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Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 0 de 78 _________________________________________________________________________________________________ João S. Furtado [email protected] site em parceria com Teclim www.teclim.ufba.br/jsfurtado Gestão com responsabilidade socioambiental Ferramentas e tecnologias socioambientais São Paulo – Fev. Mar 2003

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Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 0 de 78 _________________________________________________________________________________________________

João S. Furtado [email protected] site em parceria com Teclim www.teclim.ufba.br/jsfurtado

Gestão com responsabilidade socioambiental • Ferramentas e tecnologias

socioambientais

São Paulo – Fev. Mar 2003

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 1 de 78 _________________________________________________________________________________________________

Gestão com responsabilidade socioambiental reúne textos de livre acesso e uso, para organizações e pessoas interessadas em Responsabilidade Socioambiental (RSA), do ponto de vista da produção e consumo de bens e serviços sustentáveis. Por simplicidade, os temas poderão ser referidos como capítulos, mas são blocos independentes e não numerados, que poderão receber revisões, inclusões ou reordenações.

Temas abordados

Visão e motivações & Gestão e planejamento estratégico socioambiental estratégico

Desenvolvimento Sustentável & comunidade

Indicadores de sustentabilidade & de ecoeficiência

A empresa e a sociedade

Princípios de RSA, Códigos de conduta & Capacitação para RSA

Ferramentas e tecnologias socioambientais

Temas e ações com RSA

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 2 de 78 _________________________________________________________________________________________________

FERRAMENTAS E TECNOLOGIAS SOCIOAMBIENTAIS

As justificativas para as interferências humanas na natureza são geralmente interpretadas como necessidades econômicas, mas que provocam alterações nos ciclos biogeofísicos e, a partir daí, desencadeiam diferentes danos, cargas ou efeitos sobre os recursos naturais. Dessa maneira, as ações acabam comprometendo bens, serviços, funções e utilidades que são regularmente providos pelos recursos renováveis (bióticos) e não-renováveis (abióticos) dos ecossistemas.

As alterações no ambiente começam pelo meio terrestre e alcançam os aquáticos. Neste caminho, as conseqüências sociais e econômicas nem sempre são detectadas, fazendo com que apenas o que se torna mais aparente seja medido. Assim, o desenvolvimento medido pelo indicador clássico denominado PND Produto Nacional Bruto capta apenas parte da agregação de valores ao conjunto de bens e elementos ambientais, entre os quais o homem está incluído.

No modelo atual de mercado podem ser reconhecidos três focos para tomada de decisão, especialmente quando se trata de empresa com fins lucrativos.

1. Foco no cliente e maior importância destinada ao lucro aferido, expresso por VPL Valor Presente Líquido, para remunerar o investidor ou acionista (shareholder).

Representa o tipo convencional de empresa que se interessa apenas pela última linha de resultado final (Bottom Line) do balancete financeiro. Opera nos limites da conformidade e demonstra comportamento reativo. Adota, em geral, o modelo fim-de-tubo e está pouco ou nada disposta a rever sua estratégia em relação às questões socioambientais. Considera as ações socioambientais como dispêndios e perda de competitividade.

A empresa, nestas condições, está fora das tendências globais e irá, certamente, encontrar dificuldades para sua sustentação no mercado. Poderá, inclusive, ser eliminada, radicalmente.

2. Atenção aos agentes ou partes interessadas (stakeholders) e a conseqüente ampliação do foco das expectativas, tornando necessário incorporar questões sociais e ambientais na condição de elementos competitivos, para aumento da lucratividade econômico-financeira.

Caracteriza as organizações com a visão dos anos 90 que passaram a ver o planeta em sua dimensão integral e global. As empresas estão considerando o uso de novos paradigmas ou instrumentos socioambientais ou já os estão incorporando para decisão de negócios, com foco na cadeia de negócios.

Há migração da atitude reativa, em transição para a pró-ativa, caracterizada pela implementação de Sistemas de Gestão Ambiental (com ou sem certificação), definição de indicadores de desempenho, sua contabilização e avaliação, com boas perspectivas para a comunicação do desempenho alcançado.

Representa as organizações mais avançadas, em operação, e as que deverão surgir, a partir da reorientação de processos de produção de bens e serviços e da inserção de elementos socioambientais no modelo de planejamento estratégico integrado que leva em conta o Sistema de Produto ou visão do-berço-à-cova.

3. Foco no Desenvolvimento sustentável, levando-se em consideração o papel e as responsabilidades econômicas, sociais e ambientais que deverão ser desempenhados pelas organizações, tanto individualmente, como coletivamente.

Este será o modelo da organização do Século 21, caracterizado pela gestão socioambiental estratégica integrada e focada nos princípios de Resultado Final Tríplice (Triple Bottom

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 3 de 78 _________________________________________________________________________________________________

Line) do balancete, expressando os resultados positivos e negativos econômicos, ambientais e sociais, de maneira clara e transparente, para todos os interessados.

Tais organizações farão o uso pleno das ferramentas socioambientais de natureza organizacional e de processos e produtos, com máximo engajamento das partes interessadas e uso de modelos de parcerias estratégicas.

Os caminho para as mudanças é árduo, pois, implica em mudanças culturais no sistema de produção e consumo de bens e serviços da sociedade humana como um todo e, em especial, da maneira de pensar no modelo econômico atual, a fim de se reconhecer

• que a riqueza real pessoal ultrapassa os bens econômicos, de ordem material, para incluir os sistemas sociais, como emprego, educação, acesso a informação, saúde, segurança, liberdade e proteção contra a violência, liberdade de escolha, direito de participação (empowerment), qualidade social e ambiental, laser e equidade;

• e que a riqueza real nacional constitui a totalidade dos serviços acessíveis para seu povo.

Não há como ignorar que as atividades humanas colocam a atmosfera, ecosfera e a própria antroposfera em condição de risco permanente. Por isso é que surgiram, especialmente a partir dos anos 90, novos paradigmas, ferramentas e tecnologias abrangendo:

• conceitos teóricos e estratégicos

• instrumentos para medição e avaliação de impactos

• modelos de gestão organizacional integrando aspectos econômicos, ambientais e sociais, para a organização, como um todo e para processos e produtos, em particular.

Apesar da diversidade dos títulos das novas ferramentas, os descritores são bastante próximos. Além disso, o foco é, em geral, comum e orientado para a fruição de bens e serviços providos pela natureza, manufatura de bens e serviços industriais, práticas de descarte e outros aspectos que provocam danos à saúde humana e à qualidade dos ecossistemas naturais.

Entre as diversas atitudes já notadas na antroposfera, algumas estão ganhando maior notoriedade e justificando a importância e necessidade do uso de novos paradigmas e ferramentas.

• A prática da exploração florestal e pesqueira sem comprometer os estoques, usada há alguns anos para ilustrar a sustentabilidade já não é mais suficiente, uma vez que a multiplicidade de ações humanas (econômicas), sob tal título, está colocando em risco os sistemas regionais e globais.

• A impossibilidade prática de demonstrar, cientificamente, todos os efeitos ambientais das atividades humanas, está fazendo com que as políticas públicas empreguem o Princípio da Precaução (Precautionary Principle)1, especialmente quando se trata de materiais ou substâncias que se acumulam, permanentemente nos seres vivos, provocando efeitos genéticos e reprodutivos permanentes ou de longa duração.

• A coleta mundial de biomassa é absolutamente danosa e deixa elevado passivo ambiental. Cerca de 90% da biomassa colhida e 90% dos recursos não-renováveis (abióticos) perturbados em seu arranjo natural são perdidos ao longo do caminho para geração de produtos para uso final2.

1 Schmidt-Bleek, F & col. 1999. A report by the The Factor 10 Club. Chapter I. Factor 10: making sujstainability accountable. Putting resource productivity into praxis. 67 pp. www.factor10-institut.org 2 Schmidt-Bleek & col. 1999. citado.

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 4 de 78 _________________________________________________________________________________________________

Portanto, que a visão tradicional de poluição – como responsável por danos ambientais e sociais – precisa ser revista e ampliada, para incluir interferências humanas, como3:

• distúrbio no arranjo do Capital natural, provocando fluxos de materiais e acumulação de resíduos;

• retirada de materiais, para uso econômico, com subseqüente geração de resíduos acumulados durante o processo produtivo, durante o uso ou ao final da vida útil do bem ou serviço;

• exploração de serviços (utilidades ou funções) e bens naturais, com conseqüente impacto físico sobre o meio;

• fruição de bens naturais e manufaturados, com subseqüente impacto e cargas ambientais e sociais.

Os novos conceitos são, essencialmente, direcionadores de conduta socioambiental responsável e representam diretrizes a serem adotadas pelos agentes envolvidos no processo ou na problemática. Neste sentido, as ferramentas de gestão ambiental constituem instrumentos para aprimorar a tomada de decisões, a gestão de informações, a mudança de comportamento, modificar processos produtivos e outras ações aplicáveis ao desempenho ambiental da indústria4.

O uso da palavra ferramenta tem tido diferentes significados. Neste texto, o termo ferramenta significa tecnologia de natureza organizacional ou de gestão, de processo e produção, ou informacional, representada por softwares de apoio para análise e tomada de decisões5. Em alguns textos, o termo ferramenta é empregado no sentido de conceito, estratégia ou política de ação.

As diversas ferramentas de gestão ambiental são consideradas em estágio inicial de evolução e podem, por isso, apresentar limites imprecisos, sobreposições e diferenças de interpretação, por diferentes usuários. Por isso, estão sujeitas a contradições e conflitos6.

As ferramentas conceituais e operacionais, propostas por diversos autores e instituições, já estão sendo utilizadas por governos e empresas diferenciadas. O entendimento conceitual e dos propósitos nem sempre é uniforme ou coincidente. Embora quase todas as manifestações digam que as ferramentas sejam devotadas ao Desenvolvimento sustentável, o propósito principal é conciliar as condições dos recursos naturais com a sobrevivência da espécie humana.

Sistema Terra e ecogestão A terra é um sistema7 - fechado a fluxos de matéria externa, mas aberto ao ingresso de energia, primariamente a radiação solar – que garante o uso sustentável de recursos naturais para a humanidade. O Sistema Terra (às vezes chamado de Espaçonave Terra) é composto de vários subsistemas ou estruturas não-lineares.

A ecosfera ou biosfera e seus integrantes ficam entre a litosfera (crosta rochosa) e a atmosfera terrestre, onde ocorrem os processos bióticos e abióticos que sustentam os diferentes ecossistemas e suas formas de vida. A antroposfera corresponde à área da ecosfera habitada e sob a influência de comunidades humanas. Ecosfera e antroposfera são subsistemas termodinâmicos, auto-organizáveis, abertos a fluxos de materiais, energia ou ambos.

3 K.-H. Robert & col. 2002. Strategic sustainable development – selection, design and synergies of applied tools. Jour. Cleaner Production 10(2002): 197-214. www.cleanerproduction.net 4 http://www.un.org/documents/ecosoc/cn17/1998/background/ecn171998-bp8.htm 5 Smart Communities Network. Sustainable development decision support tools. www.sustainable.doe.gov/toolkit/landuse.shtml 6 K.-H. Robert & col. Já citado. 7 Interpretado como o conjunto de elementos e de subconjuntos interativos e auto-influenciáveis.

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 5 de 78 _________________________________________________________________________________________________

Na biosfera, os ecossistemas constituem estruturas termodinâmicas auto-organizáveis, caracterizadas pela combinação regulatória de elementos bióticos e abióticos, onde ocorrem trocas metabólicas e energéticas. É com base nos ecossistemas, portanto, que os serviços, utilidades ou funções deverão ser examinados, pois, representam os processos e funções naturais que garantem a sustentação da vida, tão importantes e críticos para o bem estar da humanidade.

A biosfera representa, portanto, o eco-espaço ou espaço ecológico, definido como o conjunto de recursos ecológicos dos quais a humanidade depende para sua manutenção, desenvolvimento e sobrevivência8.

Do ponto de vista econômico, o eco-espaço é entendido como:

• o total de recursos que a humanidade pode utilizar, em determinado período, sem comprometer as gerações futuras9

• ou o espaço onde ocorrem as demandas humanas sobre o ambiente, que afetam ou podem ser afetadas pelos princípios da sustentabilidade biogeofísica. Esta última é traduzida pela manutenção ou aprimoramento da integridade do sistema, a fim de garantir a sustentação das formas de vida, fundamentada na biodiversidade, produção de nitrogênio e dióxido de carbono, considerados pré-requisitos para a sustentação da sociedade humana10.

Esta visão mais abrangente da natureza implica em mudar o foco e o rumo do modelo de produção industrial e de consumo público de bens e serviços, levando-se em consideração que todo produto incorpora o passivo, débito ou externalidade representado por:

• resíduos originados dos desarranjos (físicos, químicos e biológicos) da forma como os recursos estão dispostos na natureza;

• deposição de materiais na ecosfera, devida à extração de materiais e matérias primas; • efeitos físicos causados por colheitas, • emissões provocadas pela fruição de serviços e bens globais; • consumo de materiais, inclusive água e energia ao longo do ciclo-de-vida; • deposição de resíduos durante o uso e ao final da vida útil do produto.

A visão ampliada de bens e serviços, oferecidos e consumidos pela sociedade humana, mostra a relevância das ferramentas conceituais e operacionais já disponíveis para a construção e implementação de novo modelo de gestão estratégica com responsabilidade socioambiental.

Os cenários de futuro já desenhados11 indicam possibilidades estratégicas importantes12, para continuidade da prática atual (business as usual) e de mudanças, tanto para pior (barbarização) como para melhor (grandes transições).

Será uma questão de escolha, com base no aprimoramento da visão do Sistema Terra e dos modelos de gestão já praticados, ambos esquematizados a seguir.

• A primeira ilustração combina as bases para construção do Capital Natural (que constitui os bens globais disponíveis), as categorias de interferências humanas, os efeitos acumulados em bens e serviços e as ferramentas para mudanças.

8 Murcott, Suzan. 1997. What is sustainability? AAAS Annual Conference. IIASA “Sustainability Indicators Symposium”, Seattle, WA. www.sustainableliving.org/appen-e.htm 9 McLaren, D. Sustainable Europe and environmental space. Achieving sustainability through the concept of environmental space: a trans-European project. www.foe.co.jk/resource/articles/sustain_europe_env_space.html (acessado 23 nov. 2002. 10 Murcott, já citada. 11 Ver Furtado, J.S. 2002.Gestão com responsabilidade socioambiental. Desenvolvimento sustentável e comunidade. 12 Raskin, P. & col. 2002. Global transition. SEI & GSG 111 pp. www.gsg.org

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 6 de 78 _________________________________________________________________________________________________

• A segunda mostra a evolução dos modelos de gestão social e ambiental, dos anos 50 até o ano 2002, com a previsão da passagem para o Século 21, incluindo direcionadores de conduta, foco do modelo, comportamento organizacional, padrão de gestão, motivação e as ações ou ferramentas usadas ou recomendadas para boas práticas e responsabilidade socioambiental.

Atmosfera

EcosferaAr

Recursosbióticos

Recursosabióticos

ÁguaSolo

Litosfera

Capital Natural

Antroposfera- Economia humana -

Radiaçãosolar

Resíduos e emissõesacumulados

Sistema Terra

BENS NATURAISMatérias primas

&Serviços naturais

Bensmanufaturados Serviços, funções

ou utilidadesnaturais

CONCEITO AMPLIADO DE PRODUTO POR IMPACTOS PROVOCADOS1. vol de recursos bióticos e abióticos desorganizados em seu arranjo natural2. vol de material retirado da natureza (Capital Natural)3. área (superfície) da terra comprometida para a bio-produção e serviços naturais4. vol de energia usada para extração e transporte de materiais5. vol de materiais e energia incluídos na produção de bens e serviços6. vol de emissão de resíduos e de energia dissipada7. vol de energia entrópica acumulada no produto e emissões8. vol de materiais e de energia utilizados para o funcionamento do produto9. vol de materiais descartados em embalagens e restos do produto ao final da vida útil10.vol. de energia usada para transporte e tratamento de descartes

CONCEITO AMPLIADO DE PRODUTO POR IMPACTOS PROVOCADOS1. vol de recursos bióticos e abióticos desorganizados em seu arranjo natural2. vol de material retirado da natureza (Capital Natural)3. área (superfície) da terra comprometida para a bio-produção e serviços naturais4. vol de energia usada para extração e transporte de materiais5. vol de materiais e energia incluídos na produção de bens e serviços6. vol de emissão de resíduos e de energia dissipada7. vol de energia entrópica acumulada no produto e emissões8. vol de materiais e de energia utilizados para o funcionamento do produto9. vol de materiais descartados em embalagens e restos do produto ao final da vida útil10.vol. de energia usada para transporte e tratamento de descartes

Interferências humanas

Desorganizaçãodo arranjo

Extração demateriais

Colheitas

Uso de funcõesnaturais

Instrumentos de mudanças

MediçãoCapital naturalCapacidade de cargaIndicadoresIMPS (MIPS)ISPS (FIPS)AIMA (MAIA)IGP (GPI)Fardo ecológicoZERI

VisãoSistema de produtoFator 4Fator 10Passos naturaisPegada ecológicaResultado Final Tríplice

Organização e açãoProdução LimpaProdução eco-inteligenteEcoeficiênciaDesign para o ambienteAvaliação do ciclo de vidaEIA-RIMASGAConsumo eco-inteligente

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 7 de 78 _________________________________________________________________________________________________

Anos Direcionadores Foco Comportamento Padrão de gestão Motivação Ação/ferramentas

50

• Prevenção de despesas

• A natureza resolve • Indiferença • Inexistente • Liberdade para crescimento • Descarte descontrolado

• Acumulação de resíduos

• Poluição • Diluição e dispersão • Inexistente • Crescimento • Descarte descontrolado 60

• Capacidade limitada da natureza

• Legislação

• Ambientalismo industrial

• Confinamento e tratamento de resíduos e emissões

• Comando e controle • Fim-de-tubo

• Taxas e penalidades • Estação de tratamento • Aterros • Incineração • Filtros e lavadores

70

• Legislação • Pressão social

• Ambientalismo regulamentário

• Proteção ambiental

• Comando e controle • Fim-de-tubo • Redução de poluição

• Taxas e penalidades • Estação de tratamento • Aterros • Incineração • Filtros e lavadores Minimização • Minimização ou redução de resíduos • Reciclagem • Prevenção

80 Enfase em 1989

• Legislação • Pressão social • Mercado e

competitividade

• Gerenciamento • Abordagem híbrida

• Comando e controle • Redução de poluição • Prevenção à poluição • Redesenho de processo • Produção Mais Limpa • Produção Limpa

• Taxas e penalidades • Externalidades • Passivos • Imagem

• Estação de tratamento • Aterros • Incineração • Filtros e lavadores • Minimização ou redução de resíduos • Reciclagem • Prevenção

90

• Legislação • Pressão social • Mercado e

competitividade • Conhecimento e

inovação

• Ambientalismo estratégico responsável

• Ecologia industrial

• Inovação • Comando e controle • Produção Mais Limpa • Produção Limpa • Ecoeficiência

• Taxas e penalidades • Externalidades e passivos • Competitividade: custos,

diferenciação e posicionamento

• Imagem • Globalização • Políticas públicas

• Estação de tratamento • Aterros • Incineração • Filtros e lavadores • Minimização ou redução de resíduos • Reciclagem • Prevenção • Avaliação do Ciclo-de-Vida • Ecodesign • Precaução

Século 21

• Legislação • Pressão social • Mercado e

competitividade • Conhecimento

• Responsabilidade corporativa

• Sustentabilidade

• Inovação • Gestão do conhecimento

• Produção Limpa • Ecoeficiência • Gestão socioambiental

responsável

• Sustentabilidade da organizaçao

• Responsabilidade corporativa

• Precaução • Emissão zero • Intensidade de Material por Unidade de Serviço • Avaliação de Resultado Final Tríplice ou Medição de

Desempenho de Sustentabilidade

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 8 de 78 _________________________________________________________________________________________________

1. Ferramentas conceituais

Capital natural O Capital natural representa

(i) os estoques de recursos naturais e os fluxos de energia a partir dos quais o homem obtém ou cria suas riquezas, através de bens e serviços extraídos diretamente da natureza ou industrializados nas plantas de manufatura

(ii) e os sumidouros (sinks) naturais onde os materiais e energia são depositados.

O Capital natural também é citado por ONGs, como recurso nacional e global, com ênfase na defesa do patrimônio genético ou biodiversidade.

Para o PNUMA13, trata-se da quantidade (medida em área) e qualidade (aferida pela mudança na população de espécies características) dos ecossistemas, naturais ou semi-naturais, independente da qualidade ecológica, desde que maior do que 100 ha, de caráter natural ou uso extensivo, com capacidade de auto-regeneração, incluindo:

• todas as florestas, exceto as plantadas com espécies exóticas

• todas os corpos de água doce (exceto os construídos pelo homem) e marinhos

• as grandes áreas de pastagens naturais.

A avaliação do Capital natural requer a determinação da linha de base para a área dos ecossistemas, avaliação da área e condições correntes dos ecossistemas e estabelecimento de indicadores de tendência de longo prazo para as espécies nos ecossistemas.

A contabilização do capital natural leva em conta as interações homem-natureza e o consumo irrecuperável de recursos naturais não-renováveis, na produção de bens e serviços.

O mercado de Capital natural envolve serviços de consultoria para gestão, preservação, desenvolvimento e recuperação de áreas naturais, semi-naturais ou impactadas. Os defensores consideram o capitalismo natural como novo modelo de revolução industrial14.

A riqueza da nação é representada por diferentes tipos patrimoniais, resultantes da contínua transformação do Capital natural em:

• Capital físico construído pelo homem e representado por edificações, infra-estrutura em geral, tecnologia, capaz de representar a dimensão econômica de ordem monetária, o qual não está sujeito ao consumo direto;

• Capital humano, definido como trabalho (inclusive o informal, o doméstico e o não remunerado), educação, nutrição, saúde e bem-estar das pessoas; e

• Capital social, caracterizado por: instituições sociais, responsáveis pelas bases políticas, organizacionais, educacionais e culturais para o funcionamento das comunidades humanas.

Capacidade de carga ou de sustentação – Carrying capacity

13 http://www.unep-wcmc.org/index.html?http://www.unep-wcmc.org/species/reports/index.htm~main Natural capital indicators for OECD countries. 2001, 20 pp. 14 http://www.natcap.org - Paul Hawken, Amory Lovins, and L. Hunter Lovins. 2002. NATURAL CAPITALISM: CREATING THE NEXT INDUSTRIAL REVOLUTION.

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 9 de 78 _________________________________________________________________________________________________ Embora difícil de ser medida, a Capacidade de sustentação traduz a capacidade de recuperação ambiental relacionada ao Impacto (população x afluência x tecnologia), taxa de depleção de recursos renováveis e não-renováveis e acúmulo de resíduos perigosos no ambiente. O ponto de equilíbrio é rompido quando o crescimento da população, a depleção de recursos, ou acumulação de resíduos causam o rompimento de qualquer uma das funções de sustentação de vida na terra.

A Capacidade de carga ou de sustentação deve ser considerada como conceito de sobrevivência da espécie humna na terra e não de sustentabilidade do Capital natural e, como tal, instrumento de uso em política de ação global.

Daí, a pergunta do que deve vir primeiro: demonstração científica ou precaução por razões éticas e morais, para a sobrevivência da espécie humana?

Indicadores de sustentabilidade e ecoeficiência Abordado em outro capítulo da série Gestão com responsabilidade socioambiental.

IMPS Intensidade de Material (inclusive energia) por Unidade de Serviço IMPS 15 - MIPS Material (plus Energy) Intensity per Unity Service (Utility) constitui a medida para estimar o potencial de estresse ecológico de bens e serviços, segundo a visão do-berço-à-cova ou de Sistema de Produto, em níveis micro e médio, desde que as informações ecotoxicológicas específicas dos materiais estejam disponíveis.

• A IMPS é calculada em relação à massa por unidades totais de serviço liberado pelo produto, durante toda a vida útil, segundo a visão de sistema de produto ou do-berço-à-cova..

• O cálculo da IMPS baseia-se nos fluxos de materiais e de ingresso (input) de energia, levando-se em conta toda a matriz energética envolvida.

O conceito leva em conta os componentes materiais, energia e terra (superfície) e refere-se a produtos como se fossem equipamentos liberadores de serviços (service delivering), utilidades ou funções, usualmente por período maior do que o número indicado nas instruções de uso e garantias. Vários sistemas de contagem de fluxo de materiais associados com entrada de energia foram computados e publicados pelo Factor 10 Institute.

Conceitos relacionados ao IMPS

• IMPS mede a ecointensidade e representa a linha de base para o ecobalanceamento de produtos e serviços.

• S representa o total de número de unidades de serviço liberadas pelo produto durante sua vida útil.

• IM - Intensidade Material significa o total de material por unidade de energia.

• S/IM é o inverso da IMPS e mede a produtividade.

• A eficiência do processo produtivo consiste em (i) reduzir a IM para determinado S ou (ii) aumentar S para determinado volume de IM. Exemplos: aumento da vida útil do produto; leasing de serviços ao invés da venda de equipamentos; compartilhamento de facilidades e equipamentos.

• IM total, requerida pelo produto acabado, é chamada de Fardo Ecológico (Ecological Rucksack).

15 Schmidt-Bleek, F. The Factor 10/MIPS-Concept. Bridging Ecological, Economic, and Social Dimensions with Sustainability Indicators. 20 pp. www.factor10-institute.org/Pdf.files.htm. Acessado nov. 2002.

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 10 de 78 _________________________________________________________________________________________________

• FTM Fluxo Total de Material

• IETS – Intensidade Eco-Tóxica Equivalente por Unidade de Serviço (TOPS - Eco-toxic Exposure Equivalent per Unit Service)

O conceito de IMPS é usado em combinação com a ACV Avaliação do Ciclo de Vida e leva em conta: as operações de extração de materiais, manufatura, transporte, embalagem, operações, reuso, reciclagem, remanufatura e o descarte ao final da vida útil.

Eco-marcos de referência (eco-benchmarking) da IMPS para os comercializadores de bens e serviços16:

1. aquisição de produtos eco-inteligentes, de maneira sistemática e transparente;

2. revelação franca e fácil de ser entendida pelos consumidores, das diferenças da eco-inteligência dos produtos, através, por exemplo, do rótulo de IMPS;

3. oferta realística de preços para serviços de reparos, quando viável e em cooperação com os fabricantes;

4. oferta de opções de devolução garantida (take-back), quando viável e em coooperação com o fabricante;

5. oferta de opções de garantia pelo período mais longo possível, para todos os produtos; e

6. atendimento todos os serviços com cortesia (with a smile, no original).

ISPS Intensidade de Superfície por Unidade de Serviço A superfície da terra é outro componente importante para avaliar o uso de recurso natural, pelo sistema de produção. Daí surgiu o conceito de FIPS Flache (superfície, em Alemão) Intensity per Unit Service, com equivalência ao IMPS (MIPS).

AIMA Análise da Intensidade de Material • AIMA (MAIA Material Intensity Analysis 17) fornece coeficientes de ingresso de materiais

que servem como informações sobre as pressões ambientais básicas, associadas com a magnitude da extração de recursos e subseqüente fluxo de material que culmina como resíduo e emissão.

• O conceito é derivado de IMPS e serve como triagem para quantificar os requisitos da ACV Avaliação do Ciclo-de-Vida de materiais primários (exemplo: madeira, ferro, cimento, alumínio, etc.) para produtos e serviços (utilidades ou funções).

• O ingresso (input) de material primário (inclusive energia) é medido em unidades físicas (Kg) e agregado em cinco principais categorias:

i. materiais brutos abióticos (não-renováveis)

ii. materiais brutos bióticos (renováveis)

iii. remoção do solo

iv. água

v. ar (uso para fins de combustão e, em geral, relacionado a emissão de CO2). 16 Schmidt-Bleek, F & col. 1999. A report by the The Factor 10 Club. Chapter I. Factor 10: making sujstainability accountable. Putting resource productivity into praxis. 67 pp. www.factor10-institut.org 17 Schmidt-Bleek & col. 1998. MAIA Material Intensity Analysis. www.leidenuniv.nl/interfac/cml/chainet/toolmaia.htm.

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 11 de 78 _________________________________________________________________________________________________

Emissão Zeri – Zero Emmissions ou Zeri Concept Transformação de todos os ingressos ou entradas (inputs) em produtos (bens e serviços) e aproveitamento de todas as saídas (outputs) com valor-agregado para fins de produção de outros bens e serviços, através da aplicação de ciência, tecnologia, legislação e outros instrumentos, envolvendo governo, negócios, academia e demais setores sociais, com o propósito de18:

• atender as necessidades humanas relacionadas a água, alimentos, energia, emprego, abrigo, de maneira ambientalmente sustentável;

• prevenir ou eliminar a geração de resíduos causadores de danos para a saúde humana e qualidade de ecossistemas.

Instrumentos e práticas para Emissão Zero

• Uso Total de Entradas e Saídas (Total Throughput) – revisão do modelo industrial e identificação de oportunidades para mudança do conceito atual da Equação Linear para a Equação Circular (de acordo com a Visão do-berço-à-cova ou Sistema de Produto) e o emprego de 4-Rs (Redução de material, Reuso, Remanufatura e Reciclagem.

• Uso total de Saídas – uso de estratégia saídas/entradas (output/input) para organização de agrupamentos (clusters), ecoparque industrial (industrial ecopark) e UpSizing da economia (em oposição a DownSizing), para aproveitamento de emissões e não-produtos.

• Tecnologias radicais (breakthrough) ou design de sistemas para combinação econômica e ambiental de entradas e saídas de processos de produção, de bens e serviços.

• Política industrial focada no conceito de Emissão Zero e desenvolvida de acordo com o modelo de múltiplas partes interessadas (multi-stakeholder counterpart).

Conceito Zeri – ou 5 Zeros (evoluído a partir de Emissão Zero)

• Zero emissão

• Zero defeito – TQM

• Zero inventário – Just-in-time

• Zero desistência – Lealdade Total da Clientela

• Zero conflito – Consenso na tomada de decisões

18 www.zeri.org

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 12 de 78 _________________________________________________________________________________________________

C&T - P&D - Engenharia

���������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������C&T - P&D - Engenharia

Tecnologia deprocesso eprodutos

Sócio-economia

Tecnologiaorganizacional

Sociedade sustentável

������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������Sociedade sustentável

Políticaspúblicas

Açõesnormativas

Arcabouçolegal

Política denegócios

Produçãosustentável Consumo

sustentável

Planta eco-industrial

Rede deprocessos

Eco-cidades

Rede de eco-indústrias

Agrupamentos

Ecoparques

Conceito Zeri

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Conceito Zeri

Desenvolvimentosustentável

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Desenvolvimentosustentável

Eco-regiões

IGP Índice Genuíno de Progresso – Genuine Progress Index A redefinição de progresso19 questiona o uso do PNB que expressa as transações monetárias de bens e serviços, para indicar a riqueza dos países e do mundo e defende, ao contrário, o uso do IGP Indicador Genuíno de Progresso que leva em consideração os reais custos socioambientais da atividade econômica.

O IGP considera grandes blocos de custos e outros não computados pelo PNB, como:

1. custos pessoais de consumo e os fatores que afetam a qualidade de vida, como desemprego, custos com crimes, desagregação familiar, o valor do serviço doméstico não remunerado e os cuidados infantis; o valor do trabalho voluntário, tempo gasto para se chegar ao trabalho, em prejuízo do lazer e descanso, serviços duráveis ao consumidor, serviços em rodovias e vias públicas e

2. custos ambientais envolvendo, por exemplo, a depleção e degradação de recursos naturais (especialmente os não renováveis) usados na produção de bens e serviços; custo para redução de poluição domiciliar, custos ambientais de longo prazo.

Fardo ecológico – Ecological rucksack Este conceito foi criado para representar todos os recursos naturais (materiais, energia e superfície da terra) que são perturbados ou alterados, em seu arranjo natural, sempre que a produtividade dos recursos ou os resultados econômicos são mencionados.

19 http://www.rprogress.org/projects/gpi Redefining Progress

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 13 de 78 _________________________________________________________________________________________________ Há diferentes definições20.

• Quantidade total (em Kg) de material natural (M) que é perturbado em sua condição natural e que passa a representar o ingresso ou input total (I) a fim de gerar um produto, contado da origem (berço) até o ponto em que será usado, menos o peso (em Kg) do produto propriamente dito.

• Soma total de material natural (Fardo ecológico) é também designada Intensidade Material (IM), usada (em Kg) para elaborar 1 Kg de matéria prima básica (madeira, ferro, alumínio, cobre, cimento) disponível. Os resultados observados dão os seguintes valores para IM: madeira roliça, 1,2; Vidro, 2: plásticos, 2-7, aço, 7; papel, 15; alumínio, 85; cobre, 500; platina, 500.000.

Foram calculados os valores do Fardo Ecológico para a intensidade de materiais para produtos, aplicáveis aos âmbitos água, ar, solo, biomassa renovável e materiais não-renováveis21. Para produtos industriais, foram observados os seguintes resultados:

• O Fardo ecológico abiótico é cerca de 30 vezes o peso dos produtos industriais, isto é, apenas 5% dos materiais não-renováveis movimentados na ecosfera resultam em formas tecnicamente úteis.

• O Fardo ecológico de um Computador Pessoal é da ordem de 200 Kg de material abiótico para cada quilograma do produto.

• O Fardo ecológico para água excede o ingresso de materiais não-renováveis pelo fator 10 ou mais.

• O mesmo valor é observado para a movimentação mecânica do solo, para produção de alimentos, quando comparável com a produção de material biótico.

• 0,1 a 5 ton de solo erodido é observado para a produção de 1 ton de produto agrícola ou florestal.

• O rótulo de papel, para indicar o código de barras dos produtos pesa cerca de 0,2 gramas. Considerado o uso diário de 30 bilhões de produtos (cerca de 5 unidades por pessoa, por dia), estima-se o consumo diário de 1.500 ton de papel. Se o Fardo ecológico do papel é 15, a Intensidade Material diária de recurso natural apenas para os rótulos de código de barras ultrapassa 20.000 ton ou 8 milhões ton (8 milhões de metros cúbicos!) de água potável que poderia ser consumida ou 16 milhões ton de recursos naturais. Os valores serão dramaticamente modificados se for calculado o Fardo ecológico para a tinta, cola, detergente ou solvente orgânico para remover o rótulo.

O Fardo Ecológico estabelece medidas baseadas no CMT Consumo Material Total, IMPS Intensidade de Material por Unidade de Serviço, IMT Intensidade Material Total , com vários níveis de aplicação.

Sistema de produto – Product systems O desenvolvimento de processos e produtos ambientalmente responsável enfatiza, atualmente, a importância e necessidade de que, na busca de indicadores socioambientais para avaliar tecnologias, seja adotado o desenvolvimento integrado ou sistema de produto.

20 Schmidt-Bleek, F. The Factor 10/MIPS-Concept. Bridging Ecological, Economic, and Social Dimensions with Sustainability Indicators. 20 pp. www.factor10-institute.org/Pdf.files.htm. Acessado nov. 2002. 21 Schmidt-Bleek, F. The Factor 10/MIPS-Concept. Bridging Ecological, Economic, and Social Dimensions with Sustainability Indicators. 20 pp. www.factor10-institute.org/Pdf.files.htm. Acessado nov. 2002

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 14 de 78 _________________________________________________________________________________________________ Este conceito implica na integração de design (concepção e projetação), manufatura e processos de suporte, levando em consideração fatores de confiabilidade, sustentabilidade e competitividade no mercado.

Outras denominações ou afins ao desenvolvimento integrado ou sistema de produto são Avaliação do Ciclo-de-Vida do Produto, Análise de Ciclo-de-Vida, Ecobalanço, Análise da Linha de Produto e Gestão integrada da cadeia.

Os aspectos socioambientais são considerados segundo a visão do-berço-à-cova, ou seja, da fonte de matérias primas ao descarte. Assim, o sistema de produto incorpora os aspectos e impactos no processo de extração de matéria prima, transporte, processamento, transporte para a manufatura. No consumidor industrial, são considerados design do produto e as características do processo de produção, distribuição, consumo, descarte e destinação de embalagens e restos do produto ao final da vida útil.

A estratégia de design do processo pressupõe o fechamento de ciclos (loopings), visando a prevenção (ideal) ou minimização (geralmente praticada) da geração de resíduos, especialmente os perigosos, e a poupança de água e energia, olhando-se os fluxos

1. ascendentes ou a montante (upstream) - da fonte de matérias primas ao produto

2. e descendentes ou a jusante (dowstream) - da distribuição à destinação final de embalagens e restos pós-uso ou pós-consumo.

Fo n te de re curs os

Extra çã o e tra n s po rte

Prod ução d e m a té ria p rim a

Fo rne cim e n to e tra n s p o rte

Ind ú s tria d e b en s e

i

Man u fa tu ra

D is trib u ição

C o ns um oD es ca rte e de s tin a çã o

R ecup e ra çã o

Flux o ups tre a m - m ontante

Fluxo dow stre a m - jus a nta nte

A abrangência do esquema montado para a análise da tecnologia ambiental, segundo a visão do sistema de produto depende das características do próprio produto e de decisão estratégica de ampliar a abordagem ou de estabelecer a visão ajustada (streamlined) para características selecionadas ou consideradas mais relevantes. O esquema ilustrado mostra o caso da fabricação de grampos para cabelo.

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 15 de 78 _________________________________________________________________________________________________

Produçãode calcáreo

Fundiçãode ferro

Sucataexterna

Forno deoxigênio

Produção defio de aço

Subsistema de fio de aço

Produção debarra de aço

Produçãode oxigênio

Produçãode coque

Produçãode pellet

Sinterização

Mineraçãode carvão

Mineraçãode ferro

Mineraçãode calcáreo

Produção defio verniz

Subsistemade verniz

Produção degrampo de cabelo e embalagem

Uso degrampo de cabelo

Descarte degrampo de cabelo

Produção demadeira

Mineração de calcário

Mineração de sulfato de sódio

Mineração de sal

Mineração de enxofre

Resíduo demadeira

Produção de soda á ti

Produção de cloro

Produção de ácido sulfúrico

Produção depapel kraft e papelão

Subsistema deembalagem

Sistema integrado de produção - Avaliação de Ciclo-de-Vida - Ecobalanço - Gestão inegrada da cadeia - ou Análise da linha de produto. Seg. Mary A. Curran. 1966. Environmental LifeCycle-Assessment. McGraw-Hill.

Fator 10 Factor 10 Proposta de alvo estratégico a ser alcançado pelo sistema de produção e consumo de bens e serviços, que estabelece:

• a redução do distúrbio do arranjo dos recursos na forma como é visto na natureza, no consumo de materiais naturais, ou

• otimização da ecoeficiência em pelo menos 10 vezes, sem relação ao modelo atual de produção.

A redução é proposta para ser alcançada em 10-15 anos, através da desmaterialização da economia, em termos de FMT Fluxo Material Total22 , a partir de mudanças na

• cultura da sociedade humana como um todo

• estrutura do sistema produtivo e econômico para atendimento das necessidades humanas básicas e

• tecnologia.

Outros conceitos correlatos ao Fator 10 são: IMPS Intensidade de Material (inclusive energia) por Unidade de Serviço, IMT Intensidade Material Total, Fardo Ecológico, IETS – Intensidade Eco-Tóxica de Serviços.

22 Schmidt-Bleek, F. The Factor 10/MIPS-Concept. Bridging Ecological, Economic, and Social Dimensions with Sustainability Indicators. 20 pp. www.factor10-institute.org/Pdf.files.htm. Acessado nov. 2002.

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 16 de 78 _________________________________________________________________________________________________

Passos naturais – Natural steps A natureza exibe leis ou passos interessantes e constantes. Sempre que um ser vivo produz alguma coisa, está utilizando material, energia, estruturando materiais e dispersando matéria e energia na biosfera. Conseqüentemente, o ser vivo desorganiza e organiza situações e condições, na medida em que desempenha suas funções.

Os seres vivos sabem como transformar material tóxico em recursos limpos. Como compensar a decomposição ambiental, que acontece, ao criar valores na natureza, graças à absorção e uso da energia solar. Assim, as células vivas podem produzir valores ou acumular lixo inútil.

O princípio dos passos naturais pode ser aplicável à sociedade humana, a fim de estabelecer os eventos cíclicos de ação do homem na biosfera. Para isso, são recomendados os seguintes passos, a fim de prevenir a acumulação de poluentes na natureza23:

• menor uso de depósitos subterrâneos minerais (inclusive combustíveis fósseis) e menor depósito de resíduos na superfície (crosta da terra)

• menor volume de depósito na natureza, de substâncias produzidas pela sociedade

• menor uso de substâncias artificiais, de acumulação persistente (não decompostas biologicamente)

• garantia de maior diversidade e capacidade dos ecossistemas

• prevenção da deterioração sistemática da base física para a produtividade e diversidade da natureza

• redução da necessidade de energia e materiais ao uso justo e necessário.

Pegada ecológica PE – Ecological footprint A PE Pegada Ecológica24 revela quanto de serviço (função ou utilidade) bio-reproduzível precisa ser provido, pelo Capital natural, a fim de garantir o padrão de vida na escala avaliada – individual, familiar, urbana, regional ou global.

A PE não expressa medições energéticas, econômicas ou monetárias, mas expressa a área ou superfície eco-produtiva em metros quadrados necessários para prover bens bióticos para garantia do padrão de consumo humano. Por isso, a PE constitui a popularização do modelo da capacidade de sustentação ecológica e dos conceitos de FE Fardo Ecológico (Ecological Rucksack), este calculado pela IMPS Intensidade de Material por Unidade de Serviço e CMT Consumo Material Total Per Capita, fundamentados na distribuição justa da produção e consumo de bens e serviços naturais.

PE e FE medem o impacto ambiental causado pelo modelo de consumo de diferentes agentes (pessoa, cidade, indústria, região, país), em função do volume virtual de terra (ecoespaço) biologicamente produtivo para a manutenção do agente considerado. Para tanto, a degradação ambiental e o consumo de recursos são transformados em área (ares ou hectares), essencial para manutenção de determinado assentamento humano (comunidade).

23 www.brocku.ca/epi/sustainability/natstep.htm (acessado 23 nov. 2002) e What is Natural Step http://csf.colorado.edu/mail/ecol-econ/mar96/0040.html 24 Wackernagel, M. 2001. Using Ecological Footprint analysis for problem formulation, policy development, and communication. 20 pp. www.rprogress.org.

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 17 de 78 _________________________________________________________________________________________________ PE é, portanto, um conceito geral que considera que a tecnologia e comércio ambientais não expandem a capacidade de sustentação da terra, mas desloca, de uma região para outra, os efeitos do aumento de consumo.

Assim, a PE serve de indicador para desigualdades sociais e econômicas entre as nações, a partir do momento em que países pobres exportam bens para os ricos, acompanhados de deslocamentos rurais para zonas urbanas, agricultura insustentável, sem remuneração justa e benefícios para os habitantes locais, aumento de desempregos ou subempregos, entre outras situações.

O uso de modelo em linha permite que as pessoas calculem sua própria PE, como foi abordado no capítulo dedicado ao Desenvolvimento sustentável e comunidades. Para o ano 2000, a PE individual era 2,1 a 1,8 hectares, com base em estatísticas divulgadas por agências da ONU.

Países, como o Brasil, acabam compensando o excesso de consumo da população de outros.

Dados de 1996 Per Capita

PE

Hectare

Biocapacidade

Hectare

Brasil 2,6 11,6

China 1,8 0,9

Alemanha 6,3 2,5

Índia 1,1 0,7

Indonésia 1,5 3,2

Japão 5,9 0,9

Rússia 5,4 4,1

África do Sul 4,0 1,4

Estados Unidos 12,3 5,6

Mundo 2,8 2,2

A expansão da agricultura e da urbanização promove o deslocamento ou remoção de outras espécies, entre as 10 milhões presumidamente existentes na Ecosfera. Segundo os biologistas que atuam em conservação do Capital natural, cerca de 25% de determinadas áreas, ou 75% em outras, deveriam ser mantidas para garantir a biopreservação.

Há críticas sobre a validade da Pegada ecológica, da interpretação do valor do Capital natural, da relevância do cálculo da Capacidade de sustentação da terra e do cálculo da superfície (ou uso da terra) para avaliar a intensidade por unidade de serviço (ISPS), baseadas em crenças de compensações através de mercado livre internacional, compensações comerciais e tecnologia, entre outras. As réplicas correspondentes foram feitas por defensor da PE (já citado).

A PE não tem o objetivo de dizer aos países, simplesmente, que se ajustem, individualmente, aos limites próprios de bio-recomposição. Mas para estimular a discussão global, com vistas a resolver as bolhas ou transgressões (overshooting) causadas por déficits ecológicos, difíceis de serem pagos pelas gerações futuras, sozinhas.

No plano individual, as nações deverão buscar a competitividade interna e externa, sem comprometer o balanço ecológico. Países com déficit ecológico podem ou não perder em

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 18 de 78 _________________________________________________________________________________________________ competitividade, dependendo da disponibilidade de outros recursos. Entretanto, é dito que, no futuro, países com déficit ecológico passarão a dispor de menor volume de recursos e poderão instituir políticas e regulamentação mais restritivas. Por conta disso, perderão competitividade. Ou que a falta de competitividade, associada a padrão de consumo com déficit ecológico, será desastrosa para o desenvolvimento do país.

Estas percepções devem servir para reflexão de dirigentes, líderes e formadores de opinião que, nos dias atuais, reclamam da falta de flexibilidade ou de tolerância de autoridades governamentais eminentemente técnicas e pouco políticas, da morosidade na concessão de licenças ambientais, entre outras condutas. Especialmente quando são defendidos ou exigidos princípios e legislação mais rígidos para a implantação de indústrias sujas, instalação de complexos industriais em áreas sensíveis, acordos de compensação ambiental mais realista e outras atitudes que a classe industrial e a advocacia do licenciamento ambiental menos exigente buscam alcançar, usando como justificativa a necessidade do aumento da competitividade pela indústria, o crescimento do país, o fechamento de postos de trabalho ou a necessidade de aumento na oferta de emprego.

Os dados da PE mostram que as questões ambientais não podem ser consideradas inimigas do desenvolvimento. Quando muito, a PE, da mesma forma como outros instrumentos tratados neste capítulo, constitui sinal de alerta para o fato de que o crescimento econômico não contribui, necessariamente, para o desenvolvimento. Este tipo de paradoxo está abordado no Capítulo Desenvolvimento sustentável e comunidade.

O uso do conceito de PE requer ações dos diversos agentes e partes interessadas, como:

• interpretação correta da PE e suas conseqüências; • redução das pressões humanas sobre o ambiente, com gestão no uso dos estoques naturais,

mercado e sua relação com o Capital Natural, ações socioeconômicas e ambientais relativas ao Desenvolvimento sustentável, política de desenvolvimento industrial, científica e tecnológica, comércio e relações internacionais, acordos e protocolos globais, educação para o consumo responsáveis, etc.;

• infra-estrutura de suporte para a ação socioeconômica e ambiental adequada, para redução de déficits ecológicos, através de políticas públicas, inovação tecnológica capaz de combinar eficiência com ecoeficiência em relação à capacidade de sustentação da terra, Gestão com responsabilidade socioambiental, promoção e suporte a projetos e iniciativas de Desenvolvimento sustentável.

Resultado Final Tríplice – Triple Bottom Line Na atividade empresarial, Bottom line representa o resultado final ou última linha na apuração do lucro obtido através do investimento de capital monetário.

A expressão Triple Bottom Line – traduzida aqui por Resultado Final Tríplice TRF – surgiu em 199825 e foi aprimorada pelo World Resource Institute, para incorporar a equidade social, desempenho econômico e responsabilidade ambiental26. Portanto, TRF expande o conceito de Responsabilidade Social Corporativa, para as organizações cujo desempenho incorpora, ao lucro monetário, os resultados expressos pelos impactos benéficos e maléficos, sobre os componentes social e ambiental.

Conseqüentemente, a adoção do conceito faz com que a organização deva planejar, programar, executar, avaliar e relatar seu desempenho em relação a três tipos de investimentos:

25 Elkington, J. 1998. Cannibals with Forks: The Triple Bottom Line of 21st Century Business (Conscientious Commerce). 26 Bridger, M. 1999. The Triple Bottom Line. Isdesignet, 4 pp. www.isdesignet.com/Magazine/April%2799/role.html

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 19 de 78 _________________________________________________________________________________________________

• Capital Natural – recursos renováveis e não-renováveis, providos pela natureza, a partir dos quais são produzidos bens materiais e serviços destinados ao abrigo, alimentação, defesa, educação, lazer e outros aspectos da qualidade de vida, de curto, médio e longo prazo;

• Capital Humano ou Capital Social – conexões (como amizades, relacionamentos e afinidades entre as pessoas e a comunidade), conhecimento, educação, lazer, habilidades e saúde da população; e

• Capital Construído, Capital Físico ou Capital Financeiro – bens materiais monetários ou construídos e acumulados, como edificações, bens manufaturados e os valores físicos acumulados; propriedade intelectual e, em certas situações, serviços.

Para isso, é necessário que a organização:

• estabeleça indicadores que permitam medir as vantagens, lucros e impactos, benéficos e maléficos para as atividades ou negócios da própria organização, para a sociedade e para o ambiente, em geral;

• crie modelo e produza o relatório – em geral voluntário – de desempenho global e integrado dos resultados decorrentes dos recursos aplicados, em relação aos aspectos financeiros propriamente ditos, e socioambientais.

Nestas condições, o TRF está intimamente relacionado aos princípios de Responsabilidade socioambiental e Desenvolvimento Sustentável. Portanto, a avaliação e comunicação do desempenho passam a depender das ferramentas socioambientais usadas e das boas práticas selecionadas para uso na organização.

Isto explica as analogias entre o Relatório de Resultado Final Tríplice RTRF (Triple Bottom Line Report TBLR) e o Relatório de Desenvolvimento Sustentável RDS (Sustainable Development Report SDR), a ponto de serem consideradas ferramentas idênticas. Em alguns casos, a expressão RDS é preferida em relação a RTRF27. Em essência, o RTRF deve demonstrar como a tomada de decisões integra as considerações sociais, econômicas e ambientais e como a organização desempenha seu papel ou cumpre sua responsabilidade econômica e socioambiental.

TRF pode e deve ser praticado por toda e qualquer organização, seja privada ou pública, comprometida com o desenvolvimento sustentável. Por isso, o TRF revela a contribuição da organização para as condições econômicas e socioambientais de ordem local, nacional, regional ou global.

TRF é tema de seminários sobre investimentos no mercado de capitais e objeto de matrizes e metodologias28 usadas por organizações de investimento e as que se dedicam à classificação e indexação de empresas. Por isso, tornou-se uma das megatendências usadas para determinar o valor de mercado de corporações, a partir do desempenho integrado (econômico e socioambiental). Os modelos para implementação de rotinas e produção de relatórios são oferecidos por empresas de consultoria29 e agências governamentais, inclusive através da própria Internet30 .

27 Triple Bottom Line Reporting. Abril 2002. www.auditnz.govt.nz/grids/popup.asp?id=45&area=23 ; Fiksel, J. & col. 1999. Measuring progress towards sustainability principles, process, and best practices. 36 pp. 1999 Greening of Industry Network Conference Best Practice Proceedings. http://www.inknowvate.com/inknowvate/Fiksel_McDaneil_Mendenhall.pdf; 28(1) http://www.rolltronics.com/tbl.tbl.shtml; (2) http://www.beyondgreypinstripes.org/introduction.html; www.inknowvate.com/inknowvate/triple_bottom_line.htm; (3) Fiksel, J. & col. 1999. Já citado; (4) http://www.tbli.org Triple Bottom Line Investing 2003.; www.bsr.org.nz/TBLReporting.html; 29 Pricewaterhouse & Coopers www.pwcglobal.com ; KPMG www.kpmgmodels.co.nz ; Sustainability http://www.sustainability.com/home.asp 30 http://www.sustainability.com/publications/engaging/virtual-intro.asp

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 20 de 78 _________________________________________________________________________________________________

Produção e produto eco-inteligentes A Produção eco-inteligente31 é definida como a manufatura de serviços e produtos preço-competitivos, que proporcionam o máximo possível de utilidades ou funções, em termo de preferências de consumidores individuais, pelo tempo mais longo possível e com o mínimo uso de material natural, energia, área de superfície (terra) e dispersão de materiais tóxicos, de acordo com a visão do-berço-à-cova.

Características de Produtos Eco-inteligentes

1. Número mais alto possível de unidades de serviços de produtos (equipamentos de distribuição de serviços ou utilidades ou funções), durante a vida útil, em substituição à obsolescência programada.

2. Número menor possível de ingresso continuado em processos, produtos e serviços. 3. Mais baixo possível ingresso continuado de energia em processos, produtos e serviços. 4. Menor uso possível de superfície de terra por unidade de serviço. 5. Mínima dispersão de tóxicos.

Consumo eco-inteligente Uso de bens e serviços eco-inteligentes, de acordo com os limites de sustentabilidade de recursos naturais disponíveis, a partir de exigências determinadas por consciência pública.

Economia de Estado Estável (Steady State Economy) Fundamenta-se no entendimento de que a economia crescente, criada pelo homem é insustentável para “o subsistema do Ecossistema Terra, finito, não-crescente e materialmente fechado”32.

Portanto, é importante relembrar que crescimento e desenvolvimento não significam a mesma coisa. O crescimento econômico dá-se por agregação de materiais e medido quantitativamente, enquanto o desenvolvimento econômico deve incorporar elementos qualitativos, medidos por índices de eficiência. Logo, a Economia de Estado Estável é medida pela eficiência dos serviços, da distribuição dos estoques e pela manutenção da ecoeficiência, tornando-se

• independente do PNB • não-crescente • em equilíbrio biofísico com a Capacidade de sustentação dos sistemas naturais e • dependente de padrões de conduta socioeconômica na qual (i) os estoques são mantidos

em níveis sustentáveis para a presente e futuras gerações, (ii) os serviços são maximizados, em consonância com os estoques constantes e (iii) as entradas e saídas totais (throughputs) minimizadas.

Contabilização de Recursos Naturais – PNB Verde Este conceito introduz ajustes ao PNB Produto Nacional Bruto, abrangendo: depleção de recursos naturais, poluição, trabalho não remunerado, laser, trabalho doméstico, problemas causados pela urbanização, mas não inclui custos e benefícios ambientais.

31 Schmidt-Bleek, F. The Factor 10/MIPS-Concept. Bridging Ecological, Economic, and Social Dimensions with Sustainability Indicators. 20 pp. www.factor10-institute.org/Pdf.files.htm. Acessado nov. 2002. 32 Murcott, S. 1997. What is sustainability? AAAS Annual conference., IIASA Sustainability Indicators Symposium. Seattle, WA 2/16/97. www.sustainableliving.org/appen-e.htm

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 21 de 78 _________________________________________________________________________________________________

2. Tecnologias ambientais As indústrias que caracterizam o mercado de bens e serviços ambientais são chamadas de eco-indústrias e definidas como

as empresas produtoras de bens e serviços capazes de medir, prevenir, limitar ou corrigir danos ambientais como a poluição da água, ar, solo, bem como os problemas relacionados a resíduos e ruídos", com "tecnologias limpas com as quais poluição e uso de matéria prima são minimizados"33.

Apesar disso, os estudos de mercado ambiental, realizados pela OECD34 destacam a dificuldade para delimitar, caracterizar e classificar a indústria de bens e serviços ambientais e os empecilhos para estabelecer os limites das indústrias ambientais com as demais.

Isso traz problemas para:

• distinguir, muitas vezes, indústria de tecnologia ambiental • apurar valores e segmentos dominantes e • codificar bens e serviços para estabelecer tarifas e discutir barreiras, para tratamento de

questões ligadas ao comércio internacional. A principal razão é atribuída ao fato de que a classificação de indústrias e de tecnologias baseia-se no sistema fim-de-tubo (end-of-pipe), enquanto o mercado ambiental sofreu modificações importantes, a partir de 1990, com a expansão dos critérios de Produção Limpa/Mais Limpa35 e o desenvolvimento de tecnologias limpas/mais limpas.

Além disso, é importante destacar que o mercado ambiental é multi-meios, abrangendo ar, água de superfície e subterrânea (doce e salgada), solo e subsolo, resíduos, recursos naturais e semi-naturais, hábitats naturais e antrópicos, medidas preventivas e mitigantes e, por último, mas não finalmente, bens comuns e sustentabilidade econômica, social e ambiental.

As dificuldades para identificar as partes envolvidas no mercado, levantar valores de participação, especialmente quando se trata de serviços ambientais, abrangem, entre outras mencionadas pela OECD:

• detectar as conseqüências de efeitos causados por mudanças em regulamentação e incentivos para redução de consumo de recursos, minimização ou prevenção de geração de efluentes e resíduos e outros critérios ou princípios de Produção Limpa/Mais Limpa e de tecnologias limpas/mais limpas

• detectar e medir os resultados, no mercado, de mudanças de paradigmas, principalmente quando se tratar de indústria cujo foco tecnológico principal está voltado para o modelo "fim-de-tubo" e remediação

• harmonizar a nomenclatura das áreas ou segmentos da indústria ambiental, com o objetivo de conciliar as estatísticas nacionais, tendo em vista o crescente interesse no comércio internacional e ambiente

• ajustar a terminologia e classificação, tendo em vista a existência de códigos como CPC/UN Central Product Classification da ONU, HS Harmonised System, NACE Nomenclature Generale des Activites Economiques dans I`Union Europeenne , ISIC International Standard Industrial Classification, GATS/WTO General Agreement on Trade in Services World Trade Organization

33 Comissão Européia, 1994, mencionado em OECD. 1996. The global environmental goods and services industry. 34 pp. 34 OECD. 2000. Environmental goods and services. An assessment of the environmental, economic and development benefits of further global trade liberalisation. 110 pp. 35 A expressão limpa/mais limpa será usada pelo fato de que muitos usam os termos limpa e mais limpa como se fossem a mesma coisa. As diferenças estão abordadas em Produção Limpa.

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 22 de 78 _________________________________________________________________________________________________

• tratar os produtos de usos múltiplos • enquadrar indústrias/tecnologias com diversidade de aplicação • discriminar indústria/tecnologia pela maturidade ou sofisticação, tendo em vista as

indústrias low-tech e high-tech • considerar a temporalidade de tecnologias inovadoras - como no caso das tecnologias

limpas e as tecnologias integradas em processos, que poderão tornarem-se "sujas" em período relativamente curto de tempo

• definir e interpretar, adequadamente, os serviços ambientais, para o propósito de comércio internacional, em vista da diversidade de ações e operações do tipo Produção Limpa/Mais Limpa, visão do-berço-à-cova e outros aspectos relativos ao sistema de produto, ações ambientais na cadeia de produção ou a parceria de fornecedores de bens e serviços para o mesmo cliente ou atendimento ao mesmo problema ou objetivo

• categorizar o universo de prestadores de serviço, pela natureza e porte, considerando-se a presença de grandes empresas em determinados setores (tratamento de água, por exemplo); pequenas e médias em gestão de resíduos; parcerias entre empresas de diferentes portes para gestão de projetos e outros serviços tecnológicos e produtivos; empresas especializadas de pequeno porte para consultoria ecológica e de educação ambiental, P&D, testes e ensaios, abrangendo, inclusive grupos acadêmicos; integração de empresas de vários portes para serviços, tecnologia e equipamentos para prevenção e remediação de poluição.

Conceito de tecnologia O termo refere-se ao conjunto de conhecimentos humanos, científicos e empíricos, a seqüência de operações, de recursos materiais e instrumentais, técnicas e procedimentos para construir ou aprimorar processos, bens e serviços em escala econômica, de natureza organizacional ou comercial, em diferentes setores ou atividades humanas.

Tecnologia ambiental As tecnologias ambientais incluem (i) tecnologias de gestão ou organizacionais e (ii) tecnologias de processo e produto. As primeiras são mencionadas como ferramentas de gestão. As segundas são tratadas como todas as tecnologias para melhorias ambientais, de natureza radical ou incremental, que sejam "inofensivas para o ambiente"36. Ou, de maneira mais ampliada37, tecnologias (processos ou produtos) que desempenham papel direto ou indireto no aprimoramento da qualidade ambiental.

O desenvolvimento de tecnologia está intimamente relacionado à disponibilidade de capital (principalmente o de risco), capacidade para investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), infra-estrutura de recursos humanos e institucional para inovação, empreendimento e cultura para competitividade.

No caso das tecnologias ambientais, é preciso reinventar laboratórios, mudar cultura, estabelecer novos alvos e criar tecnologias inovadoras com credibilidade e relevância. É importantíssimo migrar das tecnologias de fim-de-tubo (end-of-pipe) para as tecnologias limpas e integradas no processo.

36 Antônio Sérgio Braga & Luiz Camargo Miranda (Coord.) 2002. Comércio e meio ambiente: uma agenda positiva para o desenvolvimento sustentável. MMA, Brasília, 310 pp. 37 http://es.epa.gov/program/exec/envtec.html - EPA National Performance Review Environmental Technology Team

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 23 de 78 _________________________________________________________________________________________________ O desenvolvimento de tecnologias ambientais, particularmente as integradas em processo (Produção Limpa/Mais Limpa), abrange, entre outros, os temas:

• alvos ambientais específicos • biodiversidade • clima e atmosfera • ecologia tropical • recursos do solo e água • recursos florestais • reorientação de processo end-of-pipe para Produção Limpa/Mais Limpa • saúde humana • socioecossistemas • temas ambientais de base local e globais (bens comuns) • vida marinha • remediação/recuperação de áreas degradadas e sítios contaminados.

2.1. Tecnologias de gestão ou organizacionais A lista a seguir, sem ordem de prioridade, mostra os principais direcionadores ambientais já usados por organizações mais preparadas e que conhecem as exigências ou recomendações de organismos normativos e representativos, com referência para a atuação socioambiental responsável:

• respeito à cidadania das comunidades, inclusive as indígenas • contribuição para a coesão social e melhoria da qualidade de vida das pessoas • utilização de materiais renováveis, de baixo impacto socioambiental • redução do uso de energia por unidade de bens e serviços • redução de impactos negativos (emissões, descargas, resíduos) nos ecossistemas • redução do consumo de materiais através de reciclagem, reuso, remanufatura, por unidade

de bens e serviços • redução de custos de investimentos e crédito, por medidas socioambientais • redução da obsolescência e aumento da vida útil de produtos • gestão responsável de acidentes internos e externos, provocados por processos e produtos • redução de impactos globais: aquecimento do planeta, depleção da camada de ozônio,

biodiversidade, transporte transfronteiriço de resíduos perigosos e tóxicos • destinação e descarte responsáveis de lixo industrial, embalagens e produtos pós-uso • penalidades, multas, danos à imagem corporativa ou pessoal, gastos com remediação e

recuperação de áreas impactadas. Estas e outras questões fazem parte do arcabouço para o desenvolvimento sustentável, para o qual as várias tecnologias ou ferramentas de gestão socioambiental estão disponíveis. Todas podem ser usadas por organizações que decidam articular as ações de RSA ao planejamento estratégico de seus negócios ou atividades.

A listagem das tecnologias ambientais a seguir é uma visão ampliada da que foi sugerida pela Comissão de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas38. Cada uma é abordada em tópico

38 www.un.org/documents/ecosoc/cn17/1998/background/ecn171998-bp8.htm UN Commision on Sustainable Development. Sixth Session 20 April - 1 May 1998. Background Paper no. 8. Corporate management tools for sustainable development, 10 pp.

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 24 de 78 _________________________________________________________________________________________________ próprio, sem aprofundamento, já que o propósito, neste texto, é destacar a importância delas para implementação de atividades com RSA.

• Responsabilidade sócio-ambiental empresarial

• Estratégias ambientais competitivas

Recursos e instrumentos• Conformidade• Códigos de conduta• Estratégia gerencial• Ferramentas

Influências sócio-econômico-ambientais

• Normas e regulamentos• Internacionalização• Influências culturais• Sustentabilidade sócio-econômica

Indicadoressócio-ambientais

Ferramentas para análise e avaliação sócio-ambiental

• Produção Limpa

• Ecodesign e Eco-eficiência

• Avaliação de Impacto Ambiental• Avaliação de risco

• Auditoria sócio-ambiental• Contabilização ambiental

• Avaliação do Ciclo-de-Vida

Ferramentas para ação

• Sistemas de Gestão Ambiental

• Padrões internacionais• Certificação e reconhecimento

(accreditation)

Ferramentas para comunicação

• Rotulagem ambiental

• Indicadores de sustentabilidade sócio-ambiental

• Relatório de desempenho sócio-ambiental

• Premiações e honrarias

Ferramentas para análise e avaliação sócio-ambiental

• Produção Limpa

• Ecodesign e Eco-eficiência

• Avaliação de Impacto Ambiental• Avaliação de risco

• Auditoria sócio-ambiental• Contabilização ambiental

• Avaliação do Ciclo-de-Vida

Ferramentas para ação

• Sistemas de Gestão Ambiental

• Padrões internacionais• Certificação e reconhecimento

(accreditation)

Ferramentas para comunicação

• Rotulagem ambiental

• Indicadores de sustentabilidade sócio-ambiental

• Relatório de desempenho sócio-ambiental

• Premiações e honrarias

Focos para RSA

i. Produção Limpa – PL

&Produção Mais Limpa - P+L

O início dos anos 90 foi marcado por movimentos de pressão social e mudanças na regulamentação para que o sistema gerador de bens e serviços introduzisse mudanças destinadas a reverter a geração e acumulação de lixo industrial, especialmente os tóxicos e perigosos.

As extrapolações, no início da década de 90, indicavam a geração anual de 1 bilhão de toneladas por ano, com previsão de 8,5 bilhões para o ano 2025 e 10 bilhões em 2050, dos quais 90% gerados pelos países membros da OCDE Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico. Portanto, as indústrias teriam que reorientar processos, substituir matérias primas e oferecer produtos diferentes daqueles que estavam sendo consumidos pela sociedade do desperdício.

Produção Limpa (Clean Production) – PL e Produção Mais Limpa (Cleaner Production) – P+L são ferramentas de gestão para a produção de bens e serviços. Surgiram em 1989-90, com o objetivo reorientar o processo de produtivo em razão das emissões industriais. PL foi proposta pela ONG ambientalista Greenpeace, enquando P+L foi concebida com o patrocínio do PNUMA Programa das Nações Unidades para o Meio Ambiente que contou com o apoio decisivo da ONUDI Organização das Nações Unidades para o Desenvolvimento Industrial. P+L foi referida na Agenda 2139.

39 http://habitat.igc.org/agenda21 Chapter 20.Preventing or minimizing the generation of hazardous wastes as part of an overall integrated cleaner production approach…

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 25 de 78 _________________________________________________________________________________________________

No âmbito dos promotores dos novos paradigmas, há divergências e desentendimentos quanto à similaridade ou diferenças entre PL e P+L. Há também evidências de que praticantes, talvez por desconhecimento, não conhecem, na amplitude adequada, os próprios conceitos de P+L.

Do ponto de vista da engenharia, não há processo industrial totalmente limpo (clean). Este fato estaria sendo reconhecido pelo uso do adjetivo comparativo mais limpo (cleaner) e esta teria sido a razão da escolha de P+L, pelo PNUMA e defendido por promotores de P+L.

Os defensores de PL não ignoram que os impactos ocorrem, mas consideram que a expressão limpa (clean) reflete a visão da possibilidade futura de interatividade de ações humanas com a sustentabilidade global40.

Através do PNUMA e ONUDI, foram implantados Centros Nacionais de P+L em vários países, os quais estimularam a criação de outros, nos respectivos territórios. O Centro Nacional do Brasil é denominado CNTL Centro Nacional de Tecnologias Limpas e foi criado junto ao SENAI-FIERGS Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial e Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul41. Outros Centros afiliados ou afins estão sendo implantados no Brasil42. A Mesa Paulista de Produção Mais Limpa é iniciativa para agregar pessoas e organizações interessadas na implantação e expansão do modelo, no Estado de São Paulo43.

Apesar disso, tem havido consideráveis esforços mundiais, inclusive no Brasil, para a promoção e implementação de PL ou de P+L nas empresas e demais organizações, graças ao trabalho de agências multilaterais, órgãos regulamentadores, ONGs Organizações Não Governamentais ambientalistas, sociais e empresariais, núcleos acadêmicos, consultores e outros agentes promotores.

No mundo dos negócios, entretanto, os resultados são modestos, principalmente nos países em desenvolvimento. As causas são atribuídas ao fato dos dirigentes não terem reconhecido os benefícios econômicos proporcionados, a inexistência instrumentos de mercado, a falta de políticas públicas adequadas e a ausência de legislação para as empresas assumirem boas práticas industriais e responsabilidade socioambiental de nível mais elevado.

As organizações continuaram gerando significativos volumes de resíduos, provocando ações socioambientais mais veementes. Os últimos anos da década de 90 foram marcados por mudanças na legislação e o aumento da cobrança para maior responsabilidade corporativa.

É fato inconteste que inúmeras empresas, em todos os segmentos de mercado ou de atividades, relutam em rever seu modelo econômico e produtivo e acabam não percebendo que estão gastando mais do que deveriam, perdendo lucratividade e produtividade.

Há custos inaparentes, contingenciais, de passivo ambiental ou menos tangíveis representados, por44: mau uso do produto ou serviço pelo consumidor; processos industriais de risco; ações civis, multas e obrigações para remediação; impactos visuais e sonoros; matérias primas inadequadas; auditoria e avaliação de risco; controle de acidentes e emergências; seguro ambiental e prêmio de alto risco; perda de subprodutos úteis; sistema inadequado de segurança de processo; danos à imagem.

40 Jackson, T (Ed). 1993. Clean production strategies. Lewis Publ. London, 415 pp. 41 http://www.pmaisl.com.br/npls/cntl-rs.htm 42 http://www.producaomaislimpabrasil.org.br/centros.asp 43 http://www.mesaproducaomaislimpa.sp.gov.br 44 www.environment.gov.au/epg/environet/eecp/what_is.htm - www.epa.gov.oppintr/acctg/earesources.htm -. http://www.bndes.gov.br/empresa/download/contamb.pdf Sebastião Bergamini Jr.1999. Contabilidade e riscos ambientais

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 26 de 78 _________________________________________________________________________________________________ É preciso enfatizar que as questões ambientais, relacionadas a emissões poluentes e causadoras de problemas sociais e para a saúde humana e para a qualidade dos ambientes naturais, estão ligadas ao modelo de produção e consumo de bens e serviços. Por isso, não podem ser atribuídas, exclusivamente, ao setor produtivo. Os governantes, em particular, não se deram conta, possivelmente também por desconhecimento, de que PL e P+L são ferramentas que deveriam ser usadas em todos os níveis e tipos de atividades da sociedade, inclusive no familiar.

Dados obtidos no site do Banco Mundial indicam que o custo para reduzir a poluição em grandes plantas industriais mostra a importância para as ações nos países em desenvolvimento, como o Brasil. A redução de 100 toneladas de SO2 corresponde a uma vida salva por doença respiratória. Na China (como no Brasil), reduzir 1 ton poderá estar em torno de US$3, o que equivale a US$300 para uma vida salva. Nos países membros da OECD, o preço para 1 ton é ao redor de US$100, ou US$10,000 para uma vida.45

Uma das questões medulares do estado atual da geração de passivos socioambientais está no fato as organizações não contabilizam os custos sociais e ambientais e, portanto, não sabem quanto estão gastando ou em quanto os produtos finais estão sendo onerados por despesas que poderiam ser eliminadas. Em outras palavras, a gestão contábil não mostra, com acurácia, quais são os números verdadeiros dos gastos.

Dessa maneira, os responsáveis pela a alta direção ficam sem elementos para destinarem recursos financeiros, materiais e humanos para eliminar - ou pelo menos - reduzir os custos com a poluição46. Entre tantos itens envolvidos, destacam-se os gastos com uso ineficiente de matérias primas (gerando resíduos), gestão de resíduos (antes da destinação e descarte), tratamento de resíduos, descarte final e outros gastos.47

Documento do Banco Mundial48 afirma que a redução de 20-30% da poluição pode ser alcançada, sem investimento de capital e que outros 20% podem ser atingidos com investimentos recuperados em poucos de meses. Estudos na Europa apontam para a viabilidade de 70% de redução das emissões.

As organizações públicas e privadas, com ou sem fins lucrativos praticam a conformidade legal, no estrito limite da regulamentação. Trata-se de atitude reativa, conseqüente do modelo prevalente de gestão ambiental do tipo fim-de-tubo, caracterizado pela contenção de resíduos para tratamento em estações próprias, na empresa ou de terceiros, complementada por descarte em aterros industriais, incineração ou na rede pública.

A conformidade reativa é parceira freqüente de atitudes e reclamações do empresariado que considera as novas ferramentas socioambientais, entre as quais PL e P+L, como negativas, incômodas e causadoras de perda de competitividade do setor produtivo.

Embora lentamente, espera-se que PL e P+L venham a ganhar a confiança dos dirigentes de organizações, para influenciar a implantação da ecogestão com responsabilidade socioambiental que privilegia o novo estilo de desempenho ambiental e de estratégias ambientais competitivas.

Há situações importantes que precisam ser corrigidas: (i) P+L e PL são paradigmas importantes para reorientar a produção e consumo; (ii) é necessário que ambas estejam em sintonia com os princípios de sustentabilidade e, para isso, (iii) é preciso haver mudanças na visão e nas estratégias de gestão social e ambiental das organizações. 45 A informação não pode ser recuperada, em tentativas posteriores, de acesso através da Internet. 46 www.cleanerproduction.com/papers/MgtAcctgandP2.html Burton Hamner. 1998. Management accounting: the hidden driver for clean production. 47 João S. Furtado. 2001. Administrando da ecoeficiência em empresas no Brasil: perspectivas e necessidades. VI Engema, 26-28 Nov. 2001. 15 pp. [email protected] 48 Pollution Prevention and Abatment Handbook.1998

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 27 de 78 _________________________________________________________________________________________________ A discussão de PL e P+L aborda os respectivos conceitos e definições, as semelhanças e diferenças entre ambas, do ponto de vista absoluto e comparativamente aos demais paradigmas socioambientais que fazem parte do sistema atual de mercado.

Neste texto, PL é considerada ferramenta de gestão do sistema de produção mais abrangente do que P+L, pois incorpora critérios, princípios e elementos de Ecogestão com responsabilidade socioambiental nos âmbitos das operações de processos e produtos e das ações de gestão administrativa. Levando-se em conta a abrangência do entendimento de PL e de P+L, a abordagem a ambas será feita com base nas inclusões, afinidades e interações envolvendo PL e P+L com

(i) os princípios de Desenvolvimento Sustentável, com (a) seus componentes, (b) fluxos condicionantes e (c) aspectos correspondentes às mudanças por desmaterialização e substituição;

(ii) a política de Gestão socioambiental responsável, desdobrada em (a) gestão de processo de produção e produtos (bens e serviços) e (b) gestão de operações administrativas (management);

(iii) e outras ferramentas socioambientais, agregadas por (a) análise e avaliação, (b) gestão, (c) foco ou visão estratégica e conseqüente (d) conceitos e intrumentos para medição de resultados de desempenho socioambiental.

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 28 de 78 _________________________________________________________________________________________________

Fluxos litosfera-ecosferaconcentração de materiais da

litosfera.Intensidade e Equilíbrio

Ecossistemahumano

Ecossistemasnaturais

Economia eSociologia

EcologiaCiclos biogeoquímicos

Ações do homem

Nível 1Ecosfera

Nível 2Sustentabilidade

Fluxos sociedade-ecosferaconcentração de materiais esubstâncias produzidas pelo

homem.Intensidade Equilíbrio

Degradabilidade e Qualidade dosdepósitos

Ações da sociedade humanaDestruição física

Manipulação do meioColheitas

ProdutividadeQualidade final dos depósitos

Disponibilidade de bens

Acesso a bens comunsSustentação de vida

humanaMateriais

MudançasDesmaterialização e Substituição

Aspectos1. Materiais físico-químicos

2. Materiais biológicos3. Sociais e econômicos

Tipos e Qualidade de1. Fluxos

2. Atividades3. Desempenho

SuperadaFim-de-tubo

Minimização de resíduos

Prevenção de poluição - P2

Redução de toxicidade

Prevenção de resíduos na fonte

Avaliação do Ciclo-de-V ida

Ecoeficiência

Design para o ambiente ou Ecodesign

Acesso público à informação

Participação democrática

Princípio da precaução

P2Conven-

cional

Responsabilidade (accountabiliity) etransparência

Pro-cessso

deprodu-

ção

de

bens eservi-

ços

Admi-nistra-

ção

Eco-gestãosocioambi-ental

responsável

João S. Furtado. Gestão com responsabilidade socioambiental. 2003.

PL

de

1989até

2002

PLMeta2003

Estudo deImpacto

Ambiental

Relatóriode

ImpactoAmbiental

Avaliaçãode Risco

Contabili-zação

Gestãosocioam-

biental

ANÁLISE E AVALIAÇÃO FERRAMENTAS PARA GESTÃO MEDIÇÃO DE RESULTADOESTRATÉGIA

P+L

1989até

2001

P+L

pós2001

P+Lpós

2001

Confor-midade

Sistema deGestão

ambiental(Reativo)

Ecogestãorespon-

sável(Transição)

Responsa-bilidade

socioam-biental

Corporati-va

(Pró-ativa)

Capacidadede Carga

EmissãoZero

CapitalNatu-

ral

PegadaEcológica

Fator 10

FardoEcológico

ÍndiceGenuíno deProgresso

Avaliaçãode

susten-tabilidade

----Avalia-ção de

ResultadoFinal

Tríplice

Intensidadede uso de

mate-riais, águae energia

Princípios deSustentabilidade

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 29 de 78 _________________________________________________________________________________________________

Os temas incluídos no esquema foram abordados ao longo deste texto49, mas serão retomados para ilustrar:

(a) a correspondência temporal relativa entre as questões ou os elementos envolvidos (b) a afinidade, reciprocidade, pertinência, inclusão ou complementação dos conceitos

envolvidos em cada caso (c) e a contribuição ou interatividade entre as diferentes ferramentas, que resultam na

geração ou complementação de dados.

Princípios de sustentabilidade

O primeiro grupo de elementos inclui os elementos necessários para o entendimento da sustentabilidade dos recursos do planeta terra e que servem de base para o a discussão das correlações entre as diversas ferramentas socioambientais.

Nível 1 Ecosfera

Representa o ecoespaço, entre a atmosfera e a crosta da terra (litosfera), onde existe o Capital Natural, avaliado em 30 trilhões de US Dólares, composto de recursos renováveis (bióticos) e não renováveis (abióticos) e estruturado:

i. Ecossistema humano, também chamado Antroposfera, sujeito a princípios, critérios e direcionadores de sociologia e economia. ii. Ecossistemas naturais, dependentes da ecologia, ciclos biogeoquímicos e ações humanas ou antrópicas.

Nível 2 Sustentabilidade

Incorpora os princípios para o uso racional dos recursos naturais e sobrevivência da sociedade humana, nos níveis das necessidades da geração atual, sem comprometer o direito de escolha e de acesso a bens das gerações futuras. A sustentabilidade está sujeita a quatro importantes condições50.

Fluxos listosfera-ecosfera, representados pela deposição e concentração de materiais da própria litosfera, cuja intensidade pode romper o equilíbrio da sustentabilidade físico-química e biológica, a integridade estrutural e a cadeia nutricional que garante a funcionalidade dos ecossistemas naturais.

Fluxos sociedade-ecosfera, que resultam na concentração de materiais e substâncias produzidas pelo próprio homem, especialmente através dos sistemas de bens e serviços, capazes de causar problemas de intensidade, equilíbrio, degradabilidade e qualidade dos depósitos.

Ações da sociedade humana, determinantes de destruição física, manipulação do meio, causadas, em geral, por colheita, índices de produtividade, qualidade final dos depósitos e disponibilidade de bens.

Acesso a bens comuns traduzido pela fruição de bens e serviços naturais, que acarreta conseqüências para a sustentação da vida humana e disponibilidade de recursos bióticos e abióticos.

49 Ver discussão, no início deste texto e no quadro ilustrativo do Sistema Terra. 50 Robert, K.-H. et col. 2002. Strategic sustainable development – selection, design and synergies of applied tools. Journal of Cleaner Production 10: 197-214. www.cleanerproduction.net

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 30 de 78 _________________________________________________________________________________________________

Bases para mudanças

As recomendações para a reversão da degradação do Capital Natural envolvem a (i) desmaterialização, ou redução da intensidade de uso de materiais, inclusive energia, em bens e serviços e (ii) substituição de materiais agressivos por outros menos agressivos ou, idealmente, atóxicos, para o homem e o ambiente.

As mudanças abrangem (i) aspectos relacionados a materiais físico-químicos, biológicos, sociais e econômicos e (ii) tipos e qualidade dos fluxos, atividades e desempenho alcançado.

Semelhanças e diferenças entre PL e P+L As ferramentas conceituais, organizacionais, de processo e produto, incluídas no esquema, representam os elementos mais proeminentes para entendimento de PL e P+L.

É importante destacar que a abordagem de PL e P+L é conceitual e comparativa, tendo como linha de base os princípios de desenvolvimento sustentável, no âmbito macro das organizações, e o emprego de ferramentas de ação como parte do sistema de gestão das atividades e negócios, no ambiente organizacional interno.

Neste sentido, a Ecogestão socioambiental responsável consiste no estabelecimento de operações gerenciais (management) resultantes da inserção de variáveis, temas, questões, ferramentas e instrumentos econômicos, ambientais e sociais no processo de decisão e planejamento da organização, com ou sem fins lucrativos.

O termo responsável é usado para expressar a obrigação que a organização assume de responder por todos os atos, atitudes e produtos, uma vez incluídos no ambiente público51. A Ecogestão socioambiental está intimamente relacionada à Capacidade de gestão estratégica, envolvendo:

• governança estratégica corporativa • fortalecimento dos sistemas de gestão ambiental • capacidade de auditoria e contabilizaçao ambiental • desempenho social • gestão da cadeia de suprimentos • e relacionamento com os agentes interessados (stakeholders).

São habilidades essenciais para a sustentabilidade, reconhecida, internacionalmente, como uma das principais megatendências que irão determinar o futuro das organizações atuais e as que surgirão no futuro52.

Para facilitar o entendimento das correlações entre PL, P+L e as demais ferramentas, a Ecogestão socioambiental foi desdobrada em dois âmbitos (i) processo de produção e produtos e (ii) administração.

Por sua vez, as ferramentas foram agrupadas em categorias que expressam sua finalidade ou uso: (i) análise e avaliação, (ii) gestão e (iii) medição. A terminologia usada representa decisão pessoal, mas, inspirada em proposta da Comissão das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável53.

51 Estes aspectos estão discutidos em outros capítulos da série Gestão com responsabilidade socioambiental. 52 Innovest http://www.worldbank.org/mining/news/conference/program/4 53 Já mencionada neste texto.

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 31 de 78 _________________________________________________________________________________________________

PL e P+L são semelhantes, em vários aspectos, mas diferem em outros. Embora pareçam sutis, as diferenças são significativas, do ponto de vista gerencial, social e político. Alguns pontos devem ser esclarecidos de imediato: a correlação ou semelhança entre PL e P+L com P2 e Ecoeficiência é fruto de desentendimento, desinformação ou desconhecimento

Ecoeficiência

Esta ferramenta é abordada em item próprio, neste texto. Para esclarecimento rápido, há dois entendimentos principais para esta ferramenta.

No sentido amplo, representa o aumento de produtividade geral de qualquer sistema, ciclo ou processo, levando-se em consideração aspectos ambientais e com especial destaque para o uso de recursos (matérias primas, água e energia).

No sentido específico, consiste na entrega de bens e serviços preço-competitivos, capazes de atender às necessidades humanas e proporcionar o bem-estar e qualidade de vida, ao mesmo tempo em que reduz os impactos ecológicos e a intensidade (de uso) de recursos, através de todo o ciclo-de-vida e alinhados à capacidade de sustentação da terra.54

P2 (Prevenção à poluição)

P2 é definida como a utilização de processos, práticas, materiais, produtos ou energia que evitem ou minimizem a geração de poluentes e resíduos na fonte (redução na fonte) e reduzam os riscos globais para a saúde humana e para o meio ambiente, segundo a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPAUS)55.

Como ferramenta, restringe-se à gestão de processos e, de modo ainda mais limitado, a produto. Em nada contribui para o subcomponente administração da Ecogestão socioambiental responsável. Portanto, P2 contribui pouco para a consolidação de sistema56 de gestão.

Em relação a outros instrumentos e paradigmas, apenas a componente prevenção estabelece alguma base para Emissão Zero, Capital Natural e Pegada Ecológica. Portanto, P2 também é limitada, se o foco estratégico está orientado para Redução de uso de materiais,água e energia e em nada contribui para a Avaliação de sustentabilidade ou de Resultado Final Tríplice.

O conceito criado pela EPAUS foi estabelecido como norma legal pelo Governo dos EUA, nos anos 80, quando serviu e continua prevalecendo como base para a intensa mobilização nas comunidades, nos EUA. Mas, mas teve forte impacto no resto do mundo, pois, funcionou como direcionador para o trabalho de agências ambientais em vários países, inclusive no Brasil. Certamente, foi instrumento mais importante para a criação de cultura ambiental em empresas em todo o mundo.

P2 estabelece a hierarquia de procedimentos, em relação à geração e toxicidade de resíduos, durante a produção de bens e serviços, definida por: prevenção, minimização ou redução, reciclagem, tratamento e, como últimas opções, descarte e incineração.

Entretanto, P2 não questiona o sistema fim-de-tubo (end-of-pipe), representado pela contenção de resíduos e emissões para posterior tratamento, descarte e incineração. P2 estimula a

54 Verfaillie, H.A. & Bidwell, R. 2000. Measuring eco-efficiency. World Business Council for Sustainable Development. 36 pp. www.wbcsd.org 55 http://www.mesaproducaomaislimpa.sp.gov.br 56 O termo sistema representa conjunto de partes interativas e se auto-influenciam, segundo fluxos e nexos.

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 32 de 78 _________________________________________________________________________________________________

estratégia da conformidade, do tipo Comando e controle; inspira a estratégia reativa e tem pequena contribuição para o desenho e implementação da gestão ambiental nas organizações.

P2 não interage com os paradigmas mais avançados de medição do desempenho socioambiental responsável, uma vez que, na prática, privilegia as opções de manejo de resíduos baseadas em minimização ou redução. O nível de interatividade do modelo melhora quando a opção de prevenção da geração é alcançada.

P2 não contém qualquer recomendação ou princípio de ordem social. Por isso, fica descartada sua contribuição para a Gestão socioambiental que integra as dimensões econômica, ambiental e social do Desenvolvimento Sustentável e da avaliação de Resultado Final Tríplice.

Comparação entre PL e P+L

Conceitos e critérios Item PL - Greenpeace57 P+L – PNUMA/ONUDI58

Definição geral

Aplicação sistemática de princípios que permitem satisfazer as necessidades da sociedade por produtos ambientalmente corretos, através do uso de sistemas de energia eficientes e renováveis e materiais que não ofereçam risco, nem ameacem a biodiversidade do planeta.

Aplicação contínua de uma estratégia ambiental integrada em processos produtos e serviços, incorporando o uso mais eficiente de recursos naturais e minimizando resíduos e poluição, da mesma forma que os riscos para a saúde humana e segurança

Processo

Atóxico, energia-eficiente; utilizador de materiais renováveis, extraídos de modo a manter a viabilidade do ecossistema e da comunidade fornecedora ou, se não-renováveis, passíveis de reprocessamento atóxico e energia-eficiente; não poluidor durante todo o ciclo de vida do produto; preservador da diversidade da natureza e da cultura social; promotor do desenvolvimento sustentável

Conservação de materiais, água e energia; eliminação de materiais tóxicos e perigosos; redução da quantidade e toxicidade de todas as emissões e resíduos, na fonte, durante a manufatura.

Produto

Útil; durável e reutilizável; fácil de desmontar e remontar; mínimo de embalagem; utilização de materiais reciclados e recicláveis.

Redução do impacto ambiental e para saúde humana, durante todo o ciclo, desde a extração da matéria-prima, passando pela manufatura, consumo/uso e disposição/descarte final.

Reciclagem Atóxica e efetiva, quanto ao consumo de água e energia Não especifica

Princípio da precaução Indispensável

Não considerado. [Acordado através da Agenda 21; adotado por organizações regulamentadoras e referendado por empresas européias que praticam P+L; incluído no conceito de P+L pela Mesa Redonda Paulista de P+L].

Princípio da prevenção Indispensável Critério recomendado, mas aceita minimização ou redução

Princípio da integração Avaliação do Ciclo-de-Vida, Visão do berço-à-cova Idêntica

Direito público de acesso à informação Indispensável Não considerado

Responsabilidade corporativa social Introduzida em 2002 Não considerada

57 http://www.cpa.most.org.pl/cpb1.html#1. 58 www.unepie.org./Cp2/home.htm

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 33 de 78 _________________________________________________________________________________________________

As considerações feitas estão sujeitas a discordâncias e divergências, em função de opiniões e experiência de promotores e praticamente de PL e P+L. Portanto, devem ser analisadas com isenção. Outros comentários, que extrapolam os conceitos originais da Greenpeace e PNUMA-ONUDI, são incluídos a seguir59.

Pertinência ou inclusão PL P+L

Ecogestão de processos e produtos Total Total Ecogestão de operações administrativas e de relacionamento socioambiental

Quase total; faltam alguns elementos ou demanda para indicadores econômicos e sociais relacionados a política corporativa e gestão estratégica

Nenhuma previsão

Design para o ambiente (ecodesign) Inclusão quase total; falta alguns elementos econômicos e sociais (qualidade de vida), não relacionados a saúde, especificamente

Quase total; faltam elementos de ordem social (qualidade de vida), não relacionados a saúde, especificamente

Ecoeficiência: sentido geral -------------------------------------------- Ecoeficiência no sentido do World Business Council for Sustainable Development

Quase total: faltam alguns princípios relacionados a aspectos sociais não relacionados à saúde ----------------------------------------- Quase total; não especifica indicadores de desempenho econômico monetário

Limitada à visão de processo de produção e produto --------------------------------------- Pertinência limitada a aspectos ambientais e economicos relativos a matérias primas, resíduos e reflexos no custo final do produto

Atitude estratégica Pró-ativa Conformidade reativa, ao se satisfazer com redução ou minimização, em transição para pró-ativa quando houver a prevenção de resíduos

Auditoria, estudo de impacto, avaliação de risco e contabilização total (full accounting) da organização

Quase total; faltam alguns aspectos que limitam avaliar a ecoeficiência e, conseqüentemente, a contabilização, especialmente indicadores sociais

Limitados ao processo e produto

Sistema de gestão ambiental Ecogestão integrada com responsabilidade socioambiental, com tendência para a Responsabilidade socioambiental corporativa

Sistema estático (tipo ISO)

Capacidade de carga (sustentação) da ecosfera, Emissão zero, Capital Natural

Total Parcial

Fardo ecológico, Pegada ecológica e Índice Genuíno de Progresso

Quase total; falam alguns aspectos econômicos e sociais, relacionados à decisão de negócios e o consumo

Limitada a processo e produto na planta de produção

Intensidade de uso de materiais, inclusive energia, por unidade de serviço

Total Limitada a processo e produto na planta de produção

Relatório de desempenho socioam biental responsável

Total, com a campanha para adoção da Responsabilidade Corporativa60

Quase total, com a inserção da recomendação para envolvimento das partes interessadas, inserção na política, missão, visão corporativa, avaliação e disseminação dos resultados61

59 Critícas, correções e sugestões são bem-vindas, para que o quadro comparativo e o entendimento de PL e P+L possam ser aprimorados. 60 http://www.greenpeace.org/earthsummit/bhopalprinciples.html - Greenpeace Bhopal Principles on corporate accountability. Jun 2002. Recomenda-se a leitura do original, para melhor precisão do conteúdo. 61 UNEP. 2001. International Declaration on Cleaner Production. Draft. Implementation guidelines for companies.22 pp. www.uneptie.org/pc/cp/declaration/implement.htm

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 34 de 78 _________________________________________________________________________________________________

Avaliação de Desenvolvimento Sustentável ou de Resultado Final Tríplice

Quase total; faltam alguns aspectos relacionados a aspectos, especialmente econômicos e sociais, de produção e consumo

Limitada a processo e produto na planta de produção

A responsabilidade socioambiental corporativa, proposta pela Greenpeace em 2002 e que ficará articulada a PL é abrangente e inclui os elementos a seguir.

1. Implementação do Princípio 13 da Declaração do Rio em 1992 2. Extensão da responsabilidade civil corporativa 3. Responsabilidade civil corporativa para danos além da jurisdição nacional 4. Proteção dos direito humanos 5. Provisão da participação pública e do direito à informação 6. Aderência a padrões mais elevados de conduta 7. Prevenção da influência corporativa sobre a governança pública 8. Proteção da autodeterminação local na escolha de alimentos 9. Implementação do princípio da precaução e exigência de avaliação de impactos ambientais 10. Promoção do desenvolvimento sustentável limpo

A visão expandida de P+L, em 2001, elaborada através do PNUMA62 e disseminada pela Declaração Internacional de P+L63, é um bom avanço nos conceitos. Mas, ainda persiste lacuna de ordem socioambiental responsável, a ser preenchida, como poderá ser visualizada no esquema ilustrado.

Apesar das diferenças, PL e P+L são ferramentas importantes para a reorientação do sistema produtivo e formulação de novas políticas públicas, com foco no desenvolvimento sustentável. Para isso, é necessário reconhecer as limitações e insuficiências e que as medidas complementares sejam tomadas para superá-las.

Todavia, é necessário reconhecer algumas situações incontestáveis.

1. Do ponto de vista ideológico e conceitual, PL é, no estágio atual, ferramenta de gestão superior a P+L.

2. PL é, em geral, promovida por ONGs ambientalistas e alguns centros acadêmicos que optaram pelo modelo, mesmo nos casos em que o entendimento dos princípios não se transforme em ações práticas, concretamente.

3. O reconhecimento de PL pode estar sendo objeto de reações adversas, do ponto de vista político-ideológico. Neste caso, P+L tem maiores chances de expansão de uso, por tratar-se de idéia, bandeira e ação conduzida e apoiada por importantes agências multilaterais, ONGs empresariais, órgãos de governo formuladores de políticas e de regulamentação e dos Centros Nacionais de P+L que estão proliferando em vários países. Mesmo que os princípios de P+L não sejam praticados em sua maior extensão ou que as distinções entre PL e P+L não estiverem suficientemente entendidas.

4. Independente das vantagens e oportunidades, ambas, PL e P+L, estão sujeitas a rejeições, para implantação operacional, inclusive de parte dos próprios agentes promotores de P+L, pelo simples fato de que os membros da sociedade humana, com cidadãos, líderes ou dirigentes, praticarem, no dia-a-dia, o modelo fim-de-tubo, a conformidade e o comando e controle, com certa propensão para transgressões e desvios de conduta.

62 http://www.unepie.org/pc/cp/declaration/implment.htm 63 http://www.unepie.org/pc/cp/declaration/home.htm

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 35 de 78 _________________________________________________________________________________________________

5. Até que surjam ferramentas melhores, PL e P+L são instrumentos de escolha para mudança de cultura e de paradigmas. A opção, por uma ou outra é apenas uma questão de nível de responsabilidade e de padrão de excelência a serem alcançados.

A adoção de PL, por agências de governo, favorecerá a formulação de políticas, de planos e de programas estratégicos, alinhados ao compromisso da sustentabilidade. Para as organizações produtoras de bens e serviços, com e sem fins lucrativos, PL – mais do que P+L – representa a ferramenta de gestão estratégica as que queiram mudar de patamar e atuar de acordo com as melhores práticas e os princípios de responsabilidade (accountability) corporativa.

Por isso, PL é modelo mais completo e relevante, do ponto de vista da sustentabilidade, em sua visão tríplice – econômica, ambiental e social. Conseqüentemente, é importante comentar os critérios fundamentais do modelo.

Princípio da Precaução (Precautionary Principle) Melhor estar seguro do que arrependido

PL dá grande importância para este princípio, reconhecido pela Agenda 21, no Artigo 19 e, como tal, referendado por muitos países, inclusive o Brasil. O Princípio da Precaução é bastante usado pela Comissão da União Européia, no estabelecimento de políticas e regulamentos ambientais e representa a principal base para campanhas de muitas ONGs, obrigando o poluidor potencial a arcar com o ônus da prova de que uma substância ou atividade não causará dano ao ambiente.

A precaução rejeita o uso isolado da avaliação quantitativa de risco para a tomada de decisão, pelo fato de que a avaliação de risco reconhece as limitações do conhecimento científico para determinar se o uso de um produto químico ou uma atividade industrial tem precedência.

A abordagem precautória não ignora a ciência, mas estabelece que o processo, produto ou material não seja usado, desde que haja indícios ou suspeitas de causar danos ao homem ou ao ambiente. O princípio da precaução também estabelece que outros elementos devem opinar da decisão pública e não apenas os cientistas, pelo fato da produção industrial ter impacto social.

A discussão em torno dos alimentos transgênicos e do uso de várias substâncias químicas - como os POPs - Poluentes Orgânicos Persistentes - são exemplos notórios envolvendo o Princípio da Precaução, para efeitos duradouros e irreversíveis para o homem ou o ambiente.

A análise jurídica conclui que precaução foi abraçada pelo Brasil com a adesão, ratificação e promulgação das Convenções Internacionais Convenção da Diversidade Biológica e Convenção-Quadro sobre a Mudança do Clima, com a adoção do artigo 225 da Constituição Federal e com o advento do artigo 54, § 3º da Lei 9.605 de 12 de Fevereiro de 1998 e deverá ser implementado pela Administração Pública, no cumprimento dos princípios expostos no artigo 37 "caput" da Constituição Federal64.

Ainda de acordo com o parecer, a Lei 9.605 de 12 de fevereiro de 1998 diz no art. 54: "Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa". O § 3º do referido artigo 54 diz: "Incorre nas mesmas penas previstas no parágrafo anterior, quem deixar de adotar, quando assim o exigir a autoridade competente, medidas de precaução em caso de risco de dano ambiental grave ou

64 www.merconet.com.br/direito/3direito3.htm Paulo A. L. Machado. Direito ambiental e princípio da precaução.

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 36 de 78 _________________________________________________________________________________________________

irreversível". A conceituação de "medidas de precaução" não é dada pela lei penal, devendo-se procurá-la nos entendimentos referidos nos textos internacionais, aqui interpretados, e na doutrina. Não se trata de outro tipo de precaução do que aquele inserido no princípio ora estudado, tanto que as medidas a serem exigidas serão cabíveis "em caso de risco de dano ambiental grave ou irreversível".

Princípio da Prevenção(Prevention Principle) É mais barato prevenir do que remediar

Consiste em substituir o controle de poluição pela prevenção da geração de resíduos na fonte, evitando a geração emissões perigosas para o ambiente e o homem, ao invés de "curar" os efeitos de tais emissões. A aplicação do Princípio está prevista na legislação do Brasil65, de acordo com a Lei nr. 6.938, de 31 de agosto de 1981, art. 2º.

A prevenção deve ser feita nos fluxos para cima (upstream), isto é, das fontes de matérias primas, água e energia até a manufatura de bens e serviços - e para baixo (downstream), ou seja, da saída do produto da fábrica, distribuição, venda, consumo, ao descarte de produtos e embalagens.

O princípio da prevenção cria as bases para a substituição do modelo econômico linear pelo circular, com o propósito de privilegiar ecomateriais, reuso, reciclagem, remanufatura, eficiência de uso de energia e água, e outros atributos incluídos no conceito de PL.

Direito público de acesso a informações ou controle democrático

O acesso a informações66 diz respeito à segurança e uso de processos e produtos, por todos os interessados, inclusive as emissões e registros de poluentes, planos de redução de uso de produtos tóxicos e dados sobre componentes perigosos de produtos.

Este princípio tem recebido crescente atenção de parte de governos de países desenvolvidos, como é o caso da legislação do direito de saber – o RTK Right to Know, nos EUA. O TRI Toxic Release Inventory, obrigatório nos EUA, é produto da legislação de RTK.

Trata-se, portanto, da divulgação ampla de informações sobre questões que dizem respeito à segurança e uso de processos e produtos, para todos os interessados, incluindo, por exemplo, as emissões e registros de poluentes, planos de redução de uso de produtos tóxicos, dados sobre componentes perigosos de produtos, níveis de riscos de processos, etc..

O Brasil não tem tradição em direito público de acesso à informação, exceto no Estado de São Paulo, graças ao reforço instituído, embora tímido e restrito, pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente67. O direito à informação também faz parte do arcabouço jurídico brasileiro (ver Mukai, 1994).

Princípio da integração

65 Mukai, T. 1994. Direito ambiental sistematizado. Forense Universitária, 191 pp. 66 Este princípio invoca o direito de acesso público à informação (Right to Know), cujo reconhecimento está crescendo em vários países. 67 Secretaria de Estado do Meio Ambiente. 1996. Acesso à informação ambiental. 32 pp.

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 37 de 78 _________________________________________________________________________________________________

Visão holística do sistema de produção de bens e serviços, com o uso de ferramentas como a ACV - Avaliação do Ciclo-de-Vida (abordado em tópico próprio neste texto).

Uma vez adotada, PL cria elementos para o engajamento de amplo espectro de agentes interessados e de reconhecimento internacional ilimitado. Assim, os critérios e instrumentos de PL têm ampla sintonia com princípios éticos nos negócios, relacionamento interno e externo da organização com o homem e o ambiente.

Os princípios de PL atendem à legislação e, em muitos aspectos, vão além das exigências regulamentárias. Conseqüentemente, PL estabelece a motivação para iniciativas proativas.

PL ou P+L: qual a mais eficiente?

• PL e P+L propõem a reorientação do modelo clássico de equação econômica linear. Esta equação leva em conta a entrada de matérias primas e insumos no processo produtivo e adota o modelo de fim-de-tubo para tratamento dos resíduos, em estações de tratamento ou transferência para aterros ou incineração. O modelo o fim-de-tubo oferece vários resultados negativos:

i. simplifica o sistema de produção, por levar em conta apenas a entrada de matéria no processo de produção e a saída do produto para o consumo ou uso;

ii. estimula a falta de compromissos e responsabilidades socioambientais pós-uso de produtos e embalagens, exceto quando previstos na legislação e regulamentação e

iii. reforça as reações de contrariedade de dirigentes de empresas e de entidades representativas de setores produtivos, sob a justificativa de que as mudanças requerem pesados investimentos, comprometendo custos e lucratividade.

• PL e P+L são importantes instrumentos para o ecogerenciamento, com forte ênfase no processo produtivo, visando a adoção da equação circular, caracterizada pelo fechamento de ciclos (loopings) no processo de produção, a montante (upstream) e a juzante (downstream). Ou seja, (i) das fontes de recursos até a produção de bens e serviços e (ii) da distribuição ao consumo e descarte (de embalagens e restos dos produtos ao final da vida útil). traz inúmeras vantagens econômicas e socioambientais.

• Ambas incorporam a visão a integral, holística, chamada do-berço-à-cova ou de sistema de produto e a redução da toxicidade, em todas as etapas do ciclo-de-vida.

• PL e P+L propõem a prevenção de resíduos na fonte, redução de toxicidade, poupança de água e energia.

Como resultado, PL e P+L contribuem, definitivamente, para o aumento da renda líquida em processos e produtos, através: redução de gastos no consumo de matérias primas e utilidades, reaproveitamento, reuso e reciclagem, melhor manejo e destinação dos resíduos, eliminação de despesas específicas do modelo fim-de-tubo. Tudo isso sem mencionar outros gastos, representados por custos inaparentes, ignorados pelas empresas.

Entretanto, P+L é mais permissível, pois, satisfaz-se, com freqüência, com a minimização ou redução das emissões. Para o praticante de P+L, o foco da prevenção, defendido por PL é, com freqüência, considerado meta irreal e impraticável.

O conceito de prevenção não deveria ser visto como meta absoluta, a ser alcançada no interior da planta, mas da maneira como proposto por Emissão Zero. Isto é, um conjunto de operações na cadeia de negócios, no sistema produtivo e na sociedade humana como um todo.

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 38 de 78 _________________________________________________________________________________________________

As características dos produtos, estabelecidas por PL estão em sintonia com Emissão Zero e outras ferramentas como Intensidade de Materiais (e Energia) por Unidade de Serviço, Pegada Ecológica, Fardo Ecológico, por exemplo. Estas questões não ficam evidentes no conceito e na prática de P+L.

Estes conceitos não estavam amplamente difundidos quando as bases de PL foram estabelecidas, mas os critérios de PL tornaram-se satisfatoriamente alinhados.

• PL e P+L declaram seu compromisso para com a sustentabilidade, porém PL é mais explícita quando deixa claros os compromissos sociais, através do direito público de acesso à informação. P+L ajustou-se a estes novos paradigmas em 2001. A principal questão é se os promotores e praticantes de P+L acompanharam as mudanças.

• PL e P+L são opções de escolha para substituição do modelo clássico de controle da poluição (fim-de-tubo). Mas, PL supera a P+L, do ponto de vista tecnológico, ambiental e social.

PL, comércio internacional e OMC

O maior sucesso comercial está reservado às empresas mais bem capacitadas para medir, limitar, corrigir e – acima de tudo prevenir danos ambientais e conseqüências sociais resultantes da emissão de poluentes, do consumo não-sustentável de recursos, de água e energia, principalmente quando se tratar de energia não renovável.

Este tópico aborda, de forma resumida, a percepção do desenvolvimento sustentável e o comércio internacional pós-Rio+10, as tecnologias ambientais e a importância da Produção Limpa – PL para o aumento da competitividade estratégica das organizações, levando-se em consideração as iniciativas no âmbito da OMC Organização Mundial para o Comércio.

PL proporciona amplo espectro de recursos para o desempenho socioambiental responsável da organização, alta competitividade no mercado nacional e internacional e defesa estratégica contra alegações ambientais que poderiam funcionar como barreiras não tarifárias e regulamentadas ou voluntárias, adotadas nos países desenvolvidos.

Portanto, a ferramenta de gestão dá condições para a empresa enfrentar as alegações de base socioambiental que vêm sendo cada vez mais usadas, na pauta de acordos multilaterais de comércio internacional. Algumas vezes, as razões visam impedir a entrada, no país desenvolvido, de produto de conteúdo poluidor, originário de país não-desenvolvido. Em outras situações, o governo recorre à OMC, alegando que a proibição de base ambiental impede a livre concorrência.

As disputas envolvem, entre outras, questões ou diferenças, como: padrões e normas (standards), boas práticas (good practices), reconhecimento de desempenho (accreditation), certificações (certification), rotulagem ou selo ambiental, legislação e regulamentação nacionais.

Neste contexto, ganham relevância os casos de conflitos causados pela alegação de barreira comercial desleal e a condenação imposta pela OMC ao país que proíbe a importação fundamentada em acordos, convenções, tratados ou instrumentos multigovernamentais estabelecidos no âmbito da ONU, especialmente do PNUMA.

Por essas e outras razões, a OMC tem sido criticada, por causar prejuízos ao ambiente em geral, comprometer o desenvolvimento sustentável, prejudicar os países não-desenvolvidos e, em contrapartida, privilegiar os países desenvolvidos e, em particular, a grandes corporações transnacionais.

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 39 de 78 _________________________________________________________________________________________________

A Cúpula da Terra, denominada Rio+10 e realizada em agosto-setembro de 2002, em Johannesburg, África do Sul mostrou dois aspectos importantes. De um lado, as expectativas frustradas e as decepções causadas pela rejeição a propostas consideradas importantes – em decorrência da intervenção dos EUA e dos países produtores de petróleo. Com isso, deixaram de ser estabelecidas metas concretas e objetivas, para alvos socioambientais relevantes para a sociedade humana e o ambiente. Conseqüentemente, não houve comprometimento político e responsabilização econômica diferenciados dos países.

De outra parte, ficou evidente que o desenvolvimento sustentável terá que passar pela discussão dos acordos multilaterais de comércio, no âmbito das políticas, regulamentos e procedimentos da OMC, com especial destaque para o Acordo sobre Barreiras Técnicas ao Comércio (Technical Barries to Trade – TBT) e Acordo sobre Direitos de Propriedade Intelectual (Trade-Related Aspects of IntellectualProperty Rights – TRIPS). Estes instrumentos de comércio internacional causam grande impacto nas políticas públicas nacionais e no estatuto de propriedade intelectual.

Independente do rumo das discussões político-institucionais, as empresas terão que lidar com as características socioambientais dos processos produtivos e dos produtos – sejam estes bens ou serviços.

As Organizações Governamentais e Não-Governamentais, os agentes financeiros e de desenvolvimento cientifico e tecnológico locais terão que participar do esforço para qualificar as empresas para que estas possam competir no mercado internacional, em bases sustentáveis, do ponto de vista social, econômico e ambiental.

Desenvolvimento sustentável pós-Rio+10

A Rio+10 foi um exercício de cortar e colar (cut and paste) os acordos comerciais e financeiros de Doha e Monterey com os resultados da Rio-92, com muita conversa sobre o desenvolvimento e pouca sobre a sustentabilidade. Muito tempo da reunião foi usado para defender e reafirmar princípios já adotados na Rio-92, como o “Princípio da Precaução”, que visa prevenir ações que ameacem a saúde e meio ambiente, e o “Princípio da Responsabilidade Comum mas Diferenciada”, pelo qual todos assumem a responsabilidade de mudar suas práticas insustentáveis, mas os países ricos, que causaram maiores danos ao ambiente nas últimas décadas, devem mudar mais rapidamente e financiar o processo global para mudança do cenário. Isto significa capacitação e transferência de tecnologia, principalmente para países em desenvolvimento.

A questão da sustentabilidade talvez tenha sido a maior vítima do processo de globalização e do comércio internacional, como discutido na Rio+10, forçando blocos regionais a avançarem isoladamente, onde a comunidade internacional falhou em agir.

A pouca vontade política para implementar a regulamentação internacional, complementando iniciativas voluntárias, tímidas ou ineficazes, faz com que a arena internacional continue sendo bastante desigual, criando, portanto, desvantagem competitiva para os países que buscam maior valor agregado a seus produtos e menor legado tóxico para o ambiente.

Um bom exemplo desta realidade é a questão da energia renovável e os subsídios a energias sujas, com centenas de bilhões de dólares que, anualmente, apóiam a última modalidade, na matriz energética mundial. Entretanto, a União Européia e a América Latina já sinalizaram para uma coalizão, dedicada ao desenvolvimento de fontes renováveis de energia a custo competitivo, até 2010.

Fundamentalmente, desenvolvimento sustentável requer visão, vontade e políticas claras e bem definidas de desenvolvimento que respeitem o ambiente e a saúde humana.

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 40 de 78 _________________________________________________________________________________________________

Outro resultado importante da Rio+10 foi o acordo para o desenvolvimento de um instrumento internacional de responsabilidade corporativa. Este marco abrange três conceitos fundamentais, segundo a terminologia internacional: responsibility, accountability e liability. Quando for operacional, o instrumento será a primeira resposta internacional para a implementação dos princípios Poluidor pagador e Prevenção, pelas empresas envolvidas no comércio internacional.

É inegável que o comércio livre esteja sendo duramente confrontado pela agenda do comércio justo e que as empresas (especialmente as exportadoras) terão que se preparar para melhor, a fim de atender o crescente aumento nas exigências sociais e ambientais, tanto em relação às práticas empresariais, como às características de seus produtos.

Comércio internacional e ambiente

A OMC tornou-se o grande campo de batalha, para garantir que a agenda comercial dos países não encobrisse outros interesses e políticas, legítimas do cidadão, para assegurar o direito ao ambiente limpo e saudável.

Somente com políticas apropriadas, globais e eqüitativas, será possível alcançar as condições ideais para a indústria limpa atuante no desenvolvimento sustentável e assegurar o investimento necessário, nos países em desenvolvimento, a fim de resgatar as desigualdades sociais atuais. Estas políticas terão papel fundamental para transformar a realidade. Estudos recentes indicam que “as importações vão se tornando cada vez mais limpas, em contraste com o aumento considerável no potencial contaminante das exportações, ambientalmente cada vez mais complicadas.”68

PL é o caminho lógico e inevitável para a sociedade que busca: consumir dentro da capacidade de sustentabilidade da terra, repartir benefícios de maneira justa e zelar pelo planeta, para as próximas gerações. O processo de transformação já está em movimento, mas a OMC pode tornar-se grande obstáculo, ao invés de agente promotor de mudança positiva.

Neste sentido há oito áreas críticas no relacionamento OMC-desenvolvimento sustentável.

1. OMC e os acordos ambientais multilaterais (MEAS Multilateral Environmental Agreements ) – os acordos ambientais e sociais não podem ficar subordinados à regulamentação da OMC.

2. Padrões de produção e de consumo sustentáveis e ambientalmente saudáveis – os países membros da OMC deveriam concentrar seus esforços na internalização dos custos ambientais e os países em desenvolvimento deveriam receber ajuda financeira e técnica para melhorar os métodos de produção e processo (PPMs Process and Production Methods). É evidente que os países ricos têm os maiores índices de consumo insustentável e terão que fazer sua parte, para garantir a meta global de desenvolvimento sustentável.

3. Princípio da precaução – o reconhecimento da necessidade para a tomada de atitudes antes que o dano ambiental (quase sempre irreversível) ocorra não poderá ser mal utilizado, como uma barreira comercial não tarifária.

4. Medidas comerciais nacionais - reconhecimento do valor de medidas nacionais relacionadas ao comércio, em condições claramente definidas e diretamente ligadas à questão de equidade e de outras considerações de parte dos países em desenvolvimento.

5. Métodos de Produção e processamento (PPMs) – a OMC deverá reconhecer a adoção de rotulagem em acordos internacionais ou nacionais, com o objetivo de informar o público sobre os perigos ou características dos produtos.

68 YOUNG, C.E.F & LUSTOSA, MARIA C. Competitividade e meio ambiente. A nova relação centro-periferia. in Comércio e meio ambiente. Uma agenda positiva para o desenvolvimento sustentável. p.41-60. Ministério do Meio Ambiente, Brasília. 2002

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 41 de 78 _________________________________________________________________________________________________

6. Consulta, abertura e transparência – a OMC deverá abrir maior espaço para a participação efetiva de organizações da sociedade civil.

7. Política de redução de subsídios – os subsídios a atividades destrutivas colocam as alternativas ambientalmente mais seguras em desvantagem.

8. Moratória na expansão da OMC – enquanto as avaliações e reformas necessárias na OMC não estiverem completas, a organização não deverá se expandir.

Há exemplos de situações reais, para as áreas críticas apontadas. Por isso, é essencial que as questões façam parte das agendas de discussão no nível de políticas governamentais, de organizações com interesse em desenvolvimento sustentável, entidades empresariais e das próprias empresas que atuam em comércio internacional.

As Convenções Internacionais69 são demonstrativos incontestáveis dos compromissos socioambientais assumidos pelos países signatários. Portanto, a interpretação do conteúdo deverá servir de base para a discussão das disputas comerciais no mercado internacional. Algumas, entre as mais importantes, estão relacionadas a seguir.

Aarhus Convention on Access to Information, Public Participation in Decision-making and Access to Justice in Environmental Matters

Agreements on Straddling and Migratory Fish Stocks Basel Basel Convention on the Transboundary Movements of Hazardous Wastes

and their Disposal CBD Convention on Biological Diversity CCD United Nations Convention to Combat Desertification in those Countries

Experiencing Serious Drought and Desertification, Particularly Africa CITES Convention on International Trade in Endangered Species of Wild Fauna and

Flora CMS Convention on the Conservation of Migratory Species of Wild Animals Heritage Convention Concerning the Protection of the World Cultural and Natural

Heritage OSPAR Convention for the Protection of the Marine Environment of the North East

Atlantic (OSPAR) Ozone Vienna Convention for the Protection of the Ozone Layer and Montreal

Protocol on Substances that Deplete the Ozone Layer PICs Prior Informed Consents POPs Persistent Organic Pollutants Ramsar Convention on Wetlands of International Importance specially as Waterfowl

Habitat UNCLOS United Nations Convention on the Law of the Sea UNFCCC United Nations Framework convention on Climate Change

Implantação de PL ou de P+L

Os Centros Nacionais de P+L utilizam manuais e metodologias para o diagnóstico do processo produtivo e implementação de medidas apropriadas e em função dos objetivos a serem alcançados, de acordo com o porte da organização, a natureza e escala do problema e outras condições determinadas pelo desejo, objetivo ou aspiração dos dirigentes.

69 Traduzidas para o idioma português pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente do Governo do Estado de São Paulo, em 1997.

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 42 de 78 _________________________________________________________________________________________________

O capítulo dedicado à Visão, motivações, gestão e planejamento estratégico, da série Gestão com responsabilidade socioambiental oferece a rotina geral para implementação. Outras sugestões são encontradas em textos e nos sites do PNUMA e Greenpeace70.

ii. Ecodesign ou Design para o Ambiente DpA

As expressões são usadas para representar a concepção de projetos de produção de bens, serviços e infra-estrutura com maior eficiência, eficácia e efetividade ambiental, ou com o mínimo de consumo de materiais, de energia e de geração de resíduo, durante todo o ciclo-de-vida do produto.

Outros termos e expressões, correlatos a Design para o Ambiente, encontrados na Internet, incluem: Pollution Prevention by Design (P2D), Environmentally Sound Manufacture, Environmentally Conscious Design and Manufacturing, Green Design, Design for Environmentability.

A palavra design é de uso corrente no jargão de engenharia e de processos técnicos. Na língua portuguesa, o que mais se aproxima é a expressão desenho industrial. Contudo, não foi encontrado substituto que atendesse a extensão pretendida para o vocábulo, em inglês, seja como a arte de compor, construir, desenhar, conceber e projetar, ou como os resultados a ação do design, a saber: plano, planejamento, programa, projeto, proposta, etc.

DpA fica na interseção de duas grandes linhas de força. De um lado, qualidade total, desenvolvimento integrado de produto; do outro, gestão supervisionada (stewardship, housekeeping) do ambiente e prevenção da poluição. Definitivamente, é uma questão a ser tratada sob o foco das estratégias de tecnologias limpas/mais limpas substitutas, para o que já há metodologia de livre acesso71.

A proposta de DpA atende à crescente tendência no uso da ética nas relações entre o sistema produtor de bens e serviços e a sociedade em geral, uma vez que leva em conta questões como:

• segurança e saúde ocupacional • saúde e segurança do consumidor • integridade ecológica e proteção dos recursos • prevenção da poluição e redução do uso de componentes tóxicos • segurança e uso de energia.

Para isso, são utilizadas, entre outras, as ferramentas e estratégias mencionadas a seguir:

• análise de ciclo-de-vida (avaliação de desempenho ambiental e de custos) • devolução garantida (take back e recompra) • eficiência econômica da remanufatura • emissão zero • engenharia reversa, análise de falhas e logística reversa • estimativa de riscos ambientais de componentes individualizados do produto e processo • menor intensidade material por serviço ou função • oportunidade de recuperação e reutilização de materiais • previsão para desmontagem e reciclagem • reutilização de partes na fase pós-consumo de produtos.

70 ver www.teclim.ufba.br/jsfurtado 71 http://www.epa.gov/opptintr/dfe/tools/ctsa/notack.htm Cleaner Technologies Substitutes Assessment. EPA-US

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 43 de 78 _________________________________________________________________________________________________

Estratégias de DpA (ordem prioritária não considerada) • recuperação e reuso de materiais e de componentes • desmontagem: simplificação, facilidade de acesso e simplificação das interfaces dos

componentes • minimização de resíduos: redução na fonte, separabilidade, prevenção da contaminação,

recuperação e reuso de resíduos, incineração • conservação de energia, com redução de energia na produção, no consumo de força e no

uso na distribuição e no uso de formas renováveis de energia • conservação de material: produtos multifuncionais, especificação de materiais recicláveis,

renováveis e remanufaturáveis, com maior longevidade, para recuperação de embalagens, reutilização de containers e desenvolvimento de programas de leasing

• redução de riscos crônicos: reduzir de liberações, evitar substâncias tóxicas/perigosas, evitar substâncias destruidoras da camada de ozônio, uso de tecnologia baseada em água, garantir biodegradabilidade de produtos e o descarte de resíduos

• prevenção de acidentes: evitar materiais cáusticos e ou inflamável, minimizar o potencial de vazamentos, usar fechos para proteção de crianças, desencorajar o mau uso pelo consumidor.

Introdução do DpA na organização • Definição de programa • Tomada de decisões no nível hierárquico mais alto da organização para legitimar o

programa o estabelecer parceria cooperativa com os agentes sócio-econômicos externos, com

os diferentes interesses e participação o ajustar a programação de DpA à estrutura e organização existentes o identificar os diversos grupos envolvidos (engenharia, manufatura, marketing,

gestão de operações financeira, RH, compras, estoques, CQ, etc.) e o proporcionar treinamento, incentivos e atribuição de poderes.

• Implementação de DpA o estabelecer indicadores métricos e instrumentos de medições o acessar a linha de base da qualidade atual de processo e produto existentes o desenvolver alternativas e selecionar modificações em processo e produto,

utilizando metodologias sistêmicas adequadas72 e

o implementar os aperfeiçoamentos de qualidade ambiental desenhados, • Estabelecimento de rotinas para contínuo aperfeiçoamento

iii. Ecoeficiência

O WBCSD – World Business Council for Sustainable Development73 reivindica a criação do conceito de ecoeficiência, em 1992 e patrocinou a elaboração de guia74 para medição do desempenho da organização, segundo o qual

ecoeficiência representa a "entrega de bens e serviços em bases preço-competitivas, de maneira a satisfazer as necessidades humanas, trazer a qualidade de vida e, ao mesmo tempo, reduzir,

72 Ver modelos adotados por diferentes empresas e a discussão, neste texto, da experiência da Philips "Greening your business" 73 Organização Não Governamental - sediada em Genebra - e formada pela coligação (coalition) internacional de empresas de vários países, em grande parte corporações transnacionais. 74 http://www.wbcsd.org//printpdf/measuring.pdf WBCSD. 2000. Measuring eco-efficiency. A guide to reporting company performance. 37 pp.

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 44 de 78 _________________________________________________________________________________________________

progressivamente, os impactos ecológicos e a intensidade de uso de recursos, através do ciclo-de-vida, pelo menos no nível estimado da capacidade de sustentação (carrying) da terra".

Segundo o Guia, a ecoeficiência resulta da equação Valor do produto ou serviço (numerador), dividido pela Influência ambiental (denominador), traduzindo a proposta de fazer ou produzir mais, com menos uso de recursos ambientais a partir de processos economicamente mais eficientes.

Hoje, a sociedade humana vive sob condições de exagero, "bolha" ou de transgressão (overshooting) ecológico, provocado pelo consumo exacerbado de recursos e a geração de resíduos que ultrapassa a capacidade de transformação natural75 . As razões para isso são:

• apesar de medidas ambientais importantes terem sido tomadas, a humanidade, como um todo, não tem conseguido reduzir, nem estabilizar a pressão sobre os recursos (capital) ambientais

• o "bilhão" de habitantes, abençoado pela abundância de riqueza e conforto, não abre mão dos privilégios, para adotar medidas exigidas para a sustentabilidade dos ecossistemas de suporte à vida, enquanto os 5 bilhões restantes carecem de meios para pagar o débito ambiental, tendo que viver, no dia-a-dia, na luta pela sobrevivência

• poucas das instituições que servem o "bilhão de ouro" ao invés de fazerem alguma coisa para mudar a realidade, mantêm a questão difusa e nas mesmas condições e

• a sociedade não percebe os limites ecológicos, per se, através da visão monetária, principalmente pelo fato de que os preços dos recursos naturais caíram, nos últimos anos, enquanto os estoques naturais decresceram, sem reposição.

A definição original é de natureza essencialmente econômica, com justificativas econômico-ecológicas, mas focada em lucratividade, pois, foi relacionada à entrega de bens e serviços preço-competitivos, para atender as necessidades humanas e qualidade de vida, com redução progressiva dos impactos ecológicos e intensidade de recursos, através do ciclo de vida, pelo menos no nível estimado da capacidade de sustentação da terra (WBCSD).

A ecoeficiência é considerada o primeiro passo para em direção à sustentabilidade, em vista das oportunidades para ganhos econômicos e ambientais envolvendo a redução de consumo de materiais e energia. Portanto, corresponde a produzir mais, com menor intensidade de uso de materiais, em concordância com os conceitos de eco-espaço, sustentabilidade, IMPS, Fator 10, entre outros conceitos, abordados em capítulo próprio.

A situação fica ainda mais difícil quando mandatários políticos têm vínculos a grupos econômicos poderosos. É o que acontece, quando o presidente Bush dos EUA reafirma (2002) que as questões ambientais não irão impedir o desenvolvimento econômico do país. Pior, ainda, quando dirigentes industriais e governantes de outras nações, mesmo não afirmando abertamente, praticam a mesma ideologia.

Felizmente, pontos de vista contrários estão ganhando polarização, envolvendo nações economicamente competitivas, o que aumenta a expectativa de que os problemas ambientais do planeta permanecerão na agenda pública do debate. Com isso, cresce a importância dos trabalhos para a busca de uniformização e a construção de arcabouços de indicadores multi-meios e interativos, de bases econômica, social, institucional e ambiental.

A essência da sustentabilidade está em evitar que os recursos naturais sejam transformados em resíduos, antes que a natureza possa transformá-los em novos recursos76.

75 www.rprogress.org Wackernage, M. 2001. Advancing sustainable resource management. Using ecological footprint analysis for problem formulation, policy development, and communication. 76 www.naturalstep.org

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 45 de 78 _________________________________________________________________________________________________

iv. Avaliação de impacto ambiental

A evolução do EIA Estudo de Impacto Ambiental, observada entre 1993-1996, mostrou que esta ferramenta - inexistente até 1960, foi considerada uma das inovações de maior sucesso em política pública, no Século XX77.

O EIA foi adotado na maior parte dos países, como ferramenta para auxiliar a tomada de decisões envolvendo as conseqüências ambientais provocadas pelo homem. No geral, tornou-se atividade regulamentada e mereceu a atenção de organismo multilateral, sob o patrocínio da Divisão de Assentamentos Humanos, da ONU. Daí surgiu convenção internacional aplicável a impactos com implicações ambientais transfronteiriças78.

No Brasil, os procedimentos para avaliação de impacto ambiental79 são representados por EIA Estudos de Impacto Ambiental e RIMA Relatório de Impacto Ambiental80. O conceito de impacto ambiental está definido pela legislação brasileira, aplicável a qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que direta ou indiretamente, afetam: I - a saúde, a segurança e o bem estar da população; II - as atividades sociais e econômicas; III - a biota; IV - as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; e V - a qualidade dos recursos ambientais" (Política Nacional de Meio Ambiente Lei Federal 6.938; Resolução CONAMA 001, de 23.01.1986; CONAMA 237 de 19/12/97)81.

O CONAMA determina que o estudo do impacto ambiental deverá estabelecer "a análise dos impactos ambientais do projeto e de suas alternativas, através de identificação, previsão da magnitude e interpretação da importância dos prováveis impactos relevantes, discriminando: os impactos positivos e negativos (benéficos e adversos), diretos e indiretos, imediatos e a médio e longo prazo; temporários e permanentes; seu grau de reversibilidade; suas propriedades cumulativas e sinérgicas; a distribuição dos ônus e benefícios sociais" (Resolução nr. 001/1986, art. 6º, II).

As diretrizes para realização de EIA e RIMA são importantes ferramentas à disposição das organizações com foco em RSA. Não só por aspectos socioambientais nelas contidos, mas, também, pela íntima correlação a duas outras ferramentas de gestão socioambiental - avaliação de risco e auditoria ambiental:

• a primeira, por que provoca simulações e previsões, para a criação de cenários importantes nos quais a organização poderá inserir suas perspectivas gerais de negócio ou projetos concretos de planejamento estratégico;

• a segunda, pela mobilização interna de seus funcionários, com o objetivo de documentar as condições reais do desempenho socioambiental e identificar como está afetando ou está sendo afetado pelos agentes interessados na cadeia de negócios.

As recomendações e diretrizes para elaborar o estudo de impacto ambiental incluem aspectos de aplicação comum e outros, específicos, relacionados à natureza e características das diversas áreas socioeconômicas e produtivas.

77 http://www.ea.gov.au/assessments/eianet/eastudy/final/summary.html 78 http://www.unece.org/env/eia/eia.htm - CONVENTION ON THE ENVIRONMENTAL IMPACT ASSESSMENT IN A TRANSBOUNDARY CONTEXT 79 http://educar.sc.usp.br/biologia/textos/impacto.htm 80 http://www.bem.com.br/bem/servicos/estudos_ambientais/EIA_Rima.htm - Maria da Graça Krieger et col. 1998. Dicionário de Direito Ambiental. Editora da Universidade do Rio Grande do Sul, 511 pp. 81 http://www.mma.gov.br CONAMA, ementário de resoluções.

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 46 de 78 _________________________________________________________________________________________________

Mundialmente, inclusive no Brasil, há muitas unidades acadêmicas envolvidas com o ensino e empresas que oferecem serviços para a avaliação de impactos ambientais. Nomes, fontes, acesso a bases de dados em linha, conexões, resultados de estudos de impactos realizados, recomendações para projetos e ações alternativas, inclusive artigos especializados estão disponíveis na Internet82.

O ponto de vista do direito ambiental, há íntima relação entre a avaliação de impacto ambiental e os princípios de prevenção e precaução, ambos reconhecidos pela legislação brasileira83.

A visão holística, multifocal ou pluralística é outro aspecto importante da avaliação de impacto socioambiental a ser considerado pelas organizações interessadas em aumentar sua influência.

Para ilustrar a potencialidade da ferramenta, trabalho realizado na área de pesquisa atmosférica cruzou problemas de condições do tempo, clima e espaço, com questões como ensino e capacitação em abordagem qualitativas e quantitativas, modelagem econômica, desenvolvimento e aplicação de métodos estatísticos, modelagem atmosférica, modelagem biofísica da resposta de ecossistemas ao tempo e variação climática, sensoreamento remoto84.

v. Avaliação de risco

O conceito de risco implica em determinar a alta ou baixa possibilidade ou proximidade de perigo por acontecimento eventual ou incerto, que ameaça de dano a pessoa ou a coisa85. Assim, a análise ou avaliação de risco tornou-se ferramenta de gestão ambiental das atividades humanas, especialmente as que expressam os efeitos dos negócios das organizações sobre o homem ou o ambiente.

A avaliação de risco ambiental lida, essencialmente, com impactos, danos ou sobrecarga causados por substâncias ou eventos perigosos e relaciona-se, por isso, a questões de segurança para o homem e o ambiente, em geral. O vocabulário de termos e expressões, no assunto, é vasto86.

Da mesma forma como acontece com a avaliação de impacto, houve considerável expansão - nos países industrializados - de programas acadêmicos e da oferta de serviços e ferramentas para a avaliação de riscos. Por isso, o acesso a bases de dados sobre potencial de risco de produtos e processos está, em grande parte, sujeito ao pagamento de algum tipo de taxa. Mas, é possível obter informações gratuitas, especialmente sobre substâncias químicas, em fontes governamentais, com o uso de ferramentas (buscadores) na Internet.

A tipificação de risco ambiental tem pontos comuns, mas apresenta variações conforme as características dos segmentos produtores de bens e serviços, como biotecnologia (clonagens e alimentos transgênicos), química, mineração, energia (especialmente nuclear, térmica, hidrelétrica), automotiva, agricultura intensiva de monocultivos. Outra variação a ser considerada é se o alvo do provável risco é o homem, ecossistemas naturais, água subterrânea, solo, ar, etc.

82 http://ohioline.osu.edu/cd-fact/0188.html - http://es.epa.gov/oeca/ofa/index.html -http://water.usgs.gov/eap/env_data.html - http://www.art.man.ac.uk/EIA/link.htm - http://www.elsevier.nl/inca/publications/store/5/0/5/7/1/8 83 www.merconet.com.br/direito/3direito3.htm Paulo A. L. Machado. Direito ambiental e princípio da precaução. 84 http://www.esig.ucar.edu/nsf2001/esig.nsf.review.pdf 85 Maria da Graça Krieger et col. 1998. Dicionário de Direito Ambiental, 511 pp. Edit Univ. RGS e Min. Públ. Federal. 86 http://physchem.ox.ac.uk/MSDS/risk_phrases.html

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 47 de 78 _________________________________________________________________________________________________

Fundamentalmente, a avaliação de risco implica em identificar o problema, caracterização do alvo, avaliar as exposições e toxicidade, caracterizar o risco e tomar decisões para a gestão do eventos, com base nas probabilidades de ocorrência.

Por isso, é necessário reconhecer a existência de amplo espectro técnicas específicas e o número de bases de dados contendo resultados das avaliações já feitas. Informações na Internet87 cobrem amplo espectro de uso das técnicas de avaliação, com base a partir de passos básicos88: (i) procurar os riscos, (2) decidir sobre quem ou o que será afetado e como, (3) avaliar os riscos e decidir se as precauções existentes são adequadas ou se algo mais deveria ser feito, (4) registrar os resultados obtidos e (5) rever a avaliação e revisá-la, se necessário.

No Brasil, a análise de risco está incorporada em legislação estadual, exemplificada pelo Estado do Rio Grande do Sul. Em países industrialmente desenvolvidos, há ampla legislação aplicável à avaliação de riscos. A existência de legislação e regulamentação para a avaliação de risco permite estabelecer aspectos comuns a serem considerados na metodologia de análise89 .

O objetivo da avaliação de risco é gerar dados mensurados, resultantes da observação direta ou uso de modelos matemáticos para uma série de situações previstas. Os resultados servem de subsídios para estudos de viabilidade e projetos de remediação ou recuperação ambiental, e são expressados como a probabilidade da ocorrência de efeitos adversos associados a uma atividades particular.

O princípio da precaução, abordado na discussão dos critérios de Produção Limpa, tem íntima relação à avaliação de risco, para substâncias cujos danos resultam em efeitos genéticos, bioacumulação de substâncias perigosas, desorganização do sistema hormonal, especialmente quando os dados científicos não são disponíveis ou inseguros.

Outros temas de grande controvérsia e que tem justificado a ação de organizações ambientalistas contra a indústria e agências regulamentadoras referem-se à necessidade de (i) revisão dos limites de risco, considerados muito altos, diante da atual realidade socioambiental e (ii) da regulamentação do direito público de acesso à informação sobre segurança e uso de processos, bens e serviços.

vi. Auditoria ambiental

As atividades de auditoria estão bastante difundidas, no mercado de produtos e serviços de consultoria, para análise de aspectos de conformidade legal, finanças e economia, contabilidade, responsabilidade civil, gestão administrativa, de fornecedores, responsabilidade ambiental e social, etc. Do ponto de vista ambiental, a auditoria tornou-se objeto de normas específicas, de números ISO 14010 e 14011.

A auditoria interna tem como foco o levantamento de informações, através de pareceres independentes, objetivos, para aprimorar as operações da organização 90, de modo sistematizado, disciplinado, em relação à efetividade da gestão de riscos e dos processos de controle governança.

Do ponto de vista socioambiental, a auditoria verifica objetivos, metas, processos gerenciais e produtivos e resultados; apura o atendimento à legislação; levanta questões relativas à

87 http://www.neram.ca - http://sofia.usgs.gov/projects/eco_risk - http://risk.lsd.ornl.gov/rap_hp.shtml - http://www.hsrd.ornl.gov/ecorisk/tm33r2p.pdf - http://www.prsmcorp.com/links.htm http://contamsites.landcare.cri.nz/risk_assessment_models_reviews.htm - http://www.epa.gov/ceampubl/minteq.htm - http://www.gammassl.co.uk/topics/IAAC.htm 88 www.hse.gov.uk/pubns/raindex.htm Five steps to risk assessment 89 www.hse.gov.uk/pubns/raindex.htm A guide to risk assessment requirements 90 http://www.bus.lsu.edu/academics/cia/definition.htm

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 48 de 78 _________________________________________________________________________________________________

responsabilidade perante os agentes externos (stakeholders) e acionistas (shareholders) e avalia os impactos causados pela organização.

A auditoria social 91 enfoca processos de medição, relatoria e aprimoramento do desempenho social da organização, partindo-se de objetivos sociais estabelecidos, compostos por atividades e metas quantitativas específicas, os grupos-alvo e os resultados, tangíveis e intangíveis alcançados.

O relatório de auditoria deve ser produzido com regularidade, de maneira completa e documentada, abrangendo as medidas de conformidade à legislação e à política estabelecida. Para isso, é necessário que sejam mantidos registros sejam transparentes, confiáveis e acessíveis.

O propósito da auditoria ambiental é gerar subsídios para introdução de mudanças operacionais, a partir do levantamento de (i) aspectos e impactos causados ao ambiente, inclusive dos passivos; (ii) alvos e objetivos de exigências de conformidade ou de gestão responsável; (iii) aspectos críticos para as operações e processos gerenciais e produtivos e (iv) revisão de documentos de apoio para autoridades regulamentadoras, códigos e protocolos, melhores práticas, gestão e outros instrumentos afins.

As críticas mais fortes são de que, ao contrário da auditoria financeira, de caráter obrigatório, anual, certificável, com padrões estabelecidos (embora questionáveis) e com foco na contabilidade financeira - a verificação dos aspectos sociais e ambientais é voluntária, e sem as demais características mencionadas.

O Governo do Estado da Bahia deu um passo na direção da (auto)avaliação obrigatória de gestão e responsabilidade integrada para a conquista de qualidade ambiental, em respeito aos princípios da cidadania e da convivência ambiental e social92. Os destaques a seguir referem-se a questões relacionadas a RSA que atendem - mesmo que de forma inicial - reivindicações internacionais por centros acadêmicos e ONGs.

• A legislação alcança as organizações públicas ou privadas, com ou sem fins lucrativos, utilizadoras de recursos naturais e sujeitas ao licenciamento ambiental, renovável a não mais de cada 5 anos, com ajustes para micro, pequenas, médias e grandes empresas e porte ou significado do impacto.

• O sistema de licenciamento ambiental está articulado a outras exigências, previstas na legislação ambiental federal e estadual, com destaque para EIA, RIMA, definição de política ambiental, implantação de Comissão Técnica de Garantia Ambiental (com responsabilização profissional), auto-avaliação auditável e focada no desenvolvimento sustentável, apresentação de balanço ambiental e previsão de processos criminal por falsidade ideológica.

• A Política Ambiental deve incorporar compromisso de conformidade pela alta administração, melhoria contínua e prevenção, comunicação às partes interessada e estabelecimento de objetivos e metas ambientais.

• O Balanço Ambiental envolve eficiência no uso de recursos naturais (água, energia, outros materiais), controle na fonte e adoção de tecnologias limpas, prevenção/redução de impactos ambientais, reuso e reciclagem de resíduos e programa de educação ambiental.

91 http://www.cbs-network.org.uk/SocAudspreadsheet.html 92 Conselho Estadual de Meio Ambiente. Resolução nr. 2933, de 22 de fevereiro de 2002. Norma Técnica NT-002/02 que dispõem sobre a Gestão Integrada e responsabilidade ambiental.

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As auditorias socioambientais passarão a ter maior importância para as organizações e a sociedade em geral, quando as iniciativas de RSA estiverem alinhadas ao eixo de negócios ou atividades, o conteúdo das informações for de acesso público e os auditores responsabilizados, perante as partes interessadas.

vii. Contabilização ambiental

A contabilização dos custos, provocados por efeitos, danos ou ônus sobre o ambiente, pode ser feita em dois níveis:

• custos das atividades das próprias organizações produtoras de bens e serviços (custos privados; algumas vezes denominados custos internos) que incidem sobre o negócio ou pelos quais o negócio possa ser responsabilizado e

• custos impostos aos consumidores e ao ambiente (custos sociais; também chamados externalidades ou custos externos), para os quais o negócio não pode ser legalmente imputado.

As ferramentas para contabilizar e entender o amplo espectro de custos ambientais, causados pela organização e incorporá-los na decisão de negócios ainda não estão suficientemente desenvolvidas, nem utilizadas. Mas, o leitor interessado pode contar com várias propostas, sugestões e até mesmo manual para lidar com instrumentos para redução de custos através do enfoque ambiental93.

Trata-se, certamente, de um aspecto muito importante a ser consolidado, para revelar custos e ganhos ambientais que, na maior parte, ainda estão inaparentes para as organizações. Estão nestas condições, por exemplo:

• consumo excessivo de matérias primas, água e energia e outros insumos • mau uso do produto pelo consumidor • processos industriais de riscos • passivo ambiental, multas e obrigações para remediação • impactos visuais e sonoros • matérias primas inadequadas • auditoria e avaliação de riscos • controle de acidentes e emergências • seguro ambiental com prêmio de alto risco • perda de subprodutos úteis • sistema inadequado de segurança de processo • gastos com manejo e destinação de resíduos • danos à imagem.

Os comentários a seguir foram baseados em definições e conceitos em contabilização ambiental feitos pela agência ambiental do Governo da Austrália94 e Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos95.

O fato concreto é que as empresas não reconhecem, com freqüência, os custos ambientais na operação de seus negócios e ignoram os benefícios proporcionados pela prevenção ou redução dos impactos causados.

93 http://www.epa.gov/oppt/acctg/indexold.html EPAUS Environmental Accounting Project. 94 www.environment.gov.au/epg/environet/eecp/what_is.htm 95 www.epa.gov.oppintr/acctg/earesources.htm

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 50 de 78 _________________________________________________________________________________________________

Também é certo que os custos ambientais não estão limitados a gastos para a empresa atender a conformidade à legislação, mas se estendem a outros, envolvidos na produção e condução dos negócios.

Geralmente, as organizações reconhecem operações administrativas clássicas e os custos tradicionais Mas, não computam as alternativas em matérias primas, processos, organização do trabalho, novas estratégias de ecomarketing e os 3Rs – Reciclagem, Reuso e Remanufatura.

Em geral, as organizações não explicitam os gastos ambientais que são alocados nos centros de custos denominados over-head, onde ficam invisíveis os escondidos, contingenciais, passivo, menos tangíveis, etc. A publicação da EPA-US, sobre conceitos e termos chaves 96 aborda esta questão com bastante propriedade.

A contabilização ambiental gera inúmeras vantagens:

• melhor estimativa dos verdadeiros custos para produção de bens e serviços, melhorando a formação de preço e da lucratividade

• correta alocação de custos para produto, processo, sistema ou facilidade, com atribuição de responsabilidade gerencial

• definição de alvos para redução de custos e melhoria e reforço dos princípios de qualidade • motivação do quadro para busca de novos meios para redução de custos ambientais • estímulo a mudanças no processo, para redução de resíduos, através de RRR e

identificação de mercado para resíduos • aumento da atenção dos funcionários para saúde e segurança ocupacional e de riscos • aumento das vantagens competitivas para a organização e maior aceitação dos produtos e

serviços pelos consumidores • melhor localização da planta de produção • melhor processo de compra • maior qualidade na gestão de riscos • aprimoramento das estratégias de conformidade ambiental e ações pró-ativas • melhor decisão no investimento de capital • melhor decisão na retenção e na carteira (mix) de produtos.

Alguns benefícios "menos tangíveis" poderão ganhar maior transparência:

• aumento de vendas, pela melhoria da imagem da organização ou dos produtos • melhores condições para empréstimos e financiamentos • maior atratividade para investidores • economia em custos com saúde e segurança • aumento de produtividade e redução de custos internos, pela elevação do moral interno e

satisfação (recrutamento, seleção, retenção, etc.) • maior acolhida por agentes reguladores e maior rapidez em aprovações de planos e

licenciamento • maior e melhor aceitação pela comunidade e demais agentes interessados (stakeholders).

A contabilização dos custos ambientais deve ser feita com a participação dos agentes internos, a partir do uso de instrumentos para aumento da ecoeficiência e com base em treinamento adequado. O engajamento do responsável pela contabilidade e diretor financeiro é fundamental.

Merecem destaque, por exemplo, a criação de operações padronizadas (que ainda não existem ou - se existirem - ainda não estão sendo amplamente difundidas) e a falta de entendimento da importância na contabilidade dos custos ambientais.

96 EPAUS. 1995. An introduction to environmental accounting as a business management tool: key concepts and terms. 39 pp. www.epa.gov/opptintr/acctg/earesources.htm

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 51 de 78 _________________________________________________________________________________________________

A Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPAUS) oferece vários textos sobre a contabilização de custos, no nível da empresa, com destaque, por exemplo, para conceitos e termos chaves (já mencionado anteriormente). O PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio-Ambiente) mantém grupo de especialistas para tratar do tema, com especial atenção para o trabalho a ser desenvolvimento pelo IASC International Accounting Standards Committee.

Tipos de custos ambientais

Custos ambientais privados

• Custos regulamentários representam gastos com atendimento à legislação e regulamentação, isto é, da responsabilidade obrigatória, ou custos para conformidade.

• Custos voluntários traduzem os compromissos resultantes de acordos ou códigos de ética voluntários, ou seja, das ações pró-ativas da organização, além das obrigações legais.

• Custos antecedentes (upfront, no original) envolvem operações e gastos prévios à aquisição ou pré-produção e que afetam a operação de um processo de produção, sistema ou da planta de produção.

• Custos operacionais, que ocorrem durante a execução de processos, produtos, sistemas e sites.

• Custos prospectivos (back-end), que ocorrem após a vida útil de processo e produto, já que podem não estar incluídos no modelo de gestão. Incidirão, por exemplo, na futura desmobilização de laboratórios, fechamento de aterros, desmonte de depósito de resíduos, atendimento a legislações futuras.

• Custos convencionais são os familiares às organizações (capital, trabalho, etc.).

• Custos contigenciais têm caráter probabilístico e poderão ocorrer ou não no futuro, tais como: remediação ambiental, acidentes com poluentes, multas ambientais e conformidade a novas regulamentações. São chamados, às vezes, passivo (liability) ambiental, passivos contingenciais.

• Custos de imagem e relacionamento são, em geral, intangíveis ou "menos tangíveis", como fruto de percepção (nem sempre objetiva, mas mesmo assim, mensurável) dos gerentes, consumidores, empregados, comunidades e agentes reguladores. Envolvem, por exemplo, comunicação ambiental, relatórios, melhoria ambiental, programas de educação ambiental, etc.

Overhead

Termo genérico, sinônimo de custos indiretos ou escondidos, que, obviamente, não podem ser identificados como custos diretos.

viii. Avaliação do Ciclo-de-Vida - ACV

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 52 de 78 _________________________________________________________________________________________________

A definição usual para Life-Cycle Assessment - LCA foi dada pela SETAC (Society of Environmental Toxicology and Chemistry)97, como:

"o processo para avaliar a carga (burden) ambiental associada com o produto, processo ou atividade, através da identificação e quantificação da energia e materiais usados e resíduos para o ambiente; para acessar os impactos da energia e dos materiais usados e liberados no ambiente e para identificar e avaliar as oportunidades para afetar o aprimoramento ambiental".

A ACV surgiu nos anos 70 e ganhou maior impulso na década de 90, com o objetivo garantir a segurança de produtos e processos para o ambiente e saúde humana. As propostas mais avançadas incluem a necessidade da participação social na elaboração da ACV.

Basicamente, o modelo de ACV reflete a política ambiental da empresa. Será limitado, para a indústria que adota o sistema end-of-pipe ou tornar-se mais amplo, nos casos das organizações que adotarem a prevenção de resíduos na fonte e, em especial, as que seguirem os demais princípios da Produção Limpa.

Em qualquer caso, a ACV requer que os produtores de bens e serviços sistematizem o inventário de entradas e saídas na manufatura, avaliem, qualitativa e quantitativamente as entradas e saídas e identifiquem os aspectos mais importantes dos objetivos industriais pretendidos.

Basicamente, a ACV requer levantamentos e análises compreensivas e sistêmicas, conectando atividades ou operações, em três blocos ou etapas:

(i) Inventário de entradas e saídas de energia e matérias primas, abrangendo: extração, aquisição, armazenagem, processo de manufatura, distribuição e transporte, uso, reuso e manutenção, reciclagem, gestão de resíduos e efluentes.

(ii) Análise de impacto capaz traduzir o significado do uso de recursos e das emissões nos conseqüentes efeitos para o ambiente e saúde humana.

(iii) Valoração, traduzindo o significado ou os valores relativos para os diferentes efeitos e as conclusões finais sobre os impactos analisados.

A abordagem é ampla98 e a simplicidade da ACV é apenas aparente. Na prática, os procedimentos são complexos, geram volume considerável de informações e estão sujeitos a críticas e contestações. É difícil estabelecer os limites das atividades e operações. Mais difícil, ainda, é determinar as conexões entre elas. Não há consenso quanto aos indicadores ambientais (eco-indicadores), métodos de análise e de atribuição de valores.

• Os eco-indicadores precisam ser melhorados • O potencial de danos absolutos deverá ser aperfeiçoado, para o planejamento e desenho de

projetos, comunicação e transferência dos resultados • O quadro de referência para o ambiente deverá ser delimitado com maior precisão, para a

formação de juízos de valor e interpretação do sistema de fatores de mensuração • A forma e conteúdo dos dados e os métodos de coleta deverão ser normatizados, para

melhorar a utilização das bases de dados.

97 SETAC - www.setac.org/lca 98 http://www.upc.es/mediambient/cat/it/gestioambiental/cicledevida.html - http://www.mysunrise.ch/users/g.engeli/doka/lca.htm - http://www.setac.org/sept98lca.html - http://www.leidenuniv.nl/interfac/cml/lcanet/hp22.htm - http://www.cfd.rmit.edu.au/dfe/lca1.html

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 53 de 78 _________________________________________________________________________________________________

Apesar das dificuldades, vários programas (softwares) já estão disponíveis, como: SIMAPRO, IDEMAT e PRODUCT IMPROVEMENT SYSTEM, da Holanda; ECOPACK 2000 e EcoPro, da Suíça; EcoSys, EcoManager, Life-Cycle computer Aided Data e REPAQ, dos EUA; EPS System (Suécia), IDEA (Áustria), KCL-ECO (Finlândia), PEMS (Reino Unido); LCA 1 e Product and Process Software, da Bélgica; ETHZ Buildings database e TEMIS, da Alemanha; 2000 Design System, Escandinávia. O uso de softwares requer domínio no entendimento das bases de dados99.

A flexibilidade, transparência, internacionalização das informações - e seu livre acesso - serão fundamentais para o aperfeiçoamento e confiabilidade dos métodos e avaliação das ACVs. Atualmente, indústrias que realizaram a ACV para seus produtos não permitiram divulgá-los. Entretanto, as discussões estão aumentando. A criação das Normas ISO 14040 e ISO 14049100, específicas para a ACV, mostra a importância internacional em padronização de procedimentos e a maior aceitação do instrumento analítico.

A ACV leva em conta questões básicas de desgaste de recursos, saúde humana e conseqüências ecológicas, com o propósito de revelar os indicadores ambientais para tomada de decisões no desenvolvimento de processos e produtos, avaliação de desempenho e comunicação da organização, através de relatórios, selos ou rótulos ambientais.

A ACV pode ser, em muitos casos, bastante complexa, ampla e onerosa. Para situações menos complexas ou para abordagens mais simples, é indicado o uso de ACV Simplificada (Streamlined LCA), envolvendo o enfoque para as questões e assuntos com melhores oportunidades para aperfeiçoamento.

As dificuldades para uso da ACV englobam, por exemplo:

• a falta de padronização e uniformização de métodos • insuficiência de eco-indicadores • o fato de que o uso de diferentes terminologias pode introduzir confusão tecnológica • dependendo do conceito adotado, ACV não leva em conta aspectos não-ambientais da

qualidade e custo do produto • não captura a dinâmica do mercado e da tecnologia • e os resultados podem ser inadequados para rotulagem ambiental.

Os procedimentos para execução da ACV incluem:

• fluxograma contendo todos os procedimentos do processo/produto, todos os materiais usados e quantificados

• aspectos de manufatura, transporte, uso e resíduos gerados • cálculo de todos os impactos ambientais (geralmente com o uso de software), para cada

estágio do ciclo-de-vida • listagem de todas as emissões para água, ar, resíduos sólidos e uso de matérias primas e as

respectivas contribuições para problemas ambientais

Definições

Vários termos e expressões são usados em relação ao ciclo-de-vida ou como sinônimos deste. Os tópicos a seguir foram extraídos da publicação da EPA-US, mencionada no capítulo que trata da Contabilização ambiental. O texto original fornece a fonte (origem) das terminologias citadas.

99 http://www.leidenuniv.nl/interfac/cml/lcanet/ftheme4.htm 100 http://www.iere.org/slides/LCA-Overview/index.htm - http://www.normas.com/ASTM/BOOKS/ISO14040.html

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 54 de 78 _________________________________________________________________________________________________

Design do ciclo-de-vida (Life-cycle design) - design de sistema de produto (do berço à cova), de caráter ambiental e economicamente mais sustentáveis, integrando exigências ambientais nas fases iniciais do design e com balanceamento dos aspectos ambientais, desempenho, custo, cultura e legislação.

Avaliação do ciclo-de-vida (Life-cycle assessment) - abordagem holística para identificar as conseqüências ambientais e um produto, processo ou atividade, durante todo o ciclo-de-vida e para identificar as oportunidades para aprimoramento ambiental. A EPA-US identificou quatro etapas (aquisição de materiais, manufatura, uso/reuso/manutenção no consumo, e gestão da reciclagem/resíduo). A preocupação maior está nos impactos ambientais, mas não nos custos, nem nos lucros.

Análise do ciclo-de-vida (Life-cycle analysis) - usado como sinônimo de Avaliação do Ciclo-de-Vida.

Avaliação de custo do ciclo-de-vida (Life-cycle cost assessment) - aborda as questões de custos na Avaliação do Ciclo-de-Vida. É definido como processo sistemático de avaliação dos custos, no ciclo-de-vida de um produto, linha de produto, processo, sistema ou site. Requer a identificação das conseqüências ambientais e a alocação de medições monetárias para as conseqüências. O objetivo é avaliar as opções para redução total dos custos no ciclo-de-vida e uso otimizado de recursos.

Contabilização do ciclo-de-vida (Life-cycle accounting) - descreve a designação e análise de custos produto-específicos no arcabouço total do ciclo-de-vida, incluindo os diversos tipos de custos (convencionais, inaparentes, menos tangíveis, regulamentários, etc.).

Custo do ciclo-de-vida (Life-cycle cost)- soma total de custos diretos, indiretos, recorrentes, não recorrentes e outros correlatos, incidentes ou estimados como incidentes, no design, desenvolvimento, produção, operação, manutenção e suporte do sistema principal, durante todo o ciclo de vida útil antecipado. [O governo dos EUA institucionalizou, em 1993, o Life-cycle cost como o custo anual amortizado de um produto, incluindo custos de capital, instalações, operações, manutenção e descarte, deduzidos durante a vida útil do produto].

A falta de uniformidade no uso do termo causa confusões, principalmente quando o uso mistura - sob a mesma denominação - custos privados e sociais. Do ponto de vista da contabilização ambiental, a distinção é relevante, tanto para a organização apurar os valores, corretamente, como para a sociedade, para identificar a origem e o valor dos efeitos sobre a saúde e o ambiente.

ix. Sistemas de Gestão Ambiental - SGA

Com o propósito de proteger o ambiente, as organizações passaram a dotar sistemas administrativos estruturados, envolvendo todas as atividades da organização, as práticas em uso e os recursos disponíveis e utilizados. Com isso, foi possível identificar e gerenciar os efeitos - positivos e negativos resultantes das relações entre as atividades produtivas e o ambiente.

Portanto, o SGA é um sistema eminentemente administrativo que deve ser flexível e adaptável a qualquer tipo e tamanho de organização, setor ou atividade101 que:

• pode ser aplicado a uma planta (site), uma divisão que opera várias unidades, ou a toda a organização

• requer compromissos da direção mais alta, com implicações gerenciais, financeiras e legais • envolve as demais partes interessadas nos objetivos e alvos da organização e

101 http://www.bsdglobal.com/tools/systems_ems.asp

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 55 de 78 _________________________________________________________________________________________________

• exige o compromisso de aprimoramento contínuo em relação as questões ambientais (inclusive as sociais).

Consequentemente, a implementação de SGA implica em:

• definição de política ambiental (e social) clara, com objetivos e metas qualificados e quantificados, de amplo conhecimento aos funcionários e demais partes interessadas

• planejamento e monitoramento, a partir de plano de trabalho envolvendo todas as operações, com identificação de executores, indicadores de resultados, unidades e métodos de aferição, avaliação de desempenho, documentação e comunicação a todas as partes interessadas

• sistemas de revisão, auditagem, reorientação e reconhecimento por comitê.

A existência do SGA pode ou não ser objeto de certificação. Entretanto, a existência de normas, padrões e procedimentos, reconhecidos internacionalmente contribui, substancialmente, para a expansão de SGAs padronizados, como representados por ISO 14001, EMAS, BS 7750 e Canadian Standards Association. Exemplos de relatórios de implantação de SGA certificado pela ISO 14001, de empresas importantes, são acessíveis através da Internet102.

A criação do SGA implica, especialmente quando objeto de certificação, na identificação das cargas poluentes, nos impactos e danos causados ao homem e ambiente em geral, na identificação e atribuição de responsabilidades, na avaliação periódica dos resultados e no compromisso de melhora progressiva do padrão de responsabilidade ambiental.

Para isso, é preciso que, além da identificação dos efeitos ambientais, a direção da organização estabeleça alvos qualificados e quantificados para reduzir impactos e efeitos, defina o plano para alcançar os resultados e o divulgue ampla e sistematicamente.

Por essas e outras razões, o SGA é algo muito mais amplo do que o Sistema de Qualidade. Enquanto o último opera no limite dos produtos, o SGA envolve interações com o mercado, abrangendo todas as partes interessadas.

Muitas organizações perceberam esta situação e passaram a adotar sistemas de TQEM Total Quality Environmental Management, que combinam elementos de qualidade e ambiente. Este tema é tratado no tópico Certificação e reconhecimento.

x. Padrões internacionais

As normas e padrões são documentos elaborados e aprovados por comitês devidamente credenciados, que acabam sendo reconhecidos e usados, de modo obrigatório ou voluntário, a partir da padronização de conceitos, princípios, regras, procedimentos e outros detalhes metodológicos.

Documentos deste tipo existem para incontável número de produtos e serviços, aplicáveis a praticamente todos os ramos produtivos de bens e serviços. Muitos são frutos de iniciativa de organismos nacionais, mas que acabam sendo reconhecidos e adotados em outros países, com valor de mercado. Outros, elaborados por organizações pára-governamentais internacionais, que acabam sendo oficializados por governos nacionais.

Independente da existência de processo de certificação ou reconhecimento por corpo técnico credenciado, as normas e padrões com reconhecimento internacional são fontes importante de informações sobre elementos ou indicadores socioambientais que podem ser usados como referência para as organizações. Alguns tipos são citados em seguida.

102 http://www.dep.state.pa.us/dep/deputate/pollprev/Iso14001/iso14000.htm

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 56 de 78 _________________________________________________________________________________________________

• Normas e padrões governamentais, como os estabelecidos pela Agência de Proteção Ambiental dos EUA103 e as diretivas ambientais da União Européia 104, o National Center for Standards and Certification Information dos EUA 105 e ações semelhantes em outros países industrialmente desenvolvidos ou organismos regionais106 .

• Acordos voluntários107, como a Atuação Responsável dos fabricantes de produtos químicos do Canadá e EUA; certificação florestal na cadeia de custódia108 e representação no Brasil109; agricultura orgânica110 e rotulagem ambiental (tema abordado em tópico específico).

• Normas criadas por organismos pára-governamentais, como: European Community's Eco-Management and Audit Scheme (EMAS) e British Standard 7750 (BS7750) 111 e, em especial, a ISO International Standard Organization112, que se convertem em normas oficializadas por governos nacionais, certificadas ou não. No Brasil, as normas internacionais são oficializadas como NBRs, através da ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas.

• Acordos, protocolos e convenções: vinculantes e não vinculantes, tais como:

ONU113 - Mudança do clima (Kioto), Biodiversidade, Comércio internacional das espécies da fauna e flora selvagens em perigo de extinção, Zonas úmidas de importância internacional, especialmente como hábitat de aves aquáticas (RAMSAR), Proteção da camada de ozônio (Viena) e substâncias que destróem a camada de ozônio (Montreal), Movimento transfronteiriço de resíduos perigosos e seu depósito, Combate à desertificação, Direito da Criança.

FISQ - Gestão Segura de Substâncias Químicas114

• Legislação internacional115 e referências internacionais de práticas e procedimentos em toxicologia e avaliação de risco116; P2 - Prevenção à poluição117; Segurança Alimentar e

103 http://www.epa.gov/opptintr/epp/standardspage.htm 104 http://www.europa.eu.int/pol/env/index_en.htm 105 http://ts.nist.gov/ts/htdocs/210/216/216.htm 106 http://www.aprcp.org/sponsors/sponsorswhole.htm The United States-Asia Environmental Partnership (US-AEP) 107 Ver capítulo específico sobre Códigos de conduta 108 http://www.smartwood.org/guidelines/index.html - http://www.fscoax.org Forest Stewardship Council FSC - 109 http://www.imaflora.org IMAFLORA Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola. 110 http://www.aao.org.br/cert.htm Associação de Agricultura Orgânica. 111 http://www.quality.co.uk/emas.htm 112 http://www.iso.org/iso/en/iso9000-14000/iso14000/iso14000index.html 113 Publicações da Secretaria do Meio Ambiente do Governo do Estado de S. Paulo, 1997. - http://www.unicef.org/crc - http://sedac.ciesin.org/entri/summaries-menu.html - http://www.jncc.gov.uk/international/default.htm - 114 http://www.who.int/ifcs/index.html 115 115 http://www.wcl.american.edu/environment/iel/nine.cfm 116 http://www.envstd.com/risk.htm 117 http://www.epa.gov/p2 - http://www.enviroyellowpages.com/pollutionprevention/pollutionprevention3.htm - http://www.p2gems.org - http://www.p2.org

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 57 de 78 _________________________________________________________________________________________________

Qualidade da Água; Segurança e rotulagem de produtos químicos118; Padrões industriais para diversos segmentos industriais: automobilística, têxtil, eletrônica, etc.119.

xi. Certificação e reconhecimento (accreditation)

Através da certificação, as pessoas ou as organizações são reconhecidas como capazes de dominar determinadas habilidades ou de cumprir exigências estabelecidas em normas ou padrões. A certificação de nível para temas socioambiental confere credibilidade nacional ou, desde que o país disponha de infra-estrutura para conformidade, avaliação e reconhecimento.

O fator chave para certificação e reconhecimento está na capacidade da organização incluir os elementos socioambientais e colocar em funcionamento o TQEM Total Quality Environmental Management.

A criação desta ferramenta é atribuída à GEMI Global Environmental Management Initiative120, que se fundamenta em quatro princípios básicos121:

• determinação da qualidade ambiental pela preferência do cliente • aprimoramento contínuo do desempenho ambiental • eliminação de riscos ambientais, logo na primeira vez • abordagem sistêmica.

Como filosofia122 a TQEM tem caráter preventivo em relação aos problemas ambientais que afetam ou são afetados pela produção de bens e serviços, essencialmente em questões como: resíduos sólidos e líquidos, auditorias regulamentadas, monitoramento de resultados, inspeções, ocorrências ambientais e de segurança, uso de energia, etc.

O conceito de TQEM expande a filosofia de TQM Total Quality Management, quando ultrapassa as expectativas do cliente ou consumidor, como ente, e passa a considerar os interesses da sociedade como um todo123. Por isso, a organização que dispõe de sistemas operacionais certificados pela ISO 14001 e ISO 9000124 passarão a dispor de recursos interativos que permitem otimizar o uso de ambas no processo produtivo de bens e serviços125.

A certificação concedida para normas internacionais amplia a credibilidade internacional da organização e estimula, daí, o maior interesse de parte de empresas que operam no mercado global.

Fundamentalmente, a certificação para o SGA requer e tipifica o estabelecimento de procedimentos básicos representados por:

• Política ambiental • Documentação de responsabilidades e controles • Treinamento • Procedimentos do sistema de gestão • Monitoramento, medição e controle • Procedimentos para não-confomidades • Ações corretivas e preventivas

118 http://www.osha.gov/index.html - http://www.cdc.gov/niosh/ipcs/ipcscard.html 119 http://www.ansi.org 120 http://www.gemi.org 121 http://www.bsdglobal.com/tools/systems_tqem.asp 122 http://www.p2pays.org/ref/01/text/0000804.htm 123 http://www.helsdale.demon.co.uk/tqem.htm 124 http://www.can.com.br/iso14000.htm 125 http://www.can.com.br/iso14000.htm

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 58 de 78 _________________________________________________________________________________________________

• Realização de auditorias ambientais • Revisão gerencial

A homologação da ISO 14001 resultou em substancial interesse, de parte das empresas, órgãos públicos, escolas, entidades de representação de indústrias, etc., para obtenção do certificado, em todas as partes do mundo, na criação de cursos para capacitação técnica, formação de auditores e apoio institucional, como, por exemplo, a Secretaria de Gestão do Meio Ambiente para América Latina e Caribe 126.

O aumento do interesse pela certificação para a ISO 14001 no Brasil é atribuído a motivos promocionais, que ultrapassam a preocupação ambiental 127. Daí, as críticas de que o SGA certificado não significa padrão de desempenho socioambiental elevado. Por isso, a implantação do sistema não é garantia de melhorias contínuas, a menos que a organização adote ferramentas de gestão ambiental responsável do processo produtivo, que os certificadores fiscalizem o desempenho e que existam mecanismos punitivos aos infratores ou os que não cumprirem os preceitos da norma.

Há exemplos reais de que a certificação obtida não garante que a empresa deixe de causar problemas ambientais. Portanto, a certificação não liberta a empresa de ações civis nos países de origem ou em subsidiárias nas diversas partes do mundo. No Brasil, a Promotoria Pública tem iniciado ações públicas para empresas certificadas e que utilizam, no discurso, expressões como Produção Limpa, Ecoeficiência, responsabilidade social corporativa e outras afins ao desenvolvimento sustentável.

xii. Rotulagem ambiental

Trata-se de sistema de avaliação de processo e de produtos, com ou sem concessão de selo ou rótulo para identificar benefícios ambientais (desempenho, características, etc.), per se ou comparativamente a processos e produtos similares ou alternativos. São iniciativas nacionais, em geral com a participação de órgãos governamentais, que estabelecem exigências tecnológicas e ambientais, combinadas.

O interesse pela rotulagem tem aumentado, sob as críticas de que o sistema poderá ser usado como barreira comercial não-tarifária para produtos de países não desenvolvidos ou de nações com menor rigor ambiental.

Como os critérios para concessão variam, a aceitação do sistema é discutível. Atualmente, os selos ambientais são concedidos por organizações privadas, governamentais e quási-governamentais.

Sob a liderança da organização norte-americana Green Seal, várias organizações nacionais criaram a rede mundial de rotulagem ambiental - GEN Global Ecollabeling Network128, com base em sete princípios:

1. ausência de fins lucrativos 2. independência e inexistência de interesses comerciais 3. inexistência de conflito de interesses com as fontes de sustentação financeira 4. orientação e manutenção de consulta aos agentes econômicos 5. utilização de logomarca sob proteção legal

126 http://www.ems-sema.org/portugues/sema/sema.htm 127 http://www.quimica.com.br/revista/qd388/iso14000_1.htm patrocinada pelo International Development Research Centre do Governo do Canadá. 128 GEN Global Ecolabelling Network http://www.gen.gr.jp

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 59 de 78 _________________________________________________________________________________________________

6. instituição de critérios restritivos para concessão de selos, com base na visão global da vida do produto

7. revisão periódica e atualização de critérios ambientais, levando em conta o desenvolvimento tecnológico e do mercado.

Há diferentes tipos de atividades que podem ser consideradas como rotulagem ambiental129, alguns dos quais atendidos pelas Normas ISO 14020 e 14029.

Selo de aprovação ou Selo ISO Tipo I - representado pelo modelo alemão (Blue Angels) e Green Seal, bem como inúmeros similares, implantados em outros países contém conjunto complexo de eco-indicadores que, dificilmente, poderão ser atendidos por empresas de vários países.

Trata-se de modelo voluntário, baseado em critérios múltiplos e em conceito estabelecido por certificadores independentes. Visa indicar a preferência geral de um produto, para o mercado consumidor, dentro de uma categoria de produtos e que leva em conta o ciclo de vida do produto, embora não faça uso da ACV Avaliação do Ciclo-de-Vida. Destina-se a 15-30% dos melhores produtos e pode ser certificável por corpo de gerenciamento do sistema de rotulagem.

Auto-declaração de reivindicações ambientais, ou Selo ISO Tipo II - para fabricantes, importadores, distribuidores, associações de indústrias a fim de beneficiar os próprios interessados, com foco no mercado consumidor.

Este tipo de rotulagem é feito pelo próprio interessado, com base em aspectos individualizados e geralmente não certificável. Não há critérios ambientais e de funcionamento para os produtos, pré-estabelecidos e é destinado a número indeterminado de produtos. Não há uso de ACV, não é certificável.

Estão incluídos, no ISO Tipo II os produtos recicláveis, que contêm material reciclado e energia-eficientes e desenhados para desmontagem ou biodegradabilidade.

Programas de certificação para atributo simples, ou Selo ISO Tipo III, para produtos que atendam definição específica, que deve ser verificada por certificador independente ou sob a forma de declaração ambiental, pelo próprio interessado.

Os rótulos contêm informação quantificada, sem o uso de critérios ou baseada em conjunto de indicadores pré-estabelecidos e que, em geral, derivam de estudos de Avaliação de Ciclo-de-Vida, segundo o critério "do-berço-à-cova". Este modelo é aplicável a grupo não selecionado de produtos e parece ter maior preferência de parte da indústria, podendo ser certificável ou não, sob o controle de corpo de reconhecimento.

Ficha de relatório ambiental, contendo informações detalhadas sobre o processo de produção e produto. É mais complexa que o Selo de Aprovação e poderá ser de difícil entendimento pelo consumidor.

Esquemas de certificação setorial, adotados por indústrias a fim de classificar produtos com vantagens ambientais competitivas.

Abertura de informações, que obriga revelar informações sobre impactos ambientais.

129 http://es.epa.gov/ncer/progress/grants/98/deci/teisl99.html - http://www.isegnet.com.br/papers/rotulagem_ambiental.htm - http://www.psb.gov.sg/statistics_faq/faq/standards_quality.html

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 60 de 78 _________________________________________________________________________________________________

Alerta de perigo, que estabelece obrigatoriedade de exigências para fornecimento de informações sobre riscos dos produtos.

Diretrizes para ecomarketing, estabelecendo as regras para diferenciar alegações ambientais inexistentes ou indevidas nas campanhas mercadológicas.

A rotulagem ambiental está sendo estimulada, no Brasil, como atitude voluntária, porém, com o apoio institucional do Ministério do Meio Ambiente. O Brasil é membro do GEN Global Ecollabeling Network, através da ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas. Entretanto, análises da rotulagem ambiental, do ponto de vista do comércio internacional, destacam o malefício para as vantagens comparativas dos produtos fabricados no Brasil, apesar destes serem considerados, em geral, de alto conteúdo poluidor130.

Inúmeras fontes de informações, na Internet, abordam a questão da rotulagem ambiental:

http://www.europa.eu.int/comm/environment/ecolabel The European Union Eco-Label Scheme http://www.cepaa.org/sa8000_review.htm SA8000 http://fscus.org/html/index.html Forest Stewardship Council (FSC) http://www.pefc.org/content.htm Pan-European Forest Certification (PEFC) http://www.purefood.org/organlink.htm e http://www.ams.usda.gov/nop Organic Food Standards http://www.oft.gov.uk/default.htm Fair Trade Standards http://www.ifat.org International Federation of Alternative Trade (IFTA) http://www.shared-interest.com/cust/news.htm Network of European World Shops http://fairtrade.net Fairtrade Labelling Organizations International (FLO) http://www.gn.apc.org/fairtrade The Fairtrade Mark http://www.transfair.org Tansfair International

130 Antônio S. Braga & Luiz C. de Miranda. 2002. Comércio e meio ambiente: uma agenda positiva. Brasília, MMA/SDS, 310 pp.

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 61 de 78 _________________________________________________________________________________________________

xiii. Indicadores socioambientais

Os indicadores constituem ferramentas indispensáveis para qualquer ação socioambiental responsável. Por isso, foram abordados em capítulo específico e mencionados em diferentes blocos da série Gestão com responsabilidade socioambiental.

xiv. Relatório de desempenho socioambiental

Neste texto a expressão Comunicação Socioambiental CSA é usada no lugar de Comunicação Social, para representar a ferramenta de gestão para transmissão de mensagens e informações que as organizações públicas e privadas usam para divulgar o desempenho da RSA perante as partes que afetam ou são afetadas pelas atividades, produtos e serviços.

Basicamente, há dois tipos de relatórios:

• Relatório de Desempenho Ambiental (com ou sem dados financeiros), contendo aspectos e questões relacionados à ecoeficiência da organização, nos âmbitos locais ou nacionais e

• Relatório de Sustentabilidade que - além das questões acima - incorpora temas globais.

O conteúdo do Relatório de desempenho socioambiental deve dar transparência à organização. para divulgar valores, princípios, procedimentos, condutas, processos, problemas, tendências correntes e progressos no desempenho socioambiental praticado.

A produção de relatórios de sustentabilidade teve início marcante, a partir de 1992 e deverá ganhar maior proeminência a partir de 2002. Em 1994 o PNUMA Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente elaborou modelo de relatório ambiental para empresas, com recomendação de tópicos apropriados ao porte das firmas131.

Há 10 anos, pouco mais de 100 empresas, no geral grandes corporações, produziam relatórios ambientais com pouco uso para avaliação da sustentabilidade. Em 2000, cerca de 260 corporações produziam relatórios. Em 2002, cerca de 2000 empresas disponibilizam informações de natureza social e ambiental através da Internet. Isto por que os recursos da computação permitiram produzir relatórios mais flexíveis, elaborados e detalhados132.

Alguns marcos de referência são especialmente importantes133. Em 1999, a ONG CERES134 estimulou a criação do conjunto de diretrizes para produção de relatório, denominado de GRI Global Reporting Initiative, lançado em 2000 e se tornou uma ONG independente, sob os auspícios do PNUMA em 2002135.

Apesar dos progressos e das opções de modelos para produção de relatórios, são poucas as organizações produtivas de bens e serviços que divulgam as questões sociais e ambientais. Quando o fazem, os temas sociais são tratados separadamente dos ambientais. Se abordados em conjunto, há notável desequilíbrio da abordagem, com vantagens para o ambiental.

131 UNEP United Nations Environmental Programme. 1994. Company environmental reporting. A measure of the progress of business & industry towards sustainable development. Technical Report nr. 24, 118 pp. 132 http://www.tomorrow-web.com/jburg/jburg1.html Hohannesburg Summit. Green bean counting. Nov/Dec 2001. 133 http://www.tomorrow-web.com/jburg/jburg1.html April Streeter. Nov/Dec 2001.Green bean counting. 134 http://www.ceres.org Coalition for Environmentally Responsible Economies 135 http://www.globalreporting.org Global Reporting Initiative

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 62 de 78 _________________________________________________________________________________________________

Espera-se que a resistência das organizações em produzir e disseminar o desempenho dos resultados socioambientais diminua e que sejam incorporados os padrões de excelência e mudanças no processo produtivo e na comunicação, como tem sido recomendado por líderes de empresas diferenciadas, ONGs, órgãos de governo, agências multi-governamentais e formadores de opinião.

Em muitos casos, as empresas produzem relatórios de desempenho social e ambiental contendo elementos para inovação e melhoria da produtividade e qualidade, embora a abrangência e conteúdo não atendam os critérios da RSA, na forma como são considerados neste texto. Por outro lado, nota-se que as organizações - mesmo as que revelam comportamento socioambiental diferenciado - não dispõem de sistemas montados e em funcionamento para registrar e comunicar e demonstrar, publicamente, o padrão de RSA por elas praticado.

A expectativa é de que, em futuro breve, a CSA se torne o instrumento de escolha para demonstrar, publicamente, o esforço despendido e o desempenho alcançado pela organização, a fim de a contribuir para:

• coesão e inserção dos trabalhadores, vizinhança, comunidade em geral e demais partes interessadas (stakeholders) no progresso social

• e proteção para a saúde humana e sustentabilidade do planeta.

Alvo da CSA

O levantamento feito em 1994 pelo PNUMA mostrou a predominância de material impresso, variando de folhetos ou notícias verdes, até relatório anual, integrado ao sistema de manejo ambiental. Na ocasião, o número de relatórios disponíveis através da Internet era pequeno.

O uso de multimeios e de interatividade ampliou a capacidade de conexão com outras informações nas bases de dados das organizações, disponíveis em um único site, em várias localidades ou em participantes da cadeia de negócios. A acessibilidade e conectividade das organizações com as partes interessadas abrem grandes oportunidades para realimentação, compartilhamento de informações e formação de alianças estratégicas.

A identificação do alvo das informações de RSA deve levar em conta o setor no qual a organização atua, a natureza das atividades ou negócios e as partes interessadas.

Genericamente, a CSA deve considerar grandes blocos de informações.

1. Dados e informações gerados que revelem as ferramentas de gestão socioambiental usadas na organização - tais como Indicadores Socioambientais, Avaliação do Ciclo-de-Vida, Ecodesign, Sistema de Gestão (Sócio) Ambiental, Ecoeficiência, gestão do processo de produção de bens e serviços (Produção Limpa/Mais Limpa), Contabilização Ambiental, Avaliação de Impactos, etc.

2. Resultados das medições capazes de demonstrar o aprimoramento proposto e o efetivamente alcançado pela organização, quanto:

• ao consumo ou uso de recursos, emissão de resíduos e custos operacionais • apoio à comunidade • confiança do consumidor • relacionamento com os agentes reguladores • atratividade para investimentos • vantagens competitivas • exposição socioambiental local, nacional e global e • vantagens na cadeia de negócios.

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 63 de 78 _________________________________________________________________________________________________

3. Vantagens competitivas alcançadas, através de:

• demonstração, com maior transparência, da responsabilidade pública em relação à sociedade humana, ao ambiente e à sustentabilidade dos recursos naturais, especialmente das fontes de matérias primas, energia e água e

• obtenção de importantes resultados perante os empregados, acionistas, bancos, investidores, organizações governamentais e não-governamentais, fornecedores, distribuidores, comunidades locais e - acima de tudo - consumidores.

A definição do alvo da CSA está intimamente relacionada ao tipo de comportamento e cultura da organização. Para simplificação, são consideradas três grandes categorias de comportamento, cada uma caracterizada por padrões de conduta, alvo ou foco de atenção pela organização136.

• Organização reativa - o foco está limitado à regulamentação socioambiental e a comunicação é direcionada para as agências regulamentadoras. As ONGs são vistas como inimigas.

• Organização em transição - o mercado representa o paradigma. O alvo da CSA é o mercado "verde".

• Organização pró-ativa - o foco de interesse é mais amplo e diversificado e implica em maior diversificação de interlocutores.

Para o último modelo, o conteúdo do relatório de comunicação socioambiental passa a ser peça de maior importância para o estabelecer o envolvimento e diálogo com os diversos tipos de partes interessadas.

Mercadoambiental

Pressão parasustentabili-dade

Regulamenta-ção ambiental

REATIVOS• Defesa de interesses próprios• Diálogo restrito com agências• Pressões externas como negativas

para tecnologia• ONGs vistas como inimigas

REATIVOS• Defesa de interesses próprios• Diálogo restrito com agências• Pressões externas como negativas

para tecnologia• ONGs vistas como inimigas• EM TRANSIÇÃO• Redefinição de interesses• Levantamento de informações

ambientais• Diálogo com grupos de poder

econômico• Melhores práticas e manuais de

procedimentos• Participação em grupos

• EM TRANSIÇÃO• Redefinição de interesses• Levantamento de informações

ambientais• Diálogo com grupos de poder

econômico• Melhores práticas e manuais de

procedimentos• Participação em grupos• PRÓ-ATIVOS• Antecipação de riscos• Diálogo com todos os agentes• Pressões externas como estímulos

de benchmarking eresponsabilidade

• Formação de liderança

• PRÓ-ATIVOS• Antecipação de riscos• Diálogo com todos os agentes• Pressões externas como estímulos

de benchmarking eresponsabilidade

• Formação de liderança

ONGs

Rede denegócios“verdes”

Consórcio paradesenvolvimentosustentável

Modelos de relatórios

Várias fontes oferecem sugestões e recomendações para definição do modelo de relatório. Algumas são mencionadas a seguir.

www.globalreporting.org Global Reporting Initiative 136 UNEP. 1994. Company Envirronmental Reporting. Technical Report Nr. 24.118 pp.

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 64 de 78 _________________________________________________________________________________________________

www.innovestgroup.com Innovest Strategic Value Advisors - www.greenmeasures.com.au Green Measures -_ www.ciesin.columbia.edu/indicators/ESI Global Leaders of Tomorrow - www.acca.org.uk Social & Enviromental Reporting and Accounting - www.epa.gov/opptintr/acctg/earesources EPA Environmental Accounting Resources - www.environment.gov.au/epg/environet Public Environment Reporting - http://www.fee.be/publications/fullpublications/2000b.pdf European Federation of Accountants

A grande divergência entre as organizações empresariais e ONGs sociais está no modelo voluntário de produção de relatório, defendido pelas primeiras e questionado pelas segundas. Para estas, os modelos adotados e não garantem transparência, acurácia, materialidade, verificabilidade e outros elementos intimamente relacionados à confiabilidade (accountability) dos dados. Os modelos públicos, contendo dados obrigatórios por lei estão representados, entre outros, por137:

• Dinamarca: Green Account, estabelecido em 1996, para empresas que podem causar grande impacto ambiental

• Holanda: iniciado em 1999 • Noruega: Accounting Act, criado em 1999, que obriga a inclusão de informações

ambientais nos relatórios financeiros anuais e requer melhorias contínuas nas causas e efeitos ambientais

• Suécia: a partir de 1999, com as mesmas características do modelo norueguês • EUA: TRI Toxic Release Inventory, para empresas com mais de 10 empregados e que

produzem emissões de substâncias tóxicas específicas; exigência de dados ambientais em formulário específico (K-10) requerido pela Securities and Exchange Commission

• Canadá: exigência de relatório ambiental por companhia pública, pela Securities Commission

• Comunidade Econômica Européia: EPER European Pollutant Emission Register para empresas no âmbito da Diretiva IPPC Integrated Pollution Prevention and Control.

• A avaliação dos modelos obrigatórios da Dinamarca, Holanda, Noruega e Suécia138 concluiu pela recomendação do modelo voluntário, por que:

• não é fácil avaliar a eficiência e eficácia dos esquemas obrigatórios, como forma de modificar o comportamento ambiental das corporações ou de aperfeiçoar o acesso público às informações

• melhor do que a regulamentação direta, talvez fosse preferível criar mecanismos indiretos e medidas estimuladoras, especialmente através de exigências obrigatórias através de investimentos por fundos de pensão, ou pela estimulação do uso de esquemas voluntários como o proposto pelo GRI Global Reporting Initiative.

As ONGs sociais reclamam a necessidade de modelos regulamentados139, que atendam o princípio do direito público de acesso à informação sobre segurança e risco de processos e produtos (Right to Know). Este estatuto ainda não é reconhecido pelas autoridades governamentais brasileiras, mas é praticado pela Promotoria Pública para o Meio Ambiente. O conceito está incluído em leis brasileiras140 .

137 http://www.wimm.nl/publicaties/kpmg1999.pdf KPMG International survey of environmental reporting 1999. 32 pp. 138 http://www.enviroreporting.com - Tareq Emtairah. Study of mandatory CER systems in Europe. 139 httP://www.euractiv.com - 19/04/02 NGOs call for stricter corporate accountability. 140 http://www.estadao.com.br/ext/ciencia/zonasderisco/liana.htm - Liana John. 20-05-2002. Empresas e Governo ainda não se sentem no dever de informar.

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 65 de 78 _________________________________________________________________________________________________

A questão central está na credibilidade dos relatórios voluntários e nas contradições, na mesma corporação, quando é premiada em um país141 e submetida críticas públicas e ameaça de processo civil por danos ambientais e sociais em outras nações142. Entre as próprias empresas privadas, há afirmações como a de que "Muitas pessoas fazem reivindicações éticas que não resistem à inspeção mais próxima"143 .

Para esses casos, a auditoria externa, por pessoas com elevado reconhecimento público, permite a separação entre os relatórios confiáveis (accountables) e os que fazem a maquiagem verde (greenwashing), intencional ou por desconhecimento.

O levantamento em 1.100 relatórios, em 1999144 é importante fonte de informação sobre a natureza e conteúdo de relatórios ambientais em vários países, com os seguintes destaques.

• O setor industrial excede o não-industrial, na produção de relatórios. • 24% eram relatórios independentes com dados ambientais/saúde e segurança no trabalho. • Em 47% dos casos os dados ambientais estavam incluídos em relatórios corporativos.

Entretanto, das 517 empresas na condição acima, apenas cerca de 14 apresentaram dados do tipo social/sustentabilidade/comunidade. Apesar o baixo número, o resultado foi considerado promissor e indicativo de tendência crescente.

A experiência mais avançada, na proposição de padrões internacionais para a elaboração de relatório (eminentemente ambiental), é da GRI Global Reporting Initiative 145, uma ONG multi-stakeholder independente, criada em 1997 e que tem proposto modelos e diretrizes para relatórios desde 1999. A versão 2002 está sob consulta pública, na expectativa de que possa servir como modelo voluntário de uso internacional 146.

• O modelo do GRI para 2002 abrange cinco seções: (1) Visão e estratégia, (2) Perfil, (3) Governança e sistemas de gestão; (4) Indicadores de desempenho e (5) Índices do GRI.

• Os indicadores são distribuídos em: (a) econômicos - avaliação de impactos diretos sobre as partes interessadas; (b) ambientais - materiais; energia; água; biodiversidade; emissões, efluentes e resíduos; suprimentos; produtos e serviços; conformidade; transportes e outros; e (c) sociais - práticas trabalhistas, direitos humanos, sociedade, cada um dos três com vários indicadores.

Várias limitações foram apontadas para o modelo do GRI 2002147. A principal é de que o modelo do GRI foi feito para grandes corporações, prevendo-se sérias dificuldades gerenciais para uso por pequenas e médias empresas. O modelo é considerado complexo, não permite aferir diferenças entre princípios e características qualitativas; não obriga a revelação de "abordagens e aplicações incrementais"; não contempla a segurança ou garantia sobre as informações; alguns indicadores carecem de materialidade para aferição da relevância em terminados setores; não estabelece, com clareza, as relações entre a boa governança corporativa com o desenvolvimento sustentável; a abertura dos dados financeiros e outras afirmativas não estão totalmente contempladas. O mesmo acontece para a falta de requisito para que as informações sejam fornecidas de maneira completa. 141 http://www.accaglobal.com - 11-04-2002 ACCA announces winners of first annual Sustainability Awards. Joint best sustainability report: Shell International. 142 http://www.estadao.com.br/ciencia/noticias/2002/mai/16/306.htm Deputado defende CPI para investigar contaminação da Shell. http://www.mp.sp.gov.br/caomeioambiente/novidades-mod.htm Ação do Ministério Público Meio Ambiente contra Shell em Paulínia. 143 http://www.ea.gov.au/industry/sustainable/per/tips.html Paul Rees, Public Relations Officer for Maleny Credit Union in Queensland discusses their 2nd Social, Environmental and Financial Annual Report 144 KPMG International survey of environmental reporting. 1999. Já mencionado. 145 http://www.globalreporting.org 146 http://www.globalreporting.org/GRIGuidelines/2002draft.htm 147 http://www.fee.be/secretariat/Postitionpaper.htm - European Federation of Accountants. Sustainability Reporting Guidelines. June 2002.

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 66 de 78 _________________________________________________________________________________________________

Por exemplo: "poluição do solo por ser remediada no futuro", quando deveria ser revelada "agora". A extensa lista de objeções da Federação Européia de Contabilistas merece ser examinada com atenção.

A inexistência de padrões básicos internacionais de consenso, para a produção de relatórios de RSA estimulou a discussão (iniciada em maio de 2001) sobre a conveniência e viabilidade de ser criada uma ISO de Responsabilidade Social Corporativa, a ser adotada em combinação com a ISO 14001 para o Sistema de Gestão Ambiental.

A idéia preliminar da ISO é que se a norma vier a ser criada, deverá levar em conta que precisará ser ajustada ao processo da organização, suas partes interessadas e segmento e negócio. Mas, reconhece a importância da seleção de padrões, de instrumentos normativos de base doméstica e internacional, e de compromisso para estabelecer o processo de verificação (voluntário ou por terceira parte).

Sistema de CSA

A criação dos nexos e fluxos, para coleta, tratamento e geração de informações sobre a RSA da organização e a produção de relatórios de desempenho constituem a base de interesse para diferentes organizações 148.

A criação do Sistema de CSA precisa levar em conta as demandas nos âmbitos local, nacional e global que afetam ou são afetadas pelas atividades ou negócios da organização. De modo geral, os consumidores esperam e estão insistindo para que as firmas - em particular as multinacionais - atendam a padrões elevados de saúde e segurança para os trabalhadores, direitos humanos, proteção do consumidor e do ambiente, independente do local onde operam.

Investidores e acionistas estão aumentando a exigência para que as empresas demonstrem seus programas e atividades de RSA. As firmas mais bem preparadas fazem o mesmo tipo de pressão para que seus fornecedores mantenham programas afins.

Atualmente, há códigos para CSA propostos por organismos inter-governamentais, governos, agentes financeiros ou relacionados a finanças, grupos de padronização com reconhecimento, ONGs religiosas e organizações de multi-interessados (multi-stakeholders).

Outro indicador importante, para a criação do Sistema de CSA é a provável criação da ISO de RSA149. O estímulo para isso foi a pesquisa em 23 países, com 25.000 pessoas: 79% disseram que as grandes companhias devem ser completamente responsabilizadas para a proteção da saúde e segurança dos trabalhadores, 73% para proteger o ambiente e 72% para evitar o trabalho infantil.

Enquanto não existirem modelos padronizados, que interessem à organização, os processos gerenciais devem ser feitos na própria casa, envolvendo:

• geração, coleta, análise e avaliação de informações

148 http://cei.sund.ac.uk/envrep/index.htm - Environmental Reporting Clearing House; http://www.enviroreporting.com - The International Corporate Environmental Reporting Site; http://is.dal.ca/~ehs/home.htm - Environmental Health & Safety Administration; http://www.socialaudit.org/resources/eu-r.asp - Centros de ética; http://www.sirc.org - Social Issues Research Center; http://www.ccsd.ca/noll2.html - Social Indicators and Social Reporting: The International Experience; http://www.acca.co.uk - ACCA The Association of Chartered Certified Accountants; http://www.social-science-gesis.de/en/social_monitoring/social_indicators/EU_Reporting - European System of Social Reporting and Welfare Measurement; http://reports.eea.eu.int/ESS09/en - Environmental Australia Public Environmental Reporting 149 http://www.iso.org/iso/en/comms-markets/industryforums/corporatesocialresp/index.html

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 67 de 78 _________________________________________________________________________________________________

• produção de relatório • disseminação para todas as partes interessadas e o público em geral, de informações através

de relatórios periódicos.

Conteúdo do Relatório

A seleção dos tópicos e itens para compor o Relatório de RSA depende de várias condições.. É essencial insistir nos pressupostos já apresentados.

• Relação entre RSA e desenvolvimento sustentável o RSA representa o dever ou obrigação de assumir, perante as partes interessadas,

as conseqüências das atividades, negócios, produtos e serviços introduzidos no ambiente público

o RSA é parte da governança organizacional e, portanto, integrada à política de atuação, metas estabelecidas, planejamento estratégico e ferramentas de gestão adotadas

o a política da organização deve estar efetivamente voltada para o desenvolvimento sustentável, cujo conceito ou definição esteja baseado em indicadores qualificáveis e quantificáveis, abrangendo aspectos ou bens locais, nacionais e globais.

• Missão e visão da organização a respeito dos pressupostos • Princípios, valores e códigos de RSA adotados • Política socioambiental - práticas, operações, sistemas ou processos correntes, inclusive as

medidas anti-suborno e anti-corrupção; compromissos socioambientais e negociais • Padrões e melhores práticas socioambientais e de produção • Ferramentas de gestão socioambiental utilizadas: boas práticas, melhores tecnologias • Partes interessadas, inclusive acionistas • Indicadores socioambientais adotados • Contabilização socioambiental total • Princípios para produção de relatório de RSA

o materialidade/significância, integração/correlacionamento/comparabilidade, integralidade (visão por inteiro), consistência, acurácia, clareza, neutralidade, atualidade, auditagem/verificabilidade, confiabilidade, transparência, abertura total,

o problemas e tendências correntes o progressos feitos, em relação a alvos e metas específicos, previamente

estabelecidos o planejamento, melhorias esperadas e visão de longo prazo o ferramentas específicas: (a) indicadores de desempenho socioambiental; (b)

auditoria das práticas e resultados, (c) identificação de áreas importantes para progresso

o sistema de acompanhamento e avaliação de alvos e de validação de resultados alcançados

o definição de novos alvos para aperfeiçoar o desempenho socioambiental da organização.

Fiscalização das organizações

Há expectativa de que a iniciativa voluntária para a produção de relatórios de desempenho socioambiental - geralmente por grandes corporações - venha a se transformar em procedimento incorporado à gestão estratégica das organizações. Para os defensores da RSA e desenvolvimento

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 68 de 78 _________________________________________________________________________________________________

sustentável, o relatório público do desempenho socioambiental deve ser fruto da combinação entre o uso de modelos voluntários, padronizados e de regulamentação normativa que preveja auditoria externa e mecanismos de premiação, rebaixamentos e punições.

Hoje, as empresas poderão utilizar modelos para aferir e avaliar a ecoeficiência dos processos produtivos de bens e serviços, para eleger os indicadores de desempenho e organizar as informações em relatórios padronizados. Há o enfoque, prestigiado por organização internacional de certificação de contabilização150 e sugestões para a medição do desempenho ambiental e social corporativo, com base em elementos chave e fatores de estimulação151:

• vantagem competitiva • sistema de gestão ambiental • pressões da cadeia de negócios • condicionamento de crédito e investimento • preocupações das partes interessadas • padrões internacionais • esforços para modificações regulatórias • pressão dos pares

A principal questão está em saber até que ponto as organizações fazem uso de tais instrumentos voluntários. O monitoramento do desempenho ambiental de grandes empresas internacionais152 reforçou o fato já conhecido de que os relatórios contábeis (accounting) não fornecem dados sobre segurança e saúde no trabalho, nem de informações para tomadas de decisões em RSA. Mostrou também que o monitoramento extensivo do desempenho não é prática regular. O monitoramento - quando feito em articulação ao Sistema de Gestão Ambiental, não inclui progressos ambientais, nem, muito menos, a contabilização ambiental.

Por isso, aumenta o número de recomendações para que o Sistema de Gestão Ambiental incorpore auditoria de desempenho socioambiental, principalmente devido ao aumento de gastos com remediação, responsabilidade civil (liability), descomissionamento (fechamento de plantas industriais) e investimentos ambientais.

Nem assim, entretanto, as grandes corporações estão fora da vigilância de ONGs ambientalistas, especialmente as corporate watchers. As rotinas, procedimentos e recursos para vigilância estão disponíveis através da Internet, sob a forma de Guia153. Os grandes tópicos recomendados para a vigilância e mencionados em seguida mostram como é importante a produção de relatórios socioambientais pelas empresas.

• Visitar o website da corporação e verificar os textos disponíveis. Pedir cópias ou encomendar estudos por terceiros.

• Examinar as informações empresariais relativas aos negócios e finanças. • Verificar os registros da empresa a respeito de questões ambientais. trabalhistas e sociais. • Procurar notícias na mídia. • Usar diretórios de buscas (vários são mencionados no Guia). • Usar fontes relacionadas para buscas adicionais.

150 http://www.acca.org/uk/research/summaries/50667 - Gonell, Pilling and Zadek 1998. Making values count: contemporary experience in social and ethical accounting, auditing and reporting. ACCA Research Report no. 57. 151 http://www.wri.org/meb/pdf/janet.pdf - Janet Ranganathan. 1998. Sustainability rulers: measuring corporate environmental & social performance. 152 http://www.cleanerproduction.net Atie H. Verschoor & Lucas Reijnders. 2001. The environmental monitoring of large inernational companies. How e what is monitored and why. Jour. Cleaner Production 9 (2001) 43-53. 153 http://www.corpwatch.org - Research Tools - Anna Couey. 2001. Hands On Corporate Research Guide

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 69 de 78 _________________________________________________________________________________________________

Cada passo contém inúmeros desdobramentos, permitindo que sejam elaborados relatórios avaliativos sobre a responsabilidade (accountability), maquiagem verde (greeswahing), declarações inverídicas (whitewashing) e eventual uso indevido de logotipos de códigos de conduta, como no caso do Global Compact da ONU (bluewashing).

xv. Premiação socioambiental

As tecnologias não são boas, nem ruins; nem sujas ou limpas. Apenas refletem os valores e a ética da sociedade contemporânea.

A concessão de prêmios, por organizações representativas, é importante instrumento para atestar o mérito dos candidatos.

A iniciativa atinge patamar mais elevado de reconhecimento se a regulamentação envolve critérios com alto nível de qualidade, pertinência, relevância e atualidade; princípios, valores e códigos de conduta transparentes; procedimentos abertos de julgamento, seleção e avaliação.

O aumento do número de prêmios, de caráter social e ambiental, demonstra o crescente desejo de participação das organizações patrocinadoras. Entretanto, o acesso às informações sobre o regulamento através da Internet não é facilitado. Os objetivos e alvos de várias premiações no Brasil 154 revelam tópicos como:

• atendimento à legislação • valorização das pessoas e qualidade de vida • articulação com as partes interessadas • introdução de melhorias significativas • uso adequado de recursos naturais • promoção do desenvolvimento sustentável • conservação e uso racional de energia • controle de poluição e manejo de resíduos • otimização de processos, balanços de massa e energia, com minimização de resíduos • desenvolvimento de tecnologias limpas, com agregação de valor ao produto • gestão de projetos e da organização • sistema de gestão ambiental • existência de sistema de auditoria institucional na organização.

No Estado da Bahia, a FIEB Federação das Indústrias do Estado da Bahia155 e Jornal Gazeta Mercantil especificaram o uso dos critérios de Produção Mais Limpa.

Dessa maneira, a entidade premiadora acaba introduzindo estímulos e incentivos voluntários para o desempenho das organizações, no respectivo campo ou setor de atividades. Quando isso envolve as dimensões socioambientais, a patrocinadora contribui para duas importantes vertentes para o desenvolvimento sustentável:

• aperfeiçoamento da governança empresarial e socioambiental • e melhoria da produtividade na geração de bens e serviços.

A premiação baseada em princípios de RSA transforma-se em ferramenta de gestão que requer duas atitudes essenciais: transparência e responsabilidade.

154 Prêmios ambientais. www.eps.ufsc.br/~btex/premios.htm 155 www.fieb.orgbr/comam/premio/regulamento.htm

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 70 de 78 _________________________________________________________________________________________________

Para as empresas de negócios, a conquista de prêmio, com tais exigências, representa mais do que uma honraria. Significa o reconhecimento público pela qualidade, relevância, confiabilidade e pertinência do trabalho realizado. Portanto, a premiação tem vários significados ou usos:

• comprovação do uso de uma ferramenta de gestão, combinado com outras técnicas gerenciais, articuladas ao planejamento estratégico da organização, na busca de maior excelência da governança

• atestado para ser apresentado a empregados, investidores e acionistas, distribuidores e clientes, comunidade em geral, fornecedores e prestadores de serviços, órgãos de classe e agentes reguladores e

• demonstração de que a organização trabalha em direção ao desenvolvimento sustentável.

2.2. Tecnologias de processo e produto

É importante reforçar os comentários já feitos sobre a dificuldade para estabelecer os limites entre bens, serviços e tecnologias ambientais. Outro aspecto também relevante é que os sistemas de classificação variam de acordo com os autores.

A classificação a seguir baseia-se em textos da OECD156, mas procura incorporar outras propostas ou modelos de classificação existentes. É importante enfatizar que é difícil estabelecer os limites, nos diversos tipos relacionados, entre tecnologia, bens e serviços ambientais.

• Gestão de poluição - (i) controle de poluição do ar, (ii) gestão de água residuária, (iii) gestão de resíduos sólidos e perigosos, (vi) descarte e destinação, (v) proteção ambiental, (vi) transporte de produtos perigosos, (vii) tratamento de resíduos, (viii) remediação e recuperação, (ix) gestão de locais (sites), (x) redução de ruído e vibração, (vi) monitoração, análise e avaliação ambiental. Envolve as tecnologias de limpeza (cleaning technologies) ou de "fim-de-tubo" (end-of-pipe), testes e serviços analíticos, limpeza e recuperação de locais contaminados, pois se preocupam com a remoção, isolamento e tratamento de resíduos e efluentes. Corresponde a segmento maduro do mercado que engloba:

o equipamentos para manipulação de ar; conversores catalíticos; sistemas químicos de recuperação; coletores de partículas; separadores e precipitadores; incineradores e lavadores; equipamentos de controle de odores; sistemas de aeração; sistemas biológicos de recuperação; sistemas de sedimentação gravitacional; separadores óleo-água; coadores e peneiras; tratamento de esgoto; equipamento para controle de poluição e reuso de água residuária; estocagem de resíduos perigosos; coletores de resíduos; equipamentos de manipulação e destinação de resíduos; separadores de resíduos; equipamentos de reciclagem; incineradores de resíduos; equipamentos para recuperação (clean-up);

o serviços do tipo chave na porta (turnkey); design e engenharia; preparação construção, instalação, montagem, reparo e manutenção de sites; gestão de projetos de serviços ambientais; P&D; coleta, destinação e descarte; identificação, avaliação e remediação de áreas contaminadas; medições e manutenção de instalações; auditorias; operação, gestão e manutenção de água e resíduos sólidos e, em especial, os perigosos; design, gestão, controle e redução de ruídos e vibrações

156 Baseados na combinação de classificação em Comércio & Meio Ambiente: uma agenda positiva para o desenvolvimento sustentável (citado) e textos da OECD. 1992. The OECD environment industry: situation, prospects and government policies. OCDE/GD (92) 1, 33 pp, 1996 e 2000 já mencionados.

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 71 de 78 _________________________________________________________________________________________________

• Tecnologias/produtos limpos/mais limpos - (i) tecnologias e processos limpos/mais limpos-recurso eficientes, (ii) produtos limpos/mais limpos-recurso-eficientes; (iii) modificação de materiais. Estão englobadas as tecnologias integradas que otimizam produto e processo limpo (clean-process-integrated technologies), o design do produto e processo, em todas as etapas, desde a entrada de materiais até a saída de produto para o uso ou consumo, inclusive embalagens, destinação e descarte pós-uso (ver Produção Limpa, já abordada e discussão em Sistema de produto, mais adiante). Inclui, também, consultoria ambiental: avaliação de impactos, auditoria ambiental, monitoramento, gestão de riscos, avaliação de ciclo-de-vida, ecodesign, avaliação de desempenho, sistema de gestão ambiental; sistemas especialistas, análise financeira, gestão de base de dados.

• Gestão de recursos - (i) controle de poluição do ar interno (indoor), (ii) suprimento de água, (iii) reciclagem/materiais reciclados, (iv) planta de energia renovável, (v) gestão da poupança de calor/energia, (vi) agricultura e aquicultura sustentáveis, (vii) florestas sustentáveis, (viii) gestão de áreas naturais e sermi-naturais (capital natural), (ix) gestão de riscos naturais, (x) ecoturismo Abrange avaliação de ecossistemas, proteção de cenários e ambientes naturais e semi-naturais; educação, treinamento e informação para profissionais e público em geral, operadores de áreas e instalações; serviços de reciclagem

Mercado de tecnologias, bens e serviços ambientais

Capital monetário

Em 1992157, o mercado mundial da indústria ambiental foi calculado em US$200 bilhões (sem a inclusão das "tecnologias limpas/mais limpas"), com previsão para chegar a US$300 bilhões no ano 2000. Outras fontes estimaram valores mais altos: US$580 para o ano 2000 - e US$426 para 1998, por terem incluído outros segmentos industriais158.

Relatório da OECD, de 2000159, relata valores globais de US$453 bilhões em 1996 e US$484 bilhões para 1998, incluindo recuperação/reciclagem. Apesar das discrepâncias em valores globais e para os países listados, as diferenças no domínio do mercado são evidentes.

• Mais de 90% do mercado pertencem aos países da OECD, com predomínio dos EUA (32%), Alemanha e Japão (31% cada).

• Mais de 50% representam serviços básicos de infra-estrutura de tratamento de resíduos, tratamento e abastecimento de água.

A América Latina aparece em duas fontes usadas pela OECD, em 2000: US$6 bilhões (1992), US$5 bilhões (previsão para 2000) e US$10 bilhões (informações referentes a 1998). Tomando-se o valor de 1998, representa 24% do mercado global, naquele.

Faltam dados referentes à participação do Brasil no mercado ambiental. Informação obtida através da Internet, em 1996160. teve como fontes o U.S. Dept of Commerce, Chemical Week e World Bank:

Valores em US$ milhões 1990 estimativa 1993-95

157 OECD. 1992. já mencionado. 158 OECD. 1996. The global environmental goods and services industry. 34 pp. 159 OECD. 2000. Environment goods and services. An assessment of the environmental, economic and development benefits of further global trade liberalisation, 110 pp. 160 http://www.gnet.org/gnet/market/mktinfo/latin/brazil.htm The environmental technology market: Brazil. Não foi possível recuperar o site, em junho 2002.

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 72 de 78 _________________________________________________________________________________________________

Poluição do ar 115 200-225 Poluição da água 645 985-1,035 Resíduos sólidos 35 70-100 Total 795 1,255-1,360

Estimuladores de mercado

• Institucionais: legislação, novos padrões ambientais, público consumidor, códigos/acordos voluntários, qualidade e ambiente como estratégia de negócios

• Globalização: fusões, aquisições, joint-ventures, parcerias, colaboração • Competitividade: conhecimento, políticas ambientais competitivas, regulamentação e

padrões, P&D, marketing global, preços, capital de risco • Comércio internacional: sistema de classificação estatística para a indústria ambiental,

melhoria da coleta de dados, harmonização de padrões ambientais, pesquisa colaborativa de tecnologias ambientais

• Instrumentos baseados no mercado161:- subsídios creditícios, isenção de depósito-devolução, esquemas de depósito-devolução, cobrança de impostos por resíduos, impostos florestais, ônus por contaminação, impostos para exploração de recursos naturais renováveis arrecadados para fins específicos, permissões comerciais, rotulagem ambiental, instrumentos de responsabilidade.

• Desafios/pressões162: sinal amarelo - uso de água, emissões tóxicas pela indústria, geração de resíduos perigosos, produção e uso de energia; sinal vermelho - poluição na agricultura, pesca excessiva, emissões de gases com efeito estufa, emissões poluentes de motores veiculares e de aviação, geração de lixo municipal

• Desafios para o século 21, por ordem de importância163: mudança climática, escassez de água doce, desmatamento e desertificação, poluição de água doce, perda de diversidade, crescimento e mobilidade populacional, mudança de valores sociais, destinação de resíduos, poluição do ar, deterioração do solo, funcionamento dos ecossistemas, poluição química, urbanização, depleção da camada de ozônio, consumo de energia, doenças emergentes, depleção de recursos naturais, insegurança alimentar, desorganização de ciclo bio-geoquímicos, emissões industriais, pobreza, tecnologia da informação, guerra e conflito, redução da resistência a doenças, desastres naturais, espécies invasoras, engenharia genética, poluição marinha, colapso de estoque pesqueiro, circulação oceânica, degradação de zonas costeiras, detritos espaciais, tóxicos bioacumuláveis, efeitos do El Nino, aumento do nível do mar.

Fontes de tecnologias ambientais de processo e produto

O aumento do interesse nas questões ambientais está sendo acompanhado pela crescente oferta de tecnologias ambientais para venda, licenciamento e outras formas de negócios. Através da Internet, é possível localizar empresas comerciais e fontes de informações diversas a respeito do assunto, disponibilizadas por ONGs, órgãos governamentais, agências multilaterais e empresas privadas prestadoras de serviços de informação.

Os endereços eletrônicos a seguir representam apenas uma parte das fontes. Novos sites poderão ser identificados, a partir dos endereços mencionados, lembrando que são fatos comuns na Rede: descontinuidade da página ou dificuldades temporárias de acesso.

161 http://www.worldbank.org/nipr/work_paper/huber/huber2.pdf - 1998. Market Based Instruments for Environmental Policymaking in Latin America and the Caribbean: Lessons from Eleven Countries by Richard Huber, Jack Ruitenbeek and Ronaldo Serôa da Motta, 93 pp. 162 OECD. 2001. Environmental outlook, 308 pp. http://www.oecd.org/pdf/M00029000/M00029619.pdf 163 http://www.cger.nies.go.jp/geo2000/index.htm UNEP. 1999. Global environment outlook 2000, 20 pp.

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 73 de 78 _________________________________________________________________________________________________

http://141.150.233.37/p2/index.html Pollution Prevention Equipment Program Book http://clu-in.com - Hazardous Waste Clean-up Information - EPA Technology Innovation Office http://eco-web.com/index - Green Pages http://www.battelle.org/environment/lcm/partners.stm - Batelle Environment Life-Cycle Management http://www.battelle.org/environment/technology/default.stm - Batelle Environmental Technology Assessment and Integration http://www.em.doe.gov/plumesfa/intech/ DOE Innovative Technology Summary Reports http://www.enviroaccess.ca/eng/faxsheet.html - Enviro-access Environmental Technologies Fact Sheets http://www.enviroaccess.ca/eng/tech_www.html - Enviro-access - Conexões em tecnologias ambientais http://www.epa.gov/clariton/clhtml/pubord.html - EPAUS Técnicas, métodos e avaliação de tecnologias http://www.epareachit.org/index3.html - EPA Reachit http://www.estcp.org - Environmental Security Technology Certification Program http://www.etc2.org - Environmental Technology Commercialization Center (ETC2) is a U.S. Environmental Protection Agency (EPA) technology transfer center managed by Battelle http://www.etcentre.org/etchome_e.html - Environmental Canada, Environmental Technology Center http://www.gwrtac.org/html/techdocs.html - GWRTAC Ground Water Remediation Technology Analysis Center http://www.nsf.org/etv - Parceria NSF-EPA Programa de Verificação de Tecnologia Ambiental http://www.nttc.edu/default.asp - National Technology Transfer Center http://www.oceta.on.ca/profiles/catalogue.html - OCETA - Ontario Centre for Environmental Technology Advancement http://www.pnl.gov/etd/yellow.htm - Environmental Technology Solutions http://www.sazp.sk/slovak/struktura/ceev/ERA/literatura.html - Literatura em tecnologia ambiental (incluir como anexo) http://www.seib.org/leap/webhelp/ted/ted_intro.htm - Technology and Environment Database http://www.techknow.org/index.cfm - Technow 3 http://www.umist.ac.uk/UMIST_Library/guides_doc/envi01.doc Guia breve para encontrar informação sobre tópicos em tecnologia ambiental na http://www.umist.ac.uk/Library Biblioteca e Serviço de Informação http://www.umwelttechnik.co.at/en/index.htm - Austrian Environmental Technologies http://www.uneptie.org/outreach/wssd/sectors/reports.htm - UNEP Division of Technology, Industry and Economics DTIE, Industry Outreach. Relatórios setoriais da indústria

Avaliação de tecnologias ambientais de processo e produto

A avaliação da tecnologia ambiental deve levar em conta aspectos ambientais, econômicos, sociais e político-estratégicos. Além disso, precisa considerar a diversidade de tipos de aplicações e usos já mencionados e requer a participação de especialistas e profissionais capacitados para julgar os méritos propostos, a partir de informações sobre: objetivo ou alvo pretendido, desempenho,

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 74 de 78 _________________________________________________________________________________________________

aplicabilidade, qualidade, custo, relações a outras tecnologias (secundárias) necessárias, regulamentação, exigências de políticas aplicáveis, entre outros.

Por isso, a avaliação deve ser feita por um conjunto multidisciplinar de pessoas com domínio de conhecimento e técnicas sociais, ambientais e ambientais e de aspectos nas interfaces dos três âmbitos. Os proponentes da agenda para América Latina e Caribe164 recomendam:

• práticas participativas em assuntos de políticas públicas e internacionais • combinação do rigor acadêmico e experiência na realidade política, social e econômica de

cada situação • preparação dos participantes com informações e instrumentos de grupos de interesse

organizados e atores mais relevantes • metodologias para avaliação que levem em conta - (i) definição de linha de base

socioambiental e econômica, (ii) fatores causais de impactos, (iii) previsão de impactos com e seu liberação comercial, (iv) avaliação de impactos, (v) medidas de prevenção, mitigação, compensação e planos de monitoração.

A Agenda contém a relação de estudos recentes, em comércio internacional, nos países da América Latina e Caribe, onde são citados os casos envolvendo questões ambientais e os temas abordados. Nestes, o leitor terá oportunidade de identificar os alvos, fontes, preocupações ou causas de impactos envolvidos, como regulamentação ambiental, manejo florestal, emissões de SO2, transporte de substâncias químicas perigosas, alimentos transgênicos. Estes tipos de informação estão disponíveis, também, na Internet.

A leitura dos casos demonstra que a avaliação das tecnologias ambientais, relacionadas aos temas enfocados, contribuiria de maneira objetiva para a formulação de estratégias e recomendações para negociações multilaterais.

Para avaliar a tecnologia ambiental de produto e processo, é necessário considerar três elementos básicos, abordados na Parte II Tecnologias de gestão socioambiental:

1. conhecimento dos impactos no ciclo-de-vida do produto ou processo ao qual a tecnologia se aplica

2. eleição dos indicadores socioambientais apropriados para avaliar a tecnologia, do ponto de vista do ponto de vista da ecoeficiência e do desenvolvimento sustentável

3. definição do plano de contas ou centros de custos para contabilização socioambiental.

Avaliação de desempenho pode levar em conta, sem indicação de ordem de prioridade, os aspectos relacionados a seguir, resultantes da combinação de modelos existentes165:

1. Definição de critérios e métodos • normas, padrões e especificações aplicáveis • critérios estabelecidos para relevância, qualidade, pertinência, atualidade, confiabilidade,

periculosidade e toxicidade • níveis ou parâmetros de risco socio-ambiental, relativos ao objeto ou objetivo ao qual a

tecnologia se destina • método para a avaliação, amostragem e desenho experimental • tipo de funcionamento e resultado reivindicados

164 Antônio Sérgio Braga & Luiz Camargo de Miranda.2002. Já citado 165 http://www.cerf.org/evtec/involve/techprot.htm - CERF EvTEC Technical Protocol; http://www.epa.gov/etv EPA ETV Environmental Technology Verification - http://www.estcp.org/documents/guidance/CU_C&P.pdf Environmental Security Technology Certification Program (ESTCP) - http://www.calepa.ca.gov/CalCert/program.htm California Environmental Technology Certification Program

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 75 de 78 _________________________________________________________________________________________________

• exigências para conformidade socioambiental (legislação, regulamentação e códigos voluntários)

• linha de base para o desempenho reivindicado • tendências e eventos que podem afetar o sistema alvo • técnicas e tecnologias secundárias • benchmarking relativo a tecnologias similares ou alternativas • caracterização do potencial de riscos das matérias primas e produtos • instrumentos e laboratórios analíticos e informações para a avaliação 2. Desempenho funcional • efeitos sobre o meio ou multi-meios - água, ar, solo, subsolo, interações (água-ar, ar-solo,

etc.), capital natural • resultados alegados para ação em relação ao objeto ou objetivo reivindicado • consumo de recursos: água, energia, matérias primas e outros insumos • consumo de materiais e outros recursos • desempenho em relação a parâmetros socioambientais chave: produtos ou materiais tóxicos

ou perigosos; prevenção, redução/minimização de emissões de resíduos; recliclagem, reuso ou remanufatura de materiais, resíduos e embalagens

• impactos socioambientais da manufatura • caracterização de materiais perigosos e tóxicos • impactos socioambientais do uso e destinação do produto, do descarte e destinação de

resíduos, de embalagens e do produto ao final da vida útil - efeitos aos diferentes meios (ar, água, solo) na planta, entorno, país ou planeta (levar em consideração os problemas globais objeto de protocolos)

• fontes de contaminação • identificação e avaliação de impactos potenciais da tecnologia • comportamento esperado e desvios observados 3. Implementação • facilidade para construção, operação e uso • segurança para construção, operação e uso • exigências de controle de qualidade • exigências para a operação • necessidade de pessoal qualificado e treinado • necessidade de treinamento e suporte técnico • equipamentos e materiais necessários • compatibilidade com infra-estrutura e sistemas existentes • limitações previstas ou observadas - condições de temperatura, umidade, taxas de

produção; regiões geográficas, condições específicas para operações • exigências para mudança de escala • dificuldades e limitações para implementação 4. Manutenção • freqüência de reparos • facilidade e custo de reparos • necessidade e geração de resíduos dos reparos 5. Regulamentação e códigos voluntários • dependência a conformidade regulamentar

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 76 de 78 _________________________________________________________________________________________________

• necessidade de licenciamento e autorizações: federal, estadual, municipal, proprietários ou operadores

• exigências e relacionamento com usuário final e com partes interessadas (stakeholders) • interlocutores e tomadores de decisão importantes - responsabilidades, autoridades e

impedimentos • códigos voluntários setoriais e genéricos (Poluidor Pagador, Responsabilidade Continuada

do Produtor, Direito Público de Acesso à Informação, Devolução Garantida, etc.)

Avaliação de custos é baseada em:

• plano de contas convencional - Capital/fixo e Operacional/variável, com o detalhamento apropriado (Equipamentos, Instalações; Administração; Operação e manutenção - mão-de-obra, materiais, utilidades, serviços, etc.; Outros custos com a tecnologia)

• plano de contas socioambiental - definição de critérios e formular centros de custos • determinação de (a) custo total, (b) custo médio por operação, por unidade de produto ou

serviço, (c) O&M • custo comparativo com tecnologia afim ou alternativa • projeção de custo para um ano e para período mais longo (por exemplo, 10 anos), com

identificação de poupança.

Tecnologias de gestão ambiental para avaliar tecnologias de processo e produto

A essência da avaliação da tecnologia ambiental de produção está no uso de tecnologias de gestão ambiental, especialmente a escolha e definição dos indicadores de desempenho socioambiental, relacionados aos impactos de produtos e processos, nas diferentes etapas do ciclo-de-vida do produto.

Centenas de indicadores já foram identificados e caracterizados, para inúmeros segmentos e atividades sociais e econômicas166, cujo uso tem sido enfatizado em relatórios de desempenho por pequeno número de grandes corporações.

A ACV Avaliação do Ciclo-de-Vida é outra ferramenta importante, mas seu uso ainda não faz parte das atividades rotineiras das empresas, por falta de recursos humanos qualificados, insuficiência de bases de dados sobre os produtos e os impactos provocados e, principalmente, de recursos financeiros.

Apesar das limitações e dificuldades apontadas, três recursos podem gerar elementos para avaliação de impactos de tecnologias ambientais, desde que seja adotada a visão integrada ou sistema de produto:

• técnica de ACV ajustada (streamlined)167, que permite selecionar e limitar os aspectos mais relevantes ou oportunos, para a eleição de indicadores

• recursos on line para ecodesign, através da Internet, que apontam os indicadores de impactos mais pertinentes168

• eco-indicadores de danos para ACV169, que fornecem índices qualificados e quantificados, em grande diversidade, para emissões de cargas (massas), saúde humana, qualidade de ecossistema e recursos.

166 João S. Furtado. 2001. Indicadores de sustentabilidade e ecoeficiência, 28 pp. [email protected] 167 Joel Ann Todd & Mary Ann Curran (ed.). 1999. Streaminlined Life-Cycle Assessment: a final report from SETC North America Streamlined LCA Workgroup.31 pp. http://www.setac.org/files/lca.pdf 168 http://www.ecodesign.at/pilot/ONLINE/ENGLISH/INDEX/INDEX.HTM - Ecodesign on line Pilot

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Ferramentas e tecnologias. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão fev/mar 2003.pág. 77 de 78 _________________________________________________________________________________________________

169 http://www.pre.nl - Mark Oedkoop & Renilde Spriensma. 2000. The eco-indicator 99. A damage oriented method for Life Cicle Impact Assessment. Methodology Report. 132 pp. Mark Goedkoop, Suzanne Effting & Marcel Collignon. 2000. The Eco-indicator 99. Manual for designers. 22 pp.