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i Número: 71/2008 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS – IG PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA NA ÁREA DE ANÁLISE AMBIENTAL E DINÂMICA TERRITORIAL MARCELO FERNANDO FONSECA Geotecnologias aplicadas ao diagnóstico do uso da terra no entorno do Reservatório de Salto Grande, município de Americana (SP), como subsídio ao planejamento territorial Dissertação apresentada ao Instituto de Geociências como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Geografia. Orientador: Prof. Dr. Lindon Fonseca Matias Campinas – São Paulo Fevereiro – 2008

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Número: 71/2008

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS – IG

PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA NA ÁREA DE ANÁLISE AMBIENTAL E DINÂMICA TERRITORIAL

MARCELO FERNANDO FONSECA

Geotecnologias aplicadas ao diagnóstico do uso da terra no entorno do Reservatório de Salto Grande, município de Americana (SP),

como subsídio ao planejamento territorial

Dissertação apresentada ao Instituto de Geociências como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Geografia.

Orientador: Prof. Dr. Lindon Fonseca Matias

Campinas – São Paulo Fevereiro – 2008

ii

© by Marcelo Fernando Fonseca, 2008

Catalogação na Publicação elaborada pela Biblioteca do Instituto de Geociências/UNICAMP

Fonseca, Marcelo Fernando F733g Geotecnologias aplicadas ao diagnóstico do uso da terra no entorno do

Reservatório de Salto Grande, município de Americana (SP), como subsídio ao planejamento territorial / Marcelo Fernando Fonseca.-- Campinas,SP.: [s.n.], 2008.

Orientador: Lindon Fonseca Matias Dissertação (mestrado) Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Geociências.

1. Geografia. 2. Plano diretor. 3. Planejamento urbano – Americana – São Paulo - Brasil. 4. Salto Grande, Reservatório – Americana – São Paulo - Brasil. 5. Geografia humana. I. Matias, Lindon Fonseca. II. Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Geociências. III. Título.

Título em inglês. Applied geotechnologies to land use diagnosis around Salto Grande Reservoir, in the city of Americana (São Paulo State, Brazil), as subsidy to territorial planning.

Keywords: - Geography; - Plan director; - Urban planning – Americana – São Paulo - Brazil; - Salto Grande, Reservoir – Americana – São Paulo - Brazil; - Human Geography

Área de concentração: Análise Ambiental e Dinâmica Territorial Titulação: Mestre em Geografia Banca examinadora: - Lindon Fonseca Matias; - Marcos César Ferreira; - Maria Isabel C. de Freitas. Data da defesa: 14/02/2008 Programa: Geografia.

iv

Dedico este trabalho à Deus e à minha família, a base de sustentação de minha vida.

v

AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Dr. Lindon Fonseca Matias, que desde o início depositou em mim a confiança de êxito

na realização deste trabalho, dedicando seu tempo, sua paciência e sua capacidade na tarefa de orientar,

esclarecer e encaminhar o desenvolvimento da pesquisa. Mais que um orientador, tornou-se um amigo,

contribuindo com idéias, sendo rigoroso nos conceitos e sempre minucioso e perspicaz em suas

observações.

Ao Prof. Dr. Alexandre Camargo Coutinho, chefe adjunto de P&D da Embrapa Monitoramento

por Satélite, que desde o primeiro contato, não mediu esforços e muito se empenhou para o

fornecimento de dados e informações cruciais ao desenvolvimento da pesquisa.

Ao Prof. Dr. Jurandir Zullo Junior e Prof. Dr. Rubens Augusto Camargo Lamparelli, ambos do

Cepagri/Unicamp, pelas indicações e referências sempre precisas.

À Prefeitura Municipal de Americana, na pessoa do vereador Diego Denadai, pela presteza na

solicitação de informações referentes ao Reservatório de Salto Grande.

Ao Instituto Geográfico e Cartográfico (IGC) do Estado de São Paulo, pelo fornecimento de

material cartográfico base para a pesquisa.

Ao ambientalista João Carlos Pinto, fundador da ONG Barco Escola da Natureza, que

gentilmente nos conduziu à visitas na orla do Reservatório de Salto Grande.

Ao Prof. Dr. Omar Edgardo Soltermann, pela compreensão e incentivo através da flexibilização

dos horários de trabalho no tocante às minhas atividades profissionais.

Aos professores Dr. Marcos C. Ferreira, Dra. Magda A. Lombardo e Dra. Maria Isabel C. de

Freitas pela significativa contribuição na banca do Exame de Qualificação e na Defesa da Dissertação,

através de observações extremamente pertinentes sobre o desenvolvimento da pesquisa.

vi

À Joyce Cruz e ao Francisco, alunos e amigos do Instituto de Geociências, pela constante troca

de dados e informações sobre a área de estudo e pelo auxílio oportuno.

Ao amigo e também mestrando Ricardo Gontijo, por compartilhar as dúvidas e anseios ao longo

da pesquisa, e pela amizade reforçada na busca conjunta dos mesmos objetivos nestes dois anos de

“batalha”.

Às assistentes da Secretaria de Pós-Graduação do Instituto de Geociências (IG), nas pessoas de

Valdirene e Edinalva, pela disposição e atenção no atendimento às solicitações.

À todos os amigos que de forma incondicional me apoiaram no cumprimento desta meta, seja

no adiamento de churrascos ou na forma de incentivos (Leandro, Glauco, João, Sérgio, Marcelo, Stela,

Claudia, Elaine, Sandra, Jimena, Ivone e Aninha).

À minha futura “quase” cunhada Elisangela, pelas palavras de ânimo durante o

desenvolvimento da pesquisa.

À minha querida e mais que especial Vanessa, que me presenteou com sua compreensão,

carinho e apoio na reta final do trabalho.

À Deus, que me permitiu esta longa e dura jornada, mas compensadora e gratificante do ponto

de vista pessoal e profissional.

E, em especial, à minha família, nas figuras de minha querida mãe Sônia, por me dar

forças e incentivos nas horas de maior dificuldade, de meu querido pai João, por jamais medir

esforços na educação dos filhos, e de meu querido irmão Rodrigo, com quem a troca de idéias é

sempre enriquecedora.

vii

"Pesquisa é o processo de entrar em vielas para ver se elas são becos sem saída".

Marston Bates

viii

SUMÁRIO RESUMO.......................................................................................................... xii ABSTRACT...................................................................................................... xiii 1. INTRODUÇÃO....................................................................................................... 1

1.1 As geotecnologias no contexto geográfico....................................................... 3 1.2 O uso e ocupação da terra................................................................................ 4

2. OBJETIVOS............................................................................................................ 7 3. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO................................................. 8

3.1 Delimitação da área de estudo......................................................................... 11 3.2 As particularidades da área de estudo............................................................ 13

4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS.......................................................... 16 4.1 Imagens do satélite EROS A............................................................................ 17 4.2 Base de dados cartográfica............................................................................... 22 4.3 Levantamento de campo.................................................................................. 24 4.4 Legislação municipal e ambiental aplicável................................................... 27 4.5 Classificação utilizada no diagnóstico do uso da terra.................................. 30

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES.......................................................................... 32 5.1 Uso atual da terra no entorno do Reservatório de Salto Grande................. 32 5.2 Uso da terra segundo o Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado........ 44 5.3 Diagnóstico do uso da terra: adequações, inadequações e conflitos............. 46 5.4 O novo PDDI..................................................................................................... 55

6. CONCLUSÕES........................................................................................................ 58 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................. 63

ix

LISTA DE ABREVIATURAS

ACIA........... Associação Comercial e Industrial de Americana APPA.......... Área de Proteção e Preservação Ambiental AUC............ Área de Urbanização Controlada AUCON...... Área de Urbanização Consolidada CAD............ Computer Aided Design CCD............ Charge Coupled Device CONAMA... Conselho Nacional do Meio Ambiente CPFL........... Companhia Paulista de Força e Luz EROS.......... Earth Remote Observation Satellite ESRI............ Environmental Systems Research Institute GIS.............. Geographical Information Systems GPS............. Global Positioning System IAI............... Israel Aircraft Industries IBGE........... Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IDH............. Índice de Desenvolvimento Humano IGC............. Instituto Geográfico e Cartográfico do Estado de São PauloINSS............ Instituto Nacional do Seguro Social MDT............ Modelo Digital de Terreno ONG............ Organização Não Governamental PDDI........... Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado PDP............. Plano Diretor Participativo PDPR.......... Plano de Desenvolvimento Pós-Represa RMC........... Região Metropolitana de Campinas SAD............. South American Datum SEADE........ Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados SIG.............. Sistema de Informações Geográficas SMA............ Secretaria de Meio Ambiente SNIU........... Sistema Nacional de Indicadores Urbanos SPOT........... Satellite pour Observation de la Terre TDI.............. Time Delay Integration UGRHI....... Unidade de Gerenciamento dos Recursos Hídricos UTM............ Universal Transverse of Mercator ZCS............. Zona Comercial e de Serviços ZI1............... Zona Industrial 1 ZI2............... Zona Industrial 2 ZR1............. Zona Residencial 1 ZR2............. Zona Residencial 2 ZR3............. Zona Residencial 3 ZRE............. Zona de Recreação ZU............... Zona Urbanizável

x

LISTA DE FIGURAS

Nº Título 3.1 Americana no Estado de São Paulo, contexto da RMC, e recorte

espacial da área de estudo (entorno do Reservatório de Salto Grande)..... 9

3.2 Imagem Eros com a delimitação da área de estudo................................... 12 3.3 Áreas edificadas do município em relação ao Reservatório...................... 14 4.1 Diagrama simplificado da metodologia utilizada...................................... 23 4.2 Seqüência metodológica para o estudo do uso e ocupação da terra.......... 26 5.1 Área de vegetação nativa na região do pós-represa, em 2005................... 37 5.2 Nascentes vetorizadas e sobrepostas às imagens EROS (2005), em área

urbana próxima a rodovia Anhanguera – Bairro: Antônio Zanaga............ 38

5.3 Áreas de planejamento pertencentes à Macrozona 2 e 3........................... 40

LISTA DE FOTOS

Nº Título 5.1 Área correspondente ao mesmo fragmento de vegetação nativa

destruída, em 2007..................................................................................... 37

5.2 Perspectivas da mesma área imageada pelo satélite, sob influência do intenso processo de urbanização e em possível estágio de degradação, em 2007......................................................................................................

39

5.3 Extensa área no pós-represa ocupada pela cana-de-açúcar, em 2007........ 49 5.4 Área de solo exposto avançando sobre APPA, em 2007........................... 50 5.5 Área de cultivo da cana-de-açúcar em situação de conflito, em 2007....... 53 5.6 Em primeiro plano, área de APPA afetada por ações antrópicas; ao

fundo, área urbana que se expande no entorno do Reservatório, em 2007............................................................................................................

54

5.7 Área com atividade de mineração, em 2007.............................................. 54 5.8 Construções tombadas como patrimônio histórico do município, em

2007............................................................................................................ 56

LISTA DE GRÁFICOS

Nº Título 5.1 Uso da terra no entorno do Reservatório................................................... 35 5.2 Uso atual x uso previsto no entorno do Reservatório................................ 48

xi

LISTA DE MAPAS

Nº Título 5.1 Mapa de uso e ocupação da terra no entorno do Reservatório de Salto

Grande, Americana/SP - (2007)................................................................ 34

5.2 Modelo Digital de Terreno (MDT) - Hidrografia - (2007)........................ 42 5.3 Classificação das Áreas de Planejamento, Americana/SP - (1999)........... 45 5.4 Diagnóstico do uso e ocupação da terra no entorno do Reservatório de

Salto Grande, Americana/SP - (2007)....................................................... 47

LISTA DE QUADROS

Nº Título 3.1 Dados gerais do Reservatório de Salto Grande, em Americana/SP.......... 10 4.1 Comparação entre os satélites Quickbird, Ikonos II e EROS.................... 20

LISTA DE TABELAS

Nº Título 4.1 Classificação das zonas de uso da terra segundo a Lei nº 3.271/99.......... 28 4.2 Notação utilizada para o diagnóstico do uso e ocupação da terra............. 31 5.1 Classes de uso e ocupação da terra no entorno do Reservatório............... 35 5.2 Bairros pertencentes às áreas de planejamento e evolução populacional

total............................................................................................................ 40

5.3 Diagnóstico do uso da terra no entorno do Reservatório de Salto Grande.......................................................................................................

48

5.4 Síntese da condição de “uso inadequado”................................................. 50 5.5 Síntese da condição de “uso em conflito”................................................. 51

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS – IG

PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA NA ÁREA DE

ANÁLISE AMBIENTAL E DINÂMICA TERRITORIAL

Geotecnologias aplicadas ao diagnóstico do uso da terra no entorno do Reservatório de Salto Grande, município de Americana (SP), como subsídio ao planejamento territorial

RESUMO

Dissertação de Mestrado

Marcelo Fernando Fonseca

A presente dissertação consiste em um diagnóstico do uso da terra no entorno do Reservatório de Salto Grande, no município de Americana (SP), através da utilização de imagens de satélite de alta resolução, incursões de campo e dos recursos e procedimentos conjuntamente associados às geotecnologias. Foram obtidas informações geocartográficas dando origem a mapeamentos que permitiram a confrontação com os dados do Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado (PDDI/1999) do município de Americana, no que se refere às disposições legais de uso e ocupação da terra definidas para a área de estudo. A constituição da base de dados geográficos deste trabalho sugere que o tratamento da informação espacial, quando realizado de maneira adequada, se constitui em poderoso recurso para análises sócio-territoriais. As avaliações realizadas indicam para um uso da terra predominantemente inadequado no entorno do Reservatório de Salto Grande, levando-se em consideração as leis orgânicas do município e os levantamentos e análises complementares do espaço geográfico selecionado, empreendidas com o apoio das geotecnologias. O avanço ilegal da cultura da cana-de-açúcar na região do pós-represa e o processo de ocupação e destruição de matas ciliares, fragmentos de matas e vegetação nativa em áreas já urbanizadas ou com tendências de ocupação respondem pela maior parte das inadequações e conflitos identificados, o que faz das áreas de proteção e preservação ambiental (APPA) as mais afetadas dentro de um processo de degradação e desrespeito à legislação atual. Diante do quadro de inadequação e conflito predominantes no diagnóstico do uso e ocupação da terra na área de estudo, e da já constatada degradação atual da qualidade da água do próprio Reservatório, recomenda-se especial atenção dos agentes responsáveis e da comunidade atuante na perspectiva da tomada de medidas efetivas para se evitar danos ainda maiores, exigindo-se o cumprimento da lei e um planejamento territorial compatível com a realidade local. Ressalta-se que a Geografia como ciência pode e deve atuar de maneira efetiva na discussão do planejamento do uso da terra, apontando meios para a consolidação de uma gestão territorial que prime pela justiça e igualdade de direitos na apropriação do espaço geográfico.

xiii

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS – IG

PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA NA ÁREA DE

ANÁLISE AMBIENTAL E DINÂMICA TERRITORIAL

Applied geotechnologies to land use diagnosis around Salto Grande Reservoir, in the city of Americana (São Paulo State, Brazil), as subsidy to territorial planning

ABSTRACT

Marcelo Fernando Fonseca

This work consists of a diagnosis of land use around Salto Grande Reservoir, in the city of Americana, São Paulo State, through the use of high spatial resolution satellite images, field incursions and resources and procedures related to geotechnologies. Geocartographical informations found originated mappings which allowed its confrontation with data from the Integrated Development Urban Planning (PDDI/1999) of Americana municipality, with regard to laws of land use and occupation defined for this study’s area. This work’s establishment of geographical database suggests that proper space information treatment is a powerful resource for social-territorial analysis. Evaluations indicate that there is a predominantly inappropriate use of the land around Salto Grande Reservoir, considering organic laws of municipality and complementary surveys and analysis of selected geographical area, made with geotechnologies support. Illegal advance of sugar cane culture in the of post-dam and the process of occupation and destruction of forests gallery, fragments of forests and native vegetation in areas already urbanized or with occupation tendencies respond by most identified inadequacies and conflicts identified, making of these areas of environmental protection and preservation (APPA) the most affected in a process of degradation and disrespect to the current legislation. Facing the situation of inadequacy and conflict prevailing in the diagnosis of use and occupation of land in this study’s area, and the current degradation of water quality of the reservoir itself, it is recommended special attention from the responsible officers and the active community from the perspective of taking effective measures to avoid even greater damages, and requiring up the compliance with the law and a territorial planning compatible with local reality. It is empathized that Geography as science, can and must act in an effective manner in the discussion of the planning of land use, pointing means for the consolidation of a territorial administration that prime for justice and equal rights in the ownership of the geographical area.

1

1. INTRODUÇÃO

O avanço dos instrumentos computacionais e dos métodos automatizados de análise das

informações espaciais tem contribuído consideravelmente para uma ampliação das categorias de estudo

do espaço geográfico, gerando novos conhecimentos do território e das variáveis atuantes na dinâmica

de transformação do espaço produzido pelo homem.

O termo geotecnologias1 apresenta várias definições dentro da comunidade científica, até

mesmo por se tratar de uma temática recente e por trazer em sua base aspectos integrantes de várias

áreas do conhecimento, como a associação de aparatos computacionais às variáveis espaciais.

O seu uso dentro das ciências geográficas permite um avanço metodológico nas técnicas de

análise. Ao agregar este conjunto de novas técnicas no trabalho de pesquisa científica, passa-se a

ampliar as possibilidades de inferência sobre o território, o que acentua a importância do método e da

reflexão sobre o mesmo, este sim de fundamental relevância para se unir o que as novas tecnologias da

informação têm a acrescentar à construção do conhecimento científico. Ou como coloca Santos (1997,

p. 70):

Objetos não agem, mas, sobretudo no período histórico atual, podem nascer predestinados a

um certo tipo de ações, a cuja plena eficácia se tornam indispensáveis. São as ações que, em

última análise, definem os objetos, dando-lhes um sentido. Mas hoje, os objetos “valorizam”

diferentemente as ações, em virtude de seu conteúdo técnico. Assim, considerar as ações

separadamente ou os objetos separadamente, não dá conta da sua realidade histórica. Uma

geografia social deve encarar, de modo uno, isto é, não-separado, objetos e ações, “agindo”

em concerto.

A utilização das geotecnologias serviu de subsídio ao foco principal deste trabalho: o

diagnóstico dos conflitos de uso da terra no entorno do Reservatório de Salto Grande, no município de

Americana, Estado de São Paulo, à partir de uma comparação com as diretrizes estabelecidas no Plano

Diretor de Desenvolvimento Integrado (PDDI) do município citado.

1

O termo geotecnologias é empregado atualmente por muitos autores para designar um conjunto de aparatos tecnológicos relacionados à computação (hardware, software, peopleware, arquitetura de banco de dados, metodologias de análise), aliados aos conhecimentos científicos que lhes são necessários para realizar a aquisição, o tratamento e a produção de informações de forma georreferenciada, agregando, portanto, o Sensoriamento Remoto, a Cartografia Digital, o Sistema de Posicionamento Global (GPS) e os Sistemas de Informações Geográficas (GIS) (MATIAS, 2001).

2

Alguns fatos constatados durante os levantamentos iniciais orientaram nossa escolha em termos

do recorte sócio-espacial: estudos específicos de fundamentação biológica já foram desenvolvidos para

o local, porém as referências com enfoque predominantemente geográfico ainda são escassas,

destacando-se um trabalho realizado pela própria Prefeitura do Município de Americana (PDPR, 2004),

através de seu setor de planejamento, mas que se restringiu à área conhecida como pós-represa. A

análise deste documento constituiu-se em passo inicial de nosso projeto, sendo observado no mesmo a

preocupação da administração municipal em prover diretrizes específicas de desenvolvimento para esta

área.

O Reservatório de Salto Grande está inserido na sub-bacia do rio Atibaia, pertencente à bacia

hidrográfica do rio Piracicaba. Considera-se pertinente para um estudo de mestrado a limitação da área

em questão, acenando com possibilidades maiores de êxito na coleta de dados e no desenvolvimento da

própria pesquisa. A caracterização geográfica da área de estudo encontra-se descrita no item 3, bem

como a justificativa para a delimitação e abrangência da área foco desta pesquisa.

As várias feições geográficas presentes no local também se constituíram em fatores estimulantes

à pesquisa: importante sob o ponto de vista econômico e social, o entorno do Reservatório foi ocupado

por indústrias, práticas agrícolas diversas e loteamentos, se constituindo em cenário de constante

transformação ao longo dos anos e sendo foco atualmente de interesses dos mais diversos agentes

sociais. Para o município de Americana, além de sua relevância histórica, a área pós-represa é motivo

de muitas discussões, já que é considerada uma importante área de expansão urbana, com cerca de 32

km2, sendo que os vazios urbanos em áreas já povoadas não ultrapassam os 13 km2 dentro do

município (PDPR, 2004). O fator histórico, além dos diferentes usos da terra, também levou à

distribuição da posse para proprietários distintos, no caso específico da área do pós-represa, como o

governo municipal, estadual, federal e até mesmo órgãos governamentais, como o INSS, são detentores

de terras destinadas ao pagamento de dívidas.

São muitas as variáveis envolvidas em estudos desta natureza e, por este motivo, deve-se relevar

os diversos aspectos atuantes, como a questão do valor e do uso da terra. Como já chamava a atenção

Harvey (1980, p. 178):

O modo de integração econômica – o problema da unidade social-natural é resolvido através

da consideração do uso do solo urbano, quando, transpondo a teoria de Marx da renda da

terra para o ambiente urbano, desaparece a separação entre os dois aspectos da realidade.

3

Através das análises apresentadas, objetiva-se o aprofundamento de discussões a respeito da

problemática ambiental e social causada pelas disparidades entre o que se encontra estabelecido no

PDDI municipal e o que realmente faz parte da realidade atual no tocante aos usos da terra no entorno

do Reservatório de Salto Grande, trazendo à tona as contradições presentes no atual modelo de gestão

da área através de evidências que se configuram espacialmente.

1.1 As geotecnologias no contexto geográfico

Um momento relevante se configura na atualidade dentro da Geografia: em conjunto ao avanço

das pesquisas ligadas a temática do espaço geográfico e do meio urbano, que cada vez mais colocam o

espaço como um tema estratégico sob a ótica do desenvolvimento, observa-se hoje uma crescente

ampliação na disponibilidade das bases de dados geográficas, compostas por informações territoriais e

alavancadas pelas técnicas de geoprocessamento que, segundo Câmara e Davis (2001, p. 1):

Denota a disciplina do conhecimento que utiliza técnicas matemáticas e computacionais para

o tratamento da informação geográfica e que vem influenciando de maneira crescente as

áreas de Cartografia, Análise de Recursos Naturais, Transportes, Comunicações, Energia e

Planejamento Urbano e Regional. As ferramentas computacionais para Geoprocessamento,

chamadas de Sistemas de Informação Geográfica (GIS2), permitem realizar análises

complexas, ao integrar dados de diversas fontes e ao criar bancos de dados geo-referenciados.

Tornam ainda possível automatizar a produção de documentos cartográficos.

Conjugando essas técnicas aos dados obtidos do imageamento a partir de aeronaves ou

plataformas orbitais (satélites), além dos radares, e a integração destes dados através das plataformas de

hardware, software e banco de dados espaciais, chega-se a um grande conjunto de elementos,

comumente chamados de geotecnologias, que permitem a utilização da informação geográfica de forma

a avaliar conjunturas, distinguir potencialidades e, por fim, auxiliar na tomada de decisões. Por isso,

sua natureza está intimamente ligada ao planejamento e gestão territorial, como salienta Silva (1999,

p.41):

2 Do inglês Geographical Information Systems.

4

O uso de dados espaciais não está restrito aos cientistas que tratam do meio físico.

Planejadores urbanos necessitam de informações detalhadas sobre a distribuição de terra e

recursos nas cidades. Os engenheiros civis necessitam planejar estradas, canais e barragens e

estimar o custo de remoção de terra. Os governos precisam saber a distribuição espacial dos

hospitais, das escolas, da segurança. O departamento de polícia precisa saber os níveis de

segurança das cidades. A enorme quantidade de infra-estrutura, como água, gás eletricidade,

telefonia, esgoto e lixo, necessita ser registrada e gerenciada. A vigilância sanitária pode ser

gerenciada através do uso de geografia em processos epidemiológicos, como foi utilizado na

Inglaterra no século XIX.

A ciência geográfica tem hoje a seu dispor um aparato de recursos capazes de gerar informações

cada vez mais precisas sobre o território em que se materializam as relações sociais. A relação tempo-

espaço continua a dinamizar a história dos lugares, sempre com a inferência humana, e cria hoje

mosaicos que necessitam de análises conectadas as novas possibilidades que se abrem com a expansão

do meio técnico-científico-informacional.

Nesse trabalho, nos interessa o uso das geotecnologias no contexto estritamente geográfico, ou

seja, busca-se a compreensão de uma realidade espacial (o entorno do Reservatório de Salto Grande),

através da investigação das variáveis naturais, sociais, econômicas e políticas (as diferentes classes

temáticas trabalhadas nesta pesquisa), aferidas à partir de imagens de satélite de alta resolução,

levantamentos de órgãos oficiais e de campo e cruzamento de dados oriundos do principal instrumento

de gestão municipal, o PDDI. Desta forma, focando as geotecnologias como um conjunto de técnicas

de estudo e procedimentos metodológicos com capacidade de obter, tratar, processar, armazenar e

representar a informação espacial, foram gerados novos produtos geocartográficos e, por fim,

fornecidos elementos na etapa discursiva que podem servir de subsídio ao planejamento territorial da

área.

1.2 O uso e ocupação da terra

Ao propor como foco deste trabalho um estudo de uso e ocupação da terra, na área ao entorno

do Reservatório de Salto Grande, em Americana, leva-se em consideração não somente a importância

do sistema antrópico em questão – o reservatório – mas também a apropriação que atualmente se faz de

um espaço de relevante importância para o município, como será descrito nos itens posteriores. A

5

importância de se estudar o uso e ocupação da terra pode ser percebido na afirmação contida na série

Manuais Técnicos em Geociências – Manual técnico de uso da terra, do Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística, em seu texto introdutório (2006):

No que se refere ao uso da terra, dentro do debate do desenvolvimento sustentável, merecem

destaque: as referências aos fatores que levam a mudanças e a expectativa da justiça

ambiental devido aos diferentes interesses, direitos civis e conflitos distributivos sobre os

recursos naturais.

Mais que “justiça ambiental”, acredita-se ser a justiça social o grande fator a ser considerado em

estudos desta natureza. Uma análise mais profunda do uso e ocupação da terra pode revelar os aspectos

marcantes e contraditórios na apropriação do espaço pelo homem, comumente ocupado com diferentes

densidades técnicas, podendo trazer à tona as relações entre os agentes sociais visíveis no contexto do

cotidiano e, sobretudo, as relações espaciais invisíveis aos olhares meramente pragmáticos.

Ao diagnosticar os conflitos inseridos na realidade sócio-espacial da área de estudo, através do

uso das geotecnologias, constatamos as possibilidades de inferência sobre o território que estas

tecnologias podem gerar, quando acompanhadas de um olhar crítico e objetivo por parte de quem as

utiliza. Por outro lado, sugere-se uma ação no sentido de unir estas informações, muitas vezes

produzidas individualmente, a um programa claro e integrado de conhecimento do território brasileiro,

convergindo para a formação de uma base de dados coesa e que permita a tomada de decisão, seja ela

local, regional ou nacional, já que as mesmas encontram-se de alguma forma interligadas. Como bem

coloca Harvey (1980, p.25), o urbanismo e as transformações sociais e espaciais colocadas em sua

evolução constituem o duro teste de realidade para a teoria sócio-geográfica. Mais que entender esta

realidade, é preciso agir, utilizando os instrumentos disponíveis para um planejamento territorial mais

democrático. O próprio Estatuto da Cidade, instrumento normativo que define os princípios e diretrizes

para a elaboração, revisão e implementação dos Planos Diretores Municipais, “oferece instrumentos

para que o município possa intervir nos processos de planejamento e gestão urbana e territorial,

garantindo a realização do direito à cidade” (PDP, 2004). Neste contexto, estimular a participação

coletiva na discussão dos diferentes usos da terra e nas conseqüências que esta apropriação gera torna-

se relevante à partir do momento que possibilita uma intervenção mais efetiva por parte de cada

cidadão nos processos de planejamento e gestão territorial, através da democratização das decisões e de

6

uma participação política social que deve estar fundamentalmente voltada para atender aos anseios da

sociedade como um todo.

7

2. OBJETIVOS

Como objetivo geral se destaca a produção de um trabalho científico de caráter geográfico para

o entorno do Reservatório de Salto Grande, destacando a importância da área no contexto municipal e

regional, com vistas à realização de um diagnóstico sobre os atuais usos e ocupação da terra em relação

ao que estabelece o Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado (PDDI) do município, buscando

através da identificação destes gerar contribuições para o planejamento e a gestão eficaz da área.

Ao utilizar os recursos das geotecnologias para prover instrumentos de interpretação analítica,

vislumbramos “enxergar” além da simples constituição de mapas temáticos, com foco na área escolhida

e nos aspectos sócio-espaciais envolvidos, avaliando-se as variáveis diretas e indiretas envolvidas no

processo de uso da terra.

Para alcançar este objetivo, como bem salienta Eco (1989), buscam-se critérios e justificativas

claras, através da adoção de uma sistemática de trabalho que privilegie algumas categorias chaves. A

proposta de trabalho aqui exposta se pauta por estas diretrizes, tentando ressaltar o importante papel da

ciência como instrumento social de desenvolvimento.

Dentre os objetivos específicos incluem-se a geração de mapa de uso e ocupação da terra atual

para o local; utilização de imagens de satélite de alta resolução espacial e de levantamentos de campo

para validação das informações; comparações com o atual Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado

(PDDI) da área elaborado pela administração municipal e, por fim, tecer comentários analíticos sobre

as inadequações e conflitos de uso e ocupação da terra no entorno do Reservatório identificados na

pesquisa, balizados sobre os produtos geocartográficos originados na pesquisa.

A produção de material indicativo para reflexões de planejamento para a área foco deste

estudo, sob a perspectiva geográfica de entendimento da problemática espacial, e adequação do uso e

ocupação da terra, constituiu-se em etapa fundamental deste trabalho.

As recomendações quanto às ações no que se refere ao uso das terras que possam minimizar os

impactos sobre o Reservatório de Salto Grande, alertando para sua degradação e buscando a

conscientização da comunidade local quanto à importância deste sistema antrópico, seguiu-se como

etapa conclusiva desta pesquisa.

8

3. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

Historicamente, foi em 1904 que se deu a criação do Distrito de Vila Americana, elevado a

município em 1924 e cujo nome foi alterado em 1938, quando se passou a chamar simplesmente

Americana. O município tem hoje 203.845 habitantes, distribuídos em 134 km2 de área territorial, com

uma densidade demográfica de cerca de 1.521 hab./km2 (IBGE, 2007). A taxa geométrica de

crescimento anual da população é de 1,48% (2000/2006). Ocupa a 36a. posição em número de

habitantes no Estado de São Paulo, integrando a Região Metropolitana de Campinas (RMC) – formada

por mais 19 municípios - sendo a 3º mais povoada na RMC, atrás apenas de Campinas e Sumaré

(IBGE, 2007).

Sua economia hoje é baseada prioritariamente no setor de serviços, seguido por uma atividade

industrial ainda relevante na área têxtil - cujo desenvolvimento atingiu o auge na década de 1930 - e

que se diversificou nos últimos anos, com a presença de indústrias de segmentos diversos –

Metalúrgica Americana, Goodyear, Santista, Sucos Del Valle, entre outras. A cidade ocupa hoje o 5º

lugar no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) dentre os municípios da RMC e o 19º no Estado

de São Paulo. As principais vias de acesso ao município são a rodovia Anhanguera - SP330 - e a

rodovia Luiz de Queiroz - SP304 (SEADE, 2007).

Apresenta-se na Figura 3.1 a localização de Americana no contexto da RMC, no Estado de São

Paulo, e em detalhe maior, na seqüência, é apresentada a área foco deste estudo, compreendendo o

entorno do Reservatório de Salto Grande.

9

Figura 3.1 - Americana no Estado de São Paulo, contexto da RMC, e recorte espacial da área de estudo

(entorno do Reservatório de Salto Grande)

Fonte: Base cartográfica digital (IBGE, 2005). Elaboração: Fonseca, 2007.

Localizado no município de Americana, sob a coordenada central 22º42’47’’S e 47º15’02’’W,

em uma altitude média de 530m, o Reservatório de Salto Grande está inserido na sub-bacia do rio

Atibaia (principal formador do reservatório, em conjunto com alguns ribeirões, como o ribeirão

10

Saltinho, córregos Foguete e Olho d’água), que pertence à bacia hidrográfica do rio Piracicaba,

pertencente a Unidade de Gerenciamento dos Recursos Hídricos do Estado de São Paulo (UGRHI) de

número 05, que inclui, ainda, as bacias hidrográficas dos rios Capivari e Jundiaí.

A barragem que represa o rio Atibaia está localizada a aproximadamente 700 metros a montante

de sua confluência com o Rio Jaguari, onde se forma o rio Piracicaba. Geologicamente, o Reservatório

está inserido na bacia sedimentar do Paraná, com predominância de rochas sedimentares da era

paleozóica, do grupo Tubarão, subgrupo Itararé. Localiza-se na depressão periférica paulista, com

relevo dominado por amplas colinas, topos aplainados, vertentes com perfis convexos e retilíneos,

drenagem de média a baixa densidade, padrão subdendrítico, vales abertos, planícies aluviais interiores

restritas e presença eventual de lagoas perenes ou intermitentes (ESPÍNDOLA et al., 2004). A represa

foi construída entre 1940 e 1949, visando o aproveitamento de energia pela Companhia Paulista de

Força e Luz (CPFL), com início de operação da usina em 1950 (DEBERDT, 1997).

Ao norte do Reservatório encontra-se uma grande área – 32 km2 – chamada de pós-represa, de

natureza rural, que apresenta baixa densidade populacional. No sentido oposto, observa-se a presença

de áreas urbanas, com bairros já consolidados, e loteamentos de naturezas diversas. O Quadro 3.1

apresenta as principais características do Reservatório.

Quadro 3.1 – Dados gerais do Reservatório de Salto Grande, em Americana/SP.

Características Atributo – unidade

Afluente rio Atibaia

Área da bacia hidrográfica 2.770 km2

Profundidade média 8,00 m

Profundidade máxima 19,80 m

Área de inundação mínima 10,55 km2

Área de inundação máxima 13,25 km2

Comprimento do reservatório 17 km

Perímetro 64 km

Volume máximo 106 x 106 m3 (106.000.000 m3)

Tempo de retenção médio da água 30 dias (variando sazonalmente) Fonte: LEITE, 1998.

11

3.1 Delimitação da área de estudo

Definida a temática e o objeto de estudo, faltava ainda estabelecer, com precisão, o recorte

espacial a ser considerado. Este foi um dos primeiros desafios desta pesquisa, pois algumas

possibilidades se manifestaram: a área de estudo poderia compreender a bacia hidrográfica como

unidade espacial de pesquisa, ou então os municípios limítrofes pelos quais o Reservatório possui

influência direta e/ou indireta, ou somente a região do pós-represa, entre outras alternativas, o que nos

colocou à procura de uma primeira resposta, que nortearia toda a seqüência do trabalho.

Ao se deparar com esta questão, se buscou auxilio em obras de referência, e encontrou-se na

colocação de Eco (1989, p. 22) um caminho inicial: “quanto mais se restringe o campo, melhor e com

mais segurança se trabalha”. Trabalhando sobre esta prerrogativa, porém sem perder de vista o todo,

verificou-se nas leituras e análises subseqüentes outros itens a serem avaliados: a complexidade local, a

abrangência dos problemas atuais na área, a questão das escalas necessárias para se avaliar estes

problemas, e o tamanho das unidades territoriais disponíveis (SANTOS, 2004). Somaram-se a isso os

fatores relacionados ao uso das geotecnologias, um dos pressupostos desta pesquisa, no

desenvolvimento do trabalho: a questão da disponibilidade dos dados, o tempo de tratamento dos

mesmos, facilidades em sua obtenção e, sobretudo, a qualidade dos mesmos para a realização de uma

pesquisa que levasse à produção de algo concreto, factível e passível de utilização dentro da

perspectiva do planejamento.

Estes foram os elementos que subsidiaram a decisão final: o recorte espacial compreendeu a

área ao entorno do Reservatório de Salto Grande, delimitada pelos limites territoriais administrativos

do município de Americana, e restrita ao sul por uma das principais vias de circulação do Estado de

São Paulo: a rodovia Anhanguera. A Figura 3.2 apresenta os limites da área de estudo, compreendendo

um total de 67,28 km2, sob a perspectiva de uma composição pancromática de imagem do satélite

EROS, utilizada no desenvolvimento do trabalho.

12

Figura 3.2 – Imagem Eros com a delimitação da área de estudo

Fonte: Imagem EROS (Embrapa Monitoramento por Satélite, 2005). Elaboração: Fonseca, 2007.

A escolha valorizou, sobretudo, as áreas de maior influência (direta ou indireta) do Reservatório

de Salto Grande, dentro dos limites administrativos do município de Americana, detentor deste

“patrimônio” ambiental e cuja população local é o principal agente articulador das ações no entorno e

no próprio Reservatório. A idéia, como bem colocou Eco, era “ter um objeto reconhecível e definido de

tal maneira que seja reconhecível igualmente pelos outros” (1989, p. 27).

A restrição a este limite como “área de estudo” não significou uma redução nas escalas de

análise e no entendimento dos fenômenos que ali acontecem. Até mesmo porque, como bem nos

lembra Carlos (1996, p. 33), “os lugares constituem partes integrantes de uma totalidade espacial, o que

significa que não são autônomos e dotados de vida própria, mas que se vinculam ao caráter social e

histórico da produção do espaço geográfico total”.

Esta área, dentro do que foi planejado desenvolver, se mostrou “atrativa” do ponto de vista

geográfico: nas áreas posteriores delimitadas pela rodovia Anhanguera (limite sul), a consolidação de

vários bairros e a expansão de loteamentos de natureza diversa, além da presença de indústrias e a

especulação imobiliária agindo frente à degradação ambiental; na parte central, a represa, tão assolada

pelo despejo de esgotos domésticos e industriais; e no pós-represa, a existência de uma grande área,

ainda sem uma definição clara de “planejamento e gestão” e envolta por um mosaico de interesses

políticos, econômicos, sociais e ambientais. A partir destas constatações, definiu-se a área de estudo.

Limeira

Americana

Cosmópolis

Paulínia

Nova Odessa

Americana

13

3.2 As particularidades da área de estudo

O Reservatório de Salto Grande apresenta-se como uma área de extrema relevância em vários

aspectos: contribui com a regularização da vazão do rio Piracicaba, sendo também fonte de

abastecimento para residências, irrigação, piscicultura, e tida também como área de recreação e lazer,

essencialmente no início de seu desenvolvimento.

Com um histórico de ocupação que se inicia no final do século XIX com a implantação de

culturas de subsistência, e com a introdução da cultura de cana-de-açúcar, que permanece até hoje, é

considerada hoje uma área de relevante importância para o município. Segundo Bottura (1998), em

1875 foi construída a primeira tecelagem de Americana, localizada na fazenda Salto Grande, que atraiu

imigrantes para a região e deu início a um processo de urbanização na área do município de Americana.

Com a construção da barragem que deu origem ao Reservatório de Salto Grande, iniciou-se um

processo de valorização das terras no entorno do mesmo, essencialmente na área compreendida

atualmente entre a Rodovia Anhanguera e o sistema aqui tratado. Essas terras foram ocupadas por

loteamentos das mais diversas naturezas (domicílios particulares, casas de veraneio, iate-clube,

chácaras, blocos residenciais “populares”). Na década de 1970, atividades como a pesca, natação e

recreação eram comuns na área da represa (AMERICANA, 2004).

O que o desenvolvimento desta pesquisa permitiu observar (como será comentado com mais

detalhes nos tópicos discursivos) é uma completa mudança nas relações da população local com o

Reservatório de Salto Grande nos dias atuais. Esta mudança, gradativa ao longo dos anos, perpassa uma

série de acontecimentos que levaram, sobretudo, a um considerável abandono da área, reforçada ou

legitimada pelas ações do poder público municipal.

A distribuição das áreas edificadas do município de Americana em relação ao Reservatório de

Salto Grande é apresentada na Figura 3.3.

14

Figura 3.3 – Áreas edificadas do município em relação ao Reservatório

Fonte: Prefeitura Municipal de Americana, 2003. Elaboração: Fonseca, 2007.

Observa-se, no sentido sul-norte, ao oeste do Reservatório, o eixo viário representando a via

Anhanguera, que delimita a área de estudo. A área urbana já consolidada no município de Americana

se concentra na porção oeste da rodovia, e os loteamentos em fase de expansão se concentram nas

proximidades do Reservatório, já dentro da área de estudo. A área do pós-represa, de uso e ocupação

ainda hoje predominantemente rural, corresponde a quase 24% do território do município de

Americana, o que acentua ainda mais sua importância para a cidade.

A constituição de um panorama atual do uso e ocupação da terra no entorno do Reservatório

busca a geração de conhecimento que possibilite confrontar estas informações com as disponíveis no

PDDI municipal. Pretende-se com isso alimentar discussões acerca da adequação ou inadequação do

uso da terra, dos conflitos identificados, das potencialidades que ali existem (e que por ventura possam

não estar sendo aproveitadas), através de análises dos elementos constituintes do espaço geográfico e

baseado em pressupostos que visem a conformidade e adequação do uso da terra não somente com a

legislação, mas também com as práticas da comunidade local, e o envolvimento desta com o uso do

próprio Reservatório de Salto Grande.

A cada dia são criadas novas necessidades dentro do espaço urbano, e prover ferramentas para a

otimização destas mudanças é de extrema importância para o uso adequado da terra e para a satisfação

de quem faz uso dela. Um planejamento incoerente com as realidades do local pode significar uma

Áreas edificadas Principais vias de circulação Novos loteamentos

15

perda social de grande magnitude, não só para a comunidade que ali tem o seu cotidiano, mas ao

município que deposita sobre esta área interesses diversos (área de expansão urbana, industrial,

agrícola, de lazer e recreação, e de preservação e manutenção do próprio sistema).

16

4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Na fase de planejamento do trabalho e em sua execução, merecem destaque as seguintes

atividades: coleta de informações em órgãos oficiais e mídias impressas, análise de documentos

históricos e de uso e ocupação da terra, obtenção de imagem de satélite de alta resolução da área de

estudo, elaboração da base de dados cartográfica, visitas para levantamentos de campo, identificação

prévia de conflitos existentes e contato com a ONG Barco Escola da Natureza, no sentido da troca de

experiências relativas ao local.

Visando inicialmente conhecer as diretrizes de uso e ocupação da terra estabelecidas pela

legislação municipal, levantou-se alguns documentos oficiais considerados essenciais como

instrumentos de gestão, diretamente relacionados à área de estudo:

a) Lei nº 3.269, de 15 de Janeiro de 1999 – “Dispõe sobre o Plano Diretor de Desenvolvimento

Integrado (PDDI) do Município de Americana”;

b) Lei nº 3.271, de 15 de Janeiro de 1999 – “Dispõe sobre o Uso e Ocupação do Solo no Município

de Americana e dá outras providências”;

c) Plano de Desenvolvimento Pós-Represa – PDPR – 2004 – Elaborado pela Prefeitura Municipal

de Americana.

As primeiras reflexões sobre estes documentos vieram se somar às outras informações coletadas

sobre a área. O ponto de partida para a análise espacial presumida foi a obtenção de imagem de alta

resolução espacial junto à Embrapa Monitoramento por Satélite, através de duas cenas da plataforma

orbital EROS.

Além das cenas do satélite EROS A, o mapeamento atual de uso e ocupação da terra do entorno

do Reservatório foi realizado com base nas cartas do Instituto Geográfico e Cartográfico do Estado de

São Paulo (IGC), e posteriormente complementadas com as incursões de campo. A confrontação dos

resultados obtidos com o estabelecido na legislação municipal vigente (e suas referências às leis

estaduais e/ou federais) se deu através da inserção de arquivo digital .dwg contendo estas informações

no software ArcGIS®, versão 9.1 (ESRI, 2004), e da aplicação de topologias sobre os temas de

interesse. A partir daí, elaborou-se um diagnóstico à partir dos usos existentes na área, objetivando a

confecção de reflexões voltadas para subsidiar o planejamento territorial.

A abordagem aqui considerada para o entendimento e uma análise crítica do processo (por sinal

complexo) de (re)produção do fragmento de espaço geográfico selecionado se pauta na conceituação da

17

dialética já trabalhada por Lefebvre (1991) e explorada por vários autores, como Harvey (1992), Soja

(1993) e Santos (1997).

Com relação à utilização das geotecnologias, entende-se que o seu uso, dentro de uma

cientificidade coerente, não deve privilegiar os objetos técnicos (computadores, periféricos, softwares),

mas sim as considerações que se fazem sobre os produtos gerados pelos aparatos técnicos hoje

disponíveis. Como bem nos alerta Matias (2004, p.8), “existe uma diferença notável entre as técnicas,

per si, e o uso dessas num determinado contexto científico”.

Na busca pela compreensão dos fenômenos espaciais atuantes na área do Reservatório de Salto

Grande, reveladas em parte pelo uso e ocupação da terra atual e pelo dinamismo das transformações

que dele decorrem, convém analisar sob a ótica da Geografia Urbana que coloca o “espaço geográfico

como produto, condição e meio para a reprodução das relações sociais no sentido amplo de reprodução

da sociedade, num determinado momento histórico – um processo que se define como social e

histórico; o que significa que há uma relação necessária entre espaço e sociedade que é o cenário que

encaminha a análise” (CARLOS, 2001, p.63).

Por fim, cabe ressaltar que, na apropriação da terra, e no conseqüente estabelecimento de seu

“uso e ocupação”, como no caso da área do Reservatório de Salto Grande, compartilha-se da idéia que

apregoa que “o tema central da geografia não é separadamente os objetos nem as ações, mas objetos e

ações tomados em conjunto”, como bem coloca Santos (1997, p.21). Esta premissa permite explorar as

geotecnologias como mais um elemento na tentativa de compreensão da dinâmica espacial que se

configura na área de estudo.

4.1 Imagens do satélite EROS A

A família de satélites EROS (Earth Remote Observation Satellite) foi lançada de uma base

localizada ao leste da Sibéria – portanto, com colaboração de cientistas russos – em 05 de dezembro de

2000. Projetado e desenvolvido pela empresa estatal Israel Aircraft Industries (IAI), para fins militares

e civis, apresenta um sensor de alta resolução espacial (variando de 0,82 a 1,8 m) e satisfatória

resolução temporal.

Com ampla capacidade de imagear extensas áreas geográficas, o projeto EROS priorizou a

competitividade no mercado mundial através do fornecimento de produtos similares aos já consagrados

18

satélites americanos Ikonos e Quickbird. Concebido inicialmente como um projeto de caráter militar,

suas imagens começam agora a se difundir na área civil em diversos países.

A empresa responsável pela operação do satélite - ImageSat International - disponibiliza em seu

sítio (www.imagesatintl.com) alguns exemplos atuais das aplicações das imagens EROS em diferentes

países. A empresa mantém em sua base operacional o desenvolvimento de novas tecnologias espaciais,

com foco nas áreas de sensores e softwares, na busca de plataformas “leves” e de reduzido custo

econômico (IMAGESAT, 2007).

No Brasil, uma das instituições pioneiras na utilização dessas imagens dentro da área científica

é a Embrapa Monitoramento por Satélite, cuja unidade de estudos localiza-se no município de

Campinas, SP. Ao utilizar imagens de satélite, deve-se ter conhecimento de que na obtenção delas estão

presentes deformações provenientes desde as influências das perturbações na órbita dos satélites, até

particularidades específicas dos próprios sensores, tais como alinhamento e sensibilidade de respostas

espectrais (GERARDI e LOMBARDO, 2004, p.30).

A concepção do EROS baseou-se, essencialmente, na busca de melhores resultados em termos

de resolução espacial (chegando à casa dos centímetros) e resolução temporal (buscando um

recobrimento freqüente da superfície terrestre). O lançamento do conjunto de satélites EROS dividiu-se

em duas categorias, denominadas de A e B. Os da família A obtêm imagens com resolução espacial de

até 1,8 m, e os da família B o fazem até 0,82 m, atingindo significativo patamar frente a alguns dos

principais satélites de alta resolução disponíveis atualmente - Ikonos e QuickBird -, que apresentam

sensores com resolução espacial de 1,0 m e 0,61 m, respectivamente (ENGESAT, 2007).

A faixa imageada compreende cenas com extensão de até 12,5 km para o satélite EROS A e de

até 16 km para os da família EROS B, podendo ser utilizadas para estudos de grandes áreas, como no

caso de monitoramento de recursos naturais e planejamentos ambientais e territoriais. Em relação à

resolução espectral, para ambas as categorias, há variação de 0,5 até 0,9 microns, com bandas

espectrais no visível e infravermelho (câmara CCD e TDI - Charge Coupled Device e Time Delay

Integration).

Outra característica deste satélite se refere à baixa interferência ou ruído na captação das

imagens, o que permite boa nitidez e ganhos qualitativos ao se trabalhar com efeitos como contraste e

brilho em relação aos níveis de cinza da imagem. Este parâmetro está associado ao posterior

processamento digital da imagem, que acaba apresentando melhores resultados na correção das

19

distorções, degradações e ruídos introduzidos na imagem durante o processo de imageamento (ROSA,

1996).

A precisão no georreferenciamento é da ordem de 100 m, considerando uma cena de 12,5 por

12,5 km; portanto, para estudos de precisão posicional, requerem-se ajustes através de outras técnicas

complementares. O satélite EROS apresenta “flexibilidade” no imageamento, já que o mesmo pode ser

orientado em até 45º para qualquer direção de sua órbita, imageando áreas distintas em uma mesma

passagem, além de ajustes adequados quanto às condições de iluminação. Também é possível obter

pares estéreos para finalidade específica, como a extração de curvas de nível (EMBRAPA, 2007).

Pela tecnologia empregada, o satélite EROS pode adquirir, em uma única passagem, até 28

cenas compreendendo 12,5 x 12,5 km (EROS A) ou até 58 cenas de 16 x 16 km (EROS B). Com todos

os satélites operando, é possível imagear uma mesma área até duas vezes por dia, o que implica

significativos ganhos temporais. Há estações de recepção das imagens na América do Norte, América

do Sul, Europa, Oriente Médio, África e Austrália, e podem ser solicitados recortes com pedidos

mínimos de 5 km2 (IMAGESAT, 2007). O Quadro 4.1 apresenta uma síntese comparativa com os

principais dados referentes a alguns satélites de alta resolução espacial comumente utilizados:

20

Quadro 4.1 – Comparação entre os satélites Quickbird, Ikonos II e EROS

Sensor Bandas / Resolução Espectral

Resolução Espacial

Resolução Temporal

Faixa Imageada

QUICKBIRD (DigitalGlobe)

Pan 0.45 – 0.90 µ Azul 0.45 - 0.52 µ Verde 0.52 - 0.60 µ Verm. 0.63 - 0.69 µ

0,61 m (Pancromática) 2,40 m (Multiespectral)

1 a 3,5 dias - (variando com a

latitude) 16,5 x 16,5 km

IKONOS II (Space Imaging)

Pan 0.45 - 0.90 µ Azul 0.45 - 0.52 µ Verde 0.52 - 0.60 µ Verm. 0.63 - 0.69 µ Infra verm. próx. 0.76 - 0.90 µ

1,0 m (Pancromática) 4,0 m (Multiespectral)

2,9 dias - (variando com a

latitude) 13 x 13 km

EROS (ImageSat International)

Pan e Infravermelho 0.50 – 0.90 µ

0,82 m – EROS B (Pancromática) 1,80 m – EROS A (Pancromática)

Diária - (com todos os satélites

operando)

12,5 x 12,5 km (EROS A)

e 16 x 16 km (EROS B)

Principais Aplicações

- Mapeamentos de alta precisão; - Mapeamentos detalhados da malha urbana e infra-estrutura; - Uso e ocupação da terra; - Estudos de análise de riscos e estudos de impactos ambientais; - Cadastros técnicos multifinalitários; - Planejamento e Monitoramento de áreas agrícolas.

Fonte: ImageSat, 2007; Engesat, 2007; Embrapa, 2007. Elaboração e compilação: Fonseca; Matias, 2007.

Um dos fatores que inibe uma maior divulgação dos produtos EROS pode estar no fato das

imagens possuírem somente característica pancromática (níveis de cinza). O mercado de imagens ainda

carrega tendências muito fortes com relação à priorização na aquisição de cenas coloridas, como as

provenientes de aerolevantamentos ou mesmo dos satélites Ikonos II e QuickBird, que realizam coleta

de cenas multiespectrais e por isso permitem a fusão de bandas para obtenção de composições híbridas.

Embora possa servir e atender plenamente os mesmos objetivos, as imagens pancromáticas ainda são

vistas de forma diferenciada por alguns usuários, que desqualificam o produto sem avaliar corretamente

suas características técnicas, incorrendo, muitas vezes, em um grave erro analítico.

O que chama a atenção é que, pelo fato de serem coletadas no formato pancromático, as

imagens EROS podem apresentar redução nos custos de aquisição, em relação às imagens de satélites

de resolução similar, em mais de 30%, sendo este um importante fator competitivo.

As imagens deste sensor também podem ser obtidas com correção radiométrica e geométrica.

Westin e Forsgren (2002), por exemplo, descrevem um método possível para realizar a ortorretificação

das imagens EROS A com acurácia inferior a um pixel; outros estudos relacionados à ortorretificação

das imagens EROS foram desenvolvidos em Taiwan (CHEN e TEO, 2004), país que possui inclusive

uma antena de recepção das imagens EROS. É também em Taiwan, na National Central University,

21

que foi publicado um artigo descrevendo um experimento na transformação das imagens pancromáticas

EROS em imagens coloridas com perdas não significativas em sua resolução, utilizando para isso uma

fusão com imagens multiespectrais do satélite francês SPOT (CHANG e CHEN, 2005).

Esse caso ilustra o que alguns autores vêm enfocando quanto às possibilidades de se extrair

informações complementares de imagens oriundas de plataformas orbitais através de técnicas de

processamento digital de imagens e da automação parcial de determinadas etapas dos mapeamentos

temáticos (VERONESE e FERREIRA, 2006). Apontam, dentre outros parâmetros, a necessidade de se

trabalhar com subprodutos dos dados originais, com a fusão de dados de diferentes sensores e com a

integração entre as diversas temáticas a serem mapeadas (vegetação, geologia, geomorfologia, uso da

terra, entre outros).

A necessidade de minimizar o tempo e os recursos envolvidos faz com que diferentes técnicas

sejam testadas, para implementar as aplicações do sensoriamento remoto nestes ambientes (FORESTI e

HAMBURGER, 1995). A utilização de imagens de sensoriamento remoto em estudos geográficos

torna-se cada vez mais relevante em um momento histórico marcado pelo acentuado dinamismo das

transformações sócio-espaciais e pela exigência de se compreender e interpretar as diversas escalas dos

fenômenos que se materializam no território.

Neste trabalho, utilizou-se uma imagem pancromática da família EROS A, com resolução

espacial de cerca de 1,8 metros, datada do ano de 2005. Estas cenas, cedidas para a pesquisa pela

Embrapa Monitoramento por Satélite, foram de grande valia para o desenvolvimento do trabalho, em

virtude de sua similaridade com outros sensores de alta resolução espacial, como o satélite americano

Ikonos.

A metodologia adotada compreendeu a inserção da imagem EROS e das cartas topográficas em

formato raster em um mesmo projeto, e exigiu a transformação da projeção cartográfica da imagem

para possibilitar a compatibilidade dos dados. Para o georreferenciamento das cartas topográficas e

para os ajustes da imagem, foram utilizados pontos de controle, coletados em cada uma das cartas. Esta

etapa é de fundamental relevância para garantir o atendimento aos requisitos mínimos dos parâmetros

cartográficos, como bem destacam Burrough & McDonnell (1998), ressaltando a importância para que

todos os dados espaciais armazenados estejam bem locacionados em um mesmo sistema de referência,

ou seja, que estejam referenciados em um mesmo sistema de coordenadas, com definição do elipsóide

de referência e da projeção, o que acarreta confiabilidade dos produtos gerados.

22

A adoção do elipsóide de referência para todos os dados seguiu o padrão comumente utilizado

no Brasil, o datum South American Datum 69 (SAD 69), enquanto a projeção adotada foi a UTM

(Universal Transverse of Mercator), que segundo Burrough & McDonnell (1998) é um formato padrão

mundial para troca de informação e também recomendada para mapeamentos em regiões tropicais e

subtropicais, entre o 84º N e 80ºS.

4.2 Base de dados cartográfica

Para a constituição da base de dados cartográfica foram inicialmente adquiridas cartas

topográficas da área de estudo na escala 1:10.000, confeccionadas pelo Instituto Geográfico e

Cartográfico (IGC) do Estado de São Paulo, no formato analógico, pertencentes ao Plano Cartográfico

do Estado de São Paulo, ano de 2002, em um total de sete cartas. Estas foram convertidas para o meio

digital por meio de um aparelho do tipo scanner, e armazenadas em formato raster, para serem

trabalhadas em ambiente computacional. Utilizando-se o software ArcGIS®, foi executado o

georreferenciamento das cartas em meio digital. Na seqüência, através da criação de planos de

informação, procedeu-se a digitalização em tela do limite da área a ser contemplada no estudo (vide

figura 3.1), no município de Americana.

Com base nas cartas topográficas, realizou-se a identificação das classes de uso e ocupação da

terra presentes no local, que foram inicialmente divididas conforme convenção cartográfica

estabelecida pelo próprio IGC e, posteriormente, reclassificadas conforme as informações coletadas em

levantamento de campo e adequações estabelecidas dentro das discussões acadêmicas. Foram

contempladas as seguintes classes: vegetação natural, eucalipto-pinus, pastagem, corpos d’água, cana-

de-açúcar, citrus, fruticultura perene, cultura anual, mineração, comércio e serviços, industrial, urbano

consolidado e urbano em consolidação.

Na seqüência, procedeu-se a digitalização dos temas de interesse. Estes procedimentos

permitiram a formação de uma base de dados primária, cujas análises são apresentadas posteriormente.

A Figura 4.1 apresenta um diagrama simplificado da metodologia utilizada neste trabalho.

23

Figura 4.1 – Diagrama simplificado da metodologia utilizada

Além da vetorização das classes de uso e ocupação da terra, outros temas também foram

identificados visando atender as premissas deste estudo: sistema viário (rodovias, estradas, avenidas e

ruas principais), redes de energia, dutos, curvas de nível (representando a variação altimétrica da área)

e pontos cotados (utilizados como auxiliar na constituição do modelo digital de elevação da área de

estudo).

24

Para a geração de um modelo digital de terreno (MDT) representativo da área de estudo foi

necessária a obtenção de dados referentes às curvas de nível do local, que trazem consigo informações

altimétricas da área do Reservatório de Salto Grande e entorno, permitindo a constituição de um perfil

topográfico com a finalidade de considerar sua influência nos processos de uso e ocupação da terra.

Também foram utilizados pontos cotados demarcados nas cartas topográficas do IGC.

Para este estudo, foram utilizadas curvas de nível com eqüidistância de 5 m. Os dados das

curvas de nível extraídas em formato shapefile, com os respectivos atributos de cota, recobrindo uma

área aproximada de 68 km2, demonstraram para a área uma amplitude altimétrica de 153 metros,

variando de 499 m (cota mínima) até 652 m (cota máxima).

Após a inserção e tratamento destas informações no software ArcGIS®, gerou-se o MDT da

área, com as respectivas coordenadas das cotas, para a constituição de uma grade regular com

intervalos de 5 m. Tal modelo pode ser observado no capítulo 5.

4.3 Levantamento de campo

A caracterização das classes de uso e ocupação da terra dentro do perímetro estudado foi

complementada com levantamentos de campo realizados em três etapas, de forma pontual e com visitas

para coleta direcionada de informações, visando aprofundar o processo de conhecimento da realidade

local. Em uma primeira oportunidade, e com o auxílio da ONG Barco Escola da Natureza, que

desenvolve trabalhos voltados à educação ambiental, conscientização e preservação da área, foi

realizada uma visita por embarcação no entorno do Reservatório de Salto Grande, visando a coleta e

reconhecimento das primeiras informações quanto à ocupação nas margens da represa.

Neste contato inicial, munidos com equipamento GPS, máquina fotográfica digital e as

respectivas cartas topográficas da área de estudo, coletamos informações ambientais e sociais que

vieram a nortear o mapeamento do uso da terra atual realizado posteriormente.

Em uma segunda oportunidade, com o mapa de uso da terra já elaborado, foi percorrida,

mediante via terrestre, praticamente toda a área de estudo, visando o esclarecimento de questões

pertinentes surgidas após este mapeamento. Nesta ocasião, foram esclarecidos alguns pontos duvidosos

ou conflituosos surgidos naturalmente através do mapeamento realizado pelas cartas topográficas e pela

imagem do satélite EROS.

25

Além de gerar material complementar para correções no que já havia sido produzido, esta etapa

foi de extrema importância, pois possibilitou a coleta de material fotográfico da área de estudo

referente à alguns conflitos e inadequações diagnosticados previamente no mapa originado. Parte deste

material documentado é apresentado nas discussões dos resultados deste trabalho.

Em uma terceira e última visita ao entorno do Reservatório, foi realizado o mapeamento com

mais detalhes da área urbana, que foi dividida em 4 (quatro) subclasses (comércio e serviços, área

industrial, urbano consolidado e urbano em consolidação) com a finalidade de propiciar análises mais

aprofundadas quanto ao uso e ocupação da terra no local, aproveitando-se também para confirmar

elementos de inadequação ou conflitantes já identificados nas análises espaciais realizadas em gabinete

através do software ArcGIS® No caso destas subclasses, adotou-se o critério de uso predominante da

terra, ou seja, através da avaliação de campo, constatou-se, na análise do conjunto das quadras, o tipo

de ocupação mais significativa, fato que levou, por exemplo, a classificar algumas áreas como urbano

consolidado pela maior presença de residências ou habitações humanas destinadas a moradia, mesmo

que algum comércio ou similar também fizesse parte desta área. Esta escolha se deve a heterogeneidade

do espaço urbano, sendo a classificação segundo o uso predominante uma alternativa discutida e

adotada neste estudo.

A Figura 4.2 mostra a seqüência lógica metodológica especificamente aplicada para a

caracterização do uso e ocupação da terra.

26

Figura 4.2 – Seqüência metodológica para o estudo do uso e ocupação da terra

27

O destaque em vermelho sinaliza etapas importantes que foram trabalhadas e desenvolvidas

com maior amplitude na fase conclusiva desta pesquisa. Através das análises topológicas, foi possível

“determinar relações como adjacência, pertinência, intersecção e cruzamento” (CASANOVA et al.,

2005, p.26), entre as classes de uso e ocupação da terra atuais mapeadas e entre o que estabelece o

PDDI municipal, o que implicou na reflexão analítica exposta posteriormente.

4.4 Legislação municipal e ambiental aplicável

A metodologia concebida indicou a necessidade de se conhecer as diretrizes de uso e ocupação

da terra estabelecidas pela legislação municipal, e sua referência à legislação estadual e federal,

principalmente no que diz respeito à questão das Áreas de Proteção e Preservação Ambiental (APPAs).

Sendo assim, foram considerados como base para este estudo alguns documentos legais que se

constituem em instrumentos para a gestão municipal, mais especificamente a Lei de nº 3.269, de 15 de

Janeiro de 1999 – “Dispõe sobre o Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado (PDDI) do Município

de Americana”; a Lei de nº 3.271, de 15 de Janeiro de 1999 – “Dispõe sobre o Uso e Ocupação do Solo

no Município de Americana e dá outras providências”; e o Plano de Desenvolvimento Pós-Represa –

PDPR – 2004, material elaborado pela Prefeitura Municipal de Americana, tratando especificamente

das diretrizes de ocupação da área que dá nome ao documento.

A Lei de nº 3.269 instituiu o “Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado (PDDI), como

instrumento básico da política urbana e do processo contínuo de planejamento do município de

Americana. Como instrumento fundamental normativo de planejamento, o PDDI estabelece as formas

de intervenção e de ação e informa os programas de governo, identificando as potencialidades,

carências e ociosidades do município” (ARTIGO 4º, § 1º, DA LEI 3.269, 1999). Este documento faz

referência a um macrozoneamento que estabelece setores a serem tratados de forma diferenciada para

fins de orientar planejamento de ações específicas para cada área, como remete o artigo 15 da referida

lei:

I - MACROZONA 1 – Área de Proteção e Preservação Ambiental – APPA: compreende as

áreas de reconhecido valor ambiental para o Município, importantes para a preservação do patrimônio

natural, urbanístico e cultural, incluindo-se matas remanescentes, áreas de proteção a mananciais,

faixas de proteção aos rios, córregos, lagoas e da Represa de Salto Grande, além de áreas de vegetação

primitiva em condições de preservação ou que ainda permitam a sua recuperação. Estas APPAs têm sua

28

importância na preservação do meio ambiente e estão distribuídas por toda área do Município,

formando diversos parques urbanos;

II - MACROZONA 2 – Área de Urbanização Controlada – AUC: compreende a região onde

devem ser estabelecidos critérios de controle da urbanização, de forma a garantir que o processo de

ocupação seja acompanhado do provimento de infra-estrutura, de equipamentos e de áreas para

comércio e serviços, bem como da preservação da qualidade do meio ambiente. É considerada uma

área com características rurais. Esta macrozona será objeto de lei própria e específica para ordenamento

quanto ao parcelamento, zoneamento, uso e ocupação do solo;

III - MACROZONA 3 – Área de Urbanização Consolidada – AUCON: trata-se de área urbana

já consolidada, intensamente ocupada, onde se faz necessário a otimização e racionalização da infra-

estrutura existente através do controle do adensamento e do incentivo à mescla de atividades, ocupação

dos vazios urbanos, consolidação de núcleos de atividades e novos pólos de geração de emprego fora

da área central. Esta macrozona foi ainda dividida em 10 (dez) áreas de planejamento, correspondentes

a um bairro ou conjunto de bairros.

À partir destes dados, buscamos na Lei nº 3.271/99 a classificação das zonas de uso da terra

segundo o PDDI para a realização das análises comparativas e de um diagnóstico envolvendo o atual

uso e ocupação no entorno do Reservatório de Salto Grande. A tabela 4.1 traz esta classificação

adotada, que considera as principais atividades ou ocupações desenvolvidas em cada área.

Tabela 4.1 – Classificação das zonas de uso da terra segundo a Lei nº 3.271/99

Sigla Descrição

ZR1 Zona Residencial 1

ZR2 Zona Residencial 2

ZR3 Zona Residencial 3

ZCS Zona Comercial e de Serviços

ZRE Zona de Recreação

ZU Zona Urbanizável

APPA Área de Proteção e Preservação Ambiental

ZI1 Zona Industrial 1

ZI2 Zona Industrial 2

AUC Área de Urbanização Controlada Fonte: Prefeitura Municipal de Americana, Lei nº 3.271/99.

29

Em virtude dos objetivos e foco deste trabalho, optou-se por não considerar o detalhamento das

subdivisões das zonas de uso residencial (1, 2 e 3) e industrial (1 e 2), tratando-as simplesmente por

“Zona Residencial” ou “Zona Industrial”, já que as especificações definidas para cada uma delas, como

altura das edificações e padrões de recuos em sua construção, são parâmetros dispensáveis nas análises

que empreendemos.

Já o documento intitulado Plano de Desenvolvimento Pós-Represa – PDPR – 2004, foi utilizado

como referência na avaliação dos usos atuais com o que está estabelecido neste estudo para a região do

Pós-Represa, que perfaz uma área aproximada de 32 km2. Neste documento, foram estabelecidas

modalidades de ocupação para o local, divididas em Zonas Residenciais (estimada em 15,4 km2), Zona

Industrial (estimada em 8,6 km2) e o restante destinado para as Áreas de Proteção e Preservação

Ambiental (APPA, com cerca de 8,0 km2).

A delimitação das APPAs presentes na área segue o que define a Lei Federal nº 4.771, de 15 de

setembro de 1965, que instituiu o Código Florestal, que em seu Artigo 2º, define: “Consideram-se de

preservação permanente, pelo só efeito desta Lei, as florestas e demais formas de vegetação natural

situadas:

a) ao longo dos rios ou de qualquer curso d’água desde o seu nível mais alto em faixa marginal cuja

largura mínima seja:

1 - de 30m (trinta metros) para os cursos d’água de menos de 10 (dez) metros de largura;

2 - de 50m (cinqüenta metros) para os cursos d’água que tenham de 10 (dez) a 50m (cinqüenta metros)

de largura;

3 - de 100m (cem metros) para os cursos d’água que tenham de 50 (cinqüenta) a 200m (duzentos

metros) de largura;

4 - de 200m (duzentos metros) para os cursos d’água que tenham de 200 (duzentos) a 600m (seiscentos

metros) de largura;

5 - de 500m (quinhentos metros) para os cursos d’água que tenham largura superior a 600m (seiscentos

metros) de largura;

(Com redação dada pela Lei n. 7.803, de 18.07.89)

b) ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d’água naturais ou artificiais;

(Ver: Resolução CONAMA n. 302, de 20.03.02 referente a reservatórios artificiais)

c) nas nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados “olhos d’água”, qualquer que seja a sua

situação topográfica, num raio mínimo de 50m (cinqüenta metros) de largura;

30

(Com redação dada pela Lei n. 7.803, de 18.07.89)

d) no topo de morros, montes, montanhas e serras;

e) nas encostas ou partes destas, com declividade superior a 45º, equivalente a 100% na linha de

maior declive;

f) nas restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues;

g) nas bordas dos tabuleiros ou chapadas, a partir da linha de ruptura do relevo, em faixa nunca

inferior a 100m (cem metros) em projeções horizontais;

h) em altitude superior a 1.800m (mil e oitocentos) qualquer que seja a vegetação.

Parágrafo único - No caso de áreas urbanas, assim entendidas as compreendidas nos perímetros

urbanos definidos por lei municipal, e nas regiões metropolitanas e aglomerações urbanas, em todo o

território abrangido, observar-se-á o disposto nos respectivos planos diretores e leis de uso do solo,

respeitados os princípios e limites a que se refere este artigo. (Com redação dada pela Lei n. 7.803,

de 18.07.89).

Para a geração do mapa síntese final de uso da terra, que compreendeu a identificação de áreas

adequadas, inadequadas e em conflito, utilizou-se o software ArcGIS® e as funções contidas nos

submenus Analysis Tools e Data Management, através da confrontação dos dados referentes ao uso

atual da terra e do uso que efetivamente deveria existir no local de acordo com o estabelecido nas

determinações legais acima citadas.

4.5 Classificação utilizada no diagnóstico do uso da terra

Após mapear o uso atual da terra no entorno do Reservatório de Salto Grande e de obter em

arquivo digital em formato .dwg as zonas de uso da terra segundo as Leis nº 3.269 e nº 3.271, além das

informações contidas no PDPR (2004), seguiu-se a análise topológica dos temas vetoriais de interesse,

gerando relatórios de saída com os resultados do cruzamento entre os mesmos. À partir disso,

estabeleceu-se uma classificação final para o diagnóstico do uso e ocupação da terra da área de estudo,

sendo utilizada notação apresentada na tabela 4.2.

31

Tabela 4.2 – Notação utilizada para o diagnóstico do uso e ocupação da terra

Situação Descrição

Adequado O uso atual da terra é compatível com o definido no PDDI municipal e

legislações específicas aplicáveis, estando, portanto, adequado.

Inadequado

O uso atual da terra é inadequado quando confrontado com o que define o

PDDI municipal e legislações específicas aplicáveis, porém, não se constitui

em conflito, podendo ser de caráter transitório e/ou temporário.

Conflito

O uso atual da terra é juridicamente irregular e incompatível com o definido

no PDDI municipal e legislações específicas aplicáveis, estando, portanto,

em situação de conflito.

Cabe uma explicação no tocante as classificações de Inadequado e Conflito: em alguns casos, o

que existe não se configura como um conflito, mas sim uma inadequação diante do zoneamento

estabelecido, o que pode, porém, ser uma situação transitória, já que no futuro a área pode vir a ser

ocupada com o que está definido em lei. Como exemplo, citamos áreas em que existe atualmente cana-

de-açúcar em área definida como AUC (Área de Urbanização Controlada) ou há presença de cultura

anual em ZU (Zona Urbanizável). Já no caso da situação de Conflito, a mesma é caracterizada quando

existe uma irregularidade cabal em relação ao uso atual e futuro, como por exemplo, ocupação de

APPAs, expansão de áreas urbanas em zonas definidas como industriais, ou casos similares.

32

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES

5.1 Uso e ocupação atual da terra no entorno do Reservatório de Salto Grande

Os trabalhos desenvolvidos nos conduziram à produção de material geocartográfico atualizado

para a área de estudo, referente aos diversos usos da terra. A imagem EROS foi importante para a

identificação prévia de uma quantidade maior de elementos geográficos, como a delimitação de áreas

com cultivos agrícolas distintos, a verificação de áreas onde o processo de urbanização se encontra em

estágio de expansão, ou mesmo a conseqüente identificação da cava de uma usina de asfalto presente

no pós-represa através da percepção de profundidade possibilitada pelos atributos da imagem.

As visitas de campo foram sempre experiências enriquecedoras e fontes de informações que

complementaram o entendimento das leituras realizadas dos diversos materiais disponíveis durante o

desenvolvimento da pesquisa, confirmando alguns pontos do diagnóstico que ainda suscitavam

dúvidas.

As primeiras observações levaram à uma distinção da área do pós-represa (área aproximada de

32 km2), - evidenciada pelas cartas topográficas, imagem EROS e visita de campo - com o restante da

área: trata-se de uma área cuja ocupação e uso da terra está vinculada às atividades agrícolas, mas que

já mostra sinais, através de algumas construções ainda dispersas, de seu alto potencial para ocupação

urbana (fato preocupante no sentido de como esse processo se dará), e de uma tendência à valorização

da terra, com a presença de alguns comércios informais. No mapeamento foi identificado um pequeno

conglomerado de habitações classificado como urbano em consolidação, com gradativa expansão,

provavelmente limitado ainda em virtude de aspectos relacionados à infra-estrutura local, como por

exemplo, a necessidade de novas vias de acesso e serviços públicos adequados. Segundo Lefebvre

(1969), "dentro do processo de urbanização, o espaço envolvido pelo tecido urbano passa também a ser

constituído pelos espaços necessários construídos para a circulação das mercadorias e das pessoas", o

que deve acontecer brevemente neste local com a crescente demanda por áreas de expansão no

município de Americana.

Nesta mesma área, com a vetorização pontual das classes de uso, outro aspecto ficou

evidenciado: o predomínio da cana-de-açúcar como elemento espacialmente dominante no caso das

culturas agrícolas.

33

O mapa 5.1 apresenta o mapeamento completo do uso e ocupação da terra no entorno do

Reservatório de Salto Grande, compreendendo uma área total de 67,28 km2. Ele foi utilizado

posteriormente para a confrontação com as informações colhidas no PDDI do município de Americana:

Rio Jaguari

Rio Piracicaba

Córrego O

lho d´água

Rodovia Anhanguera

Avenida Nicolau João Abdalla

Rua Trê

s

Estrada Fazenda do Saltinho

Estra

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Estrada Nicolau João Abdalla

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271971

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2749717480

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7480

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7483

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7483

863

7486

863

7486

863

7489

863

7489

863

Mapa 5.1 - Mapa de uso e ocupação da terra no entorno do Reservatório de Salto Grande, Americana/SP - (2007)

LegendaVias de circulação

Gasoduto-Oleoduto

Rede Elétrica

Hidrografia

Classes de usoUrbano consolidado

Urbano em consolidação

Industrial

Comércio e Serviços

Mineração

Cana-de-açúcar

Citrus

Cultura Anual

Fruticultura perene

Eucalipto

Vegetação natural

Pastagem

Corpos d´água

®Projeção:

Universal Transversa de MercatorSAD 1969Zona 23S

Fontes: Cartas Planialtimétricas IGC, 2002 - escala 1:10.000Interpretação Imagens EROS A, 2005

Levantamentos de Campo, 2007

0 500 1.000 1.500 2.000 Metros

Execução: Marcelo Fernando Fonseca, 2007.

Grupo de PesquisaGeotecnologias Aplicadas

à Gestão do Território

Instituto de Geociências

34

35

A tabela 5.1 registra a área, em km2, das respectivas classes de uso da terra identificadas no

mapeamento:

Tabela 5.1 – Classes de uso e ocupação da terra no entorno do Reservatório

Classes de Uso Área (km2) % Cana-de-açúcar 29,21 43,41 Corpos d´água 9,08 13,49 Vegetação Natural 8,79 13,07 Urbano Consolidado 8,14 12,10 Pastagem 5,51 8,19 Urbano em Consolidação 2,79 4,15 Área Industrial 1,24 1,83 Área de Comércio e Serviços 0,88 1,31 Citrus 0,66 0,99 Cultura Anual 0,47 0,70 Mineração 0,25 0,37 Fruticultura Perene 0,15 0,22 Eucalipto 0,11 0,17

Total 67,28 100,00

A categoria que engloba os corpos d´água inclui também o próprio Reservatório de Salto

Grande. O gráfico 5.1 ilustra os resultados obtidos:

Gráfico 5.1 – Uso da terra no entorno do Reservatório

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

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%

36

A presença da monocultura de cana-de-açúcar na área esta intimamente ligada a fatores

históricos, já que desde o século XVIII, mesmo em meio à vegetação nativa, esta cultura já ocupava

áreas nesta região. Porém, no final do século XIX, a cana-de-açúcar passou a ser introduzida com mais

intensidade, ocupando grandes extensões de terras, em propriedades geralmente arrendadas,

objetivando a comercialização em grande escala do produto. E os problemas do avanço desta cultura,

essencialmente localizados no pós-represa, estão claramente associados à invasão ilegal de áreas de

proteção e preservação ambiental, além de práticas incorretas de uso do solo que contribuem para o

assoreamento do Reservatório de Salto Grande (ESPÍNDOLA et al., 2004).

Através das imagens EROS, que se apresentam no padrão pancromático, foi possível verificar,

em virtude da manipulação de contrastes, através dos diferentes tons de cinza (FLORENZANO, 2002),

a distinção dos estágios do desenvolvimento fenológico da cana-de-açúcar e o avanço significativo

deste cultivo para as áreas no entorno e nas margens do Reservatório, fato comprovado em campo.

Sobre este aspecto, apresenta-se uma constatação documentada no trabalho de campo: no dia da

visita, em uma área distante aproximadamente 1.300 metros da margem da represa, testemunhou-se o

avanço ilegal desta cultura sobre áreas em que a mata nativa ainda se fazia presente, e que pela

legislação atual, deveria ser alvo de preservação. A Figura 5.1 mostra com clareza a área conservada

que ainda existia de mata nativa, destacada na imagem EROS; na seqüência, uma foto digital da mesma

área, obtida em uma das incursões de campo, mostra a mesma área em destaque completamente

dizimada pela ação antrópica.

37

Figura 5.1 – Área de vegetação nativa na região do pós-represa, em 2005

Foto 5.1 – Área correspondente ao mesmo fragmento de vegetação nativa destruída, em 2007

Fonte: Cruz e Fonseca, Julho de 2007.

Na área compreendida entre a rodovia Anhanguera e o Reservatório, onde os processos de

consolidação e expansão urbana são mais intensos, verifica-se a manutenção de práticas equivocadas

quanto ao uso e ocupação da terra. Para exemplificar tal situação, é exposto a seguir (Figura 5.2) um

Fonte: Imagem EROS (EMBRAPA, 2005); Elaboração: Fonseca, 2007.

Área de vegetação nativa

38

fragmento de imagem da área em que foram identificadas, pelo mapeamento prévio, algumas

nascentes, em local de consolidação urbana. A Foto 5.2 apresentada na seqüência mostra a área destas

mesmas nascentes, e a intensa ação antrópica sobre o local, com a possível degradação do sistema em

andamento ou já consumada.

Figura 5.2 – Nascentes vetorizadas e sobrepostas às imagens EROS (2005), em área urbana próxima a rodovia Anhanguera – Bairro: Antônio Zanaga

Fonte: Imagem EROS (EMBRAPA, 2005); Elaboração: Fonseca, 2007.

Nascentes em área urbana Área correspondente à Foto 5.2

39

Foto 5.2 – Perspectivas da mesma área imageada pelo satélite, sob influência do intenso processo de

urbanização e em possível estágio de degradação, em 2007

Fonte: Cruz e Fonseca, Julho de 2007.

As áreas urbanas já consolidadas estão distribuídas, sobretudo, na área sudoeste do Reservatório

de Salto Grande, onde a formação de bairros com grande número de habitantes e com uma demanda

maior de necessidades sociais acaba gerando também intervenções antrópicas de maior magnitude.

A Figura 5.3 apresenta a divisão territorial das áreas localizadas dentro da Macrozona 3 – Área

de Urbanização Consolidada, que se encontra dividida em 10 (dez) setores de planejamento para todo o

município de Americana, e também apresenta o setor de planejamento 11, que pertence a Macrozona 2

– Área de Urbanização Controlada, sendo esta a área também denominada de pós-represa.

40

Figura 5.3 – Áreas de planejamento pertencentes à Macrozona 02 e 03

Fonte: Prefeitura Municipal de Americana, 2007.

O recorte definido para este estudo compreende as áreas de planejamento de número 02, 03 e

11. A tabela 5.2 apresenta os bairros pertencentes às áreas correspondentes, bem como o crescimento

da população total entre 2000 e 2006 alocada em cada uma delas:

Tabela 5.2 – Bairros pertencentes às áreas de planejamento e evolução populacional total

Áreas de planejamento segundo o PDDI Área de Urbanização

Consolidada Área de Urbanização

Controlada População

Total 02 03 11

Iate Clube de Americana Bairro Praia Azul Área pós-represa Chácara São Francisco Bairro da Lagoa Riviera Tamborlim Chácara Machado Bairro Boa Esperança Jardim América Parque das Mangueiras Jardim São José Recanto Jatobá Jardim São Sebastião Recanto Vista Alegre Portal dos Nobres Bairro Tapera Remanso Azul Chácara Alto da Represa Monte Carlo Chácara Letônia Bairro Olho D’água Jardim Santa Eliza Balneário Riviera

41

Áreas de planejamento segundo o PDDI Área de Urbanização

Consolidada Área de Urbanização

Controlada População

Total 02 03 11

Praia dos Namorados Bairro São Benedito Chácara Mantovani Balneário Salto Grande Bairro Barroca Jd. Iate Clube de Campinas Res. Praia dos Namorados Bairro Camargo Residencial V Paineiras Jardim Santo Antônio Jardim Brasil Parque Dom Pedro C H Antônio Zanaga I Recanto Azul C H Antônio Zanaga II L M F Jorge Bairro Salto Grande Jardim do Lago Jd. N. Senhora Aparecida Fazenda Santo Ângelo Vale das Nogueiras Fazenda Santa Lúcia Di Pref. A.Najar Residencial Bosque dos Ipês Fazenda Salto Grande Residencial Santa Paula Jardim Vila Bela Parque Residencial Tancredi Fazendinha Bairro Berinjela Chácara Lucília

2000 25.451 8.987 4342001 25.945 9.161 4422002 26.449 9.339 4512003 26.962 9.520 4592004 27.485 9.705 4682005 27.962 9.873 4762006 28.413 10.033 484Fonte: Prefeitura Municipal de Americana, 2007.

As áreas de planejamento de número 02, 03 e 11 apresentaram um crescimento populacional

similar para o período de 2000-2006, oscilando entre 11% e 12%, dentro da média observada para o

município de Americana como um todo. Com um total aproximado de 38.446 pessoas vivendo na área

sul-sudoeste do Reservatório de Salto Grande, formada principalmente por residências térreas, chácaras

e casas de veraneio, vários são os impactos causados por esta ocupação, que contribuíram, segundo

Lopes et al. (2004, p.22), para o processo de eutrofização e contaminação do Reservatório.

O modelo digital de terreno (MDT), apresentado no mapa 5.2, pressupõe boas condições para

futuras ocupações, com extensas áreas sem grande variação altimétrica, o que denota grande

responsabilidade no planejamento das categorias de usos para o referido local, visando o

aproveitamento quantitativo e qualitativo da área.

262918

262918

265918

265918

268918

268918

271918

271918

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274918

7481

257

7481

257

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257

7484

257

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257

7487

257

7490

257

7490

257

LegendaHidrografia

Reservatório de Salto Grande

Altimetria(m)

627 - 652

601 - 627

576 - 601

550 - 576

525 - 550

499 - 525

Mapa 5.2 - Modelo Digital de Terreno (MDT) - Hidrografia - (2007)

®

0 500 1.000 1.500 2.000 Metros

Projeção: Universal Transversa de Mercator

SAD 1969Zona 23S

Fontes: Cartas Planialtimétricas IGC, 2002 - escala 1:10.000Interpretação Imagens EROS A, 2005

Levantamentos de Campo, 2007

Execução: Marcelo Fernando Fonseca, 2007.

Grupo de PesquisaGeotecnologias Aplicadas

à Gestão do Território

Instituto de Geociências

42

43

No modelo anterior, observa-se também a distribuição da hidrografia no entorno do

Reservatório de Salto Grande, e ressalta-se a importância de se disciplinar os usos da terra em suas

proximidades com base em suas prerrogativas ambientais. Isso se justifica pela já conhecida escassez

relativa da água na região, motivo inclusive pelo qual a instalação de alguns empreendimentos, como a

usina termelétrica de Carioba, prevista para ser construída em outra área do município de Americana,

foi severamente questionada pela sociedade civil, fato que levou a paralisação da iniciativa (CUNHA,

2006, p. 602).

Nas incursões de campo, ficou evidente o uso não apropriado da terra em trechos da margem do

Reservatório, o que pesquisas posteriores mostram ser este fato o resultado de uma não adequação à

legislação ambiental associada às práticas ilegais. Nas proximidades da orla da represa, permanece

ainda outro tipo de ocupação irregular que se encontra em desacordo com a lei que dispõe sobre o uso

da terra no município de Americana: a presença de motéis em áreas residenciais. Trata-se de um

conflito que constrange moradores locais, como comprovado em relatos dos residentes, e que denota

mudanças necessárias na adequação das normas de uso e ocupação deste fragmento de espaço.

Podemos dizer que a utilização de imagens de alta resolução espacial - como no caso das

imagens EROS - para fins de estudo do uso e ocupação da terra auxilia e reduz o tempo nas

observações de campo, já que permitem uma análise prévia do espaço a ser levantado, e permitem dar

uma atenção maior as discrepâncias identificadas previamente. Pela imagem, nota-se, por exemplo, a

presença de tonalidades diferentes em meio a uma área de vegetação natural, e ao fazer a verificação

em campo, constatou-se ser a área de um aterro, já em processo de desativação, muito próximo

inclusive do curso de água do rio Jaguari, já no limite norte da área de estudo.

Torna-se importante ressaltar que, se por um lado, a imagem nos permite identificar as

“rugosidades” do espaço geográfico, por outro, são os fatores políticos, econômicos, sociais e

ambientais que estão sempre no centro das decisões referentes à apropriação do espaço pela sociedade

e, por este motivo, são os propulsores das transformações espaciais. Como bem salienta Ganzeli (1995,

p. 134), ao afirmar que “se considerarmos as atividades econômicas, sejam elas urbanas, industriais ou

agrícolas, como as principais causadoras das transformações ambientais, a utilização e a exploração dos

recursos naturais pelos agentes econômicos podem ser consideradas como as principais causas de

degradação ambiental”, também a proposta de solução para um uso adequado da terra deve focar

44

justamente a organização destas atividades e o cumprimento de normas e diretrizes que devem

obrigatoriamente estar contempladas no Plano Diretor Municipal.

5.2 Uso da terra segundo o Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado

Após a identificação do atual uso e ocupação da terra no entorno do Reservatório, seguiu-se o

processo de confrontação com o estabelecido no PDDI municipal, segundo metodologia descrita no

item 4.4. Como referência, foi utilizada a Lei de nº 3.269, de 15 de Janeiro de 1999 – “Dispõe sobre o

Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado (PDDI) do Município de Americana”; a Lei de nº 3.271,

de 15 de Janeiro de 1999 – “Dispõe sobre o Uso e Ocupação do Solo no Município de Americana e dá

outras providências”; e o Plano de Desenvolvimento Pós-Represa – PDPR – 2004, material elaborado

pela Prefeitura Municipal de Americana, tratando especificamente das diretrizes de ocupação da área

que dá nome ao documento.

O mapa 5.3 apresenta a classificação das áreas de planejamento relacionadas à área de estudo,

dentro das macrozonas pré-estabelecidas pela legislação municipal:

Rio Jaguari

Rio Piracicaba

Córrego O

lho d´água

Rodovia Anhanguera

Avenida Nicolau João Abdalla

Rua Trê

s

Estrada Fazenda do Saltinho

Estra

da M

unic

ipal

Pra

ia A

zul

Avenid

a San

tino F

arao

neAvenida H

eitor S

iqueira

Estrada Nicolau João Abdalla

263089

263089

266089

266089

269089

269089

272089

272089

275089

2750897480

871

7480

871

7483

871

7483

871

7486

871

7486

871

7489

871

7489

871

Mapa 5.3 - Classificação das Áreas de Planejamento, Americana/SP - (1999)

LegendaVias de circulação

Gasoduto-Oleoduto

Rede Elétrica

Hidrografia

Zoneamento (PDDI)ZR1

ZR2

ZR3

ZU

AUC

ZRE

ZI1

ZI2

ZCS

APPA

®

0 500 1.000 1.500 2.000 Metros

Projeção: Universal Transversa de Mercator

SAD 1969Zona 23S

Fontes: Cartas Planialtimétricas IGC, 2002 - escala 1:10.000PDDI, 1999

Interpretação Imagens EROS A, 2005Levantamentos de Campo, 2007

Execução: Marcelo Fernando Fonseca, 2007.

Grupo de PesquisaGeotecnologias Aplicadas

à Gestão do Território

Instituto de Geociências

45

46

Destaca-se, no mapa em questão, a presença de 51 áreas classificadas como Área de Proteção e

Preservação Ambiental (APPA).

No caso específico da área do pós-represa, onde a classificação indicativa faz referência a uma

AUC (Área de Urbanização Controlada), utilizou-se também de forma complementar e como

comparação para o diagnóstico dos conflitos de uso da terra as informações provenientes do Plano de

Desenvolvimento Pós-Represa – PDPR – 2004, que indica as diretrizes de zoneamento para a área em

questão.

O mapa 5.3 serviu de referência para a confrontação com o mapa 5.1, objetivando a

identificação das inadequações e dos conflitos de uso da terra existentes na área de estudo e o

conseqüente diagnóstico apresentado neste trabalho.

5.3 Diagnóstico do uso da terra: adequações, inadequações e conflitos

A análise comparativa realizada entre o uso atual da terra no entorno do Reservatório de Salto

Grande (obtido através de mapeamento baseado nas cartas topográficas do IGC, imagens do satélite

EROS e complementadas com levantamentos de campo) e entre o zoneamento de uso da terra

estabelecido pelas Leis nº 3.269 e nº 3.271 (referentes ao PDDI municipal) e pelo PDPR (2004),

originou o mapa 5.4, que apresenta uma classificação para o diagnóstico do uso e ocupação da terra da

área de estudo, conforme as três categorias trabalhadas nesta pesquisa – Adequado, Inadequado e

Conflito:

Rio Jaguari

Rio Piracicaba

Córrego O

lho d´água

Rodovia Anhanguera

Avenida Nicolau João Abdalla

Rua Trê

s

Estrada Fazenda do Saltinho

Estra

da M

unic

ipal

Pra

ia A

zul

Avenid

a San

tino F

arao

neAvenida H

eitor S

iqueira

Estrada Nicolau João Abdalla

263027

263027

266027

266027

269027

269027

272027

272027

275027

2750277480

839

7480

839

7483

839

7483

839

7486

839

7486

839

7489

839

7489

839

Mapa 5.4 - Diagnóstico do uso e ocupação da terra no entorno do Reservatório de Salto Grande, Americana/SP - (2007)

LegendaVias de circulação

Gasoduto-Oleoduto

Rede Elétrica

Hidrografia

Corpos d´água

Uso Atual x Uso PrevistoAdequado

Inadequado

Conflito

®

0 500 1.000 1.500 2.000 Metros

Projeção: Universal Transversa de Mercator

SAD 1969Zona 23S

Fontes: Cartas Planialtimétricas IGC, 2002 - escala 1:10.000PDDI, 1999

Interpretação Imagens EROS A, 2005Levantamentos de Campo, 2007

Execução: Marcelo Fernando Fonseca, 2007.

Grupo de PesquisaGeotecnologias Aplicadas

à Gestão do Território

Instituto de Geociências

47

48

A categoria “uso inadequado” ocupa cerca de 34 km2 da área de estudo, o que implica em 51,16

% do total, o que é facilmente verificado na representação espacial presente no mapa 5.4. O predomínio

desta categoria se estende sobretudo na área do pós-represa, e a tabela 5.3 apresenta uma síntese destes

resultados:

Tabela 5.3 – Diagnóstico do uso da terra no entorno do Reservatório de Salto Grande

Classificação quanto ao uso Área (km2) % Adequado 26,11 38,81 Inadequado 34,42 51,16 Conflito 6,75 10,03 Total 67,28 100,00

As áreas classificadas como uso inadequado e em conflito, quando agrupadas, representam

61,19% do total, valor significativo e que merece atenção, já que a condição de inadequado pode vir a

se tornar uma situação de conflito futuro. O gráfico 5.2 ilustra os resultados obtidos:

Gráfico 5.2 – Uso atual x uso previsto no entorno do Reservatório

É possível observar, através da distribuição espacial das categorias mapeadas, que as áreas

consideradas adequadas quanto ao uso e ocupação da terra, ou seja, aquelas em que o uso atual da terra

é compatível com o definido no PDDI municipal e legislações específicas aplicáveis, encontram-se

10,03%

51,16%

38,81%

Adequado Inadequado Conflito

49

localizadas predominantemente no sudoeste do Reservatório, justamente onde está concentrada a maior

parte da população alocada na região (área de planejamento número 02), e que se constitui em área

urbana consolidada.

Já as áreas inadequadas encontram-se espacialmente localizadas predominantemente no pós-

represa e nas áreas ao sul-sudeste do Reservatório, onde a área dominada pela cana-de-açúcar encontra-

se provisoriamente em desacordo com o estabelecido no PDDI. Esta situação não foi aqui considerada

como um conflito, e sim como uma inadequação, justamente pela possibilidade de se configurar como

uma situação transitória/provisória, já que no futuro a área pode vir a ser ocupada com o que está

definido em lei. A foto 5.3 apresenta uma área com estas características:

Foto 5.3 – Extensa área no pós-represa ocupada pela cana-de-açúcar, em 2007.

Fonte: Cruz e Fonseca, Julho de 2007.

Já não é o que ocorre com os conflitos de uso diagnosticados a partir do mapa originado: estes

estão predominantemente relacionados às áreas de proteção e preservação ambiental, as APPAs. Os

conflitos identificados, caracterizados como uma situação de irregularidade e desagravo ao estabelecido

em legislação em relação ao uso atual e futuro, concentram-se, sobretudo, nas áreas de proteção

destinadas às nascentes, matas ciliares e fragmentos de vegetação nativa existentes no local. A foto 5.4

apresenta uma área em que o conflito de uso se caracteriza:

50

Foto 5.4 – Área de solo exposto avançando sobre APPA, em 2007.

Fonte: Cruz e Fonseca, Julho de 2007.

Realizou-se também um detalhamento sobre as condições de uso definidas como “uso

inadequado” e “uso em conflito”. As tabelas 5.4 e 5.5 apresentam a compilação destas informações,

referentes às respectivas condições:

Tabela 5.4 - Síntese da condição de “uso inadequado”

Uso Previsto Uso Atual % AUC Cana-de-açúcar 58,90ZR1 Cana-de-açúcar 9,20ZU Cana-de-açúcar 7,36AUC Pastagem 4,28AUC Vegetação Natural 3,80ZR1 Pastagem 2,70ZU Pastagem 1,97AUC Citrus 1,88ZR3 Pastagem 1,81ZR1 Vegetação Natural 1,74ZRE Pastagem 1,42ZU Vegetação Natural 1,11ZI2 Cultura Anual 0,97

51

Uso Previsto Uso Atual % ZI2 Pastagem 0,85ZR3 Vegetação Natural 0,45ZI2 Eucalipto 0,25AUC Fruticultura perene 0,24AUC Cultura Anual 0,22ZI2 Vegetação Natural 0,22ZI2 Cana-de-açúcar 0,17ZU Fruticultura perene 0,17ZR3 Cana-de-açúcar 0,14ZCS Pastagem 0,07ZRE Vegetação Natural 0,05ZI1 Eucalipto 0,02ZR2 Pastagem 0,01Total 100,00

Tabela 5.5 - Síntese da condição de “uso em conflito”

Uso Previsto Uso Atual % APPA Cana-de-açúcar 38,75APPA Urbano consolidado 20,40APPA Pastagem 18,44APPA Urbano em consolidação 11,47ZI2 Urbano em consolidação 3,60AUC Mineração 3,03APPA Cultura Anual 1,38APPA Industrial 1,32APPA Citrus 0,73APPA Mineração 0,53APPA Eucalipto 0,33APPA Comércio e Serviços 0,01APPA Fruticultura perene 0,01Total 100

A tabela 5.4 indica que a cultura da cana-de-açúcar responde por 75,77% da condição de uso

inadequado da terra no entorno do Reservatório, frente ao que hoje está estabelecido no PDDI

municipal. A maior parte (58,90%) encontra-se na zona de uso da terra definida como AUC (Área de

Urbanização Controlada) pela Lei nº 3.271; mas há também inadequações na zona ZR1 (9,20%), ZU

(7,36%), ZI2 (0,17%) e ZR3 (0,14%).

Embora a cana-de-açúcar represente atualmente um mercado importante dentro da economia

brasileira, com a crescente demanda pelo combustível gerada pela ampliação da frota de veículos flex,

52

além do próprio açúcar como produto de exportação, e da geração de energia elétrica, alguns impactos

ambientais acabam sendo extremamente relevantes e necessitam ser avaliados.

Segundo Ometto et al. (2005), os impactos causados pela cana-de-açúcar vão desde a formação

de ozônio troposférico, através das queimadas, até a acidificação do solo e da água e a conseqüente

possibilidade da toxicidade humana, que são impactos que podem afetar o ambiente em escala local e

regional. As queimadas, embora proibidas por lei, ainda são práticas adotadas na região do pós-represa;

além de liberar gás carbônico, ozônio, gases de nitrogênio e de enxofre e liberar fuligem, ainda

provocam perdas significativas de nutrientes para as plantas e facilitam o aparecimento de ervas

daninhas e da erosão, devido a redução da proteção do solo.

Sendo assim, é importante avaliar os impactos que este tipo de uso vêm causando sobretudo nas

áreas urbanas já consolidadas ou em consolidação, e no entorno do Reservatório, e aplicar, nos casos

necessários, as diretrizes estabelecidas no PDDI, visando uma adequação no uso da terra e o

cumprimento da referida legislação.

Também se considera pertinente avaliar a magnitude dos impactos que uma mudança de uso

pode gerar, já que se deposita, essencialmente sobre as áreas inadequadas com o plantio de cana-de-

açúcar localizadas na AUC, a prerrogativa de área de expansão urbana industrial, residencial e

comercial.

Mais uma vez, frisa-se que os usos classificados como inadequados devem ser vistos com a

ressalva de que podem possuir “status” de provisório / temporário / transitório, e por isso mesmo não

assumem, neste estudo, a condição de uso conflitante, os quais são comentados na seqüência.

A tabela 5.5, que traz a síntese da condição de “uso em conflito”, revela que as Áreas de

Proteção e Preservação Ambiental são as mais suscetíveis em relação à ação antrópica, estando cada

vez mais vulneráveis mesmo com instrumentos normativos que estabelecem sua manutenção.

Mais uma vez, a cana-de-açúcar representa 38,75% dos conflitos quando comparados o uso

atual com o uso previsto no PDDI. Porém, áreas urbanas consolidadas também tem um percentual

significativo dentro do valor global dos conflitos em relação à ocupação de áreas que deveriam ser

destinadas as APPAs, representando cerca de 20,40%. Quando consideradas as áreas urbanas

consolidadas e as áreas em consolidação, este mesmo percentual salta para 31,87%.

Os demais usos classificados como “uso em conflito” dizem respeito a presença atual de área

urbana em consolidação em ZI2 (3,60%) e de atividade mineradora em AUC (3,03%); todos os demais

53

conflitos, conforme mostra a tabela 5.5, envolvem áreas destinadas às APPAs e que hoje estão

ocupadas por usos não conformes, em descumprimento às legislações já citadas.

Na seqüência, são ilustradas algumas das situações de conflitos diagnosticadas através deste

trabalho. A foto 5.5 apresenta uma área com cultivo de cana-de-açúcar estendendo-se até praticamente

às margens do Reservatório de Salto Grande, ao fundo.

Foto 5.5 – Área de cultivo da cana-de-açúcar em situação de conflito, em 2007.

Fonte: Cruz e Fonseca, Julho de 2007.

As fotos 5.6 e 5.7 apresentam, respectivamente, conflitos identificados em perímetro urbano e

em área de mineração, já no início da área denominada de pós-represa:

54

Foto 5.6 – Em primeiro plano, área de APPA afetada por ações antrópicas;

ao fundo, área urbana que se expande no entorno do Reservatório, em 2007.

Fonte: Cruz e Fonseca, Julho de 2007.

Foto 5.7 – Área com atividade de mineração, em 2007.

Fonte: Cruz e Fonseca, Julho de 2007.

55

O diagnóstico aqui apresentado suscita um questionamento natural em relação a uma

necessidade de reflexão frente ao Plano Diretor municipal como instrumento legal de gestão das

cidades e seu cumprimento; efetivamente, a sua existência não tem sido capaz de garantir um

aproveitamento sustentável da área, o que torna evidente as falhas e equívocos nas ações do poder

público e do gestor municipal.

5.4 O novo PDDI

No ano de 2006 iniciaram-se as discussões políticas e as audiências públicas para a

reformulação do Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado do município de Americana. Foi

montada uma Comissão Especial de Estudos sobre o PDDI, objetivando definir metas para o

desenvolvimento dos trabalhos. As novas definições seguem ainda um processo burocrático de

tramitação na Câmara Prefeitura Municipal para a real entrada em vigor das novas diretrizes

relacionadas ao planejamento e gestão territorial do município.

No que tange a área no entorno do Reservatório de Salto Grande, foco desta pesquisa, cabe uma

importante observação quanto à área do pós-represa: estudos técnicos foram e estão sendo realizados,

já que o zoneamento da área ainda não está definido no novo PDDI. O Plano define apenas áreas de

interesse no local, como residencial, industrial, de preservação ambiental e turístico, prevendo a

obrigatoriedade de que o poder público municipal realize um estudo técnico minucioso sobre o local,

sendo o prazo para isso de até 8 (oito) meses após a aprovação do PDDI pela Câmara. Desta forma, o

zoneamento da área será definido através de projeto complementar (JORNAL “O LIBERAL”,

13/11/2007).

Espera-se que este zoneamento contemple todas as necessidades da população e possibilite a

participação desta em todas as etapas de execução, considerando-se os vários aspectos que envolvem a

gestão territorial. Cita-se um caso particular deste estudo para reforçar a importância de se englobar

todos os fatores e condicionantes sócio-ambientais no novo PDDI municipal: na região do pós-represa,

já pela análise prévia da imagem, observa-se a presença de algumas construções em meio à densa

ocupação de cana-de-açúcar. A investigação geográfica, aliada ao levantamento de campo, nos

conduziu a informação de que estas construções fazem parte de uma comunidade denominada

“Sobrado Velho”, que foi oficialmente decretada como patrimônio histórico do município dias antes de

nossa visita. Trata-se de uma colônia rural, última remanescente das vilas rurais que existiram no

56

município entre o início do século passado e o período de intensa industrialização americanense a partir

dos anos 1970 (JORNAL “O LIBERAL”, 26/07/2007). Talvez a melhor definição para este lugar seja a

de uma “localidade que se opõe à globalidade, mas também se confunde com ela” (SANTOS, 1997, p.

258). Em meio a tantas prerrogativas de “progresso” propostas para a área, como a instalação de novas

áreas industriais e residenciais, preservar este fragmento de espaço pode ser importante para manter

viva um pouco da história e da identificação dos munícipes com a sua própria origem. A foto 5.8

apresenta a área do Sobrado Velho:

Foto 5.8 – Construções tombadas como patrimônio histórico do município, em 2007.

Fonte: Cruz e Fonseca, Julho de 2007.

A forma como vêm sendo discutida a ocupação da área do pós-represa é preocupante; noticiado

pela mídia local em algumas oportunidades, nota-se, por um lado, a adoção de uma visão extremamente

econômica para o local, como no fato de membros da comissão de estudos que propõe a inclusão de

faixas de 500 metros de cada lado da estrada que liga Americana à Paulínia, a serem destinadas à

implantação de distritos industriais, comerciais e de serviços (INFORMATIVO ACIA, 29/08/2007).

Entende-se que os impactos que este “corredor” de serviços pode ocasionar na região precisam ser

57

devidamente quantificados antes de qualquer decisão a respeito, e discutidos de forma aberta com a

população, até mesmo em virtude da ligação com o pólo petroquímico de Paulínia que, se por um lado,

poderia hipoteticamente atrair indústrias do segmento para a área gerando empregos e divisas para o

município, por outro pode vir a causar fortes impactos ambientais em um sistema antrópico já

debilitado e ainda carente sob o ponto de vista social.

Além disso, destaca-se a preocupação com as APPAs que existem no local e que devem ser

preservadas, não só por força da lei, mas em vista da necessidade de se extrair e utilizar os recursos ali

existentes. Aqui remetemos novamente uma observação crítica em virtude das constatações realizadas

através dos levantamentos de campo, que mostraram que, atualmente, as nascentes não estão sendo

protegidas, ao contrário, encontram-se em processo de degradação em virtude da pressão exercida pelas

áreas urbanas já consolidadas ou em consolidação. Mais uma constatação negativa em relação aos

recursos hídricos, já que sabendo da escassez relativa da água que assola a Região Metropolitana de

Campinas, e da péssima qualidade de alguns importantes mananciais, é fato que não se pode ignorar a

importância do Reservatório de Salto Grande e de todos os demais corpos d’água presentes na sub-

bacia do rio Atibaia, o que evidencia claramente que a preocupação com este sistema antrópico não

pode ficar restrita somente ao município de Americana.

58

6. CONCLUSÕES

Com base no que foi diagnosticado, observa-se que a maior parte das inadequações quanto ao

uso da terra no entorno do Reservatório de Salto Grande está relacionado à presença da cana-de-açúcar

em locais destinados à ocupação urbana do tipo industrial, residencial e de comércio e serviços. Já os

conflitos também envolvem o avanço ilegal desta cultura agrícola, das pastagens e das áreas urbanas

sobre as Áreas de Proteção e Preservação Ambiental (APPAs), com o processo de ocupação e

degradação de nascentes, matas ciliares e fragmentos de vegetação nativa.

Em trabalhos anteriores realizados para a área do Reservatório, as não conformidades com as

leis de uso e ocupação já eram citadas, como em Lopes et al. (2004, p.25), na afirmação de que

“problemas referentes ao cumprimento das leis de uso e ocupação do solo (Leis 3.269/99 e 3.271/99)

são visíveis, como nas ocupações feitas pelas áreas de cultivo no entorno do Reservatório”. No

desenvolvimento deste trabalho, observa-se uma clara tendência de manutenção e agravamento desta

situação.

Espécies como o jequitibá-rosa, imbaúba, ipê e jacarandá (CAMARGO, 1988) e como o

cajueiro-do-campo, angelim, peroba-do-campo e copaíba (SMA, 1997), encontradas originalmente na

área, se tornaram ao longo do tempo alvos constantes de ações predatórias e são cada vez mais raros

seus exemplares na região.

A destruição da faixa de vegetação que acompanha os corpos d’água acarreta inúmeros

problemas, podendo afetar a qualidade da água, o ciclo de secas e cheias de rios e corpos d’água, a

geração, conservação e recuperação de solos férteis, a dispersão de poluentes e o controle de pragas

(EMBRAPA, 2007). Em alguns casos, nas margens do Reservatório de Salto Grande, é flagrante o não

cumprimento da legislação ambiental e das leis orgânicas do município, no tocante a restituição do

passivo ambiental, que está incondicionalmente associado à propriedade.

Ao percorrer a área de estudo por via terrestre, foi possível não somente esclarecer dúvidas

quanto a alguns itens previamente mapeados, mas, sobretudo, observar o avanço da área urbana no

entorno do Reservatório de Salto Grande, e a intensificação do uso antrópico em áreas já consolidadas,

que está associada à degradação ambiental causada pelo uso impróprio da terra e dos recursos naturais,

provocando danos de grande proporção ambiental e econômica, cuja recuperação depende de um

planejamento eficaz, integrado e de viabilidade comprovada. Acredita-se que só é possível atingir este

objetivo através da normatização e da participação coletiva no gerenciamento dos recursos naturais.

59

Como bem coloca Teixeira (2000, p. 118), quando se refere à atuação das Universidades nos chamados

Comitês de Bacias dos Recursos Hídricos, “a Universidade deve sair a campo para conhecer os

problemas e também para difundir o conhecimento junto à população”. A mobilização deve e precisa

ser estendida aos diversos atores sociais, desde órgãos públicos e privados, ONGs, até membros

representativos da comunidade, originando discussões e incentivando a busca de soluções.

As análises realizadas também indicaram que as APPAs sofrem um processo de degradação

acelerada em áreas já urbanizadas ou naquelas em que a demanda por novos lotes e condomínios

residenciais começa a ser ampliada. São, portanto, as áreas mais suscetíveis a este processo, e sua

vulnerabilidade está espacialmente distribuída por toda a área de estudo. O desrespeito à legislação

atual e a falta de fiscalização por parte de órgãos competentes agrava ainda mais a situação. Assim, é

fundamental reforçar a importância do papel do gestor municipal, que deve zelar pela aplicação dos

instrumentos de gestão, como o Plano Diretor Municipal.

Este quadro é preocupante quando unimos a estes resultados os dados de degradação atual da

qualidade da água do próprio Reservatório, constatada em diversos estudos realizados nos últimos anos

(ESPÍNDOLA et al., 2004). Sob este aspecto, é flagrante a influência da degradação provocada pelos

municípios pertencentes à bacia hidrográfica do rio Piracicaba, que despejam no Atibaia um enorme

conglomerado de esgotos doméstico e industrial contendo substâncias que causam contaminação e que

se acumulam nos limites do Reservatório.

Isso faz com que a questão hídrica envolvendo os municípios pertencentes à Região

Metropolitana de Campinas torne-se a cada dia mais complexa. Como bem salientam Carmo e Hogan

(2006, p. 585):

Os conflitos entre diferentes demandas por recursos ambientais, como a demanda por água,

pode ser um fator capaz de reforçar a idéia da necessidade de um planejamento regional. Um

planejamento que seja capaz de contemporizar o uso e ocupação do solo, de direcionar os

vetores de expansão econômica e influenciar o processo de distribuição espacial da

população e das atividades econômicas.

Se não houver uma real mudança na estratégia nas ações de planejamento para esta área, sob o

ponto de vista municipal e regional, a tendência é de agravamento desta situação, já que o uso da terra

atual tende a privilegiar os atores econômicos em detrimento dos interesses sociais e ambientais.

60

Avaliando-se esta perspectiva, ressalta-se a extrema importância de se conduzir o planejamento

e a gestão da área com o envolvimento de profissionais com formações complementares, como no caso

de arquitetos, urbanistas, geógrafos, biólogos, cientistas sociais, entre outros. A demanda pelo

envolvimento destes profissionais se faz necessária pela complexidade que envolve o espaço

geográfico e seus elementos constituintes e pelas inúmeras inadequações e conflitos de uso que se

fazem presente no local.

Em pesquisa realizada com a população usuária do Reservatório de Salto Grande, através de

uma pequena amostragem, Tonissi et al. (2004, p. 371), enumeraram os principais problemas

percebidos pelos entrevistados em relação ao Reservatório: presença de aguapés, poluição da água,

sujeira ou lixo, falta de saneamento básico, prostituição, presença de insetos, mau cheiro, drogas,

excesso de mato nas margens, proibição de sons nos quiosques, abandono e descaso das autoridades,

falta de asfalto, assoreamento, falta de mata ciliar, risco de doenças, presença de marginais, falta de

policiamento, falta de banheiros públicos, falta de manutenção das áreas de lazer e peixes doentes

foram itens citados. Percebe-se, claramente, que alguns destes problemas permanecem sem a devida

solução, e os resultados encontrados neste trabalho reforçam que o uso predominantemente inadequado

e conflitante da terra no entorno do Reservatório age como mola propulsora destes problemas que

afligem, sobretudo, freqüentadores e moradores locais.

Por outro lado, cabe ainda destacar uma iniciativa positiva por parte do poder público

municipal: a recuperação ambiental e encerramento do vazadouro de resíduos sólidos, na região do

pós-represa. O início das atividades se deu em janeiro de 2007, e o término está previsto para outubro

de 2011. Provavelmente, o uso desta área para outros fins, através da adequação a parâmetros

ambientais e sociais de utilização, deve levar muito mais tempo; é mais um fato que ressalta a

importância das conseqüências das decisões tomadas pelos planejadores. Ainda em relação à área

denominada de pós-represa, recomenda-se uma ampla discussão envolvendo parâmetros sócio-

ambientais para sua ocupação; avaliar os impactos já causados pela ocupação parcial da área deve ser o

ponto de partida para se identificar as necessidades de proteção de áreas de preservação e proteção

ambiental, recuperação de solos comprometidos e manutenção de áreas históricas. É necessário clareza

de que qualquer tipo de ocupação acarretará em maior pressão sobre o meio e entorno do reservatório e,

desta forma, necessita vir acompanhada de medidas mitigadoras associadas, impostas pelo poder

público e fiscalizadas em conjunto pelas organizações civis e pela própria comunidade.

61

Em relação ao uso das geotecnologias nesta pesquisa, o avanço tecnológico, gerador de imagens

de resolução espacial cada vez mais refinadas beneficia, sem dúvida nenhuma, o estudo do espaço

geográfico em larga escala, ampliando ainda mais as possibilidades dos pesquisadores, mas é evidente

que não se deve incorrer no erro de imaginar que a questão técnica isoladamente resolverá os

problemas que hoje se apresentam no âmbito espacial. Ou como afirma Matias (2004, p.6):

O advento das chamadas geotecnologias (o que inclui Cartografia Digital, Sensoriamento

Remoto, Sistema de Posicionamento Global - GPS, Sistema de Informações Geográficas -

SIG) se enquadra nesse contexto à medida que fazem parte da tendência de construção de

uma infra-estrutura voltada para aquisição, processamento e análise de informações sobre o

espaço geográfico que busca racionalizar o processo de tomada de decisão. Nas condições

sociais e econômicas do mundo atual, faz-se necessário decidir de forma correta e no menor

tempo possível, aliando eficiência e eficácia.

Assim, descarta-se por completo o simples “uso da técnica pela técnica”. Reforça-se o seu uso

dentro do campo científico da Geografia como algo que vem a somar, e que pode revelar aspectos que

nos ajudam a entender a complexidade dos conflitos e auxiliam a tomada de decisões nos processos de

gestão. Processos estes que necessitam ser aprimorados na área de estudo, pois como bem observa

Bueno et al. (2002, p. 390), a aparente organização e qualidade da estrutura urbana da área central de

Campinas, Valinhos, Vinhedo, Paulínia ou Americana – cidades pertencentes à RMC -, com avenidas

amplas e arborizadas, áreas verdes, prédios públicos de qualidade, escamoteiam a existência de uma

periferia distante em que se alinham conjuntos habitacionais, loteamentos precários, glebas vazias e

favelas em fundos de vale, beira de córrego, ocupações sem infra-estrutura, demonstrando a

incapacidade ou mesmo a conivência dos poderes locais para com uma distribuição mais homogênea da

qualidade de vida no território do município.

A existência de interesses econômicos e a constatação do uso predominantemente inadequado

da terra no entorno do Reservatório, fatores condicionantes da configuração espacial local, conduzem

também a reflexões voltadas para a questão do espaço geográfico, este “sistema indissociável de

objetos e ações” (SANTOS, 1997) tão heterogêneo em suas “formas”, como em seu “conteúdo”.

Compartilha-se da idéia de Castillo (2001, p.181):

62

Numa sociedade de classes, o espaço geográfico tende a ser construído de acordo com os

projetos dos agentes hegemônicos da economia e da política, comprometendo, assim, as

possibilidades do exercício da cidadania para a maior parcela da sociedade. O espaço

geográfico torna-se uma instância de reprodução da desigualdade.

É singular o fato de que a comunidade local não desfruta ou usufrui os recursos que a área do

Reservatório e toda a dinâmica do ecossistema poderia gerar, evidenciada pela falta de uma gestão

adequada para a área; praticamente inexiste uma infra-estrutura voltada para o lazer ou para o turismo

local, que poderia significar, entre outras coisas, uma fonte de renda extra para muitas famílias alocadas

nas proximidades do Reservatório.

Ao invés disso, noticiado pela mídia local e verificado oportunamente nas incursões de campo,

observa-se a atuação dos chamados “empreendedores” na articulação de ações que visam somente a

especulação imobiliária, restringindo cada vez mais o uso do espaço, como através da construção de

condomínios fechados em grandes áreas nas proximidades do Reservatório, referenciando o valor da

terra a um discurso de “qualidade de vida” supostamente verídico.

As proposições levantadas durante o desenvolvimento do trabalho reforçam a idéia da

contradição na apropriação do espaço geográfico, tão presente em estudos desta natureza; os resultados

obtidos evidenciam a importância de se adotar critérios sócio-ambientais para a adequação do uso e

ocupação da terra no entorno do Reservatório de Salto Grande, em Americana, empreendendo uma

visão multidisciplinar, buscando, sobretudo, a conformação de um espaço geográfico constituído

segundo os interesses coletivos.

63

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