiritual.

É possível destacar, ainda, a importância estratégica que esse recurso tecnológico poderá trazer para a Universidade, tendo em vista que poderá ser um espaço de trocas de conhecimentos e experiências entre os estudantes, professores e servidores interessados em interagir, aprender, trocar e colaborar com a causa. No que se refere aos aspectos acadêmicos o portal poderá ser utilizado como fonte confiável e contextualizado sobre indicadores de monitoramento e avaliação de situações ou políticas de proteção às mulheres em situação de violência que não são, geralmente, registrados pelos institutos oficiais de pesquisa, pois são de difícil identificação e mensuração.

No que se refere às ações de proteção às mulheres em situação e violência a própria universidade esta hoje obrigada a incorporar essa tema não apenas em razão de ser um problema social, mas devido as próprias políticas de inclusão social que possibilitaram a integração de estudantes (e suas famílias e entorno social) que podem se identificar com as políticas de proteção aqui analisadas. A evidência dessa situação foi a aprovação de dois projetos de pesquisa junto a Pró-Reitoria de Assistência Estudantil, o primeiro deu origem a essa dissertação e o segundo, mais recente, legitima as Tecnologias de Gestão Social desenvolvidas nesse trabalho. O que revela, portanto, que tanto a temática aqui estudada como as tecnologias propostas para o desenvolvimento desta pesquisa podem ser de grande utilidade para os atores sociais que estão hoje interatuando com a UFBA ou que se qualifiquem para integrar, no futuro, essa ação coletiva fundamental para o futuro das relações sociais de nossa sociedade marcada, ainda, por profundas e traumáticas desigualdades.

Merece destacar que plataforma virtual Mulheres em Rede utilizou como base duas tecnologias consolidadas internacional e nacionalmente, a saber: (a) a ferramenta de gestão de conteúdos que integra difusão, documentação e gestão de informações de interesses específicos dos atores envolvidos; e (b) ferramenta de educação à distância que permitirá, no futuro, integrar recursos educativos, através da realização de cursos de extensão com ênfase em temas que contribuam para a formação cidadã utilizando como recurso fundamental a metodologia Jogo Cidadania Ativa, em sua versão digital, assim como introduzindo outros recursos pedagógicos que se revelem interessantes para patrocinar ações educativas emancipadoras.

Para finalizar essa análise sobre a escolha das TGS é importante ressaltar que as duas tecnologias selecionadas se complementam para criar instrumentos potentes para criar recursos lúdicos e espaços de interação virtual dirigidos, pois, para potencializar as interações e articulação em Rede. Desse modo, enquanto a plataforma virtual oferece o suporte tecnológico e de comunicação social ao espaço Mulheres em Rede para que o CMC possa tecer uma teia de conhecimentos, de práticas sociais com ênfase na concepção de gestão social e governança pública, o Jogo Cidadania Ativa se confirma como método lúdico capaz de facilitar e proporcionar uma educação popular, comprometida essencialmente como o desenvolvimento de aprendizagens transformadoras e que estimulem a coprodução coletiva de políticas públicas.

Nesse espaço virtual serão apresentados, portanto, os melhores projetos realizados pelo CMC e outros parceiros para a garantia dos direitos das mulheres, assim como serão divulgados trabalhos técnicos e iniciativas sociais, além de poder servir para possibilitar a troca de informações sobre o perfil de profissionais e voluntários que atuam nessa área. Com essa possibilidade de articulação interinstitucional e interorganizacional ampla, o espaço virtual Mulheres em Rede poderá, ainda, servir para disseminar e replicar metodologias de ações protetivas e educativas, desmistificado conceitos sexistas, racistas e lesbofóbicos, atuando como espaço criativo de formação cidadã de crianças e jovens, de modo a contribuir para mudar a cultura machista que ainda predomina na nossa sociedade.

Por fim, a Rede poderá vir a assumir outras funções sociais importantes, como por exemplo, ser também um “observatório virtual” e um “repositório de informações e legados (registros da memória social), possibilitando a interconexão, em tempo real, de profissionais, ativistas, militantes, estudantes, voluntárias de diversas instituições, mediante as ferramentas de comunicação disponíveis. Quando concluída, acredita-se que essa TGS encurtará distâncias (espaços) e reduzirá prazos (tempo) de respostas das ações protetivas que integra as políticas públicas de proteção a mulheres em situação de violência, que exigem pronto atendimento como ocorre nas ações públicas de proteção dos direitos humanos.

Para concluir essas reflexões sobre os resultados do trabalho, merece destacar uma meditação feita por Vianna (2013) ao destacar que as plataformas sociais comuns no mundo moderno permitem a interação entre as pessoas, mas é fundamental lembrar que isso apenas não é o bastante para atingir o propósito de (re)organizar os ‘processos de trabalho’ ou para o objeto dessa pesquisa as relações sociais. O que exige dos coautores desse trabalho (incluindo o Coletivo de Mulheres do Calafate) admitir e estar alertas sempre para o seguinte fato: ao utilizar metodologias inovadoras baseadas nos jogos e integrar os recursos disponibilizados pelas TICs, é possível ampliar ou potencializar ações sociais inclusivas, comprometidas com o alcance da justiça social, porém não se pode perder de perspectiva que o elemento humano continua sendo o elemento mais complexo e relevante para lograr qualquer sucesso nos esforços aqui destacados. 5. Breves Considerações Finais

A título de considerações finais merece destacar que esse trabalho permitiu aos pesquisadores fazer apenas algumas reflexões preliminares, pois, devido à escolha

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metodológica, o trabalho ainda não foi concluído e encontra-se em curso tendo em vista que seu objetivo metodológico e técnico ainda não foi totalmente alcançado. Nesse sentido, merece registrar que o grupo de pesquisadores da UFBA continua articulado com o Coletivo de Mulheres do Calafate para dar sequência ao projeto de implantação integral da Tecnologia Social “Mulheres em Rede”. Mas para dar algumas pistas aos leitores interessados podem ser destacadas algumas conclusões preliminares, dando destaque, em primeiro lugar, a constatação da total desarticulação das políticas públicas brasileiras a partir da percepção de alguns beneficiários diretos, a exemplo do CMC. Ficou evidenciado nas discussões feitas com as Mulheres selecionadas que a Rede Nacional de Políticas Públicas de Proteção às Mulheres em Situação de Violência, assim como a Rede criada em Salvador que integra sua Região Metropolitana tem reduzida capacidade de atendimento das necessidades e expectativas da sociedade. No caso da política de proteção às mulheres em situação de violência, a exemplo de outras ações públicas como a fome e segurança pública, é ressaltado o fato de que a incompetência do Estado sacrifica muitas vidas, o que pode explicar em grande medida, a posição do Brasil no ranking dos países que mais deixa morrer seus cidadãos por falta de ação efetiva. Essa constatação demonstra o quão tem sido improvisados os esforços realizados pelo poder público para atender as demandas da sociedade, revelando descompromisso e incompetência política e técnica tanto no que se refere à concepção de políticas como principalmente no que compete a sua capacidade de execução e avaliação.

No que se refere aos avanços metodológicos e tecnológicos (TGS) merece destacar alguns aspectos proeminentes percebidos pelos pesquisadores, a partir tanto da aplicação do Jogo Cidadão Ativo como da pesquisa-ação e, principalmente, da observação participante. Com base nesse conjunto de recursos foi possível identificar alguns problemas que precisam ser enfrentados pelo Estado e pela sociedade brasileira, relacionados aos entraves que tem impedido melhorar a qualidade e efetividade das políticas públicas e qualificar a participação dos atores sociais, são eles: (a) baixa capacidade de integração e articulação dos agentes públicos e sociais para dar conta das políticas de proteção social – com destaque para a falta de competências em planejamento, gestão e governança pública; (b) baixa capacidade de comunicação entre os atores sociais interessados nas políticas públicas, o que vale tanto para os atores estatais quanto para os atores sociais – observação que ficou muito evidenciada no CMC; (c) baixa capacidade de difusão de práticas e saberes produzidos coletivamente; (d) dificuldade de desenvolver o potencial de liderança em organizações sociais fator que compromete a sustentabilidade dessas organizações e compromete sua força como ator representativo; entre outros problemas.

Destaca-se, ainda, que a cocriação das tecnologias sociais aqui destacadas impactaram positivamente não apenas no CMC, mas também na Universidade comprovada pela aprovação de um projeto de pesquisa desenvolvido pelo Programa de Estudos Aplicados em Administração Política e que integra as pesquisas desenvolvidas no âmbito do grupo Espaços Deliberativos e Governança Pública, vinculado a Clacso, cujo título é Estratégias de Governança em Rede de Políticas Públicas: Coproduzindo Tecnologias Sociais para o Enfrentamento da Violência contra a Mulher, o Rascismo e a LGBTfobia, financiado pela Pró-Reitoria de Ações Afirmativas e Assistência Estudantil da UFBA, através dos editais internos vinculados aos Programas Sankofa e Permanecer. Essa oportunidade possibilitará concluir e consolidar os compromissos assumidos junto ao Coletivo de Mulheres do Calafate como também viabilizará sua expansão para outros territórios e organizações sociais, assumindo, pois, o compromisso de oferecer os recursos teóricos e metodológicos coproduzidos para o enfrentamento da violência contras as mulheres, o racismo e a lgbtfobia.

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