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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
CURSO DE PÓS- GRADUAÇÃO LATO SENSU
GESTÃO ESCOLAR: O PAPEL DO COORDENADOR PEDAGÓGICO NO SISTEMA EDUCACIONAL
Por: Elaine Elen Boechat de Rezende
Orientador: Prof . Dr. Vilson Sérgio de Carvalho
Niterói, 2010
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
CURSO DE PÓS- GRADUAÇÃO LATO SENSU
GESTÃO ESCOLAR: O PAPEL DO COORDENADOR PEDAGÓGICO NO SISTEMA EDUCACIONAL
Por: Elaine Elen Boechat de Rezende
Orientador: Prof. Dr. Vilson Sérgio de Carvalho
Niterói, 2010
Monografia apresentada à Universidade Candido Mendes – INSTITUTO A VEZ DO MESTRE- requisito à obtenção do grau de Especialista em Administração e Supervisão Escolar.
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AGRADECIMENTO
A Deus, por estar sempre na minha vida e tornar tudo possível.
Ao meu esposo, e toda minha família que, com muito carinho e apoio,
não mediram esforços para que eu chegasse até esta etapa de minha vida.
Aos professores por sua inspiração no amadurecimento dos meus
conhecimentos e conceitos que me levaram a execução e conclusão desta
monografia.
Aos meus colegas da Pós - Graduação, pelo incentivo e pelo apoio
constantes que foram tão importantes na trajetória deste curso.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ..................................................................................................5
METODOLOGIA ................................................................................................6
CAPÍTULO I - Desafios da Educação Escolar no Brasil..................... 7
CAPÍTULO II- Funcionamento dos Sistemas de Ensino no Brasil........14
CAPÍTULO III- Gestão do Ensino no País: O trabalho da coordenação
pedagógica para a qualidade do ensino no país.............................19
BIBLIOGRAFIA...........................................................................27
WEBGRAGIA ..............................................................................28
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INTRODUÇÃO
O tema deste estudo é gestão escolar. A questão central deste trabalho
é abordar o papel do coordenador pedagógico no sistema educacional.
O assunto sugerido é de total importância, pois dentro das inúmeras
mudanças que ocorrem na sociedade atual, de ordem econômica, política,
social, ideológica, a escola, como instituição de ensino e de práticas
pedagógicas, enfrenta muitos desafios que comprometem a sua ação frente às
exigências que surgem. Assim, os profissionais, que nela trabalham, precisam
estar conscientes de que os alunos devem ter uma formação cada vez mais
ampla, promovendo o desenvolvimento das capacidades desses sujeitos.
Para tanto, torna-se necessária a presença de um coordenador
pedagógico consciente de seu papel, da importância de sua formação
continuada e da equipe docente, além de manter a parceria entre pais, alunos,
professores e direção.
A função da Coordenação pedagógica é coordenar o planejamento
pedagógico para qualificar a ação do coletivo da escola, vinculando e
articulando o trabalho à Proposta Pedagógica da instituição. Possibilita
também, a construção e o estabelecimento de relações entre todos os grupos
que desempenham o fazer pedagógico, refletindo e construindo ações
coletivas. É nessa perspectiva que faz - se fundamental analisar as diferentes
ações do coordenador pedagógico no sistema educacional.
São, portanto objetivos desta pesquisa analisar as diferentes ações do
coordenador pedagógico no sistema educacional, bem como na prática
pedagógica.
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METODOLOGIA
Este trabalho parte de uma ampla e atualizada pesquisa bibliográfica.
Dentre os autores consultados destacam-se: Moacir Gadotti e Pedro Demo.
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CAPÍTULO I
DESAFIOS DA EDUCAÇÃO ESCOLAR NO BRASIL
Muito se discute a importância do Brasil que é um país em
desenvolvimento, articular os objetivos de crescimento econômico e
inclusão social que tanto necessita.
Dificilmente este duplo desafio poderá ser enfrentado com
chances de sucesso sem a revisão do papel da coordenação pedagógica
a fim de buscar uma melhoria consistente e progressiva da qualidade da
educação.
Todavia, o reconhecimento da centralidade da educação para o
desenvolvimento do país coexiste com a constatação de inúmeras
dificuldades para o fortalecimento do sistema educacional, decorrentes de
um processo histórico de transformação do ensino.
A melhoria da qualidade da educação envolve a superação de
problemas complexos, tais como insuficiência de pessoal qualificado,
carência de recursos tecnológicos e escassez de financiamento. Neste
cenário, um esforço de mudança que, gradativamente, busque aumentar a
eficácia dos sistemas educacionais, certamente requer investimentos em
diferentes áreas: melhorias na infra-estrutura das redes de ensino, novas
tecnologias educacionais, aprimoramento dos processos de formação de
professores, ampliação dos mecanismos que estimulem a permanência na
escola de crianças oriundas de famílias de baixa renda, além de outras.
Pode-se dizer que a Escola de uma maneira geral encontra-se
em crise, mediante o seu histórico. Todavia, a partir das críticas,
cabe-nos afirmar que ela também pode estar melhor, ou desta forma,
como ela poderia estar melhor.
O sistema educacional precisa passar por uma transformação.
Por meio de denúncias de carências e, sobretudo, a sua importância
para a sociedade e a reafirmação dos seus valores, a coordenação
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pedagógica nas instituições de ensino, necessita de razão para a
educação, ou seja, a educação constitui uma idéia de construir,
transmitir, dar continuidade a determinados valores; assim, ela
precisa dar sentido a construção ética, pois “a educação sempre foi
um terreno regido pela ética” (VALLE,1997:p. 23) no entanto, a
coordenação pedagógica, exercendo um papel importante na gestão
educacional, propicia em se tratando de educação a própria
preservação da sociedade em que se vive.
A partir da idéia de continuidade proporcionada pela educação,
visto que sem ela nada se pode transportar ou gerar, não existe,
todavia, construção ética, e sendo assim, desconsidera-se o sentido
da educação.
Conforme o conceito de construção e mais ainda, a criação da
sociedade, assegura-se que a arte de ensinar está sempre ligada a
um ideal.
1.1 Breve Histórico da Educação Brasileira
Os portugueses trouxeram um padrão de educação próprio da Europa
para o território brasileiro, embora as populações que por aqui viviam já
possuíssem características próprias de se fazer educação a qual, entretanto,
da forma que se praticava entre as populações indígenas não tinha, as marcas
repressivas do modelo educacional europeu. Assim, um evento marcante na
história da Educação Brasileira pode ser notada com a chegada dos
portugueses ao território do Novo Mundo, sendo então este fato histórico
marcado pela primeira grande ruptura travada.
O indigenísta Orlando Villas Boas contou num programa de entrevista na
televisão um fato observado por ele numa aldeia Xavante que retrata bem a
característica educacional entre os índios, onde ele observava uma mulher que
fazia alguns potes de barro:
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“Assim que a mulher terminava um pote
seu filho, que estava ao lado dela, pegava o
pote pronto e o jogava ao chão quebrando.
Imediatamente ela iniciava outro e,
novamente, assim que estava pronto, seu filho
repetia o mesmo ato e o jogava no chão. Esta
cena se repetiu por sete potes até que Orlando
não se conteve e se aproximou da mulher
Xavante e perguntou por que ela deixava o
menino quebrar o trabalho que ela havia
acabado de terminar. No que a mulher índia
respondeu: "- Porque ele quer." (BOAS,2003,
P. 20)”
A série Xingú, produzida pela extinta Rede Manchete mostra de uma
maneira geral de como era feita a educação entre os índios. Neste seriado,
crianças indígenas sobem nas estruturas de madeira das construções das
ocas, numa altura inconcebivelmente alta.
Os jesuítas, quando chegaram por aqui eles não trouxeram somente a
moral, os costumes e a religiosidade européia; trouxeram também os métodos
pedagógicos que funcionou absoluto durante 210 anos, de 1549 a 1759,
quando uma nova ruptura marca a História da Educação no Brasil: a expulsão
dos jesuítas por Marquês de Pombal, transformando a sociedade, em termos
de educação, everedar-se para o mais absoluto caos. Tentou-se as aulas
régias, subsídio literário, mas o caos persistiu até que a Família Real, fugindo
de Napoleão na Europa, resolve transferir o Reino para o Novo Mundo.
Um sistema educacional nas terras brasileiras não foi possível de ser
implantado, na verdade. Todavia, a chegada da Família Real permitiu uma
nova ruptura com a situação anterior. Para preparar terreno para sua estadia
no Brasil D. João VI abriu Academias Militares, Escolas de Direito e Medicina, a
Biblioteca Real, o Jardim Botânico e, sua iniciativa mais marcante em termos
de mudança, a Imprensa Régia. O Brasil, no entanto, segundo alguns autores
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foi finalmente descoberto e a nossa História passou a ter uma complexidade
maior.
Muito tem se mexido no planejamento educacional até os dias atuais,
mas a educação continua a ter as mesmas características impostas em todos
os países do mundo, que é a de manter o status quo para aqueles que
frequentam os bancos escolares.
Pode-se dizer que a Educação Brasileira tem um princípio, meio e fim
bem demarcado e facilmente observável. Portanto, tratar da história da
Educação no Brasil a partir da abertura política será o assunto do próximo
tópico.
1.2 Democratização da gestão educacional
Pensou-se que pudesse discutir questões sobre educação de uma forma
democrática e aberta com o fim do Regime Militar (1964 – 1985), a eleição
indireta de Tancredo Neves, seu falecimento e a posse de José Sarney, no
entanto, as discussões sobre as questões educacionais já haviam perdido o
seu sentido pedagógico e assumido um caráter político. Para isso contribuiu a
participação mais ativa de pensadores de outras áreas do conhecimento que
passaram a falar de educação num sentido mais amplo do que as questões
pertinentes a escola, a sala de aula, a didática e a dinâmica escolar em si
mesma.
“Uma política democrática de educação
é uma reivindicação antiga dos educadores
brasileiros. Durante o período autoritário (1964
a 1985) o tema da participação e da
democratização da gestão da educação, tomou
boa parte das discussões e dos debates
pedagógicos, tanto no setor público quanto no
setor privado.” (GADOTTI,1999,P.28)
11
Profissionais da área de sociologia, filosofia, antropologia,
história, psicologia, entre outras, impedidos de atuarem em suas
funções, passaram a assumir postos na área da educação e a
concretizar discursos em nome da mesma por questões políticas
durante o Regime Militar.
O efeito da democratização da gestão escolar dispõe de ampla
literatura, como afirma os teóricos:
“ ... o sucesso da escola pode ser
impulsionado através da prática de uma
administração participativa, voltada para
objetivos claros definidos coletivamente pela
comunidade escolar.” (GIRLING,.KEITH, 1996, P.
12)
Ao tipo de administração participativa favorece o despertar de
iniciativas a cerca das interlocuções, dos diálogos, da crítica e da
reflexão, como resposta aos anseios e às necessidades da escola
pública e da sociedade que a financia.
“A organização escolar do próximo século... terá que
possuir uma postura de responsabilidade, presteza
nas decisões, propósitos claros e visão eventualista
como forma de pensar em existir... agilidade,
maleabilidade e suas proposições bem definidas
pelo consenso do coletivo.”( LOPES,1998,P.39)
Por outro lado, como é especificado na Constituição Federal de
1988, Xavier (1997) afirma que em alterações organizacionais do sistema
de ensino deve ter a "... equidade no atendimento aos alunos..." como um
dos seus pilares.
A equipe escolar deve voltar sua atenção para a concretização do
plano de desenvolvimento da escola e do projeto pedagógico,
implementado coletivamente. São pensados para este fim, aspetos
humanos, financeiros e materiais.
12
O administrativo deve buscar ações que promovam a integração da
escola consigo própria, com seu sistema de ensino e coordenação
pedagógica estabelecendo parcerias.
A coordenação pedagógica precisa encarregar-se da
operacionalização e construção do processo ensino-aprendizagem
centrado no aluno e na integração com a comunidade.
O relacional é responsável pelas relações necessárias ao bom
desenvolvimento dos trabalhos planejados para atender à consecução dos
objetivos definidos e à missão da escola.
Uma das estratégias usadas para estabelecer uma prática escolar
participativa constitui na comunicação entre a equipe escolar, os pais, os
estudantes e seus familiares. Essas pessoas, dispondo de uma visão
comum definem objetivos, metas, caminhos teóricos e práticos a serem
seguidos. Elas constroem o Plano de Desenvolvimento da Escola, os
projetos financeiro e pedagógico de forma mais abrangente e realista.
Raramente as pessoas que convivem na mesma escola
comungam de uma mesma visão de conjunto a respeito das
necessidades de cada grupo. Portanto, a comunicação transparente,
pode ser uma estratégia eficiente capaz de promover uma certa visão de
conjunto e facilitar a possibilidade de integrar a comunidade escolar
consigo própria e com a comunidade local.
O foco das preocupações da administração das escolas deve ser a
própria escola e seu corpo de alunos a partir da vivência de sua equipe
escolar, em seu sentido mais amplo que envolve inclusive o corpo
docente, técnico-administrativo, discente, colegiado escolar e lideres
comunitários.
O método empregado para a compreensão do tema da
investigação foi o método dialético, tendo seu foco no processo em que
se entende que a sociedade constrói o homem e, por sua vez é por ele
construída.
Do fim do Regime Militar até aos dias de hoje, a fase politicamente
marcante na educação, foi o trabalho do Ministro Paulo Renato de
Souza à frente do Ministério da Educação. Logo no início de sua gestão,
através de uma Medida Provisória extinguiu o Conselho Federal de
13
Educação e criou o Conselho Nacional de Educação, vinculado ao
Ministério da Educação e Cultura. Esta mudança tornou o Conselho
menos burocrático e mais político.
Temos que reconhecer que, em toda a História da Educação no
Brasil, contada a partir do descobrimento, jamais houve execução de
tantos projetos na área da educação numa só administração, mesmo
que possamos não concordar com a forma como vem sendo executados
alguns programas.
Entre esses programas destacamos:
• Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do
Ensino Fundamental e de Valorização do
Magistério - FUNDEF
• Programa de Avaliação Institucional - PAIUB
• Sistema Nacional de Avaliação da Educação
Básica - SAEB
• Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM
• Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs
• Exame Nacional de Cursos – ENC
14
CAPÍTULO II
FUNCIONAMENTO DOS SISTEMAS DE ENSINO NO BRASIL
2.1. Os sistemas educacionais no Brasil e a descentralização.
No Brasil, os sistemas educacionais possuem estruturas muito
frágeis e convivem com freqüentes reformas que são superficiais e nada
contribuem para mudanças positivas. Alem do mais, existe outra
característica do funcionamento desses sistemas a qual constitui na
descontinuidade administrativa, visto que, por sua vez, eles são
presididos pelos princípios de patrimonialismo – isola subsistemas, e
pelo paternalismo – instiga a dependência e a alienação.
“ A administração pública da escola pode se
fundar sobre uma visão sistêmica estreita que
procura acentuar os aspectos estáticos – como o
consenso, a adaptação, a ordem – ou numa visão
dinâmica que valoriza a contradição, a mudança, o
conflito.” (SANDER, 1984. P. 30)
A partir da afirmação de Sander, pode-se mencionar dois
paradigmas de sistema de ensino:
• Sistema Fechado – Embora consista em abolir as
contradições e os conflitos, não quer dizer que não
ocorram os mesmos, apenas são camuflados e
integrados.
• Sistema Aberto – Trabalha com a tensão e o conflito. A
escola e a sala de aula é o locus fundamental da
educação, possibilitando a tomada de decisão pela
comunidade escolar.
Essas duas formas de sistema predomina na prática o
confronto entre uma visão funcionalista estática da educação e uma visão
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dialética, dinâmica do sistema. Um sistema único e descentralizado seria a
proposta para o sistema de ensino, assim como o sistema de saúde (art.
198 da Constituição), conquistado graças a pressão dos profissionais da
área, ou seja, o sistema único descentralizado de saúde favorece a
igualdade na assistência, preservando a autonomia das pessoas em
defesa de sua integridade física e moral.
Um sistema único e descentralizado pode propiciar a
democratização, a qualidade dos serviços públicos, proporcionando mais
subsídios à coordenação pedagógica com a transparência administrativa.
Porem, nesse sentido, é preciso contar com uma sólida participação
efetiva da população.
Caracterizada pela tendência atual mais forte dos
sistemas de ensino, a descentralização institui as últimas reformas
empreendidas por Estados, Municípios e até o Governo Federal; embora
encontrando resistência por parte das organizações de educadores e
pela burocracia, associada muitas vezes na luta contra a inovação
educacional.
A nova LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional – envereda para a descentralização e autonomia da escola,
apesar de ainda conservar a estrutura do sistema centralizado, herança
do período autoritário, fundamentado num estadismo beligerante e
conservador.
Em se tratando da Coordenação Pedagógica, alguns dos
princípios essenciais à administração de um sistema único e
descentralizado de ensino estão descritos a seguir:
• Da gestão democrática – Trata da valorização da escola
e da sala de aula, eliminando a mediação entre a
direção dos órgãos responsáveis pela educação e as
escolas facilitando a o trabalho da coordenação escolar.
• Da comunicação direta com as escolas – Definida pela
comunicação entre as escolas e a população, a qual
precisa participar mais maciçamente, tendo maior
16
informação e utilizando o diálogo entre alunos, pais,
professores e o poder público.
Todavia, a escola, locus central da educação, deve
construir e elaborar a cultura. A autonomia escolar
deveria ser o princípio básico tido pelo órgão
responsável pela educação.
• Da autonomia da escola – Propõe a cada escola a
escolha de seu próprio projeto pedagógico. A escola
pode significar um projeto, e não somente um prédio,
mas uma idéia que permitiria associar várias unidades
escolares superando as adversidades do sistema
educacional.
• Da avaliação permanente do desempenho escolar –
Remete o princípio da gestão democrática. Num sistema
único e descentralizado de educação pública esta
questão consiste em um dos pontos cruciais, visto que
as escolas muitas vezes não são avaliadas ou são
avaliadas burocraticamente. A avaliação deve ser
incluída como parte essencial do projeto da escola,
envolvendo a coordenação pedagógica, além de alunos
e professores, pais e comunidade e o poder público.
2.2. O tema da autonomia escolar.
A autonomia da escola desenvolve-se tanto pela
consequência de um caminho percorrido, um desafio à prática da
educação quanto pela preocupação dos atuais sistemas educativos e de
seus respectivos educadores.
Diante do pluralismo político como valor universal e da
globalização da economia, hoje, os sistemas educacionais estão
emergidos numa explosão descentralizadora. A reivindicação pela
autonomia é crescente. A multiculturalidade é um fenômeno
17
contemporâneo, visto que a afirmação regional, de cada língua, de
cada dialeto e a valorização das culturas locais tende a ganhar força.
Discutir a autonomia da escola é discutir a própria natureza da
educação, ou seja, a sua história. A escola que ganha autonomia ganha
também a capacidade de educar para a liberdade.
Dessa forma, discute-se a história da luta pela autonomia
intelectual e institucional da escola, associada a liberdade de expressão
e de ensino.
A autonomia escolar enraíza-se no processo de ensinar
dos primórdios da filosofia grega, demonstrado no diálogo de Sócrates e
Menón em torno da questão “se a virtude podia ser ensinada”, no
entanto o mestre Sócrates afirmou que o escravo Menón deve procurar a
resposta, nele mesmo. Assim, educar significa para o educando buscar
a resposta do que pergunta, capacitar, formar para a autonomia. O
diálogo era o método da escola, no ideal de Sócrates, que deveria ser
instituída em torno da autonomia, proporcionando, por sua vez, o
discípulo a descobrir a verdade. Educar significa, portanto, auto-
educação.
A origem da palavra “autonomia” advém do grego, em que
“autos” significa si mesmo e “nomos” quer dizer lei. Autonomia é
entendida por autoconstrução, autogoverno.
“ A escola autônoma seria aquela que se
autogoverna. Mas não existe autonomia absoluta.
Ela sempre está condicionada pelas circunstâncias,
portanto a autonomia será sempre relativa e
determinada historicamente.” (GADOTTI, 1999.
P.23)
Com base na descentralização da escola, o termo
autonomia teve um papel relevante contra o poder instituído
burocraticamente, isto é, o centralismo deu lugar a participação.
Pode-se dizer que a moderna escola anti-autoritária tem
como precursor o educador e humanista italiano Vittorino da Feltre
18
(1378-1446), onde ele propunha métodos ativos com a participação
dos alunos em sua escola chamada “La casa Giocosa” (A casa
Alegre), numa época em que predominavam os métodos autoritários
da escolástica, centrados no mestre.
Muitos educadores contribuíram para o desenvolvimento
de um novo paradigma educativo, a Escola Nova, entre eles John
Dewey (1859-1952) tem a sua grande participação em que seus
princípios do “aprender fazendo”, “aprendendo pela vida” e “para a
democracia” são lembrados até hoje. A autonomia e auto-atividade do
educando foram consagradas também, além de Dewey, pelas obras de
Maria Montessori (1870-1952), Pistrak, Jean Piaget (1896-1980) e
Célestin Freinet (1896-1966).
Jean Piaget afirma em seu livro La autonomia em la
escuela1 que “a autonomia é uma preparação para a vida do cidadão,
tanto melhor, quanto mais substituem nela o exercício concreto e a
experiência da vida cívica à ligação teórica e verbal”.
“A autoridade é, sem dúvida, necessária para
impedir a criança de prejudicar e prejudicar-se;
mas a educação não começa senão no momento
me que cessa autoridade. A única coerção
educativa é a autocoerção. “ ( REBOUL,1974.P. 43)
O que levantou mais alto a bandeira da escola foi a Escola Nova
a qual se define como livre organização dos estudantes, autogoverno.
Assim, o movimento da Escola Nova enfatizou mais a autonomia como
fator de desenvolvimento pessoal do que como fator de mudança
social.
1 PIAGET, J. HELLER J. La autonomía em la escuela. 3. ed. Buenos Aires: Losada, 1950, p. 26.
19
CAPÍTULO III
GESTÃO DO ENSINO NO PAÍS
3.1. O trabalho da coordenação pedagógica para a qualidade do
ensino no país.
Mediante a atual situação de precariedade do ensino
no Brasil, particularmente o ensino fundamental, e pela insuficiência
da ação do Estado no provimento de um ensino em quantidade e
qualidade compatíveis com as necessidades da população, a
participação da população usuária na coordenação pedagógica da
escola básica sugestiona iniciativas necessárias para se superar
esta condição e exigir os serviços a que tem direito.
Para uma verdadeira democracia social, não basta a população
apenas ir as urnas votar nas eleições periódicas para ocupantes dos
cargos do Estado, mas deve ser exigido o permanente controle
democrático do Estado, com intuito de levá-lo agir conforme os
interesses dos cidadãos. O Estado, por sua vez, precisa ter o controle
em todas as instâncias e o dever de prestar os serviços principalmente
naquelas mais essenciais à população, que estão mais próximas, como
é o caso da educação, a qual deve procurar ressaltar a importância da
instalação de mecanismos institucionais que estimule a participação da
coordenação pedagógica, assim como educadores, funcionários,
inclusive de usuários a quem devem ser servidos por ela.
“A escola necessita da adesão de seus usuários
(não só de alunos, mas também de seus pais ou
responsáveis) aos propósitos educativos a que ela
deve visar, e que essa adesão precisa redundar
20
em ações efetivas que contribuam para o
desempenho do estudante.” (BASTOS, 1999, P.
23).
O senso comum inclusive os políticos, administradores da educação e
até os círculos acadêmicos onde se discutem políticas educacionais,
identificam duas características configuradoras da má qualidade do ensino
público no Brasil, hoje, que constitui na má preparação para o mercado de
trabalho e a ineficiência em levar o aluno à universidade.
O aluno de algumas escolas particulares tem receio de se
inscrever no vestibular mais concorrido da rede pública porque tiveram
uma educação de péssima qualidade. Além disso, não há um estímulo
por parte da coordenação pedagógica para que o aluno procure
acreditar que ele é capaz de conseguir o objetivo de ingressar numa
universidade pública desde que se esforce.
Segundo relatos de alunos, são raridade determinadas escolas que
envolvem o aluno no clima do vestibular. Boa parte delas sequer mantém
informados os estudantes das datas de inscrição dos exames (GOES, 2003, P.
32)
As pressões externas, decorrentes da insatisfação das pessoas
com a ordem existente quando surgem, acarretam mudanças nas
organizações sociais. A escola vem sofrendo enormes pressões
externas e a sociedade tem demonstrado seu desagrado em relação
ao trabalho realizado pelas instituições educacionais.
O descontentamento dentro da organização escolar deixa claro
o anseio por uma maneira diferente de fazer a educação. Cada
escola quer determinar a melhor alternativa de ação, a partir de um
modelo próprio e, coletivamente, alcançar a excelência que a
comunidade escolar pretende tornar uma realidade.
Pensando na solução para esta questão é que está se buscando
implementar a gestão democrática do ensino. Isso envolve:
• Autonomia dos estabelecimentos de ensino na gestão
administrativa, f inanceira e pedagógica;
21
• Livre organização dos segmentos da comunidade escolar;
• Participação dos segmentos da comunidade escolar nos
processos decisórios em órgãos colegiados;
• Transparência dos mecanismos administrativos,
financeiros e pedagógicos;
• Garantia de descentralização do processo educacional;
• Valorização dos profissionais da educação;
• Eficiência no uso de recursos, etc.
A descentralização pode ser compreendida e aplicada como o
fortalecimento da organização escolar que, ao possuir maior
autonomia, define sua identidade, redefine o seu papel e o dos
diferentes segmentos envolvidos, superando os processos centralizados
e centralizadores até agora existentes, fundamentados na natureza
técnico-burocrática da administração dos sistemas de ensino, e não
apenas entendida como uma transferência de encargos.
Seria interessante refletir sobre as seguintes questões:
• Descentralizar o quê, por que e para quê?
• Que relações existem entre processos decisórios e
participativos?
Como descentralizar estabelecendo:
1. A democratização nas relações de poder e do
trabalho da coordenação pedagógica?
2. A reorganização dos espaços decisórios?
3. A definição dos processos de participação?
A medida que a escola vai construindo sua autonomia é
processada a descentralização.
A autonomia não significa ausência de leis, regras ou como
criticam alguns autores esse termo de renovação da educação,
considerando-o “privatista” onde ocorre a desobrigação do Estado em
relação a educação. Todavia, o termo autonomia caracteriza-se a
possibilidade de a escola ser o centro das decisões, traçar seus
rumos, buscar seus caminhos, criar condições de vir a ser o que se
22
pretende, dentro dos parâmetros gerais de uma gestão mais eficaz do
ensino tanto particular quanto estatal.
Em busca de um ensino de melhor qualidade para todos é
pressuposto a Autonomia para que a escola tenha garantia de recursos
materiais e humanos para poder pensar e fazer acontecer seu caminho.
A escola torna-se o centro das decisões com autonomia,
inclusive assume a responsabilidade por essas decisões. Para isso,
o Estado, no caso da escola pública, precisa assumir a sua
responsabilidade, ou seja, oferecer à escola os meios para a
concretização dessa autonomia.
A escola particular deve possuir, por sua vez os recursos
necessários e suficientes para suas atividades de ensino e avaliar
seu desempenho, e, cabe à escola, pela própria lei, conquistar sua
autonomia pedagógica, administrativa e financeira, definindo, em
conjunto com a comunidade, as prioridades de sua atuação, e
prestando contas, a esta comunidade, dos resultados obtidos.
A prática institucional da democratização do ensino
desencadeará, um processo circular, em que as instâncias
envolvidas - equipe diretiva, corpo docente, discente, pais,
funcionários - redimensionem o fazer pedagógico, administrativo e
financeiro, proporcionando essa construção coletiva, sincronizada e
abrangente traçar uma nova estrutura capaz de romper a cadeia de
recriminações mútuas e da busca de culpados pelo insucesso da
escola, além de avançar na concretização de desejos comuns.
Nessa busca de transformação, a escola e a sociedade planejam e
realizam ações que viabilizam o processo de qualificação do ensino, sem
esquecer que os problemas de gestão estão presentes nos vários níveis
decisórios, e que é imprescindível à conquista de autonomia, que, por sua
vez, requer integração e descentralização.
No contexto da democratização, a descentralização do sistema de
ensino, leva a uma reorganização dos espaços de atuação e das
atribuições das diferentes instâncias decisórias - Governo, Secretaria,
Diretoria Regional de Ensino, Escola - com novos processos e instrumentos
de participação, de parceria, de controle.
23
A descentralização da administração da educação e à construção
da autonomia da escola somente poderá ser efetuada a partir de uma
gestão democrática, nas diferentes instâncias.
Uma mudança eficaz na coordenação pedagógica não é obtida por
qualquer processo de descentralização. A função da Instituição privada
de ensino e do Estado, no caso da rede pública, precisa ser bem
definida, de coordenação geral da política educacional, de garantia da
melhoria da qualidade de ensino, de manutenção do sistema etc., e do
papel de escola nesse processo.
Gestão democrática implica participação intensa e constante dos
diferentes segmentos sociais nos processos decisórios, no compartilhar
as responsabilidades, na articulação de interesses, na transparência das
ações, em mobilização e compromisso social, em controle coletivo.
Quando se faz gestão democrática, realizam-se processos
participativos. E processo participativo pressupõe criação e ação em
órgãos colegiados; planejamentos conjuntos e participativos; decisões
compartilhadas entre os diferentes segmentos; pensar e fazer com
parcerias; passagem do âmbito burocrático da administração para o
âmbito pedagógico da ação; participação interativa dos segmentos da
comunidade escolar, entre outros.
Cada escola precisa construir sua gestão democrática. Não há
fórmulas ou receitas mágicas, mas deve haver vontade, capacidade,
criatividade, perseverança e certeza de que esse é o caminho para se
alcançar uma escola pública de qualidade.
“A gestão democrática poderá constituir um
caminho real de melhoria da qualidade de ensino
se ela for concebida, em profundidade, como
mecanismo capaz de alterar práticas pedagógicas.
Não há canal institucional que venha a ser criado
no sistema de ensino que, por si só, transforme a
qualidade da educação, se não estiver pressuposta
a possibilidade de redefinição e se não existir uma
vontade coletiva que queira transformar a
24
existência pedagógica concreta. “(BASTOS, 1999,
P. 34).
3.2. Gestão Democrática Educacional
A gestão democrática da escola tem sido um dos desafios destes
tempos pós-LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional). O
orizonte desse conceito de gestão é o da construção da cidadania que
inclui a noção de autonomia, participação, construção partilhada,
pensamento crítico em oposição à idéia de subalternidade, mas envolve,
também, a de responsabilidade, prestação de contas, bem comum,
espaço público. Na gestão democrática, a ideologia da burocracia como
um fim em si mesma é substituída pela de organização que tem a
finalidade de levar a escola a desempenhar com êxito o seu papel. A
questão da administração competente da escola pública, sem dúvida,
está articulada com a competência técnica, humana e política, que vai
assegurar uma adequada percepção da realidade concreta que cerca a
escola.
Uma escola democrática é aquela que por entender o seu caráter
político, ultrapassa práticas sociais alicerçadas na exclusão, na
discriminação, na apartação social que inviabilizam a construção do
conhecimento; por perceber a dimensão humana do processo ensino-
aprendizagem, aposta no crescimento pessoal, interpessoal e intragrupal,
vinculado às relações sócio-históricas em que se dá esse processo; por
considerar que o fato de administrar uma escola tem uma dimensão técnica,
preocupa-se em organizar, numa ação racional, intencional e sistemática, as
condições que melhor propiciem a realização de sua finalidade, lembrando
sempre que este aspecto não é neutro nem apenas instrumental.
Quando todas essas dimensões se articulam, eleger o/a
diretor/a da escola, buscar a participação mais expressiva de
professores e professoras, pessoal de apoio administrativo, pais,
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mães, responsáveis, alunos e alunas no cotidiano da escola e
oferecer à população educação de qualidade, que é direito de todos,
é algo que se constrói na própria dinâmica do processo.
A gestão escolar passa, necessariamente, pelo entendimento de
que administrar uma escola é possibilitar que crianças e jovens, de
quaisquer camadas sociais, se apropriem do conhecimento e construam
valores e que isso só ocorrerá se ela se organizar pedagogicamente
para isso.
Para realizá-la e para que não seja destituída de sentido, a gestão
do processo educacional tem que se entender, sobretudo, como
participante de um processo maior, onde é preciso o entendimento de que
para se tornar um instrumento de "controle democrático", a serviço da
educação, a escola, enquanto instituição social, tem que se preocupar com
o que o Professor Pedro Demo chama de "qualidade política", isto é, com a
superação da qualidade formal. Diz ele que “Educação não pode se bastar
com qualidade formal, porque seu signo mais profundo é a qualidade
política, que é fim” (DEMO, 1997, P.43).
Portanto, a eleição de diretores e diretoras não pode ser, sozinha,
indicador de que a gestão da escola é democrática. É fundamental, para
que a democracia se instale no sistema de ensino do país, que seja
assegurado a todos os alunos e alunas o acesso ao conhecimento, seja
ele ou ela proveniente de qualquer parte do Brasil, originário desta ou
daquela classe social, deste ou daquele grupo étnico, seja católico,
evangélico, umbandista ou judeu.
É preciso, ainda, que a instituição de ensino de uma maneira geral,
assim como a coordenação pedagógica tome verdadeiramente a seu cargo a
função de oferecer as condições materiais e pedagógicas para que os
professores realizem o seu trabalho de educar as novas gerações, além de
desenvolver políticas concretas de capacitação dos profissionais que
administram as escolas de seu sistema, criando mecanismos institucionais
para um eficiente e eficaz planejamento, coordenação, acompanhamento e
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avaliação da ação educativa e de controle da aplicação dos recursos públicos
de que a escola vier a dispor.
27
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