gestão do conhecimento nas indústrias de santa catarina
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Gestão do Conhecimento: estágio atual das médias e grandes
indústrias de Santa Catarina
Paulo Roberto Floriano Junior
Graduando em Ciências da Administração pela Universidade Federal de Santa Catarina
Integrante do Núcleo de Estudos em Gestão da Informação, do Conhecimento e da Tecnologia
Consultor em web design e marketing para internet
Maria Terezinha Angeloni, Dra.
Doutora pela Université Pierre Mendes France de Grenoble- França
Professora da Universidade do Sul de Santa Catarina- UNISUL
Cláudia Romani, Msc.
Specialist of Information Systems and Networks - Ryerson Polytechnic University - Canadá
Mestre em Administração pela Universidade Federal de Santa Catarina
Analista de projetos do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial- SENAI-DR/SC
Resumo
O tema gestão do conhecimento vem crescentemente se constituindo foco de estudo de
teóricos tanto da área administrativa, quanto de outras áreas relacionadas com o universo
organizacional. Do mesmo modo, as práticas que englobam a gestão do conhecimento, que
nos últimos anos foram implementadas de maneira intensa nas organizações líderes de
mercado, passam hoje a ser centro das atenções das empresas que desejam gerar vantagem
competitiva. Nesse sentido, é objetivo deste artigo verificar o grau de aplicação do modelo de
gestão do conhecimento utilizado pelo Núcleo de Estudos em Gestão da Informação, do
Conhecimento e da Tecnologia - NEGICT na realidade das médias e grandes indústrias
catarinenses, verificando sua percepção acerca do tema e diagnosticando suas políticas e
práticas nesse sentido. Pretende-se, dessa forma, oferecer um diagnóstico sistêmico do cenário
industrial catarinense no que se refere à gestão do conhecimento, e servir de referência para as
empresas que desejam romper com seus paradigmas tradicionais e se reinventarem rumo à
gestão efetiva de seus ativos intangíveis.
Palavras-chave: conhecimento, infra-estrutura, pessoas, tecnologia, indústrias.
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Introdução
A reconhecida importância do gerenciamento do conhecimento no meio empresarial
exige uma nova postura frente aos novos desafios das organizações. As permanentes
demandas por eficiência, eficácia e efetividade e a necessidade de competir num mercado
global, leva a repensar a função da gestão como elemento da epistemologia das organizações.
O estudo do conhecimento humano e, de modo mais amplo, do conhecimento
organizacional, pode conduzir a geração de subsídios que permitam formular um novo tipo de
organização, na qual se observam não comportamentos reativos, mas ações autônomas de
mudança, ocorrendo de maneira constante.
O termo conhecimento traz em si um conjunto de informações pertinentes a um
sistema de relações critica e valorativamente elaborado. É a mistura fluida de experiência
condensada, valores, informação contextual e insight experimentado, a qual propicia a
estrutura para avaliação e incorporação de novas experiências e informações, tendo origem e
aplicação na mente dos conhecedores (Davenport; Prusak, 1998). Como afirma Morin (1986),
o termo conhecimento significa "compreender todas as dimensões da realidade, captar e
expressar essa totalidade de forma cada vez mais ampla e integral".
Do mesmo modo, pode-se definir a gestão do conhecimento como um conjunto de
processos que governa a criação, a disseminação e a utilização de conhecimento no âmbito
das organizações. De acordo com Angeloni (2002), uma organização do conhecimento é
aquela em que o repertório de conhecimentos individuais e socialmente compartilhados pelo
grupo é tratado como um ativo valioso e capaz de enfrentar as contingências ambientais.
Deste modo, Terra (2000, p.44), caracteriza as organizações geradoras de conhecimento como
aquelas que “estão derrubando as paredes funcionais e criando uma ‘teia impecável’ entre
invenção, projeto, fabricação, vendas, logística e serviços, e permitindo que as decisões, assim
como a criação, captação e codificação do conhecimento estejam ocorrendo nos níveis mais
baixos da organização”.
A partir dessas novas premissas organizacionais, que norteiam os trabalhos científicos
do NEGICT, baseado no modelo de organizações do conhecimento apresentado na figura 1,
construído sob a forma de átomo para que se pudesse compreender a organização de
conhecimento como um conjunto de variáveis dinâmicas que interagem constantemente, de
forma cíclica, contrariamente ao paradigma cartesiano.
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Figura 1 - Modelo de organizações do conhecimento (Angeloni, 1999).
Imbuído de uma perspectiva holística, o modelo considera qualitativamente em
equilíbrio as três dimensões constitutivas da organização do conhecimento: infra-estrutura
organizacional, pessoas e tecnologia.
Dimensão infra-estrutura organizacional
Dentre as dimensões que compõem as organizações do conhecimento, a infra-estrutura
organizacional é a que contém os elementos responsáveis pela existência e manutenção da
totalidade e da continuidade da organização, e é responsável pela criação de um ambiente
organizacional propício ao gerenciamento do conhecimento (Angeloni, 2002).
Partindo desse pressuposto, a criação e a manutenção de uma visão holística (ou
sistêmica) na organização surge como uma forma de análise organizacional, ao mesmo tempo
que complexa, imprescindível para a criação de uma organização do conhecimento. É
objetivo da gestão holística buscar continuamente a integração dos indivíduos à missão, visão
e estratégias da organização, de forma que eles compreendam as necessidades da organização
por meio da criação de ima visão compartilhada.
Como conseqüência dessa mudança de paradigma, a organização deve passar por um
processo de reavaliação, que envolve, sobretudo, uma análise da cultura organizacional.
Segundo Fleury (1995), a cultura organizacional é uma forma de interpretação da realidade
organizacional, que se transforma numa “fôrma”, ou molde, para lidar com as questões
organizacionais. Uma vez que a cultura organizacional exprime a identidade de uma
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organização, esta identidade deve propiciar uma atitude positiva em relação ao conhecimento,
estimulando assim sua geração, compartilhamento e utilização.
Neste sentido, o papel da liderança é de suma importância para a geração de um
ambiente propício à criação, utilização e compartilhamento do conhecimento. Segundo Dazzi
(in Angeloni, 2002, p. 51), “não há mais como manter uma relação de comando, controle e
subordinação em um ambiente no qual se requer um comprometimento maior das pessoas e a
capacidade de transferir seus conhecimentos sem o constante medo de compartilhá-lo”. O
papel do líder, nesse sentido é criar condições propícias para a geração e o compartilhamento
dos conhecimentos da equipe.
Do mesmo modo, a estrutura adotada pelas organizações exerce forte influência
sobre a gestão do conhecimento. Ela é responsável direta pela disseminação e
institucionalização de um ambiente de constantes desafios, aprendizado e inovação. A adoção
de estruturas rígidas e cristalizadas não é mais compatível com as incertezas do ambiente
atual. “Os trabalhadores que utilizam conhecimentos, os quais compõem em escala crescente
a força de trabalho, não se submetem aos métodos de comando e controle do passado”
(Drucker, 1992, p. 218).
A criação de um ambiente organizacional propício ao gerenciamento do conhecimento
por si só não é suficiente, a organização precisa de pessoas com um perfil condizente com a
nova realidade organizacional.
Dimensão pessoas
Nesta dimensão estão agrupadas as principais habilidades e competências humanas a
serem desenvolvidas e efetivamente adotadas em ambientes organizacionais voltados à gestão
do conhecimento. Esses atributos são típicos da condição humana, e não podem ser objeto de
simulações ou modelagens tecnológicas aplicadas – tratam-se, pois, de um conjunto de
elementos qualitativamente diferenciadores da ação das pessoas em seu contexto social
(Angeloni, 2001).
Segundo Davenport e Prusak (1998), a organização só se beneficia como um todo
quando o conhecimento é difundido e transferido, ou seja, compartilhado. O
compartilhamento do conhecimento pode ser definido como a transferência de
conhecimentos tácitos e explícitos através de práticas formais e informais, ou seja, as
organizações do conhecimento têm a tarefa de promover o compartilhamento de
conhecimentos tácitos e explícitos adotando para isso práticas formais e informais.
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Através da aprendizagem, as empresas conseguem adaptar, transformar, criar e
recriar processos e atividades, requisitos fundamentais para as organizações que procuram
vantagens competitivas sustentáveis.
O grande desafio para as organizações é compreender o que significa aprendizagem,
como ela ocorre em nível individual e como se processa a transferência dessa aprendizagem
individual para a organizacional, a fim de poder gerenciar e alavancar esse processo,
direcionando-o para as estratégias e criando uma cultura organizacional que o favoreça
(Fernandes in Angeloni, 2002).
Um elemento que possui estreita ligação com o processo de aprendizagem
organizacional é os modelos mentais. Os modelos mentais representam a visão pessoal do
mundo, por meio das percepções explícitas e implícitas em uma produção ativa de novos
conhecimentos. Para que as organizações consigam obter vantagens competitivas a partir dos
modelos mentais de seus colaboradores, elas devem testar e questionar novas imagens e
reações aos modelos que estão arraigados, buscando com isso, que os indivíduos sejam capaz
de serem flexíveis e adaptáveis às mudanças e a novas percepções (Sartor in Angeloni, 2002).
A gestão da criatividade dos indivíduos da organização também é ferramenta
estratégica para a obtenção de vantagem competitiva. Kao (1997) e Carr (1997) abordam
criatividade como um processo onde as idéias são geradas, desenvolvidas e transformadas em
valor útil para a organização, o que permite que a empresa desenvolva produtos e serviços,
processos e práticas novos, importantes para a estratégia empresarial e de valor para a
empresa, clientela e acionistas.
Assim como a criatividade, a intuição também é calcada em elementos cognitivos e
espontâneos dos indivíduos. A intuição pode ser compreendida, de acordo com Holanda
(1986, p. 963), como a ação de “ver, perceber, discernir; percepção clara ou imediata; [...] ato
ou capacidade de pressentir; [...]”.A intuição se notabiliza por seu caráter inovador e,
portanto, gerador de conhecimentos. Compor um ambiente que favoreça a expressão da
intuição humana significa promover a criação e a externalização de um conhecimento
organizacional tácito que pode acrescentar um diferencial qualitativo à tomada de decisões.
O ambiente organizacional com pessoas que disponham de um perfil adequado as
organizações do conhecimento poderá ser alavancado pelo suporte da tecnologia da
informação.
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Dimensão infra-estrutura tecnológica
Os avanços ocorridos no setor tecnológico, mais especificamente no que diz respeito à
tecnologia de informação, comprovam o surgimento de um novo desafio para as
organizações: captar, acessar e distribuir informações e conhecimentos a todos os limites
organizacionais com rapidez, eficiência e flexibilidade. É importante considerar que a simples
aplicação da tecnologia não pode garantir o sucesso de um programa de gestão do
conhecimento. A tecnologia deve ser aplicada de forma integrada e sistêmica à organização,
buscando sempre a integração com os indivíduos e suas expertises, com a visão e propósitos
organizacionais e sua adaptação à infra-estrutura organizacional.
As tecnologias da informação abordadas pelo modelo de gestão do conhecimento são
as redes de computadores, que tem o objetivo principal de favorecer o compartilhamento do
conhecimento entre os colaboradores de maneira não-linear e informal; o data warehouse,
que visa armazenar em bases multidimensionais o conhecimento tácito e explícito da
organização, proporcionando um acesso a esses conhecimentos também de maneira não-
linear; o gerenciamento eletrônico de documentos - GED - que possui importante papel na
seleção das informações e conhecimentos estratégicos da organização e no acesso rápido e
fácil a essas informações e conhecimentos; e por fim o Workflow, software que facilita o
trabalho em grupo de forma integrada interativa e ativa, permitindo às organizações a
automatização dos relacionamentos entre os usuários, informações e processos e o
compartilhamento de experiências e especialização dos colaboradores da organização.
O modelo de organizações do conhecimento descrito servirá de base para verificar o
perfil de gerenciamento das indústrias catarinenses.
Metodologia O presente estudo caracteriza-se como quantitativo e quantitativo, e foi realizado junto
as médias e grandes indústrias do estado de Santa Catarina, de janeiro de 2001 a julho de
2002. Foram analisadas 33 grandes indústrias e 41 médias indústrias.
A pesquisa utiliza uma combinação sistemática de métodos de pesquisa. Inicialmente
um estudo bibliográfico, e a seguir a coleta de dados primários, através de um questionário.
Após a coleta dos dados, tanto do pré-teste como da pesquisa em si, os mesmos foram
analisados estatisticamente, utilizando-se o software Sphinx Plus 2 for Windows.
O estudo tem os seguintes objetivos:
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- identificar a percepção das organizações pesquisadas acerca da gestão do
conhecimento;
- diagnosticar as políticas e práticas de gestão do conhecimento utilizadas por essas
organizações;
- identificar o grau de aplicação do modelo de organizações do conhecimento
apresentado anteriormente, por meio de suas dimensões e variáveis;
- Comparar os resultados obtidos das médias com as grandes indústrias.
Apresentados os caminhos seguidos para a realização da pesquisa passamos ao
tratamento dos dados da pesquisa.
Resultados da Pesquisa Ramo de atividade das indústrias pesquisadas
No que diz respeito ao ramo de atividade, foi observado um predomínio, entre as
grandes indústrias, o ramo metal mecânico, alimentos e do vestuário, enquanto entre as
médias industrias destacam-se empresas do ramo mobiliário, do vestuário e do setor metal
mecânico.
0% 5% 10% 15% 20% 25% 30%
alimentos
metal mecanica
ceramica
mobiliario
vestuario
mineração
plastico
quimica
calçados
const.civil
comunicações
médiasgrandes
Figura 2- Ramo de atividade das empresas pesquisadas
Percepção da gestão do conhecimento
Quando questionados sobre a importância da gestão do conhecimento para suas
empresas, os executivos são quase que unânimes ao considerar (90% das médias e 91% entre
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as grandes indústrias) a gestão do conhecimento como essencial para a garantia da
competitividade de suas organizações. Do total de empresas pesquisadas, apenas 3,03% das
grandes indústrias não consideram a gestão do conhecimento importante em sua organização.
90% 91%
0% 3%10% 6%
0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%
100%
sim não ainda não temosopinião formada
mediasgrandes
Figura 3- Importância da gestão do conhecimento
Dentro dessas empresas, podemos observar que para 85% das grandes e o mesmo
percentual das médias industrias gerenciar o conhecimento organizacional significa propiciar
a geração e a utilização do conhecimento de todos os colaboradores para elaborar estratégias
inovadoras e desenvolver novos produtos. Para 64% das grandes e 68% das médias indústrias
gerenciar conhecimento significa propiciar a geração e a utilização do conhecimento obtido
com seus clientes para a elaboração de novas estratégias e desenvolvimento de novos
produtos. O armazenamento do conhecimento dos colaboradores que é armazenado em
documentos é considerado por 44% das médias e 52% das grandes indústrias como
significado de gerenciamento do conhecimento, seguido pela criação de ambientes de trabalho
para o compartilhamento do conhecimento que é considerado por 41% das médias e 58% das
grandes industrias como significado de gestão do conhecimento.
9
44%
52%
41%
58%
68%64%
85% 85%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
armazenar oconhecimento dos
colaboradores por meiode documentos
criar ambientes detrabalho paracompartilhar
conhecimento
propiciar a geração eutilização do
conhecimento obtidocom clientes
propiciar a geração eutilização do
conhecimento doscolaboradores
medias
grandes
Figura 4- Significado de gerenciamento do conhecimento
Políticas e Práticas de Gestão do Conhecimento
Quando perguntadas sobre a existência (ou não) de programas, políticas e práticas de
gerenciamento do conhecimento, 15% das grandes indústrias disseram possuir programas de
gestão do conhecimento implantados formalmente na organização, enquanto entre as médias,
nenhuma indústria disse possuir programa formal. No plano informal, 39% das grandes
indústrias e 7% das médias indústrias afirmam possuir políticas e práticas funcionando
informalmente na organização, ou não sistematizadas dentro de um programa estruturado de
gestão do conhecimento. Além disso, 30% das grandes indústrias pretendem implantar algum
tipo de programa de gestão do conhecimento num futuro próximo dentro da organização.
Entretanto, entre as médias indústrias houve um grande percentual de médias indústrias (73%)
que não possuem nem têm a intenção de implantar qualquer tipo de programa, formal ou
informal de gestão do conhecimento em sua organização.
10
0%
15%7%
39%
0%
30%
73%
15%20%
0%0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
formal informal não, esperamosimplantar no futuro
não não responderammediasgrandes
Figura 5 - Programas, políticas e práticas de gestão do conhecimento
Para estas empresas que responderam existir programas formais de gerenciamento do
conhecimento na organização - que corresponde a um total de 15% entre as grandes indústrias
- foi indagado, em questão aberta, quais seriam então esses programas. Nesse sentido, as
empresas afirmaram que esses programas englobam treinamento, capacitação e investimento
em educação dos colaboradores; realização de reuniões, conferências, seminários e
workshops; envolvem a sistematização e normatização do conhecimento dos colaboradores
para disponibilização dentro da organização; grupos de gestão da satisfação e melhoria
contínua; implementação de banco de idéias e programas de participação nos resultados da
organização, como se pode observar na figura 5.
A partir dessas respostas, verifica-se que na verdade as empresas não possuem
programas formais estruturados e sistematizados funcionando na organização. De acordo com
o modelo de gestão do conhecimento base do estudo, um programa formal de gestão do
conhecimento deveria abranger todas as áreas e departamentos da organização, mas não é o
que se verifica nessas organizações. Pode-se então afirmar que existem sim, nessas
organizações, políticas e práticas formais de gestão do conhecimento, mas que não chegam a
constituir um programa estruturado e sistematizado.
11
66,67%
33,33%
33,33%
22,22%
22,22%
11,11%
11,11%
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70%
Treinamento
reuniões e conferências
seminários, palestras e workshops
normatização do conhecimento dos colaboradores
grupos de satisfação e melhoria contínua
banco de idéias
participação nos resultados
Figura 6 - programa formal de gestão do conhecimento
Análise do modelo de gestão do conhecimento
Analisada a percepção das organizações sobre a gestão do conhecimento, parte-se
agora para a análise do grau de aplicação do modelo de organizações do conhecimento
(Angeloni, 1999) em todas suas dimensões e variáveis. Para efeitos deste artigo, serão
demonstrados apenas alguns dos resultados mais relevantes para a pesquisa.
No que diz respeito à dimensão infra-estrutura organizacional, podemos verificar
alguns dados positivos em relação à gestão do conhecimento, como por exemplo a maioria
das organizações estar estruturadas sem divisórias com a intenção de facilitar o
compartilhamento do conhecimento entre os colaboradores. Também são fatores positivos a
preocupação dessas empresas com a integração de seus setores e departamentos, denotando
um pensamento favorável à visão holística. Verificou-se na maioria das empresas um estilo
gerencial voltado para a participação e o diálogo entre os colaboradores e dos colaboradores
para com o líder. Alguns fatores não tão positivos constituem-se no fato de que ainda poucas
empresas estão estruturadas por processos; a grande maioria das empresas ainda se encontra
baseadas no modelo tradicional, segmentada por funções. Também se observa que a grande
minoria das organizações possui sistemas de remuneração baseados nas competências de seus
colaboradores; a maioria ainda adota sistemas de remuneração tradicionais, baseados em
funções, reflexo de sua estrutura organizacional.
12
73,2%60,6%
68,3%
72,7%
14,6%
12,1%
65,9%
78,8%
14,6%
33,3%
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80%
preocupação com integração
estímulo da participação doscolaboradores
remuneração baseada emcompetências
local de trabalho sem divisórias
estrutura por processos
grandesmedias
Figura 7 - Estrutura organizacional
No que diz respeito à dimensão pessoas, também foram verificados dados que revelam
uma posição favorável à gestão do conhecimento. Nesse sentido, de acordo com a pesquisa, o
processo de aprendizado na grande maioria dessas organizações ocorre através do
compartilhamento do conhecimento entre seus colaboradores, no próprio local de trabalho. A
grande maioria das organizações afirma desenvolver os modelos mentais de seus
colaboradores, sendo que a grande maioria deles está aberta a novas idéias e maneiras
diferentes de executar suas atividades no trabalho. Por outro lado, menos da metade das
empresas pesquisadas incentivam o afloramento da criatividade em seus colaboradores, seja
através da criação de ambientes propícios para a geração de novas idéias, desenvolvimento de
competências nesta habilidade ou premiação de idéias inovadoras. Do mesmo modo, não
existe uma tendência favorável à utilização da intuição no processo decisório visto que a
grande maioria não oferece incentivos para que seus colaboradores tomem decisões de forma
mais livre e inovadora, e continuam baseando seus sistemas de decisão em aspectos técnicos e
no conhecimento lógico.
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75,6%63,6%
70,7%87,9%
39,0%48,5%
41,5%24,2%
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90%
aprendizagem pelocompartilhamento
desenvolvem modelos mentais
incentivam a criatividade
incentivo para a utilização daintuição
grandesmedias
Figura 8 - a dimensão pessoas
E por fim, no que diz respeito à infra-estrutura tecnológica, pode-se constatar que as
tecnologias mais utilizadas pelas organizações pesquisadas são as mais comuns no mercado,
ou seja, internet e intranet, mas soluções como o gerenciamento eletrônico de documentos e o
groupware também são bastante utilizados por essas organizações. Pode-se afirmar que as
tecnologias implantadas estão, na maioria dos casos sendo utilizadas de maneira efetiva por
essas organizações. A grande maioria utiliza essas tecnologias para comunicação e marketing,
mas são também utilizadas no comércio eletrônico, no compartilhamento e na geração de
informações úteis para a tomada de decisão.
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95%
97%
49%67%
29%58%
10%21%
15%24%
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%
Internet
Intranet
GED
Workflow
Groupware
grandesmedias
Figura 9 - Dimensão tecnologias do conhecimento
Analisados os dados da pesquisa apresentam-se as considerações finais do trabalho
realizado junto as pequenas e médias indústrias catarinenses.
Considerações Finais
As indústrias catarinenses não consideram a Gestão do Conhecimento como um
modismo, mas como uma forma de gerenciamento que garante a competitividade das
organizações.
Armazenar o conhecimento, criar ambientes de compartilhamento, propiciar a geração
e utilização do conhecimento dos clientes e colaboradores, foram destacados como atividades
essenciais do gerenciamento do conhecimento.
Observou-se no estudo que apesar das indústrias catarinenses considerarem a gestão
do conhecimento como essencial a competitividade não adotam programas formais de gestão
do conhecimento e quando consideram possuí-lo os mesmos não se caracterizam realmente
como GC consistindo em treinamento, realização de reuniões e conferências periódicas, assim
como a participação de gerentes e colaboradores em seminários, conferências e workshops.
Ao analisar as questões referentes ao modelo de organizações do conhecimento
detectou-se que muitas práticas de gestão do conhecimento são utilizadas pelas indústrias
catarinenses, porém sem a consciência de que estão gerenciando conhecimento. Essas ações
de gestão do conhecimento, contudo não levam a obtenção de todos os benefícios que
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poderiam ser extraídos se as mesmas fossem realizadas com o foco nas ações de GC
existentes nas organizações.
As pequenas e médias indústrias catarinenses constituem-se assim em um grande
campo de trabalhos de pesquisa e consultoria referentes a conscientização e implantação de
programas formais de gestão do conhecimento.
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