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UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO PROGRAMA DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO Lidiane Auxiliadora Rodrigues Gonçalves GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS PARA SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL: uma análise do Programa Mais Educação no município de Benevides, Pará Belém - Pará Março 2013

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UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO

PROGRAMA DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO

Lidiane Auxiliadora Rodrigues Gonçalves

GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS PARA SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL: uma análise do Programa Mais Educação no município de

Benevides, Pará

Belém - Pará Março 2013

1

UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO

PROGRAMA DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO

Lidiane Auxiliadora Rodrigues Gonçalves

GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS PARA SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL: uma análise do Programa Mais Educação no município de

Benevides, Pará

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Administração da Universidade da Amazônia, como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em Administração, sob a orientação do Prof. Dr. Mário Vasconcelos Sobrinho.

Belém - Pará Março 2013

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UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO

PROGRAMA DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO

Lidiane Auxiliadora Rodrigues Gonçalves

GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS PARA SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL: uma análise do Programa Mais Educação no município de

Benevides, Pará

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Administração da Universidade da Amazônia, como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em Administração, sob a orientação do Prof. Dr. Mário Vasconcelos Sobrinho.

Julgado em: ____/____/2013

Conceito: ________________

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________

Prof. Dr. Mário Vasconcelos Sobrinho (Orientador) PPAD – Universidade da Amazônia ______________________________________________

Prof. Dr. Marco Antônio Silva Lima (Examinador Interno)

PPAD – Universidade da Amazônia

______________________________________________

Profa. Dra. Voyner Ravena Cañete (Examinador Externo)

PPGCS – Universidade Federal do Pará

Belém-Pará Março 2013

3

Dedico esta dissertação a todos aqueles que buscam o conhecimento com comprometimento e coragem para vencer este nobre desafio.

4

Agradeço primeiramente a Deus que está sempre ao meu lado me amparando. Aos meus pais que sempre se esforçaram em auferir aos filhos a conquista por meio da educação, ao meu esposo que acreditou nessa etapa de melhoria profissional e pessoal e ao meu orientador que transferiu de maneira constante, sábia e especialmente com humildade seu grande arcabouço intelectual para me proporcionar esta vitória. A todos os docentes do Curso de Mestrado em Administração, aos meus colegas desta trajetória e com atenção à Professora Doutora Ana Maria Vasconcelos por sua sempre gentil dedicação na coordenação do programa.

5

RESUMO

A pesquisa tem como objetivo analisar em que medida a implantação de programas de aquisição de alimentos em nível local contribui para a segurança alimentar e nutricional (SAN) dos alunos que o recebem por meio da merenda escolar. De forma mais específica, a pesquisa examina a implantação do Programa Mais Educação no município de Benevides (PA) e sua influência na segurança alimentar e nutricional de alunos na faixa etária entre 10 e 14 anos que consomem merenda escolar. O embasamento teórico do estudo é composto por literaturas sobre desenvolvimento, segurança alimentar e nutricional em seu contexto mundial, nacional e estadual e, sobretudo, de gestão de políticas públicas para segurança alimentar e nutricional. Metodologicamente a pesquisa analisou: 1 - qualidade nutricional dos cardápios oferecidos, 2 - estado nutricional dos adolescentes que recebem as refeições do Programa Mais Educação no município, 3 - fornecedores locais e, também, o processo de gestão do programa enquanto componente da política pública brasileira de segurança alimentar e nutricional. Nesta última abordagem, o estudo se direciona para entender a estrutura municipal de gestão de merenda escolar em Benevides. Busca-se compreender em que medida o programa “Mais Educação” tem sido efetivo no município. O estudo mostra que o programa Mais Educação consegue alcançar seu objetivo que atribui SAN ao público alvo através do fornecimento regular de refeições adequadas no espaço educativo. A segurança alimentar sob a perspectiva biológica foi alcançada por via da merenda escolar que é servida três vezes ao dia aos estudantes participantes do Mais Educação. O fator cultural é respeitado influenciando na SAN do público alvo. A disponibilidade de alimentos proveniente da agricultura local é suficiente para atender a merenda escolar, porém não pode ser considerada apropriada para indicar a SAN em Benevides. A pobreza local interfere no acesso aos alimentos. A SAN em Benevides sofre influência de políticas públicas que buscam minimizar os problemas de acesso e disponibilidade de alimentos como é o caso da efetividade do Programa Mais Educação.

Palavras chave: Segurança alimentar e nutricional, desenvolvimento, pobreza,

políticas públicas, gestão pública, merenda escolar.

6

ABSTRACT

The research aims to analyze to what extent the implementation of programs to purchase food locally contributes to food security and nutrition of the students who have received it from school meals. Specifically, the research examines the deployment of More Education Program implementation in the municipality of Benevides (PA) and its influence on food security and nutrition of students aged between 10 to 14 years old who have consumed school lunches. The theoretical framework is based on the literature of development, food security and nutrition in its global, national and state context, particularly on public management policies for food security and nutrition. Methodologically, the research examined the menus nutritional quality, the teenagers nutritional status who have received meals from the More Education Program in the municipality, local suppliers, and also the process of program management as a component of Brazilian public policy for safety food security nutrition. In the latter approach, the study tries to understand the municipal structure management of school meals in Benevides. The study tries to understand to what extent the "Mais Educação" has been effective in the municipality. The study shows that More Education can reach your goal SAN assigning to the target audience by providing regular meals in appropriate educational space. Food security under the biological perspective was achieved through the school lunch that is provided three times a day to students who participate in the More Education. The cultural factor is respected in SAN influencing the target audience. The availability of food from the local agriculture is sufficient to meet the school lunch, but can not be considered appropriate to indicate the SAN in Benevides. The local poverty influences on access to food. The SAN in Benevides is influenced by public policies that seeks to minimize the problems of access and availability of food such as the effectiveness of More Education Program.

Keywords: Food and nutrition security, development, poverty, public policy, public management, school lunches.

7

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Prefeituras premiadas em 2011 (referente à gestão de 2010) e

suas respectivas categorias ............................................................................

67

Quadro 2 – Prefeituras finalistas em 2011(referente à gestão de 2010)

entre todos os municípios inscritos ..................................................................

68

Quadro 3 – Padrão para determinação do Percentil ....................................... 75

Quadro 4 – Cardápio utilizado na merenda escolar do Projeto Mais

Educação em Benevides ...........................................................................

94

8

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Padrão para determinação do Percentil ........................................... 46

Tabela 2 – Distribuição da população por insegurança alimentar ...................... 47

Tabela 3 – Taxa de crescimento urbano no Brasil ............................................. 49

Tabela 4 – Evolução do orçamento da Segurança Alimentar e Nutricional,

segundo metodologia de monitoramento do orçamento adotada pelo

CONSEA em milhões.........................................................................................

52

Tabela 5 – Índice de desenvolvimento da Educação Básica do município de

Benevides e da Escola Municipal Santa Luzia em Benevides em comparação

com outro município e escola ............................................................................

61

Tabela 6 – Valores atualizados da merenda escolar por aluno / por dia............ 64

Tabela 7 – População segundo situação da Unidade Domiciliar

1980/1991/1996/2000/2007/2010........................................................................

72

Tabela 8 - Índice de Desenvolvimento Humano – IDH 1980/1991/1996/2000... 73

Tabela 9 – Percentil de IMC por idade - Adolescente do sexo feminino ............ 75

Tabela 10 – Percentil de IMC por idade - Adolescente do sexo masculino........ 76

Tabela 11 - Status dos alunos pesquisados 5ª série A ..................................... 77

Tabela 12 - Status dos alunos pesquisados 5ª série B ..................................... 77

Tabela 13 - Status dos alunos pesquisados 5ª série C ...................................... 77

Tabela 14 - Status dos alunos pesquisados 5ª série D ..................................... 78

Tabela 15 – Rendimentos de pessoas por classe da população de Benevides

em 2012 ..............................................................................................................

81

Tabela 16 – Incidência de pobreza e índice de GINI em Benevides em 2003... 81

Tabela 17 - Proporção da população em extrema pobreza frequentando a

escola ou creche por faixa etária ........................................................................

82

Tabela 18 – Estoque de emprego segundo setor de atividade econômica

2000-2010 ..........................................................................................................

83

Tabela 19 – Número de escolas co mais de 50% dos alunos do programa do

Bolsa Família ......................................................................................................

83

Tabela 20 - Recursos financeiros e alunos atendidos no programa de

merenda escolar no período de 1995 a 2010......................................................

84

Tabela 21 – Estado Nutricional dos estudantes segundo a idade....................... 86

Tabela 22 – Composição nutricional do cardápio ofertado no mês de

9

novembro de 2012 .............................................................................................. 87

Tabela 23 – Estado Nutricional dos estudantes segundo a distribuição das

turmas .................................................................................................................

88

Tabela 24 - Área colhida, quantidade produzida e valor de produção dos

principais produtos das lavouras temporárias 2001/2007-2009 .........................

90

Tabela 25 - Área colhida, quantidade produzida e valor de produção dos

principais produtos das lavouras permanentes 2001/2007-2009........................

91

Tabela 26 - Quantidade de produtos comercializados em 2010 pela

COOPABEN em 2010 ........................................................................................

92

Tabela 27 - Provisões mínimas estipuladas pelo Decreto Lei nº 399................. 93

10

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Etapas da assistência nutricional...................................................... 65

Figura 2 - Estado nutricional de estudantes do Programa Mais Educação..... 71

Figura 3 – Distribuição gráfica do Estado Nutricional por turma....................... 80

Figura 4 – Estado Nutricional dos estudantes segundo a idade....................... 86

Figura 5 – Instâncias da prestação de contas da merenda escolar.................. 88

Figura 6 – Distribuição gráfica do Estado Nutricional por turma....................... 89

11

LISTA DE SIGLAS

CEP Comitê de Ética e Pesquisa

CME Campanha de Merenda Escolar

CONSEA Conselho Nacional de Segurança Alimentar

DHAA Direito Humano a Alimentação Adequada e Saudável

FAO Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura

FISI Fundo Internacional de Socorro à Infância

FNDE Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

LOSAN Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional

MEC Ministério da Educação

ONU Organização das Nações Unidas

PIDESC Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais

PNAE Programa Nacional de Alimentação Escolar

POF Pesquisa de Orçamento Familiar

PRONAN Programa Nacional de Alimentação e Nutrição

SAN Segurança Alimentar e Nutricional

SECAD Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade

SISANS Sistema de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável

STN Secretaria do Tesouro Nacional

TCLES Termo de Consentimento Livre Esclarecido

UNAMA Universidade da Amazônia

12

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 14

CAPÍTULO I. ENTENDENDO O DEBATE SOBRE SEGURANÇA

ALIMENTAR E NUTRICIONAL

19

1.1 POBREZA, SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL 23

1.2 A DIMENSÃO DA SUSTENTABILIDADE PARA SEGURANÇA

ALIMENTAR E NUTRICIONAL

27

1.3 A PERSPECTIVA BIOLÓGICA DA SEGURANÇA ALIMENTAR E

NUTRICIONAL

31

1.4 SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL SOB A ÓTICA DA

DISPONIBILIDADE

34

1.5 A DIMENSÃO CULTURAL DA SEGURANÇA ALIMENTAR E

NUTRICIONAL

37

1.6 A SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL EM UM CONTEXTO

MUNDIAL

41

1.7 A SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL NO BRASIL 43

1.8 ASPECTOS DA SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL NO

ESTADO DO PARÁ

47

CAPÍTULO II. GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A SEGURANÇA

ALIMENTAR E NUTRICIONAL E OS PROGRAMAS MERENDA ESCOLAR E

MAIS EDUCAÇÃO

50

2.1 POLÍTICAS PÚBLICAS E SAN 50

2.2 GESTÃO PÚBLICA E SAN 52

2.3 MERENDA ESCOLAR 55

2.4 PROGRAMA MAIS EDUCAÇÃO 59

2.5 A GESTÃO PÚBLICA DA MERENDA ESCOLAR E DO PROGRAMA MAIS

EDUCAÇÃO

62

CAPÍTULO III. OS CAMINHOS PERCORRIDOS PARA ENTENDER A

INFLUÊNCIA DO PROGRAMA MAIS EDUCAÇÃO NA SEGURANÇA

ALIMENTAR E NUTRICIONAL

69

3.1 TIPO DE PESQUISA 69

3.2 ANTROPOMETRIA E ESTADO NUTRICIONAL 70

3.3 LOCUS DA PESQUISA 72

13

3.4 AMOSTRA 73

3.4.1 Considerações éticas 74

3.5 COLETA DE DADOS 74

3.5.1 Descrição da Coleta de Dados 76

3.6 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS 78

3.7 RISCOS E BENEFÍCIOS 79

CAPÍTULO IV. A EFETIVIDADE DO PROGRAMA MAIS EDUCAÇÃO EM

BENEVIDES

82

CONSIDERAÇÕES FINAIS 98

REFERÊNCIAS 103

14

INTRODUÇÃO

A segurança alimentar e nutricional (SAN) é um elemento importante na

determinação do desenvolvimento em um determinado território (SEN, 2000), seja

país ou mesmo município. Trata-se de um direito humano básico que se relaciona a

sobrevivência dos indivíduos. Seu conceito está imbricado de aspectos que buscam

garantir o acesso físico e econômico a alimentação de modo regular e permanente

proporcionando uma vida digna e saudável. Para que aconteça o desenvolvimento

faz-se necessário a prática de ações que levem a uma inclusão equânime que

garanta aos cidadãos condições de acesso aos diversos programas de assistência,

serviços públicos, proteção à saúde, educação dentre outros.

O sistema econômico pode ser tratado dentro da perspectiva do

“Desenvolvimento enquanto liberdade” (SEN, 2000) o que leva a interferir no

potencial que as pessoas têm de adquirir alimentos, obter saúde e nutrição e

consequentemente no direito dos indivíduos de participar diretamente ou

indiretamente de ações que busquem contribuir para a melhoria das condições de

vida em que se inclui a segurança alimentar e nutricional.

Como o desenvolvimento está aliado a um frequente quadro de

desigualdades no qual as necessidades básicas individuais relacionadas à

sobrevivência das pessoas, em muitos casos, este conjunto de situações acaba

resultando em fome e desnutrição, o que pode comprometer a segurança alimentar

e nutricional de um determinado país, estado, ou município. Ocorre a urgência de

ações que busquem minimizar a situação de insegurança alimentar que porventura

se apresente.

A segurança alimentar e nutricional envolve diversos fatores que podem

ser tratados como dimensões e dentre elas está a dimensão da pobreza, que pode

ser encarada como privação de capacidades que envolve a justiça social (SEN,

2000), as discussões sobre as igualdades e desigualdades (SEN, 2000), e inclui

também os fatores socioeconômicos, ressaltando as conotações legais, as

implicações políticas e sua pertinência social.

Com relação à dimensão da sustentabilidade seu significado em um país

direciona-se a manutenção da capacidade de produção agroalimentar nacional,

15

soberania alimentar, para que sejam garantidas a renda e a segurança alimentar, e

suas possíveis relações comerciais e de trocas que possam garantir alguma

rentabilidade, mantendo a base de recursos globais (AZEVEDO, 2002).

Quanto à dimensão biológica SAN está dividida em duas vertentes: a do

estado nutricional diretamente ligado ao consumo de alimentos e a da inocuidade

sanitária do alimento consumido (REGO, 2001) e, ambas têm suas peculiaridades

que influenciam de maneira intensa na segurança alimentar dos indivíduos em todas

as etapas de suas vidas. Justifica-se também neste aspecto a importância de

políticas públicas como a merenda escolar e o Programa Mais Educação para

promover segurança alimentar e nutricional no ambiente de ensino.

A dimensão da disponibilidade está relacionada com a existência de

alimentos em quantidade e qualidade suficientes que possa suprir as necessidades

de consumo de todos os territórios (PINTO, 2008). A dimensão cultural vai de

encontro ao respeito aos hábitos alimentares locais, as tradições e crenças dos

indivíduos.

Uma crescente equidade social e melhoria sustentável da qualidade de

vida da população e como consequência a garantia de acesso à alimentação pode

contribuir para auxiliar o desenvolvimento (SEN, 2000). Na busca deste

desenvolvimento determinadas politicas públicas como a Merenda Escolar e o

programa Mais Educação objetivam garantir através das escolas a oferta de

alimentos com qualidade que, além de influenciar na frequência escolar (MEC,

2012), pode promover segurança alimentar e nutricional a um público de menor

capacidade de acesso a alimentação diária adequada.

O aumento da produção de alimentos não é capaz de garantir de modo

isolado a segurança alimentar (SEN, 2000). Há outros fatores que podem interferir

de modo intenso como os quadros de pobreza, desigualdades sociais, desemprego,

crises econômicas e mesmo fatores climáticos instalados no contexto mundial (SEN,

2000). Faz-se necessária à atenção à promoção do progresso social e de melhorias

no padrão de vida das populações para combater e minimizar a insegurança

alimentar (SEN, 2000).

Neste contexto as políticas públicas que visam combater ou minimizar a

insegurança alimentar tornam-se elementos fundamentais no envolvimento de

diversos setores que interligados podem aumentar o potencial de interferência e

16

abrangência de ações que resultem em maior segurança alimentar e nutricional a

todos os indivíduos.

A merenda escolar e o Programa Mais Educação são geridos pelo

governo federal e executados pelos estados e municípios e apresentam como

diretrizes comuns melhorar a oferta escolar e aumentar a oferta educativa nas

escolas públicas (BRASIL, 2012). Isto acontece através de atividades extras que

ampliam a jornada escolar, o que implica no fornecimento de três refeições ao dia,

melhorando, assim, o consumo alimentar de alunos que não tem acesso regular a

alimentação (BRASIL, 2012).

O programa de merenda escolar tem como meta principal atender as

necessidades nutricionais dos alunos durante a permanência deles em sala de aula,

e busca contribuir para o crescimento, desenvolvimento, aprendizagem e rendimento

escolar dos estudantes, bem como promover a formação de hábitos alimentares

adequados e saudáveis (BRASIL, 2012). Tais procedimentos podem auxiliar na

segurança alimentar de muitos destes indivíduos participantes do programa.

O município de Benevides, lócus de pesquisa, vem passando por um

significativo processo de reconfiguração territorial caracterizado por um alto nível de

urbanização (tabelas 1 e 2, apresentadas no capítulo 3), um elevado nível de

pobreza (Tabelas 6 e 7, apresentadas no capítulo 4), o que significa que programas

de natureza alimentar e nutricional são de significativa importância. O município

também foi escolhido por participar de forma efetiva do Projeto Mais Educação do

Governo Federal.

Acredita-se ser relevante verificar o funcionamento do Projeto Mais

Educação, que aumentou a oferta de alimentos na escola no município de

Benevides e sua relação com a merenda escolar. É essencial o exame deste

programa devido à significância do impacto relacionado à quantidade de

adolescentes que são alcançados pela alimentação oferecida no ambiente da

escola. Deste modo o estudo tem como objetivo analisar em que medida, o aumento

da oferta de refeições aos estudantes de escolas municipais contribui para a

segurança alimentar e nutricional em adolescentes entre 10 e 14 anos à luz da

execução do Programa de Mais Educação no município de Benevides.

Os estudos sobre a SAN tem precipuamente se direcionado para análise

do acesso e disponibilidade de alimentos na relação entre merenda escolar,

produção de alimentos e desenvolvimento local (TURPIN, 2008), na avaliação do

17

cumprimento das metas estabelecidas pelo PNAE para a disponibilidade de

produtos alimentícios (VIANNA ; TERESO, 2000) e sobre a capacidade da

agricultura familiar de suprir a necessidade de gêneros alimentícios e promover o

desenvolvimento local (PAULILLO; ALMEIDA, 2005).Porém, há necessidade de

verificar se as políticas que promovem acesso e disponibilidade tais como os

programas de Merenda Escolar e Mais Educação, também proporcionam SAN ao

seu público alvo.

A pesquisa visa ainda examinar de maneira específica três objetivos a

saber: (a) identificar o estado nutricional de estudantes que recebem merenda

escolar, na faixa etária de 10 a 14 anos de idade; (b) relacionar o estado nutricional

com a composição de nutrientes das refeições servidas aos participantes do

programa e por fim (c) identificar a relação entre práticas que considerem o contexto

dos hábitos alimentares locais e sua influência sobre a SAN do público avaliado.

O Programa Mais Educação está direcionado em uma de suas

modalidades para atender o fornecimento de refeições aos escolares dos municípios

e, assim, contribuir para o desenvolvimento local, por meio da compra da produção

na própria região produtora. O estado nutricional do público alvo do programa pode

ser indicativo de SAN ou de insegurança alimentar, surgindo a partir desta análise a

necessidade de avaliação dos parâmetros físicos dos adolescentes que recebem a

alimentação advinda do Mais Educação.

Foi utilizada para esta pesquisa uma amostra de 48 adolescentes (10 a

14 anos) período da vida em que cerca de 50% do peso e 20-25% da estatura de

um indivíduo são adquiridos. A nutrição nesta faixa etária atua como determinante

altamente significativo da variabilidade desse processo de crescimento e aumento

de massa corpórea (JOHNSTON, 1981). Portanto, o acompanhamento do

desenvolvimento do adolescente é um instrumento importante para na orientação de

ações destinadas a esse grupo, inclusive medidas relacionadas a melhorias no

fornecimento de merenda escolar.

A dissertação encontra-se dividida em quatro capítulos. O primeiro norteia

o leitor quanto ao referencial teórico da pesquisa e está embasado nos princípios de

Sen (2000) em que o desenvolvimento é discutido sob a ótica da liberdade. O

segundo trata de políticas públicas enquanto mecanismos do Estado para garantir a

realização dos direitos humanos nos quais se incluem a educação e alimentação

(CONSEA, 2010). Busca-se mostrar as principais características e mudanças na

18

gestão pública a partir de uma perspectiva histórica. Neste capítulo ainda se destaca

o Programa de Merenda Escolar que iniciou com grande abrangência e que é

considerado um dos maiores programas na área de alimentação escolar no mundo

com atendimento único e universalizado (BRASIL, 2012). O Programa Mais

Educação é apresentado como um plano que integra as ações do Plano de

Desenvolvimento da Educação (PDE), a partir de 2008, e tem como estratégia

induzir a ampliação da jornada escolar e a organização curricular, na expectativa da

educação integral (BRASIL, 2012).

No terceiro capítulo demonstra-se o percurso metodológico da pesquisa

desde a determinação do tipo de pesquisa, o método de avaliação de estado

nutricional a ser utilizada, escolha do local e tamanho da amostra e outras

considerações. O quarto capítulo empenha-se em responder aos intuitos propostos

pela pesquisa relacionando a SAN aos dados obtidos de acordo com a metodologia

utilizada. A última seção vai tratar das considerações finais da pesquisa.

19

CAPÍTULO I – ENTENDENDO O DEBATE SOBRE SEGURANÇA ALIMENTAR E

NUTRICIONAL

O conceito de Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) teve sua origem

na Europa no século XX e refletia a capacidade de cada país em produzir sua

própria alimentação na busca de se evitar vulnerabilidades como os embargos e

boicotes que ocorreram durante a primeira guerra mundial (CUSTÓDIO et al, 2011).

O cenário mundial de escassez de alimentos entre 1972-1974 fez com que a

segurança alimentar passasse a ser entendida como “uma política de

armazenamento estratégico e de oferta segura e adequada de alimentos, e não

como um direito de todo ser humano em ter acesso a uma alimentação saudável”

denotando enfoque na produção e não no ser humano (VALENTE, 2002).

Em 1972, a queda geral da produção cerealista mundial e as compras

maciças pela antiga União Soviética esgotam os estoques disponíveis e produzem

um aumento considerável dos preços, colaborando assim para a formação de

estoques alimentícios (CHONCOL, 2005).

O entendimento sobre o conceito mantém seu foco na capacidade de

produção agrícola como meio de garantir a disponibilidade e estabilidade de preços

dos alimentos básicos em nível internacional e nacional (CLAY, 2002). Então em

1974 ficou definido conforme os Anais da Cimeira Alimentar da ONU que a

segurança alimentar é disponibilidade em todos os momentos das reservas mundiais

de alimentos básicos sejam adequadas para sustentar uma expansão constante do

consumo de alimentos e para compensar flutuações na produção e nos preços

(ONU, 1975).

A FAO em 1983 expandiu o conceito de SAN para incluir o seguinte item:

“Garantir que todas as pessoas em todos os momentos tenham acesso físico e

econômico aos alimentos básicos de que necessitam” (FAO, 1983). Já em 1986 sob

a influência de um relatório do Banco Mundial sobre pobreza e fome o conceito de

SAN foi elaborado em termos de: “O acesso de todas as pessoas em todos os

momentos a uma alimentação suficiente para uma vida ativa e saudável” (CLAY,

2002). Em 1996 a Cúpula Mundial define em seu plano de ação um conceito mais

complexo sobre SAN direcionando a segurança alimentar para um nível individual,

familiar, nacional, regional e global que é atingida quando “todas as pessoas tem

20

permanentemente acesso físico e econômico a alimentos suficientes seguros e

nutritivos para satisfazerem suas necessidades dietéticas e preferências alimentares

para uma vida ativa e saudável” é percebida então uma preocupação com a higiene,

a visão biológica e os fatores culturais atentando-se para a importância biomédica

que não surte efeito nas causas primárias da fome e subnutrição (CLAY, 2002).

Em 1996 a cúpula mundial definiu SAN a partir de uma visão mais ampla

contemplando acesso, qualidade e quantidade suficiente, de maneira ininterrupta

mantendo a capacidade de alcançar outras necessidades essenciais, alicerçadas

em práticas alimentares saudáveis que possam concorrer para uma existência digna

(CONSEA, 2006).

O conceito de segurança alimentar e nutricional no contexto brasileiro

sofreu uma nova consideração em 1985 quando o Ministério da Agricultura elaborou

o Plano Nacional de Segurança Alimentar e na década de 90 elaborou o Plano

Nacional de Combate a Fome e a Miséria pela sociedade civil e a criação do

Conselho Nacional de Segurança Alimentar (CONSEA, 2006).

Assim, como o país vive uma época de promissor desenvolvimento, pode

tratar a SAN como um requisito fundamental para promovê-lo, de modo a se aliar à

práticas adequadas nas esferas social, econômica e política. A partir deste

entendimento o conceito de desenvolvimento pode ser tratado em conjunto com

outras variáveis como pobreza, sustentabilidade, acesso e outros elementos que

resultarão no alcance da SAN.

A segurança alimentar é vista como um diferencial entre países

avançados e países em desenvolvimento sendo que nos primeiros o enfretamento

dessa questão foi um fator decisivo na conformação do padrão de desenvolvimento,

confirmando o contraste bastante acentuado entre estes países também na questão

alimentar (MALUF, 1995). O desenvolvimento implica em igualdade, equidade e

solidariedade para que suas consequências possam proporcionar distanciamento do

desemprego, da pobreza e da exacerbação da desigualdade que são fatores que

contribuem para um quadro de comprometimento da segurança alimentar de

qualquer nação (SACHS, 2004).

A SAN contempla elementos conceituais que envolvem dois aspectos

importantes: o alimentar e o nutricional. Está inserido no aspecto alimentar a

produção e a disponibilidade de alimentos. Já no que diz respeito ao aspecto

nutricional estão incorporadas as relações entre o homem e o alimento implicando

21

escolha de alimentos, preparo e técnicas de cocção, consumo alimentar adequado,

boas condições de saúde, higiene, promoção de saúde através do acesso aos

serviços, fatores psicossociais, econômicos, culturais e ambientais (BURITY et al,

2010).

O desenvolvimento deve praticar uma inclusão justa que garanta além do

exercício dos direitos civis e políticos também proporcione condições de acesso a

todos os cidadãos aos diversos programas de assistência, serviços públicos,

proteção à saúde e moradia, educação etc. (SACHS, 2004). Os serviços de saúde

devem fazer parte de um objetivo mais amplo que resulte em melhoria da saúde das

pessoas que são dependentes de uma alimentação adequada, segurança alimentar

(SACHS, 2004). No entanto os países em desenvolvimento apresentam grande

dificuldade de garantir acesso aos alimentos para população em vulnerabilidade

social devido à insuficiência de renda e a necessidade de se promover uma

produção suficiente, autônoma, estável, sustentável e equitativa, bem como a

formulação de programas institucionais destinados aos segmentos sociais mais

débeis (MALUF, 1995).

É considerado um processo de expansão das liberdades que as pessoas

desfrutam, tais liberdades dependem dentre outros determinantes das disposições

sociais e econômicas (SEN, 2000). Para que o desenvolvimento aconteça é

necessário que “as principais fontes de privação de liberdades sejam removidas

como a pobreza e tirania, carência de oportunidades econômicas e destituição social

sistemática”, (SEN, 2000) bem como negligência de serviços públicos. Todos estes

aspectos podem interferir diretamente no nível de segurança alimentar dos

indivíduos, pois os mesmos têm oportunidades econômicas e sociais restritas e são

impossibilitados de levar o tipo de vida que valorizam ou mesmo de adquirir aquilo

de que necessitam (SEN, 2000).

As liberdades são tratadas como fins primordiais e também como meios

principais para se alcançar o desenvolvimento, já que são elas que irão promover

segurança econômica por meio de oportunidades sociais através de serviços de

educação e saúde e a facilitação de oportunidades de participação no comércio e na

produção que podem gerar recursos individuais e públicos para manter os serviços

sociais, havendo uma relação de fortalecimento entre tais liberdades. O

fortalecimento destes elos e as oportunidades adequadas podem permitir aos

22

indivíduos que levem o modo de vida que almejam e alcance inclusive a segurança

alimentar e nutricional que necessitam (SEN, 2000).

As liberdades individuais são essenciais para que as capacidades

proporcionem condições adequadas a fim de evitar privações como a fome, a

subnutrição, a morbidez evitável e a morte prematura que estão também

relacionadas com a segurança alimentar (SEN, 2000). O processo de

desenvolvimento deve incluir a eliminação das múltiplas privações do indivíduo seja

através das liberdades substanciais ou instrumentais. Dentre as liberdades

instrumentais SEN (2000) considera cinco tipos que influenciam de maneira intensa

na qualidade de vida dos indivíduos: 1- liberdades políticas que se refere às

oportunidades que as pessoas têm para eleger seus governantes; 2- facilidades

econômicas que são as oportunidades que os indivíduos têm para utilizar recursos

econômicos com finalidade de consumo, inclusive alimentos, produção ou troca; 3-

oportunidades sociais que são disposições estabelecidas nas áreas de educação,

saúde etc. interferindo na liberdade substantiva de o ser humano viver melhor; 4-

garantias de transparência que se relacionam às necessidades de sinceridade com

as pessoas; 5- por fim, devido à vulnerabilidade social que algumas pessoas vivem a

segurança protetora é necessária com vistas a proporcionar uma rede de segurança

social que não permita que a população afetada seja reduzida à miséria infame e,

em certos casos, até mesmo a fome por quadros de total destituição de segurança

alimentar (SEN, 2000).

A segurança protetora pode levar a noção de que o Estado e / ou governo

busquem interferir em situações em que a população se encontra desprovida de

condições próprias de melhorias em setores que necessitam de atenção adequada e

eficiente do Estado (SEN, 2000). Neste caso as politicas públicas tornam-se grandes

aliadas para que se promova um desenvolvimento mais justo que possa

proporcionar oportunidades para a mudança de quadros que mantenham os

indivíduos incapazes encontrarem formas de viver em melhores condições (SEN,

2000).

Sen (2000), a partir de sua visão do desenvolvimento como liberdade

buscou formar uma concepção de justiça distributiva (RIBEIRO, MENEZES, 2008).

Suas proposições podem ser consideradas um avanço para se pensar a relação

entre a pobreza, a cidadania e independência social e política dos indivíduos, na

23

medida em que procura avaliar e desenvolver uma concepção de bem-estar

centrada na realização do potencial humano (RIBEIRO, MENEZES, 2008).

O funcionamento da economia dentro da perspectiva do desenvolvimento

como liberdade influencia no potencial que as pessoas têm de adquirir alimentos,

garantir saúde e nutrição e quando em desequilíbrio ou desprovidos de apoio de

disposições políticas e sociais afetam diretamente em situações de fome crônica

e/ou subnutrição consequentemente levando a insegurança alimentar (SEN, 2000),

O desenvolvimento com um constante cenário de desigualdades onde as

necessidades básicas individuais relacionadas à sobrevivência das pessoas acabam

gerando fome e desnutrição podem comprometer a segurança alimentar e

nutricional de um determinado país que por vezes em uma condição de pobreza

absoluta há necessidade de outros fatores chaves para se desfazer a situação de

insegurança alimentar como: educação, saneamento básico, segurança pública,

geração de emprego e renda, proteção social e outros que proporcionem acesso a

uma qualidade de vida mais adequada (ROCHA, 2003).

Ao passo que segundo Burlandy, Magalhães e Maluf (2006) o

desenvolvimento deve ser fundamentado em uma crescente equidade social e

melhoria sustentável da qualidade de vida da população em que a segurança

alimentar e nutricional quando interligada a outras políticas públicas como as que

envolvem produção e comercialização de alimentos podem proporcionar melhorias

no desenvolvimento (BURLANDY, MAGALHÃES, MALUF 2006).

1.1 Pobreza, segurança alimentar e nutricional

O conceito de pobreza é analisado sob diversas perspectivas que vão

desde a noção da subsistência, das necessidades básicas, da privação relativa e da

privação de capacidades (CODES, 2008). Já para CRESPO, GUROVITZ 2002 as

principais concepções sobre pobreza são as da sobrevivência, a das necessidades

básicas e a da privação relativa. Conforme CODES, 2008 a noção de subsistência

definia a pobreza fundamentada no critério da renda necessária para a

sobrevivência exclusivamente física do indivíduo. Esta visão foi ampliada e

adicionou-se a noção de necessidades básicas em que foi instaurada a perspectiva

de que a pobreza tem diversas faces, manifestando-se por intermédio de muitos

24

tipos de carências, e então surgiram outras formulações como a da privação relativa,

centrada na visão de que a pobreza deve ser definida socialmente, e a da privação

das capacidades, que tem por característica desenvolver uma reflexão de cunho

mais abstrato sobre a natureza do objeto, levando a dialética aos campos da justiça

social, da política, das desigualdades e da subjetividade.

O termo subsistência surgiu na Inglaterra primeiramente no período de

1890 a partir de pesquisas realizadas por nutricionistas em que as necessidades

eram medidas por quantidade de pão, farinha de pão ou dinheiro equivalente e

baseada nesta abordagem era considerada pobre a família que não possuísse renda

para obter o mínimo necessário para manter sua condição meramente física

(TOWSEND apud CODES, 2008). Após a Segunda Guerra Mundial o padrão da

subsistência voltou a ser elaborado e foi adotado por agências internacionais, como

o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional. O enfoque na mensuração a

partir da renda para aquisição de alimentos ainda é utilizado na atualidade para

delimitar as linhas de pobreza a partir do atendimento das necessidades nutricionais

mínimas baseadas na cesta básica (ROCHA, 2003).

A determinação da pobreza utiliza como parâmetro para sua mensuração

o consumo de itens considerados mínimos para o atendimento da necessidade

humana elementar de alimentação a partir da composição da cesta básica, havendo

assim o reconhecimento da renda como principal determinante do nível de bem

estar da população (ROCHA, 2000). Sendo assim, a incidência da pobreza passa a

ser determinada com base na capacidade de consumo alimentar dos indivíduos e

famílias e a delimitação das linhas de pobreza também pode ter sua origem na

ingestão mínima de nutrientes (calorias, proteínas e outros), sendo a determinação

das necessidades nutricionais fundamental no estabelecimento de tais linhas, já que

os requerimentos nutricionais são considerados o fundamento conceitual mais sólido

quando o assunto é a definição do nível de consumo mínimo das pessoas (ROCHA,

2003). Por sua vez, SEN 2000, tem a visão da pobreza como uma forma de privação

das capacidades básicas do indivíduo, ao contrário da indicação de baixo nível de

renda que o autor considera tradicional de identificação de pobreza (SEN, 2000).

Sob a ótica acima são identificados dois subgrupos, indigentes e não

indigentes, em que os indigentes são apontados como aqueles que não alcançam

um rendimento mínimo suficiente para consumir os itens da cesta básica e não

indigentes os que obtêm este mínimo (ROCHA, 2000). A perspectiva da subsistência

25

sofre críticas devido à abordagem das necessidades humanas serem de predomínio

no aspecto físico não atendando-se para o papel social e coletivo desempenhado

pelos indivíduos (TOWSEND apud CODES, 2008). A dimensão da pobreza

alicerçada unicamente em renda para atender necessidades básicas de alimentação

também deixa à margem diversos aspectos como: saneamento básico, educação,

saúde, segurança pública e outros que vão se coadunar ao conceito que se segue

na busca de uma visão mais ampla que possa abranger outras expectativas.

Por outro lado, a noção das necessidades básicas comporta uma

abordagem multifacetada da pobreza, incluindo dois grupos de elementos.

Primeiramente, certo mínimo de requerimentos de uma família para consumo

próprio: comida, moradia, vestimentas, assim como mobílias e equipamentos.

Segundo, o conjunto de necessidades referentes aos serviços essenciais

disponíveis para uma comunidade local, como água potável, saneamento básico,

transporte público, saúde, educação e acesso à cultura (ROCHA, 2003). A visão das

necessidades básicas enfatizando recursos mínimos requeridos para sobrevivência

é uma extensão do conceito a partir da subsistência e ambos os conceitos levam em

consideração a alimentação como necessidade elementar dos indivíduos levando a

crer que a segurança alimentar está interligada à situação de pobreza das famílias.

O conceito de pobreza baseado nas necessidades básicas demonstra

dificuldades na operacionalização de políticas públicas que buscam minimizar os

quadros de pobreza por ser caracterizado pela aceitação de algumas precondições,

ainda que limitadas, para a sobrevivência e prosperidade da população, uma vez

que as necessidades não podem ser definidas de maneira adequada apenas por

referência aos aspectos individuais físicos e às provisões de serviços requeridos

pela comunidade (CODES, 2008).

Na concepção da privação relativa, são considerados pobres aqueles que

não podem obter, total ou parcialmente, recursos e condições de vida como

alimentação adequada, conforto e serviços que lhes proporcione desempenhar

papéis, relacionar-se com os outros e seguir o comportamento que lhes é esperado

enquanto membros da sociedade (CODES, 2008).

A pobreza passa a ser tratada aqui como privação de capacidades e está

inserida no campo da justiça social, nas discussões sobre as igualdades e

desigualdades, abrangendo a relevância dos fatores socioeconômicos, enfatizando

as conotações legais, as implicações políticas e sua pertinência social (SEN, 2000).

26

A pobreza não deve ser somente critério padrão da escassez de renda e sim ser

interpretada como privação das denominadas “capacidades básicas” que são

fundamentadas nas liberdades substantivas dos indivíduos em levar o tipo de vida

que valorizam.

O desenvolvimento é identificado principalmente por cinco elementos

como o crescimento do PIB (produto interno bruto), aumento da renda per capita,

industrialização, avanço tecnológico ou modernização (RIBEIRO, MENEZES, 2008).

Mas, as liberdades são essencialmente determinadas por saúde, educação e

direitos civis (RIBEIRO, MENEZES, 2008). Torna-se possível perceber que o

desenvolvimento como expansão de liberdades substantivas direciona as atenções

para os fins que o tornam importante e não para os meios (SEN, 2000).

A incapacidade de obter alimentos e bens por parte de alguns grupos da

população por meio de mecanismos como produção própria, disponibilidade de

empregos, sistema de preços e constituição de reservas públicas gera fome e

miséria afastando a ideia de que a escassez de renda é a única responsável por tal

situação (SEN, 2000). No entanto, a baixa renda ainda é considerada uma das

maiores causas da pobreza, já que sua falta pode ser a principal justificativa para

privação de capacidades das pessoas. A capacidade para o trabalho e a obtenção

de renda a partir dele é a principal posse da maioria da humanidade, e por

consequência, a capacidade para adquirir alimentos e outros bens, caso estas

capacidades estejam comprometidas será gerado um quadro em que a principal

manifestação é a fome e a miséria que caracterizam a insegurança nutricional (SEN,

2000).

A pobreza em um sentido geral é um fenômeno multidimensional e

complexo (CODES, 2008), que se refere a situações em que as necessidades

humanas não são completamente satisfeitas e em que diferentes fatores encontram-

se interligados. No entanto também é possível definir pobreza como resultada do

nível e da forma de distribuição dos recursos totais de uma sociedade entre sua

população (MEDEIROS, 2001). Por sua vez a pobreza é definida como a falta do

que é necessário para o bem-estar material, em especial alimentos, moradia, terra e

outros, denotando a ausência de recursos múltiplos que levam à fome e à privação

física (CRESPO, GUROVITZ 2002). A segurança alimentar está relacionada à

pobreza já que é um dos componentes das necessidades básicas que não são

plenamente supridas.

27

Pobres são aquelas pessoas que não suprem permanentemente suas

necessidades humanas elementares como comida, moradia, vestimenta, educação,

cuidados com a saúde etc. (MONTEIRO, 1995). Pobre também significa não ter os

meios mínimos necessários para agir de modo satisfatório no conjunto social em que

se vive (ROCHA, 2000). Ser pobre também pode ser entendido como falta de

acesso aos representantes públicos que têm como obrigação primordial elaborar

políticas públicas que tenham impactos concretos sobre as diversas manifestações

de pobreza que vão desde a fome até a ausência de capacidades que não permitem

oportunidades aos indivíduos de alcançarem um nível de bem estar que almejem.

Ao passo que, a pobreza é compreendida como uma situação de falência das

capacidades dos indivíduos e famílias em alcançarem tais necessidades que pode

ser reconhecida como insegurança alimentar (BURLANDY, 2007). A insegurança

alimentar está intensamente relacionada às necessidades básicas por ser um

sinônimo de pobreza e por tornar clara uma situação que por ser considerada

elementar esteja tão distante de soluções que podem não ser tão complexas e

aguardam um olhar menos limitado e mais voltado para uma realidade que reflete

constantemente um cenário de desigualdades e privações (ROCHA, 2003).

O grau de pobreza de uma nação pode determinar o cenário de SAN e

por isto a segurança alimentar e nutricional deve estar alicerçada nas capacidades e

nas liberdades dos indivíduos evitando-se a “ênfase excessiva dada à pobreza e à

desigualdade medidas pela renda, em detrimento das privações relacionadas a

outras variáveis” (SEN, 2000) como falta de emprego, morbidez, baixo nível de

instrução e exclusão social. A relação de desigualdade de renda e desigualdade em

outros fatores importantes pode estar muito distante e limitado devido às diversas

influências econômicas – além da renda – que interferem nas desigualdades de

vantagens individuais e liberdades substantivas (SEN, 2000). As liberdades de

transações mercadológicas como comprar e vender ou mesmo trocar bens

buscando um tipo de vida que possam prosperar também é um relevante aspecto a

ser considerado na segurança alimentar e nutricional (SEN, 2000).

28

1.2 A dimensão da sustentabilidade para segurança alimentar e nutricional

Para que a visão de pobreza como argumento de interferência nos níveis

de SAN em um país, território, comunidade e outros seja buscado como fator de

minimização de insegurança alimentar, seu conceito pode também aliar-se a

sustentabilidade tanto no aspecto ambiental como social.

A sustentabilidade implica que a satisfação das necessidades de

alimentos de um povo em curto prazo não deve gerar exploração dos recursos

naturais que envolvam disponibilidade de alimentos em períodos extensos (SILVA,

CARVALHO, SACHS, 2010), embora para que a sustentabilidade possa ser

compreendida por um crescimento econômico acelerado que pode levar a

ocorrência de desmatamento florestal, exaustão de reservas minerais e extinção de

algumas espécies de animais (SOUZA, 1995). Tais afirmações trazem à tona a

exacerbação de um cenário onde a questão ambiental revela a destrutividade

peculiar ao modo capitalista de produção havendo necessidade de ressaltar a

necessidade de unidade entre sustentabilidade ambiental e sustentabilidade social

como um eixo importante nesta conceituação (MOTA, SILVA, 2009). A dimensão

social é secundarizada, tratada de maneira genérica e apenas como meio de

promoção de uma sociedade ambientalmente sustentável, o que acaba

comprometendo a desigualdade social que fica desvinculada da dimensão ecológica

(MOTA, SILVA, 2009).

A dialética sobre o desenvolvimento sustentável é muito complexa e ainda

em evolução, em que a necessidade de união entre os diversos pilares que

sustentam este contexto apresenta-se frágil e com inúmeras “frestas” a serem

preenchidas. Para Sachs (2004) o desenvolvimento vai muito além da mera

multiplicação de riqueza material baseada no crescimento econômico reducionista e

concentrador de renda. Para este autor o desenvolvimento sustentável tem cinco

pilares, a saber: I) – social, essencial para evitar a ameaça de uma ruptura de

valores sociais; II) – ambiental, que sustenta a vida com seus recursos e como

recipiente para receber nossos resíduos; III) – territorial que diz respeito a divisão

espacial para os habitantes e suas atividades; IV) – econômico como condição

indispensável para o acontecimento das coisas e V) – político como instrumento

necessário para fazer as coisas acontecerem (SACHS, 2004).O desenvolvimento

sustentável compreende uma condição de crescimento ininterrupto de uma

29

economia, “de modo a permitir uma razoável distribuição concreta da riqueza social

através da ampliação do acesso das populações à satisfação de necessidades

básicas como saúde, educação, energia, água e saneamento” (BORGES, 2007).

A sustentabilidade é um dinâmico balanceado e evolutivo processo no

qual a gestão de recursos naturais é a base para o desenvolvimento econômico e

social das coletividades (VASCONCELOS, ROCHA, LADISLAU, 2009). No entanto a

sustentabilidade está comprometida pelo estilo de vida e consumo exagerado da

sociedade que gera lucros e riqueza para uma minoria e desfavorece uma grande

maioria que é considerada culpada pela denominada poluição da pobreza

(PORTILHO, 2005). Se por um lado, o ambiente natural está sofrendo uma

exploração intensa que ameaça a manutenção dos seus sistemas de sustentação

(exaustão de recursos renováveis e não renováveis, empobrecimento do solo,

redução de florestas, poluição da água e do ar, etc.). Por outro lado, os “louros”

colhidos por essa exploração excessiva não são divididos equitativamente e

somente uma pequena parcela da população mundial se beneficia dessa riqueza

(PORTILHO, 2005).

De acordo com o relatório da ONU (2011) a sustentabilidade deve atender

o principio da equidade onde todas as pessoas têm o direito de suprir suas

necessidades, através do acesso aos recursos naturais e aos serviços públicos. E

deve ser primordial a atenção dada aos pobres, mulheres, crianças, povos indígenas

ou sob opressão, sendo necessários grandes esforços para erradicação da pobreza

e redução das disparidades sociais. Entretanto, Portilho (2005) chama a atenção

para o fator consumo onde a economia humana está excedendo a capacidade de

reprodução natural e processamento de resíduos gerados na ecosfera, enquanto

fazemos uso das riquezas produzidas de maneira desigual e injusta. Os dois eixos

considerados pela autora, uso indevido e excessivo dos recursos naturais e

iniquidade entre a distribuição dos benefícios oriundos dessa exploração, conduzem

a uma reflexão sobre a insustentabilidade ambiental e social dos atuais níveis de

consumo e seus processos éticos normativos (PORTILHO, 2005).

O aspecto ambiental refere-se à capacidade do sistema em manter em

longo prazo, sem provocar a destruição da base de recursos e sem que as

externalidades representem restrições ao seu funcionamento (SOUZA, 1995). Por

sua vez, os problemas ambientais não estão restritos à produção citando que este

não será resolvido nesta esfera, já que a demanda dos consumidores, por meio de

30

suas escolhas é que poderão mudar o sistema produtivo, bem como seus

comportamentos individuais, como, por exemplo, com relação ao destino dos

dejetos, desperdício de bens pós-consumo e uso de transporte individual que

incrementa a emissão de gases poluentes (PORTILHO, 2005).

O significado da sustentabilidade em um país refere-se a manutenção da

capacidade de produção nacional para que sejam garantidas a renda e a segurança

alimentar, e mesmo a possibilidade de troca inter-regional de produtos e conservada

a base de recursos a nível mundial está relacionada aos circuitos alimentares que

devem garantir a segurança alimentar de seus habitantes, levando em consideração

as diferenças regionais e culturais, bem como garantir a rentabilidade das trocas

comerciais, tendo a base de recursos globais mantidas (AZEVEDO, 2002). Neste

contexto o conceito está ligado ao acesso e disponibilidade. No entanto, “vivemos

em um mundo assolado por fome e subnutrição disseminadas e por repetidas fomes

coletivas” (SEN, 2000) e para se eliminar a fome no mundo é crucial analisá-la

quanto ao aspecto das liberdades substantivas onde os indivíduos e famílias

possam estabelecer a propriedade de uma quantidade adequada de alimento,

através do cultivo da própria comida ou adquirindo-a no mercado, deixando claro

que uma pessoa pode passar fome onde haja abundância de alimentos por não ter

renda potencial para comprá-lo (SEN, 2000). Para isto o enfoque deve ser dado ao

poder econômico e a liberdade substantiva dos indivíduos e famílias para adquirir

alimento suficiente, e não apenas sobre a quantidade de alimento disponível em seu

país em questão (SEN, 2000).

As pessoas são expostas a fome quando não conseguem estabelecer seu

entitulamento sobre uma quantidade correta de alimentos e o que determina este

entitulamento em primeiro lugar é a dotação que se refere à propriedade de recursos

produtivos e de riqueza, onde para maior parte da humanidade a única dotação é a

força de trabalho; o segundo elemento consiste nas possibilidades de produção e

seu uso que estão relacionados a tecnologia que determina as possibilidades de

produção que sofrem interferências do nível de conhecimento das pessoas para

usá-las de forma efetiva; o terceiro e importante ponto diz respeito às condições de

troca que se refere ao potencial para vender e comprar bens, bem como os preços

relativos dos diferentes produtos, já que “as fomes coletivas podem acontecer

mesmo sem nenhum declínio na produção ou disponibilidade de alimentos” (SEN,

2000) onde um trabalhador é exposto a fome devido ao desemprego, aliado a

31

ausência de um sistema de seguridade social que lhe disponha recursos como o

seguro desemprego.

O desequilíbrio entre os pilares da sustentabilidade como o político,

econômico, social e ambiental pode engendrar em diversos países um cenário de

insegurança alimentar que pode tomar proporções catastróficas prejudicando

inúmeros cidadãos ao expô-los à incapacidade de suprir a necessidade básica de

alimentação. A ênfase nas liberdades e entitulamento indicada por Amartya Sen é

necessária para o estabelecimento de fortes ligações entre os pilares da

sustentabilidade supracitados buscando-se a equidade, a erradicação da pobreza e

a justa distribuição de renda tão intensamente citada e discutida nos conceitos de

desenvolvimento sustentável / sustentabilidade, levando-nos a refletir que a teoria

deve ser transformada em prática cotidiana em todos os polos do planeta. Deve-se

repensar também as atitudes e comportamentos de consumo e pós-consumo para

uma contribuição generalizada e consciente dos habitantes que são dotados de

poder de consumo e responsáveis pela denominada “poluição da riqueza” para uma

melhoria do ambiente como um todo.

1.3 A perspectiva biológica da segurança alimentar e nutricional

Neste tópico a SAN será discutida no âmbito da saúde tanto no que diz

respeito ao organismo e suas necessidades nutricionais e energéticas para a

manutenção do seu funcionamento, quanto para a questão sanitária que objetiva

promover a saúde e evitar doenças.

A dimensão biológica da SAN apresenta duas vertentes principais: a do

estado nutricional diretamente ligado ao consumo de alimentos e a da inocuidade

sanitária do alimento consumido e, ambas tem suas peculiaridades que influenciam

de maneira intensa na segurança alimentar dos indivíduos em todas as etapas de

suas vidas.

O estado nutricional é comumente conceituado com “condição de saúde”

dos indivíduos, sendo determinado pelo nível de consumo e aproveitamento dos

nutrientes, identificada pela correlação de informações obtidas de estudos físicos,

bioquímicos, clínicos e dietéticos (VASCONCELOS, 2008). Ou como um quadro

resultante do equilíbrio entre o suprimento de nutrientes de um lado e o gasto do

32

organismo de outro. Ao passo que, para Silva Júnior (2008) o organismo é

considerado saudável quando a necessidade alimentar é suprida obedecendo às

quatro leis básicas da nutrição: lei da qualidade, da quantidade, da harmonia e da

adequação (MEZOMO, 2002).

Com relação à lei da quantidade o indivíduo deve consumir diariamente

alimentos o suficiente para o funcionamento do organismo, manutenção da saúde e

preservação da espécie; os alimentos devem estar completos em sua composição

que inclui todos os nutrientes (carboidratos, proteínas, lipídios, vitaminas e sais

minerais) o que estabelece a qualidade da alimentação (MEZOMO, 2002).

No que diz respeito à harmonia a distribuição dos nutrientes devem ser

respeitadas conforme a necessidade de cada pessoa e no que se refere à lei da

adequação a alimentação deve ser individualizada, ou seja, adequada a cada

pessoa e levando em consideração fatores como peso, estatura, clima, idade, sexo,

disponibilidade de alimentos, poder aquisitivo e estado de saúde (MEZOMO, 2002).

A segurança alimentar está relacionada ao controle das doenças

nutricionais, condição que tem sofrido melhora nos últimos anos como resultado dos

investimentos na área de nutrição e programas de combate à fome proporcionando

controle de doenças carenciais e ao controle higiênico sanitário dos alimentos

direcionado ao tema “food safe” (alimento seguro), em que se pesquisa o controle

dos perigos biológicos, químicos e físicos a que os alimentos estão expostos

(REGO, 2001). A segurança alimentar é o acesso assegurado do indivíduo a

alimentos livres de contaminação por microrganismos que causem doenças, em

quantidade necessária que atendam suas necessidades nutricionais levando em

consideração seus hábitos alimentares, de modo a garantir uma vida saudável

(REGO, 2001). Seguindo esta ótica da higiene sanitária dos alimentos a segurança

alimentar tem como objetivo primordial disponibilizar alimentos com o mínimo

aceitável de agentes patogênicos, minimizando assim os riscos de doenças

transmitidas por alimentos.

A lei n.º 11.346 de 15 de setembro de 2006 “estabelece as definições,

princípios, diretrizes, objetivos e composição do Sistema de Segurança Alimentar e

Nutricional – SISAN” (BRASIL, 2004) e em seu artigo 4º preconiza: “a garantia da

qualidade biológica, sanitária, nutricional e tecnológica dos alimentos e estilo de vida

saudáveis que respeitem a diversidade étnica e racial e cultural da população”,

enfatizando assim a importância da atenção a segurança alimentar no que diz

33

respeito aos cuidados com a saúde tanto do ponto de vista da inocuidade do

alimento quanto do aproveitamento de nutrientes pelo organismo gerando um

equilíbrio do estado de saúde do indivíduo. Embora Benício (1997) chame atenção

para a influência decisiva que a nutrição impõe sobre a saúde infantil, no qual um

bom estado nutricional depende dentre outros aspectos como a realização plena do

potencial de crescimento e desenvolvimento do organismo da criança, sua

capacidade de reagir a doenças, e suas próprias chances de sobrevivência.

Ao passo que, a alimentação e a saúde estão interligadas a duas

situações importantes, a composição nutricional do alimento e sua segurança em

relação ao controle higiênico sanitário, sendo a alimentação fundamental no

desenvolvimento e crescimento físico de um povo, produtividade no trabalho e

capacidade de aprendizado (SILVA JR., 2008). O autor ainda salienta que a saúde

está diretamente relacionada com uma alimentação adequada e seu desequilíbrio

pode acarretar diversos problemas desde a carência nutricional, diabetes,

hipertensão arterial, distúrbios cardiovasculares, raquitismo, queda na imunidade e

outros (SILVA JR. 2008).

Segurança alimentar significa ter acesso a uma quantidade adequada de

alimentos saudáveis e seguros, sendo a segurança alimentar uma das dezoito

metas mencionadas em um programa do Governo Federal dos Estados Unidos da

América para 2010, em que o autor cita que apesar dos dados sobre obesidade e

sobrepeso no país, uma parcela da população também está em risco de fome e

nutrição precária (MAHAN, ESCOTT-STUMP, 2005). Todavia, CARDOSO (2005)

destaca que diversos problemas de saúde pública no mundo atual decorrem de

múltiplos fatores e dentre eles as de origem alimentar e seus efeitos, o incremento

dos grupos populacionais vulneráveis (idosos, subnutridos e imunodeprimidos), a

constante e crescente industrialização e o aumento da produção em massa, levando

ao aumento de contaminação dos alimentos e a melhora da consciência do

consumidor sobre segurança alimentar.

O estado nutricional e sua consequente segurança nutricional é uma

condição de saúde que decorre do acesso adequado do indivíduo aos alimentos e

ao processo de nutrição, que por sua vez é determinado pela ingestão, absorção,

utilização e excreção de nutrientes (ANTÔNIO, MENDES, 2010). Embora de acordo

com o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (2007) a

insegurança alimentar e nutricional são situações que podem ser verificadas por

34

meio de vários problemas, tais como fome, obesidade, doenças associadas à má

alimentação e ao consumo de alimentos de qualidade incerta ou prejudicial à saúde.

Ao passo que para SILVA (2010) uma das condições primordiais para a promoção e

manutenção da saúde é o consumo de alimentos dentro dos padrões higiênico

sanitários, evitando-se assim ocorrência de Doenças Transmitidas por Alimentos

(DTA). Todavia “segurança alimentar é a garantia de acesso ao consumo de

alimentos, abrangendo todo o conjunto de necessidades para a obtenção de uma

nutrição adequada à saúde” (ARTUR, 2004). Os alimentos são considerados

íntegros e seguros quando estão próprios para o consumo humano atendendo aos

critérios de não causar infecção ou intoxicação alimentar quando manipulados e

preparados de maneira adequada (ARTUR, 2004). Esta definição é respaldada pela

definição contida no “Códex Alimentarius” que se refere à segurança alimentar a

partir de práticas de higiene que gerem produtos isentos de microorganismos

patogênicos ou de quaisquer outras toxinas substâncias tóxicas ou prejudiciais em

quantidades que representem um perigo para a saúde.

Entende-se por segurança alimentar o acesso através dos meios

socialmente aceitáveis a uma dieta qualitativa e quantitativa adequada às

necessidades humanas de cada indivíduo e que todos os membros da família se

mantenham saudáveis e a insegurança alimentar é compreendida como uma

percepção de preocupação e angústia diante da incerteza de acesso constante a

comida, até a vivência de fome, percorrendo a perda da qualidade nutritiva,

diminuindo a diversidade de alimentos bem como sua quantidade (BICKEL et al,

2000).

A ênfase dada às necessidades do organismo em ser alimentado em

adequação aos princípios nutricionais e a referência à higiene dos alimentos com

vistas a prevenir doenças são focos importantes na segurança alimentar, porém

deixam à margem aspectos cruciais à uma vida digna e saudável como a

insuficiência de renda, a inacessibilidade aos alimentos, a pobreza absoluta, o

alcance parcial das políticas públicas a todos os habitantes de um país, a falta de

incentivo as pequeno agricultor, a alta produtividade das monoculturas que visam

em sua maioria o mercado internacional não gerando emprego e renda em níveis

adequados nos locais em que se situam e tantos outros aspectos que colaboram

para um cenário de insegurança alimentar que assola milhares de pessoas no

mundo.

35

1.4 Segurança alimentar e nutricional sob a ótica da disponibilidade

A disponibilidade de alimentos traz consigo um elemento inseparável que

é o acesso aos mesmos, já que uma quantidade adequada de alimentos não implica

na capacidade de todos os indivíduos em adquiri-los e por vezes pode ocorrer da

população ter condições econômicas para suprir a necessidade alimentar e não

encontrar no mercado o alimento de que precisa ou deseja comprar.

O tema segurança alimentar e nutricional (SAN) é muito amplo,

envolvendo aspectos tanto de oferta (produção, abastecimento, comercialização),

como de demanda (aproveitamento e aquisição) de alimentos. O conceito de SAN

visa também garantir o acesso a alimentos básicos em quantidade suficiente, porém

sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais (CUSTÓDIO et al,

2011).

De acordo com Pinto (2008) a dimensão da disponibilidade está

direcionada para existência de alimentos em quantidade e qualidade suficientes que

possa suprir as necessidades de consumo da população, sendo fornecida por meio

da produção doméstica, das importações ou da ajuda alimentar (BARRET, 2006). Já

a dimensão do acesso vem de encontro à capacidade dos indivíduos de apropriar-se

dos alimentos adequados às suas necessidades orgânicas através de recursos que

sejam suficientes (PINTO, 2008). A escassez desses recursos pode ser determinada

por razões econômicas, que ocorre quando as pessoas não têm oportunidades para

produzir o suficiente para o próprio consumo e nem ao menos comprá-los no

mercado por escassez de rendimentos (SEN, 2000).

Uma parcela considerável da população mundial têm ainda níveis de

consumo e condições de acesso aos alimentos totalmente insuficientes,

esclarecendo assim a persistência de uma importante subalimentação que pode

estar ligado ao menor crescimento agrícola (CHONCOL, 2005). Por outro lado,

mesmo quando o estoque de alimentos diminui de forma intensa em um país ou

região, todos podem ser salvos da fome através de uma divisão adequada dos

alimentos disponíveis com a criação de emprego e renda adicionais para as

prováveis vítimas da fome (SEN, 2000). De acordo com o autor a importância maior

deve ser direcionada para o poder econômico e a liberdade substantiva das pessoas

36

e famílias para comprar alimento suficiente, e não somente sobre a quantidade de

alimento disponível (SEN, 2000).

A dimensão da disponibilidade apresenta três atributos: 1 ) suficiência,

estabilidade e autonomia. Para que exista segurança alimentar, faz-se necessária

que a disponibilidade de alimentos seja suficiente em que a oferta seja capaz de

atender as necessidades de consumo. 2) Entretanto o sistema alimentar deve ser

estável, sem flutuações na oferta e na demanda de alimentos que possam ameaçar

o atendimento adequado das necessidades alimentares.3) O último atributo é o da

autonomia para que não se dependa incondicionalmente de importações para suprir

a demanda de alimentos (MALUF, MENEZES, VALENTE, 1996). Por sua vez, a

segurança alimentar é condicionada a estrutura produtiva do Brasil. A produção

agrícola apresenta grandes oscilações comprometendo a estabilidade na

disponibilidade de alimentos, perdas consideráveis no trajeto do campo até o

consumidor final caracterizando o enorme desperdício. Estas perdas somadas aos

fatores de importação de cereais, diminuição na produção de alimentos domésticos

(arroz, feijão, mandioca, milho) denota a falta de autonomia que resulta na elevação

dos preços e dificulta o acesso da maior parte da população que não detém de

renda salarial suficiente que possibilite adquirir os alimentos necessários para

subsistência, expondo esta parcela considerável da população a situações de fome

ou insegurança alimentar (GALEAZZI, 1996).

Todavia a segurança alimentar deve ser afirmada dentro da centralidade

da questão do acesso aos alimentos, tanto nos casos em que tal acesso é irregular

ou insuficiente, onde surge a fome, como nos casos em que o acesso é custoso e

compromete grande parte da renda total, prejudicando a obtenção dos demais

componentes necessários a uma vida digna (MALUF, 1995). Por conseguinte, o

destaque mais frequente na disponibilidade física deve adicionar-se a questão do

preço relativo dos alimentos vis-à-vis o poder aquisitivo dos salários ou outras

formas de renda da população (MALUF, 1995).

A Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional (LOSAN) preconiza

o seguinte em seu artigo:

I – Ampliação das condições de acesso aos alimentos por meio da produção, em especial da agricultura tradicional e familiar, do processamento, da industrialização, da comercialização, incluindo-se os acordos internacionais, do abastecimento e da distribuição dos alimentos, incluindo a água, bem como da geração de emprego e redistribuição de renda;

37

É grande a atenção dada ao acesso a uma alimentação adequada

baseado nos meios de produção e distribuição de alimentos e se inclui a

necessidade de se sustentar o binômio acesso / disponibilidade através da geração

de recursos financeiros para atender a necessidade de alimentação. Por sua vez

SEN (2000) salienta que as finalidades econômicas são oportunidades para os

indivíduos utilizarem recursos econômicos com a finalidade de consumo, produção

ou troca em que as disposições sociais podem assegurar de maneira decisiva a

expansão das liberdades individuais para realizar trocas e transações que propiciem

maior segurança alimentar (SEN, 2000).

No Brasil as questões relacionadas ao tema acesso e disponibilidade

estão sendo tratados no cerne de algumas políticas como o Programa Fome Zero

instituído pelo governo federal em 2000 (MDA, 2011).

O programa apresenta em seu primeiro eixo a ênfase no acesso aos

alimentos através de programas e ações de transferência de renda, alimentação e

nutrição, bem como acesso à informação e educação buscando minimizar a

insegurança alimentar à população em vulnerabilidade social e na tentativa de

manter a disponibilidade de alimentos visa em seu segundo eixo o fortalecimento da

agricultura familiar realizando ações específicas que promovam a geração de renda

no campo e o incremento da produção de alimentos para o consumo (MDA, 2011).

O enfoque na produção agroalimentar como componente primordial para

a segurança alimentar e nutricional é direcionado especialmente para políticas e

ações públicas que buscam principalmente a promoção do desenvolvimento

municipal ou regional e em países com intensa desigualdade social, como o Brasil, o

destaque ao aspecto do acesso aos alimentos implica colocar em primeiro plano as

iniciativas direcionadas à criação de oportunidades e trabalho e à geração de renda,

que são determinantes fundamentais para que a grande maioria da população possa

ter acesso aos alimentos. É claro que não se pode concluir que a outra face do

problema de insegurança nutricional está equacionada, ou seja, a disponibilidade de

alimentos, que mesmo em países com elevado potencial produtivo como o Brasil

pode apresentar gargalos importantes que comprometem o acesso igualitário a

produção agroalimentar a todos os seus habitantes (MALUF, 1996).

No entanto a abordagem da fome como sendo ocasionada unicamente

pela falta de oferta de alimentos foi abandonada, considerando-se então todos os

38

processos que interferem na produção de alimentos e no percurso desses desde os

campos até as mesas dos consumidores (AZEVEDO, 2002). Ao passo que, para

SEN (2000): “Negar às pessoas as oportunidades econômicas e as consequências

que os mercados oferecem e sustentam pode resultar em privações” desta forma

fica demonstrado que a disponibilidade, acesso e processos envolvidos na produção

agroalimentar não podem por si só garantir segurança alimentar e nutricional a uma

população, há outros fatores envolvidos que podem concorrer para estes estados

como as liberdades substantivas e instrumentais, as capacidades e os

entitulamentos dos indivíduos (SEN, 2000).

1.5 A dimensão cultural da segurança alimentar e nutricional

A alimentação é dotada de inúmeros significados que vão desde a

necessidade básica de sobrevivência, a promoção e manutenção da saúde através

do suprimento dos requerimentos nutricionais de carboidratos, proteínas, lipídios,

vitaminas e sais minerais, hábitos, tabus alimentares, crenças e tradições que tem

influência direta ou indireta na segurança alimentar dos indivíduos.

Alimentar-se não é somente um ato individual há relações sociais que

permeiam este evento em especial a relação familiar que une as pessoas e

transmite de geração à geração os modos de se preparar a comida, os pratos que

se consomem e que representam uma região específica (MARCHINI, 2008). “O ato

de alimentar-se deve estar inserido no cotidiano das pessoas como um evento

agradável e de socialização” (MARCHINI, 2008) em que as práticas alimentares

sejam saudáveis priorizando o resgate de hábitos alimentares regionais em especial

o consumo de alimentos in natura que estejam sendo produzidos na localidade e

culturalmente referenciados (MARCHINI, 2008). Ao passo que, para Santos (2005)

alimentar-se é um ato nutricional, comer é um ato social constituído de atitudes

ligadas aos usos, costumes, protocolos, condutas e situações (SANTOS 2005).

Entende-se por cultura um sistema simbólico importante por seus próprios

elementos que se relacionam internamente, caracterizando um sistema geral com

símbolos básicos em torno dos quais ela se organiza (GEERTZ, 1989). No entanto,

de acordo com LARAIA (2001): “a cultura é como uma lente através da qual o

39

homem vê o mundo” e este fato tem como consequência principal a propensão em

considerar o seu modo de vida como o mais correto e natural, surgindo então a

necessidade de levar em consideração os hábitos culturais para promoção da

segurança alimentar e nutricional com especial atenção na elaboração e

implementação de políticas públicas que apresentem este objetivo.

“A cultura em um sentido mais amplo, molda a seleção de alimentos,

impondo as normas que prescrevem, proíbem ou permitem o que comer”

(CANESQUI, 2005) sobrepondo as interferências das indicações de alimentos

específicos para uma vida saudável, a acessibilidade e a produção massificada que

intensifica a oferta alimentar (CANESQUI, 2005).

De acordo com Canesqui (2005) os indivíduos não se alimentam somente

de quantidades em que estão incluídas as calorias e nutrientes dos alimentos, existe

uma relação de escolhas, rituais que denotam sociabilidade, com ideias e

significados que resultam em interpretações e experiências próprias e individuais.

A comida e o comer são fartos de significados e isso não nos permite

esquecer que comer também é uma necessidade vital e de acordo com o meio e a

sociedade em que vivemos, a forma como ela se organiza e se estrutura, produz e

dispõem os alimentos (CANESQUI, 2005). Comemos também em consonância com

a distribuição da riqueza na sociedade, os grupos e classes de pertencimento,

marcados por diferenças, muitas vezes extremas, hierarquias, estilos e modos de

comer, transpassados por representações coletivas, imaginários e crenças

(CANESQUI, 2005). A necessidade vital de alimentar-se é comumente

negligenciada pela distribuição desigual de renda e esquecida pelas políticas

públicas que não alcançam de maneira adequada todos os indivíduos constantes no

cenário de insegurança alimentar e nutricional presente Brasil e no mundo.

No Brasil conforme prevê a lei nº 11.346, de 15 de setembro de 2006 que

criou o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN) as políticas

públicas devem ser implementadas “com estratégias sustentáveis e participativas de

produção, comercialização e consumo de alimentos, respeitando-se as múltiplas

características culturais do País” (MEC, 2012).

O consumo alimentar está interligado ao mercado e aos mecanismos

econômicos globais que dependem de preços, custos e rendas, porém a sociedade

como um todo está condicionada por fenômenos de ordem cultural como a

40

preferência alimentar, tolerâncias, aquele alimento que se exclui e os que não se

gosta (SANTOS 2005).

Comer também diferencia um grupo social de outro já que “é mais do que

um simples ato biológico: é também um ato que marca fronteiras de identidade”

(KRONE, 2012). Existe uma estreita relação entre alimentação e cultura que se

torna visível em certas características como: que tipo de comida se come, quando se

come, como se come e com quem se come e as formas de valoração por cada

grupo social a este momento (KRONE, 2012).

Atualmente o cenário de insegurança alimentar constante em nosso país

e no mundo não permite a inúmeros indivíduos a liberdade de escolher entre valorar

ou não o ato de comer reduzindo-o simplesmente a uma necessidade básica de

sobrevivência que nem sempre é atendida.

Cada sociedade, no decorrer de sua história, constrói em diversas

práticas alimentares que formam seu patrimônio cultural (MENEZES, 2001). Tais

tradições, relativas a cada grupo social, faz com que as pessoas se reconheçam

como integrantes do mesmo tecido social em que as escolhas e práticas culinárias

identificam regiões e locais de existência e os costumes de uma sociedade

(MENEZES, 2001).

Nos dias atuais os hábitos alimentares, as técnicas culinárias e os

costumes sofrem grande influência de um mercado cada vez mais modernizado e

dinâmico que exige dedicação intensa das pessoas ao trabalho, provocando

alterações das práticas culinárias saudáveis, a simplificação da dieta que se reduziu

em relação à mesa farta, diminuição da agricultura familiar indicando um

empobrecimento da qualidade nutricional (BALEM, SILVEIRA, 2005).

Desde o final do século passado, ocorre uma ruptura radical dos sistemas

alimentares. A urbanização acelerada transforma progressivamente os hábitos

alimentares e estes efeitos culturais, econômicos e sociais são sentidos nos padrões

alimentares em que a comida rápida e supostamente mais segura como no caso dos

enlatados (refrigerantes, sucos e bebidas isotônicas) é consumida em larga escala

(MENEZES, 2001).

Os grupos sociais mais pobres são comumente mais atingidos por esta

massificação alimentar devido aos altos preços dos alimentos como um todo e os

pequenos produtores também são afetados por encontrarem dificuldade na

comercialização de seus produtos por diversos fatores como a ausência de

41

publicidade, logística, alta valorização das commodities e até mesmo perda dos

clientes para o mercado de alimentos industrializados (MENEZES, 2001).

O agronegócio provocou várias mudanças na cultura de produção

destinada ao consumo familiar diário de alimentos e o agricultor familiar não cultiva

mais alimentos para subsistência, impactando na dieta dos familiares dos

agricultores levando a grande dependência da aquisição de alimentos no mercado

local (BALEM, OLIVEIRA, 2005). Isto pode ocasionar maior dificuldade para compor

as refeições no lar e como consequência pode acontecer insegurança alimentar.

Houve uma simplificação na dieta alimentar cotidiana, levando os custos

com alimentação préprocessada ou processada, simplificando drasticamente a dieta

dos moradores de áreas rurais assemelhando-a a escassa variedade da mesa dos

habitantes de centros urbanos, precarizadas no acesso a uma alimentação rica pelo

fator econômico (BALEM, OLIVEIRA, 2005).

A tradição alimentar é resultado de vários movimentos que comportam

diferentes atores sociais nas relações com a comida, conformando sua identidade,

demonstrando que os fazeres alimentares divulgam o feitio das preparações

culinárias decifrando os significados do sistema alimentar peculiar a um local

(OLIVEIRA, 2009).

Para Oliveira (2009), a comida está alicerçada tanto em razões fisio-

biológicas buscando atender as necessidades nutricionais do ser humano, quanto no

seu universo simbólico, ao passo que atende o imaginário e as relações culturais

dos sujeitos.

No mundo atual que por diversos fatores como ausência de renda,

disponibilidade de alimentos, alterações climáticas extremas, ausência de políticas

públicas e outros, a fome está presente e as necessidades nutricionais mínimas para

sobrevivência e não são atendidas e consequentemente direito a liberdade de

relacionar-se simbolicamente com o ato de alimentar-se é limitado e os indivíduos

são privados de suas relações culturais com o alimento.

42

1.6 A segurança alimentar e nutricional em um contexto mundial

A segurança alimentar e nutricional é discutida no contexto mundial no

âmbito do comércio internacional que tem como diretriz a ênfase no problema de

acesso aos alimentos como principal condicionante da segurança alimentar dos

países e das famílias. O mercado de alimentos é regulado e os países ou são

autossuficientes em sua produção alimentícia ou em certos casos dependem da

ajuda alimentar (MALUF, 2000). Este tratamento é direcionado estritamente à

autossuficiência alimentar em que a garantia de produção de alimentos tem como

objetivo a população não havendo consideração aos outros fatores que interferem e

colaboram para a segurança alimentar como a capacidade dos indivíduos em auferir

renda e a situação socioeconômica das famílias (PINTO, 2008).

Conforme as declarações da ONU a segurança alimentar em nível

mundial está sendo prejudicada pelas regras de comercialização de alimentos

impostas pela OMC (Organização Mundial do Comércio) que não consegue conciliar

as preocupações comerciais com a segurança alimentar, pois o aumento

significativo dos preços dos alimentos impede o combate à fome (ONU, 2011). Por

conseguinte, de acordo com a 4ª Conferência Nacional sobre Segurança Alimentar

realizada em Salvador na Bahia o número de famintos e desprotegidos no mundo

aumentou especialmente pelo encarecimento dos preços dos alimentos,

desemprego e redução de verbas destinadas aos programas sociais (CONSEA,

2011). Há também as alterações climáticas drásticas que aliada a já citada alta dos

preços interfere no abastecimento alimentar em quase todos os países do mundo

afetando o estado nutricional das populações (CONSEA, 2011).

É notório que somente manter alimentos em quantidade e diversidade

suficiente que possa suprir as necessidades alimentares da população mundial não

é capaz de solucionar a insegurança alimentar que percorre o globo terrestre em

suas mais variadas intensidades. A grande proposição da fome não é

exclusivamente de falhas na produção agroalimentar. Faz-se necessário, também,

que a massa desta população disponha de poder de compra para adquirir estes

alimentos (CASTRO, 2003).

A insegurança alimentar aguda ou crônica é tratada mundialmente

através da ajuda alimentar por meio de programas humanitários e na maioria das

vezes o país doador realiza o escoamento dos excedentes de sua produção agrícola

43

e por vezes pode praticar o censurável subsídio corporativo aos grandes produtores,

demonstrando sua fragilidade enquanto instrumento adequado na busca da

segurança alimentar (BARRET, 2006). No entanto, no panorama mundial os

alimentos são compreendidos como meras commodities, o que fornece o avanço do

capital especulativo sobre os sistemas agropecuários acentuando a instabilidade dos

preços e desequilibrando os sistemas de produção e abastecimento sendo que tal

situação interfere intensamente na insegurança alimentar (CONSEA, 2011). As

commodities são constantemente associadas à modernidade e ao capitalismo

financeiro, levando a redução da biodiversidade, já que são cultivadas em extensas

áreas de monocultura, que posiciona os produtores como empresários com visão

voltada somente para o exterior, e não como agentes de segurança alimentar de

seus próprios países (KORNIJEZUKI, 2008).

A dialética mundial sobre a segurança alimentar está voltada para o

desenvolvimento de políticas públicas para redução e eliminação da pobreza,

discurso este que está em consonância com os objetivos do milênio de reduzir pela

metade a proporção da população de pobres e famintos no mundo (CLAY, 2011).

A autossuficiência a partir do aumento da produção de alimentos não é

capaz de garantir de modo isolado a segurança alimentar. Diante de um quadro de

pobreza, desigualdades sociais, desemprego, crises econômicas e até mesmo

fatores climáticos torna-se necessário à atenção a promoção do progresso social e

de melhorias no padrão de vida das populações para combater e minimizar a

insegurança alimentar (VALENTE, 2002).

44

1.7 A segurança alimentar e nutricional no Brasil

No Brasil o tema segurança alimentar e nutricional tem sido considerado

dentro de três conceitos interdependentes e fundamentais com objetivo principal de

elaborar políticas públicas que alcancem resultados satisfatórios e interfiram na

melhora dos índices de insegurança alimentar tão presentes na sociedade brasileira

(CONSEA, 2011). A concepção do direito humano a alimentação adequada e

saudável conduzindo os cidadãos a viver livres da fome, a soberania alimentar é

uma prerrogativa básica de uma população em definirem estratégias e políticas

próprias para combater a fome e caucionar a alimentação e a segurança alimentar e

nutricional e o acesso e disponibilidade de alimentos de maneira estável e

permanente a preços passíveis de alcance a maioria de seus habitantes (CONSEA,

2011).

Para Arruda e Arruda (2007), a segurança alimentar no Brasil é

examinada no âmbito das políticas públicas que buscam interferir de maneira a

minimizar um amplo quadro de insegurança nutricional. O marco referencial se inicia

com a obra de Castro (2003) que realizou uma pesquisa sobre as condições de vida

das classes operárias em Pernambuco, Recife em 1933. A partir de então vários

programas públicos surgiram com o objetivo de combater a fome, subnutrição e

desnutrição como: Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), Programa

Nacional de Alimentação e Nutrição (PRONAN) com vários outros subprogramas, o

Bolsa Alimentação e o Fome Zero (ARRUDA, ARRUDA, 2007).

Castro (2003) organizou a representação de um mapa das áreas

alimentares no Brasil em que o país seria dividido em cinco diferentes espaços:

Primeiro – Área Amazônica que naquele tempo correspondia aos estados do

Amazonas e Pará, parte dos estados do Mato Grosso, Goiás e Maranhão e os

territórios do Amapá e Rio Branco; Segundo – Nordeste açucareiro ou Zona da Mata

Nordestina naquela época abrangendo todo litoral nordestino, do estado da Bahia ao

Ceará, compreendendo uma faixa territorial extensa; Terceiro – Sertão Nordestino

que no período correspondia às terras centrais do estado de Piauí, Ceará, Rio

Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia; Quarto – Centro-

oeste que compreendia os estados de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso e por fim

o Extremo sul que na época era representado pelos estados da Guanabara, Rio de

45

janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul (VASCONCELOS,

2008).

O perfil epidemiológico nutricional delineado por Castro (2003)

demonstrou carências nutricionais marcadas pela desnutrição, hipovitaminoses,

bócio endêmico, anemia ferropriva e outras manifestações que explicitam um

cenário de insegurança alimentar que permeia todas as regiões brasileiras até os

dias atuais em diversos graus (VASCONCELOS, 2008).

A ausência de segurança alimentar e nutricional no Brasil manifesta-se

em todas as regiões de seu extenso território das mais diversas maneiras, todavia

não há problemas de oferta de alimentos, mas um número expressivo de indivíduos

vive em situação de risco por não auferir renda insuficiente para que possam se

alimentar nas quantidades recomendadas e com a qualidade e regularidade

necessárias (MONTEIRO, BENÍCIO, FREITAS, 1997). Porém Maluf (1995) reforça a

concepção da renda como entrave para segurança alimentar e nutricional, mas

confronta a ideia da oferta de alimentos ao expor que o sistema agroalimentar

baseado na produção de grandes indústrias alimentares para exportação não

contribui para baixa nos preços de alimentos básicos dificultando o acesso das

famílias aos mesmos, excluindo grande parcela da sociedade de adquirir alimentos

para manter-se em segurança alimentar e nutricional (MALUF, 1995).

De acordo com as discussões atuais sobre a segurança alimentar e

nutricional há uma afirmação do tema defendido por Maluf (1995) a convergência

das crises alimentar, climática, financeira e econômica no mundo provocam aumento

nos preços dos alimentos e são ameaças a segurança alimentar.

Para Pimentel (2007) “o país produz mais do que o necessário para

atender as demandas alimentares de sua população, mas não consegue promover

distribuição equitativa desses alimentos”, sendo então que a fome no país é

primordialmente uma questão de acesso aos alimentos e não de disponibilidades

(PIMENTEL, 2007). Entretanto Branco (2005) enfatiza que uma produção agrícola

baixa com diversidade insuficiente no provimento alimentar, desigualdade na

distribuição da terra e a concentração de renda, desemprego e baixa escolaridade

são outros aspectos que influenciam na situação nutricional no Brasil.

As condições de vida apropriadas de grandes dificuldades de

sobrevivência, comuns aos países em desenvolvimento como o Brasil, inserem as

pessoas em um contexto social em que a dimensão e a profundidade dos problemas

46

não permitem as populações de baixa renda vivenciar segurança alimentar ora

parcialmente ora totalmente (GALEAZZI, 1996). A segurança alimentar está

condicionada a estrutura produtiva do Brasil em que a produção agrícola evidencia

grandes oscilações comprometendo a estabilidade na disponibilidade de alimentos,

aliado a isto ainda há as imensas perdas durante o trajeto logístico para escoamento

da produção, aliadas aos prejuízos nos fatores de importação de cereais, redução

na produção de alimentos básicos e domésticos de maior consumo da população

brasileira que provoca um incremento dos preços dos alimentos complicando o

acesso da maior parte dos habitantes do país que não detém um ganho salarial

suficiente que permita adquirir alimentação necessária (GALEAZZI, 1996).

Contudo, a segurança alimentar e nutricional entendida como parte do

desenvolvimento econômico sustentável e equitativo, não se resume somente ao

combate a miséria como ação isolada das outras dimensões que levam uma

sociedade a condições sociais, econômicas, ambientais, culturais, de saúde e outras

tantas faces envolvidas que possam realmente elevar o nível de qualidade de vida

de uma população. Sendo assim, não se pode afirmar que a segurança alimentar e

nutricional está restrita a apenas um de seus fatores, o acesso aos alimentos

(BURLANDY, MAGALHÃES, 2007).

De acordo com Burity et al (2010), a desigualdade de acesso aos

alimentos é responsável pela desnutrição que aliada a condições precárias de

moradia e saneamento básico aumentam o risco de doenças entre pessoas mais

vulneráveis como crianças e idosos o que piora os quadros de desnutrição.

No Brasil há um complexo emaranhado de aspectos que devem ser

discutidos de forma responsável e intensa interligando cada dimensão: econômica,

social, ambiental, cultural e biológica para que se possa encontrar um denominador

comum a todas as ações de políticas públicas que resultem em mudanças

importantes e positivas no cenário de insegurança alimentar em que o país se

encontra conforme demonstrado na Tabela 1 que segue:

47

Tabela 1 – Situação de insegurança alimentar nas unidades da federação do Brasil

Domicílios particulares com insegurança alimentar e com pelo menos um morador de

menos de 18 anos de idade Situação do

Domicílio/Unidades da Federação

Total Tipo de insegurança alimentar Leve Moderada Grave

Brasil 12 978 448 6 291 337 4 471 101 2 216 010 Urbana 10 293 027 5 182 270 3 434 524 1 676 233 Rondônia 96 735 51 737 32 962 12 036 Acre 76 553 32 511 24 983 19 059 Amazonas 216 846 80 257 75 276 61 313 Roraima 51 442 16 665 23 656 11 121 Pará 736 614 281 375 285 983 169 256 Amapá 46 826 18 995 14 008 13 823 Tocantins 119 428 63 314 36 689 19 425 Maranhão 789 052 278 163 312 428 198 451 Piauí 365 727 167 711 135 886 61 130 Ceará 887 703 345 583 340 454 201 666 Rio Grande do Norte 350 138 121 236 154 476 74 426 Paraíba 376 556 127 024 151 436 98 096 Pernambuco 835 144 347 965 327 767 159 412 Alagoas 253 524 87 684 111 320 54 520 Sergipe 106 075 44 167 47 182 14 726 Bahia 1 357 296 503 802 545 337 308 157 Minas Gerais 1 204 498 701 714 360 429 142 355 Espírito Santo 194 063 113 240 58 267 22 556 Rio de Janeiro 862 173 504 011 267 816 90 346 São Paulo 1 966 995 1 190 186 546 224 230 585 Paraná 539 997 305 617 172 568 61 812 Santa Catarina 201 555 136 682 47 494 17 379 Rio Grande do Sul 539 129 309 102 158 330 71 697 Mato Grosso do Sul 119 061 64 468 35 473 19 120 Mato Grosso 186 755 116 803 49 493 20 459 Goiás 378 339 215 556 115 532 47 251 Distrito Federal 120 224 65 769 38 632 15 823

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento, Pesquisa Nacional por

Amostra de Domicílios 2004.

O consumo alimentar em inúmeros países sofre alterações em sua

diversidade e qualidade e especialmente no que diz respeito ao encarecimento do

custo de vida que atinge as parcelas mais vulneráveis da sociedade e em contraste

a esta situação a margem de lucro nas cadeias agroindustriais e comerciais

aumentam (CONSEA, 2011). No Brasil certas ações públicas procuram minimizar o

efeito da crise econômica mundial, como a atenção dada à agricultura familiar que

se responsabiliza por cerca de 70% dos alimentos consumidos no país,

transferência de renda, alimentação escolar e outras que não resolvem o quadro de

insegurança alimentar por serem afetadas por outros elementos como a inflação que

impulsiona o aumento de outros preços (CONSEA, 2011).

48

Na insegurança alimentar leve ou moderada o alimento está presente,

porém em quantidades que não são suficientes para garantir a frequência alimentar

e as famílias ficam expostas a possibilidade de sentir ou até mesmo de passar fome

por determinados períodos (CONSEA, 2011).

A insegurança alimentar grave é produto da falta ou ineficiência de

acesso à alimentação sendo indicada como fonte de inúmeras patologias e morte de

milhões de pessoas. No Brasil tal situação apresenta melhora e demonstra uma

evolução positiva em termos quantitativos e qualitativos conforme a tabela 2 abaixo:

Tabela 2 – Distribuição da população por insegurança alimentar

Distribuição da população residente, por situação de insegurança alimentar existente no

domicílio, 2009 (%)

Região IA Leve IA Moderada IA Grave IA Total

Centro-Oeste 22,5 6,1 4,2 32,8

Nordeste 26,7 13,2 10,7 50,6

Norte 23,5 10,6 10,8 44,9

Sudeste 18,4 4,5 3,1 26,0

Sul 14,9 3,6 2,3 20,8

Brasil 39,8 20,3 11,3 8,2

Fonte: Censo Agropecuário 2006, IBGE

1.8 ASPECTOS DA SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL NO ESTADO DO

PARÁ

No Estado do Pará a Lei 7580 de 20 de dezembro de 2011 instituiu o

Sistema de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável (SISANS – PA) ficando

estabelecidas definições, princípios, diretrizes, objetivos e composição que visam

garantir principalmente o direito humano a alimentação adequada e saudável

(DHAA), proporcionando a participação da sociedade civil organizada na formulação

de políticas que visem a SAN no Estado.

O Pará cumpriu assim uma das determinações do Pacto Internacional dos

Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (PIDESC) que prevê a DHAA que no Brasil

foi consolidada através da Lei de Segurança Alimenta e Nutricional 11.346 de 15 de

setembro de 2006 (LOSAN).

49

Conforme Burity et al (2010, p. 50) “No âmbito da legislação sobre direitos

humanos, as obrigações são sempre em última instância do Estado, por ser ele o

responsável pelo exercício dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, incluindo

a aplicação e utilização dos recursos públicos (...)”.

Esta lei tem como pilares importantes em sua sustentação a atenção ao

acesso aos alimentos por meio da produção em que enfatiza a agricultura tradicional

e familiar bem como outros aspectos como a comercialização e distribuição de

alimentos aliadas a geração de emprego e renda; conservação e preservação da

biodiversidade buscando o uso sustentável dos recursos naturais do Estado

paraense; promoção de saúde através de alimentação adequada com atenção

especial aos grupos mais vulneráveis socialmente; garantia de qualidade em seus

diversos âmbitos biológico, sanitário, nutricional e tecnológico; produção do

conhecimento e acesso à informação; respeito às múltiplas características culturais

do Estado na implementação de políticas públicas que intentem a produção,

comercialização e consumo de alimentos (CONSEA, 2011).

De acordo com o IBGE o Pará apresentou em 2006 um número de

736.614 domicílios com algum grau de insegurança alimentar conforme demonstra a

tabela 1 acima. “No Estado do Pará a fome está associada, principalmente, à má

localização da produção e à renda insuficiente de grande parcela da população”

(BENTES, 2000). Sendo que há maior disponibilidade de produtos considerados

básicos para alimentação na área rural (BENTES, 2000) fator este que pode não

afastar a insegurança alimentar das famílias que estão situadas no interior.

A região amazônica na qual está inserida o Estado do Pará sofreu um

processo acelerado de urbanização na década de 90 tendo aumentado de 43,14%

para 131,77% no primeiro censo demográfico realizado pelo IBGE, conforme quadro

4, referente à primeira década do ano 2000 a taxa de crescimento foi a maior do

Brasil na região norte: 2,09% (IBGE) e no Estado do Pará esta taxa foi de 2,05% em

2010 (Tabela 3). Com a ampliação da urbanização surgiram problemas como:

desnutrição falta de emprego e insuficiência de renda de uma fatia considerável da

população trazendo como consequência uma maior preocupação com a segurança

alimentar (BENTES, 2000).

50

Tabela 3 – Taxa de crescimento urbano no Brasil

Código da Região Região Taxa de crescimento (1)

1 Norte 2,09

2 Nordeste 1,07

3 Sudeste 1,05

4 Sul 0,87

5 Centro-Oeste 1,90

6 Pará 2,05

Fonte: IBGE, Censo demográfico 2000-2010. (1) Refere-se à taxa média geométrica de crescimento anual, apresentado em percentual (%). A taxa é calculada para o período de 2000/2010 e considera a população de 2010, incluindo a estimada para os domicílios fechados. A população considerada para 2000 foi a recenseada.

A migração em massa de inúmeros habitantes da área rural para os

centros urbanos aliados a falta de oportunidades nos postos de trabalhos, trabalhos

no setor informal, salários baixos e irregulares não permitem a aquisição e consumo

adequado e regular de alimentos falta de acessibilidade econômica aos alimentos

que pode levar a insegurança alimentar em muitas áreas urbanas no Brasil e

consequentemente no Pará também (BURITY et al, 2010).

Na região norte de acordo com a Pesquisa de Orçamento Familiar (POF)

de 2008 a 2009, o consumo alimentar é maior para alimentos considerados básicos

como arroz que apresenta um per capita médio de (g/dia) de 156,6 seguido pelo

feijão que é de 142,2 g/dia e na distribuição das despesas com alimentos para

trabalhadores que recebem até R$ 830/mês a alimentação no domicílio perfaz um

gasto de 81,1% conforme anexo (IBGE). Tais dados são condizentes com a média

com a média nacional por rendimento conforme tabela que mostra, que as famílias

com rendimentos mais baixos podem não ter acesso a uma variedade de alimentos

importantes para uma alimentação saudável.

51

CAPÍTULO II. GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A SEGURANÇA

ALIMENTAR E NUTRICIONAL E OS PROGRAMAS MERENDA ESCOLAR E MAIS

EDUCAÇÃO

2.1 POLÍTICAS PÚBLICAS E SAN

As políticas públicas são consideradas mecanismos do Estado para

garantir a realização dos direitos humanos como: saúde, segurança, educação e

inclusive alimentação (CONSEA, 2010). As políticas públicas podem surgir das

demandas sociais determinadas pela sociedade civil ou podem ser geradas no

interior da administração pública de acordo com as necessidades observadas

(CONSEA, 2010).

Ao passo que as políticas públicas também podem ser consideradas

como o Estado implantando um projeto de governo, por meio de programas, de

ações voltadas para setores específicos da sociedade (HOFLING, 2001). Neste viés,

do Estado, as políticas públicas são compreendidas como responsabilidade do

mesmo – quanto a implementação e manutenção a partir de um processo de tomada

de decisões que envolvem órgãos públicos e diferentes organismos e agentes da

sociedade relacionados à políticas implementadas, não podendo ser reduzidas a

políticas estatais (HOFLING, 2001).

As políticas públicas denotam os caracteres e os valores de um

determinado governo, simbolizando a forma como este usa as instituições públicas

para se relacionar com a sociedade e garantir seus direitos (CONSEA, 2010).

Não há uma definição única sobre política pública, porém percebe-se seu

papel na solução de problemas (SOUZA, 2006). Problemas estes que podem estar

no campo da segurança alimentar e nutricional que se relaciona com os mais

diversos setores que o Estado pode intervir para minimizar a ocorrência de

insegurança nutricional nas várias regiões do país.

As políticas públicas são diretrizes, princípios norteadores de ações do

poder público; regras e procedimentos para as relações entre o poder público e a

sociedade, intermediações entre atores da sociedade e poder público (TEIXEIRA,

2002).

As políticas públicas apresentam como objetivos: a resposta às

demandas, especialmente dos setores marginalizados da sociedade, consideradas

52

vulneráveis; ampliar e efetivar direitos de cidadania; promover desenvolvimento,

criando alternativas de geração de emprego e renda (TEIXEIRA, 2002).

A política pública é vista como um campo do conhecimento, que enseja

ao mesmo tempo, dispor o governo em ação e/ou analisar essa ação (variável

independente), e quando necessário, sugerir mudanças na direção ou curso dessas

ações (variável dependente) (SOUZA, 2006). É a partir desta noção que as políticas

públicas voltadas para SAN podem ser planejadas e executadas já que se deposita

grande expectativa em seu papel, como meio de assegurar as demandas primordiais

da sociedade para uma vida digna e saudável na qual se insere a alimentação

(CONSEA, 2010).

Para Lowi (1972) a política pública assume quatro formatos: a) Políticas

distributivas nas quais as decisões são tomadas pelo governo, não considerando a

limitação de recursos, privilegiando alguns grupos em detrimento de outros; b)

Políticas regulatórias de maior visibilidade ao público, com processos burocráticos

dirigidos a grupos de interesses específicos; c) Políticas redistributivas com grande

abrangência populacional, impondo perdas concretas em curto prazo a certos

grupos sociais e ganhos incertos; d) Políticas constitutivas, que tratam de

procedimentos (LOWI, 1972).

As políticas direcionadas a SAN estão alocadas na “inclusão social e a

grupos socialmente vulneráveis, como: assistência social, transferência de renda,

restaurantes populares, programas de carências nutricionais, alimentação do

trabalhador, alimentação escolar” e outras (CONSEA, 2010 p.216).

A análise das politicas publicas voltadas para SAN baseiam-se na

cobertura e aplicação de recursos como princípios básicos, porém esta avaliação

também deve considerar pontos fundamentais como a promoção da equidade e

inclusão social, empoderamento dos titulares de direitos através da participação

ativa e informada, decisões e processos não discriminatórios, eficiência,

transparência nos processos decisórios, prestação de contas, disponibilidade de

mecanismos de monitoramento e instrumentos de cobranças (CONSEA, 2010).

O orçamento disponibilizado para ações dirigidas a SAN ultrapassou R$

13,44 bilhões, em 2004, para R$ 26,99 bilhões, em 2010 (CONSEA, 2010),

demonstrando a grande atenção dispensada ao assunto por parte do Estado,

conforme indicações da Tabela 4 a seguir:

53

Tabela 4 - Evolução do orçamento da Segurança Alimentar e Nutricional, segundo metodologia

de monitoramento do orçamento adotada pelo CONSEA (em R$ milhões)

Ano Orçamento – Lei + Créditos

Despesa Liquidada

(execução)

% Despesa liquidada/orçamento

2004 13.448 11.407 84,83

2005 16.368 13.046 79,71

2006 18.895 15.930 84,31

2007 20.523 16.924 82,46

2008 23.735 19.086 80.41

2009 25.816 23.948 92,76

2010 26.997 - -

Fonte: CONSEA, 2010

Com vista a investimentos crescentes na área de SAN torna-se relevante

avaliar os resultados dos programas públicos relacionados a este crescimento e

dentre eles a merenda escolar e o Programa Mais Educação podem ser importantes

para a identificação do nível de promoção de SAN advindos dos recursos públicos.

A insegurança alimentar que pode resultar em desnutrição ou baixo peso

necessita de políticas públicas que garantam acesso à alimentação e que se tornem

suficientes para reverter tal quadro (GOMES, PESSANHA, MITCHELL, 2010). Já

situações de inadequação nutricional que surgem de causas orgânicas inerentes do

indivíduo ou de doenças ocasionadas pelo ambiente requerem políticas públicas

direcionadas à saúde e ao saneamento básico, por exemplo, (GOMES, PESSANHA,

MITCHELL, 2010). Em relação à garantia de acesso ao alimento como forma de

promoção de segurança alimentar o fornecimento de refeições via merenda escolar

é uma política pública que ocupa um espaço importante nas ações as quais buscam

este objetivo.

2.2 GESTÃO PÚBLICA E SAN

A gestão pública brasileira durante o regime autoritário exercido no

período militar foi marcada por problemas históricos da administração pública em

que se pode destacar o descontrole financeiro, a falta responsabilização dos

governantes e burocratas perante a sociedade, a politização indevida da burocracia

54

nos estados e municípios, além da fragmentação intensa das empresas públicas

seguida da perda de foco da atuação governamental (ABRÚCIO, 2007).

Em contraponto aos problemas gerados no regime militar, surgiram

reformas que buscaram corrigir os erros cometidos nesta época, porém estas

apresentaram pouca atenção à necessidade de se construir um modelo de Estado

capaz de enfrentar os novos desafios históricos (CATELLI, 2000).

Dentre estas reformas é importante destacar as que ocorreram nas

finanças públicas, realizadas pelo governo de José Sarney, como o fim da “conta

movimento”, do orçamento monetário e o surgimento da Secretaria do Tesouro

Nacional (STN), promovendo um reordenamento das contas públicas (ABRÚCIO,

2007).

A administração pública tradicional apresenta algumas características

como a neutralidade técnica do serviço público, divisão hierárquica rígida com um

cumprimento de regras engessado, estabilidade e permanência de organizações e

servidores dentre outras (PETERS, PIERRE, 1998 apud CAPELLA, 2008). Este

estilo tradicional levou, e ainda leva, a um distanciamento entre a população que

busca e necessita dos serviços prestados por tais instituições e seus executores, o

que causou grande insatisfação e levou a busca de reformas para melhorar o

desempenho governamental.

Durante a criação da Constituição de 1988 várias questões relacionadas à

administração púbica sofreram alterações com o intuito de extinguir a herança

deixada pelo regime militar (CATELLI, 2000). Dentre elas três conjuntos de

alterações merecem ser destacadas: o regime de democracia do Estado aliada ao

fortalecimento do controle externo da administração pública e um novo papel

proporcionado ao Ministério Público (MP); a descentralização política, financeira e

administrativa que dispôs de maior participação cidadã e inovações no âmbito da

gestão pública; e por fim a profissionalização da burocracia, por meio da

meritocracia, consolidado pelos concursos públicos (ABRÚCIO, 2007).

Apesar dos esforços desprendidos na criação de regimentos que

trouxeram mudanças, houve problemas como a baixa autonomia de órgão

considerados importantes nos controles do Estado, como os tribunais de conta, as

dificuldades na descentralização com a criação de inúmeros municípios e o aumento

do corporativismo estatal gerado a partir da chamada profissionalização da

55

burocracia que resultou em um maior distanciamento do serviço público em relação

a população (ABRÚCIO, 2007).

A administração pública ainda atravessou a turbulência da era Collor, na

qual o funcionalismo público foi apontado como grande vilão dos problemas

nacionais, produzindo um ambiente de grande desconfiança sobre a máquina

federal (ABRÚCIO, 2007).

Durante o governo de Fernando Henrique Cardoso ocorreram mudanças

importantes na administração pública através da chamada reforma Bresser

(ABRÚCIO, 2007). Ressalta-se principalmente a intensa reorganização

administrativa do governo federal, em que ocorreu uma melhoria fundamental das

informações da administração pública e o fortalecimento das carreiras de Estado

(BEHN, 1998). A partir de tais reformas disseminou-se a busca por uma gestão

pública direcionada para melhoria do desempenho do serviço público (ABRÚCIO,

2007).

Com relação às reformas na gestão pública brasileira, talvez tenha sido a

do governo eletrônico, a mais significativa. Esta mudança foi disseminada a partir de

uma experiência do governo do Estado de São Paulo e através da tecnologia da

informação proporcionou a redução de custos, aumento de transparência nas

compras públicas, minimizando as possibilidades de corrupção (ABRÚCIO, 2007).

A administração pública sofreu uma politização durante o governo Lula

produzindo um efeito positivo em alguns importantes mecanismos de controle de

corrupção em especial nas ações da Polícia Federal e, com ênfase, ao trabalho da

Controladoria Geral da União que são grandes avanços da gestão petista

(ABRÚCIO, 2007). Houve também uma preocupação da administração pública com

o planejamento, recursos humanos e sua interconexão com as políticas públicas

(BEHN, 1998).

Historicamente a cobrança de impostos gerou conflitos entre o poder

público e a sociedade civil, representada pelo cidadão contribuinte, e a sociedade

com o decorrer dos anos está aumentando suas exigências com relação a aplicação

dos recursos arrecadados conforme as necessidades da mesma (CATELLI, 2000).

Desta forma a gestão pública procura apresentar um perfil mais

empreendedor, tratando o cidadão como cliente na busca de padrões de eficiência e

eficácia, em que a ética e a transparência seguidas da responsabilidade fiscal com

56

os recursos públicos demonstrem a aplicação esperada pela população (CATELLI,

2000).

A gestão pública no Brasil atravessou muitos períodos, cada um com

suas peculiaridades e vem se legitimando ao longo do tempo. A melhora na

transparência de ações, a interligação entre diversos órgãos e setores e uma maior

participação da sociedade por meio de conselhos específicos pode proporcionar

maior aceitabilidade, porém ainda é necessário ajustes e mudanças para tornar-se

realmente adequada aos anseios da população, em especial no que se refere a

qualidade e efetividade das políticas públicas, seu alcance e equidade de ações

(CATELLI, 2000).

A merenda escolar é uma das diversas políticas públicas que propiciam

disponibilidade e acesso de alimentos a um público alvo específico e merece ser

apresentada no âmbito de sua descrição conceitual, histórica e bem como de sua

efetividade para o que se propõem.

2.3 Merenda escolar

O Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), conhecido

popularmente como merenda escolar, é gerenciado pelo Fundo Nacional de

Desenvolvimento da Educação (FNDE) e objetiva à transferência, em caráter

suplementar, de recursos financeiros aos estados, ao Distrito Federal e aos

municípios destinados a suprir, parcialmente, as necessidades nutricionais dos

alunos (BRASIL, 2012).

É considerado de grande abrangência e um dos maiores programas na

área de alimentação escolar no mundo com atendimento único e universalizado. O

programa tem sua origem no início da década de 40, quando o então Instituto de

Nutrição defendia a proposta de o governo federal oferecer alimentação ao escolar.

Entretanto, não foi possível concretizá-la, por indisponibilidade de recursos

financeiros (BRASIL, 2012). Sua preocupação inicial e atual está voltada para a

desnutrição infantil e consequentemente para o desenvolvimento na adolescência

dentro dos padrões adequados (TURPIN, 2008).

Na década de 50, foi elaborado um abrangente Plano Nacional de

Alimentação e Nutrição, denominado Conjuntura Alimentar e o Problema da Nutrição

57

no Brasil. É a partir dele que, pela primeira vez, se estrutura um programa de

merenda escolar em âmbito nacional sob a responsabilidade pública (BRASIL,

2012).

Até meados desta década, apenas o Programa de Alimentação Escolar

sobreviveu, sendo apoiado pelo financiamento do Fundo Internacional de Socorro à

Infância (FISI), atualmente Unicef, que permitiu a distribuição do excedente de leite

em pó destinado, inicialmente, à campanha de nutrição materno infantil (BRASIL,

2012).

Em 31 de março de 1955, foi assinado o Decreto n° 37.106, que instituiu a

Campanha de Merenda Escolar (CME), que era subordinada ao Ministério da

Educação. Foram então celebrados convênios diretamente com o Fisi e outros

organismos internacionais (BRASIL, 2012).

Em 1965, a CNME sofreu uma alteração e foi denominada Campanha

Nacional de Alimentação Escolar (CNAE) pelo Decreto n° 56.886/65 e surgiu de uma

variedade de programas de ajuda americana, entre os quais se destacavam o

Alimentos para a Paz; o Programa de Alimentos para o Desenvolvimento, voltado ao

atendimento das populações carentes e à alimentação de crianças em idade

escolar; e o Programa Mundial de Alimentos, financiados pela FAO e ONU (BRASIL,

2012).

A partir de 1976, apesar de financiado pelo Ministério da Educação e

gerenciado pela Campanha Nacional de Alimentação Escolar, o programa era parte

do II Programa Nacional de Alimentação e Nutrição (Pronan). Para então em 1979

passar a denominar-se Programa Nacional de alimentação Escolar (BRASIL, 2012).

A partir da promulgação da Constituição Federal, em 1988, assegurou-se

o direito à alimentação escolar a todos os alunos do ensino fundamental por meio de

programa suplementar de alimentação escolar a ser ofertado pelos governos federal,

estaduais e municipais (BRASIL, 2012).

Os objetivos principais do programa em sua essência buscavam

basicamente o combate à desnutrição e a melhoria dos hábitos alimentares, com

sua evolução foi incorporada questões importantes como o desenvolvimento local

através do fornecimento de alimentação produzida na região em que se localizam as

escolas (TURPIN, 2008).

O PNAE é considerado um dos mais antigos programas públicos com

objetivo de suplementar a alimentação destacando-se pela abrangência,

58

continuidade, permanência, dimensão e pelos gastos expressivos destinados a ele

(MEC, 2012). Sendo que a merenda escolar é considerada a política pública de

suplementação alimentar mais bem sucedida no país (TURPIN, 2008).

Conforme pesquisa realizada por Bezerra (2009) “Para os professores, a

merenda escolar é uma atividade essencial na escola, um importante complemento

com função tríplice: ajudaria a recuperar a deficiência alimentar do aluno;

determinaria a frequência do aluno; e contribuiria para melhor aprendizagem”

(BEZERRA, 2009).

A merenda escolar sofreu um processo de descentralização em 1994 com

base na lei n.8913 (Anexo 7) em que a partir de então o repasse financeiro passou a

ser feito aos estados e município através da antiga Fundação de Assistência ao

Estudante (FAE) que em 1997 foi substituída pelo Fundo Nacional de

Desenvolvimento (FNDE) (BELIK,CAHIM, 2009). Com esta descentralização foi

possível racionalizar a logística e os custos de distribuição dos produtos viabilizando

assim, a oferta de uma alimentação escolar em harmonia com os hábitos regionais

(BELIK,CHAIM, 2009).

Desde 1998, o PNAE é gerenciado pelo Fundo Nacional de

Desenvolvimento da Educação (FNDE), que é um órgão do Ministério da Educação

(MEC) (CHAVES, BRITO, 2008). O programa tem como meta principal atender as

necessidades nutricionais dos alunos durante a permanência deles em sala de aula,

e busca contribuir para o crescimento, o desenvolvimento, a aprendizagem e o

rendimento escolar dos estudantes, bem como promover a formação de hábitos

alimentares adequados e saudáveis (BRASIL, 2012). Tais procedimentos podem

auxiliar na segurança alimentar de muitos destes indivíduos participantes do

programa.

Entre os agentes que participam do funcionamento do PNAE estão as

entidades executoras que no caso dos municípios são as prefeituras municipais que

são responsáveis pelo recebimento e pela execução da verba transferida pelo

FNDE. Os valores devem ser destinados ao atendimento das escolas públicas

municipais, escolas filantrópicas, quilombolas e indígenas e porventura também

podem ser responsáveis por escolas estaduais mediante autorização das

Secretarias Estaduais de Educação (CHAVES, BRITO, 2008).

Em 2011 foram gastos cerca de R$ 3,1 bilhões com a alimentação escolar

para atender 45,6 milhões de estudantes da educação básica e de jovens e adultos

59

(FNDE, 2012). O repasse financeiro e feito com base na medida provisória nº 1.784

(ANEXO 8). Conforme a Lei nº 11.947, de 16/06/2009, 30% desse valor deve ser

destinado à aquisição direta de produtos da agricultura familiar no intuito de

estimular o desenvolvimento econômico das comunidades dos municípios nos quais

estão inseridas as escolas (BRASIL, 2012).

A merenda escolar é elaborada para suprir 15% dos requerimentos

nutricionais diários dos alunos e 30% para escolares indígenas e de comunidades

quilombolas, respeitando-se os hábitos alimentares e o perfil da produção agrícola

local (BRASIL, 2012).

Para muitos alunos a refeição escolar é a única alimentação diária

garantida sendo este o principal motivo apontado para frequência dos mesmos e

podendo ser entendido como um fator importante para a segurança alimentar e

nutricional (BEZERRA, 2009). A merenda é uma pequena refeição, de fácil digestão

que incorpore um bom valor nutritivo para ser realizada no intervalo da atividade

escolar constituindo-se um traço de união entre a casa e a escola (COSTA, 1939).

Para Belik (2009, p.596) “Alimentação escolar desempenha um papel

fundamental no processo de aprendizagem e desenvolvimento do aluno, ao mesmo

tempo em que também garante um suprimento mínimo de alimento à populações

carentes”.

No entanto, Bezerra (2009) nos atenta para o fato da merenda ter como

prática repetitiva a sopa, que por vezes é servida todos os dias da semana, levando

a insatisfação dos alunos que aliado ao racionamento mínimo de refeições de maior

aceitabilidade para diminuição de custos pode afastar o programa da sua essência

que é de atender necessidades nutricionais dos alunos (BEZERRA, 2009). Este fato

pode comprometer a busca da segurança alimentar e nutricional no ambiente

escolar já que esta representa para vários alunos a única refeição do dia

(BEZERRA, 2009).

Sturion et al, por sua vez destacam que apesar do programa de

alimentação escolar ter grande destaque entre as políticas sociais o mesmo não tem

sido alvo de avaliações constantes, o que não permite sua orientação, reformulação

ou mesmo reforço que busquem promover a otimização dos recursos utilizados

(STURION et al, 2005).

A Portaria Interministerial n.º 1.010 de 8 de maio de 2006 do Ministério da

Educação instituiu o Programa Cantina Saudável que considera a promoção de

60

saúde no ambiente escolar de fundamental importância para a busca da segurança

alimentar e nutricional e propôs recomendações para alimentação saudável nas

cantinas de escolas públicas e privadas especialmente no que diz respeito a

confecção das refeições oferecidas.

A merenda escolar é um programa de grande importância na busca da

segurança alimentar e nutricional para as camadas com menor capacidade de

acesso a uma alimentação adequada, por este motivo, merece maior atenção em

especial na análise e avaliação dos resultados advindos do fornecimento desta

alimentação em ambiente escolar.

A merenda escolar representa um grande atrativo para a frequência

escolar nas escolas públicas, sendo considerada uma atividade integrada

(OLIVEIRA, 1997). E devido a sua grande dimensão social, frente à significativa

parcela de alunos em condições socioeconômicas inadequadas, apresenta grande

parte de seu público crianças e adolescentes e pedem ter somente esta refeição

diária (FLÁVIO et al, 2004).

Tanto crianças quanto adolescentes apresentam necessidades

nutricionais mais acentuadas com relação ao crescimento, em caso de crianças

ocorre de maneira lenta e contínua e com relação aos adolescentes este fenômeno

é mais intenso (FLÁVIO et al, 2004). É necessário que a refeição fornecida na

escola possa suprir uma parcela considerável dos requerimentos nutricionais para

afastar a ameaça de insegurança nutricional que pode levar a desnutrição.

Em face da imensa importância do programa de merenda escolar e sua

capacidade de interferir na segurança alimentar e nutricional de seu público alvo,

seu acompanhamento, através de avaliações de desempenho, pesquisas sobre

aceitabilidade, análises nutricionais e outras formas de avaliação faz-se

constantemente necessário para que a sua essência em prol da segurança alimentar

e nutricional não seja perdida ou desfocada.

2.4 PROGRAMA MAIS EDUCAÇÃO

O Programa Mais Educação foi criado pela portaria interministerial nº

17/2007, e tem como objetivo aumentar a oferta educativa nas escolas públicas por

meio de atividades optativas que foram agrupadas em acompanhamento

61

pedagógico, esporte e lazer, direitos humanos, cultura e artes, cultura digital,

prevenção e promoção da saúde, educomunicação, educação científica e educação

econômica (BRASIL, 2012). Estão inseridas nas atividades de promoção da saúde

práticas de alimentação saudável e alimentação escolar saudável que vão de

encontro com as ações de SAN. Os alunos que participam do programa recebem

três refeições, que podem contribuir para o suprimento das necessidades

nutricionais deste grupo.

De acordo com a Resolução nº 67, de 28 de dezembro de 2009, o valor

per capita pago para oferta de alimentação escolar foi alterado para R$ 0,90 para os

alunos participantes do programa Mais Educação, contribuindo assim para a

manutenção das três refeições oferecidas na escola (BRASIL, 2012).

As atividades iniciaram em 2008, período em que houve a participação de

1.380 escolas, em 55 municípios de 26 estados e o Distrito Federal. Em 2009 este

número aumentou para 5 mil escolas e 126 municípios e todos os estados e no

Distrito Federal com o atendimento de 1,5 milhões de estudantes. Em 2009 o

programa foi incrementado em 389 municípios atendendo 10 mil escolas e

beneficiando 2,3 milhões de alunos. Em 2011 aderiram ao programa 14.995 escolas

com 3.067.644 estudantes (BRASIL, 2012).

O programa integra as ações do Plano de Desenvolvimento da Educação

(PDE) e tem como estratégia induzir a ampliação da jornada escolar e a organização

curricular, na expectativa da educação integral (BRASIL, 2012).

Este programa busca uma ação intersetorial entre as políticas públicas

educacionais e sociais, no intuito de contribuir para a diminuição das desigualdades

sociais e para valorização da diversidade cultural brasileira (BRASIL, 2012). Dentre

os ministérios que participam desta ação integrada está o Ministério do

Desenvolvimento Social e Combate a Fome (MDS), em que estão inseridas as

ações relativas a SAN que dizem respeito à alimentação servida para os alunos

participantes do projeto (BRASIL, 2012).

O programa busca fomentar atividades para melhorar o ambiente escolar,

com base em estudos desenvolvidos pelo Fundo das Nações Unidas para Infância

(UNICEF), a partir de resultados da Prova Brasil de 2005. Nos estudos da UNICEF

destacou-se o uso de um índice chamado de Efeito Escola – IEE, que é um

indicador do impacto que a escola pode ter na vida e no aprendizado do estudante,

62

cruzando com informações socioeconômicas do município onde a escola está

localizada (BRASIL, 2012).

A estratégia do programa busca promover a ampliação de tempos,

espaços e oportunidades educativas, com o compartilhamento das tarefas

educativas entre os profissionais da educação e de outras áreas, bem como, a

família e diversos atores sociais com acompanhamento da escola e dos professores

(BRASIL, 2012).

O Programa Mais Educação, tem como prioridade de atendimento,

escolas com baixo Índice de desenvolvimento da educação Básica (IDEB)1, situadas

em capitais, regiões metropolitanas, como é o caso do município de Benevides e da

Escola Municipal Santa Luzia que em 2011 apresentou IDEB igual a 3,9, conforme

Tabela 5 abaixo (BRASIL, 2012). Também participam do programa grandes

territórios marcados por quadros de vulnerabilidade social e que necessitam da

convergência prioritária de políticas públicas e educacionais (BRASIL, 2012).

Tabela 5 – Índice de desenvolvimento da Educação Básica do município de Benevides e da

Escola Municipal Santa Luzia em Benevides em comparação com outro município e escola

Municípios e Escolas Anos

2005 2007 2009 2011

Benevides

E.M. Santa Luzia

2,8

2,7

3,7

3,9

Blumenau

E.M. Anita Garibaldi

5,2

5,0

5,7

6,3

Fonte: Portal ideb-inep.gov.br, 2012

O programa sofre algumas críticas como as de Savani (2007) que

menciona que o PDE, onde está inserido o programa Mais Educação, não constitui

um plano, em sentido próprio já que é definido como um conjunto de ações que,

teoricamente se constituem em estratégias para a realização dos objetivos e metas

previstos no PNE, as propostas são concentradas em mecanismos que visam o

alcance progressivo de metas educacionais (SAVANI, 2007).

O PNAE, no qual está inserido o Programa Mais Educação, é considerado

uma política universalista por pressupor o atendimento a todos os alunos que

1 O IDEB é um indicador de qualidade educacional que combina informações de desempenho em exames padronizados (Prova Brasil), obtido pelos estudantes ao final das etapas de ensino (4ªe 8ª séries do ensino fundamental e 3ª série do ensino médio), com informações sobre rendimento escolar (MEC, 2012).

63

frequentam a escola pública e que se enquadrem nos moldes do programa

(SANTOS et al, 2007).

A SAN apresenta como uma de suas referências a promoção do

desenvolvimento que expressa um direito de toda a população, tem de natureza

estratégica e que pode ser buscada de maneira permanente com base no exercício

de políticas soberanas (BURLANDY, MAGALHÃES, MALUF, 2006). E dentre estas

políticas é possível incluir a merenda escolar e o Programa Mais Educação como

uma política que possa promover desenvolvimento em várias esferas como a local,

que pode contribuir para uma crescente equidade social e melhoria sustentável de

qualidade da qualidade de vida de sua população (BURLANDY, MAGALHÃES,

MALUF, 2006).

O enfoque no desenvolvimento implica considerar ações em diversos

âmbitos que engloba produção, distribuição, comercialização, consumo, utilização

biológica de alimentos e suas relações com a saúde (BURLANDY, MAGALHÃES,

MALUF, 2006). Todas estas implicações vão de encontro com o funcionamento da

merenda escolar e o Programa Mais Educação que possuem todas estas etapas

inseridas eu seus processos.

“O diferencial que a ótica da SAN traz para ações desenvolvidas nos

vários âmbitos abrangidos por ela, que se expressa na prática da intersetorialidade”

(BURLANDY, MAGALHÃES, MALUF, 2006 p.23), reflete a forma com que se

operacionaliza o Programa Mais Educação que envolve ações em diversos setores.

Esta noção de SAN remete a um desenho institucional de política pública que

norteia a implementação de ações setoriais que surgem de uma compreensão

integrada da questão alimentar e nutricional (BURLANDY, MAGALHÃES, MALUF,

2006).

2.5 A GESTÃO PÚBLICA DA MERENDA ESCOLAR E DO PROGRAMA MAIS

EDUCAÇÃO

A merenda escolar, que faz parte do Programa Nacional de Alimentação

escolar (PNAE), e é gerenciado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da

Educação (FNDE) e tem sua gestão executada pelos estados e municípios que

recebem através da transferência direta de recursos financeiros do (FNDE)

subsídios para a alimentação escolar (BRASIL, 2012).

64

Para que este repasse aconteça é necessário que seja realizado o censo

escolar do ano anterior ao atendimento. A fiscalização e o acompanhamento do

programa são exercidos diretamente pela sociedade por meio dos Conselhos de

Alimentação Escolar (CAEs), pelo FNDE, pelo Tribunal de Contas da União (TCU),

pela Secretaria Federal de Controle Interno (SFCI) e pelo Ministério Público (MEC,

2012).

Desde sua criação até 1993, a execução do programa se deu de forma

centralizada, ou seja, o órgão gerenciador, Ministério da Educação através da

Campanha Nacional de Alimentação escolar, planejava os cardápios, adquiria os

gêneros por processo licitatório, contratava laboratórios especializados para efetuar

o controle de qualidade e ainda se responsabilizava pela distribuição dos alimentos

em todo o território nacional (BRASIL, 2012).

A descentralização dos recursos ocorreu em 1994 com a instituição da Lei

n° 8.913, de 12/7/94 (APÊNDICE 6), mediante celebração de convênios com os

municípios e com o envolvimento das secretarias de Educação dos estados e do

Distrito Federal, às quais se delegou competência para atendimento aos alunos de

suas redes e das redes municipais das prefeituras que até então não haviam aderido

à descentralização (BRASIL, 2012).

A consolidação da descentralização, já sob o gerenciamento do FNDE, se

deu com a Medida Provisória n° 1.784, de 14/12/98 (APÊNDICE 7), em que, além do

repasse direto a todos os municípios e secretarias de Educação, a transferência

passou a ser feita automaticamente, sem a necessidade de celebração de convênios

ou quaisquer outros instrumentos similares, permitindo maior agilidade ao processo.

Nessa época, o valor diário per capita era de R$ 0,13 (BRASIL, 2012).

Atualmente, o valor repassado pela União a estados e municípios por dia

letivo para cada aluno é definido de acordo com a etapa de ensino conforme Tabela

6 a seguir:

65

Tabela 6 – Valores atualizados da merenda escolar por aluno / por dia

Instituição Valor (R$)/dia/aluno

Creches 1,00

Pré-escola 0,50

Escolas indígenas e quilombolas

0,60

Ensino fundamental, médio e educação de jovens e adultos

0,30

Ensino integral (Mais Educação)

0,90

Fonte: MEC, 2012

Os recursos financeiros provêm do Tesouro Nacional e estão no

orçamento da União. O FNDE transfere a verba às entidades executoras (Estados,

Distrito Federal, e municípios) em contas correntes específicas abertas pelo próprio

FNDE, sem necessidade de celebração de convênio, ajuste, acordo, contrato ou

outro tipo de instrumento (BRASIL, 2012).

As instituições que executam o programa, a chamadas Entidades

Executoras (EE) têm autonomia para administrar os recursos e a elas compete a

complementação financeira para melhoria do cardápio, conforme estabelece a

Constituição Federal (BRASIL, 2012).

O Programa Mais Educação é administrado pelo diretor da escola, que por

meio de sua atuação com o Conselho Escolar, tem a incumbência de incentivar a

participação, o compartilhamento de decisões e de informações com professores,

funcionários, estudantes e familiares dos alunos (BRASIL, 2012).

O diretor deve promover o debate sobre a Educação Integral nas reuniões

pedagógicas, de planejamento, de estudo, nos conselhos de classe e nos espaços

do Conselho escolar. A diretoria escolar tem o papel garantir a tomada coletiva de

decisões acerca das escolhas (BRASIL, 2012).

Em Benevides na escola pesquisada gestora da escola atua

acompanhando a coordenação, os professores e os monitores. Organiza as

atividades junto aos monitores para melhor entrosamento com os estudantes

objetivando o incentivo a uma maior participação estudantil. Faz os pagamentos aos

66

monitores e tem a responsabilidade de prestar contas ao governo federal do

orçamento direcionado a estas atividades.

A prestação de contas feita pela direção da escola conforme informação

da gestora segue três instâncias demonstradas na figura 1 abaixo o que esclarece a

organização municipal com relação às exigências do MEC.

Figura 1 – Instâncias da prestação de contas da merenda escolar

Elaborado pela autora, 2013.

O Programa mais Educação é coordenado pela Secretaria de Educação

Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD/MEC), que tem parceria com a

Secretaria de Educação Básica (SECAD/MEC) e com as secretarias estaduais e

Municipais de Educação (BRASIL, 2012).

A Secretaria de Educação do município está inserida no processo de

gestão no que diz respeito a implantação das metodologias e oficinas a serem

aplicadas e este trabalho é feito mais especificamente junto com as coordenações

locais por escola.

A Secretaria de Educação do município está inserida no processo de

gestão no que diz respeito a implantação das metodologias e oficinas a serem

aplicadas e este trabalho é feito mais especificamente junto com as coordenações

locais por escola de acordo com a referências do secretário de educação local.

A merenda escolar está inserida no Programa Mais Educação no campo

da promoção da saúde que envolve atividades de alimentação saudável/alimentação

escolar saudável, saúde bucal, educação do movimento, prevenção de doenças

sexualmente transmissíveis e de doenças tropicais entre outras diversas ações

voltadas para a melhoria da condição de saúde dos estudantes (BRASIL, 2012).

A boa gestão da merenda escolar é incentivada pelo governo federal

através do Prêmio Gestor Eficiente da Merenda Escolar. O prêmio é uma atividade

de avaliação, seleção e divulgação de boas práticas de gestão pública municipal do

PNAE (AÇÃO FOME ZERO, 2012).

Escola Secretaria de Educação Governo Federal

67

O objetivo principal deste incentivo é destacar as prefeituras que realizam

gestões criativas e responsáveis do PNAE e disseminar estas boas práticas para

que sirvam de referências a outras prefeituras do país para auxiliar na solução de

problemas de outros municípios, fornecendo subsídios para outras gestões

municipais melhorem ou modifiquem a forma de administrar o PNAE (AÇÃO FOME

ZERO, 2012).

A avaliação dos gestores participantes é feita em um período de cinco

meses e passa por processos que incluem a sistematização das informações

enviadas, avaliação quantitativa e análise qualitativa das experiências

demonstradas, seleção das melhores gestões municipais, e na fase final, visita

técnica in loco, para checagem definitiva das práticas (AÇÃO FOME ZERO, 2012).

O desempenho administrativo financeiro, principalmente quando os

recursos públicos são escassos, destacam-se com relação a uma boa gestão,

quando o custo da alimentação escolar é compatível com a realidade local e

proporciona refeições de boa qualidade, servidas em estrutura física e de pessoal

adequada (AÇÃO FOME ZERO, 2012).

Existem quatro formas de gerir os recursos da merenda escolar: 1) a

primeira é a centralizada, quando a prefeitura operacionaliza todas as etapas; 2) a

segunda, a escolarizada quando a escola recebe os recursos e os administra; 3) a

seguinte que é a terceirização quando a prefeitura contrata uma empresa para

elaborar e distribuir as preparações; e a quarta que é a mista quando duas ou mais

formas são realizadas pela prefeitura (AÇÃO FOME ZERO, 2012).

A região norte comparada à outras regiões brasileiras destaca-se pela

gestão de recursos escolarizada com mais de 20%, enquanto que a região sul,

sudeste e nordeste ficam em torno de 10% conforme os dados do Boletim de

Desempenho, divulgado em novembro de 2011 (AÇÃO FOME ZERO, 2012). Isto

evidencia que uma política pública com administração SAN com mais efetividade.

A região norte, especificamente o Estado do Pará apresentou destaque

em 2010, com três municípios em modalidade diferentes conforme o Quadro 1

seguinte três municípios foram os primeiros finalistas de todos os inscritos em 2010.

68

Quadro 1 - Prefeituras premiadas em 2011 (referente à gestão de 2010) e suas respectivas

categorias Categoria(s) Município Prefeito

Pequenas Cidades - Região Norte Brasilândia do Tocantins/TO João Emídio Felipe de Miranda Médias e Grandes Cidades - Região Norte

Rio Branco/AC Raimundo Angelim Vasconcelos

Valorização Profissional das Merendeiras - Região Norte

Castanhal/PA Hélio Leite da Silva

Merenda Indígena e/ou Quilombola - Região Norte

Paragominas/PA Adnan Demchki

Pequenas Cidades - Região Nordeste

Pintadas/BA Valcyr Rios

Médias e Grandes Cidades - Região Nordeste

Cabedelo/PB José Francisco Régis

Valorização Profissional das Merendeiras - Região Nordeste

Ipaumirim/CE Jose Geraldo dos Santos

Merenda Indígena e/ou Quilombola - Região Nordeste

São Bento do Una/PE José Aldo Mariano da Silva

Pequenas Cidades - Região Centro-Oeste

Alto Horizonte/GO Luiz Borges da Cruz

Médias e Grandes Cidades - Região Centro-Oeste

Maracaju/MS Celso Luiz da Silva Vargas

Valorização Profissional das Merendeiras - Região Centro-Oeste

Guarantã do Norte/MT MercidioPanosso

Pequenas Cidades - Região Sudeste

Coimbra/MG Antônio José da Cunha

Médias e Grandes Cidades - Região Sudeste

Itaguaí/RJ Carlo Busatto Júnior

Valorização Profissional das Merendeiras - Região Sudeste

Orizânia/MG Ébio José Vitor

Merenda Indígena e/ou Quilombola - Região Sudeste

Araruama/RJ André Luiz Mônica e Silva

Pequenas Cidades - Região Sul Mercedes/PR Vilson Schwantes Médias e Grandes Cidades - Região Sul

Rio do Sul/SC Garibaldi Antônio Ayroso

Valorização Profissional das Merendeiras - Região Sul

Concórdia/SC João Girardi

Merenda Indígena e/ou Quilombola - Região Sul

São Lourenço do Sul/RS José Sidney Nunes de Almeida

Projeto Destaque do Semiárido Zabelê/PB Íris de Céu de Sousa Henrique Destaque Merenda com Produtos Orgânicos da Agricultura Familiar

Areia/PB, São Francisco/PB e Paragominas/PA

Elson da Cunha Lima Filho, José Rofrants Lopes Casimiro e Adnan

Demchki Destaque Merenda com Produtos da Sociobiodiversidade

Rio Branco/AC Raimundo Angelim Vasconcelos

Fonte: site ação fome zero 2012.

69

Quadro 2 - Prefeituras finalistas em 2011 (referente à gestão de 2010) entre todos os municípios inscritos

Município Curionópolis/PA Ananindeua/PA

Tucuruí/PA Paraíso do Tocantins/TO

Quixabá/PB Salgueiro/PE

Parnamirim/RN Jussara/GO

Jataí/GO Minaçu/GO Tarumã/SP

Guarulhos/SP Marechal Cândido Rondon/PR

Gravataí/SC Correia Pinto/SC

Fonte: site ação fome zero 2012.

O PNAE é considerado uma política intersetorial atuando não somente na

área de educação e saúde com vistas a promover segurança alimentar e nutricional,

mas também tem ajudado a alavancar o desenvolvimento local ao adquirir produtos

da agricultura familiar (AÇÃO FOME ZERO, 2012), o que também tem ocorrido no

município de Benevides e será mais bem analisado no capítulo IV.

70

CAPÍTULO III. OS CAMINHOS PERCORRIDOS PARA ENTENDER A

INFLUÊNCIA DO PROGRAMA MAIS EDUCAÇÃO NA SEGURANÇA ALIMENTAR

E NUTRICIONAL EM BENEVIDES

3.1 TIPO DE PESQUISA

A pesquisa foi desenvolvida sob a abordagem qualitativa e quantitativa. Por

via da abordagem qualitativa procurou se reconstituir a trajetória de construção do

programa e se analisar o seu processo de gestão. Para tal, a pesquisa realizou a

análise documental bem como a realização de entrevistas com os gestores do

programa em nível de prefeitura, secretaria de educação e na escola selecionada.

A abordagem quantitativa foi feita através da análise antropométrica cujos

dados foram coletados no ambiente escolar mediante autorização dos pais ou

responsáveis por via da assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido

(ver anexo 1) e da diretoria da escola. Foram utilizadas as medidas de peso em

quilos (kg) e altura em metros (m) para determinação do índice de massa corporal

(IMC) que pode determinar em qual estado nutricional a população pesquisada se

encontra.

A análise antropométrica tem como objetivo principal avaliar o estado

nutricional da população em questão e é definido como o resultado do equilíbrio

entre consumo de nutrientes e o gasto de energia do organismo para suprir suas

necessidades. Este é classificado em: adequação nutricional ou eutrofia quando

existe o equilíbrio; carência nutricional quando a quantidade consumida de

nutrientes em relação às necessidades e distúrbio quando há excesso neste

consumo (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004). A análise do estado nutricional dos

adolescentes tem por objetivo entender até que ponto o programa Mais Educação

tem sido efetivo na implementação, ou seja, o exame de sua efetividade.

71

3.2 ANTROPOMETRIA E ESTADO NUTRICIONAL

O estado nutricional é definido como o resultado do equilíbrio entre

consumo de nutrientes e o gasto de energia do organismo para suprir suas

necessidades, ele é classificado em três tipos de manifestações orgânicas:

Adequação nutricional ou eutrofia a qual consiste na manifestação gerada pelo

equilíbrio entre o consumo e os requerimentos nutricionais; Carência nutricional que

se refere a uma situação na qual as deficiências gerais ou específicas de energia e

nutrientes resultam em processos orgânicos adversos à saúde; Distúrbio nutricional

que está direcionado aos problemas relacionados tanto ao excesso na quantidade

consumida de nutrientes quanto pela escassez levando a obesidade ou a

desnutrição (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004).

A avaliação do estado nutricional tem por objetivo verificar o crescimento

e as proporções corporais em um indivíduo, determinando assim qual o nível de seu

desenvolvimento, que pode ocorrer em uma comunidade, escolas, creches,

ambulatórios etc. Visa estabelecer atitudes de intervenção. Dessa forma, é de

fundamental importância a padronização da avaliação a ser utilizada para cada faixa

etária escolhida pelo pesquisador (SIGULEM et al, 2000).

A antropometria, que consiste na avaliação das dimensões físicas e da

composição global do corpo humano, tem se revelado como o método isolado mais

utilizado para o diagnóstico nutricional em nível populacional, sobretudo na infância

e na adolescência pela facilidade de execução, baixo custo e inocuidade (SIGULEM

et al, 2000). O método tem como vantagens o baixo custo financeiro, a simplicidade,

e a facilidade de aplicação e padronização, além de ser um método pouco invasivo

(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004).

Os valores antropométricos representam, no nível individual ou de

populações, o grau de ajustamento entre o potencial genético de crescimento e os

fatores ambientais favoráveis e nocivos. O padrão antropométrico ideal, então, seria

aquele obtido de populações ou grupos étnicos cujos indivíduos tivessem usufruído

a oportunidade de desenvolver, plenamente, seu potencial de crescimento. Neste

sentido, utilizam-se os resultados estatísticos obtidos de populações das áreas

desenvolvidas do mundo, ou nas regiões subdesenvolvidas, dos grupos humanos de

elevado padrão socioeconômicos, que provavelmente tiveram melhores

72

oportunidades de cumprir suas possibilidades genotípicas de crescimento

(SIGULEM et al, 2000).

O processo de avaliação do estado nutricional passa por três etapas:

avaliação, diagnóstico e intervenção (TIRAPEGUI, RIBEIRO, 2009). Esta pesquisa

teve como objetivo somente os dois primeiros estágios, o último que é a intervenção

não ocorrerá por não ser este o foco do estudo. Segue abaixo a Figura 2

demonstrando o processo de avaliação nutricional:

Figura 2. Etapas da assistência nutricional. Fonte: TIRAPEGUI, RIBEIRO (2009)

Durante a adolescência ocorrem mudanças biológicas, que decorrem de

ações hormonais que constituem a puberdade. Esta fase é marcada pela transição

do estado infantil para o estado adulto, na qual é caracterizada por modificações de

peso, estatura, composição corporal, transformações fisiológicas e crescimento

ósseo (DUARTE, 2007).

As medidas antropométricas são consideradas adequadas para o

diagnóstico nutricional do adolescente, são utilizados dados como peso e altura

expressas em percentis, seus resultados podem ser acompanhados de outros

fatores como a maturação sexual devido a variabilidade individual neste processo

(DUARTE, 2007), porém este quesito não será considerado neste estudo.

1. Quem se pretende atender 2. Qual a razão para este atendimento 3. Quais são os problemas nutricionais possíveis de serem identificados

4. A partir das informações obtidas, se traçou o “perfil nutricional” do indivíduo ou grupo avaliado (= diagnóstico)

5. A partir das informações obtidas, será possível definir condutas, relacionadas à elaboração de planos alimentares, planos educativos ou prescrição de suplementos e/ou complementos nutricionais

AVALIAÇÃO

DIAGNÓSTICO

INTERVENÇÃO

73

3.3 LOCUS DA PESQUISA

O município de Benevides foi utilizado como município lócus de pesquisa.

Os principais motivos de sua escolha foram: (1) trata-se de um município que vem

passando por um significativo processo de reconfiguração territorial com alto nível

de urbanização de acordo com a tabela 7; (2) apresenta um elevado nível de

pobreza, conforme IDH¹ descrito na tabela 8, o que significa que programas de

natureza alimentar e nutricional são de significativa importância; (3) participa do

Projeto Mais Educação do Governo Federal; e (4) faz parte do Programa Município

Sustentável ora em desenvolvimento na UNAMA.

Tabela 7 População segundo situação da Unidade Domiciliar 1980/1991/1996/2000/2007/2010

Anos Urbana Rural

1980 6.665 15.656

1991 8.361 60.104

1996 2.918 25.212

2000 20.912 14.634

2007 2 25.078 18.204

2010 28.912 22.739

Fonte: IBGE, 2012

Elaboração: Idesp/Sepof

No Brasil de acordo com os dados do IBGE (Tabela 1, Capítulo 1)

12.978.448 de pessoas estão em algum grau de insegurança alimentar, sendo que

10.923.027 habitam os centros urbanos o que provavelmente está relacionado com

a renda da maioria dos trabalhadores abaixo de três salários mínimos como em

Benevides.

2 População estimada Até 0,499 IDH M Baixo De 0,500 até 0,799 IDH M Médio Maior de 0,800 IDH M Alto

74

Tabela 8 Índice de Desenvolvimento Humano de Benevides – IDH 1980/1991/1996/2000

IDH / Anos 1980 1991 2000

IDH – M 0,576 0,531 0,711

IDH – M Longevidade 0,552 0,608 0,664

IDH – M Educação 0,563 0,641 0,875

IDH – M Renda 0,614 0,343 0,595

Fonte: IBGE, 2012 Elaboração: Idesp/Sepof

Em termos específicos, os dados sobre o estado alimentar e nutricional

dos jovens foram levantados na Escola Municipal de Ensino Fundamental Santa

Luzia, localizada na Rua Perimetral Sul s/nº no bairro Santos Dumont, um dos

bairros mais pobres do município. A escola faz parte do programa Mais Educação.

3.4 AMOSTRA

O universo foi definido a partir dos alunos da escola, o critério de

amostragem foi não probabilístico. A escola atualmente tem 500 alunos

matriculados, distribuídos nos turnos: manhã, tarde, intermediário e noite (Educação

de Jovens e Adultos – EJA). As turmas vão do primeiro ao quinto ano.

Foram utilizadas para a pesquisa as turmas do 5º ano por terem idade

compatível com o grupo a ser pesquisado, acima de dez anos. Há quatro turmas de

quinto ano na escola e o universo de alunos matriculados nesta série é de 107

alunos. A amostra utilizada foi composta por 48 alunos, distribuídos nas quatro

turmas de 5ª série. Os alunos foram selecionados conforme autorização dos pais e

presença em sala de aula no momento da coleta dos dados. De forma mais precisa,

foram levantados dados de 48 jovens, entre homens e mulheres, com idade

variando de 10 a 14 anos de idade, foram também entrevistados 10 sujeitos

envolvidos na merenda escolar, assim totalizando 58 sujeitos participantes da

amostra.

Inicialmente o número de alunos matriculados na 5º série era de 107

alunos, porém estas informações foram obtidas durante o mês de agosto de 2012 e

a pesquisa por envolver seres humanos cumpriu o prazo de espera de sua

autorização para coleta de dados conforme as normas e orientações do Comitê de

75

Ética e Pesquisa (CEP). Os dados foram coletados somente no mês de novembro

de 2012 apresentando diferenças das informações iniciais devido há vários fatores

que serão citados adiante.

3.4.1 Considerações éticas

A pesquisa foi apreciada pelo Comitê de Ética e Pesquisa que obedece os

parâmetros do Ministério da Saúde, através do Conselho Nacional de Justiça que

propõem normas e condutas para pesquisas que envolvam seres humanos através

da portaria interministerial (Anexo 1 a 3). O certificado de autorização está anexado

no apêndice e todos os TCLES anexados seguiram as orientações do CEP.

3.5 COLETA DE DADOS

Antes da realização da coleta de dados, o projeto foi encaminhado para

apreciação do Comitê de Ética em pesquisa da UNAMA para o seu devido registro.

A coleta de dados para análise antropométrica ocorreu no mês de

novembro de 2012. Foram coletados os dados como altura em metros, peso em

quilos, sexo e a idade da população alvo. As informações estão descritas em

planilhas em Excel das quais foram importados dados para cálculos dos resultados

finais. (Modelo de planilha em anexo 4). O principal parâmetro utilizado é o de Índice

de Massa Corporal (IMC) ou índice de Quetelet que é o resultado da divisão do peso

em quilogramas, pela altura em metros, ao quadrado (DUARTE, 2007). A fórmula

para determinação do IMC é a seguinte:

IMC= Peso/ Altura²

O método específico foi o Percentil do IMC com pontos de cortes

estabelecidos para adolescentes conforme Tabela 9 abaixo:

76

Quadro 3 – Padrão para determinação do Percentil

Percentil do IMC Diagnóstico

Nutricional

< Percentil 5 Baixo Peso

>= Percentil 5 e < Percentil

85

Adequado ou Eutrófico

>= Percentil 85 Sobrepeso

Fonte: WORLD HEALTH ORGANIZATION – WHO. Physical status: the use and interpretation of anthropometry. WHO Techinical Report. Series. N.858. Geneva: WHO, 1995.

Para cruzamento dos dados serão utilizadas tabelas específicas descritas

nas Tabelas 10 e 11 abaixo:

Tabela 9 – Percentil de IMC por idade - Adolescente do sexo feminino

Idade

Percentil de IMC por idade - Adolescente do

sexo feminino

5 15 50 85 95

10 14,23 15,09 17,00 20,19 23,20

11 14,60 15,53 17,67 21,8 24,59

12 14,98 15,98 18,35 22,17 25,95

13 15,36 16,43 18,95 23,08 27,07

14 15,67 16,79 19,32 23,88 27,97

15 16,01 17,16 19,69 24,29 28,51

16 16,37 17,54 20,09 24,74 29,10

17 16,59 17,81 20,36 25,23 29,72

18 16,71 17,99 20,57 25,56 30,22

19 16,87 18,20 20,80 25,85 30,72

Fonte: WORLD HEAKTH ORGANIZATION – WHO. Physical status: the use and interpretation of anthropometry. WHO Techinical Report. Series. N.858. Geneva: WHO, 1995.

77

Tabela 10 – Percentil de IMC por idade - Adolescente do sexo masculino

Idade

Percentil de IMC por idade - Adolescente do

sexo masculino

5 15 50 85 95

10 14,42 15,15 16,72 19,60 22,60

11 14,83 15,59 17,28 20,35 23,60

12 15,24 16,06 17,87 21,12 24,89

13 15,73 16,62 18,53 21,93 25,93

14 16,18 17,20 19,22 22,77 26,93

15 16,59 17,76 19,92 23,63 27,76

16 17,01 18,32 20,63 24,45 28,53

17 17,31 18,68 21,12 25,28 29,32

18 17,54 18,89 21,45 25,95 30,02

19 17,80 19,20 21,86 26,30 30,66

Fonte: WORLD HEALTH ORGANIZATION – WHO. Physical status: the use and interpretation of anthropometry. WHO Techinical Report. Series. N.858. Geneva: WHO, 1995.

Em paralelo ao levantamento dos dados antropométricos foi realizada a coleta

dos dados da pesquisa qualitativa. Esta, como dito anteriormente no item 4.1, se

utilizou de pesquisa documental e entrevistas com as pessoas envolvidas nos

programas de merenda escolar e o Programa Mais Educação. Foram entrevistadas

10 pessoas. O questionário segue no anexo 5.

Houve obtenção de dados secundários provenientes de documentos

existentes em órgãos como Fundo Nacional para o Desenvolvimento Escolar

(FNDE), Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE), Ministério da Educação (MEC), Conselho de

Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA) dentre outros.

3.5.1 DESCRIÇÃO DA COLETA DE DADOS

O levantamento de dados antropométricos foi realizado no período de 05 a 14

de novembro de 2012 na Escola Municipal de Ensino Fundamental Santa Luzia, no

município de Benevides, Pará. As turmas de 5ª séries foram divididas conforme

citado incialmente em 4 e os dados foram distribuídos de acordo com os quadros

que seguem:

78

Na 5ª série A de um total de 25 alunos, foram coletados os dados de 15

estudantes, número este que corresponde a 60% do grupo selecionado, 28% não

foram autorizados pelos pais a participar da pesquisa, 12% dos termos de

consentimento enviados não foram devolvidos de acordo com a Tabela 12 abaixo:

Tabela 11 - Status dos alunos pesquisados 5ª série A

Situação dos alunos Nº de alunos – 25 (%)

Dados coletados 60 %

Não autorizados a participar 28%

Tecle não devolvido 12%

Transferido ou evadido 0%

Fonte: Escola Santa Luzia, 2012

Na 5ª série B em que 28 alunos constavam na lista de matriculados, somente

10 participaram da pesquisa, correspondendo a 36% do total. Dos demais 18% não

foram autorizados a participar, conforme números da Tabela 13 abaixo:

Tabela 12 - Status dos alunos pesquisados 5ª série B

Situação dos alunos Nº de alunos – 28 (%)

Dados coletados 36 %

Não autorizados a

participar

18%

Tecle não devolvido 39%

Transferido ou evadido 7%

Fonte: Escola Santa Luzia, 2012

Na 5ª série C haviam 24 alunos inscritos e 10 passaram pela coleta de dados,

correspondendo a 42% do grupo. Destes 24, 58% não devolveram os termos de

consentimento.

79

Tabela 13 - Status dos alunos pesquisados 5ª série C

Situação dos alunos Nº de alunos – 24 (%)

Dados coletados 42 %

Não autorizados a

participar

0%

Tecle não devolvido 58%

Transferido ou evadido 0%

Fonte: Escola Santa Luzia, 2012

Na 5ª série D, 27 alunos estavam matriculados e destes 13 tiveram seus

dados coletados, indicando 48% do total, e 26% foram transferidos ou evadiram a

escola, como descrito logo abaixo:

Tabela 14 - Status dos alunos pesquisados 5ª série D

Situação dos alunos Nº de alunos – 24 (%)

Dados coletados 42 %

Não autorizados a participar 0%

Tecle não devolvido 58%

Transferido ou evadido 0%

Fonte: Escola Santa Luzia, 2012

Do total de alunos matriculados informados de 103, frequentavam a escola

regularmente somente 95, os demais foram transferidos ou tinham evadido da

escola. A somatória final de dados coletados correspondeu a 48 estudantes

participantes, número este que demonstra que 50,51% dos estudantes passaram

pela coleta de dados antropométricos.

3.6 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS

No tratamento dos dados foram aplicadas técnicas estatísticas

descritivas. Estas técnicas foram suficientes para que fossem feitas inferências para

análises estatísticas a respeito da SAN de acordo com os correspondentes as

necessidades de avaliação do estado nutricional que se objetivou na pesquisa.

80

Foram utilizadas para comparação dos dados as informações da

Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição (PNSN) realizada pelo IBGE que tem como

característica importante a preparação rigorosa e controle de qualidade observados

na coleta das medidas antropométricas, bem como a representatividade nacional

quase em sua totalidade , com exceção da área rural da região Norte (CONDE,

MONTEIRO, 2006).

81

3.7 RISCOS E BENEFÍCIOS

Este tipo de pesquisa não apresentou riscos significativos tanto para os

alunos quanto para os entrevistados da pesquisa. O risco máximo para os

entrevistados envolvidos com a merenda escolar era a quebra da confidencialidade

por parte do pesquisador e provável exposição dos alunos durante a pesagem. As

entrevistas foram realizadas com somente um (01) entrevistado e evitou-se a

exposição de informações. A pesagem foi realizada em local fechado, uma sala de

aula, na presença somente do pesquisador e de um auxiliar que foi indicado pela

diretoria da escola. Os formulários não foram identificados e após cinco anos serão

incinerados. O mesmo procedimento foi realizado com o termo de consentimento

livre e esclarecido.

Os resultados serviram para identificar em que grau de segurança ou

insegurança alimentar e nutricional se encontra a população alvo e tais dados

poderão ser utilizados por futuras pesquisas como parâmetro para o município em

que se localiza a escola bem como para o mesmo público alvo (adolescentes) em

estudos semelhantes. A partir da observação dos sujeitos envolvidos na merenda

escolar podem-se realizar algumas inferências sobre a efetividade do programa Mais

Educação no que se refere ao estado nutricional dos adolescentes.

82

CAPÍTULO IV - A EFETIVIDADE DO PROGRAMA MAIS EDUCAÇÃO EM

BENEVIDES

4.1 FATORES SOCIOECONÔMICOS QUE INFLUENCIAM NA SEGURANÇA

ALIMENTAR E NUTRICIONAL (SAN) DE BENEVIDES

A primeira dimensão relacionada a SAN descrita nesta pesquisa cita a

pobreza como uma importante condicionante de sua natureza. A pobreza dentre

seus vários fundamentos menciona que a renda é crucial para estabelecer o grau de

conforto das famílias (ROCHA, 2000). Há também a consideração de uma ingestão

mínima de nutrientes provenientes da alimentação.

No que diz respeito à renda de (Tabela 15), identificou-se que 21.650

pessoas em Benevides possuem renda menor que três salários mínimos. Este

quadro indica que a renda não é suficiente para aquisição de alimentação da

população do município. Destaca-se que não é possível afirmar que a SAN no

ambiente escolar é estendida às famílias dos estudantes. Chama a atenção, porém

que 77% dos adolescentes se encontram em estado nutricional adequado aos

padrões da OMS. Há, inclusive, sob o mesmo padrão indicado pela figura 3,

sobrepeso de 20% doas alunos nas turmas A e B.

Figura 3: Estado nutricional dos alunos pesquisados

Fonte: Pesquisa de campo, 2012.

83

Tabela 15 – Rendimentos de pessoas por classe da população de Benevides em 2012

População agrupada por classe de rendimento / % da população total do

município

Rendimento mensal até ¼

salário mínimo 1.508 2,92

a partir de ¼ até ½ salário

mín. 1.755 3,40

a partir de 1/2 até 1 salário

mín. 10.800 20,90

a partir de 1 até 2 salário mín. 6.269 12,13

a partir de 2 até 3 salário mín. 1.318 2,55

a partir de 3 até 5 salário mín. 880 1,70

a partir de 5 até 10 salário

mín.

512 0,99

a partir de 10 até 15 salário

mín.

52 0,10

a partir de 15 até 20 salário

mín.

33 0,06

a partir de 20 até 30 salário

mín.

14 0,03

maior que 30 salários

mínimos

8 0,02

Sem rendimento 18.701 36,20

Sem declaração - -

Total da Pop. Benevides 51.663

Fonte: IBGE, 2012

A tabela 16 mostra que a incidência de pobreza é igual a 39% e o índice

de GINI 0,37 (Tabela 16), o que evidencia significativo nível de dificuldade de boa

parte da população para compra de alimentação, reafirmando que a pobreza dentro

da faixa etária investigada é de 87,7% (Tabela 18) o que interfere na capacidade das

famílias em alimentar-se de modo apropriado. SEN (2000) diz que o não acesso a

uma alimentação saudável é uma das maiores privações que o ser humano pode

enfrentar.

84

Tabela 16 – Incidência de pobreza e índice de GINI em Benevides em 2003

Ano 2003

Incidência da pobreza 39%

Incidência da pobreza subjetiva 39,61%

Índice de GINI 0,37

Fonte: IBGE, 2012

Elaborado: IDESP / SEPOF

Tabela 17 - Proporção da população em extrema pobreza frequentando a escola ou creche por faixa etária

Idade em anos %

0 a 3 103

4 a 5 11,5

6 a 14 87,7

15 a 17 96,6

Fonte: MDS, 2012

A geração de emprego é um componente primordial na dominação da

pobreza (SEN, 2000). Em Benevides, os dados do Ministério do Trabalho e Emprego

(MTE) (Tabela 18) indica que existe pouca oferta de empregos. Este fato sugere que

a empregabilidade local está comprometida e deve ter relação direta com os índices

de pobreza e SAN no município.

Em Benevides há 5.605 famílias beneficiárias do Bolsa Família3, programa

do governo federal que tem o intuito de retirar da extrema pobreza brasileiros que

ainda não auferem renda alguma. Uma das exigências deste programa é a

frequência escolar. Isto permite observar a interligação entre as políticas de

transferência de renda e a merenda escolar que atribui SAN à famílias com

empecilho para consumir alimentos.

A região norte é a segunda do país em número de beneficiários do

programa de Bolsa Família (Tabela 19), sendo que este dado está vinculado a

quantidade de mais de 50% de alunos nas escolas. Este fato confirma o nível de

pobreza na região.

3 Bolsa Família é o programa de transferência de renda do governo federal que beneficia famílias em situação de pobreza e extrema pobreza. O foco é atender milhões de brasileiros com renda familiar per capita inferior a R$ 70,00 mensais, baseando-se na garantia de renda, inclusão produtiva e no acesso aos serviços públicos.

85

Tabela 18 – Estoque de emprego segundo setor de atividade econômica 2000-2010

Setor Atividade 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Extrativa mineral - - - - - - - 4 - - -

Ind.

transformação

330 378 673 696 783 958 1217 1513 1618 1769 2334

Serviços indust.

Utilidade pública

13 11 9 8 2 2 2 3 5 6 5

Construção civil 26 24 28 62 81 65 64 62 90 145 152

Comércio 354 468 470 394 549 728 774 924 951 1023 1376

Serviços 144 156 313 303 335 372 464 592 644 757 639

Adm. Pública 319 719 801 855 628 1028 1131 1232 1102 1089 1512

Agropecuária 187 156 184 143 166 325 165 159 182 201 245

Outros/Ignorados - - - - - - - - - - -

Total 1373 1912 2478 2461 2544 3478 3817 4489 4592 4990 6263

Fonte: MTE/RAIS, 2012

Elaboração: Idesp/Sepof

Tabela 19 – Número de escolas com mais de 50% dos alunos do programa do Bolsa Família

Região Quantidade

de Escolas

Quantidade

Alunos

Quantidade Alunos

no Bolsa Família

Norte 2.546 981.754 638.769

Nordeste 12.270 4.703.306 3.228.025

Centro-

Oeste

476 168.829 101.597

Sudeste 1.551 724.624 443.171

Sul 729 235.620 141.820

Brasil 17.572 6.814.133 4.553.382

Fonte: MDS 2012

O conceito de sustentabilidade é subjetivo e complexo por estar imbricado

a vários eixos importantes para sua concretização (MOTA, SILVA, 2009), tais como

o social, ambiental, econômico, territorial e político. Para o alcance da SAN a

sustentabilidade social é requisito indispensável para que as políticas públicas que a

almejem percorrer com permanência e abrangência os caminhos necessários para

manutenção de programas como a merenda escolar.

De acordo com a tabela 20 a seguir, este programa merenda escolar vem

incrementando tanto os recursos financeiros, que aumentaram de 590,1 milhões em

1995 para 3.034 milhões em 2010. Quanto o número de alunos atendidos, variou de

86

33,2 milhões para 45,6 em 2010, em nível nacional. Esta informação comprova sua

constância e capacidade na busca da SAN. A partir destes dados é possível

identificar a influência do programa no bem estar nutricional de seu público alvo

através da regularidade na oferta de alimentos confirmando assim os 77% de

adequação do estado nutricional dos adolescentes pesquisados em Benevides.

Tabela 20 - Recursos financeiros e alunos atendidos no programa de merenda escolar no

período de 1995 a 2010:

Ano Recursos Financeiros (em milhões)

Alunos atendidos (em milhões)

1995 590, 1 33,2 1996 454,1 30,5 1997 672,8 35,1 1998 785,3 35,3 1999 871,7 36,9 2000 901,7 37,1 2001 920,2 37,1 2002 848,6 36,9 2003 954,2 37,3 2004 1.025 37,8 2005 1.266,00 36,4 2006 1.500,00 36,3 2007 1.520,00 35,7 2008 1.490,00 34,6 2009 2.013,00 47,00 2010 3.034,00 45,6

Fonte: FNDE 2012

A matriz de interfaces do programa Bolsa Família na Saúde (Anexo 10) é

um modelo que sugere interconexões entre as ações com o objetivo de obter

resultados condizentes com a equidade de bem estar em que se inclui a SAN dentro

da proposta do próprio Programa Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN)4.

Quanto à sustentabilidade ambiental há uma menção discreta por parte do

presidente da Cooperativa de Agricultores de Benevides (COOPABEN) que afirma:

“Nossa preocupação com o plantio orgânico dos produtos fornecidos a merenda escolar é a sustentabilidade do solo, para que possamos mantê-lo forte para novos plantios”.

Para o presidente da COOPABEN a merenda escolar deve preconizar o

plantio orgânico para que a sustentabilidade seja entendida como fator primordial

4 PNAN programa instituído pela portaria nº 710, de 10 de julho de 1999. Interliga as ações na área da saúde pública.

87

para que as gerações futuras tenham iguais acesso a alimentação saudável e

culturas livres de elementos que possam provocar doenças e comprometer a SAN.

A luz da visão biológica da SAN o indivíduo que consuma um mínimo de

quatro refeições ao dia com 2600 kcal apresenta respostas mais positivas a doenças

melhorando as chances de sobrevivência que podem interferir na longevidade e

capacidade para o aprendizado e trabalho das pessoas (SIGULEM et al, 2000).

Entretanto o dado de 2000 pode ser considerado de média adequação e indicando

melhora de aproximadamente 78% em relação ao ano de 1970 favorecendo a

aproximação da situação de SAN, dado este que pode ser comprovado a partir do

diagnóstico de eutrofia para os 77% de estudantes pesquisados e que influencia na

possibilidade de vida mais longa (SIGULEM et al, 2000).

Em face destes resultados pode-se inferir que a ingestão mínima de

nutrientes como calorias e proteínas está corroborando a ideia de Rego (2001) que

considera a SAN sob a ótica biológica como acesso assegurado do individuo a

alimentos tratados e seguros higienicamente para prevenção de doenças, em

quantidade suficiente que atendam suas necessidades nutricionais, evidentemente

levando em consideração seus hábitos alimentares, que proporcione uma vida

saudável. Conforme representa a figura 4 que demonstra o estado nutricional dos

estudantes do programa Mais Educação que foram pesquisados.

88

Figura 4 - Estado nutricional de estudantes do Programa Mais Educação

Fonte: Pesquisa de campo, 2012.

No que diz respeito ao desenvolvimento de peso e altura na faixa etária

considerada é possível compreender que o estado nutricional favorece o ganho

normal para maioria dos alunos (tabela 21 e figura 4).

Tabela 21 – Estado Nutricional dos estudantes segundo a idade

Idade (anos) Baixo Peso Adequado Sobrepeso Total

N % N % N % N %

10 2 13,3 10 66,7 3 20,0 15 100,0

11 2 13,3 11 73,3 2 13,3 15 100,0

12 2 20,0 8 80,0 0 0,0 10 100,0

13 0 0,0 6 100,0 0 0,0 6 100,0

14 0 0,0 2 100,0 0 0,0 2 100,0

Total 6 12,5 37 77,1 5 10,4 48 100,0

Fonte: Pesquisa de campo, 2012.

Esta melhora no estado nutricional dos estudantes foi percebida pelo

próprio corpo docente responsável pelas turmas de 5ª série como assevera uma das

professoras:

“Percebemos que algumas crianças não tomavam nem o café da manhã, outros esperavam a comida por só ter esta alimentação o dia todo, acreditando então que a merenda contribuiu tanto para melhorar o peso das crianças como para aumentar a frequência escolar”(Professora da 5ª série).

89

Dentro da questão biológica da SAN, a FAO recomenda que adolescentes

entre 10 e 15 anos de idade, consumam em média de 2620 kcal/dia. Os estudantes

que consomem diariamente três refeições na escola têm seu suprimento calórico

atendido em torno de 900 kcal, o que equivale a 34% de suas necessidades

nutricionais diárias que é de 2647 kcal. Isto significa dizer que a merenda escolar

atende mais do que é preconizado em suas diretrizes que é de 15% das

necessidades diárias. Entendemos que o consumo de 34% das necessidades

diárias promovidos em Benevides está diretamente ligado ao bom estado nutricional

encontrado nos resultados da pesquisa.

A composição do cardápio está em sintonia com as recomendações da

FAO, (Tabela 22) e está corroborando para o bom perfil nutricional do público alvo

desta pesquisa (figura 5).

Tabela 22 – Composição nutricional do cardápio ofertado no mês de novembro de 2012

Nutriente Média Dp Mínimo Máximo

Energia(Kcal) 305,0 ±92,3 145,9 472,0

Carboidrato (g) 49,5 ±15,4 21,5 73,6

Proteína (g) 12,6 ±9,8 2,6 30,7

Gordura total 6,8 ±3,1 3,5 16,1

Gordura saturada 1,5 ±1,1 0,0 3,8

Gordura trans 0,0 ±0,0 0,0 0,3

Fibras 4,3 ±5,9 0,0 24,0

Vitamina A 68,9 ±88,7 0,0 318,5

Vitamina C 9,4 ±18,5 0,0 73,3

Cálcio 98,8 ±103,1 0,0 363,0

Fósforo 139,6 ±145,2 0,0 438,8

Ferro 13,6 ±25,2 0,2 63,4

Magnésio 29,1 ±22,4 0,0 62,8

Zinco 1,0 ±1,1 0,0 3,1

Fonte: Pesquisa de campo, 2012.

90

Figura 5 – Estado Nutricional dos estudantes segundo a idade

Fonte: Pesquisa de campo, 2012.

A tabela 23 e figura 5 demonstram a distribuição do estado nutricional por

turmas confirmando a prevalência da adequação com relação ao peso e altura para

a idade. A pesquisa corrobora com Sigulem, 2000 que afirma que a adolescência é

um período importante para avaliação do estado nutricional já que 50% do peso e

20-25% da estatura são adquiridos neste momento da vida. No caso pesquisado os

parâmetros estão corretos.

Tabela 23 – Estado Nutricional dos estudantes segundo a distribuição das turmas

Baixo Peso Adequado Sobrepeso

Total

Turma Num. % N % N % N %

5A 3 20,0 9 60,0 3 20,0 15 100,0

5B 1 10,0 7 70,0 2 20,0 10 100,0

5C 1 10,0 9 90,0 0 0,0 10 100,0

5D 1 7,7 12 92,3 0 0,0 13 100,0

Total 6 12,5 37 77,1 5 10,4 48 100,0

Fonte: Pesquisa de campo, 2012.

O estado nutricional representa imensa importância na determinação da

saúde dos indivíduos. Os diagnósticos relacionados ao estado nutricional como a

desnutrição, sobrepeso e obesidade são indicativos de problemas que podem

interferir no desenvolvimento dos indivíduos (KOGA, 2005). O estudo conseguiu

91

identificar a existência de desnutrição tratada na pesquisa como baixo peso e isto

denota que a merenda escolar assume em Benevides um papel no importante no

combate a insegurança alimentar local. A figura 6 demonstra o estado nutricional

dos adolescentes por turma.

Figura 6 – Distribuição gráfica do Estado Nutricional por turma

Fonte: Pesquisa de campo, 2012.

A visão da SAN por via disponibilidade está relacionada com a presença

do alimento para consumo e satisfação das necessidades dos indivíduos. Sob a

ótica do acesso, os estudos da SAN se direcionam para entender se os indivíduos

têm capacidade de recursos para adquiri-los (MALUF, 2000). A segurança alimentar

e nutricional pode ficar garantida e promover um perfil nutricional adequado as

pessoas se estas têm acesso ou disponibilidade de alimentos (MALUF, 2000). Em

Benevides a pesquisa revelou que a disponibilidade de alimentos está comprometida

porque a quantidade de alimentos é insuficiente para atender a população local

(Tabelas 24 e 25).

A disponibilidade é um dos elementos primordiais para que os alimentos

sejam capazes de reverter quadros de insegurança alimentar comuns em muitas

regiões brasileiras (BRANCO, 2005; CONSEA, 2011; MALUF, 2000 e MATTEI,

2007).

No município de Benevides, a produção de alimentos segue um

decréscimo desde 2001 conforme os dados apresentados pelo IBGE para plantios

temporários descritos na tabela 24. Estes dados não têm influência direta no

92

programa da Merenda Escolar, pois a aquisição dos alimentos in natura provém de

uma cooperativa que produz especificamente para a alimentação escolar e os

demais gêneros alimentícios mais elaborados e adquiridos de outras fontes.

Entretanto esses números vão interferir na SAN da população local como um todo, o

que indica a necessidade de outros programas direcionados para a SAN no

município.

Tabela 24 - Área colhida, quantidade produzida e valor de produção dos principais produtos

das lavouras temporárias 2001/2007-2009

Produtos Área colhida (ha) Quantidade Produzida (t)

Valor (mil reais)

2001

2007

2008

2009

2001

2007

2008

2009

2001

200

7

200

8

200

9

Abacaxi (mil frutos)

2 - - - 40 - - - 20 - - -

Arroz (em casca) 5 - - - 5 - - - 1 - - -

Cana de açúcar 5 - - - 60 - - - 9 - - -

Mandioca 25 8 - - 250 140 - - 10 21 - -

Melancia (mil frutos)

15 - - - 15 - - - 3 - - -

Fonte: IBGE, 2012 Elaboração: Idesp/Sepof

Com relação a culturas permanentes, os dados demonstrados na tabela

25 conferem ao município um perfil de indisponibilidade de alimentos para o

consumo local. Estes números refletem que a disponibilidade de alimentos além de

insuficiente, não tem estabilidade e sua autonomia é insignificante para atender o

consumo local (MALUF, MENEZES, VALENTE, 1996).

93

Tabela 25 - Área colhida, quantidade produzida e valor de produção dos principais produtos

das lavouras permanentes 2001/2007-2009

Produtos Área colhida (ha) Quantidade Produzida (t) Valor (mil reais)

2001 2007 2008 2009 2001 2007 2008 2009 2001 2007 2008 2009

Banana 117 - - - 1170 - - - 304 - - -

Café (em coco) 5 - - - 5 - - - 5 - - -

Coco da Bahia (mil frutos)

93 - - - 670 - - - 168 - - -

Laranja 52 - - - 540 - - - 46 - - -

Limão 6 2 - - 54 20 - - 3 2 - -

Mamão 30 - - - 450 - - - 90 - - -

Maracujá 3 - - - 11 - - - 3 - - -

Fonte: IBGE, 2012

Elaboração: Idesp/Sepof

A produção agroalimentar local é adquirida através da COOPABEN para a

confecção das refeições escolares. Isto é um indicativo de que o conceito de SAN

dentro da merenda escolar em Benevides é alicerçada em politicas públicas e

estratégias que privilegiem a relação entre produção e consumo local. Entendemos

que se desenvolve a partir de formas mais “equitativas e sustentáveis de produzir e

comercializar alimentos com ações dirigidas aos grupos sociais mais vulneráveis à

fome, à desnutrição” (BURLANDY, MAGALHÃES, MALUF 2006) e aos vários

problemas nutricionais.

Os dados demonstrados na Tabela 26 confirmam este entendimento no

âmbito da merenda escolar.

94

Tabela 26 - Quantidade de produtos comercializados em 2010 pela COOPABEN em 2010

Item Produto Unid

ade

Quantidade Preço unitário

(R$)

Preço Total

(R$)

01 Banana Prata in natura Kg 15.345 2,93 44.297,40

02 Coentro in natura Kg 682 13,38 9.128,11

03 Couve manteiga Kg 1.277,9 4,07 5.206,89

04 Feijão verde Kg 143 1,00 142,55

05 Farinha de tapioca Kg 221 4,18 924,35

06 Jambu Kg 141 1,51 212,31

07 Jerimum Kg 5.547 0,78 775,01

08 Mamão Kg 5.547 3,05 16.936,64

09 Macaxeira Kg 1.288 3,49 4.489,32

10 Melancia Kg 4.232 1,02 4.307,19

11 Ovo tipo médio extra Kg 14.076 0,21 2.943,71

VALOR TOTAL GERAL 89.993,48

Fonte: Contrato Administrativo nº11/2010, da Prefeitura Municipal de Benevides, PA, 17 de maio de

2010.

Entretanto, a discreta produção agrícola no município não é suficiente

para atender as recomendações do Decreto Lei nº 399 que trata da composição da

cesta básica destinada aos trabalhadores que recebem salário mínimo (DIEESE,

2013) (Tabela 27). Tal situação prejudica a estabilidade e autonomia de produção de

Benevides, pois dos alimentos que constam na cesta básica, a banana e o café são

cultivados de modo permanente e em pequena quantidade na região. Os demais

são adquiridos no comércio local e tem seus preços influenciados por fatores como:

logística, clima e safra.

95

Tabela 27 - Provisões mínimas estipuladas pelo Decreto Lei nº 399

Alimentos Unid. Região 1 Região 2 Região 3 Nacional Carne kg 6,0 4,5 6,6 6,0 Leite l 7,5 6,0 7,5 15,0 Feijão kg 4,5 4,5 4,5 4,5 Arroz kg 3,0 3,6 3,0 3,0 Farinha kg 1,5 3,0 1,5 1,5 Batata kg 6,0 - 6,0 6,0 Legumes (Tomate) kg 9,0 12,0 9,0 9,0 Pão francês kg 6,0 6,0 6,0 6,0 Café em pó g 600 300 600 600 Frutas (Banana) unid. 90 90 90 90 Açúcar kg 3,0 3,0 g 3,0 3,0 Banha/Óleo g 750 750 900 1,5 Manteiga g 750 750 750 900

Fonte: DIEESE, 2013

Os estudantes alocados do Programa Mais Educação de Benevides que

estão expostos a fatores favoráveis como alimentação equilibrada freqüente e

acesso contínuo aos alimentos acabam por ter estados nutricionais em níveis iguais

ou próximos a normalidade sugeridos por Sigulem et al,(2000). Dentre os pontos

favoráveis, a disponibilidade aos alimentos proporciona resultados positivos que

colocam grupos ou indivíduos dentro dos padrões adequados de crescimento e

ganho de peso como os apresentados pelos alunos pesquisados. Pode-se inferir

que estes dados foram determinados pelo consumo das refeições oriundas do

Programa Mais Educação.

Com relação ao argumento da cultura para SAN, os hábitos e tradições

alimentares são respeitados desde a aquisição dos gêneros alimentícios até o

preparo das refeições da merenda escolar. O quadro exposto a seguir mostra que

alimentos como: farinha, tapioca, açaí, charque, banana, jambu, caruru e feijão

verde estão incluídos.

O programa Mais Educação é acompanhado e fiscalizado pelo Conselho

Municipal de Alimentação escolar (CAE). De fato, este conselho tem como objetivo

fiscalizar a aplicação dos recursos transferidos pelo governo federal e tomar as

decisões que atinjam os processos específicos da merenda escolar que passa

desde a qualidade dos produtos até a compra e distribuição nas escolas. A

eficiência, transparência nas contas e a qualidade dos alimentos são ferramentas

utilizadas na busca da efetividade do programa.

96

Quadro 4 – Cardápio utilizado na merenda escolar do Projeto Mais Educação em Benevides

CARDÁPIO

Mingau de cereal de arroz (cereal, leite, açúcar) Leite com café e biscoito doce tipo maisena (leite, café, açúcar, biscoito) Bebida láctea sabor mix de frutas com biscoito salgado tipo cream cracker (bebida láctea, biscoito) Suco de goiaba com biscoito rosca leite (polpa, açúcar e biscoito) Suco de caju com biscoito Maria chocolate (polpa, açúcar e biscoito) Açaí com farinha de tapioca (açaí, farinha de tapioca, açúcar) Carne moída com arroz, feijão e salada de pepino, banana (carne moída, arroz, feijão, alho, coentro, pepino, sal, óleo, mamão) Carne moída com berinjela e macarrão + melancia(carne moída, berinjela, coentro, molho de tomate, alho, óleo, sal) Arroz verdinho e banana (arroz, jambu, feijão verde, couve, jerimum, coentro, alho, ovos, sal, óleo, banana) Frango guisado com macaxeira, couve e arroz (frango, arroz, macaxeira, couve, alho, óleo, sal, melancia) Feijão com carne e couve, arroz e banana (feijão, charque, couve, arroz, alho, sal, óleo, coentro, banana) Frango com macarrão (macarrão, frango, jerimum, feijão verde, milho, alho, coentro, sal, óleo, melancia) Sopa de legumes com carne +mamão(carne, massa, macaxeira, couve, jerimum, coentro, sal, óleo, alho) Sopa de feijão (feijão, massa, carne moída, jerimum, macaxeira, maxixe, couve, caruru, óleo, sal)

Fonte: SEAD – Secretaria de Administração do Município de Benevides, 2012

Sabe-se que a diversidade do cardápio aliada ao respeito aos hábitos

alimentares locais (MARCHINI, 2008) pode levar a uma melhor aceitabilidade da

refeição que, com certeza, interfere no estado nutricional dos adolescentes

estudados (FLÁVIO, BARCELOS, LIMA, 2004). Conforme as informações da direção

escola e da nutricionista do município, e, ainda, e as observações em campo, não há

oferta alimentos industrializados como refrigerantes, bebidas isotônicas e

preparações instantâneas, contrapondo as reflexões de Menezes (2001) de que a

urbanização acelerada modifica o consumo alimentar. Esta asseveração é

confirmada pelos dados dos pedidos de compra de produtos in natura demonstrada

no anexo 10.

O orçamento destinado ao programa de merenda escolar alcançou quase

R$ 27 milhões em 2010 e este investimento é percebido na qualidade da

alimentação servida aos escolares como afirma a coordenadora da escola: “A merenda escolar está bem melhor, e isto é atribuído ao programa mais

educação devido à verba que melhorou inclusive a variedade e qualidade

com a introdução de alimentos como iogurte, açaí, frutas, e comida com

frango e carnes”. Coordenadora da escola.

97

A efetividade do Programa Mais Educação foi discutida diante das várias

perspectivas abordadas na pesquisa e buscou esclarecer de maneira minuciosa de

que forma cada fator interfere na SAN aliada à merenda escolar.

Acesso relacionado à pobreza e disponibilidade ligado a produção local

de alimentos foram dois fatores relevantes para determinação da SAN em

Benevides. A execução do Programa Mais Educação é realizada no ambiente

escolar que agrega parte da população atingida diretamente pelas desigualdades

sociais e ao mesmo tempo beneficiadas por políticas de transferência direta de

renda. Estes determinantes interferiram positivamente na SAN do público alvo

estudado.

O município de Benevides manifesta um alto nível de pobreza e com

relação a este ponto a nutricionista responsável técnica pela merenda declara: “A refeição de qualidade especialmente em uma região carente como esta,

faz muita diferença, o aluno fica mais atento e disposto quando se alimenta, e

estes são fatores que influenciam no aprendizado escolar. Ouvem-se

comentários dos professores e diretores que notam a diferença na atenção

dos alunos quando estão bem alimentados.”

Nutricionista do município.

Declaração esta que confirma que acesso e disponibilidade caminham

juntos para determinação de SAN.

Com relação a questão biológica a pesquisa identificou que o Programa

Mais Educação cumpriu seu papel de suprir os requerimentos nutricionais

necessários ao bom desenvolvimento dos adolescentes promovendo a SAN no

espaço escolar.

98

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa apresentou como objetivo principal analisar em que medida o

aumento da oferta de refeições aos estudantes de escolas municipais contribui para

segurança alimentar e nutricional dos adolescentes entre 10 e 14 anos inseridos no

Programa Mais Educação do governo federal. As respostas encontradas para a

análise realizada demonstram que o programa contribui positivamente para o bem

estar nutricional dos alunos que consomem as refeições no ambiente escolar e para

outros aspectos importantes para o crescimento e desenvolvimento sadio dos

adolescentes como a composição de nutrientes e os hábitos alimentares.

Enquanto política pública que visa promover acesso e disponibilidade, a

merenda escolar, o programa Mais Educação consegue alcançar seu objetivo

atribuindo SAN ao público alvo através do fornecimento regular de refeições

adequadas no espaço educativo.

Nos objetivos específicos, a dissertação buscou primeiramente identificar

o estado nutricional dos adolescentes entre 10 e 14 anos que consumiam a merenda

escolar. Os resultados obtidos na pesquisa foram condizentes com um perfil

nutricional apropriado para idade dentro do percentil esperado que seja >= 5 e < 85

conforme os parâmetros da Organização Mundial de Saúde. Este resultado foi

condizente para 77% dos alunos avaliados. Isto permite dizer que o Programa Mais

Educação em Benevides tem sido eficiente no aspecto nutricional.

Como segundo objetivo buscou-se relacionar o estado nutricional dos

estudantes a composição de nutrientes das refeições servidas. Este item foi

entendido a partir das tabelas de análise da composição química dos nutrientes que

concebem as preparações confeccionadas para a merenda escolar. As composições

químicas alcançaram em média 900 kcal/dia que representam 34% das

necessidades diárias do individuo na faixa etária pesquisada. Este resultado permite

inferir que a qualidade nutricional das preparações alimentícias do Programa Mais

Educação em Benevides colabora para a SAN dos estudantes.

O terceiro objetivo específico procurou identificar a relação entre as

refeições produzidas, os hábitos alimentares e a influência destes na SAN do público

avaliado. O estudo identificou que a cultura local a partir dos hábitos e tradições

alimentares é respeitada e promove a SAN em Benevides. Identificou-se que a

compra e o consumo constante de alimentação está em consonância com o

99

esperado pelos alunos. De fato, a SAN é conceituada a partir do acesso constante a

alimentação segura e alicerçada em práticas que levem em consideração a cultura e

os hábitos alimentares dos indivíduos para que possa proporcionar um estado de

saúde físico e biológico que mantenha as pessoas capazes de levar o tipo de vida

que considerem adequados aos seus anseios.

Indivíduos saudáveis, com boa alimentação e instrução, impulsionam o

desenvolvimento e o acesso à alimentação escolar é elemento indispensável para o

percurso deste trajeto que leva tanto a uma qualidade de vida alimentar adequada

quanto a um melhor aspecto social.

A SAN a partir da merenda escolar deve se constituir em um eixo central

incorporado em uma estratégia de desenvolvimento baseada na equidade social. A

merenda escolar promove o acesso aos alimentos a população mais vulnerável e

proporciona SAN.

As oportunidades sociais como os serviços públicos em que se insere a

educação comportam-se como fins e meios para que os indivíduos fortaleçam sua

liberdade de viver de maneira própria.

A vulnerabilidade social a que grande parte da população é exposta pode

ser minimizada através da ação do Estado por meio da segurança protetora de

politicas públicas que promovam um desenvolvimento mais justo e equilibrado e que

proporcionem aos indivíduos melhores condições de vida.

Os dados da pesquisa demonstram que os adolescentes que recebem

alimentação do Programa Mais Educação são considerados vulneráveis socialmente

especialmente por viverem em um município com alto índice de pobreza. Benevides

também apresenta uma urbanização acelerada que traz consequências diretas para

a situação de pobreza que, por conseguinte afeta, a SAN.

A pobreza se institui como principal causa do acesso escasso ou custoso

aos alimentos e da decorrência do sintoma mais agudo da insegurança alimentar

que é a fome. Incrementar as oportunidades de trabalho e de geração de renda são

imprescindíveis para certificar o acesso à alimentação adequada pela população e

combater a fome em Benevides.

A pobreza gera custos sociais que incluem a subtração da capacidade

para aprendizagem e da capacidade para o trabalho. Implicam no desenvolvimento

físico e intelectual das pessoas. Se os fatores que provocam a insegurança

100

alimentar não forem combatidos podem acarretar consequências em longo prazo e

irreversíveis para aqueles que as sofrem.

As desigualdades sociais mantêm uma parcela significativa da população

em situação de exclusão para o consumo regular e satisfatório de alimentação. Isto

provoca a coexistência de produtos alimentícios pouco elaborados e de baixo custo

com monoculturas, que se elevam continuamente para suprir indústrias alimentícias.

A oferta de alimentos mais elaborados alavanca a alta dos preços dos

alimentos em geral, prejudicando ainda mais o acesso à alimentação frequente por

parte da população mais vulnerável. Como no caso do grande plantio de palma no

entorno do município.

Em Benevides a produção agroalimentar é muito baixa e não se

identificou práticas sustentáveis no plantio por parte dos órgãos locais que

intermediam as compras da produção de alimentos.

A condição de saúde dos indivíduos a partir de uma boa alimentação

suscita diversos outros fatores que influenciam de modo concreto na aptidão para o

labor e atividades intelectuais que determinam o nível de desenvolvimento de uma

população. Em Benevides, o estado nutricional dos estudantes avaliados concorre

para melhores resultados do IDEB da escola utilizada como lócus da pesquisa, que

passou de 2,8 em 2005 para 3,9 em 2011 superando a meta municipal que era de

3,6.

A segurança alimentar sob a perspectiva biológica se refere ao acesso do

individuo a alimentos livres de contaminação por microrganismos que causem

doenças, em quantidade necessária que atendam suas necessidades nutricionais. A

avaliação realizada com relação a qualidade nutricional da merenda escolar mostrou

que o aspecto biológico desta modalidade de programa público atende o aporte

necessário a um adequado estado nutricional de seu público alvo.

A disponibilidade alimentar é quesito essencial para estabelecer SAN. A

produção de alimentos deve promover especialmente no que diz respeito à

alimentação básica e regional formas estáveis de combate a insegurança alimentar.

Em conformidade com os dados da produção local para atendimento da merenda

escolar, foi possível perceber que os cultivos locais são capazes de garantir a SAN

por via do Programa Mais Educação. Esta análise ocorreu somente no nível de

compras a partir da merenda escolar.

101

O acesso aos alimentos por meio das diversas camadas da população

necessita de uma conexão com sua disponibilidade, produção e comercialização

para que seja efetivo. Em Benevides, esta efetividade é fundamentada por via das

compras realizadas da COOPABEN para a merenda escolar.

Sob a ótica cultural os indivíduos contemplados pelo programa em

Benevides se alimentam em quantidades suficientes de calorias e nutrientes. Os

alimentos relacionam-se com as escolhas, rituais, sociabilidade, com ideias e

significados que resultam em interpretações e experiências próprias a cada um. Isto

interfere diretamente na SAN dos indivíduos. No município pesquisado há

preocupação com os hábitos alimentares peculiares aos adolescentes o que

corrobora para o cenário de adequação nutricional encontrado na avaliação dos

mesmos, pois os cardápios são elaborados com base na cultura e produção local.

A educação e alimentação são direitos do cidadão garantidos por políticas

públicas que objetivam incluir a população socialmente vulnerável em cenários mais

condizentes com a dignidade humana. As políticas públicas são consideradas

ferramentas para o Estado implantar projetos e programas minimizem a exclusão

social.

A merenda escolar e Programa Mais Educação são políticas que por sua

característica de ampla abrangência tem grande capacidade de realizar com

efetividade ações que promovam SAN. A merenda escolar apresenta condições

favoráveis para consolidação da SAN em duas vertentes: a do acesso aprovisionado

aos estudantes e a disponibilidade por fomentar políticas inter setoriais que facilitam

a distribuição da produção alimentícia local a grupos específicos. Este argumento

comprova que acesso e disponibilidade quando realizados de maneira organizada,

planejada e efetiva ocasionam SAN.

A gestão pública descentralizada da merenda escolar propicia o vínculo

da produção local com o consumo local dos produtos agroalimentares

engrandecendo a cultura, os hábitos, tradições regionais e alimentação mais

saudável. Promove uma participação mais significativa dos pequenos e médios

produtores locais.

A SAN pode ser vista no contexto da merenda escolar como garantia de

qualidade de vida nutricional e elemento fundamental para o desenvolvimento de

púbicos específicos e vulneráveis.

102

Os municípios são espaços propícios à implantação e execução de

políticas públicas que podem ser administradas com efetividade e levar a inclusão

de inúmeros indivíduos em um cenário de SAN.

Conclui-se então que a meta principal da merenda escolar que é de

atender necessidades nutricionais dos alunos durante a permanência em sala de

aula tem sido atingida pelo Programa Mais Educação em Benevides. Há o alcance

da segurança alimentar e nutricional para a maioria dos adolescentes entre 10 e 14

anos do município.

103

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113

APÊNDICES

114

APÊNDICE 1

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – MAIOR SUJEITOS

ENVOLVIDOS NA MERENDA ESCOLAR

“Gestão de Políticas Públicas para Segurança Alimentar e Nutricional: uma análise do Programa de Mais Educação no município de Benevides, Pará”

Você está sendo convidado (a) a participar do projeto de pesquisa acima citado. O documento abaixo contém todas as informações necessárias sobre a pesquisa que estamos fazendo. Sua colaboração neste estudo será de muita importância para nós, mas se desistir a qualquer momento, isso não causará nenhum prejuízo a você. O participante da pesquisa fica ciente: I) Este estudo apresenta como objetivo geral analisar o estado nutricional de adolescentes entre 10 a 19 anos que estejam cursando a 5ª série, a partir da coleta de dados referentes ao cálculo do Índice de Massa Corporal – IMC que são: peso, altura, idade e sexo. Farão parte do estudo 80 crianças, sendo 20 de cada turma, com faixa etária já citada acima. Todos os adolescentes deverão estar presentes na escola na data e horário que será definido, trajando roupas leves (como camisetas e calças de malha que podem corresponder ao uniforme usado diariamente na frequência escolar). Será solicitado apenas que os estudantes se organizem de acordo com o diário de classe para melhor organização da coleta de dados. Serão entrevistados 10 sujeitos envolvidos na merenda escolar para análise do funcionamento do programa. II) O participante da pesquisa (ou voluntário da pesquisa) não é obrigado a responder as perguntas realizadas no questionário de avaliação; III) A participação neste projeto não tem objetivo de submeter você a um tratamento, bem como não causará a você nenhum gasto com relação aos procedimentos de medidas antropométricas efetuadas com o estudo; IV) O participante da pesquisa (ou voluntário da pesquisa) tem a liberdade de desistir ou de interromper a colaboração neste estudo no momento em que desejar, sem necessidade de qualquer explicação; V) A desistência não causará nenhum prejuízo a sua saúde ou bem estar físico, bem como você não receberá remuneração e nenhum tipo de recompensa nesta pesquisa, sendo sua participação voluntária; VI) Benefícios : O participante da pesquisa contribuirá para acrescentar à literatura dados referentes ao tema, direcionando as ações voltadas para a promoção da saúde; VII) Riscos: Este tipo de pesquisa apresenta riscos tanto para os alunos quanto para os entrevistados da pesquisa. O risco para os entrevistados envolvidos com a merenda escolar é a quebra da confidencialidade por parte do pesquisador e provável exposição dos alunos durante a pesagem. As entrevistas serão realizadas com somente um (01) entrevistado por vez para evitar-se a exposição de informações. A pesagem será realizada em local fechado, uma sala de aula, na presença somente do pesquisador e de um auxiliar que será de indicação da diretoria da escola. Todavia serão tomados todos os cuidados possíveis para que isto não ocorra. Os formulários não serão identificados e após cinco anos serão incinerados. O mesmo procedimento será realizado com o termo de consentimento livre e esclarecido.

115

VIII) Serão tomados todos os cuidados possíveis para que isto não ocorra. Os formulários não serão identificados e após cinco anos serão incinerados. O mesmo procedimento será realizado com o termo de consentimento livre e esclarecido. Os resultados poderão ser divulgados em publicações científicas mantendo sigilo dos dados pessoais; IX) Durante a realização da pesquisa, serão obtidas as assinaturas dos participantes da pesquisa e do pesquisador, também, constarão em todas as páginas do TCLE as rubricas do pesquisador e do participante da pesquisa; X) Caso o participante da pesquisa desejar poderá pessoalmente, ou por meio de telefone entrar em contato com o Pesquisador responsável para tomar conhecimento dos resultados parciais e finais desta pesquisa.

Eu, ___________________________, residente e domiciliado na ______________________, portador da Cédula de identidade, RG ____________ , e inscrito no CPF_________________ nascido (a) em _____ / _____ /_______ , abaixo assinado, declaro que obtive todas as informações necessárias, bem como todos os eventuais esclarecimentos quanto às dúvidas por mim apresentadas. Desta forma concordo de livre e espontânea vontade em participar como voluntário (a) do estudo acima descrito.

( ) Desejo conhecer os resultados desta pesquisa. ( ) Não desejo conhecer os resultados desta pesquisa.

Belém, ______ de __________________ de _______.

Assinatura do participante: ________________________________________ Testemunha 1: __________________________________________________

Nome / RG / Telefone Testemunha 2: ___________________________________________________

Nome / RG / Telefone Responsável pelo Projeto: Lidiane Auxiliadora Rodrigues Gonçalves Assinatura do Pesquisador Responsável: Contato do Pesquisador: (91) 8028-9191

116

APÊNDICE 2

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO –ALUNOSMAIORES DE 18 ANOS MATRICULADOS NA 5ª SÉRIE

“Gestão de Políticas Públicas para Segurança Alimentar e Nutricional: uma análise do

Programa de Mais Educação no município de Benevides, Pará” Você está sendo convidado (a) a participar do projeto de pesquisa acima citado. O documento abaixo contém todas as informações necessárias sobre a pesquisa que estamos fazendo. Sua colaboração neste estudo será de muita importância para nós, mas se desistir a qualquer momento, isso não causará nenhum prejuízo a você. O participante da pesquisa fica ciente: I) Este estudo apresenta como objetivo geral analisar o estado nutricional de adolescentes entre 10 a 19 anos que estejam cursando a 5ª série, a partir da coleta de dados referentes ao cálculo do Índice de Massa Corporal – IMC que são: peso, altura, idade e sexo. Farão parte do estudo 80 crianças, sendo 20 de cada turma, com faixa etária já citada acima. Todos os adolescentes deverão estar presentes na escola na data e horário que será definido, trajando roupas leves (como camisetas e calças de malha que podem corresponder ao uniforme usado diariamente na frequência escolar). Será solicitado apenas que os estudantes se organizem de acordo com o diário de classe para melhor organização da coleta de dados. Serão entrevistados 10 sujeitos envolvidos na merenda escolar para análise do funcionamento do programa. II) O participante da pesquisa (ou voluntário da pesquisa) não é obrigado a responder as perguntas realizadas no questionário de avaliação; III) A participação neste projeto não tem objetivo de submeter você a um tratamento, bem como não causará a você nenhum gasto com relação aos procedimentos de medidas antropométricas efetuadas com o estudo; IV) O participante da pesquisa (ou voluntário da pesquisa) tem a liberdade de desistir ou de interromper a colaboração neste estudo no momento em que desejar, sem necessidade de qualquer explicação; V) A desistência não causará nenhum prejuízo a sua saúde ou bem estar físico, bem como você não receberá remuneração e nenhum tipo de recompensa nesta pesquisa, sendo sua participação voluntária; VI) Benefícios : O participante da pesquisa contribuirá para acrescentar à literatura dados referentes ao tema, direcionando as ações voltadas para a promoção da saúde; VII) Riscos: Este tipo de pesquisa apresenta riscos tanto para os alunos quanto para os entrevistados da pesquisa. O risco para os entrevistados envolvidos com a merenda escolar é a quebra da confidencialidade por parte do pesquisador e provável exposição dos alunos durante a pesagem. As entrevistas serão realizadas com somente um (01) entrevistado por vez para evitar-se a exposição de informações. A pesagem será realizada em local fechado, uma sala de aula, na presença somente do pesquisador e de um auxiliar que será de indicação da diretoria da escola. Todavia serão tomados todos os cuidados possíveis para que isto não ocorra. Os formulários não serão identificados e após cinco anos serão incinerados. O mesmo procedimento será realizado com o termo de consentimento livre e esclarecido.

117

VIII) Serão tomados todos os cuidados possíveis para que isto não ocorra. Os formulários não serão identificados e após cinco anos serão incinerados. O mesmo procedimento será realizado com o termo de consentimento livre e esclarecido. Os resultados poderão ser divulgados em publicações científicas mantendo sigilo dos dados pessoais; IX) Durante a realização da pesquisa, serão obtidas as assinaturas dos participantes da pesquisa e do pesquisador, também, constarão em todas as páginas do TCLE as rubricas do pesquisador e do participante da pesquisa; X) Caso o participante da pesquisa desejar poderá pessoalmente, ou por meio de telefone entrar em contato com o Pesquisador responsável para tomar conhecimento dos resultados parciais e finais desta pesquisa.

Eu, ___________________________, residente e domiciliado na ______________________, portador da Cédula de identidade, RG ____________ , e inscrito no CPF_________________ nascido (a) em _____ / _____ /_______ , abaixo assinado, declaro que obtive todas as informações necessárias, bem como todos os eventuais esclarecimentos quanto às dúvidas por mim apresentadas. Desta forma concordo de livre e espontânea vontade em participar como voluntário (a) do estudo acima descrito.

( ) Desejo conhecer os resultados desta pesquisa. ( ) Não desejo conhecer os resultados desta pesquisa.

Belém, ______ de __________________ de _______.

Assinatura do participante: ________________________________________ Testemunha 1: __________________________________________________

Nome / RG / Telefone Testemunha 2: ___________________________________________________

Nome / RG / Telefone Responsável pelo Projeto: Lidiane Auxiliadora Rodrigues Gonçalves Assinatura do Pesquisador Responsável: Contato do Pesquisador: (91) 8028-9191

118

APÊNDICE 3

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO MENOR DE IDADE

“Gestão de Políticas Públicas para Segurança Alimentar e Nutricional: uma análise do Programa Mais Educação no município de Benevides, Pará”

O seu filho ou (O menor o qual você é responsável), está sendo convidado (a) a participar do projeto de pesquisa acima citado. O documento abaixo contém todas as informações necessárias sobre a pesquisa que estamos fazendo. A colaboração do seu filho ou do (menor) neste estudo será de muita importância para nós, mas caso o mesmo desista de participar a qualquer momento, isso não causará nenhum prejuízo ao seu filho ou a você como responsável. Eu,________________________________, residente e domiciliado na ______________________, portador da Cédula de identidade, RG ____________, e inscrito no CPF_________________ nascido (a) em _____ / _____ /_______, responsável pelo menor ________________________, concordo de livre e espontânea vontade na sua participação como voluntário (a) do estudo “Gestão de Políticas Públicas para Segurança Alimentar e Nutricional: uma análise do Programa Mais Educação no município de Benevides, Pará”. O menor ou (O responsável pelo menor) fica ciente que: I) Este estudo apresenta como objetivo geral analisar o estado nutricional de adolescentes

entre 10 a 19 anos que estejam cursando a 5ª série, a partir da coleta de dados referentes ao cálculo do Índice de Massa Corporal – IMC que são: peso, altura, idade e sexo. Farão parte do estudo 80 crianças, sendo 20 de cada turma, com faixa etária já citada acima. Todos os adolescentes deverão estar presentes na escola na data e horário que será definido, trajando roupas leves (como camisetas e calças de malha que podem corresponder ao uniforme usado diariamente na frequência escolar). Será solicitado apenas que os estudantes se organizem de acordo com o diário de classe para melhor organização da coleta de dados.

II) Os dados serão coletados na Escola Municipal de Ensino Fundamental Santa Luzia, através de preenchimento planilha de dados coletados a partir de exame físico sucinto para a caracterização da amostra; Não haverá realização de questionário;

III) O menor não é obrigado a responder as perguntas realizadas no questionário de avaliação; IV) A participação neste projeto não tem objetivo de submeter o menor a um tratamento, bem

como não causará nenhum gasto com relação aos procedimentos antropométricos efetuados com o estudo;

V) O menor tem a liberdade de desistir ou de interromper a colaboração neste estudo no momento em que desejar, sem necessidade de qualquer explicação;

VI) A desistência não causará nenhum prejuízo à saúde ou bem estar físico do menor; VII) A participação do menor neste projeto contribuirá para acrescentar à literatura dados

referentes ao tema, direcionando as ações voltadas para a promoção da saúde e não causará nenhum risco à integridade física, psicológica, social e intelectual do mesmo;

VIII) O responsável pelo menor não receberá remuneração e nenhum tipo de recompensa nesta pesquisa, assim como, o menor do qual é responsável, sendo sua autorização à participação do menor voluntária;

IX) Os resultados obtidos durante este ensaio serão mantidos em sigilo; X) Durante a realização da pesquisa, serão obtidas as assinaturas do responsável pelo menor e

do pesquisador, também, constaram em todas as páginas do TCLE as rubricas do pesquisador e do responsável pelo menor;

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XI) O responsável pelo menor concorda que os resultados sejam divulgados em publicações científicas, desde que seus dados pessoais não sejam mencionados;

XII) Caso o responsável pelo menor desejar, poderá pessoalmente ou por meio de telefone tomar conhecimento dos resultados parciais e finais desta pesquisa.

( ) Desejo conhecer os resultados desta pesquisa. ( ) Não desejo conhecer os resultados desta pesquisa.

Belém, _______ de ______________ de ______.

Declaro que obtive todas as informações necessárias, bem como todos os eventuais

esclarecimentos quanto às dúvidas por mim apresentadas. Desta forma autorizo a participação do menor na referida pesquisa acima citada. Assinatura do Responsável pelo menor: ____________________________ _________________________________________________________________ Testemunha 1 : __________________________________________________

Nome / RG / Telefone Testemunha 2 : __________________________________________________

Nome / RG / Telefone Responsável pelo Projeto: Lidiane Auxiliadora Rodrigues Gonçalves Assinatura do Pesquisador Responsável: Contato do Pesquisador: (91) 8028-9191

120

APÊNDICE 4 Formulário de coleta de dados Data: novembro de 2012 Estabelecimento de Ensino:Escola Municipal de Ensino Fundamental Santa Luzia Horário:a ser definido Pesquisador:Lidiane Auxiliadora Rodrigues Gonçalves Pesquisador auxiliar:a ser definido Diretor do Estabelecimento de Ensino:Ângela Maria de Souza Lima Nome do aluno

Série Matriculado

Data de nascimento

Peso (Kg) Altura (m)

121

APÊNDICE 5 Questionário de entrevista –CONSEA Data:

Local: Entrevistado: Cargo do entrevistado: Pesquisador: Perguntas: 1 – Em sua opinião dentro das dimensões da SAN (pobreza, sustentabilidade, biológica, disponibilidade e cultural) qual ou quais tem maior impacto no Estado do Pará e consequentemente no município de Benevides? 2 – Em um contexto estadual quais ações poderiam contribuir para melhorar ou minimizar o quadro de insegurança alimentar apresentado pelo IBGE? 3 – Qual é o nível de participação da sociedade civil nas ações que buscam interferir na SAN no Estado? 4 – Existe algum indicador de SAN que influencia mais na elaboração de políticas públicas direcionadas à SAN? 5 – A Lei que regulamenta a SAN no Estado é recente, dezembro de 2011, em que medida esta regulamentação pode influenciar em resultados mais positivos para o quadro de SAN no Estado? Questionário de entrevista – Nutricionista merenda escolar - Benevides Data: Entrevistado: Cargo do entrevistado: Pesquisador: Perguntas: 1 - Qual é a política de compra adotada pelo município de Benevides para o fornecimento de merenda escolar? 2 - Qual setor faz as compras? 3 - Quais os principais fornecedores? 4 - Como é composto o cardápio? (Leis da nutrição, respeito à cultura local, alimentos in natura, alimentos industrializados... ) (anexar modelos, exemplos, por gentileza) 5 - Existe fiscalização aos fornecedores para controle de qualidade? Se há como é feita? Quais documentos são utilizados? ( 6 - Qual o número de refeições servidas em 2011 e quais foram elas? (desjejum, almoço, merenda, jantar), quantas escolas recebem a merenda escolar no município (os nomes, por gentileza). 7 - Em sua opinião em que medida a merenda escolar contribui para segurança alimentar e nutricional no município? Ela promove desenvolvimento local, respeita a cultura local, hábitos, tradições..., há participação da sociedade civil? 8 – Em sua opinião a implantação do Programa mais educação está contribuindo para melhoria da SAN na escola?

122

Questionário de entrevista – Representante do Conselho de Alimentação - Benevides Data: Entrevistado: Cargo do entrevistado: Pesquisador: Perguntas: 1 - Qual o principal objetivo do Conselho a qual a senhora pertence em relação a merenda escolar? 2 - Qual a sigla e o nome desse conselho? 3 - Desde quando ele está formalizado? 4 - Como funcionam as reuniões? Elas são registradas em ata? 5 - Qual o número de membros? Como é formada esta comissão (sociedade civil, governo...)? 6 - Quais as etapas da merenda escolar são fiscalizadas? 7 - Quais são as ferramentas formais para esta fiscalização (documentos, registros, quem faz, que periodicidade...)? 8 - Em sua opinião esta fiscalização contribui para segurança alimentar e nutricional do público alvo da política de distribuição de merenda escolar? Em que aspectos: nutricionais, culturais, desenvolvimento local...? 9 - Esta fiscalização é divulgada de alguma forma para que a sociedade civil tenha acesso? 10 - Qual a periodicidade das reuniões e quem participam? Questionário de entrevista – Diretora da Escola Municipal de Ensino Fundamental Santa Luzia Data: Entrevistado: Cargo do entrevistado: Pesquisador: Perguntas: 1 – Em sua opinião qual a importância da alimentação escolar para o Projeto Mais Educação? 2 – O público alvo (os alunos) pode participar de alguma forma no cardápio oferecido? 3 – Qual a importância do Projeto Mais Educação para a escola? 4 – O Projeto Mais Educação apresenta algum grau de influência na comunidade local? 5 – Já existe algum resultado do Projeto no IDEB da escola?

123

APÊNDICE 6

Tabela Adaptada 1- Prevalência de consumo alimentar médio percapita, por Grandes Regiões, segundo os alimentos – Brasil – período 2008-2009

Alimentos Prevalência de alimentos (%) Consumo alimentar médio percapita (g/dia)

Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-oeste Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-oeste

Arroz 76,9 80,3 88,5 78,5 89,8 156,6 142,6 175,6 133,8 194,5

Feijão 57,7 67,1 80,4 63,8 83,0 142,2 152,0 218,1 147,4 206,2

Açaí 9,0 0,4 0,4 0,1 28,4 1,1 1,1 0,1

Banana 14,3 14,6 16,9 17,5 13,9 19,9 18,7 18,5 19,2 15,9

Farinha de mandioca 45,3 18,2 1,8 0,7 1,3 46,2 11,5 0,8 0,2 0,5

Pão de sal 53,4 55,0 66,9 73,6 58,8 44,7 56,1 52,1 59,2 43,1

Carne bovina 47,4 44,4 49,2 50,2 60,4 68,2 57,1 63,2 60,1 88,1

Peixe fresco preparações

21,6 9,8 3,5 2,3 2,3 95,0 35,1 11,4 6,8 8,5

Leite integral 6,9 11,9 12,5 13,8 17,1 18,1 33,7 35,8 36,8 45,5

Óleos e gorduras 36,5 31,9 43,0 39,6 27,1 6,3 5,9 7,4 6,9 4,6

Fonte: IBGE

Tabela 2 - adaptada de distribuição das despesas monetária e não monetária média mensal familiar com alimentação, por classes de rendimento total e variação

patrimonial familiar, segundo os tipos de despesa, na área urbana Brasil - período 2008-2009

Tipos de despesa Distribuição de despesa monetária e não monetária média mensal familiar, com alimentação (%)

Total Classes de rendimento total e variação patrimonial mensal familiar R$

Até 830

de 830 a 1245

de 1245 a 2409

de 2490 a 4150

de 4150 a 6229

de 6229 a 10375

Mais de 10375

Despesas com alimentação

100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Alimentação no domicílio

66,9 81,1 77,5 72,3 66,5 62,7 57,1 50,5

Arroz 2,8 5,4 4,5 3,5 2,4 1,9 1,2 6,8

Feijão 1,6 3,5 2,7 1,9 1,3 1,0 0,7 0,6

Frutas 3,2 2,8 3,0 3,2 3,4 3,3 3,2 3,5

Legumes e verduras 2,2 2,5 2,7 2,4 2,2 2,0 1,9 1,9

Farinha, féculas e massas

2,8 4,8 3,8 3,1 2,4 2,2 2,0 1,7

Carnes, vísceras e pescado

14,3 17,5 17,2 16,0 14,7 12,8 11,6 9,1

Leite e derivados 9,0 8,2 8,6 8,3 8,3 8,0 7,4 6,9

Óleo e gorduras 1,4 2,1 1,9 1,6 1,3 1,2 1,2 0,9

Fonte: IBGE

124

APÊNDICE 7

LEI Nº 8.913, DE 12 DE JULHO DE 1994. Vide Medida Provisória nº 2.178-36, de 24 de agosto de 2001.

Dispõe sobre a municipalização da merenda escolar. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faz saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte lei. Art. 1º Os recursos consignados no orçamento da União, destinados a programas de alimentação escolar em estabelecimentos de educação pré-escolar e de ensino fundamental, serão repassados, em parcelas mensais, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios. § 1º O montante dos recursos repassados a cada Estado, ao Distrito Federal e a cada Município será diretamente proporcional ao número de matrículas nos sistemas de ensino por eles mantidas. § 2º Os recursos destinados a programas de alimentação escolar em estabelecimentos mantidos pela União serão diretamente por ela administrados. Art. 2º Os recursos só serão repassados aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios que tenham, em funcionamento, Conselhos de Alimentação Escolar, constituídos de representantes da administração pública local, responsável pela área da educação; dos professores; dos pais de alunos; e de trabalhadores rurais. Art. 3º Cabe ao Conselho de Alimentação Escolar, entre outras, a fiscalização e o controle da aplicação dos recursos destinados à merenda escolar, e a elaboração de seu regimento interno. Art. 4º A elaboração dos cardápios dos programas de alimentação escolar, sob a responsabilidade dos Estados e Municípios, através de nutricionista capacitado, será desenvolvida em acordo com o Conselho de Alimentação Escolar, e respeitarão os hábitos alimentares de cada localidade, sua vocação agrícola e a preferência pelos produtos in natura. Art. 5º Na aquisição de insumos serão priorizados os produtos de cada região, visando a redução dos custos. Art. 6º A União e os Estados prestarão assistência técnica aos Municípios, em especial na área da pesquisa em alimentação e nutrição, elaboração de cardápios e na execução de programas relativos à aplicação de recursos de que trata esta lei. Art. 7º Esta lei entra em vigor na data de sua publicação. Art. 8º Revogam-se as disposições em contrário. Brasília, 12 de julho de 1994; 173º da Independência e 106º da República.

ITAMAR FRANCO

Rubens Ricupero Antônio José Barbosa

125

APÊNDICE 8

Medida Provisória no 1.784, de 14 de dezembro de 1998 Dispõe sobre o repasse de recursos financeiros do Programa Nacional de Alimentação Escolar, institui o Programa Dinheiro Direto na Escola, e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 62 da Constituição, adota a seguinte Medida Provisória, com força de lei:

Art. 1o Os recursos consignados no orçamento da União para execução do Programa Nacional de Alimentação serão repassados em parcelas aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, observadas as disposições desta Medida Provisória.

§ 1o O montante dos recursos financeiros a ser repassado será calculado com base no número de alunos devidamente matriculados no ensino pré-escolar e fundamental de cada um dos entes governamentais referidos no caput deste artigo.

§ 2o Excepcionalmente, para os fins do parágrafo anterior, a critério do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação - FNDE, poderão ser computados como parte da rede municipal os alunos matriculados em escolas qualificadas como entidades filantrópicas ou por elas mantidas, observado o disposto no art. 10 desta Medida Provisória.

§ 3o Para o cálculo do montante dos recursos de que tratam os §§ 1o e 2o serão utilizados os dados oficiais de matrículas obtidos no censo escolar relativo ao ano anterior ao do atendimento.

§ 4o Os recursos financeiros destinados ao Programa Nacional de Alimentação Escolar em estabelecimentos de ensino mantidos pelo Governo Federal poderão ser administrados pelos municípios em que esses estabelecimentos se encontram localizados.

§ 5o A assistência financeira de que trata esta Medida Provisória tem caráter suplementar, conforme disposto no inciso VII do art. 208 da Constituição Federal, e destina-se, exclusivamente, à aquisição de gêneros alimentícios.

§ 6o É facultado aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios repassar os recursos do Programa diretamente às escolas de sua rede.

§ 7o Os Estados poderão delegar a seus Municípios o atendimento aos alunos matriculados nos estabelecimentos estaduais de ensino localizados nas suas respectivas áreas de jurisdição, e, neste caso, autorizar o repasse direto ao Município, por parte do FNDE, da correspondente parcela de recursos calculados na forma do § 1o.

§ 8o A autorização de que trata o parágrafo anterior será encaminhada ao FNDE no mês de janeiro de cada ano, com validade a partir do ano de referência, e poderá ser revista, exclusivamente, no mês de janeiro do ano seguinte.

Art. 2o A transferência de recursos financeiros objetivando a execução descentralizada do Programa Nacional de Alimentação Escolar será efetivada automaticamente pela Secretaria Executiva do FNDE, sem necessidade de convênio, ajuste, acordo ou contrato, mediante depósito em conta corrente

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específica, não se aplicando o disposto no art. 27 da Lei no 9.692, de 27 de julho de 1998.

Art. 3o A prestação de contas da aplicação dos recursos financeiros relativos ao Programa de Alimentação Escolar será feita pelo beneficiário diretamente ao Tribunal de Contas do Estado ou do Distrito Federal, no caso destes entes federados, e à Câmara Municipal, auxiliada pelos Tribunais de Contas dos Estados ou Tribunais de Contas dos Municípios ou Conselhos de Contas dos Municípios, quando o beneficiário for o Município, e também ao Tribunal de Contas da União, quando for por ele determinado.

Parágrafo único. É assegurado ao Tribunal de Contas da União e ao Sistema de Controle Interno do Poder Executivo da União o acesso, a qualquer tempo, à documentação comprobatória da execução da despesa, aos registros e demais documentos pertinentes à execução dos programas custeados com os recursos financeiros do FNDE.

Art. 4o Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão, no âmbito de suas respectivas jurisdições, Conselhos de Alimentação Escolar, constituídos por representantes do órgão de administração da educação pública, dos professores, dos pais e alunos, podendo também incluir representantes de outros segmentos da sociedade local.

Parágrafo único. As atribuições do Conselho de Alimentação Escolar serão definidas em norma específica a ser expedida pelo Conselho Deliberativo do FNDE.

Art. 5o Os cardápios dos programas de alimentação escolar, sob a responsabilidade dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, serão elaborados por nutricionistas capacitados, observando orientação do Conselho de Alimentação Escolar e respeitando os hábitos alimentares de cada localidade, sua vocação agrícola e a preferência pelos produtos in natura.

Art. 6o Na aquisição de insumos, terão prioridade os produtos da região, visando a redução dos custos.

Art. 7o Os Estados prestarão assistência técnica aos Municípios, em especial na área de pesquisa em alimentação e nutrição, elaboração de cardápios e na execução de programas relativos à aplicação de recursos de que trata esta Medida Provisória.

Art. 8o Fica instituído, no âmbito do FNDE, o Programa Dinheiro Direto na Escola, com o objetivo de prestar assistência financeira às escolas públicas do ensino fundamental das redes estaduais, municipais e do Distrito Federal e às escolas de educação especial qualificadas como entidades filantrópicas ou por elas mantidas, observado o disposto no art. 10 desta Medida Provisória.

Parágrafo único. A assistência financeira a ser concedida a cada estabelecimento de ensino beneficiário será definida anualmente e terá como base o número de alunos matriculados no ensino fundamental e especial, de acordo com dados extraídos do censo escolar realizado pelo Ministério da Educação e do Desporto no exercício anterior, e repassada:

I - diretamente à unidade executora ou à entidade representativa da comunidade escolar, na forma dos requisitos estabelecidos no art. 10;

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II - ao Estado ou Município mantenedor do estabelecimento de ensino nos demais casos.

Art. 9o Os recursos financeiros repassados pelo programa de que trata o artigo anterior serão destinados à cobertura de despesas de custeio, manutenção e de pequenos investimentos, exceto gastos com pessoal, que concorram para a garantia do funcionamento dos estabelecimentos de ensino.

Art. 10. O Conselho Deliberativo do FNDE expedirá as normas relativas a critérios de alocação dos recursos, valores per capita, unidades executoras e caracterização de entidades, bem assim as orientações e instruções necessárias à execução dos programas de que trata esta Medida Provisória.

Art. 11. O disposto nos arts. 2o e 3o desta Medida Provisória aplica-se, igualmente, ao repasse de recursos aos estabelecimentos de ensino públicos no âmbito do Programa Dinheiro Direto na Escola.

Parágrafo único. A prestação de contas dos recursos financeiros transferidos na forma do inciso I do parágrafo único do art. 8o será de responsabilidade dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios mantenedores dos estabelecimentos de ensino a eles vinculados.

Art. 12. Esta Medida Provisória entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 13. Revoga-se a Lei no 8.913, de 12 de julho de 1994.

Brasília, 14 de dezembro de 1998; 177o da Independência e 110o da República.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Paulo Renato Souza

Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 15.12.1998

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