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Gerenciamento dos riscos biológicos ApesAr de cAminhAr A pAssos curtos, gestão desses riscos é reAlidAde em AlgumAs AtividAdes.

por Carlos FranCis | [email protected]

Fotos osíris Bernardino e divulgação

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Sabe-se que o risco biológico está relacionado à probabilidade de exposição a agentes biológicos que compreendem vírus, bactérias, fun-gos, protozoários e animais parasitas capazes de causar danos à saúde das pessoas. Venenos, toxinas e outras substâncias produzidas ou derivadas de seres vivos podem ser considera-dos tanto como agentes biológicos quanto como agentes químicos.

No dia-a-dia das atividades la-borais os efeitos para a saúde do trabalhador compreendem princi-palmente as infecções que variam de assintomáticas a letais, dependendo do agente biológico envolvido e do estado de saúde do trabalhador ex-posto. Porém, agentes biológicos também podem causar parasitoses, intoxicações, alergias, cânceres, do-enças autoimunes e danos ao feto (teratogênese).

Normalmente, os agentes biológi-cos presentes nos ambientes de traba-lho são os mesmos da localidade onde estes ambientes estão situados. Isto porque, diferentemente dos agentes químicos e físicos, os agentes bioló-gicos podem ser transmitidos de uma pessoa doente a outra saudável ou, a partir de fontes de exposição presen-tes em vários lugares, não somente nos ambientes de trabalho.

Por isso, é importante determinar

se essas fontes estão presentes no ambiente ocupacional e quais doen-ças transmissíveis a população traba-lhadora possa adquirir.

Além das próprias pessoas, in-cluindo os trabalhadores e os pacien-tes quando se tratar de serviços de saúde, outros exemplos de fontes po-tenciais são os materiais perfurocor-tantes, sistemas de condicionamento de ar, alimentos, fontes de água, ani-mais, carcaças, lixo contendo mate-rial orgânico, dejetos de animais e humanos.

Há muitas atividades em que estes riscos estão presentes. Desde aquelas que envolvem assistência à saúde humana ou animal, fabri-

cação e comércio de alimentos, restaurantes, indústria de carnes e pescados, frigoríficos, abatedou-ros, curtumes, até atividades en-volvendo resíduos (coleta, trata-mento e disposição), saneamento e esgoto, agricultura e pecuária, necrotérios, controle de vetores, silvicultura e pesca.

Segundo a pesquisadora da Fundacentro, Érica Lui Reinhardt, é muito difícil, talvez impossível, definir em qual dessas atividades o risco biológico está mais presente. Afinal, ele varia quantitativa e quali-tativamente e, certamente, a ativida-de que ele está mais relacionado é a de assistência à saúde.

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Dados disponibilizados no site do projeto www.riscobiologico.org, co-ordenado pela doutora em infectolo-gia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Cristiane Rappa-rini, dão conta que, historicamente, os profissionais de saúde não eram considerados como categoria profis-sional de alto risco para acidentes de trabalho. A preocupação com riscos biológicos surgiu a partir da consta-tação dos agravos à saúde dos profis-sionais que exerciam atividades em laboratórios onde se dava a manipu-lação com microrganismos e material clínico desde o início dos anos 40.

Para profissionais que atuam na área clínica, entretanto, somente a partir da epidemia da aids nos anos 80, as normas para as questões de segurança no ambiente de trabalho foram mais bem estabelecidas.

A maioria dos dados disponíveis sobre o total da força de trabalho da área de saúde no Brasil vem dos cen-sos demográficos nacionais de regis-tros administrativos do Ministério do Trabalho, como a Relação Anu-al de Informações Sociais (RAIS) e o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), e dos Conselhos Federais de Medicina, Enfermagem, Odontologia e outras profissões da saúde.

Virtualmente, qualquer categoria profissional pode estar sob risco. Além disso, visitantes e outros profissionais que estejam ocasionalmente nos ser-viços de saúde também podem sofrer exposições a material biológico.

O número de contatos com san-gue, incluindo exposições percu-tâneas e mucocutâneas, varia con-forme as diferentes categorias pro-fissionais, as atividades realizadas e os setores de atuação dentro dos

Érica Lui Reinhardt, pes-quisadora da Fundacentro

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serviços de saúde. Trabalhadores da área cirúrgica, paramédicos e profis-sionais de setores de atendimento de emergência são descritos como pro-fissionais de alto risco de exposição a material biológico.

Ainda de acordo com o Projeto, os riscos de exposição entre médicos variam conforme as diferentes espe-cialidades. E, conforme as estatísti-cas observadas, a equipe de enferma-gem é uma das principais categorias sujeita a exposições a material bio-lógico. Esse número elevado de ex-posições relaciona-se com o fato de o grupo ser o maior nos serviços de saúde, ter mais contato direto na as-sistência aos pacientes e também ao tipo e à frequência de procedimentos realizados por seus profissionais.

Controle dos risCos BiológiCos

Para a pesquisadora da Fundacen-tro, para se fazer o controle dos ris-cos biológicos nos serviços de saúde,

por exemplo, deve-se observar o dis-posto na NR 9 e também a hierarquia de medidas de controle, abrangendo os controles administrativos, de en-genharia e as mudanças nas práticas de trabalho e uso de EPIs.

De acordo com ela, outro fator fundamental é que o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) esteja integrado ao Progra-ma de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO), pois este úl-timo servirá de fonte de dados para avaliar o primeiro. Porém, um dife-rencial em relação aos serviços de saúde está na existência das chama-das medidas de precaução – padrão e por via de transmissão. “Essas me-didas devem ser empregadas quando são feitas tarefas de atendimento ao paciente, independente de ele possuir uma doença diagnosticada”, destaca a pesquisadora.

Érica Lui ainda ressalta que as precauções padrão são aplicáveis no atendimento a todo e qualquer paciente e as precauções por via de transmissão específica – aérea, gotí-

culas ou no contato direto – devem ser usadas em conjunto com as pre-cauções padrão e na suspeita de uma doença transmitida por qualquer uma dessas vias. “Outro diferencial diz respeito ao controle dos aciden-tes com materiais perfurocortantes, que são uma fonte de exposição bastante específica aos serviços de saúde. Muitas vezes esse controle só será feito de forma efetiva com a im-plantação de um programa de gestão específico”, salienta.

Em vigor há três anos, mais pre-cisamente, desde o dia 16 de novem-bro de 2005, a Norma Regulamen-tadora 32 (NR-32) que dispõe sobre Segurança e Saúde no Trabalho em estabelecimentos de saúde traz, em seus capítulos, entre outros, de for-ma minuciosa, as diretrizes a serem adotadas na prevenção dos riscos biológicos. Vale ressaltar que a NR-32 surgiu da necessidade típica do setor, tais como riscos biológicos, exposição a agentes químicos e aci-dentes com materiais perfurantes. Ela foi aprovada, no final de 2005, pela Comissão Tripartite Paritá-ria Permanente (CTPP). A partir da publicação em 15 de novembro de 2005, as empresas obtiveram uma prazo de 17 meses para se adequa-rem à legislação.

“A NR 32 preconiza que, para um bom controle dos riscos biológi-cos, deve haver uma boa integração entre o PPRA e o PCMSO e que a CCIH (Comissão de Controle de In-fecção Hospitalar) deve participar ativamente da elaboração e execução dos dois programas. Esta integração tem o objetivo de fazer com que a experiência desta comissão sobre o controle dos riscos biológicos para o paciente seja aproveitada também na proteção ao trabalhador da saúde.

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Além disso, a NR-32 incorporou vá-rias das medidas existentes nas pre-cauções padrão, transformando-as em itens da norma”, destaca a pes-quisadora da Fundacentro.

guia téCniCo

Passados três anos após a publi-cação da NR-32, com o objetivo de esclarecer, de maneira didática, in-formações aos trabalhadores, empre-gadores e técnicos da área de saúde sobre a Norma Regulamentadora 32, o Ministério do Trabalho e Empre-go lançou o Guia Técnico de Riscos Biológicos.

Trata-se de uma publicação ela-borada pela Comissão Permanente de Discussão da NR-32, formada por trabalhadores, empregados e técnicos do ministério e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Entre outras elucidações, o guia disponível no site do MTE, define as atividades correlatas ao serviço de

saúde, como promoção, assistência, pesquisa e ensino; trata da probabi-lidade da exposição ocupacional aos agentes biológicos, tais como mi-crorganismos, parasitas e toxinas. A “cartilha” ajuda também na elabora-ção do PPRA esclarece como efetuar o reconhecimento dos riscos biológi-cos, as fontes de exposição e as me-didas preventivas a serem adotadas.

Para Luiz Carlos Fonseca, da gerência-geral e Tecnologia em Ser-viços da Anvisa, que representou a agência na elaboração do guia técni-

Luiz Carlos Fonseca

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co, a construção do guia representa um elemento facilitador na interpre-tação das orientações contidas na NR-32. “A Anvisa tem assento na Comissão Tripartite Permanente da NR-32, tendo participado ativamen-te na construção do documento”, co-menta.

Ainda de acordo com Fonseca, o controle de riscos não é prerro-gativa exclusiva da Anvisa. O ge-renciamento de riscos é inerente a qualquer atividade e em especial na assistência à saúde, envolvendo os riscos para o indivíduo, a coletivi-dade e os trabalhadores. “O conceito de controle de riscos é aplicável a todos os serviços, não se restringin-do ao ambiente hospitalar. Portanto, o alcance das resoluções da Anvisa consolida este conceito”, destaca. Para a diretora do departamento de segurança e saúde no trabalho do MTE, Júnia Maria de Almeida Bar-reto, o guia de riscos biológicos tem por objetivo trazer subsídios a em-pregadores, trabalhadores e técnicos da área de saúde para uma melhor compreensão e aproveitamento da NR-32. Segundo ela, embora a nor-ma seja específica para as atividades desenvolvidas nos serviços de saú-

de, o seu conteúdo, assim como o do guia técnico, podem servir como base para implementação de medi-das preventivas em qualquer outra atividade que apresente os mesmos riscos. “Um sistema de gestão dos riscos, sejam eles biológicos ou ou-tros, coloca em prática os princípios de prevenção: planejar a prevenção e executar a política concernente à se-gurança e saúde dos trabalhadores na execução de suas atividades, visando dominar os riscos para a segurança e saúde dos trabalhadores, detectan-do, analisando e fixando medidas de prevenção concretas”, analisa.

gerenCiando os risCos BiológiCos

Conforme cresceram os debates em torno dos riscos biolólogicos e, consequentemente da sua necessida-de de criar dispositivos de proteção a segurança e saúde do trabalhador, passou-se também, mesmo que ainda restrito aos serviços de saúde, uma necessidade de se construir modelos de um programa de gestão dos riscos biológicos. Assim, como qualquer outro programa, aplicando os prin-cípios do ciclo de melhoria continua, com suas etapas de planejamento, execução, verificação e ajuste do programa, ressaltando que o envol-vimento e comportamento de todos, especialmente da alta administração, são fundamentais para o sucesso deste tipo de programa.

De acordo com Flávio Andra-de de Almeida, médico e diretor da MK Assessoria de Saúde, empresa especializada em oferecer soluções integradas em Segurança, Saúde, Qualidade de Vida do Trabalhador e Meio Ambiente, estão presentes em

inúmeras atividades e, independente destas, o modelo de gerenciamento dos seus riscos devem seguir uma ro-tina. Segundo ele, a grande diferença dos riscos de contaminação bioló-gica hospitalar em relação às outras atividades se diferencia pela diversi-dade de serviços ofertados por uma instituição hospitalar.

Almeida explica que um servi-ço de saúde, por exemplo, oferece serviços de natureza tão diversas e, cada um deles está relacionado com inúmeras formas de exposição não apenas ao trabalhador, como tam-bém aos pacientes, acompanhantes e os trabalhadores terceirizados, este último, na maioria das vezes circula pelos ambientes, como por exem-plo, UTIs e salas de cirurgia sem ter qualquer conhecimento dos ris-cos biológicos. “Portanto, o serviço hospitalar tem uma necessidade de construir um modelo de gestão mais completo”, comenta.

Segundo ele, ao implementar um programa de gerenciamento de risco biológico, é necessário que a insti-tuição olhe para o tema como uma prioridade, levando ao centro do debate a segurança e saúde do traba-lhador. “Aí você começa a discutir o tema de outra forma, não apenas para cumprir uma normatização, mas

Flávio Andrade De Almei-da, médico e diretor da MK Assessoria de Saúde

Júnia Maria de Almeida Barreto

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para orientar o trabalhador sobre a melhor forma de se proteger do risco biológico, pois não se trata apenas de escolher este ou aquele equipamento de segurança. Trata-se de compre-ender que aquele ambiente precisa estar seguro e todas as pessoas que atuam nele necessitam ter um nível de informação”, explica.

De acordo com ele, para atingir este nível de excelência, é preciso que este programa de gerenciamento ofereça um treinamento específico e diferenciado. E, ao se implementar este programa, deve-se em um pri-meiro momento buscar diagnosticar em qual estágio de segurança do tra-balhador a instituição se encontra, isso porque, geralmente a institui-ção sabe que tem um engenheiro de segurança, um médico do trabalho

e sabe que eles estão realizando os períodos, porém, o RH nem sempre possui estas informações. Então, é necessário promover esta integração, fazer uma análise documental, ana-lisar se estes itens da documentação estão em conformidade, ver o que necessita ser feito, observar quais se-rão as ações coletivas e o tempo para deixá-los em conformidade.

Já numa outra etapa do processo, se faz uma visita em todos os setores (centro cirúrgico, UTI, refeitórios e lavanderias) para fazer as suas obser-vações e, por último, realizar entre-vistas com os responsáveis de cada setor para saber como eles enxergam a questão dos riscos. “Com esta aná-lise de documentos, visita e entre-vistas, a instituição tem elementos para fazer um diagnóstico detalhado

e partir para a elaboração de uma proposta de revisão dos itens. Ge-ralmente, com a implantação de um cronograma que inclui desde corre-ções das inconformidades encontra-das até um cronograma das incon-formidades. Isso tudo deve ser feito com a participação de profissionais da própria instituição”, orienta.

gerenCiamento dos risCos na prátiCa

No Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, a questão do gerencia-mento dos riscos biológicos, as re-soluções da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e do Conselho Nacional do Meio Am-biente (Conama) associadas à NR-32

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e demais regulamentos, são as refe-rências principais que a instituição utiliza no cuidado com os resíduos produzidos. Além disso, de acordo com o médico Paulo Leal, gerente de saúde do colaborador do Hospital Sí-rio Libanês, não basta ensinar como segregar o resíduo. Segundo Leal, é fundamental que cada colaborador compreenda o significado da pre-sença de agentes contaminantes ou tóxicos no meio ambiente, dos riscos à saúde e como o colaborador pode contribuir para a prevenção de doen-ças e preservação ambiental, inclusi-ve no dia-a-dia. A informação qua-lificada, capacitação e treinamentos continuados são as principais ferra-mentas de gestão.

Subordinada diretamente à Supe-rintendência de Gestão de Pessoas e Qualidade, a Gerência de Saúde do Colaborador do hospital criou uma área que agrupa quatro núcleos: Me-dicina do Trabalho, Segurança do Trabalho, Qualidade de Vida e Psi-cologia no trabalho, posicionando-os em um mesmo e integrado rumo. Ou seja, o Sesmt convencional foi ampliado na capacidade de atuação, ultrapassando o regulamento formal buscando abranger o cidadão-tra-balhador ao máximo, entendendo melhor suas necessidades, preocupa-ções e anseios, favorecendo a cria-ção de opções dentro e fora do horá-rio de trabalho de maneira a conferir mais qualidade à sua vida e de seus familiares.

Segundo Leal, a criação de co-mitês para revisão do PCMSO e PPRA trouxe o colaborador para mais perto das normas regulamenta-doras e da importância da prevenção de doenças e acidentes bem como promoção de saúde. “O colabora-dor capacitado compreende melhor

a existência do risco nas atividades ou no ambiente e passa a contribuir na identificação e minimização des-ses riscos. A vigilância orientadora da segurança do trabalho com suas rondas educativas são ferramentas de transmissão de informações di-

versas, desde conceitos a técnicas de proteção individual, coletiva e ambiental”, explica Leal.

Para a Diagnósticos da América, empresa de Medicina Diagnóstica da América Latina, uma etapa de extre-ma importância dentro do processo de prevenção e combate aos riscos biológicos, é o reconhecimento dos riscos ambientais de cada processo da empresa. De acordo com Josélia Lupo Poani, gerente de qualidade, esta análise vai oferecer condições de identificar fatores ou situações potenciais de riscos à saúde do tra-balhador. “Mediante a análise nos locais de trabalho, podemos definir as medidas de controle, visando o monitoramento e controle da saúde do nosso colaborador”, explica.

Paulo Leal, gerente de saú-de do colaborador do Hos-pital Sirio Libanês

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Com mais de 280 unidades dis-tribuídas em várias regiões do país, cada unidade geradora tem um plano de gerenciamento com uma equipe de profissionais especializados na área. Eles compõem o quadro de especialistas de segurança e saúde no trabalho e meio ambiente e de-terminam o procedimento indicado para cada tipo específico de resíduo gerado.

O treinamento dos funcionários para a segregação dos resíduos é fei-to de forma sistêmica e regular, re-sultando, segundo a gerente de qua-lidade, no correto encaminhamento para coleta, tratamento e disposição final, reduzindo as despesas com o tratamento e minimizando os impac-tos ambientais. Ainda de acordo com a gerente, para garantir resultados efetivos neste processo, toda a gestão dos processos administrativos, a atu-ação da equipe do Sesmt, as audito-rias periódicas e o suporte da gestão corporativa, formam as ferramentas de controle que a empresa utiliza na busca de uma gestão proativa na pre-venção da saúde do trabalhador.

Com quatro unidades de negó-cios: Fleury Medicina Diagnóstica, NKB Medicina Diagnóstica, Fleu-ry Hospital-Dia e Fleury Gestão de Saúde, o Grupo Fleury, empresa de medicina e saúde aposta no poten-cial do grupo denominado de biose-gurança – equipe composta de um corpo multidisciplinar envolvendo o Sesmt e as áreas diretamente liga-das ao risco biológico. “Com a atu-ação dos profissionais deste grupo, nós conseguimos através dos trei-namentos, reciclagem e verificação de rotinas, conscientizar nossos co-laboradores sobre os riscos biológi-cos”, explica Alexandre Desio Tos-cano, gerente de saúde e segurança

ocupacional. Nesta linha de ação, os médicos

considerados líderes nas áreas rece-bem treinamento diferenciado para dar orientações aos enfermeiros e demais colaboradores que ficam ex-postos aos riscos biológicos.

Os terceirizados recebem os trei-namentos específicos (da mesma maneira como os funcionários ad-mitidos pelo Grupo). Além disso, o Sesmt deles é de ações voltadas aos riscos biológicos. “A gente entende que a prestação terceirizada é indis-pensável nos dias de hoje a qualquer atividade, daí a necessidade de fazer com que estes se alinhem aos nossos propósitos”, comenta.

Para que sejam evitadas possí-veis ocorrências de contaminação em suas atividades, a ControlBio, laboratório de ensaios microbiológi-cos, responsável pela realização de análise de diversos segmentos, como por exemplo, alimentos, produtos farmacêuticos, cosméticos e outros, dentro da sua gestão de riscos bio-lógicos, segue a risca seus padrões operacionais no dia-a-dia. Para se ter uma idéia destes procedimentos, todo material para análise que che-ga diariamente ao laboratório, passa

por uma rigorosa triagem até o seu processo de descarte. Desta forma, as amostras são recebidas e verifi-cadas por meio de um formulário de recebimento e encaminhamento de amostras. Após a verificação inicial, as amostras necessitam de refrigera-ção, por isso, são acondicionadas em local apropriado para manter a inte-gridade física.

Após o registro do material, uma ordem de serviço é gerada, onde são discriminados os ensaios solicitados pelos clientes. Também no siste-ma é gerada uma folha de trabalho (pré-laudo), neste documento são registrados os resultados obtidos no ensaio realizado que são arquivados na secretaria.

O setor de recebimento de mate-riais notifica o laboratório da chega-da das amostras e as envia dentro de caixas específicas (separadas por la-

Alexandre Desio Toscano, gerente de saúde e segu-rança ocupacional do Gru-po Fleury

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boratório) para evitar possíveis con-taminações cruzadas. No laboratório as amostras são checadas novamente e anotadas no livro de registros de amostras do laboratório.

Toda amostra enviada ao labo-ratório obedece ao fluxo de entra-da e saída de materiais. Caso seja identificada alguma irregularidade no recebimento da amostra, é feito contato imediato com o cliente in-formando as dúvidas e possíveis ir-regularidades.

As amostras permanecem arma-zenadas do setor de recebimento até o momento de serem enviadas para os laboratórios. O setor de recebi-mento de materiais dispõe de equi-pamentos adequados para este arma-zenamento. O descarte das amostras é de responsabilidade do laboratório que processa o ensaio, as mesmas permanecem armazenadas por no máximo 10 dias.

O lixo biológico é recolhido duas vezes ao dia sem ultrapassar o perío-do de seis horas. Ele jamais deve ser

deixado pelos corredores do labora-tório. Devem ficar em local adequa-do dentro dos laboratórios.

No caso de resíduos biológicos contaminados, estes são acondicio-nados em embalagem apropriada, colocados dentro das caixas específi-cas que devem ser identificadas com o símbolo de Lixo Biológico para o processo de autoclavação na área externa do laboratório. Após este

processo são armazenados em local próprio para ser retirado por empresa credenciada para incineração.

De acordo com a diretoria técni-ca e especialista em microbiologia, Maria José Silveira, além destes pro-cedimentos, a empresa busca perio-dicamente por meio de uma série de treinamentos específicos, informar e conscientizar os colaboradores sobre a necessidade de se proteger contra os riscos de contaminação. Outra medida indispensável destacada pela diretora técnica, diz respeito ao uso correto dos EPIs. Segundo ela, no caso da ControlBio, todos os técni-cos são instruídos a utilizar o equi-pamento durante todo o processo de análise até o descarte.

De acordo com os especialistas, apesar da questão do controle de ris-cos biológicos ter avançado nos úl-timos anos (devido ao esforço da le-gislação), essa prática, infelizmente, se encontra distante de ser cultuada por outras atividades ocupacionais onde o risco é presente.

Maria José Silveira, direto-ra técnica da ControlBio