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GERENCIAMENTO ADMINISTRATIVO: Um estudo envolvendo Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI) e seus problemas operacionais em Araguari e Uberlândia no âmbito privado Kamylla Nery da Silva Freitas - [email protected] Universidade Federal de Uberlândia - UFU Vinicius da Silva Lima - [email protected] Universidade Federal de Uberlândia - UFU Nathália Oliveira de Morais - [email protected] Universidade Federal de Uberlândia UFU Laura de Paula dos Santos Teixeira - [email protected] Universidade Federal de Uberlândia UFU Viviane Resende Rodrigues - [email protected] Universidade Federal de Uberlândia UFU Christielly Teixeira Furtado - [email protected] Universidade Federal de Uberlândia UFU Área temática: Gestão na Saúde Resumo O presente artigo trata dos problemas operacionais existentes em instituições de longa permanência no âmbito privado, das cidades de Araguari e Uberlândia, no estado de Minas Gerais. Trata-se de um estudo de corte transversal e qualitativo. O objetivo foi analisar como ocorre os problemas operacionais em instituições de longa permanência e como estes são tratados pelos responsáveis da área administrativa. As amostras teóricas foram formadas pelos responsáveis das 7 instituições de longa permanência pesquisadas. O questionário utilizado nas entrevistas foi baseado na literatura existente sobre o tema. As entrevistas foram semiestruturadas, possibilitando que os entrevistados relatassem os problemas e dificuldades em administrar uma ILPI. As informações obtidas nas instituições foram gravadas, transcritas e analisadas com o software WEFT QDA, e com o Microsoft Excel. A pesquisa mostrou que as instituições atendem clientes acima de 60 anos, de ambos os sexos. Das instituições entrevistadas, apenas uma é administrada por um gestor que cursa administração. Foi possível observar que a maioria das instituições possuem problemas operacionais e que estes são negligenciados por seus administradores, assim como a falta de planejamento administrativo e Anais do Encontro de Gestão e Negócios - EGEN2014 Uberlândia, MG, 20 a 22 de outubro de 2014 1142

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GERENCIAMENTO ADMINISTRATIVO: Um estudo envolvendo Instituições de

Longa Permanência para Idosos (ILPI) e seus problemas operacionais em Araguari e

Uberlândia no âmbito privado

Kamylla Nery da Silva Freitas - [email protected]

Universidade Federal de Uberlândia - UFU

Vinicius da Silva Lima - [email protected]

Universidade Federal de Uberlândia - UFU

Nathália Oliveira de Morais - [email protected]

Universidade Federal de Uberlândia – UFU

Laura de Paula dos Santos Teixeira - [email protected]

Universidade Federal de Uberlândia – UFU

Viviane Resende Rodrigues - [email protected]

Universidade Federal de Uberlândia – UFU

Christielly Teixeira Furtado - [email protected]

Universidade Federal de Uberlândia – UFU

Área temática: Gestão na Saúde

Resumo

O presente artigo trata dos problemas operacionais existentes em instituições de longa

permanência no âmbito privado, das cidades de Araguari e Uberlândia, no estado de Minas

Gerais. Trata-se de um estudo de corte transversal e qualitativo. O objetivo foi analisar como

ocorre os problemas operacionais em instituições de longa permanência e como estes são

tratados pelos responsáveis da área administrativa. As amostras teóricas foram formadas pelos

responsáveis das 7 instituições de longa permanência pesquisadas. O questionário utilizado

nas entrevistas foi baseado na literatura existente sobre o tema. As entrevistas foram

semiestruturadas, possibilitando que os entrevistados relatassem os problemas e dificuldades

em administrar uma ILPI. As informações obtidas nas instituições foram gravadas, transcritas

e analisadas com o software WEFT QDA, e com o Microsoft Excel. A pesquisa mostrou que as

instituições atendem clientes acima de 60 anos, de ambos os sexos. Das instituições

entrevistadas, apenas uma é administrada por um gestor que cursa administração. Foi possível

observar que a maioria das instituições possuem problemas operacionais e que estes são

negligenciados por seus administradores, assim como a falta de planejamento administrativo e

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de um feedback fidedigno, sendo o desempenho das instituições baseado em opiniões de

terceiros que não acompanham os serviços prestados pelas mesmas.

Palavras-chave: Administração, desempenho, dificuldades.

1- INTRODUÇÃO

A população está preocupando-se mais com a qualidade de vida na velhice. Esta é uma

tendência que vem sendo observada há algum tempo e ocorre devido ao grande número de

pessoas que atingem a terceira idade. Como consequência, as organizações pertencentes ao

ramo de negócios voltados para a terceira idade, estão se tornando o foco de investimentos de

muitos empresários.

O envelhecimento populacional no Brasil é um fato inegável. Atualmente, o número

de idosos no Brasil é de aproximadamente 14,9 milhões e sua expectativa média de vida é de

até 78,5 anos para as mulheres e 71,5 anos para os homens (IBGE, 2010).

No entanto poucos são os estudos que se direcionam a entender o gerenciamento

administrativo das ILPI’s. Muitas vezes, por pequenas falhas administrativas é possível

verificar prejuízos que podem levar até mesmo ao fechamento da instituição.

Mas antes de tudo é necessário estabelecer a definição de uma instituição de longa

permanência.

Segundo Camargo (2008) o termo instituição de longa permanência não possui um

significado definido desde que surgiu no Brasil. Porém o seu surgimento está ligado aos asilos

que correspondem à forma mais tradicional de atendimento ao idoso fora de seu lar.

Segundo a ANVISA (2005) as instituições de longa permanência, sejam públicas ou

privadas, podem ser entendidas como uma moradia de pessoas que possuem idade superior a

60 anos, com requisitos de liberdade, integridade e cidadania.

Nestas instituições é comum o gestor se deparar com problemas operacionais, seja na

administração, gestão, nos recursos humanos ou em outras áreas, que podem influenciar

diretamente na estadia de seus internos.

Através disso, Zylbersztajn (2003, p.4) aponta que os problemas operacionais das

organizações provêm de divergências de ideais entre acionistas e diretores de uma

organização. Sendo que o direito de tomar decisões dessas duas partes e os ideais opostos

podem gerar conflitos de interesse, sendo um problema comum de ação coletiva entre

investidores.

Com isso Lafuente (2001) relata que a gestão e a administração das organizações

devem considerar o ambiente interno e externo à organização, para que se possa avaliar

problemas e resolvê-los, aumentando o desempenho da organização e prevendo seus riscos e

recompensas.

Neste contexto torna-se essencial que o gestor de tais instituições conheçam os

problemas operacionais e procurem as melhores soluções para não prejudicar a saúde de seus

internos. Desta forma o objetivo desse artigo é analisar como ocorre os problemas

operacionais em instituições de longa permanência e como estes são tratados pelos

responsáveis da área administrativa.

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Assim tornou- se necessário realizar tal estudo, que pretendeu esclarecer como ocorre

o processo administrativo em instituições de longa permanência no âmbito privado, para

destacar a importância de ter um profissional qualificado na área de gestão e negócios, para

gerenciar os principais problemas existentes nessas organizações.

Durante a pesquisa bibliográfica observou-se que alguns autores como Reis e Ceolim

(2007) tratam do significado de ser idoso em instituições de longa permanência, enquanto

outros como Tamasine e Alves (2007), dão ênfase na qualidade de vida dos mesmos. Diante

disso identifica-se uma carência no material bibliográfico sobre o gerenciamento dos

problemas operacionais em instituições de longa permanência no âmbito privado. Desse

modo surge a seguinte questão a ser discutida: como são gerenciados os problemas

operacionais em instituições de longa permanência de âmbito privado nas cidades de Araguari

e Uberlândia?

Esse estudo possui importância para os gestores de instituições de longa permanência

privadas, uma vez que através da sua realização aguarda-se descobrir como são administrados

os principais obstáculos de gestão nas mesmas. Outra contribuição será para o suporte teórico

que as organizações poderão ter ao terem que lidar com os problemas organizacionais de uma

instituição de longa permanência. Desta forma o estudo pode gerar novos questionamentos e

ser base para futuros estudos.

2- REVISÃO DA LITERATURA

A cada dia mais pessoas atingem e ultrapassam os 60 anos. Para grande parte dos

idosos o envelhecimento saudável não foi possível, pois com o avançar da idade há

consequentemente um declínio da capacidade funcional do indivíduo, podendo levá-lo a ser

institucionalizado.

Em uma publicação recente a revista BBC Brasil afirma que o país esta em 31º

posição em um ranking de 91 países que foram avaliados a respeito de bem estar de idosos. A

pesquisa foi realizada pela ONG Help Age International que luta pelos direitos dos idosos.

(BBC BRASIL, 2013)

Segundo Censo (2010) grande parte dos idosos está em instituições de longa

permanência (ILPIs) e neste novo contexto é necessário que haja um aperfeiçoamento das

instituições tanto públicas quanto privadas para atender esses idosos, com dignidade e

respeito.

Para garantir a qualidade de atendimento aos idosos a Agência Nacional de Vigi lância

Sanitária (ANVISA), aprovou um regulamento técnico que definiu normas de funcionamento

para as ILPIs, a RDC nº 283/ 2005.

Esta RDC, torna obrigatório no país, o cumprimento de normas relacionadas a

regulamentação, organização, direção técnica, recursos humanos, processos operacionais,

notificação compulsória, monitoramento e avaliação do funcionamento e infraestrutura física

destinada a atender os idosos.

Segundo Silva e Almeida (2013),

São reconhecidas a fragilidade e exclusão a que essa população

(idosos) está exposta, o que sugere a ampliação de referenciais e ações

para responder aos desafios impostos pelas complexas demandas

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assistenciais e institucionais.

No entanto, é observada uma limitação no cumprimento das normas estabelecidas pela

RDC, seja pela falta de recursos humanos, ambiente físico adequado ou mesmo pela falta de

um processo operacional condizente com a realidade das ILPIs.

O estudo realizado por Cornélio (2012), afirma que a principal dificuldade encontrada

pelos coordenadores/ gerentes das ILPIs são as “condições de trabalho limitadas por déficit

financeiro, com necessidade de mais funcionários, material e/ou estrutura física

adequada”.

As dificuldades encontradas pelos gestores são significativas e levam à diminuição da

qualidade do serviço ofertado. No entanto é necessário que o administrador tenha

conhecimentos específicos para contribuir de forma eficaz com a organização.

Desta forma Lunardi e Marian (2012) afirmam que:

Com a realização de uma boa gestão do administrador, pode-se

esperar, segundo Tenório apud Imeton (1998, p. 69), uma

“identificação de áreas de atuação, produtos e cidadãos beneficiários,

criação de mecanismo de controle e avaliação das ações desenvolvidas

e alcance de maior visibilidade perante a sociedade para divulgação do

trabalho realizado”.

Sabe-se, portanto, que a administração de ILPIs é complexa e exige bastante do

profissional responsável. “Os gestores precisam deter um bom conhecimento sobre a

administração para conseguir gerenciar as atividades das entidades [...]”. (LUNARDI e

MARIAN, 2012).

Desta forma, além da preocupação com o atendimento oferecido na instituição é

necessário que o gestor se preocupe com os processos administrativos, operacionais e a saúde

financeira da entidade. Pois fica evidente a necessidade de unir os dois campos de

conhecimento – o da saúde e o administrativo – para que se tenha bons resultados.

Neste sentido Zacarias et al, (2008, p. 85-106) afirma que:

Born (in PAPALEO NETO, 1996) diz que o atendimento de bom

padrão nestas instituições é extremamente caro, não sendo raros os

casos em que profissionais da geriatria e gerontologia abrem uma casa

de repouso, empenham-se em mantê-la aberta num padrão técnico

elevado e, após curto prazo, fecham as portas em função da

impossibilidade de repassar as despesas aos idosos ou seus

responsáveis.

Ou seja, torna-se de grande importância o conhecimento gerencial de uma ILPI para

que se possa cumprir a missão e visão da instituição com qualidade e garantindo a

produtividade da atividade organizacional.

O Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social - IPARDES em 2008

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afirmou que o principal item de despesa das ILPI’s são os recursos humanos, sendo que

por esse motivo, as instituições não conseguem garantir a contratação de pes soal

especializado e qualificado para atender a demanda da instituição satisfatoriamente.

Nesta perspectiva o relatório ainda afirma que:

A existência de muitos diretores de ILPI com baixa escolaridade: 23%

possuem escolaridade inferior ao Ensino Médio e 10% do total sequer

concluiu o Ensino Fundamental. Mas também devem-se ressaltar os

33% que cursaram o Ensino Superior completo, alguns com

Especialização, Mestrado e/ou Doutorado.

“As ILPI’s são consideradas um sistema organizacional social” (CREUTZBERG et

al, 2007), e torna-se evidente que essas instituições possuem uma administração complexa

e que envolve diversos pontos.

Contudo torna-se necessário que a administração de uma ILPI seja capaz de manter os

padrões exigidos pela ANVISA e que possa manter de forma digna o quadro de pessoal. Para

isso, acredita-se que seja necessário a presença de um profissional de nível superior em

administração, pois este foi preparado durante sua graduação para lidar com os aspectos

administrativos de uma organização nessas configurações.

Nesse caso, conclui-se que muitos idosos acima dos 60 anos são institucionalizados, e

que a qualidade de vida destes que vive em uma ILPI, é garantida pela Agência Nacional de

Vigilância Sanitária (ANVISA). O trabalho de um administrador é complexo, já que este lida

com processos operacionais e com a saúde financeira da entidade, e que a área que despende

mais investimentos financeiros são os recursos humanos.

3- METODOLOGIA

Para melhor entendimento de como são gerenciados os problemas operacionais em

instituições de longa permanência de âmbito privado nas cidades de Araguari e Uberlândia, o

método utilizado para coleta de dados foi à entrevista semiestruturada. Segundo FUJISAWA

(2000) as entrevistas semiestruturadas são aquelas que são direcionadas por um roteiro de

questões abertas e fechadas, o que permite uma organização e ampliação dos questionamentos

na medida em que os dados forem sendo respondidos. O questionário foi retirado da literatura

existente sobre o tema e enquadra questões relativas ao processo administrativo,

planejamento, organização, direção e controle. As entrevistas foram feitas na forma de uma

conversa informal, elucidando aos entrevistados o sigilo da sua identidade e dos dados

fornecidos por eles.

Trata-se de um estudo de corte transversal e qualitativo. A amostra foi do tipo teórica,

formada pelos responsáveis em administrar as instituições de longa permanência de ambas as

cidades. Depois de gravadas, as entrevistas foram transcritas e analisadas com o auxílio do

software WEFT QDA, e do Microsoft Excel.

Antes de responderem as entrevistas os entrevistados foram informados sobre o tema

da pesquisa, dos seus objetivos e da necessidade de sua colaboração. Foram entrevistados 7

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responsáveis pela administração das instituições de longa permanência, até a pesquisa atingi

saturação. Destes 85,7% era do sexo feminino e 14,3% do sexo masculino. Dentre eles 14,2%

possui de 20 a 30 anos, 57,4% possui de 30 a 40 anos e 28,7% possui de 40 a 50 anos. A

maioria deles possui mais de cinco anos no cargo, constituindo 57,4% dos entrevistados,

restando 14,2% com mais de três anos no cargo e 28,7% com menos de um ano no cargo.

Esses diferentes resultados sobre o tempo no cargo dos responsáveis pela administração das

ILP’S, mostra que os entrevistados possuem conhecimento necessário para responder as

perguntas do questionário.

A figura 1 mostra uma identificação de cada instituição com a localidade da mesma.

Entrevistado 1 (E1) ILP de Uberlândia

Entrevistado 2 (E2) ILP de Uberlândia

Entrevistado 3 (E3) ILP de Uberlândia

Entrevistado 4 (E4) ILP de Araguari

Entrevistado 5 (E5) ILP de Uberlândia

Entrevistado 6 (E6) ILP de Araguari

Entrevistado 7 (E7) ILP de Uberlândia

Figura1- Relação de entrevistados e instituições de longa permanência.

4- ANÁLISE DOS RESULTADOS

A pesquisa realizada com os sete administradores das instituições de longa

permanência, foi bastante elucidativa e fez com que percebêssemos as diferenças e

semelhanças em cada instituição.

Como é uma ILPI, os clientes são idosos acima de 60 anos, de ambos os sexos. Dentro

das instituições eles são acomodados em quartos pelo sexo, ou seja, homens em um quarto e

mulheres em outro. A área de convivência é mista e é onde ocorre a maior parte das

interações dos clientes (alimentação, jogos, entretenimento etc.). A principal atribuição das

ILPI's é o cuidado e o acolhimento de idosos com ou sem enfermidades, permanentemente ou

não. Com graus de dependência variados.

Foi possível observar que na maioria das instituições o grau de dependência é variado

e não existe uma regra geral para definir este grau, ficando a cargo de cada instituição

estabelecer parâmetros de dependência.

Os idosos totalmente dependentes e acamados recebem todos os cuidados no próprio

leito. Os que são dependentes, porém não acamados são locomovidos para a parte de

convivência da instituição.

Nas observações feitas foi possível constatar que o ambiente das instituições são

limpos e organizados. Quanto à mão de obra especializada, em algumas instituições há uma

carência considerável, onde os administradores concordam que necessitam de mais pessoas

especializadas e comprometidas com o objetivo de cuidar e acolher os idosos.

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Dos entrevistados apenas em uma das instituições foi encontrado um administrador

que está terminando o curso de administração. Nas demais instituições a maioria possui

algum conhecimento adquirido através de cursos, especialização ou conhecimento prático de

vivências em empresas no mesmo ramo ou não.

E3: "Quando eu fiz é, a especialização em gestão de hotelaria

hospitalar, eu me achei capaz de gerir pessoas nesse ambiente”.

E5: "Sim, é como eu disse eu fiz um curso técnico de Administração e

lá eu tive contato com essas questões. Quando eu fiz Psicologia eu

entrei em contato... mais ainda com o comportamento humano, e

agora... com a faculdade de Administração eu tenho visto cada vez

mais essa parte”.

E7: "Em contábeis a gente vê muito de RH, e como eu já trabalhei

muito na área, sempre eu que contratei e demiti... claro que a gente

tem o escritório de contabilidade, que faz a parte burocrática do

negócio, mas aquele contato né, de você fazer uma seleção, uma

avaliação, os feedbacks, etc".

Torna-se evidente a necessidade de um profissional com conhecimentos embasados

em uma ou mais teorias administrativa.

A figura 2 apresenta a relação dos elementos encontrados ao longo da pesquisa através

da análise dos diferentes gerenciamentos de problemas operacionais em instituições de longa

permanência.

1. CONHECIMENTO ADMINISTRATIVO 2. PROBLEMAS ADMINISTRATIVOS

3. CONTRIBUIÇÃO EXTERIOR 4. RECURSOS HUMANOS

5. BANCO DE DADOS 6. PLANEJAMENTO

7. BUSCA POR ESPECIALIZAÇÃO EM

ADMINISTRAÇÃO

Figura 2- Elementos encontrados.

5- SIGNIFICADOS

5.1- CONHECIMENTO ADMINISTRATIVO

O conhecimento administrativo em instituições de longa permanência auxilia os

gestores nas tomadas de decisões. Com isso a presença de um administrador nessas

instituições teria muito a contribuir para o processo administrativo da empresa, uma vez que a

maioria dos entrevistados se considera capaz para administrar, mas possuem poucos

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conhecimentos nessa área. Grande parte dos entrevistados acreditam que a administração das

ILPI'S não devem ser feitas por apenas uma pessoa, mas sim por um conjunto de pessoas

preparadas para esse fim.

E3: “Não tem como ser, neste tipo de atividade, uma pessoa só,

porque existem atividades bem distintas, a administração nada a ver

com a enfermagem, são as duas essenciais”.

E5: “Eu aqui conto muito com o apoio dos enfermeiros, mas se você

somente eu acho que não daria conta”.

5.2 - PROBLEMAS ADMINISTRATIVOS

Os problemas administrativos de uma instituição de longa permanência envolvem a

área financeira, marketing e recursos humanos. Muitos dos problemas referidos pelos

coordenadores poderiam ser evitados ou mesmo solucionados pela contratação de um

profissional com formação acadêmica em Administração.

Ao serem questionados sobre os principais problemas administrativos existentes

na instituição, muitos administradores não reportaram existir problemas, talvez pela falta de

conhecimento administrativo ou por não se sentirem a vontade em responder essa questão,

mas ao longo da entrevista foi possível perceber alguns problemas administrativos.

A maioria dos entrevistados mencionou o problema da contratação de pessoas

capacitadas e de problemas com os recursos humanos em geral. A questão da tributação

também foi levantada e problemas com as visitações da Vigilância Sanitária também foram

mencionados.

E5: “Dificuldade mesmo são os funcionários. Encontrar pessoas para

esse tipo de serviço é complicado. Porque assim entra muito no fato

de ter paciência, carinho e atenção com os idosos e a maioria das

pessoas que vem trabalhar só estão pensando no dinheiro”.

E4: “Precisa, tudo de acordo com as normas de gente da ANVISA, se

não tiver de acordo você não consegue abrir o hotel, você não toca”.

E7: “Um problema que todo mundo tem, é com a vigilância sanitária,

porque infelizmente, ninguém fala a mesma língua, um fala inglês,

outro fala alemão, outro fala russo sabe? porque, vem um fiscal que

fala inglês, outro que fala russo, o outro fala coreano, infelizmente

eles não falam a mesma língua”.

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Percebe-se que muitos ao serem questionados sobre as dificuldades que a instituição

poderia há vir ter, declinaram da resposta ou simplesmente mencionaram não terem

dificuldades.

5.3- PESSOAS

As contribuições exteriores para uma organização pode ser advinda de clientes,

familiares, funcionários ou até mesmo de concorrentes. Ao serem questionados sobre a troca

de informações entre administradores e colaboradores, todos concordaram que é de

fundamental importância essa interação e que traz grandes benefícios para a instituição. E

também afirmam que as opiniões de familiares e dos próprios idosos são levadas em

consideração para a tomada de decisão. No entanto nenhuma instituição possui uma forma de

avaliar o seu próprio desempenho, considerando formas subjetivas como a opinião de

familiares de idosos como índice de desempenho.

“Consideramos a opinião de todos os colegas. Até mesmo, porque

somos uma instituição que recebe todos eles, quando necessário muito

bem”.

E7: “Eu não tenho isso, é uma coisa que você acabou de me alertar, é

uma coisa que faz diferença. Eu não tenho esse medidor”.

E6 “Não temos um medidor certo para medir o desempenho aqui

dentro, mas levamos muito em conta a satisfação dos idosos daqui, eu

posso dizer que o medidor que tem aqui é a satisfação do idoso”.

5.4- RECURSOS HUMANOS

Um processo administrativo que merece destaque é a forma de contratação de recursos

humanos e o treinamento. Os recursos humanos em uma instituição de longa permanência é o

responsável por decidir quais profissionais entrarão em contato direto com os idosos. Todas as

instituições afirmaram fazer a contratação diretamente, analisando currículos por email e os

que são deixados na instituição. Porém três das instituições afirmaram que faz a contratação

por indicação de funcionários e outros conhecidos do administrador. E apenas uma

instituição afirmou utilizar o Sistema Nacional de Emprego (SINE), como uma das formas de

contratação. O treinamento é feito levando em consideração a experiência do trabalhador e é

realizado na própria instituição.

E6: “Geralmente a gente contrata quando as pessoas indicam, fala:

olha a fulana eu indico, a gente pede, manda vim fazer um ou dois

dias de teste aqui com as colegas, com as enfermeiras padrão, mais ou

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menos você vê se tem habilidade ou não, claro que num da pra você

vê em um ou dois dias, às vezes fica uma semana, ai você vê não ela

tem um tato, gosta de mexer com idoso ai a gente contrata”.

E3: “A gente faz uma entrevista e o treinamento é feito aqui dentro,

seguido passo a passo”.

E1: “Quando tem vagas disponíveis de emprego aqui, a gente contrata

pelo SINE”.

5.5- BANCOS DE DADOS

O banco de dados em uma instituição de longa permanência pode auxiliar os gestores

no controle da organização. Somente uma das instituições entrevistadas não faz uso de tal

ferramenta. A maioria das instituições fazem de forma bem singular, priorizando dados de

identificação, como data de nascimento, nome e telefone do responsável. As instituições

organizam os dados em arquivos impressos e digital.

E4: “A gente tem um arquivo geral com os dados básicos, de cada

paciente que entra na instituição. Temos tudo informatizado”.

E6: “Sim possuo tudo informatizado e tenho tudo manual também”.

E7: “Eu sinceridade trabalho há 15 anos na área e não acho esse tipo

de serviço viável, não acho”.

Um banco de dados é de fundamental importância para organizar, acompanhar e

avaliar o desenvolvimento do idoso dentro da instituição. Deve ser feita de forma sistemática.

5.6- PLANEJAMENTO

O planejamento nas instituições de longa permanência oferece maior flexibilidade aos

gestores nas tomadas de decisões. O planejamento das atividades que envolvem a instituição é

geralmente, feito anualmente em algumas das entrevistadas. Outras consideram o

planejamento não tão importante ou simplesmente não o fazem. Os recursos financeiros são

alocados para alimentação e material de limpeza e enfermagem. Por não haver um

planejamento antecipado nas instituições que declararam não fazerem, alguns recursos não

são otimizados e deixam a desejar dentro de sua utilização.

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E2: “O planejamento que eu posso dizer que ocorre aqui é em relação

às compras”.

E6: “Não, assim, não atividade previamente planejada, pois nesse tipo

de serviço, não a necessidade”.

5.7- BUSCA POR ESPECIALIZAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO

Os pesquisados acreditam que uma especialização na área de administração pode

auxiliar na gestão das instituições. A capacidade de gerenciamento pode e deve ser aprendida,

para que se possa administrar com eficiência e levar ao desenvolvimento pleno da empresa.

Todos mencionaram a necessidade de conhecer um pouco mais sobre a área administrativa e

reconheceram o quão útil seria este conhecimento para a empresa.

E7: “Com certeza. Eles falam que o enfermeiro está capacitado a

administrar uma ILPI, não é verdade, não é verdade, de jeito nenhum.

Existe lógico uma formação, mas não é suficiente pra necessidade que

a ILPI tem”.

E2: “Sim, é importante porque se eu tivesse mais conhecimento teria

uma facilidade maior pra desempenhar esse papel e contribuir mesmo

para o crescimento da instituição”.

A figura 3 apresenta a categorização dos elementos citados pelos entrevistados. Todas

as categorias se referem ao processo administrativo das organizações entrevistadas.

CATEGORIA ELEMENTO

Organização Conhecimento Administrativo

Banco de dados

Pessoas Recursos humanos

Busca por especialização

Planejamento Planejamento

Controle Contribuição exterior

Figura 3- Categorização

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CONCLUSÃO

Com a análise dos resultados percebemos que a maioria das instituições possuem

problemas operacionais e que estes são negligenciados por seus administradores. Isso ocorre

pelo fato de não possuírem uma formação na área administrativa.

Algumas instituições não se preocupam com o planejamento administrativo o que gera

problemas, que muitas vezes são complexos. A maioria citou como problema o recurso

humano, porém a forma como é feita a contratação e o treinamento propiciam o surgimento

de tais problemas.

Outro ponto relevante é o fato das instituições não terem um feedback fidedigno,

confiando o seu desempenho em opiniões particulares de terceiros que geralmente não

acompanham o serviço prestado pela empresa.

Seria necessário que as instituições despendessem um maior tempo para a confecção

de um planejamento que abordasse objetivos a serem conquistados em curto, médio e longo

prazo. Também dar uma atenção especial à forma de contratação, analisando e comparando

os currículos, os perfis dos trabalhadores, testes psicológicos e dinâmicos, para identificar os

que melhor se enquadram nos requisitos da empresa. E torna-se necessário a criação de um

método para se ter um feedback válido, que poderá ser utilizado no desenvolvimento da

instituição.

No entanto muitos administradores percebem suas deficiências e procuram capacitar-

se cada vez mais. Muito ainda precisa ser feito, mas o primeiro passo para a mudança foi

dado.

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REFERÊNCIAS

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