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1 GESTÃO AMBIENTAL PORTUÁRIA CONSIDERANDO ASPECTOS ECONÔMICOS E FINANCEIROS: UMA REVISÃO DA LITERATURA E DE PRÁTICAS NACIONAIS E INTERNACIONAIS Resumo: Um porto é uma organização complexa que possui muitas áreas críticas. Uma destas é a área de gestão ambiental, que se apresenta como uma alternativa para minimizar impactos ambientais e aumentar a sustentabilidade dos portos. A gestão ambiental é uma importante ferramenta a ser utilizadas nas organizações que, além da própria proteção ao meio ambiente, é capaz de trazer muitos benefícios a uma organização, como uma avaliação crítica dos processos internos. Para compreensão do tema e dos modelos de avaliação de desempenho ambiental, neste trabalho é realizada uma revisão da literatura sob uma perspectiva econômica e financeira. Para alcançar o objetivo proposto, foram seguidas três etapas subsequentes: uma coleta e seleção de dados, análise dos resultados e análise crítica dos modelos de avaliação de desempenho selecionados. Como resultado, foram obtidos 26 artigos e trabalhos acadêmicos, 4 relatórios de organizações internacionais sobre o tema e os resultados do IDA (Índice de Desempenho Ambiental) da ANTAQ (Agência Nacional de Transportes Aquaviários). A partir da análise dos dados encontrados, observa-se que, quanto aos artigos e trabalhos acadêmicos, existem três áreas de pesquisa no assunto: (i) Aspectos gerenciais e estratégicos de gestão ambiental, (ii) Pesquisas quantitativas e (iii) Aspectos operacionais específicos. Na primeira área, existe uma linha de pesquisa que engloba o estudo de sistemas de indicadores de desempenho ambiental em portos, o que é realizado por alguns modelos específicos. No entanto, observa-se uma lacuna dentre estes modelos, pois ainda há deficiências nos critérios de análise ou quanto à disponibilidade de informações necessárias. Palavras-chave: Gestão ambiental portuária; Desempenho ambiental; Desempenho econômico e financeiro; Gestão portuária. 1. Introdução O transporte marítimo é a modalidade mais tradicional de importação e exportação de produtos. Estima-se que 80% das importações e exportações mundiais sejam realizadas por esta modalidade (VIEIRA, 2013). Um porto é um organismo complexo, incluído em um mundo altamente dinâmico, que precisa de uma gestão moderna e eficiente que englobe todas as suas variáveis. Um exemplo desta complexidade pode ser o número de elos que tem relação direta com o sistema portuário. Um porto tem relação direta com o Estado (sendo administrado ou regulado por ele, e fazendo parte de operações de importação e exportação), com empresas de transporte (responsáveis pelas cargas que passam pelo porto), com as cidades portuárias (que geralmente se desenvolveram junto com o porto) e com o meio ambiente (sendo que o porto pode alterar drasticamente o ecossistema local). Atualmente os portos têm sofrido pressões de diferentes stakeholders para aumentar sua participação no crescimento econômico dos países (VIEIRA, 2013). De acordo com Bussinger (1998), um porto pode ser analisado em três aspectos: como ente físico, que ocupa um espaço definido e tem fronteiras naturais e urbanas,

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GESTÃO AMBIENTAL PORTUÁRIA CONSIDERANDO ASPECTOS ECONÔMICOS E FINANCEIROS: UMA REVISÃO DA LITERATURA E DE PRÁTICAS NACIONAIS E INTERNACIONAIS

Resumo: Um porto é uma organização complexa que possui muitas áreas críticas. Uma destas é a área de gestão ambiental, que se apresenta como uma alternativa para minimizar impactos ambientais e aumentar a sustentabilidade dos portos. A gestão ambiental é uma importante ferramenta a ser utilizadas nas organizações que, além da própria proteção ao meio ambiente, é capaz de trazer muitos benefícios a uma organização, como uma avaliação crítica dos processos internos. Para compreensão do tema e dos modelos de avaliação de desempenho ambiental, neste trabalho é realizada uma revisão da literatura sob uma perspectiva econômica e financeira. Para alcançar o objetivo proposto, foram seguidas três etapas subsequentes: uma coleta e seleção de dados, análise dos resultados e análise crítica dos modelos de avaliação de desempenho selecionados. Como resultado, foram obtidos 26 artigos e trabalhos acadêmicos, 4 relatórios de organizações internacionais sobre o tema e os resultados do IDA (Índice de Desempenho Ambiental) da ANTAQ (Agência Nacional de Transportes Aquaviários). A partir da análise dos dados encontrados, observa-se que, quanto aos artigos e trabalhos acadêmicos, existem três áreas de pesquisa no assunto: (i) Aspectos gerenciais e estratégicos de gestão ambiental, (ii) Pesquisas quantitativas e (iii) Aspectos operacionais específicos. Na primeira área, existe uma linha de pesquisa que engloba o estudo de sistemas de indicadores de desempenho ambiental em portos, o que é realizado por alguns modelos específicos. No entanto, observa-se uma lacuna dentre estes modelos, pois ainda há deficiências nos critérios de análise ou quanto à disponibilidade de informações necessárias.

Palavras-chave: Gestão ambiental portuária; Desempenho ambiental; Desempenho econômico e financeiro; Gestão portuária.

1. Introdução

O transporte marítimo é a modalidade mais tradicional de importação e exportação de produtos. Estima-se que 80% das importações e exportações mundiais sejam realizadas por esta modalidade (VIEIRA, 2013). Um porto é um organismo complexo, incluído em um mundo altamente dinâmico, que precisa de uma gestão moderna e eficiente que englobe todas as suas variáveis. Um exemplo desta complexidade pode ser o número de elos que tem relação direta com o sistema portuário. Um porto tem relação direta com o Estado (sendo administrado ou regulado por ele, e fazendo parte de operações de importação e exportação), com empresas de transporte (responsáveis pelas cargas que passam pelo porto), com as cidades portuárias (que geralmente se desenvolveram junto com o porto) e com o meio ambiente (sendo que o porto pode alterar drasticamente o ecossistema local). Atualmente os portos têm sofrido pressões de diferentes stakeholders para aumentar sua participação no crescimento econômico dos países (VIEIRA, 2013).

De acordo com Bussinger (1998), um porto pode ser analisado em três aspectos: como ente físico, que ocupa um espaço definido e tem fronteiras naturais e urbanas,

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como agente econômico, devido ao comércio das mercadorias que são transportadas e sua relação com o desenvolvimento econômico local e global, e como elo de cadeias logísticas, tanto marítimas quanto terrestres, de acordo com as inúmeras possibilidades de destino e origem.

Conforme Bichou e Gray (2005), portos podem ser estudados sob três aspectos: sob uma visão macroanalítica, microanalítica e híbrida. A visão macroanalítica leva em consideração as relações do porto com políticas públicas (relativas ao crescimento econômico impulsionado pelo porto) ou sob a perspectiva ambiental, onde o porto deve englobar na sua gestão os conceitos da sustentabilidade. Na linha microanalítica são analisadas questões internas ao porto, como atividades de transferência de cargas e passageiros, porém também procura englobar questões como coordenação e governança da cadeia logístico-portuária. Já a visão híbrida busca combinar elementos das duas linhas anteriores, estudando o papel do porto e suas funções.

Observa-se então, que seguindo uma visão macroanalítica, as questões ambientais surgem como questão importante a ser estudada em portos. A gestão ambiental portuária se apresenta como uma alternativa para minimizar impactos ambientais e aumentar a sustentabilidade dos portos. Estes apresentam muitas características complexas, que impactam no meio onde se localizam, como: a interferência na vida marinha próxima, desmatamento da vegetação costeira, geração de lixo e emissões de gases, além do risco de acidentes com navios e consequentes derramamentos de poluentes no mar (DARBRA et al., 2005; FILOL et al., 2012).

A gestão ambiental, porém, pode trazer mais benefícios para uma organização do que unicamente a proteção ao meio ambiente. Sua utilização proporciona uma avaliação crítica de processos internos (KITZMANN, ASMUS, 2006). A proatividade, intrínseca ao sistema de gestão ambiental, também torna um porto mais eficiente. Esta pode ser uma oportunidade de aumentar a competitividade no setor portuário, não somente em relação à competição entre portos, mas também entre países e modalidades de transporte. A maior preocupação mundial com a sustentabilidade torna a eficiência ambiental um fator crítico de decisão ao contratar serviços de transporte. Ou seja, a questão ambiental é um fator competitivo que deve ser explorado pelo setor portuário (KITZMANN, ASMUS, 2006).

Além de compreender e minimizar o impacto ambiental gerado pela atividade portuária, também é necessário medir o impacto econômico, tanto resultante das atividades gerenciais e operacionais necessárias no sistema de gestão ambiental quanto da própria poluição gerada. Para tanto, é preciso que o sistema de avaliação de desempenho ambiental seja, além de técnico, gerencial. Assim, a autoridade portuária pode ter informações que permitam aliar o desenvolvimento do porto com a responsabilidade ambiental.

No Brasil, a partir da reformulação do setor portuário, iniciada em 1990, criou-se um novo modelo portuário. Este novo conceito proporcionou a diminuição de custos e maior competitividade. No entanto, a questão ambiental não foi incluída na nova regulamentação. Sendo assim, as práticas de gestão ambiental foram inseridas no sistema portuário brasileiro por meio de legislações específicas. Isto demonstra que, neste passado recente, a gestão ambiental não foi vista como sendo estratégica

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pelo governo. Porém, a difusão da gestão ambiental pode significar mais vantagens competitivas e maior eficiência em longo prazo (KITZMANN, ASMUS, 2006; JACCOUD, MAGRINI, 2014). Mais recentemente, iniciativas para implantar e aprimorar a gestão ambiental em portos são puxados principalmente pela ANTAQ (Agência Nacional de Transportes Aquaviários), órgão regulador do setor.

Apesar das iniciativas recentes para implantar e aprimorar a gestão ambiental nos portos brasileiros ainda existem outras questões que precisam ser levantadas. Uma das principais é a necessidade de uma avaliação crítica sobre a medição de desempenho ambiental e quais os seus impactos para o desempenho global de um porto. Para tanto, faz-se necessária uma análise dos estudos, publicações acadêmicas, relatórios de organizações da área portuária e também os relatórios disponibilizados pela ANTAQ, para contextualizar a gestão ambiental portuária a níveis brasileiro e mundial, e então verificar quais as principais questões que impactam na gestão portuária.

Sendo assim, este artigo tem como objetivo fazer uma revisão crítica dos sistemas de avaliação de desempenho ambiental em portos. Para tanto, neste trabalho é realizada uma revisão bibliográfica sobre o tema gestão ambiental portuária, buscando artigos científicos publicados a partir do ano 2000, trabalhos acadêmicos (como teses e dissertações) realizados por universidades brasileiras e documentos publicados por organizações do setor portuário (governamentais ou independentes) que tenham relação com o tema. Conforme Bichou e Gray (2005), os órgãos governamentais e agências internacionais são responsáveis por uma parte importante da literatura sobre gestão portuária. Com esta pesquisa, busca-se identificar os principais enfoques e contextos das publicações atuais, analisar como o tema é tratado no Brasil e no exterior e as principais questões que ainda precisam ser trabalhadas nesta área. Complementarmente, também são analisadas as informações disponibilizadas ao público pelo site da ANTAQ (www.antaq.gov.br), com o objetivo de traçar um panorama da situação atual dos portos brasileiros. Ao final, busca-se unir todas as informações obtidas a fim de obter um panorama geral que possibilite discutir a questão da medição do desempenho ambiental e econômico no setor portuário.

2. Procedimentos Metodológicos da Pesquisa

Este artigo apresenta uma pesquisa que pode ser classificada como aplicada e, quanto à abordagem, qualitativa. Quanto aos procedimentos adotados, é uma revisão bibliográfica (TURRIONI e MELO, 2008). Para alcançar o objetivo proposto, foram seguidas três etapas: uma coleta e seleção de dados, análise dos resultados e análise crítica dos modelos de avaliação de desempenho encontrados.

A primeira etapa do trabalho constituiu-se de uma coleta e seleção de dados que contivessem trabalhos desenvolvidos na área de gestão ambiental portuária. Para tanto, foram utilizadas: a base de dados online da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), sites de entidades ligadas ao setor portuário nacional e internacional e entidades internacionais que de alguma maneira já desenvolveram trabalhos relacionados a gestão ambiental em portos. Todas estas pesquisas foram realizadas no mês de agosto e setembro de 2015. Além destes,

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também foi realizada uma pesquisa no site da ANTAC no dia 08 de setembro de 2015 para coletar os dados disponíveis por meio de relatórios sobre a gestão ambiental portuária no Brasil. O objetivo desta etapa foi coletar o dados para traçar um panorama da situação da gestão ambiental portuária e discutir as principais questões pertinentes ao tema. Para a seleção dos trabalhos que participaram do estudo, foram executadas as seguintes ações:

Para os artigos publicados e trabalhos acadêmicos (teses e dissertações), foram realizadas buscas na base de dados online da CAPES com as palavras-chave “gestão ambiental portuária” e “environmental port management”, o que resultou em 26 trabalhos, todos os quais participaram do estudo.

Para os relatórios de organizações, foram realizadas buscas nos sites das seguintes entidades: ESPO (Environmental Sea Ports Organization), Ministério do Meio Ambiente brasileiro, EU (União Europeia), UNCTAD (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento), Banco Mundial, MARPOL (Convenção Internacional para a Prevenção da Poluição por Navios) e ANTAQ.

A segunda etapa consistiu em verificar a existência de um modelo de gestão ambiental portuário brasileiro consolidado e analisá-lo criticamente. Com esse propósito, os trabalhos, artigos e relatórios encontrados foram análisados. Em seguida, foram identificados: o escopo, as principais contribuições e os resultados relevantes de cada trabalho. Esta análise propiciou a realização de comparações entre os métodos e sistemas de avaliação de desempenho utilizados em cada trabalho. Também foram analisados os relatórios disponibilizados pela ANTAQ sobre a situação atual da gestão ambiental nos portos brasileiros

Na terceira etapa, a fim de identificar os modelos que englobam a avaliação econômica e propõem métodos de quantificação, foram realizadas análises críticas sobre os modelos de avaliação de desempenho encontrados, de onde foi possível verificar a aplicabilidade de cada um dos modelos na medição de custos ambientais em portos. Foram identificados os indicadores propostos em cada trabalho e qual a informação que se planejou gerar.

3. Resultados e discussão

Nesta seção, são apresentados os resultados e as discussões geradas pela aplicação do método proposto na seção anterior, seguindo as três etapas definidas anteriormente. Os resultados são divididos em tópicos de acordo com o tipo das fontes utilizadas: Artigos e trabalhos acadêmicos sobre gestão ambiental portuária, Documentos publicados por entidades internacionais do setor portuário e Dados da ANTAQ.

3.1. Artigos e trabalhos acadêmicos sobre gestão ambiental portuária

Esta etapa tem como propósito dividir os trabalhos encontrados em áreas e linhas de pesquisa, e, a partir desta divisão, classificar os trabalhos quanto ao seu

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objetivo. O que possibilita uma maior compreensão sobre os assuntos mais estudados e a importância destes para o desenvolvimento do tema. Os resultados obtidos são apresentados na Tabela 1.

Tabela 1 – Classificação dos artigos em áreas de pesquisa.

Área de Pesquisa

Linha de Pesquisa Artigos Total de artigos

Aspectos gerenciais e

estratégicos de gestão

ambiental

Legislação e políticas ambientais

Cunha (2006); Kitzmann, Asmus (2006); Koehler, Asmus (2010); Ying (2011); Kaiser, Bezerra, Castro (2013); Hamzah et al.

(2014)

6

Gestão de indicadores ambientais

Peris-Mora et al. (2005); Saengsupavanich et al. (2009); Valois (2009); Lirn, Wu, Chen

(2013); Silva (2014); Puig, Wooldridge, Darbra (2014)

6

Diagnóstico ambiental Darbra et al. (2004); Darbra et al. (2005); Darbra et al.(2009); Fillol

et al. (2012); 4

Sistemas de gestão ambiental em portos

Louzada (2005); Almeida (2010) 2

Pesquisas quantitativas

Redução de custos e gestão ambiental

Ronza et al. (2009); Wasserman, Barros, Lima (2013); Yang (2013);

Lee, Yeo, Thai (2014) 4

Aspectos operacionais específicos

Gestão ambiental na supply chain de transporte marítmo

Denktas-Sakar, Karatas-Cetin (2012)

1

Gerenciamento de resíduos sólidos

Mohee et al. (2012); Jaccoud, Magrini (2014)

1

Gerenciamento de ruídos Murphy, King (2014) 1

Gerenciamento de energia Acciaro, Ghiara, Cusano (2014) 1

Total 26

Fonte: elaborado pelos autores.

Nota-se que há várias linhas de pesquisa na área de interesse, e que, dentre estas, uma das que mais se destaca é a de Gestão de indicadores ambientais, o que indica que há um interesse acadêmico atual na avaliação de desempenho ambiental por meio de indicadores. A seguir são apresentadas e discutidas as áreas e linhas de pesquisa encontradas na literatura.

3.1.1. Aspectos gerenciais e estratégicos de gestão ambiental

Nesta área de pesquisa foram incluídos os trabalhos que abordam a gestão ambiental portuária com uma visão do gerenciamento de suas operações. As linhas de pesquisa que fazem parte desta área são: Legislação e políticas ambientais, Gestão de indicadores ambientais, Diagnóstico ambiental e Sistemas de gestão ambiental em portos.

Na primeira linha de pesquisa, referente à Legislação e políticas ambientais, o objetivo é analisar como são construídas e implantadas as políticas ambientais em portos nacionais e internacionais. Quanto à legislação ambiental estão presentes os estudos de Cunha (2006), Kitzmann, Asmus (2006), Koehler, Asmus (2010) e

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Kaiser, Bezerra, Castro (2013). Observa-se que neste assunto todos os artigos encontrados são de grupos de pesquisa brasileiros, e seus resultados sugerem que o fato de aplicar e sincronizar diferentes legislações consiste em uma barreira. Isto é, aumenta a burocracia em processos de licenciamento e dificulta o desenvolvimento de sistemas de gestão ambientais integrados a outros objetivos estratégicos de portos.

O estudo de Ying (2011) aborda o problema de integração entre as práticas ambientais adotadas pelo porto de Liaoning (província da China) e as adotadas pelo setor industrial que fica próximo ao porto. As indústrias presentes na região são em sua maioria do setor químico, que é altamente poluente. São sugeridas melhorias para todo o sistema industrial e portuário do ponto de vista ambiental.

Já o estudo de Hamza et al. (2014) discute o regime de gerenciamento de portos na Indonésia, que é totalmente público, e as mudanças nos sistemas de gerenciamento com o desenvolvimento de parcerias público-privadas para administrar o setor. Dentro deste novo modelo de gestão, a sustentabilidade é um fator fundamental e é abordada no estudo.

A linha de pesquisa referente a políticas ambientais em portos apresenta um dos maiores números de publicações com relação ao total de artigos analisados. Isto indica a forte influência das políticas públicas e legislações sobre a aplicação de um sistema de gestão ambiental integrado ao sistema geral de administração de portos. Grande parte das motivações para implantar um sistema de gestão ambiental é proveniente de leis e regulações que pressionam os portos a aumentarem suas eficiências ambientais.

Na linha de pesquisa sobre Gestão de indicadores ambientais são englobados estudos que envolvem a criação ou aplicação de sistemas de indicadores ambientais portuários. Estes estudos são importantes para medir a eficiência ambiental e para monitorar os impactos. Fazem parte desta linha os artigos de Peris-Mora et al. (2005), Saengsupavanich et al. (2009), Lirn, Wu, Chen (2013), Puig, Wooldridge, Darbra (2014), Valois (2009) e Silva (2014).

No estudo de Peris-Mora et al. (2005) desenvolveu-se um conjunto de indicadores de gestão ambiental para portos. Identifica os principais impactos ambientais gerados pelo porto de Valencia, na Espanha. Foi utilizada uma análise multicriterial para elencar os principais aspectos ambientais envolvidos na gestão de um porto e então quantifica-los. O artigo utiliza critérios da série de normas ISO 14000.

Saengsupavanich et al. (2009) avaliaram os portos de controle estatal e privados na Tailândia. Foi realizada uma análise dos indicadores de desempenho ambiental utilizados pelos portos e uma organização destes indicadores em novas categorias. Esta análise foi feita com o objetivo de obter uma visão do desempenho ambiental dos portos e também facilitar o controle dos aspectos ambientais. Os indicadores utilizados também derivam da série de normas ISO 14000.

No trabalho de Valois (2009), são propostos indicadores para controlar a água de lastro de navios, contaminações de sedimentos por metais pesados, contaminação petrogênica por hidrocarbonetos na água da bacia portuária, controle da emissão de gases do efeito estufa e o plano de gerenciamento dos resíduos

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sólidos do porto e dos navios. Porém, o objetivo foi criar indicadores a serem acrescentados ao IDA da ANTAQ, o que gerou informações técnicas isoladas. Sendo assim, a proposta de Valois (2009) não foi considerada como um modelo de avaliação de desempenho, e consequentemente não será utilizado nas avaliações subsequentes deste trabalho.

O trabalho de Lirn, Wu, Chen (2013) faz um levantamento dos principais indicadores de desempenho ambiental em portos da China, Hong Kong e Taiwan. Para selecionar os principais, os autores realizaram uma análise multicriterial utilizando o método AHP (Analytic Hierarchy Process). Este estudo também compara os portos quanto a seu desempenho ambiental.

O trabalho de Silva (2014) traz uma discussão sobre a implantação de um sistema de indicadores ambientais para portos brasileiros. São sugeridos indicadores para constituir um primeiro sistema de avaliação de portos. Porém, o autor não leva em consideração a eficiência econômica destes critérios. O trabalho foi desenvolvido baseado na experiência europeia, adaptando os indicadores do sistema europeu para a realidade brasileira.

Puig, Wooldridge, Darbra (2014) desenvolveram um método para identificar e selecionar indicadores de desempenho ambiental chamado EPI (Environmental Performance Indicators). Esta metodologia foi desenvolvida para ser aplicada em portos da União Europeia, em um projeto chamado PPRISM (Port Performance Indicators Selection and Measurement indicators) realizado em parceria com a ESPO. Também são apresentados no artigo os procedimentos de cálculo de cada indicador.

Em resumo, a linha de pesquisa de Gestão de indicadores ambientais é responsável por transformar as políticas e legislações ambientais em indicadores que possam ser medidos e controlados, o que é fundamental para operacionalizar a gestão ambiental portuária. Este tema também é importante para efeitos de comparação entre portos e entre aspectos ambientais. Estas comparações podem ser utilizadas como meio para diagnosticar impactos e elaborar planos de ação para minimizá-los.

A linha de pesquisa referente a Diagnóstico ambiental traz trabalhos que abordam a primeira etapa para a implantação de um sistema de gestão ambiental, que é o diagnóstico de seus aspectos e impactos. Para que sejam elaborados planos que aumentem a eficiência ambiental portuária de forma satisfatória, é necessário ter uma visão ampla sobre os aspectos e impactos ambientais do porto em questão.

Os trabalhos que se enquadram nesta linha são os de Darbra et al. (2004), Darbra et al. (2005), Darbra et al. (2009) e Fillol et al. (2012). Darbra et al. (2004) elaboraram um modelo de questionário para auto-diagnóstico ambiental de portos. Baseado na ISO 14001, leva em consideração o perfil do porto em questão, as atividades que já fazem parte do sistema de gestão do porto com relação a impactos ao meio ambiente, os processos de comunicação interna e externa do porto, o sistema de gestão de operações portuárias, o planejamento de situações de emergência, os sistemas de monitoramento e as audições internas.

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Darbra et al. (2005), seguindo sua linha de pesquisa anterior (DARBRA et al., 2004), focou na identificação de aspectos e impactos ambientais nos portos europeus. Assim, elaborando um modelo para identificação das principais variáveis envolvidas, e estabelecendo um ranking dos principais aspectos ou impactos que devem ser tratados como prioridade pela equipe de gestão do porto.

No trabalho de Darbra et al. (2009), foi realizado um levantamento com 26 portos europeus para entender qual a situação da gestão ambiental nos mesmos. Foram considerados aspectos como perfil do porto, atividades de gestão ambiental, necessidades ambientais e práticas de monitoramento utilizadas. Os resultados apontam que a legislação ainda é o fator mais influenciador na adoção de um sistema de gestão ambiental, e que a utilização de dados ambientais coletados ainda não é rotineira, ou seja, o sistema de gestão ambiental ainda não está totalmente integrado a administração dos portos.

No artigo de Fillol et al. (2012), discutiu-se o nível do comprometimento da alta direção da Autoridade Portuária de Valencia (APV) com o sistema de gestão ambiental do porto de Valencia, Espanha. Também, foram analisados os relatórios de sustentabilidade que já são gerados pelo porto para verificar seu nível de sustentabilidade. Os autores concluíram que o comprometimento da APV com a sustentabilidade é alto tanto na política administrativa quanto na operação do porto.

Como resultado, a pesquisa quanto ao Diagnóstico ambiental, mostra que o diagnóstico ambiental é feito por meio de questionários que buscam identificar a relação da gestão ambiental com outros aspectos do porto, para traçar uma classificação e posterior comparação de desempenho em portos. Pôde-se observar que todos os trabalhos encontrados desenvolveram e aplicaram os questionários de diagnóstico na Europa. Também foi possível verificar que estes processos de diagnóstico em sua maioria utilizam critérios da série de normas ISO 14000.

Na linha de pesquisa de Sistemas de gestão ambiental em portos foram pesquisados os sistemas de gestão ambiental implantados no porto de Santos. Nos dois trabalhos, foram realizadas entrevistas com empresas privadas que tem terminais no porto (LOUZADA, 2005; ALMEIDA, 2010) e com a autoridade portuária e agência fiscalizadora ambiental (LOUZADA, 2005).

Louzada (2005) buscou compreender como estes três elos fundamentais para a sustentabilidade do porto de Santos viam as questões ambientais presentes nos seus trabalhos. O autor concluiu que a gestão ambiental é um tema considerado importante para todos os entrevistados, e a fiscalização ambiental na época da pesquisa mostrou-se incipiente. Para a autoridade portuária, a gestão ambiental foi descrita como passível de gerar “prestígio e lucro a longo prazo” (LOUZADA, 2005, p. 104).

O trabalho de Almeida (2010) focou na avaliação do sistema de gestão ambiental em uma empresa privada que opera um terminal em Santos. O autor buscou compreender como a empresa funciona e identificar suas deficiências. Almeida (2010) então concluiu que o sistema implantado necessitava de maior atenção ao treinamento ambiental dos colaboradores.

Os dois trabalhos, portanto, buscam descrever e compreender o funcionamento dos sistemas avaliados. Além disso, também expõem pontos críticos para a questão

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ambiental no porto. Porém, sob os sistemas são avaliados segundo uma ótica técnica ambiental, e não seguindo um ponto de vista de desempenho ambiental.

3.1.2. Pesquisas quantitativas relacionadas à gestão ambiental portuária

Pesquisas que utilizam métodos quantitativos para mensurar danos ou propostas de melhoria de eficiência ambiental também foram encontradas em publicações recentes. Foi identificada uma linha de pesquisa nesta área: Redução de custos e gestão ambiental. Os trabalhos que classificados nesta linha são: Ronza et al. (2009), Wasserman, Barros, Lima (2013), Yang (2013) e Lee, Yeo, Thai (2014).

O trabalho de Ronza et al. (2009) traz um estudo sobre danos causados por acidentes em portos. O estudo compreende acidentes com vítimas, desastres ambientais (com danos a água, solo e fauna), danos a equipamentos e diminuição de lucros (referentes a prejuízos indiretos, como na imagem do porto, por exemplo). Todas estas perdas são quantificadas economicamente.

Wasserman, Barros, Lima (2013) desenvolveram um trabalho propondo uma nova técnica para dragagem de sedimentos contaminados com menor impacto ambiental e menor custo. Esta nova técnica pode reduzir os custos nesta atividade em aproximadamente 60%. Além disto, como a dragagem é realizada em uma área menor, o impacto ambiental também é reduzido.

No estudo de Yang (2013), foi aplicada a metodologia DEA (Data Envelopment Analysis) para calcular o custo de oportunidade de regulamentação ambiental em Taiwan. É calculado o OCER (Opportunity Cost of Environmental Regulations), que é o impacto da regulamentação ambiental nos portos, e é utilizado como aliado na tomada de decisão. O artigo também avalia impactos da OCER nas saídas ambientais de um porto (que são os impactos ambientais produzidos), avalia também uma sugestão de medida de eficiência econômica levando em consideração aspectos ambientais para comparação entre portos.

O trabalho de Lee, Yeo, Thai (2014) utiliza um SBM-DEA (Slack-Based Measure Data Envelopment Analysis) para analisar e comparar o desempenho ambiental dos principais portos do mundo. Calcula os custos sociais e de oportunidade para as emissões de poluentes atmosféricos nas cidades portuárias com baixa eficiência. Os resultados do estudo apontam que, de um ponto de vista ambiental, os portos de Singapura, Busan (na Coréia do Sul) e Rotterdam (na Holanda) são mais eficientes do mundo. Sendo o mais ineficiente é o de Tianjin (na China).

Os artigos contendo pesquisas quantitativas apresentam estudos importantes que relacionam a gestão ambiental com fatores econômicos e de eficiência. Estes estudos são importantes para mudar a visão de que a gestão ambiental representa aumento de custos e perda de eficiência de portos.

3.1.3. Aspectos operacionais específicos

Nesta área de pesquisa estão incluídas as seguintes linhas: Gestão ambiental na supply chain de transporte marítimo, Gerenciamento de resíduos sólidos,

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Gerenciamento de ruídos e Gerenciamento de energia. São destacados os objetivos específicos em uma área da gestão ambiental portuária, buscando otimizar o desempenho ambiental em um setor do porto.

A linha de pesquisa de Gestão ambiental na supply chain de transporte marítimo apresenta apenas um artigo, de Denktas-Sakar, Karatas-Cetin (2012). Neste estudo, são investigadas as influências de stakeholders da cadeia de suprimentos na sustentabilidade de portos. Neste artigo, além do fator ambiental, também são considerados os fatores socio-econômicos, utilizando integralmente o conceito de sustentabilidade. Segundo os autores, ter uma visão sistêmica do processo produtivo para entender as influências dos diversos stakeholders de todos os elos envolvidos é visto como um importante pré-requisito para a sustentabilidade. Sendo assim, o modelo criado pelos autores é importante para entender a sustentabilidade da cadeia inteira.

A linha de pesquisa sobre Gerenciamento de resíduos sólidos compreende a gestão da reciclagem, reuso, reaproveitamento e disposição dos resíduos que são gerados ao longo de um processo. Os trabalhos que tratam este tema são os de Mohee et al. (2012) e Jaccoud, Magrini (2014).

O artigo de Mohee et al. (2012) faz um diagnóstico ambiental no porto de Port Louis, nas Ilhas Maurício. Integra conceitos da norma ISO 14001 para tratar especificamente a gestão de resíduos sólidos. Também foi desenvolvido neste trabalho o Port Waste Management System (PWMS), modelo para gestão de resíduos sólidos em portos. Este modelo identifica aspectos ambientais significativos, necessidades de treinamento, objetivos, metas e controles ambientais para portos.

O trabalho de Jaccoud, Magrini (2014) analisa o modelo de legislação brasileira para resíduos sólidos em portos e compara com a realidade europeia. Os autores tratam da complexa legislação ambiental para resíduos sólidos em portos, e também abordam o problema das várias organizações governamentais que tem normas sobre destinação de resíduos no Brasil. O artigo dá um panorama geral sobre esta questão e traz sugestões de melhoria para o aumento do desempenho ambiental nos portos brasileiros.

O gerenciamento de resíduos sólidos é um aspecto importante da gestão ambiental, e tem legislação específica. Sendo assim, há muitas oportunidades de melhorias e aumento de eficiência na utilização de insumos e matérias-primas também em portos. Por meio da pesquisa na bibliografia foi possível observar que a questão da legislação aparece novamente como dificultador para licenciamentos ambientais. Isto acontece porque há muitas leis e muitos órgãos federais, estaduais e municipais responsáveis por regulamentar a questão. No outro artigo, de Mohee et al. (2012), foi verificado que existem muitas oportunidades de estudo acadêmico na área e também oportunidades de ganhos para os portos ao otimizar o gerenciamento de resíduos sólidos.

A linha de Gerenciamento de ruídos compreende o estudo de Murphy, King (2014), sobre gerenciamento de ruídos em portos. Devido ao fato dos portos estarem localizados próximos às cidades, controlar a emissão de ruídos é importante para o bem-estar social. Neste estudo especificamente foi examinada a

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extensão da exposição ao ruído para residentes nas imediações do porto de Dublin, na Irlanda. Foi avaliado o impacto utilizando métodos quantitativos (medição dos ruídos) e quantitativamente (entrevistando moradores da região).

Esta área tem recebido maior atenção recentemente devido ao aumento da emissão de ruídos na Europa. No trabalho de levantamento dos principais aspectos ambientais de Darbra et al (2009), o barulho gerado por portos já aparece como aspecto importante. Apesar deste tema estar mais ligado à sustentabilidade do ponto de vista social, também é possível incorporá-lo ao sistema de gestão ambiental do porto, tratando-o como impacto ambiental.

Já a linha de Gerenciamento de energia engloba o estudo de Acciaro, Ghiara, Cusano (2014). Este trabalho trata de um estudo de caso sobre o gerenciamento de energia nos portos de Genoa (Itália) e Hamburg (Alemanha). O estudo mostra as técnicas adotadas para o tema atualmente, as motivações para adotar o gerenciamento de energia e as práticas a serem utilizadas para aumentar o desempenho ambiental.

Esta linha de pesquisa (Gerenciamento de energia) pode apresentar ganhos econômicos relevantes para os portos, e também melhorar o desempenho ambiental. Como a energia é um fator crítico (e de alto custo) em muitos países, aumentar a eficiência energética pode representar um grande diferencial financeiro. O gerenciamento de energia também é parte de um sistema de gestão ambiental, e apresenta muitas oportunidades de pesquisa.

Os artigos e trabalhos acadêmicos (dissertações e teses) resultantes da revisão bibliográfica realizada demonstram os principais assuntos que estão sendo trabalhados na academia sobre gestão ambiental portuária. Do total, 65,38% dos trabalhos foram publicados a partir do ano de 2010, o que indica que o tema é atual e está atraindo o interesse acadêmico. Duas linhas de pesquisa se destacaram: a de Legislação e políticas ambientais e a de Gestão de indicadores ambientais. Isto indica que há uma preocupação em consolidar as legislações ambientais, que são grandes motivadores da implantação de sistemas de gestão ambiental, e também em criar mecanismos para avaliação dos mesmos. Com isso, percebe-se a grande importância de se ter sistemas de avaliação de desempenho ambiental, para que se tenham informações que suportem a tomada de decisão quanto à questão ambiental em portos.

3.2. Documentos publicados por entidades internacionais do setor portuário

Foram pesquisados relatórios e publicações em geral sobre o tema nas páginas da internet das seguintes organizações: ESPO, Ministério do Meio Ambiente brasileiro, EU, UNCTAD, Banco Mundial, MARPOL e ANTAQ. Optou-se por organizações que tenham interação com o setor ambiental e portuário. Porém, foram encontradas somente publicações disponíveis da ESPO e na MARPOL. A Tabela 2 traz os principais documentos encontrados sobre o tema.

Tabela 2 – Publicações de organizações sobre gestão ambiental portuária

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Objetivo da publicação Publicação

Ser um manual de boas práticas ambientais para portos europeus ESPO (2003); ESPO (2012)

Listar indicadores adaptáveis ao setor portuário para monitorar impactos ambientais PPRISM (2012)

Ser um manual para práticas ambientais quanto a prevenção de poluição causada por navios MARPOL (2011)

Fonte: adaptados de ESPO (2003), ESPO (2012), PPRISM (2012) e MARPOL (2011).

As publicações da ESPO (2003; 2012) consistem em manuais de boas práticas ambientais e trazem uma caracterização do setor portuário, questões ambientais ligadas ao porto e as principais diretrizes ambientais que relacionadas aos portos da União Europeia. A versão de 2003 é uma revisão da primeira edição do Código de Boas Práticas de 1994. Por sua vez, a versão de 2012 é uma revisão da versão de 2003. A gestão ambiental na versão de 2003 é dividida nos seguintes temas: área portuária (que engloba temas como contaminação do solo, gerenciamento de ruídos, resíduos, qualidade da água e qualidade do ar), interface navio/porto (englobando a gestão de resíduos de navios, armazenamento de cargas e cargas perigosas) e área marítima (segurança marítima e emissões dos navios). Já a versão de 2012 é chamada de ESPO Green Guide e divide os tópicos para gestão ambiental portuária da seguinte maneira: gerenciamento da qualidade do ar, conservação de energia e mudança climática, gerenciamento de resíduos, gerenciamento de ruídos, gerenciamento da qualidade e consumo da água. É importante ressaltar que a versão o Green Guide de 2012 aborda questões que foram publicadas por Darbra et al. (2004), que são resultantes do projeto ECOPORTS, o qual contou com a participação de universidades europeias. Este projeto teve como objetivo estudar a gestão ambiental portuária e consolidar um modelo para auto-diagnóstico, controle e aprimoramento desta nos portos europeus.

Além de todos estes critérios de controle ambiental, ainda é sugerido que se crie uma base de dados dos portos seguindo o EMIS (Environmental Management Information System), desenvolvido pela Fundação ECOPORTS. Este sistema consiste em criar mecanismos para auto-regulação portuária, independente da legislação local. Isto colabora para uma maior padronização entre portos europeus quanto à gestão ambiental e possibilita uma troca de experiências e auxílio entre os administradores portuários. No EMIS são sugeridas audições ambientais, sistemas de indicadores para gestão ambiental, sistema de suporte à decisão, além de ferramentas que utilizam a internet para trocas de dados entre portos europeus.

Observa-se que a versão do manual de 2003 é mais abrangente, trazendo discussões mais fundamentais para uma consolidação da gestão ambiental nos portos. Já a versão de 2012 traz questões mais específicas para o aprimoramento da mesma. Nota-se que surge uma maior preocupação com o controle e acompanhamento de variáveis ambientais.

O documento da PPRISM (2012), que traz uma lista de indicadores propostos para o controle da gestão ambiental em portos, foi resultante de um projeto realizado pela ESPO e universidades europeias entre 2010 e 2012. Este documento foi um relatório final do projeto PPRISM (Port Performance Indicators Selection and Measurement indicators) que elencou os principais indicadores de desempenho para portos europeus. Cabe ressaltar que o artigo de Puig, Wooldridge, Darbra (2014) também foi resultante deste projeto. Os indicadores foram divididos nos seguintes

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tópicos principais: tendências e estruturas de mercado, indicadores sócio-econômicos, ambientais, cadeia logística e eficiência operacional, e indicadores de governança. O projeto consistiu em avaliar os indicadores destes principais tópicos durante 18 meses, realizando entrevistas com 58 profissionais da administração portuária de 98 portos europeus de 25 diferentes países.

Quanto aos indicadores ambientais, os grupos de indicadores citados como mais aceitos e praticáveis são: pegada de carbono (referente a emissões), resíduos gerados, efluentes e gestão ambiental. Este último seria proposto como um conjunto de possíveis indicadores que informariam a eficiência ambiental, custos e riscos ambientais, adequação à legislação ambiental, ou qualquer outro tópico que possa ser calculado como índice ou como uma medida de eficiência. É destacado no relatório que cada porto tem características únicas e isso afetará a gestão ambiental do mesmo e suas medidas de controle. O relatório ainda salienta a necessidade e importância de se manter uma base de dados de informações sobre os sistemas de gestão ambiental e o desempenho ambiental dos portos. Nota-se que neste relatório são apresentadas questões importantes, como a formação de um banco de dados, preocupação com a qualidade dos dados disponíveis e o conceito de eficiência.

O documento publicado pela MARPOL (2011) traz os principais protocolos a serem seguidos pelas autoridades portuárias para prevenção de poluição. Nesta versão publicada em 2011, são retomados outros protocolos anteriores sobre o mesmo tema, atualizando-os quanto à situação atual da preservação do meio ambiente, de navios mais modernos e de novas técnicas para evitar a poluição. Apesar de tratar sobre um tema importante para a preservação do ambiente e ter impacto na gestão ambiental dos portos, é uma publicação bastante técnica e não abrange todas as questões pertinentes na gestão ambiental de um porto.

3.3. Dados publicados pela ANTAQ

A ANTAQ é o órgão governamental brasileiro responsável pelos portos, e nos últimos anos vem desenvolvendo uma metodologia de avaliação da gestão ambiental portuária para o Brasil. Foi desenvolvido o IDA (Índice de Desempenho Ambiental), que busca, por meio de uma análise multicritério utilizando o método AHP (Analytic Hierarchy Process, ou Processo de Análise Hierárquica), avaliar critérios ambientais nos portos. Este índice foi criado com o auxílio de especialistas e apoiado em uma pesquisa a bibliografia acadêmica (ANTAQ, 2015). Existem quatro categorias para avaliação dos portos: econômico-operacional, sociológico-culturais, físico-químicos e biológicos-ecológicos, cada uma com um peso. Cada uma destas categorias possui indicadores globais e específicos com seus respectivos pesos, os quais estão descritos na Tabela 3. Com base na Tabela 3, observa-se que as categorias são amplas e buscam englobar muitos aspectos ambientais de um porto.

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Tabela 3 – Indicadores globais e específicos do IDA

(continua)

Categorias Indicadores Globais Peso Indicadores Específicos Peso

Cate

go

ria E

co

mic

o-O

pera

cio

nal

GOVERNANÇA AMBIENTAL 0,217

Licenciamento ambiental do porto 0,117

Quantidade e qualificação dos profissionais no núcleo ambiental 0,033

Treinamento e capacitação ambiental 0,016

Auditoria ambiental 0,05

SEGURANÇA 0,16

Banco de dados oceanográficos/hidrológicos e meteorológicos/climatológicos 0,016

Prevenção de riscos e atendimento a emergência 0,108 Ocorrência de acidentes ambientais 0,036

GESTÃO DAS OPERAÇÕES PORTUÁRIAS

0,098

Ações de retirada de resíduos de navios 0,065

Operações de contêineres com produtos perigosos 0,033

GERENCIAMENTO DE ENERGIA

0,028

Redução do consumo de energia 0,019

Geração de energia limpa e renovável pelo porto 0,006

Fornecimento de energia para navios 0,002

CUSTOS E BENEFÍCIOS DAS AÇÕES AMBIENTAIS

0,068 Internalização dos custos ambientais no orçamento 0,068

AGENDA AMBIENTAL 0,039

Divulgação de informações ambientais do porto 0,004

Agenda ambiental local 0,018

Agenda ambiental institucional 0,01

Certificações Voluntárias 0,007

GESTÃO CONDOMINIAL DO PORTO ORGANIZADO

0,11

Controle do desempenho ambiental dos arrendamentos e operadores pela Autoridade Portuária 0,038 Licenciamento ambientais das empresas 0,026 Plano de Emergência Individual dos terminais 0,015

Auditoria ambientais dos terminais 0,008 Planos de Gerenciamento de Resíduos Sólidos dos terminais 0,011 Certificações voluntárias das empresas 0,004 Programa de educação ambiental nos terminais 0,008

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Tabela 3 – Indicadores globais e específicos do IDA

(conclusão)

Categorias Indicadores Globais Peso Indicadores Específicos Peso

Cate

go

ria

cio

-C

ult

ura

l EDUCAÇÃO AMBIENTAL 0,05 Promoção de ações de educação ambiental 0,05

SAÚDE PÚBLICA 0,025

Ações de promoção da saúde 0,008

Plano de contingência de saúde no porto 0,017

Cate

go

ria F

ísic

o-Q

uím

ica

Monitoramento da Água *

Qualidade amb. do corpo hídrico 0,025

Drenagem Pluvial *

Ações para Redução e Reuso da Água *

Monitoramento do Solo e Material Dragado

0,024 Área Dragada e de Disposição 0,012

Passivos Ambientais 0,012

Monitoramento do Ar e Ruído *

Poluentes atmosféricos (gases e particulados) *

Poluição Sonora * Monitoramento de Resíduos Sólidos

0,08 Gerenciamento de Resíduos Sólidos 0,08

Cate

go

ria

Bio

lóg

ico

-E

co

lóg

ica

BIODIVERSIDADE 0,049

Monitoramento de Fauna e Flora 0,01

Animais sinantrópicos 0,029

Espécies aquáticas exóticas/invasoras 0,01

Fonte: adaptado de ANTAQ, 2015.

A categoria com o peso mais representativo é a econômico-operacional, o que indica que há uma preocupação para que a gestão ambiental esteja bem consolidada e que a eficiência ambiental do porto contribua para a sua eficiência global. O indicador global que tem o maior peso é o de governança ambiental, e o indicador específico com maior peso é o de licenciamento ambiental. Há um indicador global para medir o custo e o benefício de ações ambientais, e um indicador específico associado a ele que mede a internacionalização dos custos ambientais no orçamento.

Para definir a nota final de um indicador específico do porto, a autoridade portuária deve responder a 4 questões. O porto que atender aos quatro requisitos obterá nota máxima, 5, se atender a três das opções terá nota 4, se atender a duas questões terá nota 3, se atender a apenas uma terá nota 2 e se não atender a nenhuma das opções, a nota será 1. Por exemplo, para o indicador específico de internalização dos custos ambientais, as quatro questões são:

“Há componentes de custos ambientais incluídos nas taxas portuárias?”;

“Há dotação orçamentária específica para o Núcleo Ambiental?”;

“É feito o acompanhamento discriminado dos custos ambientais?”;

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“Foram definidas metas de desempenho e são utilizados indicadores de eficiência?”.

Após definir a nota de cada indicador específico, estas são ponderadas para a obtenção da nota final de cada indicador. Observa-se que neste indicador, por exemplo, há um item que verifica se os portos monitoram seus custos ambientais, porém não há uma definição do conceito utilizado para o custo ambiental, nem se faz necessário explicitar o valor referente a estes custos. Isto demonstra o caráter organizacional dos indicadores, que buscam avaliar se o porto possui uma estrutura funcional capaz de monitorar aspectos ambientais. Porém, desta maneira, não se obtém resultados numéricos que realmente meçam o desempenho ambiental. Este modelo pode ter um caráter introdutório ao tema, buscando implantar a cultura ambiental nos portos, porém precisa evoluir para medir de fato o desempenho.

A avaliação mais recente do IDA foi realizada em 2014, e a Tabela 4 apresenta os 15 melhores colocados dentre os portos analisados. Os portos aparecem em ordem decrescente conforme seu desempenho.

Tabela 4 – Resultado do IDA de 2014

2º Semestre de 2014

Portos Organizados Ak

Categoria de Indicadores Ambientais IDA

Cm Cm Cm Cm

Econômico-Operacionais

(w1 = 0,72)

Sociológico-Culturais (w2=0,07)

Físico-Químicos (w3 = 0,16)

Biológico-Ecológicos (w4 = 0,05)

VGk

São Sebastião/SP 97,69 91,49 95,35 74,57 95,73

Itajaí/SC 91,23 91,49 98,43 100,00 92,81

Itaquí/MA 79,48 83,34 95,14 80,00 82,26

Paranaguá/PR 77,25 91,49 87,68 100,00 81,07

Fortaleza/CE 73,74 79,22 82,01 80,00 75,76

Suape/PE 72,01 91,49 69,70 65,27 72,76

Rio Grande/RS 58,37 83,34 75,76 100,00 70,90

Angra dos Reis/RJ 74,20 36,77 77,64 34,57 70,02

Natal/RN 68,80 75,75 57,59 72,55 67,73

Niterói/RJ 70,05 19,21 83,54 34,57 66,66

Forno/RJ 63,18 50,90 81,55 45,50 64,30

Santos/SP 62,91 91,49 59,67 54,57 64,12

Santarém/PA 60,02 100,00 74,39 34,57 64,02

São Francisco do Sul/SC 51,56 83,34 87,53 100,00 61,97

Belém/PA 62,59 42,39 74,39 39,84 61,83

Fonte: adaptado de ANTAQ, 2015.

Nota-se que cinco dos quinze primeiros colocados obtiveram nota acima de 75, o que é considerado o nível mais alto de desempenho. Entre 50 e 75, os portos estão no segundo maior nível. Entre 25 e 49, ficam no terceiro nível, e abaixo de 25,

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estão no nível mais crítico. Entre os 30 portos que foram avaliados, 56% estavam no segundo nível de avaliação, com notas entre 50 e 75.

4. Discussão dos sistemas de avaliação da gestão ambiental portuária com uma perspectiva econômica e financeira

Foram encontrados 6 modelos de indicadores para o sistema de gestão ambiental em portos: o de Peris-Mora et al. (2005), Lirn, Wu, Chen (2013), Puig, Wooldridge, Darbra (2014) (desenvolvido no projeto de PPRISM(2012), Saengsupavanich et al.(2009), Silva (2014) e o da ANTAQ (2015). Um comparativo dos indicadores propostos está exposto na Tabela 5.

Tabela 5 – Sistemas de indicadores encontrados na literatura

Autor Categorias de indicadores propostos Número de indicadores

Peris-Mora et al. (2005)

Categorias de indicadores

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Qualidade do ar

Poluição sonora

Qualidade da água

Qualidade do solo

Geração de resíduos

Consumo de recursos naturais

Lirn, Wu, Chen (2013)

Gestão da qualidade do ar

17

Gestão da poluição estética e sonora

Gestão de resíduos sólidos e poluição

Gestão da poluição da água

Preservação da vida marinha

Puig, Wooldridge, Darbra (2014) / PPRISM (2012)

Indicadores de gestão 37

Indicadores operacionais

Saengsupavanich et al. (2009)

Sucesso

15

Consciência

Determinação

Prevenção

Cobertura política

Silva (2014) Indicadores de desempenho gerencial

24 Indicadores de desempenho operacional

ANTAQ (2015)

Econômico-Operacional

38 Sócio-Cultural

Físico-Química

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Biológico-Ecológica

Fonte: adaptado de PPRISM (2012), Lirn, Wu, Chen (2013), Puig, Wooldridge, Darbra (2014), PPRISM (2012), Saengsupavanich et al.(2009), Silva (2014) e ANTAQ (2015).

Observa-se que todos os modelos geram informações técnicas para a gestão ambiental, onde os principais critérios de controle são os impactos à água, ao ar, ao solo e a geração de ruídos, por exemplo. Dos sistemas de indicadores apresentados na Tabela 5, apenas dois, ANTAQ (2015) e Saengsupavanich et al. (2009), tem indicadores específicos para monitorar custos ambientais nos portos, os quais estão descritos na Tabela 6. Porém, como discutido anteriormente, o indicador da ANTAQ não mede o custo ambiental, somente questiona a autoridade portuária se há procedimentos para identificação destes. Já o segundo modelo, o de Saengsupavanich et al.(2009), possui dois indicadores que contemplam o assunto. No entanto, os autores concluem que não há bases de dados que possibilitem a aplicação prática dos indicadores. Sendo assim, observa-se que há uma lacuna nos modelos identificados. Estes geralmente não contemplam questões econômicas e financeiras na avaliação do desempenho ambiental, e quando o fazem ainda há deficiências nos critérios de análise ou quanto à disponibilidade de informações necessárias.

Tabela 6 – Sistemas de indicadores que propõe o monitoramento de custos ambientais

Autor Categoria Indicador

ANTAQ (2015) Econômico-Operacional Internalização dos custos ambientais no orçamento

Saengsupavanich et al. (2009)

Determinação Taxas e subsídios Despesas e investimentos ambientais

Fonte: adaptado de ANTAQ (2015) e Saengsupavanich et al. (2009).

5. Conclusão

Portos são organizações complexas que tradicionalmente são responsáveis por grande parte do comércio internacional. Devido a sua complexidade, várias são as áreas que podem ser objeto de estudos na administração portuária. Uma destas áreas é a ambiental, acompanhando uma tendência de maior preocupação com o impacto ao meio ambiente gerado pelas atividades humanas.

Além de diminuir o impacto ambiental gerado pelos portos, a gestão ambiental pode contribuir para uma análise crítica de processos internos e, assim, contribuir para o desempenho global do porto. Porém, é preciso compreender os impactos econômicos e financeiros atrelados a este novo sistema de gestão. Para compreender este tema e os sistemas de avaliação de desempenho ambiental da perspectiva econômica e financeira, fez-se necessária a realização de uma revisão bibliográfica. A aplicação desta revisão apresentou como resultados 22 artigos científicos, 4 trabalhos acadêmicos (teses e dissertações), 4 relatórios de organizações do setor portuário, além dos relatórios publicados no site da ANTAQ.

Sobre os modelos de indicadores para avaliação de desempenho ambiental, notou-se que parte deles foca exclusivamente na geração de dados técnicos. Os

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dois únicos modelos que possuem algum indicador relacionado ao desempenho econômico e financeiro são os de Saengsupavanich et al.(2009) e da ANTAQ (2015). Porém, a metodologia de Saengsupavanich et al.(2009) não foi aplicada devido à falta de dados necessários ao monitoramento dos custos. Já a metodologia da ANTAQ (2015) não é capaz de determinar os custos ambientais, somente de avaliar a capacidade do porto em identifica-los e monitorá-los. Ou seja, há uma deficiência nos modelos propostos quanto ao gerenciamento de custos ambientais, que devem ser levados em consideração nas tomadas de decisões. As informações técnicas são importantes, mas para que a gestão ambiental seja totalmente integrada à gestão do porto, é necessário que sejam geradas informações de desempenho econômico e financeiro que auxiliem no aumento da eficiência global portuária.

Sendo assim, conclui-se que há uma necessidade de novas pesquisas sobre os sistemas de gerenciamento ambiental portuário, onde sejam propostos novos modelos que contemplem critérios econômicos e financeiros na avaliação de desempenho ambiental. O que abre espaço para a elaboração de novas pesquisas na área, dando origem a trabalhos futuros, sejam eles teóricos ou aplicados.

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