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Junho 1998 Semestral Volume 4 nº 2 Veja nesta edição Possibilidades de Parentesco A Matemática dos Ancestrais Onomástica Famílias Judias Italianas na Antigüidade Minha História Leitor relata como sua família chegou ao Brasil Family Finder Procure por parentes e antepassados através deste serviço internacional Judeus Islamizados A seita dos Doenmeh GERAÇÕES / BRASIL BOLETIM DA SOCIEDADE GENEALÓGICA JUDAICA DO BRASIL Retrato de Shabetai Tzvi – Smyrna, 1666

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Junho 1998 Semestral Volume 4 nº 2

Veja nesta edição

Possibilidades de Parentesco

A Matemática dos Ancestrais

Onomástica

Famílias JudiasItalianas na Antigüidade

Minha História

Leitor relata como suafamília chegou ao Brasil

Family Finder

Procure por parentese antepassados atravésdeste serviço internacional

Judeus Islamizados

A seita dos Doenmeh

GERAÇÕES / BRASILBOLETIM DA SOCIEDADE GENEALÓGICA JUDAICA DO BRASIL

Retrato de Shabetai Tzvi – Smyrna, 1666

Viaje conosco nesta edição

C em anos do primeiro Congresso Sionista Mundial, 50 do Estado de Israel (Medinat Israel). São muitos os caminhos percor-ridos por Israel, e no mundo latino eles tomam muitas formas diferentes, como se verá nesta edição. Se o leitor atentar umpouco sobre os assuntos que tratamos neste número, verá que temos razão. O início desta viagem começa na Turquia, onde

sobrevive uma estranha seita que não faz adeptos, é secreta e demonstra o impacto de um falso-messias do séc. XVII sobrevivendona mentalidade desta gente até nossos dias. Estamos na antiga Sublime Porta, a última fronteira de Sefarad, onde os judeus ibé-ricos encontraram refúgio das terríveis perseguições do temido século XV. Tomamos o caminho de volta, passamos pela Itália , exa-minamos a formação daquela comunidade tão antiga, já velha no tempo dos Césares. Ao mesmo tempo, pegamos um atalho e acom-panhamos uma nova diáspora, do italiano, que procura melhores lugares para viver, e vai para o Egito, onde tem que passar porum novo Pessach, até chegar ao Brasil. Aqui voltamos à genealogia dos aristocráticos Mesquitas, publicando um documento iné-dito, estabelecendo um novo link com a “Santa Terrinha”.

Para a viagem prosseguir temos que carregar também nossos equipamentos. Há também um material que chamamos de serviçoeque servirá como ferramenta nova para nossos sócios — nele você encontrará endereços úteis, indicações, cálculos de parentescoe até um noticiário diferenciado, para que você faça o seu próprio itinerário.

Quando esta viagem terminar, deixará de ser literária e passará à prática. Pois entre 12 e 17 de julho, muitos genealogistas, inclusi-ve alguns desta casa, estarão em Los Angeles, participando do Seminário Anual, o décimo oitavo, que previsivelmente chamar-se-á“Hollywood Chai” .

Como quem fica no porto, nós aqui da redação, desejamos que todos tenham uma boa viagem!Os Editores

Dicionário de Sobrenomes Sefaradim

J á entrou em fase final de edição o Dicionário de Sobrenomes Sefaradim (e anexos), que está sendo escrito pela equipe depesquisadores ligados à Sociedade Genealógica Judaica do Brasil. Até o momento, já são dez mil verbetes, identificandoestas famílias de origem judaica. Para compô-los, foi necessário recorrer a uma quantidade muito grande de fontes: listas de

sócios de sinagogas e de cemitérios, livros, revistas, Home Pages na Internet, árvores genealógicas, listas de vítimas da Inquisição edo Nazismo. O resultado desta pesquisa permite traçar, em poucas linhas, milhares de histórias familiares.

Como exemplo deste trabalho, transcrevemos um destes verbetes. Ele contém o sobrenome pesquisado, locais onde foram encontra-dos judeus ou cristãos-novos deste sobrenome, etimologia, formas em que podem ser encontrados em outros verbetes, fontes bi-bliográficas, tribunais da Inquisição onde foram sentenciados e um expoente da família (muitas vezes contendo uma fotografia e umaárvore genealógica, como neste caso):

CARDOSO / CARDOZO (S. Paulo, Rio de Janeiro, Sobral, Brasil, Beja, Lisboa, Bragança, Por-tugal, Panamá, México, Marrocos, Tunis, Florença, Livorno, Padova, Bordeaux, Hamburgo,Izmirna, Rhodes, Gibraltar, Hunt’s Bay (Jamaica), Brasil holandês, New York, Londres, Easton,Savannah, Kingston, Chicago, Trancoso, Nantes, Bayonne, Salonica, Amsterdã, Suriname,Tunísia, Istambul, Mesão Frio, Vila do Conde, Vila Real, Mangualde, Chacim, Freixo de Espada-à-Cinta, Egito, Nantes, Labastide-Clairence) A, cheio de cardos ou espinhos, portuguesa {JessurunCardoso, Cardoso de Almeida, Cardoso Coutinho, Cardoso de Azevedo, Cardoso Nunes,Rodrigues Cardoso, Cardoso de Sá, Cardoso Pardo, Cardoso de Bethencourt, Cardoso deFonseca, Cardozo Baeza, Cardozo da Costa, Cardozo Frias, Cardozo Gaspar, Cardozo Nunes,Cardozo Porto, Costa Cardozo, Fernandes Cardozo, Gomes Cardozo, Henriques Cardozo,Jessurum Cardosso, Lopes Cardoso, Marques Cardozo, Núñez Cardoso, Nunes Cardoso, PardoCardozo, Rodrigues Cardoso, Rodríguez Cardoso, Uziel Cardoso, Ximenes Cardozo, XiminesCardozo, Yessurun Cardozo, Aboab Cardozo, Azubi Cardozo, Cartozo} [ABC, ALL, AZE, BAR,BIR, CAR, CKSP, CPTU, DOV, EFW, EJU, FAR, HCL, JCB, LAR, LIR, LUZ, MEL, NOV, OSO,PIS, ROS, SCH, TOA, ZUB, LBG, MOK, COH, EIS, ESR, JMA, KPIA, PAZ, STE, VID] # Inq. deLisboa, México, Madrid, Toledo e Panamá. @ Benjamin Nathan Cardozo (N.Y.C., 1870 –Rochester, 1938), o segundo judeu a ser nomeado juiz da Suprema Corte do EUA (vd. árvoregenealógica e fotografia).

2 • GERAÇÕES / BRASIL, Junho 1998, vol. 4, nº 2

e m r e s u m o

l i t e r a t u r a

Benjamin N. Cardoso (1870 - 1938),juiz da Suprema Corte Americana

GERAÇÕES / BRASIL, Junho 1998, vol. 4, nº 2 • 3

A história do célebre “Messias de Smirna” Shabetai Tzvi eo fracasso de seu movimento de redenção, teve conse-qüências nocivas para a “História Judaica”. Depois que

Shabetai Tzvi converteu-se ao Islã em setembro de 1666 (ado-tando o nome de Aziz Mehemet Aga), muitos de seus discí-pulos interpretaram esta apostasia como uma missão secretaempreendida com uma finalidade mística em mente. A esma-gadora maioria de seus adeptos ou maaminim, espalhados portodos os cantos do mundo, principalmente nos Balcãs, Cons-tantinopla, Smirna, Livorno, Hamburgo, Amsterdã, e outroslugares da Europa, acreditava que era essencial seguir os pas-sos do seu mestre e tornar-se muçulmano, porém sem renun-ciar ao Judaísmo. Este grupo de adeptos, que talvez chegasse a250 famílias, formaram uma seita conhecida como “Doenmeh”,que em língua turca significa “convertidos” ou “apóstatas”.

Entre os Doenmeh havia poucos entendidos em Cabala. Nãoobstante, este pequeno núcleo gozava de uma especial reputa-ção na época. Isto aparece muito claro no “Comentário dos Sal-mos” de Israel Chazan de Castoria, escrito por volta de 1679.

Grande parte da comunidade Doenmeh estava formada porconversos persuadidos pelo próprio Shabetai Tzvi. Eles eramfervorosos muçulmanos, e privadamente adeptos shabetaianosque observavam um judaísmo messiâ-nico baseado nos “Dezoitos Preceitos”atribuídos a Shabetai Tzvi e aceitos pe-las comunidades Doenmeh. Estes 18preceitos, cujo texto foi publicado porGuershom Scholem (o maior estudiosodo movimento Shabetaísta), são uma es-pécie de versão paralela dos “Dez Man-damentos”. Estes pre-ceitos — ou mandamentos da seita — determinam qual deveráser o tipo de relacionamento entre os adeptos Doenmehperante turcos e judeus. Para ilustrarmos, por exemplo, ocasamento entre membros do grupo e muçul-manos autênticosestava es-tritamente proibido.

Logo depois da morte de Shabetai Tzvi, o centro das ativida-des dos adeptos deslocou-se para a cidade grega de Salônica,onde permaneceu até o século XX.

Jacob Querido: Reencarnação de Shabetai TzviA origem da seita Doenmehestá intimamente ligada à últimamulher de Shabetai Tzvi — Iochevet — mais conhecida noIslã como Aysha. Ela era filha de Joseph Filosof, um dosrabinos de Salônica.

Depois de retornar da Albânia, passando um breve período porAdrianópolis, Iochevet proclamou seu irmão mais novo JacobFilosof ou Jacob Querido, a reencarnação da alma de ShabetaiTzvi.

Há dois relatos contraditórios dessa conversão dos Doenmehao Islã. Na realidade, tudo indica que houve duas levas de con-versões: uma conversão aconteceu em 1683 e outra em 1686.Seja como for, o importante é que muitas “revelações místicas”foram experimentadas em Salônica durante todos estes anos.Com o passar do tempo, a seita de Jacob Querido foi se organi-zando e adquirindo bases institucionais sólidas. Durante o sé-culo XVIII, a seita recebeu adeptos de outras comunidades, es-pecialmente da Polônia.

Jacob Querido (1650-1690) sempre manifestou uma forte de-dicação à tradição islâmica. Seu nome em árabe era AbdullahYacoub, e em 1688 chegou a participar de uma peregrinação a

Meca com Mustafah Effendi, um deseus mais fervorosos discípulos. Natu-ralmente, esta viagem opunha-se aosprincípios da comunidade Doenmeh.Entre 1690 e 1695, já retornando de suaperegrinação a Meca, Jacob Queridomorreu em Alexandria no Egito. Deste

shabetaísta não restaram escritos, exis-tindo apenas um meropanfleto redigido contra ele por um ou-tro judeu apóstata.

As sub-seitas dos DoenmehOs próprios conflitos e atritos internos nos círculos Doenmehcausaram uma divisão na organização da seita. Destas lutaspolítico-religiosas, resultaram duas novas sub-seitas:

m a t é r i a d e c a p a

Os Doenmeh: Judeus Islamizados

Shabetai Tzvi converteu-se ao Islamismo. Mas seus descendentes mantiveram tradiçõesjudaicas, fundando uma estranha seita messiânica híbrida: os “Doenmeh”.

Prof. Reuven Faingold*

Eles eram fervorosos muçulmanos,e privadamente observavam um

judaísmo messiânico

a) Os “izmirlis” ou “ izmirim”: constituída por membros daprimeira comunidade (o grupo original). Estes aristocratasda seita eram chamados “Cavalleros” em ladino ou“Kapanjilar” em turco. Incluíam os grandes comerciantes ea classe média, bem como a maioria da intelectualidadeDoenmeh. Foram também os primeiros a mostrar, a partirdo século XIX, uma marcada tendência para assimilaçãocom os turcos.

b) os “jacobitas” ou “jakoblar” (em turco) constituída pelosrabinos e seguidores de Jacob Querido. Esta sub-seita deaproximadamente 43 famílias, incluía um grande númerode funcionários turcos de classe média e baixa.

Depois de 1700, um novo líder de nome Baruchiah Russo,apareceu entre os adeptos de Querido, e foi proclamado porseus discípulos como sendo a reencarnação do messiasShabetai Tzvi. Russoera filho de um velho seguidor do“Messias de Smirna”. Depois de sua conversão, BaruchiahRusso foi chamado em turco “Osman Baba”. Então, umaterceira seita organizou-se em torno dele.

c) os “konyosos” ou “karakashlar” foram considerados o nú-cleo mais afastado dos Doenmeh. Composto por um prole-tariado e classes de artesãos, proclamavam uma espécie deniilismo religioso. Além disso, os konyosos conservavam osnomes de família sefaraditas originais, que são freqüen-temente mencionados em poemas dedicados aos mortos.

Alguns dos membros “konyosos” foram enviados comorepresentantes da seita à Polônia, Alemanha, e Áustria,onde despertaram uma efervescência messiânica entre 1720e 1726. Ramificações desta seita missionária, da qual maistarde surgiram os “frankistas” (a seita de Jacob Frank),estabeleceram-se em vários lugares da Diáspora.

Ainda muito jovem, Baruchiah Russo morreu em 1720, eseu túmulo foi alvo de peregrinação de discípulos eadmiradores. Seu filho também foi líder espiritual dessaseita, e morreu em 1781.

Durante o período da Revolução Francesa, um poderosolíder da seita ganhou destaque. Ele era conhecido como“Dervixe Efendi”, e talvez possa ser identificado como opoeta Doenmeh Juda Levi Tovah, um cabalista que escreviabelíssimos sermões em ladino.

Doenmeh — Judeus ou não?Sem dúvida, ficou evidente para osgovernantes e autoridades turcas queestes apóstatas, de quem se esperavaque incentivassem judeus a seconverterem ao Islamismo, não tinham a mínima intenção dese assimilar. Ao contrário, eles estavam clandestinamentedeterminados a observar uma vida sectária, semi-clandestina;guardando externamente as práticas islâmicas e sendopoliticamente cidadãos fiéis às leis do país.

O termo Doenmeh, surgido no século XVIII, é complexo. Édifícil saber se ele faz referencia à conversão de judeus shabe-taístas ao Islamismo, ou ao fato destes não serem muçulmanosautênticos. Por sua parte, os judeus chamavam os Doenmehde“minim” , que em hebraico significa “sectários”; levando umaforte conotação pejorativa de “apóstatas hereges”. Entre osdiversos textos dos rabinos de Salônica, há numerosos escritosque abordam a questão de como deviam ser tratados osDoenmeh, se deveriam ser considerados judeus ou não.

Os Doenmehmoravam em bairros separados em Salônica, eseus líderes conviviam amistosamente com vários grupos su-fistas, e com as ordens de “Dervixes” turcos, mais conhecidoscomo “Baktashi”. Da mesma forma, os Doenmehmantinhamcontatos com shabetaístas que não se haviam convertido ao Is-lamismo, e com vários rabinos de Salônica que, quando neces-sário, dirimiam questões da lei mosaica para a seita. Estas re-lações foram rompidas somente em meados do século XIX.

O comportamento dos Doenmehperante o Judaísmo eraambivalente. Em um primeiro momento, eles demonstravamuma atitude ambígua em relação ao Judaísmo tradicional, en-carando-o como nulo, sendo seu lugar tomado por uma Torahmais elevada, mais espiritual, chamada “Torah da Emanação”ou “Torat Ha-Atzilut” . Entretanto, num segundo momento,procuraram conduzir-se segundo a Torah da tradição talmú-dica, denominada “Torah da Criação” ou “Torat Ha-Beriah”.

Costumes e ritos DoenmehOs livros de liturgia dos Doenmeheram escritos em formatomuito pequeno, para que pudessem ser facilmente ocultados.Todas as sub-seitas ocultavam seus assuntos tanto dos judeuscomo dos turcos, e durante muito tempo o que se conhecia dos“Doenmeh” baseava-se apenas em relatos e comentários deviajantes estrangeiros.

No início, o conhecimento do hebraico era comum entre osDoenmeh, e sua liturgia era produzida nesta língua. Isto podeser visto nos seus livros de orações. No entanto, com o correrdo tempo, o uso do ladino foi aumentando, e tanto a literaturapoética como os sermões eram escritos nesta língua.

Os manuscritos dos Doenmehrevelavam informações sobresuas idéias shabetaístas, e foram traduzidos e examinados

depois que várias famílias decidiramassimilar-se por completo à sociedadeturca.

Até 1870, os Doenmehfalavam ladinoentre si, e somente depois desta data, oturco tornou-se a língua de uso cotidiano.

Os cemitérios Doenmeheram usados pelas três seitas. Emcompensação, como sempre aconteceu nas diferentes épocashistóricas, cada sub-seita tinha sua própria sinagoga chamada“kahal” ou “congregação”. Ela estava localizada no centro dobairro, escondida dos estranhos.

4 • GERAÇÕES / BRASIL, Junho 1998, vol. 4, nº 2

m a t é r i a d e c a p a

Seus livros de liturgia eramescritos em formato pequeno, para

que pudessem ser ocultados

GERAÇÕES / BRASIL, Junho 1998, vol. 4, nº 2 • 5

Os Doenmeh na atualidadeA força numérica dos Doenmehé conhecida parcialmente.Segundo o viajante dinamarquês Karsten Niebuhr (1733-1815), umas 600 famílias viviam em Salônica em 1774, e oscasamentos realizados por estes eram endogâmicos, ou seja,consagrados no seio das famílias da congregação.

Durante o longo período em que osDoenmehficaram em Salônica1, a es-trutura da seita permaneceu intacta, em-bora vários membros chegaram a atuarnos movimentos dos “Jovens Turcos”.Três deles chegaram a ministros no ga-binete turco2. Um deles — o ministrodas finanças Mehmet Cavit Bey (1875-1926) — descendia da família do próprio Baruchiah Russo,um dos mais importantes líderes da seita.

Contrariamente ao que pensavam os turcos, os judeus deSalônica afirmavam que Kemal Ataturk, o fundador daRepública Turca moderna, seria também de origem Doenmeh.

Antes da I Guerra Mundial, o número de Doenmehera esti-mado em 10.000 a 15.000 pessoas, divididos nas três seitasmencionadas.

A troca de populações ocasionada pela guerra greco-turca, fezcom que os Doenmehtivessem que abandonar Salônica. Amaioria deles se estabeleceu em Istambul, e apenas uns poucosestariam em outras cidades turcas como Smirna e Ancara.

Na imprensa otomana da época, houve um polêmico debatesobre o caráter judaico dos Doenmehe sua assimilação. Quan-do saíram de Salônica, ainda no século passado, a assimilaçãocomeçou a expandir-se. Há evidências de que as seitas dos“konyosos” tenha sobrevivido até 1970, pois algumas famíliascontinuavam pertencendo a esta organização.

Entre intelectuais turcos3, havia descendentes dos Doenmeh, einclusive houve tentativas de persuadi-los para retornar aoJudaísmo e imigrar para Israel. Tudo isto foi em vão, pois pou-cas foram as famílias Doenmehque imigraram para o novoEstado judeu.

Palavras FinaisParece que não existiu uma diferença religiosa muito grandeentre os Doenmehe outras seitas que também acreditavam emShabetai Tzvi. Em sua literatura, dificilmente se faz mençãoao fato de pertencerem ao Islamismo. Os membros das três sub-seitas Doenmehafirmavam ser a verdadeira comunidade judai-

ca, mesmo preservando a sua fé em Shabetai Tzvi, que haviaab-rogado os mandamentos práticos da Torah, admitin-do uma“Torah de Emanação” superior, como sua substituta.

O princípio de divindade de Shabetai Tzvi desenvolveu-sefirmemente e foi aceito sem restrições pela seita. Além de suaab-rogação dos mandamentos práticos e sua crença trinitáriamística, um fator despertava grande oposição entre seus con-

temporâneos: a inclinação em permitircasamentos proibidos pela “Halachá” erealizar bacanais que envolviam a trocade mulheres, atos que certamente degra-davam a meta final da lei judaica.

Desde o século XVIII, começaram asentir-se acusações de licenciosidade, o

que teria dado origem a uma certa promiscuidade sexual du-rante algumas gerações. De fato, ocorreram cerimônias orgiás-ticas, principalmente na festa Doenmehde “Chag Ha-Keves”(Festa do Cordeiro) celebrada em 22 de Adar, perto da festa dePurim.

Entre os Doenmehera costume comemorar outras datas sagra-das relacionadas à vida de Shabetai Tzvi e acontecimentosparticulares ligados a sua apostasia. A célebre liturgiaDoenmehpara o 9 de Av, aniversário dele, chamada “ChagHa-Semachot” (Festa do Júbilo), ainda existe nas festividadesdos Doenmeh.

m a t é r i a d e c a p a

Kemal Ataturk, o fundador daRepública Turca moderna, seriatambém de origem Doenmeh

1 Hamdi Bey, um Dönme Vali, foi um dos principais reconstrutores deSalônica após o incêndio de 1890.

2 Estes três ministros seriam, o já citado Mehmet Cavit Bey, tambémconhecido como Djawid Bey; Enver Pachá (1879-1922) e talvez KiamilPachá.

3 Adil Bey, editor do jornal turco Yeni Asir (Nova Época) de Salônica.

* Prof. Reuven Faingold é doutor em História pela Universidade Hebraicade Jerusalém.

Djavid-bey, ministro das finanças da Turquia (1879-1922)

S egundo Franco Pisa, alguns sobrenomes das grandes fa-mílias judaicas italianas tiveram origem num grande clãfamiliar (entendendo-se por clã um conjunto de indiví-

duos com descendência e interesses comuns). Como clãs fa-miliares, podem ser definidas as famílias conhecidas desde ofim do século XI: os Anawim, os min-ha Ne’arim, os min-haZeqenim, os min-ha Dayanim, os min-ha Adumim, os min-haTapuchim.

A família min-ha Anawim —não confundir com a alemã Hanau— remonta à época dos judeus deportados a Roma por Tito.Em hebraico, o significado da palavra anaw é: modesto,humilde, manso. Sobrenomes como Umili, Piattelli, delliMansi, Umano e Bozzecco, conhecido sobretudo em Roma eFerrara, derivam da tradução literal do hebraico.

Já os sobrenomes Del Vecchio, dei Vecchi, que a partir doRenascimento, espalharam-se por Mântua, Pádua, Lugo,Florença e Trieste, derivam de min-ha Zeqenim(zaken,velho).

Min-ha Ne’arimé conhecida em Roma, Livorno e Pisa. Umavelha tradição conta que esta família tinha origem na nobrezade Jerusalém e havia combatido o Império Romano. Conduzi-da a Roma por Tito, entre os prisioneiros que o acompanharamno seu triunfo, ela inseriu-se depois na liberta e florescente co-munidade hebraica da cidade. De Fanciulli e Supino, confor-me a tradição italiana, são sobrenomes derivados do nome doclã cujo brasão tem no leão e no pinheiro um emblema de suaantiga linhagem. Um importante ramo da família floresceu emBolonha do fim do séc. XIV ao séc. XV.

Min-ha Adumim,traduzido para De Rossi e Rosselli, é umafamília conhecida em Roma e Livorno. O brasão contém abacia dos Levitas, fazendo referência a sua casta sacerdotal; eum leão coroado, representando sua origem na aristocracia doantigo reino de Israel. Outros ramos da família encontram-seem Mântua, Ferrara e Veneza.

Os De Pomis, que derivam o seu nome da antiga família roma-na dos min-ha Tapuchim(plural de Tapuach, maçã) ficaramem Roma até 1260, quando então se transferiram para Spoleto.

O brasão familiar contém uma macieira circundada por doisleões.

Existiu um outro clã, muito maior, formado por grupos quenãodescendiam de um só “pater famíliae”, e que nem eramconstituídos somente de parentes próximos, que se chamavados mi Bethelou mi ha Knesset(casa do Senhor ou casa dereunião, sinagoga). Deste grupo faziam parte banqueiros,médicos, rabinos e literatos. O fato de se fazer parte dele, ouseja, “daqueles que fazem parte das Escolas mais importantesda Itália, herdeiros da casa do Senhor em Jerusalém”,constituía-se em grande honra. Deste segundo clã fazem parteas famílias Uziel e Uzielli (Livorno, Florença e Veneza),Camerino (Marche, Umbria e Toscana), Fano e da Fano(Fano, Bolonha, Ferrara, Modena, Milão e Roma), Pisa e daPisa (Roma, Perugia, Florença, Ferrara e Milão) e daSanminiato (Perugia e Florença).

6 • GERAÇÕES / BRASIL, Junho 1998, vol. 4, nº 2

o n o m á s t i c a e h e r á l d i c a

Famílias Judaicas Italianas Na Antigüidade

Sobrenomes de famílias judaicas italianas remontam à época de judeus deportados por Tito.Alguns tiveram origem em clãs familiares do final do século XI.

Anna Rosa Campagnano*

A família Min-ha Ne’arim (hojeDe Fanciulli e Supino) tinha origemna nobreza de Jerusalém e haviacombatido o Império Romano.

* Anna Rosa Campagnano é historiadora e pesquisa a história dos judeusitalianos no Brasil. E-mail: [email protected]

GERAÇÕES / BRASIL, Junho 1998, vol. 4, nº 2 • 7

A ccording to Franco Pisa, some of the surnames of the great Italian Jewish families originate from a great family clan, herewith understood to mean a group of

individuals with common extraction and interests.

Families known since the end of the 11th century, such as min-ha Anawim, min-ha Ne’arim, min-ha Zeqenim, min-haDayanim, min-ha Adonim, min-ha Tapuchim, can be definedas family clans.

The min-ha Anawimfamily (not to be mistaken for the Hanaufamily, of German origin), goes back to the time when Jewswere deported to Rome by Titus. In Hebrew, the word anawmeans modest, humble, meek. Surnames such as Umili,Piattelli, delli Mansi, Umano and Bozzecco, commonespecially in Rome and Ferrara, originate from the literarytranslation from Hebrew.

From min-ha Zeqenim(zaken meaning old), come thesurnames Del Vecchio and dei Vecchi, which after theRenaissance spread to various cities, such as Mantua, Padua,Lugo, Florence and Trieste.

Min-ha Ne’arim is familiar in Rome, Leghorn and Pisa. Anold tradition says that this family originated in Jerusalem’snobility and fought against the Roman Empire. Taken toRome as prisioners by the triumphant Titus, they later settledinto the free and flourishing Hebrew population of the city.De Fanciulli and Supino, as per the Italian translation, are thesurnames which originated from the old family, whose coat ofarms shows, besides a lion, the pine tree, which is considereda symbol of old ancestry.

An important ramification of the family has existed inBologna since the end of the 13th and through the 14th century.

Min-ha Adumin, translated to De Rossi and Rosselli, is afamily known in Rome and Leghorn. The coat of arms showsa Levim plate, a reference to the caste of priests, and acrowned lion, a symbol pertaining to the aristocracy of the oldkingdom of Israel.

Another branch of the family is found in Mantova, Ferrara andVenice.

The De Pomis, originating from the old Roman family min-haTapuchim, stayed in Rome until 1260, when they transferred

to Spoleto. The family’s coat of arms shows an apple treesurrounded by two lions.

There was another, much larger clan, formed by groups whichdid not originate from one sole “pater famíliae” and were noteven made up only by close relatives, like the one formed bythe Roman inter-family group which called itself mi Bethel ormi ha K’neset (house of the Lord or house of gathering, orsynagogue). The group called mi Bethel consisted of bankers,doctors, rabbis and literati. Being part of this group, i.e., “ofthose who belong to the most important Schools in Italy, heirsof the House of the Lord of Jerusalem”, was a great honor.This second clan is made up of the following families: Uzieland Uzielli (Leghorn, Florence, Venice), Camerino (LeMarche, Umbria and Tuscany), Fano and da Fano (Fano,Bologna, Ferrara, Modena, Milan and Rome), Pisa and da Pisa(Rome, Perugia, Florence, Ferrara and Milan), da Sanminiato(Perugia, Florence).

(Collected and translated from the book by Franco Pisa,“Parnassim, the great Italian Hebrew families from the 11th tothe 19th century”.)

o n o m a s t h i c s a n d h e r a l d r y

Italian Jewish Families Recognized Since Ancient Times

Jewish Italian surnames came from the days of Titus Vespasianus.Some had their origin in the end of 11th century.

Anna Rosa Campagnano*

* Anna Rosa Campagnano is historian and researches History of theItalian Jews in Brazil. E-mail:[email protected]

P ara nós judeus, a genealogia tem um sentido muito es-pecial, pois somos o povo que tem a sua história ligada a uma origem familiar; somos todos descendentes de

Abraão e Sara.

A família é a célula mãe de qualquer sociedade. Suagenealogia está intimamente atrelada à história do meio noqual evoluiu. Ao abordar o estudo desta evolução, deparamo-nos com uma nítida mudança no modo derelatar, apresentar e interpretar a história.

Sem citar historiadores da antigüidade,podemos verificar que no início do século,“ Isaac e Mallet” ensinavam datas,números, fatos. Em seguida A. Toynbee,com longas pinceladas dignas de pinturasmodernas, nos levava em poucas páginas apercorrer séculos, continentes e culturasno acompanhamento de povos e impérios.

Hoje, o enfoque já é outro: F. Braudel vê a História como umconjunto de fatores interativos que descrevem cada célula(pequena ou grande) nas suas múltiplas facetas. Assim sendo,se a historiografia evoluiu, também a abordagem dagenealogia o fez e o enfoque haverá de assumir novos rumos.

Não é mais do interesse do pesquisador saber apenas quem éfilho, neto, ou bisneto de quem, descobrir se a família pesqui-sada é de origem nobre ou plebéia. Me parece mais ou tãoimportante poder entender o que somos agora visto o queéramos em termos de cultura, e experiências migratórias cau-sadas pelas diásporas judaicas, o contato com as sociedadesque encontramos e que, ora nos aceitaram, ora nos rejeitaram,seja via guetos ou campos de extermínio. Olhando a genea-logia sob esse ângulo, relatarei meu nú-cleo familiar.

Resido no Brasil (onde nasceram meusfilhos e netos) há mais de 38 anos, po-rém nasci, como meu pai, no Egito.Meu avô por sua vez, nasceu em Corfuno fim do século passado, de famíliavêneta abastada. O seu irmão, prova-velmente o “dandy” da família (o playboy de hoje), numaviagem a Milão, foi seduzido pela facilidade de se afortunar nabolsa. Porém esqueceu-se de que quando uns ganham, outrostêm que perder. Ficou com os perdedores, arruinando a famí-lia, e iniciando mais uma onda de imigrações.

“Nono Joseph”, como o chamávamos, escolheu o Egito, oeldorado da época.

Lembro-me de que na véspera do dia de meu Bar-Mitzvah,percorremos, ele e eu, todas as confeitarias do Cairo à procurade um típico doce de Corfu, que era oferecido nesta ocasião:uma cornucópia de biscoito cheia de balas, bombons, gulo-seimas. Não encontramos, mas ficou a lembrança.

Era o costume da época (ainda hojeexistente em algumas comunidades)as minorias “importarem” mulheresda mesma tribo… para ter certeza deque as tradições não se perderiam.Seguindo essa prática meu avôrecebeu de Corfu sua esposa, cujairmã foi enviada à França para casarcom um tal de Farhi (que depois mu-dou seu nome para Farchi). O resto

da família ficou em Corfu e foi dizimada nos campos deAuschwitz, salvo um primo de primeiro grau do meu pai quefugiu para as montanhas, onde se juntou à resistência grega.Como todos os resistentes europeus durante a 2ª GuerraMundial, findo o conflito, tinha-se tornado comunista. Acaboupreso pela ditadura grega na ilha de Makronissos. Saiu de lápara fazer aliá, tornou-se membro ativo do partido comunistaisraeli e morreu solteiro sem ter perdido o ideal de construirum mundo melhor.

Enquanto isso, na França, a prima (de l° grau) do meu paiatravessou a guerra fazendo faxinas nas lojas de móveis docunhado; ele era judeu, mas tinha nome de polonês (com oqual também sobreviveu à ocupação nazista). Morei na casadela, quando estudante em Paris. Alegre, gorducha, gulosa,

morreu com 102 anos, sem se preocuparcom o colesterol e outros males do gê-nero. A única falha dela foi não tertransmitido às suas duas filhas nenhumareceita de doces de Purim, e quase ne-nhuma cultura judaica. Como conse-qüência dessa ignorância cultural, asduas moças casaram-se fora da comuni-

dade, abandonando-a.

Do Egito tenho duas boas lembranças. A primeira é que alicasei, em outubro de 1956, com Viviana, cuja mãe nasceu emJerusalém,e cujo pai era italiano oriundo da Toscana.

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m i n h a h i s t ó r i a

Genealogia Familiar

Quais as funções da genealogia moderna? Saber quem-é-filho-de-quem,ou entender as causas das ondas imigratórias de um povo?

O autor, através deste relato pessoal, explica a questão.

Renato Minerbo

É importante entendermos o quesomos agora, visto o que éramos

em termos de cultura, emexperiências migratórias causadas

pelas diásporas judaicas

Era o costume da época“importarem” mulheres da mesmatribo para se ter certeza de que as

tradições não se perderiam

A segunda é que logo depois de casados fomos expulsos doEgito pelo ministro da educação que tinha sido convidado aonosso casamento. Confiscou nossa gráfica especializada naimpressão de livros escolares, que passou a imprimir materialde propaganda anti-judaica: “era mais prático…” E foi no“ S.S.Augustus”, em dezembro de 1956, que revivemosliteralmente a frase repetida há séculos na primeira noite dePessach: “Cada um de nós deve considerar-se como se tivesseele mesmo saído do Egito…” Assim sendo, Moisés saiu doEgito nos tempos dos Faraós. Lá estava o “Nono Joseph” devolta à época de Hitler, e de lá saímos novamente por vontadede Nasser. Haja analogia!

Tentando resumir minha visão de genealogia familiar, possodizer que de Corfu até São Paulo, via Egito, meu núcleo, emmenos de 100 anos foi, a partir de uma linda ilha grega, des-membrado, destroçado e dispersado. Em Corfu foi dizimado,do Egito foi expulso, na França foi assimilado e em Israel foisepultado.

Com certeza você conhece o empresário Ben-jamin Steinbruch, o “barão do aço”, mas nãosabe nada de Isaac Benayon Sabbá — nascidoem Belém, em 12 de fevereiro de 1907, filho dePrimo e Fortunata Sabbá — e é normal, pois,

pouco sabemos da região amazônica. I. B. Sabbá foi certa-mente o empresário mais importante desta região. A sua ativi-dade criadora permitiu que ele, de um começo extremamentemodesto, chegasse a ser um dos homens mais ricos deste país,possuindo em torno de quarenta empresas. A história deSabbá e de outros judeus de origem marroquina, que fizerama vida na região amazônica foi escrita por Samuel Benchimolna monografia “Judeus no Ciclo da Borracha” (Manaus,1994, 75 páginas, datilografada).

Completa neste ano o centenário do artigo “J’Accuse” deEmile Zola, publicado no jornal parisiense “L’Aurore” (13-01-1898), que defendia apaixonadamente o capitão Dreyfus,do Exército Francês, acusado e julgado culpado de traiçãoquatro anos antes. Alfred Dreyfus (1859-1935), um judeu deorigem alsaciana, foi tomado como bode expiatório, numaconspiração urdida por outros oficiais, para salvar o verda-deiro traidor, um nobre de origem húngara. Desonrado, presoe banido para uma ilha-prisão, logo se formaram, em volta deDreyfus, dois partidos, um contra e outro favorável a ele, todoslutando de forma passional. Um de seus primei-ros defensores, foi o jurista baiano Rui Barbosa,que entrou na luta, defendendo-o de Londres. Ocaso Dreyfus foi um dos incentivos ao movimen-to sionista de Theodor Herzl.

Nos nossos “genes” foi programada a ferida do holocausto, oidealismo do revoltado, o conformismo do assimilado, e oinstinto de vida e sobrevivência do emigrado.

Esta é parte da “minha” genealogia familiar, a que recebi e es-tarei transmitindo aos meus descendentes. Não é nada extraor-dinário ou digno de pesquisa e estudo. É provavelmente a ge-nealogia de boa parte das famílias judias e porque não dizer dopovo judaico.

Artur Carlos de Barros Basto (1887-1961), capitão do Exér-cito Português, tinha tudo para alcançar os mais altos postosde sua carreira: valente, fora condecorado em campos de ba-talha da I Guerra Mundial; pesquisava e escrevia com facili-dade, e era um republicano de primeira. Mas perdeu tudo ao sededicar à reintegração dos criptojudeus portugueses ao Judaís-mo. A trágica história deste homem está contada no livro“Ben-Rosh: Biografia do Capitão Barros Basto, O Apóstolodo Marranos” (Porto, l997, 300 pp.), de Elvira de AzevedoMea e Inácio Steinhardt. Utilizando farta documentação ofi-cial do arquivo pessoal do próprio Cap. Barros Basto, o livrobusca esclarecer o complô que destruiu a carreira deste idea-lista. [Edições Afrontamento, rua Costa Cabral, 859, Porto,Portugal, tel. 529271].

A família Castro, de Recife —Manuel Castro,vindo de Kishinev (Bessarábia), viveu em Recife,onde viria a falecer com menos de 30 anos. Alápide mortuária registra que ele nasceu em 5653e morreu em 5682. A estranheza está no uso dosobrenome ibérico, por um judeu de origem ashkenazi efartamente aparentado neste mesmo grupo. Nenhum de seusdescendentes sabe explicar como surgiu o nome Castro nafamília. Recorrendo aos poucos registros que existem (a lápidecitada), descobre-se que ele chamava-se religiosamente: Meirb. Yossef Castro —e nada mais. Outra curiosidade é que seusdescendentes e parentes, filho, netos e primos, formam umadinastia de médicos homeopatas, espalhados pelo Brasil. Oescritor Leôncio Basbaum (Recife, 6-11-l907 – S. Paulo, 17-03-1969), aliás Jeremias Cordeiro, ou Augusto Machado,primo destes Castros, também foi médico homeopata. (Inf. deDiva Masur, Recife).

p e r s o n a l i d a d e s

GERAÇÕES / BRASIL, Junho 1998, vol. 4, nº 2 • 9

m i n h a h i s t ó r i a

Logo depois de casados fomosexpulsos do Egito pelo Ministro da

Educação — que tinha sido convidadoao nosso casamento

Se você tem uma história interessante para contar, escreva para a redação deGerações / Brasil, colocando no envelope a Sigla “MINHA HISTÓRIA” .Ou envie por e-mail para: [email protected]

A maioria dos genealogistas sabe que casamentos entreprimos de primeiro e segundo graus eram comuns nopassado. Mesmo hoje há muitos casos que podem ser

encontrados em muitas comunidades. O que talvez não nosdamos conta é o papel dramático de casamentos entre primosao longo da história da humanidade.

Sociedades tribais e outras comunidades fechadas do passadotendem a ter laços familiares bastante estreitos entre si. Osgrupos eram tipicamente pequenos devido à logística biológica(algo que biólogos chamam de “capacidade de carga”). Éóbvio que casamentos fora do grupo ocorriam também,criando variedade genética dentro dogrupo e aumentando as chances de so-brevida. Os motivos são complexos,mas para mantermos a brevidade, po-dem ser reduzidos a poucas frases.

Os traços genéticos malévolos carrega-dos como genes recessivos por um dospais não serão repassados à próxima ge-ração se o outro pai possui traços benevolentes que se so-breponham aos genes perigosos. Se ambos pais possuem o ge-ne malévolo como recessivo, a probabilidade do filho de-senvolver este defeito ou mutação é grande.

Em populações onde o casamento endogâmico é comum, taisdoenças são um grande perigo, mas ao contrário da crençapopular, casamento entre primos não é um perigo sério para atransmissão desses defeitos genéticos. Para que isto aconteça,a endogamia precisa ser muito mais intensa. Testemunha distodisso é a família Habsburg e toda a realeza européia.

Negar casamentos entre primos em nossas árvores genealógi-cas é um mito. Alguém postulou uma vez que somos 50. Pri-mo um do outro (exceto para os grupos mais isolados, os “pu-ros”, dos quais poucos ainda existem). Isto significa que se vo-cê considerar a você mesmo como a primeira geraçãoe recuaraté a geração 52, você tem um ancestral em comum com todaa população da terra. Basta encontrar um ancestral comum entrecentenas de milhares e você terá um primo na África ou Ásia.

O motivo dos casamentos entre primos tinha que acontecer efreqüentemente ocorreu. Tinha que ocorrer, pois se não acon-tecesse os números não estariam corretos. Como todos sabem,possuímos dois pais biológicos, quatro avós biológicos e assimpor diante. Se estendermos este raciocínio por algumas ge-

rações, verificamos que por volta do ano 1245 a população daTerra teria que ter mais de 134 milhões de pessoas só de pa-rentes diretos e isto é mais gente do que a população do pla-neta naquela época (Tabela 1).

Imagine uma árvore genealógica como é, isto é, como uma ár-vore. Cada ramo, à medida que cresce, tem mais ramificações.Se um casamento ocorre entre primos de nossos ancestrais,então o cume da árvore estaria um pouco mais estreito, poisprimos compartilham de mesmos avós. Se ocorrerem muitoscasamentos entre primos, isto provocaria um estreitamentoainda maior.

Cada um de nós possui uma árvore emforma de losango. Em algum ponto,nossa árvore atinge o ponto mais largo,mas daí em diante é necessário que seestreite. A época em que ocorre é porhipótese entre as gerações 20 e 35 paraa maioria das pessoas oriundas da Eu-ropa (Judeus e não Judeus). Talvez a

teoria de Adão e Eva não seja tão absurda assim! O efeito docasamento entre primos pode ser visto na Tabela 2. Em escalaainda maior, isto poderia ter o efeito de um estreitamentodramático da árvore. Estima-se que a população ashkenazi (?)foi reduzida a cerca de 97 mil no ano 70 da Era Vulgar4. Casa-mento endogâmico portanto é um fato. Somos todos parentes.

Para demonstrar isto busquei solução para este problema emoutra direção (Tabela 3). Tomando os 4096 ancestrais da 13ªgeração, avancei de acordo com certas regras para mostrarquantos primos deveremos ter. Como pode ser visto, isto che-ga ao absurdo de 20 milhões de pessoas. A bem da verdade,este número é reduzido, devido a fatores tais como guerras,doenças e horrores como o Holocausto. Ainda assim, não éabsurdo afirmar que se um ashkenazi encontrar outro, total-mente estranho na rua, em algum lugar do mundo, os dois sãoprovavelmente primos de 10 graus pelo menos.

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A Matemática dos Ancestrais

Talvez a teoria de Adão e Eva não seja tão absurda.Você tem um ancestral em comum com toda a população da terra.

Basta observar os cálculos deste artigo para descobrir que você tem umprimo na África, na Ásia... ou mesmo na esquina de sua casa!

Autor: Richard PanchykTradução: Alain Bigio

Cada um de nós possui uma árvoregenealógica em forma de losango:

negar casamentos entre primos emnossas árvores é um mito

4 Cada um dos cerca de 14 milhões de judeus contemporâneos descendemquase certamente de um dos 97 mil sobreviventes da guerra contra Romaque, de acordo com Flávio Josefo cairam da Palestina após o ano 70. V.Alex Schoumatoff, The Mountain of Names(N.Y., 1990).

Esse artigo foi publicado originalmente em inglês na revista AVOTAYNU,spring 97 e traduzido sob autorização do autor e editor

GERAÇÕES / BRASIL, Junho 1998, vol. 4, nº 2 • 11

A menos que se descenda da realeza ou de uma grande família rabínica, é improvável que encontremos um parente mais afastadodo que de 10º grau, não importa quanto pesquisemos. Isto nos mostra o tamanho de nossa família. À medida que você encontraprimos de 4, 5, 6, 7, 8 e 9 graus, você aumenta a sua própria definição de genealogia. E daí? O que significam esses números paraum genealogista judeu? Nunca faça pouco de uma informação. Alegre-se que as conexões entre nós são mais próximas do quepensamos. Elas têm que ser; é assim mesmo que as coisas são.

c u r i o s i d a d e

Tabela 2 – Número de ancestrais considerando apenas umcasamento entre primos de 1º grau

Aparecem 75% de ancestrais por causa de um só casamentoendogâmico. Se a probabilidade de ocorrer for de 1 para 1000,a redução no número de ancestrais seria enorme. Na 17 gera-ção do príncipe Charles, quando ele deveria ter 65.536 ance-strais, ele tem cerca de 23 mil (35 %), isto por causa do casa-mento entre primos6. Deste total, um genealogista identificou2.800 ancestrais, 1.995 seriam descendentes de uma mesmapessoa, Eduardo VIII. Isto significa que mesmo, mais para trás,a porcentagem de progenitores é reduzida ainda mais, por umnúmero maior de casamentos entre primos.

Se a probabilidade de ocorrer umcasamento entre primos em 1000, a

redução no número de ancestraisseria enorme

5 Neste ponto, o número calculado, é maior que a população mundial. 6 Shoumanoff, ob. Cit., p. 234.

Tabela l –Quantidade de Ancestrais Sem Endogamia

1 1 Você 19702 2 Pais 19453 4 Avós 19204 6 Bisavós 18955 12 Trisavós 18706 24 Tetravós 18457 48 Pentavós 18208 96 6 17959 192 7 1770

10 384 8 174511 768 9 172012 1.536 10 169513 3.072 11 167014 6.144 12 164515 12.288 13 162016 24.576 14 159517 49.152 15 157018 98.304 16 154519 196.608 17 152020 393.216 18 149521 786.432 19 147022 1.572.864 20 144523 3.145.728 21 142024 6.291.456 22 139525 12.582.912 23 137026 25.165.824 24 134527 50.331.648 25 132028 100.663.296 26 129529 201.326.592 27 127030 402.653.184 28 avós 1245

Geração Quantidade Graus de Anode ancestrais parentesco

1 1 Você 19702 2 Pais 19453 4 Avós 19204 8 Bisavós 18955 16 Trisavós 18706 32 Tetravós 18457 64 Pentavós 18208 128 6 17959 256 7 1770

10 512 8 174511 1.024 9 172012 2.048 10 169513 4.096 11 167014 8.192 12 164515 16.384 13 162016 32.768 14 159517 65.536 15 157018 131.072 16 154519 262.144 17 152020 524.288 18 149521 1.048.576 19 147022 2.097.152 20 144523 4.194.304 21 142024 8.388.608 22 139525 16.777.216 23 137026 33.554.432 24 134527 67.108.864 25 132028 134.217.728 26 12955

29 268.435.456 27 127030 536.870.912 28 avós 1245

Geração Quantidade Graus de Anode ancestrais parentesco

Faleceu em Jerusalém (20-01) o vice-primeiro-ministro de Israel, Zevulun Hammer, de 61 anos, sabra de Haifa, líder do PartidoNacional Religioso, acumulava também o ministério da Educação, Cultura e Esportes, e que segundo o presidente Weizman, era“um líder que sabia como integrar a herança sionista a religiosa”. O ministro Hammerera casado e tinha quatro filhos.

Faleceu em S. Paulo (12/02) Josef (Yoske) Zilberberg, nascido Luck, Polônia em 4 de fevereiro de 1913, filho de Jakow OizerePezia Jenta Zilberberg, casado com Mnicha Brukowicz. Era um idichista. Deixou descendência. Foi sepultado no CemitérioIsraelita do Butantã.

Faleceu em New York (31-03), onde nascera em 1920, a advogada Bella Abzug (née Savitzky), filha de Emanuel e EstherSavitsky. Ela foi a primeira judia a ser eleita para o Congresso norte-americano, onde esteve entre 1971 a 1977, representando omovimento feminista. Foi casada com Martin M. Abzug e deixou duas filhas. Sua última participação foi na Conferência Mundialsobre a Mulher em Pequim, em 1995.

Faleceu em São Paulo, em abril, o Rabino Abraham Hamu, aos 88 anos, líder espiritual dos judeus da Amazônia durante décadas.Vivia em Belém do Pará onde fica uma das mais antigas sinagogas brasileiras. Foi casado com Estrella Hamu e deixou os filhos,Manassé Hamu e Ruth Hamu Shalem. Deixou também netos e netas. O enterro realizou-se no Cemitério Israelita do Butantã , emSão Paulo.

Faleceu em Tucson (17/04), a fotógrafa Linda Eastman, nascida em Scarsdale (NY), em 1941, filha de Lee Eastman (n. Epstein) eLouise Lindner, neta materna de Max Joseph Lindner e Stella Dryfoos. Ela era casada com o ex-Beatle, Paul McCartney, desde1969. Deixa filhos: Mary, Stella e James.

Faleceu em S. Paulo (19-04), onde nascera, o engenheiro Sérgio Roberto Vieira da Motta, ministro das Comunicações, aos 58anos. Ele era filho de José e Noêmia Vieira da Motta. Católico de formação, ele pertenceria a “uma família de cristãos-novos”, deorigem portuguesa (cf. “Motta acende velas para si e para FHC”, Igor Gielow, Folha de S. Paulo, 30-05-1997, p. 1-8). Casado,deixou filhas.

Faleceu em Phoenix (29-05), onde nascera em 1 de janeiro de l909, Barry Morris Goldwater , político conservador norte-ameri-cano, neto de um judeu polonês. Eleito senador em 1952, esteve na vida pública até 1987, sempre à Direita, até mesmo do PartidoRepublicano, pelo qual foi candidato a Presidente da República. Goldwater deixou filhos e netos.

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c u r i o s i d a d e

i n m e m o r i a n

Cerca de vinte milhões dos descendentes da geração 13 sãoseus parentes!

A Teoria da RelatividadeVimos quantos ancestrais temos. E parentes em geral? Quan-tos primos temos? Começando na geração 13, e considerandoapenas 60% dos progenitores por causa de casamentos endo-gâmicos, calcularemos quantos parentes deveríamos ter na ge-ração n.1 e verificar quantos descendentes haveria na 13 gera-ção. Assumimos que a população dobra a cada geração.

13 2.45812 4.91611 9.83210 19.66409 39.328808 78.65607 157.31206 314.62405 629.24804 1.258.49603 2.516.99202 5.033.98401 10.067.968

Tabela 2 – Estimativa do Número de Parentes

Geração Número de parentes

O tradutor, Alain Bigio é engenheiro químico.E-mail: [email protected]

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2α +=

GERAÇÕES / BRASIL, Junho 1998, vol. 4, nº 2 • 13

Conheci Elias Lipiner há quase 16 anos no “Oitavo Congres-so Mundial de Ciências Judaicas”realizado em Jerusalém.Estava escrevendo minha tese de mestrado sobre “Judeus e Ju-daísmo em João de Barros” e já tinha lido uma boa parte desuas pesquisas. De imediato, fiquei maravilhado com a clarezae erudição de suas obras.

Lipiner, nascido na Romênia, foi advogado, filólogo, ensaístae historiador. Pelo seu profundo conhecimento e domínio dostemas, poderia ter lecionado em qualquer Universidade, em-bora sempre preferiu manter distância das intrigas do mundoacadêmico. Homem modesto por natureza, Elias — como cos-tumava chamá-lo — dedicava seu tempo a debruçar-se sobreos mais diversos assuntos da cultura luso-brasileira.

Suas obras, algumas delas extremamente curiosas, abordam te-mas diferentes, a saber: a história dos cristãos novos no Brasile Portugal, a jurisprudência portuguesa, o messianismo e o se-bastianismo, historiografia judaica em Portugal, belas biogra-fias de judeus na era dos descobrimentos, o significado ocultodas letras do alfabeto hebraico, a Cabala e o misticismo judai-co, etc.

Começou ainda jovem com breves estudos em iídiche, a suaprimeira língua de pesquisa. Logo depois adotou o português,chegando a um domínio completo, divulgando assim pesqui-sas significativas:

1. Os judaizantes nas capitanias de cima, São Paulo 1969.

2. Santa Inquisição: Terror e Linguagem, Rio de Janeiro 1977.

3. O tempo dos judeus segundo as Ordenações do Reino, SãoPaulo 1983. (Prêmio de História da Academia Paulistana deHistória).

4. Gaspar da Gama, um converso na frota de Cabral, Rio deJaneiro 1987.

5. Izaque de Castro, o mancebo que veio preso do Brasil,Recife 1992.

6. As letras do alfabeto na criação do mundo, Rio de Janeiro1992. (versão resumida de sua opus magnum, escrita emhebraico “Chazon há-otiot” , intitulada em inglês: TheMetaphysics of the Hebrew Alphabet, Magnes Press,Jerusalem 1989)

7. O sapateiro de Trancoso e o alfaiate de Setúbal, Rio deJaneiro 1993.

8. Gonçalo Anes Bandarra e os Cristãos Novos, Trancoso 1996.

Lipiner estava trabalhando na preparação de mais duas obras:1) Batizados em pé. Estudos sobre a conversão forçada emPortugal e 2) uma segunda edição ampliada de Santa Inqui-sição: Terror e Linguagem, publicada anteriormente em 1977.

Foi Elias quem me ensinou que “a cultura é patrimônio pú-blico”, pois ela não tem dono e cabe a cada pessoa chegar atéela. Era esta, talvez, a frase que melhor sintetizava a visão demundo desta maravilhosa personalidade.

Elías Lipiner não se encontra mais entre nós. Ficou fortementegravada na minha memória a imagem do “mestre”, do erudito,e principalmente do amigo. Agora, fica um enorme vazio nahistoriografia luso-brasileira como também na historiografiajudaica. Acredito que este espaço demorará a ser preenchidonovamente.

Iehi zichró baruch (Que seu nome seja abençoado).

m e m ó r i a

Elias Lipiner Z”L (1916-1998)

Prof. Reuven Faingold

“A cultura é patrimônio público”Elias Lipiner

Elias Lipiner (1916-1998)

N o último número de Gerações / Brasil, publicamos uma genealogia brasileira da família Mesquita, originária de Campinas, cujo ádvena e tronco é o comerciante português Francisco Ferreira de Mesquita, nascido em Relvas, na região de Vila Real, nos Trás-os-Montes, em 1838. A sua certidão de óbito7 omite os nomes de seus pais e toda a bibliografia referente à família

é imprecisa; para alguns é apenas o capitão Monteiro e uma senhora Mesquita. Apenas João Gabriel de Sant’Ana é positivo: ospais de Francisco seriam o capitão Francisco Monteiro e Maria Mesquita8. Mas as informações param por aí e Sant’Ana não dizde onde tirou estas informações. Insatisfeitos com elas, procuramos o Arquivo Distrital de Vila Real e ali foi localizado um registroparoquial que nos permite identificá-lo genealogicamente.

Graças ao Sr. Manuel Silva Gonçalves, diretor do Arquivo Distrital de Vila Real, a quem agradecemos pela gentileza, foi recu-perado um assento de batismo, firmado pelo Cura de Relvas, onde surge sem nenhum mistério o nosso personagem. Ele é Francis-co, filho de Joaquim Ferreira Monteiro e Luíza Margarida Pereira da Mesquita, neto paterno de José Joaquim Ferreira e LuízaMaria, neto materno de José Álvares da Mesquita e Helena Maria, nascido em Relvas, freguesia de San Christóvão de Parada deCunhos, em 9 de fevereiro de 1838. O padrinho do batizado é Francisco Manoel de Moraes Sarmento Pinto da Mesquita, abade deSan Cosme do Valle, no arcebispado de Braga, que talvez seja o tio padre e tutor dos órfãos, mencionado no primeiro artigo.

14 • GERAÇÕES / BRASIL, Junho 1998, vol. 4, nº 2

p e s q u i s a

Os Mesquitas: subsídios para uma genealogiatrasmontana — um documento inédito

A partir de pesquisa realizada em Portugal, foi possível ao Gerações/Brasil descobrir o paradeiro de um documento que faltava para completar uma parte da genealogia dos Mesquitas

Paulo Valadares*

Atestado de batismo de Francisco Ferreira de Mesquita (1838)

7 Certidão de Óbito nº 4518, fl. 81 (v), livro C-8, Cartório de Registro Civil de Itapira, “Francisco Ferreira de Mesquita, falecido a 20 de Dezembro de 1898,às 19:30, nesta Cidade, à rua Comm. João Cintra, de sexo masculino, de cor branca, profissão lavrador, natural de Relvas, Portugal, domiciliado e residenteem São Paulo, S.P., com sessenta anos de idade, estado civil casado, filho de NÃO CONSTA DO TERMO e de NÃO CONSTA DO TERMO.”

8 João Gabriel Sant’Ana. Genealogia Sebastianense(S. Paulo, 1976), p. 278.

* Paulo Valadares é historiador, e vive em Campinas.E-mail: [email protected]

Agenda do Genealogista • PortugalOnde encontrar registros de casamentos, óbitos, nascimentos, e outros documentos em Portugal• Angra do Heroísmo— Bibl. Pública e Arquivo– Palácio Bettencourt – Rua da Rosa, 49 – 9700 Angra do Heroísmo• Aveiro — Arquivo Distrital – Praça da República – 3800 Aveiro Tel. (034) 21998• Beja — Arquivo Distrital– Av. Vasco da Gama – 7800 Beja Tel. (084) 26311• Braga — Bibl. Pública e Arq. Distrital –Largo do Paço – 4700 Braga Tel. (053) 22129• Bragança— Bibl. Pública e Arq. Distrital– Largo de S. Francisco – 5300 Bragança Tel. (073) 28260• Castelo Branco— Arquivo Distrital– Rua de S. Marcos, 3 – 6000 Castelo Branco Tel. (072) 23856• Coimbra — Arquivo da Universidade– Rua de S. Pedro – 3000 Coimbra Tel. (039) 25422• Coimbra — Biblioteca Geral da Universidade– Largo da Porta Férrea – 3000 Coimbra Tel (039) 25541/2• Évora — Bibl. Pública e Arq. Distrital– Lag. Conde Vila Flor – 7000 Évora – Tel. (066) 22369• Faro — Arquivo Distrital– Rua de S. Pedro, 12 – 8000 Faro Tel (089) 25457• Guarda — Arquivo Distrital– Largo Gen. Humberto Delgado – 6300 Guarda Tel. (071) 21 629• Horta — Bibl. Pública e Arquivo– R. Dom Pedro IV, 25-1-9900 – Horta• Leiria — Bibl. Pública e Arq. Distrital– Largo da República – 2400 Leiria – Tel. (044) 824110• Lisboa — Academia Portuguesa de História– Palácio da Rosa, Lg. da Rosa, 55, – 1100 Lisboa Tel. (01) 8884997• Lisboa — Arq. Histórico do Min. das Finanças– Rua de Sta Marta, 61-E – 1100 Lisboa Tel. (01) 55 64 06• Lisboa — Arq. Nacional da Torre do Tombo (ANTT)– Alameda da Universidade – 1700 Lisboa Tel. (01) 793 72 28• Lisboa — Arquivo Histórico Militar– Largo do Caminho de Ferro – 1100 Lisboa • Lisboa — Associação Portuguesa de Genealogia– Av. Rossano Garcia, 45, 6. Esq. – 1700 – Lisboa Tel 3815430 Fax 3815439• Lisboa — Bibl. da Academia das Ciências– Rua da Academia das Ciências, 19 – 1200 Lisboa Tel. (01) 3699 83• Lisboa — Bibl. da Ajuda– Palácio da Ajuda – 1300 Lisboa Tel. (01) 63 85 92• Lisboa — Bibl. Genealógica “Estaca de Lisboa”– Av. Gago Coutinho, 93 – 1700 Lisboa Tel. (01)80 69 55• Lisboa — Bibl. Nacional– Campo Grande, 83 – 1700 Lisboa Tel. (01) 73 50 47 • Ponta Delgada— Bibl. Pública e Arquivo– Convento da Graça – Rua Ernesto do Canto – 9500 Ponta Delgada• Portalegre— Arquivo Distrital– Quartel de S. Francisco – 7300 Portalegre Tel. (045) 22 975• Porto — Arquivo Distrital– Praça da República, 38 – 4000 Porto Tel. (02) 200 40 02• Porto — Bibl. Pública Municipal do Porto– Rua D. João IV – 4100 Porto• Santarém— Arquivo Distrital– Rua Passos Manuel – 2000 Santarém Tel. (043) 24 431• Setúbal— Arquivo Distrital– Rua Dr. Gama Braga, 15 – 2900 Setúbal Tel. (065) 26 500• Viana do Castelo— Arquivo Distrital– Rua Manuel Espregueira, 140 – 4900 Viana do Castelo Tel. (058) 82 97 39• Vila Real — Bibl. Pública e Arq. Distrital– Av. Almeida Lucena, 5 – 5000 Vila Real Tel. (059) 74 661• Viseu— Arquivo Distrital – Largo de Sta Cristina – 3500 Viseu Tel. (032) 42 43 6

Nomes de família e respectivas localidades de origem que são objeto de procura pelos nossos sócios. Caso você tenha(ou queira) alguma informação, escreva para a redação de Gerações / Brasil.

f a m i l y f i n d e r

GERAÇÕES / BRASIL, Junho 1998, vol. 4, nº 2 • 15

d i r e t o d a f o n t e

Akerman; Ucrania, Romenia,N YorkAmaro; Lixa, PortoAssumpção; PortugalBartenstein; Ratibor, BreslauBasbaum; Kishinev (Moldavia)Basto(s); Cabeceiras deBasto, Lixa, PortoBastos; BrasilBauerman; AlemanhaBelik; PoloniaBelk; PoloniaBerman; PoloniaBezerra; FortalezaBick ; Shargorod - UcraniaBitelman; KishinevBitelman; OrghevBravo; PortoBreves; São Jorge, Açores,ca.1720Brissac; FrançaBussolo; Itália, BrasilCaldeira; Vila do CondeCarlos; PernambucoCarlos; Rio de JaneiroCarneiro Santiago; Lambari,Carmo de MinasCarrasqueira; Vila Nova dePaiva, Viseu, S.José do RioPreto

Carvalho da Silva; PoçoFundo (Minas Gerais)Castro; BessarabiaCoan; Irlanda do NorteComper; Tirol, Itália, BrasilCowan / Cowen; IrlandaCzyzyk; Polonia (?)Debiasi; Tirol, Itália, BrasilDella Giustina; Itália, BrasilDimenstein; Lodz (Polonia)Dozza; ItaliaEckstein; New YorkEiger; Wiersbinik (Pol)Feigenbaum; Shargorod (Ucr)Farber; Polonia, Israel, USAFaustino Carlos; Paraiba doSulFerreira Mendes; EloyMendesFoá; ItaliaFonseca; Vila Nova de Paiva,Viseu, S.José do Rio PretoFranco; UruguayFuhrman; Ucrania, São Paulo,Rio de JaneiroFurtado; Portugal, FrançaGalperin; LublinGelfond; New YorkGenezio; Bessarabia

Gitelman; PoloniaGoldfeld; Krashnik (Pol)Goldman; VarsóviaGoldsmith; New YorkGoulart Brum; Eloy MendesGrimberg; Mir, MinskGriner; Ostrowiecz (Pol)Haritoff; Russia, ca.1840Heine-Furtado; FrançaHertz; AlemanhaHinkel; AlemanhaIsrael; Cairo, EgitoJacobovitz; Lodz (Polonia)Jacques; Flandres, França,ca.1760Junckes; BrasilJungklaus; Alemanha, BrasilKahn; Alemanha, Israel, USAKastro; BessarabiaKatz; Polonia, Israel, USAKaufman; Odessa (Russia)Kaufman; Satanov (Russia)Kaushansky; KishinevKhinkes; Dubossary -MoldaviaKleiman; RussiaKunze; Dunan Jvards, HungriaKunze; Prichowitz, Liberec,Jablonec

Lacerda; PortugalLayner; Polonia, Israel, USALessner; New YorkMaghidman; Soroki - MoldaviaMalay; Yedenits, BessarabiaMarques; Vila Nova de Paiva,Viseu, S.José do Rio PretoMassarani; ItaliaMendes; Rio de Janeiro,ca.1860Mexias; Piraí, RJ, ca.1860Michels; Nagyszentmiklos(Rom)Michels; Phugar, HungriaMichels; San Nicolaul,RomeniaMoracsohn; Putzig - PoloniaMoretzshon; Putzig - PoloniaNiemeyer; Rio de Janeiro,ca.1890Nobrega; Praia do Almoxarife,FaialOliveira; Abaíra, BahiaOliveira; Mucugê, BahiaOliveira; Rio de ContasPerri; ItaliaPinkuss; Egeln, MagdeburgPistori; ItaliaRawet; Alemanha, França,Polonia

Regen; PoloniaRodius; Alemanha, BrasilRoitman; PoloniaRosenblum; StudhofSaffons; UruguaySchweich; Alemanha, ca.1870Schweitzer; New YorkSzczvpak; Chelm (Pol)Szyfman; Koruv (Pol)Taitelbaum; Radom (Pol)Taublib; Krashnik (Pol)Tepler; Polonia (?)Tribuch; Vilna, Mir, Minsk,OdessaTribur, Triboir; Vilna, Mir,Minsk, OdessaTrindade; Vila Nova de Paiva,ViseuUtchitel; Caracas, VenezuelaValle; São Sebastião, ca.1820Varão; Brasil, PortugalVaron; Espanha, TurquiaVeit; GöppingenWaksman; Philadelphia, NewYork, MiamiWaserman; StudhofWoitowich; PoloniaXavier; Espanha

JewishGen (www.jewishgen.org) é o foro oficial na Internetsobre Genealogia Judaica. Ele foi criado por Susan King.

Qualquer pessoa que tenha um e-mail pode receber gratuitamente asmensagens contendo as suas discussões. Basta mandar umamensagem a [email protected], colocando apenas no corpo doe-mail: sub jewishgen (nome) (sobre-nome).Não é preciso assinar. Aconfirmação, deve ser feita após comunicação do JewishGen,também de forma padrão, mandando a seguinte mensagem: setjewishgen mail=digest

Há na Internet uma Lista de Discussãochamada Genealogiano Brasil, que pode começar com sua mensagem sendo en-

viada para [email protected]— ela será distribuída paratodos os participantes da lista, que poderão responder ou mesmo co-mentá-la; de volta à lista, ela voltará a ser redistribuída, estabelecen-do-se a discussão. Explicando o seu funcionamento, os rudimentos dapesquisa genealógica e onomástica, há três artigos bem humorados deRubens R. Câmara (www.enfoque.com/genealogia).

“ The Cobra Family Genealogy Home Page”(www.geocities.com/Athens/Acropolis/3515) descreve os

descendentes brasileiros do português Domingos Rodrigues Cobra(Almada, 1670 — Almada, 1749), procurador do Conde de Assumarno Brasil, e outros portadores deste sobrenome incomum. A famíliaCobra seria cristã-nova e chegou a Lisboa vinda de Lamego, nummomento em que a ação do Santo Ofício semeava o pânico na sua re-gião de origem. No Brasil ela misturou-se aos Lemes e aos Nogueiras,aparentando-se às famílias proeminentes. Um de seus descendentesmais conhecidos é o escritor Oswald de Andrade. [Maria JoséTávora e Rubem Queiroz Cobra, cx. Postal n. 1988, Brasília, DF,70259-970, ou [email protected]].

i n t e r n e t & i n f o r m á t i c a

e x p e d i e n t e

Layout e diagramaçãoHenry Lederfeind - coordenaçãoYuri Christian Fuzii - diagramação

Endereços para correspondênciaCaixa Postal 1025Campinas - São Paulo - 13001-970E-mail: [email protected]

EditoresGuilherme FaiguenboimReuven FaingoldAlain Bigio

GERAÇÕES / BRASIL é uma publicação semestral da Sociedade Genealógica Judaica do Brasil (organização sem fins lucrativos)filiada à Association of Jewish Genealogical Societies(AJGS/USA)

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