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Geografia da população emigrante do Noroeste de Portugal no século XIX - uma abordagem às actividades profissionais Henrique Rodrigues

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499Geografia da população emigrante do Noroeste de Portugal no século XIX - uma abordagem às

actividades profissionais

Henrique Rodrigues

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IV Congresso Histórico de Guimarães - Do Absolutismo ao Liberalismo iv secção

501Introdução1

Com a criação de um novo quadro administrativo, em 1835, os Governos Civis passaram a ser responsáveis pela produção e arquivo de uma massa documental vastíssima sobre a emigração, o que permite cartografar a mobilidade geográfica desde oitocentos até à actualidade. As principais fontes oriundas destes arquivos, sobre a diáspora, são constituídas pelos documentos de aquisição de passaporte e pelos Livros de Registos de Passaportes. Trata-se de fundos arquivísticos divulgados por nós em duas dissertações académicas2. As primeiras fontes são de carácter processual e estão identificadas por Processos, onde se reúnem certidões várias, atestados e mesmo documentos de âmbito familiar e de carácter privado, como são as cartas endereçadas da outra margem para o lar. Os Livros de Registos de Passaportes contêm uma base de dados biométricos e de identificação dos impetrantes das licenças. Os elementos constantes nestas corpus proporcionam-nos um conhecimento profundo sobre os mais variados aspectos da mobilidade demográfica, além de ficarmos a saber quem eram estes indivíduos, o nome dos ascendentes, estado civil, idade, data de nascimento, casamento, óbito, de onde saíram, para onde se deslocaram, quantas viagens fizeram, que profissões desempenharam ao longo do processo migratório, existência de familiares embarcados, enfim, o mais completo quadro de variáveis sobre os nossos patrícios documentados para se ausentarem do país.

Mais do que agregar estes indivíduos do sexo masculino por actividades, formando quadros onde emergem os sectores primário, secundário e terciário, optámos por constituir conjuntos orientados pelas afinidades sócio-profissionais3 e pelos aspectos culturais, usando as assinaturas existentes na documentação compulsada, quer sejam os Processos quer sejam os Livros de Passaportes. Com recurso a uma metodologia de micro-análise, penetrámos em toda a teia social, cultural e profissional da emigração e analisámos estas elites em pormenor, especialmente os grupos preparados para o êxito, cruzando as idades e níveis de alfabetização com os mesteres identificados. Desta forma, fugimos às generalizações dos indicadores básicos de instrução (alfabetizado ou iletrado) e identificámos os mesteres que se apoiavam em quadros escolarizados; como se distribuíam geograficamente, quando rumavam em direcção ao Brasil

1 Com este texto, desejamos prestar homenagem à Professor Doutora Norberta Amorim, como prova de apreço por todo o apoio que nos facultou ao longo da nossa investigação.2 Referimo-nos às dissertações de Mestrado e Doutoramento, respectivamente, A Emigração do Alto-Minho e a Miragem do Brasil, 1835-60. Porto: Faculdade de Letras 1991; Alto-Minho no Século XIX, contextos migratórios, sócio-culturais e familiares. Porto: Faculdade de Letras (dois tomos+cdrom), 2003.3 Não agrupamos os diferentes mesteres e ocupações devido ao facto de não termos referências em número suficiente para aplicação de outra metodologia. Esta opção permite a análise a um amplo leque de profissões, o que, só por si, ajuda a penetrar no universo sócio-profissional em que se insere o emigrante. Mantivemos, nesta abordagem, a terminologia usada no século XIX.

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503a estes deslocamentos para o Brasil, até à viragem para o século XX, representam cerca de quarenta por cento do volume das saídas legalizadas com uma única licença. São mais de oito milhares de indivíduos do sexo masculino 5 com esta ocupação declarada à data da obtenção do passaporte.

Os mais elevados cômputos de celibatários pertencem a três conjuntos: os lavradores/agricultores, os de profissão omissa e o grupo constituído por caixeiros, estudantes e filhos-família. Este quadro ostenta outra distribuição, quando analisado relativamente a cada um destes mesteres.

Os solteiros detêm boa representatividade entre os caixeiros e estudantes/filhos-família. Constituem um fluxo de 1667, correspondente a 98,4% deste mesmo conjunto. Os restantes são homens casados e viúvos no exercício de actividades de caixeirato. Como era presumível, os de actividade profissional omissa, identificados como “indeterminados”, também exibem uma marca assinalável relativamente aos celibatários, onde os 3892 simbolizam mais de noventa e dois por cento, repartindo-se os restantes números por casados e viúvos de quem não foi mencionado o respectivo ofício.

Se esta distribuição não desencadeia muitas questões, no tocante ao estado celibatário dos dois grupos apontados, o mesmo não acontece relativamente a escreventes, farmacêuticos, padres, “bacharéis”, guarda-livros, médicos e engenheiros, num total de cento e vinte e quatro casos, onde há 75,8% de varões desprovidos de ligações conjugais. Além destes “conjuntos” de ocupações, destacam-se os agentes agrícolas sem vínculos de posse de terra, identificados por criados, jornaleiros, trabalhadores, cavadores e serventes (6). Todos eles têm o registo de celibatários. Estes, ao mesmo tempo, ostentam a mais baixa proporção de iletrados.

5 Este quantitativo acaba por patentear uma imagem sobre o Alto-Minho de oitocentos, considerando que «a verdadeira e única industria do districto é a agricola», regista o Visconde de São Paio. Cf. Relatorios sobre o Estado da Administração Publica nos Districtos Administrativos do Continente do Reino e Ilhas Adjacentes, em 1856. Lisboa: Imprensa Nacional, 1857, p. 275.6 A estatística relativa ao «pessoal e salario agricola» para 1859, onde se incluem proprietários e lavradores, num total de 38937 para o distrito de Viana do Castelo, apresenta-nos os restantes agentes na qualidade de «trabalhadores» por sexo e em grupos etários, um dos 15 aos 30 e outro maior de 35 anos, sem distinguir as várias funções. No total, formam um conjunto de 51722 funcionários, ou seja, por cada proprietário/lavrador havia pouco mais de 1,3 trabalhadores de ambos os sexos e de qualquer idade, auferindo um salário entre os 100 réis, para as mulheres, e os 240 réis, para os homens. Estes salários variam de acordo com as estações do ano. Os vencimentos registam oscilações inter-concelhias, sendo mais baixo em Ponte de Lima e o mais bem remunerado em Melgaço, com 240 réis, no Inverno. Os lavradores/proprietários demarcam-se em Vila Nova de Cerveira e Valença, onde cobravam pelos serviços, respectivamente, 600 e 800 réis na época de Verão. Cf. Relatorios sobre o Estado da Administração Publica nos Districtos Administrativos do Continente do Reino e Ilhas Adjacentes, em 1860, Lisboa, Imprensa Nacional, 1865, p. 15. Ver também A.G.C., «Nota do preço medio dos salarios dos operarios das differentes artes e officios (...) 1 de Fevereiro de 1899», pasta 473, doc. 20; «Mappa do preço médio dos salarios dos operarios no anno economico de 1861 a 1862», pasta 193, maço 29, doc. s.n.

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[Figura 1]Grupos profissionais do sexo masculino por estado civil e alfabetização com um

passaporte (1835-1900)

Legenda: G1: Alfaiate, chapeleiro; G2: Pedreiro, artista, alvanel, canteiro, calceteiro; G3 Carpinteiro, marceneiro,

escultor entalhador, calafate, tanoeiro; G4: Caiador, pintor, estucador; G5: Caixeiro, estudante, filho-família; G6:

Criado, jornaleiro, trabalhador, cavador, servente; G7: Lavrador, agricultor; G8: Comerciante, negociante, ourives

industrial, armador, capitalista, empreiteiro, relojoeiro; G9: Ferreiro, serralheiro; G10: Marítimo, barqueiro, pescador,

marinheiro; G11: Escrevente, farmacêutico, padre bacharel, guarda-livros, médico, engenheiro; G12: Proprietário; G13

Sapateiro, tamanqueiro, soqueiro; G14: Padeiro, cozinheiro; G15: Várias actividades; G0: Omissos.

Os lavradores/agricultores casados dominam pelos quantitativos, aos quais se juntam pouco mais de meio milhar de pedreiros, artistas, canteiros, calceteiros e os arrolados com a profissão de alvanel. É entre os marítimos, barqueiros, pescadores e marinheiros que mais se afirmam os comprometidos maritalmente, com duzentos e vinte e seis casos, o correspondente a 54,8%. Depois destes, figuram os poucos padeiros e cozinheiros casados. A seguir intervêm os proprietários com 44,7% de emigrantes detentores do estatuto que lhes confere responsabilidades matrimoniais, embora os consorciados pouco mais sejam do que uma centena de indivíduos. Com uma representação bem significativa, intervêm os trabalhadores do sector do calçado: sapateiros, tamanqueiros e soqueiros. Ainda marcam boa presença, relativamente ao respectivo sector, os emigrantes ligados à construção civil, como: pedreiros, artistas, alvanéis, canteiros e calceteiros, onde os que tinham construído lares emergem com mais de trinta e seis por cento, relativamente a tais ocupações.

505Os viúvos, com cerca de seis centenas e meia de homens, emergem com maiores cifras entre os lavradores/agricultores e os que não têm referência a algum mister. Em todos os conjuntos aqui estudados há viúvos e distinguem-se, com maior percentagem, no seio dos proprietários, negociantes, comerciantes e actividades afins a este conjunto.

A cartografia ajuda-nos a conjugar as variáveis da alfabetização e do estado civil por ofícios. A primeira imagem patenteia números de celibatários e casados muito próximos dos totais de letrados e analfabetos, relativamente aos referidos estados civis. Mas, estes emigrantes escolarizados são em número inferior ao total de jovens sem responsabilidades conjugais.

Os cômputos respeitantes à escolarização podem ser conferidos através do quadro 1, para os analisarmos em pormenor. Devido aos quantitativos, temos, de novo, na frente dos números, os agentes ligados aos trabalho da terra, aqui classificados como lavradores ou agricultores 7, logo seguidos pelos de profissão omissa, como acontece no ordenamento dos totais de embarcados, anteriormente referidos, por isso vejamos com se dispõem estas três variáveis entre cada grupo de empregos.

Os bacharéis, farmacêuticos, escreventes, padres, guarda-livros, médicos e engenheiros, como era de previsível, emergem como uma elite sócio-profissional sem a presença de analfabetos. Além de dois desprovidos de referência às aptidões para a escrita, os nomes grafados em documentos correspondem a 98,4%. Também os estudantes, filhos-família e caixeiros ocupam um lugar de destaque, relativamente à instrução confirmada, os quais apresentam 97,8% de emigrantes habilitados para o exercício de funções decorrentes da posse de capacidades intelectuais e uma cultura escolarizada. Outro agregado com relevo na área de conhecimentos das letras é composto por armadores, capitalistas, comerciantes, empreiteiros, industriais, negociantes, ourives e relojoeiros. Estes emigrantes só contam com doze casos concretos de analfabetismo entre eles.

7 Ribeiro da Silva, num trabalho sobre o século XIX, apurou - para um universo onde operam as elites sócio-económi-cas, mas profissionalmente muito restringido por não haver «vestígios de ofícios manuais como os ligados à construção civil, à ferradoria, à moagem, ao calçado e outros» - 70% de lavradores e cerca de 15% de proprietários, pessoas habili-tadas para a eleição de Deputados. SILVA, Francisco Ribeiro da- A Alfabetização em Arouca nos meados do século XIX (alguns dados), Separata de «Poligrafia 1». [s.l.]: Centro de Estudos D. Domingos de Pinho Brandão, 1992, p. 25.

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Temos, desta forma, um escol que representa 94,8% de indivíduos procedentes do topo da pirâmide sócio-cultural, como acontece aos proprietários,8 posicionados no lugar imediato e com percentagens idênticas de ilustração.

A área onde actuam funcionários ligados a trabalhos da madeira como carpinteiros, marceneiros, escultores, entalhadores, calafates e tanoeiros apresenta-se com uma cota de ignorantes do abecedário abaixo dos vinte por cento e rubricam 80,8% de emigrantes cultos, o que surpreende. Constatámos que tais profissionais patenteiam bom domínio da escrita, como as assinaturas o provam. Juntamente com estes embarcados, os ferreiros e serralheiros também ostentam boa prática do abecedário; os que sabiam grafar o nome correspondem a mais de setenta e nove indivíduos em cada centena de travessias. Com mais de setenta e três por cento de varões com marcas próprias, porque assinaram, estão os sapateiros, soqueiros e tamanqueiros. Um cenário idêntico é revelado pelos alfaiates e os chapeleiros. Os mesteres agrupados em “vários” também dão nota de boa presença de homens habilitados para a leitura e escrita.

A média geral dos que exararam documentos não é muito elevada, todavia as 13373 assinaturas do sexo masculino correspondem a 62,2%. São, acima de tudo, as crianças que, por serem de tenra idade, eram incapazes de pegar na pena, por isso não figuram como instruídas, embora saibamos que alguns frequentaram a escola depois de chegadas ao Brasil. Também muitos indivíduos provenientes do mundo rural não tinham preparação académica, a que se juntam criados e actividades afins, como cavadores, jornaleiros, trabalhadores e serventes.

Em síntese, a mobilidade demográfica masculina era predominantemente instruída, mas é através da análise por grupos profissionais que melhor se observa o grau de alfabetização. Os rácios baixam, quando se faz análise globalizante, contudo os indicadores mostram que entre os emigrantes de oitocentos estão os melhores quadros do Noroeste de Portugal.

8 O quadro donde emerge esta actividade permite-nos asseverar que estamos perante alguém diferente do trabalhador da terra, se considerarmos o perfil de literacia que exibem, pois a classificação de proprietário raramente se aplica antes da implantação do Liberalismo e está quase sempre associada à posse de ofícios, mas estes indivíduos nascem da nova ordem sócio-política e aparecem nas listas de recenseamento eleitoral. O proprietário adquireiuo estatuto social notável gerado com o Liberalismo, como refere: MADUREIRA, Nuno Luís- História do Trabalho e das Ocupações, o.c., p. 4.

507Lavradores, Agricultores e outros Agentes Agrícolas

A actividade agrícola foi caracterizada de forma a respeitar a linguagem documental, onde o lavrador é, genericamente, o detentor de uma unidade de exploração agrícola, 9 geralmente de dimensão familiar. Sendo um termo generalizado, intervém sempre muito bem diferenciado dos “outros agentes”.

Este surto de emigrantes, com um passaporte requerido em Viana, é dominado por movimentos oriundos do sector primário, onde emergem os vários agentes ligados às lides do campo. Foram organizados em dois blocos; por um lado, os lavradores agregados com os agricultores 10 e, por outro lado, um conjunto de outros trabalhadores ligados do amanho da terra, onde associamos as ocupações de jornaleiro, servente, trabalhador, cavador e criado, aqui identificados por “outros agentes agrícolas”.

Esta divisão em dois subgrupos foi elaborada tendo por base a presença de embarques dos agricultores culturalmente bem demarcados relativamente a criados, cavadores, jornaleiros e outros assinalados como não possuindo bens imóveis (propriedades), ao contrário dos primeiros. Se tal separação provoca uma dicotomia e pode suscitar discussão académica, não é impeditiva de uma abordagem às duas variáveis, cotejando-as e analisando-as simultaneamente11. A primeira observação mostra-nos a existência de um volume de mais nove mil casos, representando 46,5% destes embarques com um passaporte, onde os lavradores e agricultores são responsáveis por cerca de quarenta por cento das saídas em estudo.

9 MARTINS, Conceição Andrade; MONTEIRO, Nuno Gonçalo Freitas Monteiro - História do Trabalho e das Ocupações, o.c., p. 2-3.10 Para Fafe, o domínio quantitativo dos emigrantes mostra que os agricultores são os líderes dos fluxos, com 20,9%, enquanto que os identificados por lavradores aparecem com uma cota inferior a seis pontos, como indica MONTEIRO, Miguel- Migrantes, Emigrantes e Brasileiros (1834-1926). Fafe: Edição de Autor, 2000 p. 204. Jorge Alves, condicionado pela parcimoniosa anotação das ocupações, não desenvolveu uma «perspectiva tão sistemática como a relativa às outras variáveis», agrupando-as e indexando-as por sectores. ALVES, Jorge Fernandes- Os Brasileiros, Emigração e Retorno no Porto Oitocentista. Porto: Edição do Autor, 1994, p. 197-202. 11 Ao analisarmos o quadro sócio-profissional de onde emergem os regedores, a partir das listas de proponentes para o exercício destas funções, no Noroeste de Portugal e no período situado entre 1865-1888, apurámos a existência de 2336 lavradores, 107 proprietários, 76 negociantes, 20 carpinteiros, 14 ferreiros, 12 alfaiates, 11 vendeiros, 7 sapateiros e 6 pedreiros, além de logistas, tanoeiros, armadores, entre outros menos representados. O que se esclarece, face a este universo, é a existência de médias etárias situadas entre os 44 e os 48 anos, respectivamente, para negociantes e lavradores, donde o podermos afirmar que este sector profissional assentava numa dinâmica de gerontes responsáveis pelo desempenho de cargos de importância social ao nível da paróquia. O impacto do “lavrador” tem uma visibilidade elevada, de forma a encontrarmos, entre regedores e proponentes a este cargo, 88,89%, enquanto que os proprietários ficam nos 4,07%, o que atesta bem a presença deste sector sócio-profissional na política de paróquia. Ver AGC. «Proposta para os Cargos de Regedores de Parochia e seus Substitutos» relativamente aos vários concelhos do distrito entre 1865-1888, documentos sem tratamento arquivístico, à data da elaboração deste estudo.

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Uma primeira observação, respeitante aos cômputos, vai para a existência de uma expressão muito significativa de lavradores da área de Ponte de Lima, representando mais de vinte e um por cento do respectivo conjunto. A percentagem dos nascidos nas terras limianas com nomes firmados nos processos anda pelos cinquenta e sete por cada cem emigrantes. Depois, temos os naturais de Paredes de Coura com boa cota de saída destes indivíduos. Também a presença de lavradores/agricultores galegos nos surpreende pelos volumes, quando os concelhos de Viana, Caminha, Valença, Melgaço e de Ponte da Barca não aparecem entre os mais representativos.

As variáveis de instrução mostram-nos os homens de Caminha com perto de setenta e seis por cento de escolarizados, ostentando o melhor quadro de cultura letrada neste contexto profissional. Depois figuram os lavradores de Viana, Valença e Vila Nova de Cerveira, todos acima dos setenta pontos percentuais de alfabetizados. Esta formação académica, entre os agricultores, confere aos baptizados na Ribeira Minho o melhor estatuto relativo ao domínio do abecedário, por oposição aos concelhos do interior -Arcos de Valdevez, Ponte de Lima e Paredes de Coura - com índices mais baixos do que os colegas provenientes de terras de Espanha, donde vieram 58,7% de lavradores galegos habilitados com conhecimentos de leitura e escrita.

[Figura 2]Lavradores/agricultores e outros “agentes agrícolas” por naturalidade e

alfabetização, saídos entre 1835-1900

Além das constatações sublinhadas, vejamos o restante caudal, isto é, o grupo de agentes agrícolas não etiquetados de lavradores ou agricultores, entre os quais foram inseridos os criados. Da mesma forma, como indicámos relativamente à expressão aduzida pelos lavradores

509nados em Ponte de Lima, também os galegos anunciam a melhor presença de “outros agentes agrícolas”, cenário surpreendente nestes quadros. Ao mesmo tempo, acusam a sujeição a que se submeteram como imigrantes em Portugal, aceitando qualquer tipo de trabalho, tendo sido registados com profissões de menor prestígio sócio-profissional, embora fossem pessoas com capacidades de domínio do abecedário.

Os naturais da Galiza ou de Espanha correspondem, neste conjunto de agentes agrícolas, a sessenta por cento do fluxo. A maior novidade advém da existência de um cômputo muito significativo de homens habilitados para a escrita do nome, que é superior ao dos colegas galegos classificados como lavradores12. A existência de 61,5% de escolarizados, não nos autoriza a classificar este surto de galegos como um movimento depauperado ao nível da cultura escrita. São homens que vieram para Portugal com o objectivo de conseguirem uma vida melhor, para a qual tinham aptidões, mas não obtiveram sucesso em Portugal, tendo, por isso, procurado novas paragens, quer na América espanhola, quer no Brasil.

A geografia de “outros agentes agrícolas” mostra-nos os alfabetizados com uma distribuição diferente da cartografia dos lavradores. Para os Arcos de Valdevez, Paredes, Monção e Ponte de Lima, o grupo é dominado pelos ignorantes das letras. Em Caminha, continuamos a constatar a fuga de boa cota de homens eruditos, assim como também acontece relativamente a Melgaço. Os indicadores de literacia apresentam ligeira quebra percentual dos emigrantes de Valença, Viana e Cerveira, sinal demonstrativo da existência de melhor preparação dos lavradores, quando comparados com os outros trabalhadores do campo.

Em síntese, apurámos, para os indivíduos enquadrados no âmbito das lides agrícolas, a presença de um caudal intenso de galegos a impetrarem documentos legais para atravessarem o Atlântico. É destacável o bom enquadramento dos galegos com a cultura letrada, comparativamente aos nossos patrícios da mesma actividade profissional. Aclarámos, ainda, que este corpo, onde estão agregados todos os actores das lides agrícolas, emerge de duas áreas com maior responsabilidade pelos êxodos, Ponte de Lima e Galiza, aos quais se juntam os de Paredes de Coura com mais de um milhar de evasões deste sector. As ausências destes três espaços representam quarenta e oito por cento do grupo profissional em análise, enquanto que Viana anda pelos dez pontos e Caminha fica abaixo dos dois por cento, por isso com a menor cota de fugas de profissionais ligados aos serviços desempenhados pelos camponeses.

12 Tudo leva a crer que estamos perante galegos vindos para Portugal, muitos deles a residir no Porto, identificados com a actividade desempenhada à data da obtenção do passaporte, como criados, embora não saibamos se estavam, de facto, ligados ao amanho da terra. Como residiam no espaço urbano, é provável que exercessem ofícios sem ligação ao sector agrícola, considerando os índices de alfabetização exibidos.

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Geografia dos Lavradores do Alto-Minho

Após uma primeira abordagem por espaços concelhios, impõe-se o conhecimento da composição destes fluxos de pessoas que abandonaram a casa e deixaram a labuta da terra, pois esta diáspora tem a marca indelével da ruralidade.

A cartografia de lavradores e agricultores por micro espaços, aqui tratados ao nível de áreas paroquiais do Noroeste de Portugal, mostra-nos um cenário de características específicas e diferentes de outros caudais. Estamos perante evasões de homens comprometidos com o amanho do solo ou dele directamente dependentes. O mapa 1 (lavradores) patenteia as saídas destes indivíduos, entre 1835 e 1900. Não surpreende o facto de estarmos na presença de fluxos dominados pela figura do camponês, isto é, o contributo dos burgos é insignificante neste quadro 13. Os embarques de naturais das áreas urbanas estão sempre subordinadas aos volumes de êxodos de alguma aldeia do respectivo município. Geralmente, fogem mais patrícios das freguesias afastadas dos centros de administrativos.

Num primeiro impacto, provocado pela implantação cartográfica, somos levados a olhar para a mancha existente no coração do Alto Minho, a autarquia de Paredes de Coura. Em qualquer ponto deste concelho, não há aldeia com menos de vinte ausências do género. Cabe, à própria urbe, um total de cinquenta e dois indivíduos com este perfil profissional. Todavia, as terras de Bico e de Cunha expulsaram os maiores volumes de lavradores com um só passaporte; cada uma destas localidades viu partir cerca de oito dezenas de varões deste sector.

13 Não é estranho que tenhamos, para o século XIX, a presença de emigrantes com o perfil de lavrador e ao mesmo tempo oriundos das urbes. O campo começava dentro da própria cidade, onde os lavradores trabalhavam os quintais e tratavam das árvores de fruto, como é o exemplo de Coimbra no século XVII, ou em Celas, onde as videiras eram suportadas por esteios colocados no meio da rua. Assim, a referência a vinhas, hortas, pomares, pastos para gado nos arrabaldes, entre outros cenários campestres, mostram bem o ambiente de ruralidade existente no interior dos burgos, quando o casario desaparece, ao ponto das fainas agrícolas intervirem na dinâmica da edilidade. OLIVEIRA, António de- A Vida Económica e Social de Coimbra de 1537-1640, primeira parte, volume I. Coimbra: Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 1971, pp. 320-344. Ver, ainda, sobre a mobilidade interna, OLIVEIRA, António de- Migrações Internas e de Média Distância em Portugal de 1500 a 1900, in 1st European Coonference of the Interntional Comission on Historical Demography, vol. II. Santiago de Compostela: Xunta de Galicia/Conselleria de Educación e Ordenación Universitaria, 1993, pp. 1-25.

511O cenário, nos Arcos de Valdevez, é diferente de outras variáveis migratórias deste espaço geográfico. As paróquias encostadas ao vale do Lima ostentam uma implantação contrastante com a imagem de fluxos de outros mesteres, limitando a fuga destes profissionais a menos de uma dezena por localidade. Do respectivo burgo, só embarcaram nove pessoas deste ofício 14. O efeito observado para a área concelhia vizinha (Paredes de Coura) faz-se sentir na zona Norte, onde a autarquia de Sistelo, com oitenta e cinco lavradores, e a de Gondoriz, com cinquenta e três colegas, são as paróquias mais realçadas. Devemos sublinhar que só a freguesia de Carralcova não figura neste cenário, assim como Aboim, Prozelo, Alvora, Cabreiro, Padroso, Sabadim, Portela e Rio Frio emergem entre as de maiores volumes de lavradores evadidos para além do Atlântico.

A distribuição respeitante a Ponte de Lima também exibe uma área circundante ao espaço urbano quase deserta. Na respectiva vila só foram arroladas quinze pessoas. Refoios do Lima, nas proximidades do concelho de Arcos de Valdevez, e Labruja, no limite com Paredes de Coura, rubricam, respectivamente, cento e dezoito embarques e noventa e cinco licenças de saída. Estas são as localidades mais perdedoras de varões que, nos campos, lutavam contra a miséria. Depois seguem-se as povoações de Calheiros com noventa e quatro fugas e São João da Ribeira com sessenta e nove travessias para o estrangeiro. Nas proximidades destas aldeias, temos Arcozelo de onde se retiraram sessenta e três lavradores. Para Sul do rio Lima, a concentração limita-se a três pólos: Vitorino de Piães, Fornelos e Facha. De cada uma destas paróquias expatriaram-se mais de meia centena de varões identificados com a mesma ocupação profissional.

Encontramos movimentos intensos em mais de uma dezena de sítios, neste município, quase sempre distendidos pelas zonas próximas do limite da autarquia. Resulta, desta distribuição, o desenho de uma imagem rarefeita no centro, especialmente na área da respectiva urbe, embora haja um vazio, a Nordeste, devido ao parco contributo de Cabração de onde se escaparam somente treze varões. A periferia actua, neste quadro, como uma reserva dos fluxos, nos períodos de crise económica, para esvaziamento de mão-de-obra ligada às actividades agrícolas.

14 Esta observação demonstra que as vilas não tinham um limite rígido entre o rural e o urbano, pois os campos encontram-se nas margens da malha do burgo. Se no coração destes aglomerados havia dinâmicas de ruralidade, ao mesmo tempo, assistimos ao embarque de lavradores urbanos, embora seja ténue a sua representatividade.

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Ao observarmos o concelho de Ponte da Barca, temos uma imagem com volumes reduzidos de lavradores e agricultores, não conferindo relevo especial, e patenteia, ao longo do rio Lima, corrimentos pouco significativos. O burgo mantém um comportamento idêntico aos seus congéneres, tendo sido identificados somente cinco homens da vila com esta ocupação. Azias e Lavradas são as paróquias com números mais relevantes, cabendo a esta última aldeia um total de quarenta e três fugas do campo.

[Mapa 1]Lavradores do Alto-Minho por freguesias com um passaporte obtido entre 1835-1900

No concernente à implantação por localidades, surpreende-nos a deslocação destes profissionais oriundos de Viana do Castelo. Os maiores cômputos desta diáspora estão cartografados em duas terras da beira-mar, Castelo de Neiva com noventa e dois homens e São Romão de Neiva com sessenta e oito indivíduos. Segue-se, com cinquenta e quatro casos, a fuga de gente de Alvarães. Estas freguesias são, predominantemente, rurais e localizam-se na periferia do concelho de Viana. As restantes áreas interferem com caudais menos proeminentes, especialmente as povoações distendidas ao longo do rio Lima. A distribuição é mais parcimoniosa na zona Norte deste município, onde se realçam os naturais de São Lourenço da Montaria, juntamente com os de Carvoeiro, no extremo Sul da autarquia.

513A cartografia das terras de Caminha exibe uma implantação rarefeita. Venade e Seixas lideram a evasão de lavradores. São duas paróquias são pródigas em todo o contexto migratório. A respectiva urbe, como aconteceu com outros burgos anteriormente aludidos, fica imperceptível neste mapa.

Os povoados de Vila Nova de Cerveira, próximos da autarquia de Paredes de Coura e da raia com Espanha, com destaque para Covas e Campos contribuem, respectivamente, com os mais elevados cômputos de lavradores desta área concelhia. O centro urbano intervém com trinta e sete travessias, volume só ultrapassado pelo congénere de Paredes de Coura. Este desenho de implantação rarefeita decorre da fraca participação de algumas localidades, como Candemil e Loivo, correspondendo a esta última o total de dez movimentos destes mesteres.

Ao olharmos para o espaço dominado por Valença, descobrimos, de novo, nas aldeias mais afastadas da sede do município, o efeito das crises agrícolas, onde as povoações de Fontoura e São Julião da Silva, juntamente com Ganfei, a Norte, mais sobressaem. A vila desponta com um quantitativo próximo das três dezenas, fazendo deste centro uma área com uma posição destacada entre as terras com lavradores documentados para o abandono das lides do campo.

O concelho de Monção apresenta uma distribuição bastante irregular. Ora temos povoações muito activas, ora assistimos a contributos insignificantes de outras, por exibirem quantitativos reduzidos. Merufe, área rural de grande extensão geográfica, localizada ao centro do espaço municipal, protagoniza a maior evasão de agentes agrários, donde fugiram 134 homens com uma só licença. Tangil e Riba de Mouro, no ponto Este do concelho, e Abedim, Pias e Mazedo, no lado Oeste, juntamente com Portela, são as aldeias mais destacadas nesta geografia, por áreas paroquiais. Os quinze varões evadidos da vila confirmam que os agentes agrícolas das sedes de administrativas não dominam estas diásporas, pois os lavradores das zonas urbanas raramente abandonam estes espaços.

Na sequência do que temos vindo a observar, vejamos, por fim, o contributo de Melgaço. As aldeias de Cousso e Fiães, nos dois extremos da autarquia, assomam cinquenta e três casos cada, enquanto o burgo deixa embarcar vinte e oito elementos. Seguem-se, depois, as freguesias de Roussas, Cristóval, Paderne, Gave e Paços, todas com mais de três dezenas de pessoas evadidas do campo.

Em conclusão, além do que acabámos de expor, no coração do Alto Minho, onde está Paredes de Coura, o impacto do abandono dos trabalhos agrícolas foi muito sentido; em redor deste município, emergem, de outros concelhos, várias terras muito afectadas pelas sangrias de lavradores e nota-se um eixo imaginário, desde Ponte de Lima até Monção, cuja espessura é formada por cômputos assinaláveis. Nesta lógica, despontam as freguesias de Fornelos, São

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João da Ribeira, Refoios e Vilar do Monte, no concelho de Ponte de Lima. A continuidade, depois de Paredes de Coura, é seguida por Abedim, Pias e Mazedo, no município de Monção. Se orientarmos a linha a partir de Vitorino das Donas, passando pela Facha, Arcozelo e Labruja, o cenário é idêntico, pois estamos perante um modelo de representação gráfica de lavradores emigrantes fugidos do interior com ligação fácil ao litoral, fenómeno não verificável com tanta frequência relativamente aos residentes na montanha.

As novas vias de comunicação, especialmente a partir da abertura das estradas de macadame,15 depois da chegada do caminho-de-ferro16 além das clássicas redes fluviais, permitiam ao lavrador a retirada da terra, quando as dificuldades económicas eram mais sentidas e prementes 17.

15 Os relatórios da Junta Geral do Distrito, na “radiografia” produzida sobre a malha viária, em Outubro de 1883, mostra a ligação entre Caminha e Paredes de Coura com um troço 5,545 km em estudo, que uniam Coura à Quinta de Baltar, com a ponte dos Arrieiros. Nas quatro principais artérias, havia cerca de quarenta e sete quilómetros de estrada e encontrava-se em fase de conclusão um total de 28.235 km. A situação relativa às vias distritais, nos princípios da década de oitenta, caracteriza-se pela existência de alguns lanços em conservação e mais de duas dezenas de quilómetros de estradas distritais estavam nas condições descritas, enquanto que se encontravam em obras cerca de dez quilómetros, em Outubro de 1883. O lanço que iria unir Caminha a Ponte de Lima não havia sido concluído. A ligação entre Viana e Ponte de Lima, pela margem esquerda, tinha, em toda a extensão, várias zonas plenamente ultimadas e dadas ao trânsito, enquanto que outros troços, nos três lanços, estavam em fase de construção.As verbas gastas com a via entre Caminha e Paredes de Coura, até Setembro de 1883, ascendiam a cento e treze milhões, seiscentos e quarenta mil, quinhentos e setenta e um réis. A estrada entre Viana e Ponte de Lima tinha consumido sessenta e cinco milhões, setecentos e oitenta e quatro, cento e setenta e oito réis, enquanto que a de Vila Verde, que partia de Darque até Anais, ligando Viana, sorveu cinquenta e dois milhões, cento e trinta e oito mil, duzentos e oitenta réis, Temos, desde 1879, um investimento na ordem dos duzentos e trinta e um milhões, seiscentos e vinte e cinco mil e vinte e nove réis, gastos na modernidade da rede viária. Volvidos três anos de construções, deparámo-nos com uma reveladora lentidão no ultimar dos trabalhos, se considerarmos que só foram dados para conservação 4.705 km do lanço que une Poiares e Freixo. Podemos concluir que a evolução das vias distritais, ao longo de três anos, desde Outubro de 1883, foi morosa. A mesma opinião foi registada pelo responsável do “relatório” sublinhando que os atrasos nestas construções, «cujos prazos para a sua conclusão há muito se acham esgotados,» se devem a problemas com os empreiteiros que não cumprem o clausulado das arrematações. RELATORIO DA COMMISSAO EXECUTIVA DELEGADA DA JUNTA GERAL DO DISTRICTO DE VIANA DO CASTELO. Viana: Typ. d’Andre J. Pereira & Filho, 1883, quadro número 6; Relatório do eng. distrital Henrique Bravo, da repartição distrital de obras públicas de 30 de Abril de 1885, in RELATORIO DA COMMISSAO EXECUTIVA DELEGADA DA JUNTA GERAL DO DISTRICTO DE VIANA DO CASTELO. Viana: Typ. d’Andre J. Pereira & Filho,1885, P. III. Ver também ANUÁRIO ESTATíSTICO DE PORTUGAL, 1885. Lisboa: Imprensa Nacional, 1987, pp. 464-469.16 A linha do Minho, entre o Porto e Valença, foi iniciada em 1872. O comboio chegou a Viana do Castelo com a inauguração da ponte metálica, em 30 de Junho de 1878, o que facilitou a mobilidade em direcção Lisboa, ou mesmo para os que desejavam seguir rumo a terras de Espanha. Esta ligação ficou concluída volvidos anos dez, mas, a linha internacional, sobre o rio Minho, que une Valença a Tui, só permitiu melhores elos com a Galiza depois de 25 de Março de 1886. 17 A conjuntura de finais de oitenta e a crise financeira de 1891-1892 tiveram um papel na determinação dos tipos de fluxos, quer no concernente aos agentes agrícolas, ou no tocante à saída de famílias, onde o elemento feminino tem um destaque especial. Sobre estas crises, ver JUSTINO, David- A formação do espaço económico nacional, Portugal 1810-1913, vol. 2. Lisboa: Vega, [1989], pp. 90-94.

515Áreas de Destino

O mundo rural forneceu muita mão-de-obra para a emigração (18). Os lavradores anotaram, esmagadoramente, a pretensão de seguir viagem rumo ao Império do Brasil, sem especificarem um estado ou cidade. Esta opção correspondente a 52,9% das intenções, mesmo quando se tratava de lavradores instruídos. O Rio de Janeiro é o local com mais registos, tendo sido indicado por perto de dois milhares e meio de homens, e representa 30,5% deste agregado de pessoas ligadas ao mundo rural.

As restantes preferências, de quem especificou alguma terra da ex-colónia portuguesa, são os estados do Pará, São Paulo, Manaus e Santos. Outras terras, como a Baía, Pernambuco, Manaus e colónias portuguesas em África atraíram mais lavradores eruditos do que iletrados, ou seja, eram zonas procuradas pelos escolarizados, fenómeno não registado para as restantes áreas.

O grupo constituído por criados e outros actores dos trabalhos do campo segue o exemplo dos lavradores, tendo sido matriculadas, sensivelmente, as mesmas percentagens dos que indicaram o Brasil ou Rio de Janeiro. A capital foi opção de 55,8% de homens determinados a fazerem vida nesta cidade. As restantes áreas não figuram no imaginário destes profissionais e, entre as escolhas declaradas, os destinados à Argentina (19) aparecem na terceira posição, com pouco mais de oito dezenas de homens.

Como nota final, apontamos o facto destes emigrantes, fixados no Rio de Janeiro ou distribuídos por terras indeterminadas do Império, exibirem um perfil de cultura letrada com diferenciações próprias. Os desembarcados na capital aparecem com mais de sessenta por

18 Entre criados de servir e trabalhadores rurais (jornaleiros, lavradores e trabalhadores em geral) foram calculados 39%, por MARTINS, Oliveira- Fomento Rural e Emigração. Lisboa: Guimarães Editores, 1956, p. 231. A opinião de Miriam H. Pereira, sobre a composição do tecido profissional emigrante, vai no sentido de que «uma boa parte dos portugueses trabalhava na agricultura» onde o camponês desempenhava funções anteriormente entregues ao escravo africano, situação vantajosa para quem fazia contratos, despendendo «o preço da passagem, 120$000». PEREIRA, Miriam Halpern- A política Portuguesa de Emigração, 1850-1930. Lisboa: Regra do Jogo, 1981, p. 31. A divisão proposta por Miguel Monteiro, ao associar lavradores-caseiros, trabalhadores, jornaleiros, criados e proprietários-lavradores, mostra-nos um quadro onde este grupo sócio-profissional representa 57%, sendo por isso um cenário diferente do que nós apresentámos. MONTEIRO, Miguel- Migrantes, Emigrantes e Brasileiros o.c., p. 200. 19 Os portugueses constituem, depois dos espanhóis, o grupo de estrangeiros com fixação mais antiga no Rio da Prata, mantendo uma presença contínua até meados do século XX, cabendo à província do Minho e às Ilhas dos Açores maior importância na corrente migratória para esta área, como concluiu BORGES, Marcelo J.- Portugueses en Buenos Aires en el Siglo XIX: Caracteristicas y Evolución de una Comunidad Multisecular, in Emigração/Imigração em Portugal, Actas do “Colóquio Internacional sobre Emigração e Imigração em Portugal (séc. XIX-XX). Lisboa: Editorial Fragmentos, 1993, pp. 308-314. Saliente-se, ainda, que a Argentina, entre 1888-1890, foi a segunda opção dos portugueses, depois do Brasil. EVANGELISTA, João- Um Século de População Portuguesa (1964-1960). Lisboa: Instituto Nacional de Estatística, 1971, p. 134.

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cento de assinaturas, enquanto que os alfabetizados dirigidos para o Brasil, sem especificarem o estado ou a localidade, ficam nos 51,6%, valor muito abaixo da média deste conjunto de indivíduos ligados às lides do campo ou mesmo dos classificados na qualidade de criados.

Geografia das Elites Rurais e Urbanas

Organizámos três corpos aqui identificados por elites profissionais 20, sendo o primeiro composto por negociantes, comerciantes, capitalistas, empreiteiros, industriais, armadores, ourives e relojoeiros; o segundo, a que convencionamos atribuir a classificação de quadros superiores devido à formação académica de tais indivíduos, é constituído por padres, escreventes, farmacêuticos, engenheiros, bacharéis, guarda-livros e médicos; o terceiro 21 é formado pelos proprietários. 22

Este movimento do topo da pirâmide sócio-profissional e cultural corresponde a 774 indivíduos e representa pouco mais de 3,8% 23 dos caudais com uma saída documentada em Viana do Castelo. Nestes surtos, havia indivíduos oriundos de várias edilidades, algumas das quais não pertencem ao Alto-Minho, sendo, desta região, perto de oitenta e cinco por cento dos licenciados. Perante tais cômputos, interrogamo-nos sobre a proveniência geográfica rural ou urbana, ou seja, que comunidades mais contribuem e que terras se afirmam nestes cenários? Para análise destas duas variáveis, elaborámos o gráfico 3, onde os totais estão distribuídos pelos dois grupos: por um lado, naturais das aldeias; por outro, os nascidos nos burgos.

20 Para o Alto-Minho, sobre a estrutura das «artes e ofícios», que aparecem separados das «artes liberais» e do «pessoal commerciante» veja-se RELATORIOS SOBRE O ESTADO DA ADMINISTRAçãO PUBLICA nos Districtos Administrativos do Continente do Reino e Ilhas Adjacentes em 1860. Lisboa: Imprensa Nacional, 1865, pp. 18-20.21 Para 1906 e 1913, a organização apresentada por Emygdio da Silva associa proprietários a capitalistas, todavia, nós optámos por tratar os proprietários separadamente, considerando o número de movimentos existentes. SILVA, Fernando Emygdio- Emigração portuguesa. Coimbra: França e Arménio Livreiros Editores, 1917, p. 163. Também Oliveira Martins separou os proprietários dos restantes emigrantes, que representavam, em 1887, 4% dos êxodos. MARTINS, Oliveira- Fomento Rural e Emigração, o.c., p. 230-231.22 A classificação de proprietário raramente se aplica antes da implantação do Liberalismo e está quase sempre associada à posse de ofícios, mas estes indivíduos emergem da nova ordem sócio-política e aparecem nas listas de recenseamento eleitoral. O proprietário é o paradigma do estatuto social notável que foi gerado com o Liberalismo. MADUREIRA, Nuno Luís- (coordenador), História do Trabalho e das Ocupações,o.c., p. 4.23 Embora Oliveira Martins tenha sublinhado que «as informações de que dispomos referem-se exclusivamente ao ano de 1887 e são extremamente incompletas», MARTINS, Oliveira- Fomento Rural e Emigração, o.c., p. 230, registou um total de 654 proprietários. Este valor é equivalente a 4% e não se afasta do cômputo das “elites” existentes para Viana do Castelo com um só passaporte. Mas o total de proprietários com uma ou várias licenças é superior a sete centenas de movimentos, o que corresponde a pouco mais de 2,1% da totalidade de emissões, onde incluímos os refluxos e reembarques.

517Quase todos os municípios aparecem liderados pelos oriundos dos espaços rurais, fenómeno decorrente do número de freguesias por cada concelho. A imagem referida mostra-nos, para Viana do Castelo, a inversão destes valores. Os naturais da própria cidade suplantam os totais das elites nascidas nas aldeias do concelho.

A figura 3 também permite constatar a existência de uma distribuição entre as comunidades rurais e urbanas com equilíbrio em Viana do Castelo e Valença, enquanto que Paredes de Coura e Ponte da Barca têm uma representação dominada pelas elites saídas das aldeias, além de estarmos perante contributos de pouco significado neste último município e no de Valença.

[Figura 3]Distribuição de elites sócio-profissionais do Alto Minho por espaços urbanos e rurais,

saídos entre 1835-1900

A cartografia destes êxodos exibe uma imagem diferente da dicotomia rural/urbano, pois conseguimos descobrir as localidades de maior impacto e as manchas mais densas ou os lugares sem contributo algum deste escol emigrante.

O concelho de Arcos de Valdevez aparece pouco povoado. Nesta carta não figuram vinte e três terras, além de mais duas dezenas terem sido representadas por um ou dois elementos. Destacamos Sabadim e Prozelo com sete e doze homens, respectivamente. Ao contrário de outros grupos profissionais, nesta área, observa-se um “deserto” a Norte do centro administrativo, tendo a vila deixado escapar vinte e cinco varões de estatuto social elevado.

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O município de Ponte da Barca excluiu deste cenário onze sítios e a própria sede autárquica só cooperou com seis emigrantes deste quilate. Ao longo do rio Lima, emerge uma implantação mais composta, com destaque para Bravães, Touvedo e Vila Nova de Muía, com três pessoas de cada localidade. O contributo deste espaço geográfico continua a ser parcimonioso e aglomera-se numa zona mais próxima do centro administrativo, o que origina várias falhas na área de divisão com Ponte de Lima e com o distrito de Braga.

A edilidade de Ponte de Lima, à semelhança da de Arcos de Valdevez, conta com vinte e três povoados sem representação desta nata e com trinta e três membros da elite profissional na respectiva urbe. A dispersão destes indivíduos é bem visível e apresenta maior implantação a Sul, em redor das terras de São Julião de Freixo e da Correlhã, onde as evasões compreendem seis e sete pessoas. De Arcozelo fugiu o segundo maior volume, com nove emigrantes. Sublinhe-se o facto de haver nove paróquias, ao longo do curso fluvial, de onde se evadiram estes profissionais, assim como em Ponte da Barca há sete casos e na área de Arcos de Valdevez existem cinco, todos provenientes de localidades distendidas ao longo da bacia do rio Lima.

A concentração de maior impacto destes emigrantes ocorre em Viana do Castelo, de onde embarcaram cento e um homens de estatuto social demarcado. Destes, quarenta e cinco mencionam a cidade, sem referência concreta ao sítio de baptismo, e trinta e sete registaram o nascimento na freguesia de Santa Maria Maior, cabendo os restantes dezanove indivíduos à paróquia de Monserrate.

As povoações dispostas ao longo do rio Lima, curso que atravessa dois concelhos, formam um grupo de dez, entre as quais sobressaem Portuzelo com nove elementos e Darque com dez, havendo ainda outros nove embarques de Barroselas, terra situada na margem do rio Neiva. O impacto é mais notado nesta área por haver seis aldeias a Norte do Lima sem qualquer contributo, embora tenhamos mais quatro localidades sem representação na margem Sul.

A imagem a reter, sobre os que deixaram o coração do Alto-Minho, Paredes de Coura, é diferente, pois só quatro paróquias não concorreram com membros do topo da pirâmide sócio-profissional. As terras mais próximas do centro administrativo destacam-se nesta representação, todavia a vila de Paredes de Coura, com nove homens, pouco se diferencia das freguesias de Ferreira e Infesta com seis indivíduos cada. Sublinhamos, ainda, o contributo de Formariz e Padornelo com cinco evasões deste escol.

Ao longo do rio Minho, continuamos a observar uma malha de distribuição sem uniformidade. Caminha limitou-se a ver partir homens de dez povoações, das quais se destacam a própria

519vila com dezanove embarques. Seixas e Vila Praia de Âncora cooperaram com dez varões, seguindo-se a freguesia de Âncora com cinco casos. Da zona serrana, como aconteceu a outras autarquias, não temos registos e é ao longo das margens do rio Âncora, que divide o concelho, onde há mais indivíduos pertencentes à nata sócio-profissional.

[Mapa 2]Elites sócio-profissionais do Alto Minho por paróquias saídas com uma licença entre

1835-1900

Vila Nova de Cerveira apresenta-se como uma excepção, se considerarmos que só três localidades não intervieram nestes cenários. Entre elas temos a aldeia de Covas, terra com bastante impacto na emigração de lavradores e agricultores, como sublinhámos. A paróquia de Campos emerge na segunda posição, com nove membros, e a área urbana contribuiu com dezasseis pessoas. As restantes aldeias, além de Reboreda com três, limitam-se a colaborar com uma ou duas saídas.

O concelho de Valença do Minho, neste contexto, é dos mais estéreis. Dos vinte e dois casos, distribuídos por metade das povoações, dez cabem aos nascidos na vila; três a Cerdal e a Friestas; dois a Gondomil, e as restantes aqui implantadas ficam pelo número mínimo.

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Temos, no município de Monção, uma cobertura bem distribuída por toda a área, embora não corresponda à autarquia com melhor contributo. Da maior parte das terras só emigraram um ou dois homens destacados profissionalmente. Cabem dezassete indivíduos do topo da pirâmide social à respectiva vila e as aldeias de Moreira e de Longos Vales detêm, respectivamente, quatro e cinco membros. Neste espaço geográfico há dez terras sem figuração no mapa.

A edilidade mais a Norte, Melgaço, mostra-nos uma imagem diferente da zona anterior. As aldeias distendidas ao longo do rio Minho concorrem com mais saídas de elite. Há sete povoações arraigadas à serra sem registo de ausências destes quadros superiores. Cristóval e Chaviães, no extremo fronteiriço, contabilizam um total de dez membros, contudo, da sede administrativa partiram doze homens. Também indicamos a freguesia de Prado, uma localidade vizinha da vila por aparecer com quatro pessoas.

Podemos concluir que estes movimentos, ao contrário de outros, acentuam o carácter urbano, considerando que os dez centros concelhios são responsáveis por 248 embarques destes varões, o correspondente a 37,8% de indivíduos com formação superior. Os restantes saíram do mundo rural e raramente as aldeias surgem com um número destacável desta nata. Nas paróquias de Darque, Vila Praia de Âncora e Seixas encontrámos dez emigrantes e nove em Campos, Barroselas, Portuzelo e Correlhã. A cobertura, como indicámos, deixou algumas áreas desertas, sendo cento e dez os povoados sem intervenção nestes movimentos, entre um universo correspondente a 288 freguesias existentes no século XIX. Assim, esta distribuição corresponde a cerca de sessenta e dois por cento das localidades do Alto-Minho aqui representadas com os melhores quadros deste grupo sócio-profissional.

Áreas de Destino

Uma questão que se levanta sobre estes movimentos relaciona-se com a direcção escolhida na hora da obtenção do passaporte. Certamente, nem todos devem ter deixado a terra para assumirem um estatuto de “emigrante”, embora tenham saído com licença. Alguns indivíduos seguiram para a Europa, outros tomaram o vapor para as colónias portuguesas, mas a maior parte atravessou o Atlântico, rumo à América Latina, correspondendo a 78% de saídas rumo ao Brasil.

Se alguns casos apontaram com rigor terras como: Ceará, Campos, Carril, (?) Maranhão, Rio Grande do Sul, Santos, São Paulo e Vitória, agrupadas em “vários Brasil”, devido ao reduzido

521quantitativo, outras foram averbados separadamente, como a Baía, Manaus, Pará, Pernambuco e Rio de Janeiro.

Os do grupo 1, composto por negociantes, comerciantes, capitalistas, empreiteiros, industriais, armadores, ourives e relojoeiros, apontam, além da capital, Pernambuco e as colónias portuguesas como as mais procuradas para o negócio. Também encontrámos pequenos fluxos em direcção à Europa e Argentina. Os que caminharam para terras de Vera Cruz e não indicaram o local específico aparecem com uma cota de instruídos mais baixa do que a média. Ao contrário, os colegas que tinham anotado a cidade ou estado com rigor, como Baía, Manaus, Pará, Pernambuco e outros locais, são indivíduos escolarizados, pois só um não tem assinatura de bom quilate firmada nos documentos consultados. Este cenário tem paralelo com os que foram para as colónias portuguesas e para a Argentina, todos tinham ido à escola.

O segundo conjunto, constituído por bacharéis, escreventes, padres, farmacêuticos, engenheiros, guarda-livros e médicos, não apresenta qualquer elemento desprovido de cultura letrada. São profissionais provenientes do mais elevado patamar da pirâmide sócio-cultural, onde quase todos tiveram uma formação académica superior e mesmo universitária. As terras escolhidas por tais homens continuam a ser as que registámos no quadro, onde o Pará atrai meia dúzia destes membros, mas a ex-colónia portuguesa recebeu pouco mais de sessenta e seis por cento deste conjunto, já que as idas para a Europa rivalizam de perto com as do Rio de Janeiro. A Argentina também atraiu uma dezena de homens deste escol.

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[Figura 4]Áreas de destino do escol sócio-profissional e cultural saído com um passaporte, entre

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Os classificados como proprietários detêm um peso elevado, com perto de trinta varões em cada cem ausências. A preferência recai no Rio de Janeiro e no Pará, ao contrário dos colegas do primeiro grupo embarcados em direcção a Pernambuco. Também há proprietários evadidos da terra natal para as colónias em África, embora o número seja inferior aos que designaram a Europa ou o Pará. Note-se, ainda, que estes profissionais encaminhados para o Brasil surgem com mais de cinco por cento de elementos sem referência às marcas de cultura letrada ou desprovidos de tais competências.

Em síntese, assiste-nos sublinhar que a Baía e Manaus, além das terras incluídas em “vários”, não eram a preferência destes homens de nível superior, considerando as cotas muito reduzidas destas opções. Há destinos específicos para o grupo 1. Pernambuco emerge entre as áreas mais procuradas, assim como os proprietários anunciam preferencialmente o Pará e os do grupo 2 assestam a Europa, mas o Rio de Janeiro, sempre escolhido por todos estes homens, é mais querido pelos do grupo 1. As parcelas totais mostram-nos que as intenções de evasão, depois dos que indicaram somente o Brasil, recaem na capital da ex-colónia do século XIX. Pernambuco rivaliza com os embarcados para a América Latina, terras de língua castelhana, locais para onde se deslocaram três dúzias de varões da elite sócio-cultural.

523Estudantes e Caixeiros

Este conjunto de emigrantes tem um comum o facto de representarem quadros de uma futura elite associada às actividades comerciais. São jovens escolarizados, a quem a família habilitou para seguirem rumo ao Brasil. Os estudantes, após o desembarque, iniciavam o tirocínio como caixeiros 24. Passados mais de dez anos sem regresso a Portugal, podiam chegar ao estatuto de comerciantes 25 ou negociantes. Mais tarde, alguns transformavam-se em proprietários e outros adquirem o título de “capitalista” 26.

24 Encontrámos referências explícitas, para o século XIX, a jovens que desejavam ausentar-se para o Brasil, onde os esperava o ofício de caixeiro. Para o efeito, estudaram em Viana. Esta preocupação com a preparação académica era assumida pelos pais desde a centúria de setecentos, de maneira que qualquer cidadão, mesmo que fosse um «homem ordinario», punha o filho na escola com o escopo de o preparar com habilitações para o exercício da actividade comercial. Ver, sobre esta mentalidade, o pensamento de: BEZERRA, Manuel Gomes de Lima- Os Estrangeiros no Lima, volume II. Coimbra: Real Officina da Universidade, 1791, p. 108; O mesmo opinava o Visconde de São Paio, Governador Civil em 1857, quando se referia à única saída da juventude, que desejava uma ocupação como caixeiro em terras de Santa Cruz. Daqui, resultava uma grande procura de locais de ensino privado, recorrendo aos professores particulares, porque «precisam ir habilitados com os conhecimentos de ler, escrever e contar». Este fenómeno originou uma explosão do parque de escolas particulares em todo o distrito. Ver, sobre estas ideias para oitocentos, Relatorios sobre o Estado da Administração Publica nos Districtos Administrativos do Continente do Reino e Ilhas Adjacentes, em 1856. Lisboa: Imprensa Nacional, 1857, p. 274. Se as fontes coevas dão prova desta moldura de preocupações, o mesmo está confirmado nas listas de alunos de várias escolas, frequentadas por muitos filhos de lavradores, que se encontram lado a lado com parceiros cujos pais exibem um estatuto diferente, entre os quais temos: negociantes, pro-fessores, proprietários, artistas, empregados públicos. Como exemplo, veja-se a escola do professor Clemente António da Silva, em Monção, com sete filhos de lavradores, entre 24 estudantes. Curiosamente, António Rodrigues, 20 anos de idade, era natural da aldeia de Extremo, Arcos de Valdevez; João Manuel Domingues, filho de um lavrador, de Merufe, Monção, frequentava o ensino de Latim e Latinidade, aos 18 anos, juntamente com outros colegas de 11 anos de idade. RODRIGUES, Henrique Fernandes - Alto-Minho no Século XIX, o.c., p. 385-386.25 A evolução é visível a partir do momento em que se estuda o refluxo e o reembarque destes emigrantes. Ilustramos com o exemplo de um estudante, em 1860, na vila de Valença, Abel Airão Álvares Barata, «filho de pais incógnitos», que, aos 26 anos, desempenhava a função de caixeiro. Obteve passaporte para Luanda, momento em que deixou uma assinatura caligráfica, pois tinha feito os estudos secundários e dedicava-se a uma actividade onde o exercício da escrita era uma constante de todos os dias. Este homem, volvidos 12 anos, em 1887, foi identificado como comerciante, tendo voltado a sair da terra onde foi exposto. Ficamos a saber, através do livro de recenseamento militar, que era filho de Ana Maria Cruz. Este caso, além de ilustrar um quadro relativo a emigrantes enjeitados, permite-nos descobrir que frequentou a escola, esteve no ofício de caixeiro, saiu, regressou e partiu de novo com um estatuto de nível elevado. AGC. Livro de Registos de Passaportes nº 28, folha 56, passaporte nº 871, emitido em 28 de Abril de 1875; AL. «Mappa do movimento annual da Eschola de latim e Latinidade» de Valença, em 28 de Agosto de 1860, doc. avulso.26 Esta hierarquia sócio-profissional é visível entre os indivíduos intervenientes no refluxo, representados inicialmente com a ocupação de estudante, depois passavam a caixeiros, fazendo aqui um tirocínio até se transformarem em proprietários e capitalistas.

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Eram rapazes provenientes dos vários espaços do Noroeste de Portugal, sendo a maior parte natural do distrito de Viana do Castelo ou residiam nesta área à data da obtenção da licença de viagem. Alguns nasceram no Brasil, vieram estudar para a terra dos pais, onde se formaram academicamente27, e regressaram à terra de origem, tendo obtido o passaporte em Viana. O número de jovens nascidos fora distrito é pouco expressivo e foram agrupados por áreas geográficas como: Braga, Galiza/Espanha, Brasil.

A distribuição, por espaços concelhios, mostra Viana do Castelo com 27,4% destes quadros. A seguir estão os de Ponte de Lima e de Arcos de Valdevez com uma participação assinalável. Estas duas autarquias juntas, relativamente ao Alto Minho, colaboram com mais de vinte e nove por cento do movimento.

Em Viana e Valença (28), os estudantes ganham mais terreno sobre os colegas já iniciados profissionalmente. Os rapazes naturalizados brasileiros e os galegos/espanhóis emergem, deste cenário, dominados pelos estudantes, enquanto que os naturais de Monção e Ponte da Barca deixaram sair menos cotas de emigrantes em fase de preparação académica.

27 RODRIGUES, Henrique- Alunos Examinados no Liceu Nacional de Viana do Castelo em 1861 para Ingresso no Seminário de Braga, Reflexos do Regalismo, Separata de «Actas do Congresso de História no IV Centenário do Se-minário de Évora, vol. II. Évora: 1994, p. 203. Como exemplos, temos, ainda, Artur da Silva Pinho, jovem estudante na escola de Nicolas James Tollstadius aos 12 anos de idade, nascido Rio de Janeiro. O pai, José Caetano da Silva, um negociante, obteve passaporte, sem referências à profissão, tendo o progenitor autorizado a saída e assinou os respectivos documentos. (Cf. AL. «Mappa do movimento annual da Eschola de meninos» de Nicolas James Tollstadius, documento citado e Livro de Registos de Passaportes nº 12, folha 2, passaporte nº 10, emitido em 24 de Janeiro de 1867). Henrique Alexandre Nogueira, natural do Rio de Janeiro, filho do capitalista Francisco Alves Nogueira, em 1862, com 12 anos, frequentava as aulas de francês e inglês na escola particular de José Ramos Paz. Cf. AL. «Relação dos alunnos que frequentam as aulas de lingua franceza regida por José Ramos Paz, freguesia de Santa Maria Maior» 31 de Janeiro de 1862. Outro caso, na fase fenissecular de oitocentos, é protagonizado por Carlos Arouca Brandão, de 15 anos. Filho de Pedro d’Alcântara Brandão, estudante no colégio de São João, em Viana do Castelo, sob a direcção de João José Esteves, onde residia com outros colegas naturais de Barcelos, Ponte da Barca, Valença, Congo (África), Lisboa e Viana. O jovem referido, « (...) alunno nº 6, Carlos Arouca Brandão, foi baptizado no Rio Preto, Brasil» Cf. AL., «Relação dos alunnos matriculados nas disciplinas do curso da 2ª classe de instrução secundaria» Viana do Castelo, 22 de Outubro de 1897. Este colégio estava sedeado na rua Luís Jácome, nº 45.28 A escola “secundária” estatal desta vila era frequentada por dezoito alunos, dois dos quais não eram de Valença, e contava com rapazes dos oito aos dezoito anos de idade. Trata-se de um estabelecimento de ensino com boas condições higiénicas, com 30 m2, situado na rua da Boa Vista, nº 2. A casa pertencia ao respectivo professor, José Avelino de Almeida, como se refere no AL. «Mappa do movimento annual da Eschola de latim e Latinidade» de Valença do Minho, em 28 de Agosto de 1860, documento citado. Talvez este aspecto ajude a explicar a relação entre estudantes e caixeiros desta terra.

525 [Figura 5]Estudantes e caixeiros por origem geográfica e nível de assinatura

A geografia dos escolares apresenta-nos uma mancha de malha alargada. Nem todas as freguesias com estabelecimento de ensino colaboram com rapazes em fase de frequência de aulas. No concelho de Arcos de Valdevez há jovens oriundos de terras onde, na década de oitenta, não havia estabelecimento estatal, como: Jolda Madalena, Gondoriz, Eiras e Couto, aldeias de onde partiam rapazes identificados profissionalmente como estudantes (29). Se a própria vila é um pólo, em redor da sede administrativa há jovens saídos das escolas, todavia, a Norte, observa-se a influência de Sistelo, onde ministrava um mestre oficial. Um quadro idêntico é observável em relação aos naturais de Ponte da Barca, representados com seis paróquias. Estes eram, quase sempre, oriundos de sítios onde não leccionava um docente pago pelos cofres do estado, como: Cuide, Vade, Oleiros. Cenário oposto observa-se em Bravães, Crasto, Vila Nova de Muía, terras com estabelecimentos das primeiras letras e de onde não fugiram estudantes. Esta situação demonstra a existência de alunos que frequentaram a escola noutras freguesias (30), ou recorreram a agentes de sistema privado ou ao ensino doméstico.

29 Esta situação, a da inexistência de mestre das primeiras letras em determinadas áreas, não era de todo impeditiva do acesso à escolarização. Da aldeia de Gondoriz, em 1860, havia cinco jovens a cursar os estudos secundários na escola do professor José Maria da Cunha Barreiro, filhos de dois proprietários e três lavradores, entre um total de 44 matrículas, o que prova a tese de que havia preocupações com a preparação académica destes adolescentes. 30 A acção dos agentes educativos vinculados à igreja, que em 1834 repovoaram o distrito de Viana do Castelo e outras áreas, como anotámos ao estudar os egressos, foi sublinhada por RODRIGUES, Henrique- Extinção das Ordens Religiosas e Dinâmicas Sócio-Culturais, separata de «Lusitânia Sacra», 2ª série 16. Lisboa: 2005.

Henrique Rodrigues

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Um quadro semelhante é observado no concelho de Ponte de Lima, com dezanove paróquias de onde saíram aulistas. Em várias localidades, onde havia uma escola pública no ano 1880, não temos registo de emigrantes identificados como estando a estudar. Da própria vila, vinte e oito académicos deixaram as aulas para seguirem rumo ao Brasil, mas outros alunos são naturais de povoações onde não havia ensino estatal.

Nas aldeias de Viana do Castelo, encontramos maior densidade destes rapazes por localidades. Se as freguesias urbanas despontam como os principais centros de formação académica, de onde se fugiram cento e trinta e quatro jovens que estudavam à data da ida para o Brasil, também assistimos à formação de varões nas escolas de Darque, Portuzelo, Capareiros, Anha e Vila de Punhe, com números bem destacados. Neste concelho, como observámos relativamente a outros, há povoações com mestres das primeiras letras de onde não embarcaram adolescentes em fase de preparação académica.

Nos restantes espaços desta área distrital, a distribuição é menos compacta e os estudantes exibem uma dinâmica geográfica sem uma densidade muito expressiva.

[Mapa 3]Distribuição de estudantes por freguesias do Alto-Minho saídos entre 1835-1900 com

um passaporte

527A geografia do caixeiro também não cobre todas as freguesias do distrito. O município dos Arcos de Valdevez deixa em branco catorze localidades entre um total de cinquenta e uma paróquias. No concelho da Barca, estes emigrantes intervêm como um prolongamento da demografia do caixeiro dos Arcos, onde as freguesias de Germil, Ermida, Lindoso e Britelo, localidades situadas na zona de montanha, colaboram com escassos números neste quadro, como acontece às aldeias da serra no município de Arcos de Valdevez.

Para Ponte de Lima, a implantação cartográfica mostra uma rede mais dispersa. Depois deste centro urbano, sobressaem as localidades da periferia da vila, como Arcozelo, Correlhã e São João da Ribeira, todas com mais de uma dezena de marçanos e estudantes. Ao compararmos estes surtos de Ponte de Lima, apurámos que os caixeiros e estudantes formam um cômputo igual aos que frequentavam a escola à data do recenseamento militar 31.

Esta distribuição confirma a existência de redes de aprendizagem disseminadas por áreas onde a juventude, antes do embarque, adquiria habilitações académicas, ou era iniciada o tirocínio antes de viagem, pois estes rapazes partiam muito jovens, quase sempre antes dos treze anos de idade 32.

31 Sobre estas fontes, ver a nossa comunicação “Estudantes, Caixeiros e Professores no Século XIX através dos Livros de Recenseamento Militar”, apresentada ao «III Congresso Luso-Brasileiro, História da Educação, Escolas, Culturas e Identidades». Coimbra: Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, 2000, pp. 117-118.32 A própria normativa, que regula o cumprimento do serviço militar, leva à fuga de crianças antes dos catorze anos, sendo esta constatação comprovada em trabalhos vários, quer por nós publicados, quer por ALVES, Jorge Fernandes- Os Brasileiros, Emigração e Retorno, o.c.. As mesmas conclusões são retomadas em MONTEIRO, Miguel-Migrantes, Emigrantes e Brasileiros (1834-1926), o.c..

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[Mapa 4]cartografia dos caixeiros do Alto-Minho saídos entre 1835-1900 com um passaporte

O município Viana do Castelo exibe mancha intensa na própria urbe, onde contabilizámos mais de quarenta e sete por cento de caixeiros desta área geográfica. Entre as localidades com estabelecimento de ensino, só os naturais de Vila Mou e Mazarefes não aparecem neste surto. Considerando os números destes movimentos, a Norte do rio Lima, a implantação continua pouco expressiva.

Em Caminha foram cartografadas dez freguesias. Os rapazes de Seixas e de Gontinhães despontam com bastante dinâmica neste contexto. Da vila fugiram mais de quatro dezenas, o equivalente a cerca de quarenta e dois por cento de indivíduos. As terras ao longo da fronteira são mais pródigas. Em Vila Nova de Cerveira, além da sede administrativa, Lovelhe é a localidade mais activa neste contexto, seguindo-se a freguesia de Sopo.

O concelho de Valença exibe uma imagem ligeiramente diferente da descrita para as duas edilidades anteriores. Só há cinco freguesias sem caixeiros, embora a mobilidade das restantes não seja muito activa. A própria urbe detém a maior fatia destes surtos, de onde se evadiram sessenta e três por cento do movimento autárquico, fenómeno explicável, em parte, pelo facto de estarmos numa zona fronteiriça.

529A cartografia de Monção apresenta uma rede abrangente a toda a área. Oito povoações não constam neste mapa. Se a vila colabora com duas dúzias de caixeiros, as aldeias de Mazedo e Moreira ocupam as posições seguintes.

Das terras de Melgaço não saíram balconistas provenientes das áreas de montanha. O contributo é dado por nove povoados, dos quais se realçam, além do respectivo centro autárquico, as freguesias de Prado e Cristóval.

O concelho de Paredes de Coura, com destaque para o respectivo burgo, não contribui com muitos caixas. A maior expressão cabe aos naturais de Ferreira. Trata-se de espaço geográfico de onde se evadiram grandes volumes de emigrantes, mas, neste contexto profissional, esta área exibe fraca representatividade.

Se nos encontramos perante uma dinâmica de cariz urbano, com destaque para a emigração de Valença e de Viana do Castelo, os jovens da periferia emergem com grande impacto nas terras de Monção e Paredes de Coura. Nestas áreas, os caixeiros nascidos no campo representam mais de setenta e cinco por cento do fluxo municipal. Mas, a lógica da distribuição dos marçanos exibe numa relação de proximidade com a área de fronteira, especialmente no concernente à área da Ribeira Minho.

Geografia de Fixação de Caixeiros e Estudantes

Os jovens identificados profissionalmente com as funções de apoio ao comércio e os escolares não revelam um leque muito diversificado de opções da geografia do desembarque. Quer uns ou outros dão preferência ao Rio de Janeiro, mas também apontam, de forma muito genérica, a pretensão de seguirem para o Império do Brasil, sem especificarem a área exacta.

Nesta distribuição, 89,5% de caixeiros tomaram a direcção das terras de Vera Cruz. Um pequeno quantitativo, representado por 4,6%, optou pelas colónias portuguesas de África, além de um total de cerca de seis dezenas sem identificação do local do destino. Entre os estados ou cidades preferidos, 41,7% escolheram a capital do Brasil; pouco mais de uma centena optou pelo Pará, o que perfaz, relativamente a caixeiros, 9% dos cômputos. Além de Pernambuco, Baía e Manaus, para onde registaram intenção de seguir pouco mais de sete dezenas, encontrámos meia centena de rapazes com referência pelas seguintes localidades: Campos, Ceará, Grão-Pará, Mácio, Manaus, Maranhão, Rio Grande do Sul, Santos, São Paulo e Vitória.

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Os estudantes assinalaram áreas de fixação diferentes dos caixeiros. Só indicaram o Rio de Janeiro 21,8%, mas 59,1% arrolaram a saída para o Brasil, sem especificarem o local exacto. O Pará, com vinte casos, ocupa uma posição de destaque entre os que deixaram a escola para trabalhar nestas terras. Inferimos que, neste grupo de emigrantes, os escolares não anunciam um rumo com precisão, optando por designar a ida para o “Brasil”. Os caixeiros apontam, mais frequentemente, o local exacto, embora o Rio de Janeiro sobressaia como primeira preferência, seguindo-se depois o Pará. Estes são os pólos geográficos de atracção de estudantes e caixeiros embarcados ao longo de oitocentos.

Pedreiros e Ofícios Afins

Ao longo do século XIX, encontrámos um caudal de emigrantes directamente ligados à construção, os pedreiros, ao qual juntamos outros indivíduos cujos trabalhos apresentam afinidades profissionais, embora tenham sido classificados na forma de: artistas, canteiros, (33) ou mesmo alvanéis, (34) além de calceteiros e quebradores de pedras. (35) Estes homens foram dividimos em dois conjuntos: por um lado, os pedreiros e, por outro lado, os canteiros (36) com os restantes.

A origem geográfica do pedreiro mostra-nos uma imagem muito diferente da cartografia elaborada para outros colegas da diáspora, quer na disposição por concelhos, quer no concernente aos movimentos de certas aldeias.

Para os naturais de Arcos de Valdevez, pouco se oferece acrescentar sobre estas evasões. Além de não estar registado o respectivo burgo, a maior parte das povoações não figura nesta cartografia. Da mesma forma, a vila de Paredes de Coura também se encontra ausente do mapa e a expressão quantitativa de cada freguesia está reduzida a números ínfimos. Mozelos e Porreiras são as únicas localidades com cinco homens cada. Ponte da Barca apresenta uma malha bastante rarefeita e uma boa parte das aldeias também não consta nesta carta.

33 Esta profissão não aparece arrolada entre os emigrantes de Fafe, enquanto que os pedreiros figuram com 4,6% dos totais analisados. Cf. MONTEIRO, Miguel- Migrantes, Emigrantes e Brasileiros o.c., p. 204.34 Assim descrito, este mester, não figura no elenco de actividades no MOVIMENTO DA POPULAçãO, Estado Civil-Emigração Estatistica Especial, Primeiro Anno – 1887, o.c., p. 190-195.35 O quadro é idêntico ao que acabámos de descrever na nota anterior. 36 Se o conjunto não é muito significativo, importa lembrar que estes ofícios, em 1884-85, eram bem remunerados nas obras públicas em Viana do Castelo, embora fosse o distrito onde menos auferiam pelos trabalhos, cujo vencimento, entre Julho e Novembro, estava balizado pelos 600/700 réis, o que não acontecia noutras províncias, sempre acima deste valor, se exceptuarmos a situação relativamente a Évora. Cf. ANNUÁRIO Estatistico de Portugal- 1885, Lisboa, Imprensa Nacional, 1887, p. 415.

531[Mapa 5]Pedreiros distribuídos por localidades do Alto-Minho saídos entre 1835-1900 com um

passaporte

O espaço de Ponte de Lima emerge com melhor rede de pedreiros e Arcozelo é a terra que mais chama a nossa atenção. Daqui, fugiram os maiores volumes destes mesteres. Cenário idêntico ocorreu relativamente a Monção, onde a liderança é assumida pelos naturais da freguesia de Tangil.

Valença do Minho, à semelhança do que apontámos para as localidades de Ponte da Barca, aparece na imagem com um contributo insignificante, pertencendo à freguesia de São Julião o maior contributo de emigrantes deste sector profissional.

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O conjunto de varões destes ofícios oriundos das povoações de Riba de Âncora, Vila Praia de Âncora e Âncora, na área de Caminha, juntamente com Freixieiro de Soutelo, do concelho de Viana do Castelo, merece destaque. Trata-se de um grupo de aldeias, implantadas no vale do rio Âncora, que formam um pólo dinamizador de onde fogem estes artistas 37 com alguma intensidade.

A grande novidade do fluxo vai para as terras de Vila Nova de Cerveira, especialmente nas aldeias de Loivo e Sopo que, juntamente com as do Vale do Âncora, Portuzelo e Anha, além de Tangil e Arcozelo, provocam maior impacto nesta representação cartográfica.

Apurámos, desta forma, que a distribuição geográfica dos emigrantes ligados às actividades de construção civil, especialmente os pedreiros, tem impacto nas paróquias onde há centros de extracção de pedra, quase sempre localidades com vasta área de serra, como é o caso das identificadas em Viana do Castelo, Caminha, Cerveira e Monção.

Este fenómeno emerge com os mais reduzidos indicadores urbanos, o que pode explicar as diferenças de instrução entre Galegos e naturais do Distrito de Viana do Castelo, especialmente para os de Ponte de Lima e outros municípios que intervêm com taxas de analfabetismo a merecerem reparo, por oposição ao que temos vindo a registar relativamente a outras actividades onde a cultura do escrito é mais assinalável.

Áreas de Destino por Instrução

O estudo deste grupo profissional - onde os pedreiros dominam e a presença de imigrantes oriundos da Galiza é assinalável - exige que se analise o destino indicado no acto da aquisição dos documentos com a variável da alfabetização, já que várias centenas destes profissionais falavam galego ou castelhano.

37 Se compararmos os vencimentos médios de pedreiros com os ofícios de alfaiates, barbeiros, caiadores, carpinteiros, funileiros, poleeiros, pregoeiros, sapateiros, tanoeiros, trabalhadores agrícolas e da lavoura, relativamente ao distrito de Viana do Castelo, descobrimos que as remunerações destes ofícios eram inferiores ao salário dos pedreiros, em 1862. Mas, o número destes profissionais neste ano, num total de 836, era o mais elevado entre as «artes mechanicas e officios». Caminha destaca-se com 364, Cerveira tinha registado 115, em Ponte de Lima trabalhavam 89 e Viana contabilizou 86, seguindo-se Arcos de Valdevez com 75 mesteres. As restantes áreas ficam com valores mais modestos, todos abaixo de 36 pedreiros. Cf. A.G.C.,. «Mappa do preço médio dos salarios dos operarios no anno economico de 1861 a 1862», pasta 193, maço 29. Doc. s.n. Ver também os Relatorios sobre o Estado da Administração Publica …, em 1861, o.c., .p. 24-27; Relatorios sobre o Estado da Administração Publica …1860, o.c., p. 18.

533Como acontece para outros ofícios, o leque de opções descritas nos registos de passaportes é restrito e, ao mesmo tempo, abrangente a grandes áreas. Mais de metade do fluxo escolhe o Brasil. O Rio de Janeiro, como é frequente, ocupa uma posição de alguma proeminência, com mais de quatro centenas de indivíduos, equivalendo a 30,4% destes quantitativos. Os de destino indeterminado correspondem a pouco mais de seis dezenas e figuram a seguir aos que indicaram a capital da ex-colónia

Para os pedreiros, temos, como indicação de local preferido, a referência globalizante ao Brasil, perfazendo esta direcção 54%; registaram o Rio de Janeiro cerca de vinte e oito em cada cem emigrantes deste mester. Se Manaus aparece com 3,6%, o Pará e Santos são duas localidades entre as menos anotadas por estes profissionais.

Alguns embarcaram, em número reduzido, para as colónias portuguesas em África. São indivíduos com elevadas marcas de cultura letrada, fenómeno só comparável ao registado pelos emigrantes saídos para a América de língua castelhana e para o Pará, ambas as áreas com uma procura enunciada por mais de oitenta e um por cento de letrados.

Os galegos, ao contrário do que poderíamos conjecturar, não se dirigiram para terras de comunicação em castelhano. Na verdade, só apontaram a Argentina e outros países da mesma língua vinte e seis pedreiros, embora entre eles tenhamos bons indicadores de instrução. Um pequeno grupo aparece aqui registado com intenção de trabalhar em Gibraltar. A maior parte destes galegos sabia escrever o nome.

A representação gráfica faz sobressair os que desejavam viajar rumo ao Brasil e ao Rio de Janeiro, indiferentemente do tipo de actividade desempenhada. Estes profissionais raramente indicam a terra concreta onde pretendiam ganhar a vida, se exceptuarmos o pequeno conjunto que anotou a área de fixação.

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Trabalhadores do Calçado

Um pequeno conjunto de ofícios, cuja arte se divide em sapateiros, tamanqueiros (38) e soqueiros, (39) quando agregados uns e outros, forma um total de 229 casos com um só passaporte. O facto de associarmos aos sapateiros os soqueiros e os tamanqueiros, permite-nos verificar se estas actividades têm correspondência, ou não, com a divisão por espaços rurais e urbanos, de acordo com o tipo de calçado produzido como: socos, tamancos, botas e sapatos.

[Figura 6]Sapateiros, soqueiros e tamanqueiros por naturalidade, estado civil e alfabetização,

saídos entre 1836-1900

Solteiros Casados e viúvos

38 O número de fabricantes e vendedores de tamancos colectados a nível nacional, em 1881, apontava para 1049, enquanto que os sapateiros, com o mesmo perfil, somavam quase o dobro. Eram 2075 indivíduos, quantitativo que tinha crescido relativamente ao ano de 1880. Annuário Estatistico de Portugal- 1885. Lisboa: Imprensa Nacional, 1887, p. 413.39 Estes mesteres não aparecem registados, com tal designação, no «mappa das artes mechanicas e officios» do Noroeste de Portugal, em 1861, enquanto que os sapateiros constituem um conjunto de 396 profissionais distribuídos pelos vários municípios, exibindo algum equilíbrio. Em Viana do Castelo foram arrolados 89, um cômputo equivalente a 22,5% e superior ao dos pedreiros. Relatorios sobre o Estado da Administração Publica …, em 1860, o.c., p. 18.

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Podemos concluir que o destino deste grupo sócio-profissional não anuncia grandes variações. Os obreiros de sapatos e botas, com 197 presenças, emergem bem classificados ao nível do conhecimento das letras, pois aproximam-se dos setenta e cinco pontos, quando os restantes colegas, que produziam outro tipo de calçado, (tamancos e socos) só patenteiam 65,6% de varões capazes de firmarem pelo respectivo punho. Sendo um grupo com afinidades profissionais, evidenciam profundas diferenças sócio-culturais. Os produtores de calçado pobre e mais vulgarizado (tamancos e socos) patenteiam menores índices de cultura letrada, enquanto que os sapateiros pertencem a um tipo de emigrante cultivado pelas letras.

Carpinteiros e Outros Artistas da Madeira

Os emigrantes ligados aos trabalhos com madeira, entre os quais se destacam os carpinteiros 40, expressam, entre todo o fluxo masculino com um passaporte, perto de quatro por cento. Associámos marceneiros, 41 entalhadores, 42 escultores, 43 calafates 44 e tanoeiros 45 aos carpinteiros,

40 Os carpinteiros, em 1861, constituem uma corporação bem representada. Entre 4763 elementos das «artes mechanicas e officios», correspondem a 17,4%, com um total de 830 indivíduos, ocupando a segunda posição quantitativa, logo a seguir aos pedreiros. Neste espaço administrativo, destacam-se os de Ponte de Lima com 128 profissionais, o equivalente a 22,8% de carpinteiros existentes no distrito de Viana do Castelo. Relatorios sobre o Estado da Administração Publica …, em 1860, o.c., p. 18. Em 1880, este grupo profissional, juntamente com outras «industrias e profissões collectadas no continente» aparece dividido em «carpinteiro de carros (com estabelecimento), carpinteiro de seges (com estabelecimento), carpinteiro de obra miúda (com estabelecimento)» cabendo a estes últimos um total de 1049 agentes. Ver Annuario Estatistico de Portugal- 1885. Lisboa: Imprensa Nacional, 1887, p. 407. No concernente a emigrantes, para o ano de 1890, aparecem na décima posição a nível nacional, à frente dos pedreiros. Movimento da População, Estado Civil-Emigração. Estatistica Especial, Quarto Anno – 1890. Lisboa: Imprensa Nacional, 1893, pp. 178-183. 41 O registo oficial, em Viana do Castelo, no ano de 1861, era de 23 profissionais desta arte, num universo de 36 membros no distrito, sendo 4 de Ponte de Lima e outros tantos de Caminha, localidades onde mais se destacam. Relatorios sobre o Estado da Administração Publica…em 1860, o.c., p. 18. Curiosamente, em 1890, foram anotados 28 emigrantes no exercício desta actividade saídos de Portugal. Cf. Movimento da População, Estado Civil-Emigração. Estatistica Especial, Quarto Anno – 1890. Lisboa: Imprensa Nacional, 1893, p. 180-181.42 Se não temos referências a estes trabalhadores nas fontes anteriormente indicadas, há, em 1880, um quantitativo de 101 marceneiros de «moveis de estimação» e 473 «marceneiros (de moveis ordinárioas)» registados entre as profissões colectadas. Annuario Estatistico de Portugal- 1885, Lisboa, Imprensa Nacional, 1887, p. 411.43 Os escultores contabilizados em 1860 aparecem adstritos a Caminha, num total de três elementos, mas em 1885, a nível nacional, estavam identificados, pela colecta, 17 em trabalhos da área da madeira e 2 a laborarem com barro, Annuario Estatistico … 1885, o.c., p. 408. 44 Estes profissionais, em 1861, num total de 5, operavam em Viana do Castelo, mas em 1890 saíram do país 9 indivíduos assim classificados, como se refere no Movimento da População, Estado Civil-Emigração. Estatistica Especial, Quarto Anno – 1890. Lisboa: Imprensa Nacional, 1893, 178-179.45 Os tanoeiros identificados para o distrito de Viana, em 1861, perfaziam um cômputo de 13 indivíduos, assim distribuídos: 8 em Viana do Castelo; 3 em Ponte de Lima e 2 Caminha. A emigração destes agentes, em 1890, é liderada pelos do Porto, com 33 homens entre um total de 50 saídas do Continente, as fontes anteriormente citadas confirmam.

537por aqueles exprimirem um reduzido número de indivíduos, e serão identificados por outros artistas da madeira. Estes patrícios apresentam uma taxa de alfabetização surpreendente, considerando que passa dos oitenta pontos percentuais.

Os carpinteiros representados neste universo migratório são, na sua grande maioria, homens nascidos no Noroeste de Portugal, cujos números correspondentes a 91,5%, todavia, encontrámos pouco mais de cinco por cento vindos da Galiza, além de outros 3,3% provenientes de concelhos pertencentes a vários distritos.

Quando olhamos para a relação entre o movimento de cada edilidade e os indicadores de instrução, descobrimos que as áreas de Caminha, Cerveira, Valença e Viana, as três primeiras da fronteira com a Galiza, contribuem com mais de oitenta e três por cento de carpinteiros escolarizados, fenómeno que coloca este grupo sócio-profissional próximo das elites da cultura do escrito, embora tenhamos uma média geral, como referimos, acima dos oitenta pontos. Também são de sublinhar os cômputos de assinantes naturais de Arcos de Valdevez e da Galiza, por passarem os indicadores médios do grupo em estudo.

O mapa 6 permite-nos ver a proveniência destes artistas. A maioria é oriunda das aldeias. Só 12,4% estão arrolados como baptizados nos espaços urbanos. Se o fluxo revela um perfil predominantemente rural, como se constata pelo mapa 6, os concelhos de Monção, Paredes de Coura, Ponte da Barca e Ponte de Lima arrogam-se com responsabilidades nesta distribuição, já que, para Viana do Castelo, Caminha, Melgaço e Valença, os indicadores ficam abaixo da média do distrito, onde a cidade Viana contribui com perto de dezoito por cento de carpinteiros nascidos na própria urbe.

Ao classificarmos este movimento como proveniente de espaços rurais, impõe-se a cartografia dos números pelas respectivas localidades, de forma a podermos observar o impacto exercido por determinadas freguesias, pois não há uma única sede de concelho com mais elementos do que algumas aldeias.

Henrique Rodrigues

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[Mapa 6]Distribuição de carpinteiros por freguesias do Alto-Minho

saídos entre 1835-1900 com um passaporte

A carta, onde representamos os carpinteiros, permite ver a implantação da rede, cuja malha é bastante regular. Poucos saíram do concelho de Arcos de Valdevez e estes deixam uma imagem cartográfica rarefeita, não havendo mais de cinco casos em qualquer paróquia e a própria vila fica irreconhecível neste cenário, não se distinguindo de outras zonas. Observa-se para Ponte da Barca imagem idêntica, embora as terras mais colaborantes desta área se encontrem próximas do município de Ponte de Lima, dando a ideia de que os carpinteiros são provenientes de áreas circunvizinhas. A sede de autarquia também fica sem visibilidade, face às restantes contribuições.

O mapa revela-nos a irregularidade da malha, todavia, em Ponte de Lima, observa-se uma cobertura cuja trama se apresenta mais composta para Norte do rio Lima e destacam-se os carpinteiros nascidos em São João da Ribeira e na Labruja, que suplantam os da urbe limiana.

A imagem descrita para o território de Ponte de Lima, povoado numa zona e rarefeito na outra, inverte-se em Viana do Castelo. A cidade emerge com realce e toma a liderança do caudal de carpinteiros. O destaque, além do impacto do burgo, vai para Anha, líder das saídas, que suplanta o fluxo da sede administrativa. Ao longo do rio que atravessa todo o distrito, em ambas as margens, encontramos a presença destes profissionais que ousaram abalar do campo, mas, a Norte, a presença de carpinteiros é irrelevante.

539Na região de Caminha, as paróquias de Gontinhães (Vila Paria de Âncora) e Seixas ganham grande dinâmica, cabendo a esta última mais protagonismo, enquanto a Vila desponta com quantitativos que a colocam na terceira posição.

O município de Vila Nova de Cerveira apresenta-se com uma cobertura quase total. Só a povoação de Nogueira não figura neste cenário. As freguesias de Campos e Loivo demarcam-se sobre o respectivo burgo.

Valença emerge com maior visibilidade e esta autarquia, juntamente com as de Paredes de Coura e Ponte de Lima, apresenta-se como cabeça do eixo de distribuição do fenómeno migratório de trabalhadores da madeira. Também, nesta área, não é a vila que assume a vanguarda dos números, pois a hegemonia cabe a Ganfei. À semelhança do que ficou apontado para Cerveira, a rede deixa de fora três localidades: Arão, Fontoura e Friestas, únicas terras do concelho sem presença neste quadro.

Se Melgaço ostenta uma imagem de implantação parcimoniosa - onde a Vila não se acentua, como acontece às terras de Arcos e da Barca, revelando que os carpinteiros existentes faziam falta e não se evadiam - Monção exibe um cenário próximo deste perfil e a sede municipal aparece com uma imagem modesta. As aldeias de Cambeses e Mazedo lideram o movimento, enquanto dúzia e meia de localidades não figuram com estes artistas.

No centro geográfico do Alto-Minho, Paredes de Coura comprova a existência de uma lógica de ruralidade. A melhor contribuição é dada pelos naturais de Infesta e a maioria das povoações está aqui retratada. Neste período, não fugiram carpinteiros das seguintes aldeias: Cunha, Cristelo Covo, Insalde, Porreiras e Romarigães.

Podemos inferir que este grupo profissional tem uma marca indelével e um estatuto cultural bem assinalável. Realçamos o carácter rural destes movimentos, onde a colaboração das sedes de concelho fica em segundo plano, quando era de supor que os carpinteiros, devido ao perfil de cultura letrada, seriam oriundos do mundo urbano, ou pelo menos teriam uma presença de impacto superior ao dos colegas baptizados no campo. Por se tratar de indivíduos posicionados na proximidade do topo da pirâmide sócio-cultural e por serem homens das áreas rurais, importa sublinhar, por fim, que as povoações mais activas em cada concelho não são zonas contíguas às sedes de autarquia, como Anha, em Viana; São João da Ribeira, em Ponte de Lima; Seixas, em Caminha; Infesta, em Paredes de Coura, e Ganfei, em Valença, aldeias com muita evidência nesta diáspora.

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Quem desempenhava esta actividade era detentor de capacidades intelectuais e portador de competências da cultura escolarizada, assim o exigia o trabalho com as tábuas, fenómeno explicável pelo facto de serem artistas habituados aos cálculos, por isso homens capacitados para as contas e para o desenho e risco da madeira, assim como estavam e habilitados na escrita do abecedário, tendo assinado pelo próprio punho.

Áreas de Destino

O movimento destes profissionais não se afasta muito dos cenários descritos para outros ofícios, como se observa pelo quadro 14. Os que apontaram o Brasil como área de destino representam 49,2%, seguindo-se, depois, o Rio de Janeiro com pouco mais de trinta e um pontos percentuais. Os restantes distribuíram-se por várias zonas de terras de Vera Cruz, além de outros países. Um pequeno grupo optou pelas colónias portuguesas de África.

Entre as cidades brasileiras mais representadas, Manaus acolheu maioritariamente carpinteiros letrados, onde os solteiros igualam os restantes colegas de outros estados civis. Também separámos os embarcados para o Pará, embora apareçam com números ínfimos, todavia, aqui a percentagem de analfabetos é mais expressiva, mesmo com números de significado demográfico irrelevante.

Os requerentes de viagem para a Argentina, ou outras regiões onde se falava castelhano, são dominados pelos celibatários, para os quais os indicadores de instrução andam na casa dos setenta e oito pontos. Podemos asseverar que os carpinteiros apresentam um quadro ligeiramente diferente do que traçámos para os outros colegas, embora, continuem num patamar de literacia bem elevado. Um cenário idêntico a este é visível relativamente aos que seguiram para África, para onde partiram mais solteiros instruídos do que os restantes estados civis.

Finalmente, embora não tivéssemos averbado na tabela todas as terras anunciadas como destino, temos a indicação de que alguns escolheram a Baía, Ceará, Minas Gerais, Olinda, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Vitória, São Paulo e Santos como ponto de fixação e, entre eles, mais de oitenta e cinco por cento confirmaram a requisição da licença pelo respectivo punho, eram indivíduos letrados.

541Devemos assinalar, ainda, que estamos perante um grupo sócio-profissional dos quais 88,7% se dirigem para terras de Vera Cruz. Os carpinteiros sem indicação do destino também ostentam indicadores de instrução bastante elevados, pois passam dos oitenta e seis pontos. Ao compararmos os que arrolaram o “Brasil” e os que anunciaram a ida para o Rio de Janeiro, descobrimos que exibem maiores níveis de alfabetização e são os embarcados para Manaus, outros estados e os sem referência ao destino que exibem os melhores indicadores de escolarização.

Caiadores, Pintores, Estucadores, Alfaiates e Chapeleiros

As profissões de caiadores, pintores e estucadores apresentam alguma afinidade entre os respectivos mesteres. Da mesma forma os alfaiates e os chapeleiros exibem índices de alfabetização próximos. Por se tratar de um movimento inferior a meio milhar de casos, optámos por agregá-los para uma abordagem em conjunto e, ao mesmo tempo, analisarmos algumas variáveis, como fizemos para outras actividades. De um lado temos 376 caiadores, pintores e estucadores; por outro lado, associamos os chapeleiros aos alfaiates, num total de 412 emigrantes, de forma a obtermos um conjunto com alguma expressão quantitativa. Se os caiadores correspondem a 70% do total de profissionais aqui associados, os alfaiates equivalem a 75%, relativamente ao grupo com os chapeleiros. Assim, não excluiremos qualquer mester da nossa abordagem sócio-profissional, já que os cômputos de alguns trabalhadores não proporcionam determinados exercícios e, simultaneamente, estes ofícios perfazem um número com uma representatividade semelhante a outros conjuntos de ocupações anteriormente apresentados.

Origem Geográfica

Mais do que apontar de onde saíram estes indivíduos, optámos por analisar tais movimentos enquadrados em cenários de cultura letrada e de acordo com o respectivo estado civil.

Estes emigrantes são, maioritariamente, homens baptizados no distrito de Viana do Castelo. Os municípios de Caminha e Viana do Castelo intervêm com grande impacto, rubricando mais de metade do fluxo, respectivamente com 22,2% e 28,9%. Os totais, por autarquias, mostram-

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nos áreas de pouca expressão quantitativa com os melhores indicadores de instrução 46, como acontece em Valença e nos Arcos de Valdevez. Em Caminha, assistimos à debandada de um fluxo considerável com 79,4% de escolarizados, enquanto que para o de Viana do Castelo os índices de cultura letrada são inferiores, ficando perto dos sessenta e cinco por cada cem travessias.

Nesta distribuição, aparentemente, não encontrámos uma lógica explicadora da existência de elevados números destes profissionais ignorantes das letras ou instruídos de acordo com os maiores ou menores volumes, pois são os de Ponte da Barca que menos colaboram com saídas deste género e, ao mesmo tempo, com maior percentagem de ignaros, quando a relação tem apontado para o cenário oposto. Também o quadro relativo a Caminha e Viana não obedece aos comportamentos onde se opera uma correlação entre a qualidade e o volume, sendo certo que nem sempre os grandes caudais significam mais percentagens de iletrados.

46 Ao analisarmos a indústria de alfaiataria, registada no inquérito industrial de 1890, deparámo-nos com alguns problemas; por um lado o registo de funcionários não exibe instruídos no concelho dos Arcos de Valdevez; por outro lado, Viana do Castelo surge com indicadores de alfabetização, no grupo, a rondar os trinta pontos e, ainda, por outro, Paredes de Coura apresenta-se com 61,1% de homens letrados que exerciam estas actividades. O que mais surpreende é facto de termos em Monção, Melgaço, Paredes de Coura e Ponte da Barca os indicadores de literacia mais elevados, passando sempre dos cinquenta pontos, quando esta lógica não se encontra entre os que, efectivamente, assinaram documentos e obtiveram passaporte. Assim, anotamos alguma reserva relativamente aos números apresentados nos referidos inquéritos, tanto mais que tivemos oportunidade de constatar a existência de operários que produziam telha e tijolo habilitados para firmaram os próprios requerimentos e outros que o não sabiam fazer, quando instalaram estas indústrias. RODRIGUES, Henrique Fernandes - Alto-Minho no Século XIX, contextos migratórios, o.c., tomo I, p. 181-220. Face à prova que temos em mãos e às informações quantitativos que os referidos inquéritos apontam, somos levados a pensar que o grau de fiabilidade sobre a instrução daqueles operários pode ser pouco preciso.

543[Figura 7]Caiadores, pintores, estucadores, alfaiates e chapeleiros por estado civil naturalidade e

alfabetização, saídos entre 1837-1900

Solteiros Casados e viúvos

Ao apontarmos, globalmente, a disposição dos quantitativos, ficamos com um registo pouco fidedigno, se não analisarmos o fenómeno de acordo com o respectivo estado civil. Os jovens solteiros nascidos na Ribeira Minho, especialmente em Caminha, Cerveira e Valença, constituem um grupo com elevado domínio da escrita, sendo muitos deles pessoas escolarizadas.

Os restantes emigrantes, que tinham experimentado o casamento, exibem uma distribuição idêntica à malha dos mais novos por espaços geográficos. Os números relativos aos alfabetizados mostram-nos a liderança assumida pelos de Viana do Castelo. Os municípios de Valença, Paredes de Coura e Monção, onde os quantitativos são de pouca expressividade, evidenciam bons indicadores de literacia entre os consorciados.

Ao analisarmos as assinaturas, temos a presença de 39,4% de varões casados capazes de gizar o nome com esmero e constatámos que o analfabetismo declarado não chega aos vinte e cinco por cento, donde resulta uma presença de indivíduos eruditos ligeiramente superior ao dos solteiros.

Em síntese, coabitam dois cenários diferentes, por um lado os que tinham responsabilidades conjugais com maior presença de homens ilustrados pelo abecedário em Viana do Castelo,

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enquanto que esta variável é liderada pelos celibatários de Caminha. Também devemos dar realce à presença de galegos e espanhóis instruídos, embora os números não tenham significado especial, como acontece para outros concelhos do distrito de Viana do Castelo.

Geografia de Caiadores, Alfaiates e Ofícios afins

Acabamos de caracterizar estes fluxos de acordo com o perfil de âmbito concelhio. Importa, agora, examinar em pormenor a rede geográfica relativa ao distrito de Viana do Castelo. Para o efeito usaremos o mapa onde cartografámos estes embarques por freguesias.

A malha de implantação geográfica (para caiadores, alfaiates e ofícios afins) não difere muito de outros mesteres estudadas anteriormente, no concernente à parcimoniosa implantação em determinadas zonas. Nos municípios do interior, observa-se a retenção destes profissionais ao longo da centúria 47.

Estas fugas não têm relevo em Melgaço, Arcos de Valdevez e Ponte da Barca, onde só vinte e cinco localidades intervêm nesta dinâmica, fazendo-o com números insignificantes.

Ponte de Lima patenteia uma cobertura mais homogénea e a respectiva sede autárquica emerge com algum realce. O mesmo acontece em Paredes de Coura com uma rede abrangente a uma boa parte das localidades, contudo as freguesias de Castanheira e Ferreira comandam estes embarques.

Ao olharmos para a restante distribuição, notamos no litoral e na raia de fronteira uma dinâmica diferente. A liderança é tomada pelas terras Areosa e Afife, em Viana do Castelo, e Âncora e Seixas, no concelho de Caminha e Viana do Castelo, que ostentam maiores quantitativos.

47 O facto de termos optado por desenhar o movimento em conjunto deve-se aos indicadores de ilustração apresentados por todos estes indivíduos e, especialmente, por corresponderem a números muito reduzidos, o que não proporcionaria uma abordagem com algum relevo quantitativo.

545[Mapa 7]Cartografia dos caiadores e alfaiates do Alto-Minho saídos entre 1835-1900 com um

passaporte

Porque tratámos várias actividades, neste grupo, importa esclarecer que os alfaiates do Alto-Minho correspondem a 45,2% destes caudais, enquanto que os caiadores se apresentam com pouco mais de vinte e oito pontos percentuais, ficando para os restantes artistas 26,7%. Assim, De Caminha saíram oitenta e oito caiadores e somente oito alfaiates, ou seja, estamos perante um concelho de cujo movimento não sobressaem os produtores de fatos, calças e outros adereços. O cenário para Monção é diferente, pois daqui não partiam os que se dedicavam ao trabalho de pintura com cal. Em Ponte de Lima, destacam-se os que se empregavam na confecção de roupa de homem, enquanto que os caiadores e outros trabalhadores aqui tratados exibem números de pouca importância. Viana do Castelo reparte estes emigrantes pelas várias actividades, pois apresenta noventa alfaiates, sessenta e três caiadores e os restantes setenta e cinco divididos de várias ocupações associadas a este agrupamento.

Infere-se, desta distribuição por localidades, que a concentração de profissionais ligados à pintura com cal e estuque, sobressaem em Viana do Castelo e Cerveira e são responsáveis pela implantação da malha cartografada, enquanto que os alfaiates dominam nas restantes autarquias e apresentam uma cobertura mais definhada, com pequenos pólos em certas terras, destacando-se as sedes de concelho.

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Áreas de Destino

Os locais indicados como preferências destas pessoas não se afastam dos cenários apontados para outros embarcados. O Rio de Janeiro, em particular, e o Império do Brasil, em geral, figuram esmagadoramente nestes registos. Estamos perante uma dinâmica cujo imaginário consistia em atravessar o Atlântico, quer se trate de um ou de outro estado civil.

São movimentos com um destino constante; ou tomam a direcção da capital, o Rio de Janeiro, ou registam a intenção de embarque rumo ao “Brasil”, sem referência concreta ao lugar de ancoragem. Poucos indicaram a vontade de fixação no Pará e Manaus e, mesmo assim, a presença dos que tinham responsabilidades conjugais é mais notada do que a dos jovens evadidos para estas terras. Um pequeno grupo apontou outras localidades, como: “América do Sul”, Baía, Ceará, Maranhão, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Santos e São Paulo, destinos por nós inseridos na tabela em “vários Brasil”, tudo pessoas bem instruídas, não havendo, entre os celibatários, um único ignorante do abecedário. O mesmo acontece relativamente às ausências para as colónias de África, com este mesmo perfil.

Se os jovens destes estratos profissionais idos para Manaus surgem com indicadores de analfabetismo elevado, os que apontaram globalmente o Brasil detêm melhores índices de cultura letrada, pois entre eles há 74,2% capazes de escrever uma carta para a família. Por sua vez, o Rio de Janeiro foi preferido por uma percentagem ligeiramente inferior, a rondar a média relativa a este estado civil, ou seja, anda pelos setenta pontos. Os restantes estados civis, curiosamente, inscreveram 73,5% de assinaturas nos documentos, embora a lógica seja diferente da que está gizada para os celibatários. Assim, o Rio de Janeiro acolhe 82,9% de emigrantes instruídos e com responsabilidades ao nível do lar, da mesma forma que, para Manaus, partem poucos analfabetos, ao contrário do sucedido relativamente aos solteiros.

Encontramo-nos, assim, perante fluxos que se diferenciam pelo nível qualitativo e estado civil, quando se analisam os destinos juntamente com estas variáveis. Os jovens letrados não especificam com rigor a área de fixação, enquanto que os casados e viúvos escolarizados são mais precisos no registo da terra para onde requeriam transferência.

547Conclusões

A geografia dos movimentos migratórios do sexo masculino mostra-nos um contingente assinalável de trabalhadores agrícolas, representando cerca de um quarto dos fluxos com um passaporte. Além destas ausências e dos indivíduos profissionalmente indeterminados, os estudantes e caixeiros também emergem como mão-de-obra importante, formando um grupo destacável. Ainda se fazem notar os volumes de serviçais e outros emigrantes ligados ao amanho da terra, seguindo-se os pedreiros e carpinteiros. Os cômputos dos restantes mesteres pouco se diferenciam entre eles.

Por estado civil, os celibatários ganham representatividade entre caixeiros, estudantes e os de profissão indeterminada. Relativamente a consorciados, os lavradores, pedreiros, marítimos, proprietários, e trabalhadores do calçado detêm maiores contingentes. No referente a viúvos, temos cerca de seis centenas e meia, destacando-se entre lavradores, proprietários, negociantes e comerciantes.

Os indicadores de instrução são surpreendentes, quando analisamos separadamente cada agrupamento profissional, mas as percentagens globais de letradas andam nos 62,2%, quadro resultante da presença de crianças do sexo masculino incluídas nesta abordagem.

A geografia de lavradores e agricultores mostra-nos um surto de perfil distinto de outros caudais, pois estamos perante evasões de homens comprometidos com o amanho do solo ou dele directamente dependentes. A mancha cartográfica apresenta-se compacta nos concelhos de Ponte de Lima, Paredes de Coura, Monção e parte de Melgaço, enquanto que Caminha, Viana e Valença, concelhos do litoral e de fronteira, figuram nesta representação com uma rede mais rarefeita. Estes emigrantes também apresentam uma distribuição diferente no respeitante aos indicadores de cultura letrada, cabendo os melhores índices aos naturais de Caminha, Viana, Valença e Vila Nova de Cerveira, áreas com mais de setenta alfabetizados em cada cem embarques.

O destino tem como principal referência a capital do Brasil, tendo sido indicada por mais de dois milhares e meio de homens, o que corresponde a 30,5% deste conjunto de indivíduos ligadas ao mundo rural. As restantes escolhas vão para o Pará, São Paulo, Manaus e Santos. Outros estados, como a Baía, Pernambuco e Manaus são locais escolhidos pelos alfabetizados, considerando que atraíram mais lavradores instruídos do que iletrados.

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O corpo erudito formado por elites corresponde a ausências de pessoas escolarizadas, mas não têm representação na maior parte das terras do Noroeste de Portugal. São emigrantes com uma procedência urbana acentuada. Destacam-se, pelos volumes, as saídas de Viana do Castelo, Ponte de Lima e Arcos de Valdevez. O Brasil não é o país de desembarque exclusivo destes patrícios, todavia acolheu perto de oitenta por cento. Alguns seguiram para África e outros obtiveram passaporte para a Europa. Os negociantes, comerciantes, capitalistas, empreiteiros, industriais, armadores, ourives e relojoeiros, indicaram, além do Rio de Janeiro, Pernambuco e as colónias portuguesas, zonas mais procuradas para o negócio. O grupo formado por bacharéis, escreventes, padres, farmacêuticos, engenheiros, guarda-livros e médicos, todos eles instruídos, obtiveram licença de viagem para o “Brasil”, Rio de Janeiro e a Europa. O Pará acolheu meia dúzia destes elementos e a Argentina recebeu uma dezena. Os proprietários também optaram pelo Rio, Pará e Europa, sendo reduzida a cota para outros destinos. Destas elites, poucos registaram a Baía ou Manaus, enquanto Pernambuco e Pará emergem a seguir ao Rio de Janeiro.

Os estudantes são maioritariamente provenientes dos concelhos de Viana do Castelo, Ponte de Lima e Arcos de Valdevez, três municípios responsáveis por mais de 56% deste segmento migratório. Se a cartografia dos aulistas ostenta uma mancha com impacto ao longo da bacia do Lima, os caixeiros exibem uma rede mais composta e uma distribuição diferente. Para este conjunto, a Ribeira Minho tem melhor representação, relativamente aos colegas que frequentavam a escola. Se a presença urbana de caixeiros é visível neste cenário, o fluxo é formado por 75% de jovens provenientes do mundo rural.

A geografia do destino destes futuros quadros apresenta-nos, além da capital do Brasil, o Pará, Pernambuco, Baía, Manaus, Campos, Ceará, Grão-Pará, Mácio, Manaus, Maranhão, Rio Grande do Sul, Santos, São Paulo e Vitória, locais para onde se dirigiram os caixeiros. As áreas de fixação dos estudantes são mais imprecisas, sobressaindo o Rio e o Pará, porque estes jovens escolares designavam a ida para o Brasil sem especificarem o local exacto.

Os pedreiros e as actividades similares patenteiam uma imagem diferente. Em Ponte de Lima, realça-se a freguesia de Arcozelo, assim como, no Vale do Âncora temos as localidades de Riba de Âncora, Vila Praia de Âncora e Âncora, da área de Caminha, e Freixieiro de Soutelo, do município de Viana. Também as aldeias de Loivo e Sopo, do concelho de Vila Nova de Cerveira, mostram o impacto dos pedreiros. A estas terras juntam-se Portuzelo e Anha, em Viana e Tangil, em Monção, povoações com relevo neste contexto profissional. O desembarque aproxima-se das opções de outros colegas e são: o Rio e o “Brasil”, seguindo-se Manaus. Neste imaginário de fixação na outra margem, o Pará e a Baía estão entre as áreas menos procuradas pelos pedreiros.

549Os sapateiros e mesteres ligados ao calçado formam um conjunto de pouco significado quantitativo. Todavia, são indivíduos com elevado nível cultural, considerando que detectamos 73,4% de varões comprovadamente instruídos e menos de 25% de analfabetos. O destino é variado, tendo este agregado seguido para o Rio, Manaus, Pará, Santos, Rio Grande Sul e São Paulo, terras escolhidas por quem sabia ler e escrever. Também notámos diferença de nível cultural entre sapateiros e os restantes colegas, soqueiros e tamanquiros, pessoas com menor preparação ao nível das letras.

Os carpinteiros e outros profissionais que trabalhavam com madeira (marceneiros, entalhadores, escultores, calafates e tanoeiros) aparecem neste quadro com indivíduos maioritariamente alfabetizados. Trata-se de êxodos oriundos de áreas rurais, ficando as sedes de concelho num plano secundário. Todo o distrito entra nesta cartografia e os principais centros fornecedores desta mão-de-obra são as aldeias próximas das sedes de município. As opções de destino estão tipificadas por “Brasil” e Rio de Janeiro, para onde seguiram, respectivamente, 49,2% e 31%. Os restantes espalharam-se por vários estados (Baía, Ceará, Minas Gerais, Olinda, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Vitória, São Paulo, Santos, Pará e Manaus, que acolheu jovens solteiros instruídos). Outros seguiram para as colónias de África.

Os caiadores, alfaiates e actividades com afinidade a ambos os ofícios apresentam uma implantação geográfica que não difere muito de outros mesteres. Se os alfaiates estão espalhados por todo o distrito, os caiadores dominam em Viana e Cerveira. A referência ao local de ancoragem não se afasta dos cenários já apontados; ou vão para o Rio de Janeiro ou indicam a direcção do “Brasil”. Outras áreas registadas são Pará e Manaus, Baía, Ceará, Maranhão, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Santos e São Paulo. Os profissionais deste grupo, embarcados para além do Atlântico, assomam 73,5% de instruídos, indicadores de cultura letrada muito elevados. Sublinhamos os consorciados saídos para o Rio e Manaus, que eram maioritariamente letrados, tendo entrado 82,9% de casados capazes de ler e escrever no Rio.

Finalmente, podemos asseverar que a composição sócio-profissional do emigrante, quando analisada por segmentos, não exibe uma distribuição geográfica uniforme. Cada profissão apresenta peculiaridades, quer na constituição, quer na origem e mesmo quanto à composição por níveis etários e estados civis. Certas actividades, como carpinteiros, alfaiates e mesmo os caiadores surpreendem-nos pelo nível de instrução à data da obtenção do passaporte. Se os estudantes, caixeiros, comerciantes, proprietários e outros das elites sócio-profissionais formam um escol com habilitações académicas, os lavradores e outros trabalhadores que viviam das actividades agrícolas fazem baixar as percentagens de alfabetizados. Todavia, ao inserirmos nesta abordagem as crianças e outros emigrantes sem profissão determinada, temos um índice de literacia que pouco passa da fasquia dos sessenta e dois e cada cem embarques.

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[Quadro 1]Grupos profissionais do sexo masculino por alfabetização e estado civil com um

passaporte emitido entre 1835-1900

Grupos Instruídos Analfabetos Indetermindo Estado civil Movimento

Profissionais Total % Total % Total % Solt. Casad. Viúvo Total %

Alfaiate, chapeleiro 311 75,5 92 22,3 9 2,2 257 141 14 412 2,0

Pedreiro, artista, alvanel, canteiro, calceteiro

931 67,6 430 31,2 17 1,2 837 505 36 1378 6,8

Carpinteiro, marceneiro, escultor entalhador, calafate, tanoeiro

628 80,8 133 17,1 16 2,1 492 258 27 777 3,9

Caiador, pintor, estucador, 263 69,9 101 26,9 12 3,2 237 132 7 376 1,9

Caixeiro, estudante, filho-família, 1657 97,8 19 1,1 19 1,1 1667 19 9 1695 8,4

Criado, jornaleiro, trabalhador, cavador, servente

774 57,1 523 38,6 59 4,3 1008 295 53 1356 6,7

Lavrador, agricultor 4608 57,3 3220 40,1 208 2,6 4991 2796 249 8036 39,8

Comerciante, negociante, ourives industrial, armador, capitalista, empreiteiro, relojoeiro

400 94,8 12 2,8 10 2,4 268 133 21 422 2,1

Escrevente, farmacêutico, médico, guarda-livros, engenheiro, padre, bacharel

122 98,4 0 0,0 2 1,6 94 25 5 124 0,6

Proprietário 216 94,7 9 4,0 3 1,3 111 102 15 228 1,1

Ferreiro, serralheiro 189 79,4 43 18,1 6 2,5 145 85 8 238 1,2

Marítimo, barqueiro, pescador, marinheiro

274 66,5 129 31,3 9 2,2 177 226 9 412 2,0

Sapateiro, tamanqueiro, soqueiro

168 73,3 56 24,5 5 2,2 138 85 6 229 1,1

Padeiro, cozinheiro 23 57,5 15 37,5 2 5,0 21 18 1 40 0,2

Várias actividades 183 74,1 56 22,7 8 3,2 147 83 17 247 1,2

Não referidas 2626 62,2 458 10,8 1141 27,0 3895 162 168 4225 20,9

TOTAL 13373 62,2 5296 26,2 1526 11,6 14485 5065 645 20195 99,9

551[Quadro 2]Caixeiros, estudantes filhos-família, por concelhos de naturalidade e instrução por

níveis de assinatura, saídos entre 1835-1900

Concelhos Caixeiros Estudantes Filhos família Instruídos

de naturalidade Nív. 1 Nív.2/3 Total Nív. 1 Nív. 2 Total Nív. 1 Nív. 2 Total Total %

Arcos 140 13 153 36 2 38 3 3 6 197 11,9

Caminha 89 8 97 25 0 25 0 1 1 123 7,4

Melgaço 53 6 59 18 0 18 0 0 0 77 4,7

Monção 92 12 104 12 1 13 0 0 0 117 7,1

Paredes 27 3 30 8 2 10 0 0 0 40 2,4

P. Barca 47 18 65 12 2 14 0 1 1 80 4,8

Ponte Lima 151 15 166 60 3 63 1 3 4 233 14,1

Valença 68 8 76 38 2 39 0 1 1 116 7,0

Viana 249 30 279 146 6 152 4 10 15 446 26,9

Cerveira 46 8 54 13 0 13 0 0 67 4,0

Alto-Minho 962 121 1083 368 18 386 8 19 28 1497 90,3

Braga Distrito 39 3 42 6 3 9 0 0 0 51 3,1

Galiza/Espanha 14 3 17 18 3 21 0 0 0 38 2,3

Brasil 5 0 5 23 0 23 0 0 0 28 1,7

Vários 25 5 30 13 0 13 0 0 0 43 2,6

Total 1045 132 1177 428 24 452 8 19 28 1657 100,0

Um jovem estudante foi registado como incapaz de escrever o nome, por doença mental, pelo que não o inserimos em qualquer o nível de assinatura.

Henrique Rodrigues

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[Quadro 3]Caixeiros estudantes e “filhos família” instruídos por níveis de alfabetização e locais de

destino, saídos entre 1835-1900

Locais de Caixeiros (**) Estudantes/ e Família Movimento

Destino Nível 1 N.2/3 Outros Total Nível 1 N.2/3 Outros Total Nível 1 N.2/3 Outros Total

Baía 19 3 0 22 10 2 0 12 29 5 0 34

Manaus 24 3 2 29 2 0 0 2 26 3 2 31

Pará 100 8 1 109 18 2 0 20 118 10 1 129

Pernambuco 15 5 0 20 3 0 0 3 18 5 0 23

Rio de Janeiro 323 49 13 385 80 25 0 105 403 74 13 490

“Brasil” 410 49 13 472 272 12 0 284 682 61 13 756

Vários Brasil (*) 42 3 5 50 10 0 0 10 52 3 5 60

Colónias portug. 50 5 1 56 14 1 0 15 64 6 1 71

Argentina/Chile 8 1 0 9 16 0 0 16 24 1 0 25

Europa 1 0 0 1 4 1 1 6 5 1 1 7

Não referido 53 6 2 61 7 1 0 8 60 7 2 69

Totais 1045 132 37 1214 436 44 1 481 1481 176 38 1695

(*) Campos, América, Cerá, Grão-Pará, Macio, Manaus, Maranhão, Rio Grando do Sul, Santos, São Paulo, Vitória(**) Incluímos no nível 2/3 dois casos com assinatura de nível pouco cuidado, que tinham saído para o Rio de Janeiro. Contabilizamos em “Outros” 37 caixeiros, dos quais 18 foram dados como analfabetos e 19 de quem desconhecemos o estado de cultura letrada.

553[Quadro 4]“Lavradores”, agricultores e outros agentes agrícolas do sexo masculino por concelhos

e nível de assinatura, com um passaporte entre 1835-1900

Concelhos deNaturalidade

Lavradores/agricultores Outros agentes agrícolas(*) Movimento Total

Assina Analfa. Ignora Total Assina Analfa. Ignora Total Assina Analfa Ignora Total

Arcos 407 395 26 828 10 12 4 26 417 407 30 854

Caminha 113 32 4 149 22 8 3 33 135 40 7 182

Melgaço 298 161 13 472 10 4 1 15 308 165 14 487

Monção 537 368 21 926 6 11 4 21 543 379 25 947

Paredes 503 531 31 1065 11 16 2 29 514 547 33 1094

P. Barca 191 124 4 319 9 5 0 14 200 129 4 333

Ponte Lima 932 733 40 1705 49 59 9 117 981 792 49 1822

Valença 203 91 7 301 19 13 2 34 222 104 9 335

Viana 542 238 20 800 90 50 11 151 632 288 31 951

Cerveira 270 126 7 403 24 15 2 41 294 141 9 444

Alto-Minho 3996 2799 173 6968 250 193 38 481 4246 2992 211 7449

Braga Distrito 134 113 3 250 14 23 4 41 148 136 7 291

Galiza/Espanha 456 292 29 777 499 300 12 811 955 592 41 1588

Vários 22 16 3 41 11 7 5 23 33 23 8 64

Total 4608 3220 208 8036 774 523 59 1356 5382 3743 267 9392

(*) Inserimos nesta variável os criados, serventes, jornaleiros, trabalhadores e cavadores, por oposição aos classificados como “lavradores” ou agricultores.

Henrique Rodrigues

554

IV Congresso Histórico de Guimarães - Do Absolutismo ao Liberalismo iv secção

[Quadro 5]Lavradores e agricultores por estado civil, níveis de assinatura e concelhos de

naturalidade com um passaporte entre 1835-1900

ConcelhosdeOrigem

Solteiros Casados e viúvos

Nível de assinaturas Analfa-betos

Ignora tip.5-6 Total

Nível de assinaturas Analfa-betos

Ignora tip.5-6 Total

1 2 3 Total 1 2 3 Total

Arcos 93 162 11 266 208 13 487 23 101 17 141 187 13 341

Caminha 35 34 2 71 21 4 96 13 25 4 42 11 0 53

Melgaço 76 96 7 179 91 9 279 28 81 10 119 70 4 193

Monção 117 213 23 353 221 14 588 28 131 25 184 147 7 338

Paredes 102 198 12 312 305 21 638 35 132 24 191 226 10 427

P. Barca 43 90 5 138 77 3 218 11 34 8 53 47 1 101

Ponte Lima 183 336 26 545 406 25 976 73 267 47 387 327 15 729

Valença 41 72 8 121 47 4 172 11 63 8 82 44 3 129

Viana 130 202 12 344 153 13 510 53 121 24 198 85 7 290

Cerveira 77 98 6 181 88 5 274 12 65 12 89 38 2 129

Alto-Minho 897 1501 112 2510 1617 111 4238 287 1020 179 1486 1182 62 2730

Braga Distrito 24 45 4 73 71 1 145 19 37 5 61 42 2 105

Espanha 103 215 10 328 235 25 588 21 98 9 128 57 4 189

Vários 2 7 1 10 8 2 20 4 8 0 12 8 1 21

Total 1026 1768 127 2921 1931 139 4991 331 1163 193 1687 1289 69 3045

555[Quadro 6]Criados, cavadores, jornaleiros, serventes e trabalhadores por estado civil, níveis de

assinatura e concelhos de naturalidade, com um passaporte entre 1835-1900

ConcelhosdeOrigem

Solteiros Casados e viúvos

Nível de assinaturas Analfa-betos

IgnoraTip.5/6 Total

Nível de assinaturas Analfa-betos

IgnoraTip.5/6 Total

1 2 3 Total 1 2 3 Total

Arcos 3 4 1 8 10 2 20 0 1 1 2 2 2 6

Caminha 6 8 0 14 4 2 20 3 5 0 8 4 1 13

Melgaço 7 2 0 9 3 1 13 0 1 0 1 1 0 2

Monção 2 3 0 5 7 3 15 0 1 0 1 4 1 6

Paredes 0 7 1 8 13 2 23 1 2 0 3 3 0 6

P. Barca 2 6 0 8 4 0 12 0 1 0 1 1 0 2Ponte Lima 11 28 2 41 45 6 92 2 5 1 8 14 3 25

Valença 4 8 2 14 7 2 23 1 4 0 5 6 0 11

Viana 26 33 3 62 27 8 97 6 17 5 28 23 3 54

Cerveira 5 12 2 19 11 2 32 1 4 0 5 4 0 9

Alto-Minho 66 111 11 188 131 28 347 14 41 7 62 62 10 134

Braga Distrito 4 1 1 6 12 4 22 1 7 0 8 11 0 19

Galiza/Espanha 95 256 14 365 250 11 626 15 106 13 134 50 1 185

Vários 2 4 0 6 4 3 13 1 3 1 5 3 2 10

Total 167 372 26 565 397 46 1008 31 157 21 209 126 13 348

Henrique Rodrigues

556

IV Congresso Histórico de Guimarães - Do Absolutismo ao Liberalismo iv secção

[Quadro 7]Movimento de lavradores/agricultores e outros agentes agrícolas por áreas de destino,

saídos com um passaporte entre 1835-1900

Áreas deDestino

Lavradores/agricultores Outros agentes agrícolas Total do movimento

Assina Analfa Ignora Total % Assina Analfa Ignora Total % Assina Analfa Ignora Total %

Baía 18 1 2 21 0,3 2 1 1 4 0,3 20 2 3 25 0,3

Manaus 83 47 8 138 1,7 11 6 4 21 1,6 94 53 12 159 1,7

Pará 107 60 13 180 2,2 12 5 5 22 1,6 119 65 18 202 2,2

Pernambuco 25 6 1 32 0,4 7 1 0 8 0,6 32 7 1 40 0,4

Rio de Janeiro 1443 942 63 2448 30,5 459 274 24 757 55,8 1902 1216 87 3205 34,1

Santos 62 43 1 106 1,3 5 4 0 9 0,6 67 47 1 115 1,2

São Paulo 81 65 2 148 1,8 8 1 2 11 0,8 89 66 4 159 1,7

“Brasil” 2364 1792 98 4254 52,9 194 164 18 376 27,7 2558 1956 116 4630 49,3

Vários (*) 22 15 2 39 0,5 1 7 1 9 0,6 23 22 3 48 0,5

Colónias África 59 23 1 83 1,0 4 2 3 9 0,6 63 25 4 92 1,0

Argentina/outro 193 124 9 326 4,1 45 36 1 82 6,1 238 160 10 408 4,3

Europa 5 2 0 7 0,1 2 3 0 5 0,4 7 5 0 12 0,1Não referido 146 100 8 254 3,2 24 19 0 43 3,2 170 119 8 297 3,2

Totais 4608 3220 208 8036 100 774 523 59 1356 99,9 5382 3743 267 9392 100

(*) Campinas, Campos, Ceará, Grão-Pará, Maranhão, Minas Gerais, Ouro Preto, Petrópolis, Rio Grande do Sul, Vitória.

557[Quadro 8]Origem geográfica de elites sócio-profissionais por estado civil e alfabetização, saídos

entre 1835-1900

ConcelhosdeOrigem

Solteiros Casados, viúvos e desconhecidosNíveis de

assinaturas Analfa-betos

Ignora Tip.5-6 Total

Níveis de assinaturas Analfa-betos

Ignora Tip.5-6 Total

1 2 Total 1 2-3 Total

Arcos 42 8 50 0 1 51 21 8 29 0 0 29

Caminha 25 3 28 0 2 30 21 4 25 0 0 25

Melgaço 21 3 24 0 1 25 11 1 12 0 0 12

Monção 32 2 34 0 0 34 12 7 19 1 0 20

Paredes 30 6 36 2 0 38 8 1 9 1 0 10

P. Barca 15 1 16 1 0 17 6 3 9 1 1 11

Ponte Lima 57 9 66 1 0 67 31 5 36 2 0 38

Valença 12 4 16 0 0 16 5 1 6 0 0 6

Viana 90 11 101 4 3 108 56 17 73 4 1 78

Cerveira 22 5 27 1 0 28 6 5 11 0 2 13

Alto-Minho 346 52 398 9 7 414 177 52 229 9 4 242

Braga Distrito 11 4 15 0 0 15 12 4 16 0 1 17

Espanha 18 7 25 1 0 26 8 8 16 0 0 16

Vários 17 1 18 0 0 18 14 7 21 2 3 26

Total 392 64 456 10 7 473 211 71 282 11 8 301

Henrique Rodrigues

558

IV Congresso Histórico de Guimarães - Do Absolutismo ao Liberalismo iv secção

[Quadro 9]Elites sócio-profissionais por áreas de destino e alfabetização, com um passaporte

emitido entre 1835-1900

Áreas de Destino

Grupo 1 Grupo 2 Proprietários Movimento

Assina Ana/ign Total Assina Ignoro Total Assina Ana/

ign Total Assina Ana/ign total %

Baía 4 0 4 3 0 3 3 0 3 10 0 10 1,3

Manaus 4 0 4 1 0 1 6 1 7 11 1 12 1,5

Pará 7 0 7 6 0 6 15 0 15 28 0 28 3,6

Pernambuco 33 1 34 1 0 1 1 0 1 35 1 36 4,7

Rio de Janeiro 99 4 103 23 034

1 4

559

[Quadro 10]Origem geográfica de pedreiros, canteiros e outras profissões afins por estado civil e

níveis de alfabetização, com um passaporte obtido entre 1836-1900

ConcelhosdeOrigem

Solteiros Casados, viúvos e desconhecidos

Níveis de assinaturas Analfabetos

Ignora4/5

TotalNíveis de assinaturas Analfa

betosIgnora

4/5Total

1 2 3 Total 1 2 3 Total

Arcos 2 5 0 7 5 0 12 3 8 0 11 10 0 21

Caminha 25 46 1 72 15 2 89 12 33 0 45 17 0 62

Melgaço 0 10 1 11 16 0 27 2 8 0 10 7 0 17

Monção 11 29 7 47 20 3 70 3 11 0 14 13 0 27

Paredes 3 4 0 7 14 0 21 3 8 0 11 8 0 19

P. Barca 0 4 0 4 2 0 6 1 0 0 1 1 0 2

Ponte Lima 8 29 0 37 37 0 74 1 25 3 29 32 0 61

Valença 6 4 1 11 4 0 15 3 4 1 8 4 0 12

Viana 39 80 5 124 43 7 174 23 58 4 85 42 1 128

Cerveira 18 63 2 83 28 0 111 10 33 3 46 17 1 64

Alto-Minho 112 274 17 403 184 12 599 61 188 11 260 151 2 413

Galiza/Esp. 52 116 3 171 53 1 225 21 57 10 88 27 2 117

Outros 1 2 0 3 10 0 13 0 6 0 6 5 0 11

Totais 165 392 20 577 247 13 837 82 251 21 354 183 4 541

Henrique Rodrigues

560

IV Congresso Histórico de Guimarães - Do Absolutismo ao Liberalismo iv secção

[Quadro 11]Áreas de destino e alfabetização de pedreiros, canteiros e outras profissões afins com

um passaporte obtido entre 1836-1900

Áreas de Destino

Pedreiros Canteiros e outros Total

Assina Analfa. Ignora Total Assina Analfa. Ignora Total Assina Analfa. Ignora Total

Manaus 27 17 1 45 6 0 0 6 33 17 1 51

Pará 13 3 0 16 1 1 0 2 14 4 0 18

Rio de Janeiro 230 112 1 343 61 15 0 76 291 127 1 419

Santos 9 7 0 16 1 0 0 1 10 7 0 17

“Brasil” 446 214 12 672 28 4 1 33 474 218 13 705

Vários Brasil (*) 10 8 1 19 2 0 0 2 12 8 1 21

Colónias portug. 15 6 0 21 0 0 0 0 15 6 0 21

Argentina/outros 18 3 0 21 8 5 0 13 26 8 0 34

Gibraltar/Espan. 17 8 1 26 0 0 0 0 17 8 1 26

Indeterminado 38 27 0 65 1 0 0 1 39 27 0 66

Totais 823 405 16 1244 108 25 1 134 931 430 17 1378

(*) Maranhão, Pelotas, Resende, Rio Grande do Sul e São Paulo.

561[Quadro 12]Origem geográfica de sapateiros, tamanqueiros e soqueiros por estado civil e níveis de

alfabetização, saídos entre 1836-1900

Concelhos deOrigem

Solteiros Casados, viúvos e desconhecidos

Nível de assinaturas Analfa-

betosIgnora

4/5 Total Nível de assinaturas Analfa-

betosIgnora

4/5 Total 1 2/3 Total 1 2/3 Total

Arcos 1 1 2 1 0 3 0 0 0 0 0 0

Caminha 2 4 6 0 0 6 0 2 2 1 0 3

Melgaço 0 0 0 1 0 1 0 1 1 0 0 1

Monção 9 13 22 4 0 26 0 2 2 0 1 3

Paredes 5 6 11 3 1 15 0 3 3 0 0 3

P. Barca 0 0 0 2 0 2 0 0 0 0 0 0

Ponte Lima 4 7 11 3 0 14 2 6 8 3 1 12

Valença 3 7 10 3 1 14 4 8 12 1 0 13

Viana 10 16 26 9 1 36 3 16 19 13 0 32

Cerveira 3 4 7 1 0 8 4 6 10 2 0 12

Alto-Minho 37 58 95 27 3 125 13 44 57 20 2 79

Espanha 4 10 14 4 0 18 1 3 4 2 0 6

Vários 1 3 4 0 0 4 0 3 3 3 0 6

Total 42 62 104 31 3 138 14 46 64 25 2 91

Henrique Rodrigues

562

IV Congresso Histórico de Guimarães - Do Absolutismo ao Liberalismo iv secção

[Quadro 13]Sapateiros, tamanqueiros e soqueiros por áreas de destino saídos entre 1836-1900

Áreas de Destino

Sapateiros Tamanqueiros/soqueiros Movimento Total

Assina Analfa. Ignora Total Assina Analfa. Ignora Total Assina Analfa. Ignora Total

Rio de Janeiro 46 25 1 72 7 3 0 10 53 28 1 82

“Brasil” 72 13 2 87 12 3 2 17 84 16 4 104

Vários Brasil (*) 9 2 0 11 1 1 0 2 10 3 0 13

Outras áreas (**) 11 1 0 12 0 0 0 0 11 1 0 12

Indeterminada 9 6 0 15 1 2 0 3 10 8 0 18

Totais 147 47 3 197 21 9 2 32 168 56 5 229

(*) Manaus 7, Para 1, Santos 1, Rio Grande Sul 2, São Paulo 2(**) África 2, Argentina 9

563[Quadro 14]Carpinteiros, marceneiros, entalhadores, escultores, calafatese tanoeiros por estado

civil, níveis de alfabetização e origem concelhia, saídos entre 1837-1900

ConcelhosdeOrigem

Solteiros Casados, viúvos e desconhecidos

Nível de assinaturas Analfa. Ignora Total

Nível de assinaturas Analfa. Ignora Total

1 2/3 Total 1-2-3 4-5 1 2-3 Total 1-2-3 4-5

Arcos 11 5 16 5 0 21 1 10 11 1 0 12

Caminha 20 14 34 5 0 39 10 8 18 2 1 21

Melgaço 4 3 7 3 0 10 0 7 7 2 0 9

Monção 4 13 17 1 2 20 0 8 8 3 0 11

Paredes 10 22 32 9 0 41 2 12 14 5 2 21

P. Barca 3 9 12 3 0 15 1 3 4 1 0 5

Ponte Lima 35 33 68 20 5 93 11 43 54 15 2 71

Valença 19 41 60 9 0 69 3 14 17 2 0 19

Viana 43 43 86 14 1 101 18 41 59 12 1 72

Cerveira 11 20 31 7 0 38 9 10 19 4 0 23

Alto-Minho 160 203 363 76 8 447 55 156 211 47 6 264

Espanha 10 16 26 4 1 31 1 6 7 2 0 9

Vários 2 9 11 2 1 14 2 8 10 2 0 12

Total 172 228 400 82 10 492 58 170 228 51 6 285

Henrique Rodrigues

564

IV Congresso Histórico de Guimarães - Do Absolutismo ao Liberalismo iv secção

[Quadro 15]Áreas de destino carpinteiros, marceneiros, entalhadores, escultores, calafates e

tanoeiros por estado civil e alfabetização, saídos entre 1837-1900

Áreas de Destino

Solteiros Casados, viúvos e n.ref. Total do movimento

Assina Analfa. Ignora Total Assina Analfa. Ignora Total Assina Analfa. Ignora total

Manaus 11 2 13 11 1 0 12 22 3 0 25

Pará 5 3 1 9 4 0 0 4 9 3 1 13

Rio de Janeiro 114 28 3 145 82 13 2 97 196 41 5 242

“Brasil” 202 41 4 247 103 29 3 135 305 70 7 382

Vários Brasil (*) 14 2 0 16 9 2 0 11 23 4 0 27

Colónias portug. 5 1 1 7 6 1 0 7 11 2 1 14

Argentina/outros 17 2 0 19 1 2 1 4 18 4 1 23

Indeterminado 32 3 1 36 12 3 0 15 44 6 1 51

Totais 400 82 10 492 228 51 6 285 628 133 16 777

(*) Baía 3, Ceará 3, Minas Gerais 2, Olinda 1, Pernambuco 1, Rio Grande do Sul 2, Vitória 1, São Paulo 8, Santos 6.

565[Quadro 16]Origem concelhia de caiadores, pintores, estucadores, alfaiates echapeleiros, por

estado civil e níveis de alfabetização saídos entre 1837-1900

ConcelhosdeOrigem

Solteiros Casados, viúvos e outros

Nível de assinaturas Analfa. Ignora Total

Nível de assinaturas Analfa. Ignora Total

1 2/3 Total 1-2-3 4-5 1 2-3 Total 1-2-3 4-5

Arcos 2 7 9 2 0 11 4 7 11 1 0 12

Caminha 62 36 98 19 3 120 18 23 41 12 2 55

Melgaço 3 1 4 1 0 5 1 2 3 1 0 4

Monção 7 14 21 11 1 33 4 8 12 2 0 14

Paredes 7 16 23 8 0 31 7 7 14 2 0 16

P. Barca 1 2 3 2 0 5 0 2 2 2 0 4

Ponte Lima 21 32 53 20 1 74 14 18 32 9 2 43

Valença 13 14 27 4 0 31 6 5 11 3 0 14

Viana 33 56 89 42 7 138 21 39 60 25 5 90

Cerveira 8 8 16 7 0 23 1 7 8 8 0 16

Alto-Minho 157 186 343 116 12 471 76 118 194 65 9 268

Espanha 5 5 10 3 0 13 2 6 8 1 0 9

Outros 2 3 5 5 0 10 7 7 14 3 0 17

Total 164 194 358 124 12 494 85 131 216 69 9 294

Henrique Rodrigues

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IV Congresso Histórico de Guimarães - Do Absolutismo ao Liberalismo iv secção

[Quadro 17]Áreas de destino de caiadores, pintores, estucadores, alfaiates echapeleiros, por estado

civil e alfabetização, saídos entre 1837-1900

Áreas de Destino

Solteiros Casados, viúvos e outros Total

Assina Analfa. Ignora Total Assina Analfa. Ignora Total Assina Analfa. Ignora Total

Manaus 11 9 0 20 20 3 2 25 31 12 2 45

Pará 5 4 1 10 7 0 0 7 12 4 1 17

Rio de Janeiro 112 39 4 155 68 13 1 82 180 52 5 237

“Brasil” 181 57 6 244 98 43 3 144 279 100 9 388

Vários Brasil (*) 13 0 1 14 6 5 0 11 19 5 1 25

Argentina/outros 11 3 0 14 7 2 0 9 18 5 0 23

Colónias port. 7 0 0 7 3 1 1 5 10 1 1 12

Não referido 18 12 0 30 7 2 2 11 25 14 2 41

Totais 358 124 12 494 216 69 9 294 574 193 21 788

(*) América do Sul, Baía, Cerará, Maranhão, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Santos e São Paulo

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Henrique Rodrigues