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A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
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GEOGRAFIA ESCOLAR E O LUGAR: CONSTRUÇÃO DE UM PROCESSO
DE ENSINO/APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVO
HUGO DE CARVALHO SOBRINHO1
CRISTINA MARIA COSTA LEITE2
Resumo: Este artigo tem como objetivo destacar a importância da Geografia Escolar e do Lugar
dos alunos, professores e da própria comunidade escolar, na construção de um processo de ensino e aprendizagem significativo, pautado pela busca de um pensamento sistematizado, atrelado às mudanças no espaço do homem. A metodologia utilizada para elaboração desse trabalho baseia-se numa perspectiva qualitativa, cuja pesquisa bibliográfica apoia-se, fundamentalmente, nas considerações de Santos, Carlos, Cavalcanti, Castellar, Callai e Tuan, referentes ao tema Lugar, entre outros autores. A partir disso, são estabelecidas associações entre esse conceito e o ensino de Geografia, que tem o potencial de conduzir à significação de conteúdos e, por conseguinte, à aprendizagem significativa. Depreende-se por meio desse estudo, que os conteúdos de geografia, são melhor consolidados quando se vincula a realidade e a experiência do aluno, como fundamentos à compreensão da outras escalas, inclusive a global.
Palavras-chave: Geografia escolar; Lugar; ensino; aprendizagem.
Abstract: This article aims to highlight the importance of School Geography and place of students,
teachers and the school community itself, to build a teaching and meaningful learning process, guided by the search for a systematic thinking, linked to changes in space of man. The methodology used for the preparation of this work is based on a qualitative perspective, whose literature relies fundamentally on considerations of Santos, Carlos Cavalcanti, Castellar, Callai and Tuan, on the topic Place, among other authors. From this, associations are made between this concept and the teaching of Geography, which has the potential to lead to the contents of significance and therefore the significant learning. It appeared through this study, that the geography of content are best consolidated when it links the reality and the experience of the student, as the foundation for understanding the other scales, including global.
Keywords: School Geography; Place; education; learning.
1 – Introdução
A geografia, como ciência e disciplina escolar, ao pensar o espaço do homem,
fornece um amplo campo de reflexões, que podem conduzir à compreensão da
sociedade, no sentido de identificá-la em termos de seus problemas, contradições,
soluções e papel do indivíduo/sociedade nesse contexto. Nesse sentido, são
pertinentes as indagações que possibilitem um entendimento acerca do papel que
1 Mestrando vinculado ao Programa de Pós Graduação em Geografia da Universidade de Brasília. E-mail de contato: [email protected] 2 Docente do Programa de pós graduação em Geografia da Universidade de Brasília. E-mail de contato: [email protected]
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assume esse campo disciplinar, numa conjuntura mundial marcada pela
complexidade, pelas relações e interações instantâneas, simultâneas e assíncronas,
decorrentes dos avanços nas redes de comunicação tecnológica.
Nesse contexto, observa-se que o debate sobre a Geografia escolar e o lugar
vem sendo desenvolvido por pesquisadores e professores da área, mas que sempre
há a possibilidade de destacar, ainda mais, essas reflexões, pois diante das
transformações que acontecem a todo o momento na sociedade, são exigidos
olhares direcionados aos processos pedagógicos.
Assim a escola se constitui um espaço privilegiado na sociedade
contemporânea. Nela os educandos podem aprender conteúdos diversos, como
valores éticos, morais e culturais, os quais devem pactuar as relações humanas do
cotidiano e saberes significativos oriundos das disciplinas escolares formalmente
estruturadas, visando ao preparo de cidadãos que possam compreender, intervir e
reconstruir a sociedade humana.
Vivemos em um mundo de difícil compreensão, em virtude da dinâmica
espacial, que de um modo muito rápido e intenso, contribui para alteração das
formas e funções urbanas postas no cotidiano vivido pelo indivíduo. Tais
transformações, que modificam a própria estrutura de organização espacial, exige a
associação dos conteúdos das disciplinas escolares ao cotidiano, nas questões que
estão permeadas no contexto sociocultural dos diversos sujeitos. Nesse sentido, não
há significado se esse processo evadir-se do contexto em que escola, alunos e
professores estão imersos, tampouco não propiciar reflexões que impliquem na
construção de significados sobre essa realidade vivida pelo grupo.
A geografia escolar, pautada na perspectiva de valorização do lugar, no
processo de aprendizagem do aluno, carece de reflexões e práticas que promovam
novas formas de condução do processo de aprendizagem na sua forma concreta de
implementação. Essas podem contribuir de forma a consolidar o conhecimento
geográfico vinculado à realidade vivida pelo alunado. O Lugar, que é, antes de tudo,
uma construção humana, constituindo-se em um polo de necessidade, mas também
de construção social (TUAN, 2011), nos fornece possibilidades da construção da
aprendizagem do aluno em Geografia, por meio do seu espaço vivido. Ou seja, o
cotidiano, o espaço da experiência, da afetividade, da solidariedade, do coletivo,
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deve ser valorizado para a construção de significados no ensino de geografia por
meio do lugar. Nesse contexto, a escola como uma instituição social deve preparar o
aluno para ler e reler de forma crítica e reflexiva o seu lugar para, de modo coerente,
pensar o mundo na perspectiva da compreensão local/global.
Por meio dessa perspectiva, condições devem ser fomentadas, no sentido de
propiciar que os discentes estabeleçam relações entre seu saber cotidiano e o saber
sistematicamente elaborado, discutido no âmbito escolar, para que possam refletir,
questionar, debater e elaborar proposições, a respeito das relações que são
estabelecidas no espaço geográfico. Desse modo, as questões culturais, sociais,
econômicas, políticas, étnicas e religiosas, que compõem a prática social dos
sujeitos, apresenta-se como possibilidade concreta de aprendizagem do próprio
processo de produção do espaço, inclusive para além do lugar.
A partir dessas considerações, pode-se afirmar que os estudos relacionados
com a categoria de análise Lugar são relevantes para uma ciência, como a
Geografia, que está sempre em busca de se reinventar, principalmente às vertentes
que almejam colocar o ser humano, o espaço e os lugares no centro do debate. A
esse respeito, corroboram as considerações de Tuan (2011), para quem o lugar é
um centro de significados construídos pela experiência. Desta forma, “as
experiências concretas deverão ter interligação e coerência dentro do que é
ensinado, pois o vivido pelo aluno é expresso no espaço cotidiano, e a interligação
deste com as demais instâncias é fundamental para a aprendizagem” (OLIVEIRA,
2006, p. 16).
Diante disso, relevantes questões surgem ao se propor essa abordagem,
entre as quais se destacam as seguintes: como o ensino da Geografia, por meio da
categoria Lugar, pode contribuir na mediação da formação de cidadãos? Como o
ensino de Geografia pode atuar, para confrontar diferentes experiências geográficas
de cada aluno, tendo em vista a construção significados? Como o lugar possibilita a
construção de conceitos científicos e por conseguinte, promove o letramento
geográfico?
A metodologia utilizada para elaboração desse trabalho baseia-se no método
qualitativo, cuja pesquisa bibliográfica apoia-se, fundamentalmente, nas
considerações de Santos (1996;2008), Carlos (2007), Cavalcanti (2002;2012),
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Castellar (2010) Callai (1999;2000;2005) e Tuan (1983;2011), referentes ao tema
Lugar, entre outros autores.
De posse desses fundamentos, são estabelecidas associações entre esse
conceito e o ensino de Geografia, que permitem considerar o Lugar como uma
categoria do espaço geográfico, que tem o potencial de conduzir à significação de
conteúdos e, por conseguinte, à aprendizagem significativa, do próprio processo de
produção do espaço, inclusive para além do lugar.
A opção de destacar essa temática vincula-se ao desejo por um
ensino/aprendizagem em Geografia mais significativo para o aluno e para o
professor. A necessidade dessa reflexão originou-se, não somente, da busca por
aprofundamento, mas também, e principalmente, pela necessidade estabelecida
pela prática da sala de aula, nas aulas de geografia, que impõe enfrentamentos
diários, relacionados aos próprio processo de formação dos alunos, futuros
cidadãos.
2 – UM CERTO LUGAR, UMA APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA EM
GEOGRAFIA
A relevância do ensino de Geografia, notadamente no que se refere à
dinâmica de formação da cidadania, é atestada por Cavalcanti (2012) ao afirmar que
As pesquisas na linha do ensino de Geografia no Brasil têm sido
produzidas com o intuito de compreender a dinâmica desse
processo e de indicar caminhos e abordagens que melhor
resultados produzem (ou podem produzir) na aprendizagem e na
formação do cidadão (p. 5).
Assim, e de acordo com esta autora, o ensino de Geografia contribui para a
formação da cidadania por meio da prática de construção e reconstrução de
conhecimentos, habilidades e valores, que ampliam a capacidade de crianças e
jovens compreenderem o mundo em que vivem e atuam, numa escola organizada
como um espaço aberto e vivo de culturas (CAVALCANTI, 2012).
Sobre o assunto Callai (2000, p. 55) destaca, “a geografia é uma ciência
social. Ao ser estudada, tem que considerar o aluno e a sociedade em que vive”.
Acredita-se que considerar esse aspecto, tanto no ensino de Geografia como em
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outras disciplinas, torna o processo de escolarização mais adequado à realidade em
que os educandos estão inseridos. Desse modo, a Geografia, enquanto ciência e
disciplina escolar, deve se pautar, pela perspectiva de “compreensão do lugar para
compreender o mundo” (2000, p.71), isto é, levar o aluno a pensar o espaço
geográfico e de fato conhecer o seu lugar e saber relacioná-lo a outros contextos e
outras escalas. Essa relação de compreensão e conexão para além do lugar, se
expressam nas seguintes palavras desta autora:
Compreender o lugar em que vive permite ao sujeito conhecer a sua
história e conseguir entender as coisas que ali acontecem. Nenhum
lugar é neutro, pelo contrário, é repleto de história e com pessoas
historicamente situadas em um espaço maior, mas por hipótese
alguma é isolado, independentemente (CALLAI, 2000, p.72).
O lugar refere-se ao ponto de articulação entre o mundial que se anuncia e
especificidade histórica do particular; é onde se vive, onde o cotidiano se realiza e
por isso, contém a expressão de um caráter mundial. Nesse sentido, para
compreender o processo de produção do espaço, que é mundial, basta analisar o
lugar onde se está, pois é aquele onde a produção toma forma concreta pois, de
fato, é no lugar que as relações globalizadas se concretizam. Cada lugar possui um
sentido único e uma possibilidade de aprendizagem significativa, da qual decorre a
constituição de elos, que articulam a experiência adquirida pela vivência num dado
local, ao contexto global. (CALLAI, 2005; LEITE, 2012).
Santos (1996) oferece contribuições relevantes para se pensar o conceito de
lugar. Nesse sentido, o considera na relação a sistemas de objetos organizados no
espaço e também numa perspectiva mais ampla, que vai além disso: “hoje
certamente mais importante que a consciência do lugar é a consciência do mundo,
obtida através do lugar” (SANTOS, 2008, p.161). Assim, concebe o lugar como
acolhedor do que é aí produzido para o mundo, por meio da relação dialética entre
essas instância e pondera: “[...] cada lugar é singular, e uma situação não é
semelhante a qualquer outra. Cada lugar combina de maneira, particular, variáveis
que podem, muitas vezes, ser comuns a vários lugares.” (SANTOS, 2008, p. 64).
Nessa linha de raciocínio, especifica o papel e a função do lugar:
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[...] o papel do lugar é determinado. Ele não é apenas um quadro de vida, mas um espaço vivido, isto é, de experiência sempre renovada, o que permite, ao mesmo tempo, a reavaliação das heranças e a indagação sobre o presente e o futuro. A experiência naquele espaço exerce um papel revelador sobre o mundo (SANTOS, 2008, p.114).
Importante ressaltar, que a concepção de lugar para Santos (1996) está
atrelada ao conceito de espaço:
Tudo que existe num lugar está em relação com os outros elementos desse lugar. O que define o lugar é exatamente uma teia de objetos e ações com causa e efeito, que forma um contexto e atinge todas as variáveis já existentes, internas; e as novas, que se vão internalizar (p. 97).
Certamente não se pode pensar o lugar sem pensar no espaço como objeto
de estudo da Geografia. Portanto, compreende-se que não existe lugar sem a
relação que se trava no próprio espaço com os demais objetos pertencentes a essa
teia, ou seja, o lugar é entendido como uma dimensão social (ação), que se vincula
com o local-global. “Cada lugar é, ao mesmo tempo, objeto de uma razão global e
de uma razão local, convivendo dialeticamente” (SANTOS, 1996, p.273).
Para esse mesmo autor (1996) “[...] cada lugar é singular, e uma situação não
é semelhante a qualquer outra. Cada lugar combina de maneira, particular, variáveis
que podem, muitas vezes, ser comuns a vários lugares.”
Ainda na perspectiva do materialismo histórico dialético, Carlos (2007) discute
o conceito lugar no contexto de emergência do processo de globalização:
a globalização materializa-se concretamente no lugar, aqui se lê/percebe/entende o mundo moderno em suas múltiplas dimensões, numa perspectiva mais ampla, o que significa dizer que no lugar se vive,se realiza o cotidiano e é aí que ganha expressão o mundial. O mundial que existe no local, redefine seu conteúdo, sem, todavia anularem-se as particularidades. (CARLOS, 2007, p.14).
Nesse sentido, considera o lugar como base da reprodução da vida:
O lugar é a base da reprodução da vida e pode ser analisado pela tríade habitante -identidade - lugar. A cidade, por exemplo, produz-se e revela-se no plano da vida e do indivíduo. Este plano é aquele do local. As relações que os indivíduos mantêm com os espaços
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habitados se exprimem todos os dias nos modos do uso, nas condições mais banais, no secundário, no acidental. É o espaço passível de ser sentido, pensado, apropriado e vivido através do corpo (CARLOS, 2007, p.17).
a globalização materializa-se concretamente no lugar, aqui se lê/percebe/entende o mundo moderno em suas múltiplas dimensões, numa perspectiva mais ampla, o que significa dizer que no lugar se vive,se realiza o cotidiano e é aí que ganha expressão o mundial. O mundial que existe no local, redefine seu conteúdo, sem, todavia anularem-se as particularidades. (CARLOS, 2007, p.14).
A esse respeito, Santos (2008) alerta para a funcionalidade do conceito de
lugar, na medida em que esse compõe o processo de construção da sociedade, e
por conseguinte do próprio processo de produção do espaço, que se materializa de
forma ativa no lugar e nas relações que são estabelecidas com a totalidade.
As considerações efetuadas até o momento, se associadas ao contexto de
escolarização em Geografia, permitem o estabelecimento de algumas conclusões.
Nesse sentido, se queremos promover um ensino de Geografia de qualidade, que
seja consequente às demandas de formação do cidadão do século XXI, que
considere as múltiplas relações estabelecidas entre a sociedade e natureza na
produção do lugar, deveremos assumir as possibilidades que se viabilizam por meio
do lugar, notadamente no que se refere à significação de conteúdos, pois: “o lugar
abre a perspectiva para se pensar o viver e o habitar, o uso e o consumo, os
processos de apropriação do espaço (CARLOS, 2007, p.14).
Tal dimensão de conhecimento apresenta estreita relação com o processo de
construção da noção de cidadania, na medida em que a reflexão sobre a realidade,
a partir do vivido, bem como a identificação das conexões entre o local e o global,
possibilitam o desenvolvimento de um sentido de pertencimento, que por sua vez
impele a uma conduta mais respeitosa para com o lugar e, por conseguinte,
potencializa a compreensão de direitos/deveres na responsabilidade sobre os bens
públicos e coletivos. Assim, para Leite (2012),
Conhecer o lugar é fundamental ao estabelecimento de uma noção de cidadania, na medida em que essa signifique a consciência de que deveres e direitos constituem os dois lados de uma mesma moeda e que demande atitudes coerentes em relação à vida em sociedade. Conhecer o lugar é uma construção: das referências
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pessoais e coletivas, da apreensão da realidade, da percepção das diferenças, da dialética do viver (p. 5).
Nessa perspectiva, o cotidiano se expressa pelo lugar de vivência e das
referências pessoais e coletivas, que podem ser aproveitadas pelos professores, em
seus diversos espaços e tempos, para a construção do conhecimento. Desse modo,
o ensino de Geografia não se restringe às questões relativas à localização,
orientação e representação espacial, pois orienta-se também pela compreensão
espaço da vida e dos homens como meio social. Em consequência, as experiências
e práticas concretas dos alunos podem ser exploradas para fins pedagógicos, para
que o aluno, conhecendo de forma sistematizada o seu lugar, possa, também, ser
por ele educado.
Entende-se que a utilização do lugar, no contexto das relações de
ensino/aprendizagem no âmbito da Geografia Escolar, resulte em uma profícua
prática escolar, cheia de vida, pois ocorre no lugar onde surgem múltiplos eventos
que são importantes à prática da cidadania e da significação pelos cidadãos. A esse
respeito, Castellar (2010, p. 45) complementa que "a aprendizagem será significativa
quando a referência do conteúdo estiver presente no cotidiano da sala de aula,
quando se considerar o conhecimento que a criança traz consigo, a partir de sua
vivência".
3 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
É preciso que os professores estejam atentos e compreendam que, por meio
dos espaços vivenciados e experimentados pelos alunos, no dia a dia, é possível
uma condução de aprendizagem significativa. Ao optar e valorizar o mundo vivido do
aluno, os professores estarão contribuindo para inclusão dos estudantes no seu
processo de aprendizagem, construindo conhecimentos e significados no ensino de
Geografia.
Assim, e em conformidade com Callai (1999), verifica-se a preocupação com
um ensino, que esteja entrelaçado à realidade dos alunos, um ensino que parta do
lugar para a compreensão do mundo. Nesta perspectiva, o estudo do lugar vem
sendo considerado por vários autores e em diferentes correntes metodológicas,
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resultando em contribuições metodológicas e conceituais acerca do lugar.
Por fim, há ainda que se ressaltar, que os próprios Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCNs) de Geografia, no seu 3º e 4º ciclo, almejam essa perspectiva.
Nesse sentido, em seu primeiro eixo, especificam em um de seus subitens “a
conquista do lugar como conquista da cidadania” e sugerem os seguintes itens,
como caminhos possíveis para o trabalho com o tema lugar, de modo a tornar o
aluno protagonista de seu aprendizado:
O lugar como experiência vivida dos homens com o território e
paisagens;
O imaginário e as representações da vida cotidiana: o
significado das coisas e dos lugares unindo e separando
pessoas;
O lugar como espaço vivido mediato e imediato dos homens na
interação com o mundo;
O mundo como uma pluralidade de lugares interagindo entre si;
A cidadania como a consciência de pertencer e interagir e
sentir-se integrado com as pessoas e os lugares;
Dessa forma, pode-se afirmar que alguns autores que defendem a utilização
do conceito, o fazem cientes da correspondência aos PCNs. Isso significa, então,
que o lugar se apresenta como um espaço construído, resultado da vida das
pessoas, dos grupos que nele vivem, das formas como trabalham, como produzem,
como se alimentam e como fazem e usufruem do lazer, constituindo-se a própria
realidade vivida produzida e reproduzida pelos sujeitos.
Portanto, consideramos factível que o cotidiano do aluno seja considerado
enquanto espaço vivido; que seus fixos e fluxos sejam percebidos, para a promoção
de uma proposta pedagógica que esteja emaranhada à realidade dos próprios
alunos, que devem ter seus conhecimentos sobre esse espaço aproveitados pelos
docentes, para a realização de propostas educativas, que possibilitem a uma
aprendizagem significativa.
4 - REFERÊNCIAS
CALLAI, Helena Copetti. Aprendendo a ler o mundo: a geografia nos anos iniciais do
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São Paulo, 2008.
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