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A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
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GEOGRAFIA ESCOLAR CONTEMPORÂNEA: PERCEPÇÃO DOS PROFESSORES DA ESCOLA ESTADUAL ERON DOMINGUES –
MARECHAL CÂNDIDO RONDON- PR
BÁRBARA REGINA FERRARI1
Resumo: A Geografia passou por mudanças significativas a partir de 1970, quando se propõe uma renovação em seu modo de entender o espaço e as relações que nele se manifestam, tem-se, portanto, o início de uma Geografia Crítica. Também, iniciam-se alterações nos métodos didáticos para o ensino da Geografia em sala de aula, com vistas à ruptura da concepção de que a aula é fundamentada em um repassar de informações por parte do professor, excluindo a participação dos alunos. Buscou-se verificar neste trabalho como essas transformações interferiram na geografia escolar e como os professores perceberam as modificações na prática, com o estudo da Escola Estadual Eron Domingues, a partir de entrevistas com professores inativos e ativos, verificando que estes passaram por mudanças metodológicas e como estes entendem a importância e a utilidade da
geografia. Palavras-chave: Geografia Escolar; metodologias de ensino; percepção dos professores.
Abstract: Geography has undergone significant changes since 1970, when it proposes a renewal in its way of understanding the space and relationships that it manifest, we have, therefore, the beginning of a Critical Geography. Also, starting up changes in teaching methods for the teaching of geography in the classroom, in order to break the conception that the class is based on a pass information from the teacher, excluding student participation. We attempted to verify this work as these changes interfere in school geography and how teachers realize the changes in practice to the study of the State School Eron Domingues, based on interviews with retired teachers and active by checking that these underwent methodological changes and as they understand the importance and usefulness of geography.
Key-words: School geography ; teaching methodologies ; perception of teachers.
1 – Introdução
Pensar para que serve a Geografia e qual é a sua importância no contexto
escolar, remete-nos à reflexão sobre como professores e alunos estão entendendo
esta ciência. Apesar das mudanças que ocorreram em sua teoria e em seu ensino,
alunos e professores ainda não expressam com facilidade a importância em se
estudar esta disciplina. Em vista desta constatação, buscou-se neste texto
evidenciar a necessidade de mostrar que a Geografia possui participação importante
na formação dos alunos.
1 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal da Grande
Dourados. Email de contato: [email protected]
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No que tange ao ensino de Geografia, ele passou por modificações ao longo
da história. Do Ensino Tradicional (descritivo e mnemônico) até o Ensino Crítico
(progressista, visando formação do sujeito ativo e participativo) em que várias foram
as alterações metodológicas implantadas em sala de aula na contemporaneidade.
Segundo Santos (2008), o conhecimento escolar da Geografia mudou muito nas
últimas duas a três décadas.
Essa mudança pode ser atribuída a diversos fatores, dentre os quais estão as
transformações ocorridas na própria sociedade. Tais transformações inferiram e
ainda interferem na educação escolar, tornando-a elemento constitutivo dos mais
destacados. Algumas delas podem ser pontuadas a partir das políticas
educacionais, influenciadas pelo atual contexto político, econômico e cultural.
Para entender como alguns procedimentos metodológicos, o uso de novos
recursos, concepções da geografia e como essas se concretizam na escola,
realizou-se um estudo de caso na Escola Estadual Eron Domingues – Marechal C.
Rondon-PR, a partir de relatos de professores de geografia inativos e ativos, que
lecionaram no período de 1970 a 2014. Esta escola não foi escolhida ao acaso. Ela
é a escola mais antiga desta cidade e o resgate da memória e da vivência dos
professores fora de grande importância para entender como as grandes
transformações no âmbito da ciência, e as próprias transformações na sociedade,
afetaram esta escola (seu local, seu cotidiano), em especial, à Geografia.
2 – Metodologia
Este trabalho consiste em uma pesquisa realizada no ano de 2014, a
metodologia para o desenvolvimento da pesquisa é de cunho exploratória, com
aporte bibliográfico a partir de leituras, análise, levantamento de dados e alguns
temas como: Geografia Escolar; História do pensamento geográfico e ensino e
aprendizagem.
No que tange à pesquisa de campo, realizou-se um estudo de caso, com
ênfase na técnica de relato oral, com os professores de Geografia (ativos e inativos)
da Escola Estadual Eron Domingues. Estes professores ministraram aulas no
período de 1970 a 2014 (e alguns ainda lecionam na escola), de modo a promover
um panorama contextual sobre a evolução dos conteúdos e das técnicas utilizadas
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para ensinar a disciplina nesta escola, verificando a funcionalidade e a utilidade das
mesmas pela ótica do professor.
Inicialmente, fez-se uma busca de todos os professores que lecionaram na
escola desde a fundação da mesma, em 1958. Priorizaram-se os professores que
atuaram sendo concursados durante um período de 5 anos no mínimo, e que
estivessem dentro do período estudado, pois assim, teriam uma base das mudanças
tanto em âmbito educacional como funcional. Após estabelecer contatos com
alguns, com a colaboração dos mesmos, foi possível agendar entrevistas, uma
conversa, sobre os anos em que lecionaram, sobre o ensino e a Geografia escolar.
No trabalho os professores foram denominados como P1, P2, P3 e P4, sendo P1 o
professor que lecionou de 1963 a 1988; P2 de 1971 a 1994; P3 iniciou em 1993 e
estava prestes a se aposentar no ano de 2014; e P4 iniciou em 2004 e ainda está
em atividade.
O município de Marechal Cândido Rondon, de acordo com o IBGE (2014)
possui 50.299 habitantes e apenas cinco escolas estaduais. Assim, a Escola
Estadual Eron Domingues é a escola mais antiga e a primeira a ser implantado o
Ensino Médio, por isso esta passou por várias mudanças. A escola foi instituída em
uma época em que a realidade e a sociedade eram diferentes e, consequentemente,
o ensino de Geografia também tinha outros interesses. Assim, há professores que
ainda atuam na escola, e que viveram essa mudança de paradigmas da Geografia e
do próprio ensino. Mas nem sempre se adequaram ao momento atual.
Para a análise das informações coletadas, foi utilizada a análise descritivo-
analítica, com ênfase na análise do discurso de Michel Pêcheux2 com a finalidade de
categorizar em tempo histórico as características didáticas apresentadas nos relatos
orais coletados. Levou-se em consideração a percepção de cada professor a
formação acadêmica, analisando como ocorreu a adaptação de mudança
2 Análise do Discurso segundo Pêcheux verifica as circunstâncias com que um discurso é
produzido, considerando-se as dimensões simbólicas, historicidade e a ideologia do sujeito.
Consultar, PÊCHEUX, Michel. Análise Automática do Discurso (AAD 69). Parte I. In:
GADET, Françoise; HAK, Tony. Por uma Análise automática do discurso: uma introdução à
obra de Michel Pêcheux. (trad. Bethânia S. Mariani et al). 2. ed. Campinas, SP: Editora da
UNICAMP, 1993, p. 61-105.
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metodológica, quanto ao uso de recursos em sala, e também do entendimento dos
mesmos sobre as concepções da geografia (para que serve e utilidade) desde a
década de 1970 até 2014, assim como as mudanças globais, nacionais, que afetam
o lugar, a escola.
3 – Geografia escolar e percepção dos professores
A Geografia escolar teve seu surgimento juntamente com a sistematização da
Geografia como um conhecimento científico, no século XIX. Da mesma forma que a
ciência geográfica passou por modificações ao longo dos anos, buscando novos
paradigmas que se adequassem a realidade, a Geografia escolar também se
modificou.
É possível perceber que muitas mudanças foram significativas para o seu
desenvolvimento. Teve-se produções acadêmicas, que a afirmaram como ciência,
dando-lhe um objeto de estudo, - o espaço -, além das problemáticas que envolvem
a sociedade e relações de poder que nesse espaço se estabelecem.
A Geografia, como disciplina escolar oferece sua contribuição para que alunos e professores enriqueçam suas representações sociais e seu conhecimento sobre as múltiplas dimensões da realidade social, natural e histórica, entendendo melhor o mundo em seu processo atual da chamada mundialização da economia (PONTUSCHKA et al, 2009, p.38).
Assim, a Geografia escolar se solidifica a partir da percepção do espaço e dos
sujeitos que o modificam. Contudo, em seu desenvolvimento, nota-se que esta
tomou rumo diferente da ciência geográfica. Enquanto alguns professores seguiam
com discussões acerca das problemáticas existentes na sociedade, a sua maioria se
prendia a um tipo de livro didático tornando o conteúdo algo estático e fragmentado,
sendo visto um espaço que parece “não ter vida”.
A Geografia em seu início teve um conteúdo descritivo das paisagens. No
Brasil há “Toda uma literatura e uma iconografia voltadas para a descrição e esboço
de classificação, distribuição e localização das paisagens brasileiras [...]”
(MOREIRA, 2009, p.30). A paisagem era a natural, vista como as diferenciações de
áreas existentes em que cada uma possuía a sua individualidade.
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Com a renovação do pensamento geográfico, percebe-se a importância do
homem como um elemento construtor dessa paisagem, tendo assim como objeto
“[...] o estudo das relações entre o homem e o meio, ou, posto de outra forma, entre
a sociedade e a natureza” (MORAES, 2002, p.18).
O espaço desde sempre foi um elemento a ser pensado e (re) organizado, e é
por meio da relação entre os homens e o meio que ele se constitui. É sabido que em
seu início, a Geografia era um conhecimento destinado às classes dominantes, pois
esta possuía o conhecimento de lugares estratégicos, que lhes davam vantagens
sobre os inimigos, e desta forma conhecer o espaço era fundamental, até para a
própria sobrevivência.
Com a evolução de técnicas e instrumentos, a Geografia também passou por
modificações, mas a descrição de paisagens e dos elementos naturais não deixou
de ser fundamental. Ensinava-se nas escolas os aspectos físicos de cada região, de
seu país ou Nação.
A Geografia esteve presente nas escolas inicialmente de forma indireta
juntamente com a história. “Sua presença ocorria por meio da história do Brasil e da
língua nacional, cujos textos enfatizavam a descrição do território, sua dimensão,
suas belezas naturais” (VLACH, 2008, p.189). Portanto, não se tinha até o momento
uma Geografia científica autônoma, mas pautada em modelos franceses e ancorada
na história do Brasil e na descrição das paisagens.
As produções geográficas até os anos 70 deixavam de discutir os problemas
sociais e até mesmo os ambientais, tendo uma pretensão à neutralidade, alegando
que estes não eram geográficos (VESENTINI, 2008).
A Geografia na década de 1970/80 apresenta um caráter local. Como afirmou
P1 ela partia do conhecido para o desconhecido. Por exemplo, trabalhava-se com o
município, estudando todos os seus elementos, como o relevo, clima, e como o
homem vivia ali, colocando o homem dentro desse contexto apenas como elemento,
mostrando uma fragmentação na geografia.
O professor P4 lembra que em sua época [década de 1980, na Escola
Estadual Eron Domingues] de estudante os temas eram realmente voltados a uma
Geografia física, além de existir um decoreba quanto ao nome de rios, capitais, as
regiões. “[...] quando eu cursei o fundamental aqui, lembro muito, muito decoreba,
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nossa como eu decorava rio, nome de rio, região, capital, tinha muito disso, muita
leitura e responde questão [...]”. (P4, 2014).
Desta forma, para uma Geografia Renovada, que ganha força a partir da
década de 1970, e continua em um processo de modificações, não somente de
renovação, mas novas reflexões e pesquisas que vem a contribuir para novos
olhares e debates mais amplos, o objeto da Geografia é o estudo do espaço social,
político, construído pelo homem.
O que propomos como objeto dessa Geografia renovada é o estudo das
sociedades humanas em sua obra de permanente reconstrução do espaço
das gerações precedentes, através das diversas instâncias da produção
(SANTOS, 2008, p.240).
É de maneira diferente que o homem se relaciona com o espaço, e com isso,
constrói “novos espaços” por meio das relações sociais. “A Geografia é uma ciência
social e, ao ser estudado, tem de considerar o aluno e a sociedade em que vive”
(CALLAI, 2010, p.57). É por isso que, ao se estudar o espaço, leva-se em
consideração seu agente transformador: o homem.
A partir da década de 1980, se intensifica o processo de renovação da
Geografia escolar, correspondendo ao movimento de renovação curricular dos anos
1980, o que não significa uma renovação de suas matrizes. Buscava-se “[...]
melhoria da qualidade do ensino, a qual, necessariamente, passava por uma revisão
dos conteúdos e das formas de ensinar e aprender as diferentes disciplinas dos
currículos da escola básica” (PONTUSCHKA et al., 2009, p.68). Sentia-se a
necessidade de discutir questões relacionadas à vivência dos alunos e a situação do
país, trabalhando com alguns conceitos como modo de produção e trabalho. Esses
conceitos mostram-se importantes para retratar a realidade social e levantar
discussões acerca das manifestações, como os movimentos sociais.
Assim, o professor P1 percebe mudanças de um pensamento tradicional para
um pensamento crítico3, desde a década de 1970 até 2014, afirmando que
3 Sabe-se que não foi somente uma mudança de um pensamento tradicional para o crítico, pois dentro da
Geografia encontram-se várias correntes, dentre elas Teorético quantitativa, Humanista, Cultural e que formam
essa nova visão de Geografia.
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[...] o pensamento crítico é uma das nossas funções também, formar o pensamento crítico através de observações, pesquisas, leituras e tudo (...) no meu tempo [anos 70/80] não era tanto, mas hoje em dia sim, aí estão os movimentos de rua e o pensamento crítico evoluiu (P1, 2014).
Além disso, complementa que há novos materiais disponíveis ao professor o
que auxilia em suas aulas. Esses são alguns avanços que vieram para educação
num todo, porém, na geografia se encontram temas e conteúdos subdivididos e
dissociados entre si.
Todas as tentativas são em direção a renovações que implicam mudanças na postura, na linguagem e nas atividades de aprendizagem necessárias para que o aluno reflita sobre a realidade, a sociedade e a dinâmica do espaço. No entanto o discurso praticado nos séculos XIX e XX continua a ser reproduzido até hoje. Por isso a Geografia escolar ainda aparece no currículo como sendo aquela área de conhecimento de menor aplicação prática fora da escola, mesmo que essa situação receba críticas desde meados de 1980 (CASTELLAR, 2005, p. 211-212).
Assim, a partir da década de 1970, a geografia escolar vem sendo discutida
por professores e geógrafos, na tentativa de aproximar a realidade dos alunos, de se
fazer um ensino significativo e não mostrar o homem apenas como um elemento da
paisagem e do espaço. Entretanto, o que se vê ainda na década de 80 são
conteúdos determinados pelo Estado, fracionados e um ensino com pouca inovação,
lembrando em que se vive num momento tênue da história brasileira, a ditadura
militar.
Diante dessa situação, o professor P2 relata que a Geografia não tinha um
tema específico, mas era um conjunto de temas que tinham que ser trabalhados,
estes ainda determinados pelo Estado. “Dava-se ênfase aos aspectos físicos, o
universo e toda essa questão, e os aspectos sociais, econômicos que eram temas
trabalhados em todas as séries, só que numa série trabalhava Geografia do Brasil,
na outra as Américas, e na outra o mundo”. Permanecendo uma abordagem com
várias divisões como, Geografia física, humana, econômica, regional.
Há a separação dos assuntos e o livro didático evidencia muito bem essa
questão, ao abordar diversos temas dividindo-os em seus capítulos. Hoje, isso ainda
é algo presente nos livros didáticos, e é um dos materiais mais utilizados e de
subsídio aos professores e alunos. É observado que muitos professores
trabalhavam e ainda trabalham seguindo essa separação proposta pelo livro.
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Em meados de 80 e 90, que se evidencia de fato a introdução de um
pensamento mais crítico e libertador, no qual se estimula o pensamento dos alunos
e a participação destes. É por isso, que se tem a ênfase de uma Geografia política e
social, no qual se discutem mais teoria e problemas sociais.
“Começou a vir a questão da dialética, essa questão toda de análise mais
aprofundada das questões e tudo mais, então ela se tornou uma Geografia mais
analítica, de interpretação, de conhecimento nesse sentido” (P2, 2014). Por isso, os
professores perceberam uma mudança quanto as temáticas no sentido de que
desde os anos 1990 e mais recentemente, há uma maior relação entre os aspectos
físicos e os aspectos sociais e econômicos. “A dosagem hoje parece que pesa igual,
da física e da econômica”, afirma o professor P3.
No entanto, isso não parece ser suficiente para se romper com essa
dissociação que existe entre a geografia física e humana, percebendo que a
conversa entre essas duas “frentes” ainda é truncada. O importante não é trabalhar
um ou outro, mas que haja a interação dos elementos, e por vezes não é isso que
acontece.
Diante desse processo, o professor P2 afirma que procurou se adaptar à
realidade dos alunos, as mudanças que ocorriam, uma vez que tinham que fazer o
planejamento, mudando conforme necessidade e buscando metodologias
diferenciadas. Concorda que a metodologia utilizada hoje em dia é interessante, na
busca de um sujeito mais participativo, formulador de opiniões, porém, em sua
época, também se incentivava o aluno a pensar criticamente sobre seu lugar de
vivência e problemas que o cercava.
Complementa ainda que a diferença é que o processo era devagar para haver
mudanças, tinha essa perspectiva, mas com menos ênfase que atualmente. O livro
didático sempre foi um importante instrumento, e o principal material didático do
aluno, apresentando um enfoque mais tradicional, no entanto não caracterizava
como único recurso, buscando-se textos e atividades complementares. Assim, na
realidade
Ensinar Geografia implica desenvolver o mesmo método que ela usa na construção do conhecimento geográfico que está em contínua transformação. Ensinar Geografia significa dar conta do processo de que levou à atual organização do espaço [...] o espaço não pode ocorrer por
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meio da transmissão de conteúdos programado e subdivididos por séries (ALMEIDA, 1991, p.86).
Percebe-se que as transformações, tanto curriculares, quanto na própria
ciência geográfica, método, conceitos e técnicas ainda estão ocorrendo, pois ao
considerar a educação um processo coletivo, que implica na relação com o outro, é
possível dizer que há muitos encontros acontecendo (GALLO, 2008). O professor P4
diz sobre as mudanças oportunas e que contribuem para um ensino dialogado, mas
sem que haja excessos em metodologias diferenciadas.
Hoje a gente tem mais liberdade de não só trabalhar especificamente com o livro, pergunta e resposta, você consegue trabalhar esse mesmo conteúdo, essa mesma abordagem de outras formas, cartazes, paródias, músicas, que é uma forma mais atrativa para o aluno, só que a gente tem que cuidar para não pecar no excesso desse diferente, o excesso do diferente e o pouco conteúdo agregado a esse diferente, então não adianta você diversificar tanto na metodologia se você não consegue agregar conteúdo para o aluno (P4, 2014).
Quanto a opinião dos professores relativo à importância da Geografia e a
utilidade da mesma na vida do aluno, mostra-se uma síntese no quadro 01.
Professor/Período que lecionou
Para que serve a Geografia? Qual a utilidade?
P1 (1963-1988)
Serve para se localizar. Importante se localizar no tempo e no espaço.
P2 (1971-1994)
Serve para conhecer o meio, o espaço o qual o aluno está inserido, e que suas ações
influenciam e são influenciadas no espaço.
A Geografia é uma construção humana e faz parte do cotidiano, do
dia-a-dia, da vida.
P3 (1993 até o momento)
[...] serve pra transformar algo que está errado na cidade
dele ou até no país, dependendo de como ele vai
engajar na luta [...].
Acredita ser mais importante para alunos de Ensino Médio (entendem
mais); Importante para se tornar uma pessoa mais crítica e atuante.
P4 (2004 até o momento)
[...] serve para conhecer um pouco melhor o mundo que se vive atualmente, que não foi sempre assim [...]e que
toda essa história, não pode ser esquecida, uma vez que
tudo o que o aluno está fazendo hoje vai trazer
consequências para o futuro.
[...] a importância da Geografia, porque é uma relação entre os
seres humanos e sobre um ambiente; [...] é saber trabalhar,
saber o que ele pode, o que é bom e o que não é bom dentro desse contexto, seja no contexto social, ambiental, é de saber o que eu
estou deixando, se eu estou fazendo a minha parte ou não.
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Quadro 01. Síntese da opinião dos professores entrevistados Fonte: Pesquisa de campo (2014).
Todos os professores relacionam que a geografia serve para entender o
mundo, o espaço em que vivemos, tanto quando o professor diz para se localizar,
desde perceber as mudanças na cidade, em seu meio, assim como pelas
próprias ações dos sujeitos e como estas se apresentam na realidade de cada um.
Argumentam também que quanto a sua utilização é preciso se localizar no
espaço, pois sendo este produto das relações sociais, está em construção
constante, levando em consideração as vivências dos sujeitos e suas análises sobre
este espaço vivido.
Verifica-se que cada professor tem a sua concepção de Geografia e isto
acarreta em um ensino diversificado. Por isso, o seu ensino vai de acordo com o que
o professor espera ao ensinar tal disciplina e como ele explica a importância em se
estudar tais temas.
Portanto, como afirma Callai (2010), três razões são essenciais para se
estudar a Geografia: a primeira para conhecer o mundo e obter informações; a
segunda, é que a Geografia é a ciência que estuda, analisa e tenta explicar o
espaço produzido pelo homem; e a terceira é que ela tem o objetivo de formar o
cidadão, contribuindo com o dever da escola. Nesse sentido, percebe-se que é um
amplo conhecimento o da Geografia, e é ela quem tem a função de mostrar e trazer
informações sobre os diversos lugares existentes no globo, uma vez que, esses
lugares não deixam de ser uma produção do próprio homem.
4 – Considerações finais
A Geografia esteve e ainda está em mudanças e no âmbito de novas
reflexões, no entanto, parece que os movimentos de inovação permanecem em sua
maioria na academia. Muito mais na teoria do que na prática, deixando uma
defasagem no que se aproxima ao ensino e à Geografia escolar.
Os professores identificam mudanças adotadas em sua própria metodologia,
que foram adequando-as com o passar dos anos. Além, de uma busca de aproximar
os alunos dos debates em sala, fazendo com que estes se percebam como agentes
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do conhecimento, ao estimular suas habilidades e outras potencialidades individuais
e coletivas.
Perceberam também que com a inovação tecnológica, muitos recursos foram
surgindo, auxiliando no trabalho em sala, mas que o uso do livro didático ainda é
fundamental. Os professores P1 e P2 apontam como fatos negativos uma maior
autonomia dada aos alunos, afirmando que hoje o trabalho do professor se torna
mais difícil, havendo muitos casos de desrespeito por parte dos alunos. Por outro
lado, apontam como fator positivo uma maior autonomia do trabalho do professor,
em que este além de ter mais instrumentos e ferramentas para utilizar em suas
aulas, é quem as planeja, tanto coletivamente, mas também individualmente.
Há ainda desafios enfrentados pelos professores, quanto a algumas
metodologias e formas de avaliação um tanto quanto tradicionais, além de
conteúdos abordados superficialmente. No entanto, este estudo procurou relatar a
evolução do ensino da Geografia em uma importante escola da cidade de Marechal
Cândido Rondon reafirmando que ela é uma disciplina dinâmica e em conjunto com
professores e alunos vem sendo repensada.
Hoje, a Geografia serve para o aluno situar-se como um sujeito crítico e
participativo, frente às diferentes realidades. E os professores estão sempre
repensando sua prática quanto à busca de novas metodologias, recursos, para
envolver o aluno e desenvolver novas habilidades e competências.
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