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GEOTECNOLOGIAS COMO CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DO AGROECOSSISTEMA CAFEEIRO DE MINAS GERAIS EM NÍVEL MUNICIPAL Marco Aurélio Barros Dissertação de Mestrado em Sensoriamento Remoto, orientada pelos Drs. Maurício Alves Moreira e Bernardo Friedrich Theodor Rudorff INPE São José dos Campos 2006

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GEOTECNOLOGIAS COMO CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DO

AGROECOSSISTEMA CAFEEIRO DE MINAS GERAIS EM NÍVEL MUNICIPAL

Marco Aurélio Barros

Dissertação de Mestrado em Sensoriamento Remoto, orientada pelos Drs.Maurício Alves Moreira e Bernardo Friedrich Theodor Rudorff

INPESão José dos Campos

2006

MINISTÉRIO DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA

INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS ESPACIAIS

INPE-

GEOTECNOLOGIAS COMO CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DO

AGROECOSSISTEMA CAFEEIRO DE MINAS GERAIS EM NÍVEL MUNICIPAL

Marco Aurélio Barros

Proposta de Dissertação de Mestrado em Sensoriamento Remoto, orientada pelo Dr.Maurício Alves Moreira e Dr. Bernardo Friedrich Theodor Rudorff

“Embora ninguém possa voltar atrás para fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora a fazer um novo fim”.

CHICO XAVIER

A Deus, pela vida e por colocar em meu caminho pessoas maravilhosas,A meus pais, que edificaram e orientaram minha vida em todos os sentidos,

Aos irmãos Adriana e César pelo otimismo e apoio,Ao José Ferrer, Maria Paula, Guilherme e Luisa, responsáveis pelo recomeço,

Dedico.

AGRADECIMENTOS

Ao Dr. Maurício Moreira, agricultor de projetos, pela oportunidade, orientação e amizade;

Ao Dr. Formaggio, pelos ensinamentos e contribuição na vida acadêmica, profissional e pessoal;

Ao Dr. Bernardo, pela oportunidade, confiança, amizade e ensinamentos;

Ao Dr. Márcio Valeriano, pela contribuição prática e teórica no trabalho;

À Mathilde Bertoldo, pela contribuição e disponibilidade de dados;

Aos colegas de curso, que dividiram comigo bons e maus momentos;

À Etel e Angelucci pelo apoio irrestrito em todas as etapas do curso;

À CAPES pelo apoio financeiro durante o mestrado e eventos;

À EMATER de Aguanil, Boa Esperança, Campo Belo e Cristais pelo apoio no trabalho de campo;

Ao INPE pela oportunidade de cursar o mestrado e utilizar as instalações e equipamentos;

A todos os professores que contribuíram com meu crescimento profissional e pessoal.

RESUMO

A cafeicultura, atividade de grande importância econômica e social para o país, é um segmento do agronegócio que não dispõe de informações atualizadas sobre o seu agroecossistema e perfil produtivo. Nesse sentido, foi proposto no ano de 2004 um projeto multidisciplinar e multinstitucional, envolvendo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG) e Universidade Federal de Lavras (UFLA) para caracterizar o agroecossistema cafeeiro do estado de Minas Gerais, utilizando geotecnologias (sensoriamento remoto e geoprocessamento). No contexto do projeto, a utilização dessas ferramentas torna-se imprescindível para a geração de informações de maneira ágil, precisa, informatizada e automática, em diferentes escalas e níveis de detalhamento. O presente trabalho vem corroborar no sentido de desenvolver e/ou adequar metodologias fundamentadas em geotecnologias que possam contribuir significativamente para o estudo do agroecossistema cafeeiro do estado de Minas Gerais. Como área de estudo piloto selecionaram-se os municípios de Aguanil, Boa Esperança, Campo Belo e Cristais. No desenvolvimento do trabalho foram utilizadas imagens do sensor CCD a bordo do satélite CBERS-2, imagens do sensor TM a bordo do LANDSAT-5 e dados de altimetria SRTM, integrados num banco de dados geográfico. A partir dos dados orbitais, processamento digital de imagens e técnicas de geoprocessamento aliados ao trabalho de campo foram extraídas informações de hidrografia, áreas de matas ciliares, uso da terra, altimetria, declividade e orientação de vertentes para o diagnóstico da cafeicultura em relação a estas variáveis. Tanto as áreas com cafeicultura como também as variáveis fisiográficas foram quantificadas e mapeadas. Por meio das ferramentas de geoprocessamento, realizou-se um diagnóstico em nível municipal de cada uma das variáveis calculadas e em seguida realizou-se a interseção entre cafeicultura e altimetria; cafeicultura e declividade; cafeicultura e orientação de vertentes. Finalmente, com os mapas temáticos concluídos, elaborou-se um mapa geoambiental apontando áreas mais ou menos favoráveis à cafeicultura bem como a situação das lavouras mapeadas. Para alcançar esse objetivo, realizou-se a ponderação dos mapas e uma análise multi critério utilizando-se a técnica AHP, que permitiu gerar um mapa final de favorabilidade a partir de parâmetros agronômicos definidos em literatura. Os resultados permitiram o diagnóstico dos municípios e áreas com cafeicultura mapeadas. Constatou-se melhores condições à instalação da cafeicultura nos municípios de Boa Esperança e Cristais, porém não houve diferença estatística significativa entre os municípios com relação à favorabilidade ao agroecossistema cafeeiro em estudo.

GEOTECHNOLOGIES AS CONTRIBUTION TO THE STUDY OF COFFEE CROP AGROECOSYSTEM AT MUNICIPAL LEVEL IN MINAS GERAIS STATE

ABSTRACT

Coffee crop, an important economic and social activity to Brazil, is an agrobusiness segment that has not updated information about the agroecosystem and the productive profile. In this sense, it was proposed in the year of 2004 a multidisciplinary and multi institutional project, involving INPE, EMBRAPA and UFLA to characterize the coffee agroecosystem in Minas Gerais State, using geotechnology tools (remote sensing and GIS; Geographic Information System). In the context of this project, the use of these tools were relevant to generate information in a quick, precise, automatic and computerized way, in different scales and levels of details. The present work comes to add in the sense to develop and/or adequate fundamental methods in geotechnologies that may significantly contribute to the study of the coffee crop agroecosystem in Minas Gerais State, allowing to diagnose the geographic environment in which the coffee crop is installed and to subsidize technicians and professionals to determine limited and potential areas to introduce the crop. As a pilot study area the municipalities of Aguanil, Boa Esperança, Campo Belo and Cristais were selected. In the development of the work, images from CCD, on board of CBERS-2 satellite, images from TM sensor, on board of Landsat-5, and altimetry data from SRTM integrated in a geographic data bank, were used. From orbital data, digital image processing, analogical digitalized maps and GIS techniques, in conjunction with field work information on hydrography, gallery forest, land use, altimetry, slope and hill orientation, were extracted in order to diagnose the coffee crop with regard to these variables. Coffee crop areas as well as physiographic variables were quantified and mapped. Using GIS, a diagnose at municipal level was performed for each calculated variables and afterwards the intersection between: coffee crop and altimetry; coffee crop and slope; coffee crop and hill slope orientation, was also performed. Eventually, with the conclude thematic maps, a geo environmental map was elaborated, pointing to areas with more or less favorability to coffee crop as well as the conditions of the mapped fields. To achieve this objective, a weighted map and a multicriteria analyses using the AHP technique was performed, which allowed to generate a final favorability map from literature agronomic parameters. The results allowed diagnose the municipalities and area with mapped coffee crop.

SUMÁRIO

Pág.

LISTA DE FIGURAS.........................................................................................................

LISTA DE TABELAS........................................................................................................

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS .......................................................................

CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO....................................................................................25CAPÍTULO 2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.......................................................292.1 Cafeeiro (Coffea arabica L.).....................................................................................292.1.1 Descrição da Espécie Vegetal................................................................................292.1.2 Aspectos Agronômicos e Ambientais do Cultivo de Cafezais..............................292.1.3 Situação da Produção de Café no Brasil................................................................312.1.4 Fatores que Afetam na Produtividade do Café no Brasil......................................322.1.4.1 Clima...................................................................................................................322.1.4.2 Manejo da Cultura..............................................................................................332.2 Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento no estudo da cafeicultura..................332.2.1 Influência de Práticas Culturais e da Fenologia na Resposta Espectral de Cafezais...........................................................................................................................382.2.1.1 Influência da Topografia no Manejo e na Resposta Espectral de Cafezais........402.3 Sensoriamento Remoto e Modelagem Topográfica.................................................402.3.1 SRTM (Shuttle Radar Topographic Mission) e Modelos Digitais de Elevação....412.4 Mapeamento e Representação Cartográfica do Uso da Terra..................................422.4.1 Análise da Confiabilidade do Mapeamento a partir de imagens orbitais..............442.5 Técnicas de Processamento Digital em dados de Sensoriamento Remoto Orbital..452.5.1 Minimização do efeito causado pelo espalhamento atmosférico..........................452.5.2 Transformação dos Níveis Digitais para Reflectância de Superfície....................462.5.3 Transformação Geométrica...................................................................................472.5.3.1 Cenas Ortorretificadas (NASA) como suporte ao Registro de Cenas TM e CCD ...............................................................................................................................482.5.4 Razão entre Bandas Multiespectrais......................................................................492.5.5 Classificação de Imagens Digitais.........................................................................492.5.5.1 Classificação por Maxiverossimilhança (MaxVer)............................................502.6 Interpretação de Imagens Orbitais na Agricultura....................................................512.6.1 Método Sistemático de Interpretação de Imagens.................................................512.6.2 Realce de Imagens.................................................................................................522.7 Geoprocessamento: Análise Booleana e Processo Analítico Hierárquico (AHP)....52

CAPÍTULO 3 - MATERIAL E MÉTODOS.................................................................553.1 Área de Estudo..........................................................................................................553.2 Características Gerais da Região em Estudo............................................................563.2.1 Solos......................................................................................................................563.2.2 Relevo....................................................................................................................583.2.3 Vegetação..............................................................................................................62

3.2.4 Cafeicultura na área de estudo...............................................................................633.3 Material.....................................................................................................................643.4 Métodos....................................................................................................................653.4.1 Características Cartográficas do Banco de Dados Geográfico..............................663.4.2 Estruturação do Banco de Dados Geográfico e Processamento das Imagens.......673.4.3 Informações Oriundas do Trabalho de Campo......................................................703.4.4 Classificação da Imagem Base de Mapeamento - TM-Landsat (09/07/2005)......713.4.5 Delimitação da Drenagem e Matas Ciliares..........................................................733.4.6 Digitalização do Mapa de Solos............................................................................743.4.7 Modelagem Digital do Terreno – Processamento dos dados SRTM.....................753.4.8 Geoprocessamento entre as Variáveis Temáticas..................................................793.4.8.1 Processo Analítico Hierárquico (AHP) na obtenção de um mapa geoambiental...................................................................................................................803.4.9 Análise Estatística dos Dados................................................................................83

CAPÍTULO 4 - RESULTADOS.....................................................................................854.1 Processamento Digital de Imagens...........................................................................854.1.1 Classificação da imagem TM (09/07/2005)..........................................................854.1.2 Delimitação da Drenagem e Matas Ciliares..........................................................934.2 Modelagem de Terreno e Cálculo das Variáveis Ambientais..................................974.2.1 Altimetria...............................................................................................................974.2.1.1 Aguanil...............................................................................................................984.2.1.2 Boa Esperança..................................................................................................1004.2.1.3 Campo Belo......................................................................................................1014.2.1.4 Cristais..............................................................................................................1034.2.2 Cálculos da Declividade e Orientação de Vertentes a partir dos dados SRTM...1054.2.2.1 Aguanil (declividade).......................................................................................1064.2.2.2 Boa Esperança (declividade).............................................................................1084.2.2.3 Campo Belo (declividade).................................................................................1104.2.2.4 Cristais (declividade)........................................................................................1124.2.2.5 Aguanil (orientação de vertentes).....................................................................1154.2.2.6 Boa Esperança (orientação de vertentes)..........................................................1164.2.2.7 Campo Belo (orientação de vertentes)..............................................................1184.2.2.8 Cristais (orientação de vertentes)......................................................................1194.3 Mapa de Solos.........................................................................................................1214.4 Relação entre a cafeicultura e o meio físico...........................................................1234.4.1 Cafeicultura e Declividade..................................................................................1234.4.2 Cafeicultura e Solos.............................................................................................1274.4.3 Cafeicultura e Orientação de Vertentes...............................................................1304.4.4 Cafeicultura e Altimetria.....................................................................................1334.5 Mapa Geoambiental – Áreas favoráveis ao agroecossistema cafeeiro com base no modelo AHP............................................................................................................137

CAPÍTULO 5 - CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES..........................................143REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................147APÊNDICE - PONTOS DE GPS COLETADOS EM CAMPO................................155

LISTA DE FIGURAS

2.1 - Cafeicultura fase inicial, dossel formado e lavoura pós-colheita............................39

3.1 - A (Cristais), B (Campo Belo), C (Aguanil), D (Boa Esperança), E (Minas Gerais), F (Brasil) – TM-Landsat TM7(R)TM4(G)TM3(B).........................................................55

3.2 - Aspecto do relevo no município de Aguanil...........................................................59

3.3 - Aspecto do relevo no município de Campo Belo..................................................................................................................................59

3.4 - Aspecto de relevo plano a suave ondulado em Cristais-MG.................................60

3.5 - Aspecto do relevo do município de Cristais, com pequena lavoura cafeeira ao fundo................................................................................................................................61

3.6 - Aspecto do relevo no município de Boa Esperança................................................62

3.7 - Área plantada de café em Aguanil, Boa Esperança, Campo Belo e Cristais no período 1990-2004...........................................................................................................64

3.8 - Fluxograma de atividades preliminares ao trabalho de campo...............................66

3.9 - Estruturação do Banco de dados e Processamento da Imagem Base......................67

3.10 - Fluxograma das Etapas de Modelagem do Terreno..............................................75

3.11 - Simulação do cálculo da declividade (D)..............................................................76

3.12 - Parametrização da Orientação de Vertentes..........................................................77

3.13 - Geoprocessamento na obtenção dos mapas geoambientais..................................79

4.1 - Proporção de lavouras cafeeiras nos municípios em estudo...................................90

4.2 - Mapa das áreas cafeeiras obtido a partir da classificação e interpretação visual de imagens TM-Landsat e CCD-Cbers2..............................................................................91

4.3 - Imagem TM B4(R)-B5(G)-B3(B) (esquerda) e Imagem CCD B4(R)B3(G)B2(B) (direita) com contraste linear 2%. Detalhe: área com café com vegetação de cerrado no entorno.............................................................................................................................92

4.4 - Imagem resultante da razão entre as bandas TM4/TM3 realçando a vegetação (em tonalidade mais clara) com seu fatiamento em cor verde................................................93

4.5 - Delimitação da drenagem e matas de galeria exigidas por Lei. A (Cristais); B (Campo Belo); C (Aguanil); D (Boa Esperança).............................................................95

4.6 – Detalhe da drenagem e matas ciliares preservadas com base na imagem TM4/TM3 de 09/07/2005..................................................................................................................96

4.7 - Altimetria em formato numérico (esquerda) e temático (direita) no município de Aguanil-MG.....................................................................................................................99

4.8 - Histograma com a porcentagem de ocorrência dos valores altimétricos em Aguanil-MG.....................................................................................................................99

4.9 - Altimetria em formato numérico (esquerda) e temático (direita) no município de Boa Esperança-MG........................................................................................................100

4.10 - Histograma com a porcentagem de ocorrência dos valores altimétricos em Boa Esperança-MG...............................................................................................................101

4.11 - Altimetria em formato numérico (esquerda) e temático (direita) no município de Campo Belo-MG...........................................................................................................102

4.12 - Histograma de ocorrência dos valores altimétricos em Campo Belo-MG..........102

4.13 - Altimetria em formato numérico (esquerda) e temático (direita) no município de Cristais-MG...................................................................................................................103

4.14 - Histograma com a porcentagem de ocorrência dos valores altimétricos em Cristais-MG...................................................................................................................104

4.15 – Representação da declividade em formato numérico (esquerda) e temático (direita) no município de Aguanil-MG..........................................................................107

4.16 - Histograma com a porcentagem de ocorrência dos valores de declividade em Aguanil-MG...................................................................................................................108

4.17 - Declividade em formato numérico (esquerda) e temático (direita) no município de Boa Esperança-MG........................................................................................................109

4.18 - Histograma com a porcentagem de ocorrência dos valores de declividade em Boa Esperança-MG...............................................................................................................110

4.19 – Representação da declividade em formato numérico (esquerda) e temático (direita) no município de Campo Belo-MG..................................................................111

4.20 - Histograma com a porcentagem de ocorrência dos valores de declividade em Campo Belo-MG...........................................................................................................111

4.21 – Representações da declividade em formato numérico (esquerda) e temático (direita) no município de Cristais-MG..........................................................................112

4.22 - Histograma com a porcentagem de ocorrência dos valores de declividade em Cristais-MG...................................................................................................................113

4.23 - Orientação de Vertentes em formato numérico (esquerda) e temático (direita) no município de Aguanil-MG............................................................................................115

4.24 - Histograma de ocorrência dos valores de orientação de vertentes em Aguanil-MG.................................................................................................................................116

4.25 - Orientação de Vertentes em formato numérico (esquerda) e temático (direita) no município de Boa Esperança-MG..................................................................................117

4.26 - Histograma de ocorrência dos valores de orientação de vertentes em Boa Esperança-MG...............................................................................................................117

4.27 - Orientação de Vertentes em formato numérico (esquerda) e temático (direita) no município de Campo Belo-MG.....................................................................................118

4.28 - Histograma de ocorrência dos valores de orientação de vertentes em Campo Belo-MG........................................................................................................................119

4.29 - Orientação de Vertentes em nível de cinza (esquerda) e temático (direita) no município de Cristais-MG.............................................................................................120

4.30 - Histograma de ocorrência dos valores de orientação de vertentes em Cristais-MG.................................................................................................................................120

4.31 - Mapa de solos nos municípios de A(Cristais), B(Campo belo), C (Aguanil) e D (Boa Esperança) com base em MA (1962) e Bertoldo (2006)......................................122

4.32 - Solos mapeados nos municípios em estudo........................................................123

4.33 - Declividade média em áreas de cafeicultura nos municípios em estudo............124

4.34 - Classes de declividade em função das áreas de cafeicultura em Aguanil...........124

4.35 - Classes de declividade em função das áreas plantadas em Boa Esperança.........125

4.36 - Classes de declividade em áreas de cafeicultura em Campo Belo......................126

4.37 - Classes de declividade em função das áreas de cafeicultura em Cristais............126

4.38 - Classes de solos nas áreas de cafeicultura em Aguanil.......................................127

4.39 - Classes de solos nas áreas de cafeicultura em Boa Esperança............................128

4.40 - Classes de solos nas áreas de cafeicultura em Campo Belo................................129

4.41 - Classes de solos nas áreas de cafeicultura em Cristais........................................130

4.42 - Classes de orientação de vertentes em relação à cafeicultura em Aguanil.........131

4.43 - Classes de orientação de vertentes em relação à cafeicultura em Boa Esperança.......................................................................................................................131

4.44 - Classes de orientação de vertentes em relação à cafeicultura em Campo Belo..132

4.45 - Classes de orientação de vertentes em relação à cafeicultura em Cristais..........133

4.46 - Valores médios de altimetria em áreas com cafeicultura....................................133

4.47 - Intersecção entre altimetria e cafeicultura no município de Aguanil..................134

4.48 - Intersecção entre cafeicultura e altimetria em Boa Esperança............................135

4.49 - Intersecção entre altimetria e cafeicultura em Campo Belo................................136

4.50 - Intersecção entre altimetria e cafeicultura em Cristais........................................136

4.51 - mapa geoambiental obtido via método AHP – (A)Cristais, (B)Campo Belo, (C)Aguanil, (D) Boa Esperança.....................................................................................138

4.52 - Favorabilidade ao agroecossistema cafeeiro da área de estudo, com base na hipótese e modelo AHP.................................................................................................139

4.53 – Favorabilidade ao agroecossistema cafeeiro em relação às áreas atualmente com cafeicultura....................................................................................................................140

LISTA DE TABELAS

2.1- Descrição das Principais Espécies de Café produzidos no Brasil............................30

2.2 - Estimativa de produção de café: safra 2005/06 em território nacional...................31

(TABELA 2.2 - Conclusão)............................................................................................32

2.3 – Unidades de mapeamento e escalas recomendadas................................................43

(TABELA 2.3 - Conclusão).............................................................................................44

2.4 - Índice kappa e conceito do desempenho de classificação.......................................44

2.5 - Especificações Técnicas dos Mosaicos de Cenas Geocover...................................48

3.1 - Classes de solos da região em estudo e aspectos agronômicos importantes...........56

3.2 - Materiais utilizados na execução da pesquisa.........................................................65

3.3 - Valores utilizados para a aplicação do método de Chavez.....................................68

3.4 - Valores de radiância mínima e máxima, Ganho (G) e Offset (B) aplicados às imagens TM.....................................................................................................................68

3.5 - Filtros direcionais aplicados sobre a grade altimétrica SRTM...............................78

3.6 - Variáveis mapeadas e respectivas classes temáticas de representação...................79

3.7 - Escala de Valores do modelo AHP para comparar duas variáveis.........................81

3.8 - Pesos globais das variáveis e pesos individuais em cada classe temática ponderada........................................................................................................................81

4.1 - Matriz de confusão da classificação Maxver dos recortes da imagem TM, bandas 3, 4 e 5-Aguanil/MG........................................................................................................85

4.2 - Matriz de confusão da classificação Maxver dos recortes da imagem TM, bandas 3, 4 e 5 - Boa Esperança/MG..........................................................................................86

4.3 - Matriz de confusão da classificação Maxver dos recortes da imagem TM, bandas 3, 4 e 5 – Campo Belo/MG..............................................................................................87

4.4 - Matriz de confusão da classificação Maxver dos recortes da imagem TM, bandas 3, 4 e 5 – Cristais/MG.....................................................................................................88

4.5 - Áreas de cafeicultura obtidas via interpretação das imagens TM e CCD comparativamente a métodos subjetivos.........................................................................89

4.6 - Matas ciliares exigidas e preservadas......................................................................97

4.7 - Estatísticas descritivas para a variável altimetria....................................................98

4.8 - Estatísticas descritivas para a variável declividade...............................................106

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ABIC – Associação Brasileira da Indústria de CaféAHP – Analytic Hierarchy ProcessASTER – Advanced Spaceborne Thermal Emission and Reflection RadiometerCBERS – Satélite Sino Brasileiro de Recursos TerrestresCCD - Couple Charged DeviceCONAB - Companhia Nacional de AbastecimentoE - LesteEMATER – Empresa de Assistência Técnica e Extensão RuralEMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa AgropecuáriaENVI – Environment for Visualizing ImagesEPAMIG – Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas GeraisETM - Enhanced Thematic MapperFAO – Food and Agriculture OrganizationGPS – Global Positioning SystemHa - hectareHRV - High Resolution VisibleIBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e EstatísticaIFOV - Instantaneous field of viewINPE – Instituto Nacional de Pesquisas EspaciaisKm2 – quilômetro quadradoMA – Ministério da AgriculturaMAXVER - Máxima VerossimilhançaMG – Minas Geraismm - MilimetroMMA – Ministério do Meio AmbienteMNT – Modelo Numérico de TerrenoMSS – Multispectral Scanner SystemN – NorteND – Nível DigitalNE – NordesteNW - NoroesteNIMA – National Imagery and Mapping AgencyPRODEMGE - Companhia de Tecnologia da Informação do Estado de Minas GeraisRMS – Root mean square errorS - SulSAD - South American DatumSE - SudesteSPRING – Sistema de Processamento de Informações GeográficasSRTM – Shuttle Radar Topography MissionSW - SudoesteTM - Thematic MapperUNICAMP - Universidade Estadual de CampinasUTM - Universal Tranversa de MercatorW - OesteWGS84 – World Geodetic System 1984

24

CAPÍTULO 1

INTRODUÇÃO

Em estudos para avaliar o desempenho agrícola dos países “desenvolvidos” durante a

segunda metade do séc. XX constatou-se que a agricultura garantiu às suas populações

segurança alimentar a um custo ambiental ainda não quantificado. O aumento da

produção agrícola tanto em países desenvolvidos como em desenvolvimento, vem

provocando uma crescente preocupação com a salubridade alimentar, que está cada vez

mais ligada à conservação dos recursos naturais explorados, especialmente água e solo.

As pressões internacionais já exigem métodos de produção que venham assegurar altos

níveis de pureza e não toxicidade dos alimentos, bem como a ausência de contaminação

do solo e água (Rodrigues, 1998; MMA, 2000).

Dentre os inúmeros produtos agrícolas cultivados em território brasileiro, destaca-se

desde o período colonial o café. Esta cultura instalada inicialmente no Maranhão e

posteriormente em extensas áreas de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro foi

responsável pela derrubada de inúmeros hectares de mata atlântica, cerrado e florestas

em uma época que não havia uma legislação ambiental e a necessidade de

desenvolvimento era prioritária a qualquer custo (MMA, 2000). Porém, no século 21, o

perfil produtivo da cafeicultura mudou e adequou-se a novas técnicas e exigências de

mercado, mas a sua importância no agronegócio brasileiro continua. Estima-se que a

cafeicultura esteja presente em 1700 municípios brasileiros, num total de 300 mil

propriedades, gerando empregos e conseqüentemente renda (CONAB, 2005). No Brasil

a atividade cafeeira tem sua história ligada ao Estado de Minas Gerais, que

diferentemente das demais unidades federativas da região sudeste, foi e continua sendo

destaque na produção desta cultura. Segundo Zambolim (2001), Minas Gerais é

responsável por aproximadamente 43% do café produzido no país entre os anos de 1987

a 1999 com destaque para a região oeste e sul do estado.

25

A cafeicultura em Minas Gerais não ocorre na condição de monocultura extensiva, e

mesmo assim nota-se que algumas práticas utilizadas na instalação e manejo da cultura

podem resultar em degradação dos recursos naturais. Esse problema ocorre em regiões

onde o seu cultivo é bastante expressivo, como na zona da mata e sudoeste de Minas

Gerais. Nessas áreas, constata-se em imagens captadas por sensores orbitais a derrubada

da vegetação nativa em detrimento de lavouras cafeeiras.

Para o setor produtivo, fatores ambientais como clima, solo, relevo e orientação de

vertentes podem viabilizar ou inviabilizar a exploração econômica do cafeeiro,

acarretando baixa ou alta produtividade. Essas variáveis ambientais são independentes

do investimento econômico e das práticas de manejo adotadas. Nesse sentido, o estudo

do agroecossistema cafeeiro constitui-se em um importante instrumento no

planejamento e consolidação desta atividade. Áreas adequadas ao cultivo de cafezais

exigem menores gastos com agrotóxicos e insumos diversos, maximizando a capacidade

produtiva e beneficiando tanto a cadeia produtiva como também os consumidores finais

interessados em produtos mais saudáveis. Pesquisadores de economia agrícola, como

Chalita (2005), relatam a importância contemporânea de se fomentar pesquisas que

estudem a cadeia produtiva agrícola sob o aspecto da relação sociedade-natureza,

elementos necessários à superação da crise de desenvolvimento e ambiental pela qual a

sociedade contemporânea está passando.

Nesse contexto, o sensoriamento remoto tornou-se uma ferramenta imprescindível no

planejamento do espaço geográfico e no estudo dos recursos naturais, permitindo

inventariá-los e representá-los cartograficamente, descrever o fluxo de matéria e energia

de ecossistemas, avaliar as alterações temporais e propor soluções alternativas para o

ordenamento territorial (Odum et al., 2001). Os dados de sensoriamento remoto são,

hoje em dia, a maneira mais objetiva e precisa no levantamento de dados de cobertura

da terra e por isso vêm sendo cada vez mais aplicados nas estimativas de área plantada e

de rendimento em todo o mundo (Ippoliti-Ramilo, 1998). O potencial do uso de

geotecnologias para monitoramento de áreas agrícolas foi demonstrado em trabalhos de

26

mapeamento da cana-de-açúcar realizados na região centro-sul do Brasil por

pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE (Rudorff et al.,

2004; Rudorff et al., 2005).

Porém, em relação à cafeicultura, o mapeamento via interpretação de cenas orbitais é

mais complexo do que culturas temporárias como a cana-de-açúcar. Tal complexidade

está relacionada ao tipo de manejo e sistemas de cultivo heterogêneos, que diferem em

cada propriedade rural explorada. Essa heterogeneidade provocada pelas variações no

meio físico como também na fenologia da cultura acarretam mudanças significativas na

radiância captada pelos sensores em decorrência de variações na geometria entre alvo,

iluminação e sensor. Por essa razão, o desenvolvimento de uma metodologia embasada

na utilização de imagens de sensores orbitais de forma eficiente para monitorar o

heterogêneo agroecossistema cafeeiro de Minas Gerais, necessita estudos para

identificar métodos que possam vir a atender aos objetivos de uma forma técnica sem

perder o rigor científico. Segundo IBGE (1999), “o mapeamento de uso da terra

contribui de forma importantíssima sobre determinada área e quando realizada em

conjunto com mapeamentos pedológicos e da cobertura vegetal permitem indicar o

nível de sustentabilidade de uma área fornecendo assim subsídios para avaliações dos

impactos ambientais em diversos níveis de intensidade”.

A partir das considerações supracitadas, o principal objetivo do trabalho é caracterizar a

cafeicultura em quatro municípios do estado de Minas Gerais, utilizando

geotecnologias. A partir do objetivo geral, buscou-se atingir os seguintes objetivos

específicos: a) mapear a cafeicultura nos municípios de Aguanil, Boa Esperança,

Campo Belo e Cristais; b) quantificar a drenagem e matas ciliares intramunicipais; c)

obter as variáveis altimetria, declividade e orientação de vertentes a partir do produto

SRTM; d) realizar a caracterização dos municípios em relação às variáveis utilizadas; e)

verificar a situação das lavouras cafeeiras em relação às variáveis altimetria,

declividade, orientação de vertentes e solos; f) Obter um mapa geoambiental com a

27

integração de todas as variáveis abordadas com base em uma hipótese de favorabilidade

ao agroecossistema cafeeiro, com parâmetros obtidos via literatura e trabalho de campo.

28

CAPÍTULO 2

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Cafeeiro (Coffea arabica L.)

2.1.1 Descrição da Espécie Vegetal

Alzugaray e Alzugaray (1984) comentaram que o cafeeiro é uma planta arbustiva,

nativa da África, pertencente à família das rubiáceas, com até cinco metros de altura,

caule retilíneo de casca cinzenta e rugosa, com folhas verde-escuras, opostas, curto-

pecioladas e curto estipuladas, ovado-lanceoladas, agudas, glabras e ondulada nas

margens. Produz inflorescências em panículas racemosas com flores viçosas, bracteadas

brancas. Seus frutos são do tipo cápsula, que contêm sementes duras, globosas,

brilhantes e pretas, de importância econômica, medicinal e ornamental.

2.1.2 Aspectos Agronômicos e Ambientais do Cultivo de Cafezais

O café tem origem nas regiões montanhosas da Abissínia, em altitudes entre 1000 e

2500m (Rena et al., 1986). Desenvolve-se em regiões com pouca amplitude térmica, e

não entra em produção em regiões onde há temperaturas inferiores a 16oC e superiores a

24oC.

Conforme Alzugaray e Alzugaray (1984), as espécies mais cultivadas do gênero Coffea

em território brasileiro são C. arabica e C. canephora conhecida como C. robusta. A

espécie comercial mais valorizada e mais cultivada pelos agricultores é a C. arabica,

cujas variedades mais conhecidas são caturra, mundo novo e bourbon. Já a C.

canephora embora produza uma bebida pouco saborosa e aromática é muito cultivada

devido à sua resistência à ferrugem das folhas, doença muito prejudicial à cafeicultura

comercial. As principais diferenças entre as duas espécies são descritas na Tabela 2.1.

29

TABELA 2.1- Descrição das Principais Espécies de Café produzidos no Brasil.

ESPÉCIE C.arabica C. robustaAltura 2 a 4m 2 a 5m

Arbusto lenho duro, ramos laterais multicaule, ramos no coloFolha Verde-escura verde mais clara

Floração - 1-2dias / 2-3x anualFruto maduro:vermelho/amarelo vermelho

Semente verde-clara / amarela verdeFONTE: Alzugaray e Alzugaray (1984).

De acordo com Matiello (1991), no período de vegetação e frutificação o cafeeiro é

exigente em água e na fase de colheita a exigência é menor permitindo inclusive a

ocorrência de pequena deficiência hídrica, sem grandes prejuízos para a planta. Além

disso, curtos períodos de seca parecem ser importantes para o crescimento das raízes,

maturação dos ramos formados na estação chuvosa precedente e principalmente para a

diferenciação floral e maturação dos frutos.

Matiello (1991) relatou que uma pluviosidade anual de 1200 mm podem ser

consideradas adequadas para o bom desenvolvimento do café arábica. Quando a

deficiência hídrica for maior do que 150 mm e as temperaturas médias forem superiores

a 23°C, áreas destinadas ao plantio que se enquadram neste perfil são consideradas

inaptas, uma vez que restringem a frutificação, resultando em baixa produtividade.

Sediyama et al. (2001) realizaram o zoneamento climático do café para o estado de

Minas Gerais, associando não somente variáveis meteorológicas como também aspectos

fisiográficos. Dentre suas considerações, os autores concluíram que os solos mais

adequados ao cultivo do cafeeiro são os profundos, porosos e bem drenados, com uma

estrutura granular de tamanho médio, moderadamente desenvolvido com textura média,

não sendo recomendados solos com teor de argila menor que 20% e, quando muito

argilosa, devem apresentar estrutura e porosidade favorável à boa infiltração de água.

Especificamente em relação aos municípios de Aguanil, Boa Esperança, Campo Belo e

Cristais, Sediyama et al. (2001) e UNICAMP (2005) apontaram esses municípios como

30

aptos ao plantio de café sem a necessidade de irrigação, com base no cálculo do balanço

hídrico para a cafeicultura em todo o estado de Minas Gerais.

O relevo, nesse contexto, é importante na instalação de novos cafezais, principalmente

com vistas à mecanização e à conservação do solo. Alzugaray e Alzugaray (1984)

recomendam para o plantio de café áreas com vertentes orientadas para o norte, uma vez

que o planeta Terra descreve, observando-se o hemisfério sul, uma ligeira curva em

direção ao norte, mais acentuada no período de inverno. Portanto as terras com face

norte recebem maior irradiância solar do que em terrenos de face sul. Recomenda-se

então plantar café em áreas com face voltada para o norte ou noroeste/nordeste. Caso o

plantio ocorra em áreas com face nordeste, o terreno receberá maior irradiância solar no

período da manhã e em áreas com face noroeste, maior irradiância solar no período da

tarde. A face sul é desaconselhada ao plantio de café, devido à maior umidade e maior

incidência de ventos frios na época de inverno. Não são recomendados plantios de

cafeeiros em altitude inferior a 500 m e superior a 1200 m conforme Sediyama et al.

(2001).

2.1.3 Situação da Produção de Café no Brasil

O governo federal disponibilizou dados relativos à previsão de produção da safra

2005/06 para a cultura do café, conforme apresentadas na Tabela 2.2 (CONAB, 2005).

TABELA 2.2 - Estimativa de produção de café: safra 2005/06 em território nacional.

Unidade FederativaRegião

PRODUÇÃO (1000 sacas)Total

Inferior Superior %Minas Gerais 12.968 14.242 42,69Sul-Centro Oeste 6.093 6.676 -Triângulo, Alto Paranaíba e Noroeste 2.627 2.879 -Zona da Mata,Jequitinhonha,Mucuri,Rio Doce,Central e Norte 4.278 4.687 -

Espírito Santo 7.870 8.130 25,10São Paulo 2.950 3.300 9,81Paraná 1.550 1.630 5,00Bahia 2.100 2.270 6,86

31

TABELA 2.2 – Conclusão.Rondônia 2.090 2.180 6,70Mato Grosso 450 480 1,46Pará 240 250 0,77Rio de Janeiro 150 165 0,49Outros 340 360 1,10Brasil 30.738 33.007 100FONTE: CONAB (2005).

Observa-se que aproximadamente 43% de todo o café colhido em território nacional é

proveniente de Minas Gerais, com destaque para a região centro-sul do estado. Em

segundo lugar, aparece o estado do Espírito Santo, com 25%, e os demais estados

produtores juntos contabilizam pouco mais de 30% da safra nacional.

2.1.4 Fatores que Afetam na Produtividade do Café no Brasil

A produtividade de um cafezal é fator essencial para a determinação de custos de

produção, bem como a eficiência da aplicação de todos os insumos envolvidos no

cultivo que caracterizam a eficiência técnica e a aptidão da área cultivada para a

cafeicultura. Há dois fatores principais que influem na produtividade dos cafezais: a)

clima e b) manejo da cultura (Rena et al., 1986).

2.1.4.1 Clima

A produção do café no Brasil caracteriza-se por um ciclo bianual de produção. Isto

significa que a cultura produz muito bem em um determinado ano e, no período

seguinte, para recuperar-se fisiologicamente da menor relação fonte/dreno integrada a

outros fatores (nutricionais e climáticos), acaba refletindo diretamente sobre os índices

de produtividade da cultura. Isso ocorre devido ao seu esgotamento após algum tipo de

estresse, normalmente de caráter climático (Rena et al., 1986).

Sediyama et al. (2001) analisaram os riscos provocados pelas temperaturas elevadas e

pela deficiência hídrica no cultivo do café na fase de florescimento, e concluíram que a

ocorrência de longos períodos de temperatura elevada, com valores extremos, a partir de

34ºC, afetam o crescimento com a queda na produtividade das lavouras. Essas

32

características que ocorrem em vários municípios de Minas Gerais foram quantificadas

pelos pesquisadores, que realizaram cálculos necessários para prever a ocorrência

desses fatores e oferecer subsídios para seleção de alternativas tecnológicas aos

agricultores. Os mesmos autores concluem que em Minas Gerais, os fatores climáticos

adversos à cafeicultura estão ligados à ocorrência de secas e veranicos associados a altas

temperaturas.

2.1.4.2 Manejo da Cultura

O manejo da cultura do café consiste num conjunto de operações realizadas com o

objetivo de propiciar condições favoráveis ao transplantio de mudas e ao

desenvolvimento e produção de café, por tempo ilimitado. Este fator está relacionado

diretamente com as condições físicas da área geográfica (solos, declividade), capacidade

de investimento do produtor e adoção de técnicas agronômicas que garantam a

manutenção e sanidade de produção. Está indiretamente ligada à conjuntura econômica,

uma vez que o nível tecnológico e a capacidade de investimento na cultura do café estão

relacionados ao retorno do capital por parte do investidor (ABIC, 2003). Seu

entendimento é importante em trabalhos que envolvem o estudo de culturas agrícolas

com sensoriamento remoto, uma vez que diferentes espécies e espaçamentos da cultura

podem alterar o comportamento espectral dos alvos agrícolas, dificultando a

discriminação entre as diferentes classes de cultivo (Bunnik, 1978).

2.2 Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento no estudo da cafeicultura

No meio científico há trabalhos que demonstram a importância da utilização de

geotecnologias no estudo da aptidão agrícola de terras, manejo de bacias hidrográficas,

estudo e modelagem de relevo, análise ambiental de espaços geográficos e zoneamento

ecológico econômico. Todos eles enfatizam a importância de imagens orbitais como

suporte à extração de dados temáticos (Felgueiras et al., 1988; Kurkdjian et al., 1992;

Zimback, 1997; Venturieri, 1999; Crepani et al., 2001; Crepani e Medeiros, 2004).

33

A integração de dados reais de campo com dados de sensoriamento remoto só pode ser

realizada utilizando um sistema de informação geográfica, que fornece ferramentas

computacionais para que diferentes analistas integrem dados geográficos e determinem

possíveis mudanças espaciais e temporais de fenômenos naturais ou antrópicos em um

espaço geográfico, bem como as inter-relações entre diferentes fenômenos de uma

forma detalhada e abrangente (Câmara et al., 1993). Segundo Tomlin (1991), a

modelagem cartográfica é uma metodologia para análise e síntese de dados geográficos,

baseada em operações algébricas aplicadas a mapas representados na forma matricial.

Para esse autor, ainda, os modelos cartográficos podem ser descritivos ou preditivos. Os

modelos descritivos estão ligados ao modelo tradicional da cartografia, mas também

podem ser com bases na abordagem analítica, ainda muito utilizados, pois permite que o

fenômeno em estudo seja representado de maneira direta, de acordo com a posição e a

característica dos elementos que representam esse objeto. Já os modelos preditivos

permitem que o usuário determine quais fatores influenciam a paisagem em estudo e

como esses fatores se inter-relacionam para construir cenários sobre fenômenos a serem

investigados (DeMers, 1997).

Os dados de sensoriamento remoto processados em um sistema de informação

geográfica podem ser analisados de diversas maneiras, via interpretação visual ou

automaticamente através de algoritmos de classificação com bases na resposta espectral

de pixels ou regiões homogêneas conforme relatou Crosta (1992), relacionando essas

informações com o processamento digital de imagens. Nesse sentido, enfocando

trabalhos em cafeicultura, Batista et al. (1990) avaliaram os dados do HVR-SPOT e

TM-Landsat na discriminação das culturas de café (Coffea arabica L.), cana-de-açúcar

(Saccharum officinarum L.), trigo (Triticum aestivum L.) e pastagens. Foram

coletados em campo na data de passagem do satélite diversos atributos, como variedade,

data de plantio, estádio fenológico, altura de plantas, espaçamento e orientação de

plantio, porcentagem de cobertura do solo, entre outros. Os resultados demonstraram

não haver diferença significativa na identificação visual das culturas com 5% de

significância. Entretanto, verificou-se uma importante diferença entre os produtos,

34

quando analisados separadamente. Os resultados da análise automática também não

mostraram diferenças com 5% de significância para os dados multiespectrais do sensor

HRV-SPOT equivalentes ao sensor TM. Porém, a inclusão de uma banda do TM na

região do infravermelho médio, em substituição a uma banda do visível melhorou

sensivelmente o desempenho obtido na análise final dos dados.

Karaska et al. (1986) estudaram o efeito de onze variáveis ambientais (altitude,

declividade, orientação do declive, rugosidade da superfície, tipo de solo, geologia,

porcentagem de vegetação, porcentagem de áreas e porcentagem de solo exposto) sobre

a resposta espectral de tipos de coberturas detectadas pelo sensor TM/Landsat. As

medidas das onze variáveis ambientais e os valores espectrais para as sete bandas do

sensor TM foram coletadas em cento e vinte amostras. Os dados foram analisados

estatisticamente através de uma regressão múltipla do tipo stepwise para determinar a

relação entre as variáveis ambientais e a resposta espectral do TM, e também determinar

o grau de variabilidade na resposta espectral em função da contribuição de cada variável

ambiental. Os autores observaram que, das onze variáveis estudadas, as porcentagens de

árvores e arbustos foram as que mais influenciaram a resposta espectral nos dados TM.

Os mesmos autores verificaram que o efeito predominante da vegetação (porcentagem

de árvores e arbustos) sobre a resposta espectral atua mascarando o efeito de outras

variáveis ambientais. Essa observação foi fundamentada no fato de que áreas amostrais

com pouca cobertura vegetal apresentaram maior variabilidade na resposta espectral,

associada ao efeito de outras variáveis ambientais.

Dallemand (1987) trabalhou com imagens HRV-Spot e TM-Landsat com o intuito de

identificar culturas utilizando técnicas de fotointerpretação. Neste trabalho, quatro

intérpretes experientes, sem conhecimento da verdade terrestre, foram selecionados para

identificar 100 talhões de trigo, café, cana-de-açúcar e pastagem. A partir de 16 matrizes

iniciais de erros foi realizada uma matriz por produto, depois da verificação da

homogeneidade do grupo de intérpretes.. Os resultados mostraram, com 5% de

35

significância, que não houve diferença considerando todas as culturas. Analisando-as

separadamente, constatou-se, diferença significativa entre os talhões.

Leonardi (1990) utilizou as bandas 1 a 5 e 7 do sensor TM e dados coletados em campo

para avaliação da influência dos parâmetros culturais do café sobre sua resposta

espectral. Os parâmetros culturais foram coletados quase simultaneamente à passagem

do satélite e são resultantes da média de medições de campo, dados de arquivos e

entrevistas. Os dados digitais correspondentes aos pontos amostrados em campo foram

convertidos para valores de reflectância. A análise dos dados foi feita em quatro etapas:

correlação entre parâmetros culturais, correlação dos valores de reflectância entre as

bandas espectrais, correlação entre parâmetros culturais e resposta espectral do café e

regressão múltipla entre parâmetros culturais e resposta espectral. Os resultados

revelaram que os parâmetros relativos às características da planta (altura, ano e poda,

porcentagem de cobertura do terreno, idade, vigor vegetativo e tipo de poda) são mais

bem correlacionados com a reflectância do cafezal do que parâmetros relativos às

características do substrato (percentagem de cobertura nas entrelinhas, matéria orgânica,

ervas daninhas verdes, solo exposto) ou da geometria (orientação das fileiras de plantio,

declividade e orientação de declive). A análise de regressão múltipla evidenciou a

influência predominante dos parâmetros, altura da planta e porcentagem de cobertura do

terreno na resposta espectral do dossel do cafeeiro.

Com o objetivo de identificar e separar culturas agrícolas de citros, cana-de-açúcar e

café, Tardin (1990) realizou a análise digital de três bandas do sensor TM (bandas 3, 4 e

5), em que classificou a imagem em classes temáticas de cultivo utilizando um

algoritmo de máxima verossimilhança, implementado em um sistema de processamento

de imagens. Foram apresentados dados de matrizes de confusão, desempenho médio e

valores de reflectância para todas as culturas e bandas espectrais analisadas. Os

resultados alcançados na área de estudo mostraram-se eficientes na discriminação entre

as culturas.

36

Pellerin et al. (1993) utilizaram imagens TM e MSS do satélite Landsat no mapeamento

de uso do solo na região de Marília-SP e observaram que os piores resultados de

interpretação ocorreram em áreas de cafeicultura, cujas parcelas foram espectralmente

semelhantes às outras classes, desde florestas a culturas anuais. Estas confusões

ocorreram em função da fitogeografia da área, relacionadas com variáveis como altura

das árvores, densidade dos dosséis e das práticas culturais sazonais efetuadas entre

linhas de cultivo (solo exposto, consórcio de culturas como o milho, feijão, arroz de

sequeiro, gramíneas). Somente talhões com áreas medindo entre 1,5 a 2,0 metros foram

bem identificados e discriminados.

Alves et al. (2003) realizaram o estudo de áreas cafeeiras por meio de técnicas de

geoprocessamento, com o objetivo de levantar informações sobre o meio físico e

produzir mapas temáticos dos vários componentes destes agrossistemas. Através de um

sistema de informação geográfica, criou-se um banco de dados com as imagens do

sensor TM-Landsat 5 na área de interesse. Técnicas de geoprocessamento foram

empregadas para obter mapas de declividade e solos, sendo este último por meio de

modelagem geomorfopedológica. Os mapas temáticos elaborados, associados às

informações da cultura cafeeira, permitiram a avaliar a correlação das características da

cafeicultura com o meio físico. As técnicas de geoprocessamento usadas mostraram-se

eficientes para caracterizar os agroecossistemas cafeeiros, para subsidiar o planejamento

e gerenciamento racional do setor.

Moreira et al. (2004) realizaram uma análise espectral temporal da cultura do cafeeiro

utilizando imagens TM-Landsat com o objetivo de melhorar a separabilidade da cultura

cafeeira em relação aos demais alvos em uma região de Minas Gerais. Foram utilizadas

sete imagens, sendo três do ano de 1999 e quatro de 2001 e analisadas as imagens dos

canais 3,4 e 5 do sensor TM-Landsat. Realizou-se o pré-processamento das imagens

com o realce, registro e recorte da área de estudo, transformação de nível digital para

valores de reflectância e finalmente a retificação radiométrica em relação a uma imagem

de referência. Os autores concluíram que imagens coletadas no período seco, entre julho

37

e setembro, foram mais eficientes no mapeamento de lavouras cafeeiras em formação e

produção. A resposta dos alvos na imagem da banda 4 foi a que melhor permitiu a

separação entre café e demais culturas nesta época do ano.

Pesquisadores da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG)

elaboraram trabalhos utilizando dados de sensoriamento remoto integrados em um

sistema de informação geográfica para o estudo da cafeicultura neste estado (Bertoldo et

al. (2003a); Bertoldo et al. (2003b); Bertoldo et al. (2003c); Vieira et al. (2001)). Os

autores realizaram classificações automáticas das imagens TM e CCD, concluindo a

etapa de mapeamento com auxílio de interpretação visual. Para a modelagem do terreno,

os autores utilizaram dados altimétricos digitalizados a partir de cartas topográficas. Os

resultados foram obtidos por tabulações cruzadas entre as variáveis analisadas.

Entretanto, o objetivo do estudo não foi indicar áreas favoráveis para o cultivo de

cafezais com base nas variáveis estudadas. Na região de Patrocínio-MG, a comparação

visual entre o mapa gerado pelo classificador e os padrões espectrais definidos para as

diversas classes, com base na verdade de campo demonstrou que o mapa gerado de

áreas cafeeiras foi satisfatório. Tal fato reflete, provavelmente, as condições

geomorfológicas da região, onde ocorrem, predominantemente, relevos mais suaves e

grandes extensões de áreas cafeeiras. Já para o município de Machado-MG, o mapa de

uso da terra gerado pela classificação apresentou maior conflito entre mata e café. Este

conflito é acentuado em algumas áreas da região em que o relevo é mais acidentado.

A maioria dos trabalhos consultados que envolveram geotecnologias e cafeicultura

abrange municípios isolados. Caso seja necessário enfocar o estudo de

agroecossistemas, sugere-se que sejam realizados primeiramente estudos regionais e

posteriormente estudos locais, uma vez que as atividades antrópicas trazem

conseqüências que não estão restritas a uma determinada área geográfica e sim a todo o

ecossistema em que os recursos naturais estão sendo explorados (Odum et al., 2001).

2.2.1 Influência de Práticas Culturais e da Fenologia na Resposta Espectral de

Cafezais

38

Formaggio (1989) relatou que o ciclo das culturas agrícolas anuais pode ser dividido em

três fases fenológicas, o que permite diferenciá-las espectralmente dependendo do

sensor utilizado. Estas fases não ocorrem periodicamente em relação à lavoura cafeeira,

mas podem ser evidenciadas e devem ser conhecidas para evitar interpretações errôneas

em trabalhos que envolvam o mapeamento dessa cultura. Na primeira fase (Figura 2.1),

logo após o transplantio de mudas no terreno para a formação do cafezal, ocorre o

domínio da radiância do solo nas interações com a irradiância solar, com a cultura

recobrindo pequena parcela da superfície do solo. Na segunda etapa do ciclo (Figura

2.1), a cultura entra em fase de desenvolvimento, onde ocorre o domínio da biomassa

vegetal nas interações da cultura com a radiação eletromagnética, formando o chamado

dossel agrícola, com maior resposta espectral na faixa do infravermelho próximo

(Ponzoni, 2001). Nessa fase, mais tardiamente, ocorre o processo de florescimento e

formação de frutos, alterando novamente o comportamento espectral do dossel devido à

presença de intensa florada na fase reprodutiva e posteriormente dos frutos em

maturação. Já a terceira fase (Figura 2.1) a planta apresenta-se em fase de pós-colheita,

ou seja, ocorre a derrubada das folhas devido à colheita manual. Isso acarreta mudança

no comportamento espectral da lavoura devido à maior contribuição da resposta

espectral do solo.

FIGURA 2.1 - Cafeicultura fase inicial, dossel formado e lavoura pós-colheita.

39

2.2.1.1 Influência da Topografia no Manejo e na Resposta Espectral de Cafezais

A topografia está relacionada diretamente com a forma do relevo e declividade, e,

portanto é um importante fator a ser considerado na instalação e condução dos cafezais.

Nesse sentido, a declividade tem sido a variável mais explorada em trabalhos que

exigem a representação do espaço geográfico, referindo-se à inclinação do relevo em

relação ao horizonte, o que na prática, tem relação direta com a velocidade de

escoamento da água em escorrimento superficial, fator primário na formação de

voçorocas (Crepani et al., 2001).

Alguns trabalhos de pesquisa na área de sensoriamento remoto têm demonstrado que a

topografia do terreno influencia significativamente a resposta espectral de alvos em

determinada superfície (Strahler et al. (1978); Lacerda (2004)). Leonardi (1990)

especifica que em dados orbitais o efeito topográfico diminui com o comprimento de

onda, o que exige cuidados na interpretação dos dados principalmente em terrenos com

topografia ondulada.

2.3 Sensoriamento Remoto e Modelagem Topográfica

Wood (1996) comentou que o homem sempre buscou técnicas e ferramentas para

descrever e parametrizar com precisão a superfície terrestre. As técnicas almejadas por

vários pesquisadores buscam uma aplicabilidade universal, que não dependa de

adaptações em cada situação fisiográfica encontrada. O mesmo autor cita que os

parâmetros mais comumente utilizados na modelagem são a altimetria, declividade e

perfil do terreno.

Para o cálculo das variáveis físicas na modelagem do espaço geográfico com

ferramentas computacionais e dados coletados a partir de sensores remotos, aplicam-se

com freqüência a técnica de representação do terreno denominado modelo numérico de

terreno (MNT). Este recurso é definido por uma função matemática que permite a

reprodução de uma superfície real a partir de pontos regularmente espaçados. Segundo

40

Assad et al. (1998), o modelo está associado à altimetria do terreno, permitindo a

representação tridimensional da superfície terrestre.

Diversos trabalhos que envolveram mapeamentos temáticos e zoneamento ecológico-

econômico (INPE, 1992; Crepani et al., 2001), utilizaram cartas topográficas analógicas

digitalizadas e importadas em sistemas de informação geográfica para gerar o modelo

numérico de terreno. Atualmente, com a disponibilidade dos dados SRTM (Shuttle

Radar Topographic Mission) pela NASA (2005) (National Aeronautics and Space

Administration), Valeriano (2004) recomendou sua utilização e integração com cenas de

sensores multiespectrais, como TM-Landsat e CCD-Cbers.

2.3.1 SRTM (Shuttle Radar Topographic Mission) e Modelos Digitais de Elevação

O projeto SRTM (Shuttle Radar Topographic Mission) faz parte de um programa

científico de longo prazo para estudo da superfície terrestre, oceanos, atmosfera, gelo e

vida de uma forma integrada. Os dados SRTM são o resultado de uma missão espacial

da NASA, da NIMA (National Imagery and Mapping Agency), da DLR (Agência

Espacial Alemã) e da ASI (Agência Espacial Italiana), com o objetivo de gerar um

modelo digital de elevação (MDE) da superfície terrestre através de interferometria. Sua

missão cobriu toda a superfície terrestre utilizando a banda C e X, conforme Eineder et

al. (2003). Os dados SRTM possuem grande potencial de aplicações. Com uma

resolução espacial de 90m, Valeriano (2004) comentou que se trata de um produto com

maior precisão do que aqueles gerados pelo RADARSAT-1, cuja resolução espacial é

de 1000m .

Este mesmo autor ressalta que em trabalhos de mapeamento temático de uso e aptidão

do solo, a exatidão altimétrica absoluta não é uma exigência primordial para estudos de

relevo e recomenda a utilização dos dados SRTM em escalas de até 1:100.000. Não são

recomendados em projetos de engenharia civil, que envolvem dimensionamento de

barragens bem como pontes e estradas de rodagem, pois exigem precisão incompatível

41

com a resolução original deste produto. Segundo Van Zyl (2001), os dados SRTM

possuem precisão de 16m em modo absoluto e 11m em modo relativo.

A utilização dos produtos altimétricos SRTM pode ser útil na obtenção de diversas

variáveis fisiográficas além da altimetria, como declividade e orientação de vertentes

(Valeriano, 2004). Pensando nesta diversidade de aplicações é que vários autores

chamaram a atenção para a necessidade do preparo e processamento dos dados em

função dos resultados desejados (Li, 1992; Gao, 1995; Özdamar et al., 1999; Valeriano

et al., 2001; Reiss, 2002).

Ainda em trabalhos que envolvem a modelagem de terreno, Valeriano (2003)

desenvolveu e avaliou procedimentos para mapear a curvatura vertical de vertentes a

partir de modelos de elevação com recursos de sistemas de informação geográfica. Sua

metodologia baseia-se na aplicação de filtros direcionais com janelas móveis de 3x3

pixels, simulando o cálculo geométrico da segunda derivada através do perfil de

vertentes. As curvaturas processadas devem ser diferenciadas por interpretação visual

através da determinação dos limites para classificação de cada intervalo de valores

desejados, em cada octante (norte, sul, leste e oeste). Valeriano (2003) concluiu com

base nesse trabalho que a curvatura vertical de vertentes pode ser calculada sobre

modelos digitais de elevação, e que os resultados foram coerentes com a verdade de

campo, apesar das possíveis imprecisões geradas durante o processamento digital.

2.4 Mapeamento e Representação Cartográfica do Uso da Terra

Considera-se como terra, um “segmento da superfície terrestre definido no espaço e

reconhecido em função de suas características e propriedades compreendidas pelos

atributos da biosfera que sejam razoavelmente estáveis ou ciclicamente previsíveis,

incluindo a atmosfera, solo, geologia, hidrologia e resultados da atividade humana”

(FAO, 1976).

42

Para o IBGE (1999), as classes de uso da terra podem ser definidas como unidades

simples ou associações de classes, sendo variável com o espaço estudado e a escala de

trabalho.

Quando são encontrados vários tipos de atividades antrópicas vizinhas para delimitação,

como a associação de cultivos perenes e anuais, o IBGE (1999) recomenda que se deve

levar em conta sempre a classe de uso dominante procurando-se ordenar as classes de

uso com maior percentual, limitando ao máximo três unidades por associação.

Recomenda-se ainda que se uma área for ocupada com mais de 80% de uma só classe

de uso, esta será mapeada como unidade simples.

O IBGE (1999) identificou sete classes de uso da terra, podendo ser subdivididas em

tipos diferenciados, desde que bem caracterizados: a) agricultura; b) pecuária; c)

agropecuária; d) extrativismo; e) mineração; f) áreas especiais; g) áreas urbanas, sendo

que a agricultura: pode ser diferenciada em cinco tipos de culturas: 1) agricultura de

subsistência; 2) agricultura tradicional; 3) agricultura de transição; 4) agricultura

modernizada; 5) reflorestamento ou florestamento. A cultura do café na região de

estudo, pode ser caracterizada como agricultura tradicional com culturas permanentes

(ATp) e agricultura modernizada com cultura permanente (AMp).

O IBGE (1999) recomenda que o mapeamento destinado a caracterizar o sistema de uso

da terra de uma determinada área geográfica deve buscar a representação em escalas

crescentes. O mesmo autor divide as escalas de mapeamento e as unidades empregadas

conforme a Tabela 2.3.

TABELA 2.3 – Unidades de mapeamento e escalas recomendadas.Exploratório Reconhecimento Semidetalhe Detalhe1:1.000.0001:2.500.000

1:250.0001:1.000.000

1:100.0001:25.000 < 1:25.000

Classes de uso dominante ou

associação de classes

Indicação de classes e tipos dominantes ou

associações dominantes

Indicação das classes, tipos e subtipos dominantes ou

associações dominantes

Indicação das classes, tipos e subtipos dominantes ou

associações dominantes

Agricultura Agricultura Tradicional

Agricultura Tradicional com Culturas Perenes

Agricultura de Subsistência com

cultivo de mandioca

43

TABELA 2.3 – Conclusão.Pecuária Pecuária Extensiva Pecuária Extensiva de

CortePecuária Extensiva de

Corte

Agricultura+Pecuária Agricultura Tradicional +Pecuária

Agricultura Tradicional com culturas cíclicas +

Agropecuária

Agricultura Tradicional com culturas cíclicas e milho + Agropecuária e

cultura de sorgoFONTE: IBGE (1999).

2.4.1 Análise da Confiabilidade do Mapeamento a partir de imagens orbitais

Em trabalhos que envolvem mapeamento, destacam-se aqueles que abordam a

importância da validação e sua confiabilidade. Normalmente opta-se pela construção de

matrizes de erros, que apontam a distribuição de erros e acertos com base na realidade

de campo. A partir desta matriz de erros é possível verificar as classes com melhores e

piores desempenhos, e também permitem o cálculo de parâmetros de exatidão geral da

classificação quando se utilizam como base de extração dos dados, imagens de sensores

orbitais (Hay, 1988; Congalton et al., 1991).

Com base na matriz de erros é possível realizar uma análise multivariada para a

determinação da concordância entre o mapeamento e a realidade de campo. Aponta-se

como opção a esta análise a estatística kappa (K), que é calculada segundo as equações

2.1, 2.2 e 2.3.

PcPcPoK

−−=

1(2.1)

(2.2)

2

1Ni

nnM

P c

ii

∑==

2

1Ni

nnM

Pc

ii∑==

(2.3)

44

em que: Po é a exatidão geral, Pc a proporção de unidades que concordam por

casualidade, M, o número de classes presentes na matriz de erro, nij o número de

observações na linha i e coluna j, ni+ e n+i os valores marginais da linha i e coluna j e N o

número total de unidades amostrais contempladas pela matriz.

Com a finalidade de validar e possibilitar comparações entre classificações diversas,

Fonseca (2000) disponibilizou os seguintes conceitos em relação aos resultados obtidos

nas classificações, conforme a Tabela 2.4.

TABELA 2.4 - Índice kappa e conceito do desempenho de classificação.Índice Kappa Desempenho

< 0 péssimo0 < k ≤ 0,2 mau

0,2 < k ≤ 0,4 razoável0,4 < k ≤ 0,6 bom0,6 < k ≤ 0,8 muito bom0,8 < k ≤ 1,0 excelente

FONTE: Fonseca (2000).

2.5 Técnicas de Processamento Digital em dados de Sensoriamento Remoto

Orbital

Mascarenhas et al. (1984) definiram como tratamento de imagens toda e qualquer

análise e manipulação destes dados por meio de técnicas computacionais com a

finalidade de extrair informações reais sobre fenômenos ou objetos do Planeta Terra.

Tais técnicas e algoritmos buscam simular a capacidade do ser humano em reconhecer

padrões nos dados de sensores remotos. A seguir serão abordadas as técnicas de

processamento digital de imagens utilizadas no desenvolvimento deste trabalho.

2.5.1 Minimização do efeito causado pelo espalhamento atmosférico

Moreira (2003) comentou que o espalhamento atmosférico é um processo físico

explicado por três mecanismos, denominados: espalhamento Rayleigh, espalhamento

Mie e não seletivo, todos relacionados com o comprimento de onda e com o tamanho

das partículas dispersas na atmosfera. A combinação destes efeitos, segundo Slater et al.

45

(1987) interfere na radiância captada por sensores orbitais com mudanças significativas

nos resultados de análises e processamentos desses dados. O mesmo autor sugere a

utilização de um método que permita reduzir tais efeitos, uma vez que sua eliminação

total não é possível.

Nesse sentido, Chavez Jr. (1988) desenvolveu um método de minimização dos

espalhamentos Rayleigh e Mie através da subtração dos valores aditivos supracitados a

partir de coleta de amostras em alvos escuros, cuja radiância deveria ser nula ou

próxima a zero. A técnica é aplicada individualmente em cada banda multiespectral.

Operacionalmente Chavez Jr. (1988) sugeriu a utilização de uma banda no visível para a

coleta do valor digital que deverá ser utilizado no processamento. O valor mais

adequado é aquele que apresenta o maior aumento de freqüência nos menores níveis

digitais do histograma. Especificamente para as bandas do sensor TM-Landsat, o autor

supracitado não recomenda a utilização dos valores das bandas 5 e 7, uma vez que

podem reduzir significativamente níveis digitais importantes para valores baixos,

próximos a zero, considerando que o espalhamento atmosférico para estas bandas pode

ser considerado desprezível.

2.5.2 Transformação dos Níveis Digitais para Reflectância de Superfície

Slater et al. (1987) destacaram a importância dos parâmetros de calibração dos sensores

em análises que envolvem a obtenção de informações quantitativas dos alvos.

Transformando os números digitais para valores de radiância compensam-se as

diferenças entre ganhos e off-set de cada banda espectral, conforme equação 2.4.

NDLLLL ].255/)[( minmaxmin λλλλ −+= (2.4)

em que: ND = número digital de um pixel amostrado; Lλ = radiância espectral (W.cm-2 .

sr-1.µm-1); Lminλ = radiância espectral correspondente ao ND mínimo; Lmaxλ = radiância

espectral correspondente ao ND máximo.

46

Convertendo os valores de radiância em valores de reflectância de superfície

compensam-se as diferenças quanto à irradiância solar no topo da atmosfera e o ângulo

de incidência solar em relação ao alvo no momento da aquisição da imagem, conforme

a equação 2.5.

Θ=

cos... 2

solEdLλπρ (2.5)

em que ρ = reflectância de superfície; Lλ = radiância espectral; d = distância sol-terra;

Esol = irradiância solar no topo da atmosfera; θ= ângulo zenital solar, em graus conforme

Slater et al. (1987).

2.5.3 Transformação Geométrica

Imagens captadas por sensores orbitais estão sujeitas a diferentes fontes de erros,

causadas pelo movimento relativo entre a Terra e o satélite, distorções panorâmicas que

ocorrem pela variação do instantaneous field of view (IFOV) no campo de visada do

sensor, variações de efemérides e velocidade do satélite. Há disponível, segundo

Fonseca (2000), três modelos matemáticos que podem ser executados para resolver tais

problemas: a) modelo de correções independentes; b) modelo fotogramétrico e c)

modelo polinomial. O primeiro modelo trata de forma independente as diversas

distorções sistemáticas. O segundo modelo está embasado na aplicação de equações de

colinearidade, com base nos dados de efemérides dos satélites e o terceiro modelo,

comumente implementado em aplicativos de tratamento de imagens digitais, consiste na

aplicação de uma função polinomial cujos parâmetros são determinados a partir de

coordenadas de pontos de controle identificados tanto em um sistema de referência da

imagem como também na base de dados.

Operacionalmente, a transformação geométrica de uma imagem passa por três etapas

conforme Fonseca (2000). Na primeira etapa denominada mapeamento direto, ocorre

uma transformação geométrica aplicada sobre a imagem, que é dependente da equação

polinomial escolhida (1o, 2o ou 3o graus). Nesta transformação, afim ou não, define-se a

47

geometria e o espaço geográfico da imagem corrigida, onde os níveis de cinza que

comporão a imagem final residem na imagem de entrada. A segunda etapa é

denominada mapeamento inverso, que recupera a informação dos níveis de cinza que

serão utilizados na imagem resultante do processo.

Na terceira etapa, ocorre a reamostragem ou interpolação dos níveis de cinza. Nesta

operação, utilizam-se os níveis de cinza apresentados durante o mapeamento inverso

para determinar por cálculos de interpolação os níveis de cinza que irão compor a

imagem corrigida. Nesta etapa, os principais métodos de interpolação utilizados são:

vizinho mais próximo, bilinear e convolução cúbica. O primeiro método de

reamostragem utiliza o nível de cinza mais próximo ao resultado do mapeamento

inverso; o segundo método utiliza o valor de três interpolações lineares, utilizando os

níveis de cinza dos quatro pixels que cercam o mapeamento inverso, duas ao longo da

linha e uma na direção das colunas. A terceira utiliza cinco interpolações polinomiais de

terceiro grau considerando os dezesseis pixels a partir do resultado do mapeamento

inverso ao longo das linhas e a quinta na direção das colunas.

2.5.3.1 Cenas Ortorretificadas (NASA) como suporte ao Registro de Cenas TM e CCD

Tucker et al. (2004) realizaram a ortorretificação de imagens dos sensores MSS

(Multispectral Scanner System), TM (Thematic Mapper) e ETM+ (Enhanced Thematic

Mapper Plus) a bordo dos satélites Landsat 4, 5 e 7 respectivamente. Os autores

utilizaram cenas que compreenderam o período de 1970 a 2000 estruturando assim o

maior banco de dados de imagens com um padrão de correção determinado

cientificamente, para estudos e aplicações em diversas áreas do conhecimento,

minimizando os erros de registro comumente encontrados entre cenas de mesmos

sensores ou relacionados à diferentes períodos de aquisição. Os produtos foram

denominados Geocover, e estão disponíveis em dois produtos relacionados às datas das

cenas utilizadas em cada mosaico: circa 1990 e circa 2000.

48

O produto Geocover dispõe de 7.413 cenas MSS Landsat 4, TM Landsat 5 e ETM+

Landsat 7 considerando 7.037 órbitas-ponto diferentes, com dados de todo o globo

terrestre, em formato georreferenciado, com cobertura de nuvens menor que 10% ,

datadas entre 1972 e 2002. Tucker et al. (2004) descreveram a especificação técnica das

imagens Geocover após o processo de ortorretificação das cenas conforme a Tabela 2.5.

TABELA 2.5 - Especificações Técnicas dos Mosaicos de Cenas Geocover.Especificações Características

Método de Reamostragem: vizinho mais próximoResolução Espacial 28,5m (ótico) e 114m (termal)Projeção UTM - zona determinada no centro da cenaDatum WGS 84Erro Médio de Posicionamento Horizontal 50mErro Médio de Posicionamento Vertical 1 arco segundoFONTE: Tucker et al. (2004).

2.5.4 Razão entre Bandas Multiespectrais

Na opinião de Chen et al. (1986), os índices de vegetação permitem reduzir a

dimensionalidade dos dados multiespectrais e também o impacto das condições de

iluminação e de visada decorrentes ou não de efeitos topográficos provocados por

diferenças na radiância espectral causada pelas variações na orientação e declividade da

superfície. Nesta linha de estudos, Pinter Jr. et al. (1985) afirmaram que a razão simples

entre bandas é suficiente para controlar a variabilidade nas estimativas de radiância dos

alvos.

Ao estudarem os efeitos da influência topográfica sobre o resultado do processamento

de imagens, Holben et al (1981) constataram que seus resultados sofreram variações em

função da inclinação solar, orientação das vertentes e declividade. Como alternativa aos

efeitos negativos da topografia, os autores utilizaram a razão entre bandas no sentido de

minimizar ou remover efeitos aditivos indesejados.

2.5.5 Classificação de Imagens Digitais

49

Para Crosta (1992), a necessidade de distinguir e identificar os diferentes tipos de alvos

na superfície terrestre em imagens digitais gerou a demanda para estudos na elaboração

e implementação de programas computacionais que permitissem de forma automática

ou com a intervenção humana, associar cada pixel da imagem ou regiões homogêneas a

um tema da verdade terrestre, denominado neste contexto como rótulo. Dessa forma, o

resultado desta rotulação é um mapa temático.

Para alcançar os resultados esperados, deve-se associar no processo de classificação

mais do que um canal (no caso de imagens multiespectrais) para que seja possível

distinguir os diferentes alvos da superfície terrestre. Para isso, deve-se segundo Crosta

(1992) conhecer o comportamento espectral dos alvos terrestres e analisar o espaço de

atributos visando associar canais que permitam diferenciar satisfatoriamente alvos que

possuem comportamento espectral semelhantes.

Segundo Fonseca (2000), há dois tipos de classificação: a automática e a

fotointerpretação. A primeira consiste em uma análise quantitativa dos pixels de uma

imagem multiespectral, em que um algoritmo realiza a análise de pixels ou regiões

consideradas homogêneas. Na fotointerpretação um especialista extrai as informações

com base em sua experiência pessoal, muitas vezes associadas somente a um sistema de

cores aplicados sobre as bandas multiespectrais, normalmente no sistema RGB.

Fonseca (2000) explica que existem dois grupos de classificadores automáticos,

implementados nos aplicativos disponíveis no mercado: a) classificador não

supervisionado, onde os pixels de uma imagem são associados a uma classe espectral

sem conhecimento prévio do usuário; b) classificador supervisionado, em que o

especialista seleciona amostras das classes identificadas na imagem, que normalmente

são descritas por parâmetros estatísticos estimados pelas amostras de treinamento.

2.5.5.1 Classificação por Maxiverossimilhança (MaxVer)

O classificador por maxiverossimilhança, ou simplesmente Maxver, é considerado por

Crosta (1992) e Fonseca (2000) como o método de classificação pixel a pixel mais

50

utilizado, principalmente por estar implementado na maioria dos aplicativos de

tratamento de imagens e sistemas de informação geográfica. Este classificador utiliza

parâmetros estatísticos de probabilidade para agrupamento de classes temáticas a partir

de amostras de treinamento. Pressupõe-se que a distribuição da probabilidade das

classes é normal, embora tal suposição, segundo Crosta (1992) seja considerada uma

propriedade natural dos alvos não demonstrada na prática. No processo de classificação

determina-se a probabilidade de que um pixel pertence a um vetor espectral em cada

uma das bandas. Confirmando-se a hipótese, o pixel é atribuído à classe de maior

probabilidade, considerando também um limiar de decisão, que indica a porcentagem de

pixels de determinada distribuição poderão ser classificados em determinada classe.

Caso seja considerado um limite de 99%, por exemplo, apenas 1% daqueles com menor

probabilidade serão eliminados.

Fonseca (2000) comentou que o êxito da classificação e, conseqüentemente, na

separabilidade de classes está relacionada diretamente com a aquisição das amostras de

treinamento. Estas devem ser significativamente diferentes para cada um dos alvos,

evitando pixels com muita mistura espectral. As classes pré-definidas para a

classificação da imagem normalmente representam uma simplificação da realidade

terrestre. A mistura extremamente variável de uma série de objetos reais em um mesmo

pixel influencia negativamente no resultado da classificação.

2.6 Interpretação de Imagens Orbitais na Agricultura

Segundo Moreira (2003), a interpretação de imagens orbitais funciona como um

complemento ao processo de classificação automático na extração de informações em

imagens digitais. Este autor citou que existem dois métodos de interpretação: método

comparativo e método sistemático. Destacar-se-á o método sistemático por ter sido

utilizado no presente estudo.

2.6.1 Método Sistemático de Interpretação de Imagens

51

Trata-se de um método composto por etapas distintas. Segundo Moreira (2003), as

etapas para interpretar uma imagem podem ser resumidamente descritas como:

metódica, onde se interpreta um tema por vez; do geral para o individual com a

interpretação das classes de maior ocorrência na área. Nesse caso cada classe temática

pode ser espectralmente dividida em sub-classes (ex.: café em formação e café em

produção); do conhecido para o desconhecido: primeiro se realiza a individualização

das classes de uso e ocupação do solo que são conhecidas (ex. mata ciliar, cidade, etc);

convergência de evidências: consiste em associar ao comportamento espectral outros

elementos fotointerpretativos, tais como: sombra, textura, forma e tamanho, bem como

a multitemporalidade.

2.6.2 Realce de Imagens

Segundo Moreira (2003), os dados gerados por sensores remotos podem apresentar um

contraste de baixa qualidade visual ao intérprete durante a extração de dados temáticos.

Para a melhora desta qualidade, utiliza-se comumente a ampliação do contraste em que

os níveis de cinza mais baixos são deslocados para um valor igual ou próximo a zero e

os valores mais altos, próximo ao nível de cinza máximo de acordo com a resolução

radiométrica do dado em processamento. Nesse sentido Crosta (1992) comentou que o

contraste linear é a forma mais simples de aumentar o contraste de uma imagem digital,

pois utiliza-se uma função de primeiro grau, onde dois parâmetros são controlados: a

inclinação da reta, que indica a quantidade de aumento de contraste e o ponto de

intersecção com o eixo X, que controla a intensidade média da imagem final.

2.7 Geoprocessamento: Análise Booleana e Processo Analítico Hierárquico (AHP)

O uso de modelos que utilizam variáveis qualitativas e quantitativas em projetos

ambientais tem recebido enorme atenção e enfoque. Nesse sentido a análise espacial dos

dados pode ocorrer de várias maneiras, com destaque para os métodos de inferência

booleana e AHP (análise hierárquica ponderada). O primeiro método de inferência

denota de maneira objetiva se uma afirmativa é verdadeira ou falsa (Burrough e

52

Mcdonnell, 1998). Essa técnica assemelha-se à consagrada forma de análise utilizando a

sobreposição de mapas em formatos translúcidos. Este apelo à simplicidade, no entanto,

apresenta a limitação de não ponderar suas entradas, de acordo com seus respectivos

níveis de importância. Como opção, o método denominado processo analítico

hierárquico (AHP) tem se destacado em número de aplicações para diversas áreas de

pesquisa (Alphonce, 1996).

Um dos maiores desafios que um profissional enfrenta em sua rotina de trabalho é a

necessidade da tomada de decisão técnica para solucionar problemas de ordens diversas.

Neste sentido, o processo analítico hierárquico tem sido amplamente utilizado em

trabalhos relacionados à agricultura e gestão de recursos naturais (Alphonce, 1996; Guo

et al., 1999; Thirumalaivasan et al., 2003; Zhang et al., 2004; Li et al., 2005; Karami,

2006;). Em agricultura, destacam-se trabalhos na determinação de áreas aptas a cultivos,

escolha de melhores métodos de irrigação e determinação de áreas favoráveis a

conservação e/ou para o desenvolvimento de determinada atividade agropecuária.

O processo analítico hierárquico ou AHP, desenvolvido por Saaty (1986), é uma técnica

de tomada de decisão com múltiplos critérios em que um problema complexo possui

uma hierarquia de solução a partir das variáveis a serem trabalhadas nesta solução

(Alphonce, 1996). Neste processo de comparação é estabelecida uma estrutura

hierárquica em que o valor de dominância para um dado nível hierárquico é propagado

para o nível inferior. Cria-se uma escala única de comparação entre as alternativas

medidas por diferentes critérios, estabelecendo-se no final um grau de pertinência ao

modelo. A estrutura de organização dos dados na AHP distribui as variáveis em

diferentes níveis. As variáveis de maior importância transmitem sua maior influência

para as variáveis menos importantes, em níveis hierárquicos mais baixos, que por sua

vez contribuem também com a funcionalidade e coerência nos níveis superiores

(Alphonce, 1996). Saaty (1986) fundamenta ainda que o processo analítico hierárquico

baseia-se em três princípios: decomposição, julgamentos comparativos e síntese de

prioridades. Os valores atribuídos aos critérios e alternativas na comparação pareada são

53

referentes a uma escala de medida de valores de intensidade ou de importância relativa.

Esses valores, que variam de 0 a 1, expressam a importância com a qual, um critério ou

alternativa é mais importante que o outro.

Dentre os trabalhos desenvolvidos nesta temática, utilizou-se o processo analítico

hierárquico para selecionar o melhor equipamento de irrigação em fazendas localizadas

no Irã, país com grande escassez de recursos hídricos (Karami, 2006). Analisaram-se

áreas agrícolas privadas com características homogêneas e três formas de irrigação para

cada grupo. As variáveis utilizadas no modelo de análise foram respectivamente: a)

nível tecnológico; b) tamanho da propriedade; c) declividade; d) textura do solo. O

método aplicado gerou resultados que foram analisados por especialistas em irrigação.

Na situação exposta, constatou-se que o processo analítico hierárquico foi eficaz na

indicação de 74% das áreas e questionável em 26% das áreas analisadas. Não houve

representação cartográfica dos resultados por parte do autor, mostrando seus resultados

por intermédio de gráficos com os valores obtidos no cálculo do modelo. Os

questionamentos sobre os resultados estiveram relacionados principalmente com os

parâmetros utilizados no cálculo dos pesos de cada variável, que é particularmente

definido pelo técnico que desenvolve a pesquisa ou um grupo voltado à temática em

estudo.

Em outro trabalho pesquisadores chineses estudaram o agroecossistema de uma

província Chinesa com características fisiográficas bem distintas com grande potencial

energético e agrícola (Li et al., 2005). O objetivo do trabalho foi determinar áreas

próprias ao cultivo do arroz maximizando o uso dos recursos naturais de uma forma

menos agressiva ao meio ambiente. Utilizou-se o processo analítico hierárquico para

análise das variáveis em três níveis: ecológico, econômico e social. Em relação ao nível

ecológico, utilizaram-se as seguintes variáveis: porcentagem de cobertura florestal,

fertilidade do solo, erodibilidade do solo e produção. Este trabalho permitiu delimitar

sete regiões homogêneas, o que trouxe subsídios para maximizar e trazer soluções aos

problemas sociais, econômicos e ecológicos em relação às áreas problemáticas.

54

CAPÍTULO 3

MATERIAL E MÉTODOS

3.1 Área de Estudo

A área de estudo compreende o agroecossistema cafeeiro de quatro municípios do

estado de Minas Gerais: Aguanil, Boa Esperança, Campo Belo e Cristais, localizados no

sudoeste do estado ocupando uma área total de 2.253 km2 ilustrados na Figura 3.1.

E F

FIGURA 3.1 - A (Cristais), B (Campo Belo), C (Aguanil), D (Boa Esperança), E (Minas Gerais), F (Brasil) - TM-Landsat TM7(R)TM4(G)TM3(B).

55

C

AA

B

D

3.2 Características Gerais da Região em Estudo

Os quatro municípios estudados situam-se as margens do Rio Grande, hoje denominado

lago de Furnas. Três deles (Aguanil, Campo Belo e Cristais) situam-se à margem direita

e Boa Esperança à margem esquerda. A economia dos municípios baseia-se em

atividades agropecuárias, com destaque para a cafeicultura. Na safra de verão, são

cultivados arroz, feijão e milho, com algumas áreas de soja, principalmente nos

municípios de Cristais e Boa Esperança. No inverno, período com menor ocorrência de

chuvas, há o predomínio de pastagens e cafeicultura.

3.2.1 Solos

O conhecimento das classes de solo da região em estudo é uma necessidade, visto que

serve de suporte a todas as atividades agrícolas. Cada classe de solo possui

características próprias de drenagem e aptidão agrícola (Moreira, 1992). A Tabela 3.1

ilustra as principais classes de solos nos municípios em estudo, com base em MA

(1962) e Bertoldo (2006), que realizaram o levantamento para reconhecimentos dos

solos sob o domínio do lago de Furnas.

TABELA 3.1 - Classes de solos da região em estudo e aspectos agronômicos importantes.

Solos Aspectos Favoráveis Aspectos DesfavoráveisArgissolo Vermelho

Argissolo Vermelho Amarelo

Solos profundos,com possibilidade de ser eutrófico no horizonte B e

transições com fase cascalhenta no horizonte A

Suscetibilidade à erosão com restrições de drenagem, e baixos

teores de fósforo

Cambissolo Háplico Pode apresentar caráter eutrófico no horizonte B

Ácido, com a presença de Al+3, pode ser salino ou sódico, com suscetibilidade à erosão

Neossolo LitolicoNeossolo Quartzorênico

Se apresentar caráter eutrófico, CTC > 12cmol/kg solo

Solos rasos, com baixa disponibilidade hídrica

Ou profundos com baixíssima CTC

Gleissolo+OrganossoloApresenta alta CTC: >12cmol/kg no

horizonte A, bem suprido de micronutrientes

Quando apresentar sinais de sódio e baixos teores de fósforo

Latossolo Vermelho Amarelo

Latossolo Vermelho

Se apresentar caráter eutrófico, e CTC > 12cmol/kg solo, favorece a mecanização pelas condições de

relevo

Excesso de drenagem e alta compactação no perfil A, e se

distrófico baixa fertilidade

Fonte: Prado (2003).

56

Segundo Lepsch (1980), há duas formas de se estudar e definir um solo: a primeira

considerando-o como parte natural da paisagem, onde são estudadas sua origem,

evolução e classificação; em segundo lugar, sob o ponto de vista pedológico, levando

em conta seu aspecto produtivo e os fatores que podem limitar ou não a produtividade

de determinada cultura agrícola. Neste estudo, o solo pode ser definido como o meio

natural onde as plantas retiram seus nutrientes, crescem e se reproduzem.

Amaral et al. (1999) afirmam que as principais limitações dos solos no Brasil estão

relacionadas com a sua natureza química. Os solos com problemas de acidez

correspondem a 84% no Brasil, sem estatísticas específicas para o estado de Minas

Gerais. São solos que possuem elevada concentração de alumínio e, em menor escala,

ferro e manganês. Estes elementos prejudicam o crescimento radicular e diminuem a

disponibilidade de alguns nutrientes. Esta limitação pode ser corrigida com a aplicação

de corretivos específicos. Ocorrem também solos com problemas de salinidade

correspondendo a 2% dos solos brasileiros. Este grupo de solos apresenta elevada

concentração de sais, principalmente sódio, resultando em dificuldade para o

crescimento radicular e absorção de água, devido ao potencial osmótico e

desbalanceamento geral entre os nutrientes. A correção dessas terras é viável com

drenagem e a utilização de carreadores químicos (gesso, calcário) e elevada quantidade

de água para a retirada do sódio do sistema. Já o terceiro problema, consiste na

limitação física dos solos, presente em cerca de 7% dos solos brasileiros, inclusive na

área em estudo, principalmente na região de Campo Belo. São solos que apresentam

pequeno volume para o desenvolvimento radicular. Com isto, as plantas absorvem

poucos nutrientes, ficam sujeitas facilmente à deficiência hídrica e ao tombamento. Para

esse tipo de limitação, segundo Amaral et al. (1999), não existe correção, pois está

ligada ao processo de formação de solos, bem como à geomorfologia da área.

Há também solos com baixa concentração de oxigênio em determinada época do ano. É

um grupo que apresenta variação significativa do lençol freático, atingindo a zona

radicular e, dependendo do solo, saturação (encharcamento) permanente ou por um

57

período do ano. Esta limitação pode ser corrigida ou minimizada através de práticas de

engenharia.

Considerando as informações de Amaral et al. (1999) e Sediyama et al. (2001)

verificou-se que os Argissolos e Latossolos são os solos onde a cafeicultura dispõe das

melhores condições de cultivo, com exceção de áreas com a ocorrência de Argissolos

variação rasa cascalhenta, presente em algumas áreas nos municípios de Aguanil e

Campo Belo. Ambos (Argissolos e Latossolos) são caracterizados pela boa

profundidade efetiva, com drenagem eficiente e facilmente mecanizáveis, mas nessa

região possuem baixa fertilidade natural devido ao caráter distrófico. Os demais solos

apresentados na Tabela 3.1 possuem profundidade efetiva pequena, o que não favorece

o enraizamento dos cafezais e ao mesmo tempo limita a capacidade de drenagem

favorecendo a erosão. Em princípio, forneceria suporte apenas a pastagens e

reflorestamento. A mecanização seria restrita devido à presença de cascalhos e

fragmentos de rochas não intemperizadas.

3.2.2 Relevo

De acordo com o levantamento de campo observou-se que o relevo dos municípios de

Aguanil e Campo Belo são predominantemente ondulados a forte ondulados (Figuras

3.2 e 3.3). Pode-se encontrar áreas planas, com a presença de agricultura mecanizada e

pastagens.

58

FIGURA 3.2 - Aspecto do relevo no município de Aguanil.

FIGURA 3.3 - Aspecto do relevo no município de Campo Belo.

59

O município de Cristais (Figuras 3.4 e 3.5) é caracterizado por áreas com relevo suave

ondulado a plano, com algumas áreas de encostas mais íngremes. Nas terras localizadas

ao sul do município e margeando o lago de Furnas o relevo característico é plano onde

há agricultura mecanizada e pastagens.

FIGURA 3.4 - Aspecto de relevo plano a suave ondulado em Cristais-MG.

60

FIGURA 3.5 - Aspecto do relevo do município de Cristais, com pequena lavoura cafeeira ao fundo.

No município de Boa Esperança o perfil do relevo é bem definido. As áreas que

margeiam o lago de Furnas são planas. O restante do município é caracterizado por um

relevo suave ondulado, com áreas de encostas mais íngremes somente na extensão da

Serra da Boa Esperança (Figura 3.6).

61

FIGURA 3.6 - Aspecto do relevo no município de Boa Esperança.

3.2.3 Vegetação

A vegetação nativa predominante nos municípios em estudo é o cerrado (savana),

caracterizado por plantas lenhosas arbóreas, de pequeno a médio porte, com a presença

de matas de galeria (savana densa) em áreas próximas aos corpos d´água. O cerrado

strictu sensu é uma vegetação pouco densa, onde a resposta espectral dos solos é

evidente. A mata de galeria, de característica mais densa do que o cerrado strictu sensu,

dificulta a delimitação dos corpos d´água mais estreitos, devido à cobertura dos mesmos

(RadamBrasil, 1983).

Atualmente, a vegetação nativa remanescente é caracterizada por pequenas áreas de

reserva legal e matas ciliares. No entanto, observa-se nos municípios de Aguanil e

62

Campo Belo que a vegetação nativa remanescente é mais abundante em comparação a

Cristais e Boa Esperança. Constata-se que a substituição da vegetação nativa ocorreu

em detrimento do plantio de pastagens nas regiões de solos mais rasos e relevo

acidentado e cafeicultura, em solos mais profundos e relevo plano. A mata de galeria ao

longo do lago de Furnas e de córregos da região ocorre em áreas pouco expressivas,

devido à preferência nestas áreas para o plantio de lavouras cafeeiras, pela maior

fertilidade e maior disponibilidade de água durante o ano todo.

3.2.4 Cafeicultura na área de estudo

Constatou-se nos municípios em estudo que o tamanho das áreas de cafeicultura, nível

tecnológico e manejo da cultura são determinados em função de parâmetros

agronômicos relacionados principalmente com a fertilidade dos solos, relevo,

disponibilidade de água e poder aquisitivo do agricultor, bem como o acesso à

assistência técnica especializada. Verificaram-se lavouras sem um padrão de instalação

e condução, em diferentes situações de iluminação (orientação de vertentes),

declividade, solos e altimetria. O café pode ser encontrado em toda a extensão territorial

dos municípios. Notou-se, durante o trabalho de campo, que as lavouras de café

localizadas em áreas planas ou suave onduladas são maiores e conduzidas com

assistência técnica especializada, principalmente nos municípios de Cristais e Boa

Esperança. Na região com o relevo mais acidentado, a cafeicultura é conduzida em

pequenas propriedades nem sempre com assistência técnica, perfil dos agricultores que

vivem nos municípios de Aguanil e Campo Belo.

O IBGE (2004) disponibilizou a dinâmica da área plantada de cafezais nos municípios

em estudo entre 1990 e 2004. Observa-se na Figura 3.7 que em 1990, a área plantada de

café em Aguanil ultrapassava 2.500 ha, reduzindo-se em 2004 para pouco mais de 1000

ha. Em Boa Esperança, eram plantados em torno de 14.000 ha em 1990. Em 2004

ultrapassam os 15.000 ha de área plantada.

63

Em Campo Belo conforme Figura 3.7, a área plantada de café em 1990 estava próximo

de 10.000 ha, e em 2004, está em torno de 4.000 ha, mostrando grande redução de área

plantada. Em Cristais, eram plantados em torno de 5.000 ha em 1990 e pouco menos do

que 8.000 ha em 2004.

A Figura 3.7 permite concluir que o município de Boa Esperança possui a maior

representatividade em relação à cafeicultura nos municípios em estudo.

Área de Cafeicultura Plantada

0

2.000

4.000

6.000

8.000

10.000

12.000

14.000

16.000

18.000

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004Período

Hec

tare

s

Aguanil Boa Esperança Campo Belo Cristais

FIGURA 3.7 - Área plantada de café em Aguanil, Boa Esperança, Campo Belo e

Cristais no período 1990-2004 (IBGE, 2005).

3.3 Material

A Tabela 3.2 relaciona os materiais que foram utilizados na pesquisa, divididos em três

itens principais: 1) dados cartográficos; 2) imagens digitais e 3) aplicativos.

64

TABELA 3.2- Materiais utilizados na execução da pesquisa.ITEM DESCRIÇÃO QUANTIDADE ESCALA (Fonte)

1.0 Cartografia1.1 Limite Municipal 03 1:100.000 (PRODEMGE, 1998)1.2 Carta Topográfica 03 1:50.000 (IBGE, 2005)1.3 Carta Topográfica 03 1:50.000 (IBGE,1969)1.4 Mapa de Solos 01 1: 250.000 (MA,1962)2.0 Imagens2.1 Imagem TM 04 219-74 (INPE, 2005)

Imagem TM 04 219-75 (INPE, 2005)2.2 Imagem CCD 04 153-123 (INPE, 2005)

Imagem CCD 04 153-124 (INPE, 2005)Imagem CCD 04 154-123 (INPE, 2005)Imagem CCD 04 154-124 (INPE, 2005)

2.3 Dados SRTM 02 S21W046 e S22W046 (NASA,2005)3.0 Aplicativos3.1 Spring 01 SIG (Câmara et al.,1996)3.2 Envi 01 SIG (Envi, 2004)3.3 Minitab 01 Estatística (Minitab, 2005)3.4 Criterium

Decision Plus01 AHP (Criterium, 2001)

3.4 Métodos

O levantamento de uso da terra nos municípios de Aguanil, Boa Esperança, Campo

Belo e Cristais seguiu a metodologia disponibilizada pelo Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística - IBGE (1999). Para isso, utilizaram-se dados de sensoriamento

remoto como base na extração de informações temáticas e modelagem de terreno. A

primeira etapa do trabalho consistiu em uma abrangente revisão bibliográfica para o

levantamento dos principais trabalhos e métodos que poderiam ser utilizados na

extração das variáveis topográficas, como também necessários ao mapeamento de café.

A partir da revisão bibliográfica, foi possível representar em uma base cartográfica

preliminar ao trabalho de campo a distribuição das variáveis fisiográficas (declividade,

altimetria e orientação de vertentes), bem como áreas de cafeicultura, com base na

imagem TM e CCD do mês de abril e maio, quando a ocorrência de nuvens foi menor.

Esta etapa está ilustrada na Figura 3.8.

65

RevisãoBibliográfica

Levantamento de Dados para Espacialização do relevo, solos, vegetação

Elaboração da base cartográfica preliminarLandsat-TM (04/2005)

Delimitação de:

Drenagem Áreas UrbanasCafezais

FIGURA 3.8 - Fluxograma de atividades preliminares ao trabalho de campo.

Conforme Figura 3.8 , realizou-se o levantamento da informação básica à estruturação

do banco de dados preliminar ao trabalho de campo. Como suporte à geração das

informações necessárias, utilizaram-se cartas topográficas digitais e analógicas além da

informação de moradores e produtores rurais dos municípios em estudo.

Na abordagem do trabalho excluiu-se a variável climática do processo de modelagem

devido à ausência de dados climáticos para alguns dos municípios em estudo, o que

resultaria em extrapolações dos possíveis resultados de um município para outro. Os

estudos de Sediyama et al. (2001) supriram a necessidade desta etapa.

A metodologia desenvolvida na pesquisa foi composta por vários métodos, resumidos

em cinco etapas: a) Estruturação do banco de dados geográficos; b) Processamento de

imagens TM-Landsat e CCD-Cbers2; c) Classificação das imagens para obtenção dos

mapas temáticos de cafeicultura, vegetação nativa e drenagem; d) Processamento dos

dados SRTM e obtenção dos mapas temáticos de altimetria, declividade e orientação de

vertentes; e) análise espacial dos dados geográficos e aplicação do modelo AHP para

obter um mapa de favorabilidade ao agroecossistema cafeeiro.

3.4.1 Características Cartográficas do Banco de Dados Geográfico

66

O projeto do banco de dados geográficos foi estruturado com base no decreto lei № 243

que regulamenta as Diretrizes e Bases da Cartografia Brasileira (Brasil, 1967):

• Projeção: UTM (Universal Transversa de Mercator);

• Datum: SAD-69, conforme recomenda a norma cartográfica brasileira.

A Figura 3.9 ilustra a estruturação do banco de dados e o processamento de imagens

3.4.2 Estruturação do Banco de Dados Geográfico e Processamento das Imagens

FIGURA 3.9 - Estruturação do Banco de dados e Processamento da Imagem Base.

Para a obtenção dos mapas temáticos de uso da terra, utilizou-se a imagem TM-Landsat

datada de 09/07/2005. Nesta época do ano, período seco, a cobertura vegetal verde na

região fica restrita a áreas com pastagens, cafeicultura, áreas de reserva legal,

reflorestamentos de eucalipto e matas ciliares.

Com o objetivo de reduzir o efeito aditivo atmosférico sobre a imagem base do trabalho,

aplicou-se em cada uma das bandas do sensor TM o método de subtração do pixel

escuro, conforme proposição de Chavez Jr. (1988). Nesta abordagem foram utilizados

67

valores de offset coletados com base no valor mínimo de cada uma das bandas com os

níveis digitais encontrados, detalhados na Tabela 3.3.

TABELA 3.3 - Valores utilizados para a aplicação do método de Chavez.

Imagem TM 15-02-2005

Imagem TM 04-04-2005

Imagem TM 09-07-2005

Imagem TM 13-10-2005

Banda ND Mínimo Banda ND Mínimo Banda ND Mínimo Banda ND MínimoB1 47 B1 48 B1 31 B1 51B2 14 B2 16 B2 8 B2 19B3 10 B3 14 B3 5 B3 14B4 6 B4 12 B4 0 B4 6B5 0 B5 0 B5 0 B5 0B7 0 B7 0 B7 0 B7 0

ND = nível digital

Após a redução dos efeitos aditivos da atmosfera, realizou-se a conversão dos valores

digitais para reflectância de superfície, conforme equações 2.4 e 2.5, apresentadas por

Slater et al. (1987). Em primeiro lugar converteram-se os números digitais para valores

de radiância, e posteriormente a conversão final para valores de reflectância de

superfície, obtendo-se uma imagem com os novos valores calculados. Empregaram-se

nestes cálculos os dados de calibração fornecidos por Ponzoni (2004) e apresentados na

Tabela 3.4.

TABELA 3.4- Valores de radiância mínima e máxima, Ganho (G) e Offset (B) aplicados às imagens TM.

Radiância Espectral, Lmín e Lmáx (m2.sr.μm)Landsat 5 TM pós-calibração

Datas Imagens Processadas após maio/2003

Bandas L min Lmáx Grescale Brescale

1 -1,52 193 0,762824 -1,52

2 -2,84 365 1,442510 -2,84

3 -1,17 264 1,039880 -1,17

4 -1,51 221,0 0,872588 -1,51

Fonte: Ponzoni (2004).

68

Na seqüência, realizou-se o registro ou georreferenciamento das imagens. Neste

processo relacionam-se as linhas e colunas das cenas com as coordenadas de um sistema

de referência, neste caso, uma cena ortorretificada do sensor TM-Landsat

disponibilizada pela NASA (2004), cujos parâmetros de qualidade geométrica e

posicionamento foram descritos por Tucker et al. (2004).

As imagens ortorretificadas da NASA exigem a correção de suas coordenadas de

referência, uma vez que são fornecidas georrerefenciadas em relação ao hemisfério

norte. Para isso, somou-se à longitude de referência o valor 10.000.000, considerando o

valor resultante para transformar esta referência ao hemisfério sul na projeção UTM

(Universal Transversa Mercator), conforme Franco (2001).

Com a imagem de referência ajustada para o hemisfério sul, o passo seguinte foi

identificar pontos de controle nas imagens em registro, cujas feições puderam ser

observadas na cena de referência. Utilizou-se uma transformação polinomial de 1o grau

com oito a quatorze pontos de controle coletados na imagem de referência, cujas feições

puderam ser identificadas na imagem objeto de correção. Devido à transformação

polinomial de primeiro grau, são necessários três pontos de controle e dois pontos para a

verificação de erros. Optou-se porém, por escolher de oito a quatorze pontos em cada

uma das imagens, bem distribuídos sobre a cena de referência, uma vez que a

transformação polinomial foi aplicada onde estavam concentrados os pontos de

controle. Utilizou-se o interpolador vizinho mais próximo para a realização do

mapeamento inverso da imagem, pois trata-se do método que melhor preserva os

valores digitais da imagem após processamento, conforme Fonseca (2000). Como

sistema de referência, utilizou-se aquele estabelecido pelas normas de cartografia

brasileira, já descrito no item 3.4.1. A exatidão do registro da imagem foi avaliada pela

equação 3.1.

n

YXRMS

n

i∑

=∆+∆

= 1

21

21 ])()[( (3.1)

69

Na equação 3.1, ∆X e ∆Y são as diferenças entre as coordenadas disponíveis na imagem

de referência e as observadas na imagem para o ponto i; n é o número total de pontos

avaliados, que serão escolhidos aleatoriamente nas imagens registradas. O erro

calculado, assim denominado RMS “root mean square” é a raiz média quadrática dos

erros; e a diferença entre as posições dos pontos de controle de referência e os pontos

nas imagens após a transformação; n o número de pontos de controle utilizados na

transformação.

Devido ao volume de dados trabalhados, optou-se por reduzir a dimensionalidade das

cenas, com a finalidade de estruturar o banco de dados com arquivos digitais menores.

Para isso, realizou-se o recorte das imagens utilizando como máscara o polígono de

cada um dos municípios. Neste procedimento foram consideradas as bandas do sensor

TM com maior variância, neste caso, as bandas 3,4 e 5. Neste procedimento Moreira

(2003) cita que é possível agilizar o tempo de processamento dos dados e reduzir o

espaço necessário de armazenamento.

3.4.3 Informações Oriundas do Trabalho de Campo

O trabalho de campo consistiu em um levantamento circunstanciado em cada um dos

municípios em estudo para a verificação da presença ou não da cafeicultura e permitir o

reconhecimento da vegetação nativa, dos solos, perfis do terreno e condições de manejo

das lavouras cafeeiras em cada uma das localidades, com a coleta de amostras

georreferenciadas, disponíveis no Apêndice.

A campanha de campo foi realizada em agosto de 2005, com a delimitação e a

identificação das áreas a serem visitadas, em cartas imagem de julho/2005 previamente

impressas para cada um dos municípios estudados. Para organização dos trabalhos,

aplicou-se, conforme IBGE (1999), o método de utilização de perfis, que consiste na

observação dos alvos de interesse por intermédio de caminhos previamente planejados

para detectar ao máximo as variações na paisagem. A densidade de observação às

principais lavouras cafeeiras dos municípios esteve condicionado à disponibilidade de

70

acesso automotivo via carreadores ou estradas vicinais, o que restringiu a cobertura da

área de estudo, associado também à limitação do período de permanência no campo

(quatro dias), que proporcionalmente resultou em um dia de permanência por

município.

Os pontos foram coletados com um GPS de navegação, em áreas sem cobertura de

nuvens e influência de árvores ou construções próximas. Determinado o local de coleta

das amostras, o aparelho GPS era ligado, configurado para o horário local, com

parâmetros de projeção e datum UTM, WGS84 respectivamente e mantido em modo

estático por cinco minutos até a estabilização do sinal da constelação de satélites, de

modo que houvesse no mínimo cinco satélites em cobertura simultânea. Os pontos

foram gravados na memória do aparelho, bem como anotados em planilhas específicas,

observando-se no entorno de cada ponto o tipo de exploração agrícola ou pecuária

existente e a situação da lavoura cafeeira amostrada. Paralelamente, eram realizadas

observações nas cartas imagem plotadas que serviram de suporte ao mapeamento e

identificação de características locais, como declividade, solos e vegetação

predominante.

A interpretação visual da carta-imagem TM e a associação com os alvos em campo

permitiram o reconhecimento de áreas cafeeiras que não foram visitadas. Não se

constatou em campo um padrão de instalação das lavouras.

Contou-se com o apoio da EMATER de Aguanil, Boa Esperança, Campo Belo e

Cristais, que disponibilizaram técnicos para acompanhamento das visitas às

propriedades rurais que resultaram na coleta de 94 amostras georreferenciadas.

Após a conclusão da campanha de campo, os dados de coordenadas, altimetria e

observações gerais foram tabulados e analisados para auxiliar na correção do

mapeamento preliminar e obtenção do mapa final de cafeicultura em relação aos

municípios estudados.

3.4.4 Classificação da Imagem Base de Mapeamento - TM-Landsat (09/07/2005)

71

Após a estruturação do banco de dados e realização do trabalho de campo, procedeu-se

a classificação final da imagem base com a finalidade de obter especificamente as áreas

cultivadas com café, como também alguns alvos agrícolas de interesse na sua

diferenciação.

As bandas 3, 4 e 5 do sensor TM-Landsat, órbitas ponto 219-74 e 219-75 datadas de

09/07/2005 foram selecionadas para a classificação supervisionada por pixel. Estas

bandas foram escolhidas porque possuem a maior variância e menor correlação entre si

e a data da imagem coincide com o período de estiagem local, em que a vegetação

nativa seca e permanecem vigorosas apenas as matas ciliares, áreas de reflorestamento e

a cafeicultura.

Para realizar o treinamento do classificador Maxver, determinaram-se seis classes

temáticas para coleta de amostras: café velho ou desbastado, que apresenta maior

resposta espectral do solo (café1), café novo ou em produção (café2), com o predomínio

da resposta espectral do dossel; eucalipto com alto vigor vegetativo (alta resposta

espectral no infravermelho próximo); agropecuária com pastagem ou lavoura

mecanizada vigorosa (agropecuária1) e pastagem ou lavoura mecanizada com baixo

vigor (agropecuaria2), e finalmente vegetação nativa. Ressalta-se que foram

consideradas amostras válidas apenas aquelas cujo georreferenciamento ocorreu em

campo, e também com base em observações nas quatro direções (norte, sul, leste e

oeste) em cada ponto amostrado, o que permitiu aumentar significativamente o número

de amostras coletadas em cada um dos municípios, para posterior análise estatística das

classificações.

Coletadas as amostras de treinamento, definiu-se, após testes preliminares, o melhor

limiar de decisão para a distribuição da probabilidade de cada uma das classes. Optou-se

por um limiar de 99%. Com esse valor, as classes de menor probabilidade (1%) no

contexto serão descartadas, diminuindo, assim, erros de inclusão e/ou omissão por parte

do classificador.

72

Concluída a classificação da imagem base, realizou-se o processo de mapeamento, o

que torna a representação das classes uma matriz temática. Neste processo, procurou-se

agrupar temas únicos que foram diferenciados durante a amostragem de treinamento

mas que pertenciam à mesma classe temática (agropecuária1+agropecuária2),

(café1+café2), melhorando a exatidão da classificação final. Esta etapa minimiza o

processo de edição final na correção de possíveis erros de classificação.

Após o mapeamento, realizou-se a edição manual das classes de café com base na

interpretação visual das imagens digitais. Utilizaram-se nesta etapa imagens CCD-Cbers

datadas de 13/04/2005, 12/05/2005 e imagens TM-Landsat datadas de 15/02/2005,

04/04/2005, 09/07/2005 e 13/10/2005. Com tal procedimento foi possível aumentar a

exatidão do mapa temático final, uma vez que a interpretação das imagens foi realizada

de forma interativa até a certeza de que a classe rotulada num dado polígono

representasse a realidade no campo. A análise multitemporal permitiu verificar a

existência de culturas agrícolas temporárias de alto vigor causaram erros de

classificação na utilização de imagem com data única, bem como os diferentes estádios

da cultura cafeeira, que não possui um comportamento espectral padrão durante o ano

agrícola devido ao tipo de manejo e diferentes modos de condução em cada lavoura.

Para a análise do desempenho final das classificações, foram geradas quatro matrizes de

erros, uma para cada município em estudo. Os cálculos foram embasados em Hay

(1988) e Congalton et al. (1991).

3.4.5 Delimitação da Drenagem e Matas Ciliares

Para a delimitação da drenagem, utilizou-se a razão entre os canais TM4 e TM3

associado a um filtro vermelho,o canal TM5 associado a um filtro verde e o canal TM3

associado a um filtro azul. Com esse procedimento foi possível identificar a drenagem

coberta pela vegetação ciliar em áreas em que a drenagem era pouco expressiva porém

acompanhada de matas ciliares. Digitalizou-se sobre a composição colorida supracitada

73

a drenagem de cada um dos municípios, utilizando técnicas de interpretação visual com

base na composição colorida supracitada.

Delimitada a drenagem, criou-se um mapa de distância para determinar as matas ciliares

exigidas pela legislação no entorno dos rios. Em relação aos rios no interior do

município, normalmente de pequeno porte, considerou-se 30m de área de preservação

permanente sem considerar as nascentes, e, ao longo do lago de Furnas, 100m conforme

a legislação ambiental em vigor. Como o lago de Furnas possui margem dupla,

considerou-se um mapa de distância apenas nessa dupla margem, sem considerar no

contexto as pequenas ilhas existentes.

Para mapear a vegetação ciliar, realizou-se uma operação matemática envolvendo a

razão entre a banda 4 e a banda 3 do sensor TM na imagem de 09/07/2005 para realçar

somente a vegetação mais densa, nesse caso as matas ciliares. Com o objetivo de

melhorar o contraste entre as feições claras e escuras (regiões de alto e baixo contraste)

da imagem resultante da razão entre as bandas TM4 e TM3, aplicou-se uma função

quadrática, conforme equação 3.2 , que resultou em outra imagem para a obtenção de

um mapa temático de vegetação, aumentando o contraste das áreas vegetadas.

2.YX α= (3.2)

Na Equação 3.2, a variável X corresponde ao nível de cinza resultante, Y corresponde

ao nível de cinza original e α um fator de ajuste para manter os níveis de cinza entre 0 e

255 (8 bits).

Com a imagem resultante da razão entre os canais TM4 e TM3 e a delimitação das áreas

de matas ciliares exigidas pela legislação florestal em vigor, realizou-se uma operação

booleana com a interseção entre a vegetação mapeada e o mapa de distância

previamente obtido com a delimitação das matas ciliares, o que resultou em uma

imagem com as áreas de preservação permanente respeitadas.

3.4.6 Digitalização do Mapa de Solos

74

Para obter um mapa de solos representativo da região de estudo procedeu-se à

digitalização do mapa de solos elaborado por MA (1962). Este mapa na escala

1:250.000, permite, segundo o IBGE (1999), realizar a indicação de classes ou

associações dominantes dos solos encontrados nos municípios. O dado, disponibilizado

em meio digital com resolução 100 pontos por polegada, foi importado em um sistema

de informação geográfica, e os limites entre as classes de solo foram estabelecidos

manualmente. O sistema de classificação de solos de referência é anterior ao

estabelecido pela EMBRAPA (1999) e por isso foi necessário correlacionar as antigas

classes ao novo sistema de classificação dos solos no Brasil. Padronizou-se também a

representação cartográfica das classes de solo de acordo com a tabela de cores

disponibilizada pela EMBRAPA (1999) com o auxílio de Bertoldo (2006).

3.4.7 Modelagem Digital do Terreno – Processamento dos dados SRTM

A Figura 3.10 ilustra todas as etapas desenvolvidas na modelagem de terreno,

detalhadamente explicadas a seguir.

FIGURA 3.10 - Fluxograma das Etapas de Modelagem do Terreno.

75

A primeira etapa necessária à utilização da grade regular com valores de altimetria

(SRTM) corresponde à correção de valores incorretos representados na grade numérica

como valores negativos que foram apontados por Valeriano (2004). Esse problema foi

causado pela reflexão especular da energia eletromagnética emitida pelo sensor ativo

principalmente em áreas de drenagem no lago de Furnas. Para eliminar o problema,

realizou-se a substituição dos valores negativos da grade regular utilizando um

interpolador do tipo Delaunay, que calcula o novo valor da cota altimétrica do pixel por

meio de um processo de triangulação com os pixels vizinhos.

Eliminados os valores negativos supracitados, alterou-se a projeção e o datum original

da grade regular SRTM de Lat-Long/WGS84 para UTM/SAD69 para adequar-se ao

banco de dados geográficos já estruturado, evitando deslocamentos dos planos de

informação após importação no banco de dados geográfico.

Com os dados na projeção e datum desejados, realizou-se a reamostragem da grade

retangular originalmente com resolução espacial de 90m para uma resolução espacial de

30m, utilizando-se um interpolador bilinear indicado por Crepani et al. (2004).

A partir da grade regular refinada (30m de resolução espacial), foram obtidas as

isolinhas, com equidistância de 15m. Na sequência, obteve-se uma grade triangular

considerando a drenagem nesta operação como linhas de quebra. Utilizou-se o método

de triangulação por Delaunay com modificação por menor ângulo entre as normais

conforme Crepani et al. (2004).

Com a grade triangular estruturada gerou-se uma grade regular e calculou-se a

declividade. Esta variável foi obtida através da tangente do ângulo de inclinação

conforme a Figura 3.11.

76

FIGURA 3.11 - Simulação do cálculo da declividade (D).

Em um sistema de informação geográfica o cálculo da declividade é realizado por

filtragem através de máscaras móveis, explorando-se a função de derivação na

vizinhança de cada célula da grade triangular. Utilizou-se uma máscara padrão de 3x3

pixels que percorre a grade triangular calculando novos valores para cada pixel. Os

valores originais de altimetria são substituídos por valores de declividade. Obtida a

variável declividade, verificou-se o histograma de freqüência desta variável na região de

estudo, com o objetivo de definir as classes temáticas de representação cartográfica

final, bem como realizar o diagnóstico dos municípios.

Para o cálculo da orientação de vertentes, Wood (1996) comentou que a parametrização

da superfície terrestre em relação a esta variável exige que a área seja representada por

uma grade retangular ou triangular, dividida em quatro quadrantes no sentido azimutal,

no qual 0o corresponde no contexto à direção norte, com os valores aumentando no

sentido horário fechando o quadrante em 360o, conforme Figura 3.12.

FIGURA 3.12 - Parametrização da Orientação de Vertentes

77

Neste processo, foram obtidas duas variáveis através de cálculos derivativos sobre a

grade triangular de altimetria: a primeira corresponde ao gradiente e a segunda

denomina-se exposição. Segundo Wood (1996), o gradiente corresponde ao cálculo da

declividade, ilustrado na Figura 3.11, enquanto a exposição (Equação 3.3) representa a

direção da variação da declividade em cada quadrante, calculada por meio da derivada

de segunda ordem, onde A = exposição; x e y (coordenadas axiais); z (altimetria); π

(180 graus).

(3.3)

Para cada ponto desta grade triangular foram calculadas as derivadas parciais,

computando-se os valores de altitude em uma janela de 3 x 3 pixels que se desloca

sucessivamente sobre a grade. O resultado foi representado em um plano de informação

numérico com valores compreendidos entre 0 e 360 graus na direção azimutal,

representando tridimensionalmente a superfície do terreno.

Para validar os resultados obtidos, aplicaram-se filtros direcionais sobre a grade

altimétrica triangular conforme metodologia proposta por Valeriano (2003). Os filtros

utilizados estão implementados em janelas móveis de 3x3 (Tabela 3.5), e permitem

realçar na direção correspondente as faixas de orientação da iluminação solar,

comparando-se com o cálculo realizado anteriormente. A determinação das faixas

correspondentes às direções de operação dos filtros foram obtidas pela interpretação

visual e análise simultânea entre o perfil do terreno, expresso na grade de declividade e

o resultado obtido pela variação da declividade em cada quadrante, calculado

anteriormente. Partiu-se da hipótese que áreas planas, não possuem orientação de

vertentes determinada.

78

TABELA 3.5 - Filtros direcionais aplicados sobre a grade altimétrica SRTM.NORTE SUL

-1 0 1 1 0 -1-1 0 1 1 0 -1-1 0 1 1 0 -1

LESTE OESTE-1 -1 -1 1 1 10 0 0 0 0 01 1 1 -1 -1 -1

Considerando que a orientação de vertentes está ligada à direção de iluminação solar,

conforme Alzugaray e Alzugaray (1984) gerou-se um histograma da variável para a

definição dos intervalos de classes temáticas e verificar sua ocorrência em cada um dos

municípios, relacionando-a finalmente com as áreas de café mapeadas.

Obtidas as variáveis supracitadas, procedeu-se uma operação de fatiamento em função

da distribuição dos valores em intervalos numéricos, definindo-se assim, os intervalos

de classes conforme a Tabela 3.6. Nessa tabela são descritas as faixas de declividade,

altimetria e orientação de vertentes utilizadas no processo de fatiamento dos dados

numéricos calculados, cujas representações foram utilizadas na geração de mapas

geoambientais.

TABELA 3.6 - Variáveis mapeadas e respectivas classes temáticas de representação.

DECLIVIDADE VERTENTES ALTIMETRIA0 a 10.9% 0 a 45o(N-NE) 743 a 800.9m11 a 15.9% 45.1 a 90o(NE-E) 801 a 850.9m16 a 20.9% 90.1 a 135o(E-SE) 851 a 900.9m21 a 25.9% 135.1 a 180o(SE-S) 901 a 950.9m26 a 50.9% 180.1 a 225o(S-SW) 951 a 1000.9m51 a 75.9% 225.1 a 270o(SW-W) 1100 a 1200.9m76 a 100% 270.1 a 315o(W-NW) 1201 a 1300.9m

>100% 315.1 a 360o(NW-N) 1301 a 1410.9m

3.4.8 Geoprocessamento entre as Variáveis Temáticas

A Figura 3.13 ilustra as principais operações e procedimentos na obtenção dos mapas

envolvendo cafeicultura e as variáveis fisiográficas, utilizando operações booleanas,

conforme descrito por Burrough e McDonnell (1998).

79

FIGURA 3.13 - Geoprocessamento na obtenção dos mapas geoambientais.

3.4.8.1 Processo Analítico Hierárquico (AHP) na obtenção de um mapa geoambiental

O processo analítico hierárquico (AHP), criado por Saaty (1986), foi utilizado para a

geração de um mapa geoambiental que indicou áreas favoráveis ao plantio de café com

base no levantamento das variáveis fisiográficas dos municípios estudados como

também em parâmetros obtidos na literatura. Os critérios para definição das condições

propícias ao cultivo do café foram citados por Sediyama et al. (2001) e Matiello (1991),

permitindo realizar os julgamentos para a definição dos pesos utilizados na ponderação

de cada variável, em função de sua importância na região, bem como ao cultivo de

cafezais. Trata-se de um método que permite associar em um único mapa, todas as

variáveis abordadas representando de uma forma contínua o espaço geográfico em

estudo.

Para a definição da hierarquia entre as variáveis, optou-se em primeiro lugar pela

variável drenagem e matas ciliares, devido à restrição legal à cafeicultura nessas áreas.

A segunda variável mais importante foi representada pelo mapa de solos, que em

princípio deveria ser a variável mais importante. Porém, devido à escala de

80

representação cartográfica do mapa digitalizado (1:250.000) como também a ausência

de uma amostragem em campo mais refinada, impediu que a mesma fosse ponderada de

acordo com a sua relevância. Os parâmetros de fertilidade foram qualificados segundo

análises químicas realizados por MA (1962).

A terceira variável em importância foi a declividade cuja representação foi obtida em

cálculos derivativos a partir da grade altimétrica SRTM. A declividade está associada

diretamente ao tipo de manejo da cultura, de maneira restritiva ou não à mecanização

das lavouras cafeeiras. Os dados de altimetria e orientação de vertentes foram inseridos

no estudo uma vez que puderam ser obtidos a partir de dados de sensoriamento remoto e

são importantes pois estão indiretamente ligadas às condições climáticas de instalação

de lavouras cafeeiras, ou seja, faixas de altimetria e vertentes inadequadas podem deixar

as lavouras cafeeiras suscetíveis a fenômenos climáticos adversos.

Com as variáveis mapeadas agrupadas, utilizou-se o modelo proposto por Saaty (1986),

para definir o grau de importância de cada uma das variáveis fisiográficas e outras

variáveis correspondentes a áreas com proibição à exploração agropecuária, como as

áreas de preservação permanente correspondente às matas ciliares nas margens do lago

de Furnas e rios anteriormente mapeados, utilizando uma lógica de comparação

pareada. As variáveis foram comparadas duas a duas, e um critério de importância

relativa foi atribuído ao relacionamento entre estas variáveis, conforme a escala

fornecida por Alphonce (1996), e apresentadas na Tabela 3.7.

TABELA 3.7 - Escala de Valores do modelo AHP para comparar duas variáveis.Grau de Importância Descrição

1 as duas variáveis contribuem igualmente para o objetivo3 uma variável é um pouco mais importante que a outra5 uma variável é claramente mais importante que a outra7 uma variável é fortemente favorecida 9 A evidência que diferencia as variáveis é da maior ordem

possível.2,4,6,8 valores intermediários entre os julgamentos das variáveis

Fonte: Alphonce (1996).

81

Selecionadas as variáveis em comparação e estabelecida a importância relativa de cada

uma, o modelo AHP informa uma razão de consistência, que deve ser menor do que 0,1

(Alphonce, 1996). Esta razão de consistência informa a coerência nos julgamentos

realizados entre as variáveis.

Para a aplicação do modelo AHP e obtenção do mapa geoambiental, utilizaram-se os

critérios apresentados na Tabela 3.8 embasados em revisão de literatura, observações de

campo e a qualidade da representação temática na estruturação do modelo. Partiu-se da

hipótese de que os maiores pesos das classes correspondentes a cada variável deverão

influir com maior representatividade no mapa final. Os pesos de cada uma das variáveis

foram obtidos com a comparação entre as mesmas considerando os parâmetros

qualitativos apresentados na Tabela 3.7, que está implementado em um sistema de

informação geográfica.

TABELA 3.8 - Pesos globais das variáveis e pesos individuais em cada classe temática ponderada.

Drenagem Altimetria Declividade Vertentes Solos0,638 0,034 0,155 0,07 0,189

"app":0, 743-800m=0.2 0-10%=0.5 N-NE=0.25 Argissolo Vermelho Amarelo:0,20"rio":0, 801-850m=0.2 11-15%=0.25 NE-E=0.25 Argissolo Vermelho:0,20

851-900m=0.2 16-20%=0.25 E-SE=0 Latossolo Vermelho:0,25901-950m=0.2 21-25%=0 SE-S=0 Latossolo Vermelho Amarelo: 0,25951-1000m=0.1 26-50%=0 S-SW=0 Cambissolo Haplico: 01100-1200m=0.1 51-75%=0 SW-W=0 Argissolo Amarelo: 0,11201a1300m=0 76-100%=0 W-NW=0.25 Neossolo Litolico: 0

1301a1410m=0 >100%=0 NW-N=0.25 Gleissolo + Organossolo: 0Neossolo Quartzarênico: 0

App: área de preservação permanente

Com base nos pesos das variáveis em suas respectivas classes, realizou-se o cálculo de

uma grade regular numérica representada por valores compreendidos entre 0 e 1, na

escala de 1:100.000, resultando na associação ponderada de todas as variáveis obtidas

no presente trabalho. Essa representação indicou áreas potencialmente favoráveis ao

plantio de café com base na hipótese anteriormente formulada conforme a Equação 3.4.

)(*070,0)(*189,0)(*638,0)(*155,0)(*034,0 vertentessolosappdrenagemedeclividadaltimetriaX +++++= (3.4)

82

Na equação 3.4, X representa uma grade regular com os valores do modelo calculados

entre 0 e 1. Quanto mais próximo da unidade, melhores as condições para o

agroecossistema na instalação de cafezais, com base na hipótese supracitada. O valor X,

indicará a favorabilidade à instalação de cafezais a partir das cinco variáveis obtidas em

dados de sensoriamento remoto.

3.4.9 Análise Estatística dos Dados

A primeira etapa para a descrição gráfica do conjunto de dados por município que

incluem os valores de altimetria, declividade e orientação de vertentes é a verificação do

histograma das variáveis em cada município estudado. Freqüência, segundo Costa Neto

(1977) é definida como o número de vezes em que uma variável qualitativa ou

quantitativa foi observada. A freqüência pode ser representada graficamente como um

diagrama de barras ou circular. Nesta pesquisa a freqüência foi representada em um

diagrama de barras, com os valores seus respectivos valores quantitativos no eixo x e a

porcentagem do número total de amostras no eixo Y correspondentes a cada intervalo

de valores do eixo x. Além do gráfico de freqüência, levou-se em consideração algumas

características numéricas relacionadas à distribuição das freqüências:

a) Variância: é uma medida de dispersão de dados, obtida pelo cálculo da média dos

quadrados das diferenças dos valores em relação a sua média (Costa Neto, 1977). Tem

como inconveniente de se expressar numa unidade quadrática em relação à variável em

questão, sanado pelo cálculo do desvio padrão.

b) Desvio Padrão: define-se esta variável estatística como a raiz quadrada positiva da

variância, expressa na mesma unidade da variável em questão.

c) Coeficiente de Variação: trata-se de um coeficiente utilizado para caracterizar a

dispersão dos dados relativamente ao valor médio, onde se parte do princípio que uma

pequena dispersão absoluta pode ser considerável quando comparada com a ordem de

grandeza dos valores da variável, eliminando possíveis enganos de interpretação (Costa

Neto, 1977).

83

d) Coeficiente de Assimetria: é um tipo de medida de assimetria de distribuição de

freqüências, comumente utilizadas para caracterizar como e quanto a distribuição das

freqüências se afasta da condição de simetria. As distribuições alongadas à direita da

média são consideradas positivamente assimétricas e aquelas alongadas à esquerda,

negativamente assimétricas. Este coeficiente é obtido pelo quociente da média pelo

cubo do desvio padrão (Costa Neto, 1977).

e) Mediana: é uma medida que permite caracterizar o centro de distribuição das

freqüências, e seu valor não sofre influência dos valores extremos como acontece com a

média (Costa Neto, 1977). O valor da mediana permite dividir o conjunto ordenado dos

dados em análise em dois subconjuntos com igual número de elementos.

84

CAPÍTULO 4

RESULTADOS

4.1 Processamento Digital de Imagens

4.1.1 Classificação da imagem TM (09/07/2005)

O desempenho da classificação supervisionada foi avaliado em cada município com o

cálculo da estatística kappa, conforme Fonseca (2000). Para estimar a estatística kappa

(Equações 2.1 a 2.3) empregaram-se os valores contidos na matriz de confusão,

representadas nas Tabelas 4.1, 4.2, 4.3 e 4.4.

TABELA 4.1– Matriz de confusão da classificação Maxver dos recortes da imagem TM, bandas 3, 4 e 5-Aguanil/MG.

Matriz de Confusão : Município de Aguanil: Recorte cena TM (bandas 3,4 e 5) - 219/74 - 09/07/2005

Classes Café Pastagem VegetaçãoNativa

Eucalipto Abstenção Total Exatidão ExatidãoProdutor Usuário

café 129 47 56 6 0 238 81,65% 54,2%pastagem 15 212 4 0 0 231 80,61% 91,8%

vegetaçãonativa 13 4 130 0 0 147 68,42% 88,4%

eucalipto 1 0 0 8 0 9 57,14% 88,9%Total 158 263 190 14 0 625

kappa 65,4desempenho geral 76,6confusão média 23,4abstenção média 0

variância 0,0006

No município de Aguanil o café é cultivado em áreas de pequeno a médio porte. Nesta

situação conforme Tabela 4.1, o desempenho da classificação foi relativamente baixo

(76,6%), com uma confusão média de 23,4%. Notou-se que a classe café foi

considerada semelhante pelo classificador com a classe vegetação nativa. Isso ocorre

porque a data da imagem utilizada (julho de 2005) foi adquirida em período de seca,

85

quando há o predomínio da resposta espectral da vegetação nativa, eucalipto e café,

únicas espécies vegetais resistentes nessa época do ano. Observou-se maior semelhança

entre cafeicultura e a classe vegetação nativa porque em campo ambos apresentam

fenologia muito semelhante nesta época. A estatística kappa resultou em um valor de

65,4% o que enquadrou a classificação como muito boa, conforme Fonseca (2000).

Mesmo assim, o processo poderia ter um desempenho melhor com o aumento do

número de amostras válidas em cada uma das classes, cuja restrição foi imposta pela

limitação do tempo da atividade no campo e acesso à maioria das áreas com cafeicultura

no município. Com base no desempenho do classificador, foi necessário realizar a

edição manual da classe cafeicultura através de interpretação visual das imagens para

melhorar os resultados da classificação e obtenção do mapa final de cafeicultura.

TABELA 4.2 - Matriz de confusão da classificação Maxver dos recortes da imagem TM, bandas 3, 4 e 5 - Boa Esperança/MG.

Matriz de Confusão : Recorte cena TM (bandas 3,4 e 5) - 219/74 e 75 - 09/07/2005

Classes Café

Agropecuária Agropecuária Vegetação1 2 Nativa

Eucalipto Abstenção Total Exatidão ExatidãoProdutor Usuário

café 312 0 0 13 0 0 325 98,7% 96,0%

agropecuária1 3 144 9 0 0 0 156 72% 92,3%

agropecuária2 0 56 293 0 0 0 349 97,0% 84,0%

vegetaçãonativa 0 0 0 96 0 0 96 88,07% 100,00%

eucalipto 1 0 0 0 94 0 95 100% 99,0%

Total 316 200 302 109 94 0 1021

kappa 65,1%

desempenho geral 74,0%

confusão média 1,9%

abstenção média 0

variância 0,0005

Em relação ao município de Boa Esperança conforme apresentado na Tabela 4.2, a

classificação da cena que representa seu limite municipal resultou em um desempenho

geral de 74,0%, com uma confusão média de 1,9% entre as classes temáticas. A

estatística kappa final foi de 65,1%, o que permite concluir que o desempenho do

classificador foi qualificado como muito bom, segundo Fonseca (2000). O baixo erro de

confusão média pode estar relacionado a dois fatores: as lavouras cafeeiras apresentam-

86

se em talhões maiores e concentradas em regiões de relevo plano. A maior semelhança

no comportamento espectral dos alvos ocorreu entre as classes cafeicultura e vegetação

nativa, devido à similaridade fenológica entre as espécies em campo, relacionada

principalmente com o porte das plantas e cobertura do solo. Devido à esse problema,

houve a necessidade de edição manual das áreas confusas ou não detectadas pelo

classificador.

Em Campo Belo, conforme a Tabela 4.3 o desempenho da classificação do recorte da

cena correspondente ao município foi de 67,0%, com uma confusão média de 33,0%

entre as classes. A estatística kappa final foi de 37,3%, o que permite concluir que o

desempenho do classificador segundo Fonseca (2000) foi qualificado como razoável.

Neste município, a classe cafeicultura apresentou maior semelhança espectral com as

áreas ocupadas por pastagens (agropecuária), uma vez que as lavouras em Campo Belo

estavam em condições de recuperação fisiológica pós-colheita e com ataque

significativo de uma praga que enfraquecem as plantas, resultando na queda de folhas e

predomínio da resposta espectral de galhos e solo exposto, dai a confusão com as áreas

ocupadas com pastagens.

TABELA 4.3 – Matriz de confusão da classificação Maxver dos recortes da imagem TM, bandas 3, 4 e 5 – Campo Belo/MG.

Matriz de Confusão : Recorte cena TM (bandas 3,4 e 5) - 219/74 - 09/07/2005

Classes Café Eucalipto Agropecuária Abstenção Total Exatidão ExatidãoProdutor Usuário

café 553 114 199 0 866 96,9% 63,9%

eucalipto 6 64 5 0 75 32,2% 85,3%

agropecuária 12 21 107 0 140 34,4% 76,4%

Total 571 199 311 0 1081

kappa 37,3%

desempenho geral 67,0%

confusão média 33,0%

abstenção média 0

variância 0,00053

87

TABELA 4.4 - Matriz de confusão da classificação Maxver dos recortes da imagem TM, bandas 3, 4 e 5 – Cristais/MG.

Matriz de Confusão : Município de Cristais: Recorte cena TM (bandas 3,4 e 5) - 219/74 - 09/07/2005

Classes Café Eucalipto Agropecuária VegetaçãoNativa

Abstenção Total Exatidão Exatidão Produtor Usuário

café 744 47 47 33 0 871 81,49% 85,4%

eucalipto 25 692 1 1 0 719 93,64% 96,2%

agropecuária 141 0 985 0 0 1126 95,35% 87,5%

vegetaçãonativa 3 0 0 127 0 130 78,88% 97,7%Total 913 739 1033 161 0 2846

kappa 84,8%

desempenho geral 89,5%

confusão media 10,5%

abstenção media 0

variância 0,00007

O desempenho geral da classificação do recorte da cena que representa o município de

Cristais foi calculado em 89,5%, com uma confusão média de 10,5% conforme a Tabela

4.4. A estatística kappa resultou em um valor de 84,8% o que enquadrou a classificação

como excelente segundo Fonseca (2000). Nesse município, como ocorreu em Boa

Esperança, as lavouras cafeeiras mostraram-se mais vigorosas e com melhor manejo

tecnológico. Os talhões ocupados por cafeicultura são maiores e as condições

fisiográficas permitem um bom desempenho de classificação como também na edição

final das áreas cafeeiras. Observou-se que as áreas de café foram espectralmente

similares com áreas sob exploração agropecuária e áreas com eucalipto plantadas mais

recentemente, principalmente em lavouras mais novas e recém colhidas

respectivamente.

De modo geral, notou-se nos resultados das classificações, mesmo conceituadas como

razoável a excelente por Fonseca (2000), apresentaram desempenho muito variável

(67,0% a 84,8%) e confusão média entre 1,9 a 31,0%. Esses resultados assemelham-se

com o trabalho realizado por Moreira et al. (2004) que enfatizaram a heterogeneidade

no comportamento espectral de lavouras cafeeiras relacionadas com parâmetros

agronômicos de manejo das lavouras, como espaçamento, tratos culturais e desfolha pós

88

colheita. Nessa linha de pesquisa, os trabalhos de Vieira et al. (2001) e Pellerin et al.

(1993) ressaltaram respectivamente a influência das condições fisiográficas no

desempenho da classificação de áreas cafeeiras e a maior similaridade espectral entre

áreas de mata (vegetação nativa) e cafeicultura, fato constatado também em relação às

classificações realizadas no presente estudo. Para a obtenção dos mapas de cafeicultura

finalizados, foi necessário realizar a edição manual das áreas cafeeiras utilizando

técnicas de interpretação visual, demonstrando a ineficiência do classificador

supracitado na discriminação de culturas cafeeiras.

Na Tabela 4.5 são apresentadas as estimativas de área plantada de café divulgadas pelo

IBGE (2005) e escritórios da EMATER-MG localizados em Aguanil, Boa Esperança,

Campo Belo e Cristais em comparação aos resultados obtidos na classificação e

interpretação das imagens TM e CCD.

TABELA 4.5 - Áreas de cafeicultura obtidas via interpretação das imagens TM e CCD comparativamente a métodos subjetivos.

MunicípiosÁreas de café cultivado (ha)

MapeamentoImagens TM/CCD IBGE - 2004* EMATER**

Aguanil 1.099 1.118 1.100Boa Esperança 13.990 16.467 18.000Campo Belo 4.006 4.600 4.000Cristais 5.806 7.810 7000Total 24.901 29.995 30.100*FONTE: IBGE (2005) **Informações obtidas nos escritórios municipais da EMATER.

Constata-se na Tabela 4.5 que os dados obtidos via mapeamento são discrepantes às

estimativas do IBGE e EMATER. Porém, os métodos utilizados pelo IBGE e EMATER

são mais subjetivos do que a realização do mapeamento realizado e o período vigente

também não é o mesmo da data das imagens utilizadas para mapeamento da

cafeicultura. O mapa final das áreas de cafeicultura nos quatro municípios estão

ilustrados na Figura 4.2. Os municípios de Aguanil, Boa Esperança, Campo Belo e

Cristais totalizaram juntos 24.901 ha de áreas cultivadas com café considerando

19/07/2005 como a data de referência no mapeamento. A Figura 4.1 ilustra a

participação de cada um dos municípios no cultivo de café, destacando-se no contexto

89

os municípios de Boa Esperança (56,18%) e Cristais (23,31%) devido à maior área

plantada e rendimento em colheita e conseqüentemente a importância dessas lavouras

na economia local.

Cafeicultura Municipal

4,41%

56,18%16,09%

23,31%

Aguanil Boa Esperança CampoBelo Cristais

FIGURA 4.1- Proporção de lavouras cafeeiras nos municípios em estudo.

90

FIGURA 4.2 - Mapa das áreas cafeeiras obtido a partir da classificação e interpretação visual de imagens TM-Landsat e CCD-Cbers2.

91

A classificação da imagem TM via algoritmo supervisionado maxver não forneceu bons

resultados na geração dos mapas temáticos de cafeicultura, com a necessidade da

interpretação visual das imagens para a finalização do mapeamento. As imagens CCD

Cbers e TM-Landsat não se mostraram as mais adequadas para a interpretação visual

das áreas cafeeiras devido à grande mistura espectral entre as diferentes espécies

cultivadas, como também a influência do relevo muito movimentado. Este problema foi

resolvido com a aquisição de cenas com maior resolução espacial para dirimir essas

dúvidas. Notou-se durante o processo de interpretação visual que as áreas de

cafeicultura cercadas por áreas de cerrado só puderam ser discriminadas em imagens do

sensor TM, com a composição TM3 (azul), TM4 (vermelho) e TM5 (verde). Nas

imagens CCD, a saturação da faixa espectral do infravermelho próximo e a ausência de

uma banda no infravermelho médio impediram a separação das áreas cafeeiras em meio

ao cerrado, mesmo com uma resolução espacial de 20m contra 30m da imagem TM.

Infere-se, portanto que a faixa espectral referente ao infravermelho médio associada a

um filtro colorido pode melhorar a separabilidade visual das classes cafeicultura e

cerrado, conforme já havia sido comentado por Batista et al. (1990) e pode ser

observado na Figura 4.3. No recorte de imagem à esquerda, verifica-se que é possível

distinguir áreas de cafeicultura muito vigorosas de outras com o predomínio de

gramíneas, enquanto na imagem à direita, a discriminação da cultura em relação à

vegetação torna-se mais difícil.

FIGURA 4.3 - Imagem TM B4(R)-B5(G)-B3(B) (esquerda) e Imagem CCD B4(R)B3(G)B2(B) (direita) com contraste linear 2%. Detalhe: área com café com vegetação de cerrado no entorno.

92

Observando-se as classificações das imagens correspondentes em cada um dos

municípios, constatou-se que a topografia influiu negativamente no resultado do

classificador Maxver, associado também à quantidade e à distribuição das amostras no

treinamento e avaliação do classificador. Para áreas de cafeicultura em terrenos muito

acidentados, a visita em campo tornou-se imprescindível ao mapeamento da cultura,

principalmente em áreas cuja fenologia da vegetação nativa foi semelhante à resposta

espectral das áreas com café, além do uso de imagens de várias datas que permitiram

distinguir as áreas de cafeicultura de outros tipos de exploração agropecuária.

4.1.2 Delimitação da Drenagem e Matas Ciliares

Conforme metodologia utilizada, constatou-se que a razão entre as bandas 4 e 3 do

sensor TM permitiu com sucesso a delimitação da vegetação mais densa localizada nos

municípios em estudo, que incluem nesse contexto as matas ciliares, muito mais

vigorosas do que pastagens e arbustos que dominam a paisagem da região. Essa etapa,

preliminar à delimitação final das matas ciliares preservadas pode ser observada na

Figura 4.4.

FIGURA 4.4 – Imagem resultante da razão entre as bandas TM4/TM3 realçando a vegetação (em tonalidade mais clara) com seu fatiamento em cor verde.

93

Após a delimitação da vegetação mais densa em todos os municípios, obteve-se um

mapa contendo a rede de drenagem intermunicipal, cuja delimitação ocorreu com o

auxílio indireto da presença da mata de galeria, principalmente em drenagens de

pequeno porte. Houve também a delimitação do grande lago de Furnas, respeitando-se

os limites legais para a delimitação das áreas de preservação permanente às margens do

lago e rios. A Figura 4.5 ilustra a delimitação da drenagem e a faixa de matas ciliares

exigida pela legislação ambiental em vigor, e a Figura 4.6 a mata ciliar preservada após

a realização da operação booleana envolvendo o a delimitação dos corpos d´água e o

mapa de distância com as áreas de preservação permanente legalmente protegidas.

94

FIGURA 4.5 - Delimitação da drenagem e matas de galeria exigidas por Lei. A (Cristais); B (Campo Belo); C (Aguanil); D (Boa Esperança).

95

FIGURA 4.6 – Detalhe da drenagem e matas ciliares preservadas com base na imagem TM4/TM3 de 09/07/2005.

96

Após o levantamento espacial das áreas preservadas segundo o método utilizado, esses

valores foram comparados com a estimativa das áreas de matas ciliares exigidas pela

legislação apresentadas na Tabela 4.6.

TABELA 4.6 - Matas ciliares exigidas e preservadas.Descrição Aguanil

(km2)Boa Esp

(km2)Campo Belo

(km2)Cristais(km2)

mata ciliar exigida 18,67 29,87 56,64 24,27mata ciliar detectada 5,01 13,26 2,8 5,35

% detectada 26,8 44,4 4,9 22saldo -13,66 -16,61 -53,84 -18,92

Boa Esperança é o município que apresenta a maior área de matas ciliares preservadas.

Cristais, Aguanil e Campo Belo aparecem na seqüência. O método para detecção das

matas ciliares mostrou-se eficiente, contudo faz-se necessária a verificação em campo

para que os resultados possam ser avaliados quanto à precisão. A influência do solo na

operação aritmética entre as bandas do infravermelho próximo e vermelho evita que

áreas com vegetação arbustiva e gramínea sejam computadas como matas ciliares,

devido à maior resposta do solo em relação às espécies de baixa resposta no

infravermelho próximo. Para obter melhores resultados na detecção das matas ciliares

da região em estudo, recomenda-se a utilização de imagens captadas por sensores com

maior resolução espacial do que as imagens TM-Landsat utilizadas.

4.2 Modelagem de Terreno e Cálculo das Variáveis Ambientais

4.2.1 Altimetria

Observou-se, após o refinamento da grade altimétrica que a interpolação bilinear tornou

mais suave a transição entre feições de baixa e alta freqüência, a exemplo da Serra da

Boa Esperança localizada na área em estudo. Porém, o mesmo procedimento aumentou

o contraste em áreas com pequenas variações de altimetria devido à homogeneização

dos valores com base nos pixels vizinhos.

97

Por sua vez, a tentativa de aplicar um modelo geoestatístico para refinamento da grade

altimétrica não permitiu preservar a amplitude do relevo e o ajuste dos modelos.

Constatou-se que os parâmetros no semivariograma, não conduzem a resultados que

permitam repetitividade, uma vez que devem ser testados individualmente de acordo

com a situação encontrada. Valeriano (2004) apontou em seus estudos comparativos

entre interpoladores lineares e geoestatísticos sobre a grade altimétrica do SRTM, que o

método linear de interpolação é recomendado para estudos em que se queira a máxima

exatidão dos níveis altimétricos, optando-se neste estudo em preservar ao máximo os

valores originais da grade altimétrica utilizada.

A Tabela 4.7 traz a estatística descritiva com relação à altimetria em todos os

municípios em estudo.

TABELA 4.7 – Estatísticas descritivas para a variável altimetria.Estatísticas Aguanil Boa Esperança Campo Belo Cristais

Média 843,8 847,5 862,4 814,36Desvio Padrão 63,5 101,4 53 36,9

Coeficiente de Variação 7,53 11,96 6,15 4,53Valor Máximo 1090,3 1399,2 1074,2 1023Valor Mínimo 755,4 755,8 754,8 751,1

Moda 761 761 848 761

4.2.1.1 Aguanil

A Figura 4.7 ilustra a representação em nível de cinza da variável altimetria com a

representação temática dos valores das classes apresentados a seguir. A Figura 4.8

apresenta o histograma dos valores da mesma variável em Aguanil. Percebe-se que a

maior freqüência de altimetria em Aguanil ocorre entre 786 e 820m acima do nível do

mar.

98

FIGURA 4.7 - Altimetria em formato numérico (esquerda) e temático (direita) no município de Aguanil-MG.

FIGURA 4.8 - Histograma com a porcentagem de ocorrência dos valores altimétricos em Aguanil-MG.

99

4.2.1.2 Boa Esperança

As representações numéricas em nível de cinza e temáticas a partir do fatiamento dos

valores altimétricos para o município de Boa Esperança estão apresentadas na Figura

4.9 e o histograma com os intervalos de freqüência na Figura 4.10. Nota-se que a maior

freqüência de valores de altimetria ocorrem entre 754 e 820m, com a freqüência da

altimetria decrescendo a partir desse intervalo.

FIGURA 4.9 - Altimetria em formato numérico (esquerda) e temático (direita) no município de Boa Esperança-MG.

100

FIGURA 4.10 - Histograma com a porcentagem de ocorrência dos valores altimétricos em Boa Esperança-MG.

4.2.1.3 Campo Belo

As Figuras 4.11 e 4.12 ilustram os resultados com representações espacial e histograma

a respeito da variável altimetria no município de Campo Belo. Na representação em

nível de cinza, o valor nessa representação é proporcional à altimetria do terreno,

também representado em intervalo de classes. Percebe-se que as maiores freqüências

ocorrem em torno de 849m nesse município.

101

FIGURA 4.11 - Altimetria em formato numérico (esquerda) e temático (direita) no município de Campo Belo-MG.

FIGURA 4.12 - Histograma de ocorrência dos valores altimétricos em Campo Belo-MG.

102

4.2.1.4 Cristais

A Figura 4.13 ilustra o resultado do modelo numérico de terreno com representações em

nível de cinza e pós-fatiamento dos valores de altimetria em Cristais. A maior

freqüência de valores ocorre em torno de 815m e a menor frequência em áreas acima de

900m conforme histograma (Figura 4.14).

FIGURA 4.13 - Altimetria em formato numérico (esquerda) e temático (direita) no município de Cristais-MG.

103

FIGURA 4.14 - Histograma com a porcentagem de ocorrência dos valores altimétricos em Cristais-MG.

Nos histogramas de altimetria (Figuras 4.8, 4.10, 4.12 e 4.14), as freqüências

apresentadas estão associadas a intervalos de variação da altimetria denominados de

classes de freqüências e não a valores individuais.

As figuras em formato numérico estão representadas em nível de cinza proporcional ao

valor de altimetria, de forma que quanto menor o nível de cinza na imagem, menor a

altimetria e vice-versa.

Observa-se que a maior amplitude nos valores de altimetria ocorre no município de Boa

Esperança devido à presença da serra de Boa Esperança, facilmente visualizada na

Figura 4.9 representada pela área mais clara na imagem monocromática e área de cor

laranja e vermelho na representação temática.

Cristais é o município que apresentou maior homogeneidade nos valores de altimetria,

comprovadamente pelo menor coeficiente de variação. Boa Esperança, Aguanil e

Campo Belo possuem respectivamente maior heterogeneidade de valores, com destaque

a Boa Esperança. O coeficiente de variação foi interpretado como a variabilidade dos

104

dados em relação à média. Neste caso quanto menor o coeficiente de variação mais

homogêneo é o conjunto de dados.

Ao analisar a variável altimetria como possível fator limitante ou não à cafeicultura, não

foram constatados valores abaixo de 500m o que seria apontado por Matiello (1991)

como um intervalo de altimetria limitante à essa cultura. Porém, Boa Esperança

apresenta valores acima daqueles recomendados pelo mesmo autor o que pode

ocasionar na estação de inverno, a incidência de ventos frios prejudiciais à cultura,

principalmente em áreas com face orientadas ao sul, em que as frentes frias e áreas de

instabilidade adentram com maior facilidade. Contudo, as áreas sob essas condições

estão localizadas na Serra da Boa Esperança inexplorável economicamente com café.

Mesmo assim, Sediyama et al. (2001) não apontaram limitações de ordem climática

para qualquer um dos municípios em estudo. Os resultados obtidos demonstram o

quanto estudos nessa temática são importantes na realização de zoneamentos

agroclimáticos. Com o acesso de dados contínuos como o SRTM que permitem a

modelagem de terreno, torna-se importante a abordagem realizada no presente trabalho.

4.2.2 Cálculos da Declividade e Orientação de Vertentes a partir dos dados SRTM

Pôde-se verificar que os valores obtidos para ambas as variáveis produziram resultados

diferentes em função da resolução espacial (dados com 90m originais e dados com 30m)

e escalas de trabalho combinadas. Com base nestes resultados constatou-se que os

processamentos realizados com a grade altimétrica de 30m (resolução espacial) foram

mais satisfatórios, uma vez que após o processo de interpolação houve um processo de

suavização na transição entre as áreas de alta e baixa frequência, minimizando a

obtenção de valores superestimados durante os cálculos da primeira e segunda derivada

respectivamente.

Mesmo assim, em relação à declividade notou-se a obtenção de valores maiores que

100% considerados superestimados em áreas de alta freqüência (contatos abruptos entre

áreas planas e encostas, por exemplo) como por exemplo a Serra da Boa Esperança.

105

A utilização da drenagem como linha de quebra na obtenção da grade triangular para o

cálculo da declividade permitiu representar fielmente a ausência de mudanças nos

valores de declividade nessas áreas.

A aplicação da segunda derivada para a obtenção das curvaturas de vertentes, permitiu

caracterizar a orientação da iluminação solar em relação ao relevo e finalmente à

cafeicultura. Contudo, a resolução da grade altimétrica de 30m, bem como as

características fisiográficas dos municípios de Aguanil e Campo Belo causaram

superestimativas em alguns valores, porém menores do que aquelas obtidas com a grade

na resolução espacial de 90m. Nota-se no município de Boa Esperança, áreas

visivelmente planas com orientação de vertentes determinada. Isso ocorre, porque a

orientação de vertentes é uma variável independente da declividade, e ligada ao formato

do relevo em relação ao ângulo azimutal solar. Como o relevo local é muito

movimentado, e a resolução espacial da grade altimétrica não permite reproduzir

fielmente pequenas variações no relevo. Mesmo assim o método mostrou-se eficiente na

obtenção dessa variável.

A tabela 4.8 e traz as estatísticas descritivas para as variáveis declividade em todos os

municípios em estudo.

TABELA 4.8 – Estatísticas descritivas para a variável declividade.

Estatísticas Declividade (%)

Aguanil Boa Esperança Campo Belo CristaisMédia 11,9 11 13,6 5,1

Desvio Padrão 9,04 10,4 8,8 3,4Coeficiente de Variação 76 94 65 66

Valor Máximo 100 188 101 32Valor Mínimo 0 0 0 0

Moda 6 0 10 5,8

Na seqüência serão apresentados os resultados dos cálculos derivativos para a obtenção

das variáveis declividade e orientação de vertentes, com a respectiva representação

numérica e temática e a frequência representada em histogramas.

4.2.2.1 Aguanil (declividade)

106

As Figuras 4.15 e 4.16 ilustram os resultados obtidos no cálculo e representação da

variável declividade em relação ao município de Aguanil. O histograma apresentado na

Figura 4.16 permite verificar que a maior freqüência de valores encontra-se próximo a

10% de declividade com valores máximos entre 40 e 50%, e as menores frequências

entre 0 e 5% e acima de 32%.

FIGURA 4.15 – Representação da declividade em formato numérico (esquerda) e temático (direita) no município de Aguanil-MG.

107

FIGURA 4.16 - Histograma com a porcentagem de ocorrência dos valores de declividade em Aguanil-MG.

4.2.2.2 Boa Esperança (declividade)

A Figura 4.17 ilustra o resultado em nível de cinza após o cálculo derivativo da

declividade e sua respectiva representação temática. O valor máximo encontrado situa-

se na base da Serra da Boa Esperança, facilmente visualizado e representado no mapa

temático.

108

FIGURA 4.17 - Declividade em formato numérico (esquerda) e temático (direita) no município de Boa Esperança-MG.

Observa-se no histograma representado na Figura 4.18 que a maior freqüência de

valores de declividade está compreendida entre 0 e 10% e as menores frequências em

faixas de declividade acima de 37%.

Infere-se com base nos resultados obtidos que o município de Boa Esperança mesmo

apresentando um maior coeficiente de variação, possui extensas áreas com relevo plano

a suave ondulado prováveis de exploração agropecuária.

109

FIGURA 4.18 - Histograma com a porcentagem de ocorrência dos valores de declividade em Boa Esperança-MG.

4.2.2.3 Campo Belo (declividade)

Observa-se na Figura 4.19 as representações numérica e temática para a variável

declividade no município de Campo Belo. Observa-se no histograma representado na

Figura 4.20 que a maior freqüência de valores de declividade ocorrem entre 9 e 15% e a

menor frequência entre 0 e 5%.

110

FIGURA 4.19 – Representação da declividade em formato numérico (esquerda) e temático (direita) no município de Campo Belo-MG.

FIGURA 4.20 - Histograma com a porcentagem de ocorrência dos valores de declividade em Campo Belo-MG.

111

4.2.2.4 Cristais (declividade)

A Figura 4.21 mostra a representação da declividade em nível de cinza e em formato

temático após o cálculo da declividade. A maior freqüência de declividade localizada

entre 5 e 6%, decrescendo após 9,5% conforme a Figura 4.22.

FIGURA 4.21 – Representações da declividade em formato numérico (esquerda) e temático (direita) no município de Cristais-MG.

112

FIGURA 4.22 - Histograma com a porcentagem de ocorrência dos valores de declividade em Cristais-MG.

Observando as variáveis calculadas para os municípios envolvidos neste estudo,

constatou-se que o município com menor variabilidade nos valores de declividade é

Cristais, seguido respectivamente por Campo Belo, Aguanil e Boa Esperança,

diferenciados através do coeficiente de variação.

Observou-se nos histogramas e representações temáticas da variável declividade que os

municípios de Cristais e Boa Esperança são aqueles que possuem as melhores condições

de relevo para o plantio de café mecanizado, principalmente em áreas próximas à

represa de Furnas, desde que fora das áreas de preservação permanente e solos com

limitações físicas. Os municípios de Aguanil e Campo Belo possuem um perfil de

terreno bem acidentado, se compararmos com Cristais e Boa Esperança.

O município de Boa Esperança, mesmo apresentando valores de declividade superiores

a 100% possui a grande maioria de sua área própria à mecanização para a cafeicultura,

com exceção em áreas próximas à serra de Boa Esperança, cujas condições de solo e

relevo não permitem o cultivo nestas áreas.

113

Considerando a metodologia baseada em filtros derivativos para a obtenção dos valores

de declividade, pôde-se verificar que os cálculos produziram resultados variáveis em

função da resolução (grade altimétrica com 90m e grade altimétrica interpolada com

30m) e escalas de trabalho combinadas. Com base nestes resultados constatou-se que os

cálculos realizados a partir da grade altimétrica com resolução de 30m foram mais

satisfatórios e por isso considerados na apresentação dos resultados propostos, uma vez

que o interpolador suaviza o contato entre áreas de alta e baixa frequência, evitando

valores superestimados durante a aplicação de filtros derivativos.

Notou-se que após o cálculo derivativo da declividade foram obtidos valores maiores

que 100% considerados superestimados em algumas áreas como no município de

Aguanil. Mesmo assim, os resultados permitiram a descrição do meio físico local, de

uma forma automática e com pouco esforço computacional, o que pode servir como

ferramenta de planejamento e estudos para a determinação de áreas aptas ou não à

cafeicultura em estudos regionais, onde as escalas de trabalho são pequenas e reduzem

possíveis cálculos superestimados em áreas de alta freqüência, bem como em local onde

a vegetação e elementos antrópicos são realçados na aplicação de métodos derivativos.

A utilização da drenagem como linha de quebra na obtenção da grade triangular e

posteriormente a obtenção da declividade eliminaram valores superestimados em áreas

próximas à drenagem, possibilitando inclusive a visualização das linhas de drenagem de

rios, córregos e o lago de Furnas.

A maior amplitude nos valores de declividade ocorre no município de Boa Esperança

devido à presença da Serra da Boa Esperança, facilmente visualizada na Figura 4.17, o

mesmo ocorrendo com a altimetria.

No município de Aguanil, a faixa de declividade que apresenta maior freqüência está

entre 5,15 e 10,30% de declividade conforme atesta o histograma. Boa Esperança

caracteriza-se por um relevo menos acidentado, e a faixa de declividade com maior

freqüência está situada entre 0 e 18%, conforme atesta o histograma.

114

Campo Belo caracteriza-se pelo relevo acidentado, com maior freqüência de valores de

declividade entre 4,65 e 14,45%, com menor amplitude em relação à Boa Esperança,

por exemplo. Cristais por sua vez, é o único dos municípios em que o cálculo da

declividade não obteve valores maiores ou iguais a 100%. Neste município, as maiores

freqüências da declividade encontram-se entre 4,25 e 6%.

4.2.2.5 Aguanil (orientação de vertentes)

O município de Aguanil possui relevo com orientação de vertentes bem diversificada. A

média do município está relacionada à vertente sudoeste, mas a orientação de vertentes

à noroeste é a predominante no município, conforme atesta o histograma (Figura 4.24).

As áreas com menor frequência de ocorrência estão orientadas a sudeste. A Figura 4.23

ilustram as representações numérica e temática dessa variável em Aguanil.

FIGURA 4.23 - Orientação de Vertentes em formato numérico (esquerda) e temático (direita) no município de Aguanil-MG.

115

FIGURA 4.24 - Histograma de ocorrência dos valores de orientação de vertentes em Aguanil-MG.

4.2.2.6 Boa Esperança (orientação de vertentes)

O município de Boa Esperança possui relevo com orientação de vertentes variável. A

média do município está relacionada à vertente sudoeste, mas a orientação de vertentes

ao sul é a predominante no município. As Figuras 4.25 e 4.26 ilustram os comentários

supracitados, com maior frequência de valores de orientação de vertentes na direção sul

e menor frequência na direção sudeste.

116

FIGURA 4.25 - Orientação de Vertentes em formato numérico (esquerda) e temático (direita) no município de Boa Esperança-MG.

FIGURA 4.26 - Histograma de ocorrência dos valores de orientação de vertentes em Boa Esperança-MG.

117

4.2.2.7 Campo Belo (orientação de vertentes)

No município de Campo Belo, o valor médio na orientação das vertentes ocorre na

direção sudeste, com os valores de maior freqüência na direção sudoeste, e áreas com

menor frequência à leste, conforme atesta o histograma (Figura 4.28). Na Figura 4.27

verifica-se uma representação do perfil do relevo local.

FIGURA 4.27 - Orientação de Vertentes em formato numérico (esquerda) e temático (direita) no município de Campo Belo-MG.

118

FIGURA 4.28 - Histograma de ocorrência dos valores de orientação de vertentes em Campo Belo-MG.

4.2.2.8 Cristais (orientação de vertentes)

O município de Cristais possui em média vertentes orientadas à sudoeste, com os

valores de maior freqüência em direção noroeste, ilustrados em nível de cinza e formato

temático na Figura 4.29. No histograma (Figura 4.30) observa-se de maneira geral que o

município de Cristais possui maior frequência de áreas com orientação na direção

noroeste. As áreas com menor frequência estão localizadas em áreas orientadas à

sudeste. Esse perfil indica que o município apresenta condições propícias à cafeicultura,

se for considerada somente a variável supracitada.

119

FIGURA 4.29 - Orientação de Vertentes em nível de cinza (esquerda) e temático (direita) no município de Cristais-MG.

FIGURA 4.30 - Histograma de ocorrência dos valores de orientação de vertentes em Cristais-MG.

120

A aplicação da segunda derivada para a obtenção das curvaturas de vertentes, permitiu

caracterizar a orientação da iluminação solar na superfície terrestre conforme relatou

Wood (1996). Porém, a resolução espacial da grade altimétrica de 30m, bem como as

características fisiográficas dos municípios de Aguanil e Campo Belo causaram

superestimativas de alguns valores em áreas com alta freqüência. Nota-se no município

de Boa Esperança, áreas visivelmente planas com orientação de vertentes determinada.

Isso ocorreu, porque a orientação de vertentes é uma variável que pode ser independente

da declividade, e ligada ao formato do relevo em relação ao ângulo azimutal solar.

A utilização de filtros direcionais conforme Valeriano (2003) permitiu ajudar na análise

de coerência dos resultados obtidos após a aplicação da segunda derivada na grade

altimétrica com resolução espacial de 30m. Notou-se um aumento na freqüência de

valores de áreas com orientação noroeste e sudoeste, superestimados em função da

amplitude do relevo associado também à resolução espacial da grade altimétrica.

Se considerarmos a variável orientação de vertentes e sua importância para a

cafeicultura, conclui-se que se deve plantar café preferencialmente em áreas com

orientação de vertentes ao norte, nordeste e noroeste. São áreas menos suscetíveis a

eventos climáticos adversos e com maior irradiância solar, e conseqüentemente maior

atividade fotossintética fornecendo condições propícias à cultura. Os municípios de

Aguanil e Cristais possuem as maiores freqüências de áreas orientadas a nordeste e

noroeste enquanto Boa Esperança e Campo Belo predominam vertentes orientadas ao

sul e sudoeste respectivamente.

4.3 Mapa de Solos

A Figura 4.31 apresenta os solos identificados na região de estudo e a descrição da

importância de cada classe nos municípios disponíveis na Figura 4.31.

121

FIGURA 4.31 - Mapa de solos nos municípios de A(Cristais), B(Campo belo), C (Aguanil) e D (Boa Esperança) com base em MA (1962) e Bertoldo (2006).

Em Aguanil, Campo Belo e Cristais o solo de maior ocorrência é o Argissolo Vermelho

Amarelo conforme atestam os gráficos da Figura 4.32. No município de Boa Esperança

o solo predominante é o Latossolo Vermelho, que está presente em menor proporção

também em Campo Belo e Aguanil. Durante o trabalho de campo, o mapa de solos

utilizado mostrou-se coerente em relação às classes descritas, com limitações inerentes à

escala final de representação e faixas de transição entre os solos o que dificulta a sua

correta delimitação e representação sem um trabalho detalhado em campo. Constatou-se

principalmente nos municípios de Aguanil e Campo Belo, a ocorrência de Argissolo

Vermelho Amarelo com variação rasa cascalhenta e transições do Latossolo Vermelho

com Neossolo Litólico, anteriormente citado no trabalho desenvolvido por MA (1962).

122

FIGURA 4.32 - Solos mapeados nos municípios em estudo.

4.4 Relação entre a cafeicultura e o meio físico

A partir dos resultados obtidos realizou-se a quantificação das áreas cafeeiras em função

das variáveis calculadas (declividade, altimetria, orientação de vertentes e solos)

permitindo realizar a caracterização das lavouras instaladas em cada um dos municípios.

4.4.1 Cafeicultura e Declividade

A Figura 4.33 ilustra os valores médios de declividade com o desvio padrão em cada

um dos municípios. Pode-se verificar que Campo Belo possui lavouras cafeeiras em

áreas com maior declividade comparativamente aos demais municípios. Cristais,

Aguanil e Boa Esperança possuem respectivamente as lavouras em áreas com menor

declividade conforme atesta a Figura 4.33.

123

Declividade e Cafeicultura

Aguanil9,55

Boa Esperança10,11

Campo belo14,94

Cristais9,49

0

5

10

15

20

25

30

%

FIGURA 4.33 - Declividade média em áreas com cafeicultura nos municípios em estudo.

Observa-se na Figura 4.34 que 73% as lavouras cafeeiras em Aguanil estão localizadas

em áreas com declividade média entre 0 e 10%, permitindo assim a mecanização das

lavouras. Há restrições para a mecanização somente em áreas cuja transição entre os

solos evidencie sinais de pedregosidade. Mesmo superestimando alguns valores de

declividade no município através dos cálculos derivativos, não se constatou o mesmo

erro em relação às áreas cultivadas com café, uma vez que o universo amostral é mais

restrito e direcionado às áreas mais planas e próximas aos mananciais e locais de fácil

acesso, normalmente fora das áreas mais acidentadas.

Cafeicultura e Declividade - Aguanil-MG

73%

16%

6% 2%3%

0a10 11a15 16a20 21a25 26a50

FIGURA 4.34 - Classes de declividade em função das áreas de cafeicultura em Aguanil.

124

Em Boa Esperança 69,14% das áreas de cafeicultura estão instaladas em áreas com até

10% de declividade, constatando a preferência do cultivo em áreas mecanizáveis.

Evidencia-se a diminuição de áreas plantadas com o aumento da declividade, conforme

mostra a Figura 4.35.

Cafeicultura e Declividade - Boa Esperança-MG

5,70%2,40%

3,20%0,14%

69,14%19,42%

0a10 11a15 16a20 21a25 26a50 51a75

FIGURA 4.35 - Classes de declividade em função das áreas plantadas em Boa Esperança.

Em Campo Belo, 44% das áreas de cafeicultura estão instaladas em regiões com até

10% de declividade, conforme Figura 4.36. Observa-se a redução de área plantada com

o aumento das classes de declividade, com a presença de lavouras cafeeiras em áreas

com alta declividade, o que pode vir a causar problemas na conservação do solo e água

se medidas preventivas no manejo desses recursos não forem adotados.

125

Cafeicultura e Declividade - Campo Belo-MG

12,98%

6,58%

23,66%

44,61%

0,77%11,40%

0a10 11a15 16a20 21a25 26a50 51a75

FIGURA 4.36 - Classes de declividade em áreas de cafeicultura em Campo Belo.

O município de Cristais possui 69% das áreas de cafeicultura instaladas em relevo com

até 10% de declividade, conforme atesta a Figura 4.37. As áreas cultivadas decrescem

com o aumento de declividade, indicando a preferência dos agricultores por áreas

mecanizáveis.

Cafeicultura e Declividade - Cristais-MG

69%

23%

1%2%5%

0-10 11a15 16a20 21a25 26a50

FIGURA 4.37 - Classes de declividade em função das áreas de cafeicultura em Cristais.

126

Observando os gráficos supracitados, notou-se um padrão na instalação das áreas

cafeeiras em relevo com até 10% de declividade indicados para a mecanização da

cultura e normalmente localizados em solos mais permeáveis e sem maiores limitações

físicas. Campo Belo mostrou-se como o município mais problemático à instalação de

lavouras cafeeiras, se for considerado no contexto apenas a variável declividade. Nesse

sentido, medidas preventivas de conservação do solo devem ser adotadas.

4.4.2 Cafeicultura e Solos

Com base no mapeamento realizado por MA (1962), verificou-se após a interseção

entre as áreas de cafeicultura e solos que no município de Aguanil 70,85% das lavouras

cafeeiras são cultivadas em Argissolo Vermelho Amarelo conforme o gráfico da Figura

4.38. MA (1962) cita ainda que as possíveis variações na representação cartográfica

desses solos ocorrem devido à escala final cartográfica. Os Latossolos somam 28,69%

de áreas cultivadas, principalmente em áreas mais planas com pequena parcela em áreas

com Organossolos (menos que 1%).

Cafeicultura e Solos - Aguanil

70,85%

23,32%

5,37% 0,46%

ArgissoloVermelhoAmarelo LatossoloVermelhoLatossoloVermelhoAmarelo Gleissolo+Organossolo

FIGURA 4.38 - Classes de solos nas áreas de cafeicultura em Aguanil.

127

Com base no mapeamento realizado por MA (1962) e anotações de campo verificou-se

que aproximadamente 65% das áreas de cafeicultura no município de Boa Esperança

são cultivados em Latossolos. Bertoldo (2006) cita que há variações na representação

cartográfica desses solos devido à escala final cartográfica do mapa utilizado, o que

permite a inclusão de áreas em transição com outras classes de solos. O grupo de solos

classificado como Neossolo Litólico, compreende segundo MA (1962) fase de transição

com Argissolo Vermelho amarelo e Latossolo Vermelho, normalmente localizados em

áreas de baixadas associadas a esta unidade de mapeamento. A Figura 4.39 ilustra a

distribuição dos principais solos no município, cujo mapa de referência foi classificado

pelo IBGE (1999) como um mapa de reconhecimento, indicado para a verificação de

classes dominantes. Constata-se o predomínio do Latossolos Vermelho em cerca de

56% das áreas.

Cafeicultura e Solos - Boa Esperança-MG

55,98%

7,63%0,93%

8,56%

6,39%

0,14%

20,38%

ArgissoloVermelhoAmarelo LatossoloVermelhoLatossoloVermelhoAmarelo CambissoloHáplicoGleissolo+Organossolo NeossoloQuartzarênicoNeossoloLitólico

FIGURA 4.39 - Classes de solos nas áreas de cafeicultura em Boa Esperança.

Em Campo Belo, 90,60% das áreas cafeeiras são cultivadas em Argissolo Vermelho

Amarelo, conforme atesta a Figura 4.40. Faz-se necessário ressaltar que observou-se em

128

campo e foi relatado por MA (1962) que essa classe de solo possui algumas variações

decorrentes da escala de representação do mapa original (1:250.000). Na classe

Argissolo, estão inclusas áreas de Argissolo Vermelho Amarelo fase cascalhenta, que

apresenta limitação à mecanização, devido à presença de fragmentos rochosos não

intemperizados. O solo com menor área de cultivo é o Gleissolo + Organossolo, devido

às limitações de aptidão características do mesmo.

Cafeicultura e Solos - Campo Belo-MG

90,60%

5,40%1,80% 0,41%

1,78%

ArgissoloVermelhoAmarelo LatossoloVermelhoLatossoloVermelhoAmarelo NeossoloLitólicoGleissolo+Organossolo

FIGURA 4.40 - Classes de solos nas áreas de cafeicultura em Campo Belo.

Em Cristais, 62,43% das áreas com cafeicultura são cultivadas em Latossolo Vermelho

com variações de Latossolo Vermelho Amarelo e Argissolo Vermelho Amarelo. Tais

áreas apresentam inclusões de Cambissolos e Gleissolos, apontados por MA (1962) e

Bertoldo (2006), também constatados no trabalho de campo. Ressalta-se que tais

variações e inclusões geram imprecisões no mapeamento final e por isso podem estar ou

não representadas na Figura 4.41 individualmente. O solo com menor área de cultivo é

o Argissolo Vermelho. Pode-se afirmar que a utilização do mapa de solos em escala de

reconhecimento permitiu caracterizar a cafeicultura nos municípios em estudo em

relação aos solos predominantes no meio fisiográfico.

129

Cafeicultura e Solos - Cristais-MG

10,37%

3,36% 10,12%0,04%

62,43%

13,68%

ArgissoloVermelhoAmarelo ArgissoloVermelhoLatossoloVermelho LatossoloVermelhoAmareloCambissoloHaplico Gleissolo+Organossolo

FIGURA 4.41 - Classes de solos nas áreas de cafeicultura em Cristais.

4.4.3 Cafeicultura e Orientação de Vertentes

Após a interseção entre as áreas de cafeicultura e a variável orientação de vertentes, foi

obtido para cada um dos municípios as faixas de orientação predominantes em relação

às lavouras cafeeiras mapeadas.

Em Aguanil, observa-se na Figura 4.42 que 26,34% das lavouras cafeeiras cultivadas

em áreas com orientação de vertentes à noroeste sentido norte e 22,72% a nordeste

sentido leste, o que indica boas condições de iluminação à cultura durante o ano inteiro.

Constatou-se à medida em que a orientação das lavouras volta-se para a face sul, há uma

diminuição das áreas cafeeiras cultivadas.

130

Orientação de Vertentes e Cafeicultura - Aguanil-MG

22,72%

13,92%

7,42%

12,05%

26,34%

7,25%5,28%5,02%

N-NE NE-E E-SE SE-S S-SW SW-W W-NW NW-N

FIGURA 4.42 - Classes de orientação de vertentes em relação à cafeicultura em Aguanil.

Em Boa Esperança, verifica-se na Figura 4.43 que 17,94% das lavouras cafeeiras são

cultivadas em áreas com orientação de vertentes à norte, sentido nordeste e 14,26% à

noroeste, sentido leste, indicando áreas preferenciais ao cultivo do café se comparados

às vertentes orientadas a sudeste e sudoeste, mais suscetíveis à incidência de eventos

climáticos adversos e menor irradiância solar principalmente no período de outono e

inverno. Notou-se também que Boa Esperança foi o município onde houve um grande

equilíbrio entre as áreas cultivadas no sentido norte e sul.

Cafeicultura e Orientação de Vertentes - Boa Esperança-MG

14,26%

10,92%

10,69%

17,94%

13,14%

9,25%

9,97%

13,83%

N-NE NE-E E-SE SE-S S-SW SW-W W-NW NW-N

FIGURA 4.43 - Classes de orientação de vertentes em relação à cafeicultura em Boa Esperança.

131

Em Campo Belo, após a interseção entre as áreas de cafeicultura e a orientação de

vertentes, constatou-se que as áreas com café plantadas a nordeste sentido norte e

noroeste sentido leste são a maioria no município, com mais de 60%, conforme

ilustrado na Figura 4.44. Tratam-se das áreas com a melhor orientação ao plantio de

café, se considerarmos que essas áreas recebem maior irradiância solar mesmo em

época do ano onde o ângulo de elevação solar é menor (outono-inverno). Mesmo assim,

as áreas cultivada com orientação a sudeste e sudoeste ultrapassam 37% da cafeicultura

municipal. As áreas de cafeicultura ao sul, sentido sudoeste são as que possuem a menor

área cultivada em Campo Belo.

Cafeicultura e Orientação de Vertentes - Campo Belo-MG

19,11%

18,27%

13,19%

8,37%

6,40%

9,13%

16,33%

9,21%

N-NE NE-E E-SE SE-S S-SW SW-W W-NW NW-N

FIGURA 4.44 - Classes de orientação de vertentes em relação à cafeicultura em Campo Belo.

Em Cristais, constata-se que 18,90% das áreas mapeadas com café estão orientadas à

nordeste sentido norte e 16,97% orientadas à nordeste, sentido leste, conforme ilustra a

Figura 4.45. Como ocorreu com os demais municípios, constatou-se que os agricultores

tendem a implantar suas lavouras em áreas menos suscetíveis a eventos climáticos

adversos, permitindo às culturas maior exposição à irradiância solar durante o ano

inteiro.

132

Cafeicultura e Orientação de Vertentes - Cristais-MG

18,90%

16,97%

11,16%

12,87%

9,39%

7,13% 6,65%

16,94%

N-NE NE-E E-SE SE-S S-SW SW-W W-NW NW-N

FIGURA 4.45 - Classes de orientação de vertentes em relação à cafeicultura em Cristais.

4.4.4 Cafeicultura e Altimetria

Na Figura 4.46 são apresentados os valores médios de altimetria em relação às lavouras

cafeeiras nos municípios em estudo.

Altimetria e Cafeicultura

Cristais 825,2

Aguanil 830,08

Boa Esperança 847,84

Campo belo 878,49

700

750

800

850

900

950

Alt

imet

ria

(m)

FIGURA 4.46 - Valores médios de altimetria em áreas com cafeicultura.

133

Em Aguanil, as lavouras cafeeiras estão localizadas em áreas com altimetria variando

entre 801 a 850 em 45,71% das lavouras. Cerca de 32,7% estão localizadas em áreas

com altimetria variando entre 743 e 800m, decrescendo à medida em que aumenta a

altitude no município. A Figura 4.47 ilustra a distribuição das classes de altimetria em

função das áreas com cafeicultura.

Cafeicultura e Altimetria - Aguanil2,60%

45,71%

7,61%

10,92%

0,46%

32,70%

743a800 801a850 851a900 901a950 951a1000 1100a1000

FIGURA 4.47 - Intersecção entre altimetria e cafeicultura no município de Aguanil.

Constatou-se em Boa Esperança que 38,81% das lavouras de café situam-se entre 801 a

850m de altitude, e 29,02% das lavouras localizadas em faixa de altimetria entre 851 a

900m decrescendo em área plantada nas faixas de altimetria superiores a 900m,

normalmente situados em áreas próximas à serra de Boa Esperança, cujas condições

fisiográficas não são ideais à cafeicultura (Figura 4.48).

134

Cafeicultura e Altimetria - Boa Esperança

1,63% 6,66%0,71%

7,82%15,36%

29,02%38,81%

743a800 801a850 851a900 901a950951a1000 1100a1200 1201a1300

FIGURA 4.48 - Intersecção entre cafeicultura e altimetria em Boa Esperança.

Em Campo Belo, 37,58% das áreas de café localizam-se na faixa de altimetria entre 851

e 900m, decrescendo à medida que o intervalo desta variável aumenta, o que tornam as

condições de instalação da cultura pouco favoráveis devido a existência de solos

cascalhentos e afloramentos de rocha, bem como áreas com declividade acentuadas A

Figura 4.49 ilustra o resultado entre a interseção das áreas com café e a grade altimétrica

SRTM. Verificou-se que a faixa entre 1100 a 1200m apresentam a menor proporção de

café cultivado.

135

Cafeicultura e Altimetria - Campo Belo

24,54%

37,58%

5,90% 0,74%5,25%

25,99%

743a800 801a850 851a900 901a950 951a1000 1100a1200

FIGURA 4.49 - Intersecção entre altimetria e cafeicultura em Campo Belo.

Em Cristais, as áreas de cafeicultura ocorrem mais freqüentemente na faixa de altimetria

entre 801 a 850m (60,91%) conforme ilustra a Figura 4.50. À medida que a faixa de

altimetria aumenta, fica evidente a diminuição da área plantada em áreas com altimetria

acima de 851m. São expressivas também, as lavouras cultivadas entre 743 e 800m de

altitude (24,27%), conforme ilustra a Figura 4.50.

Cafeicultura e Altimetria - Cristais

24,27%

13,42%

1,32%

60,91%

0,08%

743a800 801a850 851a900 901a950 951a1000

FIGURA 4.50 - Intersecção entre altimetria e cafeicultura em Cristais.

136

4.5 Mapa Geoambiental – Áreas favoráveis ao agroecossistema cafeeiro com base no modelo AHP

Conforme metodologia já descrita e hipótese formulada para a representação das áreas

favoráveis ao agroecossistema cafeeiro, obteve-se uma representação cartográfica em

nível de cinza para toda a região em estudo, após a ponderação e cálculo do modelo.

Aguanil em média foi o município com o menor índice de favorabilidade ao

agroecossistema cafeeiro com base exclusivamente na hipótese formulada. Os demais

municípios empatam nos valores encontrados, devido à semelhança em relação às

variáveis fisiográficas. Devido ao maior peso em relação às áreas de drenagem e matas

ciliares, houve a penalização dos municípios com maior malha hídrica, como é o caso

de Boa Esperança e Cristais. Com 5% de significância, não houve diferença

significativa entre os municípios.

Outro aspecto que pode vir a melhorar a utilização desta técnica em estudos nessa

temática, seria a obtenção de mapas temáticos em escalas maiores principalmente em

relação a solos, que neste contexto foi considerado apenas como um dado de

reconhecimento, com um peso de ponderação pequeno em relação à importância desta

variável no planejamento agrícola.

Observa-se que o resultado expresso pela Figura 4.51 é coerente com os mapas

relacionados às variáveis utilizadas, como declividade, altimetria, solos, drenagem,

matas ciliares e orientação de vertentes. Observa-se claramente que as áreas de

drenagem e matas ciliares regulamentares possuem baixo nível de cinza, indicando

pequena favorabilidade ao agroecossistema cafeeiro em todos os municípios. Em áreas

com solos limitantes, associados à alta declividade e altimetria acima de 2000m,

também são observados baixos níveis de cinza, conforme se constata na Serra da Boa

Esperança, no município de Boa Esperança. Constatou-se também áreas com níveis de

cinza mais altos, indicando favorabilidade ao agroecossistema cafeeiro, como no centro-

sul do município de Boa Esperança e noroeste do município de Cristais, facilmente

observado na Figura 4.51.

137

FIGURA 4.51 - Mapa geoambiental obtido via método AHP – (A)Cristais, (B)Campo Belo, (C)Aguanil, (D) Boa Esperança.

138

Constatou-se a partir do mapa de favorabilidade ao agroecossistema cafeeiro, que

Aguanil em média é o município com o menor índice de favorabilidade ao cultivo do

café, com base exclusivamente na hipótese formulada. Devido ao maior peso em relação

às áreas de drenagem e matas ciliares, houve a penalização dos municípios com maior

malha hídrica, como é o caso de Boa Esperança e Cristais. Não houve diferença

significativa entre os índices de favorabilidade para os municípios estudados.

Outro aspecto que pode vir a melhorar a utilização desta técnica em estudos nessa

temática, seria a utilização de mapas em escalas maiores, principalmente em relação à

classe solos, que neste contexto foi considerado apenas como um dado de

reconhecimento, com um peso de ponderação pequeno em relação à importância desta

variável no planejamento agrícola. Observa-se na Figura 4.52 que todos os municípios

apresentam mais do que 50% da sua área útil apropriada ao cultivo do café,

considerando apenas o cenário e as variáveis utilizadas.

Favorabilidade ao Cultivo de Café

0,610,58 0,61 0,61

00,10,20,30,40,50,60,70,80,9

1

Aguanil Boa Esperança Campo Belo Cristais

FIGURA 4.52 - Favorabilidade ao agroecossistema cafeeiro da área de estudo, com base na hipótese e modelo AHP.

Observa-se na Figura 4.53 que as lavouras cultivadas em Boa Esperança obtiveram um

índice de favorabilidade igual a 0,72. Cristais apresentou um valor de 0,71 e Aguanil e

Campo Belo, respectivamente 0,65 e 0,64. Esses valores indicam o quanto as lavouras

aproximam-se das condições ideais para a exploração do agroecossistema cafeeiro

139

nesses municípios. Quanto mais próximo da unidade, melhores as condições ambientais

ao cultivo do café. Porém, não há diferença significativa entre os índices de

favorabilidade nas áreas com cafeicultura.

Favorabilidade em Áreas com Cafeicultura

0,710,64

0,720,65

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

Aguanil Boa Esperança Campo Belo Cristais

FIGURA 4.53 – Favorabilidade ao agroecossistema cafeeiro em relação às áreas atualmente com cafeicultura.

O método analítico hierárquico permitiu associar em um único produto final as variáveis

que compõem o meio geográfico em estudo, seguindo critérios hipotéticos subsidiados

pela literatura consultada. A maior dificuldade em relação à execução do método está

relacionado à determinação dos pesos das variáveis e também a determinação dos pesos

individuais para cada uma das classes associadas às variáveis, problema comumente

encontrado em outros trabalhos que utilizaram o modelo AHP (Thirumalaivasan et al.,

2003; Li et al.,2005).

O presente estudo refere-se à indicação de áreas estritamente relacionadas aos fatores e

variáveis utilizadas, com a necessidade da criação de novos cenários de favorabilidade à

cultura com a associação de outras variáveis no processo bem como a alteração nos

pesos utilizados.

Pode-se aplicar a metodologia utilizada em estudos de zoneamento agrícola, uma vez

que os métodos tradicionais tratam o espaço geográfico de forma determinística, não

traduzindo a continuidade de variáveis fisiográficas, como solo, altimetria e declividade.

140

Os maiores interessados na aplicação desse estudo são empresas de certificação

ambiental, empresas de seguro agrícola e o setor de planejamento agrícola, sejam eles

do setor privado ou público. Para estudos de previsão de safras, pode-se indicar áreas

potencialmente limitantes ou não à determinada exploração agropecuária,

principalmente se forem associadas variáveis climáticas como temperatura e

precipitação.

141

142

CAPÍTULO 5

CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

As áreas com cafeicultura mapeadas a partir de cenas TM e CCD mostraram resultados

discrepantes às estimativas oficiais e escritório locais da EMATER. Os municípios de

Boa Esperança e Cristais foram aqueles que apresentaram maior diferença em relação às

estimativas do IBGE (2005). Essa diferença pode ser atribuída à abordagem

metodológica entre dados oficiais e mapeamento direto. Os municípios de Aguanil e

Campo Belo apresentaram resultados próximos às estimativas do IBGE (2005), devido

a pouca mudança no quadro produtivo da cafeicultura nesses municípios. Ressalta-se

que a estimativa oficial do IBGE (2005) refere-se à safra de 2004 e que as estimativas

dos escritórios de assistência técnica municipal subsidiam as estimativas oficiais.

O mapeamento da drenagem e matas ciliares propiciou a atualização cartográfica dos

elementos e caracterização geral das matas ciliares preservadas. De acordo com os

dados cartográficos utilizados no apoio (cartas topográficas 1:50.000), percebeu-se que

a hidrografia local sofreu mudanças significativas a partir da formação do lago de

Furnas. Sugere-se novos estudos nessa temática para a constatação das mudanças

supracitadas.

A modelagem de terreno utilizando-se dados do SRTM em um sistema de informação

geográfica mostrou-se eficaz para o cálculo das variáveis fisiográficas em nível

municipal. Há a necessidade de um pré-processamento dos dados SRTM anteriormente

à aplicação de métodos derivativos para o cálculo da declividade e orientação de

vertentes.

A cafeicultura na região de estudo possui dois perfis produtivos bem distintos

evidenciados com os dados de sensoriamento remoto e apoio de campo. Em Boa

Esperança e Cristais nota-se um nível tecnológico e condições fisiográficas mais

propícias à instalação e condução de lavouras cafeeiras. Em Aguanil e Campo Belo, as

143

condições fisiográficas são mais limitantes à instalação da cafeicultura e a situação

fundiária é bem diferente de Boa Esperança e Cristais. A interpretação visual das

imagens permitiu verificar o predomínio de pequenas propriedades em todos os

municípios em estudo. Neles, a cafeicultura não é a principal atividade, com o cultivo

consorciado de lavouras de subsistência e fruticultura, sem caráter estritamente

comercial. Imagens TM permitem melhor a discriminação de áreas cafeeiras quando

vizinhas de áreas com cerrado, mesmo com uma resolução espacial de 30m contra 20m

do sensor CCD, cujas imagens mostraram-se saturadas na faixa do infravermelho

próximo não permitindo o mapeamento de áreas cafeeiras exclusivamente com essas

imagens. A literatura afirmou e constatou-se no presente estudo que a faixa do

infravermelho médio é importante na discriminação de áreas cafeeiras principalmente

em pequenos talhões em que a mistura espectral dos alvos torna-se um problema

evidente.

A geração de mapas ponderados utilizando o método analítico hierárquico é uma

alternativa ao zoneamento agrícola tradicional, que trata o espaço geográfico como uma

superfície particionada sem áreas de transição ou sob tensão ecológica. O sistema

utilizado manteve a continuidade do espaço geográfico e permitiu total manipulação das

variáveis, com sua representação em formato numérico. Dados numéricos permitem

comparações entre diferentes situações, com o potencial da realização de estudos

multitemporais.

O mapa geoambiental obtido permitiu determinar regiões homogêneas em cada um dos

municípios, com maior ou menor favorabilidade ao agroecosistema cafeeiro . Faz-se

necessário ressaltar, que a construção de outros cenários deverão ser testados, utilizando

dados sócio-econômicos e meteorológicos, por exemplo.

Apesar dos resultados satisfatórios obtidos no mapeamento da cafeicultura, recomenda-

se a continuidade do mesmo com a utilização de imagens de sensores com maior

resolução espacial, principalmente em áreas onde o relevo é bastante acidentado, como

na zona da Mata e algumas regiões do Sul de Minas Gerais.

144

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APÊNDICE

PONTOS DE GPS COLETADOS EM CAMPO

X Y OBSERVAÇÕES GERAIS20 57 21.0 45 30 54.9 café com poda drástica20 58 12.3 45 30 15.6 café podado e abandonado20 58 05.8 45 30 07.1 café formado Referência: porteira20 58 33 45 29 24.8 café novo com 1,5 anos

20 58 32.4 45 29 22.8 pastagem20 59 48.3 45 28 19.8 café seco+café novo, com lavoura acima20 59 40.5 45 27 56.6 café seco+banana+capoeira+pastagem20 59 52.0 45 26 56.6 café pequeno+pasto20 59 40.3 45 24 52.3 café com cerrado próximo20 59 57.1 45 25 07.3 cerrado + pasto no alto do morro20 56 07.2 45 28 26.6 café21 02 25.3 45 23 27.4 café21 02 51.7 45 23 24.5 lavoura de café velha21 02 55.3 45 23 25.3 café: à esquerda e direita do ponto21 03 22.9 45 22 49 café ao lado do campo e no alto do morro21 00 36.8 45 27 07.5 café catuai, bem formado21 00 38.7 45 27 06.4 café catuai bem formado,próximo à represa café + cana.20 59 40.5 45 28 06.3 café no morro20 57 07.1 45 28 18.3 faixa de eucalipto estreita20 54 22.4 45 23 21.2 café no alto do morro e lavoura colhida20 53 34.3 45 23 16.5 pasto+cana na beira da estrada. Café a montante e jusante20 53 55.9 45 23 43.6 café bem formado, 1,70 altura20 54 14.9 45 24 48.7 pasto na beira da estrada. Café bem distante20 53 58.7 45 26 04.6 café fechado + solo arado na beira da estrada20 54.092 45 26.489 ponto de referencia20 55 17.7 45 27 10.6 café novo, com gramíneas até o rio, café desfolhado e banana perto da estrada20 55.15 45 27.198 pasto+café de divisa - foto: casa20 55 35 45 25 51.7 café porte baixo, semi-desfolhado com solo aparente

21 03 59.6 45 39 16.3 café21 04 18.2 45 39 35.7 pasto (direita e esquerda)21 04 10.3 45 39 27.2 café21 02 52.8 45 41 26.4 café pequeno21 03 40.8 45 45 12.0 brejo-Beira da Estrada21 03 55.3 45 34 51.4 lavoura de Milho Colhido - café ao fundo20 59 24.7 45 34 20.4 café com lago ao fundo, pasto e lavoura ruim20 58 56.3 45 33 26.8 café de 2 anos20 58 23.9 45 31 21.5 ponte-Ponto Referência20 51 51.9 45 31 05.3 tangerina e café20 50 33.2 45 31 36.7 café a esquerda do ponto, estrada, jusante lavoura e eucalipto

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X Y OBSERVAÇÕES GERAIS20 49 25.6 45 32 33.2 eucalipto pequeno com pastagem ao redor e café próximo20 48 59.6 45 32 46.3 pasto e café a jusante20 48 04.8 45 32 54.3 mandioca e café - beira da estrada20 47 39.7 45 32 38.4 café bem formado, com entrelinhas abertas20 48 07.8 45 34 18.9 ponto central, não há café ao redor, várzea e eucalipto próximos20 49 18.8 45 34 27.7 ponto com café em ambos os lados20 50 06.6 45 33 28.3 beira da estrada, com área de café a direita e esquerda, a montante pastagem20 50 35.8 45 33 25.4 lavoura de café novo e velho20 52 40.5 45 33 12.3 ponto na estrada, com café bem vigoroso contrastando com o pasto que era café20 53 54.2 45 33 26.6 eucalipto e café no fundo do vale20 54 28.2 45 32 58.9 pasto com café próximo20 52 55.6 45 31 25.5 ponto do Cristo redentor, com café abaixo20 55 11.3 45 14 38.8 café colhido, porte de 1,90m, beira da rodovia, café em ambos os lados20 56 11.3 45 14 07.8 café em todo o vale20 57 15.3 45 12 53.9 ponto de referencia com três lavouras de café pequenas no alto do morro20 59 31.2 45 21 09.3 lavoura de alto porte no alto do morro, com resposta espectral de solo + palha20 59 48.9 45 13 49.7 eucalipto - alto do morro20 59 45.3 45 13 57.6 café ralo+café vigoroso20 59 44.5 45 13 40.2 café morro abaixo20 59 28.9 45 12 27.3 café ralo no alto do morro20 56 45.6 45 13 03.6 alto do morro sem café20 52 46.7 45 14 34.6 café sem folhas, atacado por cigarrinha20 52 38.6 45 13 39.9 ponto cercado por café de porte baixo em todas as direções20 52 53.7 45 13 17.8 café de porte alto desfolhado20 53 02.5 45 12 55.9 café de médio porte, em todas as direções, com maior resposta espectral do solo20 53 27.6 45 12 40.4 café, porte alto, desfolhado, com alta resposta espectral do solo20 53 39.9 45 12 05.8 café20 53 40.6 45 12 03.4 café recepado, com maior resposta espectral do solo 20 53 48.6 45 11 47.7 ponto com café alto e solo coberto20 53 46.5 45 11 12.8 ponto de referencia no alto do morro: café na parte baixa20 53 38.9 45 10 36.2 café, lavoura nova plantada em nível no alto do morro20 53 37.8 45 10 36.8 café homogêneo de porte alto. Em pontos a jusante não há café20 53 24.3 45 10 41.7 eucalipto20 52 51.4 45 11 27.8 café bem formado, pouca resposta do solo20 52 24.8 45 09 11.9 café. Foto-Ref: marco+café20 52 01.9 45 09 11.9 cana-de-açúcar ao lado da estrada20 52 20.2 45 07 26.5 ponto com lavouras de café próximas20 52 21.1 45 06 57.2 café de porte alto, desfolhado20 51 24.1 45 07 20.4 café novo com solo exposto (2anos)20 51 34.6 45 07 05.9 ponto de referência com lavoura de café no alto do morro20 51 28.9 45 07 14.1 café alto, desfolhado, alta resposta do solo20 51 22.7 45 07 02.4 lavoura de café ruim20 51 27.5 45 06 45.3 cana-de-açúcar, com café na parte alta20 51 38.6 45 06 28.8 café alto do morro, talhão em forma triangular20 52 06 45 05 24.1 cana-de-açúcar

20 51 53.3 45 05 18 ponto com café local e a jusante, perto da estrada

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X Y OBSERVAÇÕES GERAIS20 51 16.1 45 05 58.8 café bicolor, com lavouras contiguas20 49 26.7 45 07 59.2 café desfolhado20 53 18.9 45 15 12.9 ponto de café com 3 anos, porte baixo. A jusante outra lavoura de café20 53 21.5 45 17 51.6 café fechado, +- 150ha20 53 28 45 18 38.9 café no ponto e eucalipto a montante

20 53 30.4 45 19 13.09 café bem formado, com outra lavoura em sentido oposto20 53 29.5 45 19 31.6 café recepado+café formado20 51 43.2 45 18 24.7 ponto na beira da estrada - café adensado nos dois lados da estrada

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