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Gerações boletim Edição da Santa Casa da Misericórdia de Nordeste N.º 48 - Maio de 2018 www.misericordiadenordeste.com Ano 16 106º Aniversário 106º Aniversário CARNAVAL TARDE QUARESMAL 06 10

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Geraçõesboletim

E d i ç ã o d a S a n t a C a s a d a M i s e r i c ó r d i a d e N o r d e s t eN.º 48 - Maio de 2018 www.misericordiadenordeste.comAno 16

106º Aniversário106º Aniversário

CARNAVAL TARDE QUARESMAL 06 10

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Gerações - Edição da Santa Casa da Misericórdia de Nordeste

Ano:16Edição nº: 48Direção: Eduardo de Medeiros

- Agostinho Lima- António Sequeira- Cláudia Botelho- Maria Irene Sousa- Conceição Maciel- António Machado

Morada: Rua dos Clérigos, nº2, 9630 Nordeste

Telefone: 296 480 050

Fax: 296 480 059

Email: [email protected]

Design Gráfico: Milton Furtado

Impressão: Nova Gráfica, LDA

http://misericordiadenordeste.com/

www.facebook.com/MisericordiaDeNordeste

Colaboradores

ÍNDICE03 Ao nosso ritmo - Com olhos de ver...

Mandai, Senhor, o vosso Espírito...

Dia mundial do Riso

Desfile de Carnaval

Jornada Mundial de Oração e Jejum pela Paz

Nordeste, como ficar, para onde ir...

Tarde Quaresmal

Via Sacra na Misericórdia de Nordeste

Entrevista ao Utente

Tia Mariquinhas

106º Aniversário

Dia da Europa

A demografia a nordeste

O Dia a dia do Lar

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MISERICÓRDIA DE NORDESTE

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Ao nosso ritmo

Com olhos de ver...

Dr. Eduardo de MedeirosProvedor

1. De todas as Valências da Santa Casa a que mais esforço exige é o Lar, esforço de organização, esforço de comunicação e

afeto, esforço de equipamento, esforço de acompanhamento técnico, esforço financeiro. Na realidade o Lar comporta 34 utentes com elevada dependência, 7 com dependência moderada e apenas nove utentes apresentam ligeira dependência.Isto equivale a dizer que a Instituição tem défice nesta importante Valência, que os Serviços de Contabilidade apontam acima dos cem mil euros.

Se os utentes não podem pagar mais nas suas contribuições e se a Santa Casa não tem rendimentos extras para cobrir tal défice, só o Governo pode atualizar o seu financiamento, numa luta que a União Regional das Misericórdias dos Açores tem encetado desde 2016, pelo menos.

É preciso também que se olhe as Instituições e os seus utentes com olhos de ver, com a atenção do coração...

2. Mas há também outras valências que exigem muito esforço e acompanhamen-to regrado, como é o caso do Acolhimen-to dos Jovens em Lar, da Residência dos portadores de Deficiência, na Salga e também do Centro de Acolhimento que funciona na Casa de Trabalho. O orçamento da Instituição ultrapassa os 3 milhões, mas o que mais nos preocupa é realmente o subfinanciamento, que origina um acumular de défices que não é possível suportar nem manter por muito mais tempo.

3. É preciso olhar a realidade. Se é Nordeste, é porque é Nordeste, com a sua distância, o seu isolamento, a sua geografia, a sua pouca população, os seus naturais constragimentos. É preciso também que se olhe as Instituições e os seus utentes com olhos de ver, com a atenção do coração, com paciência, com competência, com dedicação, com humanitude.

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Pe. Agostinho Lima

Os Açores celebram, neste tempo, as suas maiores festas -as festas em

honra do Divino Espírito Santo. E festejam-nas a rigor, justiça seja feita! As “domingas” constituem um momento alto na vida das comunidades paroquiais. Porque há um maior número de participantes nas eucaristias dominicais, que logo ganham maior ”calor” e “transpiram” de alegria trazida, sobretudo, pela participação festiva das crianças que vão “coroar”. E, depois, há os impérios do Espírito Santo.Com as boas vontades de uns tantos que tudo fazem para “honrar”a terceira pessoa da Santíssima Trindade. Não têm mãos a medir! Para que não falte a carne, nem o pão, o vinho, a massa sovada e o arroz doce… Reparemos no verbo e nas exigências que ele apresenta – renovar a face da terra. Nem mais! E, aqui, é que todos devíamos apostar numa vivência, que, há muito, vem sendo protelada e que impede a transformação que o próprio Espírito reclama. Há que descolar do que é meramente tradicional - e que, sem dúvida, é bom para um estilo de vida mais consentâneo com o Evangelho. É verdade, que essa

transformação exige sacrifício, mudança de mentalidade, mas tornará tudo mais verdadeiro; numa palavra, como o Senhor deseja. Em suma, há que descolar das tradicionais “ sopas” para um estilo de vida mais de acordo com as exigências do cristianismo. E, quem sabe, se a vivência da caridade numa outra óptica, não traria soluções oportunas e desejáveis paras as necessidades que a pastoral social põe a nu nas nossas comunidades.

Mandai, Senhor, o vosso Espírito…

…e renovai a face da

terra!

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A Santa Casa comemorou, de forma familiar, o Dia Mundial do

Riso! O riso traz alegria, bom humor, saúde e além de tudo aproxima e atrai as pessoas. Quem ri todos os dias consegue levar uma vida mais tranquila e feliz.

Dia Mundial do RisoMISERICÓRDIA DE NORDESTE

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A Misericórdia de Nordeste promoveu o seu desfile de Carnaval que percorreu

as principais artérias da Vila de Nordeste.Com cerca de 300 participantes, contou-se com a presença dos idosos dos Centros de Convívio, do SAD e SAD Reabilitação, da Casa de Trabalho, do Centro de Acolhimento, do Lar Residencial para Pessoas com Deficiência, CATL’s e Creche «Os Priolinhos». Também participaram os utentes da Associação Amizade 2000 e os alunos da Escola Profissional de Nordeste.

No cortejo integrou-se uma orquestra com música apropriada à época que animou o desfile no decorrer do seu percurso, uma viatura animada com os utentes da creche e um automóvel na figura de um casamento à boa maneira de antigamente. Findo o cortejo os participantes reuniram-se em animado convívio na Escola Básica e Integrada de Nordeste, onde lhes foram servidas as nossas tradicionais malassadas.

Desfile de CarnavalDesfile de CarnavalMISERICÓRDIA DE NORDESTE

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Utentes e colaboradores da Santa Casa de Nordeste associaram-se à iniciativa

do Papa, e durante um tempo rezaram pela Paz, com cânticos apropriados e momentos de silêncio diante do Santíssimo Sacramento.

Jornada Mundial de Oração e Jejum pela Paz

Rancho de Romeiros de S. Jorge 2018Rancho de Romeiros de S. Jorge 201825 de fevereiro a 4 de março de 2018

Poesia aos RomeirosPoesia aos RomeirosNós somos Irmãos, unificados pela fée procuramos encontrar na caminhada,com São Jorge, em Maria e em José,novas forças para uma vida renovda.

Encontramos na luz da fé a ressurgir,em cada passo que fazemos na estrada,a Irmandade que eleva um novo sentir,na descoberta de uma vida abençoada.

Somos pobres pescadores em redençãoque encontraram em Deus uma nascente...Cada irmão sente a crescer pela oraçãouma esperança que se torna florescente.

Com terço e lenço oramos, voz ao vento,sentindo as sementes do amor no coração.Encontramos na Avé-Maria oo alimentoque fortalece o nosso querer e comunhão.

Seguimos, assim, para chegar mais além...Recuperando no caminho a felicidade...Queremos seguir Cristo, fazendo o Bemem harmonia com Deus p’ra Eternidade.

António M. A. C. SequeiraFevereiro de 2018

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Futebol, futsal, badminton, escuteiros, marcha, bandas filarmónicas, …, o que

não faltam são atividades que os nossos jovens se possam inserir. Apesar de um concelho pequeno e disperso, existem muitas atividades que permitem aos mais novos e não só, ter algum entretenimento fora da escola e trabalho. A verdade é que somos um concelho em que infelizmente são sempre as mesmas pessoas a participar em tudo o que nos é oferecido, sendo que existem sempre algumas pessoas que nunca são vistas e que nunca colaboram. A oferta é grande, a procura é que é limitada. A verdade também, é que existem muitos entretenimentos dentro de casa que não convidam as pessoas a sair: consola de jogos, computador, televisão e até os próprios telemóveis.

Como residente do concelho, deste lindo pedaço de terra pertencente à Ilha de São Miguel, penso que as pessoas deveriam se unir mais, como freguesia e como concelho para que as atividades oferecidas sejam mais bem aproveitadas e levem mais longe o nome do Nordeste. Fixar no Nordeste? Cada vez mais difícil. Daqui a uns anos iremos ser um concelho onde se passam férias, e

onde as pessoas da terra apenas irão passar cá para visitar familiares já de idade. A verdade, e para concluir o que já acima disse, é que apesar da oferta, são tudo passatempos que não fixam a nossa juventude no concelho. São atividades utilizadas pelos jovens que cá estudam ou por pessoas que cá trabalham. Muitos jovens a sair da terra? Sim, cada vez mais. Para estudar e mesmo para procurar trabalho. A estrada nova foi uma vantagem para o nosso concelho? Claro que sim, para trazer cá pessoas, mas mais facilmente para as tirar de cá para fora. Agora é mais fácil ir à “civilização” procurar algo que não temos cá, como quem vem cá, vem de passagem, porque nada os fixa. Moro no concelho, e tenciono ficar por cá, enquanto a vida me permitir, mas infelizmente não vejo o futuro sorridente para a nossa terra. Que existam atividades para nós, residentes, que existam atividades para quem nos visita… Que as pessoas aceitem bem quem vem de fora enriquecer o nosso Nordeste, que as pessoas de fora recebam bem os nossos Nordestenses que vão para fora, e levem o nome da terra em que nasceram, e a dêem a conhecer. Infelizmente a lista de espera para o Lar de Idosos é superior à lista de espera para a creche… Que quem mora neste pedacinho, tenha amor pela terra onde nasceu ou de onde faz parte para a poder rejuvenescer. Os sítios não se fazem só de paisagem, mas sobretudo de pessoas.

Nordeste, como ficar, para onde ir…

Dr.ª Cláudia BotelhoTéc. Administrativa

Que quem mora neste pedacinho, tenha amor pela terra onde nasceu ou de onde faz parte para a poder rejuvenescer.

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A Santa Casa promoveu a Tarde Quaresmal, dirigida aos seus utentes

idosos. Este é um evento muito valorizado pelas pessoas que o assistem e que traz significado à época cristã em que vivemos. O programa deste dia inclui sempre uma reflexão Quaresmal e uma encenação bíblica, relacionada com a Quaresma. Este ano, a reflexão contou com o orador Pe. Rúben Medeiros Sousa, pároco da Matriz da Maia, na qual abordou as atitudes de redenção e penitência que as pessoas emanam antes da Páscoa. Desta forma, reforçou a ideia de que estas devem manter-se para que

a Quaresma seja lembrada. Seguidamente, a encenação “Aliança de Deus com Moisés no Sinai” teve lugar no palco do Centro Cultural e resultou do trabalho e do entusiasmo dos funcionários da Instituição, que têm surpreendido com o seu trabalho, dedicação e com brilhantes atuações. A terminar a tarde, o Senhor Provedor interveio com breves palavras de júbilo e de agradecimento pela mensagem e pela encenação e também participação de todos, formulando votos de Boa Páscoa a todos os presentes.

Tarde Quaresmal

Testemunho do Pe. Rúben Medeiros

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Via Sacra na Misericórdia de NordesteAs Irmãs Vitorianas que trabalham no Lar da

Santa Casa prepararam uma Via Sacra que contou com a participação dos utentes que vivem naquela estrutura residencial. Foram assinaladas as estações da Via Sacra que foram percorridas pelos idosos, no interior do Lar, com orações e cânticos apropriados. A Via Sacra terminou na capela do Lar com a evocação da décima quinta estação – A Ressurreição de Jesus.

Encenação “Aliança de Deus com Moisés no Sinai”

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Entrevista ao UtenteNome:

Idade:

Freguesia de origem:

Maria Irene Sousa

88 anos

Achada

Há quanto tempo frequenta esta Instituição?Desde 2012.

Qual a razão de entrar para o Lar da Santa Casa?Meu marido faleceu, como não tive filhos, e minhas sobrinhas já não me podiam “acompanhar” e zelar por mim porque todas têm os seus trabalhos.

Que profissão exercia? Fui doméstica enquanto estive na Achada, mas nos Estados Unidos da América trabalhei numa fábrica de roupa para homem. Estive emigrada durante 29 anos.

Como eram os seus dias antes de entrar para o Lar?Antes vivia na América (New Bedford). Quando meu marido faleceu, regressei à Achada. Passava os meus dias a tratar da lida da casa e ocupava-me a fazer “renda frioleira”, que gosto tanto.

Como se sentiu em saber que foi admitida no Lar?Fiquei contente porque na Achada não tinha casa, vivia com uma cunhada.

Sentiu-se bem recebida na Instituição?Sim, muito. Gosto muito das funcionárias. Fazem o que podem para estarmos sempre bem. Só tenho a dizer bem dos funcionários.

Pode dizer-nos como é a rotina do seu dia-a-dia aqui no Lar?Começo o dia, com a higiene pessoal, em seguida tomo o pequeno almoço e caminho para o Centro de Dia, onde passo lá o dia. À tarde regresso ao meu canto.

O que costuma fazer nos seus tempos livres?Passo a maior parte do tempo a “trabalhar” na minha renda, que é uma arte. Também vejo televisão, onde gosto de ouvir algumas notícias. E também participo em algumas atividades que os funcionários promovem no Centro de Dia.

Que familiares costuma receber?As minhas sobrinhas, os seus maridos e filhos. Alguns amigos e vizinhos da minha freguesia.

Como se sente atualmente? Sinto-me bem, confortável e gosto muito de todos nesta casa.

Na sua opinião, qual o principal problema dos idosos? O maior problema é as doenças que faz com que os filhos não possam cuidar deles, e alguns pensarem que a família os colocou aqui por não gostarem deles. Apesar de eu não falar com muitos, noto que têm caras tristes, mas acho que temos que pensar que vir para o lar é muito bom para quem vive sozinho.

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Quem seguia pela vereda estreita não dava mais que dois passos para encontrar a casa, logo a seguir a um grande maroiço. Entrava-se por um portão estreito, sem portão, mais dois passos e era a porta de madeira, carcomida pelo tempo, de bordos irregulares, só com uma tramela como fecho, na parte de trás e uma tranqueta de madeira, que raramente se usava. À noite fechava-se por dentro e de manhã abria-se e ficava escancarada para o sol do meio dia, sempre aberta. As janelas para o mar eram três, mas havia mais duas, uma a nascente outra a poente. A casa tornara-se grande para a tia Mariquinhas, que já mal se podia arrastar pelos quartos aonde só ia para matar saudades. A vida era só do seu quarto para a cozinha, onde cozinhava ainda por suas mãos, as duas dentadas que comia. Quem quisesse ver a tia Mariquinhas era sentada na cozinha, diante da porta escancarada a fazer meia. Fazia meia como quem tem a casa cheia de gente para calçar. Fazia meia para os filhos, para os netos para os amigos dos filhos e dos netos e para os seus amigos. Todos gostavam daquelas meias quentinhas para lhe aquecer os pés, no inverno, que a tia Mariquinhas fazia como ninguém. Ela contava. Antigamente fazia-as com a lã das minhas ovelhas, que se criavam nesses campos, na serra. Era tudo feito pelas minhas mãos, cramear, cardar, fiar, tudo. Era um trabalhão até me sentar com as agulhas. Falava e as suas mãos nunca paravam, passando os pontos de uma para outra agulha, das cinco com que trabalhava. Quando uma ficava vazia repetia-se a operação, ficando sempre quatro na meia e uma fora, que logo ia substituir outra que saía. Agora já não tenho trabalho nenhum, a bem dizer, continuava a tia Mariquinhas, como se aquilo de fazer meia não fosse fazer nada e as suas mãos imparáveis, lá iam sempre ao mesmo ritmo, fazendo crescer a meia, com um ponto tão regular e tão perfeito, que até parecia mesmo impossível. O fiado já vem pronto, enoveladinho e tudo, é o que eu digo, já não faço nada, mesmo que quisesse já não podia, foram-se-me as forças, de tanto trabalhar nesses campos. Os meninos procuravam-lhe a porta para ouvir as suas histórias e para a ver trabalhar. Já não se via mais ninguém fazer meias. Faziam perguntas. A tia Mariquinhas contava. Contava que a lã era o cabelo das ovelhas, cortada duas vezes ao ano e que depois de limpa era crameada, cardada e fiada para dar aquele fio com que se faziam as meias e outras coisas. - A tia Mariquinhas já cortou o cabelo a alguma

ovelha? - perguntavam os meninos. Eu não, cortava-o o nosso Francisco, Deus lhe dê o céu e o tenha em bom lugar e os pequenos crameavam. O que é cramear, tia Mariquinhas? Ela nunca se impacientava, respondia sempre, como se fosse a primeira vez. Vejam... vejam... e pegava na lã, para a mão, num resto de lã há muito guardada e abria e separava, diante dos olhos dos meninos e dava para a mão para eles experimentarem. - Era assim que eu fazia com os meus. Não há como fazer para aprender. Os meninos pegavam, faziam e gostavam, por isso não largavam a porta da tia Mariquinhas. A tia Mariquinhas gostava, explicava, repetia, por isso nunca estava só. Os meninos perguntavam de novo. O que é cardar? Não era que eles já não soubessem que cardar era pôr a lã por sobre as cardas e penteá-la de uma para a outra, até que ficasse bem fofa. Mas como a tia Mariquinhas tinha sempre a paciência de deixar a meia, de mostrar como era e de deixar experimentar a todos, cada um por sua vez e de dizer sempre, era assim que eu fazia com os meus, os meninos iam sempre e faziam sempre perguntas. Tia Mariquinhas o que é fiar? Ela estendia a lã, esticava-a em fio, enrolava-a no fuso e dava para a mão dos meninos, que rebentavam logo o fio, vezes sem conta, que ela emendava e tornava a emendar, sempre dizendo: Era assim que eu fazia com os meus. Quem passava pensava. Quando a porta da tia Mariquinhas se fechar é como um sol que se põe. Muita gente parava para ver a tia Mariquinhas fazer meia, tão depressa, que mal se percebia aquele crescer mágico e também para dois dedos de conversa. Os meninos então entravam em alvoroço e começavam a pedir histórias. A história da ovelha que se perdeu e apareceu depois com dois cordeirinhos... a história do carneiro preto... a história... a história... disto e daquilo e a tia Mariquinhas sempre a contar e os meninos sempre a ouvir. Hoje a porta de casa da tia Mariquinhas está fechada ao sol do meio dia e o portão sem portão aberto como sempre, para uma rua cheia de erva, de não ser trafegada por pés de meninos. A alma da casa ainda fala e ainda conta histórias aos meninos que lá entraram e que as guardarão na memória para sempre, como guardam a tia Mariquinhas, a velhinha com todo o tempo do mundo, que explicava aos meninos como fazia com os seus e como é que as coisas se faziam, quando não se comprava tudo feito como agora.

Tia MariquinhasProf.ª Conceição Maciel

( Da obra da autora “A Ilha Mágica”)

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106ºANIVERSÁRIO106ºANIVERSÁRIOA Misericórdia de Nordeste comemorou o seu 106º

Aniversário. O programa do Aniversário teve início com o içar das bandeiras em todos os edifícios da Santa Casa. As festividades continuaram com comemoração, a 9 de Maio, do Dia da Europa, que contou com a participação das crianças dos CATL da Vila e da Casa de Acolhimento com a realização de atividades alusivas a esta efeméride. No dia 11 de Maio, na Pedreira de Nordeste, teve lugar o tradicional cortejo, em honra do Espírito Santo, seguido da celebração de uma Eucaristia Solene, presidida pelo Ouvidor do Nordeste, Pe. Agostinho Lima e animada por colaboradores da Instituição. No final da Eucaristia, foi Coroada uma utente do Centro de Convívio da Pedreira, momento de grande alegria para os presentes. Seguiu-se um almoço convívio, na sede desta Misericórdia, onde foram servidas as típicas sopas do

Espírito Santo, arroz doce e massa sovada, iguarias alusivas a esta época, confecionadas pelos funcionários da Instituição e com o patrocínio de amigos da Santa Casa. A animação da tarde ficou a cargo de elementos do Grupo de Escuteiros de Nordeste, com uma encenação alusiva ao fundador desta Misericórdia, António Alves de Oliveira. Contou-se também com a presença de cantadores, numa entusiástica desgarrada, que proporcionou momentos de grande animação, muito apreciada pelos idosos. No decorrer do encontro, o Provedor, Dr. Eduardo de Medeiros, congratulou-se com esta iniciativa, agradecendo a todos os que contribuíram para que esta atividade decorresse com sucesso. Registou-se, ainda, a presença de representantes de entidades locais, Irmãos, colaboradores e utentes das diversas valências da Instituição.

Cortejo para a Igreja

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Missa e Coroação

Sopas do Espírito Santo

Animação - Grupo de Escuteiros de Nordeste Cantigas ao Desafio

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A Santa Casa da Misericórdia de Nordeste celebrou o Dia da Europa com a participação

criativa das crianças dos CATL. A efeméride realizou-se na Casa de Trabalho, onde as crianças, ao som do Hino da Alegria, encenaram a construção da bandeira da União Europeia, com suas estrelas amarelas desenhadas no azul adotado pela Europa. Após breves palavras do vereador da Câmara Municipal, Dr. Marco Mourão, os participantes dirigiram-se ao Edifício fundado por D.ª Maria do Carmo Monte, onde puderam apreciar demoradamente os trabalhos executados nos teares centenários e as rendas e bordados confecionados pelos utentes dos diversos Centros de Convívio. Este ato insere-se na celebração do 106º Aniversário da Santa Casa da Misericórdia de Nordeste que no dia 11, vespertinamente celebrou o aniversário com missa e coroação na igreja de N.ª Sr.ª da Luz, na Pedreira.

Dia da EuropaDia da Europa

Içar da Bandeira da Europa

Reuniu a 5 de Abril a Assembleia Geral da Santa Casa sob a Presidência da Sr.ª

Insp.ª Emília Mendonça. Antes da ordem do dia foi aprovado um voto de pesar pelo falecimento do Sr. João Pacheco Pimentel, prestante cidadão nordestense, Irmão da Misericórdia, que foi técnico abalizado e experiente na área da veterinária no nosso concelho e da Povoação. A Assembleia apreciou um vídeo com as atividades promovidas pela Instituição no ano de 2017 e o Relatório e Contas referentes ao mesmo período, o qual foi aprovado. O Senhor Provedor reafirmou a necessidade de atualização do Financiamento do Estado e da reestruturação de algumas Valências, por forma a reduzir o défice da Instituição.

Assembleia Geral da Santa Casa

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Não sendo um assunto novo, a verdade é que não se lhe tem dado a importância que o

tema merece. Foi necessário haver a tragédia dos fogos no continente, é necessário ouvir as tristes notícias de idosos que são assassinados nos seus domicílios, para que as pessoas acordem do terrível pesadelo que é o abandono dos locais e das pessoas do interior, para se ir lá trocar uns beijos e abraços. Aqui, na nossa terra, bem perto da cidade das decisões políticas, as localidades de periferia sofrem de igual abandono e ninguém, absolutamente ninguém, quer sequer abordar este assunto. Já somos um concelho com todas as aptidões para se colocarem cartazes anunciadores para venda de casas seguidas abandonadas, que anteriormente foram habitadas e com vida. As pessoas fogem para onde pensam encontrar a ilusão de um emprego e as localidades vão-se transformando em fantasmas. Ninguém fala do tema quente que é, em alternativa, o desenvolvimento integral e harmónico do território açórico, nem a médio nem a longo prazo. Esquecer apenas, é a norma. Há dias li um artigo sobre as profissões do futuro com mais possibilidades de emprego. Para além das tecnológicas de vanguarda, uma outra, mais básica mas não menos importante, me despertou a atenção, que é a de pessoal especializado nas ajudas sociais a pessoas delas necessitadas, o equivalente ao que hoje chamamos genericamente de «tratadores». Essa será a grande profissão do futuro, tratar de idosos, pessoas com deficiências ou simplesmente doentes temporária ou permanentemente incapacitados. As famílias já quase deixam de contar, porque têm os seus próprios problemas ou, falemos claro, se desinteressam dessa fase da vida dos familiares que já pouco podem ajudar. Os Serviços de Saúde locais, deixaram de prestar esses cuidados continuados, como era seu timbre. A par destes graves problemas que nos

afligem, a Assembleia da República está muito preocupada com o direito das sucessões. Segundo me vou apercebendo, há muita pressão para que os nubentes em segundas núpcias e com filhos, se casem no regime imperativo de separação absoluta de bens, mas deixam de ser herdeiros do que falecer em primeiro lugar, como agora acontece, a fim de se conservarem os bens nos originais familiares. Exactamente assim. O cônjuge sobrevivo pode e deve tratar do outro nas suas doenças e incapacidades e quando aquele falecer aparecem os herdeiros beneficiários daquele ramo, que não ligaram patavina ao familiar. O cônjuge, o que tratou dedicadamente até ao fim, evitando o internamento numa instituição, deve simplesmente desaparecer porque ninguém o mandou casar em segundas núpcias. A isso chama-se trabalhar abaixo de cão! Isto vem também a propósito do pagamento às futuras entidades prestadoras de cuidados sociais. Quem lhes paga? Um idoso dependente ou terminal já não dispõe da sua vontade mas é muito dispendioso e não é com as actuais comparticipações que se cobrem os encargos em permanente crescimento, para garantir a passagem intacta dos bens aos herdeiros. Ou os bens do assistido entram também, se necessário, no pagamento das despesas por ele efectuadas, ou o Estado paga todos os custos e assume integralmente a prestação dos cuidados, porque nessa altura, não muito distante, já será difícil conseguir alguém no seu juízo, que queira dar a cara pelas instituições, assumindo tão grandes responsabilidades sem o dinheiro suficiente, porque as exigências são muitas e bom será, se ainda houver gente jovem com vocação para tratar as pessoas na última fase da vida. E assim voltamos ao grave problema da demografia. Onde estarão os jovens necessários para garantir a última fase do nosso futuro?

A demografia a nordesteAntónio Machado

Pres. Ass. Amizade 2000

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O Dia a dia do LarMISERICÓRDIA DE NORDESTE

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13:30h às 16:30h

Horário de Visita aos Utentes

Sábados16:30H

Missa no Lar

Misericórdia de NordestePor Causas Nobres

Todos os dias das

Feliz Aniversário

Lucinda Pestana...............................Olga Soares.......................................Eduarda Aragão Pacheco.............M.ª Lúcia Amaral..............................Célia Mendonça..............................Francisco Couto...............................Lúcia de Fátima Amaral..................Paula Fernandes...............................Sandra Silva.......................................Marta Raposo...................................

Rosa Maria Barbosa..............................Maria da Conceição Fernandes........Lúcia Paiva Medeiros...........................Zélia Silveira............................................Daniel Medeiros....................................Ana Isabel Pacheco.............................Ana Isabel Raposo................................Marco Barbosa......................................André Guerreiro Pacheco...................

Ilda Rego Fernandes.....................Maria de Fátima Braga.................Elisabete Furtado Medeiros..........Paula Cabral de Melo...................Ilda da Conceicao Raposo..........Vanessa Sofia Cabral....................

LarCreche «Os Priolinhos»SAD.C. de Convívio - AlgarviaCreche «Os Priolinhos»SAD-RLarServiços AdministrativosCozinhaLar

LarLarCozinhaCentro de DiaLar Residencial CATL SantanaCentro de Convívio - AchadaMotoristaEnfermeiro

CATL VilaLarTéc. Sup. Serviço SocialSAD-RCreche «Os Priolinhos»Casa de Acolhimento

FEVEREIRO MARÇO

ABRILMaria Margarida Fernandes...................Maria José Lopes......................................Maria Inês Teixeira....................................Celina Soares............................................

SADLarSADLar

MAIO

FALECIMENTOS ADMISSÕESMoisés Duarte Melo M.ª dos Santos Couto

João Pacheco Pimentel José Raposo Júnior

N. Admissão

Admissão N.

F.

F.

14-06-192505-02-2018

08-03-201803-12-1925

19-01-2018

12-02-2018

MISERICÓRDIA DE NORDESTE

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Page 20: Gerações - misericordiadenordeste.com · 5. A Misericórdia de Nordeste promoveu o seu desfile de Carnaval que percorreu ... abordou as atitudes de redenção e penitência que