gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de minas gerais

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WANDERLEY BALDINI GESTÃO ESTRATÉGICA NAS PROPRIEDADES PECUARISTAS DO SUL DE MINAS GERAIS INSTITUTO MACHADENSE DE ENSINO SUPERIOR MACHADO - MG 2009

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Page 1: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

WANDERLEY BALDINI

GESTÃO ESTRATÉGICA NAS PROPRIEDADES PECUARISTAS DO SUL DE MINAS GERAIS

INSTITUTO MACHADENSE DE ENSINO SUPERIOR

MACHADO - MG 2009

Page 2: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

WANDERLEY BALDINI

GESTÃO ESTRATÉGICA NAS PROPRIEDADES PECUARISTAS DO SUL DE MINAS GERAIS

Monografia apresentada à Faculdade de Administração do INSTITUTO MACHADENSE DE ENSINO SUPERIOR como parte dos requisitos para obtenção do Título de Bacharel em Administração.

Orientador: Prof. Esp. CÉSAR DE FREITAS MOURA JÚNIOR

INSTITUTO MACHADENSE DE ENSINO SUPERIOR

MACHADO - MG 2009

Page 3: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

AVALIAÇÃO DA MONOGRAFIA

Avaliação da Monografia intitulada “Gestão estratégica nas

propriedades pecuarista do sul de Minas Gerais”, apresentada ao Instituto

Machadense de Ensino Superior, pelo acadêmico Wanderley Baldini,

como requisito final para obtenção do título de Bacharel em

Administração.

APROVADA em 15 de Dezembro de 2009.

__________________________________________________ Prof. Esp. César de Freitas Moura Júnior - Orientador

__________________________________________________ Prof. Esp. Luiz Gonzaga Ribeiro Neto - Avaliador

__________________________________________________ Prof. Esp. Wellington Espanha Moreira - Avaliador

MACHADO

MINAS GERAIS - BRASIL

Page 4: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

Dedico à minha mãe, à minha noiva Priscila Ribeiro e a Deus,

que de alguma forma me guiou para conseguir realizar este projeto.

Page 5: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

Agradeço à minha mãe, aos professores, aos orientadores,

pelas possibilidades que nos foram dadas ao longo desse

curso, pelo apoio nas horas difíceis e por nos prepararem para fazer do nosso país um celeiro na produção

de alimentos para o mundo.

Page 6: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

O planejamento não é uma tentativa de predizer o que vai acontecer. O planejamento

é um instrumento para raciocinar agora, sobre que trabalhos e ações serão necessários hoje, para

merecermos um futuro. O produto final do planejamento não é a informação: é sempre o trabalho. (Peter Drucker)

Page 7: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

RESUMO

BALDINI, Wanderley. Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais: pecuária de corte. Machado: IMES, 2009. 62f. (Monografia em Administração)∗. Instituto Machadense de Ensino Superior, Machado.

Com o advento da globalização, e o mercado cada vez mais competitivo, as empresas, necessitam adotar estratégias que agreguem valor aos seus produtos, criando vantagens competitivas perante seus concorrentes. Com a pecuária de corte não é diferente, além das ferramentas utilizadas para a melhoria do plantel existente, os pecuaristas buscam alcançar melhores resultados de seus negócios, através da melhoria na gestão de suas fazendas, utilizando ferramentas administrativas modernas, dentre as quais se destaca o planejamento estratégico onde são definidos, objetivos, metas e estratégias, que garantam um crescimento focado, com maior aproveitamento dos recursos e maximização dos resultados. A pesquisa teve como objetivo fazer uma comparação entre a antiga pecuária de corte brasileira e a atual, já implantada por alguns pecuaristas, buscando demonstrar a importância do planejamento estratégico como ferramenta de gestão e conseqüente geradora de resultados. A metodologia utilizada para a coleta de dados foi a pesquisa qualitativa através de entrevista semi-estruturada, à pequenos e grandes pecuaristas e órgãos governamentais ligados a pecuária de corte, sendo verificada uma grande diferença entre os pecuaristas que utiliza ferramentas administrativas, além das tecnologias disponíveis e o pequeno pecuarista que ainda está preso a velhos paradígmas, sendo resistentes em aceitar a nova forma de gestão rural, o que lhe tem causado prejuízos.

Palavras chave: Pecuária de corte. Gestão rural. Planejamento estratégico.

∗ Orientador: Prof. Esp. César de Freitas de Moura Júnior. Titular da cadeira de administração

Page 8: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

SUMÁRIO LISTA DE ILUSTRAÇÕES ................................................................................... i

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ............................................................... i i

1 INTRODUÇÃO ................................................................................ 01

1.1 Objetivo especifico .......................................................................... 02

1.2 Objetivo geral .................................................................................. 02

2 REFERÊNCIAL TEÓRICO .............................................................. 03

2.1 Análise da importância do empresário rural .................................... 03

2.1.1 Importância da pecuária de corte para a economia brasileira ......... 33

2.1.2 Importância da pecuária e da agricultura no PIB brasileiro ............. 05

2.2 Conceito de agronegócio ................................................................. 07

2.3 Conceito de pecuária de corte ......................................................... 07

2.4 Conceito de cruzamento industrial .................................................. 08

2.5 Pecuária de corte ............................................................................ 09

2.5.1 Rastreabilidade bovina .................................................................... 11

2.5.2 Controle sanitário bovino ................................................................. 12

2.5.3 Melhoramento genético ................................................................... 15

2.5.4 Cruzamento Industrial ..................................................................... 17

2.5.5 Boi verde versus boi orgânico ......................................................... 19

2.6 Transformação de fazenda em empresa ......................................... 20

2.6.1 Mudanças de horizontes ................................................................. 24

2.6.2 Visão empresarial ............................................................................ 25

2.6.3 Controle financeiro .......................................................................... 27

2.6.4 Adequação aos princípios da administração ................................... 28

2.7 Comportamento do empresário rural ............................................... 29

2.7.1 Lucro versus pecuarista .................................................................. 31

2.7.2 Análise SWOT ................................................................................. 33

2.8 Sucesso do segmento da pecuária ................................................. 35

Page 9: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

2.9 Dificuldades enfrentadas pelo pecuarista brasileiro ........................ 37

2.10 Conceito de estratégia ..................................................................... 37

2.10.1 Conceito de planejamento estratégico ............................................ 40

2.10.2 Importância do planejamento estratégico nas empresas ................ 42

2.10.3 Importância da definição da missão da empresa ............................ 43

2.10.4 Diferenciação................................................................................... 44

2.10.5 Reestruturação empresarial ............................................................ 46

3 METODOLOGIA .............................................................................. 48

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ....................................................... 49

5 CONCLUSÃO .................................................................................. 54

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................. 56

APÊNDICE ....................................................................................................... 59

GLOSSÁRIO .................................................................................................... 61

Page 10: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

i

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Pecuaristas de pequeno porte ................................................. 34

Quadro 2 Pecuarista de médio a grande porte ........................................ 34

Quadro 3 Comparação entre estratégia e tática ...................................... 39

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Participação do Agronegócio no PIB brasileiro ........................ 05

Tabela 2 PIB do agronegócio de Minas Gerais de 2001 a 2008 ............ 06

Tabela 3 Características gerais das propriedades entrevistadas ........... 49

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 As bases do planejamento estratégico ............................... 40

Figura 2 Modelo de administração estratégica ...................................... 41

Page 11: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

ii

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

EMATER – MG Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do

Estado de Minas Gerais

GPS Sistema Global de Posicionamento Ha Hectare IMA Instituto Mineiro de Agropecuária ITR Imposto Territorial Rural PIB Produto Interno Bruto PO Puro de Origem SWOT Forças, fraquezas, ameaças e oportunidades

Page 12: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

1 INTRODUÇÃO

Nos últimos anos o Brasil vem sendo reconhecido mundialmente como o

grande celeiro da economia mundial, por sua vasta, extensão territorial, com

grandes quantidades de terras produtivas, e água potável, além do clima

favorável ao agronegócio nos mais variados segmentos produtivos.

No caso da pecuária de corte, o Brasil saltou, nos últimos anos, da

quinta posição para o primeiro lugar em volume de exportação de carne, sendo

este um avanço de grande importância, mas isso não é o suficiente, pois o país

produz carnes de baixa qualidade, sem eficiência, com uma baixa taxa de

retorno aos pecuaristas, sendo necessárias grandes extensões de terras, para

uma baixa produção de seu rebanho.

É fato que o Brasil avançou muito em termos de melhoramento genético

nos últimos anos, e opções aos pecuaristas não faltam. Hoje já existem raças

para a necessidade de cada pecuarista brasileiro, mas o que ainda falta são

instrumentos de gestão que possam melhorar os resultados das propriedades.

Um desses instrumentos é o planejamento estratégico, que visa definir

objetivos e metas a serem alcançados de forma organizada, otimizando os

recursos existentes, e auxiliando os pecuaristas na gestão do negócio de forma

a aumentar seu lucro, controlar os custos de produção, estimar suas receitas, e

qualificar a mão-de-obra.

A pecuária brasileira pode se tornar mais produtiva, com a adoção de

uma gestão profissional nas fazendas produtoras, que possam aproveitar de

forma mais eficiente o conjunto de incentivos do governo para melhoria dos

rebanhos, e para a realização de cursos de capacitação em gestão para aos

pequenos pecuaristas, para que os mesmos possam ter acesso às ferramentas

de planejamento das atividades rurais e utilizá-las, tornando-se profissionais

conscientes dos resultados que precisam ser alcançados, para obterem maior

lucro e aumentar seu market share.

Porém, esta evolução da pecuária de corte passa pela quebra de

paradigmas dos antigos fazendeiros que criavam o gado como seus

antepassados, desprezando as novas técnicas e raças melhoradas

Page 13: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

2

geneticamente para a criação e engorda do rebanho. E isso gera prejuízos

para os pecuaristas, pois aumenta o tempo de engorda do rebanho em até 2,5

vezes em comparação com a criação de gado no sistema de cruzamento

industrial.

Felizmente, existem empresários rurais que sempre saltam na frente e

utilizam os melhores e mais avançados métodos de produção e de controle da

gestão existentes, planejando de forma organizada as ações de crescimento do

negócio e tendo visibilidade para a análise do custo de produção do rebanho e

sua margem de lucro, estando preparados para o enfrentamento das

adversidades da atividade e obtenção de “musculatura” para novos

investimentos, representando os pilares para a pecuária moderna do país.

1.1 Objetivo especifico

Identificar as técnicas de administração utilizadas pelas empresas do

agronegócio do sul de Minas Gerais.

1.2 Objetivo geral

Avaliar e comparar as estratégias e o uso das ferramentas da pecuária

de corte nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais.

Page 14: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 ANÁLISE DA IMPORTÂNCIA DO EMPRESÁRIO RURAL

A pecuária de corte brasileira é responsável por aproximadamente 7%

do PIB brasileiro segundo Antonialli (2008), mas apesar disso o governo

brasileiro não dá muita importância aos pecuaristas brasileiros, não oferece

créditos de custeio, ou créditos de investimentos para esse segmento, em

comparação a outros segmentos como a cafeicultura, por exemplo, que possui

vários tipos de linhas de créditos.

O que não dá para entender é o porquê desse preconceito em relação à

pecuária de corte, pois alem de movimentar milhões, e ser um dos grandes

contribuintes para o crescimento do PIB, é o agronegócio que leva alimento

para as mesas de todo o mundo.

Daí vem a grande importância do empresário rural, porque ele consegue

produzir em grande escala com alto aproveitamento de sua área, e ainda

consegue reduzir os custos do produto acabado. Pense que a culpa pelo

descaso nacional com o agronegócio brasileiro, é dos próprios fazendeiros, que

estão demorando para se profissionalizarem, e lutar pelos seus direitos e pelo

que é justo, pois não adianta somente ficar reclamando para todos seus

conhecidos que o governo não apóia o agronegócio, que o preço de seu

produto está muito abaixo do necessário para cobrir os custos, se não há união

como nos sindicatos das indústrias nacionais, que lutam por seus direitos e por

melhores preços.

2.1.1 Importância da pecuária de corte para a economia brasileira

Esse tema é interessante, porque poucas pessoas que moram nas

cidades conhecem uma fazenda de verdade e não apenas por televisão, e não

sabem que o agronegócio como um todo é muito importante para a economia

do país, seja na geração de empregos, ou seja na geração de riquezas e ainda

Page 15: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

4

sua representatividade no PIB nacional, ajudando o país a crescer e a dar uma

melhor condição de vida ao povo brasileiro.

O agronegócio, além de ter toda essa importância para a economia

nacional, é, por incrível que pareça, um dos segmentos mais discriminados de

nosso país, seja por pessoas dos mais altos cargos governamentais, ou ainda

por qualquer pessoa que viva em uma cidade grande, pois o homem do campo

é conhecido como um caipira, até mesmo os empresários rurais ainda sofrem

com alguns descasos como esses, encontrar uma linha de crédito em uma

instituição financeira pública ou privada é raridade, e ainda, quando é

encontrada, o mais difícil é conseguir a aprovação do crédito pela instituição

financeira, pela grande burocracia.

É através da pecuária de corte que nos alimentamos de carne, que é

uma das fontes de proteínas que possuímos, além de ser muito saborosa e

nutritiva, é recomendada à saúde humana. Trazendo o assunto para a

economia nacional, no campo a pecuária não gera muitos empregos, e nem

movimenta rotineiramente muito dinheiro, em dentro de sua cadeia produtiva,

ela movimenta milhões de reais, e gera muitos empregos fixos, ao contrário de

outras culturas que geram muito empregos, mas sazonalmente. Do momento

em que o rebanho é produzido nas empresas rurais, até a carne chegar aos

nossos pratos, muitas pessoas trabalharam em naquele produto para que isso

acontecesse, gerando emprego e renda aos brasileiros, e ainda tem as carnes

que são exportadas, que até chegarem às mesas dos consumidores

exportadores, gerarão ainda mais empregos e renda.

Muitas vezes é através de gado que algumas áreas não mecanizadas

são exploradas, para potencializarem o aproveitamento da empresa rural. O

que falta é o pecuarista se tornar profissional e comandar seu negócio como

empresa, almejando sempre metas e objetivos a serem alcançados, tornando

seu negócio lucrativo e sustentável.

Page 16: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

5

2.1.2 Importância da pecuária e da agricultura no PIB brasileiro

Que o agronegócio é de grande importância para o PIB brasileiro, todos

sabemos, pois a agricultura foi uma das primeiras atividades da história do

homem a buscar fins lucrativos, mas o que poucos sabem é da importância em

números, o PIB do agronegócio movimentou em 2007, 642.634 milhões de

reais conforme a tabela abaixo mostra, ou seja 25,11% do PIB nacional, o que

mostra que não somente as empresas fazem o Brasil crescer. (ANTONIALLI,

2008).

Outro dado interessante, segundo o autor, é ressaltar a importância da

pecuária dentro do agronegócio e do PIB nacional, pois a pecuária responde

sozinha por 40% do PIB do agronegócio e 7% do PIB nacional, o que significa

muito dinheiro para a economia brasileira.

Tabela 1 - Participação do Agronegócio no PIB brasileiro

PIB Brasileiro PIB

Agronegócio

Agronegócio

Fonte: IBGE Fonte: Cepea-

USP/CNA

Agricultura Pecuária

Dados em Milhões de reais

2000 2.248.296 514.161 354.243 159.918

2001 2.249.069 523.143 360.997 162.146

2002 2.248.854 569.220 399.444 169.766

2003 2.106.589 606.419 429.998 176.421

2004 2.119.158 621.910 442.451 179.459

2005 2.295.279 592.943 416.886 176.057

2006 2.451.488 595.626 427.859 167.767

2007 2.558.822 642.634 456.877 185.758

Fonte: Antonialli (2008: 10)

Mudando de cenário do nacional para o estadual, analisando a tabela

abaixo que mostra o PIB do agronegócio em Minas Gerais, podemos verificar

que o agronegócio movimentou R$ 90.534 milhões de reais no ano de 2008,

Page 17: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

6

considerando toda a cadeia do agronegócio, e se notarmos do ano de 2001 a

2007, a agricultura sempre obteve melhores resultados que a pecuária, mas

um fato interessante é que em 2008 a pecuária obteve um crescimento de

22,5% contra um crescimento de 7,5% da agricultura, o que mostra que a

pecuária está criando força em Minas Gerais, se consolidando como uma

atividade lucrativa e que movimenta milhões anualmente.

Tabela 2 - PIB do agronegócio de Minas Gerais de 2001 a 2008 (em milhões de reais)

Fonte: Cepea (2009). NOTA: * Tomando como base a taxa de crescimento acumulada de janeiro a dezembro de 2008.

Page 18: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

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2.2 CONCEITO DE AGRONEGÓCIO

Soma das operações de produção e distribuição de suprimentos

agrícolas, das operações de produção nas unidades agrícolas, do

armazenamento, processamento e distribuição dos produtos agropecuários e

itens produzidos a partir deles. (OLIVEIRA, 2009).

Agronegócio é toda relação comercial e industrial envolvendo a cadeia

produtiva agrícola ou pecuária. No Brasil, o termo agropecuário é usado para

definir o uso econômico do solo para o cultivo da terra, associado com a

criação de animais.

Agronegócio (também chamado de agribusiness) é o conjunto de

negócios relacionados à agricultura dentro do ponto de vista econômico.

Costuma-se dividir o estudo do agronegócio em três partes. A primeira

parte trata dos negócios agropecuários propriamente ditos (ou de "dentro da

porteira") que representam os produtores rurais, sejam eles pequenos médios

ou grandes produtores, constituídos na forma de pessoas físicas (fazendeiros

ou camponeses) ou de pessoas jurídicas (empresas). (ANTONIALLI, 2008)

Na segunda parte, os negócios à montante ou "da pré-porteira", aos da

agropecuária, representados pelas indústrias e comércios que fornecem

insumos para a produção rural. Por exemplo, os fabricantes de fertilizantes,

defensivos químicos, equipamentos, etc.

E, na terceira parte, estão os negócios à jusante dos negócios

agropecuários, ou de "pós-porteira", onde está a compra, transporte,

beneficiamento e venda dos produtos agropecuários, até chegar ao consumidor

final. Enquadram-se nesta definição os frigoríficos, as indústrias têxteis e

calçadistas, empacotadores, supermercados e distribuidores de alimentos.

2.3 CONCEITO DE PECUÁRIA DE CORTE

“Pecuária é a arte ou o conjunto de processos técnicos usados na

domesticação e criação de animais com objetivos econômicos, feita no campo.

Assim, a pecuária é uma parte específica da agricultura”. (PECUÁRIA, 2009).

Page 19: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

8

Pecuária de corte é um dos ramos de atividade que exerce o pecuarista,

ou o criador de rebanho.

Existem tipos diferentes de pecuária de corte, variando de acordo com o

tipo de rebanho a ser abatido como bovinos, caprinos e ovinos:

� O abate de novilho ou garrote exige um rebanho mais aprimorado e maior

tecnologia, é chamado de corte novo ou abate de novilhos.

� De gado confinado ou gado preso, esse tipo de abate é usado para

engorda do gado e posterior abate, quando se precisa de carne mais nobre

e em maior quantidade.

� Seletivo, esse tipo de abate não é muito comum, pois se usa,

costumeiramente, abater o animal doente e posteriormente incinerar sua

carcaça. Esse tipo de abate, normalmente é realizado sob a supervisão da

autoridade sanitária, pois normalmente abatem-se os animais doentes e os

que tiveram contato direto, como medida de prevenção e erradicação da

doença.

2.4 CONCEITO DE CRUZAMENTO INDUSTRIAL

Na ultima década, o cruzamento industrial de bovinos tornou-se uma

importante ferramenta estratégica para programar a produção de carne nos

diferentes sistemas produtivos no Brasil. Isto em parte ocorreu em função,

principalmente, do aumento da prática de inseminação artificial, e

conseqüentemente pela possibilidade e acessibilidade a sêmen de touros de

uma ampla variedade de raças.

Existem diversas formas de desenvolver sistemas de cruzamentos, o

importante é ressaltar que não há nenhum sistema nem combinação de raças

que seja adequado a todos os rebanhos ou sistemas de produção. A escolha

de qual sistema utilizar vai depender de diversos fatores, tais como: ambiente,

exigência de mercado, mão de obra disponível, nível gerencial, sistema de

produção, viabilidade do uso de inseminação artificial, objetivo do

empreendimento, numero de vacas, e número e tamanho dos pastos

(EMBRAPA, 1995).

Page 20: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

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A combinação ou o acasalamento de duas ou mais raças adaptadas

para corte de diferentes tipos biológicos, que tem por objetivo melhorar

eficiência na produção de carne, deve ser entendido como cruzamento

industrial. O benefício gerado pela utilização do cruzamento industrial é poder

explorar os efeitos da heterose ou vigor híbrido, que podem estar relacionados

não só no aspecto produtivo (ganho de peso, peso de carcaça, fertilidade,

precocidade, etc.), mas também no aspecto qualitativo da carcaça (como

melhor acabamento, marmorização, e maciez).

O cruzamento permite de forma mais rápida a obtenção de

características desejáveis (carcaça, precocidade, etc.) em relação à seleção

nas raças puras, efeito este também podendo ser chamado de

complementaridade. Neste ponto deve ser esclarecido e enfatizado que o

cruzamento de Zebuínos com raças adaptadas para leite, não são e, portanto

não devem ser chamados de cruzamento industrial, por razões óbvias.

(LAZZARINI, 2000g).

2.5 PECUÁRIA DE CORTE

Segundo Barbosa e Souza (2007), o Brasil possuí o maior rebanho

comercial do mundo, e é o maior exportador de carne em toneladas e em

faturamento; entretanto possui taxas de produtividade abaixo dos seus

concorrentes.

A pecuária de corte brasileira teve, nos últimos anos grandes avanços

tecnológicos, com a chegada de várias ferramentas que possibilitaram ao

empresário rural melhorar suas condições de produção e aumentar seu lucro.

Algumas ferramentas, como a melhoria da genética dos bovinos através

de inseminação artificial, transferência de embriões, touros com qualidade

genética comprovada através de exames andrológicos, controle dos parasitas

naturais através de métodos biológicos e eficazes com baixo custo,

rastreabilidade dos bovinos, cruzamentos entre raças de morfologia diferentes,

além de manejar melhor suas pastagens através de aduções, rotação de

pastagem e, em alguns casos, até irrigação das pastagens.

Page 21: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

10

As vias de acesso externas à fazenda devem comportar determinados sistemas produtivos. O caso de pecuarista que, ao resolver reformar suas pastagens com o uso de calcário, prontamente encomendou várias toneladas deste insumo, sem se dar conta, de que as vias de acesso à fazenda (estradas de terra) eram muito estreitas e não permitiam a passagem de veículos pesados, portanto é preciso entender que existem fatores externos à fazenda que precisam ser observados para evitar prejuízos. (LAZZARINI, 2000d: 13).

Mas apesar de todos esses avanços tecnológicos, a maioria dos

fazendeiros não se tornaram empresários rurais e aderiram aos avanços que

lhe fossem convenientes, alguns por ainda terem bloqueios às inovações

presentes no mercado, outros por seguirem métodos antigos de produção e

não se abrirem para a chegada do futuro, para a idéia de que a produção

precisa ser exata para se obter lucro.

O agronegócio brasileiro ainda sofre muito preconceito, talvez pelo fato

de os fazendeiros não terem se tornado empresários, pois o que muitas

pessoas não sabem é a importância do agronegócio para o país, incluindo a

pecuária que é grande exportadora de carne, contribuindo para o equilíbrio da

balança comercial, e para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB)

brasileiro.

A pecuária de corte está presente praticamente em todo o país, estando

mais concentrada nos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e

Minas Gerais, que produzem 90% de toda a carne do país. (EMBRAPA,

2000b).

A pecuária de corte é um segmento do agronegócio que possui um

baixíssimo custo de produção, em relação a outros segmentos do agronegócio,

pois dá para se aproveitar regiões montanhosas que dificultariam a produção

de cereais por não oferecerem condições de as maquinas trabalharem por

serem íngremes, ou regiões alagadas como o pantanal de Mato Grosso. Sem

dúvida, é um segmento muito dinâmico, e oferece varias opções para o

empresário rural.

A pecuária de corte, por ser uma atividade de lucratividade sazonal, cuja

produção é escoada uma vez por ano, não oferece renda durante esse período

de entre safra que dura aproximadamente doze meses. Sendo assim, um

imóvel agrícola que trabalha com a pecuária de corte pode se diversificar

Page 22: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

11

trabalhando em conjunto com outro segmento, para aproveitar o período de

produção.

Um pasto em condições de uso contínuo, sem cuidados na sua manutenção, tende a degradar-se cada vez mais, prejudicando o desempenho produtivo ao longo do tempo e reduzindo ainda mais a capacidade de suporte ou o desempenho animal. (LAZZARINI 2000e: 105).

O investimento para se iniciar na pecuária de corte em regime extensivo

(a pasto) é alto para implantação, porém para a manutenção do investimento,

ele é baixo, sendo da seguinte forma o investimento: compra de um imóvel,

estruturação física, como curral, cercas, preparo do solo, e das pastagens,

compra dos bovinos. Os impostos são reduzidos, sendo somente o Imposto

Territorial Agrícola (ITR), que é anual; os outros investimentos são apenas os

de manutenção, como vacinas e remédios, sais mineirais e vaqueiros para a

lida com o gado.

2.5.1 Rastreabilidade bovina

A rastreabilidade é um processo que visa ter um registro de toda a vida

do animal, desde seu nascimento até o abate, registrando tudo o que

aconteceu em sua vida, como peso ao nascer, peso ao desmame, peso ao

abate, registros de manejos, com data, hora e descrição do que foi feito, a

duração desse procedimento, entre outros. Em sua simplicidade, a

rastreabilidade pode ser sinônimo de registro, pois é isso que será feito durante

toda a vida do animal.

Segundo a Embrapa (2001b), a União Européia exige que todo o

processo de produção de carne esteja inserido em um programa de

identificação e registro que possibilitem o levantamento de todas as

informações sobre o animal, desde seu nascimento até o consumo do produto

final. Esta resolução atinge desde os produtores até as indústrias e

fornecedores.

O diferencial de um rebanho rastreado é que esse rebanho pode ser

exportado para qualquer país importador da carne brasileira, e com isso o

Page 23: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

12

empresário rural pula etapas da exportação e pode exportar diretamente ao

importador sem intermediários, agregando um valor muito maior ao seu

rebanho, obtendo um lucro maior de praticamente o dobro do mercado normal.

O custo para esse tipo de produção não é tão alto quanto o seu beneficio ao

produtor, pois, como o processo consiste em basicamente registros da vida de

cada animal, desde seu nascimento até o momento do abate.

A rastreabilidade bovina é um processo novo aqui no Brasil, mas que

vem ganhando adeptos com muita força, devido às suas vantagens, e o lucro

líquido de quase o dobro do mercado normal.

A rastreabilidade bovina será, no futuro, um processo obrigatório a todos

os segmentos da pecuária de corte, pois facilita o serviço da vigilância

sanitária, evitando que animais doentes possam ir parar na mesa do

consumidor, podendo gerar doenças, contaminando os seres humanos, e os

empresários que já produzem nesse sistema e estão ganhando dinheiro a mais

que os produtores convencionais, já estarão um passo a frente dos que farão a

rastreabilidade quando ela for obrigatória.

2.5.2 Controle sanitário bovino

Uma prática simples, mas que, por incrível que pareça, muitos

pecuaristas não a fazem de maneira correta, às vezes por falta de

conhecimento, ou por querer reduzir o custo e outras vezes apenas pelo

descaso pelo processo.

Dentro do controle sanitário bovino, existem várias etapas de vacinações

durante o ano, como por exemplo, a vacinação contra a febre aftosa, contra

raiva bovina, contra brucelose, além do controle parasitário de vermes,

carrapatos, bernes, mosca do chifre. Uma vacina muito importante e obrigatória

em praticamente todo o território nacional é a vacina contra a febre aftosa, que

é dividida atualmente em duas etapas aqui em Minas Gerais, sendo a primeira

entre os meses de maio e junho e a segunda etapa entre novembro e

dezembro.

Page 24: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

13

A vacina contra a febre aftosa é uma vacina de baixo custo comparado

ao prejuízo que o pecuarista pode sofrer, com a morte e/ou sacrifício de seu

rebanho quando detectada a doença, mas um fato que ocorre em muitas

propriedades é que os fazendeiros compram a vacina, pelo fato de ser

obrigatória pelo governo, mais não a aplicam, deixando seu rebanho

desprotegido da doença, pelo simples fato de a vacina ter uma reação adversa

no animal vacinado, deixando o animal com o pelo arrepiado, uma leve perda

de peso, e com um caroço no local de vacinação, deixando o animal

incomodado.

O que esses fazendeiros esquecem é que quando é detectado um foco

da doença em qualquer região do país, todos os pecuaristas sofrem

conseqüências por isso, pois o mercado internacional é muito rigoroso em

alguns critérios sanitários, sendo esse talvez o mais importante.

A realidade é que, quando isso ocorre, o mercado exterior fecha a porta

para a importação de nossos produtos bovinos, e com isso entra a lei da oferta

e demanda, pois com o aumento da oferta interna e a pequena demanda

externa os preços caem, reduzindo o lucro ou gerando prejuízos aos

empresários rurais.

A vacina contra raiva bovina não é obrigatória pelo governo, mas é um

método de prevenção muito importante, o custo dela é um pouco maior que o

da febre aftosa, mas que é justificado pela segurança que é dada ao rebanho,

não o deixando correr o risco de perder algum animal por esse motivo, além do

risco de contaminação humana, porque a raiva pode ser transmitida ao homem

pelo contato com a saliva do animal ou sangue; a carne, desde que bem

preparada, não causa risco à saúde. Essa etapa é anual, geralmente no

segundo semestre do ano, ficando, portanto, a critério do pecuarista sua

aplicação ou não.

A vacina contra brucelose também é obrigatória, como a da febre aftosa,

porém destaca-se que é aplicada somente em fêmeas, entre três e nove

meses, sendo controlada pelo governo, podendo ser aplicada somente por um

médico veterinário, e é uma vacina de um custo mais elevado do que as outras

comentadas anteriormente, mas cuja aplicação é feita uma única vez durante

toda a vida do animal.

Page 25: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

14

A brucelose é uma doença séria, que também pode ser transmitida ao

ser humano, e que acarreta prejuízos a médio e longo prazo, pois gera um

animal infértil, cuja carne ou leite não podem ser consumidos. No caso da

carne, só pode ser consumida se o animal for vendido a um frigorífico

especializado, que refrigera a carne a uma temperatura muito baixa, o que

acaba com a doença, e que possui autorização para comercialização desse

tipo de produto, mas isso ainda gerando ao pecuarista inúmeros transtornos e

prejuízos, por conseqüência de não conseguir vender seu produto pelo preço

real de mercado.

Segundo Lazzarini (2001), boas condições de qualidade de sanidade

animal devem fazer parte da filosofia de melhoramento do ambiente na criação,

e ainda se sabe que, no Brasil, 60% dos defeitos dos couros têm origem na

fazenda, e que destes, 40% são oriundos de ectoparasitas. O controle da

sanidade animal, nesse aspecto, extrapola o seu próprio significado veterinário

e se mostra de vital importância para produção de couros de qualidade para a

indústria.

Os controles parasitários são os maiores custos de manutenção de

bovinos, seja com os endoparasitas (parasitas internos) ou com os

ectoparasitas (parasitas externos) como vermes são o maior parasita interno,

que reduz o ganho de peso do animal, sua capacidade de desenvolvimento,

além de ter um alto custo de controle, dependendo da situação, o rebanho

sofre cerca de quatro vermifugações por ano.

Os ectoparasitas, como os carrapatos, sugam o lucro do pecuarista, seja

pelo baixo desempenho do animal em termos de ganho de peso, baixa

fertilidade, também é um controle de alto custo ao pecuarista. A mosca do

chifre também gera prejuízos, mas em escala um pouco menor que os outros

ectoparasitas, pois ela deixa o rebanho incomodado com sua presença,

distraindo e cansam o rebanho na tentativa de espantá-las.

Ainda falando dos ectoparasitas, felizmente hoje já existem métodos

mais eficientes de combatê-los, com tratamentos sem traumas ao rebanho, e

altamente eficazes, combatendo ectoparasitas no cocho de suplementação

alimentar. Portanto, o próprio rebanho combate esses parasitas, sem notar que

estão fazendo isso, através de uma rotina dos animais que é receber

Page 26: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

15

suplementação mineral. Esse método, após um calculo detalhado, mostra que

seu custo é baixo em comparação a todos os custos para aplicação de

produtos veterinários durante o ano todo, contando desde o estresse do animal

ao risco de perder algum animal durante o manejo.

Então, para o empresário rural, a Embrapa disponibiliza um cronograma

de manejo sanitário de bovinos anual, ou o próprio empresário rural pode criar

seu cronograma de manejo sanitário que melhor se ajuste a sua região ou a

sua necessidade.

2.5.3 Melhoramento genético

Nos dias atuais é inaceitável o pecuarista ter um rebanho com baixa

genética ou animais conhecidos por “gado pé duro”, que significa animais com

baixa genética e baixo desempenho. Não podemos dizer que o pecuarista tem

que criar gado de elite para o abate mais sim fazer o cruzamento correto para

obter o melhor desempenho para atender sua expectativa, melhorando o

desempenho de sua empresa rural, para então obter lucro e conseguir ser

competitivo no mercado.

De acordo com a Embrapa (2000), existem duas ferramentas para se

promover o melhoramento genético: seleção e cruzamento. Seleção é a

decisão de permitir que os melhores indivíduos de uma geração sejam pais da

geração subseqüente. Cruzamento é o acasalamento de indivíduos

pertencentes a raças ou espécies diferentes.

Existem várias formas de melhorar a genética de um rebanho basta

fazer um planejamento correto, observando o clima da região, a topografia,

para escolher o animal que possua as melhores características para a empresa

rural, ou ainda partir para outras tecnologias como a inseminação artificial,

transferência de embriões, estação de monta natural ou com inseminação

artificial.

O que não pode acontecer é o pecuarista continuar com um rebanho de

baixa qualidade genética, porque esse pecuarista não sobreviverá, pois, na

pecuária os outros pecuaristas não são, por incrível que pareça seus

concorrentes diretos. Pois seu concorrente é o mercado, os custos de

Page 27: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

16

produção, entre outros, porque o empresário rural não consegue de forma

alguma, mesmo sabendo seu custo, colocar preço no seu produto (o boi), e o

pior é que ele não pode estocar seu produto como em outros segmentos da

indústria ou do varejo, ficando totalmente nas mãos do mercado. Por isso, a

importância de reduzir ao máximo o custo de produção, e a melhor maneira de

reduzir os custos é através do melhoramento genético de cruzamentos

industriais, ou qualquer outro método de melhoramento genético, pois reduzirá

o tempo do rebanho no pasto ou no cocho, pelo fato dos animais terem uma

melhor conversão alimentar, tendo um maior ganho de peso, ficando pronto

para o abate no mínimo na metade do tempo dos animais de baixa genética.

Existem outras formas de reduzir o custo de produção do rebanho, mas

são formas que irão aumentar ainda mais o tempo de abate dos animais, o que

para os empresários rurais é prejuízo, e para os fazendeiros que não fazem

conta do tempo de abate, o pasto, a suplementação mineral, e a mão de obra a

mais que esse lote do rebanho demorou em ficar pronto para o abate, e ainda

acabam contabilizando como lucro.

Segundo Barbosa e Souza (2007), o fazendeiro se esquece de fazer os

cálculos de que, enquanto eles gastaram cinco anos para produzirem cem bois

com média de 16 arrobas pronta para o abate em uma área de 100 há, o

empresário rural produz 200 bois com as mesmas 16 arrobas, na mesma área

e no mesmo tempo de cinco anos, aumentando a produtividade. E, portanto, o

empresário rural produz o dobro com as mesmas características e o mesmo

custo de produção do fazendeiro melhorando somente a genética de seus

bovinos. Mais pode-se pensar que animais de melhor genética têm custo

maior, o que acaba sendo uma grande contraversão, pois com as matrizes, não

precisamos que sejam de origem pura, o conhecido Puro de Origem (PO), elas

só precisam ter boa qualidade genética; os touros sim, quanto mais puros eles

forem, melhor será sua produção e em média necessita-se de dois touros para

cem matrizes, é uma excelente proporção; por isso, o custo de aquisição do

rebanho de boa qualidade genética torna-se irrelevante, e que tanto espanta os

fazendeiros, basta apenas fazer os cálculos a médio e longo prazo, para

constatar que a diferença na aquisição será paga no primeiro lote acabado e

pronto para o abate.

Page 28: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

17

Então porque os fazendeiros não melhoram a genética de seu rebanho?

Talvez por haver pouco conhecimento e por não haver divulgações reais da

diferença do custo de produção comparando rebanhos com genéticas e

rebanhos sem genética.

E melhoramento genético, como visto anteriormente, não é nenhum

bicho de sete cabeças, sendo muito simples no caso de rebanho para o abate.

Só é um pouco mais complicado no caso de rebanho Puro de Origem (PO),

mas ainda assim basta estudar um pouco a relação sanguínea do rebanho

para enxergar o que precisa ser feito.

É muito simples o raciocínio da genética: animais de boa genética irão

produzir animais de boa genética, e vice versa, por exemplo, se você fizer o

cruzamento de um excelente touro com uma matriz de baixa genética,

certamente a produção desse cruzamento será um produto de razoável ou até

de boa qualidade; não tem mágica, é muito simples o raciocínio.

2.5.4 Cruzamento industrial

É o cruzamento entre indivíduos de raças diferentes, onde o touro é

geralmente de raça pura, buscando aumentar a eficiência na produção de

carne. A razão principal para se fazer o cruzamento orientado entre raças é

aumentar a lucratividade (renda líquida), através do aumento da produtividade

(eficiência de produção). Nenhuma raça é perfeita, cada uma tem seus pontos

fortes e fracos, o importante é saber fazer o cruzamento certo entre as raças ou

a heterozigose (cruzamento entre raças).

É uma das novas técnicas de se produzir com alta eficiência e eficácia,

bastando apenas o pecuarista fazer um planejamento correto, e escolher qual a

melhor raça para sua região, qual o melhor estilo de cruzamento industrial,

para se ter a maior produtividade por hectare possível, seja no sistema de

manejo intensivo (confinamento) ou extensivo (pasto).

Só para se formar uma idéia da importância de se produzir com alta

eficiência e eficácia: com uma demanda elástica nas classes de até 10 salários

mínimos, temos que, para um aumento de 10% na renda real desses

Page 29: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

18

consumidores, 40% serão destinados ao consumo de proteína animal. E desse

total 48% vão para o consumo de carne vermelha. (LAZZARINI, 2000a).

O cruzamento industrial nada mais é que um método de se dar um

choque de sangue entre duas raças diferentes, conhecido no segmento como

heterose, onde se pega, por exemplo, uma raça zebuína que possui uma

morfologia diferente e a cruza com uma raça taurina, de onde surgirá o

cruzamento industrial, dando a essa nova raça características diferenciadas

como maior precocidade, maior ganho de peso, maior aproveitamento da

carcaça. Como nas indústrias, quanto mais rápido seu produto estiver pronto,

menor será seu custo, e conseqüentemente maior será seu lucro, e assim a

empresa rural terá mais giro e possuirá um maior capital de giro, facilitando

seus trabalhos diários.

Complementaridade – A combinação das qualidades desejáveis das

raças parentais permite a obtenção de uma progênie superior. Ou seja, quanto

mais as raças utilizadas se complementarem nas características produtivas,

melhor será o resultado dos produtos do cruzamento. O exemplo mais claro

disso é combinar características de adaptabilidade, ou seja, aproveitaremos a

resistência e fertilidade das vacas zebu, e o ganho de peso, precocidade

sexual e de acabamento das raças taurinas européias.

Heterose - É a superioridade média dos produtos de cruzamento em

relação à média do país. A heterose será maior quanto maior for a distância

evolutiva entre as raças em questão, ou seja, quanto tempo atrás elas se

distanciaram no processo de seleção natural e seleção induzida pelo homem.

E as vantagens do cruzamento industrial não acabam aqui, pois além de

o produto ficar pronto antes dos concorrentes, ele possui um baixo custo de

produção em relação a outras raças, porque normalmente uma raça comum,

sem heterose, demora cerca de quatro a cinco anos para estar pronta; no

cruzamento industrial, leva-se cerca de dois a três anos, aproximadamente

metade do tempo gasto em comparação a uma raça comum.

E ainda como o produto é terminado mais cedo, possui maior qualidade

na carne, tendo uma carne mais macia e saborosa, e por conseqüência, o

produtor ganha um pouco mais por arroba, então uma mudança simples na

forma de produção pode aumentar e muito o ganho do empresário rural, seja

Page 30: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

19

no tempo gasto para produção e valor agregado que o produto possui ou por

ter maior qualidade.

A características do rebanho originado de cruzamento industrial no

Brasil, é de maioria do gado de corte de origem zebuína, em maior numero os

da raça nelore, cujas matrizes não possuem um alto custo e já é a raça que os

fazendeiros trabalham em maior escala, portanto é só o empresário rural

adquirir um touro de uma raça européia, e pronto, ele já estará causando uma

heterose e aumentando a eficiência do seu rebanho. E porque os fazendeiros

não optam por esse tipo de cruzamento? Porque justamente esses fazendeiros

ainda não se tornaram empresários rurais, seguem aquela história de “meu avô

fazia assim”, “meu pai também” e continuam seguindo essa maneira de

produzir, e infelizmente poucos fazendeiros tornaram-se empresários rurais,

produzindo com eficácia, tendo controle do seu negócio, sabendo seus custos,

se atualizando, e seguindo as tendências do mercado. Infelizmente esses que

se mantiverem como fazendeiros logo estarão decretando falência, pois não

entendem que o sistema que seus antecessores trabalhavam hoje não

sobrevive mais.

2.5.5 “Boi verde” versus “boi orgânico”

O conceito de “boi verde” é muito mais simples do que parece, pois

simplesmente é aquele boi criado totalmente a pasto, como se fazia

antigamente e como ainda é feito na pecuária extensiva.

O conceito de “boi orgânico” é aquele boi criado a pasto ou confinado,

que porém exige ser tratado de maneira diferenciada, ficando sem acesso a

nenhum produto industrializado, e ainda exige uma rastreabilidade que

comprove que aquele boi não teve contato com nenhum produto que não seja

natural.

Apesar de haver as diferenças, advoga-se que “o boi orgânico estaria

inserido em um filosofia holística que, além da produção, de carne preocupa-se

ainda com os aspectos sócio-ambientais envolvidos”. Um exemplo de norma é

a exigência de que todas as crianças da fazenda estejam freqüentando a

escola (EMBRAPA, 2000a).

Page 31: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

20

É importante ressaltar que existe mercado para ambos os produtos, qual

o melhor? Dependerá de uma avaliação de cada empresário rural, para definir

qual dos segmentos se enquadra mais em sua necessidade de produção, e

uma analise crítica de mercado desse produto em sua região. Existe um maior

valor agregado a esse tipo de produção de carne, mas talvez o boi orgânico

não seja tão rentável, comparando-o com o boi verde, que é a maneira mais

econômica de se produzir carne, e o nicho mercado do boi orgânico e sua

grande maioria está no exterior, forçando o produtor desse tipo de carne a

optar pela a exportação.

O que não pode existir de forma alguma é uma rivalidade desonesta

entre os segmentos da pecuária de corte, trabalhando em cima dos pontos

fracos de cada segmento, pois quando isso acontece abre espaço para outros

tipos de produção de carne, como a carne de frango, de suíno, e até carnes

exóticas, como de rã, avestruz, jacaré, entre outras, alem do vegetarianismo

aumentar, portanto a competição entre os segmentos pode existir, mas desde

que com cautela para que não prejudique todo o setor.

2.6 TRASNFORMAÇÃO DE FAZENDA EM EMPRESA

Foi se o tempo que o fazendeiro era apenas um caipira, que não sabia

ler nem escrever, que sabia apenas produzir para sobreviver de sua fazenda,

plantando o que iria comer, e o que sobrar para vender, e que inspiraram

muitos compositores, com seu jeito simples de viver e sobreviver.

Mas com a chegada da tecnologia no campo com a globalização

mundial, o capitalismo, a revolução industrial, entre outros fatores, aos poucos

foram acabando esses fazendeiros chamados por alguns de caipiras, e alguns

se modernizaram um pouco e atuam até hoje, mas logo também saírão do

cenário e darão lugar ao empresário rural que já chegou e em curto prazo

assumirá a totalidade dos negócios do campo.

O empresário rural é preocupado com o lucro liquido da sua empresa,

sabe realmente seu custo de produção, seja por unidade ou por totalidade, é

moderno, utilizando todos os recursos tecnológicos necessários para que sua

empresa atinja o máximo de produtividade possível, aproveitando tudo e toda

Page 32: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

21

área de possível exploração. Também é preocupado com o lado ambiental da

empresa, preservando suas reservas e minas naturais, além de se preocupar

com o lado social de seus colaboradores, buscando sempre formas de

incentivá-los a trabalharem melhor, oferecendo-lhes cursos e oportunidades de

adquirirem conhecimentos.

Mas a transformação de fazendeiro para empresário rural não é fácil e

nem é de graça, pois exige esforço de todos os envolvidos em sua empresa, e

talvez a segunda etapa mais difícil dessa transformação seja a conscientização

dos colaboradores, que as coisas mudaram e que eles terão benefícios com

essas mudanças, mas também terão deveres para que essa transformação

possa ocorrer da melhor maneira possível. A primeira, a mais importante e a

mais difícil etapa, é a conscientização do fazendeiro de que ele precisa se

tornar um empresário e que, para que isso possa acontecer, ele precisa mudar,

e em alguns casos mudar muito seus métodos de administração de sua

empresa, se atualizando e utilizando ferramentas administrativas para gerir sua

empresa, aproveitando os seus pontos fortes e melhorando seus pontos fracos.

Alguns fazendeiros dizem que essa etapa da transformação é muito

difícil e dependendo de seu segmento de negócio pode ficar muito onerosa,

alguns precisaram mudar muitas coisas de suas estruturas, além de demitir

alguns funcionários que não quiseram ou não conseguiram se adaptar ao novo

método de gestão de seu negócio.

O general que vence a batalha é aquele que, no tempo ancestral, efetuou muitos cálculos detalhados e avaliações prévias e considerou que a maioria dos fatores está a seu favor. O general que perde a batalha é aquele que, no tempo ancestral, antes da batalha, faz poucos cálculos de antemão [...]. Se eu observar desta perspectiva, posso antever a vitória e a derrota, que me serão evidentes!. (CLAVELL, 2008: 33).

Mas, felizmente, para o segmento de pecuária de corte essa

transformação é um pouco mais fácil, pois a estrutura a ser utilizada será

menor, o número de funcionários é bem menor, a única etapa que ainda acaba

sendo de grande dificuldade é a conscientização do fazendeiro para se tornar

um empresário rural, e aceitar que seus métodos de gestão podem estar

Page 33: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

22

gerando prejuízos ao invés de lucro, e ainda aceitar que sua gestão não é mais

indicada para o segmento.

Para a pecuária de corte, é dever do empresário rural maximizar a

produtividade por área, por animal, e aproveitar todos os recursos naturais que

sua propriedade possa oferecer, lembrando sempre de não prejudicar o meio

ambiente. Quando se diz em maximizar a produtividade por área, busca-se

dizer que uma área onde se produzia 100 animais/ano, e tem potencial para

produzir 150 animais/ano, é dever do empresário rural tornar essa estatística

em realidade, seja tratando as pastagens de forma adequada, com adubações,

calagem de solo, e descanso do terreno de forma adequada, ou seja

melhorando a genética de seu rebanho, aumentando a fertilidade, a conversão

alimentar, o ganho de peso, entre outros. No mesmo sentido, a produtividade

por animal, é dever do empresário rural identificar porque seu animal não rende

o necessário, se é por falta de pastagens de qualidade, por falta de genética,

por falta de uma suplementação mineral de qualidade e adequada à

necessidade diária de cada animal, ou por falta de controle sanitário de seu

rebanho.

A Cadeia Produtiva de Peles e Couros, em conjunto com o Sistema

Agroindustrial das Carnes, encontra-se entre os segmentos de grande

potencial competitivo e inserção internacional. Essa afirmativa ganha ainda

mais destaque quando se considera que as pesquisas em peles e couros vêm

assumindo um caráter mais abrangente, extrapolando as ações usuais de

aplicação do produto em manufaturados e artefatos em peles e couros, entre

outros. (EMBRAPA, 2001a).

Falando ainda da produtividade por animal, poucos produtores

aproveitam o couro de seus animais, subproduto que tem mercado, e que na

maioria dos casos é jogado fora pelos açougueiros e frigoríficos, que

aproveitam os pouquíssimos couros que chegam até eles nas condições

necessárias para serem aproveitados na indústria como matéria prima para

produtos à base de couro. O que é preciso fazer para obter um ganho um

pouco maior por animal, com a venda do couro, é melhorar instalações como

cercas, currais, transporte, e manejos, o que acaba sendo coisas muito simples

e de fácil solução, para um ganho extra e de direito do empresário rural.

Page 34: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

23

Utilizar planejamentos para que sua propriedade possa ter um destino a

ser alcançado, para que seus colaboradores saibam aonde a empresa quer

chegar, e como eles devem contribuir para que isso aconteça. Para auxiliar o

empresário rural, existem vários tipos de sistema de informações, que fazem o

controle de natalidade, período de desmama, peso ao nascer, peso ao

desmame, peso ao abate, enfim são informações que podem orientar o

empresário rural, mostrando o que precisa ser mudado e o que está sendo bem

feito, para que a empresa possa atingir suas metas e assim alcançar seus

objetivos, tudo em prol da empresa.

Outra coisa importante é fazerem que o antigo fazendeiro e agora

empresário rural entenda que o lucro da empresa não pode ser o mesmo lucro

seu, é importante ele saber que grande parte desse lucro precisa ser

reinvestido na propriedade ou investir em outra propriedade, isso deixa os

fazendeiros irritados, pois a maioria deles pensam que, por serem donos da

empresa, o lucro que ela possa dar é deles e de mais ninguém.

E o último trunfo da transformação de fazenda em empresa é trabalhar o

marketing de sua propriedade, sim, marketing de empresa rural. Alguns podem

ver isso com maus olhos, e dizerem que é loucura falar em marketing rural,

mais isso é possível e já é realidade, basta observar quantos canais voltados

ao agronegócio estão surgindo, que trabalham somente com esse segmento, e

que estão crescendo trabalhando o agronegócio, fazendo com que ele cresça,

e obtendo lucros com isso, através de divulgação de produtos destinados ao

agronegócio, realizando transmissão de leilões e divulgação de propriedades

que produzam determinados produtos e que os queiram expor em Televisão

para aumentar a demanda por seu produto, mostrando a outros empresários

rurais interessados em adquirir esse produto onde encontrar, quanto custa, e

como comprar, isso não seria marketing?

Ou ainda, divulgar sua propriedade como propriedade modelo, que

pensa no meio ambiente, no social de seus funcionários, e que produz com

sustentabilidade, o que significa produzir sem prejudicar outros biomas, o

ecossistema, não explorando o trabalhador; portanto o marketing rural é uma

realidade e precisa ser explorado, e há muito mercado para essa exploração.

Até na Televisão aberta, observando alguns jogos no estádio de Presidente

Page 35: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

24

Prudente, pode-se ver alguns outdoors com o nome de uma raça chamada

Canchin, anunciando a venda de touros.

2.6.1 Mudanças de horizontes

A atual pecuária de corte brasileira está começando a mudar seus

horizontes, deixando de ser um processo de produção antigo e se

modernizando com a ajuda da Embrapa, órgão governamental de pesquisa e

apoio ao agronegócio. Os fazendeiros ou produtores rurais estão aos pouco,

mudando e se tornando empresários rurais, alguns criando barreiras, outros

não, mas o fato é que as fazendas estão aos poucos mudando e se tornando

empresas, e com isso todos os que estão ligados ao agronegócio também

estão se adaptando ao novo modelo de gestão rural.

É difícil para alguns fazendeiros imaginarem suas fazendas como

empresas, mas o que todos querem, tanto os fazendeiros quanto os

empresários, é o lucro, e com a concorrência mudando, se aperfeiçoando, a

margem de lucro ficando cada vez menor, não há outra solução para o

fazendeiro a não ser se tornar um empresário rural, seja por vontade ou seja

por necessidade do mercado, pois quem não acompanha o mercado, morre.

Pode soar dura essa realidade, porém muitos especialistas não

enxergam outra solução, a não ser o fazendeiro se tornar empresário. Planejar

o futuro do negócio, utilizar metodologias administrativas, pesquisar um

mercado, buscar informações, investir em máquinas, infra-estrutura e mão-de-

obra capacitada, são algumas mudanças que deverão ser rotina na empresa

rural.

E a pecuária é parte desse nicho de segmentos que deverão se

modificar e se atualizar com a nova caracterização de fazendas em empresas,

a boa notícia é que a pecuária e o agronegócio brasileiro estão, pelo menos em

termos de pesquisa e órgãos pesquisadores, a muitos passos na frente de

outros países emergentes, podendo até competir com igualdade com países

desenvolvidos. Isso será uma grande vantagem para o Brasil no futuro, pois

como muitos dizem pelo mundo, o Brasil será o celeiro do mundo, pela

Page 36: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

25

extensão territorial, pela qualidade de suas terras produtivas e em grande parte

facilidade de mecanização.

Portanto, todos os que são ligados ao agronegócio brasileiro, precisam

mudar seus horizontes, se tornar profissionais, produzindo com qualidade e

sendo eficientes, explorando ao máximo toda a vantagem que nosso clima,

nossas terras, nossa tecnologia desenvolvida aqui e por nós brasileiros, nos

orgulhando disso e aproveitando esse ponto forte de nosso país. Então por que

entrar na disputa de mercados industrializados e deixar de lado o nosso

agronegócio? Por que esse preconceito que existe com os empresários rurais,

quanto a liberação de linhas de créditos em instituições financeiras? O

empresário rural precisa e deve ser tratado com igualdade, perante os

empresários industriais, já basta todos esses anos em que os empresários

rurais estão sofrendo, pelo fato do preço do seu produto no mercado estar

caindo, o custo de produção subindo, e como o agronegócio produz alimentos

que em sua grande maioria são perecíveis a curto prazo e não tem como o

produtor estocá-lo trabalhando com a lei da oferta e demanda, esperando a

oferta cair e preço subir para vender seu produto.

Por isso devemos por nossa própria vontade nos tornamos profissionais,

transformando nossas fazendas em empresas, buscando nas tecnologias

meios de diminuir o custo de produção e conseqüentemente aumentar o lucro.

E devemos lutar por tudo isso sem vergonha de dizer “Sou um

empresário rural”, pois o agronegócio é muito importante e é dito por alguns

economistas como um dos pilares da economia brasileira e não é para menos,

pois somente a pecuária de corte reponde por 7% do PIB brasileiro em 2007, e

será, no futuro, se trabalharmos agora, a principal fonte de renda dos

brasileiros. Portanto, se ficarmos esperando alguém fazer essa mudança por

nós, iremos morrer sem que isso aconteça, por isso a hora de mudar é agora.

(ANTONIALLI, 2008: 10).

2.6.2 Visão empresarial

Esse tema visão empresarial é, sem dúvida, o que mais falta para os

fazendeiros, pois visão empresarial foca resultados, podendo ser de curto,

Page 37: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

26

médio, e longo prazo, variando de acordo com o planejamento do empresário

rural. É parte importante do novo modelo de gestão rural, pois determina onde

o empresário rural pretende chegar; depois de definida essa visão, é preciso

que todos os envolvidos no trabalho da empresa a conheçam, pois assim todos

ficarão alinhados e saberão quais são os planos para o futuro da empresa,

aonde ela quer chegar, e assim também podem identificar até onde podem

chegar em seus cargos e até onde podem crescer. E a empresa, possuindo

essa visão empresarial, fica fácil estimar metas tangíveis para que consiga seu

objetivo de atingir essa visão e depois criar outra, que possa fazer a empresa

crescer e lucrar ainda mais.

A grande maioria dos fazendeiros não possui uma visão de seu negócio,

isso quando sabe qual é realmente seu negócio, mas se eles não sabem onde

querem chegar, como farão para continuar trabalhando em seu segmento?

Como estabelecer metas? Como criar um planejamento estratégico? E o mais

importante como conseguir obter lucro? São perguntas de difíceis respostas

para qualquer um de nós administradores, é muito importante que os

fazendeiros ao se tornarem empresários rurais, saibam aonde pretendem

chegar.

E analisando a expressão “visão empresarial” literalmente, é necessário

aos fazendeiros que se tornarem empresários rurais verem suas empresas

como os empresários industriais vêem suas empresas; é necessário ver sua

empresa como uma ferramenta geradora de lucro, não só para o proprietário,

como para os clientes, fornecedores e também para os colaboradores, pois é

necessário ter um circulo vicioso, chamado de ganha-ganha, isso mesmo,

porque não é somente o empresário que deve lucrar, porque todos os

envolvidos nos elos da empresa necessitam lucrar. Caso contrário, esse elo se

quebra, e prejudica toda a corrente de lucro, é claro que não é preciso que

todos esses elos lucrem igualmente, mas o importante é cada um dos elos

lucrar um pouco.

Quanto mais profissional for o empresário rural, mais profissionais serão

seus colaboradores; visão empresarial não quer dizer que não se deixa espaço

para erros, eles até podem acontecer, mas já estavam previstos anteriormente.

A idéia é minimizar as chances de acontecerem erros sendo calculistas e

Page 38: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

27

profissionais. Empresa que possui visão possui futuro, pois ela sabe o que quer

para ela, trabalha de forma profissional, e lucra com isso.

2.6.3 Controle financeiro

Esse tema é algo essencial não somente para a empresa rural, como

para todas as empresas, como também em nossas vidas pessoais. Não é

possível crescer sem controle, e de nada adiantará um bom planejamento

estratégico, se a empresa não tiver controle financeiro sobre seu negócio, e

ficar retendo ou liberando dinheiro sem critérios para essa ação, portanto é

preciso haver interação entre os setores da empresa.

Controle financeiro não significa somente reter os recursos financeiros

da empresa, seguindo o sentindo literal da palavra, significa saber o que está

fazendo para não prejudicar a empresa no futuro aplicando e investindo os

recursos da melhor maneira possível, e que possa render o máximo possível.

Trabalhando com empresas rurais, na maioria dos casos não se tem um

profissional especifico para essa função, geralmente são profissionais

polivalentes que executam diversas funções, o que pode facilitar essa ação,

desde que o profissional seja competente e comprometido com resultado, mas,

por não ser um especialista na área, e também ter que se preocupar com

outras situações rotineiras, as chances de cometer falhas são maiores do que

para um especialista trabalhando especificamente nessa área, e que se dedicar

totalmente para a função, criando alternativas e oportunidades ao negócio.

Mas, graças à tecnologia de Sistema de Informação, e o agronegócio

não ficou de fora, existem softwares específicos para o agronegócio e também

focados somente na pecuária de corte, o que facilita o processo de informação

da empresa, auxiliando os empresários rurais nas tomadas de decisões,

criando situações futuras e já se preparando através de planejamentos, e

assim não sendo pegos de surpresa, podendo sair na frente dos fazendeiros e

obtendo maiores lucros.

Por trás de toda grande empresa e todo grande planejamento, é

imprescindível ter um bom controle financeiro, pois de nada adiantarão, os

Page 39: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

28

esforços em se criar um excelente planejamento, se a empresa tiver com

problemas no setor de finanças.

2.6.4 Adequação aos princípios da administração

Para os fazendeiros, essa fase pode ser considerada sem importância

para seu negócio, pois apresenta teorias e fundamentos científicos, que

embora sejam embasados em muita pesquisa, é muito difícil a aceitação, até

mesmo em empresas industriais com conceitos antigos, e no agronegócio, em

especial a pecuária de corte não é diferente, pois existe uma forte resistência

dos fazendeiros em se tornarem empresários, e quando lhes são apresentados

os métodos e princípios administrativos, é como se o mundo desabasse sobre

eles.

Todos aqueles princípios administrativos são usados pela empresa rural

mesmo que os fazendeiros não saibam, princípios como comandar, controlar,

dirigir, segurança, são usados rotineiramente sem que eles o percebam, mas

princípios como organizar e planejar são as grandes fraquezas das empresas,

não só as empresas rurais, mas também em muitas empresas industriais, pois

na maioria delas não existem organização e planejamento, e sem organização

e planejamento, não há como executar os outros princípios com eficiência.

Como dito, eles são usados mais ocasionalmente, sem que os fazendeiros os

percebam, e quando são apresentados aos fazendeiros que estão em processo

de transformação em empresa, eles os vêem como bicho de sete cabeças e os

princípios que eles não usavam, que são o da organização e planejamento,

eles afirmam que os usam eficazmente.

Mas na busca de informação sobre o setor, e através de notícias, e por

conhecer alguns fazendeiros que estão buscando a transformação de sua

fazenda em empresa, felizmente observa-se o aumento considerável dessa

transformação, o que é uma boa notícia para todos nós do agronegócio, porque

essa mudança transformará as fazendas em empresas rurais sustentáveis,

sendo mais eficientes e eficazes.

Obter-se com perfeição uma boa organização sobre uma empresa

industrial não é fácil, mas organizar e manter organizada uma empresa rural é

Page 40: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

29

extremamente difícil, pela cultura de toda a mão-de-obra ligada ao

agronegócio, em não aceitar essa mudança de costume. Por isso é muito

difícil, mas não impossível, é necessário, muito, dedicação e treinamentos com

profissionais externos à empresa, para que isso possa entrar nas cabeças dos

funcionários.

Planejamento é outra grande fraqueza, que deriva da falta de

organização, pois sem dúvida não há como criar um planejamento para uma

empresa desorganizada, e se criar-se um planejamento, certamente não será

executado, pois a desorganização criará barreiras para que essa execução

possa ser seguida com perfeição, ao invés de apenas corrigir somente

pequenos desvios ao longo do planejamento.

É difícil, mas muito difícil um pecuarista tradicional compreender essas

mudanças, mas não se vê outra opção a eles, pois é o caminho que o mercado

está seguindo, e nadar contra a correnteza é suicídio. Mesmo que seja a médio

ou a longo prazo, essas mudanças ocorrerão em todos os segmentos

envolvidos no agronegócio, mas como os empresários rurais sempre saem na

frente dos fazendeiros, eles obterão mais lucro, e quando os fazendeiros

começarem a mudar seus princípios administrativos, os empresários rurais já

estarão com eles aperfeiçoados, sem dificuldades para controlar suas

empresas rurais.

2.7 COMPORTAMENTO DO EMPRESÁRIO RURAL

O comportamento do empresário rural é obviamente claro perante o

comportamento do fazendeiro, os empresários rurais sabem seus custos de

produção na ponta da língua, conhecem as tendências do mercado, estão

sempre buscando alternativas de aumentarem seus lucros, conhecem e

normalmente têm algum curso superior. Já o comportamento dos fazendeiros,

pode-se dizer que é o oposto de tudo o que foi dito do empresário rural.

O empresário rural nunca está satisfeito com o rendimento de sua

empresa, ele quer sempre que a empresa cresça, se o mercado de seu

segmento está em baixa, ela busca meios para poder desviar sua empresa

dessa tendência, isso quando ele não se planeja antes e planeja todo um

Page 41: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

30

cenário para que possa contornar essa situação. No caso de pecuaristas se os

preços estão em baixa, eles normalmente seguram os bois no pasto, fazendo

com que a oferta caia e a demanda aumente, trazendo consigo a alta dos

preços, e não buscam associar-se a cooperativas, para conseguir melhores

preços, ou ainda deixam de usar a rastreabilidade para exportar seu rebanho

sem intermediários e assim contornam os baixos preços.

O empresário rural não pode mais ficar isolado na fazenda. É necessário que acompanhe as tendências de preços, oriente-se com a opinião de especialistas no mercado pecuário e planeje suas vendas. [...] para tanto, deve-se municiar-se de informações confiáveis e, nesse sentido, uma boa consultoria mercadológica não pode ser dispensada. [...] com analistas de mercados que estudam as tendências e estabelecem os principais cenários de preços possíveis no mercado pecuário, facilitando o processo de planejamento das vendas, [...] oferecendo condições de reduzir os custos de produção. (LAZZARINI, 2000c: 84)

O empresário rural, conhece o mercado, e sabe que quanto maior a

qualidade e quanto menor for seu custo de produção, maior será seu lucro.

Falando-se em qualidade, ele sabe que ela é a essência do seu negócio, pois

existe hoje uma forte demanda, principalmente de produtos alimentícios de boa

qualidade, e sabemos ser esse o futuro de todos os segmentos, pois o

consumidor não busca mais apenas preço, ele quer preço e qualidade.

É comum encontrar empresários rurais com laptop, aparelhos do

Sistema Global de Posicionamento (GPS), câmeras digitais e celulares no meio

do pasto ou da lavoura acessando a internet, e negociando sua produção,

diretamente de sua empresa, o que há alguns anos atrás era impossível e

ainda hoje são poucos os que usam essa tecnologia a seu favor.

O empresário rural não precisa mais transportar seu gado para uma

determinada cidade para participar de leilões de gado, basta apenas que ele

filme seu gado na propriedade, e envie por e-mail a canais específicos nesse

segmento, para negociar seu gado e da mesma formar comprar gado, sem

tocar neles. Somente através da tela de uma televisão ou computador, ele

pode fazer essa transação diretamente de sua casa, propriedade, ou

diretamente do seu pasto.

Page 42: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

31

Através do Sistema Global de Posicionamento (GPS) é possível fazer

uma divisão perfeitamente igual de sua área de pastagens, medido-as através

do satélite, e assim demarcam a área onde deverá passar a cerca para obter

pastagens com a mesma área.

O empresário rural deve estar atento e traçar um planejamento, quanto

aos três principais fatores críticos à produtividade do rebanho na pecuária de

corte: a gangorra da produção dos pastos (caracterizada tecnicamente como

estacionalidade de produção de pastagens), o potencial genético do rebanho e

as condições de saúde dos animais. (LAZZARINI, 2000b).

O interessante é que o empresário rural quer aproveitar 100% de toda

área explorável de sua propriedade, sendo assim toda área possível é

explorada para maximinizar seu lucro, cuidando das pastagens, do solo, das

nascentes, das reservas florestais, investindo em genética para aumentar a

produção por ha, enquanto o fazendeiro preocupa-se somente em produzir

uma quantidade que lhe garanta o sustento familiar, e mantenha a propriedade.

Ele não se preocupa com o aproveitamento de sua propriedade, deixando as

ervas daninhas tomarem conta de suas pastagens, o solo está desgastado e

sem nutrientes para produzir pastagens de qualidade, nascentes e reservas

florestais ficam a mercê do acaso, não se preocupam em fazer algo para

preservá-los, investimento em genética para o fazendeiro é coisa de veterinário

querendo ganhar um dinheiro fácil.

Pode-se notar que são opostos o fazendeiro e o empresário rural, que

enquanto um produz basicamente para a subsistência, o outro produz para

fazer sua empresa crescer, com profissionalismo, e objetivos bem traçados,

buscando sempre apoio da tecnologia, aproveitando tudo de melhor que ela

pode proporcionar-lhe para aumentar ao máximo seu lucro, no menor espaço

de tempo possível e com o menor custo benefício possível.

2.7.1 Lucro versus pecuarista

Existem muitas pessoas que dizem que a pecuária não dá lucro, que os

produtos que dão lucro na realidade são café e soja, a questão é a seguinte:

todos têm direito a ter uma opinião sobre determinado assunto, mas para dar

Page 43: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

32

uma opinião é preciso conhecer a fundo o que será opinado, para não

influenciar nas decisões de outras pessoas, é preciso ter fundamentos

científicos que comprovem algo.

Captar recursos em financiamento sem estimar a possibilidade de retorno e pagamento do capital é como atirar no escuro. Muitos “se enforcam”, admitindo ser imprescindível o financiamento, mas não observam os juros reais embutidos no empréstimo e nem a sua capacidade de quitar a dívida. [...]. (LAZZARINI, 1995: 61).

É claro que a pecuária, como tantos outros segmentos, não é nenhuma

galinha dos ovos de ouro, o que é preciso ser feito é reduzir os custos de

produção ao máximo, e aumentar a eficiência de sua produção, através de boa

genética, boas instalações de manejo, boas pastagens, enfim, investir em

qualidade e na produtividade para se obter lucro. Pois existe um ditado que diz:

“Cada um colhe o que planta”, portanto é necessário trabalhar com produtos de

qualidade para obtermos qualidade.

Segundo Barbosa e Souza (2007), o cálculo não necessita ser muito

complexo para concluir algo sobre a comparação de lucro versus pecuária. Por

exemplo, se atualmente um pecuarista produz cem animais/ano em uma área

de 100ha, está claro que a produtividade por área está baixa, portanto, o

empresário rural deverá aumentar essa produtividade explorando ao máximo

toda a potencialidade de suas terras, através do manejo e adubações de

acordo com as necessidades de minerais, e também se for o caso, trocando

seus animais por outros animais de melhor genética e qualidade.

Aumentando assim a eficiência da propriedade, pois se em uma

propriedade de 100ha é possível produzir quatrocentos animais/ano, ao invés

de produzir somente cem animais/ano algo está errado. É preciso identificar

onde está a falha no processo e corrigi-la, porque o prejuízo é muito maior com

a menor produção do que com manejos para suprir as necessidades minerais

da terra.

Sendo assim, vamos aos cálculos: trezentos animais/ano é o potencial

perdido pela propriedade, colocando valores, trezentos animais prontos para o

abate a um preço de R$ 80,00/arroba considerando animais de 16, darão uma

receita líquida de R$ 384.000,00. Já a manutenção anual do solo de uma área

Page 44: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

33

de 100ha fica em aproximadamente em torno de R$ 100.000,00 sendo assim o

empresário rural deixa de faturar R$ 284.000,00/ano, sendo que o custo de

aquisição dos animais é o mesmos, o custo de aquisição da propriedade é o

mesmo, os impostos serão os mesmo, isso se produzir cem animais/ano ou

quatrocentos animais/ano. (BARBOSA; SOUZA, 2007).

Além desse potencial que pode ser explorado, a pecuária de corte é um

segmento muito versátil e é compatível com outros segmentos, pois não exige

grande uso de mão-de-obra durante o ano, portanto a mão-de-obra utilizada na

pecuária pode ser aproveitada em outro segmento, um segmento que

agregaria um grande valor à propriedade rural é o conhecido hotel fazenda,

onde o empresário rural pode agendar períodos em que não está com

atividades de manejo com o gado ou a propriedade e lucrar com o turismo

rural, que é uma atividade barata, com um bom custo beneficio aproveitando a

ociosidade da fazenda. O turismo rural é uma atividade que está em alta, e é

uma boa alternativa para aumentar o lucro da empresa rural.

2.7.2 Análise SWOT

A análise de SWOT é o estudo que identifica os pontos fortes e fracos

de uma empresa, seja qual for o segmento em que ela atue, sendo assim é

importante lembrar, que no agronegócio, essa análise é de grande importância

também para que o empresário rural possa visualizar o que sua empresa está

fazendo de bom e o que ela precisa melhorar.

O objetivo da análise é possibilitar que a empresa se posicione para tirar vantagem de determinadas oportunidades do ambiente e evitar ou minimizar as ameaças ambientais. Com isso a empresa tenta enfatizar seus pontos fortes e moderar o impacto de seus pontos fracos. A análise também é útil para revelar pontos fortes que ainda não foram plenamente utilizados e identificar pontos fracos que podem ser corrigidos. (WRIGHT; KROLL; PARNELL, 2000: 86).

Faremos uma análise dos pecuaristas de pequeno porte e dos

pecuaristas de médio e grande porte, para conseguir entender a SWOT,

faremos um comparativo entre elas para identificar qual modelo apresenta mais

Page 45: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

34

vantagens e que deve ser utilizado, com base nesse estudo de forças e

fraquezas.

Quadro 1 – Pecuaristas de pequeno porte

Forças: Baixo custo de produção, terras e clima favorável para produção de

gado de corte.

Fraquezas: Ineficaz, Ineficiente, falta de planejamento, desorganização,

desunião de pecuaristas, alto custo de produção por área.

Oportunidades: Tecnologias disponíveis a baixo custo, preço do há

relativamente baixo, exportação.

Ameaças: Doenças sanitárias bovinas, fechamento do mercado externo,

aumento na demanda por grãos e tendência de expansão de usinas de

processamento do etanol e chegada do biodiesel.

Fonte: Elaborado pelo autor

Quadro 2 – Pecuarista de médio a grande porte

Forças: Eficiência, eficácia, organização, planejamento, alta produtividade,

baixo custo de produção, aproveitamento total da propriedade.

Fraquezas: Dificuldade de implantação, falta de mão-de-obra capacitada.

Oportunidades: Estratégias de marketing, exploração de outros segmentos

comumente com a pecuária de corte, negócios virtuais.

Ameaças: Fechamento do mercado externo por culpa de outros pecuaristas,

aumento na demanda por grãos e tendência de expansão de usinas de

processamento do etanol e chegada do biodiesel.

Fonte: Elaborado pelo autor

Os Quadros 2 e 3 fazem um comparativo entre a atual pecuária de corte

brasileira, e a empresa rural. Como pode ser visto, a caracterização de

fazendas em empresas é sem duvida o melhor negocio para os pecuaristas de

corte, pois não há duvidas de que, se continuar a trabalhar seu negócio como

fazendeiros não sobreviverão, pois os grandes concorrentes não são os outros

Page 46: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

35

pecuaristas, mas sim agricultores e usineiros, que fazem grandes

investimentos em seus negócios, e o mercado aponta para forte demanda

futura de seus produtos, seja o etanol, seja produtos alimentícios. Se os

pecuaristas não se tornarem empresários rurais da pecuária, perderão espaço

no mercado, por não terem seus custos de produção controlados e não se

profissionalizarem como fizeram os usineiros e alguns agricultores. Apesar de

serem segmentos diferentes, quando dizemos perder espaço queremos dizer

espaço em área ha (hectares) de terra e espaço de mercado.

Talvez esse tipo de concorrência seja pior que as concorrências do

mesmo segmento, pois o cenário dele pode continuar igual, mesmo que o seu

segmento tenha sofrido uma grande crise, o mercado de outro segmento pode

continuar normalmente, sem ao menos ter alguma previsão de risco.

2.8 SUCESSO DO SEGMENTO DA PECUÁRIA

Sucesso é derivado de muito trabalho e dedicação de quem o alcançou,

ou almeja alcançá-lo, porque o único lugar em que o sucesso vem antes do

trabalho é no dicionário.

Sendo assim, é de grande importância o investimento em melhoria de

genética do rebanho, investimentos em infra-estrutura. Trabalhar a pecuária de

corte não apenas como dizem por aí, que é apenas soltar o gado no pasto e

esperar para se ter um lucro ou prejuízo. Trabalhar na pecuária de corte é

como se fosse uma arte, pois os empresários rurais, além de explorar todo o

potencial produtivo de sua propriedade e rebanho, devem ainda criar atividades

produtivas secundárias para a propriedade. Um exemplo já dado em outro

capitulo é o aproveitamento do turismo rural, que é muito rentável, e ainda é

possível criar ovelhas e avestruzes consorciados ao rebanho bovino. Das

ovelhas pode explorar-se a lã e a carne e dos avestruzes explorados as plumas

e a carne. Essas são consideradas carnes nobres, esses são apenas alguns

exemplos de criação de outras espécies, em consórcio com rebanhos de gado

de corte, pois os três exemplos são de custo muito baixo, sendo que em todos

os três exemplos, os custos são basicamente o custo de aquisição dos

Page 47: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

36

animais, e como se alimentam das mesmas pastagens que os bovinos, mas

em quantidade muito menor que os bovinos, o custo é quase zero.

O justo equilíbrio entre a produção (que busca a produtividade, a qualidade, etc.) e o gerenciamento financeiro (que busca maiores lucros na empresa rural) é o sustentáculo de toda e qualquer atividade agropecuária. (LAZZARINI, 2000f: 115).

Todos os fazendeiros podem alcançar o sucesso basta se

profissionalizarem, pois o conhecimento está ao alcance de todos, e o fato é

que todos os fazendeiros que se profissionalizarem, tornando-se empresários

rurais terão grandes chances de alcançarem o sucesso, mas para aqueles

fazendeiros que resistirem a essa mudança, terão grandes probabilidades de

decretarem falência, pois o custo de produção que eles não sabem qual é,

cada vez maior, a desorganização e a falta de planejamento são pontos fracos,

e serão pontos fortes que favorecerão os que já tiverem se tornado

empresários rurais. A conseqüência será que os empresários rurais acabarão

comprando as propriedades desses fazendeiros que irão falir e venderão suas

propriedades quase de graça, isso quando as instituições financeiras não o

fizerem antes, para pagar as dividas de empréstimos e custeios.

A pecuária é um segmento muito promissor do agronegócio, mas foi um

pouco prejudicada pelo fato de o etanol ter ganhado tanta importância

internacional como alternativa na substituição ao petróleo, mas ela certamente

sobreviverá, pois não exige terrenos planos ou mecanizados para ser

trabalhada, e até mesmo terrenos pedregosos são úteis para a pecuária de

corte.

O processo de transformação de fazenda em empresa é muito difícil, ou

melhor dizendo, burocrático, pois exigirá planejamento e não apenas a decisão

do fazendeiro em executar determinada tarefa ou fazer determinando

investimento, será tudo muito bem estudado e pesquisado antes de se tomar

determinada decisão.

Mas o Brasil é um país de extensão territorial continental, bastará

apenas um bom planejamento governamental, conscientização e

profissionalização dos fazendeiros, que será possível realmente o Brasil ser o

celeiro do mundo futuramente, fornecendo alimentos e energia para os outros

Page 48: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

37

países, por isso tem-se esperança que isso aconteça, pois no momento em

que isso acontecer o Brasil poderá se desenvolver muito mais com o apoio do

agronegócio do que apenas apoiando-se nas indústrias.

2.9 DIFICULDADES ENFRENTADAS PELOS PECUARISTAS BRASILEIROS

A principal dificuldade encontrada pelos pecuaristas brasileiros é o

descaso governamental, se comparada com outros segmentos do agronegócio

e das indústrias. O governo sabe da importância da pecuária para o Brasil,

sabe que apesar de ser uma atividade de risco, mas ainda assim riscos

menores que os da produção do café, batata e feijão, o risco que o pecuarista

corre é o de o preço da arroba (medida do quilo grama, sendo que 1 arroba é

igual a aproximadamente 15 quilogramas) do boi cair, mas esse é um risco

que esses outros segmentos correm da mesma forma.

O pecuarista ainda enfrenta dificuldades naturais, como estiagem maior

do que o normal, falta de água para os animais, alta carga de impostos dos

produtos para usos nos animais, e ainda infecções no rebanho, como febre

aftosa, brucelose, raiva entre outras doenças sanitárias. O preço da arroba do

boi gordo varia de acordo com o dólar por ser uma commodity agrícola, o

pecuarista não consegue na maioria das vezes, colocar preço no seu produto,

o pecuarista não consegue estocar seu produto, pois um boi que está no ponto

para o abate, pode ficar doente e emagrecer rapidamente, gerando assim

prejuízos ao pecuarista.

Os frigoríficos, são poucos os que possuem permissão para exportação,

o que poderia agregar um valor maior ao produto acabado, além das

dificuldades logísticas pelas distâncias dos bons frigoríficos, o que acaba

fazendo o boi perder peso durante o transporte até o frigorífico, gerando

prejuízos ao pecuarista.

2.10 CONCEITO DE ESTRATÉGIA

A palavra estratégia tem origem grega, e era utilizada para designar a

função do chefe do exército. Durante muito tempo os militares utilizaram-na

Page 49: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

38

para designar o caminho a ser seguido na guerra, visando sempre à vitória.

Sendo assim, a elaboração de planos de guerra passou a ser denominado

estratégia.

Estratégia refere-se aos planos da alta administração para alcançar resultados consistentes com a missão e os objetivos gerais da organização. Pode-se encarar estratégia de três pontos de vantagem: (1) a formulação da estratégia (desenvolvimento da estratégia); (2) implementação da estratégia (colocar a estratégia em ação); e (3) controle estratégico (modificar ou a estratégia, ou sua implementação, para assegurar que os resultados desejados sejam alcançados). (WRIGHT; KROLL; PARNELL 2000: 24).

Com o decorrer dos anos, a palavra estratégia passou a ser mais usada

no cotidiano. Na Administração é utilizada para designar o caminho que a

empresa irá seguir, no futuro, para atingir os seus objetivos. A palavra

estratégia foi agregada a planejamento, que, genericamente pode ser definido

como o estudo de medidas que serão utilizadas pela empresa no futuro.

O antigo conceito militar define estratégia como a aplicação de forças em larga escala contra algum inimigo. Em termos empresariais, podemos definir a estratégia como “a mobilização de todos os recursos da empresa no âmbito global visando atingir os objetivos a longo prazo. Tática é um esquema específico de emprego de recursos dentro de uma estratégia geral. [...] No plano gerencial, orçamento anual ou o plano anual de investimentos é um plano tático dentro de um estratégia global a longo prazo. (CHIAVENATO, 2000: 280).

Comparando estratégia e tática, pode-se ver que estratégia refere-se à

empresa como um todo, pois possui objetivos globais, busca atingir objetivos

organizacionais, trabalha a longo prazo, e é definida pela alta administração,

enquanto a tática refere-se aos departamentos, pois busca atingir objetivos

departamentais, ou por unidade da organização, busca atingir objetivos a

médio ou curto prazo, e é definida por gerentes dos departamentos, ou unidade

da organização.

Page 50: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

39

Quadro 3: Comparação entre estratégia e tática

Estratégia Tática

• Envolve a organização como

uma totalidade.

• É um meio de alcançar objetivos

organizacionais.

• É orientada a longo prazo.

• É decidida no nível institucional

da organização.

• Refere-se a cada departamento ou unidade da organização.

• É um meio para alcançar objetivos departamentais.

• É orientada para médio ou curto prazo.

• É definida no nível intermediário por cada gerente de departamento ou unidade da organização.

Fonte: Chiavenato (2000: 281)

Estratégia competitiva são ações ofensivas ou defensivas para criar uma

posição defensável numa indústria, para enfrentar com sucesso as forças

competitivas e assim obter um retorno maior sobre o investimento. (PORTER

1997).

A Administração Estratégica é, atualmente, uma das disciplinas do

campo da Administração de maior destaque e relevância, pela produção

científica e também pelo número de consultorias organizacionais. Qualquer

organização, conscientemente ou não, adota uma estratégia, considerando-se

que a não adoção deliberada de estratégia por uma organização pode ser

entendida como uma estratégia.

Além disso, a importância maior da Administração Estratégica está no

fato de se constituir em um conjunto de ações administrativas que possibilitam

aos gestores de uma organização mantê-la integrada ao seu ambiente e no

curso correto de desenvolvimento, assegurando-lhe atingir seus objetivos e sua

missão.

A estratégia, nesse contexto, assim como a organização e o seu

ambiente, não é algo estático, acabado; ao contrário, está em contínua

mudança, desempenhando a função crucial de integrar estratégia, organização

e ambiente em um todo coeso, rentável e sinérgico para os agentes que estão

diretamente envolvidos ou indiretamente influenciados.

Page 51: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

40

2.10.1 Conceito de planejamento estratégico

Planejamento estratégico é o processo administrativo que proporciona

sustentação metodológica para se estabelecer a melhor direção a ser seguida

pela empresa visando ao otimizado grau de interação com o ambiente e

atuando de forma inovadora e diferenciada.

Segundo Chiavenato (2000), as bases do planejamento estratégico

consiste em quatro passos que são: a formulação dos objetivos

organizacionais, análise SWOT (Análise interna e externa), e formulação de

alternativas estratégicas.

Figura 1: As bases do planejamento estratégico.

Fonte: Chiavenato, (2000: 283)

Na formulação dos objetivos organizacionais, criam-se os objetivos

globais da empresa de longo prazo e defini-se a importância e prioridade dos

objetivos. Na análise de SWOT, faz-se uma análise interna da empresa (forças

e fraquezas), e uma análise externa da empresa (ameaças e oportunidades).

E, por fim a formulação de alternativas estratégicas, onde serão criados os

Formulação dos

objetivos

organizacionais

Análise interna

da empresa

Análise externa

do ambiente

Formulação de

alternativas

estratégicas

O que temos

na empresa?

O que há no

ambiente?

O que fazer?

Page 52: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

planos estratégicos que a empresa pode adotar para alcançar os objetivos

organizacionais pretendidos, tomando como base a análise de SWOT.

O planejamento estratégico deve especificar onde a organização pretende chegar no futuro e como se propõe a fazêplanejamento estratégico deve comportar decisões sobre o futuro da organização, como: objetivos organizacionais, ativlucros, alternativas estratégicas quanto ao mercado, interação vertical, e novos investimentos em recursos. (CHIAVENATO, 2000: 285).

O planejamento estratégico é normalmente de responsabilidade dos

níveis mais altos da empresa

quanto a seleção de cursos de ação a serem seguidos para su

levando em conta as condições externas e internas

evolução esperada. (OLIVEIRA, 2004)

Um bom planejamento

como pode parecer, apesar de estratégia ser uma palavra de origem militar.

Para se criar um plano estratégico necessita

internos e externos, a formulação de estratégias, implementaç

estratégias, e o controle estratégico.

Figura 2: Modelo de administração estratégica.

Fonte: Wright; Kroll; Parnell (2000: 27)

41

planos estratégicos que a empresa pode adotar para alcançar os objetivos

organizacionais pretendidos, tomando como base a análise de SWOT.

planejamento estratégico deve especificar onde a organização pretende chegar no futuro e como se propõe a fazê-lo a partir do presente. O planejamento estratégico deve comportar decisões sobre o futuro da organização, como: objetivos organizacionais, atividades escolhidas, mercado, lucros, alternativas estratégicas quanto ao mercado, interação vertical, e novos investimentos em recursos. (CHIAVENATO, 2000: 285).

O planejamento estratégico é normalmente de responsabilidade dos

níveis mais altos da empresa e diz respeito tanto à formulação de objetivos

quanto a seleção de cursos de ação a serem seguidos para su

s condições externas e internas da empresa como sua

evolução esperada. (OLIVEIRA, 2004).

Um bom planejamento estratégico não é um bicho de sete cabeças

como pode parecer, apesar de estratégia ser uma palavra de origem militar.

Para se criar um plano estratégico necessita-se de uma análise dos ambientes

internos e externos, a formulação de estratégias, implementaç

estratégias, e o controle estratégico.

Modelo de administração estratégica.

right; Kroll; Parnell (2000: 27)

planos estratégicos que a empresa pode adotar para alcançar os objetivos

organizacionais pretendidos, tomando como base a análise de SWOT.

planejamento estratégico deve especificar onde a organização lo a partir do presente. O

planejamento estratégico deve comportar decisões sobre o futuro da idades escolhidas, mercado,

lucros, alternativas estratégicas quanto ao mercado, interação vertical, e novos

O planejamento estratégico é normalmente de responsabilidade dos

e diz respeito tanto à formulação de objetivos

quanto a seleção de cursos de ação a serem seguidos para sua consecução,

a empresa como sua

estratégico não é um bicho de sete cabeças

como pode parecer, apesar de estratégia ser uma palavra de origem militar.

se de uma análise dos ambientes

internos e externos, a formulação de estratégias, implementação das

Page 53: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

42

Na análise do ambiente externo, busca-se identificar as ameaças e

oportunidades; no ambiente interno, identificam-se as forças e fraquezas da

empresa, define-se a missão, visão, objetivo, etc.; na formulação, define-se o

tipo de estratégia, se é empresarial, por unidade de negócios ou funcionais, e

por fim implantam-se e controlam-se as estratégias.

2.10.2 Importância do planejamento estratégico nas empresas

Nas grandes empresas, as estratégias são formuladas para atingir os

objetivos empresariais. Todavia, nas micro e pequenas empresas as

estratégias, normalmente, não são planejadas ou não existem, necessitando de

algum tratamento diferenciado.

Segundo Mintzberg (1973), apud Fernandes (2007), a estratégia, nas

pequenas empresas, é definida como o padrão de comportamento estabelecido

pela tomada de decisão em face das mudanças ambientais percebidas pelo

empreendedor. Assim, de acordo com o modo empreendedor, cada tomada de

decisão reflete o comportamento estratégico da empresa. Quanto à

característica da estrutura organizacional, percebe-se a simplicidade dos níveis

hierárquicos e uma estrutura onde o dono da empresa gerencia cada função,

exercendo grande influência sobre as decisões de toda a empresa.

Contudo, poucas empresas possuem uma estratégia e quando

possuem, em muitos casos, a sua principal meta é o retorno elevado, ou seja,

retorno acima da média do seu setor, o que já deve ser visto como um grande

avanço na prática da gestão. Mas é preciso entender que este é um foco

restrito, que pode ser bom em curto prazo, mas uma sentença de morte em

longo prazo; isso porque não se busca prever as dificuldades que podem surgir

num futuro, as formas de lidar com elas e muito menos se tem nitidamente a

idéia de qual caminho tomar.

Segundo Porter (1997), a estratégia talvez seja mais importante para as

pequenas empresas que para as grandes, uma vez que as grandes empresas

têm uma maior margem de manobra, porque seus recursos são maiores e com

isso conseguem sobreviver mesmo com uma estratégia ruim.

Page 54: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

43

O planejamento serve, antes de tudo, para nortear decisões. Para se

definir a estratégia empresarial é importante compreender quais são as

pretensões dos dirigentes e as reais possibilidades da empresa. É necessário

também ter um profundo conhecimento da estrutura empresarial, de sua

flexibilidade e de mercado, compreendido como concorrência, potenciais

entrantes, consumidores e potenciais substitutos e, por último, mas não menos

importante, uma boa dose de criatividade, que vai encontrar os melhores

caminhos de venda e as melhores margens. (PORTER, 1989).

2.10.3 Importância da definição da missão da empresa

Toda empresa que almeje chegar a um determinado objetivo necessita

de uma boa e bem focalizada missão, que irá determinar o que a empresa

pretende fazer, dando um foco, e essa missão precisa ser clara, objetiva,

realista, alcançável e precisa ser de conhecimento de todos da empresa, para

que todos possam trabalhar com o mesmo objetivo.

Ter uma missão bem focalizada, bem como objetivos gerais e específicos, claros, é igualmente importante para as organizações sem fins lucrativos e para organizações empresariais. (WRIGHT; KROLL; PARNELL 2000: 404).

Através da missão de uma empresa, é possível realizar as seguintes

questões: “Qual é o nosso negócio?”, “Quem é o nosso cliente?”, “Qual nosso

publico alvo?”. Questões essas que relativamente parecem ser simples, mas

que fazem grande diferença no momento de definir um plano de negócio ou um

planejamento estratégico.

Toda organização pode definir objetivos claros. A determinação do alcance dos objetivos pode ser feita por meio de fixação de parâmetros. [...] Além disso podem ser definidos quocientes de desempenho.(WRIGHT; KROLL; PARNELL 2000: 408).

Tendo a missão da empresa definida, com um foco claro e objetivos,

passa-se para os próximos passos que são a criação da visão da empresa,

(aonde ela quer chegar no futuro, ou o que ela quer ser no futuro), determinam-

Page 55: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

44

se os objetivos gerais e específicos, pois se uma empresa tem um objetivo

definido, tem-se um foco, tendo-se um foco criam-se portanto metas, que são

etapas que a empresa deverá cumprir, antes de atingir o objetivo.

Objetivo é algo macro que exige passos pequenos para ser atingido,

pois se focalizarmos diretamente no objetivo, ele fica mais difícil de ser

alcançado, e estipulando metas, focalizamos nas etapas, sabendo que é

através delas que atingiremos o objetivo.

2.10.4 Diferenciação

A diferenciação pode ser encarada como um dos elos de sucesso de

uma empresa, pois os consumidores não querem aquilo que é normal, mas

algo que seja diferente; em outras palavras, algo singular, que o deixe com a

sensação de exclusividade, de ser o único com aquele determinado produto ou

serviço.

Se uma empresa possui um diferencial competitivo, pode se dizer que

ela possui uma vantagem competitiva em relação às outras empresas, pois se

ela tem um diferencial que agrega valor a seu produto, conseqüentemente ela

aumenta sua margem de lucro, o que a torna mais competitiva, oferecendo-lhe

oportunidade de investir mais em tecnologia ou simplesmente aumentar sua

receita.

Uma empresa diferencia-se da concorrência, quando oferece alguma coisa singular valiosa para os compradores além de simplesmente oferecer um preço baixo. A diferenciação permite que a empresa peça um preço-prêmio, venda um maior volume de seu produto por determinado preço ou obtenha benefícios equivalentes. [...] A diferenciação resulta em desempenho superior se o preço-prêmio alcançado ultrapassar qualquer custo adicionado do fato de ser singular. (PORTER, 1989: 113)

Segundo Porter (1989), a diferenciação provém de atividades

específicas que uma empresa executa, surgindo da cadeia de valores da

empresa.

Um bom exemplo de diferenciação é o Cirque du Soleil, que mesmo em

um segmento, cujo ciclo de vida está na fase final, conseguiu, através de uma

Page 56: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

45

diferenciação crescer e conquistar a admiração do mundo inteiro, embora

utilizando a mesma apresentação, somente com artistas se sincronizando com

as músicas, realizando coisas quase que impossíveis e sem utilizar animais,

algo que agradou muito seu público. Com este diferencial o Cirque du Soleil

ganhou mercado, conquistou novos públicos e cresceu; portanto, nota-se que

um diferencial ajuda a empresa conquistar novos clientes e a mantém viva no

mercado até que consigam criar algo novo e melhor do que ela fazia.

Na pecuária, um diferencial que está em alta na mente do consumidor

europeu de carne, é a rastreabilidade, que permite saber a origem do produto,

as condições em que foi produzido, desde o social até o ambiental da

produção.

Geralmente quando se ouve diferencial competitivo, a primeira coisa que

vem à mente das pessoas é o marketing. É claro que uma empresa que possui

um bom marketing, possui um pequeno diferencial, mas somente o marketing,

não dá a ela um diferencial competitivo que lhe dê segurança perante seus

concorrentes, pois para o marketing basta ter dinheiro e bons profissionais para

fazê-lo; o diferencial sim, lhe dá uma vantagem competitiva, pois a torna única

na mente do consumidor.

A vantagem competitiva é um dos dois tipos de vantagem competitiva que uma empresa pode possuir. O custo é também de importância vital para estratégias de diferenciação porque um diferenciador deve manter o custo próximo da concorrência. A menos que o preço-prêmio resultante exceda o custo da diferenciação, um diferenciador não irá conseguir alcançar um desempenho superior.[...] Os administradores reconhecem a importância do custo, e muitos planos estratégicos estabelecem a “liderança de custo” ou a “redução de custo” como meta. (PORTER, 1989; 57).

Portanto, se a liderança no custo é outro diferencial, pois se uma

empresa consegue produzir com qualidade a um baixo custo, ela possui uma

vantagem competitiva perante seus concorrentes e, conseqüentemente, ela

poderá oferecer o mesmo padrão de qualidade do concorrente a preço

relativamente menor, com uma margem de lucro maior.

Page 57: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

46

2.10.5 Reestruturação empresarial

A reestruturação empresarial visa modificar o modelo de gestão e

decisão da empresa, criando um novo modelo empresarial que visa obter

melhores resultados. As três modificações do processo de reestruturação são a

reestruturação organizacional, reestruturação financeira, reestruturação de

portfólio.

Reestruturação organizacional refere-se à modificação fundamental da própria organização do trabalho no nível empresarial ou reconfiguração de forma radical das atividades e das relações no nível da unidade de negocio. (WRIGHT; KROLL; PARNELL 2000: 128).

A reestruturação organizacional pode ser feita em áreas da empresa ou

em sua totalidade, pois o objetivo é aumentar a eficiência e eficácia da

empresa. Por exemplo, pecuaristas que não utilizam técnicas administrativas e

tecnologias para melhorarem sua eficiência e eficácia, perdem produtividade, o

que conseqüentemente dá-lhes prejuízos, pois o preço é o mercado quem dita,

e portanto, quem não aumenta sua produtividade reduzindo custos de

produção fica com uma margem de lucro menor, ou até mesmo amarga

prejuízos.

Segundo Wright, Kroll e Parnell (2000), a reestruturação financeira visa

reduzir a quantidade de dinheiro disponível aos executivos da empresa, de

forma que eles não possam despender as riquezas da empresa em projetos

não lucrativos, e que lhes pareça lucrativo. Por exemplo, um pecuarista com

um projeto de confinar bois para engorda, mas cuja localização geográfica

encontra-se num local montanhoso, que inviabiliza a produção de alimentos

para os bois, sendo que ele teria que adquirir esse alimento de outra região

que consiga produzir com eficiência. Sendo assim, vê-se que esse projeto é

inviável, e que o custo de oportunidade é menor quanto a fazer outro

investimento como, como exemplo uma melhoria das pastagens.

Page 58: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

47

A reestruturação de portfólio refere-se à aquisição ou desinvestimento de unidade de negócio para aumentar o valor da empresa. [...] A maioria das empresas começa a existir como organizações com apenas um único negócio. [...] Ao competir em único setor, a empresa beneficia-se do conhecimento especializado que obtém concentrando-se em área limitada de negócio. Esse conhecimento ajuda as empresas a oferecerem melhores produtos e serviços e se tornarem mais eficientes em suas operações. (WRIGHT; KROLL; PARNELL 2000: 130).

A reestruturação do portfólio da empresa é importante para reduzir

incertezas de um determinado produto e para que, em momentos de crise, a

empresa possa ter uma alternativa para cobrir um outro produto afetado pela

crise. Mas a diversificação do portfólio deve estar sempre sendo analisada,

porque de nada adianta a empresa ter um grande portfólio, que não lhe dê

segurança perante as incertezas dos mercado. Sendo assim, é importante

avaliar também o momento de desinvestir em uma unidade de negócio para

aumentar o valor da empresa.

Segundo Wright, Kroll e Parnell (2000), o desinvestimento ocorre quando

uma unidade de negócio possui um desempenho ruim ou não se adapta ao

perfil estratégico da empresa, e a unidade pode ser vendida a outra empresa.

Page 59: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

3 METODOLOGIA

Para alcançar os objetivos desse trabalho, foi necessário um estudo

bibliográfico, utilizando-se de um grande banco de dados da Empresa

Brasileira de Pecuária e Agricultura (Embrapa) gado de corte, sendo analisado

o material de pesquisas de longos anos.

A região do sul de Minas Gerais é considerada fraca na criação de gado

de corte, possuindo tendências para a cafeicultura, que atualmente encontra-se

em crise, oportunizando a atividade de criação de gado de corte como mais

rentável a pequenos proprietários de terra.

Para o estudo foram utilizadas técnicas de coleta de dados secundários

através de órgãos governamentais ligados à pecuária de corte para a

caracterização da atividade e embasamento teórico das técnicas de

melhoramento do plantel produtivo e de gestão através do uso do planejamento

estratégico como forma de melhoria de resultados do negócio

E levantamento de dados primários, através de pesquisa qualitativa

semi-estruturadas aplicada a pequenos e grandes pecuaristas.

De acordo com Marconi e Lakatos (2001), apud Fernandes (2007), esse

tipo de questionário segue um roteiro pré-estabelecido, mas deixa o

entrevistador livre para adaptar suas perguntas a determinadas situações.

Foram realizadas dez entrevistas, com pecuaristas do sul de Minas

Gerais, selecionados aleatoriamente, sendo quatro a pequenos pecuaristas,

quatro a grandes pecuaristas e duas a entidades de apoio a pecuária de corte.

As entrevistas foram realizadas no período de 1 a 10 de setembro de 2009.

Tem-se como variável independente a demonstração da importância do

planejamento estratégico para as pequenas propriedades rurais, como forma

de obtenção de vantagem competitiva e consequentemente melhoria nos

resultados do negócio.

E, como variável dependente, o método pelo qual a pecuária de corte é

conduzida, em pequenas propriedades rurais, que não se importam com a

qualidade de seus rebanhos e com os métodos de controle de sua produção,

tornando o negócio pouco atrativo.

Page 60: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

As oito empresas entrevistadas estão no mercado há mais de dez anos,

sendo que quatro empresas foram classificadas de média a grande, cujos

proprietários ou responsáveis possuem ensino superior, e quatro propriedades

foram classificadas como pequenas e os proprietários possuem apenas o

ensino médio, e como a tendência de nossa região é a pecuária de leite 37%

disseram ter como atividade principal a pecuária de leite e atividade secundária

a pecuária de corte. Essas empresas foram classificadas como grande ou

pequena de acordo com o número dos hectares destinados à pecuária de

corte.

A Tabela 3 mostra as principais características das empresas

entrevistadas e foi atribuído a elas um nome fictício.

Tabela 3. Características gerais das propriedades entrevistadas.

Atividade

principal

Tempo na

atividade

Tamanho da

propriedade

Formação do

proprietário

Propriedade 1 Pecuária de leite 30 anos Média Ensino superior

Propriedade 2 Pecuária de corte 45 anos Média Ensino superior

Propriedade 3 Pecuária de corte 28 anos Grande Ensino superior

Propriedade 4 Pecuária de corte 20 anos Média Ensino superior

Propriedade 5 Pecuária de leite 29 anos Pequena Ensino médio

Propriedade 6 Pecuária de leite 15 anos Pequena Ensino médio

Propriedade 7 Pecuária de corte 40 anos Pequena Ensino médio

Propriedade 8 Pecuária de corte 35 anos Pequena Ensino médio

As principais características das empresas entrevistadas foram:

1. METAS: De acordo com as propriedades estudadas, 50% possuem metas

para aumentar a quantidade de animais prontos para o abate e 25%

pretendem melhorar a eficiência do rebanho e os outros 25% pretendem

reformar as pastagens.

Page 61: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

50

2. PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: As médias e grande propriedades

possuem planejamento de médio a longo prazo, sendo feito anualmente de

acordo com as metas do ano anterior que foram alcançadas e as que não

foram atingidas são refeitas, sendo que esse planejamento é colocado no

papel e relido sempre que surgem dúvidas. As propriedades pequenas não

possuem planejamento de médio e/ou longo prazo, possuindo apenas

planejamento a curto prazo e bastante simples, e que ficam apenas na

cabeça dos proprietários.

3. CONTROLE GERENCIAL: Todas as pequenas propriedades estudadas

possuem apenas controle de custos de produção, sendo que as

propriedades de médio e grande porte possuem um controle dos custos

mais completos do que as pequenas, que fazem apenas o custo básico.

Mas controle gerencial bem detalhado apenas 25% das propriedades

estudadas possuem, e trabalham utilizando ferramentas administrativas

para fazerem análises antes de tomarem quaisquer decisões.

4. VISÃO DO NEGÓCIO: Nenhuma das pequenas propriedades possui, todas

as propriedades possuem expectativa de melhora dos preços ao produtor,

sendo que alguns grandes pecuaristas esperam que o governo garanta um

preço mínimo a ser pago ao produtor (subsídio) e redução do preço dos

insumos. Apenas 25% das propriedades estudadas tiveram

posicionamento e souberam dizer aonde querem chegar, conhecendo

inclusive seu público-alvo.

5. TOMADA DE DECISÕES: A pesquisa mostrou que as pequenas

propriedades tomam suas decisões baseadas somente nos custos que lhes

forem propiciar. Já as médias e grandes propriedades tomam suas

decisões baseadas em relatórios técnicos e de profissionais capacitados,

conhecendo payback relativo às decisões tomadas.

6. ADOÇÃO DE TECNOLOGIA: Ficou constatado que todas as propriedades

conhecem as tecnologias disponíveis para melhoria da produção, porém as

Page 62: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

51

pequenas propriedades utilizam apenas o melhoramento genético do

plantel; através do uso de touros de melhor qualidade. Quanto as

ferramentas de gestão, as pequenas propriedades utilizam anotações

manuais para controles do rebanho e não pensam em adotar um software.

Para os mesmos 25% das médias e grandes propriedades utilizam

inseminação artificial, e utilizam um software especifico para ter uma

análise completa de seu negócio e estão sempre se atualizando através de

cursos palestras, feiras e eventos agropecuários.

7. LUCRATIVIDADE: Entre todas as propriedades estudadas 75% estão

satisfeitas com a atividade e querem que o governo garanta um preço

mínimo (subsidio) a ser pago ao produtor para minimizar os riscos de

produção. Os demais (25%) querem continuar como estão adotando o livre

comercio como forma de regulação do mercado, fugindo da figura

paternalista do Estado, argumentando que cada propriedade deve explorar

seu potencial produtivo ao máximo, pois assim conseguirá obter melhores

resultados.

8. PARCERIAS: Nenhuma das propriedades busca fazer parcerias para

melhorar o preço pago ao produtor, através de um maior poder de

barganha, algumas justificando que a questão fiscal seria um empecilho

para tal parceria. E também não pensam em criar, por exemplo, uma

cooperativa para processar a carne produzida por eles.

9. MELHORAMENTO DA ATIVIDADE: Todas as propriedades entrevistadas

disseram que a melhor forma de melhorar a atividade pecuária é o

investimento em melhoramento genético, e as grande propriedades

também disseram que o investimento em pastagens de qualidade para o

rebanho, também acaba sendo um diferencial produtivo.

Foram entrevistados também dois órgãos públicos ligados diretamente a

pecuária, que são o Instituto mineiro de agropecuária (IMA), e Empresa de

Assistência Técnica e Extensão Rural do estado de Minas Gerais (EMATER-

Page 63: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

52

MG), que dão suporte e oferecem apoio à agropecuária, e a visão desses

órgãos em relação à pecuária de corte foi que falta conhecimento aos

pequenos pecuaristas sobre a importância da profissionalização de suas

atividades, e adotação de planejamentos com embasamento científico, pois

quando são chamados para dar uma consultoria nas pequenas propriedades,

surge o conflito pela dificuldade de se quebrar paradigmas, e todo trabalho

realizado muitas vezes é perdido por falta dos produtores, aceitarem que a

agricultura está se profissionalizando.

E ainda, de acordo com a Emater, o Brasil, com toda extensão territorial

que possui, e agora que chegou a profissionalização dos meios de produção e

da administração dos produtores rurais, será no futuro “Celeiro mundial de

alimentos”, pois enquanto outros países se industrializaram o Brasil continuou

apostando na agricultura, e nesse período criou tecnologias capazes de mudar

terras que eram inférteis em produtivas.

Os pequenos pecuaristas utilizam muito pouco as ferramentas

administrativas a fim de explorarem o potencial do seu negócio, todos querem

aumentar sua eficiência, mas não procuram se modernizar e também ficam

com medo de investir, justamente porque não possuem embasamento

científico que lhes diminua os riscos inerentes ao investimento. Alguns

possuem consciência de que o caminho é se profissionalizarem, mas não

tomam iniciativas.

Algo que ficou em evidência nesse estudo foi que a única ferramenta

administrativa que os pequenos pecuaristas utilizam é um controle simples do

custo de produção, não pensando em explorarem o potencial do segmento,

não se preocupando com as ameaças, não exploram seus pontos fortes,

conhecem suas fraquezas, mas não fazem muito para corrigi-las, e deixam as

oportunidades passarem diante dos olhos sem agarrá-las, pensando apenas a

curto prazo, não procurando anteciparem-se a possíveis cenários ruins que

possam causar-lhes prejuízos. Já nas médias e grandes propriedades, os

produtores conhecem e buscam minimizar os riscos e ameaças e exploram os

pontos fortes e ficam de olho nas oportunidades.

Outro fator preocupante é a falta de profissionalização dos pequenos

produtores, que na maioria das vezes, colocam a culpa de seus prejuízos no

Page 64: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

53

governo, que não cria subsídio para ajudá-los (preço mínimo que garanta que

os pecuaristas não terão prejuízos). Não se preocupando em aumentar sua

produtividade, reduzir os custos de produção, aumentar a eficiência e eficácia

da propriedade através de uma maior produtividade, só pensando no curto

prazo, esquecendo de se prepararem para o futuro dos seus negócios.

Outro problema sério é a falta de sistema de informação para ajudar nas

tomadas de decisões, pois ficou constatado no estudo que apenas 25% dos

pecuaristas entrevistados utilizam um sistema de informação para auxiliar na

tomada de decisão, sendo que esses fazem parte dos grandes pecuaristas.

Em relação ao uso de tecnologias disponíveis para melhoria da

produtividade, apenas 25% das propriedades estudadas utilizam a inseminação

artificial, que é o método mais confiável de melhoramento genético, os outros

75% utilizam a monta natural, que é mais barata, porém, com menores

chances de atingir uma melhor produtividade em cima do melhoramento

genético. Todos os pequenos pecuaristas entrevistados conhecem os vários

tipos de melhoramento genético a as tecnologias disponíveis a eles, porém não

utilizam, alegando alto custo de implantação, sendo incompatível com a

realidade dos pequenos pecuaristas.

Conforme demonstrado por Barbosa e Souza (2007), o tamanho da

propriedade em hectares não é tão importante quanto à capacidade de produzir

com a máxima produtividade, pois assim reduz o custo de produção e é

importante conhecer o custo de produção real para que, no momento da venda,

o pecuarista possa ter base para a negociação, com o comprador, assim, ele

não precisa ficar se preocupando se a oferta do cliente está baixa, pois bastará

fazer as contas, para obter uma boa venda.

De acordo com as entrevistas, a pecuária de corte brasileira para os

pequenos produtores, ainda está muito atrasada em relação ao conceito de

agronegócio, quando comparada a outros países e ainda falta a

profissionalização na gestão do negócio por parte dos pecuaristas, e

explorarem o potencial produtivo que suas terras de forma a obterem vantagem

competitiva pela otimização na gestão dos seus recursos ao invés de ficar

apenas esperando que o governo crie subsidio para apoiá-los.

Page 65: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

5 CONCLUSÃO

Uma das principais formas dos pecuaristas de corte se manterem no

mercado é a profissionalização de suas fazendas, pois através dela será

possível que o pecuarista tenha um controle total de sua propriedade, seja na

gestão dos custos, no planejamento das ações, no aumento da eficiência

produtiva e no melhoramento dos processos decisórios, sendo possível

diversificar os investimentos, diversificar a produção e os métodos de produção

como, investir em confinamento, cruzamentos industriais, gado de elite,

produção de touros, matrizes, animais para cria, recria e engorda, enfim,

investimento em tecnologia que possa agregar valor ao produto, sendo que a

diversificação dos investimentos da empresa será de acordo com o

planejamento estratégico adotado, de acordo com a tendência do mercado etc.

Investimentos em marketing, através de canais de comunicação rural,

pois o agronegócio está em alta no mercado e o marketing é peça chave dentro

dessa nova visão do agronegócio, é necessário o pecuarista mostrar seu

produto (boi), em qualquer linha de produção adotada pelo pecuarista, como

gado de corte, de elite, touros matrizes, etc., demonstrando seu produto para o

mercado, tendo seu produto reconhecido e agregando valor a ele, induzindo

outros produtores e consumidores a comprarem seus produtos obtendo com

isso uma demanda maior.

Outra peça importante é a contratação de profissionais formados em

administração, com vocação rural e de preferência com especialização em

gestão rural, o que irá tornar muito rentável a propriedade, oferecendo um

maior retorno do capital investido, pois um profissional formado em

administração conhece ferramentas administrativas, que serão utilizadas na

gestão profissional da propriedade.

O conceito de agronegócio chegou com força, e é o caminho para tornar

a agropecuária sustentável e rentável, pois como foi analisado, o resultado da

entrevista é preocupante, pois os médios e grandes produtores estão

preocupados em melhorar sua produtividade, já os pequenos, por falta de

instrução pedem subsídio para o governo, algo que não há possibilidade, e que

Page 66: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

55

foge da idéia de livre mercado. É muito difícil o governo criar subsídios para a

pecuária, já que toda cadeia do agronegócio brasileira ainda está em

desenvolvimento, alguns segmentos mais avançados outros nem tanto, mas o

governo seria forçado a criar subsídios a todos os segmentos para ser justo e

democrático. Então por que esperar, e ser dependente? Ao invés de criar,

inovar, investir em tecnologia, melhorando sua produtividade, e dependa

menos de fatores externos, focando em seus pontos fortes, por que esses sim

lhes trarão lucratividade.

Portanto, o ponto fundamental para os pecuaristas é deixarem de

trabalhar como amadores e se tornarem profissionais, utilizando ou trabalhando

com profissionais capacitados, utilizando tudo de que o mercado dispõe em

termos de tecnologias para o melhoramento da produtividade.

E isso é possível através da boa gestão de suas propriedades, com foco

sempre na lucratividade e produtividade, com planejamentos consistentes e

bem elaborados, assim os pecuaristas deixaram de serem amadores para se

tornarem profissionais entrando de vez para o agronegócio.

Page 67: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Page 70: Gestão estratégica nas propriedades pecuaristas do sul de Minas Gerais

APÊNDICE

QUESTIONÁRIO APLICADO NAS EMPRESAS ESTUDADAS

Nome da Empresa: Entrevistado: Grau de Formação:

1) Identificação:

a) Qual o tamanho da empresa?

( )Pequena ( ) Média

( ) Grande

b) Qual o ramo de atividade principal?

( ) Pecuária de corte Pecuária de leite

c) Qual a quantidade de funcionários?

( ) Até 10 funcionários ( ) De 11 a 50 funcionários

( ) Mais de 50 funcionários

d) Há quanto tempo está na atividade pecuária?

( ) Menos de 5 anos ( ) De 5 a 10 anos

( ) Mais de 10 anos

2) Quais são suas metas para os próximos 2 anos?

3) A empresa utiliza algum tipo de planejamento estratégico a médio ou

longo prazo?

4) Você utiliza algum tipo de controle gerencial em sua produção? Por

quê?

5) Como você enxerga seu negócio daqui a dois anos?

6) Utiliza ferramentas administrativas para as tomadas de decisões?

7) Conhece e/ou utiliza as tecnologias disponíveis para aumentar a

produtividade da propriedade? Se utilizam quais? E como?

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8) Você utiliza programas de melhoramento genético para seu plantel?

9) Você possui algum controle dos custos de produção?

10) Você está satisfeito com a atividade que executa?

11) Você possui alguma parceria que visa melhorar o resultado do seu

negócio?

12) Em sua opinião, o que deveria ser feito para melhorar sua atividade?

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GLOSSÁRIO

Agronegócio Agribusiness: Soma das operações de produção e distribuição de suprimentos agrícolas, das operações de produção nas unidades agrícolas, do armazenamento, processamento e distribuição dos produtos agropecuários e itens produzidos a partir deles.

Alqueire: Medida utilizada para demarcar quantidade de terra, sendo equivalente a 24.200 m².

Boi orgânico: Boi criado totalmente sem utilizar produtos inorgânicos, em toda a cadeia de produção, pode ser confinado desde que seu alimento não tenha tido contato com produtos inorgânicos.

Boi verde: Boi criado a pasto, com pouco uso de produtos inorgânicos.

Confinamento bovino: Método de criação de gado, que busca a terminação do bovino o mais rápido possível, fornecendo alimentos com alto valor protéico no cocho, fazendo com que o animal engorde o mais rápido possível.

Controle sanitário: Método utilizado para prevenir e controlar doenças bovinas contagiosas, e também os endoparasitas e ectoparasitas.

Cruzamento industrial: Cruzamento entre raças diferentes, com propósito de criar heterose; método para aumentar a capacidade produtiva dos animais gerados.

Ectoparasitas: Parasitas externos, como carrapatos, mosca do chifre.

Empresário rural: Antigo produtor rural, que evoluiu juntamente com o mundo e que hoje utiliza as tecnologias e conhecimentos existentes para extrair o máximo de seu negócio.

Endoparasitas: Parasitas internos, como vermes e outros.

Hectare: Medida utilizada para demarcar quantidade de terra, sendo equivalente a 10.000 m.².

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Heterose: Choque de sangue; cruzamento entre raças diferentes. Melhoramento genético: Seleção de indivíduos com genótipo superior, realizando cruzamento entre si, com ênfase na criação de indivíduos com melhores desempenhos.

Pecuária bovina de corte: Criação de gado destinado ao abate, especificamente gado com características genéticas para produção de carne.

Rastreabilidade bovina: Método para controlar a criação de bovinos para um determinado fim.