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Módulo 10 Os Problemas brasileiros e Cidadania. CEESVO 1

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CEESVO 1

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CEESVO 2

ROTEIRO

• O cidadão no mundo de hoje;

• Direito de ter direito;

• O trabalho infantil;

• Desrespeito aos direitos trabalhistas;

• Trabalhadores sem qualificação;

• Características dos trabalhadores do futuro;

• A Fome a praga do século;

• A situação do negro e do índio no Brasil;

• A indústria da seca um velho problema no nordeste ;

OBJETIVOS

• Identificar e avaliar as ações do homem em sociedade e suas conseqüências; • Construir referências que possibilitem o entendimento e a participação nas questões

sociais; • Comparar e avaliar as formas de utilização e/ou exploração de recursos e pessoas,

buscando uma organização social mais igualitária.

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CEESVO 3

O CIDADÃO NO MUNDO HOJE Desde que você nasceu, o mundo é importante para você e você é importante para o mundo. Mas você não está só. Existem outros semelhantes a você. Você é importante para os outros e os outros são importantes para você. Você tem vida inteligente, mas nem tudo que está em sua volta tem vida inteligente. Os outros, seus semelhantes, esses sim, também têm vida inteligente.

Você não vive só. Vive no mundo, convive com seus semelhantes, na sua família, na sua cidade, na sua Pátria.

E você sabe que vive no mundo e convive com os outros. Seus semelhantes o sabem como você. Se você não quiser, você não vai ser melhor, porque por natureza você é livre para isso.

Os outros também são livres para serem melhores ou piores.

Você tem direito a ser melhor e ninguém pode impedi-lo. Os outros também têm esse direito, e você não pode impedi-los.

Você é responsável pelo crescimento dos outros.

Você tem que participar da vida dos outros, para ajudá-los a ser melhores.

Por isso você não pode fazer tudo o que deseja. Há coisas possíveis e coisas proibidas para você, senão você não cresce, senão os outros não crescem. Como você é livre, pode fazer mesmo o que não deve. Mas então você não é tão bom ou os outros são prejudicados e por isso podem castigá-lo.

Você e os outros se organizam para conviver. Você é um membro da comunidade, portanto, você é um cidadão.

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CEESVO 4

Foto: Manifestação Fora Collor

E os cidadãos vivem obedientes às tradições, aos usos e costumes do grupo, ou combinam o que todos podem ou não podem fazer, combinam a forma de conciliar sua liberdade com a dos demais, para que todos possam ser sempre melhores. São as leis. A lei mais importante é a Constituição, que diz como a sociedade se organiza, quais são os direitos assegurados a você e os direitos dos outros, que é o que você deve fazer para os outros — suas obrigações. As outras leis ou decretos são conseqüências da Constituição: procuram aplicar as regras da Constituição às situações concretas, ou não são leis válidas.

DIREITO DE TER DIREITOS Cidadania, palavra usada todos os dias e tem vários sentidos. Mas hoje em dia significa em essência o direito de viver decentemente.

Cidadania é o direito de ter idéia e poder expressá-la. É poder votar em quem quiser sem constrangimento. É processar um médico que cometa um erro. É devolver um produto estragado e receber o dinheiro de volta. É o direito de ser negro sem ser discriminado, de praticar uma religião sem ser perseguido. Há detalhes que parecem insignificantes, mas revelam estágios de cidadania: respeitar o sinal vermelho no trânsito, não jogar papel na rua, não destruir telefones públicos. Por trás desse comportamento, está o respeito às coisas públicas.

Mas, afinal o que é cidadania?

Ser um cidadão significa ter uma participação integral na comunidade em que está inserido. A cidadania refere-se a três dimensões dos direitos das pessoas: os direitos civis (liberdade de ir e vir, de associação, de expressão, fé e pensamento, entre outros); direitos políticos (votar e ser votado); e os direitos sociais (tudo que vai desde o direito mínimo de bem-estar econômico e segurança, ao direito de participar, por completo, na herança social e levar a vida de um ser civilizado de acordo com os padrões, que prevalecem na sociedade, esses direitos envolvem acesso à saúde, habitação, entre outros).

OLIVA, Jaime. Temas da Geografia Mundial.

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CEESVO 5

Povo nas ruas Eleições

O direito de ter direitos é uma conquista da humanidade. Da mesma forma que a anestesia, as vacinas, o computador, a máquina de lavar, a pasta de dente, o transplante do coração.

Foi uma conquista dura. Muita gente lutou e morreu para que tivéssemos o direito de

votar. E outros batalharam para que você pudesse votar aos dezesseis anos. Outros lutaram pela idéias de que todos os homens merecem a liberdade e de que todos são iguais diante da lei.

Pessoas deram a vida combatendo a concepção de que os reis podiam porque

tinham poderes divinos e aos outros cabia obedecer. No século XVII, a rebeldia a essa situação detonou a Revolução Francesa, um marco na história da liberdade do homem.

No mesmo século surgiu um país fundado na idéia da liberdade individual: os

Estados Unidos. Foi com esse projeto revolucionário que eles se tornaram independentes da Inglaterra.

Desde então, os direitos foram se alargando, se aprimorando, e a escravidão foi

abolida. Alguém consegue hoje imaginar um país defendendo a importância dos escravos para a economia?

Mas esse argumento foi usado durante muito tempo no Brasil. Os donos das terras

alegavam que, sem escravos, o país sofreria uma catástrofe. Eles se achavam no direito de bater e até matar os escravos que fugissem. Nessa época, o voto era um privilégio: só podia votar quem tivesse dinheiro. E para se candidatar a deputado, só com muita riqueza em terras.

No mundo, trabalhadores

ganharam direitos. Imagine que no século XIX, na Europa, crianças chegavam a trabalhar até quinze horas por dia. E não tinham férias. E nem outros direitos trabalhistas.

As mulheres, que sempre foram

relegadas ao segundo plano, passaram a poder votar, símbolo máximo da cidadania. Até há pouco tempo justificava-se abertamente o direito do marido de bater na mulher e até de matá-la.

Em 1948, surgiu a DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS DO HOMEM

aprovada pela (ONU) Organização das Nações Unidas, ainda na emoção da vitória contra as forças totalitárias lideradas pelo nazismo, na Europa.

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CEESVO 6

Com essa declaração, consolidou-se a visão de que, além da liberdade de votar, de não ser perseguido por suas convicções, o homem tinha o direito a uma vida digna. É o direito ao bem estar.

A onda dos direitos mudou a cara do mundo. Assistimos a derrocada do regime

socialista e com a extinção da União Soviética, os países do Leste europeu converteram-se à democracia.

Na África do Sul, desfez-se o regime de segregação racial. A América Latina, tão

viciada em ditadores, viu surgir na década de 80 uma geração de presidentes eleitos democraticamente.

Na sua opinião os direitos do homem são respeitados?

Muitas vezes você passa por situações ou presencia fatos, mesmo que seja pela

mídia, que demonstram claramente a falta de respeito pelos direitos humanos e pela cidadania.

Nos países subdesenvolvidos, inclusive o Brasil, devido a má distribuição das riquezas, nem todos têm acesso a alimentação, saúde, educação, habitação, alta tecnologia, entre outros, pois a mesma fica restrita a camada mais privilegiada da população. Os menos favorecidos, além de serem desprovidos de recursos para as suas necessidades básicas , ainda enfrentam problemas com a violação dos direitos humanos. Todo trabalho tem sua importância.

Exercícios: Responda em seu caderno.

1. Na sua opinião existe discriminação, quanto ao tipo de trabalho exercido por uma pessoa?

2. Por que o trabalho é valorizado de modo diferente em nossa sociedade?

Você exerce plenamente o seu direito a cidadania?

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CEESVO 7

Você sabia que ...uma das maiores injustiças sociais e a maior violação dos direitos humanos é o trabalho e a exploração infantil.

EXPLORAÇÕES SEXUAIS DE CRIANÇAS

Dados da ONU (Organização das Nações Unidas) revelam que as explorações sexuais de crianças e adolescentes atingem mais de dois milhões de pessoas em todo mundo. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) prega a necessidade da adoção de medidas concretas por todos os países para diminuir a prostituição infantil. O combate aos agenciadores e aos empregadores de crianças e adolescentes no trabalho sexual deve ser um dos principais itens de um plano de ação a ser adotado em nível internacional para tentar diminuir os atuais índices de exploração infantil. Além da gravidade da prostituição em si, há o agravamento de que sempre aparece associada a crimes como seqüestro, confinamento, escravidão, uso de drogas e violência física. Os países devem investir em educação e informação e precisam criar leis que protejam as crianças e adolescentes da exploração sexual, conferindo a elas o tratamento de vítimas ao invés de agentes criminosos. Essas leis devem ser cumpridas por todos e quem as infringir deve ser punido.

O TRABALHO INFANTIL

Todas as crianças deveriam dedicar-se ao estudo, ao esporte e a outras atividades educativas e de lazer. Elas deveriam entrar no mercado de trabalho somente depois de concluir

a universidade, o que ocorre, em média, após os 23 anos de idade. Com certeza seriam profissionais qualificados e conscientes, conseqüentemente, seriam responsáveis e teriam boa produtividade. As oportunidades seriam iguais para todas as crianças como propõe o Estatuto da Criança e do Adolescente.

OS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE A Lei Federal nº 8.069, promulgada em 13 de julho de 1990, criou o Estatuto da Criança e do Adolescente, para assegurar às crianças os direitos garantidos na Constituição. “Esse estatuto, que passou a vigorar no dia 12 de outubro (Dia da Criança) de 1990, detalhou os direitos fundamentais da criança e do adolescente brasileiro e os meios de proteção contra a exploração, a violência, a crueldade e a opressão, atribuindo penas severas nos casos de maus tratos, violência e exploração sexual. O não cumprimento de um direito, por ação ou por omissão por parte dos pais, responsáveis, autoridades, poderes públicos ou quaisquer cidadãos, constitui crime a ser punido por lei” .

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CEESVO 8

Por esse estatuto fica proibido o trabalho para menores de 14 anos, a não ser na condição de aprendiz. Aos adolescentes maiores de 14 anos ficam assegurados direitos trabalhistas e previdenciário. A sociedade civil terá participação no trato das questões relacionadas com a proteção da criança e do adolescente por meio de tutelares municipais, composto de cinco membros eleitos por três anos, que serão responsáveis pelas prioridades do governo, fiscalização de instituições e punições nos casos de desrespeito à lei. Há muito a fazer para que o Estatuto da Criança e do Adolescente seja efetivamente colocado em prática. Também a mentalidade das pessoas precisa ser modificada e os principais interessados esclarecidos a respeito de seus direitos. Caso contrário, essa será apenas mais uma das leis que chegam para trazer esperanças, mas acabam frustando quando não as vemos respeitadas no dia-a-dia”.

Adaptação - ALVES, Júlia F., Metrópole; Cidadania e qualidade de vida.. No dia-a-dia, nos deparamos com uma realidade muito diferente do estatuto, as oportunidades são diferentes entre as classes sociais e vemos grande número de crianças dedicando-se ao trabalho para complementar a baixa renda dos pais. Elas deveriam estar na escola, recebendo da sociedade toda atenção e assistência necessária a seu pleno desenvolvimento. As crianças das famílias menos favorecidas, geralmente, começam a trabalhar desde pequenas ou quando não conseguem algum tipo de emprego, são abandonadas à própria sorte. Muitas são submetidas a trabalhos temporários. Os textos a seguir foram extraídos do Jornal do Conselho Federal (nº56/1997) esclarecem e nos levam a refletir melhor sobre a situação da exploração infantil, do trabalho e, principalmente, o trabalho escravo.

Texto 01: INFÂNCIA PERDIDA NAS LAVOURAS A exploração da mão-de-obra infantil é uma realidade em muitos países, principalmente no campo, mas vamos analisar a do nosso país. Em 1997, no Brasil, a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) estimou que 1,3 milhão de crianças trabalhavam no campo. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) 3,2 milhões de crianças entre 10 e 14 anos e 4,5 milhões entre 14 e 17 anos trabalham no campo e na cidade. O governo norte americano, após um levantamento feito no Brasil, apontou que 3 milhões de crianças entre 10 e 14 anos trabalham para sobreviver e ajudar suas famílias. A exploração de mão-de-obra infantil é evidente nas carvoarias, nas plantações de cana-de-açúcar , algodão, sisal, cítricos, salinas, etc

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CEESVO 9

Acampamento do MST

Em Pernambuco, uma pesquisa feita na Zona da Mata indicou que, dos 200 mil carvoeiros que trabalhavam na região, cerca de 50 mil (25%) eram meninos entre 7 e 17 anos, ganhando menos de R$ 30,00 por mês. No noroeste do Paraná, 2 mil crianças trabalham no corte da cana, na colheita do algodão e café, em jornadas de 12 horas diárias para ganhar R$ 4,00 por semana. Segundo a Contag, as crianças fazem trabalho de adulto, cumprindo longas jornadas; de 55% a 70% dos entrevistados ganham salário mínimo: uma grande parcela de crianças trabalha de cinco a sete dias por semana: um terço das crianças começou a trabalhar antes dos dez anos; os índices de repetência alcançam de 60% a 70%; muitas não têm tempo para brincar ou praticar esportes. Muitos acham que a criança deve trabalhar antes dos 14 anos e, a grande maioria sonha com uma profissão universitária.

Texto 02: DESRESPEITO TRABALHISTA JÁ VIROU MODA.

Além da exploração da mão-de-obra, prevalece principalmente no meio rural um desrespeito aos direitos trabalhistas, sem contar os casos de trabalho escravo. De 1990 a 96, a Comissão Pastoral da Terra registrou a existência de 3.321 casos de crianças e adolescente que são vítimas de trabalho escravo. Em Minas Gerais, uma das crianças , Fábio de dez anos, conta que era espancado todos os dias com chicote. Em relação ao desrespeito aos direitos trabalhistas, foram registrados 62.353 casos envolvendo crianças e adolescentes no mesmo período (90/96). Há casos extremos de super exploração e degradação dos trabalhadores, com falsas promessas de salários e boas condições de trabalho. Falta pouco para caracterizar-se como trabalho escravo: • Os menores de 14 anos são peões de fazendas. Um deles, Renato de nove anos, recebeu

apenas R$ l,00 ao fim do mês de trabalho; • No pagamento, os fazendeiros e os capatazes, descontam do trabalhador taxas que não

são repassadas aos órgãos arrecadadores, além dos descontos de alimentação e equipamentos de proteção. A jornada de trabalho é de 15 horas diárias;

• Muitos fazendeiros retêm os documentos dos menores e adolescentes como forma de obrigá-los a permanecerem na propriedade;

• Além da baixa remuneração, os menores manuseiam pulverizadores de defensivos agrícolas. Vários deles adoecem ou se intoxicam, mas não recebem assistência médica.

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CEESVO 10

Em 96, na Bahia, ocorreram várias denúncias de que 25% da mão-de-obra utilizada na colheita e beneficiamento do sisal são de crianças (em torno de 11 mil, que a partir de 4 anos começam a ajudar seus pais nas lavouras. Um grande número sofre mutilações provocadas pelos espinhos, que causam furos na pele ou nos olhos, cegando a vítima. Outros perdem dedos e braços nas máquinas que transforma o sisal em palha). "Enquanto tiver fibra de sisal para esticar, o patrão não deixa a gente ir à escola. Por isso, ainda estou na 2ª série. Minha professora diz que eu já poderia estar na 7ª, falto muito" -- diz Girlene de 13 anos.

Texto 03: TRABALHO ESCRAVO RESISTE

Em pleno século XXI, o Brasil ainda convive com sistema de degradação humana

Às vésperas do terceiro milênio, o trabalho escravo ainda é uma realidade em nosso país. Quando se espera uma conscientização da humanidade para enfrentar os novos tempos com dignidade, o Brasil surpreende a opinião pública internacional com dados estarrecedores sobre as formas de trabalho no campo. Os números assustam: em 1995 havia mais de 26 mil pessoas trabalhando em regime de escravidão, basicamente por troca de comida, segundo levantamento feito pela Comissão Pastoral da Terra e pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura. . As carvoarias de Minas Gerais e de Mato Grosso do Sul lideram as estatísticas. No Mato Grosso do Sul, 6.000 adultos e 1.200 crianças prestavam serviço pesado nas carvoarias. Ainda, nesse estado mais de 2.200 pessoas foram vítimas de trabalhos forçados nas fazendas de pastagens. Em São Paulo, quatro mil pessoas eram utilizadas como escravos na extração de resina de pínus. No Pará, Pernambuco, Espírito Santo, Mato Grosso, Maranhão e Rondônia ocorreram denúncias de utilização de mão-de-obra escrava. O que mais chamou a atenção, no entanto, foi a escravidão nos seringais nativos do Acre, aonde 1.500 homens, mulheres e crianças vinham trabalhando escravizados pelo regime do "barracão", do qual o proprietário do seringal tinha o monopólio. Era ele quem podia vender para os trabalhadores (seringueiros) em troca da borracha bruta, estipulando a quantidade e o preço das mercadorias. Além disso, os seringueiros não podiam plantar seus roçados nem criar animais, ficando totalmente na dependência do "barracão". O número de ocorrências de pessoas que viviam em regime de escravidão diminuiu graças à atuação da fiscalização trabalhista nas fazendas e nas carvoarias. Mas, ainda tem muito que fazer para que os direitos humanos sejam cumpridos e que as pessoas realmente tenham uma vida digna.

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CEESVO 11

Você como cidadão, que faria ao se deparar com uma situação semelhante ou chegar ao seu conhecimento algo sobre trabalho escravo?

OS TRABALHADORES SEM QUALIFICAÇÃO A preocupação com o desemprego transparece cada vez mais entre os trabalhadores e

seus familiares. Há um grande descompasso entre o crescimento econômico, o aumento da interdependência global e a oferta de emprego. Na lógica do crescimento econômico, o indivíduo só pode ser um agente consumidor se tiver um rendimento ou salário para gastar.

Desemprego aberto - Taxa mensal da PEA nas regiões metropolitanas (%) – 2000

Mês Recife Salvador Belo Horizonte

Rio de Janeiro

São Paulo

Porto Alegre

Total

Jan. 6,63 11,33 8,38 5,61 8,20 7,12 7,63 Fev. 8,50 11,54 8,87 5,65 8,86 7,76 8,17 Mar. 8,14 11,53 9,15 6,26 8,15 8,18 8,06 Abr. 8,20 10,58 8,71 6,13 8,04 7,92 7,84 Mai. 8,67 9,70 7,97 5,91 8,39 7,55 7,80 Jun. 8,70 9,45 7,78 5,49 7,84 7,26 7,41 Jul. 8,25 9,59 7,59 5,45 7,52 6,86 7,18 Ago. 8,63 8,95 7,72 5,37 7,55 6,71 7,15

Média do ano

8,21

10,33

8,27

5,73

8,07

7,42

7,65

Como você viu anteriormente, a mecanização reduziu o número de empregos no campo

e principalmente nas cidades, sobretudo nas indústrias. Esse fato tem obrigado países desenvolvidos e subdesenvolvidos a descobrir novas maneiras de encarar o trabalho.

As transformações no mundo têm ocorrido tanto na fase da produção quanto na fase de comercialização de mercadorias - agora realizada em escala global. Nessa transformação os principais prejudicados são os trabalhadores não-qualificados , que concorrem com os trabalhadores escolarizados do mundo subdesenvolvido ou com os trabalhadores imigrantes.

O desemprego no Brasil e em outros países emergentes apresenta dois fatores cruciais:

A- A abertura desorganizada do país aos importados afeta diretamente as indústrias de calçados, têxtil, brinquedos, autopeças e bens de capital;

B- A diferença entre oferta e demanda de qualidade de mão-de-obra. Em setores industriais de alto desenvolvimento tecnológico, há mais vagas do que admissões porque os candidatos não apresentam a qualificação desejada. Por exemplo: o trabalhador lê, mas não sabe interpretar o manual de instruções de uma máquina.

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CEESVO 12

Desempregados em S. Paulo

O problema do desemprego é mundial, mas alguns países como a Holanda e a Inglaterra flexibilizaram sua regulamentação trabalhista e têm desemprego muito menor que a Alemanha. A Coréia do Sul e o Japão tentaram uma mudança organizacional na economia, possuem

programas de médio e longo prazo para definir quais os setores devem ser competitivos, com sistemas que poupem mão-de-obra e ao mesmo tempo, sinalizam aqueles em que a eficiência não é relevante, altamente geradores de emprego. Os Estados Unidos alinham as organizações que preferem dar empregos ao invés de reduzir a folha, assumindo o papel social das unidades produtivas. Como prêmio, menos impostos.

Como sempre, são apresentados três

personagens do desemprego e da "exclusão social": o neoliberalismo, a tecnologia robotizante e a globalização.

Esses três elementos podem causar problemas sociais, mas, como vimos, vários

países têm procurado amenizar essa situação. Os Estados Unidos, por exemplo, é ao mesmo tempo a fortaleza do neoliberalismo, têm alta densidade tecnológica e que se inserem na economia globalizada.

Nos países emergentes e nos subdesenvolvidos a baixa empregabilidade

fundamenta-se em : • Inadequado nível de investimentos; • Encargos trabalhistas desincentivadores de contratações; • Falta de liberdade empresarial.

Nesses países, o discurso do neoliberalismo e das vantagens, das microempresas,

para a geração de empregos, fazem parte do dia-a-dia.

A falta de liberdade empresarial é contraditória, a esse

discurso, os pequenos empresários são oprimidos por um sistema fiscal e dependente de uma infra-estrutura ineficiente além do problema burocrático –quem for abrir um estabelecimento comercial ou industrial é asfixiado por inúmeros papéis e documentos para a legalização, quando em países desenvolvidos basta preencher um formulário.

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CEESVO 13

Leia com atenção o poema abaixo:

O PREÇO DO FEIJÃO NÃO CABE NO POEMA O PREÇO DO ARROZ NÃO CABE NO POEMA NÃO CABE NO POEMA O GÁS A LUZ O TELEFONE A SONEGAÇÃO DO LEITE DA CARNE DO AÇÚCAR DO PÃO O FUNCIONÁRIO PÚBLICO NÃO CABE NO POEMA COM SEU SALÁRIO DE FOME SUA VIDA FECHADA EM ARQUIVOS

COMO NÃO CABE NO POEMA O OPERÁRIO QUE ESMERILHA SEU DIA DE AÇO E CARVÃO NAS OFICINAS ESCURAS PORQUE O POEMA, SENHORES ESTÁ FECHADO: “NÃO HÁ VAGAS” SÓ CABE NO POEMA O HOMEM SEM ESTÔMAGO A MULHER DE NUVENS A FRUTA SEM PREÇO O POEMA, SENHORES, NÃO FEDE NEM CHEIRA.

Ferreira Gullar – Antologia Poética. 2ª ed. São Paulo, SUMMUS, Rio de Janeiro, Fontana, 1977, p.7

CARACTERÍSTICAS DO TRABALHADOR DO FUTURO As palavras que definem o trabalhador do futuro são:

"aprendizagem permanente". Trata-se de um novo conceito no mercado de trabalho

resultado da rápida obsolescência dos conhecimentos técnicos devido aos constantes avanços em áreas como computação, engenharia genética, administração. Até a década de 80 as Universidades eram vistas como locais de instrução definitiva.

Hoje o profissional que não se mantém atualizado com novos softwares, sistemas e tecnologias, corre o risco de se ver completamente defasado poucos anos depois de formado, necessitando o hábito da aprendizagem permanente para poder continuar capaz de acompanhar as transformações do mercado. Neste ambiente, o profissional do século XXI, terá que ser:

• Versátil (saber fazer várias coisas); • Empreendedor (tomar iniciativa, ter ousadia e fazer); • Cooperador (saber e gostar de atuar em conjunto); • Automotivado (entusiasmado); • Atualizado (reconhecer o valor da aprendizagem e orientar-se para o estudo); • Orientado para inovação (adotar uma postura crítica de que tudo é passível de ser

questionado e revisto);

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• Negociador (a negociação está presente em todo lugar); • Corajoso (aceitar desafios, enfrentar situações novas); • Aberto para mudanças; • Consciente.

Você já se deu conta que o "futuro é a educação"? Veja, o mercado de trabalho está passando por uma revolução. Surgem

novas oportunidades ao mesmo tempo em que o desemprego cresce na indústria.

Na virada do milênio, 8 milhões de postos de trabalho vão desaparecer. Novos e diferentes trabalhos vão surgir — que exigem qualificação tecnológica. A modernização é a chave das transformações no campo de trabalho. A base da modernização está num conjunto de fatores: competitividade, serviços, tecnologia e globalização. Observe as atividades abaixo:

ATIVIDADES EM ALTA

ATIVIDADES EM BAIXA

Serviços Bancário Nenhuma outra atividade da economia cresceu tanto e trouxe maior número de empregos nos anos 90. A nova onda é a terceirização.

A automação de grande parte dos serviços deve levar à eliminação de dezenas de milhares de empregos até o fim do século.

Informática Operário da construção

Na internet muitos começam a oferecer serviços e a ganhar bem por isso. Nas empresas a automação é a área que mais cresce.

Os juros altos limitam o crédito e obras são paralisadas. Desde agosto de 94, 50 mil empregos foram perdidos no Estado de São Paulo.

Comércio Exterior Arquiteto Abertura da economia aliada à globalização dos mercados coloca na linha de frente as funções nessa área.

A computação gráfica e a realidade virtual vêm tomando o lugar de muitos profissionais, por exemplo na decoração de interiores.

Franquia Funções administrativas Mais de meio milhão de empregos foram criados nos últimos cinco anos, especialmente nas áreas de comércio de roupas e refeições rápidas.

A reengenharia de inúmera empresa e a informatização vem extinguindo muitos ofícios burocráticos.

Marketing Trabalhador industrial O binômio, concorrência e consumidor exigente aumentam a busca por profissionais que identificam melhor o mercado.

Setores como o automobilístico passa por uma modernização devido à concorrência internacional, que reduz a mão-de-obra.

Turismo Executivo Financeiro "Indústria" que mais fatura no mundo. Os especialistas vêm sendo substituídos por

profissionais capazes de operar toda a reengenharia da empresa

Idiomas Aumenta a procura por professores de línguas, já que falar mais de um idioma passou a ser pré-condição para alçar bons postos.

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Fique sabendo que... Todo cidadão tem direito à educação. É função do Estado ofertar o acesso à educação a todos os cidadãos.

O maior dilema da era da informação: ela acontece mais rápido do que empresas e universidades conseguem formar profissionais qualificados. "Em 2002, para cada 10 vagas, só haverá de 7 a 8,5 profissionais disponíveis em média no mundo".

Só serão bem sucedidos os profissionais que dominarem a tecnologia da informação e a tecnologia do conhecimento — importa-se conhecimento em múltiplas áreas e a capacidade de aprender coisas novas a cada segundo.

Se o sistema educacional do Brasil e dos outros

países subdesenvolvidos não se adequar a esta nova realidade, milhões de indivíduos estarão condenados à exclusão. Além do sistema educacional, é preciso a conscientização de toda sociedade de que o futuro de cada indivíduo depende da educação.

Para você refletir... "O povo precisa aprender a ler sua própria realidade

e escrever sua própria história". Observe os dados alarmantes no Brasil — de cada 100 crianças que ingressaram na

escola em 1997, pela estimativa, menos de 50 concluirão o ciclo básico, 20 chegarão ao nível médio e 5 entrarão nas universidades em 2008.

O nível médio de escolaridade do trabalhador é de 3,8 anos (comparável ao Haiti e a

Honduras) contra 8,7 na Argentina, 9 no Paraguai e 11 na Coréia do Sul.

Taxa de analfabetismo no Brasil em 1999 segundo a faixa etária (%)

Faixa etária % De 5 a 7 anos 63,0 8 a 12 anos 10,0 13 a 17 anos 3,8 18 a 29 anos 6,1 30 a 39 anos 9,6 40 a 49 anos 13,0 50 a 59 anos 22,4 60 anos ou mais 35,6

Fonte: Pnad/IBGE 1999

As escolas são núcleos importantes não só para empregos ou para

profissionalização, mas também para a melhoria da saúde da comunidade. Orientados por professores, as crianças, jovens e adultos podem estudar o lugar onde moram para conhecer melhor sua realidade: a qualidade da água, as condições do posto de saúde, o destino do lixo, os hábitos alimentares, as condições de higiene, etc. Além disso, conhecer os direitos e deveres de cada cidadão. Enfim, aprender a ser cidadão, isto é, praticar a verdadeira cidadania—ter direito à informação, de reclamar , reivindicar e participar das decisões comunitárias.

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Você sabia que... A PRAGA MAIS TEMIDA

NO MUNDO É A “FOME”?

EXERCÍCIOS: RESPONDA EM SEU CADERNO.

1. Ao procurar um emprego nos jornais, quais os requisitos ou

condições exigidas? 2. Trace em poucas linhas o perfil do trabalhador moderno. 3. Você participa de alguma associação de classe. (Sindicato, Associação de Moradores,

Igreja e outros.) sim ou não. Justifique a sua resposta. 4. Explique com suas palavras o que você entendeu por cidadania?

A FOME

Mas, o que é “fome” ? Um dicionário define fome como um estado de

privação geral de alimento, ou como subnutrição, desnutrição, debilitação, opondo-a ao bem - estar.

A questão da fome aparece em todos os períodos da história da humanidade e é até

narrada em textos literários. No entanto, o tema hoje não se restringe a uma definição dicionarizada; trata-se de

um emaranhado com envolvimento de caráter político e mercadológico. A fome para ser compreendida e estudada, precisa, antes de

qualquer coisa, ser conceituada sob dois aspectos: um primeiro, que trata da fome crônica, e outro que trata da fome aguda.

Quando uma comunidade sofre privação constante de nutrientes,

essa fome endêmica recebe o nome tecnicamente de fome crônica.

No Brasil, em áreas do Nordeste, por exemplo, crianças não se desenvolvem física e intelectualmente de forma plena por causa da pouca ingestão de alimentos: são afetadas pela fome crônica.

Essas populações que no mundo todo vivem em situações

precárias, diante de qualquer fenômeno físico, social ou econômico ficam sujeitas à fome aguda, a face mais cruel da fome.

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Assim, essa modalidade ocorre quando uma comunidade sofre privação intensa de

nutrientes, e o resultado dessa privação é a morte relativamente rápida de vários membros. Nesse caso, a fome recebe tecnicamente o nome de fome aguda ou famine — expressão de origem francesa.

Uma considerável parcela da população mundial ainda tem, como a grande vilã, a impedir o desenvolvimento da vida, a fome .

A fome de nossa época pode ser localizada e quantificada pela sofisticação da informática e descrita num livro. Mas não pode ser erradicada, sendo parte

integrante de um sistema econômico centralizador. A regra de ouro é “quem tem dinheiro tem bens e serviços”. Portanto, alimentação,

agora, ou é bem ou é serviço; não é mais sobrevivência. Deu na Imprensa... Verba de ração pode acabar com fome infantil

Os R$ 350 milhões gastos para dar ração a 7 milhões de cães e gatos seriam suficientes para alimentar por um ano as crianças que não tem o que comer no país. Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde e Demografia do Ministério da Saúde, 1.006.400 crianças com até 5 anos não têm a altura mínima que deveriam ter para a idade. Ou seja: passam fome. Não se quer dizer aqui que lulus e bichanos sejam exterminados para se dar de comer às crianças. A idéia é expor a tese de alguns especialistas de que é simples e barato atacar a desnutrição infantil — gasta-se menos do que com um cachorro, em muitos casos. Tratar um cachorro à base de ração custa R$ 20 por mês em média, segundo Sandro Cimati, diretor comercial da Purina. O valor é superior ao que o governo gasta per capita em dois programas para desnutridos: o do leite e o da cesta básica.

A cesta básica distribuída a famílias que não ganham o suficiente para comprar alimentos, custa R$ 13. Tem 5 Kg de arroz, 3 de feijão, 7 de farinha e 10 de fubá. O programa do leite contempla a criança desnutrida, a mãe e um irmão. A criança recebe em leite R$ 15,12 por mês; mãe e irmão, mais R$ 7,20 cada — um valor médio de R$ 9,84 por beneficiado. Os R$ 350 milhões do mercado de ração pagariam até soluções mais sofisticadas. O centro de Reabilitação e Educação Nutricional, ligado à Universidade Federal de São Paulo, gasta R$ 0,79 por dia em alimentos para dar três refeições para cada criança desnutrida que trata. Se os R$ 350 milhões fossem aplicados nessas refeições, seria possível alimentar 1.230.661 crianças por um ano — 224.261 a mais do que os desnutridos contabilizados na pesquisa do governo. O centro é uma espécie de hospital-dia — 43 crianças ficam lá de segunda a sexta- feira, recebendo três refeições. Tratada por pediatra, nutricionista, fisioterapeuta, psicólogo, cada criança custa cerca R$ 2,00 por dia, segundo a nutricionista Ana Cavalcante. Recebe no mínimo sete refeições por dia e, entre 4 e 6 meses depois, está recuperada. O trabalho foi premiado. A Organização Mundial da Saúde vai publicar um texto sobre a experiência, cujo título resume tudo: “Soluções simples para problemas comuns”.

Mário César Filho – Jornal Folha de São Paulo

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Você é daquelas pessoas que consideram poesia como coisa de “gente fresca” ou de donzela, sonhadora e sentimental? Se for, deixe de lado o preconceito, libere as emoções e leia os versos do poema citados abaixo:

Vi ontem um Bicho Na imundície do pátio Catando comida entre os detritos Quando achava alguma coisa, Não examinava nem cheirava: Engolia com voracidade. O Bicho não era cão, Não era gato, Não era rato, O Bicho, meu Deus, era um Homem.

Manuel Bandeira. Estrela da vida inteira. Poemas reunidos. Rio de Janeiro, Livraria José Olympio,1986, p.79

Chocante. Hein ? Parece até coisa de político em busca de voto pouco antes da

eleição. Contudo, estes versos foram escritos em 1947, por um extraordinário poeta brasileiro chamado Manuel Bandeira, mais preocupado com o humano do que com a política desumana.

Na época de Manuel Bandeira estes “Bichos” de que falam estavam nascendo em

nossa sociedade.

Hoje, a miséria, e a fome que transformaram homens em “bichos”, dentro das “selvas

de pedra” urbanas, aumentaram assustadoramente.

Embora, o “direito de ter direitos” seja uma conquista da humanidade, ainda hoje, muitas vezes você, provavelmente já deve ter lido, ou assistido na TV, algo a respeito de racismo e discriminação.

QUAIS OS TIPOS DE RACISMO E DISCRIMINAÇÃO, QUE VOCÊ MAIS TEM PRESENCIADO?

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Principalmente contra os negros, índios, crianças, mulheres e idosos.

A SITUAÇÃO ATUAL DO NEGRO NO BRASIL

Após o final da escravatura no país, em 1888, a situação do negro alterou-se bastante. Mas teria ele passado a desfrutar as mesmas condições econômicas e sociais do branco?

Tudo parece indicar que não, que ele continua a ocupar um lugar inferior na hierarquia social, ganhando normalmente salários mais baixos e vivendo em piores condições que a média da população.

Consultando-se dados estatísticos do recenseamento de 1991, nota-se o seguinte: a proporção dos que ganham até um salário mínimo é de 24,1% entre a população branca, de 44,7% entre os chamados pardos e de 46,9% entre os negros. Por outro lado, a proporção dos que ganham mais de 20 salários mínimos é de 1,8% entre os brancos, 0,2% entre os pardos e apenas 0,3% entre os negros.

Percebe-se, dessa forma, que as desigualdades sociais são muito fortes no Brasil,

tanto entre os brancos quanto em outros grupos étnicos; todavia, em raras exceções, é a pior. Assim como ocorre em relação às mulheres, também os negros são vítimas de preconceitos dos que os consideram “inferiores” e devendo ocupar posições subalternas no conjunto da população. Quando lemos anúncios em jornais, de empregos ou de residências para alugar, deparamos, às vezes, com a exigência de “boa aparência”, o que, em regra, é apenas eufemismo* para recusar os afro-brasileiros.

Um fato interessante a esse respeito é que mais de

80% das empregadas domésticas do Brasil são de ascendência afro-brasileira, ou seja, são negras, cafuzas, ou mulatas.

O Brasil é o país onde mais existem domésticas, concentradas nas residências de classe média ou alta; isso é raro na maioria dos países desenvolvidos, em face dos elevados salários desses empregados. Aqui, por outro lado, além dos baixos salários há o trabalho a qualquer hora do dia e muitas vezes nos fins de semana ou feriados, com direitos trabalhistas mínimos ou pouco respeitados.

Não foi por acaso que essa instituição comum

no Brasil, a empregada doméstica, surgiu exatamente após a abolição da escravatura, no século passado, como uma forma de continuar empregando os ex-escravos por baixos salários e sem um tratamento devido aos homens proletários.

Eufemismo* palavra

usada no lugar de

outra para suavizar

uma idéia.

? ? ? ? ? ? ? MAS AFINAL EXISTE OU NÃO RACISMO NO

BRASIL?

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O Brasil por ter um povo formado por uma miscigenação de raças, o preconceito racial não é declarado . Apregoa-se o mito da “democracia racial”.

O mito da “democracia racial”, isto é, que todas as raças são igualmente respeitadas e convivem em harmonia, começa a ser questionado. Por não reconhecerem o valor do negro, as autoridades brasileiras não respeitam as diferenças culturais aqui existentes. As pessoas não são todas literalmente iguais, mas trazem diferentes tradições culturais que têm que ser entendidas e respeitadas para que a democracia racial deixe de ser simplesmente um “mito”.

OS ÍNDIOS DA AMAZÔNIA Três milhões parece um cálculo aceitável para o total de índios que viviam na Amazônia. Na atualidade, os grupos sobreviventes mostram uma tendência ao aumento populacional. Estima-se que hoje 160 mil índios habitem a região amazônica, 60% dos 270 mil indígenas recenseados no país. Contam-se 206 sociedades indígenas no Brasil, 162 delas na Amazônia.

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Um dos motivos desse aumento seria a imunização dos índios por meio de vacinas ou anticorpos adquiridos após o primeiro contato. O momento é de otimismo, passados os tempos de mudança, escravismo, catequização forçada ou da mera indiferença das autoridades. O extermínio é um risco do passado, os direitos sobre as terras, assegurados na Constituição de 1988, estão em fase de consolidação, com a ajuda de 100 associações indígenas legalizadas. A maior parte das terras indígenas (98%) está na Amazônia Legal. Veja no mapa da página anterior, a situação das terras indígenas na Amazônia. Com terras garantidas e população crescentes, pode parecer que a situação dos índios se encontra agora sob controle. Não é bem assim. O maior desafio da atualidade é manter viva sua riqueza cultural. Quando os portugueses chegaram ao Brasil, havia em torno de 1300 línguas indígenas, atualmente existem 170. O pior é que cerca de 35% dos 210 povos com culturas diferentes têm menos de 200 pessoas. O esforço das autoridades para manter a diversidade cultural entre os índios pode evitar o desaparecimento de muita coisa interessante. Um quarto (1/4) de todas as drogas prescritas pela medicina ocidental vem das plantas das florestas e três quartos (3/4) foram colhidos a partir de informações de povos indígenas. Permanece a questão de como ficará o índio num mundo globalizado, mas pelo menos já se sabe o que é preciso preservar.

Dentro desse contexto histórico do Nordeste,

que nos mostra um passado rico e um presente cheio de conflitos, a seca, sempre esteve presente. Contudo, a ação do homem sobre a natureza vem agravando o problema da seca, pois a constante destruição da vegetação natural através das queimadas ocasionou a expansão do clima semi-árido. Todavia, apesar da seca ser realmente um problema grave, ela costuma ser exagerada e supervalorizada. Por exemplo: a maior parte dos brasileiros pensam que a seca é o principal problema do Nordeste, porém, o Brasil como um todo, é subdesenvolvido e a maioria da população tem um baixo nível de vida.

Inclusive, os grandes problemas do Nordeste, como a luta pela posse de terras, remuneração baixa, etc., ocorrem muito mais na Zona da Mata, onde não existe o problema da seca, como no Sertão.

Região Problema – O Nordeste é

considerado assim, por causa dos

grandes problemas sociais ser mais

acentuados nessa região (baixo nível de

vida, baixa remuneração, elevada

migração para outras regiões, fome e

concentração das riquezas nas mãos

de uma minoria), porém, esses mesmos

problemas existem em todas as regiões

do Brasil, só que em menor

proporção.

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A maioria não migra devido à seca, mas porque a estrutura agrária e fundiária

(distribuição das propriedades rurais) da Zona da Mata não permite que o número de empregos seja suficiente para atender à quantidade de pessoas que a cada ano se incorpora à força de trabalho. Entretanto, é mais cômodo culpar a seca- um fenômeno natural- pela pobreza e deixar de lado a questão social da distribuição.

Surge assim, a “’Indústria da Seca”: grupos de influência política ou economicamente poderosa - desde alguns prefeitos até fazendeiros e empresários – conseguem tirar proveito da seca através de sua divulgação. Noticiando a seca de forma dramática, através de meios de comunicação, esses grupos têm chance de conseguir mais verbas e auxílios governamentais.Graças ao argumento da seca; muitos empresários conseguem deixar de pagar suas dívidas bancárias, além de contrair novos empréstimos em condições especiais.

Assim, a forma pela qual as autoridades brasileiras combatem a seca (ou melhor, apenas os seus efeitos) não beneficia nem a maioria da população, nem os pequenos proprietários, mas, sim, grandes proprietários e política de influência.

Para compreender melhor essa situação, leia o texto a seguir.

Contemplando os Ricos

Adalberto Nunes de Souza perdeu o milharal, mas vê das janelas as fazendas irrigadas.

Adalberto perdeu, toda plantação de milho na seca de 1998. Ironicamente, a terra esturricada, sobre a qual um dia certamente morrerá, faz divisa com o progresso. Da janela da sua casa, no município de Petrolina (PE), à beira do rio São Francisco, avista parreiras e mangueiras carregadas de frutos. É a imagem do paraíso, o Éden do sertão. As terras verdejantes pertencem ao vizinho de cerca. “O jeito é esperar a chuva. Não entendo os segredos de Deus”, diz o sertanejo, diante da visível contradição.

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A metros dali, Domingos Sérgio Brandão de Souza, esparrama-se numa mansão, com

antena parabólica e jipe importado na garagem. O luxo é decorrência direita de um moderno sistema de irrigação que garante ao produtor cultivar uvas do tipo exportação nas terras que recebeu de graça do governo. Domingos conseguiu ser beneficiário de um dos muitos projetos de colonização do sertão pernambucano. Além da terra, arranjou financiamento para a irrigação: melhor negócio, impossível. Petrolina tem hoje (1998) 80 mil hectares de cultivo irrigado, responsável pela exportação de U$ 42 milhões e gera 24 mil empregos diretos e indiretos.

Domingos admite ter conseguido o que possui graças a um “empurrãozinho” de políticos do local. O mesmo aconteceu com muitos sertanejos e hoje são fazendeiros.

Aguinaldo Nunes de Almeida é um rico sertanejo que foi pobre. Aos 20 anos ele partiu de pau-de-arara para trabalhar na construção civil em São Paulo. Aprendeu a ler e escrever fez curso técnico de Agricultura, trabalhou no interior do Paraná e voltou para Petrolina como empregado de fazendas de terceiros.O empurrão para conseguir lote irrigado veio de um político, amigo do ex-patrão. Aguinaldo tem quatro diplomas universitários, um deles obtido no exterior. Cultiva dez espécies frutíferas e fatura perto de R$ 1milhão por ano. Ele afirma: “Mas não durmo tranqüilo. Tem muita gente sofrendo aqui ao lado”.

Leitura complementar : É UMA CONTRADIÇÃO CIENTÍFICA... Você sabia que existe doença de rico e doença de pobre? A pesquisa médica é seguramente um dos maiores sucessos deste século. Nunca na História tantos se beneficiaram do trabalho de tão poucos. Temos muita gente pesquisando e estudando o câncer de todos os tipos, e quando há um progresso, ele é amplamente divulgado, antes mesmo de ser utilizado na clínica. Nunca se investiu tanto no combate a uma moléstia quanto no caso da AIDS. Tudo isso está certo -- problemas no mundo todo. No entanto, as doenças que ocorreram nos países subdesenvolvidos , igualmente instigantes do ponto de vista da ciência, atraem interesse muito menor. E são os males relacionados à pobreza que mais matam no mundo. Enquanto o câncer provoca cerca de 6 milhões de óbitos a ano no planeta, as doenças infecciosas e parasitárias matam 16,4 milhões de pessoas. Se compararmos a pesquisa farmacêutica na área "pobre" com a das áreas "ricas", veremos um panorama entristecedor . Foram necessárias duas guerras mundiais, durante as quais os americanos eram enviados a países onde a malária proliferava, para que fossem descobertos remédio contra a enfermidade. Para a doença de Chagas, por exemplo, foi controlado o vetor que transmite a doença, mas ainda não foram inventados remédios para eliminar os parasitas dos doentes cronicamente infectados, que vão desenvolvê-la. Mesmo no caso de doenças em que o tratamento avançou muito, ele não chega aos países do Sul (subdesenvolvidos) como deveria. Por essa razão, a AIDS, por exemplo, é cada vez mais doença de pobre, do "Terceiro Mundo" e da miséria. Cerca de 90% dos doentes de AIDS, hoje estão na África, e os remédios disponíveis são caros e pouco acessíveis à maioria dos pacientes.”.

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Como amenizar esses problemas de saúde? Por enquanto, não há sinal de que a situação possa mudar. No capitalismo em que convivemos, nenhum laboratório farmacêutico sensato será investir em medicamentos invendáveis ou, pior, para serem comprados por governos latinos americanos e africanos que dificilmente podem pagar ou pagam quando querem. A melhoria e a qualidade de vida começa-se pela infra-estrutura, especialmente o saneamento básico, saúde e a educação.

IMPORTANTE. Prevenção - O uso de preservativo (camisinha, camisa-de-vênus ou condom) é indicado para reduzir o risco de contaminação por meio da relação sexual. Sua eficácia depende da colocação correta, da não ocorrência de rupturas ou vazamentos durante a relação e da ausência de lesões genitais, entre outros fatores. Agulhas, seringas e instrumentos cortantes devem ser descartáveis ou esterilizados para prevenir o contágio. E todo o sangue empregado em transfusões deve passar por testes de identificação do HIV.

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ELABORADO PELA

EQUIPE DE GEOGRAFIA CEESVO 2004

Deise Quevedo Bertaco Jaime Aparecido da Silva

Maria de Fátima Pinto

COLABORAÇÃO

Luiz Gustavo Cerqueira Ferreira Júlia de Oliveira Rodrigues Vieira

Neiva Aparecida Ferraz Nunes

DIREÇÃO

Elisabete Marinoni Gomes Maria Isabel R. de C. Kupper

APOIO.

Prefeitura Municipal de Votorantim