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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO PROFISSIONAL EM PATRIMÔNIO CULTURAL GESTÃO DO PATRIMÔNIO DOCUMENTAL: ELABORAÇÃO DO VOCABULÁRIO CONTROLADO PARA ORGANIZAR E ACESSAR INFORMAÇÕES ARQUIVÍSTICAS DISSERTAÇÃO DE MESTRADO Rita Medianeira Ilha Santa Maria, RS, Brasil. 2013

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CINCIAS SOCIAIS E HUMANAS

PROGRAMA DE PS-GRADUAO PROFISSIONAL EM PATRIMNIO CULTURAL

GESTO DO PATRIMNIO DOCUMENTAL: ELABORAO DO VOCABULRIO CONTROLADO PARA ORGANIZAR E ACESSAR INFORMAES

ARQUIVSTICAS

DISSERTAO DE MESTRADO

Rita Medianeira Ilha

Santa Maria, RS, Brasil.

2013

GESTO DO PATRIMNIO DOCUMENTAL:

ELABORAO DO VOCABULRIO CONTROLADO PARA

ORGANIZAR E ACESSAR INFORMAES ARQUIVSTICAS

Rita Medianeira Ilha

Dissertao apresentada ao Curso de Mestrado Profissional em Patrimnio Cultural, rea de concentrao em Patrimnio Documental,

da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS), como requisito parcial para obteno do grau de

Mestre em Patrimnio Cultural.

Orientadora: Prof. Dr. Glaucia Vieira Ramos Konrad

Santa Maria, RS, Brasil.

2013

2013

Todos os direitos autorais reservados a Rita Medianeira Ilha. A reproduo de partes

ou do todo deste trabalho s poder ser feita com autorizao por escrita do autor.

E-mail: [email protected]

mailto:[email protected]

Universidade Federal de Santa Maria Centro de Cincias Sociais e Humanas

Programa de Ps-Graduao Profissional em Patrimnio Cultural

Comisso Examinadora, abaixo assinada, aprova a Dissertao de Mestrado

GESTO DO PATRIMNIO DOCUMENTAL: ELABORAO DO VOCABULRIO CONTROLADO PARA ORGANIZAR E ACESSAR

INFORMAES ARQUIVSTICAS

elaborada por Rita Medianeira Ilha

como requisito para obteno do grau de Mestre em Patrimnio Cultural

Comisso Examinadora:

Glaucia Vieira Ramos Konrad, Dr. (UFSM) (Presidente/Orientadora)

Carlos Blaya Perez, Dr. (UFSM)

Daniel Flores, Dr. (UFSM)

Santa Maria, 13 de maio de 2013.

AGRADECIMENTOS

Agradeo a Deus, por sua companhia perene ao meu lado, iluminando meu

caminho e dando-me foras para continuar sempre.

Aos meus pais, o esteio da minha vida, pela maravilhosa criao e estrutura

familiar, embasadas no amor e na dedicao incansveis.

Aos meus filhos Ricardo e Joo Marcos pela fora que suas presenas me

proporcionam.

A todos os amigos e colegas do Departamento de Arquivo Geral/DAG pelo

incentivo e pelas palavras carinhosas, em especial, a Diretora do Departamento,

Arquivista Dione Calil Gomes pelo apoio e pela confiana depositados.

A minha orientadora, professora Dr Glaucia Konrad, pela sua dedicao e

confiana.

A todas as pessoas que, de uma maneira ou outra, impulsionaram-me a

seguir em frente.

RESUMO

Dissertao de Mestrado

Programa de Ps Graduao Profissional em Patrimnio Cultural

Universidade Federal de Santa Maria

GESTO DO PATRIMNIO DOCUMENTAL: ELABORAO DO VOCABULRIO CONTROLADO PARA ORGANIZAR E ACESSAR

INFORMAES ARQUIVSTICAS AUTORA: Rita Medianeira Ilha

ORIENTADORA: Dr. Glaucia Vieira Ramos Konrad. Data e Local de Defesa: Santa Maria, 13 de maio de 2013.

O estudo do vocabulrio utilizado para denominar as funes e atividades da

Universidade Federal de Santa Maria o que apresenta esta pesquisa, visando o

controle do vocabulrio e a construo do Vocabulrio Controlado, como forma de

padronizao, para aprimorar a busca e o acesso aos documentos. Trata-se de uma

pesquisa aplicada, de abordagem qualitativa que busca a elaborao de

conhecimento que possibilite a compreenso e transformao da realidade em

relao ao tema apresentado. O trabalho foi estruturado levando em conta os planos

de classificao de documentos j elaborados, que serviram para realizar o

levantamento dos termos usados para denominar as classes, subclasses e tipos

documentais. O levantamento possibilitou identificar e analisar as divergncias

terminolgicas e, com isso, aplicar o controle do vocabulrio, no que se refere aos

procedimentos micro e macro. O resultado foi a elaborao do Vocabulrio

Controlado, disposto atravs de lista alfabtica, que dispe tanto dos termos

adotados como dos termos no adotados, servindo como remissiva. O propsito

qualificar o Sistema de Arquivos da UFSM no que se refere busca e ao acesso aos

documentos.

Palavras-chave: Arquivologia. Normalizao. Padronizao. Plano de Classificao

de Documentos. Vocabulrio Controlado.

ABSTRACT

Masters Dissertation Vocational Graduation Program in Cultural Heritage

Federal University of Santa Maria

DOCUMENTARY HERITAGE MANAGEMENT: CONTROLLED VOCABULARY PREPARATION TO ORGANIZE AND ACCESS

ARCHIVAL INFORMATION AUTHOR: Rita Medianeira Ilha

ADVISER: Dr. Glaucia Vieira Ramos Konrad. Defense Place and Date: Santa Maria, May 13th, 2013.

The study of the vocabulary used to name the Federal University of Santa Maria

(UFSM) functions and activities is the one presented in this research aiming at

controlling the vocabulary and, to build a controlled vocabulary as a means of

standardization to improve the searching and access of documents. This is an

applied research with a qualitative approach that seeks to develop the knowledge

making it possible to understand and transform the reality regarding the presented

topic. The work was structured considering the documents classification plan that

already existed, which were used to survey the terms used to name classes,

subclasses and document types. The survey made it possible to identify and analyze

the terminological differences and, to apply the vocabulary control to both micro and

macro vocabulary control procedures. The result was the development of a

Controlled Vocabulary, disposed in alphabetical order, containing the adopted and

not adopted terms, serving as a remitting. The purpose is to qualify the UFSM

Archival System with regard to documents search and access.

Key words: Archivology. Normalization. Standardization. Documents Classification

Plan. Controlled Vocabulary.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Complexidade de vocabulrios controlados ............................................. 41

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Relaes bsicas e simbolizao. ......................................................... 46

Quadro 2 Relaes de equivalncia (USE) ............................................................ 73

Quadro 3 Relaes de equivalncia (UP) .............................................................. 73

Quadro 4 Relaes hierrquicas (TG) ................................................................... 73

Quadro 5 Relaes hierrquicas (TE).................................................................... 74

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AA Apoio Administrativo

AAB Associao dos Arquivistas Brasileiros

ACG Atividade Complementar de Graduao

AF Apoio Financeiro

ALA Associao Latino-Americana de Arquivos

C Classe

CC Conselho do Centro

CESNORS Centro de Educao Superior Norte-RS

CG Cursos de Graduao

CIA Conselho Internacional de Arquivos

COMAPA Controle de Material e Patrimnio

CONARQ Conselho Nacional de Arquivos

CTNDA Cmara Tcnica de Normalizao da Descrio Arquivstica

DAG Departamento de Arquivo Geral

DBTA Dicionrio Brasileiro de Terminologia Arquivstica

DC Direo de Centro

DCF Departamento de Contabilidade e Finanas

DCG Disciplina Complementar de Graduao

DD Departamento Didtico

DTA Dicionrio de Terminologia Arquivstica

EAD Educao a Distncia

IPHAN Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional

ISAAR (CPF) Norma Internacional de Registro de Autoridade Arquivstica para Entidades Coletivas, Pessoas e Famlias

ISAD(g) Norma Geral Internacional de Descrio Arquivstica

ISDF Norma Internacional para Descrio de Funes

ISO International Organization for Standardization

NE Nota de Escopo

NOBRADE Norma Brasileira de Descrio Arquivstica

NU Notas de Uso

OF Organizao e Funcionamento

PCPG Programas e Cursos de Ps-Graduao

SC Subclasse

SIARQ Sistema de Arquivos

SIARQ/UFSM Sistema de Arquivos da Universidade Federal de Santa Maria

TD Tipo Documental

TCC Trabalho de Concluso de Curso

TE Termo Especfico

TG Termo Genrico

TR Termo Relacionado

UDESSM Unidade Descentralizada de Educao Superior da UFSM em Silveira Martins

UFSM Universidade Federal de Santa Maria

USM Universidade de Santa Maria

LISTA DE ANEXOS

ANEXO A Fundos Documentais da UFSM............................................................. 91

ANEXO B Instruo Normativa n 01/2012/PROGRAD ......................................... 92

LISTA DE APNDICES

APNDICE A Levantamento das classes e subclasses ....................................... 97

APNDICE B Quadro de levantamento dos tipos documentais ......................... 106

APNDICE C Normalizao Gramatical ............................................................. 163

APNDICE D Controle de Sinonmia, Homonmia e Quase-Sinonmia .............. 166

APNDICE E Instrumento Resultante do Processo de Controle de Vocabulrio

Vocabulrio Controlado ............................................................... 169

SUMRIO

INTRODUO .......................................................................................................... 21 1.1 Objetivo geral .................................................................................................... 24 1.2 Objetivos especficos........................................................................................ 24

2 PATRIMNIO CULTURAL .................................................................................... 27 2.1 Patrimnio documental ..................................................................................... 29

3 ARQUIVSTICA ...................................................................................................... 31 3.1 Gesto de documentos ..................................................................................... 32 3.2 Classificao ..................................................................................................... 34 3.3 Plano de classificao de documentos ........................................................... 35 3.4 Tipos documentais ............................................................................................ 36

4 VOCABULRIO CONTROLADO COMO RECURSO PARA ORGANIZAR E ACESSAR INFORMAES ARQUIVSTICAS ........................................................ 39 4.1 Estrutura do vocabulrio controlado............................................................... 43 4.1.1 Procedimentos micro de controle de vocabulrio ............................................. 43 4.1.2 Procedimentos macro de controle de vocabulrio ............................................ 46 4.2 Contribuio da lingustica e da terminologia ................................................ 48 4.3 As normas terminolgicas e a gesto da qualidade ...................................... 50 4.4 A normalizao e a padronizao na Arquivologia ........................................ 54

5 A INSTITUIO HISTRICO E ESTRUTURA ................................................... 61 5.1 Sistema de Arquivos da UFSM - SIARQ .......................................................... 63

6 METODOLOGIA .................................................................................................... 65

7 ANLISE E INTERPRETAO DOS RESULTADOS .......................................... 69 7.1 Levantamento dos termos utilizados para denominar classes e subclasses ............................................................................................................... 69 7.2 Levantamento dos termos utilizados para denominar os tipos documentais ............................................................................................................ 70 7.3 Procedimentos micro de controle do vocabulrio ......................................... 71 7.3.1 Normalizao gramatical .................................................................................. 71 7.3.2 Controle de sinonmia, homonmia e quase-sinonmia ..................................... 71 7.3.3 Notas de escopo ou notas de uso .................................................................... 72 7.4 Procedimentos macro de controle de vocabulrio ........................................ 72 7.5 Elaborao da lista alfabtica complementar ordenao dos termos....... 74

8 INSTRUMENTO RESULTANTE DO PROCESSO DE CONTROLE DE VOCABULRIO VOCABULRIO CONTROLADO. ............................................. 77

CONCLUSO ........................................................................................................... 79

REFERNCIAS ......................................................................................................... 83

ANEXOS ................................................................................................................... 89

APNDICES ............................................................................................................. 95

INTRODUO

O estudo do vocabulrio utilizado nos planos de classificao de documentos

elaborados na Universidade Federal de Santa Maria, para verificar as divergncias

terminolgicas, suas disparidades e procedimentos de controle do vocabulrio o

tema desta pesquisa, que busca inserir a padronizao no processo de gesto

documental, atravs do vocabulrio.

Traz a anlise dos planos de classificao de documentos para o controle do

vocabulrio como dispositivo metodolgico, no contexto da Arquivstica.

A possibilidade de proceder ao controle do vocabulrio atravs da anlise dos

planos de classificao de documentos, j havia sido verificada na pesquisa

realizada no CPG Especializao em Gesto em Arquivos, intitulada Classificao

Documental: um Estudo dos Instrumentos de Gesto com Vistas Padronizao, e

o desafio agora a prtica dessa metodologia.

O controle do vocabulrio um objetivo a ser atingido e traz como resultado

um instrumento que formaliza os termos adotados para compor a linguagem da

instituio e vem ao encontro das necessidades de padronizao, pensada para

esta pesquisa.

Este trabalho prope, ento, o estudo do vocabulrio utilizado na UFSM com

vistas padronizao para aprimorar a busca e o acesso s informaes e,

conseqente, preservao do documento (material).

Para tanto, o universo adotado para esta pesquisa foi os Centros de Ensino

da UFSM e suas respectivas unidades universitrias, que so: Conselho do Centro,

Direo do Centro, Departamentos Didticos, Cursos de Graduao, Cursos e

Programas de Ps-Graduao, que contemplam as reas de Ensino, Pesquisa e

Extenso (atividades-fim) e as atividades-meio onde foi estipulada a unidade Apoio

Administrativo, comum a todos os Centros de Ensino, representando a

Administrao Geral.

O objeto de estudo escolhido, como dito anteriormente, foram os planos de

classificao de documentos elaborados pelo Departamento de Arquivo Geral, por

apresentarem a estrutura e funes/atividades da UFSM de forma hierarquizada.

A padronizao do vocabulrio atinge, basicamente, dois aspectos relevantes

e extremamente importantes na gesto de documentos, que a busca (pesquisa) e

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o acesso, de maneira a agilizar essas duas atividades e, consequentemente,

qualificar o Sistema de Arquivos da UFSM, atribuindo confiabilidade e segurana

nas respostas s pesquisas.

A possibilidade de padronizao do vocabulrio que representa as funes e

atividades da UFSM possvel, visto que os arquivos universitrios so constitudos

de funes semelhantes, podendo perfeitamente, usufruir de padronizaes e

normalizaes entre as universidades, mas a priori, a instituio deve estar

padronizada internamente, no seu prprio sistema de arquivos.

Segundo Smit e Kobashi:

Acredita-se que, entre rgos semelhantes, certamente uma boa percentagem de funes/atividades desenvolvidas e a gerao dos respectivos tipos documentais so constantes e poderiam ser objetos de um vocabulrio controlado. (SMIT; KOBASHI, 2003, p. 19).

Neste sentido, entre unidades de uma mesma instituio torna-se necessria

a padronizao da linguagem, para dirimir as divergncias terminolgicas.

A complexidade da estrutura de uma instituio e suas caractersticas e

especificidades funcionais, de cada um dos produtores de informao, refletem em

linguagens especficas, onde muitas vezes, acaba dificultando o compartilhamento

da informao por meio de uma linguagem que seja comum a todos, mesmo

sabendo que as unidades de uma mesma instituio compartilham das mesmas

funes e atividades.

A elaborao de instrumentos de gesto depende sua eficcia utilizao de

termos normalizados para que no haja erro nas pesquisas. Nesse sentido a

importncia do controle do vocabulrio e, consequentemente, o uso de uma

linguagem comum imprescindvel para garantir a comunicao compartilhada e

sistmica.

A Universidade Federal de Santa Maria produz documentos sobre a evoluo

e o desenvolvimento do processo educacional e, de forma complementar, seu

acervo rene importante conjunto de informaes a cerca do ensino superior no

Pas. Portanto, de extrema relevncia, implementar aes que venham a garantir a

sua recuperao e, ao mesmo tempo, preservar ao mximo possvel o manuseio do

documento, para sua consulta.

Alm disso, a memria construda a partir do presente e a conservao

fsica e intelectual do patrimnio documental o garante de toda a memria social,

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desde que, criadas as condies que permitam a sua utilizao e difuso. neste

sentido busca-se desenvolver instrumentos que venham intervir na preservao da

memria documental da instituio, basicamente, na sua acessibilizao,

promovendo o tratamento tcnico e intelectual dos arquivos que custodia, com a

finalidade de torn-los acessveis e comunicveis.

Outra questo relevante o patrimnio documental, inserido no mbito do

patrimnio cultural, cujas polticas pblicas esto em avano no panorama

arquivstico e requer aes que venham a garantir a preservao dos documentos

arquivsticos e, ao mesmo tempo, promover o acesso s informaes de maneira

rpida e precisa.

A Justificativa em realizar esta pesquisa, deu-se a partir da elaborao dos

planos de classificao de documentos decorrentes das atividades do Departamento

de Arquivo Geral/DAG, onde houve uma grande dificuldade quanto aos termos que

estavam sendo adotados, visto que, cada unidade universitria possua um plano de

classificao prprio, sem a padronizao e/ou normalizao desses termos. A

necessidade de ter um controle efetivo da nomeao atribuda nos planos de

classificao de documentos foi se tornando cada vez mais visvel e necessria e a

questo levantada foi: Como utilizar a padronizao no processo de gesto

documental na UFSM?

Apesar de existir o estudo dos fundos documentais da UFSM, bem como, a

identificao das funes e atividades, notavam-se divergncias na denominao

dos termos que se apresentavam nos instrumentos de gesto, gerando dvidas no

momento da nomeao e, tambm, da classificao dos documentos.

Os estudos em relao identificao e denominao da tipologia

documental contriburam para que se pensasse no controle do vocabulrio como

forma de padronizao e hiptese para a soluo do problema encontrado. A

identificao contribui efetivamente para a padronizao do termo que ir

representar a informao, atribuindo um contexto unvoco para determinar o controle

do vocabulrio a ser adotado na tipologia documental.

Neste sentido, objetiva realizar uma anlise nos termos que compem a

linguagem utilizada na UFSM e, com isso, colher subsdios para proceder ao

controle do vocabulrio, para solucionar o problema apontado e para tanto, traz o

objetivo geral e os objetivos especficos mostrados a seguir.

24

1.1 Objetivo geral

Possui como objetivo geral identificar a diversidade terminolgica atravs da

anlise dos planos de classificao de documentos, visando ao controle do

vocabulrio para padronizar os termos e como recurso para organizar e acessar

informaes arquivsticas.

1.2 Objetivos especficos

Os objetivos especficos estabelecidos para o desenvolvimento do estudo

so:

Identificar os termos utilizados para denominar as classes e subclasses;

identificar os termos utilizados para denominar os tipos documentais;

proceder ao controle do vocabulrio;

elaborar a lista alfabtica;

apresentar um instrumento resultante do processo de controle de

vocabulrio.

Portanto, para o desenvolvimento dos objetivos propostos, essa pesquisa

est estruturada em captulos assim distribudos:

O primeiro captulo, aps a apresentao da pesquisa, foi direcionado ao

patrimnio cultural e patrimnio documental, para situar a pesquisa em relao a

esse tema.

O captulo 2 versa sobre alguns conceitos da rea Arquivstica como, gesto

de documentos, classificao, plano de classificao de documentos e tipo

documental, conceitos relevantes para o entendimento do tema da pesquisa.

O captulo 3 refere-se ao vocabulrio controlado e sua estrutura, assim como,

as contribuies interdisciplinares da Terminologia e da Lingustica, as normas

terminolgicas e a gesto da qualidade, bem como, a aplicao da gesto de

documentos na implementao da qualidade; a insero da padronizao na

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Arquivologia, com o intuito de fazer um resgate da incluso da normalizao e

padronizao na Arquivologia.

O captulo 4 situa a Universidade Federal de Santa Maria e o Sistema de

Arquivos, implantado pelo Departamento de Arquivo Geral, apresentando suas

funes e objetivos, para um melhor entendimento do universo da pesquisa.

O captulo 5 dispe da metodologia utilizada, e mostra as etapas e os

instrumentos de coleta de dados utilizados no desenvolvimento da pesquisa.

O captulo 6 faz a anlise e interpretao dos resultados e, tem por base, os

objetivos propostos, atravs do alcance dos objetivos especficos, que foram a

identificao e anlise dos termos utilizados para denominar as classes e

subclasses, a identificao e anlise dos termos utilizados para denominar os tipos

documentais, os procedimentos de controle de vocabulrio, mais especificamente,

os procedimentos macro e micro de controle de vocabulrio e a elaborao da lista

alfabtica dos termos, includa no instrumento final.

Por fim, apresenta a concluso que traz as consideraes alcanadas na

pesquisa.

Como produto final desta pesquisa, elaborou-se o instrumento resultante do

processo de controle de vocabulrio Vocabulrio Controlado da UFSM, como

apndice desta dissertao. Apresentado por meio da lista alfabtica das classes e

subclasses e da lista alfabtica dos tipos documentais, disponibilizando os termos

adotados e os termos no adotados.

2 PATRIMNIO CULTURAL

A primeira definio legal do conceito de Patrimnio, no Brasil, surgiu com o

Decreto-lei n 25/37, sendo mais restrita no que se relaciona aos bens culturais a

serem preservados e define oficialmente o patrimnio histrico como:

Artigo 1 - Constitui o patrimnio histrico nacional o conjunto de bens mveis e imveis existentes no pas e cuja conservao seja de interesse pblico, quer por sua vinculao a fatos memorveis da histria do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueolgico ou etnogrfico, bibliogrfico ou artstico. (BRASIL. Decreto-lei n. 25/37).

O Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional, (IPHAN) hoje

vinculado ao Ministrio da Cultura, foi criado tambm em 13 de janeiro de 1937 pela

Lei n 378, no governo de Getlio Vargas, com o objetivo de preservar o patrimnio

cultural brasileiro. Mas j em 1936, o ento Ministro da Educao e Sade, Gustavo

Capanema, preocupado com a preservao do patrimnio cultural brasileiro, pediu a

Mrio de Andrade que elaborasse um anteprojeto de lei para salvaguarda desses

bens e confiou a Rodrigo Melo Franco de Andrade a tarefa de implantao do

Servio do Patrimnio.

Posteriormente, a 30 de novembro de 1937, foi promulgado, ento, o

Decreto-lei n. 25 que veio organizar o IPHAN, definindo oficialmente o "Patrimnio

Histrico e Artstico Nacional". O Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico

Nacional, desde a sua criao trabalha com um universo diversificado de bens

culturais. Suas aes, voltadas identificao, documentao, restaurao,

conservao, preservao, fiscalizao e difuso, esto calcadas em legislao

especfica sobre cada um dos temas pertinentes ao seu universo de atuao: Bens

imveis: Ncleos urbanos; stios arqueolgicos e paisagsticos; bens individuais.

Bens mveis: Acervos museolgicos; colees arqueolgicas; documentais;

arquivsticos; bibliogrficos; videogrficos; fotogrficos; cinematogrficos.

Segundo BOSI, (1977, p. 31), esse conceito norteou, na prtica, a poltica de

preservao do patrimnio histrico no pas e em diversos estados e municpios da

Federao Brasileira, por fora da estrutura do poder centralizador, imposta pelo

Estado Novo (1937-1945).

Priorizou-se o patrimnio edificado e arquitetnico, a chamada pedra cal - em

detrimento de outros bens culturais significativos, mas que, por no serem

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representativos de uma determinada poca ou ligados a algum fato histrico notvel

ou pertencente a um estilo arquitetnico relevante, deixaram de ser preservados e

foram relegados ao esquecimento e at destrudos por no terem, no contexto dessa

concepo, valor que justificasse a sua preservao.

Hoje, a expresso patrimnio histrico e artstico substituda por patrimnio

cultural, conceito mais amplo, pois a produo cultural humana constitui um

processo em curso e em constante transformao, exigindo uma nova postura da

administrao pblica com relao ao assunto.

A conceituao do patrimnio cultural engloba tanto o histrico como o

natural, o artstico e o cientfico. Entendem-se dessa forma as categorias do

patrimnio histrico como: patrimnio documental e arquivstico, bibliogrfico,

hemerogrfico, iconogrfico, oral, visual e museolgico. (FERNANDES, 1993, p.

269).

No que se refere preservao do patrimnio cultural, esta garante a

identidade e a memria de um povo, para tanto, as aes de preservao do

patrimnio cultural so de grande importncia para garantir que o passado de uma

nao no seja esquecido, nem to pouco, desaparea. Historicamente, a inteno

de preservar o patrimnio nos remonta ao sculo XVII, de acordo com Zanirato e

Ribeiro:

A preocupao com a definio de polticas para a salvaguarda dos bens que conformam o patrimnio cultural de um povo remonta ao final do sculo XVIII, mais particularmente Revoluo Francesa, quando se desenvolveu uma outra sensibilidade em relao aos monumentos destinados a invocar a memria e a impedir o esquecimento dos feitos do passado. Implementaram-se, a partir de ento, as primeiras aes polticas para a conservao dos bens que denotassem o poder, a grandeza da nao que os portava, entre as quais uma administrao encarregada de elaborar os instrumentos jurdicos e tcnicos para a salvaguarda, assim como procedimentos tcnicos necessrios para a conservao e o restauro de monumentos. (ZANIRATO; RIBEIRO, 2006).

O conceito de patrimnio cultural evoluiu no mundo, e em 1976, na Carta de

Mxico en Defensa del Patrimonio Cultural, h uma definio bem mais abrangente:

identificamos o Patrimnio Cultural de um pas [como] o conjunto dos produtos artsticos, artesanais e tcnicos, das expresses literrias, lingsticas e musicais, dos usos e costumes de todos os povos e grupos tnicos, do passado e do presente.

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Toledo (2010, p. 21) cita Machado, Lopes e Gheno que afirmam: a

concretude da Cultura Material abriga, num aparente paradoxo, uma pluralidade de

interpretaes capazes de referenciar vrios momentos do cotidiano humano (2009,

p. 585).

Segundo Funari e Pelegrini, o conceito de patrimnio cultural uma

ampliao da noo de patrimnio histrico, visto que:

[...] a perspectiva reducionista inicial, que reconhecia o patrimnio apenas no mbito histrico, circunscrito a recortes cronolgicos arbitrrios e permeados por episdios militares e personagens emblemticos, acabou sendo, aos poucos, suplantada por uma viso muito mais abrangente. A definio de patrimnio passou a ser pautada pelos referenciais culturais dos povos, pela percepo dos bens culturais nas dimenses testemunhais do cotidiano e das realizaes intangveis (FUNARI; PELEGRINI, 2006, p. 31-32).

Nesse sentido, a noo de patrimnio supera a preservao de somente

prdios pblicos ou religiosos muito antigos, e se abre para que, construes menos

prestigiadas fossem reconhecidas como patrimnio, incluindo-se nesse rol

produes contemporneas e bens culturais de natureza intangvel, Toledo (2010

apud FUNARI e PELEGRINI, 2006, p.32).

Dessa forma, por patrimnio entende-se o conjunto dos elementos histricos,

arquitetnicos, ambientais, paleontolgicos, arqueolgicos, ecolgicos, cientficos e

imateriais, para os quais se reconhecem valores que identificam e mantm a

memria.

2.1 Patrimnio documental

No Brasil, a atual Constituio de 1988, traz em seu artigo 216 a seguinte

definio para patrimnio cultural:

Art. 216 - Constitui patrimnio cultural brasileiro os bens de natureza material

e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referncia

identidade, ao, memria dos diferentes grupos formadores da sociedade

brasileira, nos quais se incluem: I - as formas de expresso; II - os modos de criar,

fazer e viver; III - as criaes cientficas, artsticas e tecnolgicas; IV - as obras,

objetos, documentos, edificaes e demais espaos destinados s manifestaes

30

artsticas culturais; V - os conjuntos urbanos e stios de valor histrico, paisagstico,

artstico, arqueolgico, paleontolgico, ecolgico e cientfico.

A incluso dos documentos como patrimnio nos remete a responsabilidade,

exigida tambm pela Lei 8.159/91, de proteger e salvaguardar os documentos, como

forma de garantir a memria e o patrimnio documental, propriamente dito, conforme

art. 1 desta lei, que diz:

Art. 1: dever do Poder Pblico a gesto documental e de proteo especial a documentos de arquivos, como instrumento de apoio administrao, cultura, ao desenvolvimento cientfico e como elementos de prova e informao.

Neste contexto, entende-se que os documentos de arquivo, na esfera pblica

federal, passam a estar enquadrados dentro das polticas pblicas voltadas ao

patrimnio documental.

3 ARQUIVSTICA

A Arquivstica estuda as funes do arquivo e os princpios e tcnicas a

serem observadas na produo, organizao, guarda, preservao e utilizao dos

arquivos. (DBTA, 2005, p. 37).

Atua e se prope a preservar e organizar intelectualmente a informao

contida em um arquivo, a disponibiliz-la de modo rpido e seguro, e a garantir o

acesso ao usurio, para que efetivamente esta informao venha a gerar

conhecimento. De outro lado, se entendida como cincia (com objeto cientfico

cognoscvel definido e com a possibilidade de verificao universal de seus

pressupostos por meio de mtodo cientfico), a Arquivstica no se prende

unicamente organizao de arquivos, mas pode conhecer cientificamente a

relao que existe entre a entidade acumuladora da informao, e a informao

acumulada por esta.

Com a evoluo tecnolgica na era da informao, a arquivstica passa por

mudanas, renova-se e procura se adaptar aos novos rumos que so colocados

como relevantes para a construo do conhecimento. Assim, entende-se que

necessrio apresentar um conceito de arquivo:

Acervos compostos por informaes orgnicas originais, contidas em documentos registrados em suporte convencional ou em suportes que permitam a gravao eletrnica, mensurvel pela sua ordem binria (bits); produzidos ou recebidos por pessoa fsica ou jurdica, decorrentes do desenvolvimento de suas atividades, sejam elas de carter administrativo, tcnico, artstico ou cientfico, independentemente de suas idades e valores intrnsecos (LOPES, 2000, p. 33).

A Arquivstica passa a preocupar-se com a informao, o que torna primordial

a atualizao e adaptao do profissional aos novos parmetros do conhecimento

Arquivstico. Dentre os novos parmetros, surgem atividades que despontam como

de grande relevncia para a rea, que comea a se voltar para a insero da

normalizao/padronizao nos processos arquivsticos, nos instrumentos de

classificao, descrio e avaliao.

Neste sentido, Rodrigues afirma:

A introduo da normalizao nas reflexes tericas em arquivstica se relaciona, no primeiro momento, com a disseminao da cultura do acesso e uso dos documentos e informaes nele registrada. Nos arquivos, a normalizao da descrio documental, que resultou na publicao da

32

ISAD(G) e ISAAR (CPF), vem assegurar a criao de instrumentos apropriados que se explicam por si mesmos, facilitando a recuperao e o intercmbio de dados. Alm da descrio, outros processos de trabalhos arquivsticos vm merecendo ateno dos debates internacionais como objeto de normalizao. (RODRIGUES, 2008, p. 176).

Na evoluo da Arquivologia tm-se o avano dos estudos que visam

aprimorar as atividades de arquivo, dentre eles, o estudo da identificao e da

denominao das tipologias documentais, o processo de normalizao, que vem

sendo debatido no campo da Arquivstica e da Diplomtica, enfatiza a importncia

do tema e de parmetros para tratar o documento de arquivo, bem como, a reflexo

terica sobre o assunto.

A Arquivstica passa a olhar, no s para as funes (criao, classificao,

avaliao, descrio, conservao, difuso e acesso), mas para o aprimoramento

das suas prticas e procedimentos, principalmente na elaborao dos instrumentos

resultantes das suas funes.

Schellenberg j apontava a necessidade de padronizao nos processos

arquivsticos e na realizao das tarefas e exprime sua preocupao com a

normalizao na Arquivstica, referindo aos momentos da Arquivologia.

O primeiro consiste em definir os princpios e as tcnicas da Arquivstica; o segundo em normaliz-las. A sistematizao dos mtodos comporta contribuies individuais, mas no a normalizao, que h de ser efetuada em colaborao. A definio das tcnicas deve-se preceder-lhes padronizao. (SCHELLENBERG, 1980, p. 73).

O incio aos debates sobre normalizao, enfatizados pela informatizao e

pelo incio dos documentos em meio eletrnico, delegando rea, a competncia de

buscar novos requisitos metodolgicos, para tratar o universo documental e

alavancar na chamada modernidade informacional.

3.1 Gesto de documentos

A gesto de documentos indispensvel nas instituies para tomadas de

decises, recuperao das informaes e preservao da memria institucional, pois

os documentos produzidos e recebidos no decorrer das atividades de um rgo,

independente do suporte em que se apresentam, registram suas polticas, funes,

procedimentos e decises. Para tanto, preciso estabelecer um conjunto de prticas

33

que garantam a organizao e preservao dos arquivos, tendo como base a

implantao de um sistema de gesto que implique no tratamento dos documentos

desde a sua criao at sua destinao final.

Os documentos da fase corrente e intermediria so os documentos que

atendem mais diretamente, as atividades administrativas do rgo, para tomada de

decises e como fonte de informaes administrativas e tcnicas. Cabendo aos

arquivos permanentes a caracterstica histrica e probatria.

A legislao arquivstica brasileira refere-se ao processo de gesto de

documentos por meio da Lei 8.159, de 08/01/1991, em seu artigo 3:

Considera-se gesto de documentos o conjunto de procedimentos e operaes tcnicas referentes sua produo, tramitao, uso, avaliao e arquivamento em fase corrente e intermediria, visando a sua eliminao ou recolhimento para guarda permanente.

O art. 21, da mesma Lei prev que a legislao Estadual, do Distrito Federal

e Municipal definir os critrios de organizao e vinculao dos arquivos, assim

como a gesto e o acesso aos documentos.

De acordo com a Constituio de 1988, em seu 2: cabem administrao

pblica, na forma da lei, a gesto da documentao governamental e as

providncias para franquear sua consulta a quantos dela necessitem. (Constituio

Federativa do Brasil, 1988).

No contexto da gesto documental indispensvel o estudo das funes

arquivsticas, cada uma dessas funes cumpre um importante papel na gesto de

documentos, e a caracterstica orgnica dos documentos impe uma forte relao

entre elas, resultando instrumentos de pesquisas que so auxiliares no acesso aos

documentos. A gesto de documentos de arquivo responsvel por um sistema

eficaz de controle de documentos, em todas as suas fases. Dela dependem,

tambm, a implementao dos processos para constituir e manter as informaes e

a prova das atividades e operaes da organizao.

34

3.2 Classificao

A classificao considerada o eixo do trabalho arquivstico e consiste em

organizar os documentos produzidos e recebidos pela instituio no exerccio de

suas atividades, de forma a constituir-se um referencial para sua recuperao.

Souza (2003, p. 240) entende a classificao como medida crucial dentro da

gesto de arquivos. A classificao de documentos determina e so determinadas

pelas demais atividades que compem a gesto de documentos.

Gonalves (1998, p. 11) destaca que o objetivo da classificao dar

visibilidade s atividades no organismo produtor de arquivo, deixando claras as

ligaes entre os documentos.

Portanto, a classificao atividade primordial na implantao da gesto de

documentos de arquivo e precede as demais funes, pois, auxilia na execuo de

um roteiro bsico para a elaborao dos planos de classificao de documentos,

que permita a localizao das informaes no arquivo.

Lopes entende a classificao como:

Ordenao intelectual e fsica de acervos, baseada em uma proposta de hierarquizao das informaes referentes aos mesmos. (...). Portanto, a classificao consiste em uma tentativa de representao ideolgica das informaes contidas nos documentos. (LOPES, 2000, p. 250).

A questo do acesso aos documentos se intensificou com a exploso da

produo documental e o conseqente aumento do volume de documentos

produzidos e acumulados, fazendo com que os profissionais da rea buscassem

alternativas como na classificao, para garantir a localizao das informaes de

maneira mais rpida.

Dentro desse panorama, a classificao recebe uma maior ateno por parte

dos arquivistas, assim como os instrumentos elaborados a partir da mesma.

Um dos grandes desafios da arquivstica contempornea dar conta da

organizao e da acessibilidade das informaes em meio ao crescente nmero de

documentos gerados pelas instituies. Frente a essa realidade, surge a

necessidade de aprimorar meios de busca, conceitos e padres.

A classificao e o plano de classificao de documentos, por ser um

esquema hierarquizado da instituio e das suas funes, devem trazer inclusos

35

esses princpios, to importantes para a preservao da identidade institucional e

para garantia da integridade do acervo. Para Gonalves,

Definir atividades-fim e atividades-meio e relacion-las a funes mais abrangentes j significa reunir elementos para a classificao dos documentos. A reunio lgica de funes e atividades, com a percepo de sua maior ou menor autonomia ou subordinao interna, permitir a elaborao do plano de classificao. (GONALVES, 1998, p. 22).

Portanto, a classificao uma das funes principais e dela dependem todas

as demais funes arquivsticas, bem como, os instrumentos decorrentes dessas

funes.

3.3 Plano de classificao de documentos

O plano de classificao, objeto de pesquisa deste trabalho, a

representao grfica da classificao, realizada de acordo com o critrio funcional,

estrutural ou por assunto, dependendo do mtodo adotado.

O plano de classificao de documentos trata-se de:

Um esquema de distribuio de documentos em classes, de acordo com mtodos de classificao, elaborado a partir do estudo das estruturas e funes de uma instituio e da anlise do arquivo por ela produzido (SANTOS, 2008, p. 210).

Para a elaborao de planos de classificao de documentos deve-se levar

em considerao o estudo da estrutura administrativa e do funcionamento da

instituio; o estudo da legislao que organiza e regulamenta o seu funcionamento

para que sejam identificadas as atribuies, funes, subfunes e atividades do

rgo produtor, bem como o levantamento da produo documental para identificar

as sries ou classes documentais.

O plano de classificao deve, ainda, ser representativo do contedo da

unidade de classificao, apresentando uma estrutura hierrquica e lgica dos

fundos, dividindo-os em grupos evidenciados por uma ao, funo ou atividade.

um instrumento para a localizao conceitual das sries documentais, pois orienta a

busca segundo critrios persistentes e objetivos. (CRUZ MUNDET apud GARCIA,

2008).

36

Permite, tambm, a recuperao da informao de forma rpida, segura e

eficaz e apresenta a base necessria para a elaborao de tabelas de

temporalidades, oriundas da avaliao documental, onde so atribudos prazos de

guarda aos documentos.

No mesmo sentido, Gonalves afirma que:

Para elaborar planos de classificao de boa qualidade tcnica, no bastam proceder ao levantamento exaustivo de funes, atividades-fim e atividades-meio, nem apenas optar, aps muita reflexo, pelo critrio funcional ou estrutural. Se o plano esboado resultar em um nmero muito grande de classes, tender a ser utilizado com certa dificuldade quantas classes tero que ser examinadas para que o local do documento seja encontrado? Por outro lado, se resultar em um nmero reduzido de classes para uma documentao muito variada e volumosa, possvel que se torne insatisfatrio. O mesmo poder acontecer no caso de classes muito especificamente ligadas a determinados documentos, de tal modo que no permitam a incluso de outros que venham a ser produzidos. A elaborao do plano no pode estar desconectada da preocupao com sua aplicao (GONALVES, 1998, p. 23).

A elaborao de planos de classificao claros que permitam o seu

entendimento e a rpida localizao das informaes uma preocupao no

processo de gesto documental e requer um estudo aprofundado da instituio.

3.4 Tipos documentais

De acordo com o Dicionrio Brasileiro de Terminologia Arquivstica (DBTA,

2005), tipo documental a diviso da espcie documental que rene documentos

por suas caractersticas comuns no que diz respeito frmula diplomtica, natureza

de contedo ou tcnica do registro. (2005, p.163), ou seja, a espcie documental

acrescida da atividade que o gerou; enquanto espcie documental definida como a

diviso do gnero documental que rene tipos documentais por suas caractersticas

comuns de estruturao da informao.

O estudo da tipologia documental vem avanando na comunidade

arquivstica, surgindo a necessidade de analisar os termos adotados na

denominao dos tipos documentais, o que acarretou a evoluo do prprio conceito

de tipo documental.

37

Lopez refere-se a essa evoluo conceitual afirmando que:

[...] os estudiosos que se preocuparam com esse tema sempre estiveram buscando uma conceituao capaz de definir o documento e sua essncia arquivstica, isto , como parte integrante de um conjunto de outros documentos gerados naturalmente no exerccio das mesmas atividades. A particularidade do documento arquivstico, ao mesmo tempo nico e mltiplo (quando inserido na srie documental), representou um desafio a ser superado na tentativa de conceituao de tipo documental. (LOPEZ, 1999, p. 71).

O mesmo autor ao citar Bellotto (1990), destaca:

O texto da prof Heloisa Bellotto, publicado em 1990, pode ser considerado um marco da literatura arquivstica nacional sobre tipologia documental. Os conceitos ali desenvolvidos representam uma reformulao de um texto seu anterior, de 1982, e acabaram por serem incorporados ao Dicionrio Brasileiro e Terminologia Arquivstica e mantidos na segunda verso dessa obra. Prope-se que tipo documental passe a ser definido pela espcie documental somada funo que a produziu. [...] (LOPEZ, 1999, p. 71).

A Diplomtica encarrega-se de analisar os documentos pela sua estrutura, ou

seja, a espcie documental, que vem a ser conceituada na concepo desta

pesquisa e auxilia na formao do tipo documental e no controle do vocabulrio.

O estudo sobre tipos documentais ganhou fora quando um grupo de

arquivistas municipais de Madrid, conhecido como Grupo de Trabajo de Archiveros

Municipales de Madrid, elaborou em 1985, um trabalho conjunto, buscando

padronizar um arranjo documental tipolgico, resultando no Manual de Tipologia

Documental de los Municipios, que teve grande repercusso, pois mudou mtodos

e conceitos que j eram insuficientes para os problemas que se apresentavam na

Arquivstica. (LOPEZ, 1999).

Rodrigues, autora que vem colaborando com o estudo da anlise tipolgica,

aponta a tarefa de identificao, como colaboradora para a padronizao dos termos

na tipologia e auxlio na elaborao de vocabulrios controlados. Neste sentido, a

autora diz que a identificao de documentos conduz a benefcios especficos para

as tarefas de identificar, selecionar, ordenar e descrever os documentos.

RODRIGUES apud DURANTI, 2008. A identificao contribui efetivamente para a

padronizao do termo que ir representar a informao, atribuindo um contexto

unvoco para determinar o controle do vocabulrio a ser adotado na tipologia

documental.

38

Rodrigues ainda afirma que:

Com as novas tecnologias, o arquivista deve propor uma normalizao para a produo da tipologia documental, principalmente em meio eletrnico. [..] preciso tornar as prticas arquivsticas cada vez mais criteriosas e objetivas, porm, desenvolvidas em rotinas simples, isto pressupe normalizao de parmetros para atuao de arquivistas e sistematizao para utilizao no ensino e na pesquisa cientfica acadmica da rea. (RODRIGUES, 2008, p. 237.)

O foco da Arquivstica na tipologia documental e seus constantes estudos

possibilitaram que outra questo fosse levantada, a necessidade de controlar e

normalizar os termos utilizados, ou seja, da linguagem institucional, a fim de

padroniz-los, focando especificamente o acesso s informaes e dirimindo a

disperso terminolgica, que um dos fatores que influenciam na impreciso das

pesquisas. Nesse nterim, a Arquivologia comea a se voltar para a necessidade do

controle do vocabulrio, visto que, a importncia da correta terminologia para a

comunicao em linguagens especiais, tornou-se cada vez mais evidente, com a

elaborao de vocabulrios controlados, como ser abordado no captulo seguinte.

http://btb.termiumplus.gc.ca/didacticiel_tutorial/english/glossary/terminology.html

4 VOCABULRIO CONTROLADO COMO RECURSO PARA

ORGANIZAR E ACESSAR INFORMAES ARQUIVSTICAS

O vocabulrio controlado um instrumento formal elaborado para normalizar

os termos e vocbulos que representam as informaes, com o objetivo de agilizar a

busca e o acesso e, consequentemente, gerar confiana no sistema e, assim, evitar

a disperso nas pesquisas.

O controle de vocabulrio um processo, um objetivo a ser alcanado para

organizar e recuperar as informaes arquivsticas, contribuindo para a indexao e

recuperao do patrimnio informacional e busca aprimorar o seu acesso. O objetivo

do controle de vocabulrio vem ao encontro do objetivo a ser alcanado por esta

pesquisa.

Para Smit e Kobashi:

O controle de vocabulrio intervm na organizao dos arquivos ao nomear, de forma consistente, os pontos de acesso aos documentos e informao neles contida. O objetivo a ser alcanado pelos arquivos, por essa tica, sempre o da recuperao da informao: Somente esse objetivo justifica os cuidados com o controle de vocabulrio (SMIT; KOBASHI, 2003, p. 13).

Os autores acima participam do Projeto Como Fazer, que traz a publicao

Como Elaborar Vocabulrio Controlado para Aplicao em Arquivos, com

orientaes para o aspecto prtico do trabalho dos Arquivistas voltado ao

vocabulrio controlado, questo em ascendncia, onde ser estudada como

referncia para esta pesquisa.

De acordo com Kobashi, o vocabulrio controlado uma linguagem artificial,

constituda de termos organizados em estrutura relacional. Um vocabulrio

controlado elaborado para padronizar e, ento, facilitar a entrada e a sada de

dados em um sistema de informaes, promovendo maior preciso e eficcia na

comunicao entre os usurios e o sistema de informaes.

Uma das funes do vocabulrio controlado representar a informao e o

conhecimento atravs da padronizao dos termos (vocabulrio) utilizados na

gesto de documentos.

O objetivo principal em se proceder ao controle do vocabulrio organizar e

recuperar os documentos e informaes e significa o conjunto normalizado de

40

termos que serve indexao e recuperao da informao. (DBTA, 2005, p.

174), recurso utilizado para evitar a disperso de informaes.

Controlar ou padronizar outra funo bsica de um vocabulrio controlado,

pois, a localizao ou identificao de informao, sem padronizao lxica, torna-

se passvel de erros. Resultados eficientes de busca dependem, assim, de

coincidncia entre as formas de representao utilizadas pelo sistema de informao

e pelo usurio. Um vocabulrio controlado, portanto, busca a comunicao efetiva

entre sistema de informao e usurio.

Todo vocabulrio controlado composto por um conjunto de termos que

representam conceitos de um ou vrios campos de conhecimento. Tais signos so

dispostos em estrutura relacional previamente definida. Em geral, os vocabulrios

controlados so apresentados em ordem hierrquica e alfabtica (macroestrutura e

microestrutura).

Segundo Lopes (2002, p. 9), a linguagem controlada ou vocabulrio

controlado pode ser definido como um conjunto de termos organizados de forma

hierarquizada e/ou alfabtica, com o objetivo de possibilitar a recuperao de

informaes [...] reduzindo substancialmente a diversidade terminolgica.

Smith e Kobashi (2003, p. 20) salientam que o controle de vocabulrio o

processo para um objetivo que se deseja atingir, e o vocabulrio controlado o

resultado desse processo, um instrumento para nomear as atividades/funes,

gerando confiana no sistema.

Ainda segundo Smit e Kobashi (2003, p. 17), o controle de vocabulrio deve

garantir que no haja disperso das informaes tanto na entrada do sistema, com a

adoo de uma nica forma de designao para nomear documento que so

gerados pela mesma atividade; quanto na sada do sistema (busca) informando

como cada atividade nomeada pelo sistema.

Num sistema documentrio, o controle de vocabulrio pressupe um conjunto

organizado de termos padronizados, isto , normalizado e unvoco.

H vrios tipos de vocabulrios controlados, e importante identificar o mais

adequado para cada situao. Tipologia se estabelece em funo do princpio de

organizao dado aos termos do vocabulrio, desde a organizao por ordem

alfabtica, passando por sistemas mais rgidos (planos de classificao), at chegar

aos tesauros. Dentro dessa perspectiva, podem-se citar quatro tipos, as listas, o anel

de sinnimos, o tesauro e a taxonomia, que variam de acordo com a sua

41

complexidade. Essa complexidade proporcional quantidade de tipos de relaes

semnticas existentes entres os termos. Maior a quantidade de tipos de relaes

semnticas, maior a complexidade do vocabulrio controlado.

A figura abaixo mostra a relao da complexidade nos tipos de vocabulrios.

Figura 1 Complexidade de vocabulrios controlados1

Os extremos, esquerdo e direito, respectivamente, mostram o tipo de

vocabulrio controlado menos e mais complexo.

As listas so o tipo de vocabulrio controlado mais utilizado devido a sua

simplicidade e a lgica clara com que se apresentam para os usurios. Na lista

alfabtica, os valores so ordenados alfabeticamente, tanto dos termos adotados,

quanto dos no adotados, num sistema de remissivas.

O anel de sinnimo um grupo de dois ou mais termos considerados

equivalentes, ou seja, o usurio pode acessar todos os registros de uma base de

dados que contm qualquer um dos termos. A definio dessa equivalncia cumpre

apenas o propsito de melhorar o ndice de revocao. Os sistemas de busca

executam de forma transparente, para o usurio, uma expanso da busca com todos

os termos definidos como variantes para o termo utilizado por ele na query.

O tesauro uma linguagem documentria, que apresenta algumas

peculiaridades, pois sua hierarquia de assuntos possui uma relao associativa e

sua estrutura no se baseia em conceito de palavras simplesmente, mas sim de

termos conceituados e relacionados. uma linguagem documentria dinmica que

1 http://www.experienciasemantica.com/paginas/publicacoes_04.html

http://www.experienciasemantica.com/paginas/publicacoes_04.html

42

contm termos relacionados semntica e logicamente, a fim de representar o

conhecimento atravs da determinao dos documentos e das solicitaes de

busca.

De acordo com Cavalcanti,

Tesauro uma lista estruturada de termos associada empregada por analistas de informao e indexadores, para descrever um documento com a desejada especificidade, em nvel de entrada, e para permitir aos pesquisadores a recuperao da informao que procura. (CAVALCANTI, 1978, p. 27.)

O tesauro, dentre as linguagens controladas, constituem um dos meios mais

utilizados para a indexao e recuperao de documentos e/ou informaes.

A taxonomia uma estrutura classificatria que tm por finalidade servir de

instrumento para a organizao e recuperao de informao em empresas e

instituies. Caracteriza-se por conter uma lista estruturada de conceitos/termos de

um domnio, incluir termos organizados hierarquicamente, possibilitar a organizao

e recuperao de informao atravs de navegao, permitir agregao de dados,

alm de evidenciar um modelo conceitual do domnio. A taxonomia um instrumento

de organizao intelectual e atua como um mapa conceitual dos tpicos explorados

em um Sistema de Recuperao de Informao, sendo um novo mecanismo de

consulta em portais institucionais, atravs de navegao.

Segundo as autoras Campos e Gomes,

As taxonomias tm sido bastante empregadas em portais coorporativos e em bibliotecas digitais. Alm dessas aplicaes, o seu uso tem sido tambm bastante difundido no contexto da Web Semntica. Aqui, a utilizao de taxonomias permite que se estabeleam padres de alto nvel para a ordenao e a classificao de informao atravs do uso de mecanismos de herana. (CAMPOS; GOMES, 2008.)

Para todos os tipos primordial que, a priori, seja feito um estudo da

linguagem e que se proceda ao controle, para elaborar um vocabulrio padronizado,

a fim de assegurar a consistncia no tratamento e acesso das informaes.

Para melhor compreenso sobre vocabulrio controlado como um instrumento

de recuperao da informao destaca-se alguns conceitos referentes

necessidade de tratar e organizar a informao.

Para Dobedei (2002, p. 11) a especializao do conhecimento, o crescimento

da massa documental e das tecnologias da informao, foram fatores que

43

contriburam para o surgimento e desenvolvimento de novas formas de organizao,

representao e recuperao da informao.

Complementado por Cintra, que afirma:

A soluo foi encontrada com uma mudana do enfoque e da conceituao da recuperao da informao. Com efeito, foi abandonada a perspectiva preferencial da recuperao bibliogrfica, normalizao classificatria e descritiva, buscando-se a construo de linguagens prprias (CINTRA et al, 1994, p. 23).

Pode-se incluir nesse processo o avano das tecnologias que com as

ferramentas de armazenamento, busca e acesso, possibilitou novos recursos que

passam a ser utilizados no sistema informacional da rea Arquivstica.

O uso de um vocabulrio estruturado permite ao pesquisador recuperar a

informao com o termo exato utilizado para descrever o contedo daquele

documento cientfico, provenientes de termos consistentes, que permite ao usurio

selecionar a informao de que necessita. Logo, a coleta, a descrio, o

processamento e a apresentao de informaes a respeito de termos padronizados

para a compilao de glossrios, dicionrios e bancos de dados terminolgicos,

representam uma nova perspectiva para a terminologia.

4.1 Estrutura do vocabulrio controlado

Smit e Kobashi (2003) apontam como estrutura de controle de vocabulrio os

procedimentos Micro e Macro de controle de vocabulrio, que sero adotados para

esta pesquisa.

4.1.1 Procedimentos micro de controle de vocabulrio

Os Procedimentos micro de controle de vocabulrio tm por finalidade

introduzir o controle nos termos ou expresses e entre estes. Contemplam

particularmente, seis aspectos, que so a normalizao gramatical; opes de

grafia; alteraes nos nomes de pessoas ou topnimos; controle de sinonmia,

homonmia e quase-sinonmia; adoo de termos compostos e introduo de notas

de escopo e notas de uso.

44

A normalizao gramatical trata da forma gramatical, propriamente dita dos

termos ou vocbulos, determina a forma a ser adotada tanto dos termos nicos

como dos termos compostos.

As opes de grafia tratam de resolver situaes em que o mesmo termo ou

expresso apresenta grafias diferentes, frequentemente em funo da passagem do

tempo, geralmente adotado o uso de remissivas, visto que, geralmente a busca

feita pela denominao atual.

As alteraes nos nomes de pessoas ou topnimos constituem uma variante

das opes de grafia. No caso de lugares (cidades, bairros, ruas, praas, etc..)

supe-se sempre a possibilidade de resgatar o ato legal que determinou a mudana

e no caso de nomes prprios existem vrias situaes a ser levado em conta, como

o nome mais conhecido, mais popular, sempre com o uso de remissivas.

O controle de sinonmia, homonmia e quase-sinonmia constituem casos de

grande relevncia em relao ao controle do vocabulrio. A sinonmia a

coincidncia de significado entre diversas palavras. a relao que se estabelece

entre duas palavras ou mais que apresentam significados iguais ou semelhantes, ou

seja, os sinnimos.

Segundo Gomes, as sinonmias podem se manifestar de diversas formas:

Descritores de origem lingstica diferente, como por exemplo: poliglota ou multilnge; antdoto ou contraveneno; nomes populares e nomes cientficos; Substantivos comuns e nomes comerciais: giletes ou lminas de barbear, omo ou sabo em p; formas variantes para conceitos emergentes: continers ou contentores ou cofres de carga; grafias diversas, inclusive com variantes no radical: catorze ou quatorze, quociente ou cociente, cota ou quota; palavras favorecidas, ou de uso corrente, versus palavras antigas: deodontologia ou tica; energia atmica ou energia nuclear; siglas ou nomes por extenso [...] (GOMES, 1990, p. 47).

Para a deciso do termo a ser adotado, nestes casos, deve-se levar em conta

o conhecimento da cultura local (termo usual da instituio) quanto da terminologia

adotada pela legislao.

A quase sinonmia prxima sinonmia, porm mais operacional. o caso

da existncia de duas ou mais expresses para designar uma mesma atividade e

que no so consideradas sinonmias.

A homonmia a relao entre duas ou mais palavras que, apesar de

possurem significados diferentes, possuem a mesma estrutura fonolgica, ou seja,

os homnimos possuem identidade fontica entre formas de significados e origem

45

completamente distintos. Exemplos: So (Presente do verbo ser) - So (santo).

Trata-se de uma mesma expresso para atividades diferentes.

Adoo dos termos compostos representa atividades identificadas por

expresses formadas por mais de uma palavra, geram uma srie de dvidas

relacionadas manuteno ou no da expresso como um todo, quanto ordem a

ser adotada entre os termos.

A ISO 2788 determina que os termos de indexao devem representar o

mximo possvel de noes simples ou unitrias, e que os termos compostos devem

decompor-se em elementos mais simples, a no ser que esse procedimento no

venha a afetar a compreenso do usurio.

Devido complexidade das decises e anlises feitas para os termos

compostos, importante verificar que os termos ou expresses adotados devem

aproximar-se, tanto quanto possvel, da linguagem consolidada pela legislao e da

linguagem utilizada pela instituio; valorizar a coerncia interna do vocabulrio, ou

seja, manter a mesma deciso ao decorrer do vocabulrio e diferenciar a nomeao

de atividades das aes que as modificam.

As notas de escopo (NE) e notas de uso (NU) possuem a finalidade de

determinar de forma clara, explcita, o mbito ou as condies em que determinado

termo deve ser utilizado. As notas de escopo devem explicitar a amplitude ou o

entendimento atribudo ao conceito. As notas de uso no se propem a explicitar o

conceito, mas as recomendaes prticas que devem nortear o uso do termo.

O vocabulrio controlado se utiliza da semntica (em alguns pontos) para

proceder ao controle do vocabulrio (termos e definies) que sero adotados.

Do ponto de vista da cincia arquivstica, pode-se dizer que a utilizao dos

termos normalizados de acordo com o contexto e a cultura organizacional de uma

instituio um dos fatores determinantes para garantir a dinmica da gesto

documental. A elaborao dos instrumentos de gesto e de avaliao depende sua

eficcia utilizao de termos normalizados para que no haja a disperso de

informao, como j foi pontuado. Neste sentido, Aguiar (2008, p. 203), diz que a

importncia de uma linguagem comum a todos imprescindvel para garantir a

comunicao compartilhada.

A sntese dos procedimentos Micro de controle de vocabulrio visa

estabelecer um vocabulrio controlado para a identificao e subseqente busca de

46

documentos e informaes no arquivo, com preciso e confiabilidade, processa-se

atravs dos procedimentos a seguir:

Distino entre termos adotados e termos no adotados pelo sistema;

remissivas dos termos no adotados para os termos adotados; padronizao formal

dos termos adotados; conceituao de termos.

4.1.2 Procedimentos macro de controle de vocabulrio

Os procedimentos macro dizem respeito ordenao, hierarquizao,

estruturao e categorizao dos termos. Portanto, nesta pesquisa levam-se em

conta os planos de classificao de documentos existentes, que disponibilizam as

atividades/funes desenvolvidas, hierarquicamente dispostas, assim como, os tipos

documentais resultantes.

Apresentam nveis de relacionamento formados por relao entre os termos

que so, as relaes de equivalncia, hierrquica e de associao, apresentados

abaixo para um maior esclarecimento da estrutura do vocabulrio controlado, no

quadro 1: Relaes bsicas e simbolizaes.

NVEIS DE

RELACIONAMENTO

REFERNCIA SMBOLO

Relao de Equivalncia USE USE

USADO PARA UP

Relao Hierrquica TERMO GENRICO TG

TERMO ESPECFICO TE

Relao de Associao TERMO RELACIONADO TR

NOTA EXPLICATIVA

NOTA DE USO

NE

NU

Quadro 1 Relaes bsicas e simbolizao.

47

A relao de equivalncia apresentada atravs das expresses USE e

Usado Para (UP), descritas logo abaixo dos termos adotados no vocabulrio

controlado. Precede o termo preferido.

USE: Empregado para indicar o TERMO autorizado para uso. o caso de

selecionar o termo dentre outros e precede o termo no preferido.

UP: Usado Para: Empregado para indicao do TERMO no autorizado, em

favor do TERMO autorizado, sob o qual a informao representada.

As relaes de equivalncia representadas por USE e UP so remissivas, de

forma que aparecem nos dois sentidos. Quando o mesmo conceito pode ser

representado por dois ou mais termos, um dos mesmos deve ser escolhido como o

preferido. A relao entre o preferido e as suas variantes, termos no-preferidos,

chamada de relao de equivalncia ou sinonmia, na qual cada um dos termos

equivalentes representa um mesmo conceito.

A Relao hierrquica formada pelo Termo Genrico e pelo Termo

Especfico, atravs das expresses TG e TE.

O Termo Genrico empregado para indicar um TERMO mais amplo, mais

abrangente. O termo que segue refere-se a um conceito com conotao mais ampla.

Superordenado.

O Termo Especfico empregado para indicar termos mais definidos. O termo

que segue refere-se a um conceito com conotao mais especfica. Subordinado.

As relaes hierrquicas genricas/especficas, representadas por TG e TE,

so tambm remissivas da mesma forma.

A Relao de associao apresentada pelo Termo Relacionado (TR),

empregado para estabelecer associao entre um TERMO cujo significado se

relaciona semanticamente com outro termo. O termo que segue est associado, mas

no nem sinnimo, nem termo genrico ou termo especfico.

O Vocabulrio controlado apresenta tanto os procedimentos micro (relao

dos termos e entre eles), como os procedimentos macro (ordenao, hierarquizao,

estruturao e categorizao dos termos).

O vocabulrio controlado composto de duas partes que so, uma parte

categorizada (ou estruturada), em que as atividades so ordenadas pelas funes

ou pela estrutura. Esta parte pode incluir as notas que restringem ou explicitam o

significado dos termos, e uma lista alfabtica em que as denominaes adotadas

para as atividades remetem para a lista categorizada, ao passo que o controle de

48

vocabulrio se manifesta pela incluso de termos no adotados (remetendo aos

adotados).

4.2 Contribuio da lingustica e da terminologia

Ao passar pelo vocabulrio e seu controle deve-se ter uma noo da

contribuio da lingstica e da terminologia. A linguagem o conjunto de signos

que se agrupam para expressar o pensamento, utilizando-se de regras para atribuir

significado ao signo. A Lingustica concebida como a cincia que se ocupa do

estudo acerca dos fatos da linguagem, cujo precursor foi Ferdinand de Saussure.

O termo lingustica pode ser definido como a cincia que estuda os fatos da

linguagem. Para que possamos compreender o porqu de ela ser caracterizada

como uma cincia, tem-se como exemplo o caso da gramtica normativa, uma vez

que ela no descreve a lngua como realmente se evidencia, mas sim como deve

ser materializada pelos falantes, constituda por um conjunto de sinais (as palavras)

e por um conjunto de regras, de modo a realizar a combinao desses.

Assim, para reforar ainda mais a ideia abordada, consideram-se as palavras

de Andr Martinet, acerca do conceito de Lingustica:

A lingustica o estudo cientfico da linguagem humana. Diz-se que um estudo cientfico quando se baseia na observao dos fatos e se abstm de propor qualquer escolha entre tais fatos, em nome de certos princpios estticos ou morais. Cientfico ope-se a prescritivo. No caso da lingustica, importa especialmente insistir no carter cientfico e no prescritivo do estudo: como o objeto desta cincia constitui uma atividade humana, grande a tentao de abandonar o domnio da observao imparcial para recomendar determinado comportamento, de deixar de notar o que realmente se diz para passar a recomendar o que deve dizer-se (MARTINET, 1978).

Para Saussure, o signo lingustico se compe de duas faces bsicas: a do

significado relativo ao conceito, isto , imagem acstica, e a do significante

caracterizado pela realizao material de tal conceito, por meio dos fonemas e letras

Esta relao do significado com o significante deve ser o mais claro possvel,

para que a linguagem possa ter tambm a funo de representao. Neste nterim,

relaciona-se a linguagem documentria, onde os signos devem representar e

expressar a comunicao documentria, de maneira mais clara possvel ao usurio.

49

A Terminologia surgiu a partir do desenvolvimento tcnico-cientfico iniciado

no sculo XVII, que transformou profundamente a sociedade ocidental pela

revoluo no sistema produtivo. Essas transformaes ampliaram o universo lexical

das lnguas j que, cada descoberta ou invento, passava a ser designado por um

novo termo (Lima, 2006 apud Maimone e Tlamo, 2011). A rea da Terminologia

desenvolve reflexes tericas sobre suas bases conceituais, como metodologias de

trabalho. O principal objetivo da Terminologia, enquanto cincia est em observar os

discursos especializados, no intuito de construir dicionrios e glossrios

especializados. De modo funcional, a Terminologia veculo de conhecimento,

aspecto importante para a descrio e recuperao da informao (LARA e

TLAMO, 2007, apud MAIMONE e TLAMO, 2011).

A Terminologia como rea interdisciplinar serve de apoio nas atividades de

indexao e recuperao e na construo de linguagens controladas.

Segundo Cabr, a Terminologia de grande abrangncia, pois a disciplina

que se ocupa dos termos especializados e possui um conjunto de diretrizes ou

princpios que regem a compilao dos termos, sendo um produto gerado pela

prtica, isto , conjunto dos termos de uma rea especfica (CABR, 1995, p. 289

apud AGUIAR, 2008, p. 205).

Ao analisar os significados das palavras, percebe-se o peso que estas

carregam como representao daquilo que denominam. Devido a isso, torna-se

extremamente importante, os termos ou vocabulrios usados para designar

(representar) a informao na gesto arquivstica.

Quando se fala em vocabulrio controlado, refere-se ao controle dos termos

ou palavras utilizadas para representar as funes, atividades e tipos documentais,

que vo formar a gesto documental nas funes arquivsticas e vo ser

incorporadas tanto nos instrumentos de gesto, como nos instrumentos de

classificao.

O vocabulrio controlado como recurso para a normalizao terminolgica

pressupe o controle da diversidade de significao, para tanto, a contribuio da

terminologia indispensvel para subsidiar esse processo.

http://www.dgz.org.br/abr11/Art_05.htm#R1#R1

50

4.3 As normas terminolgicas e a gesto da qualidade

A International Organization for Standardization - ISO um organismo

internacional e, suas regras devem ser usadas em todas as lnguas. O nome ISO,

que vem do grego "isos" (igual), reflete a filosofia do organismo com participao e

acesso aberto s normas.

A ISO um organismo no-governamental constitudo por uma rede de

institutos de normalizao nacional em 146 pases. Os institutos-membros podem

fazer parte da estrutura governamental de seu pas ou ter mandatos indicados por

seu respectivo governo.

Na condio de organismo mundial de normalizao, a ISO oferece uma

vasta gama de normas que respondem s exigncias de negcios e s

necessidades da sociedade, assim como s necessidades dos consumidores e dos

usurios.

Na rea da terminologia, o Comit Tcnico da ISO de Terminologia e outros

Recursos Lingsticos (ISO/TC37) elaboram normas tcnicas sobre terminologia e

seus produtos, servios, processos e sistemas lingsticos conexos. Estas normas

servem s indstrias da lngua, s atividades lingsticas que da resulta e a toda

pessoa desejosa de fornecer produtos e servios terminolgicos e lingsticos

conexos. As normas da ISO/TC37 sobre os princpios, mtodos e aplicaes da

terminologia so a base da normalizao terminolgica em todos os comits ISO e

servem de guia aos outros comits que produzem a terminologia normalizada de

certa rea.

As normas elaboradas para as terminologias estabelecem procedimentos

para o trabalho terminolgico, ressaltando a elaborao de conceitos, definies e

designaes deste processo.

As designaes (termos/nomes/smbolos) so constitudas de uma ou mais

palavras que representam um conceito geral numa lngua de especialidade. As

relaes termos conceitos so: monossemia, homonmia, sinonmia, polissemia e

equivalncia. A formao dos termos envolve as seguintes caractersticas:

transparncia, consistncia, adequao, economia lingstica, produtividade,

correo lingstica e preferncia pela lngua nativa. A normalizao de

http://www.termium.com/didacticiel_tutorial/portugues/glossaire/terminologia_p.html

51

terminologias deve obedecer aos seguintes critrios: optar pelo termo preferido entre

os especialistas; reduzir ou eliminar as pequenas diferenas entre dois ou mais

conceitos; e, normas especficas para a transliterao e transcrio devem ser

usadas para a disseminao das normas terminolgicas. So produtos

terminolgicos: dicionrios terminolgicos, vocabulrios e glossrios. Os produtos

documentrios ficam por conta das linguagens documentrias que se utilizam dos

produtos terminolgicos, para a sua elaborao e constante atualizao. De fato, o

recurso Terminologia normativa essencial, uma vez que prope parmetros

gramaticais e semnticos de normatizao (CINTRA, 1996, p. 21).

Dentre as normas terminolgicas a ISO 2780 - Norma Internacional para a

Elaborao de Tesauros Monolnges, com a traduo desta norma realizada por

Derek Austin, intitulada: Diretrizes para o estabelecimento e desenvolvimento de

tesauros monolnges, traz algumas regras bsicas destinadas a facilitar a

preparao e desenvolvimento de tesauros. O objetivo principal deste documento

fornecer subsdios para a compatibilizao de tesauros que esto em elaborao ou

que sero elaborados no futuro. Prioritariamente, traz alguns aspectos da seleo de

termos, uma vez que nela esto contidos procedimentos recomendados para o

controle do vocabulrio. Trata dos termos de indexao (simples e compostos) de

tesauros, das relaes bsicas de um tesauro e ainda da apresentao dos termos e

suas relaes.

ANSI/NISO Z39.19, Guidelines for the construction, format, and management

of monolingual controlled vocabularies, com a primeira edio publicada em 1974 e,

desde ento, vrias evolues foram implementadas. Essa norma define que o

objetivo do vocabulrio controlado prover os meios de organizao da informao

para posterior recuperao e que ele, o Vocabulrio Controlado, uma lista de

termos autorizados selecionados a partir da linguagem natural pelo planejador

responsvel.2

Esses termos devem ter uma definio conceitual no ambgua e no

redundante, de forma a garantir a consistncia na indexao dos contedos e tratar

efetivamente as duas caractersticas da linguagem natural que so responsveis

pelos problemas semnticos.

2

http://www.dgz.org.br/abr11/Art_05.htm#R1#R1http://www.thesaurus.eti.br/saber-origem.htm

52

Importante dizer que a norma ANSI/NISO Z39.19 e a ISO 2788, Guidelines for

the establishment and development of monolingual thesauri, estabelecem diretrizes

e referenciais tericos para o desenvolvimento de tesauros ou vocabulrios

controlados, porm, os profissionais responsveis devem tomar vrias decises, ao

longo do processo, que no se baseiam apenas nas normas, mas nos objetivos,

funes, atividades e caractersticas das instituies em foco.

As normas da qualidade incluem a gesto de documentos ou gesto para

documentos de arquivo no processo da gesto da qualidade, so as normas ISO

15489: Informacin y documentacin. Gestion de documento, insere a gesto de

documentos como atividade essencial na implementao da normalizao e,

consequentemente, da qualidade nas organizaes. As partes 1 e 2 Gesto de

documentos de arquivo, da referida norma data do ano de 2001. Entendendo como

documento de arquivo,

Toda a informao criada e recebida, a ttulo de prova ou informao, por uma organizao no exerccio de suas funes, esta primeira publicao coincide com acontecimentos de repercusso internacional em que a gesto da informao teve um papel relevante. (RUEDA, 2012).

A ISO 23081, estruturadas em UNE-ISO 23081-1:2008. Informacin e

documentacin Procesos de gestin de documentos Metadatos para la gestin

de documentos Parte 1:Principios. 2.Norma UNE-ISO/TS 23081-2:2008.

Informacin y documentacin Procesos de gestin de documentos Metadatos

para la gestin de documentos Parte 2: Elementos de implementacin y

conceptuales, tambm elaborada para criar uma estrutura de metadados para

documentos. A ISO 23081 estabelece um quadro para criar, gerenciar e usar os

registros de gerenciamento de metadados e explica os princpios que os regem. Ela

no define um conjunto obrigatrio de registros de metadados de gesto a ser

implementado, uma vez que estes diferem em detalhes, de acordo com os requisitos

de competncia organizacional ou especfico. No entanto, avalia os principais

conjuntos de metadados existentes, de acordo com os requisitos da ISO 15489.

A Norma ISO 30300 - Sistema de Gesto para documentos de arquivo a

norma introdutria de toda a srie, que inicia com dois primeiros produtos, a UNE

ISO 30300 Fundamentos e Vocabulrio e a UNE ISO 30301, que estabelece os

requisitos para a implementao de um Sistema de gesto para documentos de

arquivo. Essa norma rene todo o vocabulrio bsico e definies normalizadas,

53

visando reduzir controvrsias e dificuldades que sempre existem na elaborao de

controle de vocabulrios. Pode ser implementada em todo tipo de organizaes,

independente de sua complexidade, contexto ou localizao geogrfica.

As normas de gesto de documentos tem relao entre si, especialmente as

redigidas pelo Subcomit Tcnico da ISO, denominado Archive/Records Manage

ment [TC46/SC11, na numerao da ISO], e trazem a gesto arquivstica de

documentos nos processos de gesto da qualidade nas organizaes, tendo em

vista que, a gesto da qualidade a implementao de uma srie de processos que

visam introduzir qualidade em produtos e servios, para atingir a satisfao do

cliente. Para tanto, so elaboradas as normas e padres capazes de adequar tais

produtos e/ou servios. A satisfao do cliente o foco principal da gesto da

qualidade, com isso, faz-se necessrio uma constante busca no aprimoramento,

conforme afirmam os autores:

A qualidade a filosofia gerencial que tem como premissa maior a satisfao dos clientes, [e] para alcan-la a empresa dever conhecer as necessidades implcitas de seus clientes reais e potenciais para, ento, modificar os processos que do origem aos seus produtos [e servios], buscando adequ-los ao que estes esperam (NASCIMENTO; FLORES, 2007, p. 63).

A gesto de documentos do sistema da qualidade envolve as funes

arquivsticas e o controle do fluxo informacional, tornando o sistema de arquivos

eficiente para o desenvolvimento de suas atividades e para a satisfao dos

usurios, que podem atingir diversos pblicos, como, internos (a prpria instituio)

e externos (comunidade em geral).

Qualificar os servios prestados pelos arquivos tarefa dos arquivistas, que

devem primar pela qualidade, revisando e planejando aes que possibilitem a

adequao s necessidades dos usurios e, consequentemente, a satisfao dos

mesmos.

Neste nterim, a gesto da qualidade e a gesto de documentos so

complementares e devem estar aliadas, pois sem a gesto de documentos no h

gesto da qualidade nos arquivos e, em contrapartida, a incluso da gesto da

qualidade, permite ao arquivo oferecer servios de excelncia.

A elaborao de instrumentos de gesto padronizados/normalizados contribui

para a racionalizao do tempo das pesquisas, diminui a impreciso nas respostas

informacionais e possibilita o intercmbio, como o caso das normas de descrio

54

arquivsticas. Essa afirmao corroborada pelos autores abaixo, na seguinte

afirmao:

A implementao de sistemas de qualidade tem como objetivo geral facilitar intercmbios internacionais de bens ou insumos, atravs da adoo de normas comuns em organizaes de diferentes pases. Como objetivo especfico, busca o controle e a melhoria contnua de processos de trabalho para uma crescente satisfao de seus clientes (CARDOSO; LUZ, 2005, p. 52).

O uso consistente da linguagem um fator de qualidade e pode contribuir

para a eficcia dos servios. Nesse contexto, o vocabulrio utilizado um requisito

essencial e deve ser devidamente controlado e normalizado, sendo um instrumento

auxiliar na atribuio da qualidade nos servios de arquivo.

A crescente produo e acumulao de documentos e informaes, fez com

que atividades e funes arquivsticas fossem adequadas s novas exigncias e

despertou profissionais da rea da informao, que se voltam para a questo da

qualidade do processo informacional. Esse novo rumo da Arquivologia, tambm

trouxe a elaborao de normas e padronizaes que buscam oferecer um servio

mais qualificado, aliado s facilidades de intercmbio decorrentes das tecnologias de

informao existentes, que passam a exigir uma maior ateno no planejamento de

suas atividades.

4.4 A normalizao e a padronizao na Arquivologia

A preocupao com a normalizao dos termos e vocabulrios utilizados na

informao, visando sua recuperao, deu-se a partir da Biblioteconomia, com o uso

do tesauro de documentao3, de acordo com o Manual de Elaborao de Tesauros

Monolnges, elaborado em 1990, pela professora Hagar Espanha Gomes. O termo

"tesauro" tem origem no dicionrio analgico de Peter Mark Roget, intitulado

"Thesaurus of English words and phrases", publicado, pela primeira vez, em

Londres, em 1852.

Roget era Secretrio da Royal Society e pretendia, com a obra, facilitar sua

atividade literria, levou nesse trabalho cerca de 50 anos. Em seu dicionrio as

3 Manual de Tesauros Monolnges. Braslia: Programa Nacional de Bibliotecas das Instituies de

Ensino Superior, 1990. 78 p.

55

palavras no foram agrupadas segundo a ordem alfabtica, como ocorre com os

dicionrios da lngua, mas "de acordo com as idias que elas exprimem". Roget,

afirma: "O propsito de um dicionrio comum simplesmente explicar o significado

das palavras; e o problema para o qual ele pretende oferecer a soluo pode ser

apresentado assim: - Sendo dada uma palavra, encontrar seu significado ou a idia

que ela pretende trazer consigo. O que se almeja com este empreendimento

exatamente o contrrio: a saber, - Tendo-se a idia, encontrar a palavra, ou as

palavras, pelas quais a idia possa ser expressa de maneira mais adequada e

ajustada. Com este objetivo, as palavras e frases da lngua esto arranjadas aqui

no de acordo com seu som ou sua ortografia, mas estritamente de acordo com seu

significado".

Roget chamou seu dicionrio analgico de "thesaurus", que um nome

usado para designar vocabulrio, dicionrio. Mas a forma de apresentao foi to

original que a palavra "thesaurus" ficou, na rea de documentao, associada

forma de organizao do vocabulrio de indexao/recuperao.

Na Arquivstica os termos normalizao, normatizao e padronizao, esto

mais freqentes na teoria e na execuo das funes e atividades de arquivo,

principalmente, no que se refere difuso e acesso s informaes, tanto em meio

convencional como em meio eletrnico.

Os dois verbos, normalizar e normatizar, por vezes so usados um pelo outro,

indiferentemente, como sinnimos. Muito embora Houaiss e Villar (2001) admitam a

sinonmia, outros lexicgrafos estabelecem diferena semntica entre eles.

Historicamente, ambos so de introduo relativamente recente na lngua

portuguesa, sendo que normalizar mais antigo do que normatizar. O verbo

normalizar s aparece no sculo XX, a partir do lxico de Simes da Fonseca, at os

dias atuais. Normatizar, porm, somente encontrado nos dicionrios mais

recentes, como o Houaiss, Aurlio sec. XXI, Michaelis, e o de Francisco Borba.

De uma maneira marcante, esses termos comearam a aparecer e despertar

o interesse dos arquivistas nos anos 80, com o incio de debates sobre

normalizao, tendo em vista o surgimento dos documentos em meio eletrnico e a

preocupao da preservao, acesso e recuperao das informaes contidas em

suportes no convencionais.

A preocupao com a organizao da informao para seu acesso toma

nfase com a exploso documental, acarretada no ps-guerra e, o conhecido caos

56

organizacional dos documentos. A problemtica em organizar as informaes

contidas nos documentos acumulados, aliada ao avano rpido da tecnologia que

passa a ser usada, tambm, nos arquivos, fez sentir nessa poca, a necessidade

cada vez maior da normalizao, processo j utilizado com grande valia na

Biblioteconomia.

Surgiram, ento, as Normas Internacionais com o objetivo de normalizar a

descrio dos documentos arquivsticos, sempre com a finalidade de organizar o

acesso s informaes e, assim, normatizar as representaes das informaes

arquivsticas.

Na rea da Arquivologia, com a criao do Comit de Normas de Descrio

no Conselho Internacional de Arquivos (CIA), em 1989, que a representao das

informaes passou a ser, efetivamente, encarada como essencial do trabalho

arquivstico. De fato, o Comit, inicialmente ad hoc, tinha como tarefa elaborar um

documento-base sobre normas que deveriam orientar a descrio em arquivstica,

de modo a normalizar, em nvel internacional, a descrio. Esse comit adotou como

ponto de partida para as discusses trs normas j existentes em trs pas