gestão de processos de negócio (bpm)

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APOSTILA MBA em Arquitetura Orientada a Serviços – SOA Disciplina: Modelagem e Otimização de Processos de Negócios Profª. MSc. Edna Dias Canedo

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  • APOSTILA

    MBA em Arquitetura Orientada a Servios SOA

    Disciplina: Modelagem e Otimizao de

    Processos de Negcios

    Prof. MSc. Edna Dias Canedo

  • O material dessa apostila baseado nos livros listados abaixo. Muitas das referncias indicadas neste texto esto nas referncias originais da obra original e no aparecem registradas aqui. 1. Gerenciamento de Processos de Negcios BPM Business

    Process Mangment, Roquemar Baldan at al, Editora rica, 2007.

    2. Gesto Integrada de Processos e da Tecnologia da Informao, Mattos, Claudia at AL, Editora Atlas, 2008

  • SUMRIO

    1. Contextualizao do BPM ___________________________________ 5 1.1 Os diversos conceitos de processos e o conceito usado no Livro _________ 5 1.2. Exemplos caractersticos de processos de negcios _____________ 8 1.3 A viso por processos nas organizaes _______________________ 9 1.3.1 Organizao centrada em processos & organizao no centrada em processos __________________________________________________ 13 1.3.2 A aplicao da viso de processos nas atividades organizacionais ______ 14 1.4 Gerenciamento de processos & gerenciamento de projetos ____________ 15 1.5 Breve histrico da racionalizao do trabalho nas organizaes _________ 16 1.6 Trs grandes movimentos recentes que envolvem a viso de processos ___ 21 1.6.1 Difuso da viso de processos em decorrncia da implantao de controle da qualidade total ______________________________________________ 22 1.6.2 Difuso da viso de processos em decorrncia da implementao em larga escala dos sistemas integrados de gesto ___________________________ 23 1.6.3 Difuso do gerenciamento de processos de negcios _______________ 27 1.7 Razes do interesse pelo BPM _____________________________ 28 1.7.1 A evoluo das estruturas de mercado resultante da globalizao ______ 28 1.7.2. Uso do BPM para controle da complexidade em grandes corporaes e em cadeias de suprimento _________________________________________ 29 1.7.3 A racionalizao de quarta gerao do desenvolvimento de produtos ____ 30 1.7.4. Responsabilidade Social e Governana Corporativa: o BPM na racionalizao das relaes sociais de produo ______________________ 32 1.7.5 A evoluo das TI's como fator de difuso do BPM _________________ 33 1.8 Diferentes vises de abordagens na melhoria continua, inovao de processos e BPM ____________________________________________________ 37 1.9 Fatores crticos de sucesso em implantaes de BPM ________________ 38 2. O Ciclo Do Gerenciamento de processos de negcios: Proposta Prtica ___ 40 2.1. Viso geral do ciclo de gerenciamento de processos de negcios __ 40 2.2 Infra-estrutura de trabalho para gerenciamento de processos de negcios _ 42 2.2.1 Equipe envolvida _________________________________________ 43 2.2.2. Quem estuda processos em maior intensidade? ______________ 46 2.2.3. Infra-estrutura fsica ______________________________________ 48 2.2.4 Infra-estrutura de software __________________________________ 48 2.2.5 Manual do modelo de gesto de BPM _______________________ 49 2.3 Planejamento do BPM ______________________________________ 49 2.3.1 Processos-chave para a estratgia _________________________ 51 2.3.2 Processos para soluo imediata de problemas __________________ 52 2.3.3 Processos para otimizao _________________________________ 52 2.3.4. Viso Global de Processos _________________________________ 52 2.4 Modelagem e otimizao de processos __________________________ 59 2.4.1 Modelagem do estado atual (As ls) ____________________________ 61 2.4.1.1 Metodologias de modelagem _______________________________ 65 2.4.1.2 O uso de software de modelagem durante entrevistas e discusses em grupos ____________________________________________________ 68

  • 2.4.2 Otimizao e modelagem de estado futuro (To Se) _________________ 69 2.4.2.1 Anlise de processos ____________________________________ 70 2.4.2.2 Melhoria continua _______________________________________ 71 2.4.2.3 FAST (Fast Analysis Solution Technique) ______________________ 72 2.4.2.4 Benchmarking _________________________________________ 73 2.4.2.5 Adoo de melhores prticas e processos comodizados ____________ 75 2.4.2.6 Redesenho de processo __________________________________ 77 2.4.2.7 Inovao de processos ___________________________________ 77 2.4.2.8 Impacto das diversas abordagens de otimizao de processos _______ 79 2.4.2.9. Simulao ____________________________________________ 79 2.4.2.10. Resultados esperados da modelagem de estado futuro (To Se) _____ 80 2.5 Execuo de processos _____________________________________ 80 2.6 Controle e anlise de dados __________________________________ 82 3.2 Lembrar que nem toda tarefa precisa utilizar computador _____________ 87 3.3 As ferramentas de TI que apiam processos ______________________ 89 3.4 Alguns movimentos em TI que favorecem a implantao de processos ____ 89 3.4.1 A criao de repositrios de processos _________________________ 90 3.4.2 SOA _________________________________________________ 90 3.4.3. ECM ________________________________________________ 92 3.4.4 Assinatura com certificado digital _____________________________ 93 3.4.5 Business rules _________________________________________ 93 3.4.6 A criao de vrias interfaces de comunicao padronizadas entre os processos de negcios e os softwares de implementao ________________ 94 4. Ferramentas de TI Aplicveis a BPM em Geral ______________________ 96 4.1 Classificao das ferramentas de TI com aplicao em BPM ______ 96 4.2 Iniciativas de construo de ambientes integrados de BPMs _______ 98 4.3 Aplicaes no planejamento do BPM ________________________ 101 4.4 Aplicaes na modelagem e otimizao de processos __________ 101 4.5 Aplicaes na implantao e execuo de processos ___________ 102 4.6 Aplicaes no controle e monitoramento _____________________ 104 4.6.1. BAM (Bussines Activity Monitoring) __________________________ 105 5. Modelos de Referncia de Processos de Negcios, Melhores Prticas e Padronizao de Processos ____________________________________ 110 5.1 Alguns modelos de referncia de processos de negcios ______________ 110 5.1.1 Supply-Chain Operations Rejerence-model (SCOR) da Suply-Chain Council ________________________________________________________ 111 5.1.2 Processes Classification Framework da APQC ____________________ 112 5.1.3 Enhanced Telecommunications Operations Map (eTOM) da TeLemanagement Forum ___________________________________________________ 113 5.1.4 M/T Process Handbook _________________________________ 113 5.1.5 RosettaNet ____________________________________________ 115 5.1.6 Outras referncias relevantes em modelos de referncia em processos ____ 115 5.2 Melhores prticas e processos comodizados ______________________ 116 5.3 A migrao de empresas com pacotes fechados com melhores prticas para modelos flexveis de processos __________________________________ 116

  • 5

    1. Contextualizao do BPM

    1.1 Os diversos conceitos de processos e o conceito usado no Livro

    A palavra processo aparece em vrias situaes para designar

    uma seqncia de atividades: processos jurdicos, processos qumicos,

    processos de produo siderrgica etc. Neste livro, o foco sero os

    processos de negcios (Business Process), expresso que recupera o

    sentido latino do termo negcio, que no se restringe ao seu uso corrente

    hoje como trato mercantil (negcio, ocupao, trabalho).

    Para facilitar a compreenso de processos no contexto da

    discusso apresentada, necessrio se faz buscar em diferentes fontes de

    referncia os conceitos mais recorrentes envolvidos. Esta divergncia de

    pontos de vista gera vises e expectativas diferenciadas. O Anexo I

    apresenta uma srie de conceitos correlatos a processos de negcios

    elaborados por diversos autores.

    No livro adotamos os conceitos indicados pela BPMN (2006):

    BPM (Business Process Management): envolve a

    descoberta, projeto e entrega de processos de

    negcios. Adicionalmente, o BPM inclui o controle

    executivo, administrativo e supervisrio desses

    processos.

    Atividade: um termo genrico para o trabalho que uma

    companhia ou organizao executa via um processo

    de negcio. Pode ser atmica (pouca abrangncia) ou

    no-atmica. Os tipos de atividade que fazem parte de

    um processo so: processos, subprocessos ou tarefas.

    Processo: um encadeamento de atividades executadas

    dentro de uma companhia ou organizao, que

    transformam entradas em sadas (adaptao dos

  • 6

    autores).

    Subprocesso: um processo que est incluso em outro

    processo.

    Tarefa: uma atividade atmica (pouca abrangncia)

    que includa em um processo. usada quando a

    atividade no processo no ser mais refinada em

    subprocessos dentro do modelo do processo.

    Geralmente executada por um nico usurio final,

    equipamento ou sistema.

    A adoo, neste livro, dos conceitos da BPM deve-se a:

    Amplitude com que os conceitos podem ser usados;

    Coerncia entre os conceitos;

    No-redundncia;

    Clareza e compreenso dos conceitos;

    Respeitabilidade da equipe envolvida na concepo do

    BPMP (instituio que criou o BPMN).

    As definies do BPMN so compatveis com as da ISO 9000, que

    define processo como "um conjunto de atividades inter-relacionadas ou

    interativas, que transformam entradas em sadas". Alis, quase todas as

    definies mencionam um fluxo de entradas e de sadas. Esta

    conceituao destaca que o propsito de qualquer processo

    transformar os recursos que entram (que podem ser materiais, formas de

    energia, informaes ou os prprios clientes) em recursos com valor

    adicionado, a serem disponibilizados para clientes internos ou externos

    (ao, energia aproveitvel, dados relevantes, pacientes curados etc.),

    bem como em recursos com valor pblico adicionado (empregos,

    impostos, benefcios vizinhana etc.).

    H ainda, inevitavelmente, dois outros tipos de sada: recursos

    sem valor imediato (resduos slidos, emisses de gases e efluentes

  • 7

    lquidos, a serem reaproveitados, tratados ou dispostos) e informaes

    que realimentaro o sistema organizacional, propiciando me1horias e

    indicaes quanto ao seu desempenho. Para transformar os recursos

    entrantes em sadas (e assim produzir bens e servios), os processos.

    A Figura 1 mostra o esquema geral de funcionamento de

    processos nas organizaes.

    A Figura 1 mostrou o que est diretamente envolvido em um

    processo em particular (entradas, sadas, recurso e controles). Mostra

    inclusive as influncias externas oriundas do contexto da organizao,

    que podem alterar o modo de funcionamento do processo e at mesmo os

    produtos produzidos pelo processo. Por exemplo, o nvel de emisses

    permitido pode variar de um pas para outro; logo, as sadas indesejadas

    (poluio) e a forma de produzir podem ser diferentes, mesmo que o

    produto desejado nos processos seja o mesmo.

  • 8

    1.2. Exemplos caractersticos de processos de negcios

    Cada modelo de referncia apresenta uma forma prpria de

    caracterizar processos, adequada a determinado propsito. Uma forma

    interessante de entender os diferentes processos de organizaes em

    geral o modelo proposto por Scheer (2006), que divide basicamente os

    processos em trs categorias:

    Processos de governana: envolvem processos

    como gerenciamento de conformidades, gerenciamento

    de riscos, Business lntelligence, processos de BPM,

    desenvolvimento de estratgia, desenvolvimento de

    negcios e arquitetura empresarial.

    Processos de gerenciamento (suporte e controle):

    abrangem as atividades dirias e mais comuns de

    gerenciamento da organizao como: gerenciamento

    financeiro, controladoria, gerenciamento de informao,

    o BPM propriamente dito, gerenciamento da qualidade,

    gerenciamento de recursos humanos, gerenciamento

    de ativos etc.

    Processos operacionais: destinados a desenvolver a

    atividade fim da empresa: CRM, logstica,

    desenvolvimento de produto, PCP gesto de material

    etc.

    No que tange aos processos operacionais, a estrutura melhor

    aplicvel a processos produtivos de bens de consumo, mas o conceito

    plenamente aplicvel ao setor de servios.

    Embora nenhum modelo possa contemplar todos os inmeros

    processos de negcios existentes nas organizaes do mundo inteiro. A

    Figura 2 apresenta uma excelente Estrutura de Trabalho para

    Classificao de Processos, a da American Productivity & Quality Center

    (APQC, 2006). Por ter sido elaborada com propsito de benchmarking,

  • 9

    engloba processos existentes em muitas organizaes, criando uma

    referencia geral.

    interessante perceber no modelo vrios processos corriqueiros

    nas organizaes, mesmo que elas no possuam uma estrutura de BPM

    formal. Em termos de distribuio de processos principais possui

    similaridade com a Cadeia de Valor de Porter.

    1.3 A viso por processos nas organizaes

    Muitas so as imagens que as pessoas usam para pensar as

    organizaes. Morgan (1986), por exemplo, aponta oito maneiras

    habituais de visualizar as organizaes:

    Como mquinas;

  • 10

    Como organismos;

    Como crebros;

    Como culturas;

    Como sistemas polticos;

    Como prises mentais;

    Como fluxos e transformaes;

    Como instrumentos de dominao.

    medida que a viso de processos se difunde, as formas

    contemporneas de racionalizao tendem a ver as organizaes como

    um feixe de processos. Alguns deles pertencem a um departamento ou

    setor: podemos chama-Ios intrafuncionais. Outros so transfuncionais,

    pois atravessam departamentos.

    A Figura 3 faz uma comparao grfica entre as vises departa-

    mental e por processos. Apesar de discusses de que na realidade a

    viso funcional passou a existir de uma viso de linhas de montagem de

    Ford7, a realidade que esta viso se disseminou para outras atividades

    fora do cho de fbrica. As tcnicas fordistas eram funcionais, pois cada

    trabalhador tinha uma viso departamental.

  • 11

    A viso por processo procura entender o que precisa ser feito e

    como faz-Io. Nela, as tarefas no so definidas exclusivamente em

    funo dos departamentos da organizao. Ao decidir o que precisa ser

    feito, primeiramente tm-se em mente as atividades que agregaro valor

    para a organizao sem se preocupar inicialmente em saber qual o

    departamento que as executar. Neste caso, como mostra a Figura 3, um

    processo pode cruzar departamentos e solicitar servios de cada um

    deles, dependendo da atividade a ser executada.

    As tcnicas contemporneas buscam esclarecer a contribuio de

    cada processo para a agregao de valor, para a gerao de sadas

    indesejadas (ISO 14000) para o controle do desempenho e para a

    responsabilidade social da empresa. Mas isso no quer dizer que os

    processos ocorram, de fato, conforme o modo previsto nos documentos

    escritos pelos racionalizadores. Afinal, as ferramentas de que estes

    dispem (metodologias, equipamentos, softwares etc.) retratam somente

    uma parte do conhecimento necessrio e ignoram vicissitudes tcnicas e

    financeiras.

    O modo como os processos ocorrem de fato depende muito de seu

    contexto e do conhecimento disponvel. Muitas destas discrepncias

    entre os processos previstos e os processos executados decorrem do

    que H. Simon (1979) denominou racionalidade local:

    Existem limites prticos a racionalidade humana e essas limitaes no so estticas, mas dependem do meio organizativo no qual o indivduo toma suas decises.

    Cinqenta anos atrs, Simon j alertava para a necessidade de

    uma memria auxiliar que apoiasse a tomada de deciso, pois devido

    complexidade dos sistemas administrativos modernos, nenhum homem

    consegue dominar todos os dados necessrios a uma escolha

    perfeitamente racional. O volume de informao tornou-se to elevado,

    que nem mesmo informaes plenamente organizadas bastam para uma

    perfeita racionalizao das inmeras microdecises que gerentes e

    mesmo operadores tm de tomar continuamente.

  • 12

    Mas o que ocorre com os departamentos e organogramas com uma

    viso por processos? Nas palavras de Gonalves (2000b):

    Os organogramas no se prestam para a anlise dos processos de negcio, pois no mostram como eles funcionam na prtica nem como ocorrem na empresa. Os processos de negcio esto relacionados com o funcionamento da organizao e geralmente no respeitam os limites estabelecidos pelos organogramas. A organizao de uma empresa por processos pode ter a aparncia de uma estrutura funcional, com reas funcionais bem definidas, mas com processos operando efetivamente de forma ortogonal ("na horizontal"). No se trata de uma estrutura matricial, embora existam relaes de dupla subordinao nas organizaes por processos. Muitas vezes, as mesmas pessoas participam de vrios processos simultaneamente. Na prtica, as reas funcionais e suas chefias no desaparecem quando a organizao se estrutura por processos. medida que os process owners ("donos do processo") vo assumindo responsabilidade cada vez maior pelo projeto, pela estruturao e pelo funcionamento dos processos essenciais das empresas, os chefes das reas funcionais se focam cada vez mais no treinamento e na capacitao do seu pessoal.

    Os departamentos deixariam de existir por conta da viso por

    processos? Dificilmente. As inovaes no abolem a viso funcional que

    continua til em muitas das situaes gerenciais. A quantidade de

    departamentos pode diminuir, alterar as responsabilidades,

    descentralizar, usar estrutura em matriz etc., mas isso no leva

    necessariamente extino por completo da estrutura hierrquica na

    forma de organogramas como estamos habituados.

  • 13

    1.3.1 Organizao centrada em processos & organizao no centrada em processos

    Tabela 1. Caractersticas de organizao centrada e no centrada em processos. Fonte: Jeston & Nelis (2006)

    Poderia haver uma empresa com uma gesto exclusivamente por

    processos em todas suas atividades? Esta situao no passa de um

    modelo idealizado. Na prtica, h empresas que apenas tendem a ser

    centradas em processos, caminhando para uma maior maturidade em

    processos, mas com departamentos e com certa viso funcional,

    coexistindo com a viso de processos. Para se ter uma idia mais clara

    sobre a viso de processos na organizao, Jeston & Nelis (2006)

  • 14

    indicam as caractersticas da Tabela 1. Certamente os dois modelos

    ideais representam mais um conjunto de sintomas e pode haver uma

    mistura destas duas vises na organizao.

    1.3.2 A aplicao da viso de processos nas atividades organizacionais

    A aplicao exagerada de qualquer tcnica organizacional pode

    levar a um desnecessrio dispndio de energia. Muitas atividades

    executadas nas empresas podem no usar necessariamente um

    formalismo to grande e de uma aplicao direta de modelagem de

    processos e outros itens associados ao BPM. Alm disso, preciso

    lembrar sempre que processos de negcios no so linhas de

    montagem e os usurios possuem importantes conhecimentos e

    opinies que podem compartilhar, agregando melhorias e contornando

    problemas insolveis se ocorressem em mesmas escalas em linhas de

    montagem. Processos de negcios envolvem pessoas, comunicaes de

    vrios tipos e mudanas, no somente poderosos softwares e mquinas.

    Alguns processos ocorrem to esporadicamente, ou so to

    imprevisveis, ou se constituem em modo to particular (ad hoc) que uma

    modelagem de processos pode ser at mesmo desnecessria ou

    inservvel. Este o caso, por exemplo, do processo de formao de

    funcionrios, pois cada um o faz de maneira to diferenciada, que pode

    ser complicado estabelecer um processo nico para as carreiras.

    Como qualquer outra mudana de paradigma, a viso de

    processos no a soluo de todos os problemas. No se pode dizer

    que BPM a soluo; ento qual o problema? Mesmo sendo um

    entusiasta da viso de processos, deve-se analisar com muita cautela

    onde ela realmente ajudar; caso contrrio, trar empecilhos

    organizao (O'Connell, Pyke & Whitehead, 2006).

  • 15

    1.4 Gerenciamento de processos & gerenciamento de projetos Tabela 2 Algumas caractersticas de Projetos e Processos

    muito comum a mistura destes dois. verdade que suas fronteiras

    so, por vezes, muito sutis, mas h algumas diferenas cruciais entre as

    duas abordagens, conforme mostrou a Tabela 2.

    O implementar de um processo pode gerar tambm alguma

    confuso, pois se ele executado com pouca freqncia e/ou possui longo

    tempo de execuo, pode ser vantajoso execut-Io manualmente e usando

    tcnicas tpicas de gerenciamento de projetos. Mais uma vez, h motivos

  • 16

    para misturar conceitos. Exemplo: um planejamento anual de visitas a

    instalaes uma tarefa realizada todo ano, logo um processo. No

    caracteriza resultado nico, o que implicaria em um projeto. Mas sua

    execuo pode no justificar uma automao, pois a execuo rara. Este

    seria um tpico exemplo de fronteira.

    Uma viso similar de execuo de atividades em geral

    apresentada por Khan (2004), conforme mostra a Figura 4. Ele argumenta

    que em vrias atividades, dependendo da freqncia de ocorrncia e

    intensidade de regras previsveis, pode valer a pena automatizar (ou

    rotinizar por outro mtodo) ou usar tcnicas de Gerenciamento de Projeto

    (ou equivalente) para executar atividades que possuam pouca freqncia

    de execuo.

    1.5 Breve histrico da racionalizao do trabalho nas organizaes

    Seguindo a linha de interpretao exposta detalhadamente em Valle

    (2007), identificamos quatro geraes de racionalizao do trabalho. A primeira

    delas corresponde, sem dvida, aos grandes clssicos da Gesto da Produo:

    Taylor, Ford e Fayol. Na virada do sculo XIX para o XX, Taylor passou a

    pregar uma "gesto cientfica da produo", baseada em cinco princpios:

  • 17

    anlise cientfica e posterior padronizao das tarefas a serem executadas;

    seleo, tambm cientfica, de trabalhadores aptos a executar as tarefas, como

    elas haviam sido redesenhadas; treinamento (igualmente rotulado como

    cientfico) dos trabalhadores selecionados; motivao exclusivamente salarial

    desses trabalhadores; finalmente, um pouco como decorrncia, uma

    cooperao entre trabalhadores e direo da empresa (Taylor, 1995).

    Mais tarde, Ford entendeu que essa racionalizao impunha a

    decomposio do trabalho em fraes to pequenas quanto possvel, a serem

    executadas to velozmente quanto possvel. Isso trouxe um novo problema, o

    da velocidade no encadeamento das tarefas, ou seja, no processo. Para

    resolve-Io, Ford concebeu a famosa linha de montagem. Mais tarde a

    especializao alcanou as atividades gerenciais, criando o modelo de

    empresa dividida em departamentos funcionais, que Alfred Sloan Jr. (1875-

    1966) aperfeioaria na General Motors.

    Harvey (2003), com razo, assinala que "as inovaes tecnolgicas e

    organizacionais de Ford foram meras extenses de tendncias [j] bem estabelecidas".

    Ele lembra que a tendncia constituio de grandes corporaes teve incio

    em 1840, com as estradas de ferro; pelo final do sculo, j havia vrios trustes

    e cartis. Para Harvey, Ford no fez mais do que levar ao extremo a idia da

    diviso do trabalho de Adam Smith, o que lhe propiciou, verdade,

    significativos ganhos de produtividade. Tauile (2001) vai na mesma direo, ao

    resumir que "o fordismo igual ao taylorismo, mais a esteira rolante". Contudo,

    o prprio Harvey aponta a grande originalidade de Ford: ter percebido a

    associao entre produo em massa e consumo em massa.

    A generalizao de salrios relativamente elevados e de limites na

    jornada de trabalho, reivindicada havia muito pelo movimento sindical, mas s

    deslanchada empresarialmente por Ford, deu aos trabalhadores renda e tempo

    suficiente para consumir os produtos fabricados, em quantidades cada vez

    maiores, pelas corporaes. Piore e Sabel (1984), contudo, ressaltam que o

    fordismo representa mais o triunfo de uma idia do que o de uma necessidade

    econmica em si.

  • 18

    Aps a Segunda Guerra Mundial, os sindicatos (malvistos por Taylor e

    Ford) ganharam considervel poder nas negociaes coletivas das indstrias

    de produo em massa. Mantiveram certo controle sobre a especificao de

    tarefas, sobre a segurana e sobre as promoes; mais ainda, conquistaram

    razovel poder poltico em questes como salrio mnimo e certos benefcios

    sociais. A crtica sindical das condies de trabalho deixou claro que a primeira

    gerao de racionalizao do trabalho estava fundamentada em um trabalho

    por demais rotineiro e na completa excluso dos trabalhadores nas tomadas de

    deciso. Sua sucesso comeou a ser preparada ainda antes da Segunda

    Guerra.

    Os estudos em ergonomia conduzidos, entre outros, pelo psiclogo

    americano (nascido na Austrlia) Elton Mayo (18801977) dariam origem

    Escola de Relaes Humanas, que explicava o comportamento no trabalho

    pelo sentimento do trabalhador em relao aos seus pares, ou seja, pelo

    contexto psicossocial (Mayo, 1933). Sob a influncia do behaviorismo, ele

    sugeriu que os gerentes esclarecidos (em outras palavras: iluminados,

    modernos) abandonassem o autoritarismo e passassem a considerar a situao

    social de trabalho (ateno pessoal dos chefes aos funcionrios, nvel de

    iluminao e de rudo das oficinas) como estmulo capaz de fazer com que a

    lgica dos sentimentos compensasse os efeitos negativos do meio social e da

    histria pessoal, numa poca marcada pela depresso econmica, pelo

    sindicalismo combativo, pelo banditismo, pela imigrao etc. Tudo isso em prol

    de respostas adequadas ao aumento da produtividade. Mais tarde, a Teoria

    Comportamental de Simon, Argyris, McGregor e Likert dariam continuidade a

    esta segunda gerao da Racionalizao do Trabalho, aperfeioando seu

    enfoque com tcnicas da Sociologia das Organizaes.

    Na verdade, esta segunda gerao de Racionalizao do Trabalho

    jamais substituiu a primeira; apenas a complementou. Ela fez com que os

    fatores humanos entrassem nas preocupaes cotidianas dos

    supervisores das fbricas americanas, preferencialmente por meio de

    acertos com grupos informais - evitando-se, assim, negociaes explcitas

    e formalizadas com os sindicatos. Hoje, entretanto, esta viso

  • 19

    (compartilhada, repetimos, por toda uma seqncia de abordagens

    administrativas iniciadas com a Escola de Relaes Humanas) no

    convm mais, necessariamente, s grandes corporaes que a geraram.

    Quando se deseja reduzir a centralizao e os custos indiretos, ou mais

    ainda, quando se trata de demitir e comprimir salrios, as prticas

    sugeridas pela segunda gerao transformam-se num estorvo oneroso.

    Sua utilidade parece ressurgir aps os enxugamentos, apregoando, como

    no passado, o contraste entre uma fbrica estabilizada e seu meio social

    carregado de negatividades (desemprego, baixo nvel educacional, pouca

    competitividade etc.); isso se assemelha, no entanto, a uma tentativa de

    colar os pedaos de um cristal quebrado.

    A primeira e a segunda geraes de racionalizao do trabalho

    puderam ser bem-sucedidas, enquanto o contexto das fbricas exibia

    relativa estabilidade: mercados em expanso e necessitando de produtos

    de massa, inovao tecnolgica incremental e presena reguladora do

    Estado. Em tal ambiente, a linha de montagem garantia a integrao entre

    os distintos departamentos funcionais e a racionalidade global do

    processo era obtida pela simples adio das racionalidades locais. A

    despeito de descontentamentos e tenses, o fordismo manteve-se firme

    at 1973, quando uma crise econmica mundial exigiu uma rpida

    transio para outro regime de acumulao.

    Com a exploso da inovao tecnolgica, a saturao de mercados

    e a demanda por produtos diversificados e por mais qualidade, somadas a

    uma menor regulao dos mercados pelo Estado, a busca por eficincia

    nas funes cedeu lugar j mencionada busca de flexibilidade por meio

    da gesto dos processos (alterando-os a cada novo produto ou servio).

    Ora, as linhas de produo tradicionais no suportavam essas contnuas

    mudanas nos processos. Montella (2006) observa:

    O resultado do "acordo" fordista entre trabalhadores e empresrios capitalistas foi uma segmentao das atividades, de tal forma que cada trabalhador s se concentrou na prpria atividade, no se preocupando com a dos demais. Como conseqncia, veio o comprometimento da qualidade do produto, uma vez que o argumento diante de qualquer falha na

  • 20

    produo era: "isso no meu departamento". E a segmentao do fordismo no parava por a. Todos os atores pareciam faces estanques, sem qualquer envolvimento entre si.

    Uma nova gerao de racionalizaes fabris recorreu aos mtodos

    de base estatstica, bastante empregados pela indstria americana

    durante a Segunda Guerra e, aps esta, repassados aos derrotados

    japoneses. Montella (2006) observa que, nos anos 50, o volume de

    capital e a escala de produo da Toyota ( poca, uma pequena

    empresa automobilstica que servia apenas ao mercado local) eram to

    menores do que das suas concorrentes norte-americanas, que parecia

    impossvel produzir a custos to baixos. Embora a mo-de-obra no Japo

    fosse mais barata do que nos Estados Unidos, o custo do trabalho em

    outros pases asiticos era ainda mais baixo. A grande diferena entre o

    Japo e estes outros pases que nenhum destes soube conciliar baixo

    custo da mo-de-obra com novos mtodos de produo, como os

    japoneses souberam. Segundo Coriat & Dosi (1999):

    A.s duas maiores especificidades do 'Ohnismo' podem ser identificadas (a) pela organizao just in time do fluxo de produo e (b) pelas rotinas de produo baseadas nos princpios da 'auto-ativao'. Resumidamente, o mtodo de coordenao just in time consiste em produzir apenas aquilo que pode efetivamente ser vendido, atendendo s encomendas somente quando elas aparecem em vez de produzir e estocar na expectativa de vendas futuras. A 'auto-ativao', ou autonomao, um critrio de organizao complementar baseado na idia de que cada trabalhador tem o tempo necessrio para realizar suas tarefas e passar o produto em perfeito estado para seu parceiro no prximo estgio de produo.

    Encantados pelo chamado modelo japons da qualidade (Total

    Quality Control, Crculo de Controle de Qualidade Just in Time etc.), muitos

    falavam em ps-fordismo, deixando de destacar o quanto ele devia s

    duas geraes que o precederam. O TQC, em especial, foi muito

    influenciado pela hierarquia das necessidades do homem, de Maslow, e

    pelos fatores de conforto e desconforto no trabalho, de Herzberg (Falconi,

    1990). Quer historicamente, quer conceitualmente, a terceira gerao no

    significa uma ruptura completa com as anteriores, mas simplesmente um

    relaxamento ou recuo parcial. Se nos referirmos aos princpios

  • 21

    tayloristas, a nica alterao realmente fundamental um relaxamento

    no grau de separao entre tarefas manuais e intelectuais. Os gerentes

    passaram a buscar sugestes dos trabalhadores na anlise das tarefas.

    Passaram tambm a introduzir medidas vigorosamente condenadas por

    Taylor, no intuito de reduzir a enorme centralizao provocada pela

    racionalizao de primeira gerao: disseminao do trabalho em

    equipes, delegao de certas responsabilidades, alargamento de tarefas

    (sobretudo a distribuio das tarefas de controle de qualidade entre todo

    o pessoal da fbrica, como proposto pelo TQC) etc. (Valle; 2007).

    O verdadeiro corte entre a produo fordista e a produo flexvel,

    ou seja, o advento de uma quarta gerao de racionalizao do trabalho,

    s se deu quando os gestores da produo passaram a se apoiar numa

    outra concepo do trabalho (qualificado, em grupo e com mltiplas

    tarefas) e de sua diviso (novas formas de integrao com fornecedores

    e clientes, marcadas pela subcontratao, pela informatizao e pela

    reduo do tamanho dos lotes). As mudanas correlatas nas relaes de

    trabalho so profundas: individualizao dos contratos de trabalho,

    aumento das negociaes locais ou por empresa, privatizao da

    seguridade social, cultura yuppie etc. (Harvey, 1992). neste cenrio que

    a gesto dos processos de negcio tornou-se decisiva.

    1.6 Trs grandes movimentos recentes que envolvem a viso de processos

    Embora a terceira gerao j houvesse inaugurado a nfase

    gerencial na viso de processos, a quarta gerao a ampliou e

    aperfeioou. Todas as tcnicas mais contemporneas tm a gesto por

    processos como pilar:

    Workflow, ERP, Six Sigma, inovao de processos, custeio baseado

    em atividades (ABC Activity Based Costing), anlise de cadeia de valor,

    gerenciamento de cadeia de suprimento etc. (Smith & Fingar, 2003).

  • 22

    Podemos distinguir trs momentos na difuso de um novo

    entendimento sobre os processos de produo. Sua relevncia foi

    detectada e disseminada, inicialmente, pelo mtodo TQC, ainda dentro

    dos parmetros da terceira gerao. Em seguida, j em um ambiente de

    quarta gerao, a viso de processos tornou-se obrigatria para as

    inmeras organizaes que implantavam sistemas integrados de gesto.

    Mais recentemente, uma tcnica constitutivamente orientada para

    processos veio consolidar a nova viso: o gerenciamento de processos de

    negcios.

    1.6.1 Difuso da viso de processos em decorrncia da implantao de controle da qualidade total

    Durante os anos 70 e 80, a busca de aperfeioamentos na

    qualidade dos produtos deu origem ao primeiro grande movimento de

    anlise intensiva dos processos, dentro de programas de racionalizao

    do trabalho inspirados no sucesso das indstrias japonesas. O foco de

    tais programas era a eliminao de defeitos, por melhoria contnua

    (kaizen), de modo a chegar-se produo com defeito zero. Os programas

    disseminaram vrias iniciativas correlacionadas com a viso de

    processos:

    Criao de grupos de brainstorming para definio de proble-

    mas;

    Uso de diagramas de Pareto para priorizar problemas;

    Envolvimento do trabalhador na soluo dos problemas;

    Declarao bem definida da misso de qualidade;

    USO de diagramas de causa e efeito (conhecidos como

    diagramas Ishikawa ou Espinha de Peixe) para ajudar a

    encontrar as causas dos problemas;

    Controle estatstico de processos para apontar desvios de

    qualidade;

  • 23

    Introduo de tcnicas de just in time e do fluxo contnuo de

    produo para minimizar os custos de estoque.

    Essas tcnicas tiveram grande repercusso mundial e ainda so

    intensivamente utilizadas. Contriburam muito para melhor funcionamento

    dos processos. No entanto, aquilo que podemos intitular american way of

    managing jamais aceitou a idia de uma melhoria contnua. Um estudo da

    Ernest Young, por exemplo, aponta os seguintes limites:

    Oitenta por cento dos problemas somente podem ser

    resolvidos por decises gerenciais.

    O foco em tarefas e atividades individuais causa

    subotimizao frente ao que ocorre na organizao como um

    todo.

    um programa de custo elevado, pois envolve toda a

    organizao.

    Funciona melhor em ambientes de manufatura, mas no

    bem-sucedido em situaes nas quais milhares de pessoas

    repetem o mesmo processo: call centers, servios bancrios,

    servios de telecomunicao etc.

    1.6.2 Difuso da viso de processos em decorrncia da implementao em larga escala dos sistemas integrados de gesto

    O estilo americano de gesto sentia-se mais vontade com um uso

    intensivo de computadores, algo que a terceira gerao no priorizava.

    Nos anos 80, a expectativa dos gestores americanos era de que sua

    simples introduo minimizaria os erros nos processos. O que se

    observou, porm, foi um aumento sem precedentes na velocidade com

    que os erros eram cometidos. Concluiu-se que a simples transcrio de

    processos falhos para programas de computador apenas multiplicava os

    erros.

    Na dcada seguinte ocorreram vrios fatores que permitiram pensar

  • 24

    em processos intensivamente: um novo movimento organizacional

    resgatou a crena nos computadores, a reengenharia (Hammer &

    Champy, 1994), uma composio de fatores fez dela uma soluo

    salvadora, que a necessidade de reestruturar rapidamente os processos

    frente ao aumento da competio internacional; ocorreu o desenvolvimento

    estrondoso das ferramentas de TI, permitindo criar modelos de negcios

    antes impensveis; havia a clara percepo de que as tcnicas gerenciais

    fordistas j no bastavam para satisfazer os clientes. Os managers

    americanos no acreditavam que a melhoria contnua propalada pelo

    modelo japons bastaria para aumentar suficientemente os ndices de

    qualidade, prazo ou custo e ansiavam por saltos no desempenho, Figura 5.

    Na prtica, a reengenharia redundou em enorme frustrao, no

    entanto marcou profundamente a viso de processos. Algumas de suas

    diretrizes, orientao segundo as melhores prticas, uso de modelos de

    referncia em processos, redesenho de processos, mtodos FAST etc.,

    continuam a ser usadas at hoje. A prpria reengenharia, rebatizada

    como Inovao de Processos ou Projeto de Novo Processo, ainda

  • 25

    usada pontualmente, sem pretender alterar toda a estrutura da empresa.

    A consolidao desta segunda fonte da viso de processos s se

    daria no final dos anos 90, por meio da implantao dos sistemas

    integrados de gesto (ERP) (Smith & Fingar, 2003). Processos antes

    reengenheirados de modo manual e local passaram a ser mesclados em

    um sistema computadorizado nico. Pacotes complexos de softwares

    passaram a gerenciar uma parte significativa da organizao, em uma

    estrutura de trabalho nica. Como a modelagem e a programao de

    processos demandam muitos recursos e h muita similaridade nas

    atividades das organizaes, os fabricantes de ERP perceberam que

    muitos processos poderiam ser considerados commodities, desde que

    softwares especficos embutissem as melhores prticas de execuo de

    determinados processos-chave, reproduzveis com nenhuma ou muito

    pouca adaptao em outra organizao (Davenport, 2005).

    Desde os anos 90, muitas implantaes bem-sucedidas de ERP's

    trouxeram benefcios significativos, Tabela 3.

    Os sistemas integrados de gesto j concernem quarta gerao

    de racionalizao do trabalho. Com eles, parte significativa do feixe

    organizacional de processos modelada, racionalizada e transferida ao

    software. Contudo, via de regra, este omite a seu usurio aspectos

    importantes do processo como um todo e de seu relacionamento com os

    demais processos. A falta de transparncia, somada ao grande esforo

    (e investimento) para alterar a base de processos instalada no software,

    provoca uma crtica recorrente aos ERP's, que a dificuldade de gerar

    discusses entre os usurios do software e uma conseqente melhoria

    constante no processo.

  • 26

    Tabela 3. Benefcios tangveis em implantaes bem-sucedidas de ERP's. Fonte Colangelo Filho (2001, p. 53)

    Por mais que a interligao dos processos seja desejvel, seu

    preo, no caso dos ERP's, uma rigidez na alterao do software que

    controla os processos. Esse engessamento mais evidente em

    atividades nas quais h constante alterao nos processos: call centers,

    instalao e reparao de telefones fixos, pesquisa e desenvolvimento,

    servios bancrios, seguros, engenharia etc. Sem dvida, bancos,

    seguradoras e empresas de telecomunicao esto entre os grandes

    usurios de ERP's, mas usualmente para processos com menor variao

    ao longo do tempo e maior padronizao (pessoal, contbeis, de

    compras etc.).

  • 27

    1.6.3 Difuso do gerenciamento de processos de negcios

    Assim, sobretudo a partir da virada do sculo, surgiu uma terceira

    grande onda de difuso da viso de processos, o Gerenciamento de

    Processos de Negcios (BPM). A habilidade para mudar o processo

    passa a ser mais relevante do que a habilidade para cria-Io, pois ela

    gera as condies para que toda a cadeia de valor possa ser

    monitorada, continuamente melhorada e otimizada (Smith & Pingar,

    2003). A flexibilidade passa a ser buscada por meio de intensa

    participao do trabalhador ou equipe envolvida nas mudanas. Com o

    BPM, a transformao das organizaes deixa de ser uma arte imprecisa

    e de resultados imprevisveis, tornando-se uma disciplina administrativa

    e de engenharia, com indicadores predefinidos, mas alterveis. Ela

    exige:

    Meios de colocar os processos concebidos em prtica.

    Um mtodo sistemtico e confivel de anlise do

    impacto do processo de negcio e de introduo de

    inovaes.

    Modelos de execuo de processos que sejam alinhados

    estratgia da organizao, que reflitam a complexidade

    de suas atividades dirias e que facilitem a anlise,

    transformao e mobilizao das equipes.

    O gerenciamento de um portflio de processos de

    negcios voltado no apenas para as necessidades

    atuais dos clientes, mas para a alterao constante

    dessas necessidades.

    Habilidade para responder a alteraes no mercado e

    para combinar e customizar processos.

    Uma melhor compreenso da trajetria estratgica da

    organizao: expanso de mercado e incremento dos

    lucros, ou diminuio de influncias externas, obstculos

  • 28

    e falhas internas para responder mais rapidamente s

    mudanas de mercado.

    Um meio consistente, resiliente e previsvel de

    "processar processos", transformando a empresa num

    permanente laboratrio de processos, habilitando

    continuamente inovaes, transformaes e agilidade de

    execuo.

    1.7 Razes do interesse pelo BPM

    Vrias pesquisas de mercado tm apontado o BPM como sendo de

    interesse das empresas em geral como forma de resolver ou contribuir de

    maneira acentuada na soluo de uma srie de problemas

    organizacionais. Pesquisas realizadas pelo Gartner (Arevolo, 2006) e

    Forrester (2006), por exemplo, reforam intensamente este discurso.

    Quais so os motivos desse elevado interesse? Como em tantas

    outras situaes, uma resposta nica parece insuficiente, uma vez que

    toda tendncia gerencial reflete um conjunto de mudanas sociais. De

    fato, a literatura identifica vrias causas para o elevado interesse atual

    pelo BPM. Burlton (2001), por exemplo, menciona a hipercompetitividade

    global, o crescimento da complexidade organizacional, a maior exigncia

    dos atores envolvidos (acionistas, imprensa etc.) quanto transparncia

    nos negcios e o maior uso das tecnologias informticas que permitem

    transaes entre empresas (e-business). Sem pretender exaurir a questo,

    apontaremos a seguir alguns dos fatores da difuso do BPM mais

    freqentemente mencionados.

    1.7.1 A evoluo das estruturas de mercado resultante da globalizao

    Davenport (1994) d grande destaque ao primeiro dos fatores

    mencionados por Burlton, que a hipercompetio. De fato, em muitos

  • 29

    casos (mas no em todos), a queda de barreiras alfandegrias permitiu

    que novos entrantes participassem de mercados tradicionais, com novas

    regras, sempre mais duras e de lucratividade cada vez menor. Muitos

    pases viram o sucateamento de seu parque txtil, por exemplo, devido

    concorrncia chinesa. Davenport julga, com razo, que este contexto

    levou os clientes a serem muito sensveis a preo e qualidade, lanando

    assim as empresas numa interminvel luta por anlise e melhoria de

    cada item de seu modo de produo; neste contexto, o sucesso dos

    mtodos japoneses deve ser atribudo ao seu estudo minucioso dos

    processos produtivos.

    A hipercompetio levou muitos setores (microcomputadores,

    telefonia celular, certos servios financeiros, automveis populares etc.) a

    uma situao prxima concorrncia perfeita, em torno de commodities.

    Cada empresa copia as caractersticas dos produtos de seus

    concorrentes, mesmo aquelas praticamente inteis, mas decisivas no

    convencimento da compra. Ante uma similaridade quase total entre

    produtos, as empresas passam a buscar uma estratgia de

    diferenciao, tendo como ponto de partida a confiabilidade do produto,

    fortemente valorizada pelos clientes. Quando desempenho e

    confiabilidade no basta mais para distinguir os produtos, a estratgia de

    negcios volta-se para o preo (Davenport, 1993; Burlton, 2001; Smith &

    Pingar, 2003).

    1.7.2. Uso do BPM para controle da complexidade em grandes corporaes e em cadeias de suprimento

    Nem tudo, porm, hipercompetio. O BPM (como, alis, tambm

    o ERP) vem sendo aplicado mesmo em setores oligopolizados (ou seja,

    nos quais h fraca concorrncia). A presso por resultados, neste caso,

    vem do patamar de lucratividade imposto pelo mercado financeiro.

    Nas corporaes globalizadas, as matrizes tendem a impor

    processos similares a suas filiais. O mesmo problema ocorre nas

  • 30

    consolidaes decorrentes de fuses e aquisies. A Petrobras, por

    exemplo, adquiriu recentemente vrias empresas no exterior. Como

    garantir a governabilidade e a compreenso plena do funcionamento de

    unidades j em funcionamento? Os processos em uso esto alinhados

    com os praticados pela empresa? Mais um caso: a Oi (anterior Telemar)

    o resultado da fuso inicial de dezesseis empresas regionais de

    telecomunicao. Como harmoniz-Ias numa organizao nica? Como

    tratar as especificidades culturais de cada empresa original?19 Estas

    questes abrangem um nmero significativo de empresas, que se vem

    s voltas com confuses, posicionamentos diferenciados e discusses

    sobre papis, responsabilidades, aplicao de recursos, deslocamento de

    talentos-chave, escolha de prioridades etc. (Burlton, 2001).

    A gesto da cadeia de suprimentos possui uma problemtica

    bastante similar. As idias de Porter (1989) sobre Cadeia de Valor

    fornecem uma viso sobre a agregao de valor ao produto, distinguindo

    atividades primrias e de suporte e assim denunciando, muitas vezes, que

    boa parte dos custos envolvidos no advm das atividades que mais

    contribuem para gerar os produtos desejados. Mas, como controlar a

    Cadeia de Valor e fora de minha empresa?

    Em princpio, o uso de ERP's poderia responder a estas

    dificuldades.

    No entanto, as diferenas fiscais, culturais, legais e ambientais

    exigem uma adaptao dos processos a cada regio ou nao, algo

    bastante difcil para os softwares de ERP.

    1.7.3 A racionalizao de quarta gerao do desenvolvimento de produtos

    A difuso do BPM tambm est associada maior rapidez no

    desenvolvimento de produtos. Esta uma competncia organizacional

    indispensvel para que os produtos tenham um ciclo de vida menor e

    sejam ofertados numa gama mais ampla, mas que conduz a freqentes

  • 31

    alteraes nos processos de produo. Bulrton (2001) assinala que a

    tendncia a no manter um produto inalterado por longo tempo, iniciada

    ainda nos anos 50, fortaleceu-se enormemente em meados dos anos 80.

    O encolhimento do ciclo de vida do produto trouxe redues no tempo

    para lanar um novo produto (time to market), bem como no tempo para

    retorno do investimento (ROI - Return on Investment), causando mudanas

    na organizao da produo, dentre as quais o autor cita:

    O foco passa a ser no cliente e no processo, no no produto

    ou linha de produo, pois o produto pode variar com

    freqncia.

    O projeto do produto passa a ter mdulos bsicos e mdulos

    customizveis que podem ser alterados e evoludos.

    Passa-se a usar tecnologias adaptveis, nas quais regras e

    fluxos possam ser alterados sem grande envolvimento de

    programadores.

    Busca-se a melhoria contnua do conhecimento dos

    trabalhadores.

    Aumenta a responsabilidade dos trabalhadores.

    Bulrton (2001) menciona ainda que muitas organizaes, sabendo

    do anseio de alguns clientes por caractersticas particulares, passaram a

    oferecer produtos mais customizados, aumentando assim sua

    dependncia em relao a eles. Felizmente, essa oferta de produtos

    customizados e com tratamento individualizado (chegando-se ao

    extremo de bens ou servios nicos) beneficia-se de novas estratgias,

    impensveis antes dos computadores. A literatura prdiga em

    exemplos de empresas ocidentais que firmaram parcerias em certos

    pases asiticos, para valerem-se da cultura tcnica hoje neles

    disponvel.

    Um projeto concludo em Mainz, na Alemanha, s 17:00h, pode

    ser transferido em minutos para Bdjing, na China, onde um modelo ser

    constru do e testado em poucas horas. Os resultados j estaro

  • 32

    disponveis s 9:00h, na Alemanha, quando o projetista reiniciar seu

    trabalho20. Entre as novas ferramentas de apoio ao projeto do produto

    destacam-se o CAD (Computer Aided Design - Projeto Auxiliado por

    Computador) e o CAE (Engineering Aided Design - Engenharia Auxiliada

    por Computador, permitindo fazer simulaes de montagens, esforos,

    interferncias etc.).

    A flexibilidade da produo ser garantida pela transferncia de

    dados para mquinas controladas por comando numrico (ou seja, por

    programas de computador, com ferramentas diferenciadas que permitem

    rapidamente trocar o tipo de pea produzido) e para bases PDM (Product

    Data Management - gesto de dados sobre o produto, para control-Ios e

    aos seus componentes nas diversas verses produzidas) etc.

    Ora, como bem perceberam Kumar & Strehlow (2004), toda esta

    maior rapidez no desenvolvimento de novos produtos e servios causa

    muitas confuses de responsabilidades e atividades, que desorganizam a

    estrutura funcional estabelecida; s resta aos gerentes buscar reconstruir

    o processo de produo de cada item.

    1.7.4. Responsabilidade Social e Governana Corporativa: o BPM na racionalizao das relaes sociais de produo

    O aumento das exigncias de transparncia nas transaes

    executadas pelas organizaes mais um fator do atual interesse por

    gerenciamento de processos. O mercado financeiro tende a valorizar as

    aes das empresas que se submetem a iniciativas para ERM (Enterprise

    Risk Management), como SOX, Basilia I, Basilia II, COS0 etc. Isso gerou um

    nmero significativo de projetos de BPM, inclusive em organizaes onde

    no havia polticas estabelecidas para processos.

    Em muitos outros casos, a adoo do BPM faz parte da resposta s

    crescentes exigncias de Responsabilidade Social. Por exemplo,

    informaes publicadas na Internet sobre doenas, tratamentos, remdios

  • 33

    e legislaes j influenciam a relao entre mdicos e pacientes, que se

    tornam menos leais se suas expectativas no forem atendidas.

    Acompanhando esta tendncia, vrios organismos pblicos e privados

    criaram normas, regulamentaes e leis para diversos setores. Algumas

    empresas precisam adaptar seus processos a vrias dessas iniciativas,

    simultaneamente, reforando a necessidade do BPM.

    1.7.5 A evoluo das TI's como fator de difuso do BPM

    Como j vimos, a evoluo descomunal da informtica nos ltimos

    anos foi um dos motivos de uma grande onda de estudo e compreenso

    de processos, em meados dos anos 90. Naquele momento, Davenport

    (1994) constatava que:

    Pelas mesmas linhas telefnicas que antes levavam apenas vozes e estticas passam hoje ordens de compra, grandes somas de dinheiro, plantas de projetos de produtos, material de propaganda, reunies e conferncias. O computador, que a princpio automatizava os clculos, hoje aconselha aos responsveis pelas decises, e at mesmo toma essas decises, recolhe e coloca disposio um grande volume de textos, nmeros e imagens grficas, simula uma imensa variedade de processos e ambientes (inclusive aspectos limitados, mas crescentes da "realidade") e acompanha e controla o desempenho de aparelhos que vo de naves espaciais a coraes artificiais.

    Todos os assuntos relacionados a implantaes de TI (Tecnologia

    da Informao) eram ento de inteira responsabilidade de uma funo

    especfica (departamento, ou superintendncia, ou diretoria de TI),

    inclusive a transcrio do negcio para a ferramenta escolhida; raramente

    o "dono do processo" podia interferir (Smith & Pingar, 2003). No final dos

    anos 90, percebeu-se que isso levava a altos investimentos em TI, sem

    trazer os resultados desejados. A reao, j na virada do sculo, foi dar

    um papel mais relevante aos usurios dos sistemas, passando-se a

    reconhec-Ias como responsveis pelos processos. Afinal, como afirmam

    diversos autores (Davenport, 2005); Smith & Pingar, 2003); Burlton,

    2001; Siqueira, 2006; Leal, 2006), o que une negcio e TI o como

    funcionam os processos, Figura 6.

  • 34

    Alguns exemplos bastam para demonstrar as mudanas nos

    processos de trabalho provocadas pelo uso de TI:

    A ndia tornou-se um pas exportador de servios de infor-

    mtica: operao de call centers para empresas americanas,

    desenvolvimento de softwares, trabalhos de contabilidade

    para empresas e pessoas.

    A Internet tornou-se uma alternativa s lojas convencionais

    (portais de compras).

    Os bancos reduziram drasticamente sua mo-de-obra,

    informatizando e transferindo para os prprios clientes

  • 35

    vrias atividades antes executadas por funcionrios.

    O papel da TI como promotora da reviso de processos contm

    inclusive zonas cinzentas. As pessoas envolvidas nos negcios tendem a

    ficar merc das tecnologias e de seu modo de pensar, orientado para

    dados. Os processos ficam no transparentes e, portanto, no se

    consegue discutir sua melhoria. Afinal, o fato de ter em mos os dados

    de um processo de compras, por exemplo, no significa que se saiba

    como esses dados foram criados. Conhecer cada nota musical

    isoladamente no indica que se conhea a sinfonia como um todo - o

    contexto, a seqncia, o sentido de cada nota, quando inserida num

    determinado ponto, a emoo intencionada pelo compositor.

    Alm disso, para fazerem diferena, os sistemas tm de ser

    suficientemente flexveis para se adaptar de forma dinmica (ou pelo

    menos de forma mais gil que sistemas habituais). Como comentam

    Smith & Pingar (2003, p. 19), quo bom um ambiente de inovao de

    processos, se no pode ser implementado em tempo de fazer diferena?

    Quo interessante uma nova viso de processos de negcios se o

    'custo de sua implantao excede os benefcios? Como pode uma

    empresa pensar em melhorar processos operacionais atravs da Cadeia

    de Valor, quando os sistemas que gerenciam seus processos de negcios

    so como "concreto endurecido"?

    Estas questes solicitam uma nova viso sobre os sistemas de

    informao, a viso da integrao com a atividade-fim, ou seja, a

    integrao com os processos de negcio. Para cumprir este papel, as

    ferramentas de TI que apiam o BPM devem (Smith e Pingar, 2003;

    Davenport, 2005; Davenport, 1994; Khan, 2004; Jeston & Nelis, 2006):

    Melhorar a agilidade do negcio e de seu controle e

    monitoramento, eliminando redundncias e

    incrementando a automao.

    Fornecer um caminho mais direto entre o projeto do

    processo e sua implementao (isso no significa que o

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  • 36

    desenvolvimento de software deva estar integrado no

    ciclo de BPM).

    Suportar modelagens top-down e bottom-up, atravs da

    cadeia de valor, envolvendo todas as pessoas ativas no

    processo de negcio e considerando os sistemas, as

    informaes e os equipamentos.

    Ser uma plataforma para compartilhar processos entre

    aplicaes e pessoas (internas organizao ou

    parceiros), de maneira anloga ao compartilhamento de

    dados em sistemas de banco de dados.

    Apoiar processos que herdam integraes e

    colaborao, sem levar em conta sua origem e infra-

    estrutura.

    Ter habilidade para mudar processos de negcios na

    velocidade exigida pelo mercado (diariamente,

    semanalmente etc.), reduzindo, de forma radical, o atrito

    que existe em sistemas de TI "engessados". ,

    Suportar as derivaes das mtricas de negcios (por

    exemplo, custos baseados em atividades, indicadores e

    itens de controle diversos) diretamente a partir da

    execuo dos processos.

    Simplificar a entrega de processos que se espalham

    pela Cadeia de Valor.

    Apoiar o fluido movimento, gerenciamento e

    monitoramento do trabalho entre empresas.

    Permitir, diferentemente de outras tecnologias, a

    automao da descoberta de novos processos que

    ocorre naturalmente no curso das operaes dos

    processos atuais, como, por exemplo, a necessidade de

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  • 37

    novos tipos de dados, sentida durante o uso de uma

    base de dados.

    Habilitar projetos de processos de negcios de maneira

    colaborativa, juntamente com parceiros e prover

    ferramentas de anlise de processos, apoiando

    organizaes virtuais.

    1.8 Diferentes vises de abordagens na melhoria continua, inovao de processos e BPM

    Ao observar o BPM superficialmente, pode-se imaginar como sendo

    uma viso modificada/somada da melhoria contnua e inovao de

    processos (reengenharia). Estas trs abordagens de processos possuem

    caractersticas e abordagens gerenciais distintas.

    Uma anlise interessante foi feita por Smith & Fingar (2003) com

    influncia de Davenport (1994), conforme mostra a Tabela 4.

    Tabela 4. Alguns itens de comparao entre as abordagens de melhoria contnua, inovao de processos e BPM.

    Fonte: adaptado de Smith & Fingar (2003).

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  • 38

    1.9 Fatores crticos de sucesso em implantaes de BPM

    Como em outros projetos gerenciais nas organizaes, se faz

    necessrio observar alguns fatores que contribuem de modo decisivo

    com a implantao bem sucedida do BPM. Esses fatores sero

    adequadamente discutidos no decorrer do livro. Entre alguns fatores, em

    concordncia com uma quantidade significativa de autores, podemos

    citar:

    Apoio da alta direo, incluindo a presidncia e alto

    escalo;

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  • 39

    Alinhamento das iniciativas de BPM estratgia da

    organizao;

    Gerente de BPM com experincia e competncias

    necessrias;

    Uma estrutura de orientao ao BPM que seja clara e

    objetiva,

    que inclui o Manual de Processos;

    Estratgias para tratar a gesto de mudana;

    Capacitao de pessoas envolvidas;

    Concluso de projetos de processos que devem ser

    iniciados e finalizados, no deixando a percepo de que

    no adiantou o esforo aplicado;

    Percepo de que nenhum processo esttico. Uma

    companhia para continuar bem-sucedida deve ter

    habilidade para montar, desmontar e remontar suas

    atividades, adaptando-se s diversas variaes de

    mercado e ambientais;

    Ter um desempenho sustentvel, com trabalho

    continuado e sem paradas que caracterizem o trabalho

    como sendo pontual e eventual;

    Mostrar, de preferncia com dados concretos, os

    benefcios alcanados, a agregao de valor alcanada,

    o alinhamento estratgia obtido etc.

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  • 40

    2. O Ciclo Do Gerenciamento de processos de negcios: Proposta Prtica

    2.1. Viso geral do ciclo de gerenciamento de processos de negcios

    A literatura especializada prope vrios modelos para orientar o

    gerenciamento de processos de negcios. Muitos deles assumem a forma

    cclica, isto , contm uma srie de aes que se repetiro na fase seguinte.

    Por esta razo, fala-se em Ciclos de BPM. Entre os mais importantes, podemos

    citar:

    Modelo de Burlton (200 I)

    Modelo de Havey (2006)

    Modelo de Khan (2004)

    Modelo de Harrington, Esseling & Nimwegen (1997)

    Modelo de Smith & Fingar (2003)

    Modelo de Muehlen& Ho (2005)

    Modelo de Schurter (2006)

    Modelo de Jeston & Nelis (2006)

    Modelo de Jost e Scheer (2002)

    Modelo de Kirchmer (2006) e Jost & Scheer (2002)

    Todos esses modelos supem que a empresa j possua uma estrutura

    preparada para fazer o BPM, formal ou no (isto , includa ou no em seu

    organograma).

    Ressalte-se, porm, que nenhum modelo corresponde exatamente

    realidade. impossvel prever, a partir de um simples esquema terico, como

    se dar efetivamente o BPM. Um modelo serve como valiosa orientao para a

    prtica, mas as pessoas que implementam ou operam o BPM fazem toda a

    diferena em sua aplicao.

    O modelo adotado, Figura 7, fruto das pesquisas e da experincia

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  • 41

    prtica dos autores em implantaes e projetos de BPM. Ele segue a

    orientao bsica da notao usada por IGrchmer (2006) e por Jost & Scheer

    (2002), incorporando representao de Muehlen & Ho (2005) e

    implementadas as alteraes que a nosso ver se fazem necessrias viso

    integrada do BPM.

    Ser apresentada, a seguir, uma descrio sucinta de cada uma

    das etapas que compem o ciclo. Ele pode ser aplicado a um processo

    em particular, tanto quanto a uma gesto integrada de todo o feixe de

    processos da organizao, existentes ou futuros.

    Planejamento do BPM: tem o propsito de definir as

    atividades de BPM que contribuiro para o alcance das metas

    organizacionais (das estratgicas s operacionais), como

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  • 42

    verificao dos pontos de falha nos processos que causam

    danos organizao (financeiros, imagem, prazos, satisfao

    de clientes etc.), definio de planos de ao para

    implantao, definio dos processos que necessitam de

    ao imediata (atravs de resultados de BSC, SWOT, Pareto,

    ABC, dados coletados do controle de processos, Cadeia de

    Valor etc.).

    Modelagem e otimizao de processos: atividades que

    permitem gerar informaes sobre o processo atual (As Is)

    e/ou sobre a proposta de processo futuro (TO Be); documentar

    os processos; prover dados de integrao entre processos;

    empregar metodologias para otimizar os processos; fazer

    simulaes, inovaes e redesenhos; adotar as melhores

    prticas e modelos de referncia; gerar especificaes para

    implementao, para configurao e customizao (caso o

    processo ainda no esteja em uso), para execuo e para

    controle.

    Execuo de processos: atividades que garantiro a

    implementao e a execuo dos processos, como

    implantao dos planos de transferncia de tecnologia,

    treinamentos, ajuste de equipamentos e softwares (se

    necessrios), acompanhamento do processo implantado,

    monitoria e controle da execuo de instncias de processo.

    Controle e anlise de dados: atividades relacionadas ao

    controle geral do processo (por meio d diversos recursos,

    como uso de indicadores, BAM, BI, BSC, mtodos estatsticos,

    diagramas de causa e efeito etc.), gerando informaes que

    posteriormente realimentaro as atividades de otimizao e

    planejamento.

    2.2 Infra-estrutura de trabalho para gerenciamento de processos de negcios

    Como em tantas outras situaes de gerenciamento,

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  • 43

    necessria uma estrutura mnima para executar para executar o BPM.

    Vale frisar que, ainda que essa estrutura possa, em certos casos, ser

    informal, um reconhecimento formal de que dadas pessoas possuem

    papis bem definidos e constantes facilita a continuidade e permite melhor

    acompanhamento das metas. tambm necessria uma infra-estrutura

    composta por computadores, ambiente de publicao dos resultados e

    espao fsico para as reunies.

    2.2.1 Equipe envolvida

    A composio da equipe para BPM varia bastante, conforme a

    poltica da organizao. comum o BPM ser considerado atividade de

    suporte, cruzando a Cadeia de Valor da organizao, associado s

    atividades correlacionadas como Desenvolvimento Institucional,

    Gerenciamento do Conhecimento etc.

    Algumas das atividades so realizadas de forma pontual (por

    exemplo, na modelagem e otimizao de processos especficos). Assim,

    parte da equipe estar envolvida numa organizao matricial, pois no

    estudo de um dado processo, haver pessoas de diversos departamentos

    ou setores. Portanto, a equipe deve possuir competncias para atuar

    segundo esta abordagem.

    A experincia colhida pelos autores, em concordncia com o

    sugerido por Harrington, Esseling & Nimwegen (1997), Leal (2006),

    Jeston & Nelis (2006), Piemonte (2007) e Coelho (2007), sugere trs

    equipes, com os papis funcionais que se seguem.

    Equipe de BPM - equipe permanente na estrutura organi-

    zacional, que se encarregar de coordenar as diversas aes

    de BPM na empresa. Compe-se basicamente de:

    - Gerente de BPM: por vezes chamado na

    literatura, em ingls, de CPO (Chiif of Process

    Office), o maior cargo em BPM na organizao.

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  • 44

    Pode ser tambm um diretor, superintendente

    etc., dependendo da estrutura da empresa.

    - Lderes de processo: atuam em desenhos e

    redesenhos de processos, modelagem,

    atividades de formatao, cadastro e controle

    de revises de padres no sistema de

    gerenciamento de documentos e execuo do

    auto diagnstico de conformidade de

    processos. Podem fazer parte, ou no, da

    equipe de BPM.

    - Auditor de processos: com a funo principal de

    verificar se o processo modelado corresponde

    ao que est sendo executado, verificar

    registros, desvios de documentao etc. Enfim,

    garantir alinhamento do processo gesto e

    vice-versa. A experincia que a empresa

    porventura possua em auditoria interna de

    programas de ISO 9000 pode ser muito til

    nessa atividade.

    Equipe do processo: equipe temporria e multidisciplinar, em

    estrutura matricial, com o propsito de atuao especfica em

    um dado processo. Uma vez o processo implantado e

    funcionando plenamente, a operao dele repassada aos

    usurios finais, controladores etc. Inclui:

    - Dono do processo: responsvel pelo

    alinhamento do processo s diretrizes

    estratgicas da organizao, estabelecendo

    metas e resultados esperados e analisando

    riscos envolvidos. Deve ser um membro da alta

    direo.

    -Gestor do processo: responsvel pela

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  • 45

    implementao e melhoria contnua do

    processo, desdobrando as metas em itens de

    controles e definindo aes de melhoria.

    - Lder do processo: escalado a partir da equipe

    de BPM para auxiliar nos trabalhos especficos

    do processo em anlise.

    - Gerentes de departamento: principais contatos

    no site, responsveis pelo sucesso do projeto,

    coordenam recursos da empresa, comunicam

    progresso do projeto ao dono do processo.

    - Especialistas no tema: fornecem conhecimento

    e know how sobre o tema, apresentam

    perspectiva do usurio final para o novo

    sistema e processo, fornecem percepes de

    novas maneiras de atingir eficincia e eficcia

    operacional.

    - Equipe de Tecnologia da Informao: fornece

    informaes sobre infra-estrutura disponvel

    para a soluo de processos correntes e sobre

    ajustes necessrios para as novas aes

    sugeridas.

    Equipes de contato e avaliao: embora no faam parte da

    estrutura formal da organizao (podem at mesmo ser

    externas organizao), so muito teis como consulto ria,

    para comparar, avaliar e homologar resultados dos processos

    em execuo, modelagem (As Is e TO Be) etc.

    Porm, quem assumiria o cargo de CPO e onde ficaria locado o

    BPM? Piemonte (2007) afirma que mudanas culturais em termos de

    gesto na organizao podem ocorrer devido implantao do BPM,

    dadas as circunstncias pelas quais ele for implantado. Indica que vrias

    d.vidas surgiro ao implantar o BPM e relacion-lo com Tl. Por exemplo:

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  • 46

    Se processos cruzam todos os departamentos, o BPM

    deveria estar ento sujeito a algum desses

    departamentos? Se estiver, a qual departamento ele

    deveria estar associado?

    Estando dentro de um departamento, teria o CPO poder

    de exigir controle correto dos processos sobre outros

    departamentos? Teria autoridade para tal?

    Sendo colocado o BPM como assessoria da presidncia,

    teria voz ativa para demandar cumprimento de sua

    continuidade? No geraria um super cargo dentro da

    organizao?

    Sendo o BPM colocado em uma diretoria com poderes

    executivos, no causaria confrontos diretos com demais

    diretores e gerentes?

    Seria o CIO a pessoa adequada a assumir este papel,

    dadas as caractersticas de trabalho que agregam mais

    intensamente essas funcionalidades?

    Assim sendo, relacionar de alguma forma o cargo de CIO com o de

    CPO pode ser uma iniciativa interessante. Porm, fique alerta porque o

    CPO precisa ter um nvel de fluncia e relacionamento dentro da

    organizao maior que normalmente um CIO. um cargo com maior

    endosso poltico para que seja bem-sucedido.

    2.2.2. Quem estuda processos em maior intensidade?

    Conforme j intensamente discutido, o BPM no um movimento

    exclusivo da TI, mas fortemente apoiado pela TI como forma de

    implantao em boa parte dos processos. Um dos pontos que favorece a

    princpio o pessoal da TI como fortemente envolvido no BPM das

    organizaes vem da sua prpria formao. Uma parte considervel dos

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  • 47

    alunos dos cursos relacionados a TI aprende a migrar idias de

    funcionamento de processos para seu uso em sistemas. Embora outros

    cursos tambm o faam intensivamente (administrao, engenharia etc.),

    o pessoal de TI o faz com mais freqncia.

    O estudo de algoritmos estruturados, programao voltada a

    objeto, estrutura de dados e outros teis a projetos de BPM facilitam

    muito o aprendizado, pois so itens que podem ser usados

    intensivamente na modelagem, implantao e execuo de processos.

    Nos cursos que ministramos (os autores) de modelagem de

    processos, com freqncia podemos perceber claramente que o pessoal

    que teve essa formao anterior demonstra uma facilidade maior de

    aprender as tcnicas de modelagem apresentadas e um foco muito

    grande na soluo do problema.

    Porm, essa formao pode, por vezes, estar com vcios que

    atrapalham projetos de modelagem de BPM. Intensivamente vistas so as

    situaes em que o usurio se nega a usar um sistema ou reclama dele

    porque no reflete o que foi solicitado ao pessoal de TI. Ficamos com as

    reclamaes tpicas:

    O pessoal de TI (ou equipe que fez o levantamento) afirma

    que o usurio no sabe explicitar o que quer.

    O usurio diz que a TI (ou equipe que fez o levantamento)

    no entende o que ele deseja criando sistemas do jeito

    que querem e no da forma necessria e solicitada.

    Sabe-se, da prtica de modelagem, que descrever como algo

    funciona com todas suas nuances muito complexo de ser feito. No

    podemos cair na inocncia de achar que o usurio conseguir de uma

    nica vez descrever totalmente o problema. Sempre ouvimos dizer que a

    riqueza da leitura de um livro que "o leitor complementa a histria com

    seu prprio imaginrio e sua base de conhecimento, trazendo assim a

    partir do livro sensaes e experincias diferentes para cada leitor". Por

  • 48

    que esperar que em modelagem de processos isso no ocorresse?

    A compreenso do processo a ponte entre o negcio e a TI. E

    essa ponte s funcionar se as partes a construrem juntas,

    compreendendo plenamente seu funcionamento, sem dvidas, inferncias

    ou dedues que podem no ser a realidade dos fatos. Para evitar essas

    distores, todo processo modelado, sempre que possvel e existirem

    dados disponveis, deve ser validado com casos reais e registros para

    minimizar essas ocorrncias.

    2.2.3. Infra-estrutura fsica

    Entre os itens normalmente desejveis esto:

    Dois quadros com pincis coloridos (um para esquemas e

    outro para resultados da reunio), ou um quadro

    suficientemente largo (quatro metros ou mais);

    Paredes ou quadro muito amplos onde se possam colar

    mapas e esquemas gerais de processos. Melhor so

    paredes, que permitem montar com mais facilidade os

    diversos processos;

    Mesa de reunio (preferencialmente com trs metros ou

    mais), adequada para exibir modelos em grandes

    formatos;

    Tela ou local adequado de projeo de computador;

    Projetor de alta resoluo;

    Computadores.

    2.2.4 Infra-estrutura de software

    Depende muito da metodologia usada e do nvel de profundidade

    de BPM adotado. Alguns itens normalmente solicitados so:

  • 49

    Ferramenta de modelagem;

    Simulador;

    Editor de textos;

    Planilha eletrnica;

    Ambiente de publicao (Internet ou rede).

    2.2.5 Manual do modelo de gesto de BPM

    Antes de iniciar o trabalho, deve-se pensar em como execut-la,

    para que no se percam o foco e o alinhamento estratgia da

    organizao, garantindo-se assim os resultados esperados pelos

    patrocinadores. Para isso, muito til um manual de procedimentos (ou,

    para no fugir nomenclatura deste livro, uma documentao do

    "processo de gerir processos"). Trar as informaes bsicas de como o

    BPM conduzido na organizao, como os processos so escolhidos,

    como modelado e otimizado, como implantado um novo processo e

    como processos em andamento passaro a ser monitorados e, por fim,

    como feito o controle de diversos tipos de processos.

    o documento que marca a implantao do BPM. Sua explicitao

    esclarece, para os diversos nveis da organizao, os propsitos da

    implantao. Sua correta elaborao diminuir eventuais efeitos negativos

    de Gesto de Mudana, to comuns em implantaes desse tipo.

    2.3 Planejamento do BPM

    Na etapa de Planejamento do Ciclo do BPM, vrias atividades so

    desempenhadas (no necessariamente na seqncia apresentada):

    Definir os processos-chave para a estratgia da

    organizao.

    Levantar os principais pontos fracos dos processos em

    uso na organizao.

  • 50

    Identificar oportunidades (novas abordagens, produtos

    ou servios) que possam ser fornecidas aos clientes

    pela organizao, levando a preparar os processos que

    permitiro sua entrega.

    Perceber que mesmo processos sem problemas

    aparentes podem passar por inovao.

    Preparar, no todo ou em parte, a viso global de

    processos.

    Classificar os processos que meream ateno em

    ordem de prioridade.

    Indicar ao time de projetos de processos e s reas

    envolvidas as diretrizes e especificaes bsicas

    desejadas a partir do planejamento.

    Planejar e controlar as tarefas necessrias

    implantao.

    Nem todas estas atividades cabem necessariamente aos gestores

    de processos. Parte das definies pode vir de outras esferas da

    organizao (matriz, diretoria, consultoria externa), ou at mesmo de fora

    dela (por exemplo, de rgos regulamentadores). A literatura unnime32

    quanto necessidade de apoio da alta administrao e de considerar o

    BPM como um dos propsitos estratgicos da organizao, sob pena de

    comprometer seu sucesso e sua continuidade. Caso contrrio, tm-se

    apenas casos pontuais de sucesso, mas no uma implantao com

    benefcios amplos e uma nova filosofia de trabalho. Afinal, todas as

    iniciativas que envolvem processos nas organizaes, como ERP's, ISO

    9000, ABC etc., implicam em atuao direta da alta administrao para

    sua implantao, pois so aes que cruzam os diversos departamentos,

    gerando atritos, conflitos de interesses, falta de compreenso das metas

    propostas etc.

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  • 51

    Harmon (2003) prope um modelo para alinhar os processos

    estratgia, no qual um comit contribui na seleo das prioridades,

    Figura 8.

    2.3.1 Processos-chave para a estratgia Este um tema corriqueiro da literatura de estratgia organi-

    zacional. Usando metodologias conhecidas (Cadeia de Valor, ESC,

    SWOT, j citadas), pode-se perceber em quais processos a organizao

    mais forte, onde precisam melhorar (pontos fracos), quais as ameaas

  • 52

    no mercado, as oportunidades que se apresentam os indicadores que

    sero usados para medir o desempenho de seus processos, a meta para

    esses indicadores (de modo que a organizao saiba que est no

    caminho correto) etc.

    2.3.2 Processos para soluo imediata de problemas

    Algumas necessidades emergem de imediato, quando surgem

    situaes como novos marcos regulatrios, problemas de produo ou

    qualidade, impedindo entrega ao cliente, concorrente que lana produtos

    de modo mais competitivo etc. Ainda que a necessidade desses

    processos no tenha sido detectada no Planejamento Estratgico anual

    (o que no quer dizer que no estejam alinhados com ele), sua

    implantao pode ser imediata.

    2.3.3 Processos para otimizao

    No so apenas os processos que apresentam problemas

    (qualidade, custo, prazo, visibilidade da marca etc.) que passaro por

    otimizao (inovao, redesenho, melhoria contnua etc.). Um processo

    de atendimento ao cliente, por exemplo, pode ser completamente

    migrado para a Internet, ainda que esteja funcionando perfeitamente; na

    verdade, para minimizar custos e prazos de atendimento, pode at

    mesmo ser desdobrado (atendimento via Internet para a maioria dos

    clientes e atendimento telefnico para excees), aumentando assim o

    nmero de processos.

    2.3.4. Viso Global de Processos

    A criao ou no de uma Viso Global de Processos, antes de

    qualquer ao de BPM, um ponto sempre sujeito a controvrsias, porm

  • 53

    fundamental numa Gesto Integrada dos Processos. Alguns pontos

    devem ser considerados:

    Ter uma Viso Global de Processos ajuda a

    compreenso do funcionamento da empresa.

    faz-Io por completo complexo e pode levar mais tempo

    que o benefcio direto e imediato por ele gerado.

    Pelo contrrio, relativamente fcil fazer o diagrama

    apenas em macro processo e posicionar o processo que

    se deseja modelar de imediato.

    O diagrama pode ser efetivamente feito em etapas e

    melhorado, na medida em que usado em projetos

    pontuais de BPM, alinhando sempre os projetos ao

    diagrama macro. Logo, passa a ser construdo de maneira

    incremental, sem resistncias.

    Para muitas das atividades realizadas, h modelos de

    referncia que ajudam a construir os diagramas prprios

    organizao.

    Assim, criar a Viso Global de Processos da organizao no algo

    traumtico nem um empecilho para iniciar um projeto de BPM. O

    importante obter uma compreenso dos processos da organizao,

    desde o nvel estratgico ao operacional, como mostra a Figura 9. Nos

    projetos de modelagem e estudo isolados de processos pontuais, os

    processos so descritos somente de modo operacional, perdendo-se por

    vezes a compreenso de onde eles se encaixam no todo. Quando se

    dispe de uma Viso Global de Processos, o papel de cada processo fica

    bastante claro, ainda que no haja documentos. Entre os benefcios de um

    modelo integrado de Viso Global, podemos citar:

    Viso holstica das atividades exercidas pela organizao;

    Compreenso de onde cada colaborador se situa na

    organizao em relao aos processos;

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  • 54

    Percepo de atividades primrias e de suporte, com

    maior facilidade;

    Diretriz geral de atuao de trabalho.

    Um diagrama global deve representar os vrios subprocessos e os

    principais padres de relacionamento entre eles, sem descrever detalhes.

    No se trata de representar procedimentos ou fluxos de dados, mas de

    descrever processos e subprocessos em determinada ordem.

    desejvel que essa Viso Global de Processos seja feita de

    acordo com as perspectivas das partes envolvidas, sendo a da

    organizao (que tende a ser holstica) e a dos usurios (que tende a ser

    mais focada em problemas especficos de uso). A razo de os usurios

    terem viso mais focada no processo em si, do que no seu efeito na

    organizao como um todo, explicado por Simon (1979) como um efeito

    da racionalidade local. Diante da falta de conhecimento completo sobre

    BrenerRealce

    BrenerRealce

    BrenerRealce

  • 55

    tudo que o cerca e sobre as conseqncias de suas possveis aes, o

    agente toma decises e direciona seus esforos com base naquilo que

    julga ser adequado para a situao que se apresenta. Ele no usa todo o

    conhecimento potencialmente existente, mas apenas o conhecimento que

    lhe acessvel. Logo, no h garantias de que ele tenha tomado a deciso

    tima, mas simplesmente uma deciso aceitvel.

    Vrias tcnicas, bem distintas metodologicamente, podem ser

    utilizadas para criar a Viso Global de Processos da organizao, entre

    elas a Cadeia de Valor e o IDEF033. Embora a Cadeia de Valor seja

    aplicvel principalmente a macro processos com fins estratgicos, seu uso

    pode contribuir de modo significativo! para a compreenso do objeto de

    estudo do livro. A Figura 9 mostrou um exemplo de Viso Global de

    Processos, usando as premissas de Cadeia de Valor.

    A Figura 10 apresenta um exemplo de Viso Global de Processos,

    usando as premissas do IDEF0. Mesmo sem todo o rigor de construo das

    caixas ICOM (Input, Control, Output and Mechanism) usadas nessa

    metodologia, pode-se observar que o diagrama permite segmentar um

    processo (neste exemplo, um processo de compra) nas principais partes

    que o compem, gerando assim melhor compreenso para os envolvidos.

    A Figura 11 apresenta um esquema segundo a metodologia

  • 56

    recomendada por Harrington, Esseling & Ninwegen, que prov fcil

    entendimento da Viso Global de Processos e permite inclusive uma

    indexao dos subprocessos, que cria referncias para posterior

    documentao.

    A Figura 12 apresenta um exemplo da metodologia adotada por Jack &

    Keller (2002). Ela cria uma estrutura que permite aos envolvidos perceber, de

    imediato, uma srie de diagramas globais de processos e que fornece uma

    viso (ainda que simplificada) do tempo de execuo dos subprocessos e de

    suas respectivas seqncias de execuo.

  • 57

    Um modelo de Viso Global de Processos interessante e que

    estruturalmente agrega mais informaes que a Cadeia de Valor o

    apresentado na Figura 13, baseado nas diretrizes do eTOM TM Forum

    (2007). O benefcio que o modelo apresenta que, diferente da Cadeia de

    Valor (que essencialmente apresenta um nico nvel de informao com

    dois valores, pois o processo primrio ou de suporte), este modelo

    permite que se adicionem vrios nveis de informao sobre o tipo de

    processo, facilitando ao usurio uma viso mais direta do processo em

    questo no contexto global da organizao. Perde-se, no entanto, a

    simplicidade de representao da Cadeia de Valor.

  • 58

    Figura 14. Detalhe da Figura 13 representando esquema geral do eTOM. Fonte: TM Forum (2007).

  • 59

    Evidentemente, a Viso Global de Processos no o nico recurso

    para alinhar os processos viso e misso da organizao. Porm,

    devido simplicidade de construo, um recurso til de visualizao,

    compreenso e discusso.

    2.4 Modelagem e otimizao de processos

    a fase mais visvel do BPM. Cada autor apresenta uma

    abordagem prpria da modelagem e otimizao de processos. H,

    portanto, inmeras tcnicas e metodologias, sem que fique claro quais

    podem ser aplicadas em todas as situaes de BPM. Na verdade, certas

    tcnicas so mais aplicveis a um determinado tipo de processo (suporte,

    produtivo, estratgico), ou de uso do modelo (funcional, comportamental

    etc.).

    De maneira geral, pode-se dizer que esta etapa compreende duas

    grandes atividades:

    Modelagem do estado atual do processo (As Is);

    Otimizao e modelagem do estado desejado do processo (TO Be), quando aplicvel.

    Vrias referncias importantes, como Davenport (1994), Harrington,

    Esseling & Nimwegen (1997), Smith & Pingar (2003), Jeston & Nelis

    (2006) etc., concordam que o primeiro passo em qualquer projeto de BPM

    (exceto, evidente