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GESTÃO DA OPERAÇÃO PORTUÁRIA DE CONTÊINERES: ESTUDO DE CASO NO PORTO DE NATAL/RN. Vitória Régia da Silva Borges (UNP ) [email protected] Renato Samuel Barbosa de Araujo (IFRN ) [email protected] Joao Maria Filgueira (IFRN ) [email protected] A capilaridade do transporte marítimo e a ampliação da movimentação de contêineres no mundo, trouxeram para o setor portuário, os desafios logísticos do planejamento operacional. O Porto de Natal com sua localização geográfica estratégica éé uma alternativa logística para atender as necessidades de navegação, manuseio e armazenagem de contêineres no litoral do Nordeste do Brasil, tendo como principal atividade a exportação de fruta da região. Para superar os desafios de suas funções, se faz necessário abordar o conceito logístico do planejamento à atividade de operação portuária. Nesse sentido, o trabalho descreve as características inerentes do serviço realizado da operação intermodal de movimentação e armazenagem de contêineres no Porto de Natal. Discute-se a partir do histórico de exportações e importações, aspectos da gestão operacional, abordando as condições para obtenção de um sistema logístico mais eficiente visando um serviço de melhor qualidade, redução de tempo e custos das operações portuárias. Adicionalmente identificam-se alguns dos gargalos operacionais e apresenta-se uma breve análise a respeito da força de trabalho que presta serviços. A metodologia adotada foi à descritiva exploratória, com base em pesquisa bibliográfica e documental, visitas técnicas e entrevistas com envolvidos na operação do Porto de Natal. No trabalho identificaram- se fragilidades no planejamento logístico operacional, entraves na infraestrutura, bem como fragilidade nas políticas públicas. Apesar das limitações, verificou-se a efetivação de melhorias para atracação de navios maiores e a existência de projetos em elaboração, de ampliação de espaço na área portuária. Concluí-se que são necessária ações gerenciais da Codern e políticas publicas governamentais, com vistas a melhoria operacional de contêineres visando maior efetividade logística do Porto de Natal. Palavras-chave: Operação Portuária, Contêineres, Competitividade XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil João Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016.

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GESTÃO DA OPERAÇÃO PORTUÁRIA

DE CONTÊINERES: ESTUDO DE CASO

NO PORTO DE NATAL/RN.

Vitória Régia da Silva Borges (UNP )

[email protected]

Renato Samuel Barbosa de Araujo (IFRN )

[email protected]

Joao Maria Filgueira (IFRN )

[email protected]

A capilaridade do transporte marítimo e a ampliação da

movimentação de contêineres no mundo, trouxeram para o setor

portuário, os desafios logísticos do planejamento operacional. O Porto

de Natal com sua localização geográfica estratégica éé uma

alternativa logística para atender as necessidades de navegação,

manuseio e armazenagem de contêineres no litoral do Nordeste do

Brasil, tendo como principal atividade a exportação de fruta da região.

Para superar os desafios de suas funções, se faz necessário abordar o

conceito logístico do planejamento à atividade de operação portuária.

Nesse sentido, o trabalho descreve as características inerentes do

serviço realizado da operação intermodal de movimentação e

armazenagem de contêineres no Porto de Natal. Discute-se a partir do

histórico de exportações e importações, aspectos da gestão

operacional, abordando as condições para obtenção de um sistema

logístico mais eficiente visando um serviço de melhor qualidade,

redução de tempo e custos das operações portuárias. Adicionalmente

identificam-se alguns dos gargalos operacionais e apresenta-se uma

breve análise a respeito da força de trabalho que presta serviços. A

metodologia adotada foi à descritiva exploratória, com base em

pesquisa bibliográfica e documental, visitas técnicas e entrevistas com

envolvidos na operação do Porto de Natal. No trabalho identificaram-

se fragilidades no planejamento logístico operacional, entraves na

infraestrutura, bem como fragilidade nas políticas públicas. Apesar

das limitações, verificou-se a efetivação de melhorias para atracação

de navios maiores e a existência de projetos em elaboração, de

ampliação de espaço na área portuária. Concluí-se que são necessária

ações gerenciais da Codern e políticas publicas governamentais, com

vistas a melhoria operacional de contêineres visando maior efetividade

logística do Porto de Natal.

Palavras-chave: Operação Portuária, Contêineres, Competitividade

XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil

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1. Introdução

A internacionalização dos mercados impacta diversos aspectos socioeconômicos dos países e

intensifica a competição entre as empresas. Este processo influencia no planejamento e na

integração de uma série de funções ao longo da cadeia de negócios, alcançando o nível

operacional logístico, no esforço por eficácia na movimentação de cargas ao redor do planeta.

Nesse cenário, a logística sobressai como um dos fatores relevantes para a economia de um

país, região ou estado. A coordenação do fluxo de bens e serviços perpassa praticamente todas

as operações dos negócios influenciando na competitividade das organizações.

Neste contexto os portos internacionais, em certa medida, facilitam o processo de exportação

da produção e importação, e são portas de entrada e saída de produtos e mercadorias das

nações, que mantêm as relações de troca ou relações de intercâmbio, sejam estes de maior ou

menor valor agregado, sendo fundamentais para o desenvolvimento econômico, tornando o

comércio mais dinâmico e competitivo, com alternativas e facilidades para as transações

comerciais. A eficiência operacional passa a ser então essencial em se tratando do comércio

internacional, pois todas as atividades que envolvem o processo logístico são de caráter

decisivo para o atendimento contratado pelos clientes, que se encontram geograficamente

distantes da organização fornecedora. O modal de transporte marítimo proporciona benefícios

para os importadores/exportadores, quando se trata de transporte de cargas com grande

volume e preço de mercado relativamente baixo BALLOU (2013), CARVALHO (2002) e

BANDEIRA (2005).

Estrategicamente o Rio Grande do Norte foi uma das alternativas escolhidas pelos

exportadores para escoar sua produção, principalmente o setor da fruticultura, produzida no

interior do Estado, por ter uma localização geograficamente estratégica, reduzindo os custos

da logística e facilitando o transporte ao mercado europeu, principal destino de cargas. O

Porto de Natal tem um planejamento operacional especifico, em função da linha regular das

rotas dos navios vindo e voltando da Europa, basicamente em forma de círculo, onde se inicia

as exportações e finaliza o ciclo com as operações descarregamento das importações e em

seguida iniciando novamente o ciclo, podendo ser considerado um porto terminal.

O presente trabalho aborda a dinâmica operacional de transporte, manuseio e armazenagem de

contêineres no Porto de Natal, Rio Grande do Norte. Identificam-se os agentes e as operações

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envolvidas no planejamento logístico, bem como apresenta como é percebida pelos

entrevistados à integração dos setores que operacionalizam as atividades portuárias com vistas

a maior competitividade do ativo logístico pela redução do tempo e dos custos operacionais; o

trabalho também indica alternativas operacionais, que podem reduzir impactos advindos dos

entraves estruturais e administrativos identificados, com vistas à melhoria da oferta dos

serviços portuários, em face de sua relevância para o desenvolvimento do Estado.

2. Fundamentos da logística e operações portuárias

As operações logísticas são essenciais ao funcionamento de um porto. O tema passa

necessariamente pelas funções essências da administração, quais sejam: planejamento,

organização, direção e controle para ser eficiente e eficaz em suas atividades. Pode-se definir

logística como sendo a articulação efetiva de duas dimensões gerenciais básicas:

administração de materiais e distribuição, BALLOU (2013), BOWERSOX & CLOSS (2007)

e NOVAES (2001). Para que estas duas atividades funcionem é imperativo que o

planejamento logístico, esteja integrado às funções primárias (transporte, processamento de

pedidos e estoques) e de apoio (movimentação, armazenagem, embalagem, etc.), em

BALLOU (2013) e CARVALHO (2002), SANTOS et all (2015).

Na visão Keedi (2004, p. 23) “A atividade de comércio exterior é aquela na qual se faz

a compra, venda e troca de bens e serviços, bem como de circulação de capitais e de mão-de-

obra entre os países”. Esta é a realidade estabelecida no comércio de frutas tropicais do Rio

Grande do Norte, exportadas pelo Porto de Natal.

No tocante ao objeto deste estudo, que concerne às operações em um terminal ressalta-

se a importância da atividade primária de transporte e as atividades de apoio do manuseio

movimentação de materiais, Ballou (2013) e Ching (2010):

a) O transporte diz respeito aos modais de transporte que deslocam os produtos entre

fornecedores e clientes: rodoviário, ferroviário, aeroviário, marítimos, dutoviário e

aquaviário. São de grande importância, em virtude do peso do custo em relação ao

total do custo logístico;

b) O manuseio e movimentação de matériais – envolve a movimentação dos produtos no

local de armazenagem/estoque; está ligada a armazenagem e manutençao do estoque,

escolha dos equipamentos para movimentação dos produtos, no processo para

informação de pedidos e balamcamento de carga. Neste contexto inclui-se também a

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embalagem de proteção - Uma das finalidades da logística é proteger os produtos

movimentados e empacotar os objetos para aumentar sua densidade, facilitar o

manuseio, reduzir os custos totais providenciando uma armazenagem eficiente.

Estas funções e outros aspectos relacionados à gerência das operações portuárias e da

infraestrutura em BANDEIRA (2005), BUSTAMANTE (2001), MAGALHÃES (2011) são

os fundamentos para a estruturação da metodologia da pesquisa de campo que foi realizada.

3. Metodologia

Optou-se por um estudo de caso. A pesquisa foi restrita a Companhia Portuária da cidade de

Natal, no Estado do Rio Grande do Norte e aos Órgãos que atuam em conjunto com a

Companhia dentro do Porto Ampliado. Segundo Fachin (2003) o método do estudo de caso é

o processo de investigação intensiva que leva em consideração, principalmente a

compreensão, como um todo, do assunto investigado.

O principal objeto de pesquisa foi o ambiente operacional da CODERN na visão dos gestores

com esse envolvidos. Os dados foram coletados por questionários em visitas técnicas. Foram

feitas entrevistas semiestruturadas, ou seja, que tem um roteiro pré-definido, Utilizou-se da

aplicação de questionário, de acordo com Lakatos (2010, p. 86) "[...] instrumento de coleta de

dados, constituído por uma série ordenada de perguntas, que devem ser respondidas por

escrito sem a presença do entrevistador". A estrutura básica encontra-se na Figura 1.

Figura 1: Roteiro das entrevistas no Porto de Natal

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Fonte: Elaborado pelos autores (2015)

Foram feitas oito entrevistas no período entre 20 de junho 30 de setembro de 2015. No intuito

de aprofundar o estudo fez-se necessário uma entrevista com um gestor de uma empresa de

assessoria à exportação e importação para identificar os principais gargalos vistos de fora do

Porto, pois se verificou necessária, uma opinião externa a respeito das dificuldades percebidas

pelos tomadores do serviço ofertado pelo Porto de Natal.

4. Gestão das Operações Portuárias – o caso do porto de Natal.

De acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC,

2015), a participação exportadora do estado do Rio Grande do Norte em 2014 encontrava-se

na 23ª posição, uma abaixo da alcançada no ano anterior, respondendo por 0,1% da pauta

nacional. Além da tímida participação nas exportações nacionais, o Estado fechou o ano de

2014 com o saldo da balança comercial negativo, ainda mais expressivo do que em 2013

(US$ 18 milhões), com um déficit de US$ 62,340 milhões.

Na pauta exportadora do RN, entre os dez principais produtos comercializados pelo estado

para o mercado internacional, os melões e as castanhas de caju permanecem liderando a lista,

ano após ano, conforme Figura 2.

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Figura 2 - Principais Produtos exportados pelo RN -2013 a 2014

Fonte: AliceWeb/MDIC (2015)

No âmbito da pauta importadora potiguar, os principais produtos que o estado demandou do

mercado internacional foram os trigos e misturas de trigo com centeio - mais uma vez

liderando as importações (Figura 3).

Figura 3 - Principais Produtos importados pelo RN – 2013-2014

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Fonte: GEPLAN/DAF/CODERN (2015)

O Porto de Natal recebe em média quatro navios porta-contêineres por mês, sendo eles

atracados nos finais de semana, entre as sextas e os domingos. Os principais produtos

(commodity) que são exportados através do Porto no estado do Rio Grande do Norte são

frutas, constituindo a maioria de melão (fresh melons) e manga (mangoes), transportados em

contêineres refrigerados para manter a qualidade da fruta, no período de transporte terrestre e

marítimo.

O planejamento operacional da logística desses contêineres, considerando o exemplo de

frutas, começa a partir do momento em que estas são transportadas das fazendas localizadas

no interior do estado, próximas ao município de Mossoró, de onde são deslocadas sobre

carretas, em contêineres lacrados até o Porto de Natal. Durante toda a semana, as carretas de

responsabilidade do produtor, descarregam os cheios e levam os contêineres vazios. No

momento em que esses contêineres - CNTRs chegam ao Porto de Natal, a Companhia Docas

assume a responsabilidade, junto com os operadores logísticos (empresas privadas), que

atuam no processo operacional, sendo a Progeco do Brasil Operadora Intermodal Ltda a

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empresa que possui escritório dentro do Porto, que é responsável por escalar os encarregados

de capatazia e operadores de máquinas, que fazem parte do OGMO - Órgão Gestor de Mão-

de-Obra do Trabalho Portuário Avulso, do Porto Organizado de Natal e a convocação da

transportadora contratada Transparceiro Logística de Container que faz, em conjunto com os

guindastes do navio e as empilhadeiras, a função de descarga, embarque e remoção de CNTRs

na operação do navio.

No terminal Portuário de Natal não há guindaste em sua infraestrutura, logo os navios que

atracam e transportam Cntrs, necessariamente em suas estruturas tem que apresentar lanças

que farão o deslocamento dos Cntrs de dentro para fora e de fora para dentro da embarcação.

De acordo com a quantidades de Cntrs que chegam nos navios ou a quantidade que há para

embarcar, é selecionada a equipe de capatazia e a quantidade de equipamentos a serem

utilizados, normalmente funcionam 06 (seis) carretas e 02 (duas) empilhadeiras que fazem a

movimentação em terra. Para cada lança/Guindaste são necessárias 03 (três) carretas que

fazem o manuseio de Cntrs para otimizar o tempo, em grande parte das operações realizadas

no terminal portuário são utilizados dois guindastes e o termo usado para designar tal

agrupamento é; terno.

Verificaram-se com os entrevistados envolvidos diretamente com as operações logísticas, que

as instalações do Porto carecem, em sua grande maioria, de modernização, em especial a

infraestrutura física, e a título de exemplo, os escritórios, apresentam paredes grossas demais

(antigas), que dificultam a conexão da internet até mesmo via telefone, bem como sistema

elétrico envelhecido, problemas de infraestrutura básica de saneamento, reduzido espaço de

armazenagem, necessidade de mais um berço de atracação, mas a principal dificuldade

registrada (coordenador de operações da empresa operadora) foi o baixo volume e a

intermitência de cargas, que consequentemente influencia em toda a configuração da

operação, seja pela baixa oferta de empregos, alta competição com os outros portos vizinhos,

redução de linhas de navios e ainda a inexistência de navegação de cabotagem.

No Porto há uma linha regular semanal internacional de contêineres, que conta com apenas

um navio, do qual depende toda a exportação da produção e importação do estado. Há

também a condicionante sazonalidade. Um navio graneleiro de trigo atraca periodicamente no

Porto de Natal, mas trata-se de uma atividade dedicada.

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No período da pesquisa de campo constatou-se que eram usadas duas empilhadeiras, por

conta do pequeno volume movimentado. Na opinião dos entrevistados estas suprem as

necessidades, mas informaram que, no caso de aumento expressivo de volumes, pela entrada

eventual de outros navios, com escala no Porto, seria de grande valia um maior investimento

da CODERN para aquisição de mais equipamentos de movimentação de carga. Um destes

equipamentos pode ser visto na Figura 4.

Figura 4- Empilhadeira Reach Stacker retirando contêiner da prancha da carreta

Fonte : Autores do trabalho ( Porto de Natal,2015)

Verificou-se na entrevista e em visita in loco, com a representante da Agência Nacional de

Vigilância Sanitária (ANVISA), autoridade portuária com responsabilidade em nível Federal,

uma agência reguladora que atua de forma integrada com outras autoridades Portuárias (AP),

que a infraestrutura do terminal, dificulta uma melhor vigilância no armazém do Porto de

Natal, em função das condições materiais atuais, com destaque para o espaço para armazenar

cargas que podem afetar à saúde, tais como: agrotóxicos, cosméticos, insumos farmacêuticos,

alimentos perecíveis dentre outros, objetos de fiscalização da Vigilância Sanitária. Há também

espaço para melhoria de ambientes para facilitar o combate à proliferação de vetores

transmissores de doenças e a gestão ambiental. Corroborando com a percepção do Gestor

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verificou-se que não existe uma higienização adequada do espaço de armazenamento, nem

área refrigerada para receber e acomodar cargas que exigem baixas temperaturas. A

profissional informou que, as fiscalizações são feitas em uma área externa ao armazém, mas

interna ao Porto, expondo, às vezes, o exportador a situação desconfortável, visto que este

procedimento exige disponibilidade de um local que atenda as normas para o recebimento dos

produtos importados e para exportação (ver Figura 4).

Figura 4 - Armazéns do Porto de Natal

Fonte: Autores do trabalho (Porto de Natal, 2015)

De acordo com um Inspetor da Receita Federal, avaliando a infraestrutura (armazenagem,

equipamentos de movimentação e movimentação de contêineres, equipamentos etc.) do Porto

de Natal, “É necessário destacar que se trata de uma infraestrutura em condições de utilização

no limite operacional, não suficiente para fazer frente a um aumento de demanda expressivo,

a exemplo do aumento do número de rotas marítimas e entrada em operação do Terminal

Marítimo de Passageiros”.

As entrevistas e a análise do modelo de planejamento operacional de transporte,

movimentação e armazenagem de contêineres cheios e vazios no terminal intermodal do Porto

de Natal permitem constatar que o este apresenta infraestrutura que requer atualização; um

sistema mecanizado com relativa variedade de equipamentos de movimentação e manuseio de

cargas, em especial contêineres. Também se pode constatar que há equipe gerencial e

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operacional para atividades de movimentação, manuseio e armazenagem, que atua de forma

integrada para reduzir ao mínimo o menor tempo de atracação do navio no Porto de Natal.

Constatou-se nas entrevistas que na percepção há um desafio complexo e difícil de ser

superado que diz respeito ao transporte rodoviário para o Porto de Natal. As cargas precisam

cruzar o centro da cidade, os horários para movimentação são limitados em 08 horas diárias e

na chegada ao entorno do porto as movimentação e manobras dos veículos carregados são

dificultadas, pois além das vias serem estreitas, há um transtorno no Portão Sul de acesso ao

porto, onde automóveis possuem autorização para permanecerem estacionados, chegando ao

ponto de causar acidentes e atrasos na recepção e expedição de cargas. Outro desafio na

opinião dos gestores operacionais é a falta de espaço para movimentação de cargas, situação

esta, que poderia ser resolvida com a demolição do armazém frigorifico que está desativado,

possibilitando a utilização do local, que fica próximo a faixa do cais facilidade nas manobras

e consequente redução de custos de movimentação dentro do porto, abrindo também espaço

para um novo depósito.

Verificou-se nas entrevistas que todas as percepções dos agentes, que atuam direta ou

indiretamente na gestão operacional do Porto de Natal convergem na direção da necessidade

de melhorias sistêmicas na infraestrutura e também para o aumento da capacidade de

movimentação e armazenagem de cargas, com vistas a um desempenho superior da logística

portuária, corroborando com o preconizado por KEEDI (2004), SANTOS (2015) e VIEIRA

(2015).

5. Considerações finais

Constatou-se na pesquisa que as operações portuárias no Porto de Natal funcionam, mas que

há desafios simples a serem superados, como por exemplo, a limpeza e manutenção dos

armazéns, que causam transtorno para os exportadores e importadores, pela falta de

higienização e autorização da Vigilância Sanitária para os armazenamentos das cargas. Há

também os mais complexos como as obras de modernização dos espaços para armazenagem e

aquisição de equipamentos mais avançados para a movimentação de contêiner (guindaste em

terra) para maior agilidade e alternativa operacional na movimentação de mercadorias no

Porto de Natal.

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É possível concluir que melhorias sistêmicas como a de infraestrutura física (saneamento,

novo berço, novo pátio, mudanças nas vias do entorno do Porto Organizado) envolvem

projetos complexos e financiamentos que dependem de articulação política, tempo e

superação burocrática entre poderes públicos. Constatou-se também que a CODERN possui

projetos para implantar soluções para parte considerável dos entraves do Porto, mas por falta

de investimento e de políticas públicas o avanço é lento. Conclui-se que sem a implantação de

melhorias na infraestrutura a tendência é de queda na eficiência operacional do Porto de Natal

implicando na perda de competitividade da logística portuária, concordando com VIEIRA

(2015) e Magalhães (2011).

Em função das entrevistas conclui-se que o Porto de Natal possui capacidade gerencial e

operacional, bem como condições competitivas básicas para continuar contribuindo para o

desenvolvimento socioeconômico do Estado, mas seu potencial encontra-se limitado em

ofertar melhores serviços a exportadores e importadores por questões burocráticas e de falta

de investimentos. Neste sentido conclui-se, também com base na opinião dos entrevistados,

que o Porto de Natal possui condições para ampliação do seu escopo operacional, o que

poderia ser dinamizado pela entrada de uma linha de navegação de cabotagem, pois o Porto

apresenta a vantagem de operar abaixo do limite da capacidade, em grade parte do ano, e ser

considerada uma instalação pequena (quando comparado aos Portos de Suape/PE e

Pecen/CE), na qual praticamente não há filas de espera, que geram grandes

congestionamentos e atrasos nos embarque e desembarque de mercadorias.

A pesquisa limitou-se a verificar a percepção gerencial da gestão das operações no Porto de

Natal. Questões como o dimensionamento das necessidades de equipamentos e melhorias das

condições viárias e de acomodação de transito de cargas no entorno do porto, bem como

aspectos econômicos e financeiros relacionados a projetos estruturantes das operações são

oportunidades relevantes para pesquisas futuras.

REFERÊNCIAS

ALICE. Sistema de Análise das Informações de Comércio Exterior. Disponível em <

http://aliceweb.desenvolvimento.gov.br/>. Acesso em 26 ago 15.

BALLOU, Ronald H. Logística empresarial: Transportes, administração de materiais e distribuição física.

1. Ed. – 28.reimpr. - São Paulo: Atlas, 2013. 388 p.

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integrado e sua aplicação. 2005. Tese de Doutorado - Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre,

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