gestao financeira e custos

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GESTO FINANCEIRA E CUSTOS

Prof. Adrian Dambrowski Prof. Carlo Enrico Bressiani

Universidade Regional de BlumenauReitor Prof. Dr. Eduardo Deschamps Vice-Reitor Prof. Dr. Romero Fenili Pr-Reitora de Ensino de Graduao Profa. Ms. Snia Regina de Andrade Pr-Reitor de Administrao Prof. Dr. Edesio Luiz Simionatto Pr-Reitor de Ps-Graduao, Pesquisa e Extenso Prof. Dr. Clodoaldo Machado Diviso de Modalidades de Ensino Coordenao Geral Prof. Ms. Alexander Roberto Valdameri Equipe Multidisciplinar Tcnica Airton Zancanaro Alexandre Adaime da Silva Gerson Lus de Souza Lo Fath Equipe Multidisciplinar Pedaggica Profa. Ms. Daniela Karine Ramos Diego Fernando Negherbon Profa. Ms. Henriette Damm Profa. Ms. Iris Weiduschat Administrativo Viviane Alexandra Machado Saragoa Odair Jos Albino

Centro de Formao Profissional SAPIENCE LtdaDirigente Prof. Ms. Kiliano Gesser Equipe Administrativa Prof. Carlos Alberto Alves de Oliveira Prof. Dr. Carlo Enrico Bressiani Prof. Ms. Kiliano Gesser Coordenao Pedaggica Prof Olga Sanso Gesser Diagramao Alvin Noriler

2008

FURB Universidade Regional de Blumenau Diviso de Modalidades de Ensino Rua Antnio da Veiga, 140 Bairro: Victor Konder Blumenau SC - 89012-900 Fone: (47) 3321-0577 E-mail: [email protected] Site: www.furb.br/ead

SAPIENCE Educacional

Rua Belarmino Joo da Silva, 52 Bairro: Santa Terezinha Gaspar SC 89110-000 Fone: (47) 3330-5100 E-mail: [email protected] Site: www.centrosapience.com.br

Depsito legal na Biblioteca Nacional, conforme decreto n 1825, de 20 de dezembro de 1907. Impresso no Brasil / Printed in Brazil

Ficha catalogrfica elaborada pela Biblioteca Universitria da FURB

D156g

Dambrowski, Adrian Gesto financeira e custos / Adrian Dambrowski, Carlo Enrico Bressiani. - Blumenau : Edifurb ; Gaspar : SAPIENCE Educacional, 2008. 102 p. : il. - (Ps-Graduao.Modalidade a distncia) Bibliografia: p. 101-102. ISBN: 978-85-7114-212-1 1. Ensino a distncia. 2. Administrao financeira. 3. Custos. I. Bressiani, Carlo Enrico. II. Ttulo. CDD 378.03

Professor Adrian Dambrowski Graduado em Administrao (Gesto Empresarial) pela Fundao Universidade Regional de Blumenau (FURB), mestre em Administrao (Gesto de Organizaes) pela mesma instituio e especialista em Gesto Financeira e Custos pelo Instituto Catarinense de Ps Graduao (ICPG). Atualmente funcionrio do Banco do Brasil, docente na Sociedade Blumenauense de Ensino Superior (IBES) e atua no programa de ps-graduao a distncia do convnio FURB/ Sapience. Professor Carlo Enrico Bressiani Engenheiro Civil pela Universidade Regional de Blumenau, MBA em Gesto de Empresas Industriais pelo Institut Quimic de Sarri e Dr. em Administrao e Direo de Empresas pela Universitat Ramon Llull de Barcelona. Professor de graduao e ps-graduao em disciplinas da rea financeira e gesto de projetos, gerente financeiro da Unidade Design de Eventos, Diretor Administrativo-Financeiro da Sapience e consultor na rea financeira. Tambm atua como parecerista em projetos de pesquisa da Universidade Presbiteriana Mackenzie e referee em revistas da rea de administrao de empresas.

SUMRIO1 FUNDAMENTOS DA GESTO FINANCEIRA ...................................................... 11 1.1 IMPORTNCIA DA GESTO FINANCEIRA .........................................................12 1.1.1 Conceito de Finanas ....................................................................................... 12 1.1.2 Objetivo do Administrador Financeiro ................................................................ 13 1.1.3 Diferena Entre Gesto Financeira e Gesto Contbil ...................................... 13 1.1.4 Regime de Caixa x Regime de Competncia .................................................... 14 1.2 QUADROS FINANCEIROS ..................................................................................15 1.2.1 Investimentos .................................................................................................... 15 1.2.2 Amortizaes e Depreciaes .......................................................................... 16 1.2.3 Mtodos de Depreciao ..................................................................................22 1.2.4 Receitas ............................................................................................................23 1.2.5 Receita Bruta .................................................................................................... 23 1.2.6 Impostos ...........................................................................................................24 1.2.7 Custos .............................................................................................................. 25 1.2.8 Estoques ...........................................................................................................25 1.2.9 Despesas .........................................................................................................31 1.3 DEMONSTRAES FINANCEIRAS ................................................................... 31 1.3.1 Demonstrao do Resultado do Exerccio (DRE) ..............................................32 1.3.2 Balano Patrimonial .......................................................................................... 33 1.3.4 Fluxo de Caixa ..................................................................................................38 1.4 CAPITAL DE GIRO ...............................................................................................40 1.4.1 Necessidade de Capital de Giro .......................................................................41 1.4.2 Saldo de Tesouraria .......................................................................................... 42 1.4.3 Ciclo Operacional e Ciclo Financeiro ................................................................ 43 2 DECISES DE FINANCIAMENTOS E ANLISE DE INVESTIMENTOS .............47 2.1 DECISES DE FINANCIAMENTOS .................................................................... 47 2.1.1 Custo de Capital ............................................................................................... 48 2.1.2 Efeitos dos Impostos sobre a Renda ................................................................. 48 2.1.3 Custo de Capital Prprio ...................................................................................49 2.1.4 Custo do Capital de Terceiros ........................................................................... 49 2.2 ALAVANCAGEM.................................................................................................. 49 2.2.1 Alavancagem Operacional ................................................................................ 50 2.2.2 Alavancagem Financeira ...................................................................................53 2.2.3 Alavancagem Combinada .................................................................................54 2.3 ANLISE DE INVESTIMENTOS .......................................................................... 55 2.3.1 Pay Back Simples ............................................................................................. 57 2.3.2 Pay Back Descontado....................................................................................... 59 2.3.3 Valor Presente Lquido (VPL) ............................................................................ 60 2.3.4 Taxa Interna de Retorno ..................................................................................... 62

3 CUSTOS ................................................................................................................67 3.1 FUNDAMENTOS DE CUSTOS ...........................................................................68 3.1.1 Separao de Custos, Despesas, Investimentos e Perdas ............................... 68 3.1.2 Avaliao de Estoques ......................................................................................70 3.1.3 Custo das Compras .......................................................................................... 71 3.2 MTODOS DE CUSTEIO ....................................................................................74 3.2.1 Custeio Direto e Indireto ....................................................................................74 3.2.2 Custeio por Absoro .......................................................................................77 3.2.3 Custeio Varivel ................................................................................................81 3.2.4 Custeio ABC .....................................................................................................86 3.3 ANLISES DE CUSTOS .....................................................................................95 3.3.1 Anlise das Relaes Custo, Volume e Lucro ....................................................95 3.3.2 Ponto de Equilbrio ............................................................................................ 97 3.4 FORMAO DO PREO DE VENDA ................................................................98 3.4.1 Impostos ...........................................................................................................98 3.4.2 Markup ..............................................................................................................99 REFERNCIAS ......................................................................................................103

APRESENTAOCaro(a) aluno(a), Bem vindo(a) disciplina Gesto Financeira e Custos. Este o nosso Caderno de Estudos, material elaborado com o objetivo de contribuir para a realizao de seus estudos e para a ampliao de seus conhecimentos sobre o assunto. A carga horria desta disciplina de 45 horas e cabe a voc administrar sua aprendizagem e determinar o tempo para seus estudos e o aprofundamento dos temas tratados. Lembre-se, porm, de que h um prazo limite para a concluso dos estudos. Voc dever realizar as avaliaes presenciais nas datas previstas no cronograma do curso. Os captulos foram organizados de forma didtica e complementar. Eles apresentam os textos bsicos, com questes para reflexo e indicam outras referncias a serem consultadas. Desejamos a voc um bom trabalho e que aproveite ao mximo o estudo dos temas abordados nesta disciplina!

1 FUNDAMENTOS DA GESTO FINANCEIRA

CAP T

Objetivos de Aprendizagem 1. Relacionar o significado do termo "finanas", o papel do administrador financeiro e as diferenas entre gesto financeira e gesto contbil. 2. Demonstrar o que so investimentos, amortizaes e depreciaes, bem como sistemas de amortizaes existentes e os mais usados no Brasil; as formas de se determinar a depreciao de bens; a relao de investimentos com a incidncia de impostos e a discriminao dos impostos existentes no Brasil; a gesto de despesas e custos, alm de formas de custeio e a administrao dos estoques, gerindo a ordem de sada destes para, desta forma, apurar o custo da mercadoria armazenada por meios matemticos. 3. Explicar a demonstrao contbil denominada DRE (Demonstrao do Resultado do Exerccio) bem como a sua estrutura; interpretar o conceito de Balano Patrimonial e a disposio dos elementos que constituem essa demonstrao contbil e demonstrar o conceito e aplicao do fluxo de caixa. 4. Levantar o conceito de Capital de Giro bem como apurar a sua necessidade; a determinao do saldo de tesouraria, do ciclo operacional e financeiro - e como estes se relacionam.

INTRODUOPodemos conceituar finanas como a arte de gerir recursos que, para o caso de uma organizao empresarial, se concentra no estudo do planejamento financeiro, administrando os ativos e captando fundos para a mesma. Ou seja, estamos tratando do estudo e da gerncia dos ativos empresariais, analisando projetos de investimentos. Voc vai perceber que gesto financeira est intimamente relacionada com a contabilidade e com a economia, podendo ser vista como uma forma de economia aplicada, fundamentada em conceitos econmicos e fazendo uso de informaes contbeis. Nesse primeiro captulo de nossa jornada ser abordada a relao triangular entre a administrao financeira, a contabilidade e a economia. A relevncia do fator econmico para o desenvolvimento do meio financeiro vai nos levar necessidade de se situar no ambiente operacional no qual esto

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inseridas as organizaes. Estamos falando de dois conceitos econmicos tratados por macroeconomia (ambiente global em que a organizao opera) e da microeconomia (ambiente interno onde se contemplam as estratgias operacionais). Assim, vamos dar incio ao nosso estudo conhecendo a importncia da gesto financeira onde, alm de lhe explicarmos o conceito de finanas e o objetivo do administrador financeiro, tambm trataremos da distino entre gesto financeira e gesto contbil, onde a primeira far uso do regime de caixa, ao passo que a segunda trabalha com o regime de competncia, que sero definidos e explicados no decorrer do estudo. Teremos ainda a oportunidade de lhe demonstrar os quadros financeiros, que nos levaro a interpretar o que ocorre quando tratamos de investimentos, levando em considerao diversos fatores tais como: amortizaes, depreciaes, custos, despesas e estoques, considerando ainda a incidncia do fator tributrio (impostos). Ainda nesse primeiro captulo, explicaremos tambm algo sobre as demonstraes financeiras comumente usadas no dia-a-dia dos setores financeiros das organizaes; conhecendo ferramentas como a Demonstrao do Resultado do Exerccio (DRE), o balano patrimonial e o fluxo de caixa; o que nos permitir a compreenso dos ciclos: operacional e financeiro, levando-nos a situaes nas quais vamos explicar do que se trata, na administrao do capital de giro.

1.1 IMPORTNCIA DA GESTO FINANCEIRAA gesto financeira representa o conjunto de aes e procedimentos administrativos que tem por tarefa o planejamento, a anlise e o controle das atividades financeiras da organizao. Trata-se de tarefa administrativa que permita visualizar a atual situao da empresa. Para melhor entendimento da importncia da gesto financeira, primeiramente vamos entender do que tratam as finanas.

1.1.1 Conceito de FinanasFinanas podem ser definidas como uma tcnica ou cincia de administrar fundos. Praticamente todas as pessoas, sejam fsicas ou jurdicas, obtm receitas ou levantam fundos, gastam ou investem. A gesto financeira detm a tarefa de gerir o relacionamento de instituies, mercados e instrumentos envolvidos na transferncia de fundos entre pessoas, empresas e governos (GITMAN, 2002). Antes de adentrarmos no assunto em questo, importante que voc compreenda o significado de finanas, que corresponde a um conjunto de recursos disponveis circulantes em espcie, que podem ser usados em transaes e negcios com transferncia e circulao de dinheiro. A importncia de se distinguir esse conceito justificada pela necessidade de se analisar essas questes para prover o conhecimento da real situao econmica dos fundos da empresa, a qual est sendo administrada, com relao aos seus bens e direitos garantidos (FREZATTI, 2000). Se voc observar o cotidiano de uma organizao, vai perceber que as finanas fazem parte do dia-a-dia dela. Isso fica claro no controle de recursos para compras e aquisies, tal como no gerenciamento e na prpria existncia da empresa em suas respectivas reas: marketing, produo, contabilidade e, principalmente, na administrao geral de nvel ttico, gerencial e estratgico, por usar dados e informaes financeiras para orientar a tomada de deciso na gesto da empresa (FREZATTI, 2000).

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A gesto financeira uma ferramenta ou tcnica utilizada para controlar da forma mais eficaz e eficiente possvel uma srie de tarefas do dia-a-dia de uma organizao, tais como a liberao de crdito e a determinao de prazos para clientes e a anlise de investimentos, buscando meios viveis para a obteno de recursos que so destinados a financiar as operaes e atividades da empresa, objetivando sempre o desenvolvimento da mesma, evitando desperdcios e gastos desnecessrios, e procurando sempre os melhores meios para uma segura conduo financeira da empresa (GITMAN, 2002). Agora que vimos o que so finanas e o conceito mais apurado da gesto financeira, vamos situar o gestor financeiro e seus objetivos nesse contexto empresarial.

1.1.2 Objetivo do Administrador FinanceiroOs administradores financeiros administram ativamente as finanas de todos os tipos de empresas, sejam elas financeiras ou no, grandes ou pequenas, privadas ou pblicas. Esses profissionais desempenham uma srie de tarefas, tais como oramentos, previses financeiras, administrao do caixa, administrao do crdito, anlise de investimentos. Necessita ser um membro alocado na alta administrao, pois o bom ou mau desempenho deste pode ocasionar xito ou insucesso para a empresa, caso no consiga cumprir a sua tarefa principal: minimizar riscos e maximizar lucros (FREZATTI, 2000). Gestores financeiros e contabilistas trabalham lado a lado, utilizando muitas vezes as mesmas ferramentas ou informaes. Porm, o tratamento que dado para essas informaes diverge nas suas atividades. Portanto, importante diferenciarmos a gesto financeira da gesto contbil.

1.1.3 Diferena Entre Gesto Financeira e Gesto ContbilA gesto financeira um conjunto de aes e procedimentos administrativos que englobam o planejamento, a anlise e o controle das atividades financeiras de uma organizao, objetivando maximizar os resultados econmicos e financeiros oriundos de suas atividades operacionais (GITMAN, 2002). No decorrer desse estudo, voc vai perceber que, em funo dos benefcios e informaes que a contabilidade proporciona para a gesto financeira e pelo relacionamento prximo que se tem de interdependncia, que muitas vezes se confunde a compreenso e a distino dessas duas reas, j que as mesmas se relacionam estreitamente e geralmente se sobrepem. preciso esclarecer que a principal funo do contador desenvolver e fornecer dados para mensurar a performance da empresa, avaliando sua posio financeira em presena dos impostos, contabilizando todo seu patrimnio, elaborando suas demonstraes, reconhecendo as receitas no momento em que so incorridos os gastos (denominado regime de competncia). Porm, o que diferencia as atividades financeiras das contbeis que a administrao financeira enfatiza o fluxo de caixa, que nada mais do que a entrada e sada de dinheiro na linha do tempo, que demonstrar realmente a situao e capacidade financeira

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para satisfazer suas obrigaes e adquirir novos ativos (bens ou direitos de curto ou longo prazo) ,a fim de atingir as metas da empresa (SANTOS, 2007).

Ateno A gesto financeira no substitui a gesto contbil, assim como a gesto contbil no substitui a gesto financeira. Elas caminham juntas. Trabalham com as mesmas informaes. Apenas do tratamento diferenciado para essas informaes.

Todavia, os contadores admitem a importncia do fluxo de caixa, tal como o administrador financeiro se utiliza do regime de competncia, mas cada um com suas especificidades e maneiras de transpassar ou descrever a situao da empresa, sem desapreciar a importncia de cada atividade, j que uma depende da outra, no que diz respeito circulao de dados e informaes necessrias para o exerccio de cada uma. Diante do que vimos, julgo importante a diferenciao detalhada e exemplificada que encontraremos a seguir, ao diferenciar o regime de caixa do regime de competncia.

1.1.4 Regime de Caixa x Regime de CompetnciaEm finanas, o fluxo de caixa (designado em ingls por cash flow - Cf), refere-se ao montante de caixa recebido e gasto por uma empresa no decorrer de um perodo de tempo determinado, algumas vezes ligado a um projeto especfico. Na Contabilidade, uma projeo de fluxo de caixa (que ser discutido com mais profundidade no item 1.3.3) apresenta todos os pagamentos e recebimentos esperados em um determinado perodo de tempo. O gestor do fluxo de caixa precisa de uma viso holstica de todas as funes da empresa, como: pagamentos, recebimentos, compra de matria-prima, compra de materiais secundrios, salrios e outros, porque necessrio prever o que se poder gastar no futuro dependendo do que se consome no presente. Regime de competncia o que apropria receitas e despesas ao perodo de sua realizao, independentemente da ocorrncia ou no dos recebimentos das receitas ou dos pagamentos das despesas (SANTOS, 2007). Exemplo: Aquisio de mercadorias para pagamento a prazo. Se a compra ocorreu no ms de janeiro com pagamento em fevereiro, a despesa dever constar nos registros de janeiro, embora o pagamento seja feito em fevereiro. Para a contabilidade, em janeiro computada a despesa, criando-se uma obrigao em contas a pagar, e em fevereiro, em funo do pagamento, deduz-se o valor pago de contas a pagar, reduzindo o valor do caixa.

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Tal fato ocorre porque a contabilidade utiliza o regime de competncia, regime este em que so contabilizados como receita ou despesa os valores dentro do ms de competncia, na data onde ocorreu o fato gerador (data de compra do material, venda do bem ou artigo, prestao de servio, etc.), no importando quando ser pago ou recebido, mas sim quando ocorreu o fato.

Dica A diferena entre o regime de caixa e o regime de competncia est exatamente na disposio da ocorrncia na linha do tempo.

Como observamos, no regime de competncia o registro do documento se d na data do fato gerador, no importando quando ser pago ou recebido; ao passo que no regime de caixa o registro do valor ocorre efetivamente na data do pagamento, pois este, pelo seu conceito, somente considera o registro de um documento quando o mesmo for pago, liquidado ou recebido, assim como voc pode observar no extrato de sua conta bancria. Para a mensurao dos resultados de uma empresa recomendada a utilizao do regime de competncia, pois considera tambm a depreciao, algo que no regime de caixa no contemplado. A depreciao de um bem ser discutida com mais profundidade no 1.2.2. Trata-se de um item importante para a gesto financeira de uma organizao, pois no futuro a empresa precisar repor o bem que esta depreciando, levantando assim a necessidade de averiguar se o lucro obtido nas operaes empresariais contempla a cobertura da depreciao do maquinrio e/ou demais bens (SANTOS, 2007). At o momento, foi abordado o significado do termo finanas, o papel do administrador financeiro e as diferenas entre gesto financeira e gesto contbil. Fizemos isto para que voc possa situar-se no cenrio do gestor financeiro das organizaes, permitindo a anlise dos quadros financeiros com os olhos desses profissionais.

1.2 QUADROS FINANCEIROS 1.2.1 InvestimentosInvestimento o que voc faz quando aplica seus recursos em algum negcio (empresarial ou bancrio) com a esperana de receber algum retorno no futuro e que este seja superior ao aplicado, compensando at mesmo a perda de uso desse recurso durante o perodo de aplicao. Num sentido mais abrangente, o termo aplica-se tanto aquisio de mquinas, equipamentos e imveis para a instalao de unidades produtivas como compra de ttulos financeiros (letras de cmbio, aes). Ou seja, investimento toda aplicao de dinheiro com expectativa de lucro.

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Em economia, investimento significa exatamente a aplicao de capital em meios que levam ao crescimento da capacidade produtiva (instalaes, mquinas, meios de transporte), ou seja, em bens de capital, podendo ser dividido em dois tipos: Investimento bruto e Investimento lquido (GITMAN, 2002). O investimento bruto corresponde a todos os gastos realizados com bens de capital (mquinas e equipamentos) e formao de estoques, ao passo que investimento lquido no leva em considerao as despesas com manuteno e reposio de peas, equipamentos e instalaes desgastadas pelo uso. Como est diretamente ligado compra de bens de capital e, portanto, ampliao da capacidade produtiva, o investimento lquido mede com mais exatido o crescimento da economia. So exemplos de Investimentos:Investimento Poupana Aes Imveis Veculos Mquinas e Equipamentos Liquidez Alta Alta Baixa Alta Baixa Rentabilidade Baixa Alta Alta Baixa Alta Segurana Mdia Baixa Alta Baixa Alta

QUADRO 1 - Exemplos de investimentos e fatores de deciso. FONTE: Os autores Como voc deve ter observado, ao exemplificar os tipos de investimentos mais comuns apresentados acima, estes foram classificados quanto a trs importantes indicadores utilizados na tomada de deciso ao se optar por uma linha de investimento para seu dinheiro. Estamos tratando da liquidez, da rentabilidade e da segurana: um investimento lquido aquele que de venda rpida (fcil solvncia), isto ; que possa ser trocado por moeda rapidamente. A rentabilidade o que mede o retorno sobre o capital investido e a segurana o item que avalia o potencial de perda o capital investido. Todos os investimentos passam por um processo natural de depreciao, que deve ser computado financeiramente. Em alguns casos, como no de investimentos financeiros, os mesmos so passveis de amortizaes, como veremos a seguir.

1.2.2 Amortizaes e DepreciaesAmortizao um procedimento de eliminao de uma dvida por meio de pagamentos peridicos, realizados atravs de um planejamento, de modo que cada prestao corresponde soma do pagamento do capital ou com o pagamento dos juros do saldo devedor, podendo ser o reembolso de ambos, com os juros sempre calculados sobre o saldo devedor (NOGUEIRA, 2002).

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No Brasil, encontramos a amortizao contbil, que em seu conceito, alm da diminuio de dvidas, contempla tambm direitos intangveis classificados no ativo, provenientes da teoria de dimenso econmica dos fundos contbeis. Assim, associamos a expresso amortizao contbil depreciao contbil, que trata da reduo de bens tangveis, e exausto contbil, tratando de recursos naturais (S, 1990). Para Figueiredo (2004), existe uma srie de tipos de sistemas de amortizao, a seguir: Sistema Francs de Amortizao (Tabela price) Sistema de Amortizao Constante (SAC) Sistema de Amortizao Misto (SAM) Sistema Americano de Amortizao Sistema Americano com Sinking Fund Sistema de Amortizao Varivel Sistema Alemo de Amortizao Arrendamento Mercantil (Leasing)

Saiba Mais No Brasil, os sistemas comumente utilizados so: o sistema francs de amortizao, seguido pelo arrendamento mercantil; e em outras situaes o sistema de amortizao constante. Confira o artigo de Daiani Furtado acessando o site abaixo: http://www.microepequenasempresas.com.br/sistema-deamortizacao/

O sistema francs de amortizao faz uso da Tabela Price. Trata-se de um mtodo usado em amortizao de emprstimo, construdo por juros compostos, caracterizado por prestaes iguais. O mtodo de amortizao baseado nas tabelas de Richard Price, na realidade foi idealizado pelo seu autor para penses e aposentadorias. Porm, somente depois da 2 revoluo industrial que sua metodologia de clculo foi aproveitada para clculos de amortizao de emprstimo (NOGUEIRA, 2002). O processo de clculo da tabela price iterativo. Tomando como exemplo um emprstimo de R$10.000,00 para ser pago em 10 parcelas mensais, com juros de 1% ao ms.

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TABELA 1 Sistema Francs de Amortizao.

FONTE: Os autores Primeiramente voc precisa determinar o valor de cada parcela pela seguinte frmula: PMT = (PV x i) / 1 (1 + i ) - n Onde: PV = Valor Presente (valor a ser financiado) i = Taxa (sempre em %) n = Perodo (nmero de parcelas) PMT= Parcela (o valor de cada parcela a ser paga) Assim, PMT = R$ 1.055,82 O valor do juro ser sempre o valor do saldo devedor do perodo anterior, multiplicado pela taxa (Nesse caso: 1% ou 0,01). O valor da amortizao ser resultado da diferena entre o valor da parcela e o valor do juro. Ou seja, em cada ms, apura-se o juro para identificar quanto da parcela paga corresponde quitao do valor que se est devendo. O saldo devedor em cada momento ser o resultado do saldo devedor anterior, subtraindo a amortizao que ocorreu no perodo. Ateno: Juros - Valor devido pelo prazo de pagamento, acrescentado ao saldo devedor na transio do ms anterior para o atual; Amortizao - O quanto da dvida foi paga, levando-se em considerao os juros; Saldo Devedor - O quanto da dvida est pendente para ser paga.

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Abaixo, alguns termos usados no meio econmico/financeiro em relao amortizao, que julgamos interessante lhe explicar:Devedor ou muturio Taxa de juros Pessoa que recebe algo pelo emprstimo. Taxa acordada entre as partes. Calculada sobre o saldo devedor. Custo do dinheiro. Prazo de carncia Perodo entre o prazo de utilizao e o pagamento da primeira amortizao. Prazo de utilizao Intervalo de tempo em que o emprstimo transferido do credor ao devedor. Prazo de amortizao Intervalo de tempo em que so pagas as amortizaes. Parcelas de amortizao Parcelas de devoluo do principal. Prestaes menos juros. Prestao Soma da amortizao acrescida de juros e encargos.

QUADRO 2 - Termos usados no meio econmico/financeiro. FONTE: MATHIAS, Washington Franco; GOMES, Jos Maria, Matemtica Financeira. So Paulo, Ed. Atlas,1989. O leasing ou arrendamento mercantil um contrato por meio do qual a arrendadora ou locadora (entidade que se dedica explorao de leasing) compra um bem escolhido por seu cliente para, em seguida, locar ao mesmo, por um prazo definido. Ao fim do contrato o arrendatrio pode optar por renov-lo por mais um perodo, por devolver o bem arrendado arrendadora ou dela adquirir o bem, pelo valor de mercado ou por um valor residual previamente definido no contrato. O cliente deste tipo de crdito , tipicamente, uma empresa, podendo, no entanto, ser, tambm, contratado por pessoa fsica (BLATT, 1998). Existem trs formas de Leasing: Financeiro, Operacional e Leasing back. Na operao de leasing operacional, a arrendadora arca com os custos de manuteno dos equipamentos, e a arrendatria pode desfazer o contrato bastando apenas esperar o perodo mnimo de noventa dias a contar do incio do contrato, assim como determina o Banco Central, e aviso prvio para a empresa ou pessoa fsica contratante. O Leasing Financeiro se assemelha a um aluguel, com a diferena que se pode comprar o bem no final do prazo pr-determinado por um valor j determinado anteriormente. J o Leasing Back ocorre quando uma empresa necessita de capital de giro. Ela vende seus bens a uma empresa que a aluga novamente primeira (BLATT, 1998). No sistema de amortizao constante (SAC) a parcela de amortizao da dvida calculada tendo por base o total da dvida, tambm denominado saldo devedor, dividido pelo prazo do financiamento, como um percentual fixo da dvida, considerando um sistema linear. No SAC a prestao inicial um pouco maior que na Tabela Price, pois o valor que pago da dvida, ou amortizao, maior,

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assim, voc estar liquidando mais da dvida desde o inicio do financiamento e pagando menos juros ao longo de contrato (MATHIAS; GOMES, 1989). Conforme a dvida amortizada, a parcela dos juros e, por conseguinte a prestao, tendem a decrescer, pois o prprio saldo devedor est sendo reduzido. Com isso, no SAC, o saldo devedor e a sua prestao tendem a decrescer de forma constante desde o incio do financiamento e no permite a ocorrncia de valor residual ao trmino das prestaes, desta forma, voc estar menos exposto em caso de aumento do indexador do contrato (a TR, TJLP ou INCC) durante o financiamento (MATHIAS; GOMES, 1989). Vejamos ento o mesmo exemplo do caso anterior (price), como ele se comporta pelo sistema de amortizao constante: Tratamos novamente de um emprstimo de R$10.000,00 para ser pago em 10 parcelas mensais, com juros de 1% ao ms, porm dessa vez pelo SAC. TABELA 2 - Sistema de Amortizao Constante.

FONTE: Os autores Assim como no sistema francs de amortizao, o valor do juro ser sempre o valor do saldo devedor do perodo anterior, multiplicado pela taxa, porm diferente em cada momento, pois a formao do saldo devedor, nesse caso, no soma juros retidos de perodos passados. O valor da amortizao ser determinado ao dividir o valor financiado pelo nmero de parcelas em que ser dividido. O saldo devedor em cada momento ser o resultado do saldo devedor anterior, descontando a amortizao que ocorreu no perodo, que neste caso ser um valor fixo.

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Dica Nesse sistema de amortizao, a parcela no ser fixa, sendo calculada sempre pela soma da amortizao ao valor dos juros, referente ao saldo devedor. Compare a Tabela 1 com a Tabela 2.

Por depreciao devemos interpretar como sendo o custo ou a despesa decorrente da deteriorao ou da obsolescncia dos ativos imobilizados (mquinas, veculos, mveis, imveis e instalaes) da empresa. Ao longo do tempo, com a obsolescncia natural ou desgaste com uso na produo, os ativos vo perdendo valor. Essa perda de valor deve ser apropriada pela contabilidade periodicamente, at que esse bem tenha valor reduzido a zero (SILVA, 2005). Contudo, ao determinar a depreciao, o administrador pode estabelecer frmulas mais adequadas a sua realidade empresarial. Assim, um veculo, mesmo tendo uma vida til de 5 anos ou mais, dever ser depreciado em 5 anos no mximo, pois passado este perodo estar completamente obsoleto. Na possibilidade desse veculo ainda ter condies de ser utilizado, dever ser feita uma reavaliao do bem, atribuindo a ele um novo valor, baseado em dados tcnicos. A partir de ento, continua-se com a depreciao at a completa exausto do bem. Conforme o art. 25 da IN SRF n 11/96, os bens depreciveis so: Edifcios e construes; Projetos florestais destinados explorao dos respectivos frutos; Bens mveis e imveis utilizados no desempenho de atividades de contabilidade; Bens imveis utilizados como estabelecimento da administrao; Bens mveis utilizados nas atividades operacionais, instalados em estabelecimento da empresa; Veculos do tipo caminho, caminhonete de cabine simples ou utilitrios, utilizados no transporte de mercadorias e produtos adquiridos para revenda, de matria-prima, produtos intermedirios e de embalagem, aplicados a produo; Veculos do tipo caminho, caminhonete de cabine simples ou utilitrio; as bicicletas e motocicletas utilizadas pelos cobradores, compradores e vendedores, nas atividades de cobrana, compra e venda; bem como os utilizados nas entregas de mercadorias; Veculos utilizados no transporte coletivo de empregados;

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Bens mveis e imveis utilizados em pesquisa e desenvolvimento de produtos e processos; Bens mveis e imveis prprios, locados pela pessoa jurdica, e que tenham a locao como objeto de sua atividade; Bens mveis e imveis, objeto de arrendamento mercantil nos termos da Lei 6099/74, pela pessoa jurdica arrendadora; Veculos utilizados na prestao de servios de vigilncia mvel, pela pessoa jurdica que tenha objeto essa espcie de atividade (art. 307 do RIR/99).

1.2.3 Mtodos de DepreciaoConforme determina o art. 305 do RIR/99, podemos computar como custo ou encargo, em cada perodo de apurao, o valor correspondente diminuio do valor dos bens do ativo, resultante do desgaste pelo uso, ao da natureza e obsolescncia normal. Esse artigo determina ainda os seguintes mtodos de depreciao: Mtodo Linear O mtodo linear o mais freqentemente utilizado e se caracteriza pela aplicao de taxas constantes durante o tempo de vida til estimado para o bem. Exemplo: Um bem tem vida til de 10 anos, com taxa de depreciao de 10%. Taxa de Depreciao = 100% / tempo de vida til TD = 100% / 10 anos = 10% a.a. Mtodo das Horas de Trabalho Este mtodo consiste em determinar o nmero de horas de trabalho durante o tempo de vida til previsto para o bem. A parcela de depreciao ser obtida dividindo-se o nmero de horas trabalhadas no perodo pelo nmero de horas de trabalho estimadas durante a vida til do bem. Este mtodo prprio das empresas industriais. Mtodos das Unidades Produzidas Tambm utilizado por empresas industriais. Consiste em determinar a quantidade total de unidades que devem ser produzidas pelo bem no decorrer de sua vida til. A parcela de depreciao de cada perodo ser obtida dividindose o nmero de unidades produzidas no perodo pelo nmero de unidades estimadas, a serem produzidas ao longo de sua vida til. Calculamos a depreciao, dentre outros motivos, para deduzi-la das receitas e, assim, termos uma apurao mais real dos lucros obtidos nas operaes empresariais. Para tanto, vamos ver a seguir o que so essas receitas de onde as depreciaes e/ou amortizaes sero descontadas.

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1.2.4 ReceitasReceita o aporte de valores que ocorre em uma entidade (Contabilidade) ou patrimnio (Economia). Normalmente esse aporte vem em forma de dinheiro ou crditos representativos de direitos. Nas empresas privadas a receita normalmente corresponde ao produto de venda de bens ou servios aqui denominado faturamento classificando-se em operacionais e no-operacionais (S, 1990). Segundo Neves; Viceconti (2001), as receitas operacionais so oriundas do objeto de explorao da empresa, podendo ser classificadas da seguinte forma: Receita da atividade tcnica ou principal - relacionada atividade principal da empresa como venda de produtos, mercadorias ou servios. Receita acessria ou complementar - decorrente da receita da atividade principal e representa rendimentos complementares. No Brasil denominase contabilmente esse grupo de receitas de Outras Receitas Operacionais, que devem ser compostos basicamente de Receitas Financeiras (juros, aluguis, rendimentos). Receitas no-operacionais - ingressos de valores no caixa derivados de transaes no inclusas nas atividades principais ou acessrias da empresa.

1.2.5 Receita BrutaA receita bruta, para a contabilidade, o produto da venda de bens e servios. Ou seja, a receita total decorrente das atividades-fim da empresa (atividades para as quais a empresa foi constituda, segundo seus estatutos ou contrato social), tambm visto como o faturamento da organizao (S, 1990). Porm, para fins tributrios, no Brasil, a Receita Bruta tem diferentes composies. Considera-se receita bruta, para fins de aplicao do Simples Nacional, o produto da venda de bens e servios nas operaes de conta prpria, o preo dos servios prestados e o resultado nas operaes em conta alheia, tais como comisses recebidas, dentre outros, no includas as vendas canceladas e os descontos incondicionais concedidos. Para fins de legislao do PIS e COFINS, a receita bruta o total de receitas contabilizadas, independentemente de originria do faturamento, o que motivou muitas empresas a questionarem este conceito na justia, visando reduo de contribuies a pagar. So excludos do conceito da receita bruta, para fins tributrios: o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e o Imposto sobre Operaes Relativas Circulao de Mercadorias e sobre Prestaes de Servios de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicao (ICMS), quando cobrado pelo vendedor dos bens ou prestador dos servios na condio de substituto tributrio.

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Para a contabilidade, a receita lquida representada pela receita bruta com dedues, como no exemplo a seguir: Receita bruta de Vendas (-) Devolues de Vendas (-) Descontos Comerciais (-) Impostos (=) Receita Lquida R$ 50.000,00 R$ 1.500,00 R$ 5.000,00 R$ 8.500,00 R$ 35.000,00

Da Receita Lquida, podem ser feitas ainda as seguintes dedues: (=) Receita Lquida (-) Custos (=) Lucro bruto (-) Despesas (=) Lucro lquido R$ 35.000,00 R$ 4.000,00 R$ 31.000,00 R$ 10.000,00 R$ 21.000,00

1.2.6 ImpostosImposto uma contribuio percentual paga obrigatoriamente por pessoas ou organizaes para um governo, a partir de uma base de clculo e de um fato gerador. uma forma de tributo que tem como principal finalidade, custear o Estado (S, 1990). Impostos podem ser pagos em moeda (dinheiro) ou em mercadorias, embora o pagamento em mercadorias nem sempre seja permitido ou classificado como imposto em todos os sistemas tributrios. No Brasil, os tributos somente so aceitos em forma de dinheiro. Esses tributos podem incidir sobre renda ou patrimnio. Renda diz respeito ao valor recebido pelo trabalho de indivduos ou de organizaes e patrimnio so os bens de posse que tm valor como imveis e veculos (SMITH, 1983). So exemplos de impostos: Impostos federais II - Imposto sobre a importao de produtos estrangeiros; IE - Imposto sobre a exportao de produtos nacionais ou nacionalizados; IR - Imposto sobre a renda e proventos de qualquer natureza; IPI - Imposto sobre Produtos Industrializados; IOF - Imposto sobre Operaes de Crdito, Cmbio e Seguro ou relativas a Ttulos ou Valores Mobilirios; ITR - Imposto Territorial Rural.

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Impostos estaduais ICMS - Imposto sobre operaes relativas Circulao de Mercadorias e prestao de Servios de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicao; IPVA - Imposto sobre Propriedade de Veculos Automotores (IPVA); ITCMD - Imposto sobre Transmisses Causa Mortis e Doaes de Qualquer Bem ou Direito. Impostos municipais IPTU - Imposto sobre a Propriedade predial e Territorial Urbana; ITBI - Imposto sobre Transmisso inter vivos de Bens e Imveis e de direitos reais a eles relativos; ISSQN - Impostos sobre Servios de Qualquer Natureza (ISSQN). Tanto os impostos pagos quanto os substitudos, no oramento empresarial, so computados como custos e agregados assim ao valor do produto ou servio produzido. Assim, a seguir, vamos discorrer acerca do tema custos, que ser mais amplamente abordado no terceiro captulo de nosso estudo.

1.2.7 CustosOs custos so medidas monetrias dos dispndios financeiros com os quais uma organizao, uma pessoa ou um governo, precisa arcar para atingir seus objetivos, sendo considerados como objetivos a utilizao de um produto ou servio qualquer, utilizados na obteno de outros bens ou servios. A Contabilidade gerencial incorpora esses e outros conceitos econmicos para fins de elaborar relatrios de custos de uso da administrao da empresa (LEONI, 1996). Sob a viso contbil, os custos so medidas monetrias derivadas da aplicao de bens e servios na produo de outros bens e servios, durante o processo de fabricao. No adentraremos mais no tema custos porque este ser tema do captulo 3. Outro importante item acerca dos custos das mercadorias a relao que a empresa tem com sua gerncia de estoques. A armazenagem de matria prima, de produtos acabados ou em processos de fabricao gera outro custo para as organizaes, que ser tratado a seguir.

1.2.8 EstoquesEstoques so recursos disponveis em um determinado momento, que uma empresa pode aproveitar para dar origem a um bem. So quantidades armazenadas ou em processo de produo, com a o objetivo de criar uma

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independncia entre os vrios estgios da cadeia produtiva. (Compra-Venda, Compra-Produo, Produo-Distribuio) (LUBBEN, 1989). A gesto de estoques um conceito que est presente em todo tipo de empresa, assim como na vida quotidiana das pessoas. Desde o incio da sua histria que a humanidade tem usado estoques de variados recursos, de modo a suportar o seu desenvolvimento e sobrevivncia, tais como ferramentas e alimentos (LUBBEN, 1989). No meio empresarial, o excesso de estoques representa custos operacionais e de oportunidade do capital empatado, porm nveis baixos de estoque podem originar perdas de economias e custos elevados devido falta de produtos. A tarefa de encontrar o ponto ideal de estoques (tambm determinado ponto de equilbrio) bastante rdua (LUBBEN, 1989). Uma das vantagens dos estoques o fato de poderem ser usados para enfrentar uma situao de privao do que necessrio podendo enfrentar variaes ou balanos da procura, mesmo sendo essa procura mais ou menos constante, possibilitando tambm adquirir a baixos preos para se revender quando os preos so elevados, e evitam o desconforto devido a entregas e aquisies com elevada freqncia. Ou seja, devido ao fato das operaes entre entregas e utilizaes se efetuarem em tempos diferentes, pode-se dizer que os estoques servem de reguladores, entre esses dois processos (LUBBEN, 1989). O armazenamento de materiais compreende dois tipos de custos: fixos e variveis. Nos custos variveis podemos considerar os custos de operao e manuteno dos equipamentos, manuteno dos estoques, materiais operacionais e instalaes, obsolescncia e deteriorao e custos de perdas. J nos custos fixos, equipamentos de armazenagem e manuteno, seguros, benefcios a funcionrios e folha de pagamentos e utilizao do imvel e mobilirio (LEONI, 1996). Quando a empresa detm estoques desnecessrios, ocorre um desaproveitamento de estoque, o que vai significar uma perda de espao fsico e perdas de investimento. Quando existe a compreenso que os estoques geram desperdcios e quando se identificam as razes que indicam a necessidade de estoques, o propsito us-las de uma forma eficiente (LUBBEN, 1989). Para Leoni (1996), em relao aos custos associados gesto de estoques, estes podem ser separados em trs reas principais: Custos de manuteno de estoques; Custos de pedido e Custos de falta. Custos de manuteno de estoques so custos proporcionais quantidade armazenada e ao tempo que ela fica em estoque. Um dos custos mais importante o custo de oportunidade do capital, pois representa a perda de receitas por ter o capital investido em estoques e no t-lo investido em outra atividade econmica. Uma viso comum considerar o custo de manuteno de estoque de um produto como uma pequena parte do seu valor unitrio (LEONI, 1996).

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Custo de pedido so custos referentes a uma nova encomenda, podendo esses custos ser tanto variveis como fixos. Os custos fixos associados a um pedido so o envio da encomenda, receber essa mesma encomenda e a inspeo. O exemplo principal de custo varivel o preo por unidade de compra dos artigos encomendados (LEONI, 1996). Custos de falta so custos derivados de quando no existe estoque suficiente para atender a procura dos clientes em um dado perodo de tempo. Esses custos ocorrem com o pagamento de multas contratuais, perdas de venda, deteriorao de imagem da empresa, perda de market share, e ativao de planos de contingncia (LEONI, 1996). Para Lubben (1989), existem diversas classificaes dos estoques. De acordo com a natureza dos produtos fabricados e da atividade da empresa, os estoques recebem diferentes denominaes. Do ponto de vista do processo produtivo em uma empresa industrial, podemos ter: estoque de produtos em processo; de matria-prima e materiais auxiliares; operacional e de produtos acabados. O estoque de produtos em processo baseia-se essencialmente em todos os artigos solicitados, necessrios fabricao ou montagem do produto final, que se encontram nas vrias fases de produo. No estoque de matria-prima e materiais auxiliares encontramos materiais secundrios, como componentes que iram integrar o produto final. So usualmente compostos por materiais brutos destinados transformao. O estoque operacional um tipo de estoque criado para evitar possveis interrupes na produo por defeito ou danos de algum equipamento. constitudo por lubrificantes ou quaisquer materiais destinados manuteno, substituio ou reparos tais como componentes ou peas sobressalentes. E por fim, o estoque de produtos acabados, que composto pelo produto que teve seu processo de fabricao finalizado. Em empresas comerciais chamado de estoque de mercadorias. Usualmente so materiais que se encontram em depsitos prprios para expedio. So formados por materiais ou produtos em condies de serem vendidos (LUBBEN, 1989). Fora do ciclo produtivo de uma empresa, temos tambm estoque de materiais administrativos, que formado de materiais destinados ao desenvolvimento das atividades da empresa e utilizados nas reas administrativas da mesma, tais como, impressos, papel, formulrios, etc. E como suporte operao da empresa, podemos tambm ter um estoque de segurana, que so as quantidades guardadas para assegurar o andamento do processo produtivo caso ocorram aumento na demanda do item por parte do processo ou atraso no abastecimento futuro (LUBBEN, 1989). Os estoques de segurana evitam que ocorram problemas inesperados em alguma fase produtiva interrompendo as atividades sucessivas de atendimento da demanda. A existncia de estoques de segurana em uma fbrica evita que o processo produtivo pare em caso de uma avaria, alimentando as mquinas subseqentes durante o reparo. So ainda utilizados para prevenir uma empresa de incertezas nas suas operaes logsticas (LUBBEN, 1989).

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Quanto aos critrios de avaliao de estoques, podemos considerar trs critrios usualmente utilizados, sendo eles: PEPS (primeiro a entrar, primeiro a sair); UEPS (ltimo a entrar, primeiro a sair); Preo mdio ponderado. PEPS No mtodo PEPS, usamos o custo do lote mais antigo quando ocorre venda da mercadoria at que se esgotem as quantidades desse estoque. Em seguida, partimos para o segundo lote mais antigo e assim sucessivamente (GARCIA, 2006). Existem vrias desvantagens nessa metodologia. Uma delas que precisamos controlar vrios lotes para identificarmos sempre o custo do mais antigo. Nesse caso o PEPS provocar um estoque com valor mais alto e um custo mais baixo, formando assim um lucro maior, fazendo com que a empresa pague mais impostos e mais dividendos (GARCIA, 2006). UEPS J o UEPS funciona de forma muito parecida com o PEPS, apenas que utilizamos o preo do ltimo lote comprado para custearmos as vendas (GARCIA, 2006). O UEPS possui tambm suas desvantagens em relao ao PEPS, pois mesmo que no se acabe de usar todo um lote, abandona-se este e comea-se a usar o ltimo mais recente. Com isso precisamos controlar diversos lotes com saldos no qual usamos parcialmente os custos (GARCIA, 2006). Preo mdio ponderado Essa tcnica muito fcil de ser usada, pois custo mdio ser sempre a diviso do saldo financeiro pelo saldo fsico. A Mdia a tcnica indicada para a elaborao dos clculos de custos pela contabilidade, mas no recomendada para se usar na formao dos preos de vendas (GARCIA, 2006). Para a contabilidade de custos no existe outra sada, pois a Mdia nos d um custo mediano, um lucro mediano e um estoque mediano, inclusive no Brasil obrigatrio tambm o custeio por absoro real onde todos os custos contbeis so agregados e rateados na produo do ms (GARCIA, 2006).

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Observe a aplicao dos trs mtodos citados, em uma mesma situao. TABELA 3 - Situao hipottica

FONTE: Os autores TABELA 4 - PEPS

FONTE: Os autores TABELA 5 - UEPS

FONTE: Os autores

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TABELA 6 - MDIA

FONTE: Os autores A gesto de estoques o principal critrio de avaliao de eficincia do sistema de administrao de materiais. Abrange uma srie de atividades, que vo desde a programao e planejamento das necessidades de materiais em estoque, at ao controle das quantidades adquiridas, para medir a sua localizao, movimentao, utilizao e armazenagem de modo a responder com regularidade aos clientes em relao a preos, quantidades, e prazos (LUBBEN, 1989). A programao e planejamento so as atividades relativas definio dos modelos necessrios para a utilizao de tcnicas estatsticas, aplicveis s previses de necessidades e gesto de estoques da empresa, dentro de uma produo e programao de vendas antecipadamente estabelecidas. O controle a etapa executiva responsvel pela atualizao e coleta dos dados de movimentao que voltam a alimentar o processo de administrao de estoques, e que faz com que algumas decises sejam tomadas em funo de uma srie de parmetros anteriormente estabelecidos (GARCIA, 2006). Apesar da sua importncia, extenso e complexidade, freqentemente a gesto de estoques negligenciada em muitas empresas, sendo considerada como uma questo no estratgica e limitada tomada de decises em nveis organizacionais mais baixos. Algumas empresas j perceberam como a gesto de estoques pode ser utilizada ao longo de toda a cadeia de suprimentos da qual fazem parte, e de todas as vantagens competitivas que isso pode vir a trazer, desfrutando assim destas vantagens (LUBBEN, 1989). A boa administrao dos estoques de vital importncia para a sade financeira das empresas, uma vez que grande parte do capital das empresas est nos materiais envolvidos na produo, sendo comum representarem 50% de todo o seu capital. Assim, redues no montante estocado se traduz na liberao de grande volume do capital necessrio ao andamento do negcio como um todo (LUBBEN, 1989). Como vimos, estoques so custos, porm custos e despesas no so sinnimos. Veja a seguir.

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1.2.9 DespesasPara a contabilidade, despesa o dispndio necessrio para a obteno de receita. As despesas so gastos que no se identificam com o processo de transformao ou produo de bens e produtos. Esto sempre relacionadas aos valores gastos com a estrutura administrativa e comercial da empresa tais como aluguel, salrios e encargos, telefone, propaganda, impostos, comisses, dentre outros. Elas ainda so classificadas em fixas e variveis, sendo as fixas aquelas cujo valor a ser pago no depende do volume, ou do valor das vendas, enquanto que as variveis so aquelas cujo valor a ser pago est diretamente relacionado ao valor vendido (S, 1990).

Ateno: Custos diferente Despesas Custo o gasto aplicado produo de um bem. No comrcio, aquisio de mercadorias. Na indstria, aquisio de matriasprimas, insumos e mo-de-obra. Despesas so os gastos usados para a obteno de receitas no relacionadas diretamente no produto: aluguel, telefone, material de escritrio, propaganda, comisses de vendedores, etc.

No Brasil, as despesas de entidades privadas e com fins lucrativos aparecem na Demonstrao do Resultado do Exerccio (DRE), conforme as normas brasileiras de contabilidade, logo abaixo do lucro lquido operacional. As empresas sem fins lucrativos lanam as despesas na demonstrao do dficit/ supervit do exerccio, as quais constituem os grupos de despesas com vendas, administrativas e financeiras, e tambm no grupo despesas no-operacionais, daquela demonstrao. importante salientar que, contabilmente, despesa no igual a custo, uma vez que este ltimo, como voc identificar no item 1.2.5, relacionado com o processo produtivo de bens ou servios, enquanto que despesa diz respeito aos gastos com a manuteno das atividades da entidade. Com base do que j vimos at o momento, certamente voc est habilitado a partir para o prximo passo de nosso estudo: As demonstraes financeiras.

1.3 DEMONSTRAES FINANCEIRASVamos perceber nesse item que demonstraes financeiras so representaes estruturadas da posio financeira e do desempenho financeiro de uma determinada organizao. Os seus objetivos se concentram em propiciar informaes que orientem as tomadas de deciso, mostrando os resultados obtidos em determinados perodos.

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1.3.1 Demonstrao do Resultado do Exerccio (DRE)Demonstrao do Resultado do Exerccio (DRE) uma demonstrao contbil dinmica que tem por objetivo evidenciar a formao do resultado lquido em um exerccio, por meio do confronto das receitas, custos e despesas, apuradas segundo o princpio contbil do regime de competncia (S, 1990). A DRE estruturada da seguinte forma:Faturamento Bruto (-) IPI Faturado = Receita Operacional Bruta (Venda Bruta) Vendas de Mercadorias, Produtos ou Prestao de Servios (-) Dedues e abatimentos Devolues de vendas Descontos e abatimentos comerciais Vendas anuladas e canceladas Impostos sobre vendas = Receita Operacional Lquida (-) Custos das Mercadorias, Produtos ou Servios Vendidos = Lucro Operacional Bruto (-) Despesas Operacionais Despesas com vendas / comerciais Despesas administrativas Encargos financeiros Outras despesas operacionais + Outras Receitas Operacionais Receitas de aluguis, Dividendos recebidos, Ganhos em participaes societrias, reverses de provises (=) Resultado Operacional Lquido + Receitas No Operacionais Vendas de permanentes, lucro apurado em coligadas e controladas pela equivalncia patrimonial (-) Despesas no operacionais Custo dos Permanentes Vendidos, prejuzo apurado em coligadas e controladas, proviso para perdas provveis em investimentos = Resultado do Exerccio antes da Contribuio Social (-) Proviso para Contribuio Social = Resultado do Exerccio antes do Imposto de Renda (no necessariamente a base para o IR) (-) Proviso para o Imposto de Renda = Resultado do Exerccio aps o Imposto de Renda (-) Participaes Debntures Empregados Administradores Partes beneficirias Contribuies para instituies ou Fundo de Assistncia ou Previdncia dos Empregados = Resultado Lquido do Exerccio Lucro ou Prejuzo por Ao do Capital

FIGURA 1 - Estrutura da DRE FONTE: BRASIL. Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispe sobre as sociedades por aes. Disponvel em: . Acesso em: 28 ago 2008. Alterada pela Lei 11.638/07 de 28 de dezembro de 2007. Disponvel em: . Acesso em: 28 ago 2008.

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A demonstrao do resultado do exerccio oferece um resumo financeiro dos resultados operacionais e no operacionais de uma empresa em certo perodo. Embora sejam elaboradas anualmente para fins legais de divulgao, normalmente so feitas mensalmente para fins administrativos e trimestralmente para fins fiscais (HELFERT, 2000). Observe um exemplo com nmeros. TABELA 7 - Exemplo de DRE

FONTE: Os autores A DRE est intimamente ligada ao Balano Patrimonial, porm d posicionamentos diferentes de um mesmo perodo. Observe abaixo o que ocorre com as informaes nessa ferramenta de demonstrao financeira.

1.3.2 Balano PatrimonialPartimos da idia de uma balana de dois pratos, onde sempre encontramos a igualdade. Mas em vez de se denominar balana, denomina-se

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balano. J o termo patrimonial tem origem no patrimnio da empresa, ou seja, o conjunto de bens, direitos e obrigaes. Juntando os dois conceitos temos o balano patrimonial, equilbrio do patrimnio, ou igualdade patrimonial, que evidencia a situao patrimonial da empresa em determinada data (PADOVEZE, 2004). O balano uma demonstrao contbil que tem por finalidade apresentar a posio contbil, financeira e economica de uma empresa em determinada data, representando uma posio esttica (situao do patrimnio em determinada data) (S, 1990).

Saiba Mais A palavra balano vem do equilbrio ou da igualdade expresso nas seguintes frmulas contbeis: Ativo = Passivo + Patrimnio Lquido Aplicaes = Origens. Confira mais no site do SEBRAE acessando o link abaixo: http://www.sebrae.com.br/momento/quero-abrir-um-negocio/ planeje-sua-empresa/administracao/1114/BIA_1114/integra_bia

O Balano apresenta os Ativos (bens e direitos) e Passivos (obrigaes) e o Patrimnio Lquido, que resultante da diferena entre o total de ativos e passivos. a demonstrao contbil que evidencia, resumidamente, o patrimnio da empresa, quantitativa e qualitativamente (PADOVEZE, 2004). As contas do Ativo sujeitas depreciao, amortizao, exausto e proviso para crditos de liquidao duvidosa e outras provises aparecero, no Balano Patrimonial, deduzidas das respectivas depreciaes, amortizaes, exaustes ou provises para crditos de liquidao duvidosa e outras provises (PADOVEZE, 2004).

Ateno Na contabilidade, o ativo circulante uma referncia aos bens e direitos que podem ser convertidos em dinheiro em curto prazo.

So ativos que podem ser considerados como circulantes: dinheiro em caixa, conta movimento em banco, aplicaes financeiras, contas a receber, estoques, despesas antecipadas, numerrio em caixa, depsito bancrio, mercadorias, matrias-primas e ttulos (PADOVEZE, 2004). O ativo circulante aquele que ir se cumprir at o exerccio social seguinte e equivalente ao capital de giro. O Capital de giro ou Capital Circulante Lquido a diferena do Ativo Circulante do Passivo Circulante, conforme a

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terminologia do DOAR ( Demonstrao de origens e aplicaes de recursos) dada pela Lei Federal Brasileira 6.404/76. Esta era obrigatria para as companhias de capital aberto e para as de capital fechado que apresentassem na data do balano patrimonial, um patrimnio lquido superior a R$ 1.000.000,00 (atualizado pela Lei no 9.457/97). A DOAR indica as modificaes na posio financeira da companhia. E a partir de janeiro de 2008, a DOAR foi substituida pelo DFC (Demonstrao de Fluxo de Caixa) de 2007. Ativo realizvel a longo prazo representado por um conjunto de bens e direitos que iro realizar-se aps 360 dias da data da publicao do balano a que faz parte. Exemplos: impostos a recuperar, contratos de mtuo valor, emprstimos a scios ou diretores (direitos a receber que, mesmo pressuponto recebimento a curto prazo, devem ser classificados no realizvel a longo prazo). Tal fato ocorre por que a empresa no vai acionar seu diretor se este no pagar na data combinada. Entram tambm no ativo realizvel a longo prazo os direitos realizveis aps o trmino do exerccio seguinte, assim como os derivados de vendas, adiantamentos ou emprstimos a sociedades coligadas ou controladas, diretores, acionistas ou participantes no lucro da companhia, que no constiturem negcios usuais na explorao do objeto da companhia (PADOVEZE, 2004). Passivo circulante so as obrigaes que normalmente so pagas dentro de um ano tais como contas a pagar, dvidas com fornecedores de mercadorias ou matrias-prima, impostos a recolher, emprstimos bancrios com vencimento nos prximos 360 dias, provises para despesas incorridas, geradas, ainda no pagas, porm reconhecidas pela empresa tais como imposto de renda, frias, 13 salrio, dentre outros (PADOVEZE, 2004). So considerados exemplos de passivo circulante: Fornecedores (duplicatas a pagar) Emprstimos bancrios Ttulos a pagar Encargos sociais a pagar Salrios a pagar Impostos a pagar

Passivo exigvel a longo prazo so as dvidas de uma empresa que sero liquidadas com prazo superior a um ano, tais como financiamentos e ttulos a pagar, dentre outros. Trata-se das obrigaes com terceiros, como duplicatas a pagar, notas promissrias a pagar, fornecedores, impostos a recolher, contas a pagar, ttulos a pagar, contribuies a recolher e outras, que tero seu vencimento 360 dias aps a data da publicao do balano de que fazem parte (S, 1990). Patrimnio lquido representa os valores que os scios ou acionistas tm na empresa em um determinado momento. No balano patrimonial, a diferena entre o valor dos ativos e dos passivos e resultado de exerccios futuros representa o Patrimnio Lquido (PL), que o valor contbil devido pela pessoa jurdica aos scios ou acionistas, baseado no princpio da entidade (S, 1990). A seguir temos um modelo mais completo de Balano Patrimonial:

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QUADRO 3 - Estrutura do Balano Patrimonial FONTE: Os autores

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Observe como se comportam os nmeros aplicados ao modelo exposto: TABELA 8 - Exemplo de Balano Patrimonial

FONTE: Os autores

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Visto a Demonstrao do Resultado do Exerccio e a Balano Patrimonial, nos resta o fluxo de caixa, que trata-se de outra ferramenta de demonstrao financeira. Veja a seguir.

1.3.4 Fluxo de CaixaO fluxo de caixa uma ferramenta desenvolvida para a execuo do planejamento e do controle financeiro a curto, mdio e longo prazo da Empresa. Ele no indica apenas o total de dinheiro em caixa necessrio para a manuteno das operaes da empresa, mas tambm, o perodo em que sero obtidos e/ou desembolsados. Alm disso, o fluxo de caixa serve como um ponto de referncia em relao a qual os valores realizados podem ser comparados (CAVALHEIRO, 1989). Defasagens significativas podem indicar que os programas da empresa no esto correndo segundo o planejado, mostrando que devero ser tomadas medidas corretivas e/ou saneadoras. Estas defasagens podem informar que os programas da empresa tornaram-se irreais em vista da ocorrncia de acontecimentos imprevistos e incontrolveis (DAMODARAN, 1997). O fluxo no nada mais que um plano escrito, expresso em termos de unidades monetrias. Trata-se de uma tima ferramenta para auxiliar o administrador de determinada empresa nas tomadas de decises. atravs deste demonstrativo que os custos fixos e variveis so evidenciados, permitindose desta forma um controle efetivo sobre determinadas questes empresariais (DAMODARAN, 1997).

Para Pensar O fluxo de caixa pode ser utilizado tambm por pessoas fsicas que tenham interesse em uma organizao financeira pessoal mais eficiente?

O fluxo de caixa poder ser elaborado com relativa preciso e ter em vista vrias finalidades. A principal ser indicar as necessidades de dinheiro para atendimento dos compromissos que a empresa costuma ter com prazos certos para serem saldados. Observe o modelo de fluxo de caixa que apresentado a seguir.

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TABELA 9 - Modelo de Fluxo de Caixa

FONTE: Os autores Vantagens do Fluxo de Caixa O fluxo de caixa tambm pode ser uma ferramenta de uso pessoal. Pessoas fsicas que tenham interesse em uma organizao financeira pessoal mais eficiente podem fazer uso dessas tcnicas. Inclusive, existem hoje no mercado diferentes tipos de ferramentas que tm por objetivo facilitar a confeco do fluxo de caixa pessoal. Segundo Damodaran (1997), as principais vantagens do uso de um fluxo de caixa so: demonstrar ao gestor financeiro o momento exato para as retiradas de caixa, sem acarretar problemas financeiros para a empresa; propiciar ao gestor financeiro meios de pr em funcionamento suas disponibilidades de caixa de maneira racional e lucrativa, sem comprometer a liquidez da empresa;

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projetar as necessidades financeiras futuras, permitindo que se busquem alternativas de suprimento de caixa mais rpidas e em tempo hbil quando se fizer necessrio; destacar os pontos negativos e os pontos positivos, antecipando ao gestor financeiro a atitude, em termos, das medidas cabveis para cada situao projetada para a empresa; auxiliar na verificao dos perodos em que a empresa ter excedentes de caixa, estimar os valores dos saldos de caixa e os perodos em que eles iro ocorrer; permitir a escolha de alternativas mais eficazes para suprir eventuais faltas de saldo de caixa, visto que o fluxo estabelece os objetivos e as metas a atingir pela empresa. Ainda segundo o mesmo autor, as principais desvantagens do uso de um fluxo de caixa so: quanto ao planejamento - os erros cometidos pelo gestor financeiro vinculam-se s estimativas do fluxo de caixa que, por sua vez, dependem da exatido das projees de vendas que lhe serviro de base para todo o sistema oramentrio global; apresentar restries por parte de alguns grupos da empresa quanto a mudanas de planejamento e de controles oramentrios; poder haver um imediatismo por parte do gestor financeiro ou de algumas pessoas na obteno dos resultados, atravs da utilizao do fluxo de caixa; haver sempre a necessidade de comparar os resultados apurados com os projetados pela empresa, visando o melhor planejamento de ingressos e de desembolsos de caixas futuros; as instabilidades do mercado podero prejudicar o desempenho do fluxo de caixa da empresa, em funo das variaes nas atividades econmicofinanceiras para o perodo projetado. A projeo do fluxo de caixa consiste em uma importante e fiel ferramenta para se apurar o lucro real obtido no perodo e a falta deste, que deve ser suprido pelo capital de giro, assim como descrito no prximo item.

1.4 CAPITAL DE GIROAgora vamos comear a tratar das finanas a curto prazo, que tem como preocupao principal a anlise das decises que afetam os ativos e passivos circulantes. Nesse contexto, observa-se que, com certa freqncia, a expresso capital de giro associada tomada de decises financeiras a curto prazo.

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Saiba Mais De acordo com a Lei das S/A's (Lei 6.404 de 15/12/1976, em seus artigos 179 e 180), o curto prazo delimitado por um perodo igual ao de um exerccio social, que normalmente de um ano. Na prtica, as decises financeiras tipicamente de curto prazo envolvem entradas e sadas de caixa que ocorrem no prazo de um ano ou menos; tais como encomendas de matria prima, pagamentos vista ou descontos na venda de produtos acabados. Confira acessando o site abaixo: http://www010.dataprev.gov.br/sislex/paginas/42/1976/6404.htm Obs: Em 28 de dezembro de 2007, foi publicada a Lei 11.638/07 que altera a Lei 6.404/76. Confira as mudanas no site abaixo: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/Lei/ L11638.htm Uma boa parte dos fundos de uma empresa destina-se ao que chamamos de capital de giro, ativos circulantes ou ativos correntes. Em geral, estes ativos compreendem os saldos mantidos pela empresa nas contas disponibilidades, investimentos temporrios, contas a receber e estoques (matrias primas, mercadorias para venda, produo em andamento e produtos acabados). A soma destes saldos, em qualquer momento, representa o montante investido pela empresa nestes itens. Vamos determinar, a seguir, como se apura a necessidade de levantar ou aprovisionar recursos para o capital de giro nas finanas das empresas.

1.4.1 Necessidade de Capital de GiroCapital de giro o conjunto de valores necessrios para a empresa fazer seus negcios acontecerem. Em geral, boa parte do total dos ativos de uma empresa so destinados a este capital. Alm de sua participao sobre o total dos ativos da empresa, o capital de giro exige um esforo para ser administrado pelo gestor financeiro maior do que aquele requerido pelo capital fixo (S, 1990). Ateno O capital de giro precisa ser monitorado constantemente, pois sofre o impacto das diversas mudanas econmicas enfrentadas pela empresa. As dificuldades relativas ao capital de giro numa empresa so originadas pela ocorrncia dos seguintes fatores: Reduo das vendas; Crescimento da inadimplncia; Aumento das despesas financeiras; Aumento dos custos.

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A necessidade de capital de giro surge em funo do ciclo financeiro da empresa (que ser explicado no item 1.4.3). Quando o ciclo financeiro longo, a necessidade de capital de giro maior e vice-versa. Assim, a reduo do ciclo de caixa - em resumo, significa receber mais cedo e pagar mais tarde - deve ser uma meta da administrao financeira. Entretanto, a reduo do ciclo de caixa requer a adoo de medidas de natureza operacional, envolvendo o encurtamento dos prazos de estocagem, produo, operao e vendas. O clculo atravs do ciclo financeiro (desenvolvido no item 1.4.3) possibilita mais facilmente prever a necessidade de capital de giro em funo de uma alterao nas polticas de prazos mdios ou no volume de vendas. Atravs do saldo das contas no Balano Patrimonial, pode-se determinar a necessidade de capital de giro da seguinte forma: NCG = Contas a Receber + Estoque - Contas a Pagar. Dessa forma, podemos determinar o valor necessrio para que as operaes financeiras da empresa mantenham-se com um status de saudvel. Porm, muito importante a conciliao do fluxo de caixa, visto anteriormente, para determinarmos tambm os perodos em que ser necessrio cada montante do capital de giro apurado como necessrio. Se no obtivermos o valor necessrio para o capital de giro, nos resta crer que esta organizao, ao invs de necessitar de recursos para fechar seu perodo, est com recursos extras, alm do necessrio. Trata-se de uma situao bastante saudvel e confortvel. A esta situao, d-se o nome de saldo de tesouraria.

1.4.2 Saldo de TesourariaTesouraria o setor de uma organizao encarregado da contabilidade e do armazenamento do dinheiro - caixa (S, 1990). O saldo de tesouraria obtido pela diferena entre o ativo financeiro e o passivo financeiro: T = Ativo Financeiro Passivo Financeiro, Voc tambm pode determinar pelo valor residual decorrente da diferena entre o Capital de Giro e a necessidade de capital de giro, da seguinte forma: T = CDG NCG Ou seja, trata-se da diferena entre o valor que se tem em caixa e o valor que necessrio para saldar as obrigaes no perodo. Quando positivo sinal que existe dinheiro sobrando no caixa, que pode ser investido na produo, algum ativo financeiro, ou at mesmo financiar um prazo maior aos clientes. Quando negativo, observa-se a evidncia de que no h dinheiro suficiente para o cumprimento das obrigaes, levando as organizaes a buscar solues para esse fechamento, que comumente se d em buscar dinheiro no mercado financeiro, atravs de emprstimos ou venda de capital. Um saldo positivo de tesouraria representa uma reserva financeira da empresa para fazer frente a eventuais expanses da necessidade de

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investimento operacional em giro, principalmente aquelas de natureza sazonal. A condio fundamental para que a empresa esteja em equilbrio financeiro que seu saldo de tesouraria seja positivo. Tanto situaes de necessidade de capital de giro quanto em que ocorrem saldo de tesouraria, podem ser visualizadas nos ciclos empresariais: operacional e financeiro. Veja a seguir do que se trata.

1.4.3 Ciclo Operacional e Ciclo FinanceiroPodemos dizer que os ativos correntes constituem o capital de empresa que circula at transformar-se novamente em dinheiro, dentro de um ciclo de operaes. Nota-se assim que o curto prazo, como durao desse ciclo de operaes, na verdade varia conforme a natureza das operaes da empresa, e se resume ao tempo exigido para que uma aplicao de dinheiro em insumos variveis gire inteiramente, desde a compra de matria prima e o pagamento de funcionrios, at o recebimento correspondente venda do produto ou servio (MATIAS, 2007). A figura abaixo representa graficamente o ciclo operacional de uma empresa.

Vendas vista

Caixa

>>>>>Compra de Matria Prima

Estoque de Matria Prima

>>>>>

Estoque de Produtos Acabados

>>>>>Vendas prazo

Duplicatas a Receber

Produo

FIGURA 2 - Ciclo Operacional FONTE: Os autores Observe que existe certa dificuldade em visualizar uma empresa real em funcionamento e examinar o processo pelo qual as etapas so vencidas nesse ciclo, principalmente quando se considera que uma empresa certamente ter vrios ciclos em andamento, simultaneamente e em etapas distintas a cada momento.

Ateno As empresas mantm capital de giro para sustentar um dado volume de operaes. Os investimentos que ela faz, em cada item, dependem da natureza das operaes s quais a empresa se dedica e das peculiaridades do setor em que ela atua.

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Vamos distinguir o Ciclo Operacional do Ciclo Financeiro (ou de caixa). Suponha o seguinte exemplo: num certo dia (data zero) voc adquire mercadorias no valor de R$ 100.000,00 a serem pagos em 30 dias. Aps 60 dias desta compra, voc vende estas mercadorias por R$ 120.000,00 para pagamento num prazo de 45 dias. Cronologicamente, estes eventos podem ser resumidos conforme quadro a seguir: TABELA 10 - Cronologia de Eventos Dia 0 30 60 105 Evento Compra de Mercadorias Pagamento da Compra Venda da Mercadoria a prazo Recebimento da venda R$ 140.000,00 (R$ 100.000,00) Caixa

FONTE: Os autores A primeira observao pertinente que o ciclo completo, desde o momento da compra at o recebimento de caixa levou 105 dias. Denominamos este perodo de Ciclo Operacional. O seja, o ciclo operacional o perodo que vai desde a compra da mercadoria at seu recebimento. Observe ainda que este ciclo possui dois componentes distintos. A primeira parte o tempo que leva para comprar e vender a mercadoria, denominado de Prazo de estocagem, representado por 60 dias no exemplo acima. A segunda parte o tempo necessrio para receber a venda, denominado de Perodo de Contas a Receber, representado por 45 dias no caso do exemplo. Desta forma, temos:Ciclo Operacional = Prazo de Estocagem + Prazo de Recebimento de Vendas

Onde, perodo de Estocagem representa o perodo entre a compra e a venda da mercadoria; e Prazo de Recebimento de Vendas determinado pelo intervalo entre a venda da mercadoria e o recebimento da venda. Assim: Ciclo Operacional = 60 dias + 45 dias = 105 dias. Outra observao pertinente sobre o exemplo que os fluxos de caixa e os outros eventos no esto sincronizados. Note que nada se pagou pelo estoque at 30 dias aps a compra. A este prazo denominamos Prazo de Contas a Pagar: perodo entre o recebimento do estoque e seu pagamento. Houve ento um desembolso de R$100.000,00 no dia 30 e, no entanto, no houve qualquer recebimento at o dia 105, o que evidencia a necessidade de financiamento dos R$100.000,00 por 75 dias (105 30). A este perodo denominamos Ciclo Financeiro, representando o nmero de dias transcorridos desde o pagamento do estoque at o recebimento da venda.

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Com base nestas definies, temos ento que o Ciclo Financeiro que pode ser calculado como a diferena entre o Ciclo Operacional e o Prazo de Contas a Pagar Ciclo de Caixa = Ciclo operacional Prazo de contas a pagar A figura a seguir representa as atividades operacionais a curto prazo e os fluxos de caixa de uma empresa comercial tpica, mostrando a linha de tempo do fluxo de caixa.

FIGURA 3 - Ciclo Operacional FONTE: Os autores A necessidade de uma administrao financeira a curto prazo fica evidente nesta figura, quando se observa a defasagem entre as entradas e as sadas de caixa. Esta defasagem est relacionada extenso do Ciclo Operacional e do Prazo de Contas a Pagar, cuja diferena gera o Ciclo Financeiro. A gesto dessa defasagem entre entradas e sadas de caixa a curto prazo passa por opes gerenciais, tais como: Emprstimos de curto prazo; Manuteno de Reserva de Liquidez (caixa ou ttulos); Alterao no Prazo de Estocagem; Alterao no Prazo de Contas a Receber; Alterao no Prazo de Contas a Pagar. Neste captulo, aprendemos que: Finanas podem ter seu conceito representado pela tcnica ou cincia de administrar fundos. Nesse contexto, os administradores financeiros administram as finanas de todos os tipos de empresas, desempenhando uma srie de tarefas relacionadas movimentao de valores. Apesar de a administrao financeira ter, como vimos, esse contato ntimo com a contabilidade, entendemos que a primeira tem como viso o fluxo de caixa, representado pelas seqncias de pagamentos ou recebimentos; ao passo que a contabilidade tem suas atenes voltadas ao regime de competncia, apropriando receitas e despesas ao perodo de sua realizao, independentemente da ocorrncia ou no dos recebimentos das receitas ou dos pagamentos das despesas. Toda essa ateno movimentao de fundos em uma organizao tem um objetivo: monitorar e gerir operaes de investimentos (aplicao de algum tipo de recurso com a esperana de receber no futuro um retorno superior ao investimento), amortizando (eliminao de uma dvida por meio de pagamentos

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peridicos) e depreciando-os quando possvel ou necessrio. Por depreciao entendemos os custos ou as despesas decorrentes do desgaste ou da obsolescncia dos bens adquiridos. So fatores importantes na apurao do lucro e, por conseqncia, incisivos na apurao dos resultados para a base de clculo do imposto de renda. Essas despesas so normalmente descontadas das receitas, que tratam do aporte de valores que ocorre em uma empresa. A receita, quando apurada, vai se chamar de receita bruta e somente aps as devidas dedues (despesas, custos, estoques, impostos, etc.), se apresenta como receita lquida. Com todas essas informaes financeiras que vimos, conseguimos displas em formas de demonstraes financeiras tais como o DRE (Demonstrao do Resultado do Exerccio), que tem por objetivo evidenciar a formao do resultado lquido em um exerccio confrontando receitas, custos e despesas apuradas. Com essas informaes podemos ainda construir o chamado Balano Patrimonial, que objetiva apresentar a posio contbil, financeira e econmica de uma empresa em determinada data, representando a situao do patrimnio; ou ainda alimentar uma terceira ferramenta que vimos, chamada fluxo de caixa, onde ocorre todo o planejamento e o controle financeiro a curto, mdio e longo prazos da empresa. Tratando-se das finanas de curto prazo, vimos com freqncia a expresso capital de giro, associada tomada de decises financeiras. Trata-se de um conjunto de valores necessrios para a empresa realizar suas operaes, pois boa parte do total dos ativos de uma empresa destinada a este capital. Surge a a ateno aos ciclos empresariais - operacional e financeiro onde o primeiro vai tratar do tempo de estocagem de produtos, somado ao prazo para o recebumento das vendas dos mesmos; e o segundo, o resultado do ciclo operacional, descontando-se o prazo para o pagamentos decorrentes das atividades empresariais. Assim, podemos acreditar que voc est pronto para realizar a atividade abaixo recomendada.

Atividade Complementar 1) Do que trata a gesto financeira? 2) Qual a funo do gestor financeiro? 3) Qual a diferena entre a gesto financeira e a contabilidade? 4) Defina amortizao e depreciao, citando a importncia dessa tarefa. 5) Qual a diferena entre despesas e custos? 6) O que um DRE? Para que serve? 7) Qual o princpio fundamental do Balano Patrimonial? 8) O que um fluxo de caixa e como este pode ajudar na determinao da necessidade de capital de giro?

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2 DECISES DE FINANCIAMENTOS E ANLISE DE INVESTIMENTOS

Objetivos de Aprendizagem 1. Distinguir a formao do custo de capital, seja ele prprio ou de terceiros e os efeitos dos impostos sobre a renda. 2. Propor as formas de alavancagem empresarial: operacional, financeira ou combinada (operacional e financeira). 3. Analisar a viabilidade de um investimento por meio de tcnicas matemticas: Pay Back Simples, Pay Back Descontado, Valor Presente Lquido (VPL) e Taxa Interna de Retorno (TIR).

INTRODUOPodemos tratar do termo financiamento como uma ao organizacional/ empresarial realizada para pagar um produto/servio por meio de um emprstimo. Financiamentos normalmente so oferecidos por instituies financeiras, tais como bancos, cobrando juros sobre os valores. Tecnicamente, o financiamento diferencia-se do emprstimo pelo vnculo direto que ocorre com algum bem ou servio. Para a escolha e deciso das formas de financiamentos a se adotar, faz-se necessria a prtica de anlise dos investimentos pelo gestor financeiro da empresa. Esta tarefa objetiva quantificar as vantagens e as desvantagens do projeto que a empresa pretende realizar. Assim, esse captulo almeja orient-lo nas decises de financiamentos, onde se faz necessrio demonstrar o conceito de custo de capital (prprio ou de terceiros), para assim podermos projetar alavancagens (operacionais e/ou financeiras) e analisarmos a viabilidade dos investimentos por tcnicas que sero abordadas, tais como: o Pay Back (que contempla o tempo de retorno de um investimento), o VPL (Valor Presente Lquido, que consiste em trazer todos os fluxos previstos em um projeto ao valor presente),e a determinao da TIR (Taxa Interna de Retorno, que nada mais do que apurar a taxa de rendimento que os fluxos projetados nos retornar).

2.1 DECISES DE FINANCIAMENTOSO financiamento das atividades executadas pelas empresas realizado por meio da aplicao de diferentes tipos de fundos obtidos externamente ou

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gerados no decorrer das operaes. Uma classificao bem simples divide esses fundos em duas categorias: capital prprio e capital de terceiros, a serem estudados a seguir, dentre outros tpicos adjacentes.

2.1.1 Custo de CapitalQuando voc detm um capital, ao investir ou aplicar esse recurso em uma determinada entidade, exige-se um retorno mnimo a ttulo de remunerao do seu patrimnio. A taxa de captao dos recursos entregues administrao da empresa, levado em conta o princpio contbil da entidade, significa o custo de capital que representa a taxa de financiamento da entidade. Ou seja, o custo do capital pode ser representado pela taxa de juros que as empresas usam para calcular, descontando o valor do dinheiro no tempo (ATKINSON et al, 2000). O custo do capital tem efeito sobre as operaes da empresa que, consequentemente vem afetar a sua lucratividade. Este pode ser obtido considerando todas as fontes dos recursos postos disposio da empresa, de acordo com a participao percentual do capital prprio e de terceiros (ATKINSON et al, 2000). O Custo Mdio Ponderado de Capital - CMPC obtido pelo custo de cada fonte de capital ponderado por sua respectiva participao na estrutura de financiamento da empresa. Exemplo: Analisando as contas de uma empresa, observou-se que esta apresenta um Patrimnio Lquido de R$ 70.000 e dvidas de R$ 30.000. Portanto, h 70% de capital prprio e 30% de capital de terceiros. Sabe-se que: a remunerao requerida pelos acionistas de 20% ao ano; o custo da dvida de 10% ao ano; Ento: CMPC = (20% x 70%) + (10% x 30%) = 17% ao ano. Ao custo do capital, agrega-se outro fator: o tributrio. Observe a seguir a influncia dos impostos sobre a renda nas atividades empresariais pertinentes aos nossos estudos neste caderno.

2.1.2 Efeitos dos Impostos sobre a RendaO imposto de renda um imposto devido onde cada indivduo ou empresa obrigado a deduzir certa porcentagem de sua renda mdia anual para o governo. Esta percentagem pode variar de acordo com a renda mdia anual, ou pode ser fixa em uma dada percentagem. No Brasil, o imposto de renda cobrado mensalmente e no ano seguinte o contribuinte prepara uma declarao de ajuste anual de quanto deve do imposto ou se tem restituio de valores pagos a mais, sendo que esses valores devero ser homologados pelas autoridades tributrias.

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Decises de Financiamentos e Anlise de Investimentos

Vamos observar, ao analisar as contas empresariais, que a questo tributria afeta tanto o uso do capital prprio quanto quando usamos capital de terceiros. No importa como conduzimos estas questes, os impostos estaro sempre presentes.

2.1.3 Custo de Capital PrprioO custo do capital prprio calculado a partir da expectativa de retorno sobre o patrimmio lquido durante um determinado perodo (normalmente um ano) baseado em nveis de taxa de juros e retorno de mercado do mesmo no tempo. Para a obteno do retorno, o risco de patrimnio lquido se aproxima do risco de mercado comum. Ento, podemos afirmar que o custo do patrimnio lquido representado pela taxa de retorno que os investidores exigem para realizar um investimento patrimonial em uma empresa (ATKINSON et al, 2000).

2.1.4 Custo do Capital de TerceirosPara calcular o custo do capital de terceiros, basta voc identificar a taxa de captao de capital externo para fazer parte da estrutura de capital da sua empresa. O efeito do crescimento do montante do capital de terceiros, no custo de capital da empresa, se d na forma que a taxa de capitalizao do patrimnio lquido cresce na medida da reduo do custo do capital de terceiros. O valor de mercado total de qualquer companhia independente da sua estrutura de capital, e pode ser encontrado pela capitalizao das expectativas de retorno futuras descontadas a uma taxa apropriada, considerado o risco do negcio (ATKINSON et al, 2000). Com os conhecimentos somados at o momento, podemos entrar no campo da alavancagem empresarial, que ora vai promover melhorias operacionais, ora financeiras e ora ambas simultaneamente.

2.2 ALAVANCAGEMPara Martins (2006), as grandes organizaes esto sempre buscando alternativas para incrementar o seu potencial produtivo, ter lugar de destaque no mercado e diante da concorrncia. O lema hoje a diminuio de custo, mas se possvel sem que isso tenha reflexo no volume de vendas e, acima de tudo, na rentabilidade e lucratividade da empresa.

Para Pensar O que podemos sugerir aos gestores financeiros das organizaes diante de uma economia de mercado que se apresenta muitas vezes conturbada?

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Vamos tentar identificar o comprometimento que existe na relao custo, volume e lucro para a tomada de deciso e de controle, e a importncia significativa da participao dos gestores. Diante de uma economia de mercado to conturbada quanto a que estamos vivendo, podemos perceber certo receio dos gestores financeiros das organizaes. Nesse cenrio, diante de uma tomada de deciso, necessrio ter cautela na hora de optar pela melhor deciso, no intuito de se alcanar o melhor desempenho.

Saiba Mais Na fsica, alavancagem representada pelo emprego de uma alavanca para erguer um objeto, empregando menos fora. Conforme a posio do ponto de apoio em relao ao objeto a ser movido, emprega-se mais ou menos fora na ponta da alavanca. Da o termo alavancar. Para ns, essa expresso ter o significado de promover e estimular um negcio ou obter fundos para custear um projeto com recu