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1 Gestão do Projeto SaciArte (diretivas de administração de aula – informações adicionais) Instrutores e voluntários: Aprendendo com experiências bem sucedidas e processos que deram certo. 1 – Identificar com alunos e mestres qual o conhecimento sobre musica de cada turma. 2 – Sempre que possível dar continuidade ás normas e formas anteriormente desenvolvidas em cada sala de aula, escola ou comunidade. A coordenação Sempre presente no dia a dia de crianças e adolescentes, a música agrada todas as turmas. Para ajudar você a trabalhar com essa modalidade artística em sala da aula, montamos um especial sobre linguagem musical, canções para apresentar à turma e atividades que estimulam o interesse dos alunos em diferentes estilos de produção. Neste projeto devemos priorizar os usos e costumes de cada comunidade, as musicas do cancioneiro popular e as tradições e culturas brasileiras de raiz, com a finalidade do resgate da identidade brasileira e da cidadania. Saiba os dez encaminhamentos didáticos a serem seguidos pelos instrutores e entenda por que eles ajudam qualquer projeto a dar certo. 1. Fazer uma avaliação inicial consistente e saber usá-la. Para o trabalho se traduzir em aprendizagem, é fundamental que ele seja precedido por uma avaliação sobre o que cada aluno já sabe e precisa aprender. 2. Planejar com base numa intencionalidade educativa Ao refletir sobre o que e como vai ser ensinado, você deve ter clareza do propósito didático de cada ação a ser desenvolvido e pleno conhecimento do projeto social SaciArte. 3. Definir objetivos claros e possíveis de alcançar Delimitando com zelo as metas de uma atividade, fica mais fácil saber quais conteúdos serão adequados para atingi-las. 4. Fazer uma avaliação final sobre o que foi ensinado Diagnosticar o aprendizado não é só dar uma nota às produções da turma. O objetivo é perceber o desenvolvimento de cada um em relação ao seu próprio processo de aprendizagem e aos objetivos propostos. Por isso fomente os questionamentos. Aula sem perguntas é aula infrutífera.

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Gestão do Projeto

SaciArte (diretivas de administração de aula – informações adicionais)

Instrutores e voluntários: Aprendendo com experiências bem sucedidas e processos que deram certo. 1 – Identificar com alunos e mestres qual o conhecimento sobre musica de cada turma. 2 – Sempre que possível dar continuidade ás normas e formas anteriormente desenvolvidas em cada sala de aula, escola ou comunidade. A coordenação Sempre presente no dia a dia de crianças e adolescentes, a música agrada todas as turmas. Para ajudar você a trabalhar com essa modalidade artística em sala da aula, montamos um especial sobre linguagem musical, canções para apresentar à turma e atividades que estimulam o interesse dos alunos em diferentes estilos de produção. Neste projeto devemos priorizar os usos e costumes de cada comunidade, as musicas do cancioneiro popular e as tradições e culturas brasileiras de raiz, com a finalidade do resgate da identidade brasileira e da cidadania.

Saiba os dez encaminhamentos didáticos a serem seguidos pelos instrutores e entenda por que eles ajudam qualquer projeto a dar certo.

1. Fazer uma avaliação inicial consistente e saber usá-la. Para o trabalho se traduzir em aprendizagem, é fundamental que ele seja precedido por uma avaliação sobre o que cada aluno já sabe e precisa aprender.

2. Planejar com base numa intencionalidade educativa Ao refletir sobre o que e como vai ser ensinado, você deve ter clareza do propósito didático de cada ação a ser desenvolvido e pleno conhecimento do projeto social SaciArte.

3. Definir objetivos claros e possíveis de alcançar Delimitando com zelo as metas de uma atividade, fica mais fácil saber quais conteúdos serão adequados para atingi-las.

4. Fazer uma avaliação final sobre o que foi ensinado Diagnosticar o aprendizado não é só dar uma nota às produções da turma. O objetivo é perceber o desenvolvimento de cada um em relação ao seu próprio processo de aprendizagem e aos objetivos propostos. Por isso fomente os questionamentos. Aula sem perguntas é aula infrutífera.

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2 5. Atualizar-se sobre o conhecimento didático Estar afinado com as melhores práticas de sua área é pré-requisito para um instrutor. Na musica não é diferente e, nunca podemos esquecer que em conhecimento musical contemporâneo, geralmente o aluno surpreende o professor.

6. Acompanhar a aprendizagem de todos Uma preocupação esteve presente em todos os projetos nota 10 deste ano: os professores trabalharam com afinco para que nenhum aluno ficasse para trás. O projeto social SaciArte da OSCIP Formiguinhas do Vale, disponibiliza em seu site uma sala on-line, onde o aluno pode fazer sugestões, questionamentos e até críticas, por meio da internet.

7. Saber como flexibilizar a prática na inclusão Neste ano, em vez de ser uma categoria à parte, a Educação Inclusiva passou a ser julgada dentro dos projetos tradicionais. O projeto SaciArte pretende conseguir ensinar à criança com deficiência o mesmo que estava sendo trabalhado com o resto da classe, fazendo-a participar de acordo com suas possibilidades e, ajudando-a, caso seja necessário, com uma atenção especial.

8. Registrar o processo para balizar as intervenções Tudo o que o instrutor deve observar no decorrer das atividades o processo evolutivo, devendo tudo ser anotado e estudado constantemente, para que seu trabalho seja aperfeiçoado e readequado conforme a necessidade de cada comunidade.

9. Planejar com cuidado as sequências didáticas O trabalho deve ter intencionalidade de ensino e estar focado em um conteúdo. É necessário também levar em consideração a diversidade de saberes dos estudantes, valorizando e trazendo para a interação os conhecimentos destacados.

10. Incentivar os alunos a aprender com autonomia Sugerir situações-problema ou dar espaço para que os alunos as proponham e reflitam sobre elas é uma ótima maneira de envolver os estudantes no processo de construção do conhecimento dentro de sala de aula.

Conhecimento Didático

Abaixo, para conhecimento dos instrutores, descremos alguns exemplos e direcionamentos a serem levados em conta pelos instrutores dos projetos SaciArte de

inicialização musical, instrumentalização, tradições e culturas populares.

Esta é uma forma de podermos nos equacionar-nos nas diretivas de ensino e, acompanhar, de forma integralizante e participativa, as experiências acumuladas em

outros projetos.

Ensino Infantil Músicas para o aconchego Cantaroladas pelos pais, as canções de ninar podem fazer parte da rotina da creche. Saiba como usá-las para estreitar os laços com a família dos pequenos A relação das crianças com a voz materna e a memória sonora delas começa a ser formada na gestação. Segundo o psiquiatra francês Serge Lebovici (1915-2000), essas "impressões sonoras" preparam o vínculo do filho com a mãe para quando o cordão umbilical não os unir mais. Por isso, de acordo com Ana Paula Stahlschmidt, psicóloga e doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), é interessante que os pequenos ouçam

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3 a voz da mãe desde cedo, inclusive na hora do acalanto, como também são chamadas as canções de ninar. No mundo todo, o passar do tempo muda as gerações e as culturas, mas essas músicas, que embalam o sono dos bebês, têm lugar cativo no repertório familiar. Elas acalmam, aconchegam e dão segurança para que os bebês durmam. Curtas e repetitivas, são fáceis de decorar. "Na creche, as canções de ninar ajudam a estabelecer outro laço afetivo: o do educador com as crianças, que passam a se sentir mais tranquilas e acolhidas", explica Sandra da Cunha, professora de Música na Escola Municipal de Iniciação Artística de São Paulo. Canções aproximam as famílias da creche Além do bem-estar das crianças, os acalantos promovem outros ganhos. Ao colocá-los em cena, de acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, o docente contribui para o desenvolvimento da percepção e atenção da turma, tal como ocorre com a exploração de brincadeiras com palmas, rodas e cirandas. As canções também estreitam os laços da família com os pequenos e com a instituição. Uma ideia é pedir para os pais gravarem as músicas preferidas dos filhos para que, além das canções, a voz deles também chegue à instituição. Linguagem musical e expressão cultural. Objetivos - Ampliar o repertório de canções de ninar que pais e professores cantam para as crianças. - Aproximar os pais da escola, com troca de informações sobre o que os pequenos ouvem em casa na hora de dormir. ----------------------- Anos Creche. Tempo estimado Dois meses. Material necessário CD ou fita cassete, gravador portátil e aparelho de som. Desenvolvimento 1ª etapa Faça uma seleção prévia das cantigas de ninar que mais conhece para cantar para os bebês na creche (exemplos: Acalanto, Boi da Cara Preta, Nana Nenê, Sapo Cururu e Dorme Filhinho). Programe um momento só para cantá-las. É importante que eles não estejam envolvidos em outras atividades e se concentrem para ouvir e cantar junto. 2ª etapa Na reunião de pais, fale sobre a proposta de trabalhar com canções de ninar. Explique que é importante conhecer o que as crianças ouvem na hora de dormir. A proposta é compartilhar esse repertório na creche. Com a participação das famílias, faça um registro escrito das músicas entoadas em casa. Pergunte para eles também o que mães, avós, tias e irmãs mais velhas cantavam na hora de dormir ou em momentos de aconchego. Convide todos para gravar as músicas de ninar para que a turma possa apreciá-las na creche. O gravador pode ir para a casa de cada um com um bilhete explicando o procedimento de gravação. As músicas também podem ser gravadas na própria creche, quando os pais forem buscar ou deixar os filhos.

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4 No início de cada gravação, cada parente deve dizer seu nome e o da criança para que você possa identificar rapidamente os trechos. 3ª etapa Grave todas as canções cantadas na creche, no mesmo CD ou fita, para organizar a Coleção de Acalantos. Faça momentos de apreciação musical. Pergunte para os pequenos que já sabem falar se eles reconhecem a voz dos pais. Faça cópias do CD ou da fita e distribua para as famílias. Avaliação Observe como os pequenos reagem ao ouvir a voz dos pais. Ouça a diversidade de canções de ninar que conseguiu reunir e identifique se outras músicas, que não as de ninar, também são utilizadas pelos pais. Nas reuniões, pergunte se eles cantam mais para os filhos em casa, como se sentem fazendo isso e de que maneira os bebês interagem nesses momentos de aconchego. Depois de fazer uma pesquisa com as crianças e as famílias, Plínio do Carmo, professor de Música da CMEI João Pedro de Aguiar, em Vitória, criou um banco de cantigas e brincadeiras. Com as canções, ele faz diariamente momentos de apreciação musical. Assim, a turma se identifica com o que já é familiar e aprende coisas novas, ampliando o repertório. Todos participam de alguma maneira: batendo palmas, dançando... E quem já fala se arrisca a cantar. "Percebo evoluções no desenvolvimento da fala e dos movimentos corporais e na capacidade de discriminar sons e reconhecer vozes", relata o educador. Sobre ritmos e sons Para ampliar o repertório na pré-escola, mostre às crianças diferentes músicas, varie o som dos instrumentos e peça que cantem e ouçam. Na escola, criança tem de ouvir música de criança. E só música de criança, certo? Não. Nada mais falso. "Não se pode limitar o contato da turma à chamada música infantil. Algumas delas têm texto fraco, muito óbvio ou com rimas pobres", explica Teca Alencar de Brito, autora do livro Música na Educação Infantil. De acordo com o Referencial Curricular Nacional, é importante que a percepção musical na pré-escola seja estimulada pela audição e pela interação com diversos tipos de canções. No cardápio de gêneros, estilos, épocas e culturas, o fundamental é que o repertório tenha qualidade - em outras palavras, que possua riqueza de composição e de arranjos. Mesmo não sendo especialista no assunto, o professor pode direcionar a turma a prestar atenção ao som, observando as características rítmicas, os silêncios, os instrumentos e o uso da voz. O trabalho pode começar com uma sondagem sobre as músicas preferidas dos pequenos. Em um segundo momento, envolver as famílias enriquece ainda mais a atividade. Partindo desse ponto, Luciana do Nascimento Santos pediu que as crianças da pré-escola do CEI Santa Escolástica, em São Paulo, perguntassem aos pais que canções eles conheciam em suas brincadeiras de infância. ESPECIAL "As mais lembradas foram referências de cantigas tradicionais, como Peixinhos do Mar, Atirei o Pau no Gato e Ciranda, Cirandinha", diz ela. Para ampliar as referências das crianças, Luciana levou às aulas CDs de chorinho, coco, maracatu e samba de roda. A cada estilo novo, agregava informações históricas e culturais, mostrando o mapa da região típica do gênero, DVDs com as danças relacionadas e fotos dos cantores. Também direcionava o olhar da turma para os elementos específicos de cada música. "Eu perguntava: que instrumento produziu esse som? Como reproduzir o que foi escutado partindo da exploração do corpo, abafando a boca ou batendo na

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5 perna?" Foi o gancho para um trabalho prático que incluiu a experimentação e a confecção dos próprios instrumentos. O produto final foi um livro com letras completas e desenhos das músicas preferidas das crianças. Uma alternativa é a gravação de um CD que reúna os sons trabalhados em sala e os mais conhecidos pelos pais. Dessa forma, cada um pode ter uma cópia e continuar aproveitando a atividade em casa, com a família reunida.

A garotada entra no ritmo com as danças de roda As crianças rodopiam e cantam canções com temas para lá de variados: barata, peixe,

feiticeira... Além de ser um ótimo exercício físico,

essa brincadeira ajuda a desenvolver a fala. Mais que passatempos, as brincadeiras de roda desenvolvem a expressão oral, a audição e o ritmo dos pequenos. Enquanto rodam no pátio, cantando as divertidas canções, eles ainda se exercitam, trabalhando o equilíbrio e a coordenação motora. Vale um lembrete: é importante que os alunos conheçam a coreografia tradicional das cirandas como forma de preservar nossa cultura. Mas incentive as adaptações e a criação de movimentos. Assim, você mantém o interesse da garotada em alta.

MUSICAS e INDICAÇÕES A BARATA Que bicho! Só conta mentira e nem liga se ninguém acredita MÚSICA A barata diz que tem Sete saias de filó. É mentira da barata, Ela tem é uma só. (bis) Ah! Ah! Ah! Oh! Oh! Oh! Ela tem é uma só! A barata diz que tem Uma cama de marfim. É mentira da barata, Ela tem é de capim. (bis) Ah! Ah! Ah! Oh! Oh! Oh! Ela tem é de capim! A barata diz que tem Um sapato de fivela. É mentira da barata, O sapato é da mãe dela. (bis)

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6 Ah! Ah! Ah! Oh! Oh! Oh! O sapato é da mãe dela! PARTICIPANTES No mínimo dois. ORGANIZAÇÃO Em roda ou livre. COMO BRINCAR E COREOGRAFIAS: As crianças cantam e, de mãos dadas, vão rodando ao ritmo da canção. Quando chegam no verso “Ah! Ah! Ah! / Oh! Oh! Oh!”, elas se soltam, param de rodar e fingem dar risadas. Depois, você pode estimular a garotada a criar outras coreografias para essa canção. A CANOA VIROU Esta roda é diferente: tem gente de frente e de costas. O desafio é não perder o passo MÚSICA A canoa virou, Por deixá-la virar, Foi por causa do Pedrinho, Que não soube remar. Se eu fosse um peixinho E soubesse nadar, Tirava o Pedrinho Do fundo do mar. PARTICIPANTES No mínimo dois. ORGANIZAÇÃO Em roda. COMO BRINCARE COREOGRAFIAS: As crianças giram cantando somente a primeira parte da música até o verso “Que não soube remar”. Elas trocam “Pedrinho” pelo nome de um colega. O escolhido se solta, vira-se de costas para o centro da roda e dá as mãos novamente para os vizinhos. A cantoria recomeça e o grupo vai elegendo um a um os companheiros até que todos tenham sido chamados e estejam de costas. Ainda girando, eles começam a cantar a segunda parte da canção, chamando novamente os colegas, um a um. O escolhido se solta dos amigos e volta à posição original. A brincadeira termina quando todos estiverem novamente de frente para o centro da roda. A CARROCINHA Nessa brincadeira, a criançada gira pra lá e pra cá e até pula com uma perna só MÚSICA (bis) A carrocinha pegou Três cachorros de uma vez. (bis) Tralalá, Que gente é esta. Tralalá, Que gente má! PARTICIPANTES No mínimo seis. ORGANIZAÇÃO Duas rodas. A menor dentro da maior.

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7 COMO BRINCAR E COREOGRAFIA: As duas rodas giram em sentidos opostos cantando a música. Quando chegam em “Que gente é esta”, cada um dos que estão na roda menor escolhe um colega da maior e, de braços dados, as duplas rodopiam. Depois, as crianças escolhidas trocam de lugar com as que estavam na roda menor. Há outra opção. Ao chegar ao verso “Que gente é esta”, todos soltam as mãos: os da roda maior batem palmas e os da menor, com as mãos na cintura e virados de frente para os seus companheiros, saltam ora com um pé, ora com outro. FUI NO ITORORÓ O escolhido pelos amigos vai para o centro da roda, mas logo leva alguém para dançar com ele MÚSICA Fui no Itororó, Beber água, não achei. Achei bela morena Que no Itororó deixei. Aproveita, minha gente, Que uma noite não é nada. Se não dormir agora, Dormirás de madrugada. Ó, dona Maria, Ó, Mariazinha, Entrarás na roda, Ficarás sozinha! Sozinha eu não fico Nem hei de ficar Porque tenho Pedro Para ser meu par. (bis) Põe aqui o seu pezinho, Bem juntinho ao pé do meu E depois não vá dizer Que você se arrependeu. PARTICIPANTES No mínimo quatro. ORGANIZAÇÃO Em roda. COMO BRINCARE COREOGRAFIAS: O grupo troca “Maria” e “Mariazinha” pelo nome de um colega, que entra na roda. Esse escolhe outro para dançar com ele colocando o pé à direita e à esquerda do pé. MARCHA, SOLDADO Um atrás do outro, os pequenos vão marchando MÚSICA Marcha, soldado, Cabeça de papel! Quem não marchar direito Vai preso pro quartel. PARTICIPANTES No mínimo dois.

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8 ORGANIZAÇÃO Em fileiras. COMO BRINCAR E COREOGRAFIA: As crianças marcham enquanto cantam a música. O CRAVO BRIGOU COM A ROSA Briga, reconciliação e... lágrimas MÚSICA O cravo brigou com a rosa Debaixo de uma sacada. O cravo saiu ferido E a rosa despedaçada. PARTICIPANTES No mínimo seis. ORGANIZAÇÃO Em roda. COMO BRINCAR E COREOGRAFIA: As crianças giram cantando. Duas, no centro, representam o cravo e a rosa. SAMBA LELÊ A garotada acompanha a música com palmas. Quem está no centro mostra que tem samba no pé MÚSICA Samba Lelê tá doente, Tá com a cabeça quebrada. Samba Lelê precisava, É de umas boas palmadas. Samba, samba, samba, ô Lelê! Pisa na barra da saia, ô Lalá! Ó, morena bonita, Como é que se namora? Põe o lencinho no bolso, Deixa a pontinha de fora. Samba, samba, samba, ô Lelê! Pisa na barra da saia, ô Lalá! Ó, morena bonita, Onde é que você mora? Moro na praia Formosa, Digo adeus e vou-me embora. Samba, samba, samba, ô Lelê! Pisa na barra da saia, ô Lalá! PARTICIPANTES No mínimo três. ORGANIZAÇÃO Em roda com uma criança no centro. COMO BRINCAR No final de cada quadra, as da roda batem palmas e quem está no centro samba. SAPO CURURU Cada um representa um sapinho diferente durante a cantiga MÚSICA Sapo cururu Na beira do rio.

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9 Quando o sapo grita, ó, maninha! É que está com frio. A mulher do sapo É que está lá dentro Fazendo rendinha, ó, maninha, Pro seu casamento. PARTICIPANTES No mínimo dois. ORGANIZAÇÃO Livre. COMO BRINCAR As crianças cantam a música enquanto encenam ou dançam livremente. SE ESTA RUA FOSSE MINHA Os pequenos giram e esperam ser escolhidos por quem está no centro MÚSICA Se esta rua, Se esta rua fosse minha, Eu mandava, Eu mandava ladrilhar, Com pedrinhas, Com pedrinhas de brilhantes, Para o meu, Para o meu amor passar. Nesta rua, Nesta rua tem um bosque, Que se chama, Que se chama solidão. Dentro dele, Dentro dele mora um anjo, Que roubou, Que roubou meu coração. Se eu roubei, Se eu roubei teu coração, Tu também, Tu também roubaste o meu, Se eu roubei, Se eu roubei teu coração, É porque, É porque te quero bem. PARTICIPANTES No mínimo três. ORGANIZAÇÃO Em roda com uma criança no centro. COMO BRINCAR A última parte é cantada apenas por quem está no centro. Quando termina de cantar, ela abraça um colega que a substitui.

Coletânea de cantigas de roda As brincadeiras de roda desenvolvem os movimentos e a oralidade, além de colaborar

com a iniciação musical na pré-escola.

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10 Além de ser uma importante manifestação cultural, brincar de roda é um exercício que estimula os movimentos, trabalha o equilíbrio, desenvolve a linguagem oral e contribui para a iniciação musical das crianças na pré-escola. Conheça abaixo as letras de algumas cantigas e saiba como cirandar com as crianças. Mas lembre-se: é importante respeitar o ritmo de aprendizagem de cada um. Bambalalão Bambalalão, Senhor capitão Espada na cinta Ginete na mão. PARTICIPANTES No mínimo dois. ORGANIZAÇÃO Em roda ou livre. COMO BRINCAR E COREOGRAFIAS: As crianças cantam e se balançam como se estivessem montadas em cavalinhos, no ritmo da canção. Bela Roseira Parte I Na mão direita, tenho uma roseira Que dá flor na primavera. Ó bela roseira entrai na roda E abraçai a mais faceira Parte II Dolin, dolê Dolin, dolá Tocar viola Pra nós dançá(r) Parte III Eu não comprei, Mas eu vou comprar Sapatinho branco Para nós dançá(r) PARTICIPANTES No mínimo oito. ORGANIZAÇÃO Em roda simples, com quatro crianças fora da roda. COMO BRINCAR E COREOGRAFIA: De mãos dadas, as crianças giram em sentido horário. Quando cantam "Ó bela roseira", as quatro crianças que estão de fora entram na roda. Ao chegar ao verso "E abraçai a mais faceira", cada uma das quatro escolhe um par para que dancem o restante da canção em duplas, com pulos, avanços e recuos. Cai, cai, balão Cai, cai, balão Cai, cai, balão Aqui na minha mão Não cai, não Não cai, não

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11 Não cai, não Cai na rua do sabão PARTICIPANTES No mínimo dois. ORGANIZAÇÃO Em roda. COMO BRINCAR Ao longo da canção, as crianças permanecem em roda e fazem gestos seguindo a letra. O meu chapéu tem três pontas O meu chapéu tem três pontas Tem três pontas o meu chapéu. Se não tivesse três pontas, Não seria o meu chapéu PARTICIPANTES No mínimo dois. ORGANIZAÇÃO Em roda ou livre. COMO BRINCAR Enquanto cantam, as crianças apontam para a cabeça, em alusão ao chapéu, fazem o número três com os dedos e o sinal de negativo com o dedo indicador na última estrofe da cantiga. O pião entrou na roda O pião entrou na roda, o pião O pião entrou na roda, o pião Roda, pião; bambeia, pião Roda, pião; bambeia, pião Sapateia o dia inteiro, pião Sapateia o dia inteiro, pião Roda, pião; bambeia, pião Roda, pião; bambeia, pião E ajoelha o dia inteiro, pião E ajoelha o dia inteiro, pião Roda, pião; bambeia, pião Roda, pião; bambeia, pião E abana o dia inteiro, pião E abana o dia inteiro, pião Roda, pião; bambeia, pião Roda, pião; bambeia, pião PARTICIPANTES No mínimo três. ORGANIZAÇÃO Em roda, com uma criança de fora. COMO BRINCAR Assim que a cantiga inicia, a criança que está de fora entra no centro da roda. Em seguida, ela deve fazer os gestos apontados pelas estrofes da música, como rodar, abanar ou ajoelhar. Pesquisa com ritmos africanos Usando a “Copa do Mundo da África do Sul” como referência, uma atualidade já que a mesma “Copa do Mundo” somente se realiza de quatro em quatro anos, pode-se trazer a criança para o conhecimento das origens afro das culturas e tradições brasileiras. Explorando a habilidade dos pequenos para tocar instrumentos e dançar, leve-os a descobrir como as manifestações artísticas expressam a cultura.

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12 Dançar, batucar e cantar são formas de manifestação que fascinam desde que o homem é homem. Ao longo de pelo menos 130 mil anos da trajetória humana no planeta, combinações de gestos, ritmos e sons foram capazes de exprimir, a um só tempo, costumes, tradições e visões de mundo de incontáveis povos e grupos sociais. Em poucas palavras, tanto a música como a dança, transmitem cultura. É papel de o professor mostrar essa ligação - sem deixar de lado, claro, o aspecto lúdico que só não encanta "quem é ruim da cabeça ou doente do pé", como diz o histórico Samba de Minha Terra, de Dorival Caymmi.

ESPECIAL Conhecendo nossas raizes

As crianças, você sabe, encontram na brincadeira uma poderosa ferramenta de experimentação e conhecimento. Em geral, adoram música e dança. Era assim com os pequenos da pré-escola do CEI Santa Escolástica, na capital paulista. Atenta a essa empolgação, a professora Luciana do Nascimento Santos fez o óbvio: pôs a meninada para tocar, cantar e dançar. Mas foi além. Primeiro, estabeleceu um foco para sua atuação, explorando influências da cultura africana com o aprendizado de instrumentos como agogô, caxixi e alfaia e de danças como jongo, maracatu e coco. Em segundo lugar, encarou essas práticas como meios de pesquisa cultural, conduzindo a turma na descoberta da história da África e suas ligações com o Brasil.

Seicheles O maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da África é de um arquipélago que fica no Oceano Índico, a nordeste de Madagascar: a República de Seicheles. O país está em 50o lugar no ranking da Organização das Nações Unidas (ONU) de 2008, com um IDH de 0,843. O Relatório de Desenvolvimento Humano da ONU traz indicadores para 175 países que fazem parte do organismo internacional, mais Palestina e Hong Kong. O Brasil é apenas o 70o, com um índice de 0,800. O primeiro lugar, Islândia, tem 0,968 e o último, o país africano de Serra Leoa, apenas 0,336. O arquipélago de Seicheles já foi disputado por Inglaterra e França e tornou-se colônia britânica em 1814. A independência aconteceu em 1976. A língua oficial continua sendo o inglês, apesar de a maior parte da população falar o creole. Um fator que explica o desenvolvimento do país é seu tamanho reduzido – segundo dados do relatório The World Factbook, produzido pela agência americana CIA, a população estimada em 2009 é de apenas 87 mil pessoas. A expectativa de vida ao nascer é de 73,02 anos (no Brasil, ela é 72 anos), e 91,8% dos maiores de 15 anos sabem ler e escrever (contra 88,6 no nosso país). Seicheles tem desenvolvimento considerado elevado segundo a classificação da ONU. O PIB é pequeno, 1,473 bilhões de dólares em 2008, mas o PIB per capita é de 17 mil dólares, o 71o melhor do mundo. Como comparação, a nação brasileira tem um PIB de 1.99 trilhões de dólares, mas o PIB per capita é de 10.000 dólares. A maior parte dos ganhos do país vêm do setor de turismo, que emprega 30% da força de trabalho. A pesca de atum também é muito forte em Seicheles.

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Maurícia Também entre os países de desenvolvimento elevado está a República de Maurícia ou Ilhas Maurício, com IDH de 0,804 e 65o no ranking da ONU. O país foi explorado pelos portugueses no século 16 e depois passou pelo controle de holandeses, franceses e ingleses. O nome da ilha é uma homenagem ao príncipe holandês Maurício de Orange-Nassau. A independência aconteceu apenas em 1968 e hoje o inglês continua sendo a língua oficial, mas é falado por apenas 1% da população. O idioma corrente é o creole. Segundo dados da CIA, a população de Maurícia é de 1,2 milhões de pessoas, com expectativa de vida ao nascer de 74 anos. Entre os maiores de 15 anos, 88,4% sabem ler e escrever. A base da economia são a indústria têxtil e a da cana de açúcar. Em 2008, o PIB foi de 15,36 bilhões de dólares, 12.100 dólares per capita.

Tunísia No 91o lugar do ranking da ONU está a República da Tunísia, com um IDH de 0,766. Até 1956, o país era um protetorado francês. Desde então, está na mão de ditadores – o primeiro presidente, Habib Bourguiba, ficou no poder por 31 anos e foi deposto em um golpe militar por Zine el Abidine Ben Ali, que controla o país até hoje. Segundo dados da CIA, a população atual da Tunísia está em cerca de 10 milhões de pessoas, que usam o árabe como idioma oficial. A expectativa de vida ao nasceré de 75,78 anos e 74,3% da população maior de 15 anos é letrada. A economia da Tunísia é bem diversificada, com destaque para o setor agrícola, de mineração, turismo e indústria. Em 2008, o PIB da Tunísia foi de 81 bilhões de dólares, o 73o maior do mundo, mas o PIB per capita ficou em 7.900 dólares. Pela classificação da ONU, está entre os países de desenvolvimento médio.

Cabo Verde A ex-colônia portuguesa é o quarto país africano com o maior IDH no continente, 0,736, no 102o lugar na comparação mundial, dentro da categoria de desenvolvimento médio. A República de Cabo Verde só se tornou independente em 1975 e, segundo a CIA, até hoje é um dos governos mais democráticos da África. Porém, as sucessivas crises econômicas e as altas taxas de desemprego na segunda metade do século 20 fizeram com que grande parte da população emigrasse para a Europa, os Estados Unidos e outros países da África. Segundo dados oficiais do governo de Cabo Verde, hoje a população de cabo-verdianos de 1ª geração residentes fora do país é de cerca de 500 mil pessoas, maior do que a população nacional, que é de 430 mil. No país, fala-se português e crioulo (uma língua que mistura português e dialetos africanos) e, pelos dados da CIA, 76,6% da população maior de 15 anos é alfabetizada. A expectativa de vida ao nascer é de 71,61 anos. O PIB do país em 2008 foi de 1,635 bilhões de dólares e o PIB per capita ficou em 3.800 dólares. Cerca de 75% do PIB vem do setor de serviços, incluindo comércio, transportes, turismo e serviços públicos.

Argélia No ranking da ONU, a República da Argélia é o país com o 104o maior IDH do mundo: 0,733. Apesar de

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14 ser a quinta nação com o melhor índice no continente africano, ela tem uma história conturbada. Em 1962, o país se tornou independente da França depois de uma década de luta. Desde então, o partido Frente de Libertação Nacional (FLN) domina a política do país. Porém, a oposição do partido extremista Frente Islâmica de Salvação (FIS) causou conflitos intensos entre 1992 e 1998, e, como conseqüência, houve mais de 100 mil mortes. Apesar do FIS ter sido dissolvido, até hoje grupos islâmicos continuam provocando ataques, sequestros e até explosões de bomba. Atualmente, a economia do país é baseada em petróleo e a Argélia tem um PIB de 235 bilhões de dólares, o 49o maior do mundo. Só que o PIB per capita é de 7 mil dólares. A população é de 34 milhões de pessoas, com expectativa de vida ao nascer de 74,02 anos. A taxa de alfabetização entre os maiores de 15 anos está em 69,9%.

O resultado desse trabalho rendeu à professora o troféu de Educadora Nota 10

do Prêmio Victor Civita. "Além disso, Luciana colheu os frutos de ter apostado na capacidade artística da

meninada. Nunca vi crianças daquela idade dançando e tocando tão bem."

Ensino Fundamental Música será conteúdo obrigatório na Educação Básica A partir de 2012, todas as escolas devem incluir o ensino de Música em seus currículos. Alunos descobrem música de qualidade

Em uma audição inesquecível, uma turma de 2ª série começa a adquirir o senso crítico

capaz de afastá-la do lixo cultural a que é submetida diariamente.

Durante três meses, no segundo semestre de 2005, alunos de 2ª série de uma escola de São Paulo viveram uma situação rara na Educação pública brasileira, experiência que os marcará para o resto da vida. Eles tiveram aulas regulares de música. A iniciativa merece ainda mais destaque por se tratar de um grupo de estudantes da EMEF Professora Maria Berenice dos Santos, no extremo sul da cidade, região em que o acesso aos meios culturais se restringe ao rádio e à TV. "Eram crianças com um repertório limitado ao que é oferecido pela mídia de massa. Não conheciam cantigas populares e muito menos a música erudita", conta a professora Daniela da Costa Neves, 25 anos, autora do projeto com o qual foi eleita Educadora Nota 10 no Prêmio Victor Civita 2006. Ao longo das atividades, as crianças aprenderam conceitos básicos de apreciação musical, como o reconhecimento de instrumentos e respectivos timbres, notas e suas alturas (mais graves, mais agudas), rítmica e formas básicas de composição. O desfecho do projeto foi uma inesquecível visita à Sala São Paulo, uma das principais casas de concerto do mundo. Nesse dia, as crianças acompanharam uma apresentação didática de seis obras executadas pela Orquestra Sinfônica de Santo André (antes ou depois de reger a música, o maestro dá explicações, mostra instrumentos, conta rápidas histórias sobre o compositor ou a obra, pede que cada músico toque seu instrumento para as crianças identificarem o som). Para "tocar" as atividades desenvolvidas anteriormente em sala de aula, Daniela valeu-se da formação que tem em Educação Artística com habilitação em Música. "Mas tudo o que fiz pode ser feito também por professores ou voluntários leigos no assunto", assegura ela. "O diferencial do projeto da Daniela é o planejamento", atesta Marisa Szpigel, formadora de professores de Arte e selecionadora do Prêmio Victor Civita em 2006. "Ela se preparou para cada ação e estabeleceu objetivos claros e compartilhados com os alunos. Eles sabiam, desde o início, aonde iriam chegar."

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15 A base do trabalho foi o programa mantido pela Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), que tem por missão formar público ouvinte de música erudita (e professores do Ensino Fundamental para a Educação Musical). Daniela realizou todas as atividades propostas pela Osesp e subiu um degrau a mais. Ela explorou conceitos de composição, realizou atividades sobre ritmo baseadas num trabalho de percussão corporal e de instrumentos de sucata e levou para a classe canções populares de mestres da MPB. "Meus alunos dificilmente terão a oportunidade de seguir uma carreira musical nem terão acesso a instrumentos e cursos, pois vivem numa região onde esse tipo de alimento cultural não é prioridade. Mas plantei uma semente em cada um deles", conta Daniela. Ressalva: Os diretores, educadores e voluntários da Associação Cultural, Educação, Meio Ambiente e desenvolvimento Sustentável do Cone Leste Paulista “Formiguinhas do Vale” não compartilha desta afirmativa por compreender que as possibilidades quem as tem que dar somos nós. O programa de Educação Musical foi dividido em dez atividades, distribuídas em 13 aulas, que tinham duração de uma hora e meia. As tarefas intercalaram momentos de apreciação de diversas obras, produção musical, leitura de textos, escrita de relatos e confecção de desenhos. Os sons e o cérebro

Saiba como a música pode ajudar os alunos a sentir, a expressar e a pensar as manifestações sonoras, tão presentes no cotidiano e sempre em transformação.

Antes mesmo de nascer, o bebê já é capaz de escutar. A partir do quinto mês de gestação, ele ouve as batidas do coração da mãe (além de todos os outros barulhos do organismo) e, reconhece a voz dela. Reage a esses estímulos, virando a cabeça, chutando ou mexendo os braços, além de ficar com o coração batendo mais rápido. O bebê nasce, cresce, torna se adulto e os sons continuam a provocar essas e outras reações mais sofisticadas: eles evocam memórias e pensamentos, comunicam, provocam sensações, emocionam e movimentam. Desde os tempos mais remotos, o homem percebeu todo esse potencial. Usando os materiais que tinha à disposição (pedras, ossos, madeiras, o próprio corpo e a voz), ele foi combinando sons e silêncios das mais diversas maneiras. Assim surgiu a música. Em sua origem, ela era usada para venerar a natureza e os deuses e para conectar o ser humano com forças maiores, envolvendo realidade, magia e crenças. Até hoje ela é responsável pela criação dos mais diferentes sentidos e significados. Mas por que a música mexe tanto com o ser humano? O som é uma vibração que se propaga no ar, formando ondas sonoras que são captadas por nosso sistema auditivo. Depois de transformadas em impulsos elétricos, elas viajam pelos neurônios até o cérebro, onde são interpretadas. Lá, elas chegam, primeiro a uma região onde são processadas as emoções e os sentimentos, antes de serem percebidas pelos centros envolvidos com a razão. E, quando isso acontece, ocorre a liberação de neurotransmissores responsáveis por deixar os circuitos cerebrais mais rápidos. Por isso, o pesquisador americano Howard Gardner, autor da teoria das inteligências múltiplas, afirma que a habilidade musical é tão importante quanto a lógico matemática e a lingüística por auxiliar outros tipos de raciocínio. Pesquisas na área de neurociências comprovam que a memória, a imaginação, a comunicação verbal e corporal ficam mais aguçadas nas pessoas que escutam, estudam e praticam música. A música é uma das linguagens que o aluno precisa conhecer, mas não somente por essas características.

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16 A maior razão é ele poder aprender a sentir, a expressar e a pensar as manifestações sonoras, tão presentes no cotidiano e sempre em constante transformação. As imagens de instrumentos e os diversos ritmos e notações musicais podem ser relacionados com outras manifestações culturais, como a dança e o teatro, e permitem uma análise global da evolução do pensamento humano e suas manifestações. Educação Infantil Na creche e na pré-escola, a criança precisa ser orientada a: • Produzir sons com a voz, o corpo, o entorno e com materiais diversos. • Organizar sons e silêncios em linguagem musical. • Interpretar músicas e canções de diversas culturas e épocas. • Participar de jogos e brincadeiras musicais. Ensino Fundamental O aluno de 1ª a 8ª série precisa aprender a: • Ter contato com a linguagem musical. • Utilizar e elaborar notações musicais, convencionais ou não. • Experimentar, selecionar e utilizar instrumentos, materiais sonoros, equipamentos e tecnologias disponíveis. • Traduzir realidades interiores e emocionais por meio da música. • Improvisar e criar peças musicais, utilizando os elementos dessa linguagem (som, duração, timbre, textura, dinâmica, forma etc.). • Criar instrumentos com diversos materiais sonoros, assim como usar o canto e o corpo para produzir sons. • Combinar a criação musical com outras linguagens (trilha sonora para cinema, publicidade e jogos eletrônicos, para dançar e para celebrar). • Conhecer a riqueza e profusão de ritmos do Brasil e do mundo em diversas épocas. • Incentivar as crianças e os jovens a participar ativamente como ouvintes, intérpretes, compositores e improvisadores, dentro e fora da sala de aula, em shows, festivais e demais eventos musicais promovidos pela comunidade. • Interpretar e apreciar músicas de seu ambiente cultural, especialmente nacionais. • Saber analisar os usos e as funções da música no cotidiano. Pesquisar e discutir a origem e a transformação dos diferentes estilos musicais, principalmente da música brasileira. Amplie o repertório musical da turma Depois de um levantamento sobre conceitos de música feito com os alunos, a professora percebeu que havia necessidade de ampliar o repertório da turma. Áudrea promoveu então atividades de apreciação de música contemporânea, selecionando obras acústicas, eletrônicas e aleatórias (gênero em que parte das decisões de criação são destinadas à procedimentos de acaso). Os alunos debateram sobre a estrutura dessas músicas e discutiram a presença de elementos sonoros experimentais, como ruídos, sons captados do ambiente e manipulações eletrônicas. Em seguida, Áudrea levou esse conhecimento para a prática, propondo aos alunos que compusessem músicas utilizando textos, instrumentos musicais e procedimentos de acaso (ou aleatórios) para a criação.

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17 Em grupos, com instrumentos em mãos e os conceitos na cabeça, cada estudante criou seu repertório de sons aleatórios. Sorteios definiram as repetições e a ordem de aparição de cada um deles na composição final. Para expandir o processo de criação e edição sonora, a professora ensinou a turma a usar um software gratuito de edição de áudio. Com a gravação de sons tocados nos instrumentos ou captados do ambiente, eles passaram a editar e a criar uma música eletroacústica, dessa vez em duplas. Ensino Médio A música dos 'mano' Nesse plano de aula, os alunos conhecem as origens e a filosofia do movimento Hip Hop, além de comparar os aspectos socioculturais ligados à produção do rap na China, no Brasil e nos Estados Unidos Neste tempo é hora de se apresentarem as musicas de raiz brasileiras, levar o aluno a fazer comparativos e porque não a tentar colocar nas letras os ritmos de sua preferência. Esta é uma forma lúdica de despertar o interesse por nossas culturas e tradições vistas sob o ponto de vista de cada comunidade ou de cada aluno. Ruído é Música? Analise com a turma o funcionamento da audição humana e discuta as características físicas que nos permitem distinguir sons. Conteúdos Ondas sonoras e mecanismo da audição Habilidades Analisar o funcionamento da audição humana e discutir as características físicas que nos permitem distinguir sons Tempo sugerido Três aulas A proposta SaciArte apresenta um valioso trabalho sobre este item. Mas muito mais abrangente e proveitosa pode ser uma discussão nas aulas de Física sobre os mecanismos envolvidos na percepção dos sons e no reconhecimento e diferenciação de parte deles como o que chamamos de sons musicais. Em Biologia, por outro lado, é possível aproveitar o tema para propor uma análise comparada sumária do provável papel da audição (a detecção pelos seres vivos de ondas mecânicas no ar, na água ou no solo) na evolução das espécies. Atividades 1ª aula: Física - Após a leitura do texto, converse com a garotada a respeito dos fenômenos interativos dos seres vivos com o meio em que se encontram. Para começar, assinale que, quando um evento ocorre, há necessariamente a mudança de estado físico de algum sistema (sempre um subsistema do universo). Pode ser a queda de uma pedra, o choque entre dois elétrons ou a explosão de uma estrela. Qualquer alteração ocasiona uma sequência de outros eventos menores, devido à Segunda Lei da Termodinâmica, que podem ser detectados em espaços e tempos distintos e – alguns deles - interpretados e estudados como ondas.

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18 Ressalte os três tipos básicos de interações possíveis entre quaisquer porções do Universo: gravitacional, eletrofraca e eletroforte. Os seres vivos são sistemas que se caracterizam pela grande interação com o meio, principalmente em seus entornos. A chamada percepção nada mais é do que a recepção e interpretação de informações mediante interações físicas dos indivíduos com aquilo que os cerca. Não se conhecem nos seres vivos mecanismos capazes de interpretar interações gravitacionais e eletrofortes. Apenas parte das interações eletrofracas, as eletromagnéticas, são utilizadas pelas espécies de todos os reinos, dos vírus às onças. Os sentidos humanos, como paladar, olfato, audição, visão e tato, são fruto de sofisticados usos de ações eletromagnéticas recíprocas que ocorrem nos órgãos dos sentidos. Do ponto de vista estritamente físico, a interação eletromagnética, e mais especificamente a interação elétrica, é a única de que dispomos, assim como os demais viventes do planeta. 2ª aula: Escalas e Notas musicais – Explique à garotada que a escala tonal temperada (tom, tom, semitom, tom, tom, tom, semitom) é fruto das dimensões físicas e da sensibilidade diferenciada das fibras da membrana basilar. Experimentos mostram que alguns conjuntos de neurônios especializados, quando excitados por uma certa frequência pura (onda senoidal), são os mesmos estimulados por sons cujas frequências são sua metade ou seu dobro. Assim, sons de 220, 440, 880 ou 1760 hertz são identificados num mesmo grupo do cérebro. Daí surgem as notas musicais conhecidas: dó, ré, mi, fá, sol, lá e si; estes são os nomes que damos à sequência de sons que mantêm entre si razões próximas às formadas com números inteiros pequenos. Distribua a tabela “Escala Tonal Temperada” para a classe e comente, em seguida, que na escala temperada, usada atualmente, entre duas notas de mesmo nome - por exemplo entre dois dós - temos uma seqüência de 12 sons distintos, de modo que a razão entre dois sons sucessivos é constante (21/12, ou, aproximadamente 1,059463). Essa divisão exata em 12 semitons é fruto do fato de 27/12 ser muito próximo de 3/2, uma razão simples, com números inteiros pequenos. Nenhuma outra configuração, com 10, 13 ou 15 semitons se aproximaria tanto de uma razão simples. Como a diferença entre as razões das frequências dos semitons e das razões simples (27/12 e 3/2, por exemplo) está abaixo da percepção da audição humana, em qualquer faixa de frequência, a escala temperada é possível e consequente. As consonâncias e dissonâncias musicais também têm origem na conformação física da membrana basilar e nas razões entre as frequências das notas musicais. De modo geral, os sons compostos que podem ser interpretados pela orelha humana são consoantes e os demais são dissonantes. Após essas explicações, distribua o quadro “Mecanismo de Audição” para os alunos. No esquema, eles vão perceber que o ouvido é um complexo transdutor seletivo de ondas sonoras. Além de detectar o som, ele o identifica, em intensidade (amplitude ou volume), frequência (altura) e qualidade (timbre), permitindo a distinção dos harmônicos – múltiplos da frequência principal - que o compõem. Essas ondas mecânicas de pressão são transformadas, no final do processo, em impulsos elétricos nos neurônios cerebrais. Além dos processos físicos e fisiológicos do ouvido humano, há também processos cerebrais que atuam na percepção dos sons. Assim, o cérebro dispõe de mecanismos para “filtrar” frequências indesejáveis ou para ignorar sons repetitivos e ruídos. O tic-tac constante dos relógios mais antigos incomoda quando esse tipo de filtro “cerebral” falha. Por isso, há momentos em que nem percebemos o tic-tac e dormimos normalmente. O gotejar de uma torneira ou o barulho de ondas do mar quebrando na praia também são fenômenos comuns nos quais esses mecanismos de audição “cerebral” entram em ação. Ao longo do século passado, o homem usou ruídos dos mais variados em composições musicais, mesmo em eruditas. Canhões, máquinas de escrever, torneiras jorrando água, sintetizadores e sampleadores “participam” de composições para criar efeitos e ambientações sonoras. Nesse contexto, o ruído, por definição um som complexo caótico, não musical, se torna um elemento essencial da música.

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19 O que a moçada acha: ruído, afinal, pode ser também música?

Comente que a nossa audição, muito provavelmente, desenvolveu-se de modo a detectar os sons mais frequentes e de maior importância para nossa sobrevivência: os gerados pelas cordas vocais humanas, os dos principais predadores e presas etc. A possibilidade de comunicação pela emissão e recepção de sons certamente foi explorada ao extremo no desenvolvimento evolutivo, por todas as espécies animais. O choro de um bebê com frio ou fome, o grito de horror de uma fêmea sendo atacada por uma onça ou o urro de júbilo de um macho adulto ao vencer um oponente são expressões sonoras não exclusivas dos humanos. Os sons sempre tiveram e continuam tendo papel fundamental não apenas na interpretação simples de nosso entorno, mas principalmente na comunicação. Diferentes sonoridades remetem a distintos sentimentos. O que chamamos de música tampouco é um fenômeno exclusivo da espécie humana. Baleias, golfinhos, pássaros, macacos e outros executam sequências sonoras rítmicas, definidas e repetitivas. Ressalte, então, que a música humana é um fenômeno estritamente físico, intrínseca e finamente definido pela conformação anatômica e fisiológica do ouvido e da audição humanos. Para finalizar, revele uma constatação emergente de alguns experimentos com recém- nascidos: quando expostos a sons dissonantes, eles assumem expressões faciais de tensão, afastam-se da fonte sonora. Ao contrário, no caso de sons consoantes, eles se aproximam da fonte e sorriem.

Bebês, obviamente, não são submetidos a estudos de teoria musical ocidental e, portanto, não agem por condicionamento auditivo cultural ou comportamental. Fazem

isso porque reproduzem um comportamento transmitido por nossos ancestrais.

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A audição humana se processa basicamente na seguinte sequência de eventos: 1. Ondas de pressão atingem as orelhas, inicialmente na orelha externa (aurículo e canal auditivo externo) e também, diretamente, o tímpano (membrana timpânica), já na orelha média. 2. A vibração do tímpano é transmitida aos três ossículos: martelo, bigorna e estribo. Ali, a amplitude é diminuída e a pressão aumentada dezenas de vezes, mantendo a frequência das oscilações. O martelo é ligado mecanicamente ao tímpano. 3. O estribo é conectado mecanicamente à membrana da janela oval, atrás da qual há o líquido coclear, já no ouvido interno. As vibrações mecânicas são transmitidas a esse líquido, amplificadas em pressão e atenuadas em amplitude cerca de 42 vezes. 4. As ondas de pressão no líquido coclear chegam à membrana basilar e ao órgão de Corti, onde células nervosas ciliares especializadas são estimuladas e geram impulsos elétricos que são enviados através do nervo auditivo para o cérebro. A membrana basilar contém uma sequência de fibras transversais que oscilam diferencialmente à excitação por diferentes frequências das ondas de pressão no líquido coclear. 5. O cérebro processa e interpreta as informações associando-as e classificando-as. A Música e a cidade

Saiba como trabalhar com figuras e cenários urbanos em letras de canções e como avaliar o trabalho de cronista dos compositores.

Introdução Por meio de histórias e personagens curiosos recrie na sala de aula eventos de sua cidade ou de sua comunidade, bem como algumas composições de artistas locais ou regionais e suas referências a fatos ou até mesmo a costumizações de sua cidade, comunidade ou região. Preparação da aula Providencie cópias dos trechos das composições e distribua aos estudantes. Se possível, leve para a classe os CDs dessas composições. Faça uma revisão das características da crônica como gênero literário. Ressalte o olhar com que um bom cronista contempla a realidade, sua capacidade de captar os detalhes sugestivos no que é aparentemente banal e insípido e a surpresa lírica na qual resulta o produto final.

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21 Fale sobre o estilo e a capacidade de traduzir em peças coloquiais e líricas os chamados flagrantes do cotidiano. Lembre à garotada que o espaço urbano é um palco privilegiado para essa atividade, pois nele convivem indivíduos de todos os tipos e graus de cultura. Um exemplo: São Paulo, São Paulo Premeditando o Breque, do CD Quase Lindo É sempre lindo andar na cidade de São Paulo O clima engana, a vida é grana em São Paulo A japonesa loura, a nordestina moura de São Paulo Gatinhas punks, um jeito yankee de São Paulo Na grande cidade me realizar morando num BNH Na periferia a fábrica escurece o dia Não vá se incomodar com a fauna urbana de São Paulo Atividades Peça que os alunos citem canções que têm como tema as cidades e seus moradores. É provável que mencionem trabalhos como Eduardo e Mônica, da Legião Urbana; Domingo no Parque, de Gilberto Gil; e São Paulo, São Paulo, do Premeditando o Breque. Informe que em outros momentos da história da MPB surgiram obras-primas assinadas por Adoniran Barbosa, Noel Rosa, Paulo Vanzolini e Chico Buarque, entre outros. Para debater Destaque para os adolescentes as seguintes expressões:: 1 - cronista musical, 2 - atmosfera da cidade, 3 - capacidade de reunir os tipos humanos mais pitorescos, 4 - histórias e personagens curiosos. Conduza uma discussão que relacione esses conceitos com aas letras de algumas dessas compoições de artistas nacionais. Proponha que a turma procure na internet as letras das canções cujos títulos você priorizou, no início da aula. Oriente-os a realizar a compreensão e discussão da canção e destaque o olhar dos autores sobre as paisagens urbanas. Há ironia, simpatia, crítica ou bem-querer nessa visão? Ajude os jovens a listar os detalhes selecionados pelos letristas para caracterizar os personagens e o universo em que se movimentam. Esclareça que o brilho dessas crônicas está na capacidade de sugerir a alma das cidades e de seus moradores. Trace um paralelo entre as diversas canções.

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Uma polca bem temperada Peça que os alunos analisem o maxixe, a primeira música genuinamente brasileira, e seu

impacto na sociedade.

Conteúdo Maxixe Habilidade Analisar a primeira música genuinamente brasileira e seu impacto na sociedade Tempo estimado Duas aulas Tudo começou quando Porfírio passeava pela Rua da Imperatriz numa noite. Viu Glória a polcar e, ao lado de outros curiosos na calçada, assistia atento à cena emoldurada pela janela de uma casa em que se dançava. Com “olhos de sátiro, acompanhou-a em seus movimentos lépidos, graciosos, sensuais, mistura de cisne e de cabrita. (...) No dia seguinte, acordou resoluto a namorá-la e desposá-la.” Carne e espírito se fundindo no signo da dança, despertando desejo e sublimando as dificuldades, sobretudo financeiras, do dia-a-dia. -É este o início do conto Terpsícore, escrito por Machado de Assis. Difícil imaginar como uma polca poderia inspirar desejos ardentes no pobre Porfírio. A dança européia, mesmo que de pares enlaçados, seria polida demais para despertar tais efeitos. Mas a polca a que Machado se referia era na realidade o maxixe, considerado por alguns como o primeiro gênero musical genuinamente brasileiro.

Herdeiro do tango espanhol, da havaneira cubana e da polca européia, aliou-se à síncope afro-lusitana e produziu um gênero suficientemente lascivo – especialmente na dança – para enrubescer

moças de família e ter seu nome evitado entre o público distinto.

Não era, certamente, o caso de Machado de Assis, que ironizou a hipocrisia renitente da sociedade brasileira diante do maxixe no conhecido conto Um Homem Célebre. Através de Terpsícore, não é difícil imaginar o clima instaurado em um pagode (leia-se “festa”) no fim do século XIX no Rio de Janeiro. A elegância da dança, associada ao requebro dos quadris de Glória permite-nos imaginar o ritmo sincopado, o suor dos corpos, a lugubridade, a alegria e sua habilidade nos volteios. Talvez muitos esquecessem os músicos espalhados pelo cômodo da casa, responsáveis, em grande parte, por todas essas sensações, já que ainda não existiam formas mecânicas de reprodução ou gravação de sons. De qualquer maneira, é durante a dança ao som do ritmo amaxixado que marido e mulher se esquecem das dívidas, pois “contas, aluguéis atrasados, nada [vinha] ali dançar com eles.” A arte, seja por meio da música, da dança ou da literatura, revela ao historiador, de maneira agradavelmente condensada, todos os desvãos da história, as palavras não ditas e não escritas, os gestos escondidos, os pensamentos não autorizados. No conto de Machado estão as mazelas sociais, o lugar do feminino no fim do século, o dia-a-dia, os costumes, a maneira pela qual a cultura considerada “erudita” transita para os setores populares e como ela é lida e reelaborada nos cortiços e favelas.

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23 Se a literatura já se tornou aliada dos historiadores na pesquisa acadêmica e na sala de aula, a música ainda encontra empecilhos técnicos e teóricos para atingir as escolas de nível básico e médio. Para o primeiro problema, a internet e a possibilidade de gravar e reproduzir músicas em MP3 já é um passo considerável para a escuta atenta e análise de músicas em sala de aula. Para o segundo, por maiores que sejam as dificuldades, basta lembrar aos alunos que a audição é o único dos nossos sentidos que não conseguimos controlar. Somos obrigados a ouvir. Atividades 1ª aula – Clara Sverner ajudou a resgatar a música brasileira do século XIX, período de ouro do maxixe. Descreva: Conhecendo Clara Sverner

Ser mulher e artista nos século XIX era praticamente inconciliável. Mas Francisca Edwiges Neves Gonzaga, nascida no Rio em 17 de outubro de 1847, nunca se deu por vencida. Viveu muito, 87

anos, deixando um legado de aproximadamente 300 composições e contribuindo para a formação do que é, hoje, a música popular brasileira. Foi a primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil

e participou dos movimentos abolicionista e republicano, que mudaram os rumos do país. Foi defensora dos direitos autorais dos compositores, sendo uma das fundadoras da SBAT (Sociedade

Brasileira de Autores Teatrais).

Aos 11 anos, compôs sua primeira música para uma festa de Natal. Cinco anos depois, casou, por pressão da família - o pai, José Basileu Gonzaga, era militar, e a mãe, Maria Rosa, era filha de uma escrava alforriada - com Jacinto Ribeiro do Amaral, rico proprietário de terras.

Não foi possível conciliar o casamento com o piano, pois o marido tinha ciúmes de sua dedicação à música. Entre 1863 e 1868, após ter três filhos, João Gualberto, Maria do Patrocínio e Hilário, abandonou o casamento que a prendia. Enfrentou a família e a sociedade. Pai e mãe a declararam "morta". Levando consigo só o filho mais velho, deixou Maria com os avós, e Hilário com tios do ex-marido.

Sem a pressão familiar, passou a conhecer os músicos populares do Rio da época imperial. O compositor e flautista Joaquim Antônio da Silva Callado, um dos precursores do choro no Brasil, virou seu amigo e parceiro na música. A polca "Querida por Todos" foi dedicada por ele a Chiquinha. As aulas particulares de piano garantiam, com muita dificuldade, o sustento dela e do filho.

Nessa época, se apaixonou pelo engenheiro João Batista de Carvalho Jr., com quem foi morar na Serra da Mantiqueira, em Minas Gerais, aproveitando para fugir da hostilidade com que era tratada pela sociedade, por ter abandonado o marido. Voltou ao Rio em 1875 e, em 1876, teve sua quarta filha, Alice. Por causa das traições de João Batista, ela o abandonou, deixando também a filha.

A partir daí, decidiu embarcar de vez no ambiente musical do Rio. Com seu piano, entrou para o grupo "Choro Carioca", do amigo Callado. Juntamente com o maxixe, o choro é apontando por estudiosos como início da nacionalização da música brasileira. O primeiro sucesso veio em 1877 com a polca "Atraente", tendo 15 edições publicadas. "Sultana", outra polca de sua autoria, também fez sucesso em 1878. O grupo de chorões, as aulas de piano, as edições de composições passaram a ser complementadas pelo trabalho de musicar peças para o teatro de revista.

Em 1885, apesar do preconceito de um espetáculo ser musicado e conduzido por uma mulher - duas tentativas suas já haviam sido rejeitadas -, passou atuar como maestrina na peça "A Corte na Roça", de Palhares Ribeiro. Um artigo da época declarou: "Verdadeiro primor de graça, elegância e frescura - uma

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24 composição dessa ordem faria a reputação de um compositor em qualquer país que se apresentasse". Apelidada de Offenbach de saias (um referência ao alemão Jacques Offenbach, precursor do teatro musical moderno), ganhou popularidade e respeito no meio artístico e na sociedade carioca.

"A Corte na Roça" foi apenas a primeira de quase 80 produções para o teatro musicado. Nessa mesma época, liderou uma campanha para revitalizar o violão e promoveu reuniões com os violinistas da cidade, culminando com um concerto para 100 violões, promovido por ela no Teatro São Pedro.. Seu choro "Sabiá na Mata" foi composto especialmente para o evento.

Já morando no bairro do Andaraí, onde saía o cordão Rosa de Ouro, recebeu a proposta dos organizadores do grupo para compor um hino que seria cantado no Carnaval. Em 1899, nasceu "Ó Abre Alas", primeira marchinha de Carnaval, cantada até hoje nas festas carnavalescas de todo o País. A autora do livro "Chiquinha Gonzaga", Edinha Diniz, comenta o que "Ó Abre Alas" significa: "a primeira música feita especialmente para a festa, o que não apenas cria um estilo (a marcha rancho), mas também dá origem a uma tradição que se estende por mais de um século". Neste mesmo ano, conheceu aquele que viria a ser seu terceiro e último marido, o português João Batista Fernandes Lage. Devido à diferença de idade - ele era 36 anos mais novo - Chiquinha o apresentava como filho.

Em 1912, a peça "Forrobodó" foi musicada pela maestrina, se transformando em sucesso do teatro de revista. As primeiras gravações de suas composições também datam desse período, com o grupo que levava seu nome.. "Atraente" foi a primeira música gravada. "Chiquinha Gonzaga foi a primeira grande compositora que o Brasil produziu. Sua atividade era extraordinária em todos os setores", afirma Ricardo Cravo Albin, estudioso da MPB.

Outros sucessos vieram no início do século XX, como o tango "Gaúcho" (que ficou conhecido como "Corta-Jaca"). Este foi motivo de polêmica no Rio de janeiro em 1914. A música foi executada pela primeira-dama Nair de Tefé, esposa do presidente Hermes da Fonseca, durante um sarau para a alta sociedade, no Palácio do Catete. O nome de Chiquinha Gonzaga virou tema de notícias de jornal, que criticavam a execução daquele tipo de música em meio às músicas eruditas e europeias. Na primeira década do novo século, ela fez viagens à Europa, passando por Portugal, Itália, Alemanha, França, Inglaterra, Espanha, Bélgica e Escócia. Em Portugal, também regeu orquestras no teatro musicado.

Contexto histórico

Neta de uma escrava alforriada, Chiquinha Gonzaga teve ativa participação no Movimento Abolicionista, que culminou com a libertação dos escravos no Brasil em 1888. Estava ao lado de nomes históricos do movimento, como Paula Nei, Lopes Trovão e José do Patrocínio.

Chiquinha se engajou também no Movimento Republicano, que lutava pela queda da monarquia. Fato conquistado em 1889. Mas logo se decepcionou com o novo governo. Em 1893, durante a Revolta da Armada, sua música "Aperte o Botão" foi considerada ofensiva pelo então presidente Floriano Peixoto. A partitura foi apreendida e ela chegou a receber ordem de prisão, que não se concretizou por ter pessoas influentes na família.

Outra de suas bandeiras foi a defesa dos direitos autorais, sendo uma das pioneiras nessa luta. Segundo o Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira, ela atentou para o problema quando viu suas composições serem reproduzidas na Europa com crédito de um estrangeiro, Fred Figner, que, na época, era proprietário da Casa Edison, no Rio. Fundou a SBAT (Sociedade Brasileira de Autores Teatrais) em 1917, entidade que frequentou até o fim da vida.

Curiosidades

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25 Guerra do Paraguai

Jacinto do Amaral, o primeiro marido de Chiquinha Gonzaga, tinha tantos ciúmes da esposa que a obrigou a viajar com ele em seu navio fretado para levar combatentes e armas à Guerra do Paraguai. Longe do piano, Chiquinha decidiu voltar com o filho mais velho e acabar com o casamento. "Pois, senhor meu marido, eu não entendo a vida sem harmonia", disse ao deixá-lo. A viagem também serviu para atiçar seu senso abolicionista. Ela protestava contra o tratamento dado aos negros que eram levados para combater. Estes eram mal tratados e participavam das operações mais perigosas.

Preconceito na música

A atuação de uma mulher na música era tão rejeitada pela sociedade da época que muitas pessoas não acreditavam que as composições de Chiquinha eram realmente feitas por ela. Mesmo declarada "morta" pelos pais, sua vida artística os incomodou pelo resto da vida. Não aceitavam o sobrenome Gonzaga sendo publicado como autor das músicas compostas pela filha.

Relacionamento em segredo

O último marido de Chiquinha passou assinar seu nome como João Gonzaga, pois era apresentado como filho para evitar reações do preconceituosas por causa da diferença de idade. Suas filhas Maria e Alice, que exigiam a ajuda financeira de Chiquinha, chegaram a chantageá-la por causa do relacionamento. Após a morte da compositora, João chegou a conseguir um registro de filho dela com o primeiro marido Jacinto, em 1939.

Polêmica no Palácio

Sobre a execução do "Corta-Jaca" no Palácio do Catete, o senador Rui Barbosa se pronunciou publicamente sobre o caso: "aqueles que deviam dar ao país o exemplo das boas maneiras mais distintas e dos costumes mais reservados elevaram o corta-jaca à altura de uma instituição social". A repercussão foi tamanha que o governo do presidente Hermes da Fonseca foi apelidado de "Corta-Jaca".

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MAXIXE – Apresentação do ritmo Para apresentar esse ritmo, comece com uma atividade de sensibilização dos alunos. Eles devem escolher músicas que estão acostumados a ouvir, selecionar as que mais gostam e falar, pensar ou escrever as sensações que elas provocam neles. Vale a pena trazer algumas delas para a sala de aula e escutar com a garotada. Em seguida, apresente uma gravação de polca européia. Peça que eles anotem ou abra um debate sobre o que sentiram. Coloque novamente um trecho da música e chame a atenção para os instrumentos que compõem a peça. Levante hipóteses sobre o espaço em que essa música era tocada e como era dançada. Ajude a turma a recriar mentalmente o local, os trajes, os gestos. Em seguida, apresente um maxixe, como o Corta Jaca, interpretado pelo Grupo Chiquinha Gonzaga. Lembre que a gravação de sons ainda possuía muitas limitações técnicas e que o que se ouve hoje não é o mesmo do que se ouvia “ao vivo” nas casas e ruas do Rio de Janeiro. Os jovens certamente notarão muitas diferenças entre um ritmo e outro, sobretudo se o maxixe for uma canção com letra. Chame atenção para a síncope, com a presença de ritmos africanos e latino-americanos.

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26 Ajude-os a perceber essa mistura de gêneros selecionando um trecho ou uma frase musical. Explique que o maxixe surgiu na década de 1870, no Rio de Janeiro, inicialmente como uma dança e, logo após, como um estilo musical. O maxixe representa um abrasileiramento da polca européia, que chegou aos salões cariocas em meados do século XIX, com ritmo do 2/4 em alegretto, substituindo o 3/4 típico das valsas. Esta adaptação da polca aos trópicos ocorreu a partir das tentativas dos músicos de choro em moldar o ritmo das polcas aos requebros de corpo com que negros, brancos e mestiços do Rio teimavam em complicar os passos típicos da dança de salão. Inicialmente interpretada nos pianos de requintados salões, a polca começou a se popularizar, passando a fazer parte do repertório dos chorões que, com seus violões, cavaquinhos, flautas e oficlides (um tipo de instrumento de sopro), criavam novas modulações e alternâncias rítmicas que, por fim, levaram ao maxixe. Imediatamente, o novo ritmo feriu as sensibilidades da elite conservadora, especialmente pela dança, considerada lasciva. Por esse motivo, muitos maxixes foram editados como tangos. Uma entusiasta do ritmo, Chiquinha Gonzaga, dizia claramente que chamava de tango os seus maxixes para não prejudicar a circulação de suas partituras nas casas de família. Conclua a aula solicitando, novamente, que eles recriem mentalmente o local, os trajes e os gestos, desta vez com relação ao maxixe. Sugira aos alunos que leiam a obra Terpsícore de Machado de Assis e, que depois apresentem um resumo do texto literário.. Aula 2 – Faça a verificação de leitura do conto de Machado e associe-o à música ouvida na aula anterior. Pergunte à turma em que sentido o conto ajudou a compreender melhor o ritmo ouvido. Por fim, encomende um texto individual em que os alunos reflitam sobre o prazer do brasileiro em dançar, particularmente passos sensuais. Se já no século XIX um ritmo nacional abalava a moral vigente, os jovens podem perceber que a lambada, a dança da garrafa e o funk, entre outras, não são propriamente uma grande novidade: apenas preservam uma tradição que diz muito sobre o espírito do nosso povo. À procura da batida perfeita

Estimule o estudo das modalidades musicais com o debate sobre o que significa uma produção artística de qualidade.

Conteúdo Estudo das modalidades e funções da música Habilidades Conhecer e argumentar sobre produções musicais com senso crítico fundamentado Tempo Uma aula Formiguinhas do Vale comemora o ressurgimento de uma “música brasileira de qualidade voltada para o público infantil”. A discussão sobre qualidade musical versos faixa etária é rica e com certeza vai envolver a turma que vive curtindo seu som favorito nos fones de ouvido.

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27 Prepare a classe... e som na caixa! Atividades Registre que o erudito Heitor Villa-Lobos (1887-1959) foi um dos pioneiros a se aventurar a fazer canções para tocar no quarto das crianças. Foi seguido, por artistas como Braguinha (1907-2006), Gilberto Gil e os irmãos Paulo Sérgio e Marcos Vale. Nos 80, o “céu” - Elis Regina, Milton Nascimento e Ney Matogrosso cantando composições de Vinícius de Morais – e o “inferno” – Xuxa, Balão Mágico e Trem da Alegria em ação. Em meados da década seguinte, a recuperação com o Palavra Cantada. Mostre exemplos dessas e de outras produções contemporâneas para os jovens e peça que anotem características. O ritmo é acelerado ou lento, apresenta variações? Que instrumentos são usados? As letras são longas ou curtas? Expressam algum sentimento, contam alguma história? E as rimas, como são? Há um refrão que se repete? Todas as características percebidas devem ser registradas. Não é o momento de falar de preferência pessoal. O gosto é um elemento fundamental na avaliação do que ouvimos, mas ele pode – e deve – ser desenvolvido desde cedo. O projeto SaciArte mostra que a forma de apreciar música já começa a se estruturar durante a gestação e que, entre os 4 e 10 anos, a criança prefere ritmos dançantes. Mas e depois? É fácil perceber que os adolescentes gostam de ouvir música, basta reparar na quantidade de jovens com fones de ouvido. O ritmo favorito varia de acordo com a moda e o meio cultural em que vivem. A preferência vai partir do grupo que o cerca para incluí-lo ou diferenciá-lo. Vale fazer uma rápida enquete na classe e destacar que uns sabem e o que os outros gostam de ouvir. Uma característica, no entanto, certamente os unirá: o volume alto. A neurocientista brasileira Suzana Herculano-Houzel relaciona o hábito adolescente de ouvir música alta à necessidade de confortar o sistema de recompensa do cérebro, que nessa fase passa por uma baixa sensibilidade. Diz ela: “A preferência de discotecas, raves e shows de rock por sons graves e quase ensurdecedores, parece ter sido feita de encomenda para fornecer estimulação vestibular”. Nada a ver com o temido exame de admissão à universidade. O órgão vestibular é uma estrutura vizinha à cóclea (que é a parte auditiva do ouvido). Em pesquisas recentes, foi descoberto que o órgão vestibular também possui função auditiva. O estímulo segue para o núcleo acumbens, órgão neurotransmissor que possui como função a estimulação cerebral, tendo associado a ele respostas motoras e controle de liberação de dopamina (ligada ao sistema de recompensa). A preferência por sons graves explica o sucesso do famoso “batidão” de músicas techno, reggae e funk. Mas essa peculiaridade do adolescente não passa somente por um gênero de música. Se o jovem gosta da obra de Beethoven, por exemplo, talvez sinta uma vontade irresistível de ouvir alguma de suas sinfonias no volume máximo. Retome as características apontadas pela garotada ao ouvir as músicas citadas anteriormente.

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28 A partir do levantamento e, agora sim, indague: dá para apontar quais músicas têm mais qualidade? Qual o critério para definir isso? Encerre o debate encomendando uma dissertação individual em que cada estudante avalie a obra de um(a) cantor(a) ou grupo que aprecie. O texto deve incluir observações sobre letra e música e refletir sobre a questão da “qualidade”. Posteriormente, faça um painel com o material para que todos possam analisar a opinião dos colegas.

Gestão (um exemplo) A história é conhecida: em agosto de 2008, o presidente Lula sancionou uma lei que torna obrigatório o ensino de Música na Educação Básica. Por enquanto, o que se sabe é que as redes têm até 2012 para se adaptar às exigências da norma. Sobre quase todo o resto, porém, paira uma atmosfera de indefinição. Haverá uma disciplina específica ou integrada ao currículo de Arte? A aula será teórica ou incluirá um componente prático? O professor polivalente poderá ensiná-la? Qual a formação mais adequada? Uma excelente fonte para refletir sobre essas dúvidas é a obra do inglês Keith Swanwick. Professor emérito do Instituto de Educação da Universidade de Londres e formado pela Royal Academy of Music, o mais aclamado conservatório musical da Grã-Bretanha, ele criou teorias sobre o desenvolvimento musical de crianças e adolescentes e investigou diferentes maneiras de ensinar o conteúdo. "Os interesses musicais dos alunos são muito variados: alguns gostam de ouvir, outros querem compor ou ainda cantar e tocar. O professor precisa dominar um leque de atividades para atender a essas demandas", defende. Swanwick já esteve no Brasil 15 vezes, a mais recente delas em novembro do ano passado, a convite da Associação Amigos do Projeto Guri, em São Paulo, para uma palestra sobre Educação musical. Após o evento, ele conversou com NOVA ESCOLA (revistaescola.abril.com.br) Em linhas gerais, o que é preciso para ensinar bem Música? KEITH SWANWICK O essencial é respeitar o estágio em que cada aluno se encontra. Tendo isso em mente, é preciso seguir três princípios. Primeiro, preocupar-se com a capacidade da criança de entender o que é proposto. Depois, observar o que ela traz de sua realidade, as coisas com que também pode contribuir. Por fim, tornar o ensino fluente, como se fosse uma conversa entre estudantes e professor. Isso se faz muito mais demonstrando os sons do que com o uso de notações musicais. Como um aluno aprende Música? SWANWICK Procurei responder a essa questão por meio de uma pesquisa com estudantes de Música ingleses com idades entre 3 e 14 anos. Aprendi que o desenvolvimento musical de cada indivíduo se dá numa sequência, dependendo das oportunidades de interação com os elementos da música, do ambiente musical que o cerca e de sua Educação. Com base nessas

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29 variáveis, posso dizer que o aprendizado musical guarda relação com a faixa etária. Cada uma corresponderia a um estágio de desenvolvimento. Quais as características de cada um desses estágios? SWANWICK O primeiro vai até mais ou menos os 4 anos. Sua marca principal são experimentações, com as crianças batendo coisas e explorando as possibilidades de produção de sons de cada instrumento. No segundo estágio, que vai dos 5 aos 9 anos, essa manipulação já funciona como uma forma de manifestação do pensamento, dando origem às primeiras composições, muito parecidas com as que os pequenos conhecem de tanto cantar, tocar e escutar. As criações se tornam mais variadas e surpreendentes a partir dos 10 anos, num movimento que chamo de especulativo. Em seguida, já no início da adolescência, as variações passam a respeitar os padrões de algum estilo específico, muitas vezes o pop ou o rock, "idiomas" em que é possível estabelecer conexões com outros jovens. Por fim, a partir dos 15 anos, é possível desenvolver um quarto estágio, que engloba os outros três, em que a música representa um valor importantíssimo para a vida do adolescente, marcado mais por uma relação emocional individual e menos por modismos passageiros ou algum tipo de consenso social. Que aspectos devem ser considerados no ensino de música nas escolas? SWANWICK O fundamental é que os conteúdos sejam trabalhados de maneira integrada. Nos anos 1970, resumi essa ideia na expressão inglesa clasp. Além de ser uma sigla, um dos sentidos dessa palavra em português é "agregar". Proponho que há três atividades principais na música, que são compor (a letra C, de composition), ouvir música (A, de audition) e tocar (P, de performance). Essas três atividades, que formam o CAP, devem ser entremeadas pelo estudo da história da música (L, de literature studies) e pela aquisição de habilidades (S, de skill aquisition). (No Brasil, esse processo ficou conhecido como TECLA: T de técnica, E de execução, C de composição, L de literatura e A de apreciação.) Qual a vantagem de trabalhar nessa perspectiva? SWANWICK Um ponto forte é considerar que todas essas coisas são importantes e que devem ser desenvolvidas em equilíbrio. A ideia do clasp também pode ser útil para o professor perceber se está gastando muito tempo, digamos, no L, descrevendo fatos históricos e desenhando instrumentos, por exemplo. Dar muito enfoque à história da música é uma forma simplificadora de achar que se está ensinando Música. Acontece que a história não é música - ela é sobre música. O mesmo excesso pode ocorrer com docentes que atuam na classe o tempo todo como intérpretes ou outros que apenas colocam CDs para a apreciação. É apropriado trabalhar com músicas que as crianças já conheçam? SWANWICK Sim, até para considerar o que cada criança traz de base. Mas o professor não pode se limitar ao repertório já conhecido. É preciso ampliá-lo. Para ficar em um exemplo típico do Brasil, posso dizer que é correto ensinar samba, mas é essencial explorar os diferentes tipos de samba e ir além desse ritmo, trazendo novas referências. Existem ritmos mais apropriados para cada uma das faixas etárias? SWANWICK Não. A variação de ritmos é importante para favorecer o desenvolvimento da turma. Também não diria que exista uma sequência mais adequada, do tipo "primeiro música clássica e depois popular". É claro que pode ser inadequado submeter a criança pequena ao

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30 rock pesado, por exemplo, porque ela não vai se identificar com esse tipo de som. Mas é interessante apresentar a ela alguns tipos de percussão. Na outra ponta, talvez os mais velhos não queiram se aproximar de canções de ninar porque elas não fazem mais parte de seu universo. De qualquer forma, um bom conselho é evitar rotular os estilos musicais, pois esse tipo de estereótipo pode afastar. Se eu digo para um adolescente para ouvir apenas Beethoven (1770-1827) quando seu interesse é o rock, ele não vai dar a devida atenção e pode pensar: "Isso não serve para mim". Por isso, não falo de antemão para os alunos que eles vão ouvir uma música de determinado tipo. É preciso contextualizar a criação de modo que o estilo seja apenas um dos dados sobre a música. É verdade que os adolescentes são menos interessados em educação musical do que as crianças? SWANWICK Adolescentes são outro mundo. (risos) Eles gostam de música de modo geral, mas normalmente não estão interessados em ouvir a música como ela é apresentada nas escolas. O professor tem de chegar a um acordo sobre o que trabalhar. É inevitável negociar. Se o docente tiver uma posição muito rígida, com nível de tolerância baixo, não vai funcionar. Criar uma lei que torne compulsório o ensino de Música é uma boa ideia? SWANWICK Acredito que é uma boa iniciativa porque oferece às diferentes classes sociais oportunidades iguais de aprender. Nem todas as crianças têm a chance de frequentar um curso de música pago por seus pais em uma instituição privada. Possibilitar esse acesso nas escolas públicas é muito bom. Mas é preciso ficar atento ao conteúdo dessas aulas. Toda criança gosta de música. É natural do ser humano. Mas uma aula de música mal dada pode estragar tudo. Se ela for distante demais da realidade do aluno ou excessivamente teórica, por exemplo, o estudante pode ficar resistente ao ensino de Música e piorar a situação. Qual sua avaliação sobre a Educação musical no Brasil? SWANWICK Acho que vocês têm alguns problemas. Durante minha viagem, pensei bastante na seguinte questão: onde estão os professores que vão atender à demanda criada pela nova lei? Certamente há muitos profissionais ensinando música de qualidade, mas em geral eles estão em escolas de Música e não na rede de ensino. É preciso conceber formas de atrair essas pessoas para a escola ou melhorar a formação dos que já atuam. Talvez seja necessário um tempo para que se formem docentes prontos para cumprir a norma do governo. Muitos professores de Arte, disciplina que hoje engloba o ensino de música, reclamam que a área não é reconhecida no Brasil. Qual sua opinião? SWANWICK Eu entendo que muitas vezes o ensino se torna tão penoso que fica fácil esquecer o valor da música. Eu diria que cada professor também pode atuar para recuperar esse entusiasmo, independentemente de o reconhecimento existir ou não. Uma das maneiras é experimentar a música por si mesmo. Fiz um trabalho para uma organização do Reino Unido que queria avaliar a qualidade de seus professores de música. Eu dei vários cursos para esses docentes e, um dia, um deles me disse: "Eu estava desmotivado e suas aulas me despertaram. Eu até voltei a tocar piano". Imagine só: ele era professor e tinha parado de tocar seu instrumento! Além de tocar, o professor deve ouvir boa música - enfim, ficar em contato com a área de uma forma prazerosa fora da sala de aula. Em sua opinião, professores de Música precisam ser músicos?

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31 SWANWICK Evidentemente, não precisam ser pianistas de concerto. (risos) Mas é fundamental saber tocar um instrumento porque isso é muito útil na sala de aula. Ajuda a exemplificar e a responder as dúvidas, entre outras coisas. Além disso, é preciso entender muito bem do assunto, ter conhecimentos de História da Música, saber relacionar diferentes momentos históricos e estilos e construir uma visão crítica sobre o tema. Há uma idade mínima para a criança começar a aprender a tocar um instrumento? SWANWICK É difícil determinar essa faixa etária, pois costuma haver uma grande variação individual. Muitas crianças não escrevem nem leem com 3 anos, mas já têm alguns conhecimentos de gramática - eventualmente, podem usar o passado, o presente e o futuro em frases, por exemplo. Num paralelo com a música, elas não são capazes de escrever notas musicais, mas podem tocar para se expressar. Costumo dizer que a idade boa para começar a aprender é quando a criança demonstra interesse. Muitas vezes, o principal objetivo das aulas de Música é preparar as crianças para apresentações em datas comemorativas. Isso é ruim? SWANWICK Você não pode impedir os pais de querer ver os filhos no palco em uma festa. A tentação de mostrar a criança é muito grande não apenas na música como também nos esportes e em recitais de poesias, por exemplo. Entretanto, é preciso fugir da armadilha de reduzir o ensino de Música a essas atividades. Também não se pode cair na ideia de que o objetivo escolar é formar músicos ou apenas fazer com que as crianças gostem um pouco mais de música. Qual deve ser o cerne do trabalho? SWANWICK As aulas devem colaborar para que jovens e crianças compreendam a música como algo significativo na vida de pessoas e grupos, uma forma de interpretação do mundo e de expressão de valores, um espelho que reflete sistemas e redes culturais e que, ao mesmo tempo, funciona como uma janela para novas possibilidades de atuação na vida. Fonte: revistaescola.abril.com.br IMPORTANTE: Como em qualquer outra atividade, preferências e gostos devem ser identificados e, se possível devemos relacionadas outras habilidades e preferências, nos alunos. Pais e ou comunidades. Assim, devem-se anotar todas as sugestões e atividades para que as mesmas possam servir de base para os projetos já existentes na Associação ou em outros a serem formatados. Filipe de Sousa Elizete Rubio

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