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  • Gesto Participativa emUnidades de ConservaoUma experincia na Mata Atlntica

  • Gesto Participativa emUnidades de ConservaoUma experincia na Mata Atlntica

    Edilaine Dick

    Marcos Alexandre Danieli

    Alanza Mara Zanini

    (Organizadores)

    1 Edio

    Rio do Sul (SC), 2012

  • Ficha tcnica

    ProduoApremavi

    OrganizaoEdilaine Dick, Marcos Alexandre Danieli e Alanza Mara Zanini

    EdioMiriam Prochnow

    TextosAlanza Mara Zanini, Dailey Fischer, Deusdedet Alle Son, Edilaine Dick, Emerson Antonio de Oliveira, Laci Santin, Lucia Sevegnani, Marcelo Limont, Marcos Alexandre Danieli, Miriam Prochnow e Wigold Bertoldo Schaffer.

    FotografiaMiriam Prochnow, Marcos Alexandre Danieli, Edilaine Dick, Wigold Bertoldo Schaffer, Antonio de Almeida Correia Junior, Edegold Schaffer, Alanza Mara Zanini, Carolina Ctia Schaffer, Fabiana Bertonici, Jaqueline Pesenti, Leandro da Rosa Casanova, Ecopef e arquivo Apremavi.

    RevisoMiriam Prochnow, Wigold Bertoldo Schaffer e Daiana Tnia Barth.

    Projeto GrficoFbio Pili

    DiagramaoAna Cristina Silveira

    MapasCarolina Ctia Schffer

    ApoioAdemar Luiz Francescon, Afonso Camargo de Moura Neto, Alexandre Sachs, lvaro Luiz Mafra, Angelo Milani, Antonio de Almeida Correia Junior, Daiana Tnia Barth, Dailey Fischer, Deusdedet Alle Son, Edegold Schaffer, Eduardo Hermes, Eduardo Mussatto, Fabiana Bertoncini, Fabio Moreira Corra, Geraldine Marques Maiochi, Gilberto Fasolo, Grasiela Hoffmann, Jaqueline Pesenti, Joo Luiz Godinho, Juares Andreiv, Juarez Camra, Joo de Deus Medeiros, Juliano Rodrigues Oliveira, Laci Santin, Leandro da Rosa Casanova, Leoncio Pedrosa Lima, Lucia Sevegnani, Luiz

    Eduardo Torma Burgueo, Marcelo Limont, Marcia Casarin Strapazzon, Marcos Da-R, Maria Luiza Schmitt Francisco, Miriam Prochnow, Murilo Anzanello Nichele, Patrcia Maria Soliani, Rafael Leo, Ricardo Castelli Vieira, Rodrigo Filipak Torres e Valburga Schneider.

    AgradecimentosComunidades vizinhas e gestores das Unidades de Conservao envolvidas no projeto; Unochapec Universidade Comunitria da Regio de Chapec.

    Esta publicao foi elaborada com recursos do Subprograma Projetos Demonstrativos PDA Mata Atlntica, criado em 1995 dentro do Ministrio do Meio Ambiente (MMA), no mbito do Programa Piloto para a Proteo das Florestas Tropicais PPG7. O livro parte integrante do projeto Integrao e Capacitao de Conselhos e Comunidades na Gesto Participativa de Unidades de Conservao Oeste de SC e Centro Sul do PR (PDA-513MA).

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    G393

    Gesto participativa em Unidades de Conservao: uma experincia na Mata Atlntica / Edilaine Dick, Marcos Alexandre Danieli, Alanza Mara Zanini (Orgs.). 1. ed. Rio do Sul, SC : APREMAVI, 2012.

    72 p.; 27 cm. Bibliografia: p. 68-70.ISBN 978-85-88733-08-4

    1. Gesto ambiental Mata Atlntica. 2. reas de conservao de recursos naturais Mata Atlntica Administrao. 3. Conservao da natureza Mata Atlntica. 4. Poltica ambiental. I. Dick, Edilaine II. Danieli, Marcos Alexandre III. Zanini, Alanza Mara. IV. Associao de Preservao do Meio Ambiente e da Vida.

    CDD 363.700981

    DADOS INTERNACIONAIS PARA CATALOGAO DA PUBLICAO (CIP)

    Catalogao elaborada pela Bibliotecria Roberta Maria de Oliveira Vieira CRB-7 5587

  • Um dos objetivos das Unidades de Conservao proteger a biodiversidade.

  • Refgio de Vida Silvestre dos Campos de Palmas (PR).

  • Sumrio 6 Apresentao 8 O Projeto de Gesto Participativa em Unidades de Conservao

    10 Mata Atlntica 10 A Mata Atlntica no Brasil 14 A Mata Atlntica em Santa Catarina 16 Floresta Ombrfila Mista 18 Floresta Estacional Decidual 19 Campos de Altitude 20 As Outras Matas da Mata Atlntica 22 A Mata Atlntica Ameaada

    24 Unidades de Conservao 24 O que so Unidades de Conservao 28 Unidades de Conservao no Brasil 30 Unidades de Conservao Envolvidas no Projeto

    44 Gesto Participativa 44 Gesto Participativa em Unidades de Conservao 46 Conselho Gestor de Unidades de Conservao 50 Ferramentas para Conselhos Gestores de Unidades de Conservao 52 Formando e Renovando um Conselho Consultivo 56 Os Conselhos Consultivos das Unidades de Conservao Envolvidas no Projeto 58 A Educao Ambiental como Chave para a Conservao da Natureza 60 Experincias de Apoio Gesto de Unidades de Conservao

    68 Referncias Bibliogrficas 71 Contatos

    Foto: W

    igold B. Schaffer

  • Gesto Participativa em Unidades de Conservao

    Apresentao

    Possibilitar o acesso das pessoas s UCs uma das melhores formas de conscientizao ambiental. Parque Nacional das Araucrias (SC).

    Marcos A. Danieli

  • 7Unidades de Conservao (UCs) so estratgicas para a proteo da biodiversidade. No entanto, para que estas reas cumpram com o papel para o qual foram criadas, necessrio um grande esforo conjunto, que vai muito alm da sua criao. Para isso, neces-srio a construo de novos valores, conceitos e formas de relao dos diversos setores da sociedade com o meio ambiente.

    Fortalecer os conselhos consultivos das UCs, buscando envolver os diferentes interesses e representaes nestes espaos no tem sido tarefa fcil, devido a diversas difi culdades encontradas para a promo-o da participao social e para a implementao das Unidades de Conservao no Brasil.

    Embora existam diversos obstculos, iniciativas inovadoras e partici-pativas podem fazer a diferena no auxlio criao, planejamento, implementao e gesto de UCs, como forma de minimizar os diver-

    A criao de Unidades de Conservao (UCs) uma das principais

    estratgias de conservao da biodiversidade. No entanto, para que estas

    reas cumpram com o papel para o qual foram criadas, necessrio um

    grande esforo conjunto, que vai muito alm da sua criao.

    sos confl itos ambientais que muitas vezes esto envolvidos nestes pro-cessos. Dentre estas iniciativas, destacam-se aes de sensibilizao e capacitao dos diversos atores relacionados s UCs e atividades que promovam a troca de experincias entre estas reas, seus conselhos e demais pessoas envolvidas, enquanto ao de formao continuada que pode refl etir em novos olhares sobre as UCs.

    A experincia do projeto Integrao e Capacitao de Conselhos e Comunidades na Gesto Participativa de UCs Federais e Estaduais Oeste de SC e Centro-Sul do PR demonstrou que o trabalho voltado Gesto Participativa de Unidades de Conservao exige muita dedi-cao de todos os atores envolvidos, sejam eles relacionados ao poder pblico ou sociedade civil. Contribuir na gesto ambiental pblica re-fl ete a essncia de nossa atuao enquanto cidados, em uma atuao recente e que deve buscar a construo de caminhos que respeitem a diversidade biolgica, em seu mais amplo sentido.

    Atravs desta publicao, relatamos como foi a experincia do projeto e esperamos contribuir para um efeito multiplicador em diversos con-selhos de Unidades de Conservao, auxiliando para que esses espaos se tornem efetivos e sejam o elo de ligao entre as UCs e diferentes setores da sociedade.

    Trabalhar nesse projeto foi uma experincia nica que nos possibi-litou expandir nossas amizades com os diferentes atores envolvidos e nossos conhecimentos sobre a gesto e funcionamento das UCs. Agradecemos a todos os membros dos conselhos, gestores, educa-dores, comunidades e representantes de diversas entidades que nos receberam de maneira acolhedora e se integraram s aes propostas, permitindo que juntos dssemos um passo importante para a gesto participativa das seis UCs envolvidas no projeto.

    Conselhos so formados por pessoas, que representam entidades e comu-nidades que querem fazer diferente e auxiliar na efetividade, implantao e gesto da UC. Desejamos sucesso a todos esses conselhos e conselheiros.

    Trabalhos em parceria so fundamentais na implantao de UCs.

    Edilaine Dick, Marcos Alexandre Danieli e Alanza Mara ZaniniEquipe tcnica do projeto

    Miriam Prochnow

  • Gesto Participativa em Unidades de Conservao

    O Projeto de Gesto Participativa em Unidades de Conservao

    O projeto Integrao e Capacitao de Conselhos e Comuni-dades na Gesto Participativa de Unidades de Conservao (UCs) Federais e Estaduais Oeste de SC e Centro-Sul do PR uma iniciativa da Associao de Preservao do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi). Aprovado na chamada 09 do Subprograma Pro-jetos Demonstrativos - PDA Mata Atlntica, foi realizado no perodo de fevereiro de 2011 a setembro de 2012.

    O projeto envolveu 04 UCs federais e 02 estaduais, localizadas pr-ximas geografi camente, sendo elas: Parque Nacional (PARNA) das Araucrias, Estao Ecolgica (ESEC) Mata Preta, Parque Estadual (PE) Fritz Plaumann, Parque Estadual (PE) das Araucrias, Floresta Na-cional (FLONA) de Chapec e Refgio de Vida Silvestre (REVIS) dos Campos de Palmas.

    Teve como objetivo ampliar as competncias e habilidades dos di-versos atores relacionados a estas UCs, como forma de incrementar e potencializar a gesto participativa e seus principais instrumentos de gesto, como os planos de manejo, plano de ao para conservao e os conselhos consultivos.

    Durante o desenvolvimento do projeto, foram realizadas atividades de educao ambiental e capacitao visando promoo da gesto participativa nas Unidades de Conservao envolvidas, tendo como pblico principal os gestores, conselhos consultivos, comunidades e educadores com atuao nas escolas localizadas na zona de amorte-cimento (ZA) e entorno das UCs.

    Uma iniciativa da Associao de Preservao

    do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi)

    A presente publicao apresenta uma abordagem geral sobre a Mata Atlntica, as principais caractersticas das formaes fl orestais prote-gidas pelas UCs envolvidas no projeto e uma breve contextualizao dessas reas protegidas. Alm disso, apresenta o processo de forma-o e funcionamento dos conselhos gestores de UCs, abordando os princpios da gesto participativa e fi naliza com um breve relato das principais atividades realizadas e experincias adquiridas durante o projeto como uma forma de apoio gesto das UCs.

    Ilustrada com depoimentos de conselheiros e pessoas envolvidas na gesto das UCs e fotos que contribuem para a caracterizao local e regional, uma contribuio da Apremavi para a gesto de Unidades de Conservao.

    Aproximar as comunidades das UCs um dos passos da gesto participativa.

    PROJETO DE GESTO PARTICIPATIVA EM UNIDADES DE CONSERVAO, SITEhttp://www.apremavi.org.br/gestao-participativa-em-ucs

    Marcos A. Danieli

  • 9A formao dos Conselhos Consultivos exige espaos para discusso coletiva.

    reas das Unidades de Conservao Envolvidas no Projeto

    Edilaine Dick

  • Gesto Participativa em Unidades de Conservao

    A Mata Atlntica no Brasil

    Ainda existem muitas reas na Mata Atlntica a serem transformadas em UCs. Remanescente fl orestal no Parque Nacional do Itatiaia (RJ/MG/SP).

    Edilaine DickBiloga. Especialista em Educao no Campo e Desenvolvimento Territorial. Coordenadora de Projetos da Apremavi. [email protected]

    Miriam Prochnow

  • 11

    Mapa da Mata Atlntica

    A Mata Atlntica reconhecida como uma das regies

    ecolgicas mais ricas em diversidade biolgica do

    planeta. De acordo com a Lei no 11.428/2006, a Mata

    Atlntica est presente em 17 estados brasileiros.

    Fonte: Este mapa foi elaborado a partir do Mapa da rea de aplicao da Lei 11.428 de 2006 (IBGE, 2008). Escala 1:5.000.000

  • Gesto Participativa em Unidades de Conservao

    A Mata Atlntica reconhecida como uma das regies ecolgi-cas mais ricas em diversidade biolgica do planeta. De acordo com a Lei n 11.428/2006, a Mata Atlntica est presente em 17 estados brasileiros e compreende as seguintes formaes fl orestais e ecossistemas associados: fl oresta ombrfi la densa, fl oresta ombrfi -la mista, fl oresta ombrfi la aberta, fl oresta estacional semidecidual e fl oresta estacional decidual, bem como os manguezais, as vegetaes de restingas, os campos de altitude, os refgios vegetacionais, os brejos interioranos e os encraves fl orestais existentes no Nordeste e nos es-tados de Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul. Estas formaes permitem condies adequadas para a sobrevivncia de uma grande quantidade de espcies de seres vivos, alm de garantirem a manuteno dos recursos naturais e de diversos servios ambientais.

    No Brasil, a Mata Atlntica compreendia originalmente uma rea1 de 1.296.446 km, representando 15% do territrio. Esse nmero come-ou a mudar com o processo de colonizao e industrializao do pas. Atualmente, restam aproximadamente 7,9% da rea original da Mata Atlntica em fragmentos fl orestais acima de 100 hectares e bem conservados. Quando considerados os fragmentos de fl oresta natural

    1 Fonte: Mapa da rea de aplicao da Lei no 11.428, de 2006, escala 1: 5.000.000 do IBGE.

    acima de trs hectares, em todos os estgios de conservao, este ndi-ce chega a 13,32% (SOS Mata Atlntica/INPE, 2011).

    Estima-se que aproximadamente oito mil espcies de plantas endmi-cas, ou seja, que no ocorrem em nenhum outro lugar do planeta, so encontradas na Mata Atlntica, inmeras dessas espcies esto amea-adas de extino. Calcula-se ainda que na Mata Atlntica j tenham sido descritas ao todo, mais de 20.000 espcies vegetais, muitas delas utilizadas na alimentao humana, com fi nalidades medicinais e orna-mentais, manuteno do equilbrio da fauna, manuteno da fl oresta e demais processos ecolgicos associados (Campanili & Prochnow, 2006).

    A ocorrncia de determinada espcie em uma regio especfi ca de-pende da combinao de diversos fatores, como clima, relevo e alti-tude, como o caso da erva-mate (Ilex paraguariensis), matria-prima do chimarro (bebida tpica do sul do Brasil), e do pinheiro-brasileiro (Araucaria angustifolia). Algumas espcies apresentam ampla distri-buio na Mata Atlntica, como o cedro (Cedrella fi ssilis), canjerana (Cabralea cangerana), palmiteiro (Euterpe edulis), palmeira-jeriv (Are-castrum romanzoffi anum), entre outras (Guedes et al., 2005).

    A presena de bromlias, musgos, liquens, epfi tas e lianas tambm resultado da interao entre esses fatores, associado ao micro e

    Diversas comunidades tradicionais dependem da Mata Atlntica para sobreviver. Produo de farinha na Resex do Mandira (SP).

    Miriam Prochnow

  • 13

    macro-clima e diversidade e dominncia de rvores que permitem a oferta de ambientes ideais para o desenvolvimento dessas esp-cies. Entre as bromlias, h evidncias que 75% so de ocorrncia restrita ao bioma (Guedes et al., 2005).

    Quanto presena de animais, estima-se que sejam encontradas mais de 1,6 milhes de espcies, incluindo os insetos e demais in-vertebrados. Ona-pintada (Panthera onca), anta (Tapirus terres-tris), mico-leo-dourado (Leontopithecus rosalia), mico-leo-preto (Leontopithecus chrysopygus), macaco-muriqui (Brachyteles sp.), queixada (Tayasu pecari) e cateto (Pecari tajacu), so alguns dos mamferos mais conhecidos e citados. Das 270 espcies de mam-feros encontradas, muitas so endmicas e ameaadas de extino. Tambm j foram registradas para a Mata Atlntica, aproximada-mente, 340 espcies de anfbios, 350 de peixes, 197 de rpteis e 1020 espcies de aves (IBF, 2012). na Mata Atlntica que se con-centra o maior nvel de endemismo de aves do planeta (Guedes et al., 2005).

    A Mata Atlntica tambm guarda muitas espcies que ainda no foram descobertas pela cincia, e outras que foram descobertas re-centemente, como a r-de-alcatrazes (Cycloramphus sp.), os pssa-ros tapaculo-ferrerinho (Scytalopus pachecoi) e bicudinho-do-brejo

    (Stymphalornis acutirostris), e um novo primata, o mico-leo-de--cara-preta (Leontopithecus caissara) (IBF, 2012).

    Aproximadamente 70% dos brasileiros moram em regio de ocor-rncia da Mata Atlntica e dependem da conservao dos rema-nescentes fl orestais que contribuem para a manuteno de diversos servios ambientais, como a regulao do clima, da temperatura, das chuvas e a fertilidade dos solos, alm de auxiliarem na proteo de escarpas e morros e na manuteno de nascentes e mananciais de gua que abastecem os municpios, essenciais ao desenvolvi-mento de atividades agropecurias (Campanili & Prochnow, 2006).

    Diversas comunidades tradicionais, como os ndios, caiaras, qui-lombolas e ribeirinhos, dependem diretamente da Mata Atlntica para a sua sobrevivncia, pois nessa rea que desenvolvem a pes-ca artesanal, a agricultura de subsistncia, extrativismo, artesanato, cultivo de plantas medicinais, entre outras atividades menos impac-tantes ao ambiente. Esses povos em geral mantm um modo de vida baseado no conhecimento dos seus antepassados e na manu-teno das suas tradies, que permitem, muitas vezes, uma rela-o mais harmoniosa com a natureza (Campanili & Schaff er, 2010), fazendo da Mata Atlntica um patrimnio histrico, cultural e bio-lgico riqussimo.

    Acima: Mico-leo-dourado no entorno da Rebio de Poo das Antas (RJ). Ao lado: detalhes da fl ora e gua da Mata Atlntica.

    Fotos: Miriam Prochnow

  • Gesto Participativa em Unidades de Conservao

    Filhote de cahorro-do-mato no Parque Nacional de So Joaquim (SC).

    A Mata Atlnticaem Santa Catarina

    O estado de Santa Catarina encontra-se 100% em rea per-tencente Mata Atlntica, compreendendo as diferentes regies fi toecolgicas: fl oresta ombrfi la mista, fl oresta om-brfi la densa, fl oresta estacional decidual, formaes pioneiras (man-guezais e restingas) e campos de altitude.1

    De acordo com o Mapa dos Remanescentes Florestais da Mata Atln-tica, no perodo de 2008 a 2010, Santa Catarina foi o estado com maior rea de remanescentes fl orestais do bioma em relao a sua rea ori-ginal, correspondendo a rea de 2.210,061 ha, ou 23,03% do estado. No entanto, o histrico de degradao grande, pois de 2000 a 2011 foram desmatados aproximadamente 78.946 hectares (SOS Mata Atlntica/INPE, 2012).

    O intenso histrico de desmatamento provocou a fragmentao das fl orestas e acentuada perda qualitativa nas fl orestas catarinenses. Muitas espcies tornaram-se raras e vrias j no so mais encon-tradas em reas que esto em regenerao. Destaca-se tambm um acentuado processo de eroso gentica, de espcies como canela--preta (Ocotea catharinensis), canela-sassafrs (Ocotea odorifera), im-buia (Ocotea porosa), araucria (Araucaria angustifolia) e palmito (Eu-terpe edulis), as quais encontram-se na lista de espcies ameaadas de extino (Campanili e Schaff er, 2010).

    Apesar da intensa fragmentao, alguns macios fl orestais revelam a exuberncia e a beleza da Mata Atlntica que ainda pode ser avistada e admirada no estado, como as imponentes araucrias localizadas no Planalto Oeste, a valiosa canela-preta, no Vale do Itaja, e os campos de altitude da Serra Catarinense, com destaque para a formao do Campo dos Padres.

    Importantes reas de manguezais esto localizadas na Baa da Babi-tonga, na regio de So Francisco do Sul e Joinville, as quais so es-

    1 Classifi cao de acordo com a Lei n 11.428, de 22 de dezembro de 2006.

    Edilaine DickContribuio Dra. Lucia Sevegnani. Departamento de Cincias Naturais. Universidade Regional de Blumenau. [email protected]

    senciais para a conservao de espcies marinhas, como as toninhas (Pontoporia blainvillei). Os fragmentos de fl oresta ombrfi la densa, especialmente no interior do Parque Nacional da Serra do Itaja, hots-pot da biodiversidade catarinense no Vale do Itaja, tambm mere-cem destaque, constituindo-se em importantes refgios para esp-cies da fauna e fl ora.

    Pequena parcela da Mata Atlntica encontra-se protegida por Unida-des de Conservao, apresentando grande potencial para a formao de corredores ecolgicos, com destaque especial nesse livro para as formaes da fl oresta ombrfi la mista, fl oresta estacional decidual e os campos de altitude, localizados na regio Oeste do estado de Santa Catarina, divisa com o Paran. Estas formas de vegetao sero descri-tas nos captulos a seguir.

    Wigold B. Schaff er

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    Paisagem deslumbrante do Campo dos Padres (SC), rea que aguarda a criao de um Parque Nacional.

    Exuberncia da Mata Atlntica no Parque Nacional da Serra do Itaja (SC).

    Fotos: Miriam Prochnow

  • Gesto Participativa em Unidades de Conservao

    Floresta Ombrfila Mista

    A floresta ombrfila mista, popularmente conhecida como floresta com araucrias, uma das formaes Florestais da Mata Atlntica que se destaca pela beleza e predominn-cia da Araucaria angustifolia, conhecida como pinheiro-brasileiro, pinheiro-do-paran ou simplesmente araucria. Segundo o pesqui-sador Roberto M. Klein (1978), a predominncia da araucria forma a caracterstica mata preta, mas esta aparente homogeneidade revela uma floresta complexa e heterognea, que abriga uma grande diver-sidade de espcies.

    A abrangncia original desta floresta percorria regies de altitude mais elevada do Sul e Sudeste, ocupando cerca de 40% do territrio do Pa-ran, 30% de Santa Catarina e 25% do Rio Grande do Sul, alm de reas descontnuas nos estados de So Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro (Klein, 1960).

    O ritmo acelerado do desmatamento, contudo, diminuiu a rea de distribuio original da floresta com araucrias no Brasil a menos de 5%, conforme dados do Ministrio do Meio Ambiente (2000). Em Santa Catarina, restam raros remanescentes florestais nativos dispersos e fragmentados, perfazendo aproximadamente 2% da rea original (Medeiros, 2000). No Paran, levantamentos feitos em 2004, pela Fundao de Pesquisas Florestais do Paran FUPEF, li-gada Universidade Federal do Paran, registraram a existncia de apenas 0,8% (66.109 ha) de remanescentes em estgio avanado de

    regenerao e que resguardam as principais caractersticas das flo-restas primitivas. O mesmo estudo apontou tambm a existncia de outros 0,98% (78.194 ha) de reas onde predomina o pinheiro brasileiro, as quais incluem tanto reas de floresta quanto capes de floresta situados em meio a reas de campo. Em resumo, no estado do Paran, apenas 1,78% da rea original da floresta com araucrias, ainda mostra a predominncia da rvore smbolo do ecossistema (PROBIO/MMA, 2004).

    A floresta com araucrias um ecossistema heterogneo e complexo, com uma grande variedade de espcies, muitas endmicas e ameaa-das de extino. Dentre os animais, diversos grupos possuem espcies ameaadas, tais como a perereca-de-vidro (Vitreorana uranoscopa), a serpente endmica Bothrops cotiara, o pica-pau-cara-canela (Dryoco-pus galeatus) e o puma (Puma concolor) (Prochnow, 2009).

    Alm do pinheiro brasileiro, diversas outras espcies vegetais podem ser encontradas, como a canela-amarela (Nectandra lanceolata), a imbuia (Ocotea porosa), a erva-mate (Ilex paraguariensis), o xaxim (Dicksonia sellowiana) e o cedro (Cedrela fissilis) (Prochnow, 2009).

    A rica biodiversidade da floresta com araucrias fornece diversos servi-os ambientais. O pinho, por exemplo, que a semente do pinheiro, serve de alimento para os animais em poca de escassez alimentar. Tambm tema e fonte de diversas festas populares, que geram ren-da e movimentam a economia local, alm de ser base de subsistncia para diversas comunidades. Entretanto, a cadeia produtiva da coleta, venda, compra e transporte do pinho ainda necessita de melhor re-gulamentao e adequao em diversas regies.

    Destaca-se que nos ltimos anos houve diversos avanos legais e institucionais que ajudam na conservao e recuperao da flo-resta com araucrias. O principal avano foi a aprovao da Lei 11.428/2006 e sua regulamentao atravs do Decreto 6.660/2008, que proibiram a explorao de vegetao primria da Mata Atln-

    Wigold Bertoldo SchafferAdministrador. Consultor ambiental. Foi Coordenador do Ncleo da Mata Atlntica do Ministrio do Meio Ambiente. [email protected].

    Marcos Alexandre DanieliBilogo. Mestrando em Cincias Ambientais. Tcnico Ambiental da Apremavi. [email protected]

    PARQUE ESTADUAL DAS ARAUCRIASpgina 38PARQUE NACIONAL DAS ARAUCRIASpgina 40ESTAO ECOLGICA MATA PRETApgina 32

  • 17

    tica e tambm a explorao comercial de espcies florestais nos estgios mdio e avanado de regenerao, exceo de espcies pioneiras no estgio mdio, neste caso, admitido quando estas es-pcies somarem mais de 60% dos exemplares na rea de mane-jo. Outro aspecto de grande acerto da Lei da Mata Atlntica foi a proibio definitiva de toda e qualquer explorao madeireira com finalidade comercial (a includas as espcies ameaadas de extino) nos remanescentes de vegetao nativa em estgio avan-ado e primrio e, com exceo de espcies pioneiras, tambm no estgio mdio de regenerao. A legislao, alm de contribuir de-cisivamente na reduo dos ndices de desmatamento, est dando uma chance, em funo da proibio da explorao florestal ge-neralizada, para os fragmentos de vegetao nativa remanescentes recuperarem sua estrutura e biodiversidade (RBMA, 2012).

    Como estratgia para a conservao da fl oresta com araucrias, desta-ca-se tambm a criao de novas Unidades de Conservao (UCs) e a efetiva implantao das j existentes, aliada criao de corredores ecolgicos e/ou de biodiversidade, para interlig-las e potencialmente gerar renda s famlias a partir do pagamento por servios ambientais.

    Em outubro de 2005 foram criadas na regio oeste de Santa Catarina a Estao Ecolgica Mata Preta com 6.563,00 ha e o Parque Nacional das

    Araucrias com 12.841,00 hectares. No Paran foram criadas a Reserva Biolgica das Araucrias com 14.919,42 hectares, a Reserva Biolgica das Perobas com 8.716,00 hectares, o Refgio de Vida Silvestre dos Campos de Palmas com 16.582,00 hectares e o Parque Nacional dos Campos Gerais com 21.286,00 hectares.

    No Oeste de Santa Catarina o Parque Estadual das Araucrias, o Par-que Nacional das Araucrias e a Estao Ecolgica Mata Preta, UCs situadas prximas geografi camente e que a partir da conectividade dos fragmentos, ampliam a rea de fl oresta, mantm os servios am-bientais e em melhoram a qualidade de vida da regio.

    Mesmo assim, a rea de Floresta com Araucrias protegida em Unida-des de Conservao no passa de 1% da rea original do ecossistema, o que ainda absolutamente insufi ciente para garantir a conservao desta importante tipologia fl orestal, com toda a sua biodiversidade de fauna e fl ora, no longo prazo. Isso aponta a necessidade urgente da criao de novas Unidades de Conservao, pblicas (federais, estadu-ais e municipais) e privadas, principalmente se levarmos em conta as metas da Conveno da Diversidade Biolgica (CDB), da qual o Brasil signatrio, e que prev a proteo efetiva de pelo menos 17% de reas terrestres e de guas continentais e 10% de reas marinhas e costeiras em sistemas de reas protegidas.

    Remanescente de fl oresta com araucrias na Floresta Nacional de So Francisco de Paula (RS).

    Miriam Prochnow

  • Gesto Participativa em Unidades de Conservao

    Floresta Estacional Decidual

    A fl oresta estacional decidual apresentava reas descontnuas em diversas regies do Brasil, como no Vale do Rio Uruguai e afl uentes, por entremeio fl oresta com araucrias, regio denominada pelo pesquisador Roberto M. Klein (1978) como fl oresta do Rio Uruguai. Segundo este mesmo pesquisador, nos vrios afl uentes esta fl oresta pode subir os vales at altitudes de 600 a 800 metros, tendo sido denominada pelos colonizadores como mata branca pela ausn-cia dos pinheiros, em oposio mata preta onde estes predominam.

    Diferentemente das fl orestas ombrfi las, a fl oresta estacional decidual marcada por um clima de duas estaes, uma mais fria de inverno e outra quente de vero, condio que faz com que mais de 50% das rvores percam suas folhas nas pocas mais desfavorveis (fria).

    Originalmente, a fl oresta estacional decidual abrangia 8% do estado de Santa Catarina (Klein, 1978). Sua rea, no entanto, historicamente foi reduzida e degradada pela explorao madeireira e abertura de novas reas para a agricultura, restando poucos fragmentos, continuamente ameaados por diversos usos inadequados.

    Na regio Sul do Brasil, o maior remanescente da fl oresta estacional decidual encontra-se no Parque Estadual do Turvo (RS), com aproxi-madamente 17 mil hectares. Em Santa Catarina, destaca-se o Parque Estadual Fritz Plaumann, que mesmo com uma pequena rea, desem-penha papel importante na conservao desta ameaada fl oresta, que pouco representada em Unidades de Conservao. Destaque tambm para a Floresta Nacional de Chapec, que abrange um dos

    Marcos Alexandre DanieliContribuio Dra. Lucia Sevegnani. Departamento de Cincias Naturais. Universidade Regional de Blumenau. [email protected]

    PARQUE ESTADUAL FRITZ PLAUMANN pgina 36FLORESTA NACIONAL DE CHAPECpgina 34

    maiores remanescentes de fl oresta estacional decidual da regio Oeste de Santa Catarina, em transio com a fl oresta ombrfi la mista.

    Esta formao fl orestal possui espcies caractersticas, como a canafs-tula (Pelthoporum dubium), a grpia (Apuleia leocarpa), o cedro (Ce-drela fi ssilis) e o angico-vermelho (Parapiptadenia rigida). Dentre os animais, h muitos que se encontram ameaados pela caa e desma-tamento, como o macaco-prego (Cebus nigritus), a paca (Agouti paca), o tamandu-mirim (Tamandua tetradactyla), o veado (Mazama ame-ricana), a cutia (Dasyprocta azarae), o jacu (Penelope obscura), a pe-rereca-de-vidro (Vitreorana uranoscopa), a jararaca-pintada (Botrhops neuwiedii) e a caninana (Spilottes pullatus) (FATMA, 2004).

    Salto do Iucum no Parque Estadual do Turvo (RS).

    Miriam Prochnow

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    Campos de Altitude

    Na Mata Atlntica, em especial no sul do Brasil, os campos naturais predominam em zonas de maior altitude, caracte-rizada por cotas de 800 a 2.000 metros, sendo conhecidos como campos de altitude do planalto das araucrias, campos de cima da serra ou simplesmente campos de altitude.

    Segundo a pesquisadora Ilsi Boldrini (2009), os campos de altitude abrangem 1.374.000 hectares do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, correspondendo a 7,9% das reas de todos os campos nestes estados.

    Conforme Roberto M. Klein (1978), no planalto de Santa Catarina, as reas de campos formam ncleos considerveis, principalmente, nos municpios de Lages, So Joaquim, Campos Novos, Curitibanos e Ma-tos Costa, bem como na parte norte da zona de abrangncia do Rio do Peixe, especialmente no municpio de gua Doce, abrangendo as reas conhecidas como campos de Palmas.

    A vegetao campestre na Mata Atlntica representada por grandes extenses de campo, associados fl oresta com araucrias e turfeiras. So encontradas araucrias (Araucaria angustifolia), entremeadas por outras espcies, como o pinheiro-bravo (Podocarpus lambertii) e a bracatinga (Mimosa scabrella), cobertas por barba-de-pau (Tillandsia usneoides), que se encontram junto a coxilhas amareladas pela grande quantidade de capim-caninha (Andropogon lateralis), espcie carac-terstica dos campos. Tambm so encontradas espcies de diversas famlias, algumas muito vistosas, como as compostas, as leguminosas, as verbenceas e as solanceas (Boldrini et al., 2009).

    Algumas das espcies mais populares da fauna ocorrem nos campos, tais como a ema (Rhea americana), o quero-quero (Vanellus chilensis), a caturrita (Myiopsitta monachus), o joo-de-barro (Furnarius rufus), o graxaim-do-campo (Lycalopex gymnocercus), o tamandu-bandeira (Myrmecophaga tridactyla), o veado-campeiro (Ozotoceros bezoarticus), o lobo-guar (Chrysocyon brachyurus), o bugio-preto (Alouatta caraya), o puma (Puma concolor), entre outras. Segundo o pesquisador Glayson

    Alanza Mara ZaniniEstudante de Cincias Biolgicas. Estagiria da Apremavi. [email protected].

    REFGIO DE VIDA SILVESTRE DOS CAMPOS DE PALMAS pgina 42

    A. Bencke (2009) foram registradas 21 espcies de vertebrados que s ocorrem nos campos do Sul do Brasil.

    Os campos garantem servios ambientais importantes, contribuindo com a conservao de recursos hdricos, no acmulo de carbono no solo e como fonte de forragem para a atividade pastoril. Alm disso, abrigam alta biodiversidade, oferecendo beleza cnica com grande potencial turstico.

    A sua conservao, no entanto, tem sido ameaada pela rpida e con-tnua descaracterizao e fragmentao de seus ambientes, relacio-nada ao avano extenso de monoculturas agrcolas e de de espcies fl orestais exticas, inclusive espcies invasoras como o Pinus, alm da drenagem de banhados e represamentos por hidreltricas, entre ou-tros usos que colocam em risco este importante ecossistema.

    As Unidades de Conservao tm sido a principal estratgia de con-servao das poucas reas restantes dessa formao, como o caso do Refgio de Vida Silvestre dos Campos de Palmas, que conserva impor-tantes remanescentes de campos no Centro-Sul do Paran, abrangen-do uma rea de 16.582 hectares.

    Campos de altitude na regio proposta para a criao do Refgio de Vida Silvestre do Corredor do Pelotas (SC/RS).

    Miriam Prochnow

  • Gesto Participativa em Unidades de Conservao

    Alm da fl oresta ombrfi la mista, da fl oresta estacional decidual e dos campos de altitude, outras importantes formaes vegetais conferem uma grande diversidade paisagem da Mata Atlntica.

    As Outras Matas da Mata AtlnticaMiriam ProchnowPedagoga, especialista em Ecologia Aplicada. Coordenadora de Polticas Pblicas da Apremavi. [email protected]

    Floresta Ombrfi la Densa

    Estende-se do Cear ao Rio Grande do Sul, localizada prin-cipalmente nas encostas da Serra do Mar, da Serra Geral e em ilhas situadas no litoral entre os estados do Paran e do Rio de Janeiro. marcada pelas rvores de copas altas, que formam uma cobertura fechada. Foto: Floresta Nacional de Ibirama (SC).

    Floresta estacional semidecidual

    Conhecida como mata de interior, ocorre no Planalto brasi-leiro, nos estados de So Paulo, Paran, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Alguns encraves ocorrem no Nordeste, como nos estados da Bahia e Piau. Foto: Parque Nacional do Iguau (PR).

    Floresta Ombrfi la Aberta

    A vegetao mais aberta, sem a presena de rvores que fe-chem as copas no alto, ocorre em regies onde o clima apre-senta um perodo de dois a, no mximo, quatro meses secos, com temperaturas mdias entre 24 C e 25 C. encontrada, por exemplo, em Minas Gerais, Esprito Santo e Alagoas. Foto: rea de Proteo Ambiental da Serra de Maranguape (CE).

    Fotos: Miriam Prochnow

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    Manguezais

    Formao que ocorre ao longo dos esturios, em funo da gua salobra produzida pelo encontro da gua doce dos rios com a do mar. uma vegetao muito caracterstica, pois tem apenas sete espcies de rvores, mas abriga uma diversi-dade de microalgas pelo menos dez vezes maior. Foto: Reser-va Extrativista do Mandira (SP).

    Restingas

    Ocupam grandes extenses do litoral, sobre dunas e pla-ncies costeiras. Iniciam-se junto praia, com gramneas e vegetao rasteira, e tornam-se gradativamente mais varia-das e desenvolvidas medida que avanam para o interior, podendo tambm apresentar brejos com densa vegetao aqutica. Abrigam muitos cactos, orqudeas e bromlias. Foto: Reserva Biolgica de Comboios (ES).

    Fotos: Miriam Prochnow

  • Gesto Participativa em Unidades de Conservao

    A Mata Atlntica Ameaada

    A Mata Atlntica a ecorregio brasileira mais alterada em razo da drstica reduo da sua rea original. O levantamento rea-lizado pela Fundao SOS Mata Atlntica e INPE, que indica a existncia de meros 7,90% da sua rea original, aponta que a fragmenta-o da vegetao nativa da Mata Atlntica um processo extremamen-te crtico, em seus vrios ecossistemas. Fragmentos predominantemente dispersos, no raramente distantes uns dos outros, comprometem o fluxo gnico e, por conseguinte, a manuteno da diversidade biolgica.

    Por outro lado, parte dos remanescentes se encontra em proprieda-des privadas, localizadas em regies serranas e de difcil acesso para aproveitamento agropecurio, principalmente no Sul e Sudeste do Pas. Essa dificuldade de acesso dificultou tambm o desenvolvimen-to de atividades agropecurias e contribuiu para a conservao dessas reas (RBMA, 2012).

    Segundo dados da SOS Mata Atlntica/INPE 1, em mdia, no perodo 2008-2010, a taxa anual de desmatamento apresentou uma queda de 21% em relao ao perodo anterior do estudo (2005 2008). Este le-vantamento, que incluiu reas de 9 estados (GO, MG, ES, RJ, SP, MS, PR, SC, RS) apontou o desmatamento de 20,8 mil hectares de remanes-centes florestais, vegetao de restinga e de manguezal e mostrou que alguns estados continuam desmatando mais que outros. J no perodo 2010-2011, o levantamento indicou uma queda de 18% em relao ao levantamento de 2010. Segundo o Ministrio do Meio Ambiente, mesmo que o ritmo geral de desmatamento tenha diminudo de for-ma consistente, os nmeros do desmatamento ainda so alarmantes e totalmente injustificveis se considerado o grau de destruio j atin-gido pela Mata Atlntica.

    So diversos os fatores que ainda impactam e contribuem com a degradao da Mata Atlntica. H tambm grandes obras e em-

    1 Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlntica, 2010-2011: http://webcall.riweb.com.br/sos/29052012/material/290512_atlas2010-2011_sintese.pdf

    Miriam ProchnowWigold Bertoldo Schaffer

    preendimentos como as hidreltricas, que ainda so planejadas sem considerar devidamente a importncia dos ecossistemas naturais preservados. Um exemplo recente a hidreltrica de Barra Grande na bacia do Rio Uruguai, na divisa de Santa Catarina com o Rio Grande do Sul, cujo lago inundou mais de 6.000 hectares de Mata Atlntica, sendo aproximadamente 3.000 hectares de floresta pri-mria. Nos estados de Santa Catarina, Paran e Bahia, ainda ocorre a explorao madeireira seletiva de espcies ameaadas de extin-o, mesmo sendo essa uma atividade ilegal. Na Bahia, existe um verdadeiro industrianato (indstria do artesanato) que usa como matria-prima, espcies ameaadas de extino (MMA, 2010).

    Por fim, no se pode deixar de mencionar que a Mata Atlntica ainda no est livre da captura e do trfico de seus animais silvestres e da caa indiscriminada em algumas regies, problemas estes de difcil controle.

    Mesmo que ainda haja desmatamentos, importante destacar que a queda no ritmo do desmatamento a partir dos anos 1990, mostra que possvel reverter a destruio das florestas. Alm da queda do desmatamento, em alguns estados, no mesmo perodo comeou um processo de regenerao da floresta, especialmente em locais onde a mecanizao para a agricultura invivel como nas regies montanhosas da Serra Geral e Serra do Mar.

    Diante da situao atual da Mata Atlntica necessrio incentivar pequenos, mdios e grandes proprietrios rurais a protegerem as matas remanescentes, bem como a recuperar, com espcies nativas, as reas de preservao permanente e de reserva legal, contribuin-do, assim, para a formao de corredores que permitam ou am-pliem a conexo entre os fragmentos hoje isolados. fundamental que se d uma chance para que a Mata Atlntica retome seu lugar e assim possa desempenhar seu papel maior que o de prover os servios ambientais que garantem o bem-estar das populaes e a conservao da biodiversidade.

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    Aes de restaurao da Mata Atlntica so indispensveis para sua sobrevivncia.

    O desmatamento ainda uma ameaa Mata Atlntica. Desmatamento realizado em rea proposta para a criao do Refgio de Vida Silvestre do Rio da Prata (SC).

    A Educao Ambiental precisa ser intensifi cada para se alcanar o desenvolvimento sustentvel. Viveiro Jardim das Florestas da Apremavi (SC).

    Leandro da Rosa Casanova

    Fotos: Edegold Schaff er

  • Gesto Participativa em Unidades de Conservao

    O que so Unidades de Conservao

    Intensifi car a criao de Unidades de Conservao municipais ser fundamental para que se alcance a meta de proteo de ecossistemas acordado na Conveno da Diversidade Biolgica. Cachoeira Perau do Gropp no Parque Natural Municipal da Mata Atlntica, Atalanta (SC).

    Miriam ProchnowEdilaine Dick

    Miriam Prochnow

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    Proteger reas privadas na forma de UCs no s pode como deve ser estimulado. Reserva Particular do Patrimnio Natural Serra do Lucindo (SC).

    As Unidades de Conservao, tambm conhecidas simples-mente como UCs ou reas protegidas, tem o papel de pos-sibilitar a sobrevivncia dos diversos seres vivos, plantas e animais, a chamada biodiversidade, e tambm proteger os recursos naturais, locais de grande beleza cnica, como montanhas, serras, ca-choeiras, cnions, rios e lagos. Estas reas tambm contribuem para manuteno dos ambientais essenciais boa qualidade de vida das populaes humanas, atuando na regulao da quantidade e qualida-de de gua para consumo; fertilidade dos solos e estabilidade das en-costas; equilbrio climtico e manuteno da qualidade do ar; alimen-tos saudveis e diversifi cados; base para produo de medicamentos para doenas; e reas verdes para lazer, educao, cultura e religio.

    No Brasil, as UCs podem ser pblicas (quando criadas pelos gover-nos federal, estadual ou municipal) ou privadas (quando criadas por interesse e iniciativa do proprietrio da rea), as chamadas Reservas Particulares do Patrimnio Natural (RPPNs).

    A gesto das Unidades de Conservao federais, como o caso do Parque Nacional das Araucrias, da Estao Ecolgica Mata Preta, do Refgio de Vida Silvestre dos Campos de Palmas e da Floresta Nacio-nal de Chapec, realizada pelo Instituto Chico Mendes de Conser-vao da Biodiversidade (ICMBio). A gesto das UCs estaduais, como o Parque Estadual das Araucrias e o Parque Estadual Fritz Plaumann,

    realizada pela Fundao de Meio Ambiente de Santa Catarina (FAT-MA). No caso de UCs municipais a gesto de responsabilidade da Prefeitura Municipal.

    A gesto da UC tambm pode ser compartilhada, atravs de termos de parceria estabelecidos entre o poder pblico e Organizaes da Sociedade Civil de Interesse Pblico (OSCIPs), a exemplo do Parque Estadual Fritz Plaumann, onde a responsabilidade pela gesto divi-dida entre a FATMA e a Equipe Co-Gestora do Parque Estadual Fritz Plaumann (ECOPEF), que desempenha o atendimento ao pblico visi-tante, por meio da educao e interpretao ambiental, alm de aes desenvolvidas nas comunidades do entorno do parque.

    As categorias de UCs so defi nidas de acordo com a Lei n 9.985, de 18 de julho de 2000, que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservao (SNUC) e dividem-se em dois grandes grupos, as de Proteo Integral e as de Uso Sustentvel, alm de subdividirem-se em diferentes categorias de manejo, de acordo com seus objetivos de criao.

    ENTRE OS OBJETIVOS DAS UNIDADES DE CONSERVAO, DESTACAMSE:

    Manuteno da diversidade biolgica e dos recursos genticos.

    Proteo das espcies raras e ameaadasde extino.

    Preservao e restaurao dos ecossistemas naturais intactos e/ou degradados.

    Promoo do desenvolvimento sustentvel a partir dos recursos naturais.

    Valorizao econmica e social dadiversidade biolgica.

    Proteo de paisagens naturais pouco alteradas e de notvel beleza cnica.

    Proteo e recuperao dos recursos hdricos.

    Promoo da educao ambiental e do ecoturismo.

    Incentivo pesquisa cientfi ca.

    Proteo dos recursos naturais necessrios sobrevivncia das populaes locais.

    Edilaine Dick

  • Gesto Participativa em Unidades de Conservao

    Unidades de Proteo Integral

    Entende-se por proteo integral a manuteno dos ecossistemas livres de alteraes causadas por interferncia humana, admitindo apenas o uso indireto dos seus atributos naturais. So consideradas atividades de uso indireto a visitao com fi ns educacionais, a re-creao em contato com a natureza, o turismo ecolgico, a pesqui-sa cientfi ca e a educao e interpretao ambiental.

    Unidades de Uso Sustentvel

    Entende-se como uso sustentvel a explorao do am-biente de maneira a garantir a perenidade dos recur-sos ambientais renovveis e dos processos ecolgicos, mantendo a biodiversidade e os demais atributos eco-lgicos, de forma socialmente justa e economicamen-te vivel. A explorao desses recursos depende da categoria da UC, podendo estar relacionada pesca, coleta de frutos, folhas e sementes, entre outras ativi-dades. Nesse grupo esto as seguintes categorias: rea de Proteo Ambiental (APA), rea de Relevante In-teresse Ecolgico (ARIE), Floresta Nacional (FLONA), Reserva Extrativista (RESEX), Reserva de Desenvolvi-mento Sustentvel (RDS), Reserva Particular do Patri-mnio Natural (RPPN) e Reserva de Fauna. Das UCs envolvidas no projeto, pertence a este grupo a FLONA de Chapec. Foto: rea de Relevante Interesse Ecol-gico da Serra da Abelha (SC).

    Nesse grupo incluem-se as seguintes categorias: Estao Ecolgica (ESEC), Reserva Biolgica (REBIO), Parque Nacional (PARNA), Refgio de Vida Silvestre (REVIS) e Monumento Natural. Ou seja, das UCs en-volvidas no projeto, pertencem a esta categoria o PARNA das Arauc-rias, a ESEC Mata Preta, o REVIS dos Campos de Palmas, o PE das Arau-crias e o PE Fritz Plaumann. Foto: Parque Nacional do Iguau (PR).

    Fotos: Miriam Prochnow

  • 27

    Aps a criao da Unidade de Conservao, o rgo responsvel por sua gesto deve elaborar o plano de manejo da rea, em parceria com o conselho gestor da UC, organizaes da sociedade civil, comunida-des locais e a comunidade cientfi ca.

    O plano de manejo um documento que rene as informaes ne-cessrias sobre cada UC, para possibilitar o planejamento das aes que sero executadas dentro dela. Este documento defi ne, por exem-plo, quais so os locais onde sero implantadas as trilhas ecolgicas, os locais adequados para pesquisa, reas aonde sero desenvolvidas aes de educao ambiental e de turismo, bem como os locais aonde o acesso humano ser restrito.

    Algumas categorias de Unidades de Conservao possuem zona de amortecimento, uma rea defi nida no entorno da UC, onde as ativi-dades humanas esto sujeitas a normas e restries especfi cas, com o propsito de minimizar os impactos negativos sobre a unidade.

    A zona de amortecimento pode ser defi nida no seu decreto de cria-o ou durante a elaborao do seu plano de manejo. Os moradores localizados na zona de amortecimento de uma UC podem ser be-nefi cirios diretos dessa rea protegida, pois elas tm o potencial de contribuir para a gerao de renda e desenvolvimento regional e local, apoiando programas de ecoturismo, criao de cooperativas de eco-produtos, entre outros, alm de incentivarem atividades de pesquisa cientfi ca e processos educativos.

    As populaes tradicionais, residentes em Unidades de Conservao de proteo integral, nas quais sua permanncia no seja permitida, sero indenizadas ou compensadas pelas benfeitorias existentes e de-vidamente realocadas pelo poder pblico, em local e condies acor-dados entre as partes.

    Enquanto isso no acontece, a lei prev que sero estabelecidas normas e aes especficas destinadas a compatibilizar a presena das populaes tradicionais residentes com os objetivos da uni-dade de conservao, sem prejuzo dos modos de vida, das fontes de subsistncia e dos locais de moradia destas populaes, asse-gurando-se a sua participao na elaborao das referidas normas e aes (Brasil, 2004). Da mesma forma sero estabelecidos pro-cessos de desapropriao e indenizao para os demais proprie-trios de terra onde foram criadas Unidades de Conservao de proteo integral.

    As Unidades de Conservao trazem benefcios para muito alm das suas fronteiras e preciso que o poder pblico e a sociedade tenham clareza de que a diversidade biolgica essencial para a existncia de pessoas sadias, empresas sustentveis e economias slidas.

    A formalizao de parceria envolvendo o terceiro setor e iniciativa pblica de fundamental importncia para a gesto das Unidades de Conservao seja de forma plena ou parcial. Esta perspectiva de gesto compartilhada oportuniza e valoriza as iniciativas locais, fomentando a responsabilidade social que as UCs tambm possuem em seu vis. Ademais, esta forma de parceria permite a captao de recursos de forma simplifi cada e maior facilidade para implementao das aes de manejo previstas no Plano de manejo de cada UC.

    MURILO ANZANELLO NICHELE E RAFAEL LEO Equipe Co-gestora do Parque Estadual Fritz Plaumann (ECOPEF).

    Depoimento

    Cachoeira em propriedade rural no entorno do Parque Nacional das Araucrias

    Jaqueline Pesenti

  • Gesto Participativa em Unidades de Conservao

    Unidades de Conservao no Brasil

    Desde a criao do Parque Nacional do Itatiaia no estado do Rio de Janeiro, em 1937, reconhecido como a primeira rea protegida do Brasil, a criao de Parques Nacionais e outras categorias de Unidades de Conservao (UCs) pelo Gover-no Brasileiro cresceu exponencialmente. Entretanto, at a dcada de 1980 muitas UCs foram criadas para proteger locais de beleza cnica ou em reas sem aptido para outros usos econmicos, para a destinao de imveis da Unio, como reservas de mercado, espe-cialmente as Florestas Nacionais, ou a partir de demanda de algum setor ou pessoa com influncia na sociedade.

    No havia ainda a preocupao relevante com a preservao da biodiversidade ou com o atendimento aos princpios bsicos da biologia da conservao, ao se definir as reas a serem protegidas. Mesmo assim, a conservao da biodiversidade acabava sendo uma consequncia da proteo desses espaos territoriais. Apenas a t-tulo de exemplo, a criao do Parque Nacional do Igua, em 1939, para proteger as famosas cataratas do rio Iguau, acabou protegen-do tambm a maior rea ainda remanescente de floresta estacional semidecidual em sua transio para a floresta ombrfila mista do Sul do Brasil. Com isso preservou-se toda a sua biodiversidade asso-ciada, inclusive os grandes felinos como a ona-pintada e o puma.

    Emerson Antonio de OliveiraEngenheiro Agrnomo, Dr. em Engenharia Florestal, Coordenador de Cincia e Informao da Fundao Grupo Boticrio de Proteo Natureza.

    Com a promulgao da Constituio Federal de 1988, a qual acom-panhou a tendncia mundial de maior preocupao ambiental, a partir de meados do sculo XX, onde a multiplicao do nmero de reas protegidas seguiu-se realizao de conferncias ambien-tais internacionais. O Artigo 225 da Constituio determinou o direito de todos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, impondo o dever tanto da coletividade quanto do Poder Pblico de preservar o meio ambiente. Para o poder pblico determinou deveres, dentre os quais o de definir, em todas as Unidades da Federao, espaos territoriais a serem especialmente protegidos, vedada qualquer utilizao que comprometa a integridade ou as principais caractersticas.

    Para tanto, foi necessrio regulamentar o dispositivo, pois havia um emaranhado de Leis, Decretos, Resolues, Portarias, Instrues Nor-mativas, entre outros instrumentos, que versavam sobre a criao e gesto de UCs, em suas diferentes categorias. Deste modo, o Congres-so Nacional remeteu ao extinto IBDF (Instituto Brasileiro de Desenvol-vimento Florestal) a incumbncia de preparar um Projeto de Lei, tarefa para a qual foi contratada a Fundao Pr-Natureza, que apresentou Anteprojeto para a criao do Sistema Nacional de Unidades de Con-servao (SNUC) ao IBAMA, em 19891. A proposta de Lei do SNUC sofreu diversas modificaes at a sua aprovao e sano Presiden-cial, em 2000 (Lei Federal 9.985), sendo posteriormente regulamentada pelo Decreto Federal no 4.340/2002.

    Atualmente, a criao de UCs pautada pelas metas da Conveno sobre a Diversidade Biolgica (CDB), assinada pelo Presidente da Re-pblica do Brasil durante a Conferncia das Naes Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, em junho de 1992. No final de 2010, a

    1 O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis (IBAMA) substituiu o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF), o qual foi posteriormente desmembrado, dando origem ao Instituto Chico Mendes de Conservao da Biodiversidade (ICMBIO).

    O Brasil deve trabalhar para ampliar

    a rea protegida por UCs pblicas

    (federais, estaduais e municipais) e

    privadas, representativas de todos

    os ecossistemas em cada um de

    seus biomas.

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    CDB foi revisada estipulando-se as metas de conservao para 17% dos ecossistemas terrestres e 10% dos ecossistemas marinhos e costei-ros, na 10 Conferncia das Partes da CDB (Protocolo de Nagoya/Me-tas de Aichi), ratifi cado pelo atual Governo Federal, em 02 de fevereiro de 2011, na sede da Organizao das Naes Unidas em Nova York.

    Diante desse compromisso, o Brasil deve trabalhar para ampliar a rea protegida por UCs pblicas (federais, estaduais e municipais) e pri-vadas, representativas de todos os ecossistemas em cada um de seus biomas, visto que exceo da Amaznia, em todos os demais biomas encontra-se com percentuais de reas protegidas distantes das metas da CDB. Atualmente a criao de uma UC geralmente decorre de de-manda de um setor da sociedade para proteo de reas de importn-cia biolgica e cultural ou de beleza cnica, ou mesmo para assegurar o uso sustentvel dos recursos naturais pelas populaes tradicionais. Um dos principais instrumentos que norteiam a sua criao o Mapa de reas Prioritrias para a Conservao da Biodiversidade Brasileira, o qual aponta as reas de grande importncia biolgica, e prioriza aque-las que esto sob forte presso humana.

    Contudo, na efetividade de gesto das UCs, apesar de vrias prticas de planejamento e processos de gesto tenham sido recentemente fortalecidas, ainda h limitaes no que se refere demarcao e re-gularizao fundiria, alm da necessidade de elaborao e implemen-tao de seus Planos de Manejo. A realidade fundiria representa um dos obstculos implantao e ao manejo das reas naturais prote-

    gidas no Brasil, pois no h como proteger efetivamente uma rea se a mesma no se encontra sob domnio do poder pblico, conforme determina a legislao.

    Uma das alternativas para a regularizao fundiria o mecanismo da compensao ambiental pela instalao e operao de empreen-dimentos com signifi cativo impacto ambiental, tambm estabelecida pelo SNUC. Este mecanismo, at a presente data, encontra difi culda-des de implementao em razo da atuao defi ciente da Cmara Fe-deral de Compensao Ambiental.

    Resolver o passivo das UCs j criadas apenas um dos desafi os e de-veres do Poder Pblico e a Sociedade Civil precisa fi car atenta e cobrar a aplicao de recursos neste sentido, para a efetiva implementao e atendimento dos objetivos de criao das UCs, alm da estruturao dos rgos responsveis por sua gesto. Outros desafi os so o estabe-lecimento de estratgias comuns de gesto de reas protegidas como a criao e efetivao de mosaicos de UCs, a gesto compartilhada de UCs entre poder pblico e organizaes da sociedade. Para isso, fundamental a ampliao signifi cativa dos recursos provenientes do tesouro nacional e a busca de parcerias.

    No entanto, o grande desafi o na Mata Atlntica, especialmente na fl oresta com araucrias e nos campos naturais de altitude a efetiva ampliao das reas protegidas com a criao de novas Unidades de Conservao pblicas (federais, estaduais e municipais) e privadas.

    Parte alta do Parque Nacional do Itatiaia, com destaque para as Prateleiras. O Parna do Itatiaia foi a primeira Unidade de Conservao criada no Brasil.

    Miriam Prochnow

  • Unidades de Conservao envolvidas no projeto Integrao e Capacitao de Conselhos e Comunidades na Gesto Participativa de UCs Federais e Estaduais Oeste de SC e Centro-Sul do PR

    Estao Ecolgica Mata Preta

    Parque Nacional das Araucrias

    Marcos A. Danieli

    Antonio de A. Correia Jr.

  • Floresta Nacionalde Chapec

    Parque Estadual das Araucrias

    Parque Estadual Fritz Plaumann

    Refgio de VidaSilvestre dosCampos de Palmas

    Marcos A. Danieli ECOPEF

    Miriam Prochnow Wigold B. Schaff er

  • Gesto Participativa em Unidades de Conservao

    Estao Ecolgica Mata Preta

    Em Abelardo Luz est localizada a Estao Ecolgica (ESEC) Mata Preta, Unidade de Conservao (UC) criada por Decreto Federal de 19 de outubro de 2005. Apresenta rea de 6.563 hectares e compreende trs fragmentos, separados entre si, por estradas munici-pais e estaduais e reas de lavoura (ICMBio, 2009).

    O municpio de Abelardo Luz, localizado na regio Oeste Catari-nense, apresenta uma extenso territorial de 955,375 km e estima-tiva populacional de 17.100 habitantes (IBGE, 2010). A economia voltada agropecuria, principalmente ao plantio de soja, trigo e milho, sendo desenvolvidas tambm, atividades rurais como a pe-curia, silvicultura e explorao florestal, que constituem as ativida-des de 47,5 % da populao.

    Alanza Mara ZaniniTexto produzido com base nas referncias bibliogrficas citadas e contribuio dos gestores da Unidade de Conservao.

    A ESEC um

    importante refgio

    para a fauna, abrigando

    espcies bioindicadoras

    de qualidade ambiental

    A ESEC Mata Preta apresenta como principal objetivo a preserva-o dos ecossistemas naturais, principalmente dos remanescentes de floresta ombrfila mista em diferentes estgios, possibilitando o desenvolvimento de pesquisas cientficas e de atividades de educa-o ambiental (ICMBio, 2009). A ESEC responsvel pela manuten-o do equilbrio hdrico de diversos rios e nascentes, afluentes do rio Chapec, rio que abastece Abelardo Luz (PROCHNOW, 2009).

    Alm do pinheiro-brasileiro (Araucaria angustifolia), caracterstico da floresta com araucrias, so encontradas na rea espcies flores-tais como a imbuia (Ocotea porosa), a erva-mate (Ilex paraguarien-sis), o xaxim (Dicksonia sellowiana), o angico-vermelho (Parapipta-denia rigida), o louro-pardo (Cordia trichotoma), a canela-lageana (Ocotea pulchella), a canela-amarela (Nectandra lanceolata), o cedro (Cedrela fissilis), a grandiva (Psychotria leiocarpa) e a bromlia Ae-

    chmea recurvata (ICMBio, 2009).

    A ESEC Mata Preta um importante refgio para a fauna, em funo de seu tamanho, abrigando espcies de aves bioindicadoras de qualidade ambiental, como o uru (Odon-tophorus capueira) e o papagaio-de-peito--roxo (Amazona vinacea). So frequentemen-te encontradas espcies de mamferos como

    Mapa da ESEC Mata Preta

  • 33

    Os fragmentos fl orestais protegidos pela ESEC Mata Preta so essenciais para a paisagem da regio Oeste de Santa Catarina e para a conservao de vrias espcies de plantas e animais ameaados de extino, tanto localmente quanto no Brasil. L esto as trs maiores reas contnuas de mata da regio, que sero essenciais para o futuro, quando seus recursos genticos podero ser utilizados para recompor reas com fl orestas, quase inexistentes na paisagem atualmente. Aos conselheiros da unidade de conservao, cabe perceber a importncia da sua participao e contribuir para a compreenso geral da importncia de conservar essas reas.

    ANTONIO DE ALMEIDA CORREIA JUNIOR Analista ambiental da ESEC Mata Preta (ICMBio).

    Depoimento

    A araucria a rvore de destaque na ESEC Mata Preta.

    o puma (Puma concolor), o bugio (Alouatta guariba clamitans), a jaguatirica (Leopardus pardalis), o veado-poca (Mazama nana), o veado-mateiro (Mazama americana), o cateto (Pecari tajacu), entre outros (ICMBio, 2009).

    O isolamento dos fragmentos considerado uma ameaa para a unidade em funo das lavouras e plantios de espcies exticas existentes, alm de ser um dos principais problemas integridade da fauna, pois diversos animais so encontrados atropelados nas es-tradas que cortam a rea.

    A zona de amortecimento da ESEC Mata Preta compreende 500 metros em projeo horizontal, a partir do seu permetro. forma-da por grandes fazendas, plantios de pinus e por seis comunidades rurais: Barro Preto, Linha Pagliosa, Cabeceira do Banho, Rinco Tor-cido, Stio Barrichello e Assentamento Nova Aurora. Rinco Torcido a nica comunidade com parte de sua rea inserida no municpio de Clevelndia (PR). Nessas comunidades, encontram-se pequenas propriedades e um assentamento de reforma agrria, onde so de-senvolvidas atividades de agricultura, com destaque para as culturas de soja transgnica e convencional, trigo, milho e feijo; a pecuria, tanto de corte como de leite e seus derivados, e a apicultura, alm de algumas atividades comerciais (ICMBio, 2009).

    A ESEC abriga uma grande variedade de aves.

    Fotos: Antonio de A. Correia Jr.

  • Gesto Participativa em Unidades de Conservao

    Floresta Nacional de Chapec

    A Floresta Nacional (FLONA) de Chapec uma unidade de conservao com rea de 1.573,515 hectares, divididos em trs fragmentos, sendo estes localizados em Guatambu (Gle-ba I e III) e Chapec (Gleba II). A UC foi criada atravs da Portaria n 560, em 25 de outubro de 1968, visando o uso mltiplo sustentvel dos recursos florestais e a pesquisa cientfica.

    Considerada a Capital do Oeste Catarinense e plo de uma regio com mais de 200 municpios, a cidade de Chapec apresenta um territrio de 624,30 km e aproximadamente 183.530 habitantes. As atividades econmicas em destaque no municpio so do ramo da indstria alimentcia, metal-mecnica, de plstico e embalagens, mo-veleira, metalrgica, de insumos agropecurios, bebidas, software, confeces e outros (IBGE, 2010). Destaca-se tambm, por sediar o Cam-pus da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), que atende estudantes dos 396 munic-pios da Mesorregio Fronteira Mercosul.

    Com rea de 204,76 km, Guatambu (SC) um municpio essencialmente agrcola, que vive do cultivo de milho e feijo e da criao de frangos e perus. Apresenta uma populao de aproximadamente 4.679 habitantes (IBGE, 2010). Atualmente o 3 municpio que mais cresce na regio da Associao dos Municpios do Oeste de Santa Catarina (AMOSC), e con-siderado a capital catarinense na produo de matrizes de peru.

    A FLONA de Chapec constituda por um dos maiores remanescentes de floresta esta-cional decidual da regio, em transio com a floresta ombrfila mista, sendo que a floresta nativa soma, aproximadamente, 980 hectares,

    Alanza Mara ZaniniTexto produzido com base nas referncias bibliogrficas citadas e contribuio dos gestores da Unidade de Conservao.

    ou seja, 61% da rea da UC, enquanto que 34% da rea ocupada por plantios de pinus, eucaliptos, araucria e erva-mate. Visitas com objetivo educacional podem ser pr-agendadas, para o desenvolvi-mento de atividades de educao ambiental e pesquisa cientfica.

    Abriga espcies ameaadas da flora, como a araucria (Araucaria an-gustifolia), a canela-sas safrs (Ocotea odorifera), o xaxim (Dicksonia sellowiana) e espcies ameaadas da fauna, como o papagaio-de-pei-to-roxo (Amazona vinacea) e o pica-pau-de-cara-canela (Dryocopus galeatus). uma rea com muitas nascentes protegidas, possibilitan-do a conservao de invertebrados, peixes, anfbios e aves aquticas, entre outros grupos animais (IBAMA, 1989).

    Mapa da FLONA de Chapec

  • 35

    Os principais problemas que afetam a integridade da FLONA de Cha-pec envolvem a fragmentao de ambientes naturais no seu entor-no, com o risco de isolamento geogrfi co e gentico, e os acessos que cruzam a UC no sentido leste-oeste (Rodovia SC 283) e no sentido norte-sul (estrada que interliga o distrito de Alto da Serra e o municpio de Guatambu), ocasionando o atropelamento de animais silvestres, a possibilidade da entrada de pessoas alheias e o despejo de lixo ao lon-go dos trechos. Alm disso, a caa outra ameaa considervel, pois ocasiona a reduo das populaes e perda da variabilidade gentica.

    O plano de manejo da FLONA de Chapec est em fase de elabora-o. Incluir a proposta de zona de amortecimento e estabelecer as normas e objetivos do manejo fl orestal e uso pblico.

    A Floresta Nacional de Chapec um dos maiores fragmentos remanescentes da transio entre a fl oresta ombrfi la mista e a fl oresta estacional decidual no Oeste do estado de Santa Catarina e vem contribuindo com diversas instituies de ensino e pesquisa no desenvolvimento de trabalhos seja com sua fl ora ou fauna. Alm disso, conta hoje com o maior banco de germoplasma de erva-mate do Brasil, atravs da introduo de procedncias e prognies desta espcie dos trs estados do Sul do Brasil e da Argentina.

    PAULO FLOSS Pesquisador da EPAGRI de Chapec e conselheiro da FLONA de Chapec.

    Depoimento

    A Flona abriga tambm importantes remanescentes de fl oresta com araucrias.

    Canafstula centenria, caracterstica da fl oresta estacional decidual.

    A FLONA de Chapec um dos

    maiores remanescentes de fl oresta

    estacional decidual da regio, em

    transio com a ombrfi la mista

    Marcos A. Danieli Wigold B. Schaff er

  • Gesto Participativa em Unidades de Conservao

    Parque Estadual Fritz Plaumann

    O Parque Estadual (PE) Fritz Plaumann, localizado em Con-crdia (SC), foi criado atravs do Decreto n 797 de 24 de setembro de 2003 e compreende uma rea de 741 hectares.Com rea de 797,26 km, o municpio de Concrdia (SC) possui uma populao estimada de 68.621 habitantes (IBGE, 2010). Concrdia considerada uma referncia regional, por sediar importantes entida-des tecnolgicas e empresariais, sendo o agronegcio seu principal setor econmico. Na economia rural predomina a agroindstria e agricultura familiar e o sistema de integrao com agroindstrias, enquanto que na economia urbana tem destaque as atividades co-merciais e do setor de servios.

    Segundo o plano de manejo, o PE Fritz Plau-mann tem como objetivo conservar remanes-centes de floresta estacional decidual (floresta do Rio Uruguai), como compensao aos im-pactos ambientais gerados pela Usina Hidrel-trica de It, no Rio Uruguai. Para execuo dos trabalhos na unidade foi firmado no ano de 2007, um Termo de Cooperao Tcnica entre a FATMA e a Equipe Co-Gestora do Parque Es-tadual Fritz Plaumann (ECOPEF).

    Para recepcionar o pblico, o parque tem um Centro de Visitantes, que possui sala de exposi-es com uma maquete e painis multi-temti-cos, sobre os elementos naturais e a biodiversida-de da rea. Tambm dispe de sala de estudos, alojamento de pesquisadores e um auditrio.

    O visitante tem a possibilidade de percorrer quatro roteiros diferentes de trilhas interpre-tativas: Trilha do Lajeado Cruzeiro, Trilha das Marrequinhas, Trilha do Mirante e Trilha da

    Alanza Mara ZaniniTexto produzido com base nas referncias bibliogrficas citadas, contribuio do gestor da Unidade de Conservao e ECOPEF.

    Para recepcionar o pblico, o parque

    tem um Centro de Visitantes, que

    possui sala de exposies com uma

    maquete e painis multi-temticos,

    sobre os elementos naturais e a

    biodiversidade da rea.

    Mapa do PE Fritz Plaumann

  • 37

    Canafstula com acompanhamento e superviso da ECOPEF, pro-porcionando contato com alguns cursos dgua e amostras bem con-servadas da fl oresta da regio (ECOPEF, 2012).

    A fl oresta estacional decidual possui espcies vegetais tpicas, como a canafstula (Pelthoporum dubium), a grpia (Apuleia leocarpa), o cedro (Cedrela fi ssilis) e o angico-vermelho (Parapiptadenia rigida). Dentre os animais ocorrentes na UC, h muitos que se encontram ameaados pela caa e desmatamento, como o macaco-prego (Cebus apella), a paca (Agouti paca), o tamandu-mirim (Tamandua tetradactyla), o veado-ma-teiro (Mazama americana), a cutia (Dasyprocta azarae), o jacu (Penelope obscura), a perereca-de-vidro (Vitreorana uranoscopa), a jararaca-pintada (Botrhops neuwiedii) e a caninana (Spilottes pullatus) (FATMA, 2005).

    Quanto aos cursos d gua que cortam o Parque, o rio dos Queimados e o Lajeado Cruzeiro merecem destaque. O Lajeado Cruzeiro possui suas nascentes no entorno da unidade e a sua foz situa-se junto rea alagada do rio dos Queimados, na divisa da UC. J o rio dos Queima-dos nasce montante da cidade de Concrdia e sua foz encontra-se nos limites do PE Fritz Plaumann, junto ao Rio Uruguai (ECOPEF, 2012).

    A zona de amortecimento compreende uma faixa de 500 metros situada no entorno do parque e no limite de pequenas bacias hidrogrfi cas, que mesmo indo alm dos 500 metros, drenam suas guas para o interior da UC. Nesta rea esto localizadas as trs comunidades rurais: Sede Brum, Porto Brum e Linha Laudelino, com cerca de 70 propriedades, que desen-volvem atividades de bovinocultura, suinocultura, avicultura, ovinocul-tura, citricultura, silvicultura, vitivinicultura e erva-mate (FATMA, 2005).

    As principais atividades que ameaam a integridade do Parque Esta-dual Fritz Plaumann esto relacionadas s espcies fl orestais exticas invasoras, como a uva-do-japo (Hovenia dulcis) e o lrio-do-brejo (He-dychium coronarium), alm da poluio por resduos despejados no rio dos Queimados, e a caa e pesca predatria ocorrente na UC e seu entorno (FATMA, 2005).

    A importncia do Parque transcende a escala regional, tanto pela condio de nica unidade de conservao estadual com a fi nalidade de proteger remanescentes da fl oresta estacional decidual quanto, principalmente pelo carter inovador e referencial do seu status de implementao, onde se destacam a cooperao tcnica com uma OSCIP de base local, que opera e monitora exemplarmente boa parte das demandas de manejo da UC, e o recente processo de reviso do seu Plano de Manejo.

    EDUARDO HERMES Representante da Cooperativa para Conservao da Natureza (Caipora).

    Depoimento

    Jacu (Penelope obscura).

    Uma das trilhas do parque.

    Miriam Prochnow

    Marcos A. Danieli

  • Gesto Participativa em Unidades de Conservao

    Parque Estadual das Araucrias

    O Parque Estadual (PE) das Araucrias, criado pelo Decreto n 293 de 30 de maio de 2003, como uma medida compensa-tria implantao da Usina Hidreltrica Quebra Queixo, abrange uma rea de 625,11 hectares (FATMA, 2007) e est localizado nos municpios de Galvo e So Domingos.

    O municpio de Galvo (SC) apresenta 121,90 km de rea territorial e aproximadamente 3.472 habitantes (IBGE, 2010). Na economia, o setor de servios o que mais emprega, apesar de existirem mais esta-belecimentos comerciais e industriais. A base da agricultura formada por pequenos proprietrios, que possuem como principal cultura o milho (FATMA, 2007).

    Com territrio de 383,65 km, So Domingos (SC) possui cerca de 9.491 habitantes (IBGE, 2010), sendo caracterizado por ser um muni-cpio essencialmente agrcola, pelo cultivo em grande escala de milho e soja. Outras ativida-des econmicas em destaque no municpio so: avicultura, suinocultura, piscicultura e produo leiteira, alm de indstrias na rea de componentes de rao animal, construo e confeces (So Domingos, 2012).

    O PE das Araucrias tem como objetivo con-servar uma amostra da floresta ombrfila mista, bem como promover atividades de educao ambiental com a comunidade do entorno, pes-quisas cientficas e extenso e contribuir para a proteo dos recursos hdricos da bacia do Rio Jacutinga. O parque tambm objetiva de-senvolver o potencial turstico da regio. Apesar de, oficialmente, ainda no estar aberto para vi-sitao, permite visitas monitoradas com estu-dantes e outros grupos (FATMA, 2007).

    Alanza Mara ZaniniTexto produzido com base nas referncias bibliogrficas citadas e contribuio dos gestores da Unidade de Conservao.

    Mapa do PE das Araucrias

    A vegetao do parque, segundo o Plano de Manejo composta pela floresta com araucrias em diversos estgios de regenerao e apre-senta, alm da araucria (Araucaria angustifolia), espcies vegetais como o cedro (Cedrela fissilis), o angico-vermelho (Parapiptadenia rigida), a cabriva (Myrocarpus frondosus), a canela-amarela (Nectan-dra lanceolata), a canela-branca (Nectandra leucothyrsus), a erva-mate (Ilex paraguaiensis), o jeriv (Syagrus romanzoffianum), o camboat--branco (Matayba eleagnoides), o aoita-cavalo (Luehea divaricata) e o pessegueiro-do-mato (Prunus sellowii). A rea tambm protege uma pequena poro de vegetao tpica de banhado, com espcies carac-tersticas, como a cavalinha (Equisetum giganteum), representante de um dos grupos de plantas mais antigos do planeta.

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    O PE das Araucrias uma importante rea para a conservao da fauna, sendo esta bastante diversifi cada e abrigando algumas espcies ameaadas de extino, como jacutinga (Pipile jacutinga), papagaio--de-peito-roxo (Amazona vinacea), jaguatirica (Leopardus pardalis), gato-do-mato-pequeno (L. tigrinus), gato-maracaj (L. wiedii), puma (Puma concolor) e veado-poca (Mazama nana) (FATMA, 2007).

    A Bacia do Rio Jacutinga compreende a maior parte do parque, inse-rida na poro mdia da Bacia do Rio Bonito, cujas cabeceiras locali-zam-se na divisa dos estados do PR e SC. O rio Jacutinga desgua no rio Bonito, que passa pela Vila Milani e pelo centro da cidade de So Domingos (FATMA, 2007).

    A zona de amortecimento do PE das Araucrias compreende parte dos municpios de So Domingos e Galvo, sendo delimitada pelo po-lgono formado pelas rodovias do entorno que passam pelos divisores de gua a oeste e leste da bacia. Caracteriza-se por uma rea de signi-fi cativa atividade econmica, na qual se destaca a agricultura da soja e do milho, refl orestamentos, avicultura e suinocultura.

    As principais atividades que prejudicam a integridade da UC esto re-lacionadas intensa degradao ambiental na regio, ocasionada pelo uso excessivo de agrotxicos, usos e manejo inadequados do solo e pela concentrao de dejetos sunos, sendo estes contaminantes de fontes e pequenos mananciais mais prximos da rea. A fragmentao dos hbitats naturais e a caa levaram reduo de algumas popula-es de mamferos silvestres, como o bugio (Alouatta guariba clami-tans) e a anta (Tapirus terrestris). A presena de animais domsticos na rea uma ameaa a espcies silvestres, como o gamb (Didelphis albiventris), a irara (Eira barbara) e os gatos-do-mato (famlia Felidae).

    Aliado conservao da fl oresta com araucrias e sua biodiversidade, a importncia do Parque Estadual das Araucrias est associada ao seu potencial turstico e educacional, uma vez que, pelo seu valor paisagstico, o espao geogrfi co da UC transformado em espao de consumo e este, potencializa a gerao de emprego e renda no entorno do Parque, no municpio de So Domingos e tambm de Galvo, a se expandir para toda regio.

    ANGELO MILANI Grupo de apoio gesto do Parque Estadual das Araucrias (O Grimpeiro).

    Depoimento

    O PE das Araucrias uma

    importante rea para a conservao

    da fauna, sendo esta bastante

    diversifi cada e abrigando algumas

    espcies ameaadas de extino.

    Acima: Bugio (Alouatta guariba clamitans); abaixo:Pinheiro-brasileiro (Araucaria angustifolia).

    Wigold B. Schaff er

    Miriam Prochnow

  • Gesto Participativa em Unidades de Conservao

    Parque Nacional das Araucrias

    O Parque Nacional (PARNA) das Araucrias, unidade de con-servao criada atravs de Decreto Federal de 19 de outu-bro de 2005, abrange uma rea de 12.841 hectares e est localizado nos municpios de Ponte Serrada e Passos Maia.

    Passos Maia (SC), um municpio com extenso territorial de 614,43 km e aproximadamente 4.425 habitantes (IBGE, 2010), apre-sentando como principal atividade econmica a agropecuria, com destaque para plantios de erva-mate e reflorestamentos com esp-cies exticas, e pastagens para criao extensiva de gado de corte (Prochnow, 2009).

    Conhecida como a capital catarinense da erva-mate, Ponte Serrada (SC) apresenta rea de 564,00 km e uma populao de 11.031 habitantes (IBGE, 2010). O municpio gran-de produtor de gros, especialmente de soja e milho. As atividades que movimentam a economia da regio so, principalmente, avicultura e suinocultura integrada, alm da bovinocultura de leite entre os pequenos pro-dutores (Prochnow, 2009).

    O PARNA das Araucrias tem como objetivo principal a preservao de importantes rema-nescentes de floresta ombrfila mista e toda a biodiversidade que nela existe, proporcionando assim, espao para o desenvolvimento de pes-quisas cientficas, atividades de educao am-biental, turismo ecolgico e o contato direto com a natureza (ICMBIO, 2010).

    A rea contribui na manuteno dos recursos hdricos que formam a Bacia Hidrogrfica do Rio Chapec, sendo cruzada pelos rios Chape-

    Alanza Mara ZaniniTexto produzido com base nas referncias bibliogrficas citadas e contribuio do gestor da Unidade de Conservao.

    Mapa do PARNA das Araucrias

    c, do Mato, do Poo, Caratuva, Capivara, Goiabeiras, Ameixeira, Cha-pecozinho e diversas nascentes, os quais abastecem as comunidades rurais da zona de amortecimento da UC (ICMBIO, 2010).

    O nome do parque faz referncia sua caracterstica natural, a flores-ta com araucrias. Destaca-se tambm a presena de outras espcies florestais ameaadas, como o xaxim (Dicksonia sellowiana) e a imbuia (Ocotea porosa), alm de outras espcies importantes para a regio, como a erva-mate (Ilex paraguariensis).

    Quanto fauna, segundo o plano de manejo da UC, diversas esp-cies que podem ser encontradas na rea esto ameaadas ou qua-

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    O Parna das Araucrias tem como

    objetivo principal a preservao

    de importantes remanescentes de

    fl oresta ombrfi la mista e toda a

    biodiversidade que nela existe.

    se ameaadas de extino ou com populaes reduzidas e algumas so endmicas da Mata Atlntica. Entre as espcies cujas populaes encontram-se reduzidas esto as seguintes: bugio (Alouatta guariba clamitans), gato-do-mato-pequeno (Leopardus tigrinus), puma (Puma concolor), veado-poca (Mazama nana), jaguatirica (Leopardus pardalis), pica-pau-de-cara-canela (Dryocopus galeatus), macuco (Tinamus solitarius), gralha-azul (Cyanocorax caeruleus), dentre outras que com-pem a rica biodiversidade da UC. Algumas espcies registradas no parque so consideradas indicadoras da integridade ambiental, sen-do assim, sensveis s alteraes do ambiente, como a r-do-folhio (Ischnocnema cf. henselii), sapo-cururuzinho (Rhinella henseli), sapo- de-barriga-vermelha (Proceratophrys bigibbosa), perereca-de-vidro (Vitreorana uranoscopa), entre outros.

    No parque est sendo realizado um importante projeto de re-introdu-o do papagaio-de-peito-roxo (Amazona vinacea), uma espcie de psitacdeo ameaada de extino. Os animais esto sendo soltos, j com anilhas e rdio-colares e sendo monitorados por pesquisadores especialistas no assunto.

    A zona de amortecimento do PARNA das Araucrias compreende 500 metros em projeo horizontal, a partir do seu permetro. H qua-torze comunidades rurais no seu entorno, das quais dez pertencem ao municpio de Passos Maia: assentamento Conquista dos Palmares, Sapateiro I e II, Zumbi dos Palmares I e II, 29 de Junho, Bela Plancie, Linha Gruta, Rio do Poo e Vila Tozzo; e quatro ao municpio de Ponte Serrada: Granja Bert, Linha Caratuva, Rio do Mato e Vila Adami (Pro-chnow, 2009).

    As atividades econmicas dessas comunidades, em sua maioria, envol-vem a agricultura familiar, com plantaes agrcolas de culturas per-manentes como a erva-mate e a uva e de culturas temporrias, como a soja, milho, feijo, arroz, trigo e aveia. Alguns agricultores atuam tambm na produo artesanal de produtos como o melado, gelias, vinho e cachaas. So desenvolvidas atividades de pecuria, bovino-cultura de corte e de leite, suinocultura e avicultura integrada, piscicul-tura e apicultura, principalmente na Granja Bert. A monocultura de espcies fl orestais exticas tambm observada nas reas do entorno, como de pinus (Pinus sp.), por pequenos proprietrios e grandes in-dstrias. (Prochnow, 2009).

    O Parque Nacional das Araucrias abriu uma possibilidade para se comear a despertar na populao a importncia do agroturismo como uma alternativa de conhecimento, lazer e renda para o municpio. Saber usar esse instrumento vai depender agora de um trabalho de conscientizao e planejamento junto aos moradores, principalmente agricultores das reas de entorno e amortecimento.

    LEILA TIRELLI E NEIVA DALLA VECCHIA Representantes do escritrio local da Epagri e Conselheiras do Parque.

    Depoimento

    Gralha-azul (Cyanocorax caeruleus).

    O PARNA das Araucrias um dos maiores redutos de biodiversidade da regio Oeste de SC.

    Fotos: Wigold B. Schaff er

  • Gesto Participativa em Unidades de Conservao

    Refgio de Vida Silvestre dos Campos de Palmas

    O Refgio de Vida Silvestre (REVIS) dos Campos de Palmas uma unidade de conservao criada atravs de Decreto Federal de 03 de abril de 2006, abrangendo uma rea de 16.582 hectares, nos municpios de Palmas e General Carneiro (PR). A zona de amortecimento do REVIS compreende 500 metros em projeo horizontal, a partir de seu permetro, e adentra o estado de Santa Catarina, no municpio de gua Doce. O municpio de General Carneiro, situado na regio sul do estado do Paran, apresenta uma extenso territorial de 1.083,433 km e aproximadamente 15 mil ha-bitantes. Suas atividades econmicas esto voltadas ao extrativismo de madeira, agricultura com lavouras de milho, feijo e soja e pecuria (General Carneiro, 2012).

    Alanza Mara ZaniniTexto produzido com base nas referncias bibliogrficas citadas e contribuio dos gestores da Unidade de Conservao

    Situado na regio dos Campos do Centro Sul do PR, o municpio de Palmas apresenta aproximadamente 42.888 habitantes, e rea de 1.567,365 km. A economia do municpio centrada, principalmente, no setor de servios, indstrias e agropecuria (IBGE, 2010).

    O objetivo do REVIS dos Campos de Palmas a proteo dos ambien-tes naturais necessrios para a persistncia da flora e fauna residente ou migratria, especialmente os remanescentes de campos naturais, as reas de campos midos e vrzeas, bem como a realizao de pes-quisas cientficas e o desenvolvimento monitorado de atividades de educao ambiental e turismo ecolgico (ICMBIO, 2011).

    A vegetao da rea composta por campos naturais, associados com capes de floresta com araucrias, que prestam importantes servios am-bientais e auxiliam na conservao dos recursos hdricos da regio, por abrigar as nascentes dos rios Chopim e Iratim, alm de diversos cursos dgua e banhados. Para a fauna, podem ser encontra-dos mamferos como o morcego (Chrotopterus auritus), o bugio (Alouatta guariba clamitans), o lobo-guar (Chrysocyon brachyurus), e aves como a noivinha-de-rabo-preto (Xolmis dominicanus), entre outros grupos animais (ICMBIO, 2011).

    As principais atividades econmicas desen-volvidas na UC e seu entorno so o pastoreio extensivo, a explorao da erva-mate, o cultivo de gros e a silvicultura. O REVIS ainda guarda um importante registro sociocultural de antigas construes do incio da ocupao e da passa-gem dos tropeiros pela regio, alm de manter o modelo de pecuria tradicional. Entre as ame-aas ao REVIS esto o uso do fogo e a disperso do pinus, espcie extica invasora.

    Mapa do REVIS dos Campos de Palmas

  • 43

    O Refgio de Vida Silvestre dos Campos de Palmas foi criado numa rea considerada de extrema relevncia biolgica, abriga um dos ltimos remanescentes de campos naturais do Paran e habitat de diversas espcies ameaadas de extino. A importncia central do Refgio est na proteo das nascentes do rio Chopim, principal afl uente do rio Iguau, e dos frgeis ecossistemas associados aos campos midos e banhados. Alm disso, a Unidade possui grande potencial turstico e condies de se destacar na corrida pelo desenvolvimento sustentvel.

    MARCIA CASARIN STRAPAZZON E LEONCIO PEDROSA LIMA gestores do Refgio de Vida Silvestre dos Campos de Palmas (ICMBio).

    Depoimento

    A vegetao da rea composta

    por campos naturais, associados

    com capes de araucrias

    Aspecto geral do REVIS dos Campos de Palmas.

    Importantes espcies da fl ora campestre esto protegidas no REVIS dos Campos de Palmas.

    Wigold B. Schaff er

    Miriam Prochnow

  • Gesto Participativa em Unidades de Conservao

    Gesto Participativa em Unidades de Conservao

    Um dos princpios da gesto participativa o real envolvimento de todos os atores.

    Dailey FischerBacharel e licenciada em Biologia pela UFPR, mestre em tecnologia pela UTFPR e doutoranda em Meio Ambiente e Desenvolvimento pela UFPR; dai.fi [email protected]

    Marcelo LimontLicenciado em Biologia pelas Faculdades Integradas Esprita, mestre em educao pela UFPR e doutorando em Meio Ambiente e Desenvolvimento pela UFPR; [email protected]

    Marcos A. Danieli

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    O que gesto participativa? Para tentar entender os dife-rentes signifi cados que so atribudos a esse termo e sem esgotar a discusso, precisamos refl etir primeiro, sobre ou-tros termos e conceitos que, na maioria das vezes, aparecem de forma associada nos discursos, como: participao, democracia, exerccio de cidadania, representao social, autonomia, comunicao, coletivo, construo de consensos. Todos esses, de alguma forma se relacionam com a chamada gesto participativa, ora lhe dando sentido e enten-dimento, ora trazendo refl exo e crtica sobre seu signifi cado e prti-ca. Aqui abordaremos a adoo da prtica da gesto participativa em Unidades de Conservao (UCs).

    Quando falamos em gesto nos referimos de modo geral, a um con-junto de tarefas que nos permitiro administrar os recursos1 que te-mos disponveis, para o que foi previamente planejado, para que as metas que traamos possam ser alcanadas.

    E participao? Participar signifi ca ser parte de, compartilhar com, in-tervir em, se evolver. Est relacionado com assumir responsabilidades, exercer a cidadania, construir aes junto com o outro, se dispor a um dilogo aberto, respeitar a diversidade, exercitar a conscincia re-fl exiva e a capacidade de viver e agir de forma autnoma. Participar signifi ca uma constante busca pela emancipao do sujeito, signifi ca ser autor da sua prpria histria, a partir da refl exo sobre seu papel enquanto cidado.

    Com isso podemos dizer que no to simples fazer parte de uma as-sociao, um sindicato, uma congregao, um grupo ou um conselho de unidade de conservao. Existem muitas questes que envolvem esse fazer parte de, como, por exemplo: no que participar? Por que participar? Quem participa? O que motiva as pessoas a participarem? Todos que participam tm as mesmas intenes e interesses? Todo mundo pode participar de tudo? Existem regras para participar? Vai adiantar usar o meu tempo indo l? Serei ouvido? Como as decises sero tomadas?

    Essas so apenas algumas entre inmeras outras questes que so fei-tas, tanto por quem participa como por quem promove a participa-o 2. Para muitas delas, as respostas ainda esto sendo construdas no aprendizado do dia-a-dia dessas pessoas e instituies/organizaes.

    1 Recurso aqui possui um sentido amplo e se refere aos recursos humanos, ambientais e fi nanceiros.2 Para Pedro Demo (1999, p. 18), a participao conquista para signifi car que um processo, no sentido legtimo do termo: infi ndvel, em constante vir-a-ser, sempre se fazendo. Ou seja, ningum nasce sabendo participar, ns, dentro de um processo histrico, aprendemos a participar na medida em que nos envolvemos com os processos polticos de tomada deciso, num esforo que pode conduzir tanto a erros como a acertos. Outros autores nos mostram que existem diversas maneiras e formas de participar, com a defi nio de nveis e graus de participao, entre eles podemos citar: CarolePateman (1982), Juan Daz Bordenave (1983), Pedro Demo(1995, 1999), Eneiza Hernndez (1996), Maria da Glria Gohn (2001) e Sherry R. Arnstein (2002).

    O surgimento de espaos de participao na gesto ambiental, foco de discusso nesse texto, favorece o exerccio da cidadania e ainda contribui para a construo de estratgias que garantam a conserva-o dos recursos naturais e melhorem as condies de vida das pesso-as. Entretanto, o participativo dessa gesto ainda necessita ser apren-dido, e esse aprendizado se dar na prtica, no exerccio. No contexto da gesto de UCs, os conselhos dessas reas protegidas so espaos legtimos para essa prtica e esse aprendizado.

    Dessa forma, um conselho de UC, enquanto espao pblico que in-corpora a participao da sociedade como um de seus fundamentos, no se satisfaz apenas legalmente no nvel burocrtico. Ele requer, tam-bm, no nvel poltico, a atuao cidad, legtima e organizada de um amplo leque de atores sociais. Logo, normatizar processos de gesto ambiental que consideram e valorizam a dimenso da participao social em sua estrutura, no garante sua efetividade, que precisa ser conquistada, principalmente, pelas pessoas e instituies (no caso os conselheiros desses conselhos) que, no momento em que assumem esse papel, se comprometem em dividir as responsabilidades da ges-to dos recursos naturais protegidos pela UC.

    Esse pequeno texto nos mostra que a construo de um processo participativo dependente de um complexo arranjo entre diversas dimenses, a educativa, a participativa, a poltica, a institucional e, so-bretudo, a ideolgica. As pessoas envolvidas no processo de gesto participativa precisam querer transformar uma realidade tradicional de gesto que est consolidada e que tem por referncia a no parti-cipao, a no partilha de poder e responsabilidades. Essa transfor-mao demanda um esforo e ainda falta muito para que a prtica da gesto participativa seja institucionalizada.

    fundamental que todos os atores tenham conscincia da importncia de sua participao.

    Alanza M. Zanini

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    Conselho Gestor de Unidades de Conservao

    O Conselho Gestor de uma Unidade de Conservao (UC) um rgo colegiado formad