geografia fÍsica e a questÃo ambiental no brasil

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GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 23, pp. 77 - 98, 2008 GEOGRAFIA FÍSICA E A QUESTÃO AMBIENTAL NO BRASIL Marcos Barros de Souza* Zilda de Fátima Mariano** *Doutorando em Geografia Física pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia Física do Departamento de Geografia da FFLCH/USP. E-mail: [email protected] **Professora Doutora do Departamento de Geografia da Universidade Federal de Goiás, campus de Jataí. E-mail: [email protected] RESUMO: Este trabalho visa mostrar o panorama da Geografia Física no Brasil e a necessidade de conscientização acerca da questão ambiental. As transformações ambientais no cenário brasileiro demonstram a necessidade de delinear o posicionamento da Geografia Física em relação às mudanças ambientais que ocorrem envolvendo mudanças setoriais nos elementos ar, água, terra e seres vivos, que vão se mesclando em análises, tratando das interações entre a atmosfera, a hidrosfera, os solos, a vegetação e as atividades humanas. Entre as décadas de setenta e de oitenta do século XX iniciou-se conscientização da população em relação às agressões que vinham se multiplicando no Brasil contra a natureza e aos níveis insatisfatórios da qualidade ambiental, demonstrando a necessidade de reagir e compreender as causas e os mecanismos dos desequilíbrios. É importante entender o processo de formação do território brasileiro e suas principais características, para implementar, de forma adequada, o planejamento e a gestão ambiental. PALAVRAS-CHAVE: Geografia; Geografia física; Questão ambiental; Qualidade ambiental. ABSTRACT: This work aims to show the Physical Geography panorama in Brazil and the necessity of awareness concerning the environment. The environmental transformations in the Brazilian scene show the necessity to delineate the positioning of the Physical Geography regarding occurring environmental changes involving sectorial changes in the elements air, water, land and living creatures, which go merging in analyses, dealing with the interactions between the atmosphere, hydrosphere, soils, vegetations and human activities. Between the decades seventies and eighties of the 20th century it began a process of awareness of the population regarding the multiplying aggressions in Brazil against nature and the unsatisfactory levels of environmental quality, showing thus the necessity to react and understand the causes and mechanisms of unbalance. It is important to understand the process of formation of the Brazilian territory and its main characteristics, to implement in an adequate form, the planning and environmental management. KEY WORDS: Geography; Physical geography; Environmental issue; Environmental quality. Introdução A questão ambiental é uma temática que vem sendo discutida nas últimas décadas por pesquisadores preocupados com as transformações ocorridas no meio físico do planeta. Os pesquisadores que trabalham no ramo do conhecimento da Geografia Física têm apresentado resultados significativos ao discutirem a questão ambiental e as transformações ocorridas.

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Page 1: GEOGRAFIA FÍSICA E A QUESTÃO AMBIENTAL NO BRASIL

GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 23, pp. 77 - 98, 2008

GEOGRAFIA FÍSICA E A QUESTÃO AMBIENTAL NO BRASIL

Marcos Barros de Souza*Zilda de Fátima Mariano**

*Doutorando em Geografia Física pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia Física do Departamento de Geografia da FFLCH/USP.E-mail: [email protected]

**Professora Doutora do Departamento de Geografia da Universidade Federal de Goiás, campus de Jataí.E-mail: [email protected]

RESUMO:Este trabalho visa mostrar o panorama da Geografia Física no Brasil e a necessidade deconscientização acerca da questão ambiental. As transformações ambientais no cenário brasileirodemonstram a necessidade de delinear o posicionamento da Geografia Física em relação àsmudanças ambientais que ocorrem envolvendo mudanças setoriais nos elementos ar, água, terrae seres vivos, que vão se mesclando em análises, tratando das interações entre a atmosfera, ahidrosfera, os solos, a vegetação e as atividades humanas. Entre as décadas de setenta e deoitenta do século XX iniciou-se conscientização da população em relação às agressões que vinhamse multiplicando no Brasil contra a natureza e aos níveis insatisfatórios da qualidade ambiental,demonstrando a necessidade de reagir e compreender as causas e os mecanismos dosdesequilíbrios. É importante entender o processo de formação do território brasileiro e suas principaiscaracterísticas, para implementar, de forma adequada, o planejamento e a gestão ambiental.PALAVRAS-CHAVE:Geografia; Geografia física; Questão ambiental; Qualidade ambiental.

ABSTRACT:This work aims to show the Physical Geography panorama in Brazil and the necessity of awarenessconcerning the environment. The environmental transformations in the Brazilian scene show thenecessity to delineate the positioning of the Physical Geography regarding occurring environmentalchanges involving sectorial changes in the elements air, water, land and living creatures, which gomerging in analyses, dealing with the interactions between the atmosphere, hydrosphere, soils,vegetations and human activities. Between the decades seventies and eighties of the 20th centuryit began a process of awareness of the population regarding the multiplying aggressions in Brazilagainst nature and the unsatisfactory levels of environmental quality, showing thus the necessityto react and understand the causes and mechanisms of unbalance. It is important to understandthe process of formation of the Brazilian territory and its main characteristics, to implement in anadequate form, the planning and environmental management.KEY WORDS:Geography; Physical geography; Environmental issue; Environmental quality.

Introdução

A questão ambiental é uma temáticaque vem sendo d iscut ida nas úl t imasdécadas por pesquisadores preocupadoscom as transformações ocorridas no meio

físico do p laneta. Os pesquisadores quet rabalham no ramo do conhecimento daGeografia Física têm apresentado resultadoss igni f i cat ivos ao d is cut i r em a ques tãoambiental e as transformações ocorridas.

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Christofolett i (1995) realizou umembasamento conceitual e elaborou esboços detransformações ambientais no cenário brasileiroao delinear o posicionamento da Geografia Físicaem relação às mudanças ambientais. Nasmudanças ambientais o autor relata astransformações que ocorrem na superfícieterrestre, que envolvem mudanças setoriais noselementos ar, água, terra e seres vivos. Noquadro das transformações ambientais, relataas alterações setoriais (climáticas, hidrológicas,geomorfológicas, biogeográficas, dentre outras)que vão se mesclando em análises tratando dasinterações entre a atmosfera, a hidrosfera, ossolos, a vegetação e as atividades humanas.

Segundo Gonçalves (1995, p. 309), “acrescente conscientização acerca da questãoambiental vem possibilitando o ressurgimentoda velha utopia dos geógrafos de promover atão propalada abordagem da síntese da relaçãohomem-meio”. Essa separação entre o naturale o sócio-histórico é consagrada na divisão dotrabalho científico dominante. A partir do séculoXIX, as ciências do homem e as da naturezatomaram caminhos próprios, ignorando-se entreelas. Porém a Geografia ficou sem uma posição,não se definindo como natural ou social. Essadicotomia, entretanto, foi reproduzidainternamente entre os geógrafos, denominandoa Geografia como ciência natural (GeografiaFísica) e ciência humana (Geografia Humana).

Considerando que os problemasambientais não são exclusivamente de ordemnatural, cultural ou histórica, é importante quea questão ambiental seja tratada com aprofundidade por ela requerida.

Aspectos teóricos da Geografia noBrasil

De acordo com Mendonça (1989, p. 11)“os aspectos teóricos da Geografia enquantociência têm constituído temática de discussãode inúmeros colóquios, seminários, mesasredondas, congressos, etc.”, sendo que “égrande o número de autores que escreveram e

publicaram obras sobre essa temática”. Porém,a maior parte das publicações é de autoria degeógrafos ligados, principalmente, à áreahumana/social da Geografia, tratando osaspectos ligados à Geografia Física de maneiramuito superficial. Segundo o autor, isto pode terocorr ido principalmente pela falta de umintercâmbio entre os geógrafos da área humanae os da área física.

As primeiras tentativas de repensar aGeografia que tem sido feita no Brasil foramrealizadas por Sodré (1976), Andrade (1977,1987) e Monteiro (1980).

Sodré (1976) realizou um estudo críticoda evolução da Geografia, enfatizando asdiversas influências por ela sofridas através dosséculos, desde os gregos até a década desetenta do século XX. O autor, no prefácio desua obra, fez observações sobre a Geografiano Brasil, que ocorreu desde os tempos dasviagens de descobrimento, sendo que nesseperíodo era anotada grande parte dasinformações sobre etnografia, flora, fauna,geologia e climatologia do Brasil. As informaçõescolhidas eram, porém, recolhidas aos arquivos,principalmente do Instituto Histórico eGeográfico Brasileiro. No final do século XIXsurgem às primeiras publicações dedicadasespecialmente à Geografia, como a Revista doInstituto Histórico e Geográfico Brasileiro, aRevista da Sociedade de Geografia do Rio deJaneiro e o Boletim Geográfico, sendo estasduas últimas editadas pelo Conselho Nacionalde Geografia.

A fundação do Instituto Brasileiro deGeografia e Estatística, ocorrida em 1937, comdois Conselhos (o de Geografia e o deEstatística), complementava o avanço do ensinode Geografia nas Faculdades de Fi losofia,Ciências e Letras, principalmente na Faculdadede Filosofia, Letras e Ciências Humanas daUniversidade de São Paulo, fundada em 1934.O Conselho Nacional de Geografia contou comum expressivo número de geógrafos brasileiros,sendo alguns de grande valor, além degeógrafos estrangeiros, dentre os quais Léo

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Waibel (1888-1951). A Universidade de SãoPaulo também contratou professoresestrangeiros, com destaque para Pierre Monbeig(1908-1987), Emmanuel De Martonne (1873-1955), dentre outros, para desenvolver a escola“brasileira” de Geografia.

Os pesquisadores estrangeiros,juntamente com os já qualificadospesquisadores brasileiros, “deram à Geografia,no Brasil, particularmente sob a égide doConselho Nacional de Geografia, grandeimpulso” (Sodré, 1976, p. 11). Entretanto, talperíodo foi de curta duração. “Por força decondições gerais, ligadas à estrutura política doPaís, multiplicadas por direções ineptas, ocorreua dispersão dos geógrafos agrupados naqueleConselho, enquanto a estrutura universitária,de outra parte, entrava em deterioração”(Sodré, 1976, p. 11).

Sodré (1976, p. 11) conclui que,

“A Geografia, no Brasil, na realidade apresentauns poucos valores individuais, na maior parteremanescentes ainda daquele período melhor.No mais, resume-se às atividades didáticas,modeladas por programas obsoletos. Tudo muitodistante daquela definição de geógrafo que,calcada em outro, de campo diverso, dizia assim:‘Geógrafo é aquele que traduz, segundo oproblema concreto apresentado, pela utilizaçãoadequada de seus métodos e técnicas, osvalores que a realidade apresenta, tornando asociedade consciente do que dispõe’”.

Andrade (1977) fez um relato daevolução do pensamento geográfico e suarepercussão no Brasil na primeira metade doséculo XX. O autor relata que nos primeiros anosdo século XX surgiram no Brasil trabalhos dealto interesse geográfico. Foi com Delgado deCarvalho (nascido e formado na França, porémnão era um geógrafo de formação, masdiplomado em Ciência Política) que se iniciou aimplantação do pensamento geográfico no país,profundamente marcado pela influência daescola francesa, embora lutando com condiçõesbem diversas, uma vez que não se dispunha deum conhecimento da realidade brasileira ao nível

do conhecimento da realidade francesa, dedados básicos sobre condições naturais esociais, de informações estatísticas, dentreoutras. Além do que, sendo a Geografia apenasuma matéria ensinada no nível secundário e nãouniversitário, era colocada em segundo plano,dificultando o acesso aos meios necessários àspesquisas, ou seja, não havia apoio ouobrigatoriedade na realização de pesquisascomo ocorre nas Universidades.

Monteiro (1980) realizou uma avaliaçãode como vinha sendo discutida a Geografia noBrasil, no período de 1934 até 1977. O autorrealizou uma periodização na evolução dapesquisa geográfica no Brasil a partir de 1934,tomando por base o levantamento da produçãocontida nos Anais da Associação dos GeógrafosBrasileiros, que além de ser um organismoaglutinador da comunidade de pesquisadores,tem um caráter nacional. Como é um organismoaberto a todos os geógrafos das diferentesregiões, a produção contida nestes Anais éestimada como capaz de espelhar a produçãogeográfica no país. Outros elementos utilizadospelo autor foram as Revistas de Geografia,editadas pelo Instituto Brasileiro de Geografiae Estatística a partir de 1939 e o acervo de tesesdefendidas no antigo Instituto de Geografia daUniversidade de São Paulo, a partir de 1944. Oautor relata que a Geografia brasileira teveinfluência direta de pesquisadores europeus,tais como: Pierre Monbeig (1908-1987), FrancisRuellan (1894-1975), Léo Waibel (1888-1951),Pierre Deffontaines (1894-1978), Jean Tricart(1920-2003), dentre outros. Porém não se podedeixar de lado a contribuição indireta depesquisadores brasileiros de áreas afins, taiscomo Caio Prado Júnior (1907-1990), RobertoSimonsen (1889-1948), Sérgio Milliet (1898-1966), Arthur Ramos (1903-1949), dentreoutros.

Andrade (1987) realizou um estudo daGeografia desde a Antigüidade, passando pelaIdade Média, os tempos modernos, a GeografiaContemporânea e a Clássica. Enfatizou que oensino e a pesquisa da Geografia no Brasil sóse institucionalizou após a Revolução de Trinta,

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quando a burguesia e a classe média urbanapassaram a ter maior influência sobre o governoe a atenuar o poder da burguesia agrário-exportadora. Relata, ainda, que, neste período,foram publicados vários livros de interessegeográfico influenciados, sobretudo, pelosgeógrafos alemães e franceses.

Pereira (1994) mostrou, através de umavisão panorâmica, a situação da Geografia naEuropa e no Brasil, desde o século XVI até osprincípios do século XX. Na Europa o movimentogeográfico se concentrava em torno de umaatividade histórica e matemática, ou seja, opredomínio, por um longo tempo, das descriçõesgeográficas lineares ou literárias, com espíritoenciclopédico. Verifica-se dentro da correntecientífica, o predomínio da Geografia Matemáticapela Cartografia, que concentra a atividadegeográfica; as explorações costeirasnumerosas, em detrimento da revelação dointerior dos continentes; as descriçõesgeográficas lineares; e, no âmbito da correntehistórico-descritiva, as descrições geográficasliterárias. No Brasil, do século XVI ao princípiodo século XX ocorreram, dessa mesma forma,as descrições do complexo geográfico. Os fatosgeográficos destas descrições aparecemisolados, sem o estudo de sua gênese eestrutura.

O autor descreve as contribuições depioneiros que deixaram conhecimentos, aindaque superficiais, dos diferentes aspectosgeográficos do Brasil, desde a sua descoberta.Destaca que no início, como na maior parte doséculo XIX, a Geografia, no Brasil, se beneficioudas invest igações dos naturalistas,principalmente estrangeiros, que trouxeramsuas idéias e aplicaram aos estudos que aquirealizaram.

Segundo Andrade (1989), desde adécada de sessenta do século XX alguns gruposde geógrafos passaram a contestar osparadigmas, os métodos e as reflexões feitasno campo da Geografia em face da dissociaçãoque admitiam existir entre o discurso dosgeógrafos e as relações entre a sociedade e a

natureza que observavam. Os princípios e asnormas desenvolvidos pela Geografia Clássica,que defendia uma hipotética neutralidade doconhecimento científico e estabelecia limitespara o desenvolvimento da reflexão geográficae o afastamento das preocupações teóricas,foram postos em choque por geógrafos quedefendiam um maior comprometimento social daGeografia e procuravam princípios gerais quenorteassem a reflexão e a pesquisa geográfica.

Desta forma, se procuravam novosrumos que direcionassem as pesquisas e novoscaminhos metodológicos para atingir os finsdesejados. Uma das correntes, a dosneopositivistas, convencidos da existência deuma evolução linear e uniforme do conhecimentocientífico, deram mais importância aos métodosque aos fins e partiram para uma aplicação gerale indiscriminada dos métodos matemático-estat íst icos e dos computadores, ou seja,tratavam um país de dimensões continentais ecom diversidade de níveis de desenvolvimento,como uma unidade, porém sem preocupaçõesecológicas e sociais. Talvez tenha sido por issoque receberam o apoio de órgãosgovernamentais que, neste período, não tinhampreocupação com a qualidade de vida dapopulação. Outra corrente, porém minoritária,chamada crítica ou radical, ganhou prestígio eimportância nas décadas de setenta e oitentado século XX. Refletindo sobre os estudosgeográficos anteriores, essa corrente procurouretirar o máximo de informações e manter a linhade respeito às diversidades dentro da unidade,conduzindo o pensamento em direção à análisedos problemas sócio-espaciais e à procura decaminhos que democratizassem a ciência eoferecessem uma contr ibuição aodesenvolvimento do país.

Carlos (1992) relata que a década desessenta marca um momento na Geografiabrasileira em que se contrapõem duas grandestendências. No Rio de Janeiro desenvolveu-seno Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticaa chamada Nova Geografia ou GeografiaQuant itat iva, influenciando a maioria daspesquisas. Essas pesquisas, de fundamentação

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matemática, mostravam a realidade a partir daregularidade dos fenômenos no espaço,fazendo da técnica um fim em si mesma. Já emSão Paulo, na Universidade de São Paulo, aspesquisas realizadas tomavam rumo diverso.

“Contrapondo-se as idéias esboçadas por Berry,e fiéis à escola francesa de interpretação darealidade, desenvolvem-se pesquisas baseadasnos fundamentos da chamada Geografia Ativa,sob a influência de Pierre George, que nasce daconstatação da extrema mobil idade dassituações atuais, conduzindo a um estudo ativoque pode inspirar ou guiar as ações” (Carlos,1992, p. 132).

A partir da matriz do historicismo seaborda duas tendências: a marxistadeterminando as bases do movimento chamadoGeografia Crítica ou Geografia Radical e aFenomenologia. O material ismo dialét icopermitiu a interdisciplinaridade, buscandotransformações na Geografia, ou seja, estanova perspectiva mostra a necessidade derepensar a relação homem-natureza.

Machado (2003, p. 347) relata que,

“[...] confirmando a tese de Horácio Capel, arecusa dos geógrafos brasileiros em cavucar asorigens do pensamento geográfico entre nós,se deve, em grande parte, à estratégia para ainstitucionalização da disciplina, que tempermeado sua evolução desde a década de1930”.

Segundo a autora a criação do ConselhoNacional de Geografia, a criação dos cursosuniversitários de geografia naquele período e asua incorporação na grade curricular das escolassecundárias, podem indicar que a estratégia foibem sucedida. Porém o preço tem sido alto: doponto de vista institucional, a ambivalência entrea geografia “técnica” (realizada pelo geógrafo)e a geografia escolar (realizada pelo professor);do ponto de vista científico/político, umapretensa neutralidade, que além de suprimir odebate com os cientistas sociais suprimiu odebate epistemológico, do ponto de vistacognitivo, o que tem dificultado o

reconhecimento da relação entre quaisquerteorias geográficas e a ciência de modo geral.

Segundo Santiago (2002, p. 1) “para secompreender objetivamente a criação dosconhecimentos geográficos no/do Brasil, não sepode separar os aspectos construt ivos/cognitivos do processo que engendrou a suaformação territorial, social, econômica, política,cultural”.

Santiago (2002, p. 4), relata que

“Os referenciais teóricos com relação àsperiodizações, mais novas, sobre a evolução dopensamento geográfico no Brasil, neste século,estão contidos em vários estudos desenvolvidosno domínio da história desse pensamento,principalmente nos anos setenta e oitenta porSodré (1976), Monteiro (1980), Moraes (1981),Bernardes (1982), Andrade (1987) e, maisrecentemente nos anos noventa do século XX,por Santiago (1990)”.

Segundo o autor, o conhecimentogeográfico, até a terceira década do século XX,era produzido de forma dispersa, espontâneae sem grandes preocupações com a suasistematização, sendo que não existiaautonomia na produção científica da Geografiabrasileira, “no sentido da existência de centrosespecializados na produção e difusão daModerna Geografia”.

Os estudos de Monteiro (1980) foramdivididos em quatro etapas, abrangendo 43anos (1934-48; 1948-1956; 1956-1968; 1968-1977), sendo que a partir de 1977 poderia iniciarum novo período. Bernardes (1982) dividiu seusestudos em cinco fases (1935-1945; 1946-1956; 1965-1969; 1970-1978; 1978-...).Andrade (1987) realizou uma abordagem semuma preocupação l inear e simetricamentecompartimentada de períodos, demonstrandouma contextualização mais ampla da evoluçãodo pensamento geográfico.

Souza Neto (2000) discute a relaçãoentre a ciência geográfica e a construçãomaterial e simbólica do mundo moderno. Assim,o autor busca elementos para a compreensão

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do Brasil e da Geografia produzida nos últimoscinco séculos.

O autor relata que o Brasil foi construídocomo território a partir das muitas leituras queos cronistas, viajantes e exploradores fizeramdele. Nota-se, assim, a importância dos relatoshistóricos para se compreender como o Brasilfoi explorado. Segundo o autor, muitos trabalhosproduzidos ao longo dos últimos séculos atravésde instituições vinculadas ao governo serviramcomo registros dos acontecimentos e fatos quemarcaram a construção do território brasileiro.

Souza (2006, p. 12) relata que “discutiras tendências teóricas e conceituais daGeografia física é fundamental para que sepossam visualizar trajetórias, abordagens,inf luências e debates que ocorreram naGeografia nos últimos 50 anos”. Assim o autorrealizou um balanço dos trabalhos produzidose publicados nos Anais e/ou Caderno deResumos e Contribuições Científicas de eventoscientíficos, ocorridos no período de 1954 a 2004,tais como: Congresso Brasileiro de Geógrafos,Encontro Nacional de Geógrafos, EncontroNacional de Estudos Sobre o Meio Ambiente,Simpósio Brasileiro de Geografia Física Aplicada,Simpósio Brasileiro de Climatologia Geográficae Simpósio Nacional de Geomorfologia.

Os objetivos desta pesquisa foram:efetuar balanço de como vem sendo abordadaa Geografia Física, em eventos científicos, noperíodo de 1954 a 2004; refletir sobre osdirecionamentos da pesquisa em GeografiaFísica; ident ificar as tendências teórico-metodológicas e temáticas dos trabalhospublicados nos Anais e/ou Caderno de Resumose Contr ibuições Científicas de eventoscientíficos; discutir e levantar hipóteses dosmotivos porque muitos geógrafos físicosparticipam de eventos ligados às outras áreasde conhecimento fora do âmbito da Geografia;discutir possíveis motivos para que algunseventos ligados à área de Geografia Físicapararam de ocorrer; refletir e analisar o atualmomento da Geografia Física.

Histórico da trajetória da GeografiaFísica

Segundo Mendonça (1989), a GeografiaFísica teve origem, enquanto conhecimentocientífico, entre os naturalistas dos séculos XVIIIe XIX. Porém foi com o aparecimento daGeografia Regional de Paul Vidal de La Blache,na França do século XIX, que a Geografia Físicase concretizou enquanto ramo específico deestudo da ciência geográfica.

O autor relata que as viagens dedescobrimentos e reconhecimentosdesenvolvidas pelos europeus produziram umaGeografia descritiva e narrativa dos lugares. Oque foi produzido neste período serviu de basepara a formação da Geografia como ciência e,também, serviu de base para a Geografia Física.Esta Geografia descritiva foi a que predominouna Geografia alemã do século XIX e início doséculo XX.

Relata, ainda, que duas linhas depensamento ou escolas marcaram o século XIX:o Determinismo (Escola Determinista) e oPossibilismo (Escola Possibilista). As raízes daGeografia Física estavam ligadas a EscolaPossibi lista, que dividiu a Geografia em:Geografia Humana e Geografia Física. A faltaquase total de utilização de um método analíticofez com que a Geografia Regional Possibilistanão tivesse grandes avanços. A Geografia Físicasó não desapareceu devido às subdivisões queocorreram, ou seja, o estudo separado dosvários componentes do meio (clima, morfologia,relevo, vegetação, bacias hidrográficas, dentreoutros), caracterizando o desenvolvimento daGeografia que se desenvolveu seqüencialmenteà Escola Possibi lista. Assim, deu-se oaparecimento da Climatologia, daGeomorfologia, da Biogeografia, da Hidrografia,dentre outras, que se baseando em outrasciências (Meteorologia, Geologia, Biologia, dentreoutras) influenciaram o conhecimento geográficoproduzido a part ir de então. Estas áreasespecíficas constituíram-se como ramos deestudos e pesquisas científicas da Geografia

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Física, isto é, se constituíram em subdivisões dadivisão do conhecimento geográfico.

De acordo com Corrêa (1986), nodecorrer do tempo a Geografia tem sofridotransformações no que diz respeito à maneirade abordar o meio ambiente, que estárelacionado com a evolução da Geografia comociência. O autor aponta que as correntes dopensamento geográfico são: DeterminismoAmbiental, Possibilismo, Método Regional, NovaGeografia e Geografia Crítica, seguindo umaseqüência histórica sem excluir nenhuma delasem cada momento onde há uma ou maiscorrentes dominantes.

Até o início do século XIX os trabalhosde Geografia faziam parte de um saberglobalizante da realidade, não desvinculado deoutras ciências. A partir da segunda metade doséculo XIX a Geografia, como ciência acadêmica,passa a ter um enfoque menos global e ascondições naturais ou os elementos daGeografia Física é que determinam ocomportamento do homem e a sociedade passaa ser explicada por mecanismos que ocorremna natureza. Desta maneira o DeterminismoAmbiental foi o primeiro paradigma a caracterizara Geografia que emerge neste período, com apassagem do capitalismo concorrencial parauma fase monopolista e imperialista.

No final do século XIX e na primeirametade do século XX surge, inicialmente naFrança e depois na Alemanha e nos EstadosUnidos, o Possibil ismo, como reação aoDeterminismo Ambiental, que focaliza asrelações entre o homem e o meio natural, porémsem considerar a natureza como fator quedetermina o comportamento humano. O homempassa a ser agente geográfico e a paisagemvista como criação humana, sendo transformadaem cultural ou geográfica.

O Método Regional, terceiro paradigmada Geografia, que se opõe ao Possibilismo e aoDeterminismo Ambiental, destacou-se por meiodos estudos das diferenciações espaciais quepermitiu a delimitação de áreas ou regiõesbaseadas em aspectos naturais e humanos. Foi

a partir dos anos quarenta deste século,sobretudo nos Estados Unidos, que esteparadigma se destacou, sendo que o geógrafonorte-americano Richard Hartshorne foi oresponsável pela valorização deste paradigma.

A Nova Geografia ou GeografiaQuantitativa surgiu em meados da década decinqüenta do século XX, estabelecendo modelosteóricos baseados em técnicas estatísticas. EstaGeografia nasce na Suécia, na Inglaterra e nosEstados Unidos, simultaneamente, sendo quenos Estados Unidos surge como uma crítica àGeografia hartshorniana. Este paradigmaprocura leis ou regularidades empíricas sob aforma de padrões espaciais.

A Geografia Crítica surge fazendo críticasprofundas à Geografia Clássica e à GeografiaQuant itat iva, contestando o pensamentodominante e part icipando do processo detransformação da sociedade. Nas décadas desetenta e oitenta do século XX a GeografiaCrítica reinterpreta os aspectos abordados naGeografia com base na teoria marxista, isto é,na dialética e no materialismo histórico. Ohomem visto como um ser passivo passa a serencarado como principal atuante sobre o meio,produzindo seu espaço.

Nesse período a Geografia Ambientalsurge como mais uma corrente do pensamentogeográfico, sendo que os seus adeptospertenciam às escolas ligadas às Geociênciasou Ciências da Natureza, sendo desenvolvidasem países de língua inglesa (Estados Unidos,Inglaterra e Austrália), onde os pesquisadoresdefendiam uma abordagem sistêmica e o homemsendo encarado como um ser integrante einteragente do meio, do ecossistema.

Mendonça (1989) relata que até adécada de cinqüenta do século XX, a GeografiaFísica caracterizou-se por estudos dos aspectosdo quadro natural do planeta, de maneiraindividualizada entre si e distante da GeografiaHumana, constituindo-se numa ciência danatureza, distante do princípio básico daGeografia no geral (relação homem e natureza),isto é, excluiu o homem de seu quadro de

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abordagem e preocupações.

Segundo Mendonça (1989), até adécada de cinqüenta do século XX, a GeografiaFísica caracterizou-se por estudos dos aspectosdo quadro natural do planeta, de maneiraindividualizada entre si e distante da GeografiaHumana, constituindo-se numa ciência danatureza, distante do princípio básico daGeografia no geral.

“Se no estudo da geografia a relação entre ohomem e a natureza aparece como objetivobásico, aquela geografia física demartonianaesteve sensivelmente longe dos propósitos namedida em que excluiu, que completamente, ohomem de seu quadro de abordagens epreocupações, servindo como mero auxiliar desuporte para a geografia humana em algunsestudos e casos” (Mendonça, 1989, p. 34).

Segundo o autor, a década de cinqüentado século XX configurou-se como um período dereconstruções gerais no mundo, principalmentenas áreas mais atingidas pela Segunda GuerraMundial. As invenções e os descobrimentosdecorrentes do conflito produziram mudançasespetaculares na evolução do pensamento dahumanidade, progressos e transformações noseio das ciências. Os avanços nos estudos dameteorologia impulsionaram os conhecimentosda atmosfera de forma mais detalhada einfluenciaram o desenvolvimento da climatologia,que assume um novo caráter e passa a encararo clima do planeta de forma dinâmica,baseando-se mais nos controles climáticos quenos fenômenos locais. As conseqüências daguerra se fizeram sentir na alteração doscomponentes bióticos (seres vivos) do planeta.A vegetação, o ar e a água do planetaalteraram-se em graus diferenciados, em níveislocal e geral.

Este período marcou o apogeu daaplicação da Teoria Geral dos Sistemas àsCiências da Terra. A aplicação deste método,associado à Teoria dos Modelos e à utilizaçãoda quantif icação, caracterizou uma novaprodução do conhecimento geográfico,originando a Nova Geografia.

Alguns aspectos, como a divisão domundo em áreas de influência de potênciaseconomicamente dominadoras, estão ligados àorganização do espaço mundial após a SegundaGuerra Mundial e provocaram alteraçõesmarcantes no quadro físico do planeta.

A nova organização do espaço mundialentre países capitalistas e socialistas atuousobre o desenvolvimento das ciências em geral.Nos países socialistas o desenvolvimento dasciências humanas enfraqueceu em função dacensura à crítica ao sistema. Já nos paísescapitalistas sem ditaduras os questionamentossociais e da organização do poder auxiliaramno desmascaramento de injustiças sociais,permitindo avanços no progresso dademocracia.

Dentre as áreas da Geografia, aGeografia Humana foi a que mais sedesenvolveu sob essas influências ideológicasdentro das ciências. Nos países capitalistasabertos como a França, os geógrafos humanosaliaram parte do método quant itat ivo àconcepção dialética da sociedade, utilizando ométodo marxista para desenvolver as análisesdas transformações sociais, principalmente nofim dos anos cinqüenta, rendendo assim umsalto qualitativo à Geografia Humana.

Porém este progresso não foi estendidoàs transformações espaciais que seprocessaram simultaneamente às sociais. Aseparação entre Geografia Humana e GeografiaFísica não diminuiu, pois a primeira seaproximava da sociologia e da economia,enquanto a segunda estreitava laços com asciências da terra e da natureza.

Neste período a Geografia Físicadesenvolveu-se tanto em países socialistascomo capitalistas, como ciência da naturezadesvinculada das relações sociais, sendo que oemprego da Teoria dos Sistemas, Modelizaçãoe Quant if icação marcou profundamente aprodução da Geografia Física durante asdécadas de cinqüenta e sessenta do século XX,no mundo. Produziu-se uma ciência de caráterneopositivista que valorizava as análises de

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fenômenos específicos e suas inter-relações, aomesmo tempo em que se aproximou das ciênciasque lhe serviam de base. O surgimento dométodo denominado Geossistêmico(metodologia cient íf ica específ ica para ostrabalhos de Geografia Física) marcou esteperíodo.

No final dos anos sessenta do século XXbuscou-se uma reordenação de concepções emfunção do acirramento das especificações dosseus ramos e da necessidade dainterdisciplinaridade científica.

A explosão demográfica mundial a partirdos anos cinqüenta do século XX e a consagraçãodo imperialismo capitalista e socialista em nívelmundial nos anos sessenta - setenta do séculoXX fizeram com que ocorresse uma grandedisparidade de condições de vida do homem,ameaçando a natureza, fonte de recursos paraa continuidade do processo produtivo. Estasameaças à natureza e à sociedade criaramcondições para o surgimento dos movimentossociais organizados, formados por grupos depacif istas e ecologistas em paísesdesenvolvidos.

A ecologia passou a ser a ciência “damoda” e devido a ant iga proximidade daGeografia Física, houve grandes influências umasobre a outra, marcando as concepções etrabalhos dos geógrafos f ísicos durante adécada de setenta do século XX. Os trabalhosde geógrafos físicos como Jean Dresch (1905-1994), Jean Tricart (1920-2003) e GeorgesBertrand (1935-...), entre outros, podem sercitados como os mais característicos dentrodesta linha de produções da Geografia Física eque influenciaram sobremaneira a formação depesquisadores brasileiros. Esta nova linha depensamento tem como pressuposto inicial o fatode que a natureza deve ser encarada atravésde seu próprio sistema de organização eseparada da sociedade, como os antecessoresda Geografia Física a percebiam. A diferença éque no decorrer desta produção científica, asociedade, enquanto produtora de açõestransformadoras do quadro natural,

influenciando e sendo influenciada por ele, éincorporada aos estudos da Geografia Física,mesmo na visão de sistema natural.

A degradação ambiental tem sidotratada pela Geografia Física contemporânea.Esse caráter Ambientalista diferente doAmbientalismo que caracterizou a GeografiaLablachiana, mostrando a necessidade decompreender a organização social e suainterferência nos processos naturais,provocando sua degradação, tem sido cobradoaos geógrafos físicos. Essa necessidade levouos geógrafos f ísicos a se interarem dosprocessos de organização e transformaçãosociais que se relacionam com seu objeto deestudo, fazendo com que houvesse umaaproximação com as ciências humanas.

A Geografia Física contemporâneadesenvolveu-se principalmente na França, o queé compreensível, pois este país foi ao mesmotempo palco de grandes manifestaçõesecológicas nos anos sessenta e setenta, alémdas transformações sofridas pela Geografia nosentido de ultrapassar sua fase positivista.

Segundo Mendonça (1989) o Sistema ouTeoria dos Sistemas pode ser definido comosendo o conjunto de objetos ou atributos esuas relações, organizadas para executar umafunção particular. Esta teoria foi desenvolvidainicialmente nos Estados Unidos, no final dosanos vinte do século XX, foi um método queinfluenciou consideravelmente odesenvolvimento da Geografia. Este método foiaplicado inicialmente aos estudos datermodinâmica e biologia e sua aplicação naGeografia se fez presente bem mais tarde. Naecologia, Arthur George Tansley (1871-1955),em 1937, uti lizando este método, cr iou oconceito de ecossistema, que mais tardeinfluenciou a Geografia Física.

A aplicação em grande escala da Teoriados Sistemas à Geografia deu-se inicialmentenos Estados Unidos durante os anos cinqüentae sessenta. Nos anos cinqüenta, após a uniãoda Teoria dos Sistemas com o MétodoQuantitativo dentro da Geografia, esta recebeu

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o nome de Nova Geografia. Essa união só foipossível graças à aplicação também da Teoriados Modelos, a modelização.

As transformações que mais marcaramo contexto geográfico desse período foram: asubstituição da descrição da paisagem pela suamatematização; a substituição da morfologia dapaisagem por uma rigorosa tipologia de padrõesespaciais; a substituição das pesquisas decampo pelos trabalhos em laboratóriosutilizando computadores; e a matematização dalinguagem geográfica.

Este período ficou conhecido como sendoda “Revolução Quantitativa e Teorética” dentroda Geografia, impulsionando os estudos deGeografia Física e enfraquecendo a abordagemda natureza que tentava levar a ação antrópicacomo um de seus elementos.

As Geografias norte-americana, soviéticae inglesa sofreram diretamente esta influência“Si s têm ico-Quant i t at i vo-Model izadora”,resultando produções de métodos oriundosdestas bases na Geografia Física. O Estudo daPaisagem, o Ecossistema, o Geossistema e aEcogeografia aparecem como sistemasdecorrentes daquele movimento e atualmenteconst ituem-se como métodos de estudosaplicados especialmente à Geografia Física.

O estudo da paisagem se constitui emum dos mais antigos métodos de estudo domeio natural pertencentes à Geografia e àGeografia Física. A noção de paisagem originou-se com os geógrafos alemães no século XIX e oseu conceito é de natureza fisionômica, estandoligada ao método de observações em viagensde descobrimentos realizadas naquele séculopelos europeus.

Bertrand (1982) apud Mendonça (1989),um dos grandes geógrafos contemporâneos,adotou este conceito metodológico e o redefiniucomo sendo

“[...] uma proporção do espaço caracterizada porum tipo de combinação dinâmica, portantoinstável, de elementos geográficos diferenciados- físicos, biológicos e antrópicos - que, ao reagir

dialeticamente uns sobre os outros, fazem dapaisagem um conjunto geográfico indissociávelque evolui em bloco, tanto sob os efeitos dasinterações entre os elementos que o constituemcomo sob o efeito da dinâmica própria de cadaum dos seus elementos consideradosseparadamente”.

Devido ao caráter descritivo do quadronatural do planeta, além das falhas, indefiniçõese lacunas quanto à delimitação das áreas deextensão de diferentes paisagens, estametodologia é pouco empregada nos estudosmodernos de Geografia Física (Mendonça, 1989).

Com uma abrangência mais ampla doque o quadro da pesquisa naturalista clássica,o ecossistema constitui-se no modelo integradordominante do estudo da biosfera. Oecossistema pode ser definido como as inter-relações que os organismos de determinadolocal estabelecem entre si e o meio abiótico, ouseja, é a soma da biocenose (conjunto deanimais e plantas de uma comunidade) aobiótipo (grupo de indivíduos geneticamenteiguais). Estes sistemas podem sercaracterizados por sua biomassa e suaprodutividade.

A abordagem ecossistêmica é ummétodo de estudo da natureza específico dasciências biológicas, particularmente da ecologia.Alguns geógrafos, na tentativa de compreendero funcionamento dos ecossistemas e, assim,tratar a natureza de forma sistêmica,propuseram aplicar à Geografia Física asconceituações e os métodos inspirados nosecossistemas, como o conceito de “Sistema deErosão” desenvolvido por André Cholley (1886-1968) nos anos quarenta do século XX – umadas primeiras aplicações da abordagemsistêmica à Geografia. O termo biocenose,considerado por alguns geógrafos comosinônimo de ecossistema, apareceu como umainfluência deste método à Geografia Física.

Na década de sessenta do século XX,os soviéticos, inspirados pelas ciências naturaisda Europa Central e incitados pela política dereconhecimento e valorização de terras virgens

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naquele país, criaram um método de estudoespecífico para esse ramo da Geografia: oGeossistema. O criador deste método foiSotchava, em 1962, utilizando os princípiossistêmicos e a noção de paisagem, definindo-ocomo a expressão dos fenômenos naturais, ouseja, o potencial ecológico de determinadoespaço no qual há uma exploração biológica,inf luindo fatores sociais e econômicos naestrutura e expressão espacial, porém semhaver necessariamente uma homogeneidade.

Em termos de abordagem, oGeossistema utiliza a análise integrada docomplexo físico-geográfico, ou seja, a conexãoda natureza com a sociedade humana. OsGeossistemas são fenômenos naturais, porémseu estudo engloba os fatores econômicos esociais das paisagens modificadas pelo homem.Esta metodologia encontra-se emdesenvolvimento e apresenta problemasquando da produção de modelos, entre outros.

No final da década de setenta do séculoXX surge no contexto da Geografia Geral e daGeografia Física, particularmente, uma novametodologia baseando-se na ecologia comociência auxiliar. Este metodologia, proposta porJean Tricart (1920-2003) e Jean Killian, échamada de Ecogeografia.

Para esses autores, o homem, comotodos os outros seres vivos, é um elemento danatureza, com a qual está ligado por múltiplasrelações de interdependência. Assim o homemé considerado como parte integrante dosecossistemas, sem os quais não poderia existir.A Ecogeografia é definida como o estudo decomo o homem se integra nos ecossistemas ecomo esta integração é diversificada em funçãodo espaço terrestre, envolvendo dois aspectosprincipais: a dependência natural dos homensao ecossistema e as modificações voluntáriasou não que o homem provoca nos ecossistemas.Estas alterações implicam alterações naecodinâmica (dinâmica dos ecossistemas).

Esta metodologia tem como objetivobásico auxiliar no planejamento e utilização domeio natural a f im de não permitir sua

devastação, percebendo-se, desta maneira,uma tendência nos estudos de Geografia Físicacontemporânea: a preocupação com adegradação ambiental.

Bertrand (1982) realizou comparaçãoentre o modelo da Geografia Física atual comsub-ramos desenvolvidos separadamente ediferenciados segundo uma hierarquia, onde aGeomorfologia possui um nível mais elevado queos outros ramos, seguido pela Climatologia,Biogeografia e Hidrologia e o modelo daGeografia Física Geossistêmica, que nãoapresenta uma hierarquização entre os ramosda Geografia, sendo que todos são trabalhadosinter-relacionadamente.

Sotchava (1977) relata que o estudo degeossistemas (classe de sistemas abertos ehierarquicamente organizados) vem sendoutilizado com grande freqüência em pesquisasna tentativa de utilização e conservação doambiente, sendo que para a realização doestudo de geossistemas há necessidade daparticipação direta de geógrafos especializadosem Geografia Física, pois estes profissionais têmas condições necessárias para desenvolvervários tipos de modelos de projetos para asdiferentes situações, que deverão acompanharas transformações planejadas. Embora osgeossistemas sejam fenômenos naturais, todosos fatores econômicos e sociais que influenciamsua estrutura são levados em consideraçãodurante o seu estudo.

Segundo Christofoletti (1979), a TeoriaGeral dos Sistemas foi desenvolvida inicialmentenos Estados Unidos, na década de vinte doséculo XX. Embora a noção de sistema seja maisant iga na esfera cient ífica, sua uti lizaçãopermaneceu mais como termo designativo doque sendo objeto de investigação. Entre asdécadas de sessenta e de setenta do séculoXX houve um impulso na aplicação da teoria dossistemas aos estudos geográficos, sendo queesta teoria serviu para melhor focalizar aspesquisas e delinear com maior exatidão o setorde estudo desta ciência, além de propiciaroportunidade para reconsiderações críticas de

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muitos dos seus conceitos. O autor relata, ainda,que no âmbito da Geografia, todos os seussetores se revitalizaram pela utilização daabordagem sistêmica.

Tendo em vista que no Brasil havia poucaliteratura sobre a análise sistêmica, o trabalhode Christofoletti (1979) visou preencher estalacuna, difundindo as idéias e conceitos básicosda teoria dos sistemas, apresentando exemplose elucidando a noção de equil íbr io e deaplicabilidade da lei do crescimento alométrico.

Monteiro (1981) relata que, entre adécada de setenta e oitenta do século XX,houve uma tomada de consciência da populaçãoem relação às inúmeras agressões que vinhamse multiplicando no Brasil em relação à naturezae aos níveis insat isfatórios da qualidadeambiental, numa sucessão de eventos queassustou pela rapidez e intensidade.

Troppmair (1983) relata que gravesproblemas ambientais, como poluição do ar, dosolo, da água, radiação e degradação deecossistemas, causados pelas atividadeshumanas, ameaçando com grande intensidadea qualidade ambiental e a espécie humana exigeprovidências para a minimização e/ou soluçãodeste problema de ordem nacional e mundial,através do uso racional do espaço geográfico edos recursos naturais, com a colaboração detoda a sociedade. Segundo o autor, na décadade setenta o objetivo fundamental da pesquisaambiental era direcionado para verificação dosdanos causados ao meio ambiente. Já nadécada de oitenta procura-se, através dapesquisa interdisciplinar, o planejamento do usodos recursos naturais visando o ótimo daorganização espacial-ambiental.

Acot (1990) relata que a partir daeclosão da crise ambiental, ocorrida entre 1968e 1972, alguns geógrafos se dedicaram aestudos para a compreensão da relaçãosociedade-natureza, fazendo com que aGeografia se mostrasse como uma ciência capazde estabelecer esta relação. Tendo em vista asdiversas degradações da natureza consecutivasà ação transformadora dos homens, tais como:

desertificação milenar, extinção aceleradas deespécies, fragil idade crescente dosagrossistemas, poluições industriais edomésticas, destruição das paisagens edegradação do quadro da vida urbanatradicional, houve uma necessidade de reagir ecompreender melhor as causas e os mecanismosdos desequilíbrios. Entre o fim do século XIX eos anos setenta do século XX emergiram trêsatitudes que se completaram e constituíram osprincipais componentes do chamado“ecologismo”: a conservação da natureza, obiologismo social e a sacralização objetiva deuma natureza mítica.

A conservação da natureza consistiu emtentar salvar o que restava da natureza“original” (ou do que se acreditava ser anatureza original), ou seja, preservar umpatrimônio mult imilenar em via dedesaparecimento. Foi assim que se criou a maiorparte das áreas protegidas. O biologismo socialconsist iu na integração do homem com anatureza, organizando-se de modo quehouvesse uma interação de todos os elementosem uma grande rede de relações. A sacralizaçãoobjetiva de uma natureza mítica consiste noretorno ao sagrado. O homem percebeu queestava destruindo a natureza e tentou salvar oque restava, demonstrando, assim, que tinhaconsciência da necessidade da natureza paracontinuar sobrevivendo.

Acot (1990) relata que na Conferênciade Estocolmo foram lançadas as bases de umaLegislação Internacional do Meio Ambiente,onde se uniu a proibição do armamento atômicoaos grandes problemas ecológicos, e onde adiscriminação racial, o “Apartheid” e ocolonialismo foram condenados. O autor realizouum levantamento histórico de como ocorreu adegradação do meio ambiente entre o fim doséculo XIX e os anos setenta do século XX,mostrando a necessidade de compreendermelhor as causas e os mecanismos dosdesequilíbrios ambientais.

Segundo Gregory (1992), o interessepela conservação do meio ambiente começou

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na metade do século XIX, mas teve poucainfluência na Geografia Física até o século XX,tendo recebido pouca atenção por parte dosgeógrafos.

Entre a década de setenta e oitenta doséculo XX, com a intensificação da “ondaambientalista”, os pesquisadores começam adiscutir e produzir trabalhos ligados à área deGeografia Física, sendo que a maior partedestes, por estarem ligados às Universidades,tinham, assim, uma vida acadêmico-científica.

Segundo Mendonça (2002) a abordagemambiental, analisada no campo do pensamentogeográfico moderno pode ser concebida a partirde dois grandes momentos. O primeiromomento, onde o ambiente configurava-se emsinônimo de natureza, prevaleceu desde aestruturação científica da geografia até meadosdo século XX, podendo ser observado como umapostura filosófica perante o mundo por partede cientistas e intelectuais, incluindo osgeógrafos. O segundo momento pode serobservado como o rompimento com acaracterística descritivo-analítica do ambientenatural, passando a abordá-lo na perspectivada interação sociedade-natureza, propondo deforma detalhada e consciente, intervenções nosentido de recuperação da degradação e damelhoria da qualidade de vida do homem.

Camargo (1998) realizou uma reflexãoteórica e metodológica sobre a Biogeografia noBrasi l, preocupando-se com seu objeto deestudo, campo e métodos de análise, bem comoprocurando verificar quais as relações com aGeografia Física e com a Geografia de modogeral. O principal objetivo foi o de levantar,analisar e refletir sobre a evolução, a produçãoe as tendências futuras da Biogeografia, noâmbito da Geografia, através da análise detrabalhos oriundos das mais variadas fontes edo mais variados autores, sendo, contudo,diretamente relacionados com a temáticabiogeográfica.

O autor discutiu questões relevantessobre a natureza do pensamento biogeográficobrasileiro, do ponto de vista do geógrafo, assim

como verificou como os geógrafos nacionais têmencarado esse ramo do saber. Sobre a evoluçãodo pensamento biogeográfico, no âmbito daciência geográfica, o autor apresenta amplorelato histórico desde o período dedescobrimento do Brasil (1500) até a últimadécada do século XX. Sobre a análise dostrabalhos biogeográficos no âmbito das revistasgeográficas e outras publicações levantadas oautor apresenta dados relevantes quedemonstram os inúmeros enfoques resultantesda ciência complexa que é a Biogeografia. Comrelação à importância e às perspectivas futurasda Biogeografia, Camargo (1998, p. 291) concluique,

“[...] A Biogeografia ultimamente está setornando uma disciplina importante no âmbitoda Geografia, pois sendo entendida como aciência que se preocupa com a explicação e coma distribuição dos seres vivos (vegetais eanimais) na superfície terrestre, ou maismodernamente, sendo concernente com osestudos dos processos biológicos, juntamentecom os derivados do Homem (da Sociedade) eoperando tanto no âmbito natural como nocultural, pode dar uma grande contribuição parao estudo da interpretação dos padrões emudanças nas paisagens naturais e culturaisda atualidade, bem como das paisagenspassadas (Paleobiogeografia) [...]”.

Viadana (2004) relata que entre osgeógrafos físicos, os biogeógrafos foram osprimeiros a perceber a dinâmica integrada doscomponentes paisagísticos, como estruturageológica, clima, solo, relevo, vegetação ehidrografia, sem incidir para a avaliação isoladae individualizante do espaço geográfico. Assim,os biogeógrafos deram início a novas tendênciasno seu campo específ ico de estudo,fundamentados numa visão holística ou deconjunto, proporcionando grande progresso naprodução biogeográfica e na própria Geografia.

Suertegaray e Nunes (2001) discutem anatureza e a produção da Geografia Física atualno âmbito da ciência geográfica, a partir dolevantamento feito nos Anais do XII Encontro

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Nacional de Geógrafos, realizado emFlorianópolis (SC), em julho de 2000 e do 8o.Encontro de Geógrafos da América Latina,realizado em Santiago (Chile), em março de2001. Os autores relatam que a intenção foipensar sobre a produção geográfica referenteao conhecimento que se denominou GeografiaFísica, ou seja, o conhecimento referente ánatureza.

Cidade (2001, p. 101) realizou um amplolevantamento bibliográfico e histórico com oobjetivo de “explorar formas de abordagem darelação sociedade-natureza em diferentes fasesda longa constituição dos fundamentos dopensamento geográfico”.

Segundo Cidade (2001, p. 101),

“Uma das hipóteses que norteiam a discussãoé que o contexto social e material da sociedadeestabelece um cenário para as visões de mundoem diferentes épocas. Outra é que visões demundo dominantes na sociedade,particularmente no pensamento filosófico ecientífico, influenciam representações danatureza. Finalmente, outra hipóteseorientadora é que visões da natureza seexpressam no pensamento geográfico e são, porsua vez, influenciadas por esse conhecimento”.

Cidade (2001, p. 116) relata que “nolongo percurso em busca de uma identidadeaglutinadora e do estabelecimento de basesepistemológicas convincentes, a geografia temsido objeto de inúmeras críticas”. Enquantoparte dessas críticas provém de áreas externasà disciplina, a maior fonte de cobranças tem sidointerna. A expressão das dif iculdadesencontradas pela geografia, às quais se atribuia impossibilidade de constituir-se como síntese,está em uma espécie de dualidade que, deresto, não atinge apenas essa disciplina. Essadualidade se expressa particularmente notratamento das relações sociedade-natureza.

Com relação à separação entresociedade e natureza, freqüentementeconsiderada característ ica essencial docapitalismo, com reflexos nos sistemas de

pensamento que o acompanharam Cidade(2001) relata que se mostrou mais antiga,aparecendo desde os povos primitivos e que odesenvolvimento social e econômicoacompanhou-se de uma transformaçãoprogressiva da natureza. “Em síntese, torna-se cada vez mais claro que, enquanto aseparação entre sociedade e natureza ébastante antiga, o capitalismo, juntamente comos sistemas de conhecimento associados à suaemergência, tornou-se mais aguda essaseparação, estabelecendo tendências a umaruptura” (p. 117).

Cidade (2001, p. 117) conclui que,

“As contradições imbuídas no processotornaram-se visíveis também na Geografia.Nesse sentido, as diferentes correntes ouparadigmas geográficos têm compartilhado emdiferentes graus uma visão segmentada,oriunda de um pressuposto subjacente deruptura entre sociedade e natureza. Oreconhecimento dessa ruptura, no entanto, nãoimplica a expectativa de que uma visãototalizadora ou holística pudesse separar osobstáculos teóricos e metodológicos envolvidos.A questão parece permanecer em aberto”.

Monteiro (2002, p. 4) traçou o panoramada Geografia que se faz no Brasil, usando comoestratégia as seguintes normas:

“a) Assentar as bases da avaliação através dosvetores básicos da produção geográfica, a saber:a Universidade como centro de produção; aFundação IBGE como aplicação oficial e aAssociação dos Geógrafos Brasileiros comorefletor das tendências e confl itos nacomunidade de geógrafos do Brasil.

b) Observar, ao longo do século, os eventosbásicos no desenvolvimento cronológico linear,de modo a possibil itar uma articulaçãosincrônica capaz de sugerir definição demomentos ou fases característicos nestaevolução.

c) Integrar esta possível periodização em facede uma projeção intrageográfica na produçãobrasileira, com a consideração dos insumos

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advindos dos eventos mundiais e as respectivasrepercussões na Geografia nos centroshegemônicos de saber, do poder econômico epolítico mundial. Em suma, avaliar as mutaçõesno mundo e em suas geografias ao mesmotempo em que se avaliam as ligações emanadasdos centros polarizadores e recebidas nasperiferias nesta perspectiva global caracterizada,sobretudo, por grandes diferenças nos graus dedesenvolvimento.

d) Finalmente, procurar, nesta periodização,articular as relações entre as direções etendências da Geografia, com os projetospolíticos vigentes no país ao longo do século.Com auxílio de alguns quadros demonstrativosdessas correlações e sintetizadores dessascaracterísticas em sua periodização, procurar-se-á diminuir a extensão do texto”.

O panorama elaborado por Monteiro(2002) foi dividido em duas partes. Na primeiraforam descritas as grandes etapas evolutivas:início do século XX (1900-1935), chamada depreparação para a Geografia Científica;alvorecer da Geografia Científica (1935-1968).Na segunda parte foi descrita a travessia dagrande crise histórica: soleira do pós-modernoe as grandes mutações (1968-1973); entradano pós-moderno (1973-1984); e final do séculoXX e as múltiplas incertezas no início do séculoXXI (1984-2001).

Conti (1996) relata que o papel dosgeógrafos brasileiros tem sido mais destacadona realização de trabalhos climatológicos naAmérica do Sul, principalmente devido, emgrande parte, à criação dos cursos de Geografiaem nível superior, no quadro das antigasFaculdades de Filosofia, Ciências e Letras,surgidas, pioneiramente, em São Paulo, em1934, e no Rio de Janeiro, em 1935.

Relata que o modelo de formaçãogeográfica que foi caracterizada pela grandeabrangência e ampla integração imprimiu umadiretriz especial aos estudos climatológicos, quepassaram a ser feitos dentro de uma perspectivaespacial, constituindo parte integrante dosestudos regionais como uma característica

antropocêntrica, por ser uma ciência que estuda,ao mesmo tempo, a natureza e a sociedade.

Sant’Anna Neto (2001) propõe umaGeografia do Clima, contrapondo-se à noção deuma Climatologia Geográfica. Para tanto,recorrendo aos primórdios da Climatologia noBrasil, buscou estabelecer as bases conceituaisda incorporação do fenômeno climático à ciênciageográfica. Discutiu a revolução paradigmáticainiciada por Sorre (1951) e a proposta porMonteiro (1991), a partir da incorporação danoção do ritmo como novo paradigma para aanálise geográfica do cl ima e relata anecessidade de se produzir uma readequaçãodestes conceitos à luz do processo deglobalização e mundialização, assumindo osconceitos de apropriação da natureza por umasociedade estabelecida em classes sociais. Aofinal propõe uma discussão que considere umanova razão para um novo conhecimento dofenômeno climático numa perspectiva social ede valoração dos recursos naturais.

Zavattini (2003) realizou estudo sobre“a abrangência temporal e espacial dos estudosdo ritmo do clima no Brasil, tendo por base asteses e as dissertações produzidas nosprogramas paulistas de pós-graduação entre1971 e 2000 e, também, o ‘Inventário das Obrascom Análise Rítmica’, elaborado por Zavattini(2001)” (p. 65). O autor relata, ainda, que nesteestudo foram “resgatadas algumas obrasclássicas do Prof. Dr. Carlos Augusto deFigueiredo Monteiro – semeador do r itmoclimático no país” (p. 65). A abrangênciatemporal foi realizada entre o período de 1941a 2000, demonstrando que, neste período, naabrangência espacial o Estado de São Paulo éo mais estudado pelo paradigma da análiserítmica, assim como a costa brasileira foibastante estudada. Em todo o Brasil foramrealizados inúmeros estudos com base emcomparações rítmicas e estudos do ritmo doclima urbano, sendo que estes se encontramconcentrados nas regiões Sudeste e Sul.“Entretanto, são também evidentes os enormesvazios rítmicos em nosso país, desde o Sul,passando pelo Sudeste e Centro-Oeste, até

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serem alcançadas as baixas latitudes do Nortee do Nordeste” (p. 82).

Guerra (2004) faz um resgate dos livrosque abordam a Geomorfologia, no Brasil e nomundo, sob os seus mais variados aspectos,com uma infinidade de características. Abordaconceitos sobre a Geomorfologia, bem como suaevolução ao longo do tempo e de que formaatualmente a Geomorfologia Aplicada vemganhando força no mundo e no Brasil, como umramo importante dentro da Geomorfologia,apesar de que muitos dos trabalhos queabordam essa área de conhecimento aindaestarem contidos em obras cujo título refere-seà Geologia. O autor discute, ainda, “os principaistemas que a Geomorfologia tem abordado nosseus estudos, tendo sido de grande significadona compreensão dos processosgeomorfológicos, como também nodesenvolvimento desse ramo de conhecimento”(p. 151), como: Geomorfologia Urbana,Geomorfologia das Áreas Rurais e Geomorfologiae Planejamento.

Tomasoni (2004) discute o caráter“transfronteiriço” do objeto da Geografia e adificuldade que isso representa na identidadecientífica da disciplina. Discute, em seguida, acrise ambiental como produto das relaçõessociedade/natureza e o conceito de ambientee sua aplicabilidade. Concluindo, o autoraborda o pape l da Geografia Fís ica nocontexto do objeto geográfico.

Conforme pode ser verificado atravésdos trabalhos acima citados, a Geografia Físicaque vem sendo produzida no Brasil é motivode discussão por par te da maioria degeógrafos e pesquisadores que se dedicamao estudo desse campo de conhecimento daGeografia. A Teoria Geral dos Sistemas ouGeossistemas marcou o desenvolvimento daGeografia Física brasileira até da década desessenta do século XX. No final desse períodoe da década de setenta do século XX surge oAmbientalismo devido à preocupação mundialdos pesquisadores em compreender a relaçãosociedade-natureza.

Os estudos de Ecologia da Paisagemressurgem em meados dos anos 90 associadosas tecnologias de informação e tem sidoimportante na contribuição da Geografia Físicano planejamento da Paisagem.

Alguns eventos científicos de nívelnacional, voltados para o ramo do conhecimentoda Geografia Física, têm sido realizados, comoo Simpósio Brasileiro de Geografia Física Aplica,o Simpósio Nacional de Geomorfologia e oSimpósio Brasileiro de Climatologia Geográfica.Estes eventos são significativos por seremlocais de apresentação das pesquisasrealizadas e também locais para trocas deinformações e idéias, conforme relatado porSouza (2006).

A questão ambiental no Brasil

De acordo com Monteiro (1981), entreas décadas de setenta e de oitenta do séculoXX, houve uma tomada de consciência dapopulação em relação às inúmeras agressõesque vinham se multiplicando no Brasil em relaçãoà natureza e aos níveis insatisfatórios daqualidade ambiental, numa sucessão deeventos que assustou pela rapidez eintensidade.

Troppmair (1983) relata que gravesproblemas ambientais, como poluição do ar, dosolo, da água, radiação e degradação deecossistemas, causados pelas atividadeshumanas, ameaçando com grande intensidadea qualidade ambiental e a espécie humana exigeprovidências para a minimização e/ou soluçãodeste problema de ordem nacional e mundial,através do uso racional do espaço geográfico edos recursos naturais, com a colaboração detoda a sociedade.

Segundo o autor, na década de setentado século XX o objet ivo fundamental dapesquisa ambiental era direcionado paraverif icação dos danos causados ao meioambiente. Já na década de oitenta do séculoXX procura-se, através da pesquisainterdisciplinar, o planejamento do uso dos

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recursos naturais visando o ótimo daorganização espacial-ambiental.

Vesentini (1989) relata que a década desetenta do século XX foi o marco para odespertar da consciência ecológica em nívelplanetário. Os acontecimentos fundamentaispara essa conscientização foram: PrimeiraConferência das Nações Unidas sobre o MeioAmbiente, realizada em Estocolmo, em 1972; osRelatórios Meadows e Wards/Dubos, ambostambém de 1972 e realizados após aConferência, que contaram com a participaçãode especialistas de vários países e que tiveramgrande repercussão na imprensa e no meiocientífico de distintas disciplinas; relatóriossubseqüentes que procuraram retomarquestões ecológicas planetárias que passarama ser legitimadas e retrabalhadas; e a enormemultiplicação de movimentos e partidos políticosde natureza ecológica ou ambientalista emgrande parte do mundo.

A partir da eclosão da crise ambiental,ocorrida entre 1968 e 1972, alguns geógrafosse dedicaram a estudos para a compreensãoda relação sociedade-natureza, fazendo comque a Geografia se mostrasse como uma ciênciacapaz de estabelecer esta relação.

Segundo Acot (1990), tendo em vista asdiversas degradações da natureza consecutivasà ação transformadora dos homens, tais como:desertificação milenar, extinção aceleradas deespécies, fragil idade crescente dosagrossistemas, poluições industriais edomésticas, destruição das paisagens edegradação do quadro da vida urbanatradicional, houve uma necessidade de reagir ecompreender melhor as causas e os mecanismosdos desequilíbrios. Entre o fim do século XIX eos anos setenta emergiram três atitudes quese completaram e constituíram os principaiscomponentes do chamado “ecologismo”: aconservação da natureza, o biologismo social ea sacralização objetiva de uma natureza mística.

A conservação da natureza consistiu emtentar salvar o que restava da natureza“original” (ou do que se acreditava ser a

natureza original), ou seja, preservar umpatrimônio mult imilenar em via dedesaparecimento. Foi assim que se criou a maiorparte dos parques e reservas naturais.

O biologismo social consist iu naintegração do homem com a natureza,organizando-se de modo que houvesse umainteração de todos os elementos em uma granderede de relações.

A sacralização objetiva de uma naturezamística consiste no retorno ao sagrado. Ohomem percebendo que estava destruindo anatureza tentou salvar o que restava,demonstrando, assim, que tinha consciência danecessidade da natureza para cont inuarsobrevivendo.

Monteiro (1981, p. 19) relata que “naConferência de Estocolmo, cerca de mildelegados de 122 nações, produziram 12.000páginas de documentos condensadosposteriormente em 500”. Porém este esforço,no final, resultou apenas em “recomendações”.Por essa razão a Conferência tornou-se umsímbolo, um referencial na História deste séculocomo o momento da eclosão da “questãoambiental”.

Segundo Monteiro (1981, p. 19)

“ela reflete claramente que os interessespolíticos e as injunções econômicas estão acimadas preocupações com a qualidade do ambiente,e acima de tudo, que o universo está divididoentre nações ricas e nações pobres cujos pontosde vista sobre a questão ambiental sãoconflitantes”.

Acot (1990) relata que na Conferênciade Estocolmo foram lançadas as bases de umaLegislação Internacional do Meio Ambiente,onde se uniu a proibição do armamento atômicoaos grandes problemas ecológicos, e onde adiscriminação racial, o Apartheid e o colonialismoforam condenados. O autor realizou umlevantamento histórico de como ocorreu adegradação do meio ambiente entre o fim doséculo XIX e os anos setenta deste século,mostrando a necessidade de compreender

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melhor as causas e os mecanismos dosdesequilíbrios ambientais.

Segundo Gregory (1992), o interessepela conservação do meio ambiente começouna metade do século XIX, mas teve poucainfluência na Geografia Física até o século XX,tendo recebido pouca atenção por parte dosgeógrafos.

Entre as décadas de setenta e deoitenta do século XX, com a intensificação da“onda ambientalista”, os pesquisadorescomeçam a discutir e produzir trabalhos ligadosà área de Geografia Física, sendo que a maiorparte destes, por estarem ligados àsUniversidades, t inham, assim, uma vidaacadêmico-científica.

Houve uma grande influência francesana Geografia brasileira nas décadas de trinta,quarenta, cinqüenta e sessenta do século XX,sendo que nas décadas de trinta e quarentapredominou os trabalhos de geógrafosfranceses e nas décadas de cinqüenta esessenta, além dos geógrafos franceses,encontram-se trabalhos produzidos porgeógrafos brasileiros com notável influênciafrancesa, tendo em vista que os cursos deGeografia, no Brasil, eram ministrados pordocentes franceses.

A Geografia produzida até a década doséculo XX de sessenta poderia ser chamadade descritivo-explicat iva, pelo fato que ostrabalhos eram produzidos com umapreocupação muito local, mediante análises depequenas áreas e descrição de paisagens,quase sempre sem uma preocupação degeneralidades, de corre lação de causa eefeito, situando os problemas nacionais emum plano internacional, dando à Geografia umvalor meramente cultural, conforme relataAndrade (1977).

A década de setenta do século XX foimarcada pela realização de trabalhos na áreade Climatolog ia e Geomorfologia,demonstrando predomínio da análisegeossistêmica neste período.

A Geografia, nas décadas de oitenta ede noventa do século XX poderia ser chamadade Ambientalista, tendo em vista a tomada deconsciência da população com a preservação domeio ambiente e a preocupação dospesquisadores em produzir trabalhos voltadospara a questão ambiental.

Segundo Moraes (1994), é importanteentender a formação do território brasileiro esuas principais características para entendercomo ocorrem o planejamento e a gestãoambiental. Os órgãos ambientais devem ser umelemento de articulação e coordenaçãointersetorial, cujas ações perpassem diferentespolíticas públicas. A gestão ambiental é a açãoinstitucional do poder público no sentido deobjetivas a política nacional de meio ambiente,ou seja, a política ambiental estatal. A gestãoambiental deve acompanhar toda atividade degestão do território e a sociedade deve exercercontrole sobre o Estado no que se refere aouso dos recursos e ao respeito ao patrimônionatural nacional.

Silva (1995) relata que as instituiçõesgovernamentais brasileiras ligadas ao meioambiente, em seus diferentes níveis (federal,regional, estadual ou municipal) apresentam-secom reduzida capacidade de operação real sobreos problemas ambientais de suaresponsabilidade. Há deficiências de preparocientífico entre os técnicos destas instituiçõese há falta de recursos e dispersão dos fundosdisponíveis em ações diretas. Relata, ainda, quea inserção de pesquisas ambientais brasileirasno quadro geopolítico é tarefa premente einarredável. Neste mundo em transformaçãoacelerada é suicídio cultural não estudar suarealidade ambiental e não tentar adquir ircapacidade de previsão quanto a possíveiseventos futuros relativos ao ambiente, a maiorherança para gerações futuras.

Na tentativa de conscientizar tanto oseducadores quantos os educandos, Koff (1995)apresenta um trabalho que tem por finalidadefornecer subsídios aos professores de ciências,mostrando que as atividades do cotidiano de

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estudo podem propiciar o desenvolvimento dehabilidades e atitudes que contribuem para aformação da cidadania e a autonomia intelectual,com reflexos sobre a educação ambiental. Taisaspectos em algumas vezes passamdespercebidos, mas, se trabalhados, podemfavorecer a compreensão que se transforma emconvicção e em ações, as quais permitem aatuação consciente do indivíduo em relação a simesmo, à natureza e à sociedade.

Bernardes e Ferreira (2003, p. 27) aoabordarem a crise ambiental no século XX,relataram que “um dos mais importantesmovimentos sociais dos últimos anos,promovendo significantes transformações nocomportamento da sociedade e na organizaçãopolítica e econômica, foi a chamada ‘revoluçãoambiental’”. Segundo esses autores, com raízesno final do século XIX, a questão ambientalemergiu após a Segunda Guerra Mundial,promovendo importantes mudanças na visão domundo. Relatam, ainda, que “pela primeira veza humanidade percebeu que os recursosnaturais são finitos e que seu uso incorretopode representar o fim de sua própriaexistência”. Assim, com o surgimento daconsciência ambiental, a ciência e a tecnologiapassaram a serem questionadas.

Arid (2003) em elaborou artigo sobre aquestão ambiental demonstrando que essa é aquestão central em todas as dimensões atuaisdo desenvolvimento. Para isso fez um relatosobre a Conferência Internacional de Estocolmo(1972), o Relatório Brundtland (1987), aConferência Internacional do Rio de Janeiro(ECO-92) e a Conferência Rio+10, realizada emJohannesburgo, África do Sul (2002).

Relata que as recomendações daAgenda 21, promulgada na ConferênciaInternacional do Rio de Janeiro (ECO-92) nãoforam cumpridas e que os compromissos nãopuderam ser firmados, “reforçando, apenas, asidéias de que a pobreza é a forma mais gravede degradação ambiental” (Arid, 2003, p. 2).

Segundo o autor foram ignoradas nospaíses mais pobres questões como:saneamento básico, destruição de florestas,poluição de águas doces, tratamento deesgotos, dentre outros.

Relata, ainda, que o Protocolo de Kyoto,sobre o aquecimento global, não foi aprovadoe que a biodiversidade não avançou. O Brasil,somente após dez anos da ConferênciaInternacional do Rio de Janeiro (ECO-92) concluiuo documento sobre políticas e metas ambientaisvisando ao cumprimento da Agenda 21.

Conclui que “não temos mais dez anospara desperdiçar até a 3ª Conferência Mundial(2012)” (Arid, 2003, p. 2). Há necessidade eurgência que o novo programa brasileiro setransforme em ações concretas.

Considerações

Apesar dos avanços científicosreferentes à temática da questão ambientalrelatados neste trabalho é necessário queocorra mais discussões sobre o assunto e quea população se conscientize que a preservaçãodo meio ambiente é importante para o futurodo planeta.

A educação ambiental é uma ferramentaque pode contribuir, em todos os níveis dasociedade, para a conscient ização dosproblemas ambientais e a necessidade depreservação da natureza.

A Geografia Física tem realizadoimportantes e fundamentais análises dosproblemas ambientais e tem apresentadopropostas e sugestões que podem ajudar napreservação do meio ambiente.

É preciso entender o processo deformação do território brasileiro e suas principaiscaracterísticas para implementar, de formaadequada, o planejamento e a gestãoambiental.

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Trabalho enviado em fevereiro de 2008

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