gestao de rppn rio de janeiro

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE FLORESTAS CURSO DE ENGENHARIA FLORESTAL Título: RESERVAS PARTICULARES DO PATRIMÔNIO NATURAL DO MUNICÍPIO DE SILVA JARDIM, RIO DE JANEIRO: Perfil e Características do Manejo ALUNO: ADRIANO LOPES DE MELO ORIENTADOR: RICARDO VALCARCEL SEROPÉDICA-RJ Novembro / 2004

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monografia de final de curso sobre perfil e manejo deum conjunto de rppn no rio de janeiro.

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE FLORESTAS

CURSO DE ENGENHARIA FLORESTAL

Título:

RESERVAS PARTICULARES DO PATRIMÔNIO NATURAL DO MUNICÍPIO DE SILVA JARDIM, RIO DE JANEIRO: Perfil e Características do

Manejo

ALUNO: ADRIANO LOPES DE MELO

ORIENTADOR: RICARDO VALCARCEL

SEROPÉDICA-RJ Novembro / 2004

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE FLORESTAS

CURSO DE ENGENHARIA FLORESTAL

RESERVAS PARTICULARES DO PATRIMÔNIO NATURAL DO MUNICÍPIO DE

SILVA JARDIM, RIO DE JANEIRO: Perfil e Características do

Manejo

ALUNO: ADRIANO LOPES DE MELO

ORIENTADOR: RICARDO VALCARCEL

SEROPÉDICA -RJ Novembro/ 2004

Monografia apresentada ao Instituto de Florestas da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos para obtenção do título de Engenheiro Florestal.

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

DEPARTAMENTO CIÊNCIAS AMBIENTAIS

Ata da reunião da Comissão Examinadora da monografia de graduação do discente Adriano Lopes de Melo, como parte dos requisitos da disciplina IF-223- Monografia e Seminários.

Aos cinco dias do mês de novembro do ano de dois mil e quatro, às quinze horas e trinta minutos reuniram-se no Departamento de Ciências Ambientais o Professor Ricardo Valcarcel, o Engenheiro Florestal Msc. Carlos Alberto Bernardo Mesquita / Instituto BioAtlântica, o Biólogo Paulo César Silva da Motta / IBAMA, membros titulares, e Álvaro Freire da Motta/ IBAMA membro suplente da COMISSÃO EXAMINADORA da monografia de graduação intitulada “Reservas Particulares do Patrimônio Natural do Município de Silva Jardim, Rio de Janeiro: Perfil e Características do Manejo”, do discente Adriano Lopes de Melo, matrícula no. 199803502-9, tendo como orientador o Professor Ricardo Valcarcel, Presidente da Comissão. Após a apresentação da monografia, argüido o candidato, e feita a defesa, a Comissão atribuiu ao discente o conceito “A”, devendo o mesmo efetuar as correções recomendadas e entregar a versão final até o penúltimo dia do período letivo em que estiver matriculado na disciplina, com cópia para o Prof. responsável pela Disciplina, para lançamento do respectivo conceito na pauta.

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AGRADECIMENTOS Durante uns dois anos que antecediam a minha formatura, por muitas noites, dormi pensando neste momento, o de agradecer as pessoas que fizeram parte dos meus cinco anos e meio de estada nesse universo chamado universidade rural. Por isso considero este tópico, agradecimentos, um capítulo desta monografia, e não só de minha vida. A minha mãe, Olga, meu irmão/pai, Axel, e meu pai Guilton, guerreiros e apreciadores da vida, divido a alegria que sinto neste momento, em reconhecimento ao suporte familiar que me foi dado desde o meu primeiro choro. Aos meus avós, Pedro e Lina, também guerreiros da vida, fortalezas da família, por todo crédito e confiança depositados em mim como estudante. A minha grande companheira, amiga e dedicada namorada Monise, a qual expresso o meu reconhecimento por todo apoio e compreensão, principalmente nos momentos de minha ausência. A Gilberto Terra (opulento) e Avelino (ratão), camaradas fundamentais em minha graduação, boa parte do que sou hoje tem influência destes dois, bons momentos dividimos por esse Brasil afora, em ocasiões onde estudo e diversão eram uma só coisa. Por todo o suporte material e intelectual, dedico-lhes o meu título de engenheiro florestal. Aos professores do departamento de Botânica, local onde tudo começou, e onde as portas começaram a se abrir. Sorte a minha ter iniciado por lá. Ao Luis Fernando, agradeço por ter me dado a oportunidade de trabalhar na imperiosa Marambaia; As professoras Marilena (na verdade MÃErilena) e Helena, por todo ensinamento passado, acadêmico e de vida. Ao CAEF, por todo o ensinamento político e momentos proporcionados. Aos entusiastas Sá (políticas públicas) e Telmo (220V), grandes camaradas, por toda a força e troca de ensinamentos. A toda galera do alojamento M432, em suas várias gerações de membros, pelo aprendizado de vida.

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Ao professor Ricardo Valcarcel, pelas reflexões proporcionadas, por insistir em discutir filosofia do estudo, essência e hipóteses do mesmo, características tão necessárias quanto, infelizmente, “fora de moda” no mundo da ciência atual. Ao Beto Mesquita, que desde o primeiro contato se entusiasmou com o meu entusiasmo em relação ao estudo das RPPN, pelo crédito e confiança, além das horas destinadas a esse estudo (aspecto raro hoje em dia) e saberes repassados. Aos proprietários de RPPN de Silva Jardim, em especial à Deise, por todo apoio dado a esse estudo. Ao Paulo Motta (IBAMA), por dispor seu tempo para trocar de idéias sobre as RPPN e, ainda, por revisar este manuscrito. Da mesma maneira ao Alvinho, também do IBAMA. Ao Instituto Bioatlântica pelo suporte estrutural; a APN pela ajuda na reunião dos proprietários, na pessoa da Deise Moreira Paulo; a AMLD pelas informações disponibilizadas; e a Prefeitura Municipal de Silva Jardim pelo apoio, na pessoa de Ezequiel Moraes. A toda equipe do LMBH/IF pelas discussões e sugestões enriquecedoras. Não poderia deixar de agradecer a mim mesmo, por acreditar sempre no que estava fazendo, com entusiasmo e perseverança e, ainda, ao mar e ao bodyboarding, pelos momentos de puro alto astral em que passamos juntos. Tal sentimento, naturalmente, foi irradiado por tudo e todos que estavam em minha volta, o que tornou mais tranqüilo o andamento deste trabalho. Viver ainda é muito bom!

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“...não que a vida esteja assim tão boa, mas um sorriso ajuda a

melhorar...”

Forró do grupo Fala Mansa

“Saber é poder”

“Sejamos otimistas e deixemos o pessimismo para dias melhores” “No início o pessoal acha estranho, pensa que se está doando terras para o Ibama, e que esse negócio de preservar a natureza é coisa para doido ou para que não tem com que se preocupar...Mas depois, com a degradação do ambiente, aquele produtor rural que reservou um pedaço da mata, que protegeu as nascentes dos rios, que deixou em pé as árvores que abrigavam uma enorme quantidade de espécies, muitas ameaçadas de extinção, passa a ser visto como um visionário, alguém que enxerga longe faz a coisa certa: protege os recursos naturais que se encontram dentro de sua propriedade” Henrique Berbert (RPPN Serra do Teimoso – Jussari-BA)

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DEDICATÓRIA

Dedico esta monografia a minha mãe e meu irmão, guerreiros in-cansáveis e apreciadores da vida.

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RESUMO Áreas naturais protegidas em terras privadas é uma estratégia disseminada mundialmente, constituindo uma alternativa para a proteção da biodiversidade in situ, dada a crescente destruição de habitats, especialmente nos trópicos. Contudo, o conhecimento sistemático sobre o perfil dessas reservas ainda apresenta-se como uma lacuna. No município de Silva Jardim, Estado do Rio de Janeiro, existem 10 Reservas Particulares do Patrimônio Natural - RPPN, que protegem cerca de 1.000 ha de Mata Atlântica da zona entre Baixada Litorânea e pé da Serra do Mar, tornando-o o Município com mais RPPN Federais no Brasil, junto com Presidente Figueiredo, no Amazonas. O estudo analisa o perfil e suas características de manejo, de acordo com a percepção dos proprietários, onde coletou-se informações a partir de 42 perguntas adaptadas de MESQUITA (1999). O proprietário é pessoa física (100%), com idade compreendida entre 40-80 anos, atuando na conservação do patrimônio natural, sobretudo, por objetivos e motivações conservacionistas (100%), tais como conservar a diversidade biológica, proteger espécies ameaçadas de extinção e conservar amostras de ecossistema. As RPPN estudadas não desenvolvem atividades de educação ambiental, pesquisa ou ecoturismo de forma sistemática e planejada (100%). Não há Plano de Manejo em 100% dos casos, e tampouco (100%) há assistência profissional para o manejo e proteção das mesmas. Todas as RPPN receberam algum tipo de incentivo para a criação da unidade, ora governamental ora através de ONGs. Os maiores problemas são, em ordem de importância, falta de políticas públicas claras, pressão de caça e falta de recursos financeiros. A interação com outras unidades de conservação, por meio de cooperação mútua, foi mencionada por 50% dos proprietários. Os proprietários estão satisfeitos (100%) em estarem desenvolvendo atitudes pro-ativas de conservação da natureza. As ações da Associação Mico-Leão-Dourado, da Associação Patrimônio Natural do Rio de Janeiro e da Prefeitura de Silva Jardim foram identificadas como baluartes do movimento de criação de RPPN no município. Entretanto, esforços conservacionistas devem ser prioritariamente direcionados para a implementação de atividades básicas de manejo e proteção das RPPN que já existem, afim de que cumpram com os objetivos pelos quais foram criadas. Tais entidades foram identificadas como fatores condicionantes para que este processo, de fato, seja alavancado. Palavras chaves: Unidade de conservação, Reservas Particulares do Patrimônio Natural, RPPN, conservação em terras privadas, áreas protegidas e Silva Jardim.

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ABSTRACT Protected natural areas in private lands are a worldwide disseminated strategy, being an alternative for the biodiversity protection in situ, facting the habitats destruction raising, specially in the tropics. Neverthless, the sistematic knowledge about these reserves profile still has been presented as a gap.There are 10 Natural Heritage Private Reserves (RPPN) in Silva Jardim city, in Rio de Janeiro, that protect around 1.000 hectares of Atlantic Rain Foresty. They are localizated at the zone between the Coastal lowland and next to Serra do Mar. This city became the one with more Federal RPPN in Brazil, together with Presidente Figueiredo in Amazonas. This study analyses the profile and the characteristics of manegement, in agreement with the proprietery`s perception, from where informations were collected through 42 adaptated questions from MESQUITA (1999). The proprietary is a physical person (100%), being between 40-80 years old, acting on the Natural Heritage conservation, overcoat for the goals and conservational motivations (100%), like to preserve biological diversity, to protect threated of extinction species and to preserve ecosystems samples. The studied RPPN don`t develop environmental education, research or ecotourism in a maneged and sistematic form (100%). There is nor a manegement plan in 100% of the cases, neither a professional assistance for the manegement and protection of the areas. All the RPPN received any kind of incentive for the easement criation, first government, then through NGO`s. The biggest problems, in an impotance order, are: the lack of a clear public policy, the hunting pression and the lack of financial resourses. The interaction with others easements conservation, through mutual cooperation, was mentionated for 50% of the proprietaries. The proprietaries are satisfied (100%) for being developing pro-actives attitudes for nature conservancy. The actions of Mico Leão Dourado Assossiation, the Rio de Janeiro Natural Heritage Association and the Silva Jardim`s prefecture were identified as a support to the RPPN`s criation moviment in the city. However, conservational efforts must be, in priority, directed to basic activities implementation, about manegement and protection of the already existing RPPN, these to cumply with the goals that they were criated for. These entities were identified as fundamental to the begining of this process. KEY WORDS: Conservation unit, Private Reserve of Natural Heritage, RPPN, conservation in private lands, protected areas, Silva Jardim.

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FICHA CATALOGRÁFICA MELO, Adriano Lopes de. Reservas Particulares do Patrimônio Natural do Município de Silva Jardim, Rio de Janeiro: perfil e características do manejo. 2004. 105p. Monografia (Obtenção do título de Engenheiro Florestal). Instituto de Florestas – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRuralRJ.

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viii

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................ 1

2.OBJETIVOS .................................................. 4

2.1 GERAL .................................................... 4

2.2 ESPECÍFICOS .............................................. 4

3. JUSTIFICATIVA ............................................. 5

4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA...................................... 6

4.1 Definição ................................................ 6

4.2 Histórico ................................................ 7

4.3 Importância ............................................. 10

4.4 O Movimento RPPNista..................................... 12

4.5 Desafios das RPPN no Brasil.............................. 15

4.8 Unidades de Conservação da natureza em Silva Jardim ....... 18

5. MATERIAL E MÉTODOS ....................................... 22

5.1 Área de estudo .......................................... 22

5.2 RPPN .................................................... 24

5.3 Aplicação do questionário................................ 25

5.4 Variáveis levantadas..................................... 25

5.5 Êxito das reservas....................................... 26

5.5 Análise estatística...................................... 28

6. RESULTADOS ............................................... 28

6.1 Percepção dos proprietários.............................. 29

6.2 Informações Tangíveis.................................... 36

7. DISCUSSÃO ................................................ 42

8. CONCLUSÕES ............................................... 71

9.RECOMENDAÇÕES ............................................. 73

10. REFERÊNCIAS ............................................. 74

ANEXO 1 - Questionário....................................... 81

ANEXO 2 - Fauna da região.................................... 92

ANEXO 3 - Flora da região.................................... 93

ANEXO 4 - Roteiro turístico com RPPN ......................... 94

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1

1. INTRODUÇÃO

Áreas naturais protegidas estabelecidas em terrenos privados

têm proliferado tanto em países industrializados quanto em nações

em desenvolvimento (LANGHOLZ, 2003), constituindo-se em uma

importante ferramenta da iniciativa privada para a conservação da

biodiversidade.

Elas atingem objetivos que variam desde formar zonas de

amortecimento de Unidades de Conservação, corredores ecológicos

ou simplesmente como manifestações conscientes da sociedade de

conservar atributos ambientais regionais (ALDERMAN, 1994; LEES,

1995; LANGHOLZ, 1996; MITCHELL & BROWN, 1998; LANGHOLZ, 2002;

MESQUITA, 1999; MORSELLO, 2001; THEULEN, 2003a; THEULEN et al.

2003).

Este processo tem sido considerado pela comunidade

conservacionista como uma alternativa inovadora para a proteção

da biodiversidade in situ, porque rompem com o paradigma de que é

o estado (poder público) quem tem a atribuição exclusiva de criar

espaços naturais protegidos para proteger a biodiversidade. dada

a crescente destruição de habitats, especialmente nos trópicos

(LANGHOLZ, 2002; AZEVEDO, 2003; MESQUITA 2002b) Além disso,

economizam recursos públicos, que sempre foram, e cada vez são

mais, escassos para ações de conservação.

Alguns estudos têm sido realizados nos últimos anos sobre as

áreas protegidas em terrenos particulares, objetivando

principalmente compreender as razões para sua implementação e

suas estratégias de gestão e manutenção, entre os quais se

destacam LANGHOLZ (1996), MESQUITA (1999), MORSELLO (2001),

THEULEN (2003), THEULEN et al. (2003) e MARTINS (2003).

Entretanto, a despeito desta súbita proliferação de reservas

privadas no mundo e dos estudos a seu respeito, ainda há

questionamentos não dirimidos (LANGHOLZ, 2002). No Brasil, isso

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não é diferente, poucos são os dados disponíveis em relação aos

motivos de criação dessas áreas (MORSELLO, 2001).

No Brasil, o Decreto 98.914, de 31 de janeiro de 1990

definiu, pela primeira vez de maneira clara, as regras e

condições para o reconhecimento e proteção de áreas naturais em

terras privadas. Nesse momento surgiu o conceito e os principais

preceitos das Reservas Particulares do Patrimônio Natural-RPPN,

tendo sido estabelecidas às atividades permitidas, a forma de

incentivo e os benefícios oferecidos aos que destinassem suas

terras para a proteção do patrimônio natural (IBAMA, 1997;

MESQUITA, 2004a).

Desde então, foram criadas 656 RPPN em todo o país, somando-

se as reconhecidas pelo IBAMA e pelos órgãos estaduais de meio

ambiente do Paraná, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Pernambuco

(os quatro estados que possuem, por enquanto, legislação

específica para o reconhecimento de RPPN). Estas unidades de

conservação juntas protegem mais de 519 mil hectares do

patrimônio natural brasileiro.

O município de Silva Jardim localiza-se na região centro-

norte do estado do Rio de Janeiro (22º30' e 22º33'S e 42º15' e

42º19'W Gr.), às margens da Rodovia BR-101, a 110 km da cidade do

Rio de Janeiro. Com 940 Km2 de superfície, preserva cerca de 36%

da cobertura florestal original (SOS Mata Atlântica, 2000).

Totalmente inserido no Bioma Mata Atlântica, mais especificamente

na área de ocorrência da Floresta Ombrófila Densa, seu território

integra o Corredor de Biodiversidade da Serra do Mar, ocupando

cerca de 43% da Bacia do Rio São João (parte da cabeceira), que

abastece de água a Região dos Lagos.

As florestas do município são classificadas como Ombrófila

Densa Montana (no topo das montanhas), Ombrófila Densa Sub-

Montana (localizada nas áreas de meia encosta) e de Planície

Costeira (matas de baixada). O principal uso do solo no município

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é a criação de gado para corte e leite na região das colinas e

baixadas dessecadas, além da piscicultura, avicultura,

suinocultura e criação de cavalos. A principal lavoura é de

citricultura, seguida de cana-de-açúcar.

Há dois fatores ligados à temática conservacionista que têm

colocado o município de Silva Jardim em evidência no cenário

nacional. O primeiro deles é a existência da Reserva Biológica de

Poço das Antas, onde se desenvolve o programa de conservação e

recuperação do mico-leão-dourado (Leontophitecus rosalia,

Lesson), um dos principais símbolos da riqueza e da fragilidade

da Mata Atlântica, espécie-bandeira para os esforços de proteção

do patrimônio natural brasileiro.

O outro fator é a existência de 10 RPPN neste município,

fazendo do mesmo o recordista em número de unidades de

conservação desta categoria, ao lado de Presidente Figueiredo, no

estado do Amazonas. Não há dúvidas que existe uma forte relação

entre estes fatores. Desde 1990, a Associação Mico-Leão-Dourado

(AMLD) mantém o Programa de Incentivo à Criação e Implementação

de RPPN, como um dos mecanismos para garantir o cumprimento de

sua missão de “conservar a biodiversidade da Mata Atlântica, com

ênfase na proteção do mico-leão-dourado e do seu habitat"

(Associação Mico-Leão-Dourado, 2004). Este programa prevê o apoio

a proprietários rurais conservacionistas, colaborando para que as

áreas de florestas que estão sob seus domínios sejam legalmente

protegidas em perpetuidade. Com o uso de sistemas de informações

geográficas, são elaboradas plantas das propriedades e das áreas

de florestas de interesse - um dos documentos necessários para a

criação de uma RPPN.

Nos últimos anos a AMLD tem atuado em parceria com a

Prefeitura Municipal de Silva Jardim/Secretaria Municipal de Meio

Ambiente e com a Associação Patrimônio Natural (APN), entidade

que congrega os proprietários de RPPN do estado do Rio de

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Janeiro. Esta sinergia nas ações tem apresentado resultados

concretos. Além das 10 RPPN já criadas, pelo menos mais 6

processos estão tramitando no IBAMA para reconhecimento de novas

RPPN em Silva Jardim, sendo que um deles trata-se da que virá a

ser a maior RPPN do estado, com mais de 1.600 hectares

(Associação do Patrimônio Natural, comunicação pessoal).

A APN tem atuado ainda de maneira destacada na mobilização

dos proprietários de RPPN no país, integrando a Confederação

Nacional de RPPN e tendo executado, com apoio do Fundo Nacional

do Meio Ambiente, um importante projeto para capacitação de

proprietários na região sudeste.

Por fim, em virtude dos poucos recursos públicos disponíveis

para a conservação, e do interesse crescente do setor privado, é

importante investigar as origens do movimento de criação de

reservas privadas (LANGHOLZ, 2002), caracterizando-o e

compreendendo-o para que seja estimulado através de políticas

públicas de conservação e desenvolvimento (WILSON, 1997).

2.OBJETIVOS

2.1 GERAL

Identificar o perfil e caracterizar a gestão das Reservas

Particulares do Patrimônio Natural (RPPN) do Município de Silva

Jardim, Rio de Janeiro, de acordo com percepção de seus

proprietários e informações tangíveis existentes.

2.2 ESPECÍFICOS

A) Verificar se os proprietários têm clareza quanto ao

fato de serem donos de uma unidade de conservação;

B) Identificar os principais objetivos das RPPN, seus

problemas e tendências futuras;

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C) Caracterizar e analisar a gestão das RPPN de Silva

Jardim, contrapondo a situação atual com os aspectos

legais vigentes sobre esta categoria de unidade de

conservação;

D) Dar subsídio a potenciais ações conservacionistas

direcionadas para as RPPN de Silva Jardim, tanto

governamentais quanto não-governamentais.

3. JUSTIFICATIVA

As RPPN do Município de Silva Jardim estão localizadas entre

a Reserva Biológica de Poço das Antas, Reserva Biológica União e

o Parque Estadual dos Três Picos, estando superpostas à Área de

Proteção Ambiental do Rio São João (BIDEGAIN & VOLCKER, 2003). A

região faz parte do Corredor de Biodiversidade da Serra do Mar,

área considerada prioritária para a conservação da

biodiversidade, uma vez que possui alguns dos últimos

remanescentes da Floresta Atlântica contínua do estado do Rio de

Janeiro (MMA/SBF, 2000). Essa região em que o município de Silva

Jardim está inserido é considerada ainda berço das águas da

região litorânea do norte fluminense, que é conhecida como Região

dos Lagos.

Nas regiões baixas de Silva Jardim encontra-se o habitat do

Mico-Leão-Dourado, espécie de primata incluída na lista vermelha

de espécies ameaçadas de extinção. Estudos desenvolvidos pela

Associação Mico-Leão-Dourado destacam que para viabilizar a

sobrevivência do Leontopithecus rosalia são necessárias mais

áreas protegidas na região, porém, a maioria das terras

disponíveis se encontram em propriedades particulares (FERNANDES

et al. 2002).

Portanto, as RPPN são consideradas primordiais para o

processo de conservação de remanescentes da região, para a

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6

conservação em longo prazo do Mico-Leão-Dourado e para a proteção

de corpos hídricos que abastecem a bacia hidrográfica. Tais

reservas podem ainda ser utilizadas como corredores ecológicos

para fluxo de sementes e espécies da fauna entre as unidades de

conservação públicas e os fragmentos florestais da região.

Contudo, o conhecimento sistemático sobre o perfil dessas

RPPN ainda é uma lacuna, sobretudo em relação aos seus objetivos

de manejo, atividades desenvolvidas, instrumentos de

planejamento, principais problemas, expectativas para o futuro,

relação com outras unidades de conservação, incentivos recebidos

e rentabilidade; o que torna difícil saber quais as políticas e

que tipo de apoio surtiria mais efeito do ponto de vista de

conservação da biodiversidade, afim de que cumpram com seus

objetivos.

Neste contexto, este estudo contribui para o conhecimento

das características das RPPN de Silva Jardim, relacionando as

percepções dos seus proprietários com as informações tangíveis

existentes. Tais conhecimentos podem servir para a agilizar ações

da Prefeitura Municipal de Silva Jardim, Associação Patrimônio

Natural, Associação Mico Leão Dourado e IBAMA, instituições

diretamente ligadas a essas RPPN, na busca da manutenção do

patrimônio natural de Silva Jardim.

4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

4.1 Definição

No Brasil o SNUC (2000) define RPPN como sendo uma área

privada, gravada com perpetuidade, com o objetivo de conservar a

diversidade biológica, sendo permitida nestas áreas a pesquisa

científica, o ecoturismo e atividades de educação ambiental.

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7

O Brasil é o único país da América Latina a incluir as

reservas privadas no seu sistema de áreas protegidas oficial

(Mesquita, 2004).

Segundo MILANO (2003), as RPPN compreendem áreas privadas,

naturais ou pouco alteradas, de tamanhos variáveis, que são

oficialmente protegidas para a conservação da biodiversidade e/ou

outros atributos naturais considerados relevantes.

Para WIEDMANN (1997) a RPPN é uma reserva oficial de

propriedade particular, designada de forma democrática pelo seu

proprietário, onde a “vontade de proteger” é o ponto de partida e

o início do procedimento que culmina na criação de uma RPPN.

Segundo MESQUITA (1999), a Comissão Mundial de Áreas

Protegidas não propõe uma definição básica que se pode aceitar a

nível internacional para as reservas privadas. Sendo assim, cada

país possui liberdade de propor sua própria definição legal, de

acordo com seus objetivos e interesses.

No Brasil, embora as RPPN figurem o grupo de Uso Sustentável

do Sistema Nacional de Unidades de Conservação, as mesmas, de

fato, poderiam ser consideradas como de Proteção Integral, já que

o item do artigo 21 da Lei 9.985/00 foi vetado pelo Presidente da

República. Como não é possível o Poder Executivo fazer alterações

de redação, ou quaisquer outras modificações, a não ser por meio

de supressão de trechos da lei aprovada pelo Congresso Nacional,

as RPPN acabaram permanecendo como unidade de conservação de uso

sustentável (MESQUITA, 2004a).

4.2 Histórico

O Código Florestal de 1934 já previa, através de sua

classificação das florestas, a conservação dos recursos naturais

em terras privadas, outrora denominadas florestas protetoras

(WIEDMANN, 1997). Criadas pelo poder público estas florestas

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permaneciam de posse e domínio do proprietário e eram

inalienáveis, sendo consideradas de conservação perene.

Nestas áreas o proprietário ficava sujeito à observância das

determinações das autoridades competentes, especialmente quanto

ao plantio, à extensão, à oportunidade e à intensidade da

exploração (WIEDMANN, 1997).

A partir desse artigo do código, todas as florestas do país

foram declaradas de interesse comum de todos os brasileiros,

dessa forma restringindo, pela primeira vez, os direitos sobre a

propriedade privada, isto é, poder-se-ia considerar que nenhuma

floresta era considerada privada (DRUMMOND, 1988).

No entanto, com o advento da Lei Florestal - Lei 4.771 de 15

de setembro de 1965, grandes alterações ocasionaram introduções e

eliminações no velho texto, o do Código de 1934. Dentre tais

alterações, destaca-se a extinção de isenção dos impostos, que,

contudo, foi revogada um ano depois pela lei 5.106 de

02.09.66.(WIEDMANN, 1997).

O Código Florestal de 1965 extinguiu a classificação de

florestas até então vigente e a única modalidade de gravame em

área particular que permaneceu está prevista no art. 6º:

“O proprietário de floresta não preservada, nos termos desta Lei,

poderá gravá-la com perpetuidade. Desde que verificada a

existência de interesse público pela autoridade florestal. O

vínculo constará de termo assinado perante a autoridade florestal

e será averbado à margem da inscrição no Registro Público”.

No entanto, somente em 1990, já sob a responsabilidade do

recém criado Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos

Naturais Renováveis (IBAMA), este artigo foi regulamentado,

quando do surgimento das Reservas Particulares do Patrimônio

Natural, pelo Decreto no. 98.914 de 31 de janeiro de 1990, que

por sua vez foi atualizado pelo Decreto 1.922, de junho de 1996

(WIEDMANN, 1997).

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9

Até a regulamentação do artigo 6º do Código Florestal,

algumas modalidades foram criadas pelo Instituto Brasileiro de

Desenvolvimento Florestal (IBDF), tais como: Refúgios de Animais

Nativos (1977); e Reservas Particulares de Flora e Fauna (1988)

(WIEDMANN, 1997).

Com o referido Decreto, foi a primeira vez que se

instituíram reservas com esse caráter, ou seja, a iniciativa de

instituição da área não nasce do governo, mas sim da livre e

espontânea vontade do próprio proprietário. Dessa forma as RPPN

diferem das mencionadas anteriormente, em que o Estado decide

pela criação da reserva em terras que podem ser públicas ou

privadas. Portanto, as RPPN são as únicas reservas

verdadeiramente privadas, pois são estabelecidas por um

proprietário particular em terras que também têm essa

característica (MORSELLO, 2001).

Na criação das Reservas Particulares do Patrimônio Natural,

buscou-se atender o dispositivo da nova Constituição Brasileira,

que por meio de seu artigo 225 impõe ao Poder Público e a

coletividade o dever de defender o meio ambiente, classificado

como bem de uso comum do povo (WIEDMANN, 2003).

Encerra-se, com isso, um capítulo da história ambiental

brasileira onde somente o Estado teria obrigações de defender o

meio ambiente (WIEDMANN, 1997).

Finalmente por força da Lei 9.985/2000, que institui o

Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC, foi disposto

em seu artigo 21 a definição de Reservas Particulares do

Patrimônio Natural.

Esta mesma Lei, através de seu artigo 46 menciona que cada

unidade de conservação integrantes do SNUC será objeto de

regulamento específico.

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10

4.3 Importância

As RPPN são, dentre as áreas protegidas particulares,

aquelas que parecem ter as maiores chances de sucesso em virtude

de serem cridas por vontade dos proprietários (MORSELLO, 2001).

São, sem dúvida, a maior contribuição do setor privado para

a conservação ambiental in situ (AZEVEDO, 2003). Essas áreas

podem auxiliar os esforços de conservação e se justificam

ecológica, econômica e político-institucionalmente (MORSELLO,

2001).

4.3.1 Importância Ecológica

O estabelecimento de reservas particulares em locais

próximos às áreas protegidas públicas pode servir para aumentar a

superfície submetida a restrições de uso, incrementando a sua

viabilidade (ALDERMAN, 1994).

Essas áreas particulares podem ainda ser utilizadas para

preencher o papel de corredores ou stepping stones entre as

reservas oficiais, ou seja, possibilitando migração entre áreas

sem efeitos negativos, isolamento de populações (MORSELLO, 2001).

As grandes áreas protegidas públicas asseguram a conservação

de amostras significativas dos ecossistemas, e as reservas

particulares, embora sejam freqüentemente de pequeno tamanho,

contribuem para este esforço, desempenhando um importante papel

de amortecimento dos possíveis impactos do entorno (MESQUITA,

1999).

Contudo, o fato de serem freqüentemente de superfície

reduzida não as torna menos importantes, pois em muitas situações

a conservação de pequenos partes de ecossistema pode contribuir

para proteger espécies endêmicas e aves migratórias, por exemplo

(MESQUITA,1999). Apenas áreas públicas não garantem manutenção de

espécies nômades (MORSELLO, 2001).

Page 22: gestao de rppn rio de janeiro

11

LANGHOLZ (2002), menciona que há grande variação de manejo

nos parques privados em todo o mundo, mas, mesmo assim, estes são

capazes de abrigar ampla variedade de nichos de conservação.

Por outro lado, MORSELLO (2001), menciona que na forma

atual, as principais justificativas ecológicas para a criação das

áreas particulares não são satisfeitas plenamente, a não ser em

alguns casos fortuitos. Segundo esta autora, a função de

corredores, o incremento às migrações entre diferentes áreas são

aspectos que não são levados em conta na instituição dessas

reservas.

4.3.2 Importância Econômica

Em países em desenvolvimento os recursos para manutenção de

parques diminuem e a gestão das unidades criadas se torna cada

vez mais difícil (LANGHOLZ, 2002), uma vez que a proteção da

natureza disputa recursos com outras prioridades públicas, tais

como educação, saúde e segurança. E se já é difícil obter

recursos para manejar as unidades existentes, mais ainda o é para

criar novas, sobretudo devido ao alto custo das indenizações.

Como as terras declaradas como RPPN não precisam ser

adquiridas pelos governos, a prioridade poderia passar a ser o

investimento através de recursos no apoio ao manejo e na solução

dos seus principais problemas (MORSELLO, 2001).

LANGHOLZ (2002), menciona que a criação de reservas de

caráter privado representa economia substancial para os governos,

que de outro modo teriam que comprar terras e pagar por sua

proteção, como em um parque.

4.3.3 Importância Político-Institucional

Por sua maleabilidade, as reservas privadas criada pelo

movimento conservacionista podem inovar nos processos de

Page 23: gestao de rppn rio de janeiro

12

políticas e gestão das Unidades de Conservação, achando assim

alternativas mais eficazes de conservação in situ (MORSELLO,

2001).

Um exemplo deste aspecto é a RPPN Salto Morato, com 1.716 ha

de extensão, que apesar de ser uma reserva privada, foi

implementada como um parque no intuito de servir como uma unidade

de conservação modelo desta categoria (MESQUITA,1999).

Outro exemplo, citado por este autor, é a RPPN Ecoparque de

Una, uma reserva que apresenta elevada biodiversidade e espécies

endêmicas, que tem como principal objetivo demonstrar que é

viável promover o desenvolvimento sócio-econômico

compatibilizando-o com a conservação da biodiversidade da RPPN.

4.4. O Movimento RPPNista

Atualmente, existem no Brasil 656 RPPN oficialmente

reconhecidas, considerando as instituídas pelo IBAMA e órgãos

estaduais de meio ambiente – neste caso somente Paraná, Minas

Gerais, Mato Grosso do Sul e Pernambuco -, somando mais de

519.000 ha de área protegidas no país - Figura 1. (MESQUITA

2004). O estado do Rio de Janeiro é o quarto estado com maior

número De RPPN, com 43 reservas.

Page 24: gestao de rppn rio de janeiro

13

Figura 1: Reservas Particulares do Patrimônio Natural por Bioma Brasileiro. Fonte MESQUITA & VIEIRA (2004).

AMAZÔNIA 4.07 milhões km2 48% do território

brasileiro 40 RPPN

39 mil hectares

ECOSSISTEMAS COSTEIROS 8 RPPN

830 hectares

CAATINGA 735 mil km2

9% do território brasileiro 35 RPPN 65 mil

hectares

PANTANAL 110 mil km2

1.3% do território brasileiro 18 RPPN 248 mil hectares

CERRADO 2 milhões de km2 23% do território

brasileiro 103 RPPN

63 mil hectares

MATA ATLÂNTICA1,3 milhão km2

15% do território brasileiro 443 RPPNs 99 mil

hectares

CAMPOS SULINOS 180 mil km2

2% do território brasileiro

9 RPPN 3 mil hectares

Page 25: gestao de rppn rio de janeiro

14

O processo de organização e mobilização dos proprietários de

Reservas Particulares do Patrimônio Natural começou em 1997, com

a criação da Associação Patrimônio Natural (APN) do Rio de

Janeiro. Desde então, onze associações de proprietários foram

criadas, além da Confederação Nacional, são elas:

• Associação Patrimônio Natural (APN) do Rio de Janeiro;

• Associação Paranaense de Proprietários de RPPN;

• Associação Bioma Amazônico (RPPN do Amazonas);

• Associação dos Proprietários de Reservas Particulares da Bahia

e Sergipe (PRESERVA);

• Associação de RPPN e Reservas Particulares de Minas Gerais

(ARPEMIG);

• Associação de Reservas Naturais de São Paulo (RENASP);

• Associação de RPPN de Goiás e Distrito Federal;

• Associação de Proprietários do Mato Grosso do Sul

• Associação de RPPN do Ceará, Piauí e Maranhão (Asa Branca);

• Associação Pernambucana do Patrimônio Natural (APPN);

• Associação das RPPN de Alagoas, Paraíba e Rio Grande do Norte

(Macambira);

• Associação Capixaba do Patrimônio Natural (ACPN), em processo

de criação.

As associações de proprietários de RPPN, juntamente com

organizações ambientalistas tem sido fundamentais no processo de

planejamento e implementação de políticas e incentivos a

conservação em terras privadas (MESQUITA, 1999).

Page 26: gestao de rppn rio de janeiro

15

4.5. Desafios das RPPN no Brasil

4.5.1 Dificuldades

O artigo 27 do SNUC estabelece que as Unidades de

Conservação devem dispor de plano de manejo, elaborado até cinco

anos após a sua criação (SNUC, 2000). Esta mesma lei dispõe em

seu artigo 21, que órgãos integrantes do SNUC, sempre que

possível e oportuno, prestarão orientação técnica e científica ao

proprietário da Reserva Particular do Patrimônio Natural, para

elaboração dos Planos de manejo ou de Gestão.

Porém, segundo THEULEN (2003b) isto não tem sido efetivado

até o momento, uma vez que poucas reservas privadas possuem plano

de manejo que subsidiem suas atividades.

Esta mesma autora menciona que, apesar de não haver dúvidas

que o planejamento é uma ferramenta importante para o manejo das

reservas naturais privadas, ainda existem dificuldades para sua

viabilização na prática.

Com o lançamento pelo Ibama do roteiro metodológico para

elaboração de plano de manejo de RPPN, em outubro de 2004,

durante o II Congresso Brasileiro de RPPN, um documento gerado

por meio de discussões entre governo, associações de

proprietários e especialistas na temática, a expectativa é que

esta realidade seja revertida expressivamente, uma vez que

prezou-se pela maior simplicidade na elaboração do plano de

manejo pelo proprietário.

Este fato é fundamental, pois a maioria dos proprietários

não domina técnicas de planejamento.

Algumas outras dificuldades são expostas por BERBERT (2003),

tais como: Burocracia no reconhecimento federal por parte do

IBAMA; falta de capacitação dos proprietários; inexistência de

planejamento; implementação custosa; problemas no relacionamento

Page 27: gestao de rppn rio de janeiro

16

com o poder público municipal; ausência de apoio de órgãos

responsáveis pela fiscalização ambiental; e, divulgação.

4.6.3 benefícios

Os proprietários têm podido submeter projetos a editais

específicos de apoio a programas conservacionistas como o Fundo

Nacional de Meio Ambiente – FNMA; Fundação O Boticário de

Proteção à Natureza; e Programa de Aliança para a Conservação da

Mata Atlântica/Fundação SOS Mata Atlântica e Conservação

Internacional - CI-BRASIL (MESQUITA, 2003).

O FNMA, apoiou em 2002 a elaboração de 11 planos de manejo

de Reservas Particulares do Patrimônio Natural, sendo 5 (cinco)

na Região Centro Oeste, 2 (dois) na Sudeste, 1 (um) Norte e 3

(três) na Nordeste (OLIVEIRA, 2003).

Outros benefícios podem ser relacionados: parceria para

realização de dissertações de mestrado, monografias, artigos

científicos, programas de educação ambiental com apoio de

prefeituras, ecoturismo, doações através de projetos e, parcerias

com ONGs (BERBERT, 2003).

O ICMS Ecológico, criado em 1991, no estado do Paraná, tem

se mostrado uma promissora alternativa na composição dos

instrumentos necessários a execução das políticas de conservação

da biodiversidade, e no caso das RPPN, esse instrumento tem

possibilitado a melhoria de sua conservação, embora exista

necessidade de avanço (LOUREIRO, 2003).

4.6.4 Desafios

Os desafios enfrentados pelo movimento conservacionista de

terras privadas na América Latina tem sido substanciais. Países

como Chile, Costa Rica e Equador têm providenciado a imposição de

instrumentos legais mais compreensíveis e flexíveis para

Page 28: gestao de rppn rio de janeiro

17

conservação em terras privadas (Environmental Law Institute,

2003).

Já no Brasil, MESQUITA (2003) considera como principais

desafios o fortalecimento institucional das RPPN e de suas

associações, juntamente com a criação e adoção de políticas

públicas que reconheçam a importância desta categoria de unidade

de conservação e que ofereçam mecanismos de compensação e

valorização inovadores.

Em outra abordagem, THEULEN (2003) lança o questionamento de

como viabilizar o planejamento de uma RPPN, uma vez que existe

dificuldades até mesmo de manter as suas necessidades básicas.

Para LANGHOLZ (2002), o desafio, tanto para a academia

quanto para os formuladores de políticas, é canalizar a tendência

de crescimento do número de reservas privadas pelo mundo de um

modo que salvaguarde tanto a integridade biológica como a

dignidade humana em longo prazo.

4.7 O perfil das Reservas Privadas

Segundo IBAMA (1999a), empresas, pessoas físicas e ONGs

representam os proprietários de reservas particulares no Brasil.

As pessoas físicas são proprietárias do maior número de reservas,

sendo seguidas pelas empresas e ONGs. Contudo, no que se refere à

área protegida, as ONGs aparecem em primeiro, seguido de pessoas

físicas e empresas.

No entanto, segundo MORSELLO (2001), pouco são os dados

disponíveis em relação aos motivos de criação dessas áreas. Esta

autora menciona que a fonte mais ampla é a apresentada em uma

consultoria realizada pelo IBAMA onde pode-se constatar que:

• existe intenção em utilizar a reserva para futuras atividades

turísticas;

• pretende-se desenvolver atividades de educação ambiental;

Page 29: gestao de rppn rio de janeiro

18

• há intenção conservacionista ao criar a reserva; e

• existe apego sentimental na atitude de criação das UC.

Na América Latina, os principais motivos relacionados com a

criação de RPPN estão relacionados à conservação da diversidade

biológica; de amostras de ecossistemas; proteção de espécies

ameaçadas de extinção; promoção de educação ambiental e proteção

de beleza cênica (MESQUITA, 1999).

LANGHOLZ (2002), encontrou na Costa Rica a empresa familiar

como a forma mais comum de proprietários, com diretoria composta

por membros da família e/ou amigos próximos. Em seguida, são

propriedade de indivíduos ou famílias, mas não legalmente

incorporados em um negócio. Além destas, corporações não

individuais ou familiares e organizações não lucrativas compõe o

perfil dos proprietários da Costa Rica.

LANGHOLZ (2002) menciona ainda que os usos mais comuns nas

reservas daquele país estão relacionados a satisfação pessoal, ao

uso próprio e ao ecoturismo.

4.8 Unidades de Conservação da natureza em Silva Jardim

O município de Silva Jardim apresenta em seus domínios tanto

unidades de conservação de caráter público quanto privado, dentre

as quais têm-se as Reservas Particulares do Patrimônio Natural,

parte da Reserva Biológica de Poço das Antas e parte do Parque

Estadual dos Três Picos, além da Área de Proteção Ambiental do

Rio São João.

As RPPN de Silva Jardim estão localizadas dentro da Área de

Proteção Ambiental do Rio São João e, ainda, distantes cerca de

15 Km da Reserva Biológica de Poço das Antas.

A Reserva Biológica de Poço das Antas, criada em 1974 pelo

IBAMA (6.000 hectares) apresenta 40% com pastagens, sendo os seus

Page 30: gestao de rppn rio de janeiro

19

fragmentos florestais considerados como um dos últimos grandes

fragmentos da baixada fluminense. Ele abriga um dos últimos

refúgios do Mico-Leão-Dourado, espécie endêmica e ameaçada de

extinção (FERNADES et al., 2002).

O Parque Estadual dos Três Picos (46.350 hectares), criado

pelo Decreto nº 31.343, de 06/06/02, é a maior unidade de

conservação do grupo de proteção integral do Estado do Rio de

Janeiro, tendo sido criado para preservar extensa porção de matas

em excelente estado de conservação na Região Serrana do estado,

naquele que é conhecido como o “Corredor da Serra do Mar”. Cerca

de dois terços de sua área encontram-se no município de

Cachoeiras de Macacu e o restante divide-se entre os municípios

de Nova Friburgo, Teresópolis, Silva Jardim e Guapimirim (IEF,

2004).

O Parque Estadual dos Três Picos forma um contínuo florestal

com o Parque Nacional da Serra dos Órgãos e com a Estação

Ecológica do Paraíso, aumentando a sua importância como refúgio

para fauna e flora fluminenses, especialmente os grandes

mamíferos e aves. Trata-se do local com os mais elevados índices

de biodiversidade em todo o estado do Rio de Janeiro. Nesta

Unidade de Conservação podem ser observadas formações tão

diversas como a floresta ombrófila densa e as matas de encosta,

além das matas de neblina e os campos de altitude (IEF, 2004).

A Área de Proteção Ambiental (APA) da Bacia do Rio São João

(144 mil hectares), onde estão localizadas as RPPN de Silva

Jardim, situa-se sobre a bacia hidrográfica do Rio São João, nos

municípios de Cachoeiras de Macacu (nascente), Silva Jardim,

Araruama, Rio Bonito (parte intermediária) e Cabo Frio, Rio das

Ostras, Casimiro de Abreu (foz).

As RPPN foram criadas a partir das propostas da Associação

Mico-Leão-Dourado e do Consórcio Ambiental Lagos São João, para

assegurar a proteção dos recursos ambientais, principalmente os

Page 31: gestao de rppn rio de janeiro

20

recursos hídricos, delimitar áreas para atividades antrópicas e

promover a melhoria na qualidade de vida (Associação Mico-Leão-

Dourado, 2004).

O município de Silva Jardim tem sido considerado uma das

“capitais” brasileiras das RPPN, por possuir o maior número (10)

destas unidades de conservação (FERNANDES & RAMBALDI, 2004) – ver

figura 2. Contudo isso não significa automaticamente que estas

unidades de conservação sejam bem protegidas e assegurem o

patrimônio natural que visam perpetuar.

Figura 2: Localização das Reservas Particulares do Patrimônio Natural do Município de Silva Jardim, Rio de Janeiro, Brasil. Em amarelo as RPPN já criadas e, em vermelho, as potenciais para serem criadas. Fonte: AMLD.

O estado do Rio de Janeiro apresenta 5 grandes fragmentos

florestais com conectividade entre si (ROCHA et al.,2003)- Figura

3. O Município de Silva Jardim está situado em duas partes: Bloco

Page 32: gestao de rppn rio de janeiro

21

da Região Norte Fluminense (1) e Bloco da Região Serrana Central

(2)– Figura 3.

Figura 3: Fragmentos florestais do Estado do Rio de Janeiro, Brasil. (1)Bloco da Região Norte Fluminense (2)Bloco da Região Serrana Central (3) Bloco da Região Metropolitana do Rio de Janeiro (4) Bloco da Região Sul Fluminense (5) Bloco da Região da Serra da Mantiqueira. A elipsóide envolve o município de Silva Jardim. Circulado em vermelho está a região aproximada de localização das RPPN de Silva Jardim. Fonte: ROCHA & BERGALLO (2003).

As diferenças geográficas destes blocos (o primeiro possui

orientação sudoeste-nordeste e o segundo, orientação oeste-leste)

promovem variações nos seus ecossistemas que se refletem nas

características faunísticas, vegetacionais e hídricas (ROCHA et

al., 2003).

Algumas destas áreas são reconhecidas como de Extrema alta

prioridade para conservação, utilização sustentável e repartição

de benefícios da biodiversidade brasileira(MMA/SBF, 2004).

Page 33: gestao de rppn rio de janeiro

22

5. MATERIAL E MÉTODOS

5.1 Área de estudo

O município de Silva Jardim (Figura 4) ocupa 44% da Bacia

Hidrográfica do Rio São João, a maior bacia fluminense (2.160

Km2), assim como os municípios de Araruama, Cabo Frio, Cachoeira

de Macacu, Casimiro de Abreu, Rio Bonito, Rio das Ostras e São

Pedro da Aldeia.

Figura 4: Município de Silva Jardim no Estado do Rio de Janeiro, Brasil. Fonte: SOS Mata Atlântica (2004).

O Relevo é diversificado (Tabela 01), com serras, planaltos,

colinas e grandes baixadas. As serras escarpadas apresentam

encostas íngremes e abruptas, que variam desde 190 m.s.n.m até

1.719 metros. O planalto apresenta altitudes mínimas de 100m, que

aumenta até 908m. As colinas ocupam uma grande parte da bacia,

distribuindo-se entre as serras e os planaltos, sendo a altitude

máxima de 100m. As baixadas foram construídas pelos rios, com

material obtido do desgaste das serras, do planalto e das colinas

Silva Jardim

Page 34: gestao de rppn rio de janeiro

23

e pelo mar. As restingas, chamadas também de zona da baixada,

construídas pelo mar e um pouco pelos rios, ocupam a parte

litorânea da baixada, chegando a ter 4 km de largura. Algumas

depressões alagadas ocorrem neste percurso(PAULO & VOLCKER,

2003).

Tabela 01: Relevo na bacia do rio São João no município de Silva Jardim Tipo de relevo % da bacia Serras 21 Planalto 13 Colinas 32 Baixadas 30 Restinga 4 Total 100

Fonte: BIDEGAIN & VOLCHER (2003)

A complexidade do meio físico, associada a sua posição

ambiental estratégica dentro do estado, conferem a estes

ecossistemas características impares, que precisam ser observadas

dentro do processo de planejamento de uso.

O município de Silva Jardim apresenta em seus domínios

remanescentes de Mata Atlântica (Floresta Ombrófila Densa Montana

(altos das serras), Submontana (parte baixas da serra e morrotes

na baixada) e de Terras Baixas (planície). Este último

ecossistema, conhecido como mata de baixada costeira, é

extremamente raro e isolado, devido ao aproveitamento dos mesmos

para diversos fins (BIDEGAIN & VOLCKER, 2003).

Atualmente cerca de 36% da área total do município permanece

coberta com remanescentes da Mata Atlântica (Figura 05).

Page 35: gestao de rppn rio de janeiro

24

Figura 5: Cobertura florestal do município de Silva Jardim, Rio de Janeiro, Brasil. Fonte: SOS Mata Atlântica (2004).

O uso atual da terra apresenta partes urbanas e agrícolas,

onde as pastagens e remanescentes de citricultura predominam. O

município possui 21.239 habitantes, sendo a população urbana

(14.193 hab.) maior que a rural (7.046 habitantes)(BIDEGAIN &

VOLCKER, 2003).

5.2 RPPN

Foram estudadas as RPPN legalmente reconhecidas até março de

2004 (Tabela 02).

Tabela 2: RPPN no município de Silva Jardim, Rio de Janeiro.

Nome Área

(ha)

Ano de

Criação Nome

Área

(ha)

Ano de

Criação

Arco-Íris 45,86 1994 Gaviões 117,39 2001 Granja Redenção 33,80 1996 Floresta Alta 61,50 2001 Sítio Santa-Fé 14,31 1996 Serra Grande 12,82 2004 Cach. Grande 14,00 1997 Lençóis 16,00 2004

União 343,10 2000 Quero-Quero 108,00 2004

Page 36: gestao de rppn rio de janeiro

25

5.3 Aplicação do questionário

A coleta de dados foi realizada através de entrevistas

realizadas com os proprietários e/ou responsáveis pela

administração das unidades de conservação, utilizando-se um

questionário como roteiro da entrevista (Anexo 1). Este

questionário apresenta perguntas fechadas (com múltiplas opções

de resposta) e abertas (dando margem a respostas não objetivas).

O questionário apresentava 42 perguntas, distribuídas em 6

quesitos: identificação; objetivos; caracterização; administração

e estratégias de manejo; econômico; expectativas para o futuro.

As entrevistas foram realizadas individualmente, após

reunião preparatória com os representantes das RPPN´s, Associação

Patrimônio Natural (entidade que congrega proprietários de RPPN

no Estado do Rio de Janeiro) Secretaria de Meio Ambiente do

município de Silva Jardim e Associação Mico-Leão-Dourado.

A primeira entrevista foi realizada em novembro de 2003 e a

última em maio de 2004.

5.4 Variáveis levantadas

As variáveis utilizadas foram escolhidas a partir do estudo

de MESQUITA (1999), sendo feita, porém, algumas adaptações a

partir da realidade em que as RPPN do município de Silva Jardim

estão inseridas.

As mesmas foram divididas em: variáveis de acordo com a

percepção dos proprietários, e variáveis de acordo com as

informações tangíveis constatadas in loco pelo pesquisador. Para

o primeiro caso tem-se: a) perfil do proprietário; b) objetivos

de criação; c) principais problemas; d) integração a outras

Unidades de Conservação; e)integração ao movimento RPPNnista; f)

êxito das reservas; g) expectativas para o futuro; h) proposições

Page 37: gestao de rppn rio de janeiro

26

para as RPPN de Silva Jardim. Para o segundo caso tem-se: a)

atividades desenvolvidas nas RPPN; b) tamanho das reservas; c)

idade das reservas; d) planejamento; e) incentivos recebidos; f)

ecossistemas protegidos; g) perfil da propriedade; h)

rentabilidade; e i) categorização das RPPN.

5.5 Êxito das reservas

Nesta etapa, utilizou-se a metodologia descrita em MESQUITA

(1999), que consistiu no cálculo do “índice de êxito”, que por

sua vez está relacionado ao êxito no cumprimento dos objetivos de

criação das RPPN.

No questionário foram listados, em duas ocasiões, 23

objetivos, distribuídos nos âmbitos econômico, social e de

conservação, considerados como potenciais para criação de RPPN

(ver questionário – anexo 1). Foi então solicitado aos

proprietários que identificassem, em um primeiro momento, o(s)

objetivo(s) pelos quais suas reservas foram criadas, usando para

isso uma escala de valoração de 1 a 5 (do menos ao mais

importante). Em um segundo momento, quase ao final da entrevista,

solicitou-se aos proprietários que assinalassem o grau de êxito

que o mesmo alcançou até aquela ocasião, usando a mesma escala

também de 1 a 5 (não êxito até o muito êxito).

Por exemplo, o objetivo conservar a diversidade biológica,

pode ser assinalado por um determinado proprietário com valor 5

(muito importante quando da criação da RPPN), isso em um primeiro

momento. Já no segundo momento, este mesmo objetivo pode receber

valor 3 (êxito médio), por não ter sido cumprido em sua

plenitude, ainda segundo a percepção do proprietário.

Esses valores, assinalados no questionário (de 1 a 5), foram

transformados, após as entrevistas, já no laboratório, para uma

outra escala com amplitude de zero (0) a quatro (4). Esta

Page 38: gestao de rppn rio de janeiro

27

conversão de escala foi utilizada como artifício matemático para

facilitar o uso da “fórmula de êxito”, que será apresentada logo

abaixo. Com isso, os objetivos que receberam o valor “um” ficaram

como “zero” (não se aplica); os que receberam valor “dois” se

transformaram em “um”, e assim sucessivamente, até que os que

foram assinalados com “cinco” passassem a ser “quatro”. O

objetivo foi produzir uma escala de índice de êxito entre “0”

(zero) e 92, que é o produto da multiplicação do maior valor

esperado na escala (4) e o número máximo de objetivos, 23.

Abaixo segue a fórmula utilizada para o cálculo do índice de

êxito.

E=∑ ΕXi / 4* (23 - Fc)

Onde:

Ε= índice de êxito da reserva, em % da pontuação máxima

esperada ou E= Pontuação observada / Pontuação máxima

esperada

ΕXi= soma dos valores de êxito atribuídos a cada objetivo.

4= pontuação máxima esperada para cada objetivo.

23= número total de objetivos.

Fc= fator de correção, calculado por:

Fc = Nob – Nex Onde:

Nob= número de objetivos que não se aplicam ao manejo da

reserva.

Nex= número de objetivos que não se aplicam ao manejo porém

que receberam algum grau de êxito.

O Fator de correção é distinto para cada reserva, já que a

pontuação máxima esperada depende da quantidade de objetivos que

não se aplicam em algumas das reservas. Porém, algum objetivo

pode ter recebido alguma pontuação por desenvolver atividades

Page 39: gestao de rppn rio de janeiro

28

indiretamente ligadas a ele. Nestes casos, tais objetivos foram

contabilizados na fórmula em Nex.

O índice de êxito obtido foi comparado com uma escala de

êxito da Norma 10.004 (qualidade de serviços), assim como

utilizada em Mesquita (1999) – ver tabela 3.

Tabela 3: Escala de valoração do êxito das reservas privadas.

Classificação Significado

Menor ou igual a 35% Sem êxito

Maior que 35 e menor igual a 60% Pouco êxito

Maior que 60 e menor igual a 75% Médio êxito

Maior que 75 e menor igual a 90% Êxito alto

Maior que 90% Muito êxito

Fonte: Mesquita (1999)

5.5 Análise estatística

Foram determinados estatísticas descritivas para todas as

variáveis relacionadas no item 5.4.

6. RESULTADOS

Antes da apresentação deste tópico, cabe salientar que,

embora sejam dez RPPN, são apenas oito proprietários, uma vez que

há dois deles que possuem duas reservas cada. Portanto, as

variáveis enquadradas no tópico percepção dos proprietários estão

baseadas no universo de 8 proprietários, e as variáveis

mencionadas no tópico informações tangíveis estão fundamentadas

no universo de dez RPPN.

Page 40: gestao de rppn rio de janeiro

29

6.1 Percepção dos proprietários

6.1.1 Perfil dos proprietários

Através dos dados obtidos constatou-se que, dentre os oito

proprietários entrevistados, 7 possuem nível superior, com

atuação em áreas como química, veterinária, direito e engenharia,

dentre outras; estando 5 deles já aposentados em suas profissões.

Todos os proprietários são de nacionalidade brasileira, sendo

importante destacar, porém, que uma das reservas (RPPN Floresta

Alta) é de fato de propriedade de um cidadão estrangeiro, tendo o

mesmo preferido colocar o imóvel em nome de um amigo seu,

brasileiro, por receio de sofrer preconceitos com relação ao fato

de ser estrangeiro e querer proteger a natureza no Brasil, assim

como pelas dificuldades de um estrangeiro registrar uma RPPN.

Esse proprietário, segundo o seu representante no Brasil,

atualmente reside no exterior, estando a reserva sob os cuidados

de um amigo vizinho, que por sua vez possui duas RPPN contíguas.

As RPPN pertencem a pessoas física em 100% dos casos.

Em um dos casos, uma mesma propriedade familiar possui duas

reservas distintas, onde a titularidade pertence ao pai e sua

esposa. Essa mesma propriedade tem uma terceira RPPN requerida

junto ao IBAMA, contígua as outras duas, que segundo seus

proprietários, será averbada em nome da filha. Os mesmos

pretendem adquirir mais terra para a criação futura de uma nova

RPPN, a ser doada ao filho.

A idade média dos proprietários de RPPN de Silva Jardim é de

50 anos, variando de 40-70 anos.

Dos oito proprietários, sete residem fora do município de

Silva Jardim, a maior parte deles na cidade do Rio de Janeiro.

Informaram, no entanto, que freqüentam constantemente a fazenda e

a reserva, geralmente em finais de semana e feriados.

Page 41: gestao de rppn rio de janeiro

30

6.1.2 Objetivos de criação das RPPN

Identificou-se que todas as reservas foram criadas, por meio

de objetivos conservacionistas, tais como conservar a diversidade

biológica, proteger espécies ameaçadas de extinção e conservar

amostras de ecossistema.

Os objetivos de caráter econômico são, segundo os

proprietários das RPPN de Silva Jardim, os menos importantes,

exceto para um, que informou ter, desde a criação da reserva, a

intenção de gerar renda com as atividades conservacionistas.

Em ordem de importância, têm-se os objetivos de conservação

em primeiro, seguido daqueles de caráter social, e por último os

objetivos econômicos (Tabela 4).

Tabela 4: Principais objetivos de manejo das Reservas Particulares do Patrimônio Natural de Silva Jardim, Rio de Janeiro.

Objetivos de manejo Valor médio*

Desvio Padrão

Tipo de objetivo

Conservar a diversidade biológica 5

0 Conservação

Proteger espécies ameaçadas de extinção 5 0 Conservação

Conservar amostras da Mata Atlântica 5 0 Conservação

Proteger mananciais hídricos 4,9 0,31 Conservação

Conservar paisagem natural 4,8 0,42 Conservação

Impedir caça ou extração ilegal de árvores

4,00 1,61 Conservação

Satisfazer um desejo pessoal ou familiar 3,71 1,44 Social

Deixar patrimônio Natural protegido para herdeiros

3,57 1,85 Social

Abrir a área para realização de pesquisa científica

3,5 1,64 Conservação

Realizar reflorestamento com espécies nativas

3,5 1,95 Conservação

Garantir abastecimento de água 3,43 1,82 Econômico

Proteger lugares “sagrados” ou especiais 3,29 2,02 Social Continua...

Page 42: gestao de rppn rio de janeiro

31

...Continuação

Proteger a terra de ocupações e invasões 3,14 1,61 Social

Proteger a área contra empreendimentos de alto impacto ambiental

3,00 1,95 Social

Servir de exemplo para a comunidade local

2,71 1,66 Social

Promover a educação ambiental 2,57 1,61 Social

Aumentar o valor da terra 2,29 1,76 Econômico

Impedir expansão urbana e/ou obras de infra-estrutura

2,29 2,00 Social

Obter isenção de impostos 1,70 1,34 Econômico

Promover desenvolvimento turístico 1,57 1,77 Econômico

Proteger espécies que servem de inimigos naturais de pragas

1,57 1,50 Econômico

Ter acesso a doações para projetos ambientais

1,43 1,28 Econômico

Fomentar o desenvolvimento econômico da comunidade local

1,29 1,54 Econômico

• Os valores variam de 1 a 5, do menos ao mais importante.

6.1.3 Principais problemas

Os principais problemas nas RPPN em ordem de importância

são: a) falta de políticas de apoio as reservas; b) pressão de

caça; c) falta de recursos financeiros (Tabela 5).

Tabela 5: Principais problemas encontrados pelas Reservas Particulares do Patrimônio Natural do município de Silva Jardim, Rio de Janeiro. Problemas Valor médio* Desvio Padrão Falta de políticas de apoio 4,10 1,05

Caça 3,50 1,43

Falta de recursos financeiros 2,90 1,61

Manutenção e infraestrutura 2,43 1,75

Fogo 1,90 1,05

Poluição 1,70 1,32

Desmatamento no entorno da reserva 1,40 1,03 Continua...

Page 43: gestao de rppn rio de janeiro

32

...Continuação

Problemas com a prefeitura 1,10 1,33

Extração ilegal de madeira 1,00 0,94

Extração ilegal de palmito 1,00 0,73

Falta de visitantes 0,90 1,24

Desmatamento no interior da reserva 0,90 0,48

Invasão de posseiros 0,70 0,67

Oposição da comunidade local 0,70 1,47

Disputas por limites de propriedade 0,71 0,67

Invasão por animais domésticos 0,60 0,81

• Os valores variam de 1 a 5, do menos ao mais importante.

6.1.4 Integração com outras Unidades de Conservação

Dos oito proprietários, 4 afirmaram haver cooperação entre a

RPPN e a Rebio Poço das Antas, 3 mencionaram não haver

relacionamento entre as unidades de conservação e 1 afirmou que

apóia a Rebio sem ser, porém, apoiado (Figura 6).

1 0

4

3

RPPN p/ RebioRebio p/ RPPNcoop.mut.não existe relacionamento

Figura 6: Integração entre as RPPN e unidades de conservação públicas de Silva Jardim

Page 44: gestao de rppn rio de janeiro

33

No que se refere a cooperação entre as RPPN, apenas 2

proprietários afirmaram haver algum tipo de integração, 2

afirmaram que apóiam outras RPPN e 4 proprietários mencionaram

não existir cooperação com outra RPPN (Figura 7).

Todos os proprietários afirmaram não ter nenhum tipo de

integração com a Área de Proteção Ambiental do Rio São João.

2

20

4

rp p/ rp coop mútua outra p/ rp não há rel

Figura 7: Nível de integração entre as RPPN de Silva Jardim.

6.1.5 Integração junto ao movimento RPPNista

Todos os proprietários conhecem a Associação Patrimônio

Natural do Rio de Janeiro, mas 2 desconhecem a Confederação

Nacional de Reservas Particulares do Patrimônio Natural (CNRPPN)

e seu papel social.

Dentre os benefícios mais citados pelos proprietários com a

existência da APN, estão: relacionamento com órgãos públicos,

troca de experiências, relacionamento com organizações

conservacionistas e realização de cursos.

Os donos de reservas em Silva Jardim, quando perguntados da

importância de se ter uma organização nacional de proprietários,

responderam que a existência desta entidade contribui não só para

a busca de políticas públicas, projetos e incentivos para

Page 45: gestao de rppn rio de janeiro

34

estimular novas RPPN e possibilitar as existentes, mas também

como meio de mobilização para reivindicar soluções para os

problemas presentes.

6.1.6 Êxito das reservas

De maneira geral, os proprietários afirmaram estar obtendo

êxito no cumprimento dos objetivos pelos quais as RPPN foram

criadas, isto é, com relação aos objetivos conservacionistas.

Isto, segundo eles, deve-se ao fato das reservas terem sido

criadas, sobretudo, com a finalidade de proteger uma área

natural, não havendo, no ato de criação da reserva, alguma

intenção de desenvolvimento de atividades de caráter social e

econômico.

O Índice de Êxito foi calculado para cada RPPN e logo após

utilizou-se o mesmo em uma escala de valoração para classificá-lo

(Tabela 6).

Tabela 6: Classificação de êxito das Reservas Particulares do Patrimônio Natural do município de Silva Jardim, Rio de Janeiro.

Índice de êxito

Classificação Quantidade de reservas

% de RPPN

<=35% Sem êxito 0 0 36-60% Pouco êxito 0 0 61-75% Êxito médio 5 50 76-90% Êxito alto 5 50 >90% Muito êxito 0 0

*forma de cálculo descrito na metodologia

Os resultados desse tópico mostram que as reservas estão

distribuídas na escala de êxito de forma eqüitativa em: reservas

com êxito médio e reservas com êxito alto; isto é, 50% para ambos

(Tabela 6). Cabe salientar que esses resultados de êxito das

reservas estão relacionados ao máximo que cada uma delas poderia

Page 46: gestao de rppn rio de janeiro

35

alcançar, e desta maneira não é possível comparar o êxito obtido

por uma RPPN com o de outra, já que cada reserva tem suas

peculiaridades.

6.1.7 Expectativas para o futuro

Do 8 proprietários entrevistados, 3 acreditam que atividades

relacionadas ao ecoturismo ou turismo rural poderiam futuramente

sustentar os custos de manutenção e proteção da propriedade e da

RPPN, inclusive financiar investimentos em infra-estrutura, 3

mencionaram que não acreditam e os demais apresentaram

desconhecimento quanto a essa possibilidade.

Em relação ao desejo de proteger mais áreas, 6 proprietários

afirmaram não pensar nesta possibilidade e apenas 1, como já dito

anteriormente, mencionou o desejo de ampliar a superfície de área

já protegida, através da conversão de mais área da própria

fazenda em RPPN e compra de terras adjacentes.

Quanto às perspectivas de pesquisas científicas nas RPPN, as

respostas apontaram para o interesse dos proprietários em relação

a esta atividade, desde que haja iniciativas pelas instituições

de pesquisa.

Quanto a Educação Ambiental, apenas 2 proprietários

afirmaram ter a intenção de desenvolver atividades deste caráter.

Em relação ao planejamento das RPPN, dos oito proprietários,

apenas 4 sinalizaram com a possibilidade de futuramente elaborar

um plano de manejo para suas reservas.

6.1.8 Proposições e estratégias para as RPPN

Dentre as proposições e estratégias citadas pelos

proprietários para melhoria de suas reservas, destacam-se:

implantação de telefonia rural; conservação das vias de acesso as

RPPN; regulamentação da categoria; esclarecimento aos

Page 47: gestao de rppn rio de janeiro

36

proprietários; facilidade aos incentivos disponíveis; divulgação

das RPPN; e, parcerias para pesquisas e atividades de educação

ambiental.

6.2 Informações Tangíveis

6.2.1 Atividades desenvolvidas nas reservas

Verificou-se que apenas duas reservas, de um mesmo dono,

desenvolvem atividades relacionadas à Educação Ambiental, contudo

de maneira esporádica e sem planejamento sistemático. Estas

atividades estão ligadas, sobretudo, a visitas de escolas do

entorno à RPPN.

Por outro lado, dentre os 8 proprietários, 5 afirmaram ser

importante ou muito importante este objetivo de manejo.

Das oito reservas, 3 já começaram a participar de circuitos

de turismo rural e ecoturismo da região, com o apoio da

Prefeitura Municipal de Silva Jardim, da Associação Brasileira de

Turismo Rural (ABRATURR), SEBRAE-RJ, Companhia de Turismo do

Estado do Rio de Janeiro (TurisRio), AMLD e Associação Comercial,

Industrial e Agropecuária de Silva Jardim (ACIASJ)- ver anexo 4.

Recentemente, o Programa de Incentivo às RPPN, criado pela

Aliança para a Conservação da Mata Atlântica (Conservação

Internacional e Fundação SOS Mata Atlântica), fez uma doação para

reforma de um antigo alambique localizado em uma propriedade

rural que possui uma RPPN, além de equipamentos para

processamento de mel silvestre de abelhas nativas, com intuito de

resgatar importância histórico-cultural dessa propriedade e,

ainda, possibilitar a geração de renda para a sustentabilidade

financeira da RPPN. Ambas atividades já possibilitam a inclusão

das RPPN no circuito turístico criado recentemente para a região.

Page 48: gestao de rppn rio de janeiro

37

Foi constatado que existe uma parceria entre uma empresa

especializada em ecoturismo da cidade do Rio de Janeiro e uma das

RPPN de Silva Jardim, o que também tem possibilitado a geração de

renda para a reserva por meio de visitação.

Com relação à pesquisa científica, sete das dez reservas são

parceiras dos programas de pesquisa da Associação Mico-Leão-

Dourado, sendo que uma delas integra o programa de reintrodução

de micos-leões-dourados desta entidade.

6.2.2 Tamanho das RPPN

Com relação a área protegida pelas RPPN de Silva Jardim,

tem-se que juntas estas unidades são responsáveis pela proteção

de 1.086,17 hectares de Mata Atlântica, o que representa uma área

média de 108,61 hectares por reserva. Quatro RPPN possuem menos

que 20 hectares cada uma, três têm entre 20 e 70 hectares, duas

são pouco maiores que 100 hectares e apenas uma reserva tem mais

de 300 hectares (Figura 8).

40%

20%0%

20%

0%

20%

<=20

21-50

51-100

101 - 200

201 - 300

>300

Figura 8: Tamanho das Reservas Particulares do Patrimônio Natural de Silva Jardim, Rio de Janeiro.

6.2.3 Histórico de criação das RPPN

A primeira RPPN foi criada em Silva Jardim em 1994. As três

mais recentes foram reconhecidas em março de 2004. A evolução no

Page 49: gestao de rppn rio de janeiro

38

número e na superfície protegida por estas unidades de

conservação pode ser demonstrada pelo gráfico abaixo.

1994

1995 1996

1997

1998

1999

2000 20

01

2002

2003

2004

0

1

2

3

4

5

período

no. de reservas criadas

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

1.000

reservas superfície (ha)

Figura 9: Número e superfície protegida pelas RPPN do município de Silva Jardim, Rio de Janeiro.

Dentre as dez reservas, 5 aguardaram mais de 24 meses para

tramitações legal no IBAMA no sentido de legalizar a sua criação.

Outras 3 tiveram o tempo deduzido de 12 a 24 meses (Figura 10).

10%10%

30%

50%

até 6 meses

6 e 12

12 e 24

mais de 24

Figura 10: Tempo para reconhecimento no IBAMA.

6.2.4 Planejamento

Nenhuma RPPN de Silva Jardim possui plano de manejo ou

instrumento de planejamento sistemático. As justificativas

Page 50: gestao de rppn rio de janeiro

39

relacionadas são: falta de apoio para elaboração deste documento;

outras prioridades emergenciais; falta de cobrança governamental

como instrumento de manejo da reserva. Todavia, quatro

proprietários afirmaram ter interesse em elaborar um plano de

manejo.

Além disto, nenhuma das RPPN conta com apoio de profissional

da área de conservação da natureza no seu planejamento.

6.2.5 Incentivos

Os resultados demonstram que todos os proprietários utilizam

a isenção do Imposto Territorial Rural (ITR) e conhecem, ainda

que superficialmente, as linhas de crédito a fundo perdido do

Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA).

A Associação de Proprietários do estado do Rio de Janeiro

(APN) já foi contemplada pelo edital do FNMA, com um projeto de

capacitação de donos de RPPN do estado

No que se refere ao apoio por Organizações não-

governamentais, algumas das RPPN de Silva Jardim já foram

beneficiadas por meio de assessoria técnica e financeira pela

Associação Mico-Leão-Dourado, que atua na região na proteção da

espécie de primata que dá nome a entidade, e por isso desenvolve

um programa de apoio as RPPNs, sobretudo, no georreferenciamento

da propriedade e RPPN, uma exigência do IBAMA. Este apoio tem

sido considerado fundamental, já que a confecção do mapa

georreferenciado da propriedade apresenta elevado custo. Das 10

reservas, 3 foram contempladas com mapeamento com foto aérea e 3

com mapeamento georreferenciado (FERNANDES, comunicação pessoal).

Uma RPPN já foi beneficiada pelo Programa de Incentivo as

RPPN da Mata Atlântica, criado pela Aliança para a Conservação da

Mata Atlântica (Conservação Internacional – CI-Brasil e Fundação

SOS Mata Atlântica), contudo, apenas uma foi contemplada.

Page 51: gestao de rppn rio de janeiro

40

Dentre os 8 proprietários, apenas 5 afirmam conhecer o

Programa de Incentivo às RPPN da Mata Atlântica.

6.2.6 Ecossistemas protegidos

A reservas conservam fragmentos de Floresta Ombrófila Densa

Sub-Montana, geralmente topos de morros deixados pelo processo de

abertura de pastos, além da Floresta Ombrófila Densa Montana,

situada nas partes mais altas das serras.

Uma das RPPN conserva relevante remanescente de Mata

Atlântica de Baixada, com 343,10 superfície protegida (484 ha. de

propriedade total). Tal unidade de conservação contribui para que

esta tipologia florestal, que na região apresenta-se como de rara

existência, esteja representada no Sistema Nacional de Unidades

de Conservação.

6.2.7 Perfil das propriedades com RPPN

As RPPN encontram-se em fazendas onde as principais

atividades desenvolvidas são Lazer, agricultura e pecuária

(Tabela 7).

Por outro lado, existem 3 reservas que não desenvolvem

atividades rentáveis, de maneira a gerar retorno financeiro para

a propriedade e seu proprietário.

Tabela 7: Atividades desenvolvidas nas propriedades rurais de Silva Jardim que possuem RPPN

Atividades No. de Reservas Lazer 6

Agricultura 6

Pecuária 4

Reflorestamento 4

Colheita de produtos não-madeireiros 1

Ecoturismo ou Turismo Rural 3

Page 52: gestao de rppn rio de janeiro

41

Constatou-se que 50% das propriedades possuem planejamento

quanto a suas despesas e receitas, através de livro caixa (Tabela

8).

O monitoramento de impactos é praticado por 30% das

reservas, e 20 % lançam mão de técnicas de tratamento de resíduos

sólidos e de lixo.

O uso alternativo, tanto de energia quanto de materiais

locais de construções é desenvolvido apenas por 10% das unidades

de conservação (Tabela 8).

Tabela 8: Técnicas desenvolvidas nas propriedades rurais de Silva Jardim que possuem RPPN.

Técnicas desenvolvidas nas propriedades Nºde RPPN

Livro-caixa – Contabilidade 5

Monitoramento de Impactos ambientais em geral 3

Tratamento de esgoto e resíduos sólidos 2

Tratamento de lixo 2

Uso de fontes alternativas de energia 1

Uso de materiais locais alternativos nas construções

1

6.2.8 Rentabilidade

Verificou-se que o “carro-chefe” de geração de receitas,

quando existentes, está nas atividades produtivas relacionadas à

fazenda e não nas diretamente ligadas às RPPN. Ainda assim, dos 8

proprietários, 5 afirmaram que “sai do bolso” todas as despesas

com as atividades de manejo da reserva e propriedade. Três

proprietários afirmaram que a renda gerada pela propriedade não

contribui nem mesmo com 25% de sua renda total.

Isso se comprova com o resultado de que nenhuma das RPPN de

Silva Jardim estão gerando renda para seus proprietários.

Page 53: gestao de rppn rio de janeiro

42

6.2.9 Categorização das RPPN

Mesquita (1999), ao estudar as características das reservas

privadas da América Latina, definiu uma classificação com 5

categorias de manejo, a saber: Reserva Biológica, Parque Natural,

Parque Ecoturístico, Reserva de Recursos e Reserva de Uso

Múltiplo.

As RPPN em estudo, segundo as suas características, poderiam

ser enquadradas nesta classificação como Reservas de Recursos,

definidas como aquelas que “não desenvolvem atividades, ou se

desenvolvem não são em escala comercial e, ainda, não geram

renda. Essas reservas podem ainda realizar pesquisa científica e

educação ambiental, porém não de maneira sistemática e planejada.

Não dispõe de ferramentas de planejamento ou quando existem não

são adotadas. O proprietário muitas vezes a vê como uma reserva

para uso futuro”.

Isso se comprova pelas características descritas em tópicos

anteriores, onde dentre outros fatores, destaca-se a ausência de

plano de manejo, a inexistência de atividades de manejo

relacionadas à educação ambiental, pesquisa científica e

visitação, ou então desenvolvimento dessas atividades porém sem

planejamento sistemático, e, ainda, não geração de renda pela

unidade de conservação.

7. DISCUSSÃO

Os resultados contribuíram para que alguns questionamentos

pudessem ser respondidos, tais como: o que levou esses

proprietários a transformar suas áreas em reservas privadas? E,

ainda, o que os motivou? A resposta para a primeira pergunta

aponta não para o ato voluntário do proprietário por si só, mas

também para o fato de existir em Silva Jardim um sinergismo de

esforços conservacionistas que favorecem o processo de

Page 54: gestao de rppn rio de janeiro

43

sensibilização dos proprietários rurais a transformarem parte ou

totalidade de suas propriedades em reserva perpetuamente

protegida por lei. Como baluarte do referido sinergismo, tem-se a

Associação-Mico-Leão-Dourado que, segundo FERNANDES et. al(2002),

desenvolve junto as comunidades rurais do entorno da Reserva

Biológica de Poço das Antas ações de sensibilização e de

conscientização, por meio de programas de Educação e Extensão

Ambiental. Com isso, até o ano de 2002, 75 fazendas da região

foram cadastradas junto à associação, com pelo menos 33

envolvidos diretamente com projetos para salvaguardar a espécie e

seu habitat, sendo 25 parceiros do Programa de Reintrodução de

micos-leões, as quais totalizam cerca de 3.900 ha.

Neste contexto, estão envolvidas as RPPN, ora no programa de

reintrodução de micos-leões, ora contribuindo para a implantação

de corredores de vegetação, ligando fragmentos florestais

habitados por esta espécie de primata.

Ainda segundo este autor, as RPPN têm sido criadas, na

região de ocorrência do mico-leão-dourado através do estímulo e

apoio da AMLD, e que isso tem aumentado a área protegida por lei,

disponível na região.

O apoio desta entidade inclui o custeio da elaboração do

mapa georreferenciado da propriedade e da área da reserva, uma

exigência do IBAMA para se criar uma RPPN, tão necessária quanto

onerosa.

Desta maneira, a participação da AMLD certamente foi – e

ainda está sendo – um dos grandes pilares do movimento RPPNista

no município de Silva Jardim.

Mas outra instituição compõe tal sinergismo. Trata-se da

Associação Patrimônio Natural, que por sua vez congrega os

proprietários de RPPN do estado do Rio de Janeiro. Mesmo diante

da pouca mobilização, a APN tem desenvolvido junto com a

Prefeitura Municipal de Silva Jardim, através de sua Secretaria

Page 55: gestao de rppn rio de janeiro

44

de Meio Ambiente, um programa de apoio a criação de novas RPPN no

município.

PAULO(2002) relata que a APN, na busca de mobilizar e

incentivar a criação de novas RPPN, tem desenvolvido no estado a

idéia do “Efeito Demonstração”, uma estratégia mediante a qual

deve o proprietário de RPPN ser visto pela comunidade de

proprietários rurais como alguém que ao cumprir com a finalidade

social de preservação do meio ambiente, é visto com prestígio e

atenção pelo Poder Público e demais organizações da sociedade

civil, bem como pela sociedade de maneira geral.

Tanto a AMLD (desde 1990) como a APN (desde 1997) e a

Prefeitura Municipal de Silva Jardim têm sido cruciais para a

criação de RPPN na região, e como conseqüência desses esforços,

segundo FERNANDES & RAMBALDI (2004), Silva Jardim é apresentada

por eles como a “capital” brasileira das RPPN.

Um outro exemplo da influência de instituições

ambientalistas na criação de RPPN está no sul da Bahia. O

Instituto de Estudos Sócio-Ambientais, organização ambientalista

de caráter técnico-científico sediada em Ilhéus, desenvolve desde

1996 um projeto de incentivo à criação de RPPN na região. Uma

estratégia tem sido apoiar produtores rurais, por meio de fomento

as atividades agrícolas alternativas e sustentáveis, que agreguem

valor econômico aos produtos e melhorem a produtividade das áreas

de produção, propondo como contrapartida a averbação da Reserva

Legal e a criação de RPPN como uma espécie de “compensação” pela

assistência técnica recebida. Desta maneira esta instituição tem

contribuído para que a Bahia, até o ano de 2002, possuísse 40

RPPN (MESQUITA & LEOPOLDINO, 2002).

Com isso a premissa é de que onde há instituições

ambientalistas atuando com proprietários rurais, principalmente

despertando-os para a criação de RPPN e oferecendo apoio, tem-se

um elevado número de RPPN.

Page 56: gestao de rppn rio de janeiro

45

Quanto à pergunta sobre a motivação pelo qual o proprietário

criou um RPPN em Silva Jardim, isto é, o que os impulsionou, os

resultados apontaram que a filosofia conservacionista ao criar a

reserva preponderou em comparação com as motivações de caráter

social ou econômico. Os proprietários criaram suas reservas para,

sobretudo, conservar a diversidade biológica, proteger amostras

da Mata Atlântica, proteger espécies ameaçadas de extinção e,

ainda, proteger a paisagem natural e mananciais hídricos. Não que

outros objetivos não estivessem nas intenções dos proprietários,

como por exemplo, ecoturismo, educação ambiental, proteção contra

possíveis desapropriações por improdutividade da terra e valor

emocional da área, mas é que estes foram considerados, de modo

geral, secundários pelos proprietários.

Os resultados encontrados para Silva Jardim, assemelham-se

aqueles obtidos por MESQUITA (1999), para as reservas privadas da

América Latina (Tabela 9).

Tabela 9: Comparação entre os principais objetivos de criação de Silva Jardim e da América Latina.

Objetivos de manejo Tipo de OBJETIVO

Silva Jardim*

América Latina**

Conservar a diversidade biológica Conservação 5 (1º) 4,8 (1º)

Proteger espécies ameaçadas de extinção Conservação 5 (2º) 4,8 (2º)

Conservar amostras de ecossistemas Conservação 5 (3º) 4,6 (3º)

Proteger mananciais hídricos Conservação 4,9(4º) 3,6 (6º)

Conservar paisagem natural Conservação 4,8(5º) 4,4 (5º)

Promover Educação ambiental Social 2,5(16) 4,5 (4º)

* Os valores fora dos parênteses variam de 1 a 5, do menos ao mais importante, respectivamente; os valores dentro do mesmo, referem-se a colocação que tal objetivo em ordem de importância para os proprietários. **Fonte: Mesquita (1999).

Ao comparar os resultados obtidos para as reservas privadas de

Silva Jardim com a amostra utilizada em MESQUITA (1999) – ver

Page 57: gestao de rppn rio de janeiro

46

Tabela 9 - observa-se que há uma similaridade entre quatro dos

cinco objetivos apontados como sendo os mais relevantes na hora

do estabelecimento das reservas. Esta informação corrobora a tese

de que, dadas as condições e exigências para o reconhecimento de

uma área natural em terreno privado como RPPN, e tendo em vista

ainda as restrições de uso impostas as RPPN, esta categoria de

unidade de conservação somente é atrativa para proprietários que

tenham um perfil intrinsecamente conservacionista.

A presença do mico-leão-dourado na região de Silva Jardim

contribuiu para a motivação dos proprietários em criar RPPN. Isso

se comprova pela 2º colocação em grau de importância dada pelos

proprietários ao objetivo proteção de espécies ameaçadas de

extinção.

Chama a atenção o objetivo Educação Ambiental, que neste

estudo apresentou 16o colocação em escala de importância, segundo

os proprietários, ficando este mesmo em 4º lugar para a América

Latina e, ainda, para o objetivo promoção do desenvolvimento

turístico, que apresentou 20º colocação (Tabela 9).

Com isso, mesmo que a Lei 9.985/00, através de seu artigo

21, permita ao dono de RPPN desenvolver pesquisa científica e

visitação com objetivos de educação ambiental, recreação e

ecoturismo, foi constatado que esses não estão nos planos

prioritários da maioria dos proprietários.

As pesquisas científicas desenvolvidas nas reservas estão,

por sua vez, voltadas para a proteção do mico-leão-dourado, e são

sobretudo de iniciativa da AMLD, com anuência dos proprietários.

Esta falta de prioridade no desenvolvimento de atividades

sociais e econômicas parece estar relacionada ao fato de que

todos os proprietários, exceto um, residem na cidade do Rio de

Janeiro (110 Km de distância) ou em outras localidades que não a

da RPPN, e lá exercem suas profissões, sendo que muitos deles

visitam a fazenda e a RPPN somente em finais de semana ou em

Page 58: gestao de rppn rio de janeiro

47

feriados, e por isso falta-lhes tempo para desenvolver atividades

na reserva e no entorno. Por outro lado, a própria vontade de

somente proteger a área, usando-a para desfrute da família e

amigos são condicionantes ao desenvolvimento das RPPN.

Um aspecto interessante a se ressaltar, neste contexto, é

que a existência das RPPN depende da vontade dos proprietários, e

conseqüentemente o sucesso das mesmas dependerá, pelo menos em

parte, da não obrigação dos mesmos em perseguir objetivos de

manejo que não lhes digam respeito direto e, assim, esta

versatilidade da categoria é um fator básico para seu sucesso

(MILANO et al., 2003).

Assim, destaca-se que a educação ambiental, a pesquisa

científica e o ecoturismo são atividades que podem ser

desenvolvidas nas RPPN, porém estes não são objetivos primários

pelos quais foram criadas as RPPN de Silva Jardim, e sim proteger

o patrimônio natural. O “não-manejar” a reserva, isto é, não

desenvolver as atividades mencionadas acima, está sendo um viés

para o cumprimento deste objetivo, ainda que algumas providências

básicas para a proteção da RPPN não estejam sendo colocadas em

prática, como, por exemplo, o cercamento da área em alguns casos.

Contudo, o que deve estar claro é que as atividades de

manejo, compatíveis com os objetivos definidos, devem estar sendo

norteadas por um plano de manejo (THEULEN, 2003b), mesmo que o

“não-manejo” seja por si só uma decisão de manejo.

Nas RPPN de Silva Jardim, de modo geral, as atividades de

manejo, quando desenvolvidas, não têm sido planejadas de forma

sistemática, comprovado pelo resultado de que 100% das reservas

não possuem plano de manejo ou outro tipo de instrumento de

planejamento. E mais, dos oito proprietários, apenas 4

mencionaram ter o interesse em elaborar futuramente um plano de

manejo. Os que não pretendem fazer isso alegam falta de recursos

Page 59: gestao de rppn rio de janeiro

48

financeiros e de assessoria técnica, além de não acharem

necessário e, portanto, não priorizarem sua elaboração.

Essa realidade, no entanto, não é particular das reservas de

Silva Jardim. THEULEN (2003), afirma que são poucas as RPPN no

Brasil que possuem um plano de manejo que subsidie suas

atividades e ações de manejo.

A discussão da necessidade ou não das RPPN terem um plano de

manejo tem sido argumentada por estudiosos da área. O argumento é

que o plano de manejo não deveria ser uma exigência para as RPPN,

sob a pena de onerar desnecessariamente o proprietário da área,

desestimular a expansão da categoria e favorecer o surgimento de

uma “indústria” de planos de manejo, cujo exame seria muito

difícil e oneroso para os órgãos públicos fiscalizadores.

Mas o fato é que o Decreto 1.922/96, dispõe em seu artigo

8º, que cabe ao proprietário “submeter à aprovação do órgão

responsável pelo reconhecimento o zoneamento e o plano de

utilização da reserva” e, ainda, “encaminhar, anualmente e sempre

que solicitado, ao órgão responsável pelo reconhecimento,

relatório de situação da reserva e das atividades desenvolvidas”;

Estas disposições, de acordo com a versão preliminar do

Decreto de Regulamentação da categoria, que ainda no ano de 2004

deve revogar o Decreto 1992/96, devem ser mantidas.

Os proprietários contam inclusive, a partir de outubro de

2004, com um Roteiro Metodológico para Plano de Manejo de RPPN,

que por sua vez prevê maior complexidade e abrangência de acordo

com as ações que o proprietário pretende desenvolver na RPPN. Ou

seja, uma RPPN cujo único objetivo é a proteção da natureza, terá

um plano de manejo mais simples, prevendo as ações de proteção e

monitoramento da conservação. Por outro lado, uma RPPN onde se

pretende desenvolver programas de uso público ou de pesquisa

intensiva, precisará de um plano de manejo mais complexo, com

muito mais informação sendo necessária para sua elaboração.

Page 60: gestao de rppn rio de janeiro

49

Entretanto, a Lei 9.985/00, que institui o Sistema Nacional

de Unidades de Conservação, dispõe no artigo 21, parágrafo 3º,

que “Os órgãos integrantes do SNUC, sempre que possível e

oportuno, prestarão orientação técnica ao proprietário de Reserva

Particular do Patrimônio Natural para a elaboração de um Plano de

Manejo ou Proteção e de Gestão da Unidade”.

O lançamento do roteiro metodológico de plano de manejo para

a categoria, certamente irá se consolidar como uma efetiva

ferramenta de norteamento para elaboração de plano de manejo para

as RPPN, e isso mostra que o governo tem feito esforços na

criação de mecanismos que façam “valer” a lei 9.985/00. Mas,

ainda assim, é preciso buscar meios mais abrangentes e efetivos

para despertar e capacitar os proprietários que não dispõe de

assessoria técnica e, tampouco, conhecimento para elaboração

desse instrumento de planejamento. O FNMA tem contribuído para

isso, através dos editais destinados a elaboração de plano de

manejo e capacitação de proprietários.

As RPPN, segundo a Lei, (parágrafo único do artigo 8º,

Decreto 1.992/96) poderiam ainda contar, para a elaboração do

plano de manejo, com a cooperação de entidades ambientalistas

devidamente credenciadas pelo Cadastro Nacional de Entidades

Ambientalistas – CNEA, do Conselho Nacional de Meio Ambiente;

CONAMA. Contudo, tal cooperação está, via de regra, ligada as

prioridades de ação dessas entidades ambientalistas.

Mais recentemente, a Confederação Nacional de Proprietários

de RPPN e as associações estaduais têm se fortalecido, e desta

maneira, têm buscado preencher esta lacuna. Estas entidades, de

forma conjunta e participativa, elaboraram com técnicos do IBAMA

e especialistas da área o roteiro metodológico de plano de manejo

para a categoria. Tal instrumento, lançado no II Congresso

Brasileiro de RPPN, provavelmente corresponderá aos anseios dos

Page 61: gestao de rppn rio de janeiro

50

proprietários, uma vez que há participação espontânea na

elaboração dos mesmos.

Entretanto, elaborar um roteiro metodológico é apenas um

primeiro passo, outros devem ser dados para o esclarecimento dos

proprietários, não somente quanto a existência desse elemento

norteador, mas também para o apoio no uso do mesmo.

Uma sugestão para a realidade de Silva Jardim seria a

Associação Patrimônio Natural, juntamente com a Associação Mico-

Leão-Dourado e a Prefeitura Municipal de Silva Jardim,

estruturarem um programa de assistência à gestão destas reservas

vislumbrando a elaboração de planos de manejo para as mesmas, com

base no roteiro recentemente lançado pelo IBAMA.

Enquanto isso, os proprietários devem atentar para o artigo

15 do Decreto 4.340/2002, que dispõe: “A partir da criação de

cada unidade de conservação e até que seja estabelecido o Plano

de Manejo, devem ser formalizadas e implementadas ações de

proteção e fiscalização”. Isso já vem acontecendo em algumas

reservas, só que em muitas vezes é o próprio dono que faz a

“ronda”, havendo até mesmo casos de ameaças de morte a estes por

caçadores.

Paralelo a isto, “cabe ao órgão ambiental responsável o

apoio aos proprietários nas ações de fiscalização, proteção e

repressão aos crimes ambientais, assegurando-os atendimento

prioritário quando a RPPN estiver sendo ameaçada ou seus

atributos naturais estiverem comprometidos”; como disposto pela

minuta do decreto de regulamentação da categoria que entrará em

vigor ainda no ano de 2004.

THEULEN (2003b), afirma que não há dúvidas de que o

planejamento é uma ferramenta importante para o manejo das

reservas privadas, porém, questiona a maneira com que tais planos

podem ser viabilizados diante das dificuldades até mesmo para

suprir suas necessidades básicas. Esta afirmativa pode, sem

Page 62: gestao de rppn rio de janeiro

51

sombra de dúvidas, ser extrapolada para a realidade das RPPN de

Silva Jardim. O fundamental diante deste cenário é a busca por

parcerias, principalmente junto a universidades ou outras

instituições de pesquisa, de maneira que se viabilize uma rede de

relações que possam contribuir para o manejo da área.

Esta atitude tem conferido maior efetividade as ações que

assegurem, em longo prazo, a concretização do desejo de

conservação perpétua do patrimônio natural (MESQUITA & VIEIRA,

2004).

As futuras ações no âmbito das RPPN de Silva Jardim devem,

prioritariamente, ser direcionadas para o suporte as RPPN que já

existem, focando o seu planejamento, tanto por meio da elaboração

de plano de manejo quanto através da capacitação de seus

proprietários. O fato de nenhuma das RPPN do município possuir

sequer um instrumento básico de planejamento sugere baixa

expectativa de viabilidade em longo prazo da reserva e, ainda, o

rótulo de “RPPN de papel”, como mencionado por THEULEN (2003).

A APN em 2002, a fim de reverter esse quadro, angariou

recursos financeiros junto ao Fundo Nacional de Meio Ambiente

(FNMA) para capacitação de proprietários de RPPN do estado do Rio

de Janeiro, e com isso foi possível demonstrar a alguns

proprietários mais precisamente os direitos e deveres de ser dono

de uma unidade de conservação. Mas ainda assim novos esforços

devem ser alocados especificamente para a gestão dessas reservas.

Em relação ao turismo nas RPPN de Silva Jardim, no ato de

criação das reservas, apenas 3 proprietários mencionam que este

objetivo de manejo foi importante ou muito importante, e destes,

apenas 2 estão se envolvendo em atividades com este caráter,

através de um circuito turístico denominado “eco-rural” (ver

anexo 4). Um outro proprietário, que antes não tinha este anseio,

agora participa de tal circuito.

Page 63: gestao de rppn rio de janeiro

52

Neste caso, a mudança de pensamento parece estar ligada

fortemente ao fato de outras instituições estarem envolvidas no

processo, tais como a Prefeitura Municipal de Silva Jardim, o

SEBRAE, a Associação Brasileira de Turismo Rural, TurisRio, além

de outras RPPN, gerando assim um sinergismo que sugere estar

motivando-os a tentar alternativas de sustentabilidade financeira

para suas reservas. Sem o apoio destas instituições para esse

fim, que suplantam as ações isoladas, as reservas provavelmente

não teriam o mesmo êxito.

O município de Silva Jardim possui vocação e potencial para

as atividades de turismo rural e ecoturismo, já que apresenta

inúmeras fazendas e áreas naturais com diversos atrativos

naturais e culturais, dentre os quais está o carismático mico-

leão-dourado, que além de ameaçado de extinção é endêmico da

região, reconhecido no Brasil e em todo mundo como ícone da

conservação da natureza (FERNANDES & RAMBALDI, 2004).

Tal município está a apenas 100 Km da cidade do Rio de

Janeiro e a cerca de 50 km da Região dos Lagos, uma região

amplamente visitada por turistas, especialmente em feriados,

finais de semana e períodos de férias escolares (verão).

Com isso, tais atividades poderiam contribuir não só para a

sustentabilidade financeira das RPPN, mas também promover a

geração de trabalho e renda para as comunidades locais,

alavancando o desenvolvimento sócio-econômico do município.

A consolidação de parceiros nessa busca, como já vem

acontecendo, mesmo que de forma embrionária, potencializa a

vocação turística, ecológica e rural, tanto das RPPN como do

município de Silva Jardim, e por isso devem ser estabelecidas de

forma séria e inteligente.

MESQUITA & LEOPOLDINO (2002), mencionam que no sul da Bahia,

onde é possível compatibilizar conservação com desenvolvimento

turístico, a estratégia adotada para as RPPN pode ser direcionada

Page 64: gestao de rppn rio de janeiro

53

para prestar assessoria e orientação ao planejamento, formatação

e operação de atrativos e equipamentos ecoturísticos para as

reservas, pois isso ajuda a despertar os proprietários para a

associação de seus empreendimentos a iniciativas de conservação.

Estes autores, porém, destacam que para aumentar o interesse

dos proprietários é preciso adotar estratégias diferenciadas, de

acordo com o perfil dos mesmos. A realidade de Una é semelhante a

de Silva Jardim, pois a maioria dos proprietários são produtores

rurais, gerem suas RPPN como garantia de preservação do

patrimônio natural, estando elas no entorno da Rebio de Una,

reconhecida pelos remanescentes de florestas.

Algumas RPPN do Brasil, de propriedade de indivíduos ou

famíliares, são exemplos bem sucedidos de sustentabilidade

financeira, como a RPPN Vagafogo (GO), RPPN Fazenda Duas Barras

(PR) e RPPN Serra do Teimoso (BA), todas possuindo relevantes

atrativos naturais com interesse turístico. Elas estabeleceram

parcerias sérias com organizações não-governamentais, que

ajudavam na captação de recursos e assessoria técnica (ENCONTRO

PARANAENSE DE RESERVAS NATURAIS PRIVADAS, 2003).

Em relação a pesquisa científica, as RPPN em questão

participam apenas de projetos relacionados a conservação do mico-

leão-dourado, da AMLD, mesmo que dos 8 proprietários, 4 mencionem

que esta atividade de manejo é muito importante para a reserva.

A região em que estão inseridas as RPPN, chamada de Corredor

da Serra do Mar é considerado como área prioritária para a

conservação da biodiversidade, haja vista o grau de endemismo e

ameaça de extinção em que as espécies da fauna e flora estão

submetidas, além de apresentar relevantes áreas de Mata Atlântica

(MMA/SBF, 2002; ROCHA et al., 2003). Esta informação evidencia

ainda mais a necessidade de pesquisas científicas na região e nas

RPPN.

Page 65: gestao de rppn rio de janeiro

54

A listagem das espécies da fauna e flora (Anexo 2 e 3)

demonstra o potencial para pesquisas científicas que estas

unidades de conservação apresentam, que poderiam ainda subsidiar

o manejo das mesmas, como por exemplo, através de inventários dos

atributos naturais da unidade de conservação.

Em um contexto maior, COSTA & HERRMANN (2002) afirmam que

grande parte das RPPN existentes no Brasil desenvolvem atividades

de educação ambiental e de ecoturismo, e uma parcela bem menor

tem sido utilizada para realização de pesquisas científicas.

Essas áreas, no entanto, oferecem um potencial ilimitado para a

produção de conhecimento técnico-científico em diferentes áreas

do saber. Algumas destas RPPN desenvolvem pesquisas sistemáticas

sobre grupos florísticos e faunísticos, contribuindo com a

formação de inúmeros profissionais, mestres e doutores.

Para Silva Jardim, o que se constata é o não interesse nesse

tipo de atividade de manejo. Neste ponto, tanto a RPPN de forma

isolada como também a Associação de Proprietários poderiam tentar

efetivar parcerias com universidades e organizações não-

governamentais para esse fim. O estado do Rio de Janeiro possui

universidades públicas e privadas que poderiam ser parceiras das

reservas.

A consolidação dessas parcerias relacionadas à pesquisa

científica não só trariam resultados práticos para a reserva e

entorno, mas também vantagens tanto para a RPPN quanto para o

pesquisador. Do ponto de vista do proprietário, a divulgação da

unidade de conservação, em artigos e congressos científicos pode

atrair turistas e assim estimular outras atividades, como o

turismo educacional, por exemplo, além de representar o alcance

máximo de um de seus objetivos de conservação. Do ponto de vista

do pesquisador, além de serem menos burocráticas de se trabalhar,

se comparadas às unidades de conservação públicas, as RPPN

oferecem um amplo espaço de estudos relacionados à fragmentação

Page 66: gestao de rppn rio de janeiro

55

de habitas e conservação da biodiversidade (COSTA & HERRMANN,

2002).

A minuta de regulamentação da categoria, que ainda este ano

deve ser publicada, aponta para a necessidade de estímulo de

desenvolvimento de pesquisas científicas nas RPPN, inclusive de

forma independente da existência do plano de manejo - mas quando

existente, as prioridades de pesquisas deverão ser indicadas no

plano -, dependendo somente da autorização do proprietário. E,

quando for necessária a realização de coletas, os pesquisadores

deverão adotar os procedimentos exigidos na legislação

pertinente.

Para a realidade de Silva Jardim, vale ressaltar o

mencionado por Mesquita (2004), “... a investigação científica

nas RPPN deveria ser um objetivo de todos os proprietários, mesmo

nos casos onde o que se quer é apenas proteger a área. Até

porque, não há garantias de que somente deixar a área sem nenhum

tipo de uso assegure sua preservação...”

Em relação à Educação Ambiental, esta atividade é

desenvolvida apenas por duas RPPN, e estas estão relacionadas a

visitas de escolas do entorno as reservas, contudo, isso tem

acontecido de maneira esporádica. O trabalho periódico com

escolas locais e a capacitação dos funcionários das fazendas pode

ajudar na reversão do quadro de problemas encontrados pelas

reservas, principalmente a caça, cultura que parece estar

fortemente ligada ao município de Silva Jardim, além de promover

a integração com a comunidade do entorno.

Como exemplo, no sul da Bahia, a RPPN Serra do Teimoso

desenvolveu um Programa de Educação Ambiental com alunos do

ensino fundamental de uma escola do entorno, que teve como

objetivo despertar os mesmos para o ciclo biológico de espécies

da Mata Atlântica. O resultado, segundo BERBERT & CARVALHO

(2002), foi a mudança no conhecimento e comportamento desses

Page 67: gestao de rppn rio de janeiro

56

atores, a integração entre a reserva e a comunidade do entorno e

a percepção mais acurada da conservação de ambientes naturais.

No que se refere aos principais problemas encontrados pelas

RPPN, foi constatado que estes estão relacionados com a falta de

políticas de apoio, pressão de caça e falta de recursos

financeiros.

Resultados semelhantes foram encontrados, para as reservas

privadas da América Latina (Mesquita, 1999) (Tabela 10).

Tabela 10: Comparação entre os principais problemas existentes nas RPPN de Silva Jardim e reservas privadas na América Latina.

Problemas

Valor médio* Silva Jardim

Valor médio* América Latina

Falta de políticas de apoio 4,1 (1º) 3,9 (2º)

Caça 3,5 (2º) 3,1 (4º)

Falta de recursos financeiros 2,9 (3º) 4,1 (1º)

*varia de 1 a 5, em escala de importância.

Os valores entre parênteses referem-se à importância identificada para os

problemas.

Comparando-se os dados da Tabela 10, é possível constatar

que os problemas existentes para as reservas privadas de Silva

Jardim e da América Latina são semelhantes. Cabe salientar que

ambos os levantamentos são baseados em ameaças a partir da

percepção dos proprietários e não da documentação de problemas

através de monitoramento, atividade que segundo MORSELLO (2001)

é praticamente nula nas Unidades de Conservação brasileiras.

Segundo esta mesma autora, as informações sobre os principais

problemas encontrados em unidades de conservação privadas são

escassas e não sistematizadas.

MILANO et al. (2003), afirmam que as reivindicações dos

proprietários estão voltadas para reverter a falta de apoio à

Page 68: gestao de rppn rio de janeiro

57

criação de áreas protegidas privadas, passando pelas questões de

fiscalização, planejamento, implementação e manejo, até questões

mais específicas, como falta de pessoal.

Tais problemas assolam também as Unidades de Conservação

públicas. O poder público tem fortes limitações orçamentárias

para a criação e implementação dessas áreas, uma vez que na

equação orçamentária o peso relativo destas ações é irrisório

comparado a outras políticas públicas tais como segurança,

educação e saúde ou mesmo dentro do próprio quadro ambiental

(ALGER & LIMA, 2003).

O principal problema citado pelos proprietários é a falta de

políticas direcionadas as reservas. Daí pode-se concluir que os

incentivos governamentais por meio da isenção do Imposto

Territorial Rural (ITR) para a área de RPPN são, de longe,

insuficientes.

Segundo MESQUITA & LEOPOLDINO (2002), a isenção do ITR no

sul da Bahia não tem representado de fato um estímulo à criação

de RPPN, principalmente quando trata-se de propriedades

consideradas de tamanho médio. E para Silva Jardim, o mesmo foi

constatado.

Os benefícios adquiridos ao se transformar uma área de

floresta em uma reserva perpetuamente protegida por lei são

incipientes e pouco animadores (THEULEN, 2003a).

Os proprietários de RPPN de Silva Jardim tem lançado mão de

recursos próprios para garantir o mínimo de proteção à reserva e

desenvolver algumas atividades de manejo. Em muitos casos, não há

sequer o mínimo de proteção, estando a reserva extremamente

susceptível a vetores de pressão, sobretudo caça.

Os resultados mostram que 6 dos 8 proprietários têm

conhecimento dos programas de incentivo as RPPN, sendo que

somente até o momento apenas dois participaram desses editais.

Page 69: gestao de rppn rio de janeiro

58

Os recursos do FNMA e da Aliança para a Conservação da Mata

Atlântica, ambos com viés de incentivo as RPPN, são concorridos e

esbarram na falta de informação e assessoria voltada para os

proprietários elaborarem projetos. E, ainda, no caso do FNMA,

este somente pode ser acessado se o proprietário contar com uma

pessoa jurídica associada, permitindo que ele recorra a recursos

públicos.

Já o edital da Aliança para a Conservação da Mata Atlântica,

tem possibilitado que o proprietário por si só elabore um projeto

para concorrer a recursos financeiros para sua reserva, isto é,

sem precisar ter algum vínculo com alguma instituição para tal.

Esse não vínculo tem facilitado o processo de implementação de

atividades de proteção e manejo em muitas RPPN, já que tem

propiciado condições de sustentabilidade financeira para as

mesmas. Além disso, vêem provando que existem projetos sérios

sendo realizados nas RPPN, mesmo sem o apoio de entidades

ambientalistas.

O estabelecimento do ICMS Ecológico no estado do Rio de

Janeiro poderia mitigar estes problemas, em médio e longo prazo,

contribuindo para a captação de recursos para as reservas, pelo

menos para o desenvolvimento de atividades básicas de proteção.

Segundo LOUREIRO (2004), “A constituição brasileira prevê

repasse de recursos ao município por meio do ICMS, e determina

ainda que 75% deve ser repassado segundo um critério denominado

Valor Adicional Fiscal, podendo os outros 25% serem repassados de

acordo com o que dispuser a legislação estadual. Portanto, cada

Estado tem definido em legislação própria um conjunto de

critérios que disciplina a distribuição destes 25% a que os

municípios têm direito”.

Com isso o Estado do Paraná incluiu desde 1992 um critério

ambiental nos porcentuais para rateio do ICMS a que os municípios

têm direito (LOUREIRO, 2004).

Page 70: gestao de rppn rio de janeiro

59

O repasse de recursos oriundos do ICMS para as RPPN, no

Estado do Paraná, tem contribuído, sobremaneira, para o

desenvolvimento de atividades de manejo nas reservas, favorecendo

também sua sustentabilidade financeira.

Para se ter uma idéia, LOUREIRO (2004), relata que um

município do estado do Paraná chegou a receber R$ 50.000,00

(cinqüenta mil reais), por possuir RPPN dentre seus domínios.

No Rio de Janeiro, essa proposta de Lei, segundo LOUREIRO

(2003), de autoria conjunta dos Deputados Carlos Minc e Alice

Tamborindeguy, já chegou a entrar em regime de urgência, contudo,

não há previsão de consolidação deste instrumento. LOUREIRO

(2003) afirma ainda que existe a necessidade de mobilização para

que a referida lei seja aprovada, em especial por parte dos

municípios beneficiários potenciais e que isso caberia,

sobretudo, ao Instituto Estadual de Florestas posto que o ICMS

Ecológico em muito facilitaria o exercício da política pública de

conservação rumo a construção do Sistema Estadual de Unidades de

Conservação.

Dentre os que este autor cita como municípios potencialmente

beneficiários do ICMS Ecológico no Rio de Janeiro é possível

incluir Silva Jardim, que por sua vez apresenta em seus domínios

as RPPN e outras áreas naturais protegidas, como é o caso do

Parque Estadual dos Três Picos, a Reserva Biológica de Poço das

Antas e a Área de Proteção Ambiental do Rio São João. Por isso,

talvez fosse interessante que a Prefeitura Municipal de Silva

Jardim encampasse, junto com outros municípios da região, o

processo de pressão para aprovação da referida lei.

As RPPN de Silva Jardim podem vir ainda a ser beneficiar da

compensação por proteção de áreas de produção de água, já que

protegem alguns dos tributários do Rio São João, principal

drenagem que abastece a região dos lagos.

Page 71: gestao de rppn rio de janeiro

60

A Lei 9.985/2000, através de seus artigos 47 e 48, dispõe

“que os órgãos ou empresas, público ou privadas, responsáveis

pelo abastecimento de água ou pela geração e distribuição de

energia que faça uso de recursos hídricos, ou seja, beneficiário

da proteção proporcionada pela RPPN, contribua financeiramente

para sua proteção e implementação”. O novo regulamento da

categoria provavelmente também trará esta disposição.

Desta maneira, o envolvimento dos proprietários junto ao

Comitê de Bacias Hidrográficas do Rio São João, por meio da

Associação Patrimônio Natural, poderia catalisar este processo. A

região em que o município de Silva Jardim está localizado é tida

com “berço das águas da Região dos Lagos”, caracterizada por

turismo intenso no verão, e por isso apresenta demanda grande por

água. Como mencionado por MESQUITA (2004), o conceito de usuário-

pagador tem sido difundido pelos comitês de bacias hidrográficas

em diversas partes do Brasil. Mas ressalta que se não houver a

implementação deste conceito, de forma concreta, em ações de

conservação e recuperação de mananciais e florestas que os

protegem, o mesmo terá pouca eficácia.

Desta maneira, se os proprietários de Silva Jardim estão

gerando benefícios para o bem comum por meio de sua atitude de

criar uma unidade de conservação particular, em caráter perpétuo,

destaca-se, porque não proporcionar sua viabilidade em logo

prazo. Essa é uma discussão que deve ser amadurecida pelos

proprietários de RPPN de Silva Jardim junto com a APN e CNRPPN, e

depois dentro do Comitê de Bacias do Rio São João.

O problema pressão de caça, segundo os proprietários,

ostenta a segunda posição em grau de importância (Tabela 8).

Isso, por sua vez, pode estar relacionado ao fato das RPPN de

Silva Jardim estarem contíguas ao Corredor de Biodiversidade da

Serra do Mar, onde ainda se encontra um contínuo remanescente da

Page 72: gestao de rppn rio de janeiro

61

floresta atlântica do Rio de Janeiro, e onde há uma expressiva

presença da fauna de médio e grande porte (ver anexo 2 e 3).

Os caçadores, segundo os proprietários provêm das

comunidades do entorno e dos municípios vizinhos. Em algumas das

reservas estudadas existe suspeita de caça até mesmo pelos

próprios funcionários. Isto é, caso essa última afirmativa fosse

de fato constatada, sugeriria que mesmo que a reserva possuísse

um planejamento sistemático, provavelmente, a perda de

biodiversidade ainda estaria ocorrendo na área.

A remoção de fauna pela caça é apontada por Morsello (2001,

apud Ibama, 1997) como uma das principais ameaças às unidades de

conservação públicas, porém estas estão baseadas, como no caso

das RPPN de Silvas Jardim, na percepção dos chefes das unidades.

A mesma autora ressalta, porém, que os níveis com que estas

atividades têm ocorrido no Brasil são desconhecidos, mas sabe-se

que a fiscalização existente não consegue evitá-la.

Este problema, de fato, merece atenção especial, pois

diferentemente dos outros dois maiores problemas mencionados

pelos proprietários para as RPPN de Silva Jardim – falta de

políticas de apoio e falta de recursos financeiros -, afeta de

forma direta o patrimônio natural de Silva Jardim.

A não elaboração e encaminhamento ao IBAMA do relatório

anual de situação das RPPN pelos proprietários, uma exigência

prevista no artigo 8º do Decreto 1.922/1996, torna a real

magnitude deste tipo de ameaça mais obscura para o Ibama, o que

dificulta o direcionamento de possíveis ações inibitórias.

A existência da Reserva Biológica de Poço das Antas, gerida

por este órgão, tem contribuído junto a algumas das RPPN na

fiscalização, porém sem muito êxito, já que a própria Rebio sofre

da mesma ameaça.

Vreugdenhil (2004), apud BRUNER et al. (2001), numa análise

sobre o sucesso das áreas protegidas de todo o mundo, relata que

Page 73: gestao de rppn rio de janeiro

62

foi constatado uma correlação significativa entre o nível de

repressão das atividades ilegais nestas áreas com o sucesso das

mesmas.

Uma sugestão, para que os principais problemas encontrados

pelas RPPN pudessem ser mitigados, ou até mesmo sanados, talvez

fosse a criação de um conselho informal da reserva, uma espécie

de “amigos da RPPN”, que funcionaria através de reuniões onde

tarefas fossem direcionadas aos atores presentes, de acordo com

seus conhecimentos técnicos, científicos ou até mesmo políticos,

na busca de soluções para os problemas. Tal conselho poderia não

somente servir a uma RPPN, mais talvez ao conjunto delas.

Alguns atores locais podem ser citados para esse fim, tais

como: Associação Patrimônio Natural, Ibama (Rebio Poço das Antas,

Rebio União e Gerex-RJ), AMLD, Prefeitura Municipal de Silva

Jardim, através da Secretaria de Meio Ambiente e de Turismo,

Universidades (UFRuralRJ, UENF, UFRJ, UFF, UERJ, além de

universidades particulares), Associações comunitárias, dentre

outros. No entanto, assim como na criação da RPPN, esta decisão

cabe ao interesse e aos objetivos de cada um dos proprietários,

ou de um grupo deles, capitaneados pela APN.

Ao referir-se à articulação dos proprietários, Theulen

(2003), menciona que a tendência é eles se tornarem mais

organizados em nível regional. Porém, é necessário que haja uma

postura mais madura dos mesmos, principalmente das lideranças,

para que se estabeleça um processo de articulação mais eficiente

e produtivo, conseguindo realmente uma posição mais eficaz para

os problemas encontrados junto às áreas. E isso tem de fato se

consolidado, e como prova máxima a RPPN será a primeira categoria

de unidade de conservação a ter seu decreto de regulamentação.

Mas outros indicadores de maturidade podem ser destacados para o

movimento RPPNista, como a elaboração do roteiro metodológico, a

realização do II Congresso Brasileiro de RPPN – e neste evento

Page 74: gestao de rppn rio de janeiro

63

grandes avanços foram notoriamente dados, como por exemplo o

lançamento de 6 publicações sobre a temática -, e até mesmo a

postura do Ibama e MMA em relação a essa categoria de Unidade de

Conservação.

Numa análise das atividades desenvolvidas na propriedade, os

resultados demonstraram que as atividades com maior freqüência

estão relacionadas ao lazer, agricultura, pecuária e, ainda,

reflorestamento. Estas atividades, por sua vez, são consideradas

compatíveis com a existência da RPPN, desde que planejadas de

forma sustentável.

Segundo Schaeffer & Prochow (2002), o proprietário rural

precisa usar de muita criatividade e empenho para sobreviver no

meio rural. A diversificação da produção agropecuária e o

respeito pelo meio ambiente são os pilares da sustentabilidade

econômica e ambiental da propriedade. As figuras 11 e 12 ilustram

como pode ser viável diversificar o uso do solo na presença de

uma RPPN na propriedade, isto é, conservar produzindo, produzir

conservando.

Page 75: gestao de rppn rio de janeiro

64

Figura 11: exemplo de compatibilidade entre atividades produtivas

e existência de Reservas Particulares do Patrimônio Natural na

propriedade rural, segundo SHAEFFE & PROCHNOW(2002).

Page 76: gestao de rppn rio de janeiro

65

Figura 12: exemplo de compatibilidade entre atividades produtivas e existência de Reservas Particulares do Patrimônio Natural na propriedade rural, segundo SHAEFFE & PROCHNOW(2002).

Este aspecto é extremamente relevante principalmente quando

a RPPN não gera nenhuma receita, e esta é a realidade das RPPN de

Silva Jardim. Por não gerarem renda, todas as atividades básicas

de manejo da RPPN, via de regra, são custeadas pelo “bolso do

dono”, como por exemplo o cercamento da área, ou então pelas

Page 77: gestao de rppn rio de janeiro

66

atividades produtivas desenvolvidas na fazenda. Somente 2

proprietários afirmaram ter uma receita na propriedade que

custeie todas as despesas com a fazenda e RPPN. Outras cinco

propriedades conseguem subsidiar apenas em 50% as despesas com a

RPPN e a própria fazenda.

Uma vez que as atenções dos proprietários de RPPN estão

voltadas, sobretudo, para a produção agrícola, fomentar

alternativas agrícolas sustentáveis deve ser uma diretriz a ser

levada a cabo, conciliando assim conservação a produção, conforme

mencionam MESQUITA & LEOPOLDINO (2002).

Estes autores destacam o exemplo da Cooperativa de

Produtores Orgânicos do Sul da Bahia (CABRUCA), entidade que tem

sido um dos principais alvos dessa estratégia, juntamente com o

IESB.

A Associação Mico-Leão-Dourado tem desenvolvido na região de

Silva Jardim e Casimiro de Abreu, no entorno da Reserva Biológica

de Poço das Antas, atividades que incentivam o uso da agricultura

familiar, através de sistemas agroflorestais e práticas

agroecológicas para produção orgânica de alimentos, produção de

mudas nativas, frutíferas, principalmente visando a conservação

dos fragmentos que estejam nos domínios dos assentamentos de

reforma agrária (Fernandes et al., 2002).

A prática da extensão ambiental pode também ser exercida

junto aos proprietários das fazendas que possuem RPPN. Além

disto, o Sindicato Rural de Silva Jardim poderia desenvolver

junto aos seus associados um trabalho como este, não só

despertando-os para o que é uma RPPN, seus benefícios e

responsabilidades, mas também sensibilizando-os para o

desenvolvimento de práticas agropecuárias sustentáveis.

Quanto à interação entre as RPPN e as unidades de

conservação públicas existentes em Silva Jardim (Rebio Poço das

Antas e APA do Rio São João) constatou-se que mesmo que haja

Page 78: gestao de rppn rio de janeiro

67

algum tipo de interação entre essas áreas, esta ainda é

expressivamente incipiente. Da mesma maneira pode-se extrapolar

para a interação entre as RPPN.

O papel das RPPN, ao lado das Reservas Legais e Áreas de

Preservação Permanente, é central na composição de zonas tampão

de unidades de conservação e no estabelecimento de corredores

ecológicos entre essas e fragmentos importantes (ALGER & LIMA,

2004). Desta maneira, integrar essas unidades de conservação

privadas ao processo de gestão das unidades de conservação

públicas é tão importante quanto necessário.

Com isso a RPPN poderiam integrar o conselho gestor da

Reserva Biológica Poço das Antas, bem como o Conselho gestor da

APA do Rio São João. Essa iniciativa, todavia, certamente não

depende somente de um convite aos proprietários, mas também do

interesse por parte destes em se engajarem neste processo de

gestão participativa do mosaico de UC localizadas no município.

Quanto à integração entre as RPPN de Silva Jardim, ressalta-

se, novamente, a sugestão de criação de um conselho, por RPPN ou

em conjunto, na tentativa de favorecimento da troca de

experiências entre as RPPN, e entre essas e as unidades de

conservação públicas do entorno.

Em relação aos resultados de êxito apresentados, quais

sejam, 50% das RPPN objeto de estudo têm obtido êxito médio e 50%

êxito alto, pergunta-se: como as RPPN, desprovida de qualquer

instrumento de planejamento que sistematize as ações de proteção

e manejo, apresentam ainda assim êxito no cumprimento de seus

objetivos?

Antes de tudo, deve-se salientar que tais resultados foram

obtidos de acordo com a percepção e respostas dos proprietários e

não com base em avaliações de campo. Desta maneira, essa

percepção não está baseada, por exemplo, em estudos que comprovem

que os ecossistemas protegidos pelas RPPN estão ou não perdendo

Page 79: gestao de rppn rio de janeiro

68

biodiversidade ou, ainda, no monitoramento de uma determinada

atividade. Pois como foi visto, a pesquisa científica ainda não é

objetivo de manejo levado a cabo pelos proprietários das RPPN de

Silva Jardim, tampouco o monitoramento sistemático das atividades

de manejo.

A explicação, por sua vez, está no fato que tais unidades de

conservação foram criadas, como já foi visto, sobretudo por

motivações conservacionistas, tais como: conservar a diversidade

biológica, proteger espécies ameaçadas de extinção, proteger

amostras da Mata Atlântica, proteger mananciais hídricos e

conservar a paisagem natural; esses objetivos, segundo a

percepção dos proprietários, na sua grande maioria leigos na

ciência da biologia da conservação, têm sido alcançados.

Porém, a ausência de monitoramento do ecossistema (flora,

fauna e impactos negativos), confere aos proprietários a sensação

de proteção do ecossistema e ausência de uso direto, porém ela

pode ser irreal, como mencionado por PRIMARK & RODRIGUES (2001).

Assim posto, estudos que visem o inventário biológico da

área aliado ao monitoramento contínuo irão possivelmente

comprovar se a biodiversidade existente nas RPPN está sendo, de

fato, salvaguardada. Da mesma forma, para a proteção de

mananciais hídricos, proteção do habitat do mico-leão-dourado e

conservação da paisagem natural.

Mesmo diante deste cenário de incertezas quanto a

viabilidade ecológica das RPPN em longo prazo, essas reservas têm

uma parcela de contribuição na qualidade de vida local e de toda

a bacia hidrográfica.

O município de Silva Jardim foi em passado recente

considerado pólo pecuário do estado do Rio de Janeiro (PAULO,

comunicação pessoal), onde as paisagens com lavouras de cítricos

e pastos predominaram.

Page 80: gestao de rppn rio de janeiro

69

Naquela ocasião, a sensibilidade dos produtores rurais para

a importância de conservação da natureza era desconsiderada, em

função da demanda da produção agropecuária. Nos últimos 10 anos,

o que se percebe é o início da reversão desta realidade, sendo

que, atualmente, Silva Jardim desponta como a “capital”

brasileira das RPPN.

As RPPN têm contribuído para o aumento das expectativas

quanto à viabilidade ecológica da população de mico-leão-dourado,

através da adição de mais 1.000 ha protegido por lei ao habitat

da espécie.

Estas unidades de conservação têm ainda conservado

fragmentos de Mata Atlântica que contribuem para a geração de

serviços ambientais, nos moldes dos apresentados por TONHASCA

Jr.(2004): a) produção de água; b)regulação micro-climática na

região; c) proteção do solo; d) controle biológico de pragas; e)

recreação (ecoturismo, turismo rural, atividades ao ar livre); f)

controle de erosão; g) preservação de polinizadores vitais para

reprodução de plantas; h) fonte de material genético; i)

armazenamento de água na bacia hidrográfica; j) regulação de

gases atmosféricos poluentes; e k) agregação de valor cultural a

paisagem (estético, artístico, científico e espiritual).

Esses benefícios são tão valiosos quanto muitas vezes

abstratos. Eles são de difícil mensuração e acabam sendo

despercebidos pela sociedade. Talvez os moradores à jusante das

RPPN de Silva Jardim, no contexto da Bacia hidrográfica do São

João, como aqueles que moram na Região dos Lagos, ou visitam-na

em finais de semana e feriados na procura de lazer, não entendam

o quão importante é o papel das RPPN, que são hoje remanescentes

florestais protegidos por Lei, ao invés de terem sido

transformados em pastagens ou lavouras. O mesmo acontece com as

comunidades do entorno das RPPN.

Page 81: gestao de rppn rio de janeiro

70

A valoração financeira da geração desses benefícios tem sido

praticada por especialistas no mundo todo, assim como feito por

TONHASCA (2004), e talvez isso contribua para despertar a

sociedade - já que se começa a falar em valores financeiros - de

que pequenas contribuições (como a criação de RPPN de apenas 1

ha) são importantes para o alcance de um objetivo maior, o de

manter os serviços ambientais das florestas.

No contexto de uma bacia hidrográfica, ações que venham da

sociedade civil e não somente do Estado, como a criação de uma

RPPN, averbação da Reserva Legal e respeito às Áreas de

Preservação Permanente, mesmo que isoladas, certamente geram

produtos ambientais que melhoram a qualidade de vida das pessoas.

Estes valores são ainda maiores em ambiente de Mata Atlântica,

amplamente fragmentado. Iniciativas como estas contribuem com os

esforços públicos na manutenção do patrimônio natural.

Diante da falta de clareza da sociedade acerca dos

benefícios tangíveis e abstratos gerados pela existência das RPPN

de Silva Jardim e, ainda, pelo fato da maioria dessas unidades de

conservação não lançarem mão de planejamento sistemático, muitas

são rotuladas como “reservas de papel”, principalmente quando não

desenvolvem atividades explícitas de proteção e manejo.

Mas a verdade é que essas reservas, uma vez criadas, são

perpétuas, e desta maneira contribuem para dirimir dúvidas sobre

possíveis más intenções futuras, pois a lei perpetua a manutenção

das paisagens florestais do município de Silva Jardim nestas

áreas. Desta forma a iniciativa privada está contribuindo de

forma prática a reverter os menos de 8% de Mata Atlântica

remanescentes no Brasil e os 19,9% no estado do Rio de Janeiro

(FUNDAÇÃO CIDE, 2000).

Em Silva Jardim, o discurso conservacionista não tem

apresentado um fim em si mesmo, pelo contrário, tem se

consolidado em práticas e exemplos concretos, haja vista as 10

Page 82: gestao de rppn rio de janeiro

71

RPPN criadas em 10 anos, além das 6 em processo de reconhecimento

no IBAMA.

OS problemas existem e estão em vias de conhecimento para o

devido equacionamento. Mesmo assim, os proprietários encontram-se

satisfeitos com seu papel de conservacionistas, querendo deixar

legados para as sociedades futuras.

Por fim, cabe salientar o mencionado por THEULEN (2003b):

”não cabe a ninguém convencer outro na criação de uma RPPN. O

processo deve ser de orientação, com todos os esclarecimentos

possíveis, todos os prós e contras que envolvem a questão. O

proprietário não deve ter pressa em criar uma RPPN, ele deve ter

certeza, pois, se isso não ficar claro, a probabilidade de

problemas futuros são enormes”.

8. CONCLUSÕES

- As RPPN localizadas no município de Silva Jardim são

responsáveis pela proteção de importantes fragmentos de Mata

Atlântica, contribuindo não só para a proteção de 1008,67

hectares de habitat do mico-leão-dourado, mas também para a

prestação de uma série de serviços ambientais, tão abstratos

quanto valiosos para as comunidades vizinhas, tais como proteção

do solo, controle de erosão, bem-estar e qualidade de vida.

- Embora o município de Silva Jardim esteja entre os de maior

número de RPPN no Brasil, os resultados deste estudo apontam para

o fato de que todas as reservas não têm sido manejadas como

unidades de conservação em si, mas sim como propriedades rurais

com baixa intensidade de uso, haja vista a ausência de

planejamento sistemático;

Page 83: gestao de rppn rio de janeiro

72

- O baixo investimento, em recursos, mas sobretudo em tempo e

dedicação, dos proprietários destas reservas em ações de educação

ambiental, planejamento e estratégias de conservação parece

estar, via de regra, não só relacionado à falta de apoio e

recursos financeiros, mas também à falta de esclarecimentos dos

proprietários sobre suas responsabilidades enquanto proprietários

e gestores de uma unidade de conservação.

- A proteção em terras privadas no município de Silva por meio

das Reservas Particulares do Patrimônio Natural tem se

consolidado por motivações conservacionistas, isto é, na busca da

conservação do patrimônio natural;

- Os principais problemas estão relacionados à falta de apoio,

pressão de caça e falta de recursos financeiros; sendo que este

segundo apresenta impacto direto sobre a biodiversidade da

região;

- As RPPN em questão não desenvolvem atividades de Educação

Ambiental, Pesquisa Científica e Visitação com fins recreativos,

aspectos que não se contrapõem aos objetivos da categoria dentro

do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Lei 9.985/00).

Contudo, as RPPN não possuem plano de manejo e tampouco

encaminham relatório anual ao Ibama, o que vai de contra ao

disposto pela referida Lei.

- A Associação-Mico-Leão-Dourado, a Associação Patrimônio

Natural e a Secretaria de Meio Ambiente da Prefeitura Municipal

de Silva Jardim foram identificadas como baluarte do processo de

criação de RPPN no município.

Page 84: gestao de rppn rio de janeiro

73

9.RECOMENDAÇÕES

- Seria interessante que esforços por parte da Associação

Mico-Leão-Dourado, da Associação Patrimônio Natural e da

Prefeitura de Silva Jardim, através de sua Secretaria de Meio

Ambiente, fossem direcionados as RPPN, para capacitação de seus

proprietários;

- despertar dos proprietários de RPPN de Silva Jardim para a

busca de parcerias é crucial, para viabilizar pelo menos as

atividades básicas de manejo em suas unidades de conservação;

Essas mesmas entidades devem agora direcionar suas ações não

somente para a criação de novas RPPN no município, mas também

para o apoio ao seu planejamento, e implementação de atividades

básicas de proteção e manejo das mesmas.

Page 85: gestao de rppn rio de janeiro

74

10. REFERÊNCIAS

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Page 92: gestao de rppn rio de janeiro

81

ANEXO 01 - Questionário

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE FLORESTAS - DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS AMBIENTAIS

LABORATÓRIO DE MANEJO DE BACIAS HIDROGRÁFICAS PERFIL DE MANEJO RESERVAS PARTICULARES DO PATRIMÔNIO NATURAL DE

SILVA JARDIM, RIO DE JANEIRO, BRASIL.

1.0 IDENTIFICAÇÃO

1.1 Nome da reserva: _______________________________________________________

1.2 Localização: ___________________________________________________________

Telefone:_____________ Fax:________________ E-mail:____________________

1.3 Tamanho da RPPN_________________ (em ha)

1.4 Tamanho da propriedade _______________(em ha)

1.5 Condição do informante: Nome: _________________________________________

� Proprietário � Administrador

� Outro Especifique___________________________

1.6 A RPPN é de propriedade de uma:

� Pessoa Física � Família

2.0 OBJETIVOS

2.1 A RPPN foi criada no ano de ____________

2.2 A RPPN é ou já foi beneficiada por algum programa ou projeto? � Sim � Não

No caso de que sua resposta seja “Sim”, indique o nome e a instituição responsável:

____________________________________________________________________

2.3 Marque qual(is) das seguintes atividades são realizadas na propriedade:

� Agricultura � Extração de madeira para consumo próprio

� Pecuária � Colheita de produtos não-madeireiros

� Extração de lenha � Extração de madeira para comercialização

� Pesquisas � Turismo de natureza (ecoturismo)

� Sistema agroflorestais � Turismo rural

� Educação Ambiental � Lazer

Page 93: gestao de rppn rio de janeiro

82

� Reflorestamento � Outros Especifique___________________

2.4 De 1 a 5, classifique os objetivos abaixo de acordo com a importância que cada um teve para a criação da RPPN:

OBJETIVOS Sem importância

Pouco importante

Média importância

Importante Muito importante

Conservar a diversidade biológica 1 2 3 4 5

Proteger espécies ameaçadas de extinção

1 2 3 4 5

Abrir a área para realização de pesquisas científicas

1 2 3 4 5

Conservar amostras da Mata Atlântica

1 2 3 4 5

Proteger mananciais hídricos 1 2 3 4 5

Conservar a paisagem natural

1 2 3 4 5

Realizar reflorestamento com espécies nativas

1 2 3 4 5

Obter isenção de impostos

1 2 3 4 5

Garantir abastecimento de água 1 2 3 4 5

Promover desenvolvimento turístico

1 2 3 4 5

Aumentar o valor da terra

1 2 3 4 5

Proteger espécies que servem como inimigos naturais de pragas

1 2 3 4 5

Continua...

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83

Continuação...

OBJETIVOS Sem importância

Pouco importante

Média importância Importante Muito

importante

Ter acesso à doações para projetos ambientais

1 2 3 4 5

Fomentar o desenvolvimento econômico da comunidade local

1 2 3 4 5

Servir de exemplo para a comunidade local

1 2 3 4 5

Proteger a terra de ocupações e invasões 1 2 3 4 5

Promover a Educação Ambiental 1 2 3 4 5

Impedir expansão urbana e/ou obras de infraestrutura

1 2 3 4 5

Satisfazer um desejo pessoal ou familiar

1 2 3 4 5

Impedir caça e extração ilegal de árvores

1 2 3 4 5

Proteger a área contra empreendimentos de alto impacto ambiental

1 2 3 4 5

Deixar patrimônio natural protegido para os herdeiros

1 2 3 4 5

Proteger lugares "sagrados" ou especiais

1 2 3 4 5

3.0 CARACTERIZAÇÃO

3.1 Cite as espécies de flora e fauna que podem ser vistas na RPPN:

Flora:_________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Page 95: gestao de rppn rio de janeiro

84

Fauna:________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

3.2 Algumas da espécies de fauna citadas acima passaram a ser observadas mais freqüentemente

após a criação da RPPN?

� Sim � Não

Caso Sim, cite quais:

Flora: ______________________________________________________________

______________________________________________________________________

Fauna:_______________________________________________________________

______________________________________________________________________

3.3 A RPPN está aberta à visitação pública?

� Sim, qualquer pessoa pode visitá-la

� Sim, mas somente para pesquisadores autorizados e grupos para educação ambiental

� Não, apenas os proprietários, parentes, amigos e uns poucos convidados

3.4 O relacionamento da RPPN com a Reserva Biológica Poço das Antas se caracteriza como:

� Apoio da RPPN à Reserva Biológica Poço das Antas __________________________

� Apoio da Reserva Biológica Poço das Antas à RPPN __________________________

� Apoio mútuo, uma colabora com a outra_____________________________________

� Não existe relacionamento

Caso a resposta seja “não existe relacionamento”, qual seria a razão para isso?

______________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

3.6 O relacionamento com outras RPPNs em Silva Jardim se caracteriza como:

� Apoio desta RPPN à outras RPPNs________________________________________

� Apoio de outras RPPNs à esta RPPN_______________________________________

� Cooperação mútua entre as RPPNs________________________________________

� Não existe relacionamento_______________________________________________

Page 96: gestao de rppn rio de janeiro

85

3.7 Tem conhecimento da existência da Associação do Patrimônio Natural?

� Sim � Não

Caso “sim”, que papel ela desenvolve?

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________

3.8 Quais os benefícios gerados pela Associação do Patrimônio Natural (APN) a RPPN?

� Troca de experiências entre proprietários de RPPNs

� Relacionamento com a Reserva Biológica de Poço das Antas

� Relacionamento com organizações conservacionistas

� Relacionamento com órgãos públicos (prefeituras, IBAMA, IEF, etc.)

� Assistência técnica

� Resolução de problemas enfrentados pelas RPPNs

� Elaboração de projetos para apoiar a RPPN

� Realização de cursos e eventos

� Políticas conjuntas para as RPPNs

� Outros: _____________________________________________________________________

3.9 Tem conhecimento da existência da Confederação Nacional das RPPNs?

� Sim � Não

3.10 Na sua opinião, qual a importância de se ter um organização nacional de proprietários de

RPPNs?

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________

3.11 Tem conhecimento do “Programa de Incentivo às RPPNs da Mata Atlântica?

� Sim � Não

Caso sim, o que sabe sobre este programa?

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________

3.12 Indique os tipos de apoio que a reserva tem recebido e de que tipo de instituição:

Page 97: gestao de rppn rio de janeiro

86

Governo ONG ONG Empresa Empresa.

Federal Estrang. Nacional Estrang. Nacional

Incentivos fiscais �� �� �� �� ��

Doações �� �� �� �� ��

Assessoria técnica �� �� �� �� ��

Apoio com mão-de-obra �� �� �� �� ��

Apoio em divulgação �� �� �� �� ��

Assessoria científica �� �� �� �� ��

Outros (especifique) �� �� �� �� ��

______________________________________________________________________

3.12 Existem estudos científicos atualmente sendo desenvolvidos na área da RPPN?

�Sim � Não

Caso sim, quantos: ______flora _____fauna ______outros

Caso não, justifique:______________________________________________________

_____________________________________________________________________

4.0 ADMINISTRAÇÃO e ESTRATÉGIAS DE MANEJO

4.1 Indique quantos funcionários tem a propriedade:

__________ funcionários fixos (CLT) ___________ funcionários temporários

Nos serviços relacionados a manutenção e proteção da RPPN: ______pessoas

Nas atividades produtivas da propriedade _______ pessoas

4.2 Quantos funcionários nasceram ou vivem na comunidade local? _______pessoas

4.3 A RPPN conta com alguma assessoria/orientação de algum profissional de conservação

(biólogo, Eng. Florestal, etc.)?

Page 98: gestao de rppn rio de janeiro

87

� Sim � Não

Se sua resposta for “Sim”, indique em que situação.

� Consultor remunerado � Consultor voluntário

� Funcionário � Técnico de ONG parceira

� Membro da família � Outros___________________________

4.4 Das técnicas apresentadas a seguir, marque aquelas que são executadas atualmente na

propriedade:

� Monitoramento de Impactos ambientais em geral

� Tratamento de esgoto e resíduos sólidos

� Tratamento de lixo

� Educação Ambiental

� Livro-caixa - Contabilidade

� Uso de fontes alternativas de energia

� Uso de materiais de arquitetura típica do local nas construções

4.5 A RPPN possui plano de manejo ou algum outro instrumento de manejo?

� Se “Sim”, a quanto tempo?_________anos

� Se “Não”, pretende elaborar um? � Sim � Não

Caso não tenha e não se pretenda elaborar, explique por quê? ______________________________________________________________________________

_____________________________________________________________

4.6 A RPPN enfrenta ou já enfrentou algum problema com seus vizinhos?

� Limites de propriedade � Invasão por animais domésticos

� Caça � Desmatamento

� Queimadas � Extração de lenha

Page 99: gestao de rppn rio de janeiro

88

� Outros ___________________________

4.7 Os órgãos governamentais de meio ambiente comparecem quando solicitados?

� sempre � dificilmente � nunca

4.8 Quanto tempo demorou o reconhecimento da RPPN, desde a preparação da documentação necessária até a entrega do Título?

� Menos de 6 meses � de 6 a 12 meses � 12 a 24 meses � mais de 24 meses

4.9 Está satisfeito de ter criado uma Unidade de Conservação de caráter perpétuo, em ser parceiro participante do movimento conservacionista brasileiro?

� Sim � Não

Explique por quê?

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________

4.10 Dentre as opções a seguir, indique as que são adotadas atualmente para divulgar a RPPN:

� Distribuição de folders e cartazes � Divulgação na TV, rádio, jornais e revistas

� Divulgação na Internet (home page) � Realização de cursos

� Promoção de eventos na RPPN � Participação em eventos

5.0 ASPECTOS ECONÔMICOS

5.1 A receita total da propriedade cobre qual porcentagem das despesas com sua manutenção?

� 0% � < 25% � 25-50% � 50-75% � > 75% �100%

5.2 Indique o percentual da renda anual do dono que é gerado pela propriedade:

� 0% � < 25% � 25-50% � 50-75% � > 75% �100%

5.3 Indique qual a participação estimada de cada uma das seguintes atividades na receita total da propriedade (as que não existem na propriedade devem receber um “ZERO”)

Page 100: gestao de rppn rio de janeiro

89

Agricultura ________%

Pecuária ________%

Venda de madeira/lenha ________%

Venda de produtos não madeireiros ________%

Turismo ________%

Doações ________%

Pagamento de serviços ambientais ________%

Outros (especificar): ________%

TOTAL: 100%

6.0 EXPECTATIVAS PARA O FUTURO

6.1 Acredita que, em longo prazo, atividades relacionadas ao ecoturismo ou turismo rural poderiam pagar os custos com a manutenção e proteção da propriedade e da RPPN, inclusive financiar investimentos em infra-estrutura?

� Sim � Não � Não sabe

Justifique:_____________________________________________________________

6.2 Tem interesse em incluir sua RPPN em um roteiro turístico municipal / regional?

� Sim � Não

Explique por quê.

6.3 Deseja ampliar o tamanho da RPPN?

� Sim � Não

6.4 Caso a resposta anterior seja positiva, como pretende fazer isso:

� Converter mais área da própria fazenda em RPPN

� Comprar mais terras para anexar à RPPN

� Convencer os vizinhos a criar RPPNs

6.5 Marque o grau de sucesso atingido até o momento, nos seguintes objetivos:

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90

OBJETIVOS Fracasso absoluto

Mal sucedido

Sucesso relativo

Bem sucedido

Sucesso absoluto

Conservar a diversidade biológica

1 2 3 4 5

Proteger espécies ameaçadas de extinção 1 2 3 4 5

Abrir a área para realização de pesquisas científicas

1 2 3 4 5

Conservar amostras da Mata Atlântica 1 2 3 4 5

Proteger mananciais hídricos 1 2 3 4 5 Conservar a paisagem natural 1 2 3 4 5 Realizar reflorestamento com espécies nativas

1 2 3 4 5

Obter isenção de impostos 1 2 3 4 5 Garantir abastecimento de água 1 2 3 4 5 Promover desenvolvimento turístico 1 2 3 4 5

Aumentar o valor da terra 1 2 3 4 5 Proteger espécies que servem como inimigos naturais de pragas

1 2 3 4 5

Ter acesso à doações para projetos ambientais 1 2 3 4 5

Fomentar o desenvolvimento econômico da comunidade local

1 2 3 4 5

Servir de exemplo para a comunidade local 1 2 3 4 5

Proteger a terra de ocupações e invasões

1 2 3 4 5

Promover a Educação Ambiental 1 2 3 4 5 Impedir expansão urbana e/ou obras de infraestrutura 1 2 3 4 5

Satisfazer um desejo pessoal ou familiar

1 2 3 4 5

Impedir caça e extração ilegal de árvores 1 2 3 4 5

Proteger a área contra empreendimentos de alto impacto ambiental

1 2 3 4 5

Deixar patrimônio natural protegido para os herdeiros 1 2 3 4 5

Proteger lugares "sagrados" ou especiais

1 2 3 4 5

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91

6.6 Indique, de acordo com grau de importância, os principais problemas da RPPN:

Sem imp. Pouco imp. Regular Imp. Muito imp.

Caça 1 2 3 4 5

Extração ilegal de madeira 1 2 3 4 5

Invasão por animais domésticos 1 2 3 4 5

Falta de visitantes 1 2 3 4 5

Fogo 1 2 3 4 5

Invasores/Posseiros 1 2 3 4 5

Oposição da comunidade local 1 2 3 4 5

Falta de recursos financeiros 1 2 3 4 5

Falta de políticas e programas de apoio 1 2 3 4 5

Poluição 1 2 3 4 5

Disputas por limites de propriedades 1 2 3 4 5

Manutenção da Infra-estrutura 1 2 3 4 5

Desmatamento dentro da RPPN 1 2 3 4 5

Desmatamento no entorno da RPPN 1 2 3 4 5

Problemas com a Prefeitura 1 2 3 4 5

Extração de Palmito 1 2 3 4 5

Outros__________________________ 1 2 3 4 5

6.7 Tem conhecimento que a Prefeitura de Silva Jardim, junto com a Associação do Patrimônio Natural, têm um projeto para tornar Silva Jardim no município com maior número de RPPNs do Brasil?

� Sim � Não

O que acha disso?

6.7 Se tivesse a oportunidade de propor estratégias e políticas que gerasse mais benefícios para as RPPNs, que propostas apresentaria? Quais seriam suas prioridades de ação? Cite três medidas que proporia para aumentar o apoio às RPPNs?

Page 103: gestao de rppn rio de janeiro

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ANEXO 2 - Fauna da região Lista de algumas espécies da fauna existente nas RPPN de Silva

Jardim, segundo seus proprietários. * citadas pelos proprietários --- espécies não identificadas

NOME CIENTÍFICO NOME VULGAR * Panthera onca Onça pintada Leonthopitecus rosalia Mico-leão-dourado Aloatta sp. Bugio Cebus apella Macaco prego Callithrix sp. Mico-estrela --- Tatu Nasua nasua Quati Didelphis marsupialis Gambá A. paca Paca Caimam latirostris Jacaré de papo amarelo Mazama sp. Veado Dazyprocta sp. Cutia --- Lagarto Teiú Hydrochoerus hydrochoeris Capivara Chaetomis subpinosus Ouriço Lachesis muta Cobra surucucu --- Caxinguelê Micrurus lemniscatus Cobra coral Bothrops fonsecai Jararaca Bothsops jararacussu Jararacucú Boa constricta Jibóia Puma concolor Onça parda Bradypus torquatus Preguiça --- Andorinha --- Canário da terra --- Gavião --- Maritacas --- Sanhaços --- Sabiá Neomorphus sp. Jacu Ramphastos sp. Tucano Myrmecophaga sp. Tamanduá Eira bárbara Irara Cerdocyon thous Cachorro do mato Felis sp. Maracajá Procyon cancrivorus Guaxinim(mão pelada) Lutra longicaudis Lontra Ramphocelus bresulius Tiê sangue Furnarius rufus João de barro Leopardus jardalis Jaguatirica

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93

ANEXO 3 - Flora da região

Lista de algumas espécies da flora existente nas RPPN de Silva Jardim, segundo seus proprietários.

* citadas pelos proprietários

NOME CIENTÍFICO NOME VULGAR * Dalbergia nigra Jacarandá da bahia

Piptadenia gonoacantha Pau-jacaré

Plathymeria foliosa Vinhático

Copaifera Copaíba

Cariniana legalis Jequitibá

Tabebuia Caixeta

Erythrina sp. Eritrina

Hymenaea courbaril Jatobá

Cedrela fissilis Cedro

Trichillia hirta Carrapeta

Erythrina sp. Mulungu

Tibouchina grandiflora Quaresmeira

Albizia polycefala Cabuir

Cassia sp. Canafístula

Ficus guaranitica Figueira mata pau

Schizolobium amazonicum Guapuruvú

Vitex sp. Tapinhoã

Ocotea porosa Imbuia

Rapanea ferruginea Camará

Tabebuia sp. Ipê amarelo

Euterpe edulis Palmito jussara

Gochnatia polymorpha Garapa

Melanoxylum brauna Braúna

Tabebuia sp. Ipê roxo

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ANEXO 4 - Roteiro turístico com RPPN